os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    1/21

    RBCS Vol. 29 n° 85 junho/2014

    Artigo recebido em 08/11/2012 Aprovado em 26/03/2014

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOSSOBRE AS DESIGUALDADES DE RENDA Uma análise da década de 2000

    Flavio Alex de Oliveira CarvalhaesRogério Jerônimo BarbosaPedro Herculano G. F. de SouzaCarlos Antônio Costa Ribeiro

    Introdução

    O Brasil tem uma das piores distribuições derenda do mundo. No entanto, nos últimos anos, adesigualdade de rendimentos tem caído sistematica-mente (Ferreira e Barros, 1998; Ferreira e Litcheld,2001; Silva, 2003; Barros et al., 2006b; a; Ferreira etal., 2006). Ao mesmo tempo, desde meados da últi-ma década, a retomada do crescimento econômicopromoveu forte expansão do assalariamento formal

    e queda do desemprego (Guimarães, 2012). Esse ce-nário motiva o questionamento sobre a relação entreesses dois processos, isto é, sobre como as tendên-cias ocupacionais do mercado de trabalho brasileirose relacionam com a queda das desigualdades. Nesteartigo, pretendemos compreender como as desigual-dades se relacionam com a estrutura ocupacional ecomo foram afetadas pela expansão do emprego.

    De forma geral, um pesquisador interessado nestudo desse tema tem diante de si dois tipos destratégia. Na primeira, há um caminho no qual preocupação central é entender aspectos que estrturam o nível de renda dos indivíduos, basicamenatravés da associação entre variáveis num modmultivariado. Um economista destacaria a impotância do nível de escolaridade e da experiência indivíduo (capital humano), além de outros fatores relacionados à produtividade (Becker, 1976

    Apesar das diferenças disciplinares, um sociólodiante do mesmo tema se comporta de forma reltivamente parecida. Se estereotipássemos os noscolegas de prossão como zemos com os econmistas, o destaque iria para o papel da estruturocupacional e de fatores adscritos ou “herdado(raça, sexo). Tanto na literatura internacional quato na brasileira, contamos com excelentes estudsobre o tema (Blau e Duncan, 1967; Wright, 1997Santos, 2002; Neves, 2005).

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    2/21

    80 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    Uma segunda estratégia seria tratar a desigual-dade como um “estoque” distribuído entre uni-dades de análise (cidade, país, classes, ocupaçõesetc.), para então distinguir os aspectos sistemáticosdos não sistemáticos desse fenômeno. Nesse caso,o pesquisador está interessado no “tamanho” docomponente sistemático e qual parcela da variaçãonão é explicada por nenhum dos fatores conside-rados. Economistas criaram importantes métodospara decompor indicadores sintéticos de desigual-dade de renda (Knight e Salbot, 1983; Lemieux,2006; Tavares e Menezes-Filho, 2011). Nesse tipode estratégia de pesquisa, a sociologia, tanto inter-nacional quanto nacional, está defasada (Morris e Western, 1999), apesar de algumas iniciativas re-centes terem importantes ganhos analíticos (Wee-den, 2002; Weeden et al., 2007; Kim e Sakamoto,2008; Mouw e Kalleberg, 2010).

    Lançaremos mão dos dois tipos de estratégias.Utilizando modelos de decomposição baseados emregressões (Western e Bloome, 2009), temos con-dições tanto de entender quais são os fatores maisimportantes na estruturação da renda nos anosestudados como de decompor nossa distribuição.Ressaltamos que a literatura sociológica brasileirasobre o tema é praticamente inexistente, mesmo

    sendo o Brasil um caso privilegiado para esse tipode estudo. Pretendemos atuar nesse espaço identi-cado pelas análises sobre a tendência da desigual-dade de renda no país e assim complementar os tra-balhos já feitos. De maneira mais direta, a principalpergunta que propomos responder é a seguinte:que parcela da desigualdade de renda se deve es-pecicamente às características estruturais, enten-didas como o aspecto ocupacional, do mercado detrabalho?

    Para realizar nossa investigação seguimos dois

    passos. Primeiramente examinamos a qualidaderelativa dos postos de trabalho criados entre 2002e 2012. Em seguida, tendo mapeado o padrão deevolução do emprego, investigamos mais detida-mente a relação entre a estrutura ocupacional e adesigualdade de renda do trabalho.

    O texto está organizado em seis partes, incluin-do esta introdução. Na próxima, fazemos um brevehistórico das tendências de desigualdade de rendano mercado de trabalho. Apresentamos, então, as

    principais questões teóricas e metodológicas que formam nossa análise. Na sequência, descrevemopadrão de expansão do emprego na última décade, a seguir, investigamos que parcela das desigualdes de renda pode ser explicada pelas característida estrutura ocupacional. A partir dessa informção, mensuramos a inuência que as mudanças estrutura ocupacional exerceram sobre a tendêncde declínio das desigualdades de renda ao longo tempo. Por m, apresentamos algumas conclusõe discussões mais gerais.

    Desigualdades no mercado de trabalho

    Ao longo das últimas três décadas, a conjuntura econômica nacional teve alterações importantO ano de 1981 inaugurou um período de profundinstabilidade macroeconômica. Tais utuações fram captadas pelos indicadores de distribuição renda e o saldo foi um crescimento considerável desigualdade. Entre 1989 e 1991, todos os índicregistram os maiores patamares de desigualdadehistória recente. A partir de 1994, esses indicadorapontam lenta melhoria da distribuição de rendmas apenas após 2001 o declínio se torna consistete e acentuado. Desde então, vem se tornando clarque esse movimento de queda pode ser duradouro

    A diculdade de detectar as causas desse mvimento reside no fato de que uma série de outrtransformações demográcas, econômicas e sococorreu paralelamente à queda da desigualdade.literatura especializada tentou isolar os principafatores para o declínio da desigualdade de rendaatribuir-lhes pesos e importâncias diferenciais; ddeles são a estabilização macroeconômica e o contle da inação (Ferreira e Litcheld, 2001; Barros et

    al., 2006b; Ferreira et al., 2006). No entanto, tam-bém cou claro que apenas o crescimento econmico não poderia ser responsável pela distribuiçda renda. As mudanças na escolaridade da populção revelaram-se fundamentais, e seus efeitos mimportantes foram (1) a ampliação do acesso aníveis mais baixos de ensino e (2) o declínio signcativo dos diferenciais de remuneração da força trabalho por nível de escolaridade. Esse movimenda educação explicaria 40% da queda da desigu

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    3/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES81

    dade da renda do trabalho entre 2001 e 2005. Su-blinha-se também a importância de alterações noscomponentes demográcos, como a homogeneiza-ção etária da população, que reduz os retornos pelaexperiência (Barros et al., 2006a), e a convergên-cia entre rendimentos dos setores rurais e urbanos(Ferreira et al., 2006).Grosso modo, essas foram al-gumas das características destacadas pela literaturaque analisou o declínio da desigualdade de rendabrasileira, especialmente a partir de 2003, quandoele se acelera (Lemieux, 2006; Tavares e Menezes--Filho, 2011).

    Por que ocupações?

    Do ponto de vista sociológico, a principal res-salva à abordagem econômica do estudo da desigual-

    dade de renda é a excessiva ênfase nas característicasindividuais e a falta de sensibilidade a dimensõesinstitucionais. Classicamente, a sociologia se pro-põe a compreender como características individuaisinteragem com aspectos estruturais da divisão dotrabalho (Sorensen, 1996; Acemoglu, 2002; Autor,Katz e Kearney, 2006). Uma das formas privilegiadasde realização desse empreendimento seria através daatenção especial à dimensão ocupacional. E essa di-mensão importa de várias maneiras.

    As ocupações variam no nível de habilidadrequerido para realizá-las – ou seja, o grau e complexidade das atividades e o tempo necessário paprendê-las. Além disso, as habilidades e qualições exigidas no trabalho são recompensadas direntemente em cada segmento ocupacional (Moue Kalleberg, 2010). Credenciais educacionais, pexemplo, são valorizadas diferentemente em caocupação – ou seja, assumimos os retornos educacionais interagem com a posição no mercado trabalho.

    Outro ponto diz respeito aos mecanismos qudenem o grau de abertura ou fechamento. Ocupações menos especializadas e mais abertas à subtuição de trabalhadores, seriam menos protegidasmais sujeitas às utuações da oferta de mão de obenquanto ocupações mais especializadas (em quemaior interdependência na cadeia produtiva, escas

    de prossionais e altos custos para formação) terioutro tipo de dinâmica, sendo mais fechadas à subtituição (Sorensen e Kalleberg, 1979). Ocupaçõdistintas têm diferentes marcos regulatórios e podeou não ter conselhos e associações que protegem sinteresses e executam ações de licenciamento, cecação, sindicalização etc. Tais instituições estãoretamente ligadas às estruturação das desigualdano mercado de trabalho e operam como verdadeirmecanismos de fechamento social (Grusky e Sore

    Gráco 1Evolução da desigualdade da renda do trabalho segundo os índices de

    Gini, Theil e a Variância do Logaritmo da Renda (1981-2009)

    Gini

    Theil

    Variância do Log

    1 9 8 1

    1 9 8 3

    1 9 8 5

    1 9 8 7

    1 9 8 9

    1 9 9 1

    1 9 9 3

    1 9 9 5

    1 9 9 7

    1 9 9 9

    2 0 0 1

    2 0 0 3

    2 0 0 5

    2 0 0 7

    2 0 0 9

    140,0

    130,0120,0110,0100,090,080,070,060,0

    Fontes: PNAD, 1981-2009 (elaboração própria).

    (1981=100)

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    4/21

    82 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    sen, 1998; Weeden, 2002; Grusky e Galescu, 2005;Grusky e Weeden, 2008).

    Além disso, a estrutura ocupacional é uma for-ma privilegiada para a compreensão das característi-cas da renda permanente dos indivíduos (expectativade rendimentos durante todo o curso de vida), queestá correlacionada tanto aos modos de vida comoàs possibilidades de mobilidade social (Weeden,2002; Kim e Sakamoto, 2008; Liu e Grusky, 2013). A intuição básica é de que haveria uma relativa ho-mogeneidade nas chances de vida de indivíduospertencentes à mesma classe. Sendo a ocupação umindicador privilegiado da posição de classe, a inser-ção dos indivíduos no mercado de trabalho torna-seindispensável para entender como a desigualdade seorganiza, considerando até os fatores institucionaisque diferenciam as ocupaçõesentresi.

    O peso dado às ocupações é complementar aoutras perspectivas amplamente acionadas na li-teratura sobre desigualdade de renda. Assim, nãodesejamos negar, por exemplo, a importância de di-mensões relativas ao nível de escolaridade da popu-lação. Em nossas avaliações, estamos atentos a essesprocessos e ao balanço de sua relevância em relaçãoaos fatores ocupacionais.

    Feita essa caracterização analítica sobre a im-portância das ocupações e outras dimensões noentendimento da desigualdade de renda, podemosexplicitar um pouco melhor como pretendemosrealizar nossos exercícios empíricos. Nosso pri-meiro passo é examinar as dinâmicas de expansãodos postos de trabalho na última década. Seguindo Wright e Dwyer (2003), compreendemos que hápadrões de geração de emprego. Se ordenarmos ospostos de trabalho existentes (ocupações) segundoalgum critério de qualidade (numa escala que levados “piores” aos “melhores” empregos), podemos

    nos questionar onde os novos empregos se encai-xam nessa escala. Há ao menos quatro cenáriospossíveis: 1) expansão igualmente distribuída entretodos os tipos de emprego; 2) expansão apenas dospiores empregos; 3) crescimento dos melhores em-pregos; 4) expansão polarizada (na qual empregosde nível intermediário crescem menos ou até de-crescem, gerando um “abismo” entre os ocupantesdos piores e dos melhores cargos). Trataremos decada uma dessas possibilidades com mais detalhes

    adiante. Cabe antes indagar: qual modelo melhodescreve o caso brasileiro na última década? E que forma os padrões de geração de emprego se lacionam à dinâmica das desigualdades? Em nossegundo passo analítico, estabelecemos mais pcisamente os formatos dessa relação. Partindo uma decomposição da variância do logaritmo ntural da renda do trabalho (uma medida clássica desigualdade), obtemos três efeitos que relacionaa desigualdade de renda do trabalho às ocupaçõ(idem; Williams, 2010).

    O primeiro deles é o chamadoefeito de com- posição.Ele está relacionado à proporção de trabalhadores ligados a uma categoria ocupacional. Pexemplo, se uma ocupação na qual há muita dsigualdade entre amplia seu tamanho relativo, iscontribui para o aumento da desigualdade globno mercado de trabalho. Inversamente, se umocupação em que há maior igualdade salarial amplia sua proporção, os níveis gerais de desigualddecrescem. Desse modo, o efeito de composição respeito ao movimento causado pelas alterações distribuição dos indivíduos entre ocupações, posua vez provocado pelo crescimento ou pelo enclhimento dos grupos.

    O segundo fator, chamadoefeito de médias,refere-se a mudanças nos salários médios das opações. O ganho real médio dos salários tendevariar de ocupação para ocupação. Desequilíbrientre oferta e demanda, ou fatores institucionaicomo a atuação dos sindicatos na renegociaçãsalarial, são exemplos de mecanismos que podefazer os salários médios das ocupações variarpositiva ou negativamente ao longo do tempo. Oefeito de médias é, portanto, o saldo nos índices desigualdade provocado pela aproximação ou pedistanciamento dos salários entre ocupações.

    O terceiro fator diz respeito a como se comporta a distribuição da renda no interior das ocupções, ou seja, a desigualdade entre indivíduos detro das ocupações, adesigualdade intraocupacional – também chamada dedesigualdade residual , poisdescreve a dispersão dos rendimentos que perste após a introdução dos indicadores dos grupoocupacionais e de outras variáveis de controle. Upossível motivo para a elevação da desigualdadetraocupacional pode ser o aumento do retorno em

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    5/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES83

    rendimentos ligado a características individuais nãoobservadas (isto é, não ligadas às ocupações e aoscontroles explicitamente incluídos nos modelos). Otermo desigualdade residual, porém, não é plena-mente adequado, uma vez que a maior ou menordispersão dos salários dentro das ocupações podeser, ela mesma, uma característica estrutural daocupação (Western e Bloome, 2009); uma maiordispersão indica uma heterogeneidade constituti-va da ocupação, ao passo que uma maior homo-geneidade pode indicar presença de instituiçõese normas típicas de prossões regulamentadas ouempregos públicos. Desse modo, entendemos quea distribuição dos salários dentro das ocupações éessencialmente heterocedástica.

    Estratégias analíticas, metodologia e dados

    Padrões de geração do emprego e decomposição dasdesigualdades

    Para analisar a qualidade dos empregos criadosna década de 2000, seguiremos uma estratégia ela-borada por Wright e Dwyer (2003). Nesse traba-lho, os autores propõem a criação de uma matriz

    de cruzamento entre categorias ocupacionais e seres de atividade. Esse exercício produz um total “empregos em potencial”, representado pelo númro de células da matriz – cada uma representa umocupação-setor, que pode ou não estar preenchid(por isso, “potencial”).1 Em seguida, ordenam-se ascélulas de acordo com a mediana da renda do trbalho, considerada proxy da “qualidade do empre-go”. Por m, as ocupações-setor são divididas ecinco grupos – quintos – de acordo com essa mdida. Os indivíduos de uma mesma ocupação-setsão levados “em bloco” para uma única categorTemos assim uma escala de qualidade dos emprgos, com cinco pontos, cada um com 20% dos indivíduos empregados. Como cada ocupação-settem posição xa nesse ordenamento, acompanho crescimento ou decrescimento de um quinto observar quanto variou o número de empregadonas ocupações-setor entre dois pontos no tempo A variação do emprego em cada quinto é medidsimplesmente pela diferença absoluta no tamanhdessas categorias entre o ano nal e o inicial mensuração. O resultado é uma medida do saldde emprego (ou mudança líquida no estoque dtrabalhadores) que considera a qualidade dos potos criados e desfeitos.

    Figura 1Quatro modelos hipotéticos de variação dos quintis

    Crescimento igualentre os quintis1.600.00

    1.400.001.200.001.000.00

    800.00600.00400.00200.00

    Quintis de qualidade do emprego

    1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º

    Depreciação do emprego Melhoria do emprego Crescimento polarizado

    Ilustração baseada no modelo do artigo de Wright & Dwyer (2003).

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    6/21

    84 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    Como pontuamos na seção anterior, os resul-tados desse exercício podem se concentrar, a prin-cípio, em quatro modelos de variação do tamanhodos quintos, que representam padrões distintos deexpansão do emprego e cujas consequências, emtermos de desigualdades sociais, podem ser com-pletamente opostas. A gura 1 ilustra esses cenárioshipotéticos para uma situação que tenha gerado 5milhões de empregos.

    O primeiro modelo apresenta um crescimentoigual dos quintos, de 1 milhão de empregos, e aestrutura anterior do mercado de trabalho não sealtera de maneira signicativa. Supostamente, essequadro estaria ligado à manutenção do estado dasdesigualdades ocupacionais. No segundo modelo,observamos um crescimento mais acentuado dasocupações de baixo nível, o que reete um contex-to de depreciação do emprego. Com a geração deemprego concentrada nos postos de baixa remu-neração, assistimos ao aumento da pobreza e pos-sivelmente das desigualdades. O terceiro modeloapresenta a situação oposta: há expansão principal-mente dos postos de melhor qualidade. Esse cená-rio de “melhoria de emprego” ( job upgrading , notermo original) não tem interpretação consensual,no entanto. No m da década de 1990 e início dosanos de 2000, alguns economistas supunham queele era sintomático do desenvolvimento econômi-co baseado na inovação tecnológica e gerencial. Osmercados de trabalho responderiam através da am-pliação da demanda por trabalhadores mais quali-cados, por sua vez acompanhada da redução daprocura por ocupações de baixa qualicação (Ace-moglu, 2002). Essa interpretação foi denominadaskill-based technological change (SBTC) e descreve-ria bem o quadro dos anos de 1960 nos EstadosUnidos (Wright e Dwyer, 2003). Esse movimento

    seria positivo: reduziria as desigualdades, no médioprazo. O caso brasileiro, no entanto, traz um con-traexemplo. A explicação de Langoni (2005) paraa elevação das desigualdades durante o períodomilitar se baseia justamente no fato de que a ele-vação da demanda por trabalhadores qualicadosgerou disparidades salariais muito intensas. Dianteda escassez de capital humano, os poucos indivídu-os com capacidade de suprir essa demanda forampremiados de forma desproporcional. Desse modo,

    não é tácito que melhoria de emprego seja sinônmo de redução de desigualdades – aliás, um de nosos objetivos é justamente contrapor o formato dgeração do emprego ao movimento dos indicadorde desigualdade.

    O último modelo representa uma situação híbrida – em que há a criação simultânea de bone maus empregos – que gera um contexto de polarização do mercado de trabalho, com o potencial aumento da desigualdade. Essa conjuntura tornou bastante discutida em trabalhos de economistas norte-americanos e europeus (Autor, Lee Murnane, 2003; Manning, 2003; Goos e Manning, 2007; Goos, Manning e Salomons, 2009)pois fornecia uma boa explicação para a crescendesigualdade de rendimentos ocorrida a partir ddécada de 1980 nesses países. Autor, Levy e Murnne (2003) argumentam que a inovação tecnológie a consequente automação levariam ao decréscimda demanda por trabalhos de rotina, manuais (poexemplo, industriais) e não manuais (realizados eescritório). A demanda baseada em tecnologia aida é o fundamento da explicação. Ocupações altmente qualicadas (que envolvem atividades gerciais, analíticas ou criativas), bem como manuaisbaixa qualicação (limpeza, serviços pessoais enão seriam facilmente substituídas pela tecnologComo os empregos de rotina se situam no meio ddistribuição salarial, seu desaparecimento faria cque a geração de empregos assumisse um formapolar. Corroborando essa leitura baseada na centrlidade da tecnologia e do capital humano, Goldie Katz (2008) armam que, nos Estados Unidoa expansão educacional trouxe igualdade salariaredução dos retornos pela educação até os anos 1970, reduzindo a desigualdade total. A partir dentão, o processo se inverte e há retornos crescen

    pela educação.Em contraponto aos economistas, os sociólogos elencam fatores não produtivos ligados à plarização. Wright e Dwyer (2003) apontam que composição da força de trabalho (por raça, sexstatus de imigração etc.) é um aspecto central: grpos de menorstatusocuparam a base da estruturapolar. Para DiPreteet al. (2006), Kalleberg (2012)e Mouw e Kalleberg (2010), o fenômeno estevligado à dinâmicas ocupacionais – voltaremos

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    7/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES85

    argumento desses autores adiante. Fernandez-Ma-cíaz (2012) e Oesch e Menés (2012) mostram quea regulação estatal e características institucionaissão determinantes para as condições de polariza-ção – e também para as direções das tendências dedistribuição e desigualdade de rendimentos. Inde-pendentemente da interpretação de suas causas, éconsensual que o quadro polarizado eleva as desi-gualdades.

    A análise gráca desses resultados permite-nosavaliar apenas de maneira descritiva e qualitativao formato da expansão do emprego na década de2000. A segunda etapa de nossas análises dedica-se justamente à avaliação da relação entre a estruturaocupacional e a desigualdade de renda. O objetivoé responder às seguintes questões:

    • Caso tenha havido alteração substantiva nadistribuição (tamanho) das ocupações, em quemedida esse movimento afetou a redução dasdesigualdades.

    • Em que medida a mudança do padrão da mé-dia entre as ocupações dos salários levou à re-dução das desigualdades.

    • Se as ocupações teriam pouca importância e amaior parte do declínio se deveria à reduçãodas desigualdades entre indivíduos dentro dasocupações, ou seja, a fatores intraocupacionais/não observáveis.

    Estas três questões não são antagônicas, mascomplementares, e todos os movimentos podemter acontecido conjuntamente. Nesse sentido, nos-so objetivo é indicar e mensurar qual a importânciarelativa de cada um.

    Na tentativa de explicar o fenômeno da pola-rização das ocupações nos Estados Unidos, já ob-

    servado em estudos anteriores, Mouw e Kalleberg(2010) propuseram analisar o movimento das de-sigualdades por meio de decomposição, a partir demodelos de regressão (Western e Bloome, 2009).Trata-se de uma forma de ligar o debate sobre amudança no padrão de emprego à pesquisa sobre adesigualdade de renda e os seus vários determinan-tes: educação, estrutura ocupacional, raça, gêneroetc. Por isso, adotamos estratégias semelhantes parao caso brasileiro.

    Partimos da simples decomposição da variâcia do logaritmo da renda condicional a categoriocupacionais:

    Var [ln_renda |ocup]t = +Desigualdade total = Desigualdade

    interocupacional+ Desigualdade

    intraocupacional(entre indivíduos)

    (1.1a)

    A fórmula 1.1a traz a decomposição da variância do logaritmo da renda do trabalho2 emdois termos, que representam a desigualdade etre e dentro das ocupações. Em outros termos

    representa a proporçãode ocupados no grupo ocupacional j no anot ;representa a renda média da ocupação j no anot ;

    representa a média de todos os salários (granmédia) no anot . Assim, no primeiro termo, se umaocupação dista muito da grande média (para maou para menos), essa distância é elevada ao quaddo e, por isso, contribui (de forma proporcional aseu tamanho) para o aumento geral da desigualdde. No segundo termo, representa a variâncido logaritmo da renda do trabalho no interior d

    ocupação j no anot . Ou seja, a desigualdade nointerior de um grupo ocupacional contribui paro aumento da desigualdade geral (de maneira também proporcional ao tamanho). Essa equação motra que o total de desigualdade num determinadano pode ser decomposto como a soma da desgualdade entre ocupações e da desigualdade entindivíduos dentro das ocupações (desigualdade itraocupacional).

    Um desenvolvimento adicional da mesmequação ainda permite uma decomposição dnâmica que mede como a desigualdade de rendevoluiu entre dois períodos de tempo. Para isso,preciso primeiro simplicar a expressão 1.1a. Sguindo Western e Bloome (2009), podemos faze

    . Então obtemos:

    (1.1b)

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    8/21

    86 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    A diferença na desigualdade de rendimentosentre dois pontos do tempo (0 et ) será dada por:

    (1.2a)Com um pouco de álgebra, podemos reescre-

    ver a expressão da seguinte maneira:

    (1.2b)

    A expressão 1.2b mostra que a variação total dadesigualdade pode ser decomposta em três efeitos,sobre os quais já tratamos. O primeiro está ligadoà variação da proporção das ocupações; por issoé chamadoefeito de composição( ). O segundorefere-se à distância entre os grupos; assim, é a ope-racionalização doefeito de médias( ). Por m, oterceiro diz respeito à mudança na dispersão dossalários interna às ocupações; o chamaremos decomponente deefeito da variância( ). Os trêscomponentes respondem diretamente às questõesanteriormente enunciadas nesta seção. Simpli-cando, a variação total da desigualdade entre doisperíodos de tempo é igual à soma dos três efeitos:

    (1.3)

    É importante pontuar ainda que uma tendênciageral de declínio das desigualdades não signica quetodas as ocupações tiveram contribuição idênticasobre esse movimento. A tendência pode ser decres-

    cente em média, mesmo que algumas ocupações te-nham contribuído para o aumento da desigualdade(tendo seus efeitos contrabalanceados por outras).

    As equações 1.1 a 1.3, no entanto, fazem usoapenas de variáveis ocupacionais para decompor asdesigualdades, sem qualquer tipo de controle a par-tir de outras características. Sabe-se que os retornosem rendimentos estão condicionados a outros fa-tores, como gênero, raça, idade, educação etc. Paraidenticar o componente especicamente devido às

    ocupações, aplicamos um método de decomposiçbaseado em regressões (Mouw e Kalleberg, 201Inicialmente, estimamos a média e a variância renda de cada ocupação controlando pelas variávtípicas de estudos sobre determinação e desigualdde de renda, como sexo, cor, nível de escolaridadentre outras (detalhadas adiante). Os componentesão estimados por modelos de regressão que têmcontroles como variáveis independentes.

    (2.1)

    A expressão 2.1 representa uma regressão linque traz um conjunto de j variáveisdummy para asocupações ( ) e também um conjunto de variáveis de controle ( ).3 A equação exclui o termoconstante, uma vez que todas asdummies de ocupa-ção serão incluídas. O procedimento de decomposição requer que todos os controles sejam variávcategóricas. Os controles que introduzimos foraraça (categorizada como “brancos” e “não bracos”)4; idade (em grupos de cinco anos), regiõedo Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudese Sul) e escolaridade (sem instrução, primário icompleto, primário completo/fundamental incompleto, fundamental completo/médio incompletomédio completo/superior incompleto e superiocompleto). Os coecientes trazem os efeitos xos de cada ocupação, ou seja, a parcela da médda renda que se deve às ocupações, abstraída dcontroles; é o termo de erros heterocedásticos

    Os valores de substituirão os de nasexpressões 1.1 e 1.3,5 quando estivermos tratandodo modelo com controles. Também é necessáriestimar a variância do logaritmo da renda dentr

    de cada ocupação levando em conta as variáveiscontrole. Os resíduos da regressão 2.1 representaa parcela de variação não explicada pelas ocupaçe pelas demais variáveis. Se os tomarmos em co junto, tratamos de toda a variância não explicadanão apenas daquela interna às ocupações. Para etimar a parcela que se deve à variância interna cada ocupação, aplicamos uma regressão em qos resíduos ao quadrado são a variável dependenutilizando as mesmas variáveis independentes

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    9/21

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    10/21

    88 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    permanecem praticamente idênticos se adotamosuma estratégia que permite a movimentação dosgrupos. A avaliação do saldo de geração do empre-go por quintos é dada simplesmente pela diferençade frequências em dois períodos. Comparamos osquintos sempre por biênios.Na análise de decomposição, utilizamos mode-los de regressão por mínimos quadrados para esti-mação tanto dos coecientes como , isto é,tanto nas regressões da média, como dos resíduos.9 Todas as análises foram realizadas com o uso dosof-tware R, e os códigos completos para a replicaçãopodem ser requisitados aos autores. Os bancos dedados encontram-se disponíveis no site do Centrode Estudos da Metrópole (www.fch.usp.br/cen-trodametropole).

    Resultados

    Padrões de expansão do emprego

    Não analisamos aqui a composição especíde cada quinto de ocupações-setores. Interessa-napenas apresentar o quadro geral do padrão de gração de empregos na década de 2000. Cabe resstar que, de modo geral, os quintos de qualidade demprego têm sempre características especícas. mais baixos agrupam um menor número de ocupções-setor, que empregam uma grande quantidadde indivíduos. À medida que avançamos para quintos superiores, há um número cada vez maide ocupações-setor; são categorias mais heterogêas e com maior variabilidade em termos de renda

    Grácos 2Padrões de geração de emprego na década de 2000 (saldos bienais)

    * Intervalo 2008/9-2011/12 é maior que os demais pois não houve PNAD em de 2010 (ano censitário).Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

    a) 2002/3 a 2004/5

    c) 2006/7 a 2008/9

    b) 2004/5 a 2006/7

    d) 2008/9 a 2011/12*

    2.000.000

    1.500.000

    1.000.000

    500.000

    -

    -500.000

    -1.000.000

    2.000.000

    1.500.000

    1.000.000

    500.000

    -

    -500.000

    -1.000.000

    2.000.000

    1.500.000

    1.000.000

    500.000

    -

    -500.000

    -1.000.000

    2.000.000

    1.500.000

    1.000.000

    500.000

    -

    -500.000

    -1.000.000

    1º 2º 3º 4º 5ºQuinto Quinto Quinto Quinto Quinto

    1º 2º 3º 4º 5ºQuinto Quinto Quinto Quinto Quinto

    1º 2º 3º 4º 5ºQuinto Quinto Quinto Quinto Quinto

    1º 2º 3º 4º 5ºQuinto Quinto Quinto Quinto Quinto

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    11/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES89

    Os grácos 2 exibem o saldo de empregos porquintos de qualidade do emprego de duas formasdiferentes – uma delas segundo comparações bie-nais. O gráco 3 traz o saldo agregado do período,ou seja, entre 2002 e 2012.

    De acordo com os quatro saldos bienais apre-sentados, a expansão dos postos de trabalho na dé-cada de 2000 se caracteriza predominantementepor um quadro de melhoria do emprego (segun-do os modelos estilizados na Figura 1). No últimoperíodo, o quadriênio de 2008-2012, observamosa criação de postos de trabalho concentrados nosquintos intermediários de qualidade do emprego –simultânea à redução dos postos de pior qualidade.O saldo total do período, apresentado no gráco 3,mostra que o resultado nal é fundamentalmentede melhoria do emprego (apesar de algumas ca-racterísticas híbridas, que intercedem com outrosmodelos). Ou seja, a queda das desigualdades derendimento se fez em um cenário que se aproximada melhoria de emprego, principalmente entre osanos de 2004-2005 e 2008-2009. Esse fenômenovai na contramão do que já ocorreu em momentospassados, no Brasil e em outros países, em que amelhoria de emprego geralmente era acompanhadode crescimento das desigualdades. Ainda que nãoseja possível contradizer as expectativas teóricasmais gerais sobre a relação entre padrões de geraçãode emprego e movimento das desigualdades, nos-

    so caso sugere que a conexão entre os dois fenmenos não é tão mecânica. A relação seria diretnecessária se apenas o efeito de composição (ocpacional) importasse para a variação do patamar desigualdade. Contudo, fatores extraocupacionaimportam (composição de gênero, de idade, de ecolaridade etc.) Além disso, mesmo que nos devéssemos no aspecto ocupacional, conforme vimpela expressão 1.3, há contribuições associadas efeito de médias e de variância para entender coma estrutura ocupacional se relaciona com a desigudade de renda diante dos diversos determinanteque esta tem.

    As discussões em torno da expansão do emprgo na década de 2000 frequentemente levantarama suspeita de que a maior parte dos postos formagerados na década se concentraria em empregos qualidade relativamente baixa. O que observamé exatamente o contrário disso: os novos empregformais concentram-se principalmente nos dois útimos quintos, de maior renda, do ponto de vistrelativo. Contudo, dada a imensa desigualdade qupersiste (apesar de toda a queda dos indicadores, patamares ainda são elevados), os primeiros quinde ocupações-setores concentram ocupações cuja ferença substantiva de renda não é tão grande. Esfato faz com que diagnósticos muito díspares possser traçados sobre essa mesma realidade. Do o ponde vista do estoque de trabalhadores nas ocupaçõ

    Gráco 3Padrão de geração de emprego entre 2002 e 2012

    Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

    5.000.000

    4.000.000

    3.000.000

    2.000.000

    1.000.000

    -1º Quinto 2º Quinto 3º Quinto 4º Quinto 5º Quinto

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    12/21

    90 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    o cenário ainda é de grande concentração de traba-lhadores em ocupações cujo rendimento médio é in-ferior a dois salários mínimos. De um ponto de vistarelacional (isto é, do uxo/saldo entre os períodos),e levando em conta os processos de mudança, a ex-pansão do emprego caracterizou-se por uma transfe-rência da mão de obra para ocupações relativamen-te mais bem remuneradas. De fato, o padrão dessadécada é novidade frente aos das décadas anteriores,marcadas por profundas instabilidades no mercadode trabalho brasileiro (Cardoso, 1999; Guimarães,2002). Essas mudanças qualitativas no emprego noBrasil durante a última década e sua relação com adesigualdade de renda nos levam, assim, a prosseguira investigação para entender a relação dessa dinâmicacom os processos associados à distribuição dos rendi-mentos no país nesse mesmo período.

    Decomposição do movimento da desigualdadede renda

    Como dissemos, a mera leitura visual e qua-litativa dos grácos apresentados não nos permiteavaliar o movimento dos indicadores de desigual-dade. Uma vez que os quintos mais elevados sãotambém mais heterogêneos e desiguais em termosde distribuição de renda, um movimento de me-lhoria do emprego pode estar associado até ao au-mento de desigualdades. Se há redução da desigual-dade de renda, como é amplamente documentadona pesquisa empírica sobre o tema, podemos nosperguntar quais os pesos dos elementos, com umfoco especial na dimensão ocupacional. Procede-mos então à análise detida dos fatores de mudançada estrutura ocupacional sobre as desigualdades. Atabela 1 apresenta os resultados da decomposiçãodo índice de desigualdade por ocupação, de acordo

    com as equações apresentadas na seção 4.1.10

    Primeiramente apresentamos o estoque de de-sigualdade em cada período (decomposição deri-vada da fórmula 1.1a). No caso do modelo nulo,a decomposição é feita nas parcelas inter e intra-ocupacionais, sem variáveis de controle. No casodos modelos com controles, há um componenteadicional chamado de “nível individual”, que se re-fere à variância explicada pelas demais variáveis in-dependentes incluídas.11 A coluna do total mostra

    o valor bruto do logaritmo da renda para cada anObservamos que a queda é contínua, partindo d1,041, em 2002, e chegando a 0,802, em 2012. Acolunas R² apresentam a divisão dos componentinter, intra e individual pela desigualdade total ecada ano, indicando a parcela de desigualdade deda a cada componente, numa escala de 0 a 1.

    O modelo nulo sugere que a maior parcela dadesigualdades se deve às diferenças entre indivíos dentro das ocupações, como pode ser visto peavaliação numérica do componente na coluna intra, assim como sua importância relativa, que sempre ao redor de 60% (R² intra). Observamotambém que uma queda ocorreu simultaneamentnos componentes entre e dentro das ocupações, dforma que a parcela explicada por cada componete se mantêm praticamente invariável em termorelativos, como informam os valores da coluna RO modelo 2, com controles de raça, sexo, regiãoidade, aponta para uma conclusão aparentemensemelhante. A parcela das desigualdades explicpelo componente ocupacional passa a ser menor R² ca em torno de 0,34), mas permanece relativmente estável ao longo do tempo, como no modeanterior. Podemos ver a importância dos controladicionados através de sua representatividade explicação dos modelos comunicada na coluna Rem torno de 25%.

    Por m, no modelo 3 a variável de escolaridde é adicionada. Esses resultados alteram substacialmente as conclusões dos modelos anteriores.tamanho do componente individual (sexo, raçaidade, região e escolaridade) se amplia de formconsiderável. No período, sua importância explictiva oscila entre 55% para 47,1%. As desigualdadinternas às ocupações, por sua vez, ocupam um ptamar de 0,355 e sua importância relativa na vari

    ção da tendência é em média de 38%. A sucessiadição de controles mostra que parte considerávdos efeitos, que aparentemente seriam diferençentre ocupações, pode ser atribuída a fatores indviduais inseridos no modelo 2 e principalmenteescolaridade, inserida no modelo 3. Ainda assim,tendências associadas aos componentes inter e itraocupacionais se mostram signicativas, uma vque sua importância relativa na explicação da degualdade de renda, somada, sempre ronda os 50%

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    13/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES91

    Tabela 1Decomposição da variância do logaritmo da renda

    Modelo 1 (apenas ocupações)

    Ano

    Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²Inter Intra Nível

    individualTotal Efeito

    composiçãoEfeitomédia

    Efeitovariância

    Inter Intra Nívelindividual

    2002 0,446 0,595 – 1,041 0,000 0,000 0,000 0,429 0,571 –2003 0,433 0,604 – 1,036 -0,001 -0,011 0,007 0,417 0,583 –2004 0,412 0,585 – 0,997 -0,006 -0,026 -0,011 0,413 0,587 –2005 0,416 0,573 – 0,989 -0,004 -0,025 -0,022 0,421 0,579 –2006 0,411 0,563 – 0,973 -0,010 -0,029 -0,028 0,422 0,578 –2007 0,368 0,556 – 0,924 -0,033 -0,060 -0,025 0,398 0,602 –2008 0,378 0,532 – 0,910 -0,042 -0,043 -0,046 0,415 0,585 –2009 0,373 0,515 – 0,888 -0,038 -0,058 -0,057 0,420 0,580 –2011 0,322 0,489 – 0,812 -0,071 -0,082 -0,076 0,397 0,603 –2012 0,307 0,495 – 0,802 -0,076 -0,105 -0,058 0,383 0,617 –Modelo 2 (ocupações com controle de raça, sexo, idade e regiões)

    Ano

    Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²Inter Intra Nível

    individualTotal Efeito

    composiçãoEfeitomédia

    Efeitovariância

    Inter Intra Nívelindividual

    2002 0,360 0,407 0,273 1,041 0,000 0,000 0,000 0,346 0,391 0,2632003 0,343 0,450 0,243 1,036 0,000 -0,016 0,042 0,331 0,434 0,2342004 0,330 0,419 0,248 0,997 -0,005 -0,024 0,010 0,331 0,420 0,2492005 0,336 0,423 0,230 0,989 -0,003 -0,020 0,015 0,340 0,427 0,2322006 0,335 0,393 0,245 0,973 -0,006 -0,021 -0,012 0,344 0,404 0,2522007 0,299 0,358 0,267 0,924 -0,023 -0,047 -0,040 0,324 0,387 0,2892008 0,310 0,383 0,217 0,910 -0,028 -0,033 -0,013 0,341 0,421 0,2382009 0,309 0,363 0,216 0,888 -0,026 -0,040 -0,029 0,348 0,409 0,2432011 0,271 0,331 0,210 0,812 -0,051 -0,059 -0,055 0,334 0,408 0,2582012 0,257 0,313 0,233 0,802 -0,055 -0,077 -0,066 0,320 0,390 0,290Modelo 3 (ocupações com controle de raça, sexo, idade, regiões e educação)

    Ano

    Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²Inter Intra Nível

    individualTotal Efeito

    composiçãoEfeitomédia

    Efeitovariância

    Inter Intra Nívelindividual

    2002 0,142 0,326 0,573 1,041 0,000 0,000 0,000 0,137 0,313 0,5502003 0,138 0,394 0,505 1,036 -0,001 -0,003 0,067 0,133 0,380 0,4872004 0,133 0,352 0,512 0,997 -0,002 -0,006 0,025 0,134 0,353 0,5142005 0,142 0,385 0,461 0,989 -0,003 0,002 0,060 0,144 0,389 0,4672006 0,141 0,352 0,480 0,973 -0,007 0,003 0,030 0,145 0,362 0,4932007 0,127 0,377 0,419 0,924 -0,020 -0,005 0,062 0,138 0,409 0,4542008 0,149 0,384 0,377 0,910 -0,025 0,019 0,071 0,163 0,422 0,4152009 0,152 0,359 0,377 0,888 -0,027 0,021 0,048 0,171 0,404 0,4252011 0,133 0,316 0,363 0,812 -0,046 0,015 0,012 0,164 0,389 0,4472012 0,123 0,301 0,378 0,802 -0,052 0,002 0,006 0,153 0,376 0,471

    Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    14/21

    92 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    Ainda de acordo com os resultados do mode-lo 3, é possível ter uma ideia mais precisa sobre oscomponentes que inuenciaram os movimentos dastendências ocupacionais. Em 2002, quando a desi-gualdade total medida pela variância do logaritmoda renda era 1,041, os componentes ocupacionais

    e eram responsáveis por 0,468 des-se índice (0,142 + 0,326). Ao m do período, em2012, esse valor caiu para 0,424 – e a diferença éexatamente aquela captada pela soma dos três efeitosidenticados pela decomposição empregada: 0,424= 0,468 + (-0,052 + 0,002 + 0,006) – conforme a ex-pressão 1.3. Isso indica, portanto, que os componen-tes ocupacionais tiveram um pequeno ou moderadopapel na queda das desigualdades: foram responsá-veis por um decréscimo de 0,044 em nosso índice, eessa queda se deveu predominantemente à mudançasna composição das ocupações, como mostra a últimalinha da tabela 1 e a álgebra demonstrada.

    A queda total da desigualdade de renda me-dida pelo logaritmo foi de 0,239, como informaa simples subtração do último ponto da tendênciaem relação ao primeiro. Com outras manipulações

    algébricas igualmente simples, feitas nos diferetes modelos, chegamos à tabela 2, que represena importância relativa dos componentes estudade enfocaapenas a queda da desigualdade. Assim, elaapresenta o peso relativo de cada componente nconstrução do movimento de queda. Torna-se batante clara a redução de importância dos componentes ocupacionais para a análise da queda da degualdade à medida que adicionamos novas variávaos modelos. É interessante comparar as mudançentre os modelos 2 e 3. Vemos que a importânciexplicativa do componente interocupacional cai 43% para 7%,12 enquanto o intraocupacional cai

    de 39% para 10,%. A importância relativa das vriáveis de nível individual, por sua vez, cresce 17% para 81%. Como a única variável adicionadnesse passo se refere ao nível de escolaridade, é psível atribuir as mudanças à adição desse controOu seja, no que diz respeito à análise da queda ddesigualdade, chegamos a resultados similares aooutros pesquisadores que haviam estudado o tem

    No entanto, sublinhamos que as mudanças naestrutura ocupacional não são triviais. Aproxim

    Tabela 2Resumo: contribuição de cada componente para a queda das desigualdades de rendimento (2002-20

    Variação percentual dos componentes estáticos (2002-2012)

    Modelo 1(sem controles)

    Modelo 2(+ sexo, raça, idade, regiões)

    Modelo 3

    (+ sexo, raça, idade, regiões,escolaridade)∆ inter -58,16% (-0,14) -43,46% (-0,10) -7,95% (-0,01)∆ intra -41,84% (-0,10) -39,66% (-0,09) -10,46% (-0,02)∆ variáveis -16,88% (-0,04) -81,59% (-0,19)Total -100,00% (-0,24) -100,00% (-0,24) -100,00% (-0,24)

    Saldos da decomposição dinâmica – componentes ocupacionais

    Efeito de composição ( ) -31,80% (-0,07) -23,00% (-0,05) -21,80% (-0,05)

    Efeito de médias ( )-43,90% (-0,10) -32,20% (-0,07) 0,80% (0,002)

    Efeito de variância ( ) -24,30% (-0,05) -27,60% (-0,06) 2,50% (0,006)Total -100,00% (-0,24) -82,80% (-0,19) -18,40% (-0,044)

    Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    15/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES93

    damente 18% da queda da desigualdade do rendi-mento do trabalho, segundo nossos modelos, se de-veram a mudanças ocupacionais. Nossa estratégiade decomposição mostra que o fator determinantefoi o efeito de composição, cuja importância expli-cativa praticamente não é afetada pela adição docontrole de educação, enquanto os componentes demédia e variância têm seus efeitos reduzidos paraquase zero. Portanto, a desigualdade entre ocupa-ções caiu porque reduziu-se a proporção (o tama-nho) de ocupações nos extremos da distribuiçãode renda e/ou porque houve redução da proporçãoocupada por ocupações internamente muito desi-guais no mercado de trabalho.

    Em síntese, nossos resultados podem ser inter-pretados em dois sentidos distintos, uma vez queapresentam dados do ponto de vista estático (anual)e dinâmico (mudança da desigualdade e dos fatoresassociados a ela). A tabela 1 fornece mais informa-ções para pensar a do ponto de vista estático. Comomencionamos, a coluna R² traz a importância docomponente ocupacional a cada ano. Observandoos resultados do modelo 3, que já inclui todos oscontroles, notamos que os componentes ocupacio-nais tem uma importância elevada na explicaçãoda desigualdade em cada um dos anos. Em 2012,apenas a desigualdade entre ocupações já explicacerca de 15,3% da desigualdade do rendimento dotrabalho. A desigualdade entre indivíduos dentrodas ocupações (que, de certa forma, também é umacaracterística estrutural das ocupações) é responsá-vel por 37,6% da variância nesse mesmo ano. Aolongo do período considerado, somados, os com-ponentes inter e intraocupacionais são responsáveispor cerca de 50% da variância do logaritmo da ren-da. Isso demonstra de forma signicativa como aestrutura ocupacional é um traço fundamental da

    desigualdade de rendimentos no Brasil, tanto na di-mensão que diferencia as ocupações entre si comoem sua composição interna e na dispersão salarialque nelas está presente.

    Do ponto de vista da dinâmica da desigualda-de de renda do trabalho, que coloca em foco diretoa queda da desigualdade em si , como a maior partedessa queda se deve às nossas variáveis de controle(em especial, a escolaridade), a importância relati-va dos componentes ocupacionais foi lentamente

    crescendo ao longo dos anos. A soma do R² docomponentes inter e intra se eleva pouco a poucComo essa medida é relativa, essa elevação se dnão ao crescimento absoluto dos termos, mas à dminuição de importância de outros fatores, como educacional, para a tendência avaliada. Desmodo, ainda que a estrutura ocupacional tenhtido um papel coadjuvante na queda (uxo) da desigualdade de renda do trabalho – apenas pelo efto de composição –, isso fez com que se ampliassseu papel explicativo no estoque.

    Nossos resultados são assertivos sobre um poto muito importante: os recentes ganhos salariados trabalhadores e a queda da desigualdade nãestão relacionados a mudanças na hierarquia e easpectos da estrutura ocupacional. Houve homogneização da distribuição e dos retornos da educção, além de diminuição de disparidades assocdas a outros aspectos importantes, como gênerNo entanto, as distâncias salariais entre ocupaçõbem como os mecanismos de premiação desigudos indivíduos dentro das ocupações, se mantivram estáveis – observação que é possível apenahouver controle por um conjunto de variáveis. Oseja, as signicativas mudanças ocorridas no merdo de trabalho na última década não afetaram umeixo fundamental, que contribui na organização dprocesso de estraticação. Esses resultados apontpara a natureza estrutural da dimensão ocupacione de sua resiliência a mudanças. A estrutura ocpacional muda de forma mais lenta e depende dmovimentos de mais de uma geração.

    Discussões e considerações nais

    Ao longo deste artigo, com duas estratégia

    distintas e complementares, investigamos a relção entre geração de emprego, estrutura ocupacinal e desigualdade de renda no Brasil. Mostramque o padrão de expansão do emprego na últimdécada implicou, de modo geral, uma melhorirelativa dos postos de trabalho: as ocupações crdas se concentram nos quintos mais altos de rend(melhoria de emprego). A literatura econômica principalmente por meio da hipótese deskill biasedtechnological change , tanto em sua versão original

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    16/21

    94 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    quanto na de Autor, Levy e Murnane (2003) – in-dica que esse quadro pode estar ligado ao aumentoda desigualdade observado em uma séria de paísesdesenvolvidos, uma vez que reete o aquecimen-to da demanda por mais altas qualicações (e, porconseguinte, a elevação dos prêmios salariais). Nos-sos resultados mostram que, no Brasil, esse tipo detendência não se aplica: experimentamos queda emtodos os índices que mensuram a desigualdade derendimentos ao mesmo tempo que vivenciávamossignicativas mudanças no mercado de trabalho,um job upgrading .

    A geração de empregos transferiu os trabalha-dores para ocupações e setores em que se remuneramais, e simultaneamente houve redução do tamanhodas ocupações de mais baixo nível salarial. Como vi-mos, a redistribuição dos postos de trabalho (captadapelo efeito de composição) é responsável por cercade 20% da queda das desigualdades (tabela 2). Nes-se sentido, houve melhoria do emprego com equi-dade. Esse é um processo bastante distinto de umamudança no mercado de trabalho que pudesse tersido provocada pela demanda generalizada de traba-lhadores altamente qualicados e escolarizados. Porisso, melhoria ocupacional não precisa estar necessa-riamente ligada aos mesmos diagnósticos geralmentemobilizados pelo debate econômico.

    Nossos modelos de decomposição da desigual-dade de rendimentos (variância do logaritmo darenda) evidenciaram a importância empírica de umtipo de dimensão pouco mobilizada na literaturasobre a desigualdade de renda no Brasil: a estruturaocupacional. Para explicar o estoque da tendência,mesmo com rigorosos controles estatísticos, a de-sigualdade é substancialmente relacionada às ocu-pações, tanto a diferenças entre estas como à suadispersão interna. Também mostramos que, ainda

    que o fator determinante para a queda da desigual-dade tenha sido predominantemente educacional,mudanças relacionadas ao tamanho das ocupaçõestiveram efeitos não trivais sobre a queda da desi-gualdade de renda do trabalho no período.

    Dada a queda dos componentes de nível indivi-dual, hoje, o componente interocupacional respondepor uma parcela relevante do estoque de desigualda-des – a 15%, enquanto o intraocupacional, a 37,6%,em 2012. As desigualdades dentro (intra) das ocu-

    pações são fruto de uma interseção de uma série elementos, desde a heterogeneidade entre habilidade características individuais até mecanismos muitoferentes de competição, acesso e valorização das qlicações e do desempenho. No entanto, a abertuà heterogeneidade é em si uma característica instucional das ocupações. As diferenças nos patamade desigualdade dentro de um emprego público e dum emprego privado não são aleatórias, mas sismaticamente ligadas às normas formais e informque regem o acesso e as rotinas ocupacionais. Demodo, dizemos que também a desigualdade entindivíduos dentro das ocupações é um aspecto etrutural do sistema ocupacional. Somados, os docomponentes concorrem cada vez mais com a importância explicativa em comparação a outros qusitos, como raça, sexo, idade, região e escolaridaIsso não signica que estes tenham atualmente tamnho diminuto ou que deixaram de ser importantemas indica a relevância crescente da dimensão ocpacional para a compreensão de como se comportadesigualdade de renda no Brasil.

    Os patamares de desigualdade no país, apesde inferiores aos padrões antes vericados, aida são muito altos se tomamos como referênciaplano internacional. As evidências apresentamoalém de terem interesse cientíco, são importanttambém do ponto de vista da política social. Emresumo, o mercado de trabalho brasileiro mudoe se tornou menos desigual, mas isso se deve fudamentalmente à dinâmica da redução das barreras de oportunidades educacionais, à escolarizaçdos trabalhadores e à redução dos retornos salaripela educação. O componente sociológico ligadodivisão do trabalho e às hierarquias destatus entreocupações permaneneu praticamente inalterado.

    Tendo esses resultados em perspectiva, eme

    gem perguntas interessantes, que apontam para entendimento da dinâmica ocupacional e educacional em interação. Como as credenciais educacnais não são utilizadas em um vácuo no mercadde trabalho, pesquisas posteriores podem respoder, em termos parecidos com os que apresentamaqui, quais seriam as credenciais educacionais qtiveram mudanças mais signicativas para a degualdade de renda e em quais setores do mercadde trabalho o fenômeno ocorreu de forma mais in

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    17/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES95

    tensa. O ganho analítico da compreensão de suasfontes estruturais é signicativo e merece ser maisbem explorado por quem se dedica ao estudo dofenômeno. Mais especicamente, esperamos quenossa pesquisa seja útil ao mostrar a importânciada estrutura ocupacional para entender os padrõesde desigualdade de renda no Brasil. Acreditamoster evidenciado, com nossos resultados, a relevânciaanalítica e metodológica de uma orientação socioló-gica. Ainda assim, estivemos atentos à rica literatu-ra econômica sobre o tema no Brasil, e acreditamosque nosso trabalho seja um sinal da complementa-ridade dessas abordagens. Esta é apenas uma apro-ximação inicial ao tema, que merece ser estudadonum escopo de tempo mais amplo e sob o viés dainteração dessa dimensão temporal com os padrõesde mudança demográca. Que as novas pesquisaslevem em conta perspectivas interdisciplinares econtribuam, em diálogo, para um conhecimentocumulativo e relevante.

    Notas

    1 Os sistemas de classicação ocupacional e setorialem geral possuem muitas categorias: entre trezentase quinhentas de ocupações e entre cem e duzentasde setores. Obviamente, nem todas as células dessagrande matriz de ocupações/setor serão preenchidas– ainda mais em pesquisas amostrais. Para minimi-zar o problema de lacunas, os autores fundiram dadosde vários anos e zeram agregações e desagregaçõesdas categorias ocupacionais e setoriais. Consequente-mente, as inferências traçadas se referem à média doperíodo coberto.

    2 Apesar da variância do logaritmo da renda não ser umdos melhores indicadores de desigualdade, observa-mos que suas medições seguem de perto as tendências

    e inexões dos índices de Gini e de Theil. A crítica àessa medida apoia-se principalmente no fato de queas transformações não lineares da renda levam à viola-ção do princípio da transferência (Cowell, 1977). Noentanto, esta é a única medida de desigualdade quepermite a decomposição multivariada por meio demodelos de regressão, abrindo caminho para análisesdetalhadas e sosticadas.

    3 Não é preciso fazer suposições sobre o formato da dis-tribuição dos resíduos em amostras grandes. Apenasassinalamos que são independentes, têm média zero

    e variância heterocedástica (em função da ocupaçãe do tempo).

    4 O grupo dos brancos inclui também os amarelos. Onão brancos são os pretos, pardos, indígenas e outro

    5 Importante lembrar que nas equações 1.2 e 1.3

    .6 Na população, a variância condicional dos erros

    , uma função das ocupações e dasdemais variáveis explicativas. A regressão dos resídao quadrado é um estimador desse valor. Assumir lnearidade na regressão da função amostral da variâcia não é um pressuposto forte, uma vez que todas avariáveis são categóricas e utilizadas comodummies .Num modelo como esse (apesar de não ser saturadoa relação linear é uma boa aproximação para a esprança condicional.

    7 Wright e Dwyer (2003) argumentam que a mediana é uma medida mais robusta da tendência centrae menos inuenciada por observações extremas. Isé verdade, porém, a mediana é também uma medidmais ineciente, pois tem maior erro padrão e, poisso, é menos precisa. Como o número de caso naocupações-setor pode não ser muito grande, optamopela média porque sua precisão cresce mais rapidmente em amostras nitas, quando elevamos o número de casos.

    8 A denição de uma ocupação-setor é dada pela sguinte fórmula: ocupação-setor = ocupação + (setor

    10000). Criamos assim um número identicador docruzamento entre ocupações e setores sem que efevamente tenhamos que gerar uma grande matriz, quseria intratável analiticamente.

    9 Os resíduos ao quadrado seguem aproximadamenuma distribuição qui-quadrado, que é assimétrica direita e truncada no valor zero. A regressão por mínmos quadrados (MQO) não impede que obtenhamosvalores preditos negativos (que não fariam sentiduma vez que estamos estimando a variância). Ummodelo alternativo (e mais adequando em alguns casos) seria o uso de uma regressão Gama, ajustada pmáxima verossimilhança. Contudo, não obtivemovalores preditos fora do escopo de possibilidades –as estimativas da MQO se aproximam muito daquelaobtidas pela Gama, com a vantagem de serem maecientes e computacionalmente menos intensivos.

    10 Apresentamos apenas os resultados da decomposiçãoapresentação dos coecientes de regressão é irrelevapara os nossos propósitos. No entanto, como sublinhamos na seção anterior, o material para a replicação completa pode nos ser requisitado a qualquer momento.

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    18/21

    96 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    11 Quando aplicamos os modelos de regressão das fór-mulas 2.1 e 2.3 e então utilizamos seus valores es-timados na fórmula 3.1 (que substitui a 1.1a), asoma dos componentes inter e intra passa a ser me-nor que a desigualdade total no período. Isso ocor-re porque parcela da desigualdade foi explicada pe-las demais variáveis de controle. Podemos estimar acontribuição dessas variáveis para o estoque totalde desigualdades fazendo uma simples subtração:

    , ondeé justamente a parcela explicada pelas

    variáveis de controle. O subscrito “individual” ape-nas indica que são características dos indivíduos (raçasexo, idade, escolaridade), não das ocupações.

    12 Esse valor se refere à parcela da queda das desigual-dades que é devida ao componente. Seu calculo édado pela divisão da variação com componente entre

    2002 e 2012 e pela variação total das desigualdadesno mesmo período: . Assim, utilizan-

    do os dados da tabela 1 para o modelo 3, temos:.

    BIBLIOGRAFIA

    AUTOR, David H.; KATZ, Lawrance F. & KE- ARNEY, Melissa S. (2006), “The polarization

    of the US labor market”. American EconomicReview , 96: 189-194. AUTOR, David H.; LEVY, Frank & MURNANE,

    R. (2003), “The skill content of recent tech-nological change: an empirical exploration”.Quartely Journal of Economics , 118 (4): 1279-1334.

    BARROS, Ricardo Paes de; CARVALHO, Mire-la de; FRANCO, Samuel & MENDONÇA,Rosane. (2006a), “Determinantes imediatos daqueda da desigualdade de renda brasileira”,in

    R. P. Barros, M. N. Foguel et al. (orgs.),De-sigualdade de renda no Brasil: uma análise daqueda recente , Brasília, Ipea.

    . (2006B), “A queda recente da desigual-dade de renda no Brasil”,in R. P. Barros, M. N.Foguel et al. (orgs.),Desigualdade de renda noBrasil: uma análise da queda recente , Brasília, Ipea.

    BARROS, Ricardo Paes de; FRANCO, Samuel &MENDONÇA, Rosane. (2006), “A recentequeda na desigualdade de renda e o acelera-

    do progresso educacional brasileiro da últimdécada”,in R. P. Barros, M. N. Foguel et al. (orgs.),Desigualdade de renda no Brasil: umaanálise da queda recente , Brasília, Ipea.

    BECKER, Gary S. (1976),The economic approa-ch to human behavior . Chicago, University ofChicago Press.

    BLAU, Peter Michael & DUNCAN, Otis Dudley(1967),The American occupational structure .New York, Wiley.

    BREEN, Richard &ROTTMAN, David B.(1995),Class stratication: a comparative pers- pective . New York, Harvester Wheatsheaf.

    CARDOSO, Adalberto Moreira. (1999),Sindica-tos, trabalhadores e a coqueluche neoliberal: a EraVargas acabou? Rio de Janeiro, Editora FGV.

    COWELL, Frank A. (1977), Measuring inequality .Oxford, Philip Allan.

    DIPRETE, Thomas; GOUX, Dominique; MAU-RIN, Eric & QUESNEL-VALLEE, Amelie(2006), “Work and pay in exible and regulated labor markets: A generalized perspective institutional evolution and inequality trends inEurope and the US.”.Research in Social Strati- cation and Mobility , 24 (3): 311-332.

    FERNANDEZ-MACÍAS, E. (2012), “Job polarzation in Europe? Changes in the employmenstructure and job quality, 1995-2007”.Workand Occupations , 39 (2): 157-182.

    FERREIRA, Francisco H. G.; BARROS, RicardPaes de. (1998), “Climbing a moving mountain: explaining the decline in income inequality in Brazil from 1976 to 1996”. I Workshopda LACEA/IDB/World Bank Inequality andPoverty Network, Buenos Aires.

    FERREIRA, Francisco H. G.; LEITE, Philippe GLITCHFIELD, Julie & ULYSSEA, Gabriel

    (2006), “Ascensão e queda da desigualdade drenda no Brasil”.Econômica , 8 (1): 147-169.FERREIRA, Francisco H. G. & LITCHFIELD

    Julie. (2001), “Education or ination? TheMicro and Macroeconomics of the BraziliaIncome Distribution during 1981-1995”.Cuadernos de Economía , 38 (114): 209-238.

    GOLDIN, C. & KATZ, L. (2008),The race betwe-en education and technology . Cambridge, MA,Harvard University Press.

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    19/21

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES97

    GOLDTHORPE, John H. (2000),On sociology:numbers, narratives, and the integration of re-search and theory . Oxford/Nova York, OxfordUniversity Press.

    . (2007),On sociology - Illustration and Re-trospect . 2 ed. Stanford, Stanford University Press.GOOS, Maarten & MANNING, Alan. (2007),“Lousy and lovely jobs: the rising polarizationof work in Britain”.Review of Economics andStatistics , 89 (1): 118-133.

    GOOS, Maarten; MANNING, Alan & SALO-MONS, Ana. (2009), “Job polarization in Eu-rope”. American Economic Review , 99 (2): 58-63.

    GRUSKY, David B. & GALESCU, Gabriela.(2005), “Foundations of a neo-durkheimmianclass analysis”,in E. O. Wright (org.), Appro-aches to class analysis, Cambridge, CambridgeUniversity Press.

    GRUSKY, David B. & SORENSEN, Jesper B.(1998), “Can class analysis be salvaged?”.The American Journal of Sociology , 103 (5):1187-1234.

    GRUSKY, David B. & WEEDEN, Kim. (2008),“Are There Social Classes? A Framework for Tes-ting Sociology’s Favorite Concept”,in A. Lare-au e D. Conley (orgs.),Social class: how does itwork?, Nova York, Russel Sage Foundation.

    GUIMARÃES, Nadya Araujo. (2002), “Por umasociologia do desemprego: contextos societais,construções normativas e experiências subjeti-vas”.Revista Brasileira de Ciências Sociais , 17(50): 103-122.

    KALLEBERG, Arne. (2012), “Job quality and preca-rious work: clarications, controversies and chal-lenges”.Work and Occupations , 39: 427-448.

    KIM, Changwan & SAKAMOTO, Arthur. (2008),“The rise of intra-occupational wage inequali-

    ty in the United States, 1983 to 2002”. Ameri-can Sociological Review , 73: 129-157.KNIGHT, J. & SALBOT, R. (1983), “Education

    expantion and the Kuznets effect”. AmericanEconomic Review, 73: 1132-1136.

    LANGONI, Carlos Geraldo. (2005),Distribuiçãode renda e desenvolvimento econômico do Brasil .3 ed. Rio de Janeiro, Editora FGV.

    LEMIEUX, T. (2006), “Increasing residual wageinequality: composition effects, noisy data, or

    rising demand for skill?”. American EconomicReview , 96 (3): 461-498.

    . (2008), “The changing nature or wageinequality”. Journal of Population Economics ,21: 21-48.

    LIU, Yujia & GRUSKY, David B. (2013), “Thpayoff to skill in the third industrial revolution”. American Journal of Sociology , 118 (5):1330-1374.

    MANNING, Alan. (2003), “The real thin theorymonopsony in modern labour markets”.La-bour Economics , 10 (2): 105-131.

    MINCER, Jacob. (1974),Schooling, experience andearnings . Nova York, NBER/Columbia Uni-versity Press.

    MORRIS, Martina & WESTERN, Bruce. (1999)“Inequality in Earnings at the Close of theTwentieth Century”. Annual Review of Sociolo- gy , 25: 623-657.

    MOUW, Ted & KALLEBERG, Arne. (2010),“Occupations and the structure of wage inequality in the United States, 19080s to 2000s” American Sociological Review , 75 (3): 402-431.

    NEVES, Jorge A. (2005), “Labor force classes and earnings determination of the farm population iBrazil: 1973, 1982 and 1988”.Research in SocialStratication and Mobility , 22: 423-475.

    OESCH, D. & MENES, R. (2012), “Upgradingor polarization? Occupational change in Britain, Germany, Spain and Switzerland, 19902008”.Socio-Economic Review , 9: 503-532.

    POCHMAN, Márcio. (2006), “Mercado de tra-balho no Brasil: o que há de novo?”.ParceriasEstratégicas , 22 jun.

    SANTOS, José Alcides Figueiredo. (2002),Estru-tura de posições de classe no Brasil: mapeamentomudanças e efeitos na renda . Belo Horizonte,

    Editora UFMG.SILVA, Nelson do Valle. (2003), “Os rendimentopessoais”,in C. Hasenbalg e N. V. Silva (orgs.),Origens e destinos: desigualdades sociais ao longoda vida, Rio de Janeiro, Topbooks.

    SORENSEN, Aage. (1996), “The structural basof social inequality”.The American Journal ofSociology , 101 (5): 1333-1365.

    SORENSEN, Aage & KALLEBERG, Arne L(1979), An outline of a theory of the matching

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    20/21

    98 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N

    of persons to jobs.Madison, WI, University of Wisconsin (mimeo).

    TAVARES, Priscilla Albuquerque & MENEZES--FILHO, Naercio Aquino. (2011), “Humancapital and the recent decline of earnings ine-quality in Brazil”.Brazilian Review of Econome-trics , 31 (2): 231-257.

    WEEDEN, Kim A. (2002), “Why do some occu-pations pay more than others? Social closuresand earnings inequality in the United States”.

    American Journal of Sociology , 108: 55-101. WEEDEN, Kim; KIM, Young-Mi; CARLO, Mat-

    thew Di & GRUSKY, David B. (2007), “So-cial class and earnings inequality”. AmericanBehavioral Scientist , 50 (5): 702-736.

    WESTERN, Bruce & BLOOME, Deirdre. (2009),“Variance function regressions for studying ine-quality”.Sociological Methodology , 39: 293-326.

    WILLIAMS, Mark. (2010), “The changing struc-ture of occupations and wage inequality inGreat Britain, 1970-1990s”. Encontro doISA Research Comitee on Social Stratication(RC28), Haifa.

    WRIGHT, Erik Olin. (1997),Class counts: compa-rative studies in class analysis . Cambridge, Cam-bridge University Press.

    WRIGHT, Erik Olin & DWYER, Rachel E.(2003), “The patterns of job expansions in theUSA: a comparison of the 1960s and 1990s”.Socio-Economic Review , 1: 289-325.

  • 8/17/2019 os impactos da geração de empregos nas desigualdades sociais.pdf

    21/21

    RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS 221

    OS IMPACTOS DA GERAÇÃODE EMPREGOS SOBRE ADESIGUALDADE DE RENDA: UMA ANÁLISE DA DÉCADA DE 2000

    Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes,

    Rogério Jerônimo Barbosa,Pedro Herculano G. F. de Souza eCarlos Antônio Costa Ribeiro

    Palavras-chave: desigualdade de renda,expansão do emprego, ocupações

    Nos últimos vinte anos, o Brasil viveuum período de contínua queda da desi-gualdade, especialmente relacionada aosrendimentos do trabalho. Pretendemoscompreender como esse movimento serelaciona a uma dimensão pouco mobi-lizada no debate sobre o tema: a estruturaocupacional. De início, apresentamosuma discussão e dados que descrevem asmudanças dos novos empregos geradosem dez anos (2002-2012). Em seguida,estudamos a desigualdade de renda dotrabalho e seus componentes de duasmaneiras: descrevendo a importância decomponentes ocupacionais a cada ano;analisando especicamente sua queda eo componente ocupacional se compor-tou diante de outras características, comoraça, gênero, região e sobretudo escola-

    ridade. Nossos resultados apontam paraa relevância da estrutura ocupacional deacordo com as diferenças entre e dentrodas ocupações; indicam ainda que osrecentes ganhos salariais dos trabalhado-res e a queda da desigualdade de rendado trabalho não estiveram associados amudanças na hierarquia e a aspectos daestrutura ocupacional. Em síntese, as dis-cussões e análises do artigo contribuempara um aspecto profundamente estru-tural da desigualdade de renda no Brasil,e importantes para a análise sociológica,que são os fatores institucionais e domercado de trabalho.

    THE IMPACTS OF EMPLOYMENTCREATION AND THE INCOMEINEQUALITY: AN ANALYSIS OFTHE DECADE OF 2000

    Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes,

    Rogério Jerônimo Barbosa,Pedro Herculano G. F. de Souza andCarlos Antônio Costa Ribeiro

    Keywords: Income inequality; Earningsinequality; Job expansion; Occupations;Occupational structure

    Income and earnings inequality havefallen consistently in Brazil in the last20 years. In this article, we intend to un-derstand how these trends are associatedwith the country's occupational struc-ture, an overlooked dimension in theBrazilian debate concerning the theme.Our discussion starts with a detailedanalysis of the pattern and quality of the jobs created between 2002 and 2012 inthe country. This discussion draws thebackground to the following theme weaddress, which is the earnings inequal-ity trend in the same period. We scru-tinize the trends in two different ways.The rst is a decomposition our choseninequality index year by year. Second,we put into focus only the inequalitydecrease and how it is associated with

    the occupational component and othercharacteristics such as race, gender, re-gion and education. Our results high-light the importance of the occupationalstructure, with its between and withinoccupations components account-ing for more than half of the inequal-ity observed in each year. Despite thisimportance, the occupational structurehas a minor inuence in relation to thefall of inequality, which is more associ-ated with changes related to education.These results show that the signicantchanges that occurred in the Brazilianlabor market in the last ten years werenot associated with changes in the occu-pational structure. We demonstrate thatdifferences between and within occupa-tions have remained stable. Our resultsand analyses contribute in a non trivialway to highlight the structural qualityincome inequality in Brazil, pointing tothe institutional factors associated withit through a sociological interpretation.

    LES IMPACTS DE LA CRÉATIOND'EMPLOIS ET L'INÉGALITÉDE REVENU: UNE ANALYSE DES ANNÉES 2002/2012

    Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes,

    Rogério Jerônimo Barbosa,Pedro Herculano G. F. de Souza etCarlos Antônio Costa Ribeiro

    Mots-clés: inégalité de revenu, expansionde l'emploi, occupations

    Au cours des vingt dernières années, leBrésil a vécu une période de chute conti-nue de l'inégalité, liée particulièrementaux revenus du travail. Nous tentons decomprendre comment ce mouvement serapporte à une dimension peu mobiliséedans le débat sur cette question: la struc-ture occupationnelle. Initialement, nousprésentons une discussion et des donnéesqui décrivent les changements des nou-veaux emplois créés en dix ans (2002-2012). Nous étudions ensuite, de deuxfaçons, l'inégalité de revenu du travailet ses composantes: en décrivant, annéepar année, l'importance de composantesprofessionnelles; en analysant spécique-ment sa chute et le comportement de sacomposante professionnelle face à d’autrescaractéristiques, telles la race, le genre, la

    région et, surtout, la scolarité. Nos résul-tats indiquent l'importance de la struc-ture occupationnelle conformément auxdifférences entre et à l'intérieur des occu-pations; ils indiquent aussi que les gainssalariaux récents des travailleurs et la chutede l'inégalité de revenu du travail n'ontpas été associés à des changements dansla hiérarchie et aux aspects de la structureprofessionnelle. En bref, les discussions etles analyses de l'article contribuent à unaspect profondément structurel de l'inéga-lité de revenu au Brésil. Ils sont égalementimportants pour l'analyse sociologique,qui sont les facteurs institutionnels et dumarché de travail.