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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
RESOLVENDO PROBLEMAS NO COTIDIANO DO
ALUNO – ORÇAMENTO FAMILIAR
Marilza Dudek Lunelli1 Sandro Aparecido dos Santos2
RESUMO: Este artigo compreende o resultado da aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica “Resolvendo problemas no cotidiano do aluno – orçamento familiar”, implementado no Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho E.F.M., no município de Laranjeiras do Sul, Paraná. Desenvolveram-se estratégias de ensino no intuito de facilitar aos alunos a resolução de problemas, através de métodos e técnicas proporcionando a superação das dificuldades apresentadas na interpretação e resolução de problemas matemáticos, relacionados ao orçamento familiar. A problemática que motivou o estudo centra-se na seguinte inquietação: Será a resolução de problemas referente ao orçamento familiar uma estratégia metodológica ideal para proporcionar um melhor desenvolvimento das aulas de Matemática de modo que as dificuldades dos alunos, tanto na interpretação quanto na aplicação de cálculos seja superada? A realização do estudo justifica-se pela importância em propor atividades periódicas que permitam ao aluno aprender a pensar, desenvolvendo e ampliando a habilidade de raciocínio. Na análise sobre a realização das atividades, constatou-se a valorização do ensino de Matemática articulado à vivência dos alunos, efetivando assim uma aprendizagem participativa, significativa e crítica, auxiliando o estudante na aquisição de sua autonomia diante da sociedade. Palavras-chave: Matemática. Alunos. Resolução de problemas. Orçamento familiar.
1 INTRODUÇÃO
A prática de resolução de problemas incentiva a criatividade, desperta o
senso crítico, torna a aprendizagem mais prazerosa e significativa, aguça o interesse
em resolver desafios propostos pelo professor em sala de aula ou pelos colegas que
integram o mesmo grupo.
As situações-problemas podem ser desenvolvidas e trabalhadas de modo a
fortalecer o trabalho em equipe e a vida em sociedade, respeitando os diferentes
modos de pensar matematicamente, uma vez que não há um único método ou uma
única receita para chegar à solução exata das situações propostas, sejam através de
situações reais ou aquelas trazidas pelos livros didáticos.
1 Professora Estatutária da Rede Pública Estadual do Paraná, lotada no Colégio Estadual José
Marcondes Sobrinho E.F.M. Graduada pela Faculdades Integradas de Palmas - FACIPAL Curso de Ciências, Licenciatura Plena com Habilitação em Matemática, Biologia, Química e Especialização em Educação em Pedagogia Escolar, com concentração em Pedagogia Escolar: Supervisão, e Administração, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). 2 Professor Adjunto do Departamento de Física da UNICENTRO. Doutor em Ensino de Ciências pela
Universidade de Burgos - Espanha. Vice Coordenador do Programa de Pós-Graduação - Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Naturais e Matemática.
O presente artigo é resultado da aplicação de um projeto de intervenção
pedagógica que teve como base o Ensino da Matemática através de uma proposta
voltada para a resolução de problemas, incluindo algumas situações reais que
facilitaram a interpretação e a aplicação de cálculos propostos pelos conteúdos
estruturantes do 6º ano do Ensino Fundamental, cuja intenção foi proporcionar aos
22 alunos, uma aprendizagem significativa, utilizando uma abordagem integradora a
partir do uso da resolução de problemas do orçamento familiar. A proposta foi
desenvolvida em 36 aulas no Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho, no
município de Laranjeiras do Sul - PR.
Para que o aluno se aproprie dos conhecimentos é necessário que estes
sejam selecionados e propostos de forma significativa, o que exige a compreensão e
a vivência de conceitos que estejam relacionados às experiências adquiridas nos
anos anteriores de estudo e também das vivências pessoais, permitindo a
formulação de problemas interessantes que incentivem o aprender, contribuindo
para a formação do cidadão, promovendo modificações de comportamento bem
como a utilização do que foi aprendido em diferentes situações.
Dante (1991) destaca que é possível por meio da resolução de problemas,
desenvolver no aluno iniciativa, espírito explorador, criatividade, interdependência e
habilidade de elaborar um raciocínio lógico e fazer uso inteligente e eficaz dos
recursos disponíveis, para que ele possa propor boas soluções às questões que
surgem no dia a dia, na escola ou fora dela.
Em todas as classes sociais o modo de gastar o dinheiro dá origem a muitas
disputas. Portanto, a família deve ter em mente quais são os elementos básicos que
norteiam de forma prudente as compras, gastos e economias a serem feitas. Saber
comprar é provavelmente uma das capacidades mais difíceis e que toma grande
parte do nosso tempo, ao passo que também nos proporciona satisfação.
É importante salientar, que a todo instante somos tentados pelas
propagandas, muitas vezes enganosas e que nos levam a escravidão do
consumismo desenfreado. A administração financeira equilibrada, onde não se gasta
além do que se ganha, exige um planejamento das despesas da família.
No intuito de sensibilizar os estudantes para esta questão, utilizaram-se
atividades simples, lúdicas e educativas relacionadas com o cotidiano familiar dos
estudantes abordando o tema sobre orçamento familiar, educação financeira e
consumo consciente.
A natureza metodológica desta pesquisa é de caráter qualitativo, o qual se
caracteriza pelos seus atributos e relaciona aspectos não somente mensuráveis,
mas também definidos descritivamente.
A proposta envolveu inúmeras atividades como: Pré-teste, atividade
investigativa e motivadora, leitura do texto “Orçamento”, apresentação artística e
dramatizadora e exposição no mural da escola, as despesas da família, passeio no
mercado, catálogo de pesquisa de preços, livrinho de situações problemas e suas
resoluções, compra livre, supermercado virtual e pós-teste.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Matemática compreende a ciência que estuda todas as relações e
interdependências quantitativas entre grandezas, comportando um vasto campo de
teorias, modelos e procedimentos de análise, metodologias próprias de pesquisas,
formas de coletar e interpretar dados. Em seu papel formativo a disciplina contribui
para o desenvolvimento do pensamento e aquisição de atitudes, capacitando aos
estudantes resolver problemas genuínos, habituando-os às novas tecnologias e a
formação de uma visão ampla e científica da realidade, à percepção da beleza, da
harmonia, do desenvolvimento, da criatividade e de suas capacidades individuais.
A potencialidade do conhecimento deve ser explorada da forma mais ampla
possível, buscando na realidade do aluno as estruturações do pensamento, na
agilidade de raciocínio dedutivo do estudante na aplicação de situações da vida
cotidiana e atividades do mundo do trabalho e no apoio à construção dos
conhecimentos em outras áreas curriculares.
Segundo a Diretriz Curricular de Matemática, pensar numa prática docente a
partir da Educação Matemática, implica pensar na sociedade em que vivemos,
construindo assim o ato de ensinar numa ação reflexiva e política. (PARANÁ, 2008).
De acordo com a tendência histórico-crítica, a Matemática deve expressar o
saber construído historicamente para atender as necessidades sociais, econômicas
e teóricas. A aprendizagem da Matemática consiste em criar estratégias que
possibilitem ao aluno atribuir sentidos e significados às ideias matemáticas, de modo
a tornar-se capaz de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar. Desse
modo, supera o ensino baseado apenas em calcular e resolver problemas, ou fixar
conceitos pela memorização ou listas de exercícios. A ação do professor é articular o
processo pedagógico, a visão de mundo do aluno, suas opções diante da vida, da
história e do cotidiano.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, procura
adequar o ensino às transformações do mundo do trabalho, fruto da globalização
econômica e apresenta novas interpretações para o ensino da Matemática, de forma
que este contribua para que o estudante tenha possibilidades para entender e
criticar questões sociais, políticas, econômicas e históricas.
Os conteúdos da disciplina de Matemática estão organizados em
estruturantes, ou seja, conhecimentos de grande amplitude onde os conceitos e as
práticas identificam e organizam os campos de estudos da disciplina, considerados
fundamentais para a sua compreensão. (PARANÁ, 2008).
A Matemática está presente em vários contextos e contribui para o
desenvolvimento de outras áreas do conhecimento. A partir da metodologia da
resolução de problemas, é possível assegurar um espaço de discussão e
descobertas nas quais os alunos terão a oportunidade de aprimorar e aprender
novos conceitos fazendo conexões com a Matemática presente no cotidiano por
meio de situações problematizadas e contextualizadas, resolvidas por atitudes
investigativas e onde o educando torna-se agente participativo estimulado e
orientado pelo professor.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 2001), a
resolução de problemas, como eixo organizador do processo de ensino e
aprendizagem de Matemática, pode ser fundamentada nos seguintes princípios:
A situação-problema é o ponto de partida da atividade Matemática,
não a definição. Conceitos, ideias e métodos devem ser abordados
nas situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de
estratégia para resolvê-las;
O problema certamente não é um exercício em que o aluno aplica, de
forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo operatório. Só
há problema se o aluno for levado a interpretar o enunciado da
questão que lhe é posta e a estruturar a situação que lhe é
apresentada;
Aproximações sucessivas de um conceito são construídas para
resolver certo tipo de problema; num outro momento, o estudante
utiliza o que aprendeu para resolver outros problemas;
Um conceito matemático se constrói articulado com outros conceitos.
O aluno constrói um campo de conceitos que toma sentido num
campo de problemas, e não um conceito isolado em resposta a um
problema particular;
A resolução de problemas não é uma atividade para ser desenvolvida
em paralelo, mas uma orientação para a aprendizagem, pois
proporciona o contexto em que se podem apreender conceitos,
procedimentos e atitudes matemáticas.
Ensinar o aluno a resolver problemas consiste não apenas ensinar
estratégias eficazes, mas em desenvolver o hábito e a atitude de encarar a
aprendizagem como um problema para o qual se tem que encontrar respostas. De
qualquer forma, tanto exercícios como problemas requerem dos alunos a utilização
de diversos tipos de conhecimentos, de procedimentos, de atitudes e motivações.
As intervenções pedagógicas para a resolução de problemas devem ser o
ponto central de atenção do professor ao propor as atividades, apropriando-se de
técnicas e metodologias coerentes, as quais levarão o estudante a investigar e
compreender os conteúdos matemáticos, relacionando-os com situações cotidianas.
Enquanto na resolução de exercícios os educandos dispõem de mecanismos que os
levam, de forma imediata à solução, na resolução de problemas isto não ocorre,
pois, muitas vezes, é preciso levantar hipóteses e testá-las.
Polya (2006, p. 04), apresenta quatro etapas para a resolução de problemas:
Compreender o problema: primeiramente precisa-se entender o que
se pede, através de uma leitura atenta, ou até mais de uma,
interpretando corretamente. São partes de um problema: a incógnita,
os dados fornecidos pelo problema e a condição que deve ser
satisfeita conforme o enunciado.
Elaboração de um plano: depois de interpretar o problema é preciso
escolher uma estratégia de ação, que pode variar dependendo do tipo
do problema.
Executar o plano: se o plano foi bem elaborado, não fica tão difícil
resolver o problema, seguindo passo a passo o que foi planejado,
efetuando todos os cálculos, executando todas as estratégias,
podendo haver maneiras diferentes de resolver o mesmo problema. O
professor precisa acompanhar todos os passos, questionando e
ajudando, mas que o estudante se sinta o idealizador do plano.
Retrospecto ou verificação: depois de encontrar a solução é preciso
verificar se o resultado encontrado faz sentido. Pode-se questionar
também sobre outras maneiras de resolver o mesmo problema, como
também à resolução de outros problemas correlatos, usando a
mesma estratégia.
Resolver problemas é a razão principal de se aprender e ensinar Matemática,
porque é por meio deles que se inicia no aluno o modo de pensar matematicamente.
Interpretar e resolver problemas são o processo de reorganizar conceitos e
habilidades para aplicá-los em diversas situações.
Dante (1998) classifica os diferentes tipos de problemas:
Os problemas classificam-se em vários tipos: Exercícios de reconhecimento: fazer com que o aluno reconheça, identifique ou lembre um conceito; Exercícios de algoritmos: treinar a habilidade em executar um algoritmo e reforçar conhecimentos anteriores; Problemas-padrão: a solução já está contida no enunciado e a tarefa é transformar a linguagem usual em linguagem matemática, para recordar e fixar os fatos básicos através dos algoritmos das quatro operações; Problemas de aplicação: também chamados de situações-problema, retratam situações reais do dia a dia; Problemas de quebra-cabeça: constituem a chamada Matemática recreativa e a solução depende quase sempre de um golpe de sorte ou da facilidade em perceber algum truque; Problemas-processo ou heurísticos: a solução envolve as operações que não estão contidas no enunciado, exigem do aluno um tempo para pensar e arquitetar um plano de ação. (DANTE, 1998, p.18).
Sobre a interpretação e a resolução de problemas, o professor deverá
colocar os estudantes frente a diferentes situações, encorajando-os a pensar por si
mesmos, a levantar suas próprias hipóteses e testá-las, discutindo com os colegas
como e porque aquela estratégia resolve o problema. O aluno precisa ter em mente
que é através da leitura, da interpretação das situações problemas que ele será
capaz de administrar as situações que se apresentam em seu cotidiano. De acordo
com Polya (2006):
O professor que deseja desenvolver nos alunos o espírito solucionador e a capacidade de resolver problemas deve incutir em suas mentes algum interesse por problemas e proporcionar-lhes muitas oportunidades de imitar e de praticar. Além disso, quando o professor resolve um problema em aula, deve dramatizar um pouco as suas ideias e fazer a si próprio as mesmas indagações que utiliza para ajudar os alunos. Por meio desta orientação, o estudante acabará por descobrir o uso correto das indagações e sugestões e, ao fazê-lo, adquirirá algo mais importante do que o simples conhecimento de um fato matemático qualquer. (POLYA, 2006, p. 03).
Faz-se necessário buscar um ensino atraente e interessante, que desperte a
curiosidade pela aprendizagem de Matemática e que seja um instrumento de auxílio
na superação das dificuldades e enfrentamento do mundo, pois se observa no
cotidiano escolar que muitas vezes o ensino da Matemática está distante das
necessidades reais das famílias dos educandos.
3 APLICAÇÃO E RESULTADOS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO
PEDAGÓGICA
A aplicação da intervenção pedagógica iniciou-se com a apresentação do
projeto para a comunidade escolar do Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho
E.F.M., na Semana Pedagógica de 2014. Foram explicitados os objetivos do
trabalho, esclarecido quanto à problemática e elencadas as estratégias de ação. Foi
disponibilizado um momento para questionamentos, esclarecendo-se as dúvidas dos
professores, principalmente relação à elaboração do projeto.
3.1 ETAPAS 01 - Diagnóstico Inicial – Pré-Teste
Considerando que se tratava do primeiro dia de aula, os trabalhos iniciaram-
se com uma dinâmica para que os alunos e a professora se conhecessem e
estreitassem os laços de afinidade para o desenvolvimento do trabalho,
considerando que a turma vinha dos anos iniciais do ensino fundamental e estavam
acostumados a uma forma de organização escolar com apenas um professor para
ministrar todas as disciplinas. Em seguida, aplicou-se o pré-teste, ou seja, um
questionário contendo 11 questões, referentes à disciplina de Matemática e
educação financeira da família com o objetivo de identificar os conhecimentos
prévios dos alunos.
Inicialmente, questionou-se os estudantes se eles gostam da disciplina de
Matemática, 15 responderam sim e 07 afirmaram que não. Se dedicam algum tempo
para estudar em casa e resolver as tarefas de Matemática, 19 alunos responderam
sim e 03 reconheceram que não. Se os educandos têm facilidade para resolver os
exercícios de Matemática propostos em sala de aula, no entanto, apenas 06
estudantes responderam sim e, 16 disseram não. Somente 07 alunos afirmaram que
quando o professor explica as atividades de Matemática os mesmos entendem de
“primeira”, 10 alunos admitiram que somente às vezes entendem e 05 explicaram
que não entendem e precisam de explicações diferenciadas.
Interrogou-se aos discentes se os mesmos ajudam nas tarefas domésticas e,
se ajudam, em quais tarefas. 20 alunos responderam que auxiliam e apenas 02
alunos expuseram que não ajudam em nada. Sobre o uso da Matemática no
cotidiano, 14 alunos relataram que utilizam a Matemática para fazer compras, pagar
as contas (água, luz, telefone), fazer pesquisa de preços, controlar o horário, nas
atividades de culinária caseira, comprando passagens, dividindo coisas com os
amigos e irmãos. Outros 08 alunos afirmaram que não entendem a função da
Matemática na vida cotidiana, acham que ela só serve para resolver as “continhas
no caderno, só na escola”. 09 alunos comentaram que auxiliam no controle dos
gastos da família economizando água, energia, não comprando coisas
desnecessárias/caras e analisando o quanto pode ser gasto e quanto pode ser
poupado pelos familiares. 12 estudantes disseram que não ajudam a controlar os
gastos. 01 contou que não ajuda porque “não tem serviço” e assim, não tem o que
gastar ou economizar.
Questionou-se ainda se na casa dos educandos são “cortadas” as despesas
de “coisas desnecessárias”, se sim, quais seriam essas despesas. Somente 03
alunos responderam que sim e explicaram: não comprando bebidas de álcool,
brinquedos, celulares modernos, roupas da moda, doces e computadores. 19 alunos
responderam que não cortam despesas desnecessárias em casa.
Interrogou-se sobre o que pensam ser uma cesta básica. 05 educandos têm
noção de que são alimentos necessários para a manutenção das famílias. 10 alunos
acham que são aos alimentos doados pelo governo às pessoas desempregadas ou
carentes, ou doados por outras pessoas que gostam de ajudar o próximo. 01 aluno
descreveu a cesta básica como um pacote de plástico com comida dentro. 06
estudantes não sabiam o que significa ou nunca ouviram falar em cesta básica.
Perguntou-se ainda se ajudam a família a fazer pesquisas de preços ou se
compram em qualquer lugar e tudo o que querem. Apenas 07 estudantes ajudam a
fazer pesquisa de preços e compram onde é mais barato. 13 educandos disseram
que não pesquisam preços e compram em qualquer lugar, alguns compram tudo o
que querem. 02 alunos explicaram que às vezes fazem pesquisa de preço.
Quanto à constituição da estrutura familiar dos alunos entrevistados, 17 fazem
parte de famílias formadas por 05 a 07 pessoas. 05 alunos têm famílias constituídas
por 03 a 04 pessoas. Sobre as condições de renda, em 11 famílias há somente uma
pessoa que trabalha. Em 08 famílias, duas pessoas trabalham e, em 03 famílias, 03
pessoas trabalham. Identificaram-se ainda as profissões mais frequentes:
doméstica, trabalho informal no corte de fumo, corte de erva, oficina mecânica,
cuidadores de fazenda (capataz), na lavoura, pedreiro, carpinteiro, catador
(reciclagem de papel e papelão), pintor, no calçamento de ruas e estradas,
funcionários da empresa Globo Aves (1).
3.2 ETAPA 02 - Atividade Investigativa e Motivadora
Disponibilizou-se um álbum da História do Dinheiro no Brasil e foram
distribuídas cédulas antigas, algumas desde o ano de 1942. Após o manuseio do
álbum e das cédulas, os alunos observaram a evolução do dinheiro brasileiro
conforme a época. Buscou-se promover a interdisciplinaridade com a disciplina de
história, artes e ciências.
Observou-se que os alunos ficaram muito motivados, a curiosidade e o
interesse de todos foi um ponto muito positivo para a compreensão do conteúdo.
Pode-se verificar que tal atividade fez surgir muitos questionamentos e reflexões.
Alguns estudantes estavam tão ansiosos que demonstraram impaciência ao esperar
os colegas olharem o álbum e a coleção de notas antigas. Uma aluna comentou:
“[...] fiquei muito curiosa para saber: Por que o dono da coleção de cédulas não
gastou o dinheiro? Queria saber se ele valia muito? [...] Se fosse meu eu teria
gastado tudo [...]”. Outra aluna disse: “[...] gostei muito desse dinheiro, foi muito bom
ter sobrado um pouco para nós ver hoje como ele é [...]”. Outro aluno considerou:
“[...] estamos aprendendo tudo sobre o dinheiro que não vimos antes. Essa aula foi
uma experiência muito boa”. Da mesma forma, uma estudante salientou a beleza
das notas antigas e atuais (índios, animais, personagens da história, lugares).
Após a observação das moedas antigas, foi discutido sobre o surgimento do
dinheiro, sobre a necessidade de troca de mercadorias, exemplificando-se a partir do
dia a dia dos educandos. Comentou-se sobre a troca por ouro até chegar ao período
chamado capitalista, com a invenção das moedas e cédulas para facilitar as
transações comerciais.
3.3 ETAPA 03 - Leitura do Texto “Orçamento”
Fez-se a leitura de um texto que retratava a importância do orçamento
familiar como forma de controle de gastos supérfluos e a melhora das condições
financeiras de vida das famílias. O objetivo era fazer com que os alunos
entendessem a importância da leitura e interpretação de um texto para aprender
Matemática. Muitas dúvidas foram levantas pelos estudantes, tais como: o que é
orçamento, planilha, valor líquido, valor bruto, entre outras. Muitos argumentaram
que suas mães não realizam o controle dos gastos familiares, já que não tinham
anotado o quanto recebiam e as despesas da casa. Esse procedimento facilita com
que as despesas sejam maiores que os ganhos, levando a cobradores de dívidas
em casa, como demonstrou um aluno: “lá em casa direto vai cobrador e a mãe tem
que se esconder”. Assim, discutiu-se a necessidade dos estudantes ajudarem suas
famílias a controlarem os gastos através de anotações do orçamento familiar e
despesas necessárias do dia a dia.
Sobre o que é orçamento familiar e como os alunos podem auxiliar suas
famílias a controlar melhor os gastos desnecessários, foi realizada uma palestra com
a professora Sonia Ferrari, a qual possibilitou o entendimento sobre o compromisso
de ajudar a família no planejamento dos orçamentos, com estratégias que facilitam o
consumo consciente e a fugir do modismo e das propagandas que o sistema
capitalista proporciona.
3.4 ETAPA 04 - Apresentação Artística e Dramatizadora e Exposição no Mural
da Escola
Após a etapa de conscientização sobre o orçamento financeiro familiar,
realizou-se uma atividade de compra consciente no supermercado. Os alunos
elaboraram peças de teatro sobre como os consumidores se comportam nas horas
de compra no supermercado. As apresentações ocorreram para todos os alunos da
escola. Para finalizar essa etapa foram elaborados cartazes explicativos sobre
orçamento familiar os quais ficaram expostos no mural da escola.
3.5 ETAPA 05 - As Despesas da Família
Nesta etapa, os alunos foram orientados a elaborar um levantamento do que
as famílias gastam no supermercado. Além disso, os alunos também pesquisaram e
responderam numa tabela, o orçamento da família, ou seja, os valores dos ganhos e
as despesas. Após a coleta dos dados, os mesmos foram organizados em planilhas
e expostos na sala de aula.
A docente buscou mostrar aos alunos que, independentemente do valor do
salário que uma família recebe mensalmente, é de vital importância o planejamento
racional dos gastos efetuados e que é de responsabilidade de todos os membros da
família essa atividade. Os alunos participaram das discussões e perceberam que
podem colaborar, e muito, com a família.
3.5.1 Passeio no Mercado
Para esta atividade, a professora forneceu aos alunos uma tabela contendo
as despesas comuns no supermercado. Nessa tabela, constavam os produtos, as
unidades, peso e as marcas, cujos preços deveriam ser pesquisados. Em seguida, a
turma foi conduzida em dois supermercados para que fizesse a pesquisa.
A primeira dificuldade surgiu no preenchimento da tabela, pois muitos alunos
não tinham entendimento da diferença entre quilograma e litro, sobre qual unidade é
destinada para cada produto e qual a diferença existente entre as marcas, alguns
queriam comprar ovos em quilo. Após as explicações, os estudantes ficaram
bastante curiosos e começaram a questionar os proprietários dos supermercados
sobre o porquê de produtos estarem expostos nas prateleiras sem o valor, e
começaram a fazer contas mentais sobre a lista que eles fizeram. Alguns
demonstraram dificuldade em entender as seções dos produtos e foram auxiliados
pelos colegas, o que demonstrou cooperação e trabalho em grupo. No
preenchimento da tabela, vários alunos tiveram dificuldades para registrar o valor
monetário na ordem decimal correspondente. A atividade proporcionou a professora
conhecer melhor a realidade em torno da escola e como os alunos se comportam
dentro de um supermercado na hora das compras.
3.5.2 Catálogo de Pesquisa de Preços
A docente coletou panfletos de todos os tipos de produtos e levou para a sala
de aula e sugeriu aos estudantes a confecção de um catálogo de preços. Tal
catálogo foi utilizado posteriormente para a montagem de um livrinho de resolução
de problemas.
A atividade foi tranquila e os alunos demonstraram interesse. Eles
conheceram produtos que não fazem parte do seu cotidiano e novamente
selecionaram os produtos conforme o seu centro de interesse.
3.5.3 Livrinho de Situações Problemas e suas Resoluções
De posse dos catálogos organizados anteriormente, os alunos,
individualmente, elaboraram e resolveram problemas matemáticos envolvendo os
mais diferentes tipos de cálculos, abrangendo as quatro operações. Essa atividade
foi muito desafiadora e oportunizou a integração com a disciplina de língua
portuguesa, pois os alunos tiveram que elaborar os enunciados das situações
problemas, os quais envolveram situações de compra e venda de produtos utilizados
em família. Os problemas foram socializados com toda a turma de modo que cada
aluno teve muitas situações problemas para resolver, e mais importante ainda,
elaborados por eles mesmos e não copiados dos livros ou sugeridos pela
professora.
3.6 ETAPA 6 – Compra Livre
A partir de catálogos de produtos solicitou-se uma compra livre registrando os
produtos (quantidade, preço). Na sequencia propôs-se uma lista de produtos,
priorizando os itens da cesta básica.
Em seguida foi realizada a atividade educativa e recreativa “Mercado no
envelope”. Cada estudante recebeu um envelope colorido contendo em seu interior
a gravura e o preço de 10 produtos da cesta básica. Cada aluno recebeu um
envelope diferente dos demais colegas. De forma fictícia, cada educando recebeu
R$ 300,00 em notas de R$ 2,00, R$ 5,00, R$10,00, R$ 20,00, R$ 50,00 e R$ 100,00,
para simular as compras referentes aos produtos dos envelopes.
A atitude de alguns alunos foi surpreendente, pois se negaram
terminantemente a adquirir produtos que contém álcool. Quando questionados sobre
o porquê, responderam que o álcool é responsável por grande parte das brigas em
família e desavenças com vizinhos.
Alguns alunos economizaram o dinheiro fictício como se ele fosse real e como
se fosse possível tomar posse do mesmo e levá-lo para casa. Um aluno chamou
muito a atenção ao querer adquirir um produto que não constava em seu envelope,
logo propôs a troca de produtos com os colegas usando o termo “vamos briquear”?
Sua proposta de imediato foi aceita pelos colegas.
3.7 ETAPA 7 - Supermercado Virtual
No laboratório de informática do colégio os alunos visitaram um sítio de
supermercado virtual. Essa atividade ocorreu duas vezes. No primeiro dia, faltaram
muitos alunos em virtude da chuva. Isso foi de grande valia, pois na segunda
aplicação da atividade, os estudantes do primeiro dia atuaram como monitores na
turma e auxiliaram na operacionalização dos computadores, pois por incrível que
pareça ainda existem alunos nunca “tocaram” em um computador. Surgiram alguns
problemas de ordem técnica, o que irritou muito os alunos; outros não conseguiram
abrir o site escolhido por carga demasiada, ou seja, muitos utilizando os mesmos
sites. Segundo os alunos, essa aula foi uma das aulas que eles mais gostaram e
continuaram solicitando mais atividades desse gênero.
3.8 ETAPA 8 - Pós-Teste
Após a aplicação do Material Didático através da proposição de atividades
investigativas, desafiadoras e criativas, organizadas conforme a realidade vivenciada
no cotidiano dos alunos constatou-se que dos 22 estudantes investigados no pré-
teste, quando apenas 15 gostavam de Matemática e 7 não gostavam,
posteriormente ao desenvolvimento das atividades relatadas, a situação da turma
revela-se outra, conforme indica o pós-teste: os 22 alunos responderam que gostam
da disciplina de Matemática, têm mais facilidade para compreender e resolver as
atividades e entendem com mais facilidade os conteúdos trabalhados em sala de
aula.
Isso demonstra que quando o professor se preocupa em trabalhar de uma
forma mais dinâmica, envolvendo os alunos, incentivando e valorizando o
conhecimento prévio, motivando e oportunizando a participação dos discentes
através de material diversificado, propondo estratégias de ação que venham de
encontro às necessidades reais de aprendizagem, os resultados com certeza são
positivos.
Segundo a opinião de alguns alunos a partir da aplicação das atividades
elencadas no Material Didático, as aulas se tornaram especiais, as cópias dos livros
didáticos foram substituídas por aulas prazerosas e significativas. “Assim dá gosto
vir para a escola”, destacou um aluno.
4 RESULTADOS OBTIDOS JUNTO AO GTR
Em relação ao Grupo de Trabalho em Rede (GTR), na participação dos
professores, obtiveram-se contribuições em relação ao Projeto de Intervenção. Nas
postagens ficou explícito que os docentes também percebem as dificuldades dos
alunos na resolução de problemas, como expôs a professora R. A. S.:
Uma das grandes dificuldades dos alunos em Matemática está em saber resolver problemas, acredito que a metodologia de trabalho adotada é uma oportunidade de modificar o desenvolvimento habitual das aulas de Matemática e desenvolver processos de pensamento matemático, assim como motivar e tornar significativa a introdução dos conceitos matemáticos. [...]
Observou-se que, de modo geral, a maioria dos docentes está preocupados
em trabalhar a Matemática de modo articulado com situações do cotidiano do aluno,
conforme destaca a professora E.R.O.N.:
[...] O trabalho envolve conceitos e procedimentos matemáticos dentro de uma situação real, como o orçamento familiar, e faz com que os alunos organizem dados em tabelas, tirando informações a partir desses levantamentos. [...] Assim, as tarefas sugeridas no projeto permitem aos alunos refletir e aprender a efetuar com acerto os seus gastos, ensinando-os a gerenciar seu orçamento.
Sobre a contribuição e aplicação das atividades na escola, todos os
professores do grupo pontuaram ser passível de aplicação, talvez com algumas
adaptações em relação à realidade de cada escola. Percebeu-se também, através
da participação dos professores no GTR, que os mesmos reconhecem a importância
da Matemática no dia a dia do aluno, concordam com a necessidade de contribuir
para o desenvolvimento da consciência crítica e de planejamento, o que
consequentemente irá auxiliar o aluno em sua vida futura:
As pessoas precisam aprender a lidar com o dinheiro para ter melhor qualidade de vida e essa formação deve ser ensinada pelos pais, pela escola, abordando as relações das pessoas com o consumo, apontando aspectos fundamentais como as relações comerciais básicas e como se reconhece o valor do dinheiro. [...] (M.B.).
Diante deste relato, evidencia-se a relevância do projeto que foi desenvolvido,
ao proporcionar um ensino de Matemática através de uma proposta voltada para a
resolução de problemas, a partir de situações reais que facilitam a interpretação e a
aplicação de cálculos proporcionando uma aprendizagem significativa, por meio da
resolução de problemas do orçamento familiar.
5 CONCLUSÃO
Ao final deste estudo pode-se afirmar que os objetivos traçados no Projeto de
Intervenção Pedagógica “Resolvendo problemas no cotidiano do aluno – orçamento
familiar” foram alcançados, ou seja, os alunos foram levados a refletir sobre o
orçamento da família por meio de atividades desafiadoras, que contribuíram para o
desenvolvimento do raciocínio lógico, além de oportunizar a compreensão de
conceitos matemáticos. Incluíram-se atividades reais, tais como visitas em
supermercados, palestras, aulas expositivas, aulas em laboratório de informática,
manuseio de álbuns contendo cédulas do dinheiro brasileiro antigo, confecção de
catálogos de pesquisa de preços de produtos diversos, compra fictícia, panfletos,
elaboração e resolução de situações problemas pelos próprios alunos.
As atividades proporcionaram aos educandos vivenciar as situações
financeiras, aprendendo a diferenciar o desejo da necessidade na hora das compras
ao mesmo tempo em que constataram as aplicações da Matemática no cotidiano,
principalmente por meio da construção e resolução de situações problemas.
É evidente a importância de o professor mostrar aos alunos que a Matemática
está presente em todos os momentos, o que se comprova ao observar o pré-teste e
o pós-teste, pois no início do projeto apenas sete alunos demonstravam gosto pela
disciplina de Matemática e, após a aplicação do projeto, todos os alunos sentiam-se
motivados e afirmaram gostar da disciplina.
É de fundamental importância salientar como pontos positivos a ser
considerados durante o desenvolvimento do projeto, a interação entre aluno-aluno,
aluno-professor, aluno-professor-aluno, a cooperação entre todos foi uma constante
em todas as atividades propostas e desenvolvidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. (3º e 4º ciclos do ensino fundamental). Brasília: MEC, 2001. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº
9394/96. Brasília: 1996. DANTE, L. R. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1991. DANTE, L.R. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 2ª ed. São
Paulo: Ática, 1998. PARANÁ Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Curitiba/PR: Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. POLYA, G. A arte de resolver problemas. Tradução Heitor Lisboa de Araújo. Rio
de Janeiro: Interciência, 2006.