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O Jogo das Eleições Trabalho realizado no âmbito da disciplina Actividades Matemáticas do 1º Ano do Mestrado em Ensino da Matemática no 3º Ciclo do ensino Básico e no ensino Secundário Trabalho realizado por: Ana Silva Nuno Pena

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O Jogo das

Eleições

Trabalho realizado no âmbito da disciplina Actividades Matemáticas do 1º Ano do

Mestrado em Ensino da Matemática no 3º Ciclo do ensino Básico e no ensino

Secundário

Trabalho realizado por:

Ana Silva Nuno Pena

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 2 | P á g i n a

Conteúdo Conteúdo ....................................................................................................................................... 2

Introdução ..................................................................................................................................... 3

Preferência de Boletins de Voto e Preferência de Listas/ Tabelas ............................................... 4

Transitividade e Eliminação de Candidatos .................................................................................. 5

Movimentação das preferências individuais – Transitividade: ................................................. 5

Eliminação de Candidatos: ........................................................................................................ 5

Método da Pluralidade .................................................................................................................. 6

O Critério de Maioria ................................................................................................................. 6

Quais as Falhas do Método da Pluralidade? ............................................................................. 7

O Critério de Condorcet ............................................................................................................ 8

Método de Contagem de Borda .................................................................................................... 9

Quais as Falhas do Método de Contagem de Borda? ............................................................... 9

Método de Hondt ........................................................................................................................ 11

Bibliografia/ Webgrafia: .............................................................................................................. 15

Anexos: ........................................................................................................................................ 16

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 3 | P á g i n a

Introdução

A democracia não é o voto, é a contagem1

Nós votamos nas eleições presidenciais, nas legislativas, nas autárquicas, nas escolas,

etc. O paradoxo é que quantas mais oportunidades tivermos de votar, menos parece que

apreciamos o significado do voto.

A razão de termos eleições é porque não pensamos todos do mesmo modo. Votar é a

primeira metade desta história, a outra metade é a contagem. Como funciona o processo de

encontrar e escolher uma voz que represente um grupo? Esse processo é sempre justo? A

Teoria das Eleições pretende responder a estas questões.

Para que é necessária uma teoria das eleições? Temos uma eleição, contamos os

votos, baseado na contagem decidimos os resultados das eleições de forma a que pareça o

mais justo possível. Certamente haverá uma maneira de o conseguir, mas

surpreendentemente não há.

Nos anos 50 do século XX, o Matemático e Economista Kenneth Arrow descobriu um

facto notável: Para eleições envolvendo três ou mais candidatos, não havia um método justo

e democraticamente consistente de escolher um vencedor. Na realidade, Arrow demonstrou

que um método para determinar os resultados das eleições que seja democrático e justo é

matematicamente impossível. Este facto é conhecido como o Teorema da Impossibilidade de

Arrow.

Abordaremos agora alguns métodos de votos – como funcionam, quais as implicações,

entre outras.

1 Tom Stoppard.

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 4 | P á g i n a

Preferência de Boletins de Voto e

Preferência de Listas/ Tabelas

Os votos de preferência são votos em que o eleitor ordena os candidatos por ordem de

preferência. Este tipo de votação permite saber a opinião do eleitor em relação a todos os

candidatos, ou seja, além de sabermos a sua primeira escolha, também sabemos a sua

segunda escolha, e por aí em diante até à última opção.

Uma forma lógica de organizar estes votos é agrupando-os sempre que tenham a

mesma ordenação/ preferência.

Vejamos o seguinte exemplo:

A Maths Appreciation Society2 vai eleger um representante de entre

quatro candidatos. Os candidatos são a Andreia (A), o Berardo (B), o Célio (C) e o

Dário (D). Cada um dos 37 membros vota num boletim indicando o candidato de

primeira preferência, de segunda preferência, de terceira preferência e por

último a quarta preferência. Vejamos na figura à direita o boletim de voto e em

baixo os 37 boletins após o sufrágio.

Quem será o candidato vencedor das eleições?

Costuma-se dizer “Cada cabeça, sua sentença”, logo haverá vários arranjos3 dos

boletins mas certamente que haverá boletins com a mesma ordenação de candidatos. Sendo

assim, agrupamos os boletins

idênticos entre si e chamamos

Ordenamento Preferencial

para a eleição. Seguem-se os

votos organizados.

2 Maths Appreciation Society - passaremos a designá-lo pelo acrónimo MAS

3 No exemplo o número possível de votos diferentes é .

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 5 | P á g i n a

Transitividade e Eliminação de

Candidatos

Existem duas importantes notas às quais temos de prestar atenção quanto

trabalhamos com Boletins Preferenciais:

Movimentação das preferências individuais – Transitividade: Significa que se um eleitor preferir o candidato A em detrimento do candidato B mas

preferir o candidato B em detrimento do candidato C, então podemos concluir pela

movimentação das preferências que o eleitor prefere o candidato A em detrimento do

candidato C.

Eliminação de Candidatos: As preferências dum eleitor não são afectadas pela eliminação de um candidato.

Observe-se o seguinte exemplo:

Se porventura ocorresse algum imprevisto com o candidato B e houvesse uma

desistência, teríamos que retirar o candidato do boletim de voto e todos os candidatos que

estivessem numa ordem de preferência inferior ao candidato desistente subiriam um lugar. No

nosso exemplo o candidato D sobe do terceiro para o segundo lugar e o candidato A sobe do

quarto lugar para o terceiro lugar mas continua a ser o último classificado.

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 6 | P á g i n a

Método da Pluralidade

O Método da Pluralidade4 talvez seja o método mais conhecido e vulgarmente

utilizado no escrutínio de candidatos.

A essência deste método reside em eleger o candidato que obtiver o maior número de

preferências para o primeiro lugar. Realçasse que no MP a única informação proveniente do

boletim utilizada é o voto para a primeira preferência, nada mais interessa.

Aplicando o MP às eleições para a Maths Appreciation Society então temos os

seguintes resultados:

Votos referentes às Eleições da MAS segundo o Método da Pluralidade

A - obtêm 14 votos para o 1º lugar B - obtêm 4 votos para o 1º lugar

C - obtêm 11 votos para o 1º lugar D - obtêm 8 votos para o 1º lugar

Então, o candidato A seria o eleito; o vencedor das eleições na MAS.

A popularidade deste método resulta não apenas da sua simplicidade mas também do

facto de ser um natural prolongamento da “Regra da Maioria” em qualquer eleição

democrática entre dois candidatos, o que tiver a maioria5 vence.

Quando existem mais de dois candidatos a regra da maioria nem sempre pode ser

explicada: na eleição MAS do nosso exemplo existem 37 votos. Logo serão necessários 196

votos no primeiro lugar para obter a maioria exigida. No entanto não existe nenhum candidato

com pelo menos esse número de votos. O candidato A tem 14 votos na primeira preferência,

tem mais do que qualquer ou dos outros candidatos por conseguinte, tem a Pluralidade.

O Critério de Maioria Enquanto que a Pluralidade não implica uma Maioria, uma Maioria implica uma

Pluralidade. Temos então que um candidato que tem a maioria dos votos de preferência para

o primeiro lugar é o vencedor segundo o MP.

A noção de que a maioria de primeiros lugares garantirá, automaticamente, o

vencedor da eleição, faz sentido e é um requisito importante para uma eleição justa e

democrática.

Critério de Maioria: Se houver uma escolha que tenha a maioria dos votos dos

primeiros lugares de uma eleição então essa preferência será a vencedora.

4 Método da Pluralidade – passaremos a designá-lo pelo acrónimo MP.

5 Entenda-se por Maioria como superior à metade.

6 Metade de 37 votos são 18,5 votos. Como não existem meios votos, para ser maioria teremos que

arredondar para cima. Então neste exemplo: .

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 7 | P á g i n a

O MP satisfaz o Critério da Maioria e é muito usado em Democracia, no entanto há

outros métodos de escrutínios de eleições nos quais um candidato pode ter a maioria dos

votos de primeiro lugar mas no entanto ser um outro candidato a alcançar a vitória.

Quais as Falhas do Método da Pluralidade? Apesar da utilização generalizada o MP, ele comporta alguns defeitos sendo também

uma má escolha para metodologia eleitoral quando existem mais de dois candidatos. A sua

principal desvantagem é não permitir a preferência dos eleitores para além da primeira

escolha podendo assim conduzir a alguns resultados eleitorais muito fracos.

Observemos o seguinte exemplo:

Uma Universidade tem uma excelente banda de cerimónias. São tão bons que no

próximo Ano Novo vão desfilar em cinco diferentes competições desportivas: no Futebol (F),

no Basquetebol (B), no Ténis (T), no Voleibol (V) e no Hóquei (H). Foi realizada uma votação

entre os 100 elementos dessa banda para decidir em qual das competições desportivas iriam

participar.

Os resultados da votação estão na próxima Tabela de Preferência:

Tabela de Preferências do local de actuação da Banda de Cerimónias

Nº de Votos 49 48 3 1ª Escolha F B T 2ª Escolha B H B 3ª Escolha T V H 4ª Escolha V T V 5ª Escolha H F F

Se utilizarmos o MP, o vencedor será o Futebol – F com 49 votos que manifestam a

preferência do 1º lugar. No entanto do Basquetebol - B, que obteve 48 votos para o 1º lugar e

52 votos para o 2º lugar. O censo comum diz-nos que o Basquetebol poderia ser uma melhor

escolha.

Se compararmos o Basquetebol com qualquer outro desporto no critério “um por um”

tornaria o Basquetebol na escolha preferida. Por exemplo, o Futebol – F teria 49 votos e o

Basquetebol – B teria 51 votos (48 + 3).

Resume-se então ao seguinte problema: embora o Basquetebol vença por comparação

um a um, entre si e qualquer outra escolha, o método da pluralidade falha ao escolher o

Basquetebol – B como vencedor. Podemos então dizer que, para este exemplo, o método da

pluralidade não satisfaz o requisito básico da equidade, também conhecida como Critério de

Condorcet.

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 8 | P á g i n a

O Critério de Condorcet Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, marquês de

Condorcet, pensador, matemático e revolucionário francês,

nasceu em 1743 e faleceu em 1794. As suas ideias a favor de

certas reformas legais e educacionais, a sua posição pela

tolerância religiosa e contra a escravatura fazem dele uma

figura típica do Iluminismo. Destacou-se nas ciências exactas,

ingressando na Academia das Ciências em 1769. Tornou-se

também membro de outras academias europeias. Em 1789,

aderiu com entusiasmo à Revolução Francesa. Acabou por

ser perseguido pela revolução que tanto tinha apoiado,

Condorcet foi preso. Escreveu “Esquisse d'un tableau

historique des progrès de l'esprit humain (1795)”. Trata de

uma doutrina optimista, que pressupõe a capacidade de o Homem se aperfeiçoar

infinitamente.

Critério de Condorcet – Se houver uma eleição cuja comparação um a um é preferida

pelos eleitores sobre todas as outras formas de escolha, a preferência será a vencedora das

eleições.

Quando se diz que o MP “Não Satisfaz” o Critério Condorcet, significa que, numas

eleições, é possível um candidato vencer por comparação um a um mas utilizando o método

da Pluralidade perde as eleições. É o que ocorre no exemplo anterior (da Banda de

Cerimónias). No entanto, esta “não satisfação” nem sempre ocorre.

Quando um candidato é o preferido dos eleitores por comparação um a um

designamos por Candidato Condorcet. Então, o Critério de Condorcet diz-nos que se numa

eleição, um candidato for o Candidato Condorcet então deverá ser o vencedor das eleições. Se

não existir Candidato Condorcet, nesse caso, o critério não se aplica.

Se existir uma votação não sincera7, dissimulada, ela poderá afectar os resultados de

uma eleição. Com o MP isto pode ocorrer facilmente. No exemplo anterior, os candidatos que

elegeram o Ténis – T como primeira preferência, sabendo que o Ténis nunca irá vencer

poderão preferir o Basquetebol – B que será uma preferência com possibilidades de

elegibilidade. Esta espécie de voto falso alterará as eleições.

Um exemplo real do convite à votação dissimulada devido à utilização do MP ocorreu

pela primeira vez em 1992, nos Estados Unidos da América, nas eleições presidenciais. Havia

três candidatos, Ross Perot, Bill Clinton e George Bush, no entanto apenas os dois candidatos

eram elegíveis já que pertencerem a partidos fortíssimos, eram o candidato Bill Clinton e o

candidato George Bush. Muitos eleitores que preferiam Ross Perot acabaram por votar num

dos outros dois candidatos pois se votassem no candidato Ross Perot o seu voto seria

“desperdiçado”.

7 Um eleitor que altere a ordem verdadeira das suas preferências no boletim, numa tentativa de

influenciar o resultado da eleição contra um certo candidato, é chamado “voto dissimulado”.

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 9 | P á g i n a

Método de Contagem de Borda

Jean-Charles de Borda8 nasceu em Dax a 4 de

Maio de 1733 e finou em Paris a 19 de Fevereiro de 1799. Foi

um matemático e cientista político francês. Em 1756

escreveu “Mémoire sur le mouvement des projectiles”

produto do seu trabalho como engenheiro militar já que

tinha sido Oficial de Cavalaria. Por causa desse trabalho seria

eleito para a Academia de Ciências de França em 1764.

Também foi um viajante. Passou algum tempo nas Caraíbas e

entre 1777 e 1778 participou na Guerra da Independência

dos Estados Unidos da América. Em 1981 foi nomeado

responsável de vários navios da Marinha Francesa, tornando-

se Capitão.

Contudo, um pouco antes, em 1770 formulou um sistema de votação, conhecido como

Método de Contagem de Borda.

Segundo esta metodologia, a cada candidato no boletim de voto é atribuída uma

pontuação. Numa eleição com N candidatos, atribuímos 1 ponto ao último, 2 pontos ao

penúltimo, … e N pontos ao candidato mais votado. Os votos são contados separadamente por

candidato e o que obtiver maior pontuação será o vencedor da eleição.

Utilizemos o Método de Contagem de Borda para escolher o vencedor das eleições da

MAS.

Pontos referentes às Eleições da MAS segundo o Método de Contagem de BORDA

Nº de Eleitores 14 10 8 4 1 1ª Opção: 4 pontos A: 56 pts C: 40 pts D: 32 pts B: 16 pts C: 4 pts 2ª Opção: 3 pontos B: 42 pts B: 30 pts C: 24 pts D: 12 pts D: 3 pts 3ª Opção: 2 pontos C: 28 pts D: 20pts B: 16 pts C: 8 pts B: 2 pts 4ª Opção: 1 pontos D: 14 pts A: 10 pts A: 8 pts A: 4 pts A: 1 pt

Vamos agora contar/ somar os pontos:

A - obtêm : 56 + 10 + 8 + 4 + 1 = 79 pontos B - obtêm : 42 + 30 + 16 + 16 + 2 = 106 pontos C - obtêm : 28 + 40 + 24 + 8 + 4 + = 104 pontos D - obtêm : 14 + 20 + 32 + 12 + 3 = 81 pontos

Então, a lista B seria a lista eleita; a vencedora das eleições na MAS.

Quais as Falhas do Método de Contagem de Borda? Ao contrário do Método da Pluralidade, o Método de Contagem de Borda toma em

consideração toda a informação fornecida pelos votos de preferência.

8 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Charles_de_Borda [30-Março-2011; 12:14]

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 10 | P á g i n a

O problema com o Método de Contagem de Borda é que este não satisfaz o “Critério

da Maioria”, ou seja, o candidato com que obtém a maioria das preferências no primeiro lugar

pode não vencer as eleições.

Vejamos o seguinte exemplo:

O Reitor da Universidade de Coimbra vai-se reformar. Haverá lugar a eleições para

eleger o novo Reitor. Existem 4 candidatos, o candidato A, o candidato B, o candidato C e o

candidato D. Houve lugar à votação e decidiram usar este método para determinar o vencedor

das eleições. Os resultados constam na seguinte tabela:

Votos das eleições para eleger o novo Reitor da Universidade de Coimbra utilizando o Método de Contagem de BORDA

Nº de Eleitores 6 2 3 1ª Opção: 4 pontos A B C 2ª Opção: 3 pontos B C D 3ª Opção: 2 pontos C D B 4ª Opção: 1 pontos D A A

Vamos agora contar/ somar os pontos de cada candidato:

A - obtêm : 6 x 4 + 2 x 1 + 3 x 1 = 8 pontos B - obtêm : 6 x 3 + 2 x 4 + 3 x 2 = 32 pontos C - obtêm : 6 x 2 + 2 x 3 + 3 x 4 = 30 pontos D - obtêm : 6 x 1 + 2 x 2 + 3 x 3 = 19 pontos

O novo Reitor da universidade de Coimbra é o candidato B com um total de 32 pontos.

Contudo, o candidato A tem 6 em 11 votos como primeira preferência e portanto, maioria. Isto

é possível porque neste exemplo o Método de Contagem de Borda não verifica o “Critério da

Maioria” e automaticamente o “Critério de Condorcet”.

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 11 | P á g i n a

Método de Hondt

“Criada poucos meses depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, a Comissão

Nacional de Eleições – CNE, acompanhou, desde o início, a construção do edifício democrático

português, procurando contribuir com o seu saber, equidade, independência e espírito de

missão cívica, para uma sociedade livre e pluralista, onde os actos eleitorais sempre se

afirmaram como verdadeiras e transparentes manifestações da vontade e das opções dos

eleitores.

A sua história, o notável papel dos seus Presidentes, a enorme dedicação e qualidade

dos seus membros, e de tantos outros colaboradores, é indissociável dos resultados até hoje

alcançados.”9

“O método Hondt é um modelo matemático utilizado para

converter votos em mandatos com vista à composição de órgãos

de natureza colegial. Este método tem o nome do seu criador o

advogado Belga Victor D'Hondt, nascido em 1841 e falecido em

1901, que se tornou professor de Direito Civil na Universidade de

Gand em 1885. Os dois tipos de sistemas eleitorais são o sistema

Maioritário e o sistema de Representação Proporcional (RP).

O sistema de RP caracteriza-se, essencialmente e de modo

simples, pelo facto de o número de eleitos por cada candidatura

concorrente a um determinada eleição ser proporcional ao

número de eleitores que escolheram votar nessa mesma candidatura. Ora, no âmbito deste

sistema existem várias fórmulas ou modelos matemáticos que podem ser utilizados para

transformar votos em mandatos a atribuir às candidaturas concorrentes a certa eleição, sendo

o método de Hondt um deles.

O método de Hondt, integra a categoria dos métodos de divisores - por contraposição à

categoria dos métodos de maiores restos - pois a operação matemática consiste precisamente

na divisão do número total de votos obtidos por cada candidatura por divisores previamente

fixados, no caso 1, 2, 3, 4, 5, e assim sucessivamente.

Este método procurou solucionar, no sistema de RP, o problema da distribuição de

mandatos causado pelo método de Thomas Hare, conhecido por Quota de Hare, no qual

sobram restos o que obriga a duas operações para atribuição da totalidade dos mandatos.

Dentro da mesma categoria do método de Hondt existem outros que utilizam

diferentes divisores, casos, do método Sainte-Laguë (1, 3, 5, 7, etc), método Sainte-Laguë

modificado (1.4, 3, 5, 7, etc), método Dinamarquês (1, 4, 7, 10, 13, etc), método Huntigton (1.2,

2.3, 3.4, 4.5, etc) e método Imperiali (2, 3, 4, 5, etc.).

9 http://www.cne.pt/index.cfm?sec=0103010000

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 12 | P á g i n a

Algumas das vantagens que são comummente apontadas ao método de Hondt são as

seguintes: Assegura boa proporcionalidade (relação votos/mandatos); muito simples de aplicar

em comparação com outros (com apenas uma operação atribui todos os mandatos); efeitos

previsíveis e é o método mais utilizado no mundo (amplamente implementado em inúmeros

países democráticos, tais como Holanda, Israel, Espanha, Argentina e Portugal).

Por outro lado, a principal desvantagem que lhe é atribuída pelos seus críticos é o facto

de, tendencialmente, favorecer os partidos maiores.

No entanto, os seus efeitos dependem de outros elementos determinantes do sistema

eleitoral (entre eles os círculos eleitorais quer em termos de dimensão territorial, quer em

termos de magnitude, isto é, número de representantes a eleger).

Para avaliar dos resultados do método de Hondt é, essencial, atender aos dois

objectivos considerados como fundamentais para o sucesso de qualquer sistema eleitoral, a

saber, inclusividade e governabilidade.

O mesmo é dizer que o método adoptado deve ser capaz de, por um lado, integrar

todas as diferentes correntes de opinião que existem numa sociedade dentro do sistema

político (na perspectiva da pluralidade de opiniões) e, por outro, assegurar condições de

governação do Estado, ou seja, condições de estabilidade que permitam o desenvolvimento

económico, político, social e cultural da sociedade.

Em Portugal, as leis eleitorais da Assembleia da República, Assembleias Legislativas das

Regiões Autónomas, Autarquias Locais e Parlamento Europeu seguem o sistema de

representação proporcional e utilizam o método de Hondt, muito embora este apenas encontre

consagração constitucional quando à primeira.

O método aplica-se mediante a divisão sucessiva do número total de votos obtidos por

cada candidatura pelos divisores (1, 2, 3, 4, 5 etc.) e pela atribuição dos mandatos em disputa

por ordem decrescente aos quocientes mais altos que resultarem das divisões operadas. O

processo de divisão prossegue até se esgotarem todos os mandatos e todas as possibilidades

de aparecerem quocientes iguais aos quais ainda caiba um mandato.

Em Portugal encontra-se legalmente prevista uma correcção ao método Hondt puro,

na medida em que, caso falte atribuir o último mandato e se verifique igualdade do quociente

em duas listas diferentes, tal mandato será atribuído à lista que em termos de resultados totais

tenha obtido menor número de votos.”10

10

http://www.cne.pt/index.cfm?sec=0501010100

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 13 | P á g i n a

Assembleia da República – Lei Eleitoral11

Artigo 13º

Número e Distribuição de Deputados

1. O número total de deputados é de 230.

2. O número total de deputados pelos círculos eleitorais do território nacional é de 226,

distribuídos proporcionalmente ao número de eleitores de cada círculo, segundo o

método de média mais alta de Hondt, de harmonia com o critério fixado no artigo 16º.

3. …..

Artigo 16º

Critério de eleição

A conversão dos votos em mandatos faz-se de acordo com o método de representação

proporcional de Hondt, obedecendo às seguintes regras:

a) Apura-se em separado o número de votos recebidos por cada lista no círculo eleitoral

respectivo;

b) O número de votos apurados por cada lista é dividido, sucessivamente, por 1, 2, 3, 4, 5,

etc., sendo os quocientes alinhados pela ordem decrescente da sua grandeza numa

série de tantos termos quantos os mandatos atribuídos ao círculo eleitoral respectivo;

c) Os mandatos atribuídos às listas a que correspondem os termos da série estabelecida

pela regra anterior, recebendo cada uma das listas tantos mandatos quantos os seus

termos na série;

d) No caso de restar um só mandato para distribuir e de os termos seguintes da série

serem iguais e de listas diferentes, o mandato cabe à lista que tiver obtido menos

número de votos.

11

http://www.cne.pt/dl/lear2002.pdf

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 14 | P á g i n a

Referendo em Portugal

Lei Orgânica do Regime do Referendo12

Artigo 240º Eficácia Vinculativa

O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a

metade dos eleitores inscritos no recenseamento.

Com que espírito terá sido construída esta lei? Esta lei beneficia alguma das respostas a um

referendo? Sim? Não?

Analisemos o referendo13 realizado em Portugal em 2007. Não abordaremos o tema do

referendo mas sim a matemática do referendo.

Há duas respostas possíveis. A resposta Sim e a resposta Não.

12

http://www.cne.pt/dl/legis_lorr_2010.pdf 13

http://eleicoes.cne.pt/

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Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 15 | P á g i n a

Bibliografia/ Webgrafia:

Tannenbaum, Peter; “Excursions in modern mathematics” – Sixth Edition – Pearson.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Charles_de_Borda [30-Março-2011; 12:14];

http://wps.prenhall.com/esm_tannenbaum_excursions_6/51/13160/3369067.cw/index.html

[30-Março-2011; 12:16];

http://www.infopedia.pt/$condorcet [5-Abril-2011;15:30];

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marie_Jean_Antoine_Nicolas_Caritat [5-Abril-2011; 15:40];

http://www.cne.pt/dl/lear2002.pdf [05-Abril-2011; 16:10];

http://www.cne.pt/index.cfm [05-Abril-2011; 16:38];

http://www.legislativas2009.mj.pt/ [05-Abril-2011; 16:47];

http://eleicoes.cne.pt/raster/index.cfm?dia=22&mes=01&ano=2006&eleicao=pr [05-Abril-

2011; 17:00]

http://www.cne.pt/dl/legis_lorr_2010.pdf [05-Abril-2011; 18:00]

http://daniel-braga.blogspot.com/2009/08/o-metodo-proporcional-de-hondt.html [05-Abril-

2011; 18:42]

http://www.cne.pt/index.cfm?sec=0501010100 [05-Abril-2011; 18:43]

Page 16: O Jogo das Eleiçõesmat1027/AM2/Sebenta.pdfO Jogo das Eleições Trabalho realizado no âmbito da disciplina Actividades Matemáticas do 1º Ano do Mestrado em Ensino da Matemática

Actividades Matemáticas

O Jogo das Eleições 16 | P á g i n a

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