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1 O Impacto da psicoterapia na pessoa do terapeuta Eliane M. O. Falcone Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Estudos sobre o estresse da condição de psicoterapeuta Dificuldades de relacionamento(82%), depressão (57%),abuso de substâncias (11%) e tentativas de suicídio (2%) Maior percentual de “burnout” (33%) em comparação com médicos (18%) e enfermeiros (31%) Terapeutas de pacientes traumatizados podem se deprimir, ficar aliviados quando pacientes difíceis cancelam as sessões, viver em constante terror de serem solicitados para atender uma emergência, tornarem-se retraídos e indisponíveis para amigos e familiares ou ficarem “adictos a trauma” Mahoney, 1998; Miller, 2004, Pereira, 2002 Fontes de estresse para o terapeuta: Condições de trabalho Desafios a auto-estima profissional como o resultado de rivalidades com colegas médicos,em um ambiente de saúde multidisciplinar Levar para casa as angústias, tragédias, negligências, abusos, injustiças e crueldades sofridos pelos clientes Esgotamento pelo engajamento emocional (terapeutas mais emocionalmente envolvidos são os mais efetivos e ao mesmo tempo mais vulneráveis ao estresse em seu trabalho) Traumatização vicária de terapeutas de trauma Proporção excessiva de clientes difíceis; Pressões de tempo; Excesso de trabalho burocrático; Incertezas econômicas; Carga excessiva de trabalho Jones, 1997; Mahoney, 1998; Miller, 2004

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O Impacto da psicoterapia na pessoa do terapeuta

Eliane M. O. Falcone

Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ

Estudos sobre o estresse da condição de psicoterapeuta

• Dificuldades de relacionamento(82%), depressão (57%),abuso de substâncias (11%) e tentativas de suicídio (2%)

• Maior percentual de “burnout” (33%) em comparação com médicos (18%) e enfermeiros (31%)

• Terapeutas de pacientes traumatizados podem se deprimir, ficar aliviados quando pacientes difíceis cancelam as sessões, viver em constante terror de serem solicitados para atender uma emergência, tornarem-se retraídos e indisponíveis para amigos e familiares ou ficarem “adictos a trauma”

Mahoney, 1998; Miller, 2004, Pereira, 2002

Fontes de estresse para o terapeuta: Condições de trabalho

• Desafios a auto-estima profissional como o resultado de rivalidades com colegas médicos,em um ambiente de saúde multidisciplinar

• Levar para casa as angústias, tragédias, negligências, abusos, injustiças e crueldades sofridos pelos clientes

• Esgotamento pelo engajamento emocional (terapeutas mais emocionalmente envolvidos são os mais efetivos e ao mesmo tempo mais vulneráveis ao estresse em seu trabalho)

• Traumatização vicária de terapeutas de trauma

• Proporção excessiva de clientes difíceis; Pressões de tempo; Excesso de trabalho burocrático; Incertezas econômicas; Carga excessiva de trabalho

Jones, 1997; Mahoney, 1998; Miller, 2004

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Fontes de estresse para o terapeuta: Comportamentos dos

clientes • Suicídios ou tentativas de suicídios

• Comportamento agressivo ou hostil

• Depressão, desespero

• Intensa dependência

• Telefonar para a residência do terapeuta

• Comportamento sedutor

• Pagamento irregular

• Faltas e ou atrasos

• Relutância em sair após a sessão

• Resistência Mahoney, 1998

Fontes de estresse para o terapeuta: Questões pessoais

• Sentir-se responsável pelo bem estar do cliente

• Baixa auto-estima

• Levar trabalho para casa

• Dúvidas acerca da eficácia da terapia

• Perda inevitável de clientes (altas)

• Estresse circunstancial (mudança de residência, eventos familiares etc.)

• Esquemas pessoais do terapeuta Mahoney, 1998

Fontes de estresse para o terapeuta cognitivo-comportamental

N=58 TERAPEUTAS

• Os comportamentos resistentes de pacientes difíceis são estressantes para os terapeutas

• Terapeutas experientes mostraram-se mais capazes de manejar com os próprios sentimentos negativos, manifestaram pensamentos e comportamentos mais adequados a situação terapêutica e maior percentual de respostas apropriadas

• Percentual de respostas muito baixo na categoria de nível 1 (mais apropriadas na interação com pacientes difíceis)

• Terapeutas de orientação cognitivo-comportamental tornam-se mais estressados com pacientes difíceis em função das demandas da terapia versus a resistência desses pacientes

Falcone & Azevedo, 2004

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Diretividade versus não-diretividade e TCC N= 62 psicólogos clínicos: 34 (TCC); 17 (Human.); 11 (Psican.)

• Inventário de Sintomas de Estresse (ISSL – Lipp, 2000) apontou níveis

superiores (embora não significativos) de estresse entre os terapeutas TCC.

• Questionário de situações clínicas estressantes (QSCE – Falcone &

D’Augustin, 2006) revelou que os terapeutas TCC apontaram um número significativamente maior de situações estressantes do que os Humanistas e não significativamente maior do que os Psicanalistas.

• Situações estressantes mais apontadas: aquelas que demandam uma quantidade extra de habilidades interpessoais do terapeuta

Conclusão:

A diretividade do terapeuta parece ativar a resistência do cliente e os níveis de estresse do terapeuta, demandando mais habilidades

do primeiro na terapia. Falcone & D’Augustin, 2007

Demandas da TCC

• Diretividade X Não diretividade

• Equilíbrio entre o foco na mudança e na resistência do paciente

• Habilidades extras do Terapeuta Cognitivo-Comportamental

Consequências positivas da condição de terapeuta

• Crescimento pessoal significativo

• Terapeutas mais velhos tendem a ser mais ativos nas sessões, menos angustiados pelas experiências emocionais dos clientes e mais habilidosos em confiar em seu conhecimento

• Terapeutas mais experientes tinham mais habilidades relacionais, eram mais autoconscientes, reflexivos, não defensivos, saudáveis e maduros.

• A autoconsciência dos terapeutas sobre as próprias emoções tiveram um impacto positivo sobre a acuidade em identificar as emoções do cliente

Mahoney, 1998; Bennett-Levy & Thwaites, 2007

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Autocuidado ativo

• Busca de psicoterapia

• Interação com colegas (supervisão colaborativa)

• Ajustamento da quantidade e da gravidade de casos

• Diversificação das obrigações de trabalho (combinar atendimento, supervisão, ensino e pesquisa )

• Atividades físicas, repouso e lazer

• Exercícios de redução do estresse entre as sessões

• Hobbies, música, arte e jogos

• Ter suporte e ser sustentador nos relacionamentos íntimos

Referências:

Falcone, E.M.O. & Azevedo, V.S.(2006). Um estudo sobre a reação de terapeutas cognitivo- comportamentais frente à resistência de pacientes difíceis. Em E.F.M. Silvares (Org.). Atendimento psicológico em clínicas-escola. Campinas: Alínea.

Falcone, E. M. O.& D’Augustin, J.F. (2007). The influence of the professional context and the theorethical approach on the occupational stress of brazilian clinical psychologists. World Congress of Behavioural and Cognitive Therapy, Barcelona, 11 a 14 de julho de 2007.

Falcone, E.M.F. (2006). A dor e a delícia de ser um terapeuta: considerações sobre o impacto da psicoterapia na pessoa do profissional de ajuda. Em H.J.Guilhardi & N.C. de Aguirre (Orgs.). Sobre comportamento e cognição. Expondo a variabilidade. Santo André: ESETec Editores.

Jones, D. (1997). Stresses in cognitive-behavioural psychotherapists. In V.P. Varma (Ed.). Stress in psychotherapists. London & New York: Routledge.

Mahoney, M.J. (1998). Processos humanos de mudança: as bases científicas da psicoterapia. Porto Alegre: Artmed.

Miller, L. (2004). Psicoterapeutas traumatizados. In F.M. Dattilio & A. Freeman (Orgs.). Estratégias cognitivo-comportamentais de intervenção em situações de crise. Porto Alegre: Artmed.

Pereira, A.M.B. & Jiménez, B.M. (2002). O Burnout em um grupo de psicólogos brasileiros. In A.M.T.B.Pereira (Org.). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo.