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ORI CANDOMBLÉ Orí o olho por onde eu vejo deus é mesmo olho por onde ele me vê Ao som do meu coração tambor fui conduzido ao salão que rodava entre panos brancos e cheiro de vida, a cabeça baixa. Eu já não era, eu tinha me tornado. Tinha passado por dias que não se contavam cronologicamente. Apoiei o medo do desconhecido, apoiei minha cabeça raspada e cuidadosamente pintada. Eu era conduzido sob olhares cuidadosos delas. Ao ritmo do adarrum. Eu tinha nascido e definitivament e e meu corpo tinha se tonado um templo de um deus, meu corpo já não era. Ele: o corpo tinha sentindo a água fria, o sangue quente e as minhas lagrimas salgadas. Eu tinha um deus que deixava meu corpo vibrante, eu tinha um orgulho de rei. Não existia duvida. Tinha ritmo. Tinha vida. Ouvi o paó que rompia a madrugada, Ouvi o som do adjá, ouvi o bater forte do coração, meu mundo se fazia ali presente, e tudo girava, ele me conduzia por uma dança ao comando severo do som de um coração. Era preciso se apresentar, tornar publico aquele momento. Era preciso dizer o que já não era mais segredo. Atentos todos olhavam, todos queriam nos conhecer. Sobre mim repousam homens. Sobre mim repousam deuses. Era preciso dizer o meu nome, mas o meu nome já não era. Nesse dia eu tinha nome de rei

Ori Candomblé

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Ori Cabeça

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ORI CANDOMBLÉOrí o olho por onde eu vejo deus é mesmo olho por onde ele me vê

Ao som do meu coração tambor fui conduzido ao salão que rodava entre panos brancos e cheiro de vida, a cabeça baixa. Eu já não era, eu tinha me tornado. Tinha passado por dias que não se contavam cronologicamente. Apoiei o medo do desconhecido, apoiei minha cabeça raspada e cuidadosamente pintada. Eu era conduzido sob olhares cuidadosos delas. Ao ritmo do adarrum. Eu tinha nascido e definitivamente e meu corpo tinha se tonado um templo de um deus, meu corpo já não era. Ele: o corpo tinha sentindo a água fria, o sangue quente e as minhas lagrimas salgadas. Eu tinha um deus que deixava meu corpo vibrante, eu tinha um orgulho de rei. Não existia duvida. Tinha ritmo. Tinha vida. Ouvi o paó que rompia a madrugada, Ouvi o som do adjá, ouvi o bater forte do coração, meu mundo se fazia ali presente, e tudo girava, ele me conduzia por uma dança ao comando severo do som de um coração. Era preciso se apresentar, tornar publico aquele momento. Era preciso dizer o que já não era mais segredo. Atentos todos olhavam, todos queriam nos conhecer. Sobre mim repousam homens. Sobre mim repousam deuses. Era preciso dizer o meu nome, mas o meu nome já não era. Nesse dia eu tinha nome de rei