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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2016. 6. 10. · Para Santos (1985), há uma relação entre a sociedade e um conjunto de formas materiais e culturais. O espaço

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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ANÁLISE DA PAISAGEM LOCAL ATRAVÉS DA LEITURA DE IMAGENS.

Autora: Maria Joana Franco Andrade¹

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando de Carli Lautert²

Resumo

O presente artigo é resultado do plano de intervenção pedagógica, do projeto PDE, Programa de Desenvolvimento Educacional, desenvolvido no Colégio Estadual Prof. Paulo Freire, no município de Pontal do Paraná, Paraná, com os alunos do 1º Ano noturno. A intenção foi analisar as transformações ocorridas na paisagem local. A unidade didática produzida e implementada no colégio objetivou promover atividades pedagógicas que proporcionassem a reflexão das transformações que ocorrem na paisagem do município. A implementação teve como tema de estudos “Análise da paisagem local através da leitura de imagens”. Desta forma promoveu-se discussões sobre a importância da imagem como recurso metodológico para a aprendizagem dos conteúdos de geografia. Desenvolveu-se leituras de imagens antigas e atuais sendo na forma de mapas e fotografias e, textos.

Palavras-chave: Imagens, paisagem local, geografia.

abstract This article is the result of the educational intervention plan, the PDE, Educational Development Program project, developed in the State College Professor Paulo Freire, in the municipality of Depth of Paraná, Paraná, with students from 1st Year night. The intention was to analyze the changes occurring in the local landscape. The teaching unit produced and implemented at the school aimed to promote educational activities that would provide a reflection of the changes taking place in the landscape of the county. The implementation of the theme study "Analysis of the local landscape by reading images." Thus was promoted discussions on the importance of the image as a methodological resource for learning the content of geography. Developed readings of past and present images and texts.

Keywords: stock photos, local landscape, geography.

¹Professora de Geografia da rede Estadual de Educação participante do PDE 2013.

²Professor-Doutor da Universidade Federal do Paraná.

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, promovido pelo Governo do Estado do Paraná, estabelecendo um contato entre professores do ensino superior e professores de escolas públicas do Estado, através de atividades teórico-práticas orientadas.

Foi realizado um projeto de pesquisa e produção didático para a implementação na escola.

Após a elaboração do projeto iniciou-se a pesquisa com dados históricos do município, mapas indicando a sua localização no Estado, região e país, fotografias antigas e atuais que mostram os balneários que pertenciam ao município de Paranaguá até se transformar no município de Pontal do Paraná, e, todo desenvolvimento e transformação do lugar.

Conforme as DCES – Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, o objeto de estudo da disciplina de Geografia, é o estudo do espaço geográfico, produzido e reproduzido continuamente pela sociedade, composto por fatos sociais, naturais, econômicos e culturais. Assim, estudar geografia, proporciona melhor compreensão do mundo, fazendo uma relação entre o espaço local, regional e global.

Entende-se que, para a formação de um aluno consciente das relações sócio espaciais de seu tempo, o ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, construtivas de um determinado espaço. DCES de Geografia, 2008).

O uso de imagens não animadas (fotografias, slides, postais, entre outras) como recurso didático, pode auxiliar o trabalho com a formação de conceitos geográficos, diferenciando paisagem de espaço e, dependendo da abordagem dada ao conteúdo, desenvolver os conceitos de região, território e lugar. Para isso, a imagem será ponto de partida para atividades de sua observação e descrição. (DCES de Geografia, 2008).

Para Santos (1985), há uma relação entre a sociedade e um conjunto de formas materiais e culturais. O espaço pode ser entendido como um produto social em permanente transformação, ou seja, sempre que a sociedade sofre mudanças, as formas (objetos geográficos) assumem novas funções. Novos elementos, novas técnicas são incorporados à paisagem e ao espaço, demonstrando a dinâmica social. Os objetos construídos sobre o espaço são datados e vão incorporando novas tecnologias e novas formas de produzir.

Sabe-se da preocupação dos professores em relação a aprendizagem, observando alunos desmotivados e falta de interesse pelas aulas, principalmente alunos do ensino médio noturno que já estão no mercado de trabalho, chegam à escola cansados e nesse sentido acham a escola pouco atrativa.

A preocupação em tentar melhorar o ensino de geografia, buscando alternativas metodológicas e didáticas, explorando mais os recursos tecnológicos que chamam tanto a atenção do educando e que podem contribuir para motivar a aprendizagem. Trabalhar

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aquilo que está mais próximo, tornando assim os conteúdos das aulas geografia mais prazerosos, onde professores e alunos juntos adquiram conhecimentos buscando a compreensão do espaço em que vivem e onde é possível maior participação, através de aulas de campos é possível aproximar o aluno de sua realidade comparando com o conteúdo dos livros didáticos.

Consta nas DCES, que a aula de campo é um importante encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo.

A aula de campo abre, ainda, possibilidades de desenvolver múltiplas atividades práticas, tais como: consultas bibliográficas, análise de fotos antigas, interpretação de mapas, etc. (NIDELCOFF, 1986).

O lugar se mostra através da paisagem, e esta é resultado do processo de construção do espaço. A paisagem parte da percepção de quem a vê e de suas concepções ligadas à cultura, com o objetivo de demarcar formas e composição ao visualizarmos a superfície da Terra” (COSGROVE, 1998).

Dessa forma, reforço a importância de traçar um caminho que perceba a paisagem geográfica como processo de criação de um momento, fruto de interesses e de apreensões de diferentes atores, que reflete em uma multiplicidade de significados, na medida em que representa leituras individuais de diferentes grupos sociais.

Todos os momentos de construção do conhecimento precisam ser analisados, sendo valorizado para incentivar a participação dos alunos em todo esse processo de aprendizagem.

A análise da paisagem tem sentido quando o aluno passa a vê-la como um espaço transformado. Dentro de um contexto social, histórico-cultural, o homem ali presente, ele o transformou. Cabe à disciplina de geografia fazer estudo e a análise dessa realidade, contemporizando uma análise do espaço a partir da visão homem-mundo. (REGO seus colaboradores, 2007, p.146).

Para Cavalcanti (2010, p.34), mais do que conteúdos, é necessário , também, ensinar-lhes modos de pensamento e ação, ou seja, por meio de atividades proporcionadas nas aulas por meio do trabalho com os conteúdos, os professores devem propiciar o desenvolvimento de certas capacidades e habilidades, tais como, uma atitude indagadora diante da realidade que se observa e se vive cotidianamente; uma capacidade de análise da realidade, de fatos e fenômenos, em um contexto sócio espacial; uma compreensão de que os fenômenos, os processos e a própria geografia são históricos.

Para Rego, (2007, p.144) a descoberta do que nos envolve no nosso cotidiano, sem dúvida, passa por um exercício de olhar à nossa volta. Olhar e perceber o entorno nos conduz a refletir sobre ele, nos enxergando como sujeitos ativos para, dessa forma, poder também transformá-lo.

A geografia local apresenta-se como tema intimamente ligado a identidade do educando e deste com o espaço geográfico onde vive e tem oportunidade de observar diariamente as transformações preservando, valorizando seu espaço.

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O estudo do lugar passa a ser uma ferramenta na medida em que queremos que o aluno passe a compreender e a pensar a partir da decodificação do seu próprio espaço. Entender as relações entre os diferentes atores e destes com a natureza é potencializar, também, a possibilidade de se ver dentro da realidade e de ser sujeito. (REGO seus colaboradores, 2007, p.145).

Para desenvolver um cidadão participativo, crítico e comprometido com os valores, faz-se necessário transformar a geografia num conhecimento que tenha como objetivo desenvolver o interesse em preservar o lugar onde o educando está inserido, colaborando assim para a conservação dessa paisagem linda que é o litoral paranaense.

A proposta elaborada e aplicada na escola tem como objetivo promover metodologias diferenciadas que consiste em uma maneira crítica para os conteúdos de geografia.

Este trabalho também envolveu outros professores da rede pública de ensino de várias regiões do Paraná, através do GTR – Grupo de Trabalho em Rede, tiveram contato com o projeto, analisaram o material didático e as ações de implementação. Houve a troca de experiências e reflexões sobre o estudo realizado.

Este artigo é a fase final da proposta, descrevendo como se desenvolveu a implementação pedagógica na escola.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico, entendido como o espaço produzido e apropriado pela sociedade (LEBREVE, 1974), composto pela inter-relação entre sistemas de objetos – naturais, culturais e técnicos – e sistemas de ações – relações sociais, culturais, políticas e econômicas (SANTOS, 1996).

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. (SANTOS, 1996, p.51).

O espaço geográfico é entendido como interdependente do sujeito que o constrói. Trata-se de uma abordagem que não nega o sujeito do conhecimento nem supervaloriza o objeto, mas antes, estabelece uma relação entre eles, entendendo-os como dois polos no processo do conhecimento. Assim, o sujeito torna-se presente no discurso geográfico (SILVA, 1999).

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A espacialização dos fatos, dinâmicas e processos geográficos, bem como a explicação das localizações relacionais dos eventos em estudo são próprias da análise geográfica da realidade, surgem então perguntas que orientam o pensamento geográfico: onde? Como é este lugar? Por que este lugar é assim? Por que as coisas estão dispostas desta maneira no espaço geográfico? Quais as consequências deste ordenamento espacial?

Para responder essas questões, conforme a concepção de espaço geográfico é, necessário compreender a intencionalidade dos sujeitos (ações) que levou às escolhas das localizações, as relações históricas, culturais, econômicas.

A geografia pode ser útil no desenvolvimento da inteligência espacial quando o professor estimula a observação de imagens, como, por exemplo, da paisagem de uma cidade, e descreve as características urbanas ajudando o aluno a manipular mentalmente como seria essa imagem vista por ângulos diferentes. (CAVALVANTE; ARCHELA; GRATÃO, p 86, vol. IV).

Segundo Cavalcanti (2005), para analisar a paisagem e atingir o significado de espaço é necessário que os alunos compreendam que a paisagem atende a funções sociais diferentes, é heterogênea, porque é um conjunto de objetos com diferentes datações e está em constante processo de mudança. Portanto, a análise pedagógica da paisagem deve ser no sentido de sua aproximação do real estudado, por meio de diferentes linguagens.

Um dos objetivos da linguagem visual, é a memorização da informação comunicada. Sabemos que a capacidade de memorização humana imediata é limitada, por isso é interessante criar meios que facilitem o processo mental de memorização que permitam uma assimilação rápida das informações, e a separação entre o essencial e o detalhe. (ARCHELA - 1995).

Sobre a linguagem visual, alguns estudos afirmam que aprendemos 83% pela visão.

O trabalho com imagens em geografia é tão importante quanto o trabalho com mapas, e ambos, geralmente, são pouco usados. Desde fotografias que mostram paisagens, que não sofreram ação de seres humanos, até as que representam obras feitas por eles – como prédios, plantações, fábricas, favelas, meios de transportes, máquinas -, todas podem ser interpretadas pela geografia.

A utilização de uma imagem pode variar no tempo, dependendo do contexto histórico, cultural e geográfico. É preciso considerar também, o caráter relativo em relação a um momento, um meio, um dado espaço, leis e regras enunciadas. (Rosely Sampaio, ARCHELA, 1999, p.5).

A representação pictórica tem uma grande importância como instrumento de ensino, pois pode facilitar a aprendizagem e reforçar a retenção, dado que:

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[...] os estímulos visuais melhoram o ensino, pois tornam mais claros os conceitos que os professores estão explicando, e proporcionam aos alunos os meios visuais para compreenderem e comunicarem o que aprenderam. (CAMPBELL, L.; CAMPBELL, B.; DICKNSON, 2000, p.105).

No desenvolvimento do estudo da imagem, Lynch, na década de 1960, estuda a imagem mental que os cidadãos possuem da cidade, criando um método de investigação da qualidade desse ambiente visual, sob uma ótica urbanista.

Segundo KELLNER (1995, p,109):

Ler imagens criticamente implica aprender como apreciar decodificar e interpretar imagens, analisando tanto a forma como elas são construídas e operam em nossas vidas quanto os conteúdos que elas comunicam em situações concretas.

[...] desconstruir óbvio, tomando aquilo que é familiar e tornando-o estranho e não familiar e, assim, fazendo com que prestemos atenção à forma como nossa linguagem, experiência e comportamento são socialmente construídos, sendo, pois, constrangidos, sobre determinados e convencionais, estando ao mesmo tempo sujeitos à mudança e à transformação.

É importante salientar que as pessoas, em geral, consideram essa geração como a “geração da imagem”, e o mundo das imagens é um mundo sedutor. Não há, portanto, como negar seu uso, seja através da televisão, do computador ou das artes no processo de ensino-aprendizagem. O que não podemos é deixar que nossos alunos tenham uma postura passiva e simplesmente absorvam tudo da forma como veem. Nesse caso, o papel do professor é levar o aluno a desenvolver um censo critico diante das informações que recebe. (Ana Clarissa, p.116).

A formação da imagem do ambiente é um processo recíproco entre o observador e o objeto. “O organismo humano é altamente adaptável e flexível e grupos diferentes podem ter imagens essencialmente diferentes da mesma realidade exterior. [...] Cada grupo humano pode distinguir as partes da paisagem, pode aperceber-se delas e dar significado a pormenores significativos”. (Ana Clarissa, p.44).

A geografia que o aluno estuda deve permitir que ele se perceba como participante do espaço que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento. O aluno deve estar dentro daquilo que está estudando e não fora, deslocado e ausente daquele espaço. (CALLAI, 1998).

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Este é um desafio que temos: fazer da geografia uma disciplina interessante, que tenha a ver com a vida e não apenas com dados e informações que pareçam distantes da realidade e na qual se possa compreender o espaço construído pela sociedade, como resultado da interligação entre o espaço natural, com todas as suas regras e leis, com o espaço transformado constantemente pelo homem.

Um aluno que sabe compreender a realidade em que vive, que consegue perceber que o espaço é construído, e que nesse processo de produção do espaço local e do espaço regional consegue perceber que todos os homens, que a sociedade é responsável por este espaço, conseguirá estudar questões e espaços mais distantes e compreender, indo além do aprender por que o professor quer. Ao construir o seu conhecimento estará aproveitando os conteúdos de geografia para ser um cidadão no sentido pleno da palavra. (CALLAI, 1998).

A visualização-leitura de mapas é uma necessidade constante. É necessária sua utilização constante para que os alunos possam ver do que falamos. Explorar os mapas, bem como fotos e imagens, é uma matéria prima fundamental para o estudo de geografia.

A geografia é feita do dia a dia, seja através da construção de uma casa, de plantação de uma lavoura ou através das decisões governamentais ou dos grandes grupos econômicos ou ainda, em nossas andanças/ ações individuais pela cidade.

A linguagem visual nos é apresentada diariamente, no caminho do trabalho, da escola, do lazer. As imagens em especial, são muito exploradas por apresentarem cores, formas, expressões. Por isso não podemos ignorar a importância da imagem no processo educacional.

Segundo Ana Clarissa, (2009, p.44) na ciência geográfica, sob a ótica da percepção, a categoria de paisagem adquire relevância à medida que é percebida, na geografia escolar é a partir dessa percepção, subjetiva e significativa para o aluno, que o processo de aprendizagem será construído. Daí a importância das aulas de campo. O estudo do espaço e das paisagens pode ser realizado em sala de aula através do uso de imagens (fotografias, pintura, etc.). No campo, porém, o ser humano, dotado de sentidos, capta as informações usando outros sensores, além da visão. O aluno pode ver, cheirar, tocar, ouvir.

O aluno, ao sair do espaço escolar, cria expectativas de prazer e de interação sobre o que irá vivenciar. A postura dele não é só de observador, mas também de questionador. Ele se surpreende na sua vivência, torna-se um grande agente ativo na construção do seu conhecimento. Rego, CASTROGIOVANNI, KAERCHER & cols.2007, p.140).

Para Mori (2000, p.52) expõe que “a ideia de sujeito, um indivíduo-sujeito, é a possibilidade de poder estar no centro de seu mundo para considerar seu mundo e a si mesmo”. Dentro dessa perspectiva, a vivência provocaria no aluno uma aproximação ao “saber se ver” na medida em que potencializa uma reflexão da sua realidade e dos significados construídos por ele ao longo da sua vida, no seu espaço.

O estudo do lugar, concebido como expressão das relações no campo objetivo e subjetivo, é destacado por Santos (1996, p.252) como

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Intermediário entre o Mundo e o indivíduo. Cada lugar é a sua maneira o mundo. Mas também cada lugar, irrecusavelmente imerso numa comunhão com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais. A uma maior globalidade, corresponde uma maior individualidade. [...] Impõe-se, ao mesmo tempo, a necessidade de, revisitando o lugar no mundo atual, encontrar os seus novos significados. Uma possibilidade nos é dada através da consideração do cotidiano.

A tradução de um determinado espaço com seus costumes, seus valores, sua historicidade forma um conjunto, uma identidade. É o passar histórico, o registro da convivência do passado que deixará suas marcas em uma nova tradução do agora. A leitura desse lugar é um exercício em que se considera o desenvolvimento da capacidade e da sensibilidade de traduzir essa “bagagem”, tradução geográfica da paisagem, que o lugar carrega, e de poder remetê-la a uma reflexão do lugar ao qual pertencemos.

A educação desta forma proporciona o caminho da autonomia, que engloba e estimula o pensamento, a criatividade, a trajetória de ler o local e perceber o global, da contextualização da experiência do indivíduo integrada ao todo.

IMPLEMENTAÇÃO

A implementação do projeto ocorreu no primeiro semestre de 2014 e envolveu os alunos do 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Prof. Paulo Freire.

Seguindo as ações planejadas na Unidade Didática elaborada para este trabalho, o tema para introdução foi a leitura de texto destacando a história do município, desde quando ainda pertencia ao município de Paranaguá até se transformar no município de Pontal do Paraná.

Na segunda atividade os alunos responderam a um questionário: local de nascimento, lugares mais frequentados no município, como é para o jovem morar em um município onde uma das principais atividades econômicas é o turismo e localização do balneário onde mora.

A maioria dos alunos dessa turma não são nascidos em Pontal do Paraná. Em relação aos lugares que frequentam, fora da temporada a maioria reclama da falta de opção de lazer para o adolescente e para o jovem porque os lugares que existem, no lazer noturno, é proibido a entrada de menores. Faltam lugares para praticarem esportes, tendo apenas a praia e alguns campos, sem muita infraestrutura, para jogar bola. Restando então a praia para quem pratica o surf. Em relação ao mercado de trabalho uma das opções é trabalhar no comércio local mas somente no período da

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temporada onde poucos conseguem ser contratados para permanecerem na empresa. Também destacaram a necessidade de cursos para aperfeiçoamento do trabalhador e, tão importante para os jovens que querem iniciar no mercado de trabalho.

A partir desse questionamento, foi possível observar como é para o jovem, viver em um município onde o maior fluxo de pessoas e atividades ocorrem no período de temporada, ou seja, no verão, é o turismo de temporada, onde têm mais opções de lazer.

Na terceira atividade, iniciou-se o trabalho com mapas, de Pontal do Paraná e seus bairros, os alunos puderam identificar o balneário onde moram e fazer um croqui localizando com detalhes o lugar onde moram.

Ainda trabalhando com mapas, fizeram a localização do município no litoral paranaense assim como a observação dos limites com os demais municípios e, no Estado do Paraná e no Brasil.

Resultados

Na quarta atividade, fizeram a leitura de um texto, vamos andar para ver, que fala da paisagem estética e da paisagem para a disciplina de geografia, logo em seguida saíram para a aula de campo, onde tiveram toda liberdade para fotografar tudo que fosse interessante para eles, sem a interferência da professora. Foram detalhistas ao fotografar e ao fazer o relatório.

Fotos 1 e 2 - – drenagem da restinga Foto 3 - vila de pescadores

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Foto 4 – placa de alerta Foto 5 Foto 6

Mantenha a praia limpa Animais na praia Quadra de esportes

Fotos 7 ,8 e 9 – Espaço de lazer – calçadão em Praia de Leste

Fotos 10 e 11 – lixeiras - lixo orgânico e reciclável

Fotos 12 e 13 - Placas de alerta – preservação da natureza

No relatório destacaram a importância de manter a praia limpa, o calçadão e todas as ruas. Comentaram que isso não acontece no período de temporada apesar da

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prefeitura contratar pessoas para trabalhar na limpeza durante o esse período. Existem lixeiras, placas alertado em relação aos cuidados com a limpeza e preservação do local. Destacaram também os lugares onde os turistas procuram para se divertir. Alguns desses lugares são ambientes fechados, fotografaram e comentaram a importância de cumprir com a lei federal que exige um número específico de pessoas. Destacaram também a preocupação com a quantidade de animais passeando na praia, que infelizmente alguns são abandonados, crescendo assim o problema de abandono de animais na temporada. A importância de manter o ambiente saudável para os banhistas e para as pessoas que praticam caminhadas, esporte na areia.

Para que o lugar se mantenha agradável é importante a participação da população local preservando o ambiente e também a colaboração dos turistas.

As fotos apresentadas foram tiradas depois da temporada porque a implementação na escola aconteceu no retorno as aulas, por isso, não mostram todo lixo deixado na praia e calçadão.

Na quinta atividade, em sala de aula os alunos observaram fotografias antigas desde a chegada do padre que rezou a primeira missa no balneário de Ipanema no final dos anos 60, onde colocaram uma cruz para demarcar espaço e, atualmente, está localizada a igreja católica, conservando ali a primeira cruz.

Fotografias dos anos 80, que mostravam os carros invadindo o espaço da praia e, que atualmente é proibido, é espaço restrito para as pessoas. Foi analisado também a conservação da restinga, mas, em outros lugares o quanto já foi retirada a vegetação nativa para dar espaço a residências ruas e comércio.

Fotos 14 e 15 – Balneário de Ipanema – Capela Igreja Católica - final dos anos 1960

Foto 16 – Balneário de Ipanema – Igreja Católica – 2014

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Fotos 17 e 18 - Praia de Leste – anos 1970 e 1980

Acervo Histórico da Secretaria de Turismo de Pontal do Paraná

Fotos 19 e 20 – Praia de Leste 2014

Fotos 21 e 22 – Praia de Leste 2014

Ao observarem as fotografias antigas e atuais, os alunos concluíram que a vegetação dá um aspecto bonito e saudável para uma região natural que ainda preserva parte da vegetação nativa. A restinga colabora para que a areia não avance até a orla. Também o acúmulo de carros invadindo a areia deixava o lugar perigoso para os banhistas.

Ao analisarem as fotos que mostram o final dos anos 60 em que ocorreu a construção da capela e a cruz que conservam até hoje próxima a atual igreja católica, os alunos citaram a realidade atual relacionada a religião local, ou seja, a quantidade de igrejas evangélicas que existem no município.

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Ao concluírem a análise das imagens os alunos chegaram à conclusão que o desenvolvimento acelerado no município é importante, tem o lado bom pois oferece emprego aos moradores, trazendo mais opções de comércio, escolas, universidade, centro de saúde mas, é necessário também pensar na preservação do ambiente, preservar a beleza natural e a tranquilidade em um município bastante procurado por idosos que encontram aqui clima favorável.

Também a contribuição no GTR – Grupo de Trabalho em Rede, como tema uso de imagens locais para o estudo da paisagem, os professores num total de 17 participantes contribuíram nas discussões sobre a implementação pedagógica com opiniões bastante significativas para o artigo.

Atualmente, vivemos uma fase na qual o desenvolvimento tecnológico nos possibilita realizar atividades onde é possível observar diferentes ângulos de uma paisagem, ou seja, identificar uma rua, que no passado era uma formação vegetal, mata nativa e, que o desenvolvimento acabou mudando totalmente.

No que diz respeito às tecnologias informacionais encontramos dispositivos que permitem a comunicação, contato visual e observação do lugar como era há dez anos atrás comparando com o momento atual.

Quando questionados, se o uso de imagens pode auxiliar o trabalho na formação de conceitos geográficos para facilitar a aprendizagem argumentaram:

A professora “A” relatou:

A educação vem passando por várias transformações quanto aos recursos e metodologias adotadas em sala de aula. O desafio maior da Geografia é conseguir transmitir seus conteúdos de forma interativa e interessante, adaptando-se as inovações tecnológicas.

A professora “B” explanou:

“A análise de imagens no estudo da Geografia permite ao aluno relacionar o antigo e o moderno, identificando quais elementos políticos, culturais, sociais estão presentes na transformação do espaço. Toda e qualquer metodologia inovadora, que auxilie o educando na construção de seus conhecimentos é sempre salutar, e o uso de imagens como se propõe este projeto vem de encontro ao “gosto” dos alunos, pois os mesmos vão participar efetivamente do processo, através de recursos tecnológicos tão presentes no seu meio: celular, tablete”.

A professora “C” escreveu:

“Trabalhar a imagem local, possibilita ao educando conhecer a história do espaço que ocupa para entender esse espaço hoje”.

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A professora “D” completou:

“Considerando que através de um texto ligado às imagens podemos aprender muito mais do que somente lendo, isto já é uma grande justificativa para se trabalhar com este valioso recurso”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurando observar o conhecimento dos alunos do Colégio Estadual Prof. Paulo Freire sobre o município de Pontal do Paraná, foram selecionadas atividades pedagógicas que proporcionassem uma reflexão sobre as transformações que ocorreram no local nas últimas décadas do século XX e neste início de século XXI.

Os livros didáticos não trazem informações sobre o local onde residem os alunos, assim, este assunto é pouco estudado.

Todos os momentos de construção do conhecimento precisam ser analisados, sendo valorizado para incentivar a participação dos alunos em todo processo de aprendizagem.

Para desenvolver um cidadão participativo, crítico e comprometido com os valores, faz-se necessário transformar a Geografia em um conhecimento que tenha como objetivo desenvolver o interesse em preservar o lugar onde o educando está inserido, colaborando assim para a conservação dessa paisagem linda que é o litoral paranaense.

Quando os alunos do ensino médio, estudam o conteúdo básico, a formação e transformação das paisagens faz-se necessário uma leitura do espaço local, vivido por eles, analisando elementos da cartografia – mapas, tabelas e imagens, neste sentido imagens locais, do espaço geográfico onde está inserido e, compreenda a formação natural e transformações da paisagem pela ação humana.

O estudo de Geografia de maneira geral está bastante ligado a imagem seja na forma de mapas, fotografias, desenhos, gráficos. Ao observar, analisar e avaliar a paisagem onde o aluno está inserido, e, que faz parte do seu dia a dia, é fácil assimilar os conteúdos porque vai observar detalhes como uma rua que foi asfaltada, a vegetação que foi retirada para dar espaço para construção de um edifício, um local onde foi realizado um projeto de arborização. Dessa forma as aulas se tornam mais atrativas.

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