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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM O LIDAR COTIDIANO COM MEDICAMENTOS NO VIVER DE PESSOAS IDOSAS – A Presença do Cuidado de Enfermagem JORGE CÉSAR RODRIGUES VALMOR JOSÉ HEBERLE Biguaçu (SC) 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

O LIDAR COTIDIANO COM MEDICAMENTOS NO VIVER DE

PESSOAS IDOSAS – A Presença do Cuidado de Enfermagem

JORGE CÉSAR RODRIGUES

VALMOR JOSÉ HEBERLE

Biguaçu (SC)

2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

O LIDAR COTIDIANO COM MEDICAMENTOS NO VIVER DE

PESSOAS IDOSAS – A Presença do Cuidado de Enfermagem

JORGE CÉSAR RODRIGUES

VALMOR JOSÉ HEBERLE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para obtenção de créditos

curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade do Vale do Itajaí – Biguaçu, sob a

orientação da Prof.ª Dr.ª Lygia Paim.

Biguaçu (SC)

2008

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RESUMO

Nesta investigação foi estudado o modo cultural com que os idosos lidam com sua medicação em domicílio. O objetivo da pesquisa foi a construção de elementos referenciais a uma interrelação da abordagem do saber profissional com a abordagem do saber popular em saúde focalizada na medicação em idosos usuários de Serviços de Atenção Básica de Saúde. A metodologia compreendeu o desenho da Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA) intencionalmente escolhida pelo caráter de prestar assistência aos idosos enquanto desenvolve-se o próprio processo investigativo, com simultaneidade. Os instrumentos se constituíram como: a) Roteiro de Visita Domiciliar (Apêndice 10); b) Entrevistas Semi-Estruturada individual; c) Entrevista Semi-estruturada ampliada à família, d) Pauta de Encontro Coletivo. Para análise do corpus composto pelas expressões em dados coletados, utilizou-se a análise de discurso denominada hermenêutico-adialética, na qual tomamos o sentido das falas como formação discursiva, interpretando a realidade evidenciada pelos sujeitos. Resulta dessa analise, quatro categorias 1) O olhar do idoso-usuário ao sistema profissional de saúde; 2) Negociações culturais na assistência para o bem-estar do idoso-usuário; 3) Autonomia do idoso-usuário do Serviço de Saúde; 4) O perfil do idoso-usuário do Serviço de Saúde face ao uso de medicamentos. Conclui-se que há espaço receptivo ao compartilhamento de saberes do profissional e do usuário, onde estão elementos de referencia a uma abordagem pedagógico-profissional de educação em saúde, a qual será mais apropriada se tiver em conta as emoções e os afetos que precedem o aprender do idoso-usuário. Os dados analisados caracterizaram os idosos participantes da pesquisa nos seus modos de vida cotidiana como utilizadores de seus saberes populares porém, necessitam de explicações compreensivas do saber profissional.

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ABSTRACT

In this investigation there was studied the cultural way with which the old ones work with his medication in residence. The objective of the inquiry went to construction of elements referential systems to an inter-relation of the approach of the professional knowledge with the approach of the popular knowledge in health focused in the medication in old users of Services of Basic Attention of Health. The methodology understood the drawing of the Inquiry Convergente-Assistencial (PCA) intentionally chosen by the character of giving presence to the old ones while it develops the process itself investigativo, with simultaneity. The instruments were constituted how: a) Itinerary of Home Visit; b) Interviews Semi-structured individually; c) Semi-structured Interview enlarged to the family, d) List of Collective Meeting. For analysis of the corpus composed by the expressions in collected data, there was used the analysis of speech called hermenêutico-dialectic, in which we take the sense of the words like discursive formation, interpreting the reality shown up by the subjects. It resulted from this analysis, four categories: 1) The glance of the old user (Popular culture) to the professional system of health, 2) cultural Pacts / negotiations of the old one on behalf of the presence for the well-being, 3) Autonomy of the usufructuary-old one of the service of health, 4) the popular culture and the profile of the old user of the service of health face to the use of medicines. It is ended that there is receptive space to a compartilhamento of knowing of the professional and of the user, where elements of reference are to an approach professional- pedagogic of education in health, what it will be more appropriate if he will take into account feeling the emotions and the affections that precede learning of the old-usufructuary one.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – O olhar do idoso-usuário ao sistema profissional de saúde. ................................ 33

Quadro 2 – Negociações culturais na assistência para o bem-estar do idoso-usuário ........... 35

Quadro 3 – Autonomia do idoso-usuário do Serviço de Saúde ................................................ 37

Quadro 4 – O perfil do idoso usuário do serviço de saúde face ao uso de medicamentos ...... 39

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 8

1.1 O Problema e sua Justificativa ...................................................................................... 8

2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 14

2.1 Objetivo Geral............................................................................................................... 14

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 14

3 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 15

4 CONTEXTUALIZAÇÃO E APROXIMAÇÃO DE PRÁTICAS ASSISTENCIAIS: Uma

Prévia à Pesquisa ..................................................................................................................... 20

4.1 Descrição da CIABS como Sede Operacional da PCA ............................................. 20

4.2 Desenvolvimento de Práticas Assistenciais Prévias à PCA ....................................... 22

5 METODOLODIA ................................................................................................................. 24

5.1 Tipo de Estudo .............................................................................................................. 24

5.2 Pesquisa Convergente–Assistencial (PCA) ................................................................. 24

5.3 Espaço do Estudo .......................................................................................................... 24

5.4 Sujeitos do Estudo ........................................................................................................ 25

5.5 Pontos Éticos Pertinentes a esta PCA ......................................................................... 26

5.6 Instrumentos, Processos e sua Utilização na Coleta de Dados PCA ........................ 26

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO ................................................................................................... 32

6.1 Processos e Resultados das Visitas e Encontros com os Idosos ................................ 32

6.2 Ordenação dos Dados ................................................................................................... 33

6.3 Classificação dos Dados................................................................................................ 33

7 REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE OS DADOS FACE À DIVERSIDADE CULTURAL

COMO SUPORTE DO ESTUDO ........................................................................................... 43

7.1 Conceitos Operacionalizados na Pesquisa .................................................................. 47

8 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 53

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REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 56

APÊNDICES............................................................................................................................ 59

Apêndice 1 - Solicitação de Autorização para a Realização da Pesquisa ......................... 59

Apêndice 2 – Termo de Compromisso e Aceite de Orientação ........................................ 60

Apêndice 3 – Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido ........................................... 61

Apêndice 4 –Instrumento A: Roteiro Semi-Estruturado para Entrevista com o Idoso ..... 63

Apêndice 5 – Instrumento B - Entrevista com o Cuidador ............................................... 64

Apêndice 6 – Termo de Consentimento para uso de Arquivos, Registros e Similares ..... 65

Apêndice 7 – Tabela 1 na organização na tomada dos medicamentos ............................. 66

Apêndice 8 – Tabela 2 para organização na tomada dos medicamentos .......................... 67

Apêndice 9 – Tabela de medicamentos ingeridos pelos clientes. ..................................... 68

Apêndice 10 – Roteiro de Visita Domiciliar..................................................................... 69

Apendice 11 - Encontros realizados com os clientes ........................................................ 70

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O Problema e sua Justificativa

O cotidiano em saúde de pessoas idosas é uma expressiva consideração que faz parte

do cuidado desenvolvido em meio às ofertas dos Serviços de Atenção Básica de Saúde. Aviva-

se ainda mais tal consideração neste século XXI em que o aumento da população idosa

acompanha-se de um processo de envelhecimento com uma tendência a maior longevidade

com vulnerabilidade às situações crônicas e uma exposição cada vez maior ao consumo de

medicamentos.

Os idosos formam um grupo populacional cuja tendência de aumento vem

caracterizando problemas típicos de saúde para o que, cabe re-alinhar as programações dos

Serviços a serem ofertados, atualizando-as em seus atendimentos de modo mais coerente com

as situações apresentadas por este grupo populacional. O desempenho da Estrategia da Saúde

da Família (ESF) vem se tornando cada vez mais atento na imediatez e continuidade do

cuidado que requerem, por direito, as famílias usuárias da rede de Serviços de Saúde como

também cumprindo seu papel na prontidão de alimentar a configuração do funcionamento de

todo o Sistema, naquilo em que se mostra ainda vulnerável do ponto de vista da qualificação

dos serviços de Saúde que estão sendo ofertados.

Contemporaneamente, o impacto do envelhecimento populacional no Brasil vem

trazendo consigo, por conseqüência, o uso intensivo de medicamentos, prescritos ou não pelos

médicos, conforme estudos publicados por Loyola Filho et al. (2006), nos quais, chamam a

atenção para um cuidado especial com o uso de medicamentos, associando esta questão à

qualidade de vida dos idosos.

Com o envelhecimento, o homem passa a ter um contato mais freqüente com os

profissionais da área da saúde. Geralmente a preocupação com a saúde somente se inicia após

os 40 anos, momento em que, geralmente surgem alguns desequilíbrios no organismo

humano. Sabemos ainda que a população idosa tende a crescer, conseqüentemente, o aumento

das doenças crônicas degenerativas que são mais encontradas a partir dos 60 anos de idade.

Isso nos leva a uma análise no possível crescimento do índice de internações de pessoas

idosas e também o possível aumento do número de medicações utilizadas pelos mesmos.

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A polifarmacologia (ingestão de vários fármacos) pode trazer riscos para a saúde do

idoso, visto a possibilidade de ocorrência de iatrogenias (alterações patológicas provocadas no

paciente por diagnóstico ou tratamento de qualquer tipo). Na hospitalização, o controle na

administração é realizado pela equipe de enfermagem e vemos que as dificuldades não estão

na polifarmacologia em internações e sim em seu lar, quando o próprio idoso realiza o

controle de suas medicações, às vezes sem saber ler direito, falta de conhecimento de como

fazer a ingestão de alguns fármacos, ou mesmo com problemas de visão que são muito

comuns nessa etapa da vida. Além da dificuldade em gerenciar as suas medicações, o uso de

diversos medicamentos, por si próprio, é um fator de risco para o idoso, podendo levar a sua

hospitalização.

Com este estudo colocamos ênfase na importância educacional dos profissionais de

saúde, em particular do enfermeiro, no que diz respeito à administração de medicação ao

paciente idoso, permitindo desta forma que estratégias venham a ser discutidas sobre essas

questões e uma participação mais efetiva daqueles que cuidam, seja implementada para

diminuir as iatrogenias decorrentes da terapêutica plurimedicamentosa.

O que se observa nas rotinas clínicas, ambulatoriais dentre outras, são pacientes idosos

que recebem cada vez mais um número maior de medicamentos e pouca interatividade por

parte dos profissionais de saúde na questão da informação a respeito das medicações.

Diante desta realidade, é que notamos a possibilidade do enfermeiro retomar

criativamente sua condição de participante do processo de educação e saúde, orientando os

idosos quanto à administração de sua própria medicação, amenizando assim as complicações

decorrentes do uso inadequado de medicamentos. Segundo Papaléo Neto (1996) “10% dos

pacientes adultos desenvolvem algum tipo de reação às drogas; após 80 anos esta

possibilidade chega a 25%”. Tratando-se da população idosa como foco deste estudo, e

reconhecendo que até por isso, uma pesquisa em nossa realidade mostra se autojustificável,

levamos a efeito um estudo prévio de prática assistencial, consubstanciando como tal o

desdobramento da um objetivo específico no interesse de aproximação concreta dos usuários

idosos da CIABS e assim interpretar as práticas assistenciais implementadas com a realidade

do gerenciamento da medicação prescrita na CIABS de modo a refletir esta parte do modelo

organizacional da referida instituição. Por se tratar de uma Unidade de Atenção Básica de

Saúde, os medicamentos ali prescritos estão centrados no conceito de “Farmácia Básica”

encaminhando se à consulta e controles da Unidade Mista de Saúde, no mesmo Município, as

consultas de Especialidades e portanto, o tipo de medicação correspondente.

Ao mostrar que há um elevado consumo de remédios pela população idosa, Loyola

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Filho et al. (2006) também conseguem, como Coelho Filho (2004), afirmar segundo os

relatos, que tal consumo de medicamento se dá, mostrando uma média de 2 a 5 tipos de

medicamento em uso, por idoso. Acrescentam ainda que dentre estes, há um número

prevalente de mulheres que faz uso de tal número de medicamentos; por conseqüência, por

vezes, há uso abusivo de certos medicamentos, e parece haver riscos pelo aumento de certas

doenças, inclusive algumas cardiovasculares.

O uso indiscriminado e excessivo de medicamentos pode causar ou expor os idosos ao

risco desnecessário de que ora tratam os citados autores e esta situação determina

potencialidade para muitos perigos de agravos à saúde dos que fazem uso de medicamentos

nesta fase da vida. De modo geral, o idoso como um consumidor de medicamentos, mais que

em outras faixas etárias, ele também, por sua própria condição de longevo, está mais

vulnerável diante de possíveis efeitos colaterais. Um estudo do RENAME/Ministério da

Saúde (BRASIL, 2007) revela que em países desenvolvidos a população geral atinge 18% no

total de idosos, e estes, são responsáveis por 40% das prescrições medicamentosas. Vale

pensar que quase todo o medicamento pode, teoricamente, causar prejuízo cognitivo em

indivíduos suscetíveis, notadamente, em idosos. É sabido que o número de efeitos colaterais

tende a aumentar com o aumento do número de medicamentos (CARVALHO FILHO, 1996)

então, o uso de medicamentos no viver dos idosos é uma questão delicada, principalmente

com a advertência das pesquisas (BLAY, 1989) quando afirmam que os idosos são os que

mais consomem medicamentos incluindo-se nesse consumo, algumas vezes, medicamentos

psicotrópicos. Estes dados registrados por estudos, merecem todo esforço profissional de ir

além da detecção dos mesmos e chegar até as ações de educação em saúde que cabem a nós,

profissionais da enfermagem, como parte da equipe interdisciplinar no Sistema Único de

Saúde (SUS).

Este quadro torna se assim configurado sobre o consumo de medicamentos está

registrando com indicativos de que os medicamentos mais usados pelos idosos são os

cardiovasculares, os antidepressivos, os de ação sobre o metabolismo, além de acrescentar a

informação de que, as mulheres, nesta faixa etária, são as que mais fazem uso de

medicamentos. Esta prevalência das mulheres no grupo de alto consumo de medicamentos,

quando associada às atividades que em geral lhes são socialmente atribuídas, tais como as de

cuidadoras da família no âmbito doméstico, mostram potencialmente os riscos de reações, não

só para elas próprias como também para os que são por elas cuidados.

A pensar que os idosos, em sua maioria são avós, essas pessoas também são mais

vulneráveis, a complicações ao adoecer, principalmente os mais velhos. Ao lado disso, há

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elementos que sobrecarregam a sua saúde, e neste estudo focaliza-se entre esses elementos, o

acréscimo dos possíveis efeitos do uso dos medicamentos que fazem cotidianamente. Tal uso

está focalizado, seja por suas necessidades, prescritos ou não, como indicam alguns estudos

desta natureza, a exemplo do discutido por Rozemberg (1994). A casa dos idosos hoje, no

estilo de vida atual, é muitas vezes, co-habitada pelos seus filhos adultos, casados, e que

trabalham fora de casa, deixando durante o dia, suas crianças e adolescentes no encargo

desses avôs para que seus pais possam ir ao trabalho. Esta questão traz em si, muitas

implicações, pois sabemos todos que são lutas atuais para a provisão financeira pelo ganho

salarial, contudo, essa re-inserçao dos netos no espaço dos avós, e estes por sua vez, estão

quase sempre em uso de medicamentos, mostra-se precisando de cuidados. Esta situação, tem

sido parte de uma prática cultural que vem ocorrendo com freqüência. Cuidar dos netos

parece hoje fazer parte das atividades esperadas desse “novo idoso”, na expressão consagrada

no estudo de (RODRIGUES e SOUZA, 2003). Isto leva-nos a refletir sobre a qualidade de

vida e saúde dos idosos contemporâneos. Há que se considerar que esses avós nem chegam a

se organizar no cuidado de si mesmos. Quase sempre, exercem suas habilidades, no esforço

de cuidar de outros e, alguns deles, esforçam-se mais por estarem em uso de medicamentos

ansiolíticos, antidepressivos, neurolépticos e anti-hipertensivos, todos, esses medicamentos de

certo modo, oferecem alguns riscos potenciais ao equilíbrio e a cognição. Vale repensar o uso

de medicamentos nesse viver cotidiano de pessoas idosas; de um lado, pelo cuidado que a

enfermagem pode gerenciar em suas visitas domiciliares e nas demais proposições de

educação em saúde; e, de outro lado, é requerido o olhar para o gerenciamento dos programas

de Atenção Básica de Saúde na rede pública do Sistema Único de Saúde, no que diz respeito

aos estudos de Coelho Filho et al. (2005), Trelha et al. (2006) e Loyola Filho et al. (2006)

quando se referem à demanda esperada dessa população idosa no consumo de Serviços de

Saúde, bem como ao custo que esse atendimento corresponde.

Quanto às questões sociais de saúde dos idosos inclusive as que se referem ao custo

dos serviços ofertados e a correspondente gestão de Serviços de Saúde, sabe se que essas

relações são previstas na Atenção Básica de Saúde com o modelo de assistência que é objeto

das leis n. 8080/90 e 8142/90 porquanto visam à garantia da formação dos trabalhadores e a

manutenção técnica e financeira dos Serviços que integram a Rede Pública de Saúde.

Apesar da abertura político-social ao tratamento destas e outras questões afins, quase

sempre há uma priorização a assuntos considerados mais imediatos, mormente pela cultura do

cuidado profissional de tendência medicalizada nos Serviços de Saúde; porém, distanciados

em seus Serviços Profissionais do viver o cotidiano de saúde dos usuários. Contudo, optamos

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por buscar uma questão norteadora que guie esta pesquisa justamente voltada para o cotidiano

de idosos usuários de um Serviço de Atenção Básica de Saúde. Partimos do pressuposto de

que, de fato há ainda um distanciamento entre os saberes profissionais e os saberes populares

de saúde, e que há grandes diferenças entre o curto tempo de consultas e o requerimento de

orientações entre profissionais e idosos, no interior da instituição de saúde. Pressupomos que

um tempo mais longo, mais familiarizado nas visitas domiciliares, pode favorecer as relações

profissional-usuário idoso. No caso deste estudo, acrescenta-se a vantagem do usuário se

perceber com mais condições ao diálogo numa posição de autoridade em seu ambiente

domiciliar e, com um tempo de contato maior do profissional para o seu atendimento.

Ao tratar sobre a orientação do idoso quanto ao uso de medicamentos este estudo

atingiu pessoas idosas em seus ambientes domiciliares no qual considerou as implicações

desse cuidado no contexto das relações com a proposta de Atenção Básica de Saúde ofertada

por um dos Serviços de Saúde da Rede SUS, em Biguaçu (CIABS).

Este estudo com idosos, sobre o uso de medicamentos, se justificou pela geração de

conhecimento social em saúde, advindo da interpretação das informações buscadas a partir do

viver cotidiano de usuários dos serviços de saúde, (idosos) o que nos forneceu possibilidades

re-construtivas e teorizações importantes a respeito das novas e expressivas práticas

educativas no campo da orientação e acompanhamento à saúde no âmbito do uso de

medicamentos pela população idosa. Os acréscimos teóricos suscitados por análises

interpretativas das situações registradas e tematizadas em categorias emergentes do contexto

da pesquisa, revertem-se em viabilização de referências mais apropriadas a convergências de

saberes: profissional e popular quanto à saúde do idoso diante do uso domiciliar de recurso

terapêutico farmacológico-medicamentoso.

Do ponto de vista sócio-econômico, este estudo traz para a sociedade elementos a uma

compreensão mais clara dos investimentos e dos custos sociais e financeiros representados na

cobertura medicamentosa do grupo populacional pesquisado. Além disso, pode construir uma

noção das conseqüências do uso massivo de medicamentos ou, até mesmo, a possibilidade de

levantar alguns riscos e prejuízos de várias ordens, implicados no sentido da delicada relação

entre desembolso material e custo saúde – uma discussão ética pelo valor da vida, em face de

uma visão econômica na produção e uso de tecnologias de medicamentos, com a qualidade de

fisionomia humana (SCHUMACHER, 1979).

Na perspectiva de bases filosóficas e legais do SUS, este trabalho reforça a

humanização do modelo assistencial, pela crítica e correspondente criatividade ao modelo

vigente que vem sendo construído, incluindo a interlocução com o usuário do sistema de

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saúde, a partir da estratégia de Saúde da Família (ESF) em sua atuação em ambiente

familiar/domiciliar. O cenário do domicílio pôde reavivar o entendimento do significado do

acolhimento em sinalização do próprio idoso em sua receptividade aos profissionais no seu

espaço privado. O foco interpretativo de alguns princípios e diretrizes do SUS revigoram o

interesse deste estudo no que tange as normas relativas a medicamentos na instituição e a

versão deste tema fora do âmbito institucional, somadas as características culturais que se

apresentam nos dados consignados neste estudo.

Diante da importância que dá relevo ao tema do uso de medicamentos na vida e saúde

dos idosos, consubstanciamos as reflexões sobre os dados que embasam o presente estudo,

formulando a seguinte questão norteadora: Como as pessoas idosas usuárias dos Serviços

Básicos de Saúde na CIABS, lidam com o uso de medicamentos no seu contexto domiciliar?

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Construir referenciais apropriados ao contexto das relações entre a abordagem

profissional e a abordagem popular quanto ao uso de medicamentos pela população idosa,

usuária de um Serviço de Atenção Básica de Saúde – SUS no Município de Biguaçu.

2.2 Objetivos Específicos

- Descrever as características do Serviço de Atenção Básica de Saúde em sua abordagem

profissional sobre o gerenciamento da assistência quanto ao uso de medicamentos pelos

usuários idosos pertencentes ao seu cadastramento.

- Identificar as implicações do uso de medicamentos pelos idosos em seu ambiente

familiar/domiciliar.

- Implementar estratégias de práticas educativas com idosos para o cuidado cotidiano no

lidar com implicações emergentes do uso de seus medicamentos.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

De modo compacto, esta revisão de literatura traz em seu bojo o destaque a quatro

sub-temas integrativos do interesse deste estudo, a saber: a) aumento populacional de idosos,

longevidade, autonomia no idoso contemporâneo; b) consumo de medicamentos e

implicações em idosos; c) gerenciamento em Serviços Básicos de Saúde e medicamentos em

idosos; d) práticas assistenciais com idosos em situação domiciliar.

O aumento da população idosa no Brasil nas duas ultima décadas tem sido tão

expressivo quanto se torna significativa suas implicações quanto à demanda que este

fenômeno representa para os Serviços de Saúde. Ainda que as possibilidades deste

acontecimento caracterizem algo esperado como tendência de aumento populacional

atualmente, tem correspondência com o aumento da longevidade sem eliminar a diversidade

de doenças crônicas que vigem ao longo do processo de envelhecer.

Embora convivamos com idosos, variadas procedências de condições econômicas, a

vulnerabilidade às doenças crônicas, está presente em cada uma delas, e, ainda que alguns

casos nosológicos sejam comuns a todos os segmentos econômico-sociais, na população idosa

há algumas doenças que se acrescentam ou se agravam pela condição sanitária com problemas

típicos de países menos desenvolvidos, a exemplo da dengue, a malaria e mesmo a

desnutrição e suas conseqüências.

O consumo de medicamentos na população idosa é uma questão delicada, não

somente pela condição de exposição a substâncias inadequadas a algumas situações que

acompanham o envelhecimento humano, como às adversidades possibilitadas em seu uso.

Estudos como os de Coelho Filho et al. (2004), Trelha et al. (2006), Loyola Filho et al. (2006)

se referem à demanda esperada dessa população idosa no consumo de Serviços de Saúde, bem

como ao custo que esse atendimento corresponde.

Hoje em dia, as lutas pelo trabalho, provisão financeira tem levado os pais a certa

distância da criação de seus filhos e os avôs têm assumido responsabilidades de acompanhar o

desenvolvimento das crianças, ficando com eles por muitas horas enquanto os pais trabalham

fora de casa. Com isto se sabe que os idosos (avós) vêm assumindo atividades, algumas vezes

maiores que suas possibilidades, e se descuidam de si mesmos para cuidar dos netos, o que

significa de certo modo uma sobrecarga a suas condições de vida e saúde. Diante deste quadro

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acontecem os descasos com a medicação que o idoso usa, e as implicações da utilização

adequada e inadequada, têm sido objeto de estudo como na pesquisa de Rodrigues e Souza

(2003). Agrava-se esta situação cotidiana da saúde dos idosos quando se consideram as

publicações a respeito, e se referem ao uso de medicamentos, prescritos ou não, e traz como

exemplo os antidepressivos, ansiolíticos, neurolépticos, e anti-hipertensivos com alguns riscos

em sua cognição e no seu equilíbrio. Estudos também mostram que antidepressivos podem

diminuir a densidade óssea. Estes estudos mostram que os antidepressivos levam ao aumento

do número de quedas e de fraturas e que os idosos têm um maior risco de desenvolver

osteoporose (CARVALHO FILHO, 1996). Muitos autores, como Ribeiro et al. (2005) tratam

da qualidade do uso de medicamentos por idosos e o fazem em revisões dos métodos de

avaliação disponíveis. De modo geral esses estudos discutem a prática de polifarmácia e

adotam o critério conceitual de que um medicamento é considerado inadequado quando os

riscos de seu uso superam seus benefícios (BEERS et al. 1991).

O impacto do envelhecimento populacional no Brasil traz como conseqüência, o uso

abusivo de medicamentos prescritos por médicos ou não. Pesquisas nos mostram que temos o

alto consumo de remédios pela população idosa, em média de dois a cinco tipos de

medicamentos por idoso (LOYOLA FILHO et al. 2006; COELHO FILHO, 2004).

Os idosos têm respostas a medicações diferentes dos jovens. Na realidade muitos

medicamentos inapropriados são os únicos que o Ministério da Saúde disponibiliza e que para

uma certa classe dos remédios há os que são inapropriados para os idosos (BRASIL, 2007).

Os estudos realizados nelas fontes apresentadas nos trazem noção das responsabilidades que

os gestores devem ter para garantir a saúde dos nossos idosos.

A expectativa de vida tem aumentado significativamente e o padrão das famílias tem

mudado, isso tem levado os idosos a utilizarem cada vez mais remédios tanto prescritos por

médicos como indicados por amigos e outros, esse processo tem contribuído para o uso

abusivo de medicações e o aparecimento de várias doenças crônicas em decorrência do uso

indiscriminado de remédios influenciando a mudança no estilo de vida.

O uso indiscriminado e excessivo de medicamento pode causar ou expor os idosos a

um risco desnecessário e com uma potencialidade muito perigosa para o idoso como um

consumidor de remédio, pois, mais que as outras faixas etárias, ele também está muito

vulnerável aos efeitos colaterais. Este estudo revela que países desenvolvidos, embora a

população geral seja de 18% de idosos, eles são responsáveis por 40% das prescrições e ainda

que “Quase todo o medicamento pode teoricamente causar prejuízo cognitivo em indivíduos

suscetíveis notadamente em idosos” (CARTWRIGHT e SMITH, 1988).

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17

A desigualdade social no Brasil é um dos maiores problemas e os idosos não ficaram

livres desta questão, quando diminuem o seu poder aquisitivo, as complicações aumentam. Os

idosos de maior poder sócio-econômico fazem um uso maior de medicamentos prescritos em

relação aos idosos de baixo poder sócio-econômico.

Os idosos ainda estão tomando medicações sem prescrições medicas, mesmo após o

aumento dos serviços da assistência básica. A relação de medicações prescritas esta

inversamente proporcional, o idoso de maior poder financeiro faz menor uso que idoso mais

carente. Mas ambas as faixas sócio-econômicas fazem uso de medicações inadequadas

(COELHO FILHO et al. 2004).

Trelha et al. (2006) em estudo sobre a caracterização de idosos restritos ao domicílio e

seus cuidadores, mostra a predominância do gênero feminino em presença nas unidades

básicas de saúde com tratamento de situações crônicas como a dor, principalmente na coluna

lombar e, fazendo-as dependentes para as suas atividades de tomar banho, pentear o cabelo e

vestir-se, precisando, portanto, de cuidadores, os quais quase sempre têm algum parentesco

com os pacientes na maior parte são filhos. Tais cuidadores trabalham por oito horas diárias,

dadas as incapacidades funcionais que alguns idosos apresentam; esta situação é mais uma

preocupação a ser incluída nas considerações das gestões dos serviços de saúde em seus

planejamentos, principalmente na significativa experiência que vem sendo feita pelo ESF.

Quanto à gestão de serviços de saúde no que diz respeito à atenção básica de saúde

faz-se as relações com atenção ao grupo populacional de idosos, o modelo assistência vista

nas Leis nº 8080/90 e 8142/90 a garantia da formação dos trabalhadores e a manutenção

técnica e financeira dos serviços requerem o compromisso ético e político de cobertura e

avaliação deste grupo populacional e nisto se inclui o cuidado específico de usos de

medicamentos em geral, com proteção no âmbito da promoção da saúde, com educação

permanente voltada a autonomia das famílias em sua decisão de cuidar-se, implementadas

pelo fornecimento de informações, orientações, correspondentes ao direito do usuário e

direito do profissional.(BRASIL, 1990a e BRASIL, 1990b)

Padilha et al. (1994) tratam da Visita Domiciliar como uma alternativa assistencial e

evocam a importância desta atividade para identificar as condições sociais e sanitárias dos

clientes e complementar as orientações ao processo educativo da consulta de enfermagem,

tanto individuais como em grupos, adequando os conhecimentos à realidade social,

econômica, cultural e ambiental do cliente-família. Mostram que a consulta de enfermagem

num grupo em pré-natal foi realizada com 97% das mulheres gestantes, as quais mostraram

75% de adesão ao prescrito pelas enfermeiras que desenvolveram as consultas.

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Os estudos da prevalência da dor e o uso de analgésicos merecem atenção em faixa

etária mais elevada. A Sociedade Americana de Geriatria estima em 25% a 50% dos idosos

que referem dor. Entre os residentes em asilos essa estimativa é de 40% a 80%. Esta é mais

uma informação que decorre da revisão sistemática e acrescenta fortalecimento os interesse

deste estudo em buscar saber como os idosos em seus domicílios estão lidando com os

medicamentos que eles usam.

Por sua vez, o autocuidado do idoso frente à intervenção de enfermagem e melhor

qualidade de vida é o que aborda Silva e Duarte (2001) quando fazem uma revisão sistemática

do idoso e o cuidado de si. Nesse estudo os autores concluem que o autocuidado contribui

para que o idoso melhore o seu convívio familiar e social, amplie sua autonomia e auto-estima

e perceba-se em um envelhecer saudável. Neste estudo, apropriar-se de sua medicação

cotidiana e lidar bem com ela é o que se pretende desenvolver com os idosos, propondo-nos a

trabalhar numa investigação que invista na cultura dos clientes idosos e construa elementos ao

novo modelo institucional de tratar com esses idosos. Quando os profissionais de saúde, no

espaço institucional e no domicílio, preocupam-se com a cultura dos idosos, sua subjetividade

e espiritualidade. Os Serviços de Saúde estão enfrentando o desafio de promoverem a

autonomia desses clientes idosos.

Acioli (2006) em estudo sobre os sentidos e as práticas de saúde em grupos populares

e a Enfermagem de Saúde Pública trata da idéia que vem sendo incorporada pela Enfermagem

de Saúde Pública, de que a atuação dos profissionais de saúde e as construções teóricas neste

campo consideram em suas propostas, as práticas que a população realiza e a existência de

uma sabedoria prática. Assim, os sentidos e práticas de saúde, doença e cuidado, no caso deste

estudo – dos idosos – requer ser reconhecido pela abordagem profissional voltando-se para o

lugar do cotidiano dos idosos como expressão de um espaço social onde vivem estes grupos

populares. Assim, a cultura dos idosos, nas suas expressões de uso de medicamentos no

mundo de sua intimidade deve ser um dos elementos mais importantes a ser considerado pelo

gerenciamento do Serviço de Saúde de onde esses idosos são cadastrados como usuários.

Segundo Brunner (Apud PAPALÉO NETTO, 1996, p.231) “um estudo demonstrou

que 59% dos idosos com doenças crônicas cometiam algum tipo de erro na utilização de suas

prescrições”.

E em posse desses dados vimos a necessidade de fazer um estudo levando em

consideração o número de medicamentos utilizados pelos idosos, relacionar as medicações

mais comumente usadas pelos idosos, identificar os problemas encontrados pelos idosos em

relação à administração dos medicamentos.

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Está mais do que comprovado que a dor acomete mais pacientes idosos do que os

jovens e adultos. Acredita-se que 85% dos acidentes em asilos ocorrem com presença de dor,

o que contribui para os problemas de depressão, distúrbio do sono, reabilitação retardada,

desnutrição e disfunção cognitiva. Assim, mais uma medicação possível se ser utilizada com

freqüência neste período. (UFG, 2003)

Complicações como a catarata, glaucoma, processos retinianos degenerativos, podem

surgir com a senilidade e conseqüentemente acarretam consumo das drogas relacionadas com

tais processos patológicos.

As alterações ocorridas nos sistemas entre eles o gastrintestinal também é um

problema que acomete o grupo de idosos pesquisados. Bruner (2002, p.147) comenta que as

principais queixas concentram-se, freqüentemente, em sensações de plenitude, pirose e

indigestão e como conseqüência, o uso prolongado de laxativos.

O entendimento da prescrição medicamentosa constitui também um problema de

relevância pois, além da dificuldade na compreensão mencionada pelos mesmos, tal fato tem

como conseqüência nas iatrogenias ou não prosseguimento do tratamento.

Os idosos se ressentem de orientações cognitivas mais transparentes e afirmam ter

conhecimento das indicações terapêuticas dos medicamentos que utilizam, no entanto,

expressam a seguinte afirmativa quando são interrogados: “é bom para pressão”, “afina o

sangue”, “para diabetes”. Tais afirmativas convergem para o pouco esclarecimento a respeito

da terapêutica medicamentosa.

Esclarecer sobre a terapêutica medicamentosa despende muito tempo e não somente

uma vez. As perguntas, as dúvidas, o desejo de saber surgem durante o cuidado com o idoso e

família, principalmente na visita domiciliar.

O enfermeiro é o responsável pela prestação do cuidado, por estar imbuído no

contexto assistencial, que deve transcender todas as barreiras, pelo compromisso assumido

com a profissão.

O cuidado prestado pelo enfermeiro, no que visa o bem-estar do cliente não deve ter

limites. Segundo Leopard (1999, p. 204) “cuidar traduz a essência da enfermagem, envolve

uma interação em que a dinâmica da comunicação se processa a medida em que o enfermeiro

se relaciona com seus clientes”.

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4 CONTEXTUALIZAÇÃO E APROXIMAÇÃO DE PRÁTICAS

ASSISTENCIAIS: Uma Prévia à Pesquisa

4.1 Descrição da CIABS como Sede Operacional da PCA

Caracteriza-se como Órgão de prestação de ações de serviços de atenção básica de

saúde, com vista à promoção, proteção, recuperação, e reabilitação à saúde da criança, do

adolescente, da mulher, do adulto e do idoso ao tempo em que desenvolve atividades de

ensino-aprendizagem na formação profissional de Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia,

contando com a presença de docentes e discentes da Univali/ Biguaçu. A área de extensão da

CIABS compreende a população moradora nos bairros Carandai, Fundos, Bela Vista,

Loteamento São Miguel, Rio Caveiras. (CIABS, 2007)

Há nesta ocasião do desenvolvimento desta Pesquisa (2008), três médicos, três

enfermeiros e trinta agentes comunitários, organizados em três equipes de Estratégia de Saúde

da Família. Esta pesquisa caracterizou-se por proximidade de propósito junto a ESF portanto

seu interesse de investigação coincidiu em buscar de dados e assistência em simultaneidade,

as pessoas idosas cadastradas na CIABS e seus respectivos contextos domiciliares. Tal estudo

teve informações sobre o bem-estar dos idosos e fez interpretações analíticas intencionais a

fim de chegar à agregação de referencias da cultura dos idosos que venham a ser considerados

pelo gerenciamento do serviço de saúde na possibilidade de maior aproximação entre

abordagem profissional do sistema e abordagem profissional do sistema popular em saúde.

A CIABS sendo integrante do SUS a farmácia é constituída de medicamentos da

farmácia básica com todos os tipos de medicamentos constituintes da Farmácia Básica.

A farmácia da CIABS esta organizada de forma que todos os medicamentos estão

separados por ordem alfabética e farmacológica para facilitar a dispensa para o consumo dos

usuários. Existe um funcionário da área técnica de enfermagem que organiza as medicações

com supervisão de um profissional graduado em Enfermagem.

Para a distribuição os usuários são atendidos por um médico, o qual ira receitar o uso

do medicamento mais adequado para seu tratamento, após o atendimento o paciente é

encaminhado até a farmácia com a receita e recebera sua medicação. Caso as medicações

prescritas sejam de uso controlado os pacientes são encaminhados a uma outra Unidade de

Referência em Biguaçu (Unidade Mista de Biguaçu).

A partir de nossa pesquisa vimos que Política Nacional de Assistência Farmacêutica é

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parte integrante da Política Nacional de Saúde, envolve um conjunto de ações para a

promoção, proteção e recuperação da saúde tendo a medicação como insumo essencial.

(BRASIL, 2004)

Nesse sentido, a promoção do uso de medicamentos, por intermédio de ações que

disciplinem a prescrição, dispensação e o consumo, ganha importância na dimensão do

acesso racional.

Baseado nesse entendimento para expandir a atenção básica a Estratégia da saúde da

Família é fundamental o maior desafio é de ampliar as fronteiras de atuação multiprofissional

visando uma maior resolubilidade da atenção, em que a saúde da família é compreendida

como a principal estratégia para a mudança e reestruturação da atenção básica tradicional.

(BRASIL, 2006).

Segundo o Ministério da Saúde (1997/98) é reconhecido que as populações menos

assistidas do Brasil, se de alguma forma alcançam algum tipo de assistência médica,

dificilmente terão acesso á rede comercial de farmácias que, tradicionalmente, face ao alto

custo dos medicamentos, restringe a sua clientela às classes mais favorecidas e com maior

poder de compra. Ao voltar as suas atenções para a criação de um programa que possa levar a

Farmácia Básica, a todos os Estados e municípios mais carentes, o Governo Federal, através

do Ministério da Saúde, proporciona um elenco de 40 medicamentos essenciais a que terão

acesso às populações menos assistidas, cumprindo-se, desta forma, o dispositivo

constitucional que assegura o direito à Saúde. Integrado a outros programas específicos no

campo da alimentação e nutrição, do saneamento básico e da educação, o programa da

Farmácia Básica completa o leque de ações que promovem a melhoria da qualidade de vida e

a busca do exercício pleno da cidadania.(fonte)

A Farmácia Básica racionaliza a distribuição de medicamentos essenciais e permite o

tratamento eficaz e a menor custo das doenças mais comuns que afetam a população

brasileira. E um módulo-padrão de suprimento, composto por itens de uso mais generalizado,

em quantidades calculadas para a cobertura das necessidades de cerca de 3.000 pessoas, no

período médio de 3 meses, e será adquirida dos laboratórios oficiais.

A Farmácia Básica destina-se, exclusivamente à atenção básica de saúde, na rede SUS,

a nível ambulatorial, nos serviços que dispõem de médicos, para a sua adequada prescrição.

Buscando a economia e a simplificação operacional, a Farmácia Básica prevê, produto a

produto, o respectivo consumo médio por tratamento, obtido a partir dos esquemas

padronizados de terapia ambulatorial, utilizados habitualmente nas eventualidades clínicas

mais comuns. Sob esse aspecto a população de idosos ainda tem insuficiência e inexata

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informação. Tudo o que for prescrito pelo médico consultado, mesmo medicamentos

específicos eles vão buscar na Farmácia da Unidade Básica de Saúde e esta não vai atender.

Como isto corresponde na integra a realidade da proposta do programa farmácia básica, a

desinformação dos idosos como usuários, redunda em que a procura de medicamentos no

serviço de saúde, embora prescritos, não tem atendimento, pois, a procura na Unidade de

Saúde quase sempre recebem a resposta negativa, porque é improcedente, inadequada.

Esta impermeabilidade na informação equivale a considerar que a informação geral e

veiculada sobre o serviço básico de saúde ao usuário idoso, requer uma base pedagógica

efetiva e coerente que garanta uma unidade teórica nas práticas, autenticada pela clareza e

exatidão possível a uma cultura da informação na abordagem profissional de Educação e

Saúde. Este é mais um elemento à construção de referenciais ao planejamento no âmbito da

gestão organizacional nos serviços de Saúde da rede SUS.

Muitos equívocos se dão pela desinformação e com isto, muitos percalços surgem no

fluxo das relações profissionais-usuários. Informação precisa sobre o funcionamento do SUS

deve fazer parte do cuidado prestado ao idoso no Serviço de Saúde.

4.2 Desenvolvimento de Práticas Assistenciais Prévias à PCA

Em projeto de estágio curricular supervisionado do curso de Enfermagem, foi possível

desenvolver um estudo de práticas assistenciais ao idoso e ao assumir as atividades de

cuidado, a oportunidade de aproximação da Estratégia de Saúde da Família ao lado das

equipes da CIABS, consubstanciaram um reconhecimento do campo de atuação dos

programas ofertados por esta Unidade de Saúde.

Neste contexto assistencial se deu o desenvolvimento de cuidados teórico-práticos a

seis pessoas idosas, dentre as que não estavam incluídas na PCA. O trabalho assistencial no

referido estágio curricular de 180 horas, tal como citado, teve como guia um objetivo

equivalente à especificidade da prática com o idoso, correspondente ações de assistência a ser

na época própria executadas como parte simultânea do processo em PCA.

Tudo reverteu para dados de assistência tanto no limite dos cuidados, tendo a

finalidade do Serviço de Saúde, como na metodologia assistencial empregada, significou uma

experiência de reconhecimento da área, de inserção profissional no contexto assistencial e de

alguma forma, a consulta que era a atividade finalística, que serviu de instrumento à PCA.

Práticas de orientação à saúde (bem-estar) de idosos, verificação de pressão arterial,

controle de glicemia capilar e escuta sensível, foram algumas das atividades da consulta, na

experiência de desenvolvimento das 180 horas.

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A apresentação do trabalho dessa prática assistencial se deu em âmbito acadêmico,

com questionamentos e discussão e, para isto, houve oportunidade de aprendizagem de

trabalho científico, com visualização gráfica de características da assistência, bem como de

preparo argumentativo do estudo realizado.

Possivelmente nessas 180 horas, não houve intenção de pesquisa, mas positivamente

esta prática assistencial cumpriu com o propósito do estágio supervisionado e, por inerência

do trabalho profissional do cuidado aos idosos, apresentou-se como reconhecimento da sede

operacional da futura pesquisa – a CIABS e a estratégia de Saúde da Família, bem como

favoreceu uma “pré-estréia” da entrada em campo, um requerimento de imersão do

profissional na assistência a fim de ter elementos para dar autenticidade à justificação da

PCA.

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5 METODOLODIA

5.1 Tipo de Estudo

Trata se de um estudo qualitativo de campo, caracterizado em estratégia de pesquisa

convergente-assistencial (PCA), registrado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

(CONEP), sob nº FR 176316 e aprovado no CEP Univali Itajaí/SC em 25/02/2008.

Por sua vez, documentado está o Ofício de Autorização da CIABS/Univali/Biguaçu

(Apêndice 1) e o Termo de Compromisso e Aceite da Professora Orientadora (Apêndice 2).

5.2 Pesquisa Convergente–Assistencial (PCA)

A pesquisa convergente –assistencial requer participação ativa dos sujeitos da

pesquisa, portanto a PCA é compreendida e realizada em articulação com as ações que

envolvem pesquisadores e demais pessoas representativas da situação a ser pesquisada numa

relação de cooperação mútua (TRENTINI e PAIM, 2004).

A principal característica da PCA é a sua articulação intencional com a prática

assistencial. Desta forma, as ações assistenciais vão sendo incorporadas no processo de

pesquisa e vice-versa (um vai-vem de informações).

A PCA é aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma relação estreita com a

prática assistencial, com a intenção de buscar alternativas para solucionar ou minimizar os

problemas do contexto.

A PCA inclui atividades de cuidado/assistência dos clientes, por isso existem pessoas

que a confundem com o ato de cuidar. Esta pesquisa inclui um gesto de cuidar; no entanto

defendemos a posição de que a pesquisa não se consubstancia como ato de cuidar ou de

assistir, somente.

5.3 Espaço do Estudo

Esta pesquisa foi desenvolvida tendo como espaço institucional a Clínica Integrada de

Atenção Básica de Saúde (CIABS), mantida sob a co-responsabilidade da Universidade do

Vale do Itajaí, situada na cidade de Biguaçu e integrada a rede Municipal de Saúde/SUS,

desde o ano 2000

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5.4 Sujeitos do Estudo

A fim de compor o grupo participante desta pesquisa foi buscada a inserção em um

grupo denominado de Autonomia do Idoso, cuja sigla é PAI. Por se tratar de um estudo de

extensão da Univali, desenvolvido há quatro anos, com população de idosos cadastrados na

CIABS e que também por contar com uma equipe multidisciplinar e bolsistas de enfermagem

e psicologia, ficou decidido que daí recortaríamos uma amostra intencional para estes estudo.

De 36 a 40 idosos, foram buscados em torno de dez, e para tanto, apresentamos o

estudo, todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), este

documento que se constitui um dever ético dos pesquisadores que lidam com seres humanos

como participantes da investigação. Assim esclarecido a todos, comprometemo-nos a fazer

outro encontro e então esses idosos confirmariam, ou não, suas participações.

Os critérios adotados para inclusão dos idosos foram: 1) Ser participante do grupo

PAI; 2) morarem nas proximidades do CIABS; 3) terem mais de 60 anos: 4) poderem

deslocar-se e comunicar-se verbalmente; 5) estarem em uso de medicamentos em seus

domicílios; 6) negociarem o cronograma de visitas domiciliares da pesquisa convergente

assistencial (PCA).

Os sujeitos da pesquisa foram selecionados dentre os que aceitaram realizar a

entrevista semi-estruturada em seus domicílios. Estes assinaram o termo de consentimento

livre e esclarecido (Apêndice 3), fundamentado nos direitos das Normas e Diretrizes da

Pesquisa com Seres Humanos conforme a Resolução 196/96-CNS/MS, (BRASIL, 1996).

A participação dos idosos como sujeitos da PCA se deu quando em seus respectivos

domicílios, os dez idosos selecionados tiveram um prazo para confirmação, ou não, após

terem tido a oportunidade de compartilhar sua decisão com suas correspondentes famílias (um

costume da cultura desses idosos). Dois dias após, recolhemos as assinaturas dos interessados

em participar da PCA.

Os sujeitos foram registrados com a letra “S” e a ordem numérica crescente de 1 a 10,

segundo o critério de ordem do agendamento das dez primeiras Visitas Domiciliares (VD) de

cada um dos sujeitos: S-1 foi o primeiro a ser visitado; seguindo até S-10 que foi décimo e

último sujeito visitado na primeira etapa. Esta referência leva à proteção, ao anonimato dos

participantes.

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5.5 Pontos Éticos Pertinentes a esta PCA

Como todas as pesquisas com seres humanos, também esta cumpre os preceitos da

Resolução 196/96 e, esta pesquisa, tem seu valor social e científico ao buscar a melhoria de

saúde como bem-estar dos idosos a partir do interesse pelo aumento do conhecimento dos

mesmos quanto às suas medicações em uso. (BRASIL, 1996)

Desde a seleção justa dos participantes tendo respeitado as decisões dos próprios

idosos em consulta a suas respectivas famílias, bem como a estratégia para o recrutamento ter

se situado em grupo já existente e em familiarização com a CIABS onde são cadastrados

como parte de um dos grupos populacionais dentre os usuários desse Serviço de Saúde.

A ética nesta pesquisa está na relação de riscos minimizados face aos benefícios

potenciais, pela prática do desenho da pesquisa convergente-assistencial (PCA) cujo contexto

inclui a adoção da visita domiciliar e nela está contida a imersão do pesquisador na prática

assistencial com esses idosos. Ali, durante as visitas domiciliares a simultaneidade da

investigação e da prática exige uma atitude ética de respeito a ambos os processos de

diferentes finalidades e convergentes construções de qualificações, neste caso, do cuidar

humano. Vale lembrar ainda que, mesmo prestando assistência aos idosos participantes da

pesquisa, o propósito da pesquisa não é a provisão de assistência. Os serviços assistenciais

asseguram a validade científica e protegem o bem-estar dos participantes individualmente e

em grupo. Entende-se que os benefícios da pesquisa nessa assistência são adicionais e

cumulativos, bem maiores que os riscos, o pesquisador está ocupando lugar em ambiente

domiciliar privado, o que difere ao ambiente da Unidade de Saúde como um lugar público e

espaço coletivo de trabalho. Esta situação da pesquisa ética, que inspira desde a circunscrição

do espaço até um limite e circunstâncias das decisões profissionais, passando por um diálogo

de respeito à autonomia do idoso e sua família, evitando imposições culturais e buscando

apenas, quando indicado, a manutenção e a negociação cultural de alguns modos de vida e

não dos medicamentos.

5.6 Instrumentos, Processos e sua Utilização na Coleta de Dados PCA

Os instrumentos de busca de dados foram integrados num único processo em 4

(quatro) etapas, utilizando-se instrumentos diversificados e estratégias múltiplas a partir da

matriz de tópicos da versão básica da entrevista semi-estruturada e individualizada.

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As quatro etapas do processo foram: Visita Domiciliar (VD); Entrevista Semi-

estruturada (individual); Re-visitação ampliada familiar; e, Encontro Coletivo com os Idosos

Participantes.

a) Entrada em campo, com visita domiciliar (VD) previamente negociada

individualmente com o idoso em termos de datas, horários e objetivos; todos os dez idosos

selecionados como sujeitos da pesquisa foram visitados com o objetivo de ¨reconhecimento

do contexto ambiental¨, de acolhimento recíproco pesquisador – usuário (idoso) e, ratificação

de compromisso mútuo com a resposta dos idosos de afetividade em uma recepção muito

expressiva. Instrumento 1 – A estrutura da VD (Apêndice 4).

Esta etapa foi de grande significado como coleta de informações contextuais quer do próprio

idoso, quer da sua família, e do próprio ambiente em que vivem e como vivem. As normas das

casas, as rotinas, as crenças, as relações entre as pessoas, as localizações dos objetos, a

linguagem, a organização própria do interior da casa e seu funcionamento. O modo e o lugar

que os idosos ocupam na casa e na família, enfim, informações vindas mais de observação

enquanto conversava assuntos assistenciais e das relações deles com a instituição de saúde,

vizinhança, parentescos, bairro, etc. O objetivo era caracterizar o idoso como sujeito da PCA.

À época também confirmávamos a autorização para gravas as entrevistas.

b) Visita domiciliar com entrevista semi-estruturada, não necessariamente

formalizada convencionalmente, porém em conversação progressiva, cuidando culturalmente

(informando sobre bem-estar e modos de viver saudável na cultura local percebida,

aproximação de informes procedentes do idoso (a) com registro em gravação permitida por

ele/ou ela). Foi descaracterizada a formalidade da entrevista e sem pressa de chegar a final de

roteiro de tópicos, a conversação fluía na centralidade do tema ¨uso de medicamentos¨ e

várias lateralidades em conversas do interesse do idoso configurada com naturalidade. A idéia

não era esgotar o Roteiro de Tópicos na VD, foi possível perceber que o gesto de cuidar

agregou em si mesmo muitas questões e como acadêmicos pesquisadores ao imergir na

prática de cuidar respondendo-as, emergiram outras indagações críticas de relevância para a

pesquisa. Pode-se confirmar o que Trentini e Paim (2004) chamam de “dança” entre os

elementos da pesquisa e os elementos assistenciais, no caso, o cuidado cultural e os dados da

investigação em andamento. Instrumento B roteiro de tópicos de entrevistas semi-estruturadas

(Apêndice 5).

c) Re-visitação domiciliar, ainda individualizada, mesmo que se tratasse de um casal

de idosos (tivemos dois casais no conjunto de participantes) e duas senhoras que moravam

juntas (filha cuidadora de mãe idosa com dependência de ajuda para todas as atividades de

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vida diária por ser portadora de diagnóstico de Alzeimer), Planilha de rotina execução de

práticas Assistenciais em VD (Apêndice 6)

Nesta revisitação foi feito o que em PCA se chama de refinamento de dados, um

desdobramento da informação por várias estratégias de chegar os dados já coletados, ou

mesmo por obter uma nova informação que reoriente a interpretação de um ou de um

conjunto de dados. O objetivo nesta etapa foi reunir o máximo de elementos captados de todas

as formas de expressão dos usuários-idosos para se aproximar de três ângulos subjacentes da

questão da pesquisa, na ótica do cuidado cultural. São eles, segundo Leininger:

- a visão de mundo do idoso, em seu domicilio; seus valores, sua organização em família;

- a perspectiva que o idoso tem da estrutura social; inclusive no foco da atenção do SUS na

CIABS;

- a linguagem da saúde (bem-estar e medicamentos) no grupo cultural ao qual o idoso

pertence.

Em busca de expressões que se traduzissem nesses itens, a conversação foi tendendo

para os sentimentos de pertencer que esses idosos têm, chegaram a declarar seu pertencimento

ao grupo PAI , como uma extensão de suas próprias famílias, fizeram depoimentos sobre o

desenvolvimento cognitivo e objetivo que obtêm com os temas informativos e práticos que

redundam em aprendizagens de bem-estar, no convívio ali mantido. Expressavam gestos

afetivos e familiares com os acadêmicos – pesquisadores e uma reverência em trocas

simbólicas, em arte invisível de um relacionamento que nos fortalecia profissionalmente na

mutualidade da pesquisa e do cuidado cultural.

Foi possível ver que a visão de mundo desses idosos é transitiva entre a ingênua e a

critica. Percebe-se que estão transitando com a ajuda dos exercícios provocados pelo grupo

PAI nas reuniões coletivas, o que retém e demonstram em seus relacionamentos em família.

Hoje, eles próprios (os idosos) se dão conta de suas respostas na compreensão de sua posição

e significado na sua estrutura social, mormente no que implica em saúde como bem-estar e o

contexto ambiental com novas possibilidades de práticas apropriadas a incorporação de novos

estilos de viver e de ser, com autonomia.

Nas conversações desta etapa (re-visitação) foi possível recolher do idoso alguns

elementos culturais importantes, tais como unidades referenciais a uma próxima inclusão no

cuidado e uma disposição à postura participativa em suas ações na gestão assistencial da

CIABS. Estes referenciais foram construídos nesta pesquisa, obtendo-se um produto de

mudança com visibilidade convergente-assistencial, conforme se destina uma PCA.

Elementos referenciais ao planejamento para aproximação de abordagem.

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d) Encontro Coletivo com os idosos participantes da PCA, o encontro coletivo

realizado com os idosos sujeitos da pesquisa teve a finalidade de relembrar os objetivos deste

estudo, assim podendo apreciar como transcorreu a PCA, do ponto de vista dos participantes

idosos, ouvindo os em escutas sensíveis respeitando a cultura individual de cada sujeito

participante, bem como as expressões culturais do conjunto, na apreciação do processo da

PCA.

Este encontro teve como objetivo verificar de que maneira os idosos observaram e

como assimilaram os cuidados de enfermagem em práticas assistenciais e orientações

conectadas ao processo de pesquisa, desenvolvido em simultaneidade.

Tal encontro foi realizado na casa de um dos idosos sujeitos de pesquisa. Era previsto

que os dez idosos comparecessem, porém, houve a justificativa feita pelos idosos sobre a

ausência de dois deles. Havia expectativa festiva e familiaridade na reunião. Eles conseguiram

descrever o que foi assimilado e houve manifestação verbal de todos. Expuseram quais foram

suas dúvidas pertinentes aos medicamentos e como utilizam agora, as orientações recebidas.

Pronunciaram-se de seus pontos de vista quanto ao que eles conseguiram observar do estudo,

principalmente a aproximação de saberes, conjunção com abertura para discutir as diversas

opiniões. Os idosos fizeram questão de expor sobre a falta que sentem de certos

conhecimentos que a equipe de saúde poderia sanar, retirando deles alguns equívocos, como

foi feito neste estudo que se referiu à tomada dos medicamentos. Exemplificaram

questionando, por exemplo, se a ingestão de vários medicamentos ao mesmo tempo seria

prejudicial? Foi explicado então que não seria a melhor opção utilizar esta forma, pelas

possibilidades de conseqüências: interação medicamentosa; aumento da acidez estomacal e

outras implicações. Os acadêmicos- pesquisadores reforçaram que as medicações são

prescritas geralmente para serem tomadas em diferentes horários, foi esclarecido ainda que a

visualização desses horários tem importância como melhor maneira de utilização dos

medicamentos com segurança.

Foi abordado também neste encontro as apreciações e expressões que os idosos tinham

quanto ao transcorrer desta pesquisa desde a compreensão para participar da PCA até aquele

momento da reunião em que estavam sendo relatados alguns resultados do trabalho realizado.

Foi solicitado que os idosos apontassem o que consideravam como pontos fortes e pontos

frágeis como por exemplo se os esclarecimentos dos acadêmicos-pesquisadores tinham sido

favoráveis às condições sociais e econômicas que eles como idosos apresentam. Foi ressaltada

pelos idosos a importância de participarem de grupos como o de Autonomia do Idoso (na

CIABS), quer pelas orientações e demonstrações com palestra, quer por outros meios de

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assuntos de apoio ao bem-estar dos idosos, interpretação de direitos do cidadão idoso, de

relacionamentos em família, elaboração de jornal, aprendizagem nutricional e tantos outros

temas de vida e saúde.

Foram clarificados alguns equívocos sutis nas tomadas de medicamentos, gerados por

interpretações e parciais implicações que confundem o idoso-usuário. um exemplo trazido por

um deles foi que tomava uma medicação em jejum e entendia que jejum era assim que

acordasse e antes do café da manha; porém não fazia qualquer intervalo entre essa ingestão do

medicamento e seu desjejum foi esclarecido da necessidade de no mínimo 15 minutos entre a

tomada dos medicamentos à quebra do jejum. Parece insignificante esta orientação, porém

efetua mudança no que diz respeito à absorção e ação do medicamento. São essas pequenas

coisas que correspondem a apoio e facilitação aos benefícios do medicamento ou quando não

orientadas, levar ao risco de não completar o efeito esperado. A enfermagem quando

reconhece o cuidado na compatibilidade cultural trabalha com essas insignificâncias

essenciais, para usar esta expressão de Belatto 2003.

O grupo de idosos nos solicitou uma abordagem de medicações e sua absorção por via

oral e como elas atuam no organismo diante de doenças e agravos. Fizemos explicações

profissionais em linguagem aproximada da cultura popular dos idosos ali presentes e vimos

como os idosos também são curiosos e sentem se respeitados e considerado nos seus anseios

de saber mais, compondo pelas orientações recebidas do profissional um híbrido com o seu

saber popular já acumulado. Isto tem haver com esta pesquisa que quer construir um

referencial da gestão educacional dos serviços de saúde frente à cultura popular dos usuários.

Isto nos leva a argumentar em favor de uma base pedagógica critica para educação em saúde

dos idosos que possa corresponde ao que Freire 2000 denominou “síntese cultural” quando se

trata de compartilhamento de saberes.

Do ponto de vista da assistência esta PCA ainda fez orientações concretas sobre

medicamentos e sua distribuição horária. Para tanto sugeria e demonstrou o uso de um mapa

de medicação a ser preenchido conforme as prescrições e afixado em lugar visível para criar o

hábito de guia para o idoso e com isto ajudá-lo na memorização das tomadas de

medicamentos. Isto se resumiu em anotar todas as medicações de que fazem uso bem como

aquelas receitadas por especialistas (fora da CIABS). Os relatos desses idosos mostram que os

mesmos estão criando uma cultura de responsabilizarem se por sua própria saúde e assim

falam dos controles por exames por registro evolutivo de pressão arterial por periódicos

controles de glicemia bem como buscam exames que correspondem ao interesse do equilíbrio

hormonal. Alegraram-se por termos trazido a reunião a idéia de como é importante estar

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preparado para participar da consulta com o profissional de saúde e para isto criar uma

memória pessoal de alguns pontos importantes Responderão que a considera ou uma simples

falta de certos conhecimentos que a equipe de saúde poderia solucionar alguns equívocos

como o da tomada dos medicamentos.

Neste encontro todos os idosos emitiram sua opinião de que maneira viram o estudo

em questão e também puderam realizar uma interação e puderam também saber de que

maneira funciona um estudo cientifico e qual a sua importância social e como eles foram

vistos.

Foram adiantados alguns agrupamentos de resultados até então vistos, em resposta aos

idosos, e falado da aprendizagem de compartilhamento de saberes que a experiência da

pesquisa estava proporcionando. Para facilitar a compreensão e mostrar o que estava sendo

dito como parte da pesquisa, foi caracterizada a aprendizagem da construção de suas falas

com muita clareza já que usavam “metáforas”, faziam paralelo com algo do cotidiano, sempre

explicavam uma situação própria da cultura popular de saúde (bem-estar) para que fosse mais

bem compreendida. Este é um saber que já lhes é próprio e que os profissionais vão

aprendendo e se inserindo na linguagem. Do mesmo modo, os profissionais precisam expor as

explicações (cognições) ao lado de uma emoção agradável para o aprender do usuário idoso.

Assim se deu a primeira parte devolutiva da pesquisa (ainda em processo). Agendado um

encontro para a apresentação dos resultados do trabalho com todos os idosos e seus

familiares, na CIABS. Houve grande interesse para o novo encontro.

Ao termino desse encontro todos colaboraram na realização do lanche, e houve uma

confraternização entre pesquisados, pesquisadores, orientadora e colaboradora, encerrando-se

assim a coleta de dados com a Saúde do Campo.

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6 ANÁLISE E DISCUSSÃO

6.1 Processos e Resultados das Visitas e Encontros com os Idosos

Das 20 (vinte) visitas realizadas e do encontro coletivo foram apreendidas

informações, as quais ao lado dos registros de relatos VD e mais interpretações dos registros

em diários de campo compuseram um corpus de análise; correspondente a evidências

documentais da PCA. Dispostos em um quadro ampliado, os elementos qualitativos foram

analisados, segundo o método hermenêutico-dialetico, na denominação da Dra Maria Cecília

de Souza Minayo (2002). Assim, optamos por Unidades de registro e Unidades de Contexto,

ambos os elementos obtidos do desdobramento do conjunto da mensagem imbricada nos

encontros diretos por V.D aos idosos e a referencias mais amplas ao contexto social dos

elementos textuais em análise. O processo de análise requer neste método, três passos:

a) Ordenação dos dados – mapeamentos das V.D e expressões captadas pelos

instrumentos a partir dos diálogos provocados evolutivamente enquanto acadêmico-

pesquisadores iam cuidando da prática assistencial, do cuidado que estava sendo demandado.

Objetivemos pronunciamentos voluntários de outros membros da família do idoso, ouvíamos

da instituição (CIABS) observações feitas pelos ESF nos momentos dos relatórios que

informavam da VD muito do que era informado sobre a pesquisa interessava a assistência, até

por isso, o beneficio das informações foi mútuo, essa ordenação resultou no corpus disponível

para a análise.

b) classificação de dados – este passo foi dado com indagações feitas aos dados

apreendidos e ordenados. O questionamento se fez com base no suporte teórico da pesquisa

em conceitos da enfermagem Transcultural ou da Diversidade Cultural, assim foram

construídos os elementos classificatórios. Baseados no que se mostrou relevante foram

elaboradas as categorias. Mais relevantes foram as unidades de registro e unidade de contexto

que tinham compatibilidade com conceitos teóricos afins a proposta cultural leinigeriana.

c) Análise final – neste passo foram sendo estabelecidas as articulações, nexos entre

os dados já classificados e os referenciais da pesquisa e seus objetivos. Estabelece-se uma

ponte entre o concreto e o abstrato, entre o geral e o particular e, entre a teoria e a prática.

Neste movimento dialético estamos chegando a um resultado de pesquisa, entendido em suas

aproximações e na sua provisoriedade como todos os resultados das ciências humanas e

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sociais.

6.2 Ordenação dos Dados

Foram compostos quatro elementos classificatórios a saber: 1) O olhar do idoso-

usuário ao sistema profissional de saúde; 2) Negociações culturais na assistência para o bem-

estar do idoso-usuário; 3) Autonomia do idoso-usuário do Serviço de Saúde; 4) O perfil do

idoso-usuário do Serviço de Saúde face ao uso de medicamentos.

6.3 Classificação dos Dados

Quadro 1 – O olhar do idoso-usuário ao sistema profissional de saúde.

Dados Classificatórios

- Sentido de caminho de entrada no SUS / segurança;

- a possibilidade de ¨estar junto¨ - Grupo PAI;

- atendimento sem filas e de pequenas e simples soluções;

- atendimento complexo (que requer especialidade) é encaminhado na seqüência:

o unidade Central de Biguaçu;

o PAM (Pronto Atendimento Médico) de Biguaçu;

o Hospital Regional – São Jose;

- conhecem pelo nome, os (as) médicos (as), queixam-se que estes mudam com freqüência

na ESF;

- recursos e linguagem técnica de acesso restrito à compreensão;

- sentido de comodidade (ESF) / elas vão em casa...

- visitadoras semanais: “as meninas...” (referência afetiva às ACS);

Expressões dos Sujeitos

“... quando a gente precisa, primeiro vai ao melhor daqui... CIABS, depois... outro...” (S-1, S-

2, S-6, S-9).

“... atende e faz tudo... vê pressão, ensina a controlar por semana, pede exame, tem vacina, é

agradável, sem fila, tudo; se tiver que esperar não passa de uma hora...” (S-6, S-3; S-1).

“... difícil eles não saberem o nome da gente... sorriem e dizem: - Lá vem dona fulana...” “a

gente também...” (S-6, S-3).

“... a gente sabe que CIABS não é pra emergência, mas é pra pequenas coisas do dia-a-dia...

mesmo assim orientam...” (S-6, S-3, S-1).

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“quando não é coisa pequena eles falam e ensinam outro lugar do SUS... encaminham” (S-1,

S-4, S-6).

“...exercícios, caminhadas, aula de dança, jornal da maturidade, palestras, brincadeiras...” (S-

1, S-3, S-6, S-10).

“... às vezes não se entende muito o que eles (profissionais) dizem, ou se pergunta de novo ou

tem que achar quem explique direitinho” (S-1, S-4, S-10).

“... a gente acha bom demais quando as meninas passam uma vez por semana na rua... a

gente chama, pergunta coisa que tem dúvida, elas dão notícias e até recados e convites da

CIABS...” (S-6, S-4, S-1, S-9, S-10).

“eles explicam bem, nós é que entendemos mal” (S-6).

“... respeito os limites do corpo e se estou indisposta, ou sinto qualquer outro desconforto...

observo e já procuro tratar” (S-6, S-2, S-9, S-10).

“Sinto o PAI como uma extensão de mim, de minha família. Fico esperando o dia e a hora de

ir... com muita alegria” (S-1, S-2, S-3, S-4, S-6, S-8, S-9, S-10).

Síntese Categorial

- A ótica cultural do idoso-usuário vem sendo influenciada pelas profissionais, porém,

carece de orientações cognitivas para uma reconceituação mais fiel à sua percepção de

incluir- se participar SUS.

- O saber profissional da saúde requer aproximação do saber popular � compartilhamento

recíproco.

Análise Final

Quanto à visão cultural do usuário à Unidade de Saúde (Quadro 1) esta lhe inspira

¨lugar de confiança¨ quanto a suporte e facilitação ao atendimento de suas necessidades de

Saúde e estas, são demandadas por sintomas de mal- estar manifestos pela ¨sabedoria do

corpo¨. Embora a promoção da saúde não requeira este tipo de referencia para que o usuário

procure o Serviço de Saúde o contraditório é que, na prática, a consulta de alguém sem

queixas ou motivação sintomática de doenças, não se justifica, mesmo na Unidade Básica de

Saúde. A estrutura, mesmo com equipes de ESF e ainda que oferte Programas de Saúde à

comunidade com os usuários ainda é convencional, em cartazes afixados na própria Unidade

de Saúde e eventualmente avisos escritos distribuídos pelos ACS em Visitas Domiciliares.

A cultura popular nem sempre tem alta receptividade às expressões ¨letradas¨, embora

se admita que pode ser atraente. O visual com figuras, gravuras, desenhos, etc. Pela

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experiência do grupo PAI, um jornal comunitário e uma rádio comunitária correspondem a

possibilidades intensas de comunicação popular – do que se poderia valer o Sistema

profissional, obtendo uma demanda importante de usuários para os programas de saúde com a

intercomunicação efetiva dos usuários do Sistema de Saúde local. Embora limitados em suas

procuras, os usuários que fizeram parte desta pesquisa, já freqüentam as oferta da CIABS para

caminhadas, sessões de alongamento, palestras orientadas em Saúde, orientações fitoterápicas

em grupo, e outras práticas de promoção e manutenção do bem-estar humano.

Mesmo dispondo de sinalizações culturais com aberturas à aproximação de

abordagens (profissional e popular) em saúde ainda não se dispõe de uma prática pedagógica

nítida e intencional ao compartilhamento desses saberes no âmbito do Serviço de Saúde.

Quadro 2 – Negociações culturais na assistência para o bem-estar do idoso-usuário

Dados Classificatórios

- Aprazamentos respeitados

- acolhimento com entusiasmo

- iniciativa de oferecer café (amizade, guarida)

- compreendem e organizam espaço coletivo para encontro final

- negociações culturais com práticas de vida aprendidas (apites e acomodações no uso de

medicações)

- solicitações e trocas de experiências sobre modalidades de participação do idoso-usuário

em suas consultas (práticas de negociação)

- os serviços de saúde com suas linguagens confundem mais do que esclarecem

Expressões dos Sujeitos / Pactos

“...a gente faz controle de pressão, de glicemia, de cuidados, tudo... parece até particular

chic... tudo a tempo e hora... só exames é que a marcação demora muito (referem-se a

laboratório, radiologia, etc)” (S-1, S-2, S-6, S-9, S-10).

“Não vê(?) até essas visitas da pesquisa são marcadas e ninguém fura... precisa ter palavra!”

(S-6, S-10).

“... arranjo lugar na garagem para seu carro, faço cafezinho com bolacha e tem fruta... será um

prazer ter vocês da CIABS em nossa casa...” (S-2, S-1, S-6, S-3, S-5).

“bom é tratar os profissionais com afeto. A gente fica pronto a tomar providências diante das

conversações na VD. A gente se compromete a alterar alguns modos e práticas que podem

melhorar no uso de medicações” (S-1, S-2, S-4, S-6, S-9, S-10).

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“na prática bom mesmo era saber como se preparar para uma consulta, o que vestir, o que se

deve levar, o que falar, com quem ir... esses medicamentos precisa a gente entender...” (S-1,

S-2, S-3, S-4, S-5, S-6, S-8, S-9, S-10).

“... eu queria saber mais sobre o que dá esse momento de minha pressão arterial, será os

nervos?” (S-5, S-10, S-6, S-9, S-10).

“...às vezes eu entendo logo (referindo-se às orientações na CIABS) mas a maioria, eu ouço

mas não entendo bem, o farmacêutico é quem me explica os medicamentos quando eu vou lá

comprar...” (S-1, S-2, S-4, S-5, S-6, S-8, S-9, S-10).

Síntese Categorial

- O idoso-usuário tem uma cultura de apalavrar seus compromissos com manifestações

afetivas e sempre espera que haja reciprocidade no cumprimento por parte do profissional

do serviço (saber popular).

- O saber profissional reveste-se de implicações estruturais e funcionais falhando com os

compromissos mais objetivos o que se reflete no acolhimento/vinculação.

Análise Final

No que se refere à categoria relativa a negociações profissional usuáro-idoso;

(quadro 2) nesta pesquisa, foi possível apreender que os usuários demonstram alto nível de

compromisso quanto aos aprazamentos do profissional com eles; quando cognitivamente

compreende a razão e afetivamente tem referencia em história de acolhimento que vêm se

firmando nas relações profissionais-usuários, ao longo do tempo em atividades. Por sua vez,

as orientações de saúde, como práticas assistenciais nesta pesquisa, obtiveram efetividade, a

qual atribuímos a influência do interesse centrado na cultura popular manifesta em práticas da

vida aprendidas na convivência nossa, profissional, junto aos idosos usuários do Sistema de

Saúde. Um exemplo de negociação cultural efetiva, está em ajuste e acomodações (horários,

cuidados específicos nas tomadas via oral, modos de guarda dos medicamentos, etc).

orgulhavam-se por ter mudado, demonstrando acolhimento às orientações com expressões de

entusiasmo e reconhecimento do valor incorporado.

Do ponto de vista do compartimento de sabres foi requerido, nesta experiência

assistencial da pesquisa, uma quase-imersão na realidade vivida pelos idosos usuários do

Sistema de Saúde. A entrada em seus espaços de vida cotidiana com a reverencia e afetividade

sempre presentes, traz consigo a autorização para ir com eles, construindo o caminho da

negociação cultural por ajuste e acomodações em hábitos culturais que vão sendo esclarecidos

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com aporte de informação cognitiva e com relações de segurança e confiança de acolhimento

estabelecidas entre os profissionais e os idosos usuários do Sistema de Saúde.

Vale dizer que aprendemos com os idosos deste estudo que eles valorizam em sua

cultura a palavra sentida e falada como compromisso pessoal e social. Assim, como usuário

em uma instituição de saúde, percebem-se inseguros quando por alguma razão não muito

explicitada, o compromisso profissional do Serviço de Saúde, falha. Recebem a falha no

atendimento como uma questão de suscetibilidade mais de ordem social e, pelas práticas

objetivas, sentem-se alijados da intersubjetividade, e percebem-se, de algum modo, excluídos

de seus direitos no âmbito relacional. Seria necessário que conhecessem mais como se

estrutura e desenvolve a Unidade de Saúde. Para minimizar esse tipo de compreensão quando

declaram que a Unidade de Saúde, quase nunca dispõem de seus medicamentos, verificando

que os medicamentos alegados, não eram próprios da Farmácia Básica, e eles desconheciam

essa informação. Cobravam e comentavam contra o SUS por desconhecerem sobre esse

assunto. Mesmo na Unidade de Saúde, quando procuravam a medicação e apenas ouviam

“não há” sem comunicar essa informação à sua aprendizagem. Faz falta a cognição, o saber

porquê, é importante ao saber popular.

Quadro 3 – Autonomia do idoso-usuário do Serviço de Saúde

Dados Classificatórios

- Autonomia em seu controle de saúde por um alerta da sabedoria do corpo;

- participam do grupo onde essa é a aprendizagem principal (CIABS);

- tomam chás, infusões, xaropes, medicamentos de propaganda na mídia (vitaminas, cálcio)

e não compartilham essa prática na Unidade de Saúde;

- cuidam de buscar fazer seus exames periódicos;

- vão a vários médicos dentro e fora da CIABS sem intercomunicação dos médicos.

Expressões dos Sujeitos

“... eu usava álcool, agora não mais. Tomo quentão sem álcool... e sinto a mesma sensação do

álcool / a gente controla o corpo e ele dá sinais...” (S-2).

“... para manter meu corpo conversando comigo... faço alongamento e exercícios na

academia...” (S-4, S-10).

“... respeito os limites do corpo e se estou indisposta, ou sinto qualquer outro desconforto...

observo e já procuro tratar” (S-6, S-2, S-9, S-10).

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“Sinto o PAI como uma extensão de mim, de minha família. Fico esperando o dia e a hora de

ir... com muita alegria” (S-1, S-2, S-3, S-4, S-6, S-8, S-9, S-10).

“Depois dos sessenta anos, descobri que podia começar a viver melhor” “os grupos como o

PAI, são muito bons, são eventos até de esporte, dança, reuniões com assuntos atuais...

participo e me sinto bem!” (S-2, S-4, S-6, S-9, S-10).

“Participar de grupos sociais faz crescer a autonomia da gente... entende?” (S-2, S-3, S-4, S-5,

S-6, S-8, S-9, S-10).

“Estava marcada para operar... retardei, conversei com amigos nos grupos e com minha

família, resolvi fazer uma cirurgia espírita. Fiquei boa, até os médicos se admiraram e não

sabiam como fiquei boa...” (S-6).

“Uso ervas em chás, tomo vitaminas de vem em quando e faço outros tratamentos caseiros.”

(S-1, S-2, S-3, S-4, S-5, S-6, S-9, S-10).

“Às vezes vou a especialistas para testar o coração... ou coisa assim, porque na CIABS só

clínico geral... mas minha base é aqui (CIABS) nem quero que saibam... fica ruim...” (S-1, S-

3, S-6, S-8, S-9, S-10).

Síntese Categorial

- Na cultura popular do idoso-usuário o exercício da autonomia para suas descrições de

controle do bem-estar requer orientações cognitivas para que façam uso positivo de sua

autonomia, grupo sociais - socialização

Análise Final

As Unidades de contexto que dão lugar à organização demonstradas no Quadro 3,

refere-se ao O exercício da autonomia em saúde na cultura popular do usuário de Saúde

diante do controle cultural do bem-estar. Na cultura popular dos idosos nesta pesquisa, o

exercício da Autonomia è um recurso pessoal e até coletivo quando se trata de decisões

importantes do seu bem-estar. Algumas vezes, por insuficiência de cognição as orientações de

saúde são de ordem, exclusivamente, prescritiva apressada e, ao agir com a intenção de

cumpri-las faz falta a desejável a abordagem cognitiva e então, ao fazer uso de sua Autonomia

para acelerar o seu processo de bem-estar nem sempre fazem uso positivo dessa autonomia.

Decidem como se compreendessem o que não chegou a ser explicitado na atitude diante e

resumida prescrição recebida seja ela para medicamento ou parte do tratamento com cuidados.

Na cultura dos idosos deste estudo o controle de sua Saúde é guiado por “sinais de

alerta” que o corpo dá. Acreditam que há uma “sabedoria do corpo” à qual o ser humano

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precisa atender. Essa sabedoria regula o nível do bem-estar e, antes de buscar tratamentos

técnicos com profissionais em instituições de saúde, iniciam com suas práticas com “remédios

caseiros”, chás infusões ou outro tratamento complementar; fazem repouso e se organizam

para ir à Unidade de Saúde, caso venha a ser necessário esse percurso que responde a

¨sabedoria do corpo¨ requer que esses idosos distingam certos sinais que não devem ser

retardados à busca de atendimento do Serviço de Saúde. Nem sempre a autonomia está bem

dirigida a soluções positivas a razão a cognição é um orientador básico para a melhor decisão

em situações emergentes de vida e saúde. Sem ela a autonomia pode percorrer caminhos

equivocados um exemplo disso, esta em uma idosa que ao fazer uso de medicamentos

prescritos pelo clinico na UBS e sabendo por ele mesmo que ela estava com hipertensão e

precisava fazer uso contínuo do medicamento prescrito, usou de sua autonomia e procurou um

cardiologista na área privada que prescreveu a mesma substância prescrita, com outro nome

comercial. A senhora idosa, referida nesta situação, comprou e usou simultaneamente as duas

prescrições e fez um agravo a seu bem-estar. Tudo veio à tona quando, nesta pesquisa,

centrada no uso de medicamentos, foi verificado o equívoco e foram feitas orientações de

ordem cognitiva quanto às ações das substâncias em uso. A citada senhora foi encaminhada a

um cardiologista da rede de Serviços de Saúde, que reforçou cognitivamente as orientações,

mudou o esquema de tratamento e houve a compreensão da usuária, bem como o efeito de

bem-estar de que precisava.

Quadro 4 – O perfil do idoso usuário do serviço de saúde face ao uso de medicamentos

Dados Classificatórios

- Conhecimento custo

o compartilham o saber-fazer a cobertura da despesa.

- Guarda

o guardam os medicamentos em uso como “valores” em lugares em que sejam vistos,

acessíveis (memória).

- Provisão

o uso intervalos por ausência de reserva (medicamento uso contínuo);

o usam medicamentos não prescritos (mídia).

Expressões dos Sujeitos

“Alguns medicamentos busco na CIABS. Os outros, meu filho paga para mim. Agora, para

cuidar, é sempre uma filha mulher” (S-1, S-4, S-6, S-9, S-10).

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“Tenho um filho que abriu uma conta na Farmácia em meu nome e ele paga mensalmente o

que eu retiro lá” (S1 e S10).

“Quanto mais velho, mais doença crônica, mais medicação... também menos dinheiro, menos

memória...” (S-1, S-4, S-6, S-9, S-10).

“Pode faltar tudo, menos a medicação, esta é sagrada” (S-1, S-8, S-9, S-10).

“para cobrir algum dia que falta medicação, peço adiantado na Farmácia, ou tomo emprestado

uns dois comprimidos até o meu chegar” (S-1).

“Eles explicam que é pra tomar em jejum, mas tomo quando acordo e já tomo o meu café,

nem pensei que tinha que ficar em jejum uns 15 minutos” (S-6 e S-9).

“Não fossem vocês aqui em casa e eu ia piorar, pois eu nem sabia que estava tomando

duplamente o mesmo medicamento com nomes diferentes e médicos diferentes” (S-5).

“Uma base de conhecimento está sendo preciso nas informações dadas aos usuários-idosos.

Quase eu ia me complicar...” (S-5 e S-9).

“Falam depressa com palavras complicadas na hora de explicar a medicação...” (S-1, S-5, S-

9).

“...eu uso o fixa-cal, que faz bem pros ossos, aquele que passa a propaganda na TV.” (S-4)

Síntese Categorial

- A cultura popular do idoso-usuário do Serviço de Saúde, por si só, não dispõe de

referencial cognitivo que os faça evitar equívocos e até chegar a prejuízos no uso dos seus

medicamentos. Neste aspecto, sua autonomia pode lhe trazer danos caso esteja afastada do

apoio da abordagem profissional.

Análise Final

Custo

As despesas mensais com os medicamentos excedem o disponível para a manutenção

da família quando encontrão medicamentos (genéricos) no SUS estes são os mais accessíveis

economicamente a suas receitas, restando os mais caros inacessíveis como sobrecarga de

preocupações e despesas. Estas preocupações são exaustivos motivos de insatisfação, que

alteram o bem-estar, muitas vezes a orientação tempo espacial dos idosos e os desafios no

exercício da cidadania, embora o reforço deste conceito na prática venha sendo tema e

exercício do grupo de idosos (Autonomia do idoso) dentro do próprio sistema único de saúde

conceda no CIABS/UNIVALI. Parece contraditório que a maioria das prescrições feitas pelos

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médicos do sistema único de saúde SUS aos idosos seja fora da listagem de medicamentos da

farmácia básica.

A guarda dos medicamentos nos domicílios dos idosos é de quase sempre um ritual

estabelecido por eles próprios empresando na guarda dos mesmos um valor semelhante a um

tesouro, a uma jóia , a uma pedra preciosa. Dentro do domicilio o lugar da guarda do

medicamento é reconhecido por todos que convivem como um lugar fixo, conhecido por

todos, porém de acesso exclusivo do próprio idoso ou de eventual aproximação de alguém por

ele autorizado. A certa ludicidade nas diferentes formas de guarda dos medicamentos, a ponto

de os próprios idosos rirem de si mesmo em sua escolha de local para acondicionar seus porta-

medicamentos. Quase sempre têm um duplo porta-medicamento, esta maneira de criar espaço

de guarda de modo duplo é por eles associada à memória, para não esquece-los. Os lugares de

preferência no grupo participante desta pesquisa foram dentro do guarda roupas, em cima da

geladeira, dentro do armário da cozinha e sobre o armário, na estante da sala, na mesa de

cabeceira de cama. Mesmo assim, dando visibilidade no ambiente em que mais vivem a

memória falha e traz dúvidas sem poder garantir se já tomou ou não uma medicação.

Outros põem lembretes a si mesmo nas portas de geladeiras e armários e, do mesmo

modo por vez não lêem tais lembretes porque os esquecem. Vulnerabilidades e riscos

permeiam esses modos de guarda dos medicamentos pelos idosos, excessos de tomadas, por

falta de tomadas ou ainda pelo ambiente.

Provisão

Os idosos comentam da interrupção na continuidade do tratamento medicamentoso,

alegando que entre um mês e outro a um espaço em que são forçados por ausência de recursos

a se abster da tomada de seus medicamentos de uso contínuo, apelam para as ajudas de

familiares, mas mesmo assim isto lhes traz um sentimento de dependência e de solicitação

indevida ou incomoda. Desse modo a provisão é sempre imediatista e não corresponde a uma

reserva que dê margem à pelo menos um mês de confiança e tranqüilidade, o que lhes tira a

oportunidade de maior bem-estar. A sensação proveniente das expressões e observações no

ambiente domiciliar em conversação livre com os idosos e por sua vez seus acompanhantes

deixam ver que eles vivem em função de providências em torno da realidade objetiva de

viabilizar e garantir seus medicamentos tanto quanto seus ambientes sem ventilação e ainda

por entrada solar no local da guarda do medicamento. Queixam-se de tamanhos, formas de

apresentação, das cores iguais de dois ou três medicamentos entre outros comentários que

deixam ver certas inseguranças que os afeta. Quando falam sobre a orientação pessoal quanto

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ao medicamento, eles demonstram certa resistência em compreender como agem,

principalmente porque não têm o hábito de ler e enxergam com restrição e as bulas não

ajudam a qualquer visualização dos mesmos.

Medicamentos prescritos e não prescritos

Do total de participantes apenas um declara que não usa medicamentos não prescritos,

os demais usam medicamentos não prescritos não, e a maioria faz uso destes medicamentos

influenciados pelos programas (TV, jornal, almanaques), quase sempre medicamentos

analgésicos e antitérmicos. Outros usos decorrem do saber de tradição familiar ou de saberes

populares em sua maioria ervas, poções e misturas de frutas e mel, uma dominância de

produtos naturais. Contudo mesmo nesta pequena amostra de teor qualitativo foi possível

observar o uso de medicamentos não prescritos, porém produtos químicos de tratamentos

específicos, a exemplo do cálcio, nas mais diversas dosagens e omeprazol. Este último,

mostra o hábito ao qual o Serviço de Saúde precisa fazer reforço cognitivo. As idosas (em

geral mulheres) quando lhes é prescrita uma medicação que lhes retirou o sintoma

desagradável, elas não se desvencilham do medicamento, guardam e fazem uso dele, muitas

outras vezes, sem voltar ao profissional que lhes prescreveu, guardam e não observam a data

de validade.

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7 REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE OS DADOS FACE À

DIVERSIDADE CULTURAL COMO SUPORTE DO ESTUDO

No intuito de compatibilizar este processo de reorientação do idoso para lidar com

seus medicamentos e a valorização do contexto ambiental na perspectiva cultural do cuidado

de enfermagem, está à busca de abordagem conceitual que recai em conceitos de cuidado

congruente tal qual contempla a denominação de sua autora Leininger (enfermeira e doutora

em Antropologia), com a teoria de enfermagem transcultural, ou Teoria da Diversidade

Cultural (LEOPARDI, 1999).

A escolha desta, entre outras teorias se dá nesta pesquisa, pela afinidade de suas

concepções culturais e as idéias básicas deste estudo, no que tange à relação entre a

abordagem popular do cuidado À saúde em especial com o uso de medicamentos. A visão

holística do cuidado do idoso no uso de medicamentos, requer a consideração das implicações

culturais que emergem com o seu cuidado à saúde. Este estudo inclui, por sua questão

norteadora, buscar no domicílio do idoso, a sinalização de suas informações produzidas no

contexto ambiental ao praticar o uso de medicamentos em meio aos aspectos sócio-culturais,

bem como observar as diversidades de expressões culturais presentes nas suas práticas, de

cuidado com o uso de medicamentos diante da cultura de abordagem profissional procedentes

das equipes dos Serviços de Saúde. Este olhar tem por fim o atingimento do “cuidado cultural

congruente” – aquele que tem suas ações assistenciais de saúde embasadas nos modos de vida

cultural dos assistidos, com a finalidade de promover o bem-estar significativo, benéfico e

satisfatório (LEOPARDI, 1999).

Madeleine Leininger construiu esta teoria da Diversidade Cultural com base no

pressuposto de que os povos de cada cultura são capazes de conhecer e definir as maneiras

através das quais eles experimentam e percebem seu cuidado de enfermagem, sendo também

capazes de relacionar essas experiências e percepções às suas crenças e práticas gerais de

saúde. O cuidado de saúde sempre foi considerado essencial à sobrevivência e

desenvolvimento humano, o cuidado cultural tem um significado holístico importante para o

conhecimento, explicação e interpretação do fenômeno “cuidar” na enfermagem. Os cuidados

culturalmente congruentes, são satisfatórios e podem contribuir para o bem-estar dos

indivíduos, famílias, grupos e comunidade dentro do contexto ambiental, de quem é alvo do

cuidado, nesta pesquisa, o grupo populacional dos idosos(LEOPARDI, 1999).

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Nesta perspectiva está a opção de considerar a cultura no cenário domiciliar dos idosos

usuários do Serviço Básico de Saúde – Unidade local. Assim, a escolha deste suporte teórico

tem aderência ao problema de pesquisa, porquanto o uso de medicamentos se enraíza e é

influenciado, não só pelo sistema formal de saúde, mas, também, pelos hábitos culturais

familiares e pelos ambientes sociais em que esses idosos convivem. Como o objeto de

pesquisa consubstancia-se nas práticas de uso de medicamentos, encontra-se a propriedade de

relacionar a abordagem profissional da Unidade Básica de Saúde às experiências culturais

registradas durante este estudo como as percepções e crenças apreendidas o contexto

ambiental desses idosos.

O Uso de algum tipo de medicamento tem lugar e é prática cotidiana da maioria dos

idosos e, entre suas atividades de vida diária, inclui-se esta incumbência,. Nessa compreensão,

a presente pesquisa considera o uso de medicamentos pelo idoso, principalmente como um

requerimento de cuidado cultural que vem contribuir para o bem-estar dos idosos, suas

famílias, seus grupos e sua comunidade no âmbito dos seus respectivos contextos ambientais.

Para Leininger, a saúde é o estado de bem-estar que é culturalmente definido,

valorizado e praticado, o que se reflete na habilidade dos indivíduos ou grupos em realizar

suas atividades diárias de forma culturalmente satisfatória. Embora a saúde tenha uma

proposta lingüística geral para as profissões da saúde, a enfermagem como uma dessas

profissões relaciona-se diretamente aos fenômenos do cuidado na experiência humana do

viver das pessoas. Por isso devem ser estudados os fenômenos sob uma perspectiva cientifica

e humanística, delineando assim a natureza desta profissão, de forma culturalmente

congruente. Para esta pesquisa, destacam-se dentre as Atividades de Vida Diária (AVDs), as

formas culturais de uso de medicamentos, expressadas nas habilidades dos que se encontram

envolvidos com esta atividade, contextualizada no domicílio do idoso(LEOPARDI, 1999).

Neste estudo, a saúde estará considerada como o estado de bem-estar definido,

valorizado, praticado e refletido nas habilidades diárias dos idosos (e/ou seus cuidadores) ao

realizarem suas AVDs. Aí incluída a incumbência de lidar com os seus medicamentos.

Neste sentido, entende-se nesta pesquisa que a enfermagem é uma profissão cientifica

e humanística que é apreendida e focalizada no fenômeno do cuidado humano e em atividades

que propiciam assistência, suporte, facilitação e capacitação a indivíduos ou grupos, para

manter ou reaver o seu bem-estar de uma forma culturalmente significativa e satisfatória,

ajudando-os a enfrentar as suas dificuldades.

A enfermagem neste estudo, é operacionalmente conceituada como uma profissão

quando nós acadêmicos pesquisadores, somos também provenientes do Sistema de Saúde, e

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sintonizamos com as manifestações culturais do idoso e da sua família, apreendendo as

informações de vida e saúde, ao tempo que dispomos de saberes ali compartilhados,

praticamos o respeito aos direitos nas relações integrativas, entre os usuários e o Sistema de

Saúde, em atitude de acolhimento a ambos os sistemas, baseando-nos na cultura do contexto

domiciliar, destacadamente, no respeito aos valores culturais dos idosos. Não perdemos de

vista que o suporte ao bem-estar ali existente, se manifesta também nas formas do idoso lidar

com o uso de medicamentos, em seu cotidiano.

O estado de bem-estar é influenciado pela visão de mundo dos indivíduos ou grupos,

ou seja, o modo pelo qual eles vêem o mundo ou seu universo para formar uma imagem ou

estado valorativo sobre suas vidas ou sobre o mundo que os rodeia. Este estado de bem-estar é

influenciado também, pelo contexto ambiental, no local em que as pessoas vivem, o que vem

a ser a totalidade de um evento, situação ou experiências particulares. Experiências atribuem

um sentido às expressões, interpretações e interações sociais humanas em dimensões: físicas,

ecológicas, sócio-políticas e culturais. As dimensões das estruturas culturais e sociais

englobam certos padrões e aspectos de natureza dinâmica dos fatores organizacionais e

estruturais inter-relacionados: uma cultura em particular, uma sub-cultura ou sociedade,

incluindo valores religiosos, familiares, sociais, políticos e legais, econômicos e culturais,

bem como o modo como esses fatores se manifestam em diferentes contextos ambientais.

A cultura, por sua vez, abrange valores, crenças, normas e práticas de vida aprendidas,

compartilhadas e transmitidas em um grupo específico, que direcionam seus pensamentos,

decisões e ações em formas padronizadas.

Diante da influência da perspectiva etno-histórica é possível contemplar os fatos,

eventos, instâncias e experiências passadas de indivíduos, grupos, culturas e instituições que

estão primariamente centradas no homem. Pelo olhar da etno-história esse conjunto centrado

no homem é descrito, explicado e interpretado nos modos de vida humana em um

determinado contexto cultural. A interpretação dos modos de vida humana está relacionada às

experiências de assistência, apoio e capacitação ou ações comportamentais que evidenciam ou

prevêem uma necessidade e a oportunidade de melhorar as condições ou os esses modos de

vida do ser humano.

A cultura na vida domiciliar dos idosos é conceito central e nós pesquisadores

estivemos atentos ao olhar da etno-história buscando todos os acontecimentos e experiências

de lidar com os medicamentos como algo que está centrado no idoso, em seu meio familiar e

sua história de vida.

Com isto, as relações de saberes culturais entre nós acadêmicos pesquisadores do

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cuidado de enfermagem e os idosos nos seus domicílios, constituíram a experiência de base à

melhoria das condições de saúde como bem-estar em suas respectivas situações.

Focalizando o ato de cuidar, a teoria de Leininger sustenta que cuidar/cuidando se

traduz em ações ou atividades direcionadas no sentido de assistir, apoiar ou capacitar outro

indivíduo ou grupo com necessidades evidentes ou previsíveis, para melhorar a sua condição

humana ou o seu modo de vida, ou mesmo enfrentar a morte e o morrer(LEOPARDI, 1999).

Para Leininger, o cuidado cultural é aquele em que os valores crenças e modos de vida

padronizados, apreendidos e transmitidos, subjetiva e objetivamente, assistem apóiam,

facilitam ou capacitam outro indivíduo ou grupo a manter o seu bem-estar, a melhorar suas

capacidades e modo de vida, a enfrentar a doença, as incapacidades ou a morte. Esse cuidado

cultural pode ser diversificado ou universal. A universalidade do cuidado cultural diz respeito

aos significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos daqueles cuidados

predominantes uniformes, comuns ou similares, manifestados em várias culturas e que

refletem maneiras de ajudar pessoas, nos atos de assistir, apoiar, facilitar ou capacitar

(LEOPARDI, 1999).

A diversidade do cuidado cultural se refere às variações e ou diferenças nos

significados, padrões, modos de vida, suporte, facilitações ou capacitações na prática do

cuidado ao ser humano. Com esta compreensão do cuidado, estamos adequando este estudo a

conceitos de Leininger ao afirmar que só se atinge um cuidado cultural congruente de

enfermagem, na medida em que ocorrem ações ou decisões assistenciais de suporte, de

facilitação ou capacitação embasadas cognitivamente em modos de vida cultural de um

individuo, grupo ou instituição, com a finalidade de promover os cuidados de saúde

significativos, benéficos e satisfatórios (LEOPARDI, 1999).

O cuidado cultural é preservado ou mantido, quando as ações ou decisões

profissionais de assistência, suporte, facilitação, auxiliam as pessoas de uma determinada

cultura a manter ou preservar valores, acerca de seu cuidado, de forma a manter seu bem-

estar, recuperar-se da doença ou enfrentar as incapacidades ou morte. Neste estudo, este

cuidado preservado, estará focalizado no cuidado do idoso face ao uso de seus medicamentos

(LEOPARDI, 1999).

Ocorre uma acomodação ou negociação do cuidado cultural, quando as ações e

decisões profissionais de assistência, suporte, facilitação ou capacitação estimulam as pessoas

de um determinado grupo cultural (neste estudo os idosos) para uma adaptação ou negociação

com os profissionais da saúde que prestam cuidados, visando resultados ajustados

especificamente segundo valores culturais, crenças e modos de vida satisfatórios e benéficos à

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saúde(LEOPARDI, 1999).

A repadronização ou reestruturação do cuidado cultural se refere aquelas ações e

decisões profissionais de assistência, suporte, facilitação ou capacitação que ajudem os

clientes a reorganizar, substituir ou modificar seus modos de vida com padrões de cuidados de

saúde novos, diferentes e benéficos. Esta repadronização ou reestruturação se faz procurando

respeitar os valores culturais e as suas crenças, mas, propondo um modo de vida mais sadio e

benéfico diante do que ocorria anteriormente ao estabelecimento do conjunto das

modificações propostas. Leininger considera um sistema de cuidado profissional, aquele que

aborda os cuidados profissionais formalmente ensinados, aprendidos, transmitidos e

relacionados com o conhecimento sobre saúde, doença e desenvolvimento de habilidades

práticas, que prevalecem nas instituições profissionais o que geralmente ocorre onde o cliente

é atendido por uma equipe multidisciplinar. O sistema de cuidado popular, por sua vez, é

entendido como um conjunto de conhecimentos populares e habilidades culturalmente

apreendidas e transmitidas para proporcionar ações de assistência, suporte, capacitação ou

facilitação para outro ou por outro individuo, grupo ou instituição que manifesta ou prevê

uma necessidade, com a finalidade de melhorar as incapacidades de enfrentar as situações de

vida e saúde (neste estudo, referindo-se aos idosos).

7.1 Conceitos Operacionalizados na Pesquisa

Este conjunto de conceitos operacionalizados, quando concretamente desenvolvidos a

partir desta pesquisa, constituíram os indicativos para um “cuidado congruente” de acordo

com a concepção teórica adotada como suporte nesta pesquisa. Ou seja, o cuidado congruente

ocorre, a medida em que as ações assistenciais embasam cognitivamente e afetivamente os

indivíduos, grupos ou instituições a fim de promover os cuidados de saúde (bem-estar)

significativos, benéficos e satisfatórios.

Nesta experiência, as ações assistenciais cognitivamente e se complementaram

afetivamente na atenção aos idosos. Assim, esta pesquisa empenha-se na construção de

indicativos de promoção da saúde no que se refere ao cuidado quanto ao uso do medicamento

pelos idosos usuários da CIABS, assistidos pela ESF.

No que diz respeito às relações interpessoais e funcionais usuários idosos e a equipe

populacional numa unidade básica de saúde, alguns dados retratam a situação vigente quanto

a consultas de saúde, visitas domiciliares (ESF) informações típicas da atenção básica do

cuidado humano e prevê níveis, controle periódico, acompanhamento em situações crônicas

de saúde e participação em grupos sociais.

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As consultas de saúde são para o usuário, resumidas em buscar soluções para o mal-

estar que admitem sentir. Isto, basicamente para os profissionais é uma restrição a um

conceito ampliado de saúde, mormente de promoção de saúde tal como se destinam as

unidades básicas de saúde a rede do atendimento do SUS, contudo, a leitura cultural do que é

saúde, para os usuários idosos admite que a saúde corresponde à condição de bem-estar que

esses idosos sentem e expressam.alguns, chegam a resumir que ¨saúde é poder trabalha, fazer

as coisas...¨. Este é um conceito de saúde que requer abordagem profissional com ações

assistenciais que embasem cognitiva e afetivamente os idosos em troca de relações

profissionais e usuários congruentes.

Entretanto a cultura profissional das equipes de saúde lida com o dilema de ter como

finalidade manter e prover a saúde e ter que configurar o seu trabalho e tonificado pela clínica

e sinais e sintomas de patologias, e um caminho de medicalização como quase exclusiva parte

do tratamento.

A atividade de consulta, é em si finalística na unidade de saúde CIABS, com os

limitantes de frágil exercício de encaminhamento para outros níveis de saúde, o que influencia

a condição de resolutividade da própria unidade de saúde.

O próprio usuário ainda não está orientado de modo suficiente cognitiva e

afetivamente para saber discernir a sua auto-decisão para o acordo com o sistema, ou para

procurar o que é adequado à sua situação e a unidade de saúde, naquilo que convém ao seu

momento de saúde. Entretanto esses idosos usuários da CIABS, expressam a confiança de que

todas as suas situações de saúde estão para ser resolvidas ali na unidade básica, e que ali nessa

unidade encontrarão além do clinico geral e de enfermeiros para realizarem a consulta, os

diagnósticos e tratamentos de problemas mais complexos de saúde tais como:

acompanhamentos em situações de Alzeimer, manifestações cardiológicas, pequenos

acidentes que atingem a integridade óssea, situações oncológicas, oftalmológicas, auditiva e

outros.

As questões mais prevalentes na saúde do idoso como as doenças crônicas, seus

medicamentos e tratamentos vieram para ficar, têm sido reconhecidos como importantes

cuidados recebidos pelos idosos, principalmente os diabéticos e os hipertensos (HAS). Pelas

manifestações produzidas nos diálogos entre o trabalho da pesquisa e os usuários em seus

domicílios uma provisória informação é relevante no que tange a hábitos culturais de

alimentação, movimentação do corpo, hidratação e mesmo as formas de usar mais próximo

das suas realidade e passam a condicionar a menor eficiência do conjunto de atividades

próprias do tratamento das doenças crônicas. O sal, as frituras, o excesso de massas e a

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ausência de hábitos mais saudáveis com frutas e verduras, são um espelho de que ora se

coloca.

Destaca-se a participação desses idosos no atendimento específico no Grupo

Autonomia em Idosos que atende idosos como um grupo populacional dentro da própria

CIABS/UNIVALI e faz um trabalho de incentiva a autonomia desse grupo populacional em

modalidades cultural com boa receptividade, tanto quando realizadas no interior, a instituição

quando deslocadas para reuniões coletivas em outra localidade ou seus domicílios, quando

agendado excepcionalmente.

Nestas reuniões em encontro dos profissionais com os usuários, idosos o clima é de

forte horizontalidade nas relações, realizam-se preparações de alimentos de modo saudável,

de alta criatividade nas receitas populares, principalmente no aproveitamento de alimentos

com uma aprendizagem a partir de negociações culturais (acomodações) para que enfrentem

de modo aprazível as limitações de suas dietas e que as considerem, culturalmente aceitáveis.

Um outro ponto expressivo nas manifestações, são os diálogos relevantes no contexto

ambiental, o que na teoria da diversidade cultual se chama, a totalidade de um acontecimento,

situação ou experiência. O domicilio, representa o cenário que se considera, nesta pesquisa, o

contexto ambiental, referindo-se a essa totalidade de um acontecimento.

Quando os usuários idosos referem-se a determinadas situações ou vivencias, eles

completam as informações com o próprio contexto ambiental (onde moram, como vivem,

como realmente se portam no cotidiano e suas atividades de vida). Isto, fortalece a partir desta

negociação cultural, a sua decisão de repadronizar e modificar padrões significativos de vida e

saúde mais benéficos e coerentes com o cuidado cultural de relevo, apropriados na sua

cultura, para a saúde ou seja o bem-estar desejável.

Esta situação de encontros culturais como estratégia de cuidado com os idosos tem alta

compatibilidade com os interesses da estratégia da saúde da família que já desfruta de

acolhimento destes idosos a ponto de referindo-se aos agentes comunitários de saúde de modo

familiar com expressões do tipo “as meninas que andam pelas casas...” e “...aquelas que são

nosso SOS...”, “...passam periodicamente por nossas ruas...”, e outras formas mais afetivas de

abrirem suas opiniões críticas sobre tal estratégica de saúde de família, bem como da suas

relações com a oferta de serviços da CIABS.

Dentre estas críticas, a satisfação dos usuários com relação à facilidade de acessos e as

imunizações, e a cobertura dos idosos como um cuidado de assiduidade pelos idosos em suas

relações da cultura profissional e da cultura popular; esta é a repadronização cultural, pois

quando os idosos entendiam que “vacina era coisa de criança” e hoje se vêem interessadas em

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manter a regularidade das suas imunizações que as impertinentes. Uma das questões que

causam mal-estar e aguçam a baixa estima dos idosos é por eles localizada com certo descaso

do sistema de saúde quando se referem às marcações dos exames solicitados, muitos deles,

mesmo com a escassez de condições financeiras, têm pago fora do sistema para adquirir seus

medicamentos e tratamentos para não “relaxar com o seu cuidado de saúde”. Se de um lado é

um esforço do idoso para manter-se com seus exames em ordem (do outro se endividam) por

outro lado esta não parece ser uma situação inevitável ao Serviço, além de determinar uma

visão distorcida e contraditória à própria satisfação que os idosos demonstram com as demais

ofertas do próprio serviço na instituição de saúde da qual fazem parte.

As fontes de educação em saúde em um serviço de atenção básica aos idosos são,

muitas delas não formais, que vão desde a exemplaridade das relações profissionais

traduzidas na altura do acolhimento e de vínculo, até às intencionais orientações individuais e

coletivas relativas, a promoção de saúde, passando pelos requerimentos típicas e atípicas

sistema de abordagem entre profissionais e usuários. Estas fontes processadas e vêm

atingindo estes idosos os quais se apropriam de seus direitos e se mostram ainda limitados nos

seus deveres de preservação de sua agilidade participativa. Um lugar no âmbito da influencia

nos planos de gestão do serviço, principalmente no que se refere aos interesses de gerar mais

benefícios ao usuário.

As informações por vezes colidem quando os idosos, por contingência, se vêem

buscando outros membros de equipe de saúde externa (pública ou privada) em busca de

resolver situações que ultrapassa os limites de atendimento da CIABS. Essas colisões

repercutem por, algumas vezes, em certa regressão de trajetória de aprendizagem que vinha se

estabelecendo o sistema cultural de saúde e o sistema cultural da população atendida. Outras

vezes a experiência de ter ido procurar outro serviço lhe traz uma oportunidade de, não só

comparar atendimento no mesmo sistema ou em outro como também de suscitar crescentes

indagações que enriquecem sua condição critica como usuário da CIABS. A situação de

tornarem-se mais críticos por essa eventualidade, é um ganho secundário uma vez que a

proposta do SUS (CIABS) é fomentar um usuário critico criativo e participativo.

Os temas mais presentes nas conversações em seus domicílios durante este trabalho,

evidenciam uma vontade política de conhecer o seu corpo, o que é ser saudável mesmo com

uma ou mais doenças crônicas. Neste grupo da pesquisa entre os 10 participantes da pesquisa

escolhidos sem ter a doença como critério de inclusão, encontram-se quase todos com

alteração de pressão arterial, de colesterol, hiperglicemia e com sintomas de labirintite em uso

de medicamentos específicos principalmente para controle de hiperglicemia e diabetes

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melittus. Os problemas de caráter social são intensos pelo menos para um terço deste grupo e

trazem estressores do tipo econômico financeiro e de enfrentamentos nas relações familiares,

principalmente aqueles de teor intergeracional. Ainda assim, encontram suas forças

equivalentes a resiliência, decidem suas questões, em processo e uma a uma, mostram-se

alegres a despeito dos problemas que lhes desafiam. Convivem na lógica da sobrevivência

porém abrem-se ao lazer e à comunidade, voltados ao prazer e ao reconhecimento da vontade

de lidar com as adversidades e vencer.

Resta nesta análise de elementos culturais profissionais além de populares e

caracterizar algo que chama a atenção entre os idosos. Embora, de modo geral venha, ser,

orientado que o usuário sai satisfeito da consulta caso seja encaminhado para exames e com

prescrição medicamentosa, na altura destes idosos da pesquisa, ao contrario disto, eles

consideram que “o uso de medicamentos quanto maior em quantidade mais representa um

afastamento do desejável bem-estar”. Este equívoco requereu discussão questão que requer

elucidação porquanto a quantidade de medicamentos maior ou menor corresponde a

necessidades individuais para o alcance da melhor qualidade de vida, e não porque estão em

crescente mal-estar. Um recurso curioso que foi observado na cultura dos idosos, e funcionou

de modo conveniente foi a concepção de sabedoria do corpo tal como sinalizado em cada um

e equivalente a um orientador de solicitações de consulta, motivador pelo desejo de

esclarecimento e informações pertinentes aos interesses de ser informado e capacitar-se ao

reconhecimento de sua própria saúde, culturalmente entendida como sentimento de bem-estar.

Embora se preparar para uma consulta de saúde, na cultura do idoso como usuário de

serviço de saúde, seja separar a melhor vestimenta, cuidar da aparência interna e externa a

esta vestimenta, conseguir uma pessoa de sua familiaridade para acompanhamento, reservar

tempo e dinheiro para transporte e deslocamento de ida e volta de casa a instituição, ainda

assim sua participação não chega a ser ativa como desejável, durante a consulta, a expressão

cultural é de ouvinte, limitada a responder apenas ao que lhe é perguntado pelo médico ou

outro membro da equipe. Raramente faz as perguntas que tem vontade de realizar; diz tentar

tenta poupar o tempo e o trabalho de quem realiza a consulta e quase sempre, compreende o

apressamento que ele ou ela demonstram ao atendê-los. Mesmo assim, expressam particular

admiração e certa reverência a pessoa que lhes atende. Confundem-se quando interrogados

sobre as medicações que vêm usando; quase nunca no seu preparo para a sua consulta tem a

prática de levar a lista de seus medicamentos em uso, e quando o fazem, levam sacolas com

todos os medicamentos, estabelecendo certo desconforto para o próprio idoso. Possivelmente

os gestos de preparação e realização da consulta, são para o idoso uma representação da

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carência que tem sobre a ajuda em conhecer o que se faz imprescindível do ponto de vista

clinico para uma efetiva consulta. Desse modo, este é também um elemento referencial no

programa de educação em saúde.

O que uma pessoa deve separar para minimamente levar em sua consulta:

- Todos os exames mais recentes.

- Toda a receita medica contendo todos os medicamentos que estão em uso ou recentemente

usados.

- Anotar todas as dúvidas a esclarecer durante a consulta.

- O usuário idoso e seu acompanhante precisam estar cognitiva e afetivamente cientes do

que requer uma consulta efetiva.

Uma das limitações das consultas e do encontro da cultura profissional com a cultura

do usuário (principalmente o idoso) esta no silêncio feito diante do uso de práticas

complementares ao tratamento de saúde na própria Unidade Básica. O valor atribuído na

cultura desses idosos, aos chás, infusões, tinturas e outras preparações com ervas, é elevado, e

tem significado parte das suas formas de alcance de bem-estar. A educação em saúde,

preocupando-se em ratificar tais valores e orientando os idosos a revelarem suas práticas

complementares, pode ser um dos fatores que acrescentam sentido a proposta de

reconhecimento do SUS, associada ao respeito e dignificação dessa cultura popular ao lado da

cultura profissional. Assim, a investigação, com esses dados obtidos, pela característica da

convergência-assistencial, adotada, requer explicitar as atividades que foram realizadas como

cuidado cultural, pela demanda dos idosos. Nesta pesquisa (PCA) a interconexão com a

assistência foi contínua e esta, foi prestada pela imersão dos pesquisadores no campo de

cuidado., ao tempo que buscávamos as importâncias desta pesquisa.

O silêncio quanto a usos de práticas de saúde diferenciadas das prescritas na consulta

medica (uso de chás, ervas, de cirurgias espíritas, e outros modalidades de tratamentos), de

modo geral é uma resposta à timidez e um constrangimento, e “receio de incomodar”. É com

se ainda dependesse de uma relação verticalizada e dócil, com os profissionais e não

horizontal e solidária durante sua própria consulta. Estes aspectos culturais podem continuar a

ser negociados e gradativamente repadronizadas. como parte dos diálogos na educação em

saúde.

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8 CONCLUSÃO

Este capítulo conclusivo ao tempo em que serve de base concreta à abstração e

impulsiona as relações teoria-prática também determina certa provisoriedade, porquanto é

sabido que a ciência é também factível de retificação. Contudo, o interior das falas dos idosos,

neste estudo, tornam-se objeto de análise das unidades de registro em movimento dialético-

interpretativo. Desse modo, buscou-se emergir o olhar do saber profissional e um

compartilhamento com a abordagem popular sugere a possibilidade de referenciar uma síntese

cultural representativa a um efetivo conjunto de elementos referenciais a um plano de gestão

mais amplamente participativo.

A considerar os objetivos deste estudo, o alcance desses elementos referenciais a uma

síntese cultural foi sendo desocultados no processo, por acumulação, mas, também,

garimpados em análise hermenêutico-dialética.

Os caracteres do Serviço de Saúde em foco (CIABS) mostram um gerenciamento de

assistência que se organiza em sua qualidade formal técnica, voltada para a própria

instituição, no entanto, ainda prescinde de uma abordagem de qualidade política-

comunicacional que impulsione a participação dos usuários-idosos no que tange a parceria e

fortalecimento cognitivo dos laços culturais entre a visão profissional e a visão popular.

Não são raras nem tão dessemelhantes as implicações, tanto positivas como negativas,

apresentadas pelos idosos neste estudo, configurando uma realidade de grupo populacional e

cultural, aberta a uma operacionalização de um conceito de saúde amplo e intensivo em

experiências de tornarem-se mais e mais saudáveis.

Esses idosos participantes no presente estudo, fogem a regra dissociativa entre idoso e

dependência para evidenciar um idoso com interesse de aprendizagem e exercício de

autonomia, mesmo diante de limites materiais e financeiros, o que contornam com a

solidariedade e a espiritualidade, fontes de uma qualidade resiliente, de luta em busca do seu

bem-estar.

Os medicamentos prescritos para esses idosos são, de modo geral, substâncias de uso

contínuo, na sua maior parte de natureza voltada a cuidados paliativos diante de doenças

crônicas como HAS, Diabetes Mellitus e Doenças Hormonais (Tireóide) e uma situação de

Alzeimer (esta sim, com inteira dependência de sua filha com quem mora). Uma importante

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consideração ressalta a curiosidade de ordem cognitiva quanto a vir a ter consciência crítica

de suas doenças e seus medicamentos e tratamentos.

A complementaridade terapêutica é reconhecida na cultura do grupo de idosos e se faz

evidente na adoção de livres práticas fitoterápicas e de práticas espirituais voltadas ao alcance

de maior bem-estar possível para si e suas famílias.

Diferentemente de outros grupos de idosos, este, do estudo, não utiliza massivamente

medicamentos psicotrópicos ou mesmo diazepínicos. Abordam sobre estratégias de combate

ao estresse sem tais medicações e sim com a complementaridade de movimentar o corpo,

reunir socialmente e praticar atividades orientadas por suas religiões.

Finalmente, a partir desta investigação torna-se possível considerar em seus resultados

que no cotidiano dos participantes, a assistência na Unidade Básica de Saúde (CIABS) retrata

um espaço de relações profissionais e usuários do Serviço de Saúde, muito promissor a

mudanças positivas ao bem-estar, porquanto os idosos sentem confiança e atestam

credibilidade às orientações provenientes da gestão organizacional que lhes conferem.

Ainda que os espaços de mudança de todo o Sistema Único de Saúde tenham como

um dos eixos a valorização do usuário em sua participação nos serviços da própria rede de

ofertas de saúde, reforçado com a presença desejável da Estratégia de Saúde da Família

(ESF), é sabido que tal mudança se dá em morosidade própria das transformações históricas.

Trata-se de mudança que requer repensar a educação em saúde, em particular afastando-se da

reprodução dos modelos culturalmente cristalizados, como em geral, ainda são as estratégias

pedagógicas de orientação à saúde dos usuários nas instituições de saúde na atualidade.

Prevalece a modalidade bancária de educação, com orientações prescritivas, com linguagem

profissional codificada pelo predomínio da racionalidade técnico-instrumental.

Nesta pesquisa, a valorização do saber popular em aproximação com a abordagem

profissional trouxe indícios de que esse espaço das relações liberta a prática dialógica e

desagudiza conflitos, pela intencionalidade de buscar o compartilhamento de saberes entre os

idosos deste estudo e a sua proposta metodológica. Vale dizer que os dados analisados

caracterizaram os idosos participantes da pesquisa nos seus modos de vida cotidiana como

utilizadores de seus saberes populares porém, requerentes de explicações compreensivas do

saber profissional. Os diálogos e compartilhamento de saberes mostraram que os idosos nesta

pesquisa evidenciavam suas necessidades de sentir para seu aprender. As emoções, os afetos

que lhes tocam tendem a preceder sua aprendizagem. Ao se expressarem, alguns utilizam-se

da forma metafórica, de modo geral buscam uma linguagem poética, contam pequenas

histórias ou trechos de letras de músicas para atrair a atenção e mostrar quanto aprenderam.

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A partir desta pesquisa (PCA) é possível considerar por seus dados que o cotidiano dos

participantes (idosos) face à assistência na CIABS/Univali retrata um promissor espaço de

relações entre profissionais e usuários desses serviços. Embora na práxis dos Serviços de

Saúde, em sua maioria, persista uma reprodução de educação bancária, manifesta de modo

prescritivo, esta investigação escutou e observou nas falas verbais e não-verbais desses

usuários-idosos uma chance e requerimento de construção de um modelo de educação em

saúde de intencionalidade dialógica e participativa.

A discussão de dados resultou da caracterização desses idosos como utilizadores de

formas de cuidado em sua cultura popular de saúde, mas, que clamam por uma aproximação

da abordagem do profissional que lhes conduza a uma compreensão do alcance do

conhecimento de si para o seu bem-estar, de forma compatível a um diálogo inteligível.

Os registros dos diálogos durante o processo de pesquisa levam à reflexão de que os

idosos nesta trajetória da investigação evidenciaram em suas falas, suas necessidades de sentir

para aprender. As emoções no seu mundo cultural, os afetos que lhes tocam, precedem a sua

aprendizagem. É uma modalidade de linguagem que exprime o sentir. Do mesmo modo, as

pequenas histórias, ou poemas, ou letras com músicas e outras ilustrações, atraem a atenção, a

memória, a reflexão em situações de saúde que foram motivo de orientação dialogada.

Uma teorização de tal resultado está em que o saber popular e o saber profissional se

precisam e a valorização de ambos implica no compartilhamento de saberes de maneira

intencional e voltada à compreensão da síntese cultural desses saberes.

Recriar processos de orientação ao bem-estar e incluir os usuários, como partícipes

solidários do sistema gestor da assistência, significa reconhecer também seus modos de

aprender (seus questionamentos por mais simples que pareçam aos profissionais); zelar pela

admiração que já se mostra presente e corresponder em aproximações à admiração do espaço

comunitário, onde o saber popular passa a ser base do conhecimento da abordagem

profissional.

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APÊNDICES

Apêndice 1 - Solicitação de Autorização para a Realização da Pesquisa

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Biguaçu, 29 de outubro de 2007.

Solicitamos autorização da Direção da Clínica Integrada de Atenção Básica a Saúde,

para realizar a pesquisa nesta instituição. Este estudo está sendo encaminhado para análise no

comitê de ética desta instituição e do Comitê de Ética da Universidade do Vale do Itajaí.

Nos responsabilizamos que a pesquisa somente será iniciada após a aprovação nestes

comitês.

Esta pesquisa será realizada na unidade Biguaçu O Lidar Cotidiano com

Medicamentos no Viver de Pessoas Idosas – A Presença do Cuidado de Enfermagem sob a

orientação da professora Lygia Paim e dos acadêmicos Jorge César Rodrigues e Valmor José

Heberle, acadêmicos do Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade do Vale do

Itajaí, Campus Biguaçu.

Lygia Paim

Professora Orientadora

Jorge César Rodrigues

Acadêmico de enfermagem

Valmor José Heberle

Acadêmico de enfermagem

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Apêndice 2 – Termo de Compromisso e Aceite de Orientação

Eu, Lygia Paim, Professora do Curso de enfermagem, concordo orientar a monografia

de conclusão de curso dos acadêmicos Jorge César Rodrigues e Valmor José Heberle, tendo

como tema O Lidar Cotidiano com Medicamentos no Viver de Pessoas Idosas – A Presença

do Cuidado de Enfermagem. A orientadora está ciente das Normas para elaboração do

Trabalho Monográfico de Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, bem como, do

calendário de atividades proposto.

Biguaçu, 29 de outubro de 2007.

Lygia Paim

Professora Orientadora

Jorge César Rodrigues

Acadêmico de enfermagem

Valmor José Heberle

Acadêmico de enfermagem

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Apêndice 3 – Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido

TERMO DE ESCLARECIMENTO

Estamos realizando um estudo de interesse para a melhoria da atenção que pode ser

dispensada aos clientes da CIABS, Serviço de Saúde no qual você é atendido. O estudo quer

verificar a situação de uso de medicamentos em domicílio, buscando as implicações para a

qualidade de vida dos idosos e uma melhor orientação dos serviços de saúde fazer

atendimentos e práticas de educação em saúde.

O procedimento de coleta de dados poderá contar com sua participação no

fornecimento de suas próprias informações quanto ao uso de seus medicamentos no dia-a-dia,

para isso o(a) senhor(a) receberá visitas domiciliares mais freqüentes (uma a cada 15 dias

durante um semestre) e essas visitas serão feitas pelos próprios pesquisadores Jorge César

Rodrigues e Valmor José Heberle, alunos de enfermagem da UNIVALI-Biguaçu

(Universidade do Vale do Itajaí) e terão a orientação e responsabilidade conjunta de uma

professora cujo nome é Lygia Paim. Durante a visita, escutaremos seu relato de como lida

com a medicação e vamos observar diretamente os nomes dos medicamentos, quem

recomendou seu uso, e como o(a) senhor(a) distribui horários e os toma durante um dia

inteiro. Estas observações não serão divulgadas com seu nome ou outra identificação, só serão

interpretadas em conjunto com outras observações e difundidas sob anonimato e

confidencialidade de seus dados individualizados. Saiba também que a qualquer momento

o(a) senhor(a) pode desistir de sua participação na pesquisa, sem que isso traga qualquer

desconforto na relação entre os pesquisadores e o(a) senhor(a), nem qualquer dificuldade à

continuidade do seu atendimento em saúde.

Os resultados dessa pesquisa serão comunicados ao senhor(a) e, garantidamente,

comprometemo-nos influenciar os serviços de saúde na busca de maior qualidade no

atendimento dos idosos quanto à medicação por eles utilizados. Nenhum de nós, nem os

senhores receberão qualquer recompensa financeira pelas informações prestadas nesta

pesquisa, nem terão despesas com a participação neste estudo.

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE APÓS ESCLARECIDO

Eu _____________________________________________, li o esclarecimento

anteriormente registrado e compreendi para que serve o estudo e qual o procedimento em que

participarei. A explicação dada pelos pesquisadores esclarece os riscos e benefícios do estudo.

Entendi que sou livre para interromper minha decisão de participar sem justificar e que nada

implicará em dificuldades ou desconforto de qualquer ordem para mim ou para os

pesquisadores. Sei que meu nome ou minha imagem não serão divulgados e não terei

despesas e não receberei qualquer vantagem financeira para participar do estudo.

Eu concordo em participar do estudo intitulado O Lidar Cotidiano com Medicamentos

no Viver de Pessoas Idosas – A Presença do Cuidado de Enfermagem.

Assinatura do participante da pesquisa: ______________________________

Documento de identidade: ____________________ Biguaçu:____/____/2008

Jorge César Rodrigues

Acadêmico de Enfermagem

Valmor José Heberle

Acadêmico de Enfermagem

Em caso de dúvidas em relação a este

documento entrar em contato pelos

telefones (48) 8414-4231 Jorge (48)

3246-1075 ou 9115-5826 Valmor.

Profª Drª Lygia Paim

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Apêndice 4 –Instrumento A: Roteiro Semi-Estruturado para Entrevista com o Idoso

Tópicos

1. Modos e local de guarda e organização dos medicamentos;

2. Auxílios na preparação e ao tomar os medicamentos;

3. Prescrições ou indicações recomendações para uso dos medicamentos;

4. Distribuição dos horários e lembrete para tomar os medicamentos regularmente;

5. Despesas e resoluções para obter os medicamentos regularmente;

6. Informações sobre a ação de cada medicamento;

7. Cuidados especiais nos modos de usar cada medicamento;

8. Visitas dos profissionais e retiradas de dúvidas ou esclarecimentos quanto aos

medicamentos;

9. Sensações, reações, observações, percepções, sentimentos, após tomar cada um dos

medicamentos;

10. Outros remédios (chás, xaropes, garrafadas, comprimidos, pastilhas, pomadas, inalações,

etc.) que outros (amigos, vizinhos, parentes, etc) tenham indicado para uso;

11. Medicamentos receitados pelo médico, mas, não usados atualmente;

12. O que queria saber sobre medicamentos ou outro cuidado e ainda não teve oportunidade

de falar.

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Apêndice 5 – Instrumento B - Entrevista com o Cuidador

1. O que vocês observarão deste estudo?

2. O que mais agradou sobre a VD?

3. Teve algo que não agradou a família?

4. Foi observada uma melhora no uso dos medicamentos do idoso?

5. Como que a família este quando envelhecer?

6. Como a família vê o uso dos medicamentos?

7. De que maneira a família encara a situação dos seus idosos?

8. Os integrandos da residência colaboram com o idoso?

9. Qual o ponto negativo que a família observou frente aos cuidados com o idoso?

10. O que a família sente em relação ao idoso?

11. O que significa o CIABS na localidade?

12. De que modo ocorre a reunião da família com o idoso?

13. Que despesa é relacionada com as medicações?

14. Qual é a rotina da família referente ao idoso?

15. A família procura qual o tipo de unidade quando esta eminente a um agravo ou com o

agravo?

16. Quando o idoso adoece o que a família faz?

17. O que a família observa o seu idoso, quando utiliza os medicamentos?

18. A família tem segurança nas medicações que os idosos estão utilizando?

19. Quem o acompanha quando o idoso procura um serviço de saúde?

20. Como a família vê a assistência ao idoso do serviço de saúde?

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Apêndice 6 – Termo de Consentimento para uso de Arquivos, Registros e Similares

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Biguaçu, 29 de outubro de 2007.

Solicitamos autorização para o Diretor da Instituição CIABS, para pesquisa nos

documentos sob a responsabilidade referentes aos prontuários dos pacientes idosos a fim de

fazer o levantamento quanto à utilização de medicamentos.

O acesso a estes dados possibilitará o alcance dos objetivos propostos na pesquisa

intitulada O Lidar Cotidiano com Medicamentos no Viver de Pessoas Idosas – A Presença do

Cuidado de Enfermagem, sob coordenação da professora Lygia Paim dos acadêmicos Jorge

César Rodrigues e Valmor José Heberle, acadêmicos do Curso de Graduação de Enfermagem

da Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu.

Lygia Paim

Professora Orientadora

Jorge César Rodrigues

Acadêmico de enfermagem

Valmor José Heberle

Acadêmico de enfermagem

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Apêndice 7 – Tabela 1 na organização na tomada dos medicamentos

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Apêndice 8 – Tabela 2 para organização na tomada dos medicamentos

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Apêndice 9 – Tabela de medicamentos ingeridos pelos clientes.

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Apêndice 10 – Roteiro de Visita Domiciliar

Nome: Antecedentes de VD: Objetivos: Acolhimento: Objetivo Solicitação Medica Explicação das tomadas medica: Reorientação Dificuldade e facilidade Avaliação

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Apendice 11 - Encontros realizados com os clientes

Encontro 1

- Conhecer os clientes alvo da pesquisa.

- Assinatura do Tecle (anexo 2).

- Explicações de como se procede o Trabalho.

- Realização da primeira coleta de dados.

Encontro 2

- Realizada um VD na casa dos clientes alvo da pesquisa.

- Realização da assistência domiciliar, fazendo a verificação de glicemia e sinais vitais,

verificada a carteirinha de controle de PA e HGT e anotação dos dados obtidos em suas

respectivas carteirinhas.

- Realizando orientações sobre a tomada dos medicamentos.

- Orientando sobre dúvidas sobre a medicação e/ou sobre sua doença.

- Introdução do mapa de como tomar os medicamentos (apêndice 5) e ajudando em seu

preenchimento.

Encontro 3

- Realizada a verificação dos sinais vitais, glicemia, verificada a carteirinha de controle de

PA e HGT e anotação dos dados obtidos em suas respectivas carteirinhas.

- Verificação do mapa de medicações para verificações de qualquer alteração.

- Orientações sobre as dúvidas dos clientes.

- Realizada a segunda entrevista. (Apêndice 3), com os familiares ou em sua parcialidade.

Encontro 4

- Realizado um encontro com todos os clientes da pesquisa, com a finalidade de esclarecer

quais foram os pontos abordados na pesquisa, qual foi o resultado obtido e de que

maneira o mesmo transcorreu

- Realização de um lanche de confraternização.