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Observando o desenvolvimento reginal brasileiro: processos, políticas e planejamentos

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[ ]Observando o desenvolvimento regional brasileiro oferece uma renovada oportunidade para que o tema continue fazendo sentido. Embora seja impossível apresentar, mesmo que brevemente, cada um dos artigos que integram o presente livro e seus/suas respectivos/as autores/as.

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  • OBSERVANDO O DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO: PROCESSOS, POLTICAS E PLANEJAMENTO

  • Rogrio Leandro Lima da Silveira (Org.)

    OBSERVANDO O DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO: PROCESSOS, POLTICAS E PLANEJAMENTO

    Santa Cruz do SulEDUNISC

    2013

  • Copyright: Dos autores1 edio 2013

    Direitos reservados desta edio: Universidade de Santa Cruz do Sul

    Capa: Denis Ricardo Puhl(Assessoria de Comunicao e Marketing da UNISC)

    Editorao: Clarice Agnes,Mirt Beatriz Vilanova Gonalves

    Avenida Independncia, 2293Fones: (51) 3717-7461 e 3717-7462 - Fax: (051) 3717-7402

    96815-900 - Santa Cruz do Sul - RS

    E-mail: [email protected] - www.unisc.br/edunisc

    ReitorVilmar Thom

    Vice-ReitorEltor Breunig

    Pr-Reitora de GraduaoCarmen Lcia de Lima Helfer

    Pr-Reitora de Pesquisae Ps-GraduaoRosngela Gabriel

    Pr-Reitor de AdministraoJaime Laufer

    Pr-Reitor de Planejamentoe Desenvolvimento Institucional

    Joo Pedro SchmidtPr-Reitora de Extensoe Relaes Comunitrias

    Ana Luiza Texeira de Menezes

    EDITORA DA UNISCEditora

    Helga Haas

    COMISSO EDITORIALHelga Haas - Presidente

    Rosngela GabrielCristina Luisa Eick

    Eunice Terezinha Piazza GaiJos Martinho Rodrigues Remedi

    Srgio SchaeferWolmar Alpio Severo Filho

    Bibliotecria: Edi Focking - CRB 10/1197

    O14 Observando o desenvolvimento regional brasileiro : processo, polticas e planejamento [recurso eletrnico] / organizao ; Rogrio Leandro Lima da Silveira. -- Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2013. Dados eletrnicos Texto eletrnico Modo de acesso: World Wide Web: ISBN: 978-85-7578-382-5

    1. Desenvolvimento regional. 2. Poltica social. 3. Planejamento regional. I. Silveira, Rogrio Leandro Lima da.

    CDD 338.9

  • SUMRIO

    PREFCIODr. Ivo Marcos Theis ......................................................................................................5

    APRESENTAORogrio Leandro Lima da Silveira ..................................................................................8

    O OBSERVATRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL:A CONSTRUO DE UMA REDE DE PESQUISA E EXTENSOSOBRE A DINMICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRORogrio Leandro Lima da Silveira, ngela Cristina Trevisan Felippi,Heleniza vila Campos ................................................................................................11

    ESPACIALIDADE DIFERENCIAL, REGIO E REGIONALIZAO:A CONTRIBUIO DE YVES LACOSTEVirginia Elisabeta Etges, Jos Elmar Feger ..................................................................32

    ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: TEMAS ATUAIS,DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA QUESTO REGIONALGuilherme Mendes Resende .......................................................................................46

    DESENVOLVIMENTO E ENGAJAMENTO REGIONAL:O PAPEL DAS UNIVERSIDADESMauricio Serra, Cssio Rolim .......................................................................................72

    CONTRIBUIO DOS COREDES/RS PARA O DEBATE SOBRE APOLTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO REGIONALPedro Silveira Bandeira ...............................................................................................89

    SOBRE OS AUTORES ...............................................................................................116

  • PREFCIO

    Desenvolvimento regional um desses temas que, numa sociedade produtora de mercadorias, podem, a qualquer tempo, fazer todo o sentido do mundo, mas, especialmente, em duas situaes.

    Primeiro, quando h disposio para se entender porque o planeta to diferente nos seus quatro cantos. Sabemos que existem aquelas caractersticas prprias dos ecossistemas e das culturas, que revelam, a qualquer observador, um quadro de elevadssima diversidade. A se manifesta a riqueza dos territrios e dos povos, que exigem respeito e, a olhos mais sensveis, at podem suscitar admirao. Contudo, sabemos, tambm, que existem desigualdades. Estas, longe de brotarem da natureza, so o resultado das relaes que os indivduos, os grupos e as classes sociais contraem no cotidiano da sociedade produtora de mercadorias, como essa em que vivemos. A nos confrontamos, ento, com uma realidade perpassada por con itos que, ao invs de despertar respeito, exige anlise crtica.

    Segundo, mas no menos relevante, desenvolvimento regional pode fazer todo o sentido do mundo quando, em decorrncia de um exame cienti camente mais acurado e politicamente mais engajado, o rigor intelectual que desvelou a realidade perpassada por con itos de diversas ordens puder ser convertido em disposio poltica para a transformao social.

    O livro que ora chega s mos de leitores/as sejam estes/as os/as estudiosos/as de sempre, sejam apenas os/as interessados/as do momento, sejam simples curiosos/as contribui para manter a chama acesa. Isto , Observando o desenvolvimento regional brasileiro oferece uma renovada oportunidade para que o tema continue fazendo sentido.

    Embora seja impossvel apresentar, mesmo que brevemente, cada um dos artigos que integram o presente livro e seus/suas respectivos/as autores/as, cabe chamar a ateno dos/das prezados/as leitores/as para alguns aspectos bastante importantes. Um primeiro que se trata de uma coletnea para a qual uma pliade de competentes docentes e investigadores/as aportam seu melhor conhecimento. Quem so eles/elas? Os/as nove autores/as que assinam os cinco artigos so doutores/as em Instituies de Ensino Superior no pas e no estrangeiro, com formaes predominantes em economia e geogra a, atuando em renomadas universidades e instituies de pesquisa, o que lhes confere su ciente autoridade para tratarem do assunto.

    Outro aspecto diz respeito s interessantssimas questes abordadas em cada um dos artigos que, ao m e ao cabo, se conectam de molde a oferecer um todo

  • 6 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    integrado. Entre eles h, por exemplo, uma explorao audaciosa da contribuio de Yves Lacoste para a teorizao do regional, uma tentativa ousada para aferir a relevncia da instituio universidade para o desenvolvimento regional, um balano providencial da trajetria percorrida pelos COREDES que deveria inspirar a PNDR e, no obstante, parece haver um o invisvel que vai unindo as peas num conjunto inteligvel.

    Outro aspecto ainda o referente ao contexto mais amplo em que esta coletnea ganha vida e que remete ao OBSERVA-DR, a rede de pesquisa que, desde 2012, articula Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional existentes no Brasil com instituies da sociedade civil do pas e do estrangeiro, uma vez que tenham a preocupao em promover desenvolvimento regional. a, neste mbito, que emerge esta obra, disponibilizada para auxiliar na dupla tarefa inicialmente referida, de examinar criticamente a realidade com vistas sua transformao. Se o presente livro o veculo dos artigos, o primeiro dos quais j informando a respeito dessa exitosa experincia, o Observatrio do Desenvolvimento Regional mesmo o veculo mais amplo, no qual a dupla tarefa antes mencionada pode e deve ser cultivada daqui para diante.

    Por m, cabe chamar ateno para o Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional, da Universidade de Santa Cruz do Sul, que tem sua sede no municpio gacho de mesmo nome. da que emanam sinais de que desenvolvimento regional permanece sendo uma questo terica e poltica relevante, sobretudo, num pas que se encontra diante de tantos desa os, como o de entender melhor as disparidades regionais e de enfrent-las com a participao ativa dos/as que vivem nas regies que a globalizao excludente decretou como perdedoras. Entre esses sinais destacaria o fato mais que relevante de que, associada a este programa, h uma conhecida e bem sucedida experincia de formao, em nvel de mestrado desde 1994 e de doutorado desde 2005, de recursos humanos altamente quali cados. Outro sinal o de que, desde o mesmo programa, h uma publicao pioneira que vem colocando em circulao o que h de melhor da produo intelectual brasileira (e mesmo latino-americana) sobre desenvolvimento regional, a conhecida revista REDES. Outro sinal ainda o de que, tambm desde o mesmo programa, h um evento igualmente pioneiro que vem propiciando espao para o debate quali cado, com participao de grandes nomes brasileiros e estrangeiros a cada edio em que tem lugar, sobre desenvolvimento regional, o conhecido Seminrio Internacional sobre Desenvolvimento Regional. a, neste contexto privilegiado, que surgiu o OBSERVA-DR do qual esta coletnea um produto inicial.

    Cabe notar: desenvolvimento regional no um problema que requeira uma soluo terica ou prtica. Mas, tampouco uma soluo mgica uma panaceia para um problema qualquer, que a ore num pas qualquer. Alis, de se duvidar que desenvolvimento possa ser uma soluo para um dado subdesenvolvimento.

  • 7Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    E se desenvolvimento, no sentido que este termo adquiriu, por exemplo, com Celso Furtado, puder ter uma expresso regional, ainda assim no con guraria uma resposta a uma dada pergunta. Desenvolvimento regional, como se ler nos cinco captulos desta coletnea, evoca um conjunto de questes que pertinentes a processos, polticas e planejamento devem desencadear, em espiral, uma anlise crtica das realidades regionais con itivas, como so as de uma sociedade produtora de mercadorias, e disposio para a transformao social.

    Do que foi dito at aqui j deveria saltar uma noo aproximada dos muitos mritos contidos nesta obra. Se eles, de fato, existem (e no h porque duvidar de sua existncia), h que credit-los ao seu organizador, professor Rogrio Leandro Lima da Silveira que tambm o atual coordenador do OBSERVA-DR. Isso no apenas por ter ele logrado conectar cada um dos interessantssimos artigos desta coletnea num todo integrado. Mas, sobretudo, porque, com esta faanha a organizao de Observando o desenvolvimento regional brasileiro manteve a chama acesa, oferecendo uma tima oportunidade para que o tema pudesse continuar fazendo sentido para aqueles e aquelas que tm militado no campo do desenvolvimento regional.

    Ivo Marcos TheisBlumenau, primavera de 2013.

  • APRESENTAO

    A presente coletnea um dos primeiros produtos cient cos que o Observatrio do Desenvolvimento Regional OBSERVA-DR tem o prazer de compartilhar com a sociedade.

    O OBSERVA-DR, uma rede de pesquisa e de extenso, criada em 2012, que articula Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional, em diferentes estgios de desenvolvimento, instituies governamentais e da sociedade civil que abordam e/ou atuam com essa temtica. Dentre seus objetivos est a realizao de aes que promovam o intercmbio cient co, a produo e a difuso do conhecimento terico e metodolgico, bem como a anlise e avaliao de polticas pblicas sobre os processos, dinmicas e polticas de desenvolvimento e de planejamento regional no Brasil.

    Com esse intuito, a coletnea rene um conjunto de contribuies de pesquisadores nacionais que, sob diferentes perspectivas de anlise e olhares disciplinares, abordam processos, polticas e aes de planejamento que caracterizam a dinmica recente do desenvolvimento regional no territrio brasileiro.

    As contribuies cient cas aqui reunidas foram apresentadas e debatidas durante o II Seminrio do Observatrio do Desenvolvimento Regional, realizado na Universidade de Santa Cruz do Sul - RS, em abril de 2013. Tendo como tema central do debate A nova Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional: Desa os e Oportunidades para o Desenvolvimento Regional Brasileiro, o evento foi altamente positivo pois possibilitou a re exo e a discusso dessa temtica entre um conjunto expressivo de pesquisadores e discentes vinculados a treze Programas de Ps-Graduao, relacionados temtica do Desenvolvimento Regional, no pas, bem como por representantes da sociedade civil e de governos estaduais e municipais.

    No primeiro captulo, Rogrio Leandro Lima da Silveira, ngela Cristina Trevisan Felippi e Heleniza vila Campos abordam a importncia da observao, da anlise cient ca e da difuso dos processos sociais, polticos, econmicos e ambientais que se se expressam na espacialidade regional e se manifestam na dinmica atual de globalizao econmica caracterizada pela integrao territorial seletiva e pelo desenvolvimento desigual. Para os autores justamente diante desse contexto que se justi ca a criao do Observatrio do Desenvolvimento Regional. Os autores, ento apresentam as razes para a criao dessa rede de pesquisa e extenso, seus objetivos, suas reas de atuao, os seus Programas de Ps-Graduao integrantes, e as primeiras iniciativas e realizaes, destacando o processo de desenvolvimento do stio do OBSERVA-DR e as estratgias de implementao, de comunicao e de divulgao das aes de pesquisa e de extenso da rede.

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    A seguir, no segundo captulo, Virginia Elisabeta Etges e Jos Elmar Feger, com base na contribuio geogr ca crtica de Yves Lacoste, desenvolvem uma re exo terica e metodolgica a respeito de temticas caras ao entendimento dos processos e da dinmica espacial regional, e s estratgias de ao poltica no campo do desenvolvimento regional, que so justamente os conceitos de diferenciao espacial, regio e regionalizao.

    No terceiro captulo, Guilherme Mendes Rezende salienta o desa o da escolha de uma dada regionalizao para realizar a anlise regional, diante da inexistncia de uma escala de anlise que seja capaz de sintetizar de modo preciso toda a dinmica regional. Valorizando a abordagem multiescalar para melhor entender a maioria das questes regionais, o captulo discute inicialmente o padro do desenvolvimento regional no Brasil entre 2000 e 2010, analisando-se fatos como a distribuio espacial dos investimentos, do crescimento econmico setorial, dos recursos de algumas polticas pblicas, a evoluo dos indicadores socioeconmicos em mltiplas escalas regionais. Aborda o papel da avaliao das polticas pblicas tanto das polticas regionais quanto das polticas no espaciais, uma vez que ambas tm impactos e repercusses no territrio. Por m, traz algumas consideraes sobre os desa os e oportunidades para as polticas pblicas de planejamento e desenvolvimento regional luz do que foi discutido.

    Em seguida, no quarto captulo, Maurcio Serra e Cssio Rolim analisam o papel das universidades no processo de desenvolvimento regional das regies em que esto inseridas. Os autores apresentam um breve panorama do sistema de ensino superior brasileiro, analisam o estado da arte da cincia, da tecnologia e da inovao no Brasil, desenvolvem um referencial terico que busca sustentar a anlise da relao e da articulao entre a universidade e o desenvolvimento regional. Nessa anlise, re etem sobre o engajamento regional das universidades bem como as oportunidades e desa os do papel das universidades no processo de desenvolvimento regional.

    No ltimo captulo, Pedro Silveira Bandeira apresenta as contribuies dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEs/RS, instituies regionais que articulam e mobilizam atores da sociedade civil das regies do Rio Grande do Sul, com o objetivo de promover o desenvolvimento. O autor destaca que os COREDEs por reconhecerem a necessidade de uma ampla re exo pblica sobre a atuao do Estado no enfrentamento da questo regional no Brasil, no momento atual em que est sendo formulada a nova poltica nacional de desenvolvimento regional, os COREDEs apresentam algumas consideraes e propostas: como subsdio para o aperfeioamento e fortalecimento da ao governamental no campo do planejamento regional.

    Por m, preciso, ainda, registrar nosso agradecimento e reconhecimento ao apoio institucional recebido da Universidade de Santa Cruz do Sul, atravs do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional , pelo intenso

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    envolvimento e colaborao de seus professores e alunos , e ao indispensvel apoio nanceiro obtido da FINEP e da CAPES para a realizao do II Seminrio do Observatrio do Desenvolvimento Regional, e para a presente publicao e divulgao das contribuies dos pesquisadores convidados sobre os processos, as polticas e o planejamento do desenvolvimento regional brasileiro.

    Quero tambm registrar meu sincero agradecimento a toda equipe do PPGDR-UNISC que participa do OBSERVA-DR pela inestimvel e quali cada colaborao na organizao do evento e na divulgao de seus resultados.

    Santa Cruz do Sul, primavera de 2013.Rogrio Leandro Lima da Silveira

    Organizador e Coordenador do OBSERVA-DR

  • O OBSERVATRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL:A CONSTRUO DE UMA REDE DE PESQUISA E EXTENSO

    SOBRE A DINMICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO

    Rogrio Leandro Lima da Silveirangela Cristina Trevisan Felippi

    Heleniza vila Campos

    Introduo

    Para entendermos o sentido da criao do Observatrio do Desenvolvimento Regional (OBSERVA-DR) preciso inicialmente considerar a origem etimolgica da palavra observatrio, que deriva do latim, observare, e se vincula a ideia de um local de onde se observa. A expresso observare igualmente gerou o verbo observar que ao longo do tempo foi tendo distintos signi cados, dos quais destacamos um em especial: o de examinar minuciosamente, ou de olhar com ateno, ou ainda estudar determinado fato ou processo.

    Assim, o Observatrio do Desenvolvimento Regional rede criada no pas em 2012 atravs da articulao de Programas de Ps-Graduao em nvel de Mestrado e Doutorado que tm como rea temtica de interesse o desenvolvimento regional , busca se constituir em um espao orgnico de pesquisa e extenso que promova a anlise e a interpretao da realidade no que se refere s polticas, s dinmicas e aos processos de desenvolvimento regional no territrio brasileiro.

    Entendemos que se faz necessrio e oportuno pensar, debater e fazer avanar o conhecimento terico e metodolgico relativo ao tema do desenvolvimento regional, sobretudo diante das rpidas, intensas e abrangentes mudanas que a globalizao da economia tem ocasionado aos distintos territrios, em suas mais diversas escalas espaciais, como a escala regional.

    Diversos e diferentes so os re exos territoriais, sociais, econmicos, ambientais e culturais que se apresentam nas regies do pas, por conta dessas mudanas experimentadas no contexto contemporneo de integrao global de mercados e de reestruturao dos territrios.

    Muitos e renovados so, portanto, os desa os que a pesquisa brasileira sobre planejamento e desenvolvimento regional tem a enfrentar. Muitas tambm so as responsabilidades da universidade brasileira, em promover o debate conceitual, a construo terico-metodolgica e sua aplicao e transferncia para a sociedade, bem como auxiliar na produo e na avaliao de polticas pblicas comprometidas com o desenvolvimento sustentvel de nossas regies.

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    O presente ensaio aborda inicialmente a importncia da observao, da anlise cient ca e de sua difuso em relao aos processos sociais, polticos, econmicos e ambientais que se se expressam na espacialidade regional e se manifestam na dinmica regional do desenvolvimento, no contexto atual de globalizao econmica e de integrao territorial seletiva e desigual na escala global. Num segundo momento abordamos a razo da criao do Observatrio do Desenvolvimento Regional, os objetivos da rede, suas reas de atuao, os seus Programas de Ps-Graduao integrantes e as primeiras iniciativas e realizaes da rede. Por m, abordamos o desenvolvimento do stio do OBSERVA-DR e o uso das redes sociais como estratgias de implementao, de comunicao e de divulgao das aes de pesquisa e de extenso da rede.

    1 A atualidade e a importncia de observar a dinmica espacial na escala regional no contexto da globalizao

    Vivemos em um contexto de economia globalizada, no qual as mudanas no padro tecnolgico e produtivo se fazem acompanhar da emergncia de novas formas espaciais, ou da presena de velhas formas espaciais com novos contedos. Cada vez mais, o lugar e a regio rede nem-se com base no potencial integrativo do novo padro tecnolgico, adquirindo densidade tcnica, informacional e comunicacional em funo do acesso e da sua posio em relao s redes informacionais que se estabelecem em escala planetria.

    O processo em curso de globalizao da economia capitalista permite identi car a constituio de um mercado hierarquizado e articulado pelo capital monopolista. Este mercado pressupe uma con gurao espacial onde a uidez da informao, dos produtos, das relaes sociais e do prprio capital possa ocorrer, com destaque para a acelerao da circulao do capital e sua correspondente acumulao.

    A ampliao e a crescente complexidade da diviso territorial do trabalho e das diversas formas de circulao, aliadas s interferncias e imposies das organizaes transnacionais quanto a uma nova reestruturao do trabalho e da prpria espacialidade onde atuam, promovem uma maior diversi cao e complexi cao dos objetos e das aes, rede nindo, assim, a forma e o contedo do espao geogr co, independente da escala. Neste contexto, se de um lado fundamental que ocorra a re exo quanto aos efeitos e s determinaes da globalizao econmica em relao produo e estruturao dos espaos regionais, de outro lado, tambm se faz indispensvel analisar e compreender como os territrios regionais, nesse novo contexto, constroem suas polticas e aes de planejamento e de desenvolvimento regional.

    O debate contemporneo a respeito da espacialidade resultante desse novo e complexo momento da realidade em que vivemos evidencia, pelo menos, dois grupos com diferentes posies terico-metodolgicas.

  • 13Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    Um primeiro grupo representado pelas contribuies de Paul Virilio (1993), de Antony Giddens (1991) e de Marc Aug (1994). Embora se reconhea a especi cidade de cada uma das abordagens, para eles, diante da nova racionalidade do mercado capitalista, da exibilizao das relaes de produo e da emergncia de novas tecnologias de comunicao, vivemos em um perodo de aprofundamento da acelerao dos eventos, de contnuo encurtamento das distncias, de exacerbao dos uxos e de homogeneizao do espao pela expanso do capital hegemnico escala planetria. So caractersticas que permitem suscitar a ideia de anulao do espao pelo tempo.

    De tal posio deriva a compreenso de que nesse novo contexto temos em curso o m da geogra a em suas distintas con guraes, ou seja, o espao geogr co, o territrio e, especialmente, a regio perderiam sentido e importncia na anlise da realidade, uma vez que estaramos diante da a rmao da homogeneizao dos lugares e das regies. Essa ideia tem sido expressa e difundida, de forma recorrente, atravs de expresses como as que asseveram a existncia da desterritorializao das atividades humanas e a despersonalizao dos espaos enquanto singularidade.

    Como contraponto, temos uma segunda posio. Ela pode ser informada, levando em conta as particularidades de cada elaborao, a partir das re exes de David Harvey (1992, 2011), Edward Soja (1993), Milton Santos (1996 e 2000) e Michael Storper (1997). De acordo com essa posio, a anlise crtica do processo de globalizao nos permite identi car, simultaneamente, um processo de fragmentao espacial, portanto de regionalizao e de individualizao.

    A esse propsito, Harvey (1992, p.267), quando nos fala da compresso do tempo e do espao, a rma: Quanto menos importantes as barreiras espaciais, tanto maior a sensibilidade do capital s variaes do lugar dentro do espao e tanto maior o incentivo para que os lugares se diferenciem de maneiras atrativas ao capital.

    J Storper (1997), ao analisar o atual processo de desenvolvimento econmico regional em sua dinmica estrutural, chama ateno para a necessidade de se reconhecer a existncia do que ele denomina de um novo paradigma heterodoxo, caracterizado pelas inter-relaes existentes entre tecnologias-organizaes-territrios.

    Milton Santos, por sua vez, complementa: No mundo da globalizao, o espao geogr co ganha um novo contorno, novas caractersticas, novas de nies. E, tambm, uma nova importncia, porque a e ccia das aes est estreitamente relacionada com a sua localizao. Os atores mais poderosos se reservam os melhores pedaos do territrio e deixam o resto para os outros. (SANTOS, 2000, p.79).

    Em sintonia com esta ltima posio entendemos que, no atual contexto da economia globalizada, as mudanas no padro tecnolgico e produtivo se fazem acompanhar da emergncia de novas formas espaciais, ou de velhas formas espaciais com novos contedos. O lugar rede ne-se a partir do potencial integrativo do novo

  • 14 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    padro tecnolgico, ganhando em densidade comunicacional, informacional e tcnica no mbito das redes informacionais que se estabelecem em escala planetria.

    Nesse aspecto, concordamos com Veltz (1999, p.09) quando ele diz que a imagem de uma economia pura de uxos indiferente aos lugares no se sustenta, pois simplesmente contraditria, devido, antes de tudo, crescente polarizao geogr ca das atividades.

    Dessa forma, tem-se a rea rmao da dimenso espacial na medida em que se acentua a importncia conferida diferenciao concreta entre os distintos espaos geogr cos. Na verdade, os diferentes espaos do mundo, em especial as regies, ao invs de serem pensados como simples reservas de recursos sem passado nem futuro, rea rmam sua condio de estrutura de organizao e de interaes sociais. O espao revela-se um elemento chave na articulao das distintas temporalidades sociais. Alm disso, os diferentes espaos do mundo, em suas distintas escalas geogr cas, constituem o suporte e a condio para as relaes globais. neles que a globalizao se expressa concretamente e assume especi cidades.

    Entendemos que j no se sustenta, diante da dinmica concreta e complexa da realidade atual, o argumento de que a regio estaria perdendo importncia (tanto no espao real quanto no da teorizao) com a homogeneizao do espao decorrente da expanso do capital hegemnico pelo espao mundial. Na verdade, como nos ensina Milton Santos, nesse contexto de um espao tornado mundial, o tempo acelerado, acentuando a diferenciao dos eventos, aumenta a diferenciao dos lugares [...] [e] as regies so o suporte e a condio de relaes globais que de outra forma no se realizariam. Agora, exatamente, que no se pode deixar de considerar a regio. (SANTOS, 1996, p.197)

    Se, por um lado, concordamos que nesse contexto as regies vo apresentar formas e contedos em constante mudana, por outro lado entendemos que isto no signi ca o seu desaparecimento. Temos a a rmao renovada da importncia e da atualidade da escala regional, uma vez que ela, como escala intermediria de anlise, como mediao entre o singular e o universal, pode permitir revelar o contedo, a dinmica e a con gurao da espacialidade particular dos processos sociais globais. (SANTOS, 1996, CORRA, 1997, e LENCIONI,1999).

    Todavia, preciso que, alm de analisar os vnculos orgnicos e funcionais existentes entre as regies e o espao global, por meio da integrao verticalizada e funcional requerida e incrementada pelo capital transnacional, temos tambm de nos debruar sobre as regies propriamente ditas, ou seja, no mbito da escala intrarregional. Dessa forma, poderemos melhor apreender a lgica e a dinmica pelas quais a territorializao do desenvolvimento capitalista, em seu processo de reproduo ampliada, tem levado, tambm nessa escala, diferenciao espacial, ao aprofundamento das desigualdades sociais e econmicas, e ao equipamento

  • 15Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    seletivo dos lugares que compem a regio. Assim tambm poderemos apreender o papel e a relao da formao social, cultural, poltica, e da identidade regional no processo de reproduo ampliada do capital, uma vez que elas tanto podem legitimar e viabilizar a funcionalidade tcnica e a racionalidade econmica requerida pelo capital, quanto oferecer resistncia ou mesmo constituir as bases pelas quais novas alternativas de desenvolvimento possam surgir e se difundir pela regio.

    Assim, reconhecemos a atualidade e a importncia dos estudos regionais, a relevncia da escala e da anlise regional ao pleno entendimento dessa complexa e contraditria realidade, expressa e vivenciada em seus aspectos sociais, culturais, econmicos, polticos e ambientais, a partir e atravs das inter-relaes simultaneamente existentes entre os locais que con guram a regio, e entre esses locais e a escala global. (HAESBAERT, 2010 e 2002).

    Tendo isso presente, entendemos que importante avanar a re exo analisando os vnculos orgnicos e funcionais existentes entre a regio e o espao global, e tambm de nos debruar sobre a regio propriamente dita.

    Desta forma, pode-se melhor apreender a lgica e a dinmica pelas quais a territorializao do desenvolvimento capitalista se apresenta de modo diferenciado e desigual nas regies, como tambm pode-se compreender o papel e a relao da formao cultural e da identidade regional, prpria ao processo histrico de formao da regio, uma vez que elas tanto podem legitimar e viabilizar a funcionalidade tcnica e a racionalidade econmica requerida pelo capital, quanto oferecerem resistncia ou mesmo constiturem as bases pelas quais novas alternativas de desenvolvimento possam surgir e se difundir pela regio. (BECKER, 2003 e BECKER; BANDEIRA, 2000).

    Cada uma das regies do pas se reveste de caractersticas prprias, seja no que se refere dinmica de sua insero na diviso territorial do trabalho, seja em relao ao contedo, funcionalidade e implicaes sociais, econmicas e espaciais da racionalidade tcnica presente no territrio, como tambm no que diz respeito ao processo mais amplo de (re)produo do espao regional.

    Concordamos tambm com Massey (1998) quando assinala que a direo, a forma e o resultado das possveis mudanas que um dado lugar ou regio passa a experimentar, baseado na sua insero em uma nova diviso do trabalho, depender das caractersticas sociais, polticas, econmicas e culturais existentes na rea, enquanto resultado de um longo e complexo processo histrico.

    Assim, a especi cidade e a identidade dos espaos regionais, em sua totalidade, podem ser apreendidas, como lembra-nos Massey, enquanto resultado da construo de uma constelao particular de relaes sociais, reunio e articulao, simultaneamente, em um lugar particular[...] na verdade, isto um lugar de encontros. (MASSEY, 1998, p.137).

    Nesse aspecto, podemos dizer que o desa o que nos colocado no processo

  • 16 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    de anlise regional o de especi car e compreender as ligaes entre os atores, as relaes que eles tecem, seus interesses, os embates que eles promovem, e os seus resultados no e atravs do espao regional. O desa o igualmente repensar o processo e as prticas sociais e polticas de planejamento territorial, e do desenvolvimento regional, a partir de bases mais horizontais e com perspectivas de ao e de avaliao que busquem integrar ao diferentes segmentos sociais e os distintos nveis escalares de gesto territorial.

    nesse contexto e diante desses desa os que a proposta de criao do Observatrio do Desenvolvimento Regional, se insere, e se fundamenta.

    2 A construo da rede Observatrio do Desenvolvimento Regional

    Desde 1994, com a criao do curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional, e particularmente, a partir de 2004, com a aprovao do Doutorado pela CAPES, o Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional, da Universidade de Santa Cruz do Sul - PPGDR-UNISC, tem tido a oportunidade e a experincia de contar com alunos mestrandos e doutorandos de vrias regies do Brasil, fato emulador de novas frentes de pesquisa, e, consequentemente, de cooperao acadmica.

    Esta crescente intensi cao de intercmbio docente e discente com IES brasileiras e internacionais redimensiona a abrangncia dos objetos de estudo, proporciona diferentes perspectivas sobre o desenvolvimento regional brasileiro, e renova o sentido que a produo cient ca deve tomar em termos de rigor e de mbitos a que se dirige, na condio de produto quali cado do trabalho de investigao.

    Ao mesmo tempo preciso, tambm, considerar o nmero crescente de novos Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional que foram sendo criados no pas, desde 1994, com o PPGDR-UNISC, o primeiro a ser aprovado pela CAPES. Atualmente so 16 os Programas em Desenvolvimento Regional credenciados na CAPES, na rea de Planejamento Urbano e Regional/Demogra a. Essa expanso tambm se caracteriza pelo fato desses novos programas terem sido criados em Universidades localizadas fora das tradicionais reas metropolitanas brasileiras.

    Localizados no interior do territrio brasileiro, sobretudo em capitais regionais e cidades mdias das regies Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, esses programas possibilitam uma renovao da pesquisa e da re exo terica e metodolgica sobre o desenvolvimento regional, atravs de outras perspectivas territoriais, de outras problemticas e temas de pesquisa. Esses novos programas vm contribuindo ativamente no debate acerca da complexidade com que a dinmica de desenvolvimento e planejamento regional se apresenta no pas, sobretudo nesse contexto atual de globalizao econmica e de transformaes no desenvolvimento brasileiro e seus re exos socioespaciais, econmicos e ambientais no territrio e nas suas regies.

    A presena de novos programas em diferentes reas e espaos do territrio

  • 17Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    brasileiro abre a possibilidade de observarmos melhor os processos, as dinmicas e as polticas de desenvolvimento e planejamento regional, buscando melhor compreender suas particularidades e generalidades, suas contradies e relaes.

    Foi com esta perspectiva que em 2010 propusemos e aprovamos junto FINEP o projeto de criao do Observatrio de Desenvolvimento Regional OBSERVA-DR. O objetivo principal do OBSERVA-DR o de reunir, articular e integrar os Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional, e estabelecer parcerias com centros e institutos de pesquisa e instituies pblicas e entidades regionais, visando estabelecer no pas uma rede de pesquisa e de extenso acerca de questes terico-metodolgicas sobre os processos, dinmicas e polticas de desenvolvimento e de planejamento regional.

    A constituio da rede do OBSERVA-DR busca promover e implementar a cooperao e o intercmbio cient co atravs de aes articuladas de ensino, pesquisa e extenso que promovam a produo, o debate e a difuso do conhecimento terico e metodolgico, bem como de boas prticas e experincias produzidas em relao ao campo do desenvolvimento regional.

    Como objetivos espec cos do OBSERVA-DR destacamos:

    a) quali car e integrar os grupos de pesquisa dos Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e das demais instituies de pesquisa voltadas ao tema do desenvolvimento regional, compartilhando interesses de pesquisa e otimizando recursos humanos e o acesso a fontes e dados;

    b) reunir, sistematizar e divulgar a produo cient ca realizada na rea de desenvolvimento regional, atravs de um repositrio de teses e dissertaes, artigos, livros e trabalhos tcnicos;

    c) organizar e disponibilizar dados, indicadores e estudos referentes s realidades dos espaos regionais em que se encontram inseridos os Programas de Ps-Graduao que integram a rede do OBSERVA-DR;

    d) promover relaes de parceria e convnios de cooperao cient ca com universidades, instituies pblicas e organizaes cient cas nacionais e internacionais que trabalhem com o tema do desenvolvimento regional;

    e) organizar e instrumentalizar o acesso a bancos de dados e indicadores sobre a dinmica de desenvolvimento de espaos regionais, e sobre aes e resultados de polticas pblicas de desenvolvimento regional no territrio brasileiro;

    f) estruturar um stio na internet para divulgar notcias e eventos relacionados temtica, compartilhar dados e resultados de pesquisa, possibilitar a implementao da rede de contatos, articulaes e interaes entre os programas integrantes, bem como difundir e divulgar os resultados da

  • 18 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    produo cient ca dos pesquisadores, professores e alunos, dos Programas em Desenvolvimento Regional, bem como de pesquisadores de outros programas que abordem temticas correlatas.

    Com a aprovao do projeto, pela FINEP, iniciamos, em 2011, a constituio inicial do Observatrio, atravs da participao e envolvimento ativo de uma equipe de pesquisadores e estudantes de iniciao cient ca e do PPGDR-UNISC, que estruturou a proposta de constituio e de funcionamento inicial do OBSERVA-DR. Uma das primeiras aes foi a realizao, em abril de 2012, de um Seminrio Nacional realizado na UNISC, em Santa Cruz do Sul, com o objetivo de apresentar e debater com os demais Programas de Ps-Graduao, a pertinncia e a oportunidade da criao da rede do OBSERVA-DR.

    Com apoio da Capes, o Seminrio contou com a presena de pesquisadores de um conjunto signi cativo de Programas de Ps-Graduao cuja rea de concentrao e linhas de pesquisa contemplem as temticas do desenvolvimento regional e do desenvolvimento, e teve como principais pontos de discusso a proposta de criao do Observatrio e a construo de uma agenda inicial de pesquisa a ser implementada.1 A proposta de criao do OBSERVA-DR foi aceita pela unanimidade dos presentes, que entenderam que a coordenao da rede deveria car a cargo do PPGDR-UNISC.

    O modelo de gesto da rede ainda est em construo e tem como premissa garantir a exibilidade e a autonomia no desenvolvimento da rede de pesquisa, a partir da valorizao das experincias e das prticas de pesquisa.

    A constituio dessa rede de pesquisa e de extenso se realiza de modo gradual com a associao e participao de novos Programas de Ps-Graduao e Instituies de Pesquisa que manifestam formalmente o interesse em participar. Atualmente integram a rede do OBSERVA-DR os seguintes Programas de Ps-Graduao:

    a) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Fundao Universidade Regional de Blumenau - SC;

    b) Programa de Ps-Graduao em Planejamento e Desenvolvimento Regional Universidade de Taubat - SP;

    c) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Universidade do Contestado - SC;

    d) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - RS;

    e) Programa de Ps-Graduao em Planejamento Urbano e Regional- PROPUR-Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS;

    f) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Agronegcio Universidade Estadual do Oeste do Paran - PR;

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    g) Programa de Ps-Graduao em Polticas e Dinmicas Regionais - Universidade Comunitria da Regio de Chapec - SC;

    h) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Universidade Tecnolgica Federal do Paran - PR;

    i) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Scio Espacial e Regional Universidade Estadual do Maranho - MA;

    j) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional Sustentvel Universidade Federal do Cear - Campus Cariri - CE;

    k) Programa de Ps-Graduao em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social Universidade Catlica de Salvador BA;

    l) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Territorial e Polticas Pblicas Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ;

    m) Programa de Ps-Graduao em Planejamento Regional e Gesto de Cidades Universidade Cndido Mendes - RJ;

    n) Programa de Ps-Graduao em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental - Universidade Estadual de Santa Catarina - SC;

    o) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - Centro Universitrio de Araraquara - SP;

    p) Programa de Ps-Graduao em Administrao Universidade Federal de Rondnia - RO

    q) Programa de Ps-Graduao em Ambiente e Desenvolvimento - Centro Universitrio UNIVATES - RS;

    r) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional - Universidade Federal do Amap - AP; e o

    s) Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional - Universidade de Santa Cruz do Sul - RS.

    Metodologicamente a rede do OBSERVA-DR desenvolve aes articuladas de pesquisa e de extenso atravs dos Programas de Ps-Graduao que a integram. De um lado, o objetivo a produo e o avano do conhecimento terico em relao aos processos de planejamento e de desenvolvimento regional, luz do corpo conceitual e metodolgico desenvolvido no mbito da cincia regional e do planejamento territorial que precisa ser transferida e compartilhada com a sociedade e com os formuladores das polticas pblicas. De outro lado, igualmente se deve valorizar as experincias empricas de planejamento do desenvolvimento regional vivenciadas pela sociedade nas distintas regies do territrio brasileiro, e cotej-las com o referencial terico-conceitual e metodolgico elaborado pelas equipes de pesquisa.

  • 20 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    Neste sentido, as aes de pesquisa a serem implementadas observaro trs reas temticas de interesse comum aos Programas de Ps-Graduao que participam da rede, e que guardam a nidade com suas linhas de pesquisa, so elas: Planejamento Territorial, Estado e Sociedade, e Dinmicas Socioeconmicas e Organizaes.

    O Observatrio do Desenvolvimento Regional tem buscado promover atividades acadmicas de pesquisa e de extenso que contribuam para a formao de recursos humanos, quali cao dos agentes governamentais e informao da sociedade civil no que se refere produo do conhecimento, e s polticas pblicas e projetos de interesse social voltados ao desenvolvimento regional.

    A criao e a instalao do Observatrio do Desenvolvimento Regional tm estimulado e possibilitado a troca de experincias e de conhecimento, bem como o estreitamento de aes conjuntas entre os Programas de Desenvolvimento Regional, no pas. Prova disso so dois projetos de pesquisa elaborados no mbito do OBSERVA-DR e que atualmente so desenvolvidos com o apoio de fontes externas de nanciamento.

    O primeiro resultado inicial das articulaes acadmicas e cient cas entre os Programas de Ps-Graduao integrantes da rede OBSERVA-DR em prol de uma agenda comum de pesquisa. Em novembro de 2012, foi elaborado projeto de pesquisa que busca analisar e compreender o processo recente de planejamento do desenvolvimento regional no Rio Grande do Sul, atravs da anlise da experincia de planejamento dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do RS, no perodo entre 1995 e 2012. A proposta de pesquisa foi elaborada por equipe multidisciplinar constituda por pesquisadores e alunos do PPGDR(UNISC), PPGD (UNIJUI) e PROPPUR (UFRGS), sob a coordenao do PPGDR (UNISC). O projeto com incio em 2013 e com trmino previsto para o nal de 2014, tem apoio nanceiro do CNPq e da FAPERGS.

    J o segundo projeto de pesquisa, Planejamento e gesto governamental na esfera estadual: uma anlise comparativa dos processos, contedos e sistemas de acompanhamento dos PPAs, iniciado em abril de 2012, coordenado por Roberto Rocha C. Pires do IPEA, e tem a participao dos pesquisadores Virginia Etges e Silvio Arend, integrantes da equipe do OBSERVA-DR/PPGDR-UNISC. Trata-se de um projeto de pesquisa em rede que conta com pesquisadores de diversas instituies de ensino brasileiras, coordenado e nanciado pelo IPEA atravs da sua Diretoria de Estudos e Polticas de Estado, Instituies e Democracia (DIEST). A pesquisa se prope a promover uma anlise dos PPAs referentes ao perodo 2012-2015, dirigindo a ateno para a esfera dos governos estaduais.

    Alm desses dois projetos de pesquisa j em curso, iniciar-se-, a partir de outubro de 2013, o desenvolvimento de um novo projeto: A interiorizao da Pesquisa e da Ps-Graduao no Brasil: o caso dos Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional, sob a coordenao dos professores Virginia Etges (PPGDR-UNISC) e Ivo Theis (PPGDR-FURB). O projeto buscar diagnosticar e

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    analisar a estrutura, o funcionamento, as linhas de pesquisa e as contribuies para o avano do conhecimento dos Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional existentes no pas, e vinculados rea de Planejamento Urbano e Regional/Demogra a da CAPES.

    Nesses dois primeiros anos de desenvolvimento inicial dessa rede de pesquisa e extenso pode-se tambm destacar outras importantes aes, resultados e impactos cient cos j obtidos com o desenvolvimento nesses dois primeiros anos, a saber:

    a) disponibilizao, ao pblico acadmico e em geral, do conhecimento sobre a temtica do desenvolvimento regional produzido pelos Programas de Ps-Graduao que integram a rede OBSERVA-DR, atravs da organizao e disponibilizao para acesso livre no stio do OBSERVA-DR, das teses de doutorado e dissertaes de mestrado defendidas nos programas da rede;

    b) disponibilizao, ao pblico acadmico e em geral, de dados secundrios e informaes sobre aspectos econmicos, sociais, demogr cos e geogr cos das regies de atuao dos programas de ps-graduao que integram a rede, atravs da construo e disponibilizao no stio de Banco de Dados Regionais;

    c) disseminao do conhecimento cient co sobre a temtica do desenvolvimento regional ao pblico acadmico, sociedade e gestores pblicos;

    d) disponibilizao, ao pblico acadmico e em geral, atravs do stio do OBSERVA-DR, informaes sobre eventos, publicaes e legislao sobre a temtica do desenvolvimento regional.

    Alm disso, a criao do Observatrio tambm tem potencializado e ampliado importantes interfaces e articulaes com outras instituies de pesquisa e da sociedade civil (nacionais e regionais), de gesto pblica e de fomento s aes voltadas ao desenvolvimento regional, tais como a ANPUR (Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Planejamento Urbano e Regional), a Secretaria de Desenvolvimento Regional, do Ministrio da Integrao Nacional, o Frum dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconmicos e Cartogr cos, a Universidade Estadual do Mato Grosso, a Universidade Federal da Fronteira Sul, entre outros.

    Em abril de 2013, a rede do OBSERVA-DR realizou em Santa Cruz do Sul, na UNISC, o seu II Seminrio Nacional, tendo como tema central A nova Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional: Desa os e oportunidades para o desenvolvimento regional brasileiro. O evento foi altamente positivo, reunindo um total de 97 participantes entre coordenadores, pesquisadores e discentes vinculados a 13 Programas de Ps-Graduao, relacionados temtica do Desenvolvimento Regional, no pas, bem como representantes da sociedade civil e dos governos estaduais e municipais.

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    O seminrio que contou com a participao de destacados pesquisadores e representantes de rgos de governo como Secretaria do Desenvolvimento Regional (Ministrio da Integrao Nacional), IPEA e CGEE, teve, como intuito, promover o debate, a re exo e o aprofundamento da discusso sobre os desa os, as oportunidades e os condicionantes da nova Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), cujos princpios e diretrizes norteadoras foram sendo de nidos, desde agosto de 2012, atravs da realizao das Conferncias Estaduais e Regionais de Desenvolvimento Regional, coordenadas pelo Ministrio da Integrao Nacional, e, em maro de 2013, atravs da Conferncia Nacional de Desenvolvimento Regional.

    O evento foi organizado em dois painis. No primeiro: A implantao da nova PNDR: desa os e oportunidades para as polticas pblicas de planejamento e desenvolvimento regional, o objetivo foi debater os desa os e oportunidades da nova PNDR para as polticas pblicas de planejamento e desenvolvimento regional, enquanto poltica de Estado que supere os desequilbrios regionais existentes no territrio nacional. No segundo painel: A nova PNDR e o papel da Universidade: desa os e possibilidades para a agenda de pesquisa sobre o desenvolvimento regional buscou-se debater o papel da universidade brasileira nesse contexto de formulao e de implementao da nova PNDR, re etindo notadamente sobre os desa os e possibilidades que se colocam para a agenda de pesquisa sobre o desenvolvimento regional.

    Essa iniciativa da rede OBSERVA-DR foi de fundamental importncia para que os pesquisadores dos Programas de Ps-Graduao vinculados ao tema do desenvolvimento regional e o pblico em geral pudessem debater a nova PNDR seu escopo, seus princpios e diretrizes, e notadamente, os desa os e as oportunidades de sua implementao no territrio , podendo contribuir com esse processo, atravs da re exo crtica e do aprofundamento da discusso sobre o contedo e a forma de operacionalizao da poltica pblica e da agenda de pesquisa sobre o desenvolvimento regional no pas.

    Alm desses eventos, o grupo de pesquisadores dos Programas que integram a rede do OBSERVA-DR tambm tem usado a estratgia de promover reunies regulares da rede para discutirem as aes operacionais e projetos do OBSERVA-DR. Para tanto, alm dos seminrios do OBSERVA-DR, tambm tem se aproveitado o perodo de realizao dos principais eventos cient cos nacionais da rea do planejamento urbano e regional, como o I SEDRES Seminrio de Desenvolvimento Regional, Estado e Sociedade, realizado em agosto de 2012 no Rio de Janeiro, e tambm o VI Seminrio Internacional sobre Desenvolvimento Regional, realizado em setembro de 2013, em Santa Cruz do Sul.

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    3 As redes telemticas na divulgao cientfica: o stio observadr.org.br

    A constituio de uma rede interinstitucional pressupe condies de comunicao adequadas que permitam rapidez, objetividade e clareza na troca de ideias entre os seus integrantes. No caso do OBSERVA-DR, em razo das longas distncias envolvidas em escala nacional, tem-se utilizado estratgias das redes telemticas que muito auxiliam na construo de propostas e tomadas de decises.

    A emergncia das redes telemticas, entendidas como rede de telecomunicaes computadorizada, ao nal do sculo XX tem recon gurado o panorama da comunicao e da circulao da informao mundiais. Como j referido neste ensaio, na esteira do novo arranjo capitalista e das transformaes tecnolgicas do nal do sculo passado, comunicao e informao passam a ocupar outro status no cenrio contemporneo. Tornaram-se instrumentos-chave do processo de acumulao, viabilizando de uma forma impar na histria humana o uxo de bens simblicos e de dados informacionais numa escala global, sinalizando uma relao de submisso da cultura ao capital. (JAMBEIRO, 2004).

    O acesso das populaes s tecnologias de comunicao e de informao (TICs) tambm sem precedentes, o que, por um lado, tem sido estimulado e viabilizado pelo mercado. Porm, por outro, acaba permitindo novas formas inclusive de contestao do prprio sistema, como ciberativismo, por exemplo. Ou seja, as revolues tecnolgicas da virada do nal do sculo XX tm ampliado as possibilidades de democratizao das TICs, seja no acesso, bem como na produo de contedo, viabilizando contato com informaes, culturas e mentalidades de pblicos antes alijados deste processo, incluindo neste acesso as possibilidades de interatividade. Esta via permite que se venha rompendo com o sentido tradicional da relao entre produtores dos meios de comunicao e de informao e usurios (representada pelo esquema: emissor receptor), passando para uma relao de duplo uxo (emissor receptor).

    A consequente gerao de uma sociedade da informao ou sociedade ps-industrial se caracteriza por uma srie de transformaes, que resultam numa alterao dos insumos, at ento de energia, para de informao, decorrentes dos avanos tecnolgicos da microeletrnica e das telecomunicaes (WERTHEIN, 2000). Sendo assim, as redes telemticas tm grande penetrabilidade devido difuso das TICs, embora nem sempre signi quem um caminho democratizao da comunicao e da informao. Castells (2000) chama ateno para alguns mitos gerados a partir da disseminao das tecnologias digitais, como o da convergncia como sinergia, do globalismo como sinnimo de harmonia entre os homens e entre esses e a natureza, entre outros. Neste sentido, as TICs, os meios de comunicao e a mdia esto relacionados s suas condies materiais que viabilizam a produo e reproduo da sociedade e entendidos na sua dinmica interna e estrutural. (JAMBEIRO, 2004, p.12).

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    Quando se trata de produo cient ca, as redes telemticas tm sido desa adoras, pois oferecem possibilidades nunca antes imaginadas para a difuso, integrao e comunicao cient ca global. Bibliotecas virtuais, comunicao em tempo real distncia (videoconferncias, correio eletrnico, bate-papos, redes sociais), educao distncia, trabalho distncia, revistas cient cas digitais, bancos de dados digitais, portais de divulgao cient ca so alguns servios de armazenagem, organizao e distribuio de contedo cient co decorrente das TICs. Obviamente ainda so muitos os entraves a uma utilizao ideal destas possibilidades, como problemas tcnicos, legais, culturais, econmicos, sociais, entre eles a adaptao s tecnologias, a existncia de uma mentalidade de difuso analgica (livro e revistas impressas) e as dinmicas de mercado.

    O uso destas redes pelas universidades tem resultado em inmeras experincias interessantes, inovadoras, criativas, assim como h um leque de possibilidades no exploradas ou mal exploradas pelos pesquisadores e suas instituies. No caso das universidades e no caso do Brasil - pensando que nas universidades que a maior parte da produo de conhecimento cient co gerada no pas -, alguns exemplos de usos das redes telemticas j esto consolidados. Entre eles a passagem das revistas cient cas da edio impressa para a digital; a edio de e-books e sua disponibilizao na internet (paga ou livre); a realizao de aulas em forma de vdeo conferncia; a ampliao da modalidade de ensino distncia; a disponibilizao de acervo digital de obras; a criao de plataformas colaborativas; a formao de redes de pesquisa tendo a rede mundial de computadores como uma das principais formas de integrao.

    As vantagens destas experincias tm se concentrado em trs elementos: amplitude, velocidade e interatividade no acesso ao conhecimento. Ou seja, situaes comuns, h poucas dcadas, em pases como o Brasil, em que uma produo muita vezes cava restrita ao conhecimento interno da instituio que a gerou, registrada em documentos impressos (relatrios, dossis etc) ou no mximo socializada numa revista cient ca impressa de circulao regional ou nacional (mesmo assim com limitaes de alcance), tm mudado com a digitalizao. Seja em relatrios de pesquisa disponveis para consultas, seja na forma de e-book ou em revista cient ca digital. Somada a amplitude, a velocidade do acesso impar, bem como a possibilidade de retorno por parte dos leitores para a comunidade acadmica, que tm as oportunidades de comunicao facilitadas pelas TICs.

    Em se tratando de pesquisas acerca do desenvolvimento regional e dada caracterstica recente que tm adquirido a espacializao dos Programas de Ps-Graduao que se concentram na temtica no Brasil, o uso destas tecnologias para a articulao, integrao e difuso cient ca sinaliza com inmeras possibilidades.

    Neste sentido, o stio do Observatrio do Desenvolvimento Regional, cujo endereo www.observadr.org.br, consiste numa experincia extremamente interessante na constituio, manuteno, articulao e divulgao de uma rede de

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    pesquisa e de extenso. O stio foi criado em 2012, dentro da proposta de o OBSERVA-DR ter uma plataforma digital de integrao das instituies e de pesquisadores da rede do Observatrio, bem como um canal de difuso de informaes da agenda e do conhecimento gerado por meio da rede de pesquisa. Assim, o stio, concretamente, signi ca um instrumento de integrao por meio do qual pesquisadores e suas instituies disponibilizam dados e produes cient cas, sendo um instrumento de divulgao da cincia. Tambm um instrumento de articulao da rede, pelo qual se agregam os mesmos pesquisadores e suas instituies, aproximando-se atravs dos contedos postados no stio. E, ainda, um meio de difuso cient ca, pois todos os dados so disponibilizados livremente e sem custos para qualquer usurio.

    Alm da sua proposta, outra caracterstica valiosa do stio sua forma de construo. Como faz parte de um projeto de pesquisa, composto por pesquisadores de vrias instituies, por estudantes de mestrado e de doutorado e de graduao (bolsistas de iniciao cient ca), estes, no caso, de Geogra a, Psicologia, Jornalismo, Relaes Pblicas e Produo em Mdia Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul, a construo tem sido por meio de um processo pedaggico, interdisciplinar e coletivo. Cada link do stio resultado de uma construo, baseada em encontros, discusses e produo de contedo a vrias mos.

    Figura 1 - Pgina inicial do stio do OBSERVA-DR

    Fonte: http://observadr.org.br/site/o-projeto/, 2013.

    Em linhas gerais, o stio apresenta e representa o estgio em que se encontra a rede OBSERVA-DR, com uma srie de avanos, mas tambm com muitos desa os e possibilidades. Nos dois anos do OBSERVA-DR, o stio foi sendo construdo

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    medida que a proposta avanava. Assim, (1) ao constituir-se uma rede de Programas de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional com integrantes (http://observadr.org.br/site/instituicoes-da-rede/) e seis parceiros (http://observadr.org.br/site/instituicoes-parceiras/), a mesma foi disponibilizada no stio; (2) de igual forma, fez-se o levantamento e a posterior divulgao dos locais onde esto armazenadas digitalmente as teses e as dissertaes dos programas de ps-graduao da rede, tendo como meta, nos prximos meses, agregar a estes todos os programas do Comit de Planejamento Urbano e Regional da CAPES, bem como programas de ps-graduao a ns (http://observadr.org.br/site/teses-e-dissertacoes/); (3) criou-se um espao para disponibilizao de textos com a problematizao das questes que envolvem o desenvolvimento regional (http://observadr.org.br/site/textos-para-re exao/), que ainda carece de maior participao dos integrantes da rede; (4) a equipe diretamente envolvida no OBSERVA-DR da Universidade de Santa Cruz do Sul construiu um banco de dados regionais, com base em dados secundrios, publicando-o no stio; bem como se disponibilizou o banco de dados construdo pelo Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Iju (UNIJU), outro integrante da rede, (http://observadr.org.br/site/banco-de-dados-regionais/); (5) o grupo produziu e disponibilizou uma srie de vdeos, a maior parte deles composto de entrevistas com pesquisadores sobre as temticas envolvendo desenvolvimento regional (http://observadr.org.br/site/videos/); (6) dois projetos de pesquisa foram gestados a partir do OBSERVA-DR, os quais so apresentados no stio (http://observadr.org.br/site/projetos-em-andamento/), (7) alm de uma listagem de stios e blogs relacionados temtica do Observatrio, tambm no stio (http://observadr.org.br/site/links-interessantes/).

    Alm do stio, o OBSERVA-DR adotou o uso das redes sociais (Facebook e Twitter) como ferramentas de apoio difuso da rede de pesquisa e de extenso do OBSERVA-DR, bem como apoio ao stio, servindo de divulgao das novidades publicadas. Neste sentido, de forma frequente, tm sido postadas mensagens (1) convidando para a leitura de produo nova no stio e (2) divulgando aes ou eventos do projeto OBSERVA-DR.

  • 27Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    Figura 2 - Fan page OBSERVADR no Facebook

    Fonte: https://www.facebook.com/observadr, 2013.

    Figura 3 - OBSERVADR no Twitter

    Fonte: https://twitter.com/Observa_DR, 2013.

    Durante os dois seminrios do OBSERVA-DR (em abril de 2012 e de 2013), foram realizadas coberturas jornalsticas para o stio e para as redes sociais. No II

  • 28 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    Seminrio do Observatrio do Desenvolvimento Regional, realizado em abril de 2013, foi feita cobertura ao vivo para Twitter e Facebook, com as snteses dos painis e debates. A cobertura ampliou enormemente o alcance do evento, possibilitando o acesso s discusses a quem no esteve presencialmente no Seminrio, bem como a difuso do OBSERVA-DR. O mesmo foi feito no VI Seminrio Internacional sobre Desenvolvimento Regional, em setembro de 2013, organizado pelo Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento Regional da UNISC, quando foi realizada a cobertura online ao vivo para o Twitter, para o Facebook, bem como para o stio, com notcias e galeria de fotos do evento. A cobertura online viabilizou o crescimento do nmero de acesso ao stio, de seguidores no Twitter, bem como de curtidas no Facebook. Na ocasio, ainda, foram realizadas mais de dez entrevistas com os painelistas, pesquisadores de diferentes instituies nacionais e internacionais, para o link Vdeos do stio. As coberturas e os vdeos foram realizadas pelos estudantes de Jornalismo e de Produo em Mdia Audiovisual, bolsistas do OBSERVA-DR, sob a superviso dos professores membros do Observatrio2.

    Figura 4 - Link Vdeos do stio do OBSERVADR

    Fonte: http://observadr.org.br/site/videos/, 2013.

    O stio e os espaos nas redes sociais mantidos pelo OBSERVA-DR esto em processo de construo, assim como a prpria rede de pesquisa e de extenso. No caso destes canais de comunicao via web, os desa os mais urgentes so tornar o processo de produo e disponibilizao de contedos participativo, envolvendo os programas de ps-graduao da rede. J foi desenvolvido um mecanismo de abastecimento direto, com moderao, mediante login e senha distribudos aos integrantes da rede, que

  • 29Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    permite a cada PPG abastecer o stio com informaes sobre eventos, lanamentos de livros, chamadas para revistas cient cas e outras informaes. Falta efetivar esta prtica. Consolidada esta forma de colaborao, outras mais signi cativas e profundas viro, ainda a serem pensadas, na con uncia da proposta do OBSERVA-DR, de realizar em rede a produo, o debate e a difuso do conhecimento terico e metodolgico acerca da temtica do desenvolvimento regional.

    Consideraes finais

    Buscou-se, neste artigo, contextualizar a constituio do OBSERVA-DR, apresentar bases tericas e metodolgicas que tm suportado as re exes sobre desenvolvimento regional, alm de, brevemente, situar o processo desde a elaborao da ideia de uma rede interinstitucional at os eventos mais recentes de aproximao dos diversos Programas envolvidos.

    Temos cincia que a rede OBSERVA-DR no est pronta, ainda se encontra no estgio inicial de constituio de seus ns, de tessitura das relaes e interaes que precisa ativar, de de nio de sua estrutura organizacional e de escolha das estratgias que viabilizem a sua existncia, desenvolvimento e consolidao. Mas tambm temos conscincia, que o caminho se faz caminhando. Nesse sentido, esses primeiros passos coletivos e os primeiros resultados so alvissareiros e inspiradores para o trabalho coletivo de construo que ora se inicia.

    Por m cabe destacar a importncia da participao e da cooperao acadmica entre os Programas de Ps-Graduao que atuam sobre a temtica do desenvolvimento regional, para a constituio e desenvolvimento inicial dessa experincia inovadora que a rede OBSERVA-DR. Seu envolvimento e articulao no desenvolvimento das atividades de pesquisa e de extenso propostas na e pela rede so vitais para a produo de conhecimento sobre os processos, sobre as dinmicas e sobre as polticas de planejamento e desenvolvimento regional no pas, e sua difuso e disseminao para a sociedade brasileira.

    Notas

    1 Participaram do I Seminrio do Observatrio do Desenvolvimento Regional 35 pesquisadores vinculados a 15 Programas de Ps-Graduao que atuam nas temticas do desenvolvimento regional e desenvolvimento.

    2 A fan page do OBSERVA-DR no Facebook tem 216 pessoas que a curtiram; no Twitter so 71 seguidores; no sitio, tomando como exemplo o acesso ao link Vdeos, o mesmo chega a 200 por entrevista. A partir do VI Seminrio Internacional sobre Desenvolvimento Regional, o nmero de pessoas que passou a curtir a fan page do OBSERVA-DR no Facebook aumentou em 30%. Dada a natureza do OBSERVA-DR e seu pouco tempo de existncia, os nmeros podem ser considerados expressivos.

  • 30 Observando o desenvolvimento regional brasileiro

    Referncias

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  • ESPACIALIDADE DIFERENCIAL, REGIO E REGIONALIZAO -A CONTRIBUIO DE YVES LACOSTE

    Virginia Elisabeta EtgesJos Elmar Feger

    Introduo

    O debate em torno dos conceitos de regio e regionalizao est presente nos estudos de pesquisadores de reas diversas, mas que tm algo em comum: a preocupao em recortar a superfcie terrestre. No mbito da Geogra a, entretanto, foi ao longo dos sculos XIX e XX que a discusso trouxe elementos que nos permitem, na atualidade, uma compreenso mais aprofundada a respeito do tema. Duas perspectivas se tornaram marcantes: uma, que tem como expoente Vidal de La Blache, que a rma que a superfcie terrestre um mosaico de regies e que caberia aos gegrafos identi c-las e descrev-las; e outra, apresentada por Alfred Hettner, que entende que no existem regies pr-de nidas, que elas resultam das inter-relaes de fenmenos que o pesquisador seleciona, fazendo com que a regio se constitua no nal do processo de investigao (LENCIONI, 1999). Dentre os diferentes enfoques que se observa em trabalhos recentes, percebe-se a retomada de recortes regionais, numa tentativa de compreender a formao de arranjos territoriais, enquanto expresses moldadas na tenso entre foras globais e regionais. Observa-se, assim, a necessidade de aprofundamento da discusso sobre como regionalizar, ou seja, como identi car regies.

    Essa di culdade que se inscreve no meio acadmico, tambm se coloca aos responsveis pelo planejamento e implantao de programas de desenvolvimento regional, os quais tm como referncia as regies de planejamento, delimitadas por agentes o ciais, como o Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatstica - IBGE, Secretarias de Estado, entre outros, com a nalidade de orientar o levantamento de informaes (censos), a implementao de servios pblicos e o investimento de recursos nanceiros.

    No intuito de contribuir nesse importante debate, buscamos em Yves Lacoste, mais especi camente na obra A Geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, publicada pelo gegrafo francs na dcada de 1970, o conceito de espacialidade diferencial, que traz elementos fundamentais para aprofundar e quali car a discusso em pauta.

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    1 Regio conceito obstculo

    A chamada Escola Francesa de Geogra a tem como um de seus principais formuladores Paul Vidal de La Blache, o qual segundo Moraes (1983, p. 69),

    concebia o homem como hspede antigo de vrios pontos da superfcie terrestre, que em cada lugar se adaptou ao meio que o envolvia, criando, no relacionamento constante e cumulativo com a natureza, um acervo de tcnicas, hbitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponveis. A este conjunto de tcnicas e costumes, construdo e passado socialmente, Vidal denominou gnero de vida, o qual exprimiria uma relao entre a populao e os recursos, uma situao de equilbrio, construda historicamente pelas sociedades. A diversidade dos meios explicaria a diversidade dos gneros de vida.

    Como se pode observar, nessa relao entre sociedade e natureza, que, segundo La Blache, d origem aos gneros de vida, o meio natural que explica a diversidade destes. esta mesma concepo que vai estar na base do conceito de regio proposto pelo autor.

    Lencioni (1999) esclarecedora quando aponta que de uma maneira geral, podemos dizer que no desenvolvimento do pensamento geogr co h dois grandes marcos de interpretao acerca do objeto da Geogra a. O primeiro, em que se destaca La Blache, entende que a Geogra a estuda a relao entre o homem e o meio; o segundo, em que se destaca Hettner, a concebe como um campo de conhecimento particular, voltado para o estudo das diferenciaes de reas. Essas duas orientaes gerais implicam em concepes diferentes de regio. Na primeira perspectiva, referida muitas vezas como ambientalista, a regio existe em si mesma; ou seja, ela autoevidente e cabe ao pesquisador reconhec-la por meio de anlises. A regio, portanto, coloca-se como objeto de estudo a priori. No segundo caso, a regio no existe em si mesma, ela no objeto de estudo no signi cado restrito do termo, pois ela se conforma no nal do processo de investigao, processo esse que, com a elaborao de critrios de nidos no processo de investigao, constri o recorte espacial.

    Cabe aqui lembrar das aulas de Geogra a em que se estudava as regies a partir da descrio do quadro fsico (relevo, clima, vegetao, hidrogra a), seguido de povoamento, atividades econmicas (agricultura, indstria, comrcio), culminando com os meios de transporte! Tratava-se de regies dadas, regies pr-exitentes, delimitadas a partir da forma impressa pela relao da sociedade com a natureza, a partir dos diversos gneros de vida. Pois este conceito de regio que Lacoste de ne como conceito obstculo. Obstculo a qu? o que abordaremos a seguir.

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    2 Espacialidade diferencial a contribuio de Yves Lacoste

    A primeira edio do livro intitulado A Geogra a isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra ocorreu na Frana, em 1976, trazendo importante contribuio ao processo de construo de um saber geogr co comprometido com as lutas sociais por uma sociedade mais justa e democrtica, que tomava flego, poca, tambm no Brasil.

    A segunda edio francesa surgiu em 1982 e a terceira em 1985, a qual, traduzida para o portugus, foi publicada no Brasil em 1988.

    Lacoste (1988), na dcada de 1970, apontou para a necessidade de se compreender a geogra a como um saber estratgico. Ressalta que, muito mais que uma srie de estatsticas ou que um conjunto de escritos, a carta a forma de representao geogr ca por excelncia; sobre a carta que devem ser colocadas as informaes necessrias para a elaborao de tticas e de estratgias (LACOSTE, 1988, p. 23). Argumenta que h mudanas que ocorrem muito lentamente, como a topogra a, porm existem outras que ocorrem rapidamente, como por exemplo, as instalaes industriais ou o traado das vias de circulao. Portanto, preciso observar essas alteraes para estabelecer as tticas e estratgias. O conhecimento das alteraes ocorridas em um espao e sua alocao na carta permite que os atores possuidores dos conhecimentos adequados (sobre a confeco e leitura da carta) possam utilizar esses conhecimentos como instrumentos de poder.

    Aponta duas perspectivas presentes no conhecimento geogr co. Uma, constituindo-se em um conjunto de representaes cartogr cas e de conhecimentos variados referentes ao espao, cujo saber percebido e utilizado pelas minorias dirigentes como instrumento de poder, a geografia dos militares. A outra, denominada pelo autor geografia dos professores, tornou-se

    [...] um discurso ideolgico no qual uma das funes inconscientes, a de mascarar a importncia estratgica dos raciocnios centrados no espao. No somente [...] extirpada de prticas polticas e militares como de decises econmicas [...], mas ela dissimula, aos olhos da maioria, a e ccia dos instrumentos de poder que so as anlises espaciais. (LACOSTE, 1988, p. 31).

    A diferena entre essas duas geogra as no consiste na gama de elementos do conhecimento que elas utilizam, pois ambas recorrem a resultados de pesquisas cient cas enumerando relevo, clima, populao, rios, mas em saber para que podem servir esses elementos do conhecimento. Seguindo o seu raciocnio, o autor argumenta que essa perspectiva no a nica que obscurece a percepo de que o saber referente ao espao um temvel instrumento de poder (LACOSTE, p. 34). Vrios pases no incluem nos currculos escolares a disciplina de Geogra a no

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    ensino primrio e secundrio (Estados Unidos e Gr-Bretanha, por exemplo) fazendo com que as massas no estejam conscientes da importncia estratgica das anlises espaciais. No entendimento do autor, existe um outro aspecto que tambm limita a percepo da importncia estratgica dos estudos espaciais:

    Sem dvida, as cartas, os manuais e os testes de geogra a esto longe de ser as nicas formas de representao do espao; a geogra a tambm se tornou espetculo: a representao das paisagens hoje uma inesgotvel fonte de inspirao e no somente para os pintores e sim para um grande nmero de pessoas. Ela invade os lmes, as revistas, os cartazes; quer se trate de procuras estticas ou de publicidade. Nunca se comprou tantos cartes postais. Nem se tiraram tantas fotogra as de paisagens como durante essas frias em que se fez com guias nas mos [...]. A ideologia do turismo faz da geogra a uma das formas de consumo de massa: multides cada vez mais numerosas so tomadas por uma verdadeira vertigem faminta de paisagens, fontes de emoes estticas, mais ou menos codi cadas. A carta, representao formalizada do espao que somente alguns sabem interpretar e sabem utilizar como instrumento de poder, largamente eclipsada no esprito de todos pela fotogra a da paisagem. Esta ltima, segundo os pontos de vista e de acordo com as distncias focais das lentes das objetivas, escamoteia as superfcies, as distncias da carta, para privilegiar silhuetas topogr cas verticais que se recortam, em diagrama, sobre fundo de cu. todo um condicionamento cultural, toda uma impregnao que incita tanto que ns achamos belas paisagens s quais no se prestava nenhuma ateno antes. (LACOSTE, 1988, p. 34).

    Essa difuso de imagens, segundo o autor, consiste em mensagens que mobilizam pessoas para ver determinadas paisagens, entretanto ao mesmo tempo induzem-nas a uma posio de passividade, de contemplao esttica, repelindo mais ainda a ideia de que alguns possam analisar o espao, sob certos mtodos, para estarem em condies de desdobrar novas estratgias para enganar o adversrio, e venc-lo. (LACOSTE, 1988, p. 35).

    Para o autor, tanto a geogra a-espetculo, como a escolar, levam aos mesmos resultados: 1) dissimular a ideia de que o saber geogr co, a partir de certas representaes do espao, pode ser meio de ao e instrumento poltico; 2) impor a ideia de que o que vem da geogra a no deriva de um raciocnio especialmente estratgico, conduzido em funo de jogos polticos, pois faz com que a massa entenda a paisagem apenas como elemento de contemplao e a carta, como mero instrumento das agncias de turismo para traar o itinerrio das viagens. (LACOSTE, 1988).

    Alguns pases, especialmente comunistas, consideram o conhecimento espacial um saber estratgico, que pode colocar em risco sua segurana e por essa razo no utilizam cartas reais para o estudo da geogra a. Porm, demonstra Lacoste (1988),

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    esse fato no impede que outros pases construam cartas precisas de qualquer parte do planeta, pois atualmente, com os satlites isso perfeitamente possvel. Mesmo os pases que liberam a utilizao de cartas detalhadas para estudo, no sofrem qualquer interferncia ou contraposio da sociedade, pois esta no est em condies de compreend-la adequadamente. Nesse sentido, as populaes locais analisam sua situao e tomam determinadas decises a partir do conhecimento parcial da realidade, pois conhecem profundamente o espao por eles habitado, porm, no percebem a escala mais ampla, ou seja, do pas ou global. Assim, cam restritos no entendimento das inter-relaes com elementos existentes em um ambiente mais abrangente e, portanto, em prever possveis movimentaes dos interessados em investir, os quais possuem esse nvel de conhecimento.

    Nesse sentido, denuncia-se os fracassos do planejamento territorial, sem procurar ver em que tais derrotas permitem, efetivamente, frutuosos negcios para as empresas que, numa verdadeira estratgia de movimento, desviam rapidamente seus investimentos para se bene ciarem das numerosas vantagens que lhes so concedidas na instalao de uma fbrica revendida ou liquidada um pouco mais tarde [...](LACOSTE, 1988, p. 40). Continua o autor, alegando que essa estratgia exvel adotada pelas multinacionais transplantada para espaos mais amplos pelos seus dirigentes, investindo e desinvestindo em diversas regies ou estados para tirar o melhor proveito de todas as diferenas (salariais, scais, monetrias) existentes entre os diversos locais. Esse sistema bem analisado, porm, para poder fazer frente a elas, os estudos carecem de uma anlise geogr ca precisa dos mltiplos pontos controlados por essas organizaes, para ser possvel dirigir contra elas aes imbricadas, denunciar bem mais e cazmente suas condutas concretas. O saber geogr co no deve car como apangio dos dirigentes de grandes bancos; ele pode ser voltado contra eles, na condio de prestar ateno s formas de localizao dos fenmenos e cessar de evoc-los abstratamente. (LACOSTE, 1988, p. 40).

    Numa escala que trata dos problemas da cidade, o autor chama a ateno para o despreparo dos habitantes em prever consequncias desastrosas de planos de urbanismo, projetos de reconverso, que lhes afetam diretamente. Em virtude disso, muitos projetos apresentados por municipalidades sofrem pouca ou nenhuma contestao, e, quando isso ocorre, so fceis de dissimular. Nesse sentido, assevera Lacoste (1988, p. 40) [...] as representaes espaciais s tm verdadeiro signi cado para aqueles que sabem l-las, e esses so raros; dessa forma, as pessoas no iro perceber at que ponto foram enganadas, seno aps o trmino dos trabalhos, quando as modi caes se tornarem irreversveis, em boa parte.

    H, segundo Lacoste (1988) uma miopia espacial, e para compreender as suas causas, especialmente porque seu signi cado poltico escapa percepo da maioria das pessoas, torna-se necessrio [...] fazer referncias ao conjunto das prticas sociais e s diversas representaes de espaos que lhe so ligadas (LACOSTE,

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    1988, p. 43). A frmula utilizada, por ele, para demonstrar o problema, foi a anlise da evoluo histrica. Argumenta ele, que quando os homens viviam em aldeias buscando a sua subsistncia, a maior parte de suas prticas se inscrevia em um nico espao limitado, o pedao de terra da sua prpria aldeia e os territrios das aldeias vizinhas na periferia. Alm desse, cavam os espaos pouco conhecidos. Para se expressarem e falar de suas prticas diversas, os homens se referiam, portanto, antigamente, representao de um espao nico que eles conheciam bem concretamente, por experincia pessoal. (LACOSTE, 1988, p. 44).

    Todavia, os chefes guerreiros, reis e mercadores necessitavam representar outros espaos, mais vastos, dominados por eles ou que tencionavam dominar. Para esse contexto a experincia pessoal e a lembrana no eram su cientes. ento que o papel do gegrafo-cartgrafo se torna essencial: ele representa, em diferentes escalas, territrios mais ou menos extensos (LACOSTE, 1988, p. 44). possvel, ento, representar o mundo inteiro em uma escala bem pequena. Para visualizar o domnio de um imprio, a localizao de suas provinciais e os reinos vizinhos, necessria uma carta em escala pequena. Para decidir sobre aes a serem desenvolvidas numa determinada provncia, h necessidade de uma escala maior, pois possibilita dar ordens distncia com relativa preciso.

    Atualmente, com as mudanas havidas devido ao desenvolvimento das trocas, diviso do trabalho, ao crescimento das cidades, os indivduos tm conhecimento concreto de uma pequena parte do espao no qual ocorrem suas prticas sociais.

    As pessoas, cada vez mais diferenciadas pro ssionalmente, so individualmente integradas (sem que elas tomem conhecimento disso) em mltiplas teias de relaes sociais que funcionam sobre distncias mais ou menos amplas. [...] os organizadores e os responsveis por cada uma dessas redes, isto , aqueles que detm os poderes administrativos e nanceiros, tm uma ideia precisa de sua extenso e de sua con gurao. [...] Em contrapartida, na massa dos trabalhadores e dos consumidores, cada qual s tem um conhecimento bem parcial e bastante impreciso das mltiplas redes das quais ele depende e da sua con gurao. (LACOSTE, 1988, p. 45).

    Devido diversi cao das prticas sociais e evoluo dos meios de transportes, aquilo que outrora poderia ser representado atravs de um pequeno nmero de conjuntos espaciais de dimenses relativamente restritas e encaixadas umas nas outras, pois via de regra as pessoas poderiam percorrer a p as distncias para trabalhar, conhecendo cada pedao desse continuo, atualmente requer uma mudana substancial. As pessoas conhecem bem o bairro em que moram e onde trabalham. Mesmo que se desloquem para chegar a seu destino, por estarem num nibus ou trem, detm uma vaga ideia dos territrios por onde passam.

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    No passado vivia-se a vida toda num mesmo lugar, num espao limitado, mas bem conhecido e contnuo. Hoje nossos diferentes papeis se inscrevem cada um em migalhas do espao, entre os quais ns observamos, sobretudo, nossos relgios, quando nos fazem passar, a cada dia, de um a outro papel. [...] Vivemos, a partir do momento atual, numa espacialidade diferencial, feita de uma multiplicidade de representaes espaciais, de dimenses muito diversas, que correspondem a toda uma srie de prticas e de ideias, mais ou menos dissociadas. (LACOSTE, 1988, p. 49 grifo nosso).

    Trs aspectos apontados pelo autor auxiliam a distinguir essas representaes: a) os diferentes deslocamentos que as pessoas realizam, levam-nas a fazer representaes vagas do espao, e correspondem ao plano do bairro e ao dos meios de transporte, carta das aglomeraes onde se fazem os deslocamentos dirios, carta que representa os espaos de deslocamento em viagens de nais de semana e uma menor ainda que representa os grandes eixos rodovirios; b) as con guraes espaciais correspondentes s diferentes redes das quais as pessoas dependem objetivamente mesmo sem o saber, como frisa o autor, dentre elas pode-se citar: redes de tipo administrativo (estado, municpios); a carta escolar que determina onde estudar, o espao de comercializao dos supermercados, rede de liais das empresas, ou grupo nanceiro que controla determinada empresa, cujos conjuntos espaciais no coincidem; c) representaes espaciais oriundas de termos geopolticos disseminados pela mdia, que nos ltimos anos impe uma srie de termos como: Comunidade Econmica Europeia, Mercado Comum do Sul, Grupos dos Sete, Pases Subdesenvolvidos e toda uma gama de paisagens tursticas.

    Essas representaes, frequentemente bem imprecisas, mas que so mais ou menos familiares proliferam na medida em que os fenmenos relacionais de todas as espcies se multiplicam e se ampliam e que a vida moderna se propaga na superfcie do globo. O desenvolvimento desse processo de espacializao diferencial se traduz por essa proliferao das representaes espaciais, pela multiplicao das preocupaes concernentes ao espao (nem que seja por causa da multiplicao dos deslocamentos). Mas esse espao do qual todo mundo fala, ao qual nos referimos todo tempo, cada vez mais difcil de apreender globalmente para se perceber suas relaes com uma prtica global. (LACOSTE, 1988, p. 50).

    Em razo dessas di culdades de apreenso, muitas informaes permanecem ocultas, pois apenas so conhecidas pelos indivduos que fazem parte de certas esferas do poder. Portanto, as relaes entre as estruturas de poder e as formas de organizao espacial permanecem mascaradas, em grande parte para todos os que no esto no poder. Para ter clareza desses aspectos, mais do que tentar furar o segredo que cerca certas informaes e que se revestem de interesses conjunturais, a m de obter preciso dos dados, preciso dispor de mtodos que permitam organizar

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    uma massa confusa de informaes parciais, que so em sua maioria acessveis, mas para compreend-las preciso lhes dar a devida ateno. (LACOSTE, 1988).

    A impregnao da cultura social por um amontoado de representaes espaciais heterclitas faz com que o espao se torne cada vez mais difcil de ser ali reconhecido, mas tambm cada vez mais necessrio, pois as prticas espaciais tm um peso sempre maior na sociedade e na vida de cada um. O desenvolvimento do processo de espacialidade diferencial acarretar, necessariamente, cedo ou tarde, a evoluo, em nvel coletivo, de um saber pensar o espao, isto , a familiarizao de cada um com um instrumento conceitual que permita articular, em funo de diversas prticas, as mltiplas con guraes espaciais que so convenientes distinguir, quaisquer que sejam sua con gurao e sua escala, de maneira a dispor de um instrumental de ao e de re exo. (LACOSTE, 1988, p.53).

    Para exempli car a incapacidade coletiva para construir um raciocnio um pouco mais complexo, um pouco menos ligado ao concreto, o autor se refere a uma situao cotidiana da sociedade de consumo, e que est estreitamente ligada, segundo ele, espaciali