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O planejamento em espiral jesus

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O PLANEJAMENTO EM ESPIRAL CONTRIBUINDO NO PROCESSO DE

FORMAÇÃO Valdirene Gomes de Jesus

Universidade Federal do Tocantins

[email protected] Resumo: A inserção das tecnologias digitais nos processos de formação de professores e

gestores educacionais é bastante recente e tem demandado estudos e pesquisas sobre o

assunto, principalmente no que se refere ao planejamento do processo de formação

enquanto instrumento norteador da formação e de sua avaliação. Diante disso, alguns

questionamentos surgem: Como se dá o planejamento, a organização das informações, os

processos de acompanhamento, de registro e de socialização das formações? A tecnologia

pode potencializar o processo de registro e o acompanhamento em processo da formação?

No estudo ora apresentado, consideramos que uma proposta de formação precisa ter um

planejamento adequado aos objetivos e a realidade, uma organização consistente e um

acompanhamento que permita à equipe de formação avaliar o processo de formação,

subsidiar tomadas de decisões e rever o próprio planejamento, processo esse embasado na

teoria do espiral da aprendizagem. No presente artigo abordamos as contribuições do

planejamento em espiral no processo de formação de professores e gestores para uso do

computador portátil nos espaços da escola, de forma especial na sala aula. O estudo tem

como referência o Programa UCA (Um Computador por Aluno) que é desenvolvido em

dez escolas públicas do Tocantins, tendo como foco o curso Formação da Escola. Para o

desenvolvimento do estudo, será apresentada a Proposta de Formação da Escola do

Programa UCA Tocantins, as formas de planejamento elaboradas pela equipe de

formação, a organização e o acompanhamento das atividades de formação e a criação de

instrumentos de registro do processo de formação. Finaliza apresentando considerações

sobre a relevância do planejamento em espiral no desenvolvimento do processo de

formação nos cursos mediados pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

– TDIC.

Palavras-chave: Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Computador portátil.

Planejamento em espiral.

Introdução

A presença das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC nos

espaços escolares é recente e sua inserção na área da educação vem ocorrendo por

iniciativas públicas e privadas. No contexto da escola pública brasileira, enquanto política

governamental, algumas ações merecem destaque: o UCA Total e o PROUCA. O

Programa Um Computador por Aluno – PROUCA, é desenvolvido no formato piloto com

a participação de 300 escolas, selecionadas por municípios e Estados, em todo território

nacional.

Enquanto experimento, o programa tem apresentado uma série de desafios para a

sua implantação e implementação. Entre eles, está o processo de formação continuada dos

profissionais, sendo esta contextualizada a realidade de cada escola; a prática pedagógica

de professores e gestores para que possam integrar essas tecnologias aos processos de

ensino e aprendizagem; bem como, um planejamento que potencialize a gestão do

processo de formação.

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Para Almeida e Valente (2009, 2011),, Valente (2002) e Almeida (2004), a

constituição de uma educação com qualidade social perpassa pelo processo efetivo de

formação dos profissionais da educação para uso pedagógico das TDIC no processo de

ensino e aprendizagem.

O processo de constituição de novas práticas com uso do computador portátil no

contexto da sala de aula é viabilizado pela formação continuada dos profissionais da

educação. Nesse sentido, o presente artigo fará uma breve apresentação da proposta de

formação do Programa UCA Tocantins e focará sua abordagem nas contribuições do que

denominaremos de planejamento em espiral (VALENTE, 2002) no processo de formação

de professores para uso do computador portátil em sala de aula.

1. Referencial teórico: um pequeno recorte

As discussões apresentadas aqui vão perpassar pelo uso das tecnologias que estão

presentes na sociedade da informação e que têm sido subutilizado no contexto da

educação brasileira para potencializar a constituição da sociedade do conhecimento.

Segundo Valente (2002, p. 108), a sociedade do conhecimento “requer indivíduos

criativos e a capacidade para criticar construtivamente, pensar, aprender sobre aprender,

trabalhar em grupo e conhecer seus próprios potenciais”, que são demandas emergentes

para os sujeitos capazes de dominar conhecimentos específicos em profundidade, além das

leituras dos problemas ecológicos e sociais que preocupam a sociedade. “Eles devem ser

inseridos em ambientes de aprendizagem que facilitem a construção de conhecimento, a

compreensão do que o aprendiz faz e o desenvolvimento das habilidades que são

necessárias para atuar na sociedade do conhecimento” (VALENTE, 2002, p. 108).

Isto não acontece apenas por meio de legislações, mas também por um processo

intenso e coordenado de formação continuada dos profissionais que atuam no contexto

educacional. Entretanto, a inserção das tecnologias no processo educacional assume uma

perspectiva diferenciada quando temos legislações que preveem a sua inserção. Nesse

sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, de 13 de

julho de 2010, apontam que as disciplinas devem ser organicamente planejadas e geridas

de tal modo “que as tecnologias de informação e comunicação perpassem

transversalmente a proposta curricular, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio,

imprimindo direção aos projetos político-pedagógicos” (BRASIL, 2010, p. 6). As

Diretrizes apontam para a constituição de políticas públicas para assegurar a presença das

TDIC no currículo, sinalizando como possibilidade de estabelecer permeabilidades entre

as disciplinas e abrindo espaço para a concepção de rede. Tal situação é essencial para se

compreender a configuração do currículo da cultura digital e aponta para premência da

ressignificação das práticas pedagógicas realizadas pelos professores em salas de aula a

partir do uso das tecnologias.

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As Diretrizes pontuam demandas que vêm sendo apresentadas por vários

estudiosos das novas tecnologias da educação, dentre eles, desta Almeida e Valente

(2009). Os autores informam que é importante utilizar as TDIC para

[...] potencializar as práticas pedagógicas que favoreçam um currículo voltado

ao desenvolvimento da autonomia do aluno na busca e geração de informações

significativas para compreender o mundo e atuar em sua reconstrução, no

desenvolvimento do pensamento crítico e auto-reflexivo do aluno, de modo que

ele tenha capacidade de julgamento, auto-realização e possa atuar na defesa dos

ideais de liberdade responsável, emancipação social e democracia (ALMEIDA;

VALENTE, 2009, p. 2-3).

Segundo eles, a inserção das TDIC no contexto da sala de aula potencializa no

aluno habilidades de fazer escolha num universo de informações, de escrever as próprias

ideias, representá-las em outras linguagens, assim como ler e interpretar as mensagens dos

outros, expressas em códigos, imagens, textos, sons, vídeos, articulados em hipertextos.

Seguindo esse pensamento, por meio do desenvolvimento de atividades investigativas, os

alunos estabelecem interações entre seu cotidiano, os acontecimentos do mundo e o

conhecimento trabalhado em sala de aula, criam conexões entre o local e o global e

conseguem estabelecer novas relações que lhes permitem ressignificar o currículo

prescrito.

Pensar no uso das TDIC no cotidiano escolar é pensar em currículo e, nesse

sentido, precisamos ter clareza conceitual do que é o currículo e, especificamente, de

como as tecnologias vão perpassar ou ser integradas ao currículo; e pensar currículo é

pensar em cultura escolar. Para Sacristán e Gómez (1998), a cultura escolar não é

exatamente a cultura dos sujeitos sociais aos quais ela atende, mas é uma (re)elaboração

guiada e organizada dentro de um currículo que, em sua maioria, é pensado por uma

equipe de especialistas e desenvolvido por outros sujeitos. O currículo precisa ser

entendido de forma processual e constituído e ressignificado no ato pedagógico para

atender a um determinado fim, ligado à possibilidade de construção dos conhecimentos

por parte do aluno e não como algo estático e formal para atender às demandas legalistas

de um sistema.

Pensar no currículo escolar com a inserção da tecnologia é algo extremante novo e

controverso, pois, mesmo em países onde a tecnologia já faz parte do cotidiano de toda

população, seu uso pedagógico mostra-se algumas vezes periférico as atividades de sala de

aula e, em outras está restrito ao uso instrumental. Os profissionais educadores ainda

apresentam um olhar ingênuo em relação à tecnologia, sem perceber que elas interferem

nos modos de expressão, de relacionamento, de ser e estar no mundo, de produção do

conhecimento e da cultura, bem como, transformam a vida e também o currículo, como

apontam Almeida e Valente (2011). Assim, tecnologia e currículo são trajetórias

convergentes e/ou divergentes e cabe ao professor ser o protagonista desse processo.

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[...] o professor é o principal responsável pelo desenvolvimento do currículo e

que as TDIC não são boas ou más por si, assim como sua integração ao currículo pode ter a intenção de propiciar a emancipação ou a dominação e o

controle do homem. Pela participação ativa na construção do currículo é que as

pessoas exercitam a participação na sociedade e podem questionar as

tecnologias, criticá-las, analisar suas contribuições e possibilidades de uso em

contexto com vistas à resolução de problemas da vida, ao desenvolvimento

humano e à emancipação política e social. (ALMEIDA; VALENTE, 2011, p.

37)

Para que o professor possa fazer a integração das tecnologias ao currículo de forma

a potencializar a construção e apropriação do conhecimento por parte do aluno, precisa

realizar formações continuadas que tenham sentido para a sua prática pedagógica. Tais

formações objetivam dar condições de apropriação das tecnologias integradas ao

currículo, enquanto instrumentos didáticos pedagógicos voltados para construção de

conhecimentos pelos sujeitos “aprendentes”.

Formação, nesse contexto, constitui-se na perspectiva de Almeida (2004, p. 84),

enquanto “atividade educativa entre educadores no exercício de suas funções, os quais têm

efetiva participação nas ações de formação, contribuem com suas crenças, valores,

experiências, competências, potencialidades e representações”. Nesse sentido, a autora

caracteriza a ação de formação como um processo de integração do formador e formandos

conectados ao contexto no qual estão inseridas as teorias educacionais e a intencionalidade

de mudança e inovação educacional.

Esse processo tem como base duas concepções o “estar junto virtual”, caracteriza-

se como uma concepção de educação pautada na colaboração, construção coletiva do

conhecimento mediado pela tecnologia e da “espiral de aprendizagem”, que tem como

base “A ideia de ciclo de movimentos contínuos para novas compreensões – é central nas

teorias que propõem a aprendizagem como processo de construção do conhecimento que

há na interação do sujeito com o seu meio” (VALENTE, 2002, p. 23).

Tais teorias concebem a tecnologia como elemento que potencializa o processo de

construção do conhecimento tendo como referência a colaboração, a reflexão, a

recontextualização, a interação e o desenvolvimento do processo de apropriação da

aprendizagem em ciclos, não fechados, ou seja, em espiral ascendente.

2. Projeto UCA: formação Brasil

Para uma melhor compreensão de que formação estamos falando, é necessário

contextualizar a proposta de utilização do computador portátil no processo de ensino e

aprendizagem no Brasil tem como referência a experiência desenvolvida pela One Laptop

per Child – OLPC, entidade sem fins lucrativos que surgiu a partir das pesquisas do MIT –

Media Lab, tendo como fundadores Nicolas Negroponte e Seymour Papert, referências nas

pesquisas sobre inteligência artificial. Em 2005, os referidos pesquisadores,

acompanhados da senhora Mary Lou Jopsen, vieram ao Brasil apresentar o projeto da

OLPC (Um Computador por Criança) ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva que

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entusiasmado com a proposta, constituiu um grupo interministerial para avaliar e emitir

um parecer.

Nesse mesmo ano, foi criado um Comitê Gestor que tinha a incumbência de

discutir e apresentar, à luz do projeto concebido por Negroponte, uma proposta de uso de

computador portátil, que foi denominado de Um Computador por Aluno – UCA.

Diferentemente do projeto da OLPC, o Projeto UCA propunha a introdução do laptop no

contexto da sala de aula, o que pode provocar mudanças no ensino e na aprendizagem, no

currículo e na comunidade escolar como um todo. Segundo Mendes (2008), somente em

2007 que se iniciou o processo de implementação do experimento piloto UCA em cinco

escolas brasileiras, nas cidades de Brasília, Palmas, Piraí, Porto Alegre e São Paulo. Para o

desenvolvimento do experimento, foram utilizados três modelos de laptop: classmate PC

da empresa Intel, o XO da Instituição OLPC e o mobilis da empresa Encore.

O design da formação do Programa UCA foi desenvolvido pelo Grupo de

Formação e Acompanhamento, composto por representantes das Universidades que

compõem o GTUCA (Grupo de Trabalho do UCA). Esse grupo produziu, em 2009, uma

cartilha denominada Projeto UCA Formação Brasil: projeto, planejamento das

ações/cursos. Esse documento teve como objetivo “criar e socializar novas formas de

utilização das tecnologias digitais nas escolas públicas brasileiras para ampliar as

possibilidades de inclusão digital escolar e promover o uso pedagógico das tecnologias de

informação e comunicação” (BRASIL, 2009, p. 1), e foi elaborado com vistas a orientar a

formação, o acompanhamento e a avaliação do Programa UCA.

A ênfase da formação do Programa UCA está na constituição de redes, como

definida por (ALMEIDA et al., 2011, p. 8). Essa formatação em rede se efetivou na

constituição de grupos de trabalho do GTUCA, na organização do GT de avaliação, GT de

pesquisa e GT de formação. Para operacionalizar o processo de formação em rede, foram

organizados vários grupos que são relevantes para a compreensão da formação em curso:

Grupo de Trabalho de Assessores Pedagógicos do Projeto Um Computador por

Aluno – GTUCA, constituído por dez docentes representantes de Instituições de

Ensino Superior, denominadas neste projeto de IES Global; Grupo de Formação

e Acompanhamento, constituído por seis consultores especialistas da área e um

representante da Secretaria de Educação a Distância – SEED/MEC (O

PROUCA foi transferido para Secretaria de Educação Básica – SEB); Equipes

de Formação e Pesquisa, compostas de professores/pesquisadores das IES Globais que atuam junto às IES Locais; Equipes de Formação destinadas a

atuarem junto às escolas piloto. Tais equipes são formadas por professores de

IES Locais, representantes das SE e multiplicadores dos NTE/NTM; professores

e gestores das escolas pilotos e alunos-monitores. (BRASIL, 2009, p. 8).

O processo de formação em rede proposto pelo Grupo de Formação e

Acompanhamento se constitui de quatro etapas: 1a ação: preparação da equipe de

formação e pesquisa – IES Global que é de responsabilidade do Grupo de Formação e

Acompanhamento e tem como objetivo preparar essa equipe para desenvolver o processo

de formação junto às IES Locais/SE/NTE/NTM; 2a ação: preparação da equipe de

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formação desenvolvida pela IES Global e tem como objetivo preparar a equipe de

formação dos membros da equipe da IES Local; 3a ação: formação da escola é de

responsabilidade da equipe da IES Local, SE/NTE/NTM, em cooperação com a IES

Global, tendo como objetivo preparar a equipe de professores e gestores das escolas para o

uso pedagógico inovador das tecnologias digitais, na perspectiva de estruturar redes de

cooperação; 4a ação: capacitação de alunos-monitores que é de responsabilidade das

secretarias e das escolas.

Sem desconsiderar a relevância das demais ações, neste estudo, buscamos

compreender a especificidade da ação 3, considerando que a “formação da escola” é de

responsabilidade das IES Locais. Segundo Almeida et al. (2011, p. 10), a formação [...]

“em rede é realizada a partir de um trabalho efetivo entre a IES Global, IES Local e

Escolas com o apoio da Secretaria Estadual de Educação e das Secretarias Municipais

constituindo um grande grupo de trabalho”.

A formação da escola tem como princípio a educação autônoma, cooperativa

desenvolvida em situação de aprendizagem, na perspectiva de “aprender fazendo”. Essa

ação tem uma carga horária de 180 horas a ser desenvolvida em cinco módulos pela

equipe de formação da IES Local, com colaboração com a IES Global. Os módulos da

formação da escola apresentam três dimensões imbricadas:

A. Tecnologia – apropriação e domínio dos recursos tecnológicos voltados para

o uso do sistema Linux e de aplicativos existentes nos laptops educacionais; B.

pedagógica – integração dos laptops nos processos de aprender e ensinar,

gestão de tempos, espaços e relações entre os protagonistas das escolas, do

sistema de ensino e da comunidade externa; C. teoria – articulação de teorias

educacionais que permitam compreender criticamente os usos das tecnologias

digitais em diferentes contextos de aprendizagem. (BRASIL, 2009, p. 19).

O Curso de Formação da Escola busca qualificar professores e gestores para o uso

de aplicativos do laptop educacional em práticas que privilegiam a aprendizagem, e

baseado na construção cooperativa do conhecimento, considera as especificidades das

propostas curriculares e utiliza metodologias reflexivas para inserção das tecnologias no

contexto da sala de aula.

O Curso é composto de cinco módulos: o Módulo 1: apropriação tecnológica

visa dar familiaridade aos cursistas, aos programas e às ferramentas disponíveis no laptop

educacional; o Módulo 2: web 2.0 objetiva possibilitar a apropriação e a inserção dos

cursistas em redes colaborativas e de cooperação na construção do conhecimento, no

desenvolvimento de atividades que possam ser planejadas para possibilitar inserção de

práticas pedagógicas diferenciadas a partir da utilização das ferramentas da web 2.0 no

contexto da sala de aula; o Módulo 3: formação na escola foi constituído em dois blocos:

o módulo 3a para os professores tem como finalidade desenvolver práticas pedagógicas

inovadoras com uso de tecnologias em sala de aula a fim de possibilitar dinâmicas de

interação, cooperação e colaboração de alunos com alunos, professores com alunos,

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professores com professores; o módulo 3b gestores tem como objetivo desenvolver

atividades de integração das dimensões teóricas, metodológicas e práticas dos gestores, da

escola e das secretarias, na perspectiva de integrar as tecnologias aos processos de gestão

escolar; o Módulo 4: elaboração de projetos objetiva aprofundar os conceitos teóricos

sobre projeto, tecnologias e currículo dos professores e gestores, a fim de integrar aos

projetos de sala de aula as tecnologias digitais, constituir novas formas de organização e

construção do conhecimento e do currículo; o Módulo 5: sistematização da formação na

escola tem como finalidade desenvolver ações voltadas à articulação entre as dimensões

pedagógicas e de gestão escolar para possibilitar a construção do Projeto de Gestão

Integrada a Tecnologia – ProGItec integrado ao projeto político-pedagógico da escola,

para a sustentabilidade no uso dos laptop educacional.

2.1. A formação no Programa UCA Tocantins

O Programa UCA, no formato piloto no estado do Tocantins, teve início em 2010.

A IES Global é a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, sob a

coordenação da professora Dr.ª Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida. A IES Local é a

Universidade Federal do Tocantins, sob a coordenação inicial da professora Dr.ª Marilene

Andrade Ferreira Borges, do Curso de Pedagogia do Campus de Arraiassubstituída

professor Dr. George França dos Santos, por motivo de sua mudança de Instituição, e

conta com a parceria efetiva da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) do estado do

Tocantins.

O PTA (plano de trabalho anual) tem como foco os aspectos financeiros e

administrativos. Apesar de mencionar as metas pedagógicas, ele visa apresentar o

orçamento das despesas de custeio previstas para o desenvolvimento de um determinado

curso. Nesse sentido, cada IES Local tem autonomia para definir suas metas de

implementação do Programa no seu Estado. A UFT estabeleceu suas metas em relação a:

1 – Prosseguimento da proposta de formação: - Participação na consolidação da rede UCA de formação

- Coordenação e acompanhamento dos cursos

- Encontro com os multiplicadores – Palmas

- Encontros presenciais nas 10 escolas que participam do Programa. - Encontro Presencial com as 10 escolas – Palmas

2 – Implementar proposta de Avaliação das escolas UCA

- Implantação da estrutura de Avaliação

- Coordenação, acompanhamento e avaliação dos processos formativos

- Implementação da avaliação (diagnóstica, processo, resultados e impactos)

- Análise de dados

3 – Desenvolver investigação científico-pedagógica

- Análise das práticas educativas implementadas com o laptop nas 10 escolas e

das mudanças ocorridas nos processos e currículos

4 – Acompanhar as escolas no desenvolvimento de projetos pedagógicos

- Acompanhamento das escolas no desenvolvimento de práticas pedagógicas

utilizando os Laptops (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS, 2010).

Para desenvolvimento do curso de formação – Ação 3 – cada IES Local estrutura

sua equipe de formação, com recebimento de 12 bolsas do FNDE para compor tal

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“equipe” que no Tocantins foi estruturada da seguinte forma: quatro pesquisadores (com

formação mínima de mestre e docente da UFT), três formadores (com no mínimo

especialização e com vasta experiência em uso pedagógico das TDIC e em cursos de

formação da Secretaria Estadual de Educação), cinco tutores (com experiências em cursos

de formação a distância – da Seduc e das Secretarias Municipais de Educação). Além dos

bolsistas, a IES/Local UFT conta com participação de um coordenador do UCA da

SEDUC, quatro profissionais da SEDUC que atuam no projeto como colaboradores e os

coordenadores do UCA na escola.

Há entre as instituições certa flexibilidade para compor as equipes de formação. No

Tocantins, devido à distância entre as escolas que fazem parte do projeto e a própria

equipe da coordenadora da IES Local UFT, a organização da equipe assumiu inicialmente

a seguinte dinâmica: cada pesquisador acompanharia duas a três escolas e tinha sob sua

responsabilidade direta formadores, tutores e coordenadores do UCA na escola. No

decorrer da formação, a equipe entendeu que as dificuldades encontradas no

acompanhamento pedagógico precisavam de uma ação mais unificada, considerando as

demandas apresentadas. Dessa forma, a equipe de pesquisa foi reorganizada e ficou assim

distribuída: coordenação geral, coordenação administrativa e coordenação pedagógica, que

são responsáveis pela formação, pelo acompanhamento, pela avaliação e pelo suporte

teórico-prático das dez escolas que fazem parte do Programa UCA Tocantins. As decisões

e os encaminhamentos do curso foram realizados pela “equipe de formação” deliberada

em reuniões (presenciais e/ou via Skype

Figura 1: Representação da equipe de formação da IES Local do Curso Formação da Escola.

Fonte: Produção da equipe de Formação do UCA Tocantins.

Figura 1: Planificação do Módulo 2: web 2.0 do Curso Formação da Escola do Programa UCA Tocantins.

Observação: Planificar colocar as ações no plano (tabela) é uma ação já utilizada por Valente, ressignificada

no Curso de Formação da Escola do Programa Uca Tocantins

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2.2.1. Analise sobre o planejamento, organização, registro da proposta de formação

do UCA Tocantins

O Projeto pode ser caracterizado como um caminho que vem sendo percorrido por

toda a equipe de formação que, nas suas diferentes funções, compõe o processo, quer nas

ações individuais ou coletivas, equipe essa que se encontra em processo de aprendizagem

junto com os educadores da escola.

Nesse sentido, observa-se que a proposta de formação dos profissionais das escolas

para utilização do laptop educacional conectado tem abertura para que as IES Globais,

Locais, SE, NTE, NTM e as escolas envolvidas nos projetos desenvolvam seus

planejamentos, registros e organização das informações do processo de formação. Os

resultados desse processo fornecerão subsídios para ampliação do uso do computador

portátil para as demais escolas da rede pública de educação básica.

O curso de formação utiliza-se do ambiente virtual de aprendizagem e-proinfo

como plataforma para o desenvolvimento da formação. O e-proinfo possui algumas

ferramentas que foram customizadas para atender às demandas do curso, entre as quais

destacam-se diário de bordo, fóruns, portfólio, lista discussão e acervo. Entretanto,

observa-se que essas ferramentas objetivam registrar as atividades previstas em cada

módulo e não o registro sobre o processo de planejamento, organização e socialização da

formação dos profissionais da escola.

É importante salientar que as preocupações com o processo de registro nos

projetos educacionais são recorrentes. Almeida (2007) pontua que os projetos na área

educacional não têm o hábito de registrar as atividades produzidas durante seu

desenvolvimento, mas, ao final do processo são produzidos relatos das atividades

desenvolvidas, ao contrário de algumas áreas em que o registro é parte integrante do

desenvolvimento, pois, a partir do estudo sistematizado desses registros, são tomadas

decisões que interferem no seu desenvolvimento.

Planejamento em espiral aqui é definido como o processo que está implícito no

planejamento colaborativo da equipe, na organização das informações, no registro do

processo e nas deliberações tomadas e na socialização com fluidez da rede de formação. É

elaborado em equipe, de forma dialógica levando em conta o diagnostico da realidade, os

propósitos da formação, é registrado via ata (extrato das discussões). Nele estão

registrados: o assunto, o contexto de organização das ideias, as demandas apresentadas

para execução das atividades, as ações que foram definidas para ser executadas e as

demandas referentes aos sujeitos que atuarão no desenvolvimento do trabalho. Tal

planejamento é executado pela equipe de formação da IES Local em colaboração com a

IES Global que definem os caminhos a ser trilhados por toda a equipe no processo de

formação.

Para desenvolver o acompanhamento da proposta de trabalho planejada pelo

grupo, definiram-se formas de socialização e divulgação do planejamento. Para isso,

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utilizou-se o Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA, possibilitando usar as TDIC

como parte estruturante do processo de gestão de projeto. Nesse sentido, a criação da

Comunidade: Ambiente de Gestão Tocantins, no ambiente do curso e-proinfo, foi

fundamental para o registro das informações do Curso de Formação da Escola, da

proposta de formação aprovada pela equipe, como espaço de socialização, debate e

encaminhamentos das demandas do Programa, espaço de gestão das instituições

responsáveis pelo processo de formação e acervo de toda memória do curso de formação

para pesquisas. Nesse espaço, estão alocados formadores da IES Global, Local, os

coordenadores do UCA da SEDUC e gestor de cada unidade escolar em formação bem

como, estão disponibilizados todos instrumentos e produções construídas no decorrer do

processo de formação.

A esse processo de organização, registro e sistematização da proposta de formação

e das informações sobre o curso, denominamos de planejamento em espiral ascendente,

pois todas as ações constituem em ciclos que objetivam melhorar a relação dos cursistas e

formadores no processo de formação, na perspectiva de estar junto virtual e da

aprendizagem que se dá em espiral, e que também exige uma forma de organização em

espiral.

Os módulos produzidos pelo Grupo de Formação e Acompanhamento que estão

disponibilizados no ambiente e-proinfo são objeto de estudo da equipe de formação da IES

Local. Os formadores se reúnem em grupo para planificar, colocar no plano, cada módulo

do curso. A planificação é realizada a partir das seguintes perguntas: o quê? (ações),

como? (especificar os procedimentos), quem? (responsável pela ação), quando? (período

de realização da ação) e onde? (local de realização da ação). Cria-se uma tabela com

colunas e descrevem-se as atividades correspondentes aos itens levantados, conforme

Figura 1-anexo.

Essa planificação é pensada pelos formadores e enviada por e-mail para todos da

equipe de formação. No encontro presencial que sempre antecede a cada módulo, a equipe

de formação socializa a planificação, que é discutida e aprovada. Após a aprovação, ela é

disponibilizada no ambiente para ser desenvolvida por toda equipe nas dez escolas. Como

é um documento fruto do consenso do grupo para ser executado, ele está em processo

permanente de avaliação e pode ser alterado no decorrer das ações conforme as demandas

apresentadas pela equipe de formação.

A IES Local UFT apresentou no seu PTA como metas da formação a entrega de

alguns produtos, como: relatórios de acompanhamento das práticas pedagógicas utilizando

o laptop das dez escolas; dois estudos sobre as práticas inovadoras com uso do laptop que

evidenciam mudança no currículo; um relatório de implementação da proposta de

avaliação das escolas UCA; e, um relatório final de cumprimento da formação. A equipe

de formação da IES Local, em parceria com a IES Global, construiu e/ou adaptou alguns

instrumentos de registro, como: atas (registros das reuniões de trabalho e descrição da

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pauta e encaminhamentos dados pelo grupo), memorial reflexivo (documento de cunho

pessoal destinado a registrar a trajetória do cursista no processo de formação), modelo de

relatório presencial, modelo de relatório de acompanhamento do UCA na escola, relatório

final e a planificação: pauta, cronograma e módulos.

Para acompanhamento e avaliação do processo de formação, são realizadas

reuniões de socialização e de trabalho desenvolvidas (duas vezes por mês – via Skype) ou

conforme demandas. Os encontros presenciais da equipe ocorrem normalmente de dois em

dois meses distribuídos em escalas de participação diferenciada: encontro da equipe de

pesquisadores, formadores e tutores; encontro com pesquisadores, formadores, tutores,

coordenadores do UCA e gestores das escolas (sempre com a participação de

representantes da IES Global); e encontro de pesquisadores, coordenador UCA da SEDUC

e da IES Global. Os encontros são organizados pela equipe normalmente em dois dias com

os seguintes momentos: panorâmica do projeto pela equipe; discussão teórico-prática

sobre algum aspecto relevante para o encaminhamento da formação levantada pelo

conjunto da equipe; e, momento de socialização da formação em cada escola.

No momento de socialização da formação na escola, são apresentadas as práticas

pedagógicas de implementação do uso do laptop, pontuados os problemas, e mencionadas

as soluções e as conquistas alcançadas. É realizada uma avaliação pela equipe de formação

e definidos encaminhamentos a ser tomados diante do cenário encontrado. O

acompanhamento das atividades pela equipe de formação da IES Local se dá de duas

formas: uma ação verticalizada constituiu como o acompanhamento nas atividades de

formação na escola desenvolvida pelo pesquisador, pelo formador, pelo tutor e o pelo

coordenador do UCA. A especificidade de formação de cada um ajuda na definição e na

ação do como fazer a integração das tecnologias ao currículo a partir de concepções

teóricas e práticas diferenciadas, de forma colaborativa; e uma ação horizontalizada

caracteriza-se como o momento de socialização e deliberação da equipe de formação nas

reuniões presenciais ou via Skype com participação efetiva do coletivo. Esse

acompanhamento da formação, com ações verticalizadas e horizontalizadas do grupo,

possibilita a transparência das discussões.

A deliberação das atividades demandadas é atribuída ao grupo de estudos

específicos para ser estudada por seus membros que tenham perfil para ajudar na

elaboração de uma proposta preliminar, que é socializada e aprovada pela equipe de

formação.

Considerações finais

Considerando que a formação de profissionais para uso das TDIC nos processos de

ensino e aprendizagem é algo recente, é importante que se estabeleçam diretrizes e/ou

estratégias de desenvolvimento de uma formação que priorize o planejamento, a

organização, o registro, o acompanhamento e a socialização como parte da formação. Isso

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possibilita à equipe avaliar, tomar decisões, redefinir estratégias, fazer encaminhamentos

num processo de coautoria de todos os membros da equipe.

Portanto, apesar de o estudo ser uma abordagem preliminar sobre a importância do

planejamento, da organização, do registro e da socialização em cursos de formação, ele

aponta elementos (como ata, memorial reflexivo, relatórios, planificação e criação da

Comunidade: Ambiente de Gestão Tocantins) que estão sendo significativos para

acompanhamento em processo do Curso de Formação da Escola do Programa UCA

Tocantins. Esse processo de planejamento sumariamente descrito tem ajudado nas

tomadas de decisões e na reorganização dos processos de formação com usos das TDIC.

Referências

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Paulo: Articulação, 2004.

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