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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS DE ENGENHEIRO COELHO CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE LARISSA CRISTINE SILVA MARTINS LIZIE CREMONEZI O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM ENGENHEIRO COELHO 2013

O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM - … · como a forma, a significância e a oralidade que o autor original expressa. O tradutor pode fazer uso de algumas marcas de oralidade do português

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS DE ENGENHEIRO COELHO

CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE

LARISSA CRISTINE SILVA MARTINS LIZIE CREMONEZI

O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM

ENGENHEIRO COELHO

2013

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LARISSA CRISTINE SILVA MARTINS LIZIE CREMONEZI

O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM

Trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Tradutor e Intérprete, sob a orientação da prof.ªDr.ª Ana Maria de Moura Schäffer.

ENGENHEIRO COELHO 2013

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Trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do

curso de Tradutor e Intérprete apresentado e aprovado em ______ de novembro de

2013.

_________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ana Maria de Moura Schäffer

_________________________________________________

Segundo leitor: Profº Especialista Marco Antonio de Azevedo

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Dedicamos este trabalho aos nossos pais, que em todo momento nos deram apoio e incentivo. Dedicamos também a nossa querida orientadora, que foi extremamente importante para a realização e conclusão desse trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, por nos permitir concluir esta etapa;

A nossa orientadora Ana M. M. Schäffer, por ser tão paciente e prestativa e nos dar

toda a assistência necessária;

As nossas colegas de classe por nos dar apoio;

Aos entrevistados que nos proporcionaram dados importantes para que a pesquisa

fosse elaborada.

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RESUMO

A história da dublagem e da legendagem serviu como ponto de partida para tentarmos entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas brasileiros. Percebeu-se que a dublagem e a legendagem têm uma história paralela no contexto brasileiro, por isso não é difícil identificar as semelhanças entre um tipo de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se apresentam. No entanto, considerando-se mais as diferenças que semelhanças, um dos principais objetivos da pesquisa foi buscar entender como se processa a relação da dublagem com a oralidade, visto que, com frequência, a presença de gírias na dublagem é mais constante que na legendagem. Para isso, dialogamos com autores que têm abordado a história da dublagem e da legendagem no Brasil, também para compreender por que os brasileiros parecem ter certa preferência pela dublagem, em se tratando de cinema, preferência esta detectada na pesquisa de campo realizada com sujeitos de escolaridade e faixas etárias diferentes. O filme Rio, que é dublado, foi escolhido para a discussão e análise da presença da oralidade nesta modalidade e, por conseguinte, as gírias. A hipótese defendida e confirmada foi que o interesse pela dublagem está relacionado a vários fatores, e entre eles, o tipo de linguagem usada na dublagem, caracterizado pela forte presença da oralidade representada na forma de gírias, além do baixo desempenho na leitura, já que o filme legendado, ao contrário do dublado, exige uma habilidade de leitura, no mínimo mediana, para que se dê o processo de compreensão na sua totalidade. Esperamos que a pesquisa sirva de motivação para que mais estudos relacionados à preferência do telespectador quanto a filmes dublados ou legendados sejam realizados.

Palavras-chave: Dublagem; Legendagem; Filme Rio; Gírias; Oralidade.

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ABSTRACT

The history of dubbing and subtitling served as a starting point on trying to understand why the occurrence of dubbed movies increased in Brazilian theaters. It was noticed that dubbing and subtitling have a parallel story in the Brazilian context, so it is not difficult to identify the similarities between a kind of linguistic register and another, although there are differences in the way they present themselves. However, considering more the differences than the similarities, one of the main purposes of the research was to try to understand how dubbing and orality are connected, since often the presence of slang in dubbing is more constant than in subtitling. To do this, we researched authors who have addressed the history of dubbing and subtitling in Brazil, also to understand why Brazilians seem to prefer dubbing, when it comes to movies. We detected this preference on the field research conducted with schooled subjects and groups of different ages. The movie Rio, which is dubbed, was chosen for the discussion and analysis of the presence of orality in this modality, and, therefore, the slangs. The hypothesis that we defended and confirmed was that the interest for dubbing is related to several factors, among them is the kind of language used by dubbed movies, characterized by the strong presence of the orality represented by slangs, in addition to the low performance in reading, since subtitled movies, unlike dubbed movies, require at least a medium ability to read so the process of understanding can fully happen. We hope that the research can be a motivation for further studies related to the preference of the viewers to dubbed or subtitled movies can be performed.

Key words: Dubbing; Subtitling, Movie Rio; Slangs; Orality.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 ............................................................................................................................ 28

FIGURA 2 ............................................................................................................................ 29

FIGURA 3 ............................................................................................................................ 30

FIGURA 4 ............................................................................................................................ 30

FIGURA 5 ............................................................................................................................ 31

FIGURA 6 ............................................................................................................................ 32

FIGURA 7 ............................................................................................................................ 33

FIGURA 8 ............................................................................................................................ 34

FIGURA 9 ............................................................................................................................ 34

FIGURA 10 .......................................................................................................................... 35

FIGURA 11 .......................................................................................................................... 36

FIGURA 12 .......................................................................................................................... 36

FIGURA 13 .......................................................................................................................... 37

FIGURA 14 .......................................................................................................................... 38

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ........................................................................................................................... 27

TABELA 2 ........................................................................................................................... 28

TABELA 3 ........................................................................................................................... 29

TABELA 4 ........................................................................................................................... 31

TABELA 5 ........................................................................................................................... 32

TABELA 6 ........................................................................................................................... 33

TABELA 7 ........................................................................................................................... 35

TABELA 8 ........................................................................................................................... 37

TABELA 9 ........................................................................................................................... 38

TABELA 10 – Grupos de Entrevistados ........................................................................... 40

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11

2 DUBLAGEM E LEGENDAGEM: UM POUCO DA HISTÓRIA .......................................... 14

3 SOBRE A ORALIDADE ................................................................................................... 20

3.1 Sobre as gírias ............................................................................................................. 23

4 ANÁLISE DAS GÍRIAS NO FILME RIO ........................................................................... 27

5 DUBLADO OU LEGENDADO? ........................................................................................ 39

5.2 Quando se trata de desenho ....................................................................................... 40

5.3 Sobre a atenção exigida .............................................................................................. 41

5.4 Sobre a leitura .............................................................................................................. 41

5.5 Sobre a legendagem .................................................................................................... 42

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 45

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 46

ANEXO – Tabela de análise contrastiva ........................................................................... 48

ANEXO B – Entrevistas ..................................................................................................... 51

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1 INTRODUÇÃO

São poucos os materiais que se encontram sobre a dublagem e a

legendagem no Brasil e isso causa certa dificuldade para pesquisar sobre o assunto.

Falaremos um pouco sobre a história da dublagem e da legendagem e tentaremos

entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas

brasileiros e o que poderia estar por trás disso.

Percebe-se que a dublagem e a legendagem têm uma história paralela no

contexto brasileiro, por isso não é difícil se identificar as semelhanças entre um tipo

de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se

apresentam. No entanto, considerando-se mais as diferenças que semelhanças,

buscaremos entender como se processa a relação da dublagem com a oralidade,

visto que, com frequência, a presença de gírias na dublagem é mais constante que

na legendagem.

Por isso, dialogaremos com autores que têm abordado a história da dublagem

e da legendagem no Brasil, buscando compreender por que os brasileiros parecem

ter certa preferência pela dublagem, em se tratando de cinema. Para embasar a

pesquisa remeteremos a autores como Araújo (2000), Soares (2002), Lessa (2002),

Cajaiba (2000) que falam sobre a história da dublagem e legendagem no Brasil. A

escolha desses autores se deve ao fato de, por exemplo, Araújo ser uma das

poucas pesquisadoras do Brasil que tem tentado historicizar a dublagem no contexto

nacional e servido de referência para muitas pesquisas (RAMALHO, 2007;

CARVALHO, 2005; MELLO, 2005).

Soares (2002), jornalista, tradutora e revisora especializada em legendagem e

dublagem, aponta as limitações técnicas e dificuldades dos tradutores devido à

abrangência e diversidade de assuntos na dublagem e legendagem de filmes que é

a área de maior alcance ao público, porém uma das menos pesquisadas. Lessa

(2002), por ter escrito seu trabalho de conclusão de curso contendo uma ampla

pesquisa sobre a história da dublagem no Brasil, um dos históricos mais lúcidos que

encontramos sobre a dublagem, o qual será muito importante para o

desenvolvimento desta pesquisa. Também analisamos o texto de Cajaiba (2000),

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por ter escrito um capítulo sobre a dublagem que traz argumentos válidos sobre

seus benefícios e o potencial que essa técnica tem para ser aprimorada.

Como vamos focalizar a análise da dublagem do filme “Rio”, na parte prática

do estudo, pretende-se discutir os aspectos da oralidade nesta modalidade e, por

conseguinte, as gírias. Como suporte teórico, traremos autores como Reis (2010)

que analisa a peça “Catharsis” com base nos conceitos de oralidade, e Caldin

(2001), cuja abordagem destaca a oralidade, descrevendo seu significado e

importância na poesia e leitura de livros infantis.

Falaremos sobre a importância do tradutor em tentar manter o sentido assim

como a forma, a significância e a oralidade que o autor original expressa. O tradutor

pode fazer uso de algumas marcas de oralidade do português como “tá” em vez de

“está” para manter o uso da oralidade do original. O discurso oral aproxima o ouvinte

daquilo que está sendo narrado pela entonação da voz, pelos gestos e pela forma

de conduzir a narrativa, e este aspecto deverá ser levado em conta pelo tradutor da

dublagem.

Diante do excesso de material que vem sendo dublado e legendado no

contexto brasileiro atualmente, tentaremos saber se existe algum tipo de preferência

por legendagem ou dublagem no Brasil, e o que poderia estar por trás dessa

preferência, no caso de existir.

Para a pesquisa estabelecemos a hipótese de que o interesse pela dublagem

pode estar relacionado a vários fatores, como o tipo de linguagem usada na

dublagem, a forte presença da oralidade representada na forma de gíria e a baixa

performance na leitura, já que o filme legendado exige uma habilidade, no mínimo,

mediana para que se dê o processo de compreensão do filme.

Um dos nossos objetivos é tentar compreender a intensa presença da

dublagem nos cinemas brasileiros, seguido pelo desejo de tentar identificar o

interesse pela dublagem nos cinemas do Brasil, a partir de uma comparação entre a

dublagem do filme “Rio” e a respectiva legendagem.

Acreditamos que uma pesquisa nessa área pode contribuir para perceber a

necessidade de pesquisas mais aprofundadas com relação à preferência do

telespectador quanto a filmes dublados ou legendados.

Este trabalho está divido por etapas. Na primeira etapa falaremos sobre a

história da dublagem e da legendagem. A segunda etapa está voltada a uma

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questão muito pertinente ao tema, a oralidade. Como a pesquisa se baseia na

ocorrência de gírias na dublagem do filme “Rio”, na terceira etapa, analisaremos as

gírias, fazendo uma ligação com o que os teóricos afirmam. Por fim, apresentaremos

entrevistas feitas por pessoas de diferentes faixas etárias para tentarmos descobrir a

preferência por filmes dublados ou legendados.

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2 DUBLAGEM E LEGENDAGEM: UM POUCO DA HISTÓRIA

Este capítulo tem como objetivo abordar aspectos históricos gerais da origem

da dublagem e legendagem. Para entendermos o desenvolvimento dessas áreas da

tradução, mostraremos a maneira como cresceram essas modalidades e como foi

sua repercussão, mais especificamente no contexto brasileiro.

A linguagem através da fala é o instrumento de comunicação mais comum e

usado na sociedade universal. Sendo assim, considerando que as diferentes

culturas existentes possuem cada uma delas, um código oral próprio, faz-se

necessária a transmissão da mensagem de modo adaptado.

A maneira em que se transmite a mensagem é de extrema importância, já que

a oratória é uma questão muito antiga, analisada já na Grécia Antiga por Aristóteles

e Platão. Aristóteles reconhecia o poder da linguagem e sabia como manipular uma

situação apenas com palavras, até mesmo quando um discurso mal escrito é

pronunciado por um bom orador, pois “não basta possuir a matéria do discurso; urge

necessariamente exprimir-se na forma conveniente” (ARISTÓTELES, apud LESSA,

2002, p. 25), e Platão que fazia bom uso da retórica, da arte de falar bem, ao

argumentar fazendo com que seus adversários ficassem sem respostas.

Reyzábal (apud LESSA, 2002 p. 24) defende a ideia de que “o prazer de

escutar é maior que o de ler, pois implica, em geral, uma história compartida por

outros”, visto que, ao contar uma história, o narrador muda a intensidade da voz,

enfatizando algo, ou colocando sentimentos, sejam eles de dor, tristeza, alegria,

além de fazer uso de gestos. Por este motivo o texto torna-se mais interessante.

De acordo com Lessa (2002, p.31), “a teatralização ou dramatização, por sua

vez, é constituída de um texto que vai ser oralizado de forma artística. O ideal é que

interpretação e escrita sejam de boa qualidade”. Segundo Stanislavsky (apud

LESSA, 2000, p. 32), a arte de atuar consiste em criar uma “vida interior de um

espírito humano e dar-lhe expressão em forma artística”, ou seja, “viver o papel”.

Portanto, a escolha da voz para dar vida a um personagem deve ser uma tarefa

minuciosa e atenta, pois existem inúmeras maneiras de utilizá-la.

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O cinema nasceu em 1895, com os irmãos Lumière; menos de um ano depois

vários cinemas já tinham sido abertos na Europa e nos Estados Unidos. Em 1915

essa indústria já tinha sua capital em Hollywood, nos Estados Unidos. Até então, os

filmes eram apresentados em preto e branco e também eram mudos, a cada 15 ou

20 segundos eram mostrados diálogos que apareciam em cartões.

Em 1926 o cinema soltou o som pela primeira vez, com um disco gravado

com as músicas e efeitos sonoros concomitantemente à projeção. No ano seguinte,

em 1927, O Cantor de Jazz (The Jazz Singer) impulsionou os estúdios da Warner

Bros a iniciar testes de sincronismo entre projeção e som. Em sequência desses

experimentos, os estúdios estrearam filmes com esse sincronismo, porém continham

apenas músicas. Feito isso, a dublagem começou a ser usada; contudo, os

personagens mexiam a boca enquanto as músicas soavam.

Cinco anos depois, o cinema ficou ainda mais popular quando as cores foram

inseridas nos filmes. Quando os roteiristas sentiram a necessidade de introduzir

diálogos nas produções, o sistema teve que ser mudado. Em contrapartida, nos

desenhos animados de Walt Disney havia muita liberdade para utilizar o som em

inúmeros aspectos das cenas.

Durante nossa pesquisa, encontramos muitos trabalhos que falam sobre a

história do cinema, mas poucos deles se concentram em contar como os tradutores

daquela época lidavam em transmitir os diálogos de um filme para outra língua.

Mouzat (apud MELLO, 2005, p. 22) conta em sua tese A forma e o sentido na

tradução: a tradução de filmes por legendas (1995), que existiam três opções para

que esses filmes fossem acessíveis às pessoas de diferentes países: dublagem,

legendagem e versões múltiplas.

A versão múltipla é aquela em que os filmes são gravados várias vezes, no

mesmo cenário e, às vezes, até com os mesmos atores que falavam mais de uma

língua. Mouzat (apud MELLO, 2005, p. 23) também declara em sua tese que o

primeiro filme gravado dessa forma foi Atlantic (1929). Mas eles perceberam que era

muito caro gravar filmes dessa forma e passaram a dar preferência à dublagem. O

público também preferia ver os atores famosos a seus substitutos.

Mello, em sua tese O Tradutor de Legendas Como Produtor de Significado

(2005) relata que nos anos 1930 a qualidade de som era ruim, o que fez com que o

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público passasse a preferir filmes legendados. A partir daí, as pessoas passaram a

ler o diálogo dos filmes. A autora cita Jean-Claude Bernardet (1980, p. 28) dizendo

que essa mudança de filmes dublados para legendados causa um esforço maior ao

público, um esforço que afeta o próprio corpo:

Nossos olhos passam a percorrer muito rapidamente a imagem, antes de baixar para a legenda, que [o espectador] lê rapidamente, para depois voltar à imagem, se der tempo, e recomeçar o processo no aparecimento da legenda seguinte. O resultado disso é que ele se torna um espectador que não tem o tempo de se deter nas imagens, ele mal as vê. Pouco treinado visualmente, é também pouco treinado auditivamente, porque não tem que acompanhar o diálogo pelo ouvido, mas lendo. A nossa própria formação como espectador está profundamente marcada pela presença de um cinema legendado.

Conforme lemos acima, as pessoas tiveram que mudar sua maneira de

assistir aos filmes e se acostumar a se deter às letras da legendagem deixando um

pouco de lado a essência da imagem.

Mello (2005) explica que a palavra escrita sempre foi muito criticada pelos que

apreciavam o cinema ‘puro’, mas ela estava presente em todas as épocas como, por

exemplo, ao utilizarem letreiros e subtítulos para mostrar que aquela cena estava

acontecendo no dia seguinte ou ao utilizar o relógio para representar a hora ou

quanto tempo passou de uma cena para outra.

Jean-Claude Carrière (apud MELLO, 2005, p. 25) descreve que nos

primórdios do cinema, os administradores coloniais franceses organizavam sessões

de filmes na África, logo depois da Primeira Guerra Mundial. Como era de uma

cultura que utiliza muito a oralidade, eles não entendiam as imagens silenciosas,

fazendo com que fosse necessária a figura de um ‘explicador’ que ficava ao lado das

imagens explicando tudo o que estava acontecendo. Mello explica este fenômeno

(2005, p. 27) ao afirmar que:

Cada época, na vida cinematográfica, conta uma história com os recursos que possui. Quanto ao uso da palavra no cinema e sua importância, observamos que em diferentes momentos do cinema, a ênfase de uma história recai ora sobre as imagens ora sobre a palavra.

Existem várias opiniões divergentes com respeito à relevância do cinema

mudo, umas que dão mais ênfase à imagem e outras que destacam a palavra

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inserida nos filmes; cada uma dessas áreas tem a sua importância e deve ser

valorizada. Com o passar dos anos, muitas tecnologias avançadas surgiram,

aperfeiçoando essas duas áreas, facilitando a compreensão dos filmes pelo público

e tornando o cinema, a 7° arte, uma fonte de entretenimento e conhecimento mais

interessante ao público.

A história da dublagem começa com o curta-metragem chamado O barquinho

do Mickey, de Walter Elias Disney, cujo personagem principal ganhava vida através

da voz do próprio criador. Pois para Walt Disney, não existia uma voz que fosse

compatível com a que ele desejava, alegando que o personagem não falava em

falsete (LESSA, 2002, p. 74). Posteriormente, foi substituído por Jim McDonald, no

início da década de 1940. As primeiras animações eram dubladas pelos próprios

desenhistas e criadores ou funcionários dos estúdios, já que não possuíam opções

de falas.

Com o passar do tempo e com o sucesso alcançado com seus desenhos

animados, Walt Disney decidiu expandir sua criação pelo mundo. Para isso, o

criador enviou representantes de sua equipe para cada país onde seria feito o

processo de dublagem para que fosse feita a seleção dos intérpretes responsáveis

por concretizar essa dublagem. Finalmente, um ano depois do lançamento de

Branca de Neve e os Sete Anões nos Estados Unidos, iniciou-se o processo da

primeira dublagem no Brasil em 1938.

Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha, autor de aproximadamente 400

composições da MPB (Música Popular Brasileira), foi um dos responsáveis por essa

realização. Ele, além de dirigir a dublagem e escolher o elenco de vozes, adaptou as

canções do filme originalmente escritas por Larry Morey para o português. Em

entrevista, sua filha Maria Cecília (LESSA, 2002, p.189) relata:

Um americano que estava aqui (Jack Cutting) ficava impressionado com o fato de se conseguir fazer isso no Brasil com o equipamento sonoro que nós tínhamos. E aqui era tudo muito empírico ainda, até mesmo na gravação de discos. Diziam que, para fazer eco, tinham que cantar do banheiro. E Branca de Neve... foi um sucesso.

Braguinha participou de muitas outras versões brasileiras da Disney que

fizeram sucesso. Na época, esses filmes eram apresentados apenas nos cinemas.

Os filmes que não eram desenhos ainda não tinham sua versão dublada. Apenas na

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década de 1950 os filmes começam a ser apresentados na televisão, permitindo que

as pessoas pudessem desfrutar dessa arte no conforto de suas casas. Porém, no

início, os telespectadores só tinham a opção de filmes legendados em seus lares.

Assim, como já acontecia em países onde o governo apenas permitia filmes

dublados, no início dos anos1960, Jânio Quadros decreta a dublagem obrigatória

para a televisão no Brasil. Mais pessoas começaram a adquirir televisores e viu-se a

necessidade de criar estúdios de dublagem para que os filmes estrangeiros fossem

mais acessíveis, atendendo à demanda dos usuários.

A dublagem é uma arte que envolve muito trabalho e dedicação. Por meio da

revisão bibliográfica referente à dublagem, nota-se que a dublagem é vista como

algo negativo e também escutamos muitas pessoas criticando o trabalho dos

dubladores sem ter um conhecimento mais aprofundado das dificuldades

enfrentadas por eles. Lessa apresenta as dificuldades técnicas inerentes ao

processo de dublagem e corrobora essa afirmação ao afirmar que:

As pessoas geralmente pensam que a dublagem só consiste em ir para o estúdio e “correr atrás da boca” de artista estrangeiro. Pois ela envolve todo um processo que começa com a chegada da fita com a produção a ganhar vozes nacionais na empresa dubladora, passando por vários estágios até chegar ao produto final para a

distribuição no mercado (LESSA, 2002, p. 72).

A tradução do roteiro de um filme (script) não envolve apenas a transposição

do sentido da língua de origem para a língua alvo. Exige-se que sejam considerados

vários aspectos conforme descreve Soares (2002, p. 1), em Tradução para

Dublagem e Legendagem . A autora defende que é necessário respeitar a métrica, o

movimento labial e a interpretação dos atores para que os dubladores consigam

fazer um bom trabalho. Ou seja, é preciso fazer uma adaptação para superar as

limitações que esse tipo de tradução impõe. O dublador já recebe o roteiro pronto e

precisa colocar vida nessas falas da forma mais convincente, semelhante e natural

possível a do original.

Todo esse trabalho que o tradutor de legendas e de dublagens realiza antes

do texto final ficar pronto para a interpretação do ator da dublagem deve ser

valorizado e reconhecido, pois não é tarefa fácil. O tradutor para dublagem e

legendagem deve ir além do ato de traduzir; Soares (idem) ressalta essa

necessidade ao afirmar que o tradutor para dublagem deve levar em consideração

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os “aspectos culturais e de cotidiano, produtos, personalidades, enfim, uma enorme

gama de informações que precisam ser traduzidas”.

A dublagem brasileira tem muito espaço para crescer e ser aprimorada, mas

hoje ela não é mais aquela dublagem de “novelas mexicanas” na qual que podíamos

notar a gritante falta de sincronia e qualidade. É uma arte que exige muito

conhecimento e dedicação para se obter um resultado de qualidade.

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3 SOBREA ORALIDADE NA DUBLAGEM

Ao falarmos sobre dublagem, é imprescindível que apontemos para um

aspecto de muita importância nesta área: a oralidade. Portanto, falaremos um pouco

sobre esse tema, já que o nosso foco está em analisar o filme “Rio” e percebemos

que um dos seus pontos fortes é a reprodução da linguagem oral. Portanto, para

enriquecimento da presente pesquisa, apresenta-se aqui alguns autores que

abordam essa questão.

A oralidade está presente em ambas as técnicas apresentadas anteriormente

por se ligar à fluência de um idioma. Pensando nisso, dedicaremos este capítulo

especialmente para falar sobre a oralidade e suas ramificações, mais

especificamente, a questão das gírias.

A oralidade é o que dá vida à fala, ou seja, ao ler um livro, por exemplo, o

leitor faz pausas, pode transmitir através da voz tristeza, alegria, cansaço, choro,

etc. Essa oralidade faz com que criemos laços com os personagens em cena e nos

permite imaginar como esse personagem deve ser ao ouvirmos sua voz.

É por isso, que recai ao dublador grande responsabilidade em dar vida ao

personagem que está interpretando, colocando em prática o máximo de oralidade

que ele puder, para que esse personagem fique cada vez mais próximo da cultura

alvo; ou seja, a oralidade tem o poder de atrair a atenção e o gosto do público, além

de muitas vezes ser um dos motivos do sucesso do filme. Lessa (2002, p. 16)

destaca a importância da oralidade, ao dizer que:

A linguagem oral é algo tão vivo que possibilita uma infinidade de códigos e de possibilidades de nos expressarmos, como nas canções e na poesia. A oralidade, por sua vez, pode seduzir as pessoas, e vai ser um ponto importante para as atividades que utilizam a capacidade vocal como instrumento principal, como o dublador, ou secundário.

Considerando isso, podemos retomar o que foi dito logo no primeiro capítulo

sobre os discursos de Aristóteles, pois “para que o orador causasse boa impressão,

eram necessários códigos de linguagem para que o receptor fosse atingido” (apud

LESSA, 2002, p. 25). Fica assim clara a importância da oralidade nesta área da

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dublagem, razão pela qual, a oralidade vem sendo cada vez mais estudada e

valorizada quando se trata de materiais fílmicos. Lessa (2002, p. 27) discorre sobre

o valor da oralidade no processo de leitura, e para o autor, ao lermos um texto de

outro autor, passamos a querer ser e pensar como ele, reconstruindo o texto todas

as vezes que lemos.

Segundo Fortuna (apud LESSA, 2002 p. 37): “a oralidade atinge dimensões

de grandeza para o ator, quando ele consegue realizar a alquímica viagem da

passagem”; ou seja, quando uma obra se torna interessante para quem está lendo

ou quando a plateia ao assistir à peça fica com os olhos fixos esperando

ansiosamente a próxima cena.

Podemos dizer que nas falas dos personagens de um filme, mergulhamos no

ambiente fílmico a ponto de nos sentir parte da cena. Um dos motivos desse

encantamento é a consequência do bom uso da oralidade. Da mesma forma que o

ator citado por Fortuna, o dublador tenta tornar o discurso mais interessante e de

fácil entendimento. No caso do filme Rio, que se trata de uma animação, essa

oralidade pode ser vista em forma de uma linguagem mais simples e familiar aos

nativos da língua dublada, podendo ser conferida no cotidiano causando um efeito

positivo em pessoas de todas as idades por se identificarem com a oralidade usada

no filme.

A oralidade, porém, não é apenas uma característica da fala. Podemos

identificar marcas da oralidade em textos escritos. Reis (2010, p. 135) exemplifica

em sua pesquisa algumas marcas de oralidade que podem aparecer em alguns

textos, como “tá” em vez de “estar” e “qué” em vez de “quer”. Textos derivados de

outra língua e que precisam ser traduzidos devem manter a oralidade, assim como

peças de teatro para que as características dos personagens não se percam. Reis

(2010, p. 136-137) diz que “[...] a tradução de uma peça de teatro deve ser outra

peça de teatro, possuindo a mesma oralidade e a mesma teatralidade do texto

original”. Ela também afirma que:

[...]traduzir apenas língua, apenas sentidos, não satisfaz, de forma alguma, à necessidade de um texto de teatro. Traduzir é mais do que passar um texto da língua de partida para a língua de chegada, na qual os termos devem ser fiéis ao original e as marcas do tradutor apagadas ao máximo. A tradução deve ser a do discurso, da oralidade, da significância do texto, de acordo com as marcas

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textuais do autor, sem ignorar que o tradutor também trará as suas nas escolhas que fará.

Com base na afirmação acima, entendemos que o tradutor seja de uma peça

de teatro seja de qualquer outra modalidade carrega consigo a sua própria

oralidade, e cabe a ele decidir a melhor maneira de expor em sua tradução, pois

muitas vezes, apenas a tradução simples de um texto não causa o mesmo impacto

que causaria se a oralidade fosse transportada de maneira fidedigna para a língua

de destino.

Ao analisar o filme “Toy Story”, Duarte (2011, p. 24) percebe que “o uso de

gírias e de termos que marcam a oralidade foi mais comum tanto no áudio em inglês

quanto nas dublagens em português”. Podemos notar em outros filmes tanto de

animação quanto comédias em geral que abrangem um público infantil e jovem, um

aumento do uso da oralidade expressa em gírias tanto no filme original quanto nas

dublagens e nas legendas.

Em geral as narrações de histórias infantis também fornecem subsídios para

análise da oralidade, dada à evidência do seu uso, contribuindo para a formação do

psique da criança. Caldin enaltece o papel da oralidade ao contar histórias, ao

defender que:

O contador de histórias resgata a tradição oral e ao mesmo tempo estimula a imaginação do ouvinte. A mensagem é auditiva e não visual. Contar histórias é uma arte: é necessário captar o ritmo e a cadência dos contos, fazer as pausas no momento certo, não entrar em descrições cheias de detalhes, criar um clima de envolvimento e de encanto, e, acima de tudo, usar todas as modalidades e possibilidade da voz – sussurrar, imitar os ruídos, as vozes dos

animais, as inflexões que indicam suspense e clímax (CALDIN, 2001, p. 30).

Podemos perceber a importância da oralidade na hora do conto e como ela

aproxima o ouvinte daquilo que está sendo narrado. O narrador tem mil

possibilidades de interpretar uma história e cada leitura pode ser feita de forma

criativa para atrair os ouvintes para um mundo novo e interessante. Além disso, o

autor também defende que o narrador de uma história tem a possibilidade não

apenas de interpretar um texto, mas ele acaba sendo capaz de criar um novo texto

com a sua leitura; ou seja, une a oralidade e a escritura para chegar a um mesmo

objetivo que é atrair o interesse das crianças para as obras literárias.

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Ainda segundo Caldin (2001, p. 26): “Necessário se torna distinguir duas

espécies de texto literário: o oral e o escrito. A literatura oral implica na dualidade de

sujeitos – de um lado, o autor/contador e de outro, o leitor/ouvinte. A literatura escrita

inscreve três elementos: a escritura, o texto e a leitura”. Com base nessa informação

podemos dizer que a literatura oral completa a literatura escrita; traz vida para as

palavras de um texto escrito e abre possibilidades de novas leituras e interpretações

em forma de gestos, tom da voz e encenações dessas palavras.

Em filmes em que a maioria do público é de crianças, o bom uso da oralidade

para captar a atenção delas parece ser de extrema importância. Muitas vezes isso

pode decidir se o filme terá sucesso e será bem aceito ou não. É interessante

analisar com mais profundidade a oralidade em uso, entendida na forma como as

faixas etárias mais novas se comunicam, de modo geral; estamos nos referindo ao

uso de gírias, que pode ser percebido tanto na dublagem quanto na legendagem da

maioria dos filmes nesses últimos anos.

Para obtermos uma análise mais aprofundada das gírias, discorreremos a

seguir sobre este assunto, para nos ajudar a perceber a forte ocorrência de gírias no

filme Rio, já que uma das características mais fortes da cidade do Rio de Janeiro é o

seu sotaque carregado e o grande uso de gírias. Pensando nisso, percebemos a

importância do tradutor conhecer esse tipo de linguagem ao fazer sua tradução

adaptando as gírias para a língua de chegada.

3.1 Sobre as gírias

Para entendermos um pouco mais sobre a manifestação da oralidade,

abordaremos nesse tópico a questão das gírias, tema de extrema relevância para a

pesquisa já que está inserida no contexto da oralidade, usada pela grande maioria

dos brasileiros. Antigamente no Brasil, o uso de gírias era adotado principalmente

pelos jovens, sendo a maior parte deles pertencentes às classes sociais mais

baixas. Porém, atualmente o que se nota é que esse tipo de linguagem abrange

todas as faixas etárias e classes sociais.

Sabendo que dublagem consiste em reproduzir as falas dos personagens de

modo que alcance o máximo de equivalência possível na língua de chegada; ou

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seja, que cause na pessoa que estiver assistindo o mesmo efeito causado em uma

pessoa que assiste ao filme na língua fonte. Percebemos que o tradutor precisa lidar

de forma minuciosa com as falas para alcançar o mesmo nível de linguagem da

língua fonte.

Segundo Duarte (2011, p. 17), o tradutor precisa fazer mais adaptações

quando está traduzindo gírias, expressões idiomáticas, parlendas e ditados

populares. Como o foco desse trabalho é a tradução de gírias para a dublagem do

filme “Rio”, notou-se a dificuldade do tradutor em fazer boas escolhas de tradução

para tentar atrair a atenção do público, que por sua vez, deve se sentir à vontade ao

ouvir uma dublagem com palavras do seu dia a dia, repleta de oralidade. Este

desafio constituído pela tradução de gírias é mencionado por Lima (2009, p. 368), ao

citar que: “Na área dos Estudos da Tradução, a gíria poderia ocupar um papel de

destaque, quando abordamos questões como possíveis problemáticas que podem

surgir quando o tradutor está executando o seu trabalho”.

Traduzir é uma tarefa que exige muita pesquisa e conhecimento cultural tanto

da língua de partida quanto da de chegada. A tradução de gírias específicas de uma

região do Brasil ou de outro país envolve muita pesquisa e criatividade. Para Lima

(2009, p. 368), os dicionários podem ajudar, mas o tradutor também precisa ter um:

“conhecimento cultural, um adequado domínio da língua fonte, um excelente

conhecimento da língua materna, conhecimento técnico para exercer o processo de

tradução e habilidades investigativas, quando se faz necessário o uso de

ferramentas eletrônicas”.

O tradutor de legendas costuma traduzir de forma muito literal, perdendo um

pouco a piada e o uso das gírias. Acredita-se que este fato ocorra porque a

legendagem geralmente é feito em espaço de tempo muito curto e muitas vezes os

legendistas não dispõem do material audiovisual, contando apenas com o script para

realizar a tradução. Ao analisar a tradução do filme “Cidade de Deus” para o inglês,

Lima percebe que hoje: “o tradutor-legendista trabalha, neste tipo de tradução, mais

com a semântica do termo ou da frase na cultura de chegada do que com a sua

tradução literal (a tradução palavra por palavra)”.

Já na tradução para a dublagem, a importância de traduzir as gírias e as

piadas de um filme mantendo sua oralidade, parece ser uma tarefa um pouco mais

difícil. O tradutor tem como responsabilidade adaptar as piadas e gírias para a

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realidade da língua de chegada, levando em conta a sincronia da fala dublada com o

movimento da boca do personagem, processo chamado de Lip sync (sincronia

labial). Ao analisarmos o filme “Rio” percebemos vários exemplos dessa

responsabilidade, que serão apresentados no próximo capítulo.

Para o tradutor de dublagem, o que mais importa é causar no público

brasileiro a mesma reação causada no público do idioma original do filme. Mesmo

que isso implique em mudar uma palavra que talvez não fizesse tanto sentido para

os brasileiros quanto faria uma gíria, que todos iriam entender e ouvir de forma mais

familiar.

Ao analisar o filme “Toy Story”, Duarte (2011, p. 24) percebe que: “Em alguns

casos, a expressão utilizada em Português difere muito do que foi dito em Inglês,

porém, até se encaixam bem no contexto da cena”. Ela completa dizendo: “Em

algumas cenas, algum detalhe importante é suprimido na dublagem, porém, pode-se

notar que a falta de tais detalhes não comprometem o entendimento do espectador”.

Existem expressões que acabam perdendo o seu duplo sentido quando

traduzidas, mas assim como o tradutor de poesia, que precisa escolher manter a

rima ou o sentido, o tradutor de dublagem precisa escolher o que é mais importante

para a compreensão da cena apresentada.

Pensando mais especificamente no tradutor de legendas, Lima (2009, p. 376-

377) escreve a respeito do cuidado que o tradutor precisa ter ao traduzir as falas de

personagens que utilizam muitas gírias, termos e expressões. Ao falar sobre o

tradutor, o autor afirma que ele:

encara um obstáculo ainda mais desafiador, pois precisa estar atento às construções linguísticas, envolvendo gírias comuns e específicas, termos e expressões obscenos, para que sua tradução proporcione ao leitor-espectador da cultura de chegada, o mesmo entendimento que proporcionou o original ao leitor-espectador da cultura de partida, além de ter que encontrar um termo ou termos que se encaixe(m) nos números de caracteres, no tempo de leitura e em outras normas de legendagem, a fim de que seu trabalho possa alcançar o objetivo final, que é tornar o texto o mais adequado ao público alvo.

Em continuidade, Lima (2009, p. 376) percebe essa necessidade de

adaptação em sua análise do filme Cidade de Deus em que, muitas vezes o tradutor

precisa buscar na língua-alvo uma expressão que, mesmo não sendo traduzida

literalmente, transfira o mesmo sentido e cause o mesmo impacto causado no

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público da língua-fonte. Por exemplo, a troca de uma expressão com dois termos por

outra com mais termos. Isso se deve ao fato de o tradutor estar atento tanto às

adequações linguísticas quanto às preferências do cliente e às regras da

legendagem, assim como muitas outras exigências que ele precisa seguir, tais como

limites de caracteres e de tempo.

A partir do que Lima defende, podemos então dizer que o tradutor de

legendas não é um tradutor de textos técnicos, por exemplo, que se preocupa com a

terminologia de uma área específica e faz uma tradução mais literal. O tradutor de

legendas precisa usar suas técnicas e criatividade para reconstruir o que foi dito,

porém dentro de um limite de caracteres e número de linhas. Ou seja, ele tem a

tarefa de traduzir os significados do texto oral, reproduzindo na língua de chegada

todas as nuanças da língua de partida de maneira que o texto, seja ele oral, seja

escrito, fique o mais fluente e natural possível na língua de chegada.

A tradução para dublagem e legendagem é alvo de muitas críticas,

principalmente por pessoas que não têm o conhecimento da área, das restrições e

complexidades encontradas na atividade de tradução de gírias, termos e

expressões. Lima (2009, p. 377) afirma que: “Com tantas exigências a serem

cumpridas e obstáculos a serem vencidos, o tradutor-legendista corre um grande

risco de ser criticado ou desagradar a um leitor que desconheça todo o processo

pelo qual passa o seu trabalho”. Esse pode ser também um dos motivos do sucesso

de alguns filmes, enquanto que outros são bombardeados com críticas negativas.

A tradução adequada de gírias tanto para a legendagem quanto para a

dublagem pode contribuir para o sucesso do filme em outros países. Cabe ao

tradutor fazer boas escolhas, e para isso ele deve pesquisar termos específicos,

gírias da língua de chegada e fazer uma análise cultural do país para qual o filme

está sendo traduzido. Ao fazer essa adaptação para a dublagem, o tradutor deve

considerar também o público alvo a que se destina o filme e fazer o seu melhor para

que o resultado seja uma tradução de legendas ou para dublagem que fique leve e

soe confortável aos ouvidos do público alvo.

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4 ANÁLISE DAS GÍRIAS NO FILME RIO

Ao analisar a escolha das traduções das gírias no filme “Rio”, pudemos

perceber que é necessária uma adaptação para que possam ser feitas traduções

que tragam um resultado melhor para a compreensão do público alvo.

Fizemos uma análise contrastiva em forma de tabela, na qual usamos as falas

do texto original, da legendagem e da dublagem respectivamente – a qual estará

disponível nos anexos. Traremos abaixo alguns fragmentos interessantes das

escolhas feitas pelo tradutor.

O filme “Rio” foi dirigido por um brasileiro, Carlos Saldanha (que inclusive é

dublador e carioca), porém a língua original do filme é inglês, portanto, quem

precisou de criatividade foi o próprio diretor, por transformar toda essa “marra” do

sotaque carioca para gírias em inglês.

Iniciaremos as análises com a cena em que o pássaro Blu chega ao Rio de

Janeiro onde vai encontrar a última arara azul da espécie para acasalamento. Lá ele

conhece dois pássaros da região que têm um sotaque carregado e falam utilizando

muitas gírias.

Tabela 1 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

This thing is real bust!

Que gaiola durona! Gaiola sinistra hein?

13:58

Fonte: Filme Rio

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Figura 1- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Ao analisarmos o filme dublado no excerto abaixo, vemos que ele tenta falar

“português” (no caso ele já estava falando), mas a ideia era tentar fazer com que Blu

(arara) tenha um sotaque estrangeiro. Na legenda a tradução é mais literal, pois no

filme original ele fala uma frase comum sem gírias em inglês, não dando assim

abertura para uma legenda criativa. Já na dublagem, os tradutores foram espertos

ao utilizar a oralidade e a gíria “parceiros” para mostrar que ele estava no Brasil pela

primeira vez. Mesmo o filme sendo dublado e Blu estar falando português esse uso

da oralidade faz com que o telespectador se lembre desse contexto.

Tabela 2 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

I am not from here.

Eu não sou daqui. Como é que estão as coisas parceiros!

13:10

Fonte: Filme Rio

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Figura 2- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Quando os pássaros estão se despedindo, falam para Blu: “Seja bem-vindo”.

No original usam apenas a expressão em português “bem-vindo”. Para que os

pássaros fiquem mais característicos com a fala e as gírias da região, percebemos

que a escolha do tradutor para dublagem acrescenta a gíria “cumpadi”. Com o

objetivo também de fazer uma ligação com a próxima fala de Blu que não entende

direito o que eles falam e não sabe bem o que responder para a expressão “bem-

vindo”, então ele responde: “com a empada né”, que tem uma forte semelhança com

a sonoridade de “cumpadi”. Os tradutores perceberam a chance de fazer um

trocadilho com a gíria “cumpadi” e a palavra “empada” e foram muito felizes em sua

escolha.

Tabela 3 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

Bem-vindo! Seja bem-vindo! Bem-vindo cumpadi!

14:10

Yes, yes bem and to you as well.

Tá, pra você também.

Ah tá bom, é com a empada né, pra você também.

14:12

Fonte: Filme Rio

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Figura 3- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Figura 4- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

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Quando Blu e Jade estão correndo algemados fugindo dos bandidos que

querem vendê-los, os pássaros encontram um gato no meio do caminho e Blu late

para assustá-lo e para fazer com que ele saia do caminho. Aqui a tradução da

legenda e da dublagem são as mesmas. Podemos ver que a legenda escolheu

utilizar a gíria no lugar da tradução mais literal. Podemos perceber também que essa

escolha vem acontecendo muito nos filmes da última década. A legenda vem

trazendo cada vez mais sinais de oralidade apesar da tendência à literalidade.

Tabela 4 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

I am bilingual too! Eu falo “cachorrês” também!

Eu falo “cachorrês” também!

29:51

Fonte: Filme Rio

Figura 5- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

A legenda e a dublagem muitas vezes diferem muito uma da outra. Nas frases

abaixo elas trazem o mesmo sentido, mas a legendagem se prende mais às regras

gramaticais que são próprias da língua escrita. Enquanto a dublagem, utilizando a

oralidade da gíria, faz com que o diálogo seja mais leve e casual.

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Tabela 5 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

You’re sure you’re up for this?

Tem certeza que quer fazer isso?

Tem certeza que aguenta o tranco?

42:26

Don’t worry Blue. Não se preocupe, Blu.

Ah sai dessa Blu. 42:35

Fonte: Filme Rio

Figura 6- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

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Figura 7- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Quando os novos amigos de Blu tentam ajudá-lo a conquistar Jade, eles

tentam criar um clima romântico com música ambiente para dar um incentivo ao

casal. Podemos notar que algumas palavras são ocultadas pela legendagem, a

expressão “come on” não é traduzida devido às restrições de espaço e tempo que

limitam esse trabalho. Já na dublagem isso também teria acontecido se o movimento

da boca do personagem não coincidisse com a tradução. Nesse caso isso não

interferiu na compreensão da cena.

Tabela 6 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

Come on let’s give

him some. Set the

mood.

Vamos ajudar. Criar um clima.

Vamos lá, vamos ajudar. Criar um clima.

58:20

Fonte: Filme Rio

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Figura 8- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Figura 9- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

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O uso da oralidade em forma de gírias na dublagem desse excerto trouxe vida

ao personagem. Fez com que sentíssemos que ele realmente estava com medo do

pássaro malvado que havia sequestrado a Jade. O uso dessa linguagem casual

certamente fez com que o público-alvo se identificasse.

Tabela 7 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

-Did you see the talons on that guy? -Talons? Maybe it’s on, next time.

-Você viu o tamanho daquele cara? -Tamanho? Pensando bem... Fica pra próxima vez!

Você viu as garras daquele cara? -Garras, pula essa, to vazando. É fria!

1:05:44

Fonte: Filme Rio

Figura 20- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

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Figura 31- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Figura 42- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

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Quando os amigos de Blu vêm avisá-lo que Jade havia sido sequestrada por

um grande pássaro malvado, eles falam que o pássaro é uma cacatua enorme com

garras de ninja e em inglês usam a palavra “ugly” para descrevê-lo. Em português

podemos ver que a escolha do tradutor em traduzir uma expressão de uma só

palavra por outra com quatro palavras concorda com a afirmação de Lima (2009, p.

376). Lima diz que esse procedimento de mudança da estrutura do termo original

visa obter maior compreensão do telespectador.

Tabela 8 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

Ugly. E um cabeção horrível.

Filhote de cruz credo.

1:06:09

Fonte: Filme Rio

Figura 53- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

Quando Blu e Jade finalmente conseguem tirar as algemas, ele fica triste e

diz que não tem como eles ficarem juntos, pois ela não vai para Minnesota com ele e

ele não pode ficar correndo atrás dela por não saber voar. Eles discutem e Blu fala

que odeia o Samba. Seus amigos ficam muito tristes e falam:

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Tabela 9 - Análise contrastiva do uso de gírias

Fala original Legenda Dublagem Tempo

Hey, that’s a little too far.

Ei! Você passou dos limites!

Oh, aí já tá esculachando.

1:04:31

Fonte: Filme Rio

Figura 64- Cena do filme Rio mostrando o diálogo da tabela anterior

Fonte: Filme Rio

No áudio original a tradução literal seria “Ei, aí você já está indo longe

demais”. A legenda ficou bem próxima ao original. Na dublagem os tradutores

fizeram uma adaptação que trouxe a fala para a realidade do público. Trouxe uma

linguagem familiar, algo que o público alvo está acostumado a ouvir e que poderia

ser usada da mesma forma.

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5 DUBLADO OU LEGENDADO?

A preferência por filmes dublados ou legendados é um tema recorrente em

fóruns de discussão, redes sociais, reportagens de tv, blogs e em outras fontes de

mídia. Os defensores dos filmes dublados como Lessa (2002) Poggi (2011) e

Lourenço (2011) argumentam que essa preferência valoriza o idioma local e

contribui com o mercado de dublagem do país.

O site NE10 (2012) afirma que o tempo em que só os filmes infantis eram

dublados nos cinemas já passou. Hoje em dia, vários filmes voltados para o público

adulto, como por exemplo, filmes de suspense, ação e drama estão sendo

apresentados dublados nos cinemas.

As pessoas que ainda preferem os filmes legendados têm cada vez mais

dificuldades para assistir-lhes no cinema. O site diz também que das 21 salas onde

estava sendo apresentado o filme “MIB 3”, em 2012, apenas sete ofereciam a opção

do filme legendado e eram apresentados nos últimos horários. Muitas vezes as salas

ficavam vazias, não pagando nem o custo da cópia do filme. Isso mostra que os

filmes legendados têm a tendência de ser cada vez mais raros no Brasil. Vamos

conferir esta realidade, apresentando os resultados de uma pesquisa encomendada

pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do RJ

para o Instituto Datafolha, em janeiro deste ano (2013).

Esta pesquisa revela as variações de preferência do público por filmes

dublados. Embora haja uma mudança na preferência de acordo com a fonte da

programação (cinema, TV aberta, blu-ray, internet), a preferência de modo geral

ainda é, de acordo com os resultados, em favor da dublagem, cujas escolhas são

feitas da seguinte maneira:

Cinema: 56% dos entrevistados preferem a dublagem;

TV aberta: 79% também preferem a dublagem;

Blu-ray: 33% dos entrevistados escolheram a dublagem;

Internet: 48% mostraram preferência pela dublagem.

Essa pesquisa ratifica os resultados obtidos em nossos dados, decorrentes da

compilação dos entrevistados feita com o intuito de saber sobre a preferência das

pessoas de diferentes faixas etárias e escolaridade quanto à legendagem ou

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dublagem. Escolhemos algumas pessoas que se encaixam em grupos pré-

estabelecidos por nós, que são:

Tabela 10 – Grupo de entrevistados

G1 Pessoas que sabem inglês

G2 Pessoas que não sabem inglês

G3 Universitários que sabem inglês

G4 Universitários que não sabem inglês

G5 Pessoas mais velhas que não sabem inglês

Com os resultados em mãos, organizamos um gráfico (fig. 15) para indicar se

há alguma tendência ou preferência entre uma e outra modalidade.

Figura 75- Gráfico de preferência entre a dublagem e a legendagem

Ao passarmos os olhos sobre o gráfico, imediatamente identificamos uma

tendência à preferência pela dublagem, embora haja também uma boa parcela que

prefere a legendagem. Quando fizemos a análise horizontal para tabularmos os

dados, percebemos respostas que se repetiram em sujeitos distintos. A seguir,

0

1

2

3

4

5

6

7

Pessoas quesabem inglês

Pessoas quenão sabem

inglês

Universitáriosque sabem

inglês

Universitáriosque não sabem

inglês

Pessoas maisvelhas que nãosabem inglês

Preferência entre Dublagem e Legendagem

Dublado

Legendado

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discutimos essas tendências, assinalando três aspectos que mais nos chamaram

atenção, quanto à tendência à preferência pela dublagem.

5.2 Quando se trata de desenhos

Os entrevistados, até mesmo os que preferem a legendagem, salientaram

que, quando se trata de desenhos e animações, o filme dublado fica mais agradável

aos ouvidos, conforme relatos, além de fluir melhor.

G1: “Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo legendado, o

dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos o filme

dublado é mais gostoso de ouvir as falas na minha língua”.

G3: “Prefiro filmes legendados, porque a sensação não é boa, não é natural,

geralmente a dublagem não é boa, com exceção de desenho”.

5.3 Sobre a atenção exigida

Percebemos que, especialmente para pessoas que não sabem inglês, o fato

de terem que prestar atenção nas legendas e na cena ao mesmo tempo torna-se

uma grande dificuldade que, os faz perder o melhor do filme. Por isso, esses sujeitos

têm optado, quando têm a oportunidade de fazê-lo, pelo filme dublado, o que os

permite darem atenção à imagem e ao roteiro. Além disso, pela análise do gráfico,

evidencia-se que os grupos que não sabem inglês preferem a dublagem.

Consideremos dois excertos como exemplos:

G5: “Prefiro DUBLADO, porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco lendo e vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto legendado”. G2: “Prefiro DUBLADO, porque gosto de prestar atenção na produção, efeito, roteiro, etc”.

5.4 Sobre a leitura

Assim como no caso acima, muitas pessoas, principalmente as de mais

idade, têm dificuldades na leitura, ou por não saberem ler, ou pela lentidão com que

leem. Esta é uma justificativa para esse grupo dizer que não gosta de ler, razão pela

qual preferem o filme dublado. Para esses sujeitos, além de prestarem atenção,

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ainda é necessário “perder tempo” lendo. Assistir a um filme se torna uma tarefa

bem menos prazerosa para esse grupo de pessoas, conforme os relatos.

G5: “Prefiro DUBLADO, porque a legenda passa muito rápido e fica difícil de ler ao mesmo

tempo e assistir as imagens. Isso me diminui a vontade de assistir a filmes.”

G5: “Prefiro DUBLADO, porque assim eu tenho mais a possibilidade de observar todos os

detalhes da cena. É mais confortável assistir assim”.

G5: “Prefiro DUBLADO, porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco lendo e

vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto legendado”.

5.5 Sobre a legendagem

Quanto à modalidade legendagem, emergiram justificativas que se repetem

entre os sujeitos. A originalidade foi apontada por quase todos os participantes que

têm preferência pela legendagem. Conforme relatam, essa originalidade tem a ver

com os aspectos sonoros do filme. Ou seja, quando o filme é legendado, nada se

perde, no idioma original:

G3: “Prefiro LEGENDADO, porque os sons são originais, trazendo um aspecto de realidade

maior do filme do que o dublado”.

G2: “Prefiro LEGENDADO, porque preserva a originalidade do filme e eu não perco a

atuação do ator”.

Outro aspecto importante quanto à preferência à legendagem de alguns

sujeitos, diz respeito à aprendizagem proporcionada por esta modalidade. Este fato

foi citado tanto pelos participantes do meio acadêmico, pessoas que dominam a

língua inglesa e mesmo por aquelas que não dominam o idioma. Para esse grupo,

ter contato com a língua estrangeira por meio da legendagem, leva a um

aprendizado prazeroso e não forçado. Assim, a pessoa assiste ao filme/seriado que

gosta, ao mesmo tempo em que aprende a língua de partida:

G5: “Prefiro LEGENDADO, porque é bom para desenvolver a leitura e memorizar frases em

outro idioma”.

G4: “Prefiro LEGENDADO. Inglês é língua mundial e aprendemos muito vendo filmes

assim”.

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G4: “Prefiro LEGENDADO. Tem o áudio original do filme com as palavras verdadeiras. O

Filme dublado fala umas coisas que não tem nada a ver como áudio original. Além disso,

podemos aprender outro idioma através do filme”.

A baixa qualidade da dublagem está entre as justificativas para a preferência

da legendagem, pois segundo os respondentes, embora a dublagem venha

crescendo muito em questão de qualidade, já que atualmente temos acesso a

dublagens mais elaboradas. As dublagens brasileiras são, em comparação a outros

países, consideradas de alta qualidade, mas mesmo assim, o público continua

exigente, achando que ela ainda soa muito artificial:

G1: “Prefiro LEGENDADO, porque a dublagem brasileira é muito ruim, eles não usam as

mesmas expressões que são faladas na língua traduzida, o que muda as vezes até o

sentido da frase”.

G2: “Prefiro LEGENDADO, porque a voz do dublador nem sempre combina com a do

personagem, além de que, nunca é bem sincronizada. Isso no caso dos filmes. Nos

desenhos, tanto faz”.

Em contrapartida, existe o grupo de pessoas que prefere o legendado para

ampliar o conhecimento do idioma original do filme, embora essas pessoas façam

parte do grupo de universitários; ou seja, pessoas acostumadas a ler e em fase de

preparo profissional. Portanto, pode ser que essa questão de escolha esteja ligada

não apenas ao gosto, mas também ao nível cultural do indivíduo.

Em relação aos desenhos/animações, a preferência é pelo dublado até

mesmo pelos universitários e pessoas que conhecem a língua inglesa. Nesse caso,

as questões de aprendizado e de qualidade da dublagem não têm tanto peso. Pelo

contrário, a qualidade de dublagem desse tipo de filme não é inferior ao original:

G3: “Prefiro LEGENDADO, porque a sensação não é boa, não é natural, geralmente a

dublagem não é boa, com exceção de desenho”.

G1: “Prefiro LEGENDADO. Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo legendado,

o dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos o filme dublado é

mais gostoso de ouvir as falas na minha língua”.

Isso nos leva a questionar o porquê dessa preferência, e a melhor justificativa

que encontramos para tentar entender essa questão foi analisando não a qualidade

da dublagem, mas a linguagem. Percebemos que o uso das gírias nos

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desenhos/animações são frequentes, o que leva a uma rápida identificação de quem

assiste. Ao dublar esses filmes, várias adaptações são feitas e isso faz com que o

público fique mais próximo dos personagens. Pelo que vimos analisando, é provável

que seja este um dos motivos que levou o desenho animado “Rio” a alcançar tanto

sucesso nos cinemas e nas críticas e a ganhar tantos fãs.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos a pesquisa apontando a limitada bibliografia na área da dublagem e

da legendagem no contexto brasileiro. No entanto, fomos mobilizadas a tentar

entender o porquê do aumento da ocorrência de filmes dublados nos cinemas

brasileiros e o que poderia estar por trás disso, visto que a dublagem e a

legendagem têm uma história paralela no Brasil, apresentando semelhanças entre

um tipo de registro linguístico e outro, embora haja diferenças no modo como se

apresentam.

Nossa problemática buscou saber se haveria algum tipo de preferência por

legendagem ou dublagem no Brasil, e o que poderia estar por trás dessa

preferência. Daí, termos formulado a hipótese, que se confirmou, de que o interesse

pela dublagem relaciona-se a vários fatores, como o tipo de linguagem usada, a

forte presença da oralidade representada na forma de gíria e a baixa performance

na leitura, identificada nas entrevistas, já que o filme legendado exige uma

habilidade, no mínimo, mediana para que se dê o processo de compreensão.

Esta tentativa de compreender a intensa presença da dublagem nos cinemas

brasileiros foi um dos nossos objetivos, seguido pelo desejo de identificar o interesse

pela dublagem nos cinemas do Brasil, a partir de uma comparação entre a dublagem

do filme “Rio” e a respectiva legendagem. Para alcançarmos esses objetivos,

fizemos uma análise contrastiva entre as duas modalidades e entrevistas com

diferentes grupos de diferentes faixas etárias e escolaridade, cujos resultados

apresentamos a seguir.

Ao pesquisarmos nos deparamos com algumas questões que se repetiram e

se destacaram como possíveis determinantes na escolha entre o filme dublado ou

legendado. O interesse pela dublagem está relacionado com o tipo de linguagem,

pois segundo os entrevistados, pudemos perceber que mesmo as pessoas que

falam a língua inglesa e preferem assistir a filmes legendados, na hora de assistir a

um desenho ou animação, acabam optando pela dublagem, devido a maior

naturalidade na linguagem utilizada, com forte presença da oralidade apresentada

em forma de gírias, o que de alguma forma, aproxima o público da sua própria

cultura. Isto é, existe mais identificação e familiaridade com o registro linguístico da

dublagem.

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O baixo desempenho na leitura também foi outro fator confirmado pelas

entrevistas, pois pelas respostas dadas pelo grupo de pessoas que prefere a

dublagem, uma das razões apresentadas foi que não tem habilidade de leitura

rápida exigida para a compreensão das legendas. Isso faz com que as pessoas

tenham que dedicar mais atenção para obter essa compreensão de um filme

legendado, o que não os agrada, pois querem aproveitar o filme sem muito esforço.

Este resultado é importante, já que aponta para uma questão bastante

conhecida no contexto brasileiro, qual seja, de que o Brasil é um país de pouca

leitura e, consequentemente, com baixo desempenho nesta habilidade, sendo este

um fator decisivo na preferência por filmes dublados. A preferência nos cinemas

brasileiros pela dublagem tem aumentado a cada dia conforme artigos de agências

de notícias confiáveis que expressam o parecer dos gestores de cinemas.

Por outro lado, a originalidade do filme, no que se refere aos efeitos sonoros,

de acordo com alguns entrevistados, se perde com a dublagem, sendo esse um

aspecto muito citado e justificado pelos que preferem a legendagem. Como falamos

no início do trabalho, a dublagem no Brasil já evoluiu bastante e continua ganhando

uma proporção cada vez maior, devido ao grande número de materiais que precisam

ser traduzidos e/ou dublados.

Entendemos a escassez de estudos na área da dublagem e legendagem, por

ela não ter sido reconhecida e valorizada no meio acadêmico até bem pouco tempo,

justificando a necessidade de pesquisas e trabalhos sobre uma área tão praticada e

pouco analisada, para que mais bibliografias estejam à disposição. Esperamos que

a nossa pesquisa contribua para motivar outras pesquisas mais aprofundadas com

relação à preferência do telespectador brasileiro quanto a filmes dublados.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARAÚJO, V. L. S. Glossário Bilíngüe para legendação e dublagem. The ESPecialist, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 139-154, 2003.

ARROJO, R. Tradução, desconstrução e psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1993.

CAJAIBA, L. C. Cinema e Dublagem na TV. São Paulo: Annablume, 2000.

CALDIN, Clarice F. A oralidade e a escritura na literatura infantil: referencial teórico para a hora do conto. Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 7, n. 13, p. 25-38, 2001. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2002v7n13p25>. Acesso em: 20 out. 2013.

CARVALHO, Carolina Alfaro de. A tradução para legendas: dos polissistemas à singuralidade do tradutor. Rio de Janeiro, 2005. 160f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

CRESCE preferência por filmes dublados nos cinemas brasileiros. In: NE10. 2012. Disponível em: <http://ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2012/05/27/cresce-preferencia-por-filmes-dublados-nos-cinemas-brasileiros-344927.php>. Acesso em: 11 de novembro 2013.

DUARTE, M. L. Toy Story: A tradução e as brincadeiras com palavras. Língua Literatura e Ensino, Campinas, v. 6, p. 149-157, 2011.

DUBLADO x Legendado: Os benefícios da escolha. In: Claro que poggi. 2011. Disponível em: http://claroquepoggi.blogspot.com.br/2011/09/dublado-x-legendado-os-beneficios-da.html. Acesso em: 15 de novembro 2013.

DUBLAGEM do filme Rio. In: Universo da dublagem. 2011. Disponível em: <http://www.universodadublagem.com/2011/04/dublagem-do-filme-rio.html>. Acesso em: 15 de novembro 2013.

LESSA, L. P. A dublagem no Brasil. Juiz de Fora, 2002. 289f. Trabalho apresentado na disciplina Projetos Experimentais (Graduação em Comunicação Social) – Faculdade de comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2002.

LIMA, J. C. de. O Tradutor-legendista em Cidade de Deus. Estudos Linguísticos, São José do Rio Preto, v. 38, n. 2, p. 367-378, 2009.

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MELLO, G. M. G de. O Tradutor de Legendas como Produtor de Significados. Campinas, 2005. 187f. Tese (Doutorado) – UNICAMP, São Paulo, 2005.

RAMALHO, M. R. V. S. (2007) Dublagem: Um estudo da tradução audiovisual através das perspectivas logocêntrica e desconstrutivista. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCL/projeto_todasasletras/inicie/Mainly.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2013.

REIS, M. G. M. A Tradução da Oralidade na Peça Catharsis, de Gustavo Akakpo. Revista Cerrados, Brasília, v. 19, n. 29, p. 127-137, 2010.

RIO. Direção: Carlos Saldanha. Produção: Bruce Anderson Jonh C. Donkin. EUA: Blue Sky Studios, Twentieth Century Fox Animation, 2011. 1 DVD (105 min).

SOARES, Danielle. Tradução para Dublagem e Legendagem. Boletim da Abrates, Rio de Janeiro, 2002.

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ANEXO A – Tabela de análise contrastiva

Fala Original Legenda Dublagem Tempo

Well, well if it isn’t my favorite nerd bird.

Olha só! Se não é minha ave nerd preferida!

Ah, olha só, o nerd filhinho da mamãe.

07:10

You got it. Pode deixar. Pó deixar. 12:48

I am not from here.

Eu não sou daqui. Como é que estão as coisas parceiros.

13:10

Yeah it’s all about swagger.

Tem que chegar junto.

Aí a parada é chegar junto.

13:35

This thing is real bust!

Que gaiola durona! Gaiola sinistra hein!

13:58

Hey, don’t forget, love hawk.

Ei. Não se esqueça. O gavião do amor.

Aí, não vacila, olhar de gavião.

14:07

Bem-vindo! Seja bem-vindo! Bem-vindo cumpadi!

14:10

Yes, yes bem and to you as well.

Tá, pra você também.

Ah tá bom, é com a empada né, pra você também.

14:12

Stop Twitching. Pare de estrebuchar.

Para de estrebuchar.

21:47

Nice work Nigel. Bom trabalho Nigel.

Mandou bem Nigel.

23:03

Don’t’ worry, we are going to find good homes from them.

Não esquenta! Vamos achar casas legais pra eles.

Esquenta não, a gente vai achar uma casa legal pra eles.

23:55

I am bilingual too. Eu falo “cachorrês” também.

Eu falo “cachorrês” também.

29:51

Jade: I am chained on the only bird in the world that can’t fly. Blue: actually there are 40 species of flyless birds. Jade: Duck. Blue: No, ducks can fly. Jade: No, duck.

Jade: Tá, você é a única espécie de ave que não voa. Blu: na verdade, existem 40 espécies que não voam! Jade: Abaixe. Blu: Abaixar? Jade: Não, é pra abaixar.

Jade: só me faltava essa, presa ao único pássaro do mundo que não voa. Blu: ué tem um amigo meu que não voa por opção, o joão de barro. Jade: Madeira! Blu: Não, de barro. Jade: não, madeira em frente.

30:00

Ah! You see? You see, out here, I'm

Viu só?! Aqui eu sou só mais um

Viu só?! Viu, viu, aqui eu sou só

31:39

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just an hors d'oeuvre! Nothing more than a feathery spring roll.

petisco! Sou como um salgadinho com penas!

mais um petisco, só mais um croquete com penas!

I can’t believe I will have to drag your clumsy butt up there

Não acredito que vou ter que carregar esse mané até lá.

Não acredito que vou ter que carregar esse mala até lá em cima

31:51

But don’t worry we’ll get them back, I have a plan.

Fica frio, a gente pega de volta, eu tenho um plano.

Tá tranquilo, a gente pega, eu já bolei um esquema.

34:14

Positive! Check out my map.

Saca só os esquemas.

Absoluta! Vê lá o esqueminha.

35:13

Deal. Combinado. Fechou. 35:32

Nice try brainiac! Bela tentativa, cabeça de vento!

Valeu inteligência rara!

35:42

What’s going on down there?

O que está Rolando aí embaixo?

Mas que barulhada é essa hein?

36:27

This papa needs a break!

O papai precisa de umas férias!

Ai o papai tá precisando de um arrego!

36:56

Love birds. Casal de namorados.

Pombinhos. 36:58

What is it with this kid and the feathers?

Porque esse garoto é tão vidrado em penas?

Ai esse moleque cismou com as minhas penas.

37:08

I’ll miss you my juicy little mango. Oh me too my fudgy papaya.

Vou sentir saudades minha manga doce. Eu também meu docinho de mamão.

Eu vou sentir a sua falta minha manga rosa. Eu também meu mamãozinho.

38:30

Hey my watch! Ei, meu relógio! Aí meu relógio! 40:02

What, this? This is just some stuff that we found, right boys?

Porque diz isso? Essas coisinhas que nós achamos, não é galera?

O que é isso? São só as paradinhas que a gente achou. Né galera?

40:36

I'm not interested in your nicked knick knacks.

Não estou interessado nessas mixarias!

Não to interessado nos badulaques roubados!

40:44

Go do your monkey business.

Vão fazer macacadas.

Vão fazer suas macacadas.

41:54

Come on you’re not gonna back out now?

Qualé você não vai desistir agora?

Qualé não vai amarelar agora né?

42:15

You’re sure you’re up for this?

Tem certeza que quer fazer isso?

Tem certeza que aguenta o tranco?

42:26:

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Don’t worry blue. Não se preocupe, Blu.

Ah sai dessa Blu. 42:35

Easy breezy. Molinho. Mamão com açúcar.

43:47

Come on love birds.

Venha, casalzinho. Vamos pombinhos. 46:40

Yeah it’s in great condition.

É, a moto tá boazaça!

É, essa moto tá interaça.

47:40

Nico! Pedro! What up family!

Nico! Pedro! Fala aí rapaziada!

Nico! Pedro! Beleza rapaziada!

48:19

Oh great. Que ótimo. Eu mereço. 48:52

Relax baby bird. Fica fria, gatinha. Fica fria princesa. 48:53

This isn’t your fight big nose.

Essa luta não é sua, narigão!

O papo não chegou na cozinha nareba.

53:00

Yippie-ki-yay, monkey-man!

Toma essa, mico desgraçado!

Pago o maior mico, mico.

53:33

Take that you funky monkey!

Toma essa, macaco safado!

Sentiu né o macaco sem noção!

54:21

Man, we threw down!

Pessoal, nós detonamos!

Caramba, a gente mandou ver!

54:34

Come on let’s give him some. Set the mood.

Vamos ajudar. Criar um clima.

Vamos lá, vamos ajudar. Criar um clima.

58:18

All right, look I’m on it.

Deixa comigo, parceiro!

Xá comigo meu irmão!

58:20

Check it out! Se liga só! Se liga! 58:26

Get get get a girl! Garagara garanhão!

Garagara garanhão!

58:28

Now if something goes wrong, scream really loud because I can’t hear too good with this thing on.

Agora, se algo der errado, gritem bem alto! Não consigo ouvir direito, quando uso essa droga!

Se alguma coisa der errado, grita bem alto, porque eu não escuto nada com essa budega!

1:02:15

Awkward. Mandou mal. Tenso. 1:04:16

Hey, that’s a little too far!

Ei! Você passou dos limites!

Oh, aí já tá esculachando!

1:04:31

They left without me, that’s messed up.

Eles foram sem mim! Que falta de consideração!

Nem me esperaram! Magoei!

1:05:05

Did you see the talons on that guy? Talons? Maybe it’s on, next time.

Você viu o tamanho daquele cara? Tamanho? Pensando bem... Fica pra próxima vez!

Você viu as garras daquele cara? Garras, pula essa, tô vazando. É fria!

1:05:44

Ugly. E um cabeção Filhote de cruz 1:06:09

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horrível. credo.

This is the spit! Isso que é diversão!

O babado aqui é forte!

1:10:32

Yeah, baby! Now I can get my freak on!

Agora vou botar pra quebrar!

Tem bulldog na avenida comunidade.

1:10:37

Hold up! Já viu alguma coisa?

Olho vivo galera! 1:11:05

You really think I came alone? I’ve got three of the roughest, meanest, craziest birds in all of Rio right behind me.

Qual é? Acha que eu vim sozinho? Os 3 pássaros mais durões, malvados e sinistros... De todo o Rio estão comigo!

A peraí né, cê acha que eu vim sozinho? Os três pássaros mais sinistros, loucos e barra pesada do Rio de Janeiro tão aqui comigo.

1:14:07

Pull up, you idiot! Pull up!

Decolar, idiota! Decola sua anta, decola!

1:16:33

Ah we’re going down!

Ai, vamos cair! Vai babar geral! 1:19:29

Hey, wait for us! Espere pela gente! Peraí o cumpadi! 1:19:44

ANEXO B – Entrevistas

Pessoas que sabem inglês (G1):

Dublado: 2 (quando é desenho)

Legendado: 5

(Pessoa 1) LEGENDADO. Depois que morei nos EUA, peguei mais gosto pelo

legendado, o dublado soa estranho aos meus ouvidos. Quando se trata de desenhos

o filme dublado é mais gostoso de ouvir as falas na minha língua.

(Pessoa 2) Se o filme não for desenho, prefere LEGENDADO, porque o som, as

falas, são bem melhores vindo do original. Quando é dublado a fala, a voz e a forma

com que o personagem mexe a boca sempre parece que está “fora de foco”, e você

ainda aprende uma nova língua e descobre outras formas de falar ao ouvir o original.

(Pessoa 3) LEGENDADO. A voz do dublador é horrível, tira o original do filme, a

interpretação dos dubladores é de baixa qualidade e tira o sentido original do que foi

falado, pois uma língua nunca é bem traduzida para outra. Tira a cultura da língua

de origem.

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(Pessoa 4) LEGENDADO. Porque a dublagem brasileira é muito ruim, eles não

usam as mesmas expressões que são faladas na língua traduzida, o que muda as

vezes até o sentido da frase.

(Pessoa 5) LEGENDADO. Porque eu tenho certeza que não estou perdendo nada,

por ser o áudio original. E ainda aprendo sempre alguma coisa nova (vocabulário,

expressão, pronúncia – do inglês, no caso).

(Pessoa 6) DUBLADO. Embora eu saiba inglês, passei muitos anos fora do Brasil,

então agora eu prefiro filmes dublados, porque sempre tem adaptações de

linguagem e cultura.

Pessoas que não sabem inglês (G2):

Dublado: 5

Legendado: 2

(Pessoa 1) DUBLADO. Porque eu presto mais atenção no filme.

(Pessoa 2) LEGENDADO. Porque preserva a originalidade do filme e eu não perco a

atuação do ator.

(Pessoa3) DUBLADO. Porque não consegue prestar atenção nas letras da legenda

e no filme ao mesmo tempo. Não consegue ler rápido o suficiente.

(Pessoa 4) LEGENDADO. Porque a voz do dublador nem sempre combina com a do

personagem, além de que, nunca é bem sincronizada. Isso no caso dos filmes. Nos

desenhos, tanto faz.

(Pessoa 5) DUBLADO. Porque gosta de prestar atenção na produção, efeito, roteiro,

etc.

(Pessoa 6) DUBLADO. Tenho preguiça e não gosto de ler a legenda.

(Pessoa 7) DUBLADO. Pois gosto de prestar atenção no filme como um todo, com

as legendas, perderia muitos detalhes.

Universitários que sabem inglês (G3):

Dublado: 2

Legendado: 6

(Universitário 1) LEGENDADO. Porque os sons são originais, trazendo um aspecto

de realidade maior do filme do que o dublado.

(Universitário 2) LEGENDADO. Porque a sensação não é boa, não é natural,

geralmente a dublagem não é boa, com exceção de desenho.

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(Universitário 3) LEGENDADO. Filmes dublados parecem perder a “identidade” e

não tem a mesma emoção que o legendado.

(Universitário 4) Quando se trata de desenho, prefiro DUBLADO, mas quando é

filme, LEGENDADO porque o som original é melhor.

(Universitário 5) Prefiro LEGENDADO, pois mantém a originalidade do filme e fica

mais real. Quando se trata de desenho, tanto faz, até prefiro dublado.

(Universitário 6) LEGENDADO. Porque eu sinto que não estou perdendo nada em

relação às falas dos filmes. Às vezes no dublado, algumas frases ficam sem sentido.

Universitários que não sabem inglês (G4):

Dublado: 4

Legendado: 2

Universitário 1) DUBLADO. Porque assim consegue prestar mais atenção nas

cenas, figurinos e nas “caras e bocas” dos atores.

(Universitário 2) LEGENDADO. Tem o áudio original do filme com as palavras

verdadeiras. O Filme dublado fala umas coisas que não tem nada a ver como áudio

original. Além disso, podemos aprender outro idioma através do filme.

(Universitário 3) LEGENDADO. Inglês é língua mundial e aprendemos muito vendo

filmes assim.

(Universitário 4) DUBLADO. Gosto muito de filmes legendados, mas prefiro assistir

os dublados, pois gosto de relaxar ao assistir um filme e não ficar lendo.

(Universitário 5) DUBLADO. Apesar do áudio geralmente ser um pouco inferior, eu

prefiro assistir filmes dublados, pois não consigo prestar atenção nas legendas e no

filme ao mesmo tempo.

(Universitário 6) DUBLADO. Me sinto mais confortável assistindo um filme que fala a

minha língua. Inglês é uma língua universal, mas mesmo assim prefiro filmes

dublados.

Pessoas mais velhas que não sabem inglês (G5):

Dublado: 5

Legendado: 1

(Pessoa 1) DUBLADO. Porque a legenda passa muito rápido e fica difícil de ler ao

mesmo tempo e assistir as imagens. Isso me diminui a vontade de assistir a filmes.

(Pessoa 2) DUBLADO. Porque nos filmes legendados, a gente se perde um pouco

lendo e vendo ao mesmo tempo Só quando realmente não tem dublado, eu assisto

legendado.

Page 55: O USO DE GÍRIAS NA DUBLAGEM - … · como a forma, a significância e a oralidade que o autor original expressa. O tradutor pode fazer uso de algumas marcas de oralidade do português

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(Pessoa 3) LEGENDADO. Porque é bom para desenvolver a leitura e memorizar

frases em outro idioma.

(Pessoa 4) DUBLADO. Porque assim eu tenho mais a possibilidade de observar

todos os detalhes da cena. É mais confortável assistir assim.

(Pessoa 5) Prefiro DUBLADO, pois chego muito cansado do trabalho e gosto de

assistir um filme sem ter que pensar muito e me esforçar para entender o que está

acontecendo.

(Pessoa 6) DUBLADO. Prefiro filmes dublados, porque não fico preso às legendas.

Quando assisto legendado, não posso desviar meu olhar da tela para não perder o

que está acontecendo, já com o dublado, posso ficar mais à vontade.