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401 © 1994. Goldore Consulting Inc. Todos os direitos reservados. — Capítulo Dezoito — Os Perigos da Liderança Gerencial Aquele que conduz a orquestra deve encarar a música. Deus responsabiliza o líder pelo que acontece nas fileiras. Lidamos com algumas “armadilhas” e erros da lideran- ça gerencial, mas ainda existem outros perigos à sol- ta! Ao tratarmos deste assunto, surge a pergunta: “Será que sou qualificado?” A voz sussurrante e tran- qüila de Deus nos assegura: Sim. Não por que você seja perfeito, nem te- nha jamais falhado nem falhará, mas por que é um ser humano sujeito a tal situação, e com ex- periência em pelo menos algumas dessas áreas de perigo. Além disso, lhe pedi que fizesse a obra, por isso eu lhe concedo a sabedoria e a orientação para lidar com essa questão. Devo reconhecer também que o que está escrito aqui recebeu a influência de uma combinação de conheci- mento, sabedoria, experiência pessoal e a visão de muitos outros homens e mulheres de Deus. Kenneth Prior escreveu um excelente livro intitulado, Perils of Leadership (“Perigos da Liderança”.) Não se trata de um livro sobre teologia. Não diz que alcança- mos a perfeição isenta de pecado antes da morte, ou no arrebatamento. Tampouco é um livro que afirma: “Você está acabado!” se houver falhado ou vier a fra- cassar em alguma área. Diz simplesmente que no de- curso de sua vida, enquanto estiver cumprindo o man- dato de Deus, você enfrentará alguns perigos. Será até mesmo afetado por alguns deles; mas pela graça de Deus poderá erguer-se e partir de novo para a vitória. Lembro-me do versículo em Provérbios [24.16] que diz: quando cair, me levantarei!” O problema é que nós os cristãos atiramos em nossos soldados caídos. Aplicamos-lhe “um bem merecido chute no traseiro” e prosseguimos em nosso viver alegre, conformados com o espiritualmente presunçoso e “tradicional status quo”, frequentemente intolerante, sem jamais conhe- cer ou perseguir a visão e os desafios que estes soldados caídos buscam. Abandonamo-los aleijados ou destruídos pela nossa traição. Frequentemente Deus entra em cena e apanha os soldados caídos em quem atiramos e a quem chutamos e usa-os de modo mais avassalador. Lembro-me também de Martinho Lutero, um dos gran- des homens de Deus, a respeito de quem li há muitos anos. O diabo ficava trazendo-lhe à memória as mui- tas ocasiões em que havia falhado, pecado, “enfiado o pé na jaca.” A situação ficou tão ruim que Lutero não conseguia conciliar o sono à noite, lembrando-se de todas as suas fraquezas, fracassos e pecados do passa- do. Sua miséria espiritual e depressão chegaram a um ponto crítico quando, em certa noite, ele teve um sonho. [Ou teria sido a voz sussurrante e tranqüila falando a um soldado ferido?] Nesse sonho Lutero

Os Perigos Da Lideranca Gerencial

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— Capítulo Dezoito —

Os Perigos da Liderança Gerencial

Aquele que conduz a orquestra deve encarar a música.

Deus responsabiliza o líder pelo que acontece nas fileiras.

Lidamos com algumas “armadilhas” e erros da lideran-ça gerencial, mas ainda existem outros perigos à sol-ta! Ao tratarmos deste assunto, surge a pergunta:“Será que sou qualificado?” A voz sussurrante e tran-qüila de Deus nos assegura:

Sim. Não por que você seja perfeito, nem te-nha jamais falhado nem falhará, mas por que éum ser humano sujeito a tal situação, e com ex-periência em pelo menos algumas dessas áreasde perigo. Além disso, lhe pedi que fizesse aobra, por isso eu lhe concedo a sabedoria e aorientação para lidar com essa questão.

Devo reconhecer também que o que está escrito aquirecebeu a influência de uma combinação de conheci-mento, sabedoria, experiência pessoal e a visão demuitos outros homens e mulheres de Deus.

Kenneth Prior escreveu um excelente livro intitulado,Perils of Leadership (“Perigos da Liderança”.) Não setrata de um livro sobre teologia. Não diz que alcança-mos a perfeição isenta de pecado antes da morte, ouno arrebatamento. Tampouco é um livro que afirma:“Você está acabado!” se houver falhado ou vier a fra-cassar em alguma área. Diz simplesmente que no de-curso de sua vida, enquanto estiver cumprindo o man-dato de Deus, você enfrentará alguns perigos. Será atémesmo afetado por alguns deles; mas pela graça deDeus poderá erguer-se e partir de novo para a vitória.

Lembro-me do versículo em Provérbios [24.16] que diz:“quando cair, me levantarei!” O problema é que nósos cristãos atiramos em nossos soldados caídos.Aplicamos-lhe “um bem merecido chute no traseiro” eprosseguimos em nosso viver alegre, conformados como espiritualmente presunçoso e “tradicional status

quo”, frequentemente intolerante, sem jamais conhe-cer ou perseguir a visão e os desafios que estes soldadoscaídos buscam. Abandonamo-los aleijados ou destruídospela nossa traição. Frequentemente Deus entra emcena e apanha os soldados caídos em quem atiramos ea quem chutamos e usa-os de modo mais avassalador.

Lembro-me também de Martinho Lutero, um dos gran-des homens de Deus, a respeito de quem li há muitosanos. O diabo ficava trazendo-lhe à memória as mui-tas ocasiões em que havia falhado, pecado, “enfiado opé na jaca.” A situação ficou tão ruim que Lutero nãoconseguia conciliar o sono à noite, lembrando-se detodas as suas fraquezas, fracassos e pecados do passa-do. Sua miséria espiritual e depressão chegaram a umponto crítico quando, em certa noite, ele teve umsonho. [Ou teria sido a voz sussurrante e tranqüilafalando a um soldado ferido?] Nesse sonho Lutero

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conta como o diabo lhe apareceu de novo e fê-lo lem-brar-se de todas as coisas que havia feito que nãoagradavam a Deus: os pecados, os fracassos, e assimpor diante. Tendo o diabo esgotado sua lista, este ho-mem de Deus lhe disse, ainda no sonho: “Isso é tudoo que tem a dizer?” Respondeu-lhe o diabo: “Isto étudo de que me lembro.” “Muito bem,” respondeuLutero, “você se esqueceu de umas tantas coisas;acrescente-as à sua lista.” Assim foi que quando o di-abo e o próprio Lutero terminaram de compilar a lon-ga lista e ficaram satisfeitos porque estava tão com-pleta quanto possível, pediu Lutero ao diabo: “Dê-meessa lista.” Este lha deu. E Lutero escreveu ao longodela: “O sangue de Jesus Cristo nos purifica de TODO opecado.” Com isso o diabo fugiu, desapareceu da vis-ta…. Lutero acordou de seu sonho com forte consci-ência de vitória e alívio. “Sim,” admitiu, “cometi tudoaquilo que estava na lista, e ainda muito mais; porémDeus proveu perdão para mim, mediante o sacrifício eo sangue derramado de Cristo. Ficarei firme nesta con-vicção!” Foi um incidente que lhe mudou a vida.

A purificação está aí; a vitória também, e você podepedi-la. Mas precisamos estar alertas contra os pe-rigos e evitá-los a todo custo. Somos seres humanos.Esses perigos nos assaltam enquanto vamos caminhan-do ao longo desta estrada — uma diminuta porção daeternidade que nos cabe aqui na terra. Afirmar que ja-mais nos defrontaremos com tais perigos é nos“encasular”, é isolar-nos da realidade.

Tais perigos são comuns tanto aos líderes cristãosquanto aos incrédulos. Entretanto, alguns desses pe-rigos apresentam conseqüências muito mais trágicaspara o líder cristão. O modo como os enfrenta é muitomais crítico.

Charles Spurgeon, pregador batista do séculodezenove, perguntou em uma de suas palestras:“Quanto às moléstias mentais, haverá algum serhumano totalmente sadio? Não somos todos,porventura, um tanto desequilibrados?” Ele es-tava explicando ao que chamava (no título des-sa palestra específica) de “Os Acessos e Sínco-pes do Ministro do Evangelho.” ReconheciaSpurgeon que os líderes cristãos são humanose podem vir a ser afligidos por dificuldadesemocionais, tais como depressões, como qual-quer outra pessoa. Segundo Spurgeon, “os for-tes nem sempre são vigorosos, os sábios nem

sempre estão prontos, os bravos nem sempre sãocorajosos e os contentes nem sempre estão ale-gres.” Na verdade, as pressões do ministério, asprofundas preocupações que o acompanham eas expectativas das pessoas de fora, podem fa-zer com que os líderes fiquem mais suscetíveisaos problemas do que as outras pessoas.1

Ao examinarmos as Escrituras, descobrimos que os lí-deres bíblicos não eram super-homens, mas apesar dis-so, Deus os usou! Esses homens e mulheres partilha-ram de nossa natureza pecaminosa e demonstraram teras fraquezas carnais típicas de todos nós, seres huma-nos decaídos. Também sofreram de imaturidade, ansie-dade, inadequação, super-sensibilidade, depressão eoposição da parte do mundo… além da crítica dosmembros da igreja, tão cruel como qualquer críticamundana hodierna. Em Tiago 5.17, lemos o que eleafirmou a respeito de Elias, “homem sujeito às mesmaspaixões que nós.” Sendo humano, sofreu as mesmaspressões que sofremos, tão agudamente como qual-quer pessoa. Em 2 Co 4.7, Paulo se refere a homens emulheres comuns, ao dizer que temos “este tesouroem vasos de barro,” ao mencionar o fato de que Deusentregou o evangelho a pessoas comuns.

Estamos falando de necessidades reais, perigos reais,armadilhas reais, de riscos reais que fazem parte darealidade humana. Precisamos encarar nossa fraquezainata, não importando quão vitoriosos pensamos ter-mos sido. 1 Co 9.27 traz uma advertência dura:“…para que, tendo pregado aos outros, não venhaeu mesmo a ser desqualificado.”

Quando fui para a Faculdade Teológica a fim de pre-parar-me para uma vida dedicada a servir a Deus, nãohavia cursos de liderança e gerenciamento, nemtampouco havia matérias que tratassem dos perigosda liderança. Era uma instituição de ensino que tinhaa tendência de complicar a Palavra de Deus, complicara teologia, e complicar o cristianismo, em vez de de-monstrar como a Palavra de Deus é importante para anossa realidade humana. Formei-me naquele seminá-rio sem estar treinado, mas totalmente “encasulado”,e incapaz de relacionar-me com o mundo sob váriosaspectos. Logo descobri que precisava aprender osprincípios da liderança e as técnicas de gerenciamentoúteis no ministério. Também aprendi que há muitosperigos contra os quais precisamos estar alertas! Ana-

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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e vivem de conflitos. Para ser eficiente com esse tipode pessoa, é preciso enfrentá-las com a máxima dis-posição, deixando bem claro que não vão conseguirabsolutamente nada mediante brigas. Seja firme, emostre que você também é uma pessoa. Trata-se deum tipo de gente que precisa ser imobilizada, pois docontrário, esmagará o líder e outros da equipe.

Os que não sabem e nem querem entrar em acordodesafiam você mediante o silêncio. Recusam-se a todanegociação. Confronte tais indivíduos e faça com queemprestem sua contribuição à causa mediante o co-nhecimento e experiência valiosos que possuem.

Um leão aterrorizador encontrou certa vez, na flo-resta, um macaco medroso. Saltou sobre o pobremacaco tremebundo e perguntou-lhe, enquantosoprava um hálito de morte no pobrezinho:“Quem é o rei desta floresta?” O macaco, mortode terror, respondeu de imediato: “Sois vós, ótodo poderoso rei!” O leão deixou-o ir embora. Aseguir, se deparou com um elefante. Rugiu unsdesaforos ao paquiderme, e lhe fez a mesma per-gunta. O elefante não se intimidou tão facilmen-te. Com a poderosa tromba apanhou o leão e ati-rou-o contra uma árvore a quinze metros de dis-tância. O leão escafedeu-se, murmurando humil-demente: “Só porque você não sabe a respostanão precisa ficar tão nervoso!”2

CUIDADO 1

lisemos alguns perigos específicos contra os quais oslíderes gerenciais precisam estar atentos, evitando-os.

Repercussão Negativacontra a Liderança

A repercussão negativa contra a liderança poderia serdescrito como “traição com um sorriso nos lábios”[Margaret Thatcher]. Ao tratar desse perigo precisa-mos estar conscientes do fato de que sempre teremosque lidar com pessoas de relacionamento difícil, e li-dar com conflitos do tipo “instituição versus indiví-duo.”

Pessoas Difíceis

As pessoas difíceis ficam entre você e a execução desua visão, objetivos e alvos. Em geral, tais pessoasconstituem um impedimento sério e imediato à rea-lização de seus objetivos. Com freqüência essas mesmaspessoas obstinadas, criadoras de problemas, anseiampor amor e atenção. Com algum esforço e habilidade,você poderá transformá-las em amigos, mostrando quese interessa por elas. Vamos examinar, porém, os ti-pos mais difíceis.

Os arrogantes, em geral, são pessoas portadoras degrave complexo de inferioridade. Compensam o defei-to mediante arrogância e uma vontade forte; pensamque só elas têm idéias brilhantes! Ao lidar com essetipo de pessoa, talvez seja preciso esperar até que asduras circunstâncias da vida lhes ensine a perceber ovalor da humildade e da modéstia. Jogam duro atéencontrar alguém que joga mais duro ainda! Você,sendo cristão, oferece “a outra face,” mas mantém oqueixo erguido e firme, para que os truculentos não oesmaguem e aos demais. A parábola do leão mostra ovalor de esperar até que pessoas assim se suavizem.

Às vezes precisamos deixar tais pessoas ficar sabendoque não precisam se comportar de modo tão detestá-vel a fim de se sentirem significantes e realizadas.

Outro tipo de pessoa difícil é a que vem brigando des-de o nascimento! São pessoas agressivas que abusamdos outros verbalmente. Gostam de uma boa encrenca

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Os queixosos não negociadores controlam medianteconstantes queixumes entediantes. Geralmente vocênão consegue alegrá-los, menos ainda se capitular àssuas exigências. A intenção e o objetivo deles é mani-pular seus sentimentos. Não permita que isso aconte-ça! Não deixe esse tipo de gente impedir o alcance deseus objetivos.

Existem ainda os que “procuram chifre em cabeçade cavalo,” armados de formões e tesourões, quepodam e matam as boas idéias, derrubando-as ao chão.Com freqüência tais pessoas tornam-se demasiado pre-ocupadas com pequeninos detalhes e com questões depouca importância comparadas aos principais assun-tos da organização. Precisam se ater ao que realmenteinteressa. Também fazem “tempestade em copodágua,” fazendo os problemas parecerem maiores doque realmente são. Esse tipo de pessoa pode impedira equipe de atingir o propósito e objetivos. Precisamconfiar em Deus e no restante do grupo.

Os “rolos compressores” são os que destroem a tudoe a todos em seu caminho. É preciso confrontá-los comenergia, com uma liderança muito firme. Os “roloscompressores” precisam aprender a ser mais sensíveisàs necessidades e sentimentos dos outros, bem comoà cultura e ambiente da organização.

Os “do contra” têm atitudes negativas e derrubam asboas idéias dizendo: “Sim, mas não vai funcionar nes-te caso pelas seguintes razões” ou “Nunca fizemosdesse jeito antes” ou…! Certifique-se de que tais pes-soas fiquem na retaguarda, num cargo menos salien-te. Pessoas assim podem abater o moral da equipe ecriar uma imagem negativa de sua organização. En-contre funções não ameaçadoras que encerrem, emgrande parte, tarefas rotineiras e poucas mudanças,nas quais se sintam seguras e à vontade.

Poderíamos mencionar outros tipos, mas devemos re-conhecer que Deus ama a todas essas pessoas da mes-ma forma que ama você. Elas também têm seu direitoà dignidade. Não as diminua diante dos outros, mas

demonstre-lhes seu amor e atenção. A correção e areprimenda devem vir em particular, sempre que pos-sível. Evite o perigo de ser governado por pessoasdifíceis.

Conflito “Instituição versus Indivíduo”

Qualquer organização precisa progredir e produzir.Mas exatamente quando o líder acha que seus coman-dados estão vivendo em harmonia, na lógica e no ca-minho da perfeição, de súbito ele percebe quão inco-erentes, irracionais e imperfeitos eles são. E daí, quefará? Tentará mudar as pessoas, ou a organização? Équando ele entende que há um conflito entre a insti-tuição e o indivíduo, conflito esse que precisa ser re-solvido. Se ele não lidar com isso, o resultado será ainsatisfação, os pedidos de demissão e atrito entre lí-deres e seguidores, entre gerentes e subordinados.Estão todos a um passo da escuridão prevalecente quepor fim imporá sérias restrições à equipe.

Quais são as causas desse mal?

1. Falta do exercício dos princípios de liderança e dastécnicas gerenciais ensinadas nos capítulos anteri-ores deste livro.

2. Expectativas da organização desproporcionais emrelação às necessidades do indivíduo; ambas devemser atendidas e mantidas dentro de um equilíbrio.

3. Falta de enquadramento dos dons e talentos do in-divíduo ao papel, trabalho e situação.

4. Expectativas diferentes quanto ao cargo ocupado.

5. Falta de prontidão em permitir as mudanças neces-sárias.

6. Falta de apoio da família e dos amigos.

7. Estresse— identifique as causas e esforce-se por di-minuí-lo sempre que possível.

Lembre-se de manter um equilíbrio adequado en-tre as necessidades da organização e as do funcio-nário.

É possível, então, ser simultaneamente espiri-tual e competente? Pode o líder cristão ser bí-

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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blico e, ao mesmo tempo, alinhar-se ao pensa-mento contemporâneo da ciência administrati-va? Estou profundamente convencido de quesim, ele pode. Estou persuadido de que a ciên-cia administrativa, de fato, gastou milhões dedólares para descobrir que o padrão bíblico deequilíbrio entre a preocupação com o indivíduoe a necessidade de promover os alvos e a pro-dutividade da organização é, em essência, a me-lhor abordagem à liderança…. A posição cristãargumenta que tanto a organização quanto oindivíduo podem mudar; todavia, a ênfase emmudar um ou outro às custas do sacrifício deum deles só produz confusão e prejuízo.3

Essa "repercussão negativa" ou “tiro pela culatra”ocorre quando os comandados, outros líderes dentroda equipe e os cristãos de fora, reagem negativamen-te a um curso de ação determinado por um líder, apartir do momento em que tal decisão apresenta des-dobramentos. Moisés enfrentou esse problema. Foi porcausa de seu conflito com outras pessoas que Moisésaprendeu a submeter-se a Deus de modo mais profun-do. Embora o curso de ação e as decisões de Moiséslhe fossem dadas por Deus, ainda haviam rebeliões aserem enfrentadas.

Com freqüência esse perigo desenvolve-se segundo umpadrão. Robert Clinton refere-se a esse padrão como“O Ciclo de Oito Estágios da "repercussão negativa"contra a Liderança”, relacionando-os em seu livro.

1. O líder recebe uma visão (direção) da parte deDeus.

2. Os seguidores estão convencidos dessa orientaçãodivina.

3. O grupo movimenta-se na direção dada.4. O grupo sofre perseguições, provações ou ataques

de Satanás. A guerra espiritual é comum.5. Surge a rebelião ("repercussão negativa") no seio

do grupo.6. O líder é impulsionado a Deus a fim de obter con-

firmação, a despeito dos desdobramentos de suasações.

7. Deus lhe revela mais coisas: Quem é o Senhor, e oque Ele deseja que se faça. O Senhor, claramente,promete livramento.

8. Deus cumpre suas promessas e reafirma seu líder.4

Você pode ver por que estas experiências são um tes-te da perseverança, fé, tenacidade e clareza de visãodo líder. Ele deve entender que com freqüência Deuso convoca para ser o protetor e “guardador” da visão.VOCÊ POSSUI ESSE PODER PERSEVERANTE?

As vezes as pessoas se esquecem de como era a situa-ção antes das decisões de seus líderes. Desenvolvemuma visão distorcida do passado. Não obstante tenhamconcordado com as ações de seus líderes, agora os cul-pam por terem tomado tais decisões, em face das difi-culdades e provações delas oriundas. Os líderes preci-sam estar cientes desse tipo de provação, perseverarnela e continuar eficientes no ministério. Serve deteste da integridade e vocação do líder. Demonstraqual é sua verdadeira motivação.

Oposição

Que perigo real! Viver sem jamais experimentar opo-sição no ministério é deixar de viver! Neemias é umexemplo clássico de servo de Deus, porém um lídersagaz, dotado de genuína visão, desafio e mandatosprovenientes do próprio Deus. Mas que tremenda opo-sição sofreu ao querer executar a obra! John White es-creveu um excelente livro intitulado Excellence inLeadership, Reaching Goals with Prayer, Courage andDetermination (“Excelência na Liderança: Como Atin-gir Alvos com Oração, Coragem e Determinação”). Suaintrovisão a respeito da oposição e seu exemplo deNeemias tem ajudado imensamente no esclarecimen-to deste ponto. A fim de poder apreciar de verdade ahistória da oposição na vida e no ministério deNeemias, leia os capítulos 4 e 6 do livro de Neemiasantes de prosseguir neste estudo. Nada nos testa maisdo que a oposição! O perigo está em o líder esboroarsob a pressão, desanimar-se e desistir. Outra reação éerigir muralhas fortificadas ao seu redor, e de trás de-las atirar com gana assassina, assumindo espírito deguerra, amargura e vingança. Neemias jamais mereceu aculpa de ter reagido assim. Que homem! Ele serve deencorajamento para nós! De modo brilhante, deu umjeito naquela oposição terrível e perigosa. Gostaria depoder dizer que tenho sido tão brilhante quantoNeemias. Antes mesmo de chegar a Jerusalém para re-alizar o trabalho, a oposição já havia começado.

CUIDADO 2

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A situação era complicada, para início de conversa, porcausa das políticas anteriores, como o fato de Sambaláser o governador da Samaria e representar o povo quefora restabelecido nas áreas ao norte de Jerusalém.Muitos dos antigos inimigos de Israel haviam se casa-do com judeus, de modo que tinham surgido aliançascomerciais, e outras, que transformaram muitos dosinteresses judaicos em inimizade contra Neemias. Ascartas de autorização e a escolta armada colocaram osgovernadores numa situação em que não tinham ou-tra escolha, senão permitir que Neemias entrasse nacidade demolida. É claro que não gostaram nem umpouco do que estava acontecendo! Não queriam aliuma cidade forte, bem protegida, onde os judeus fiéispudessem de novo constituir um poderio tremendo.Sambalá percebeu que havia chegado alguém parapromover o bem-estar dos israelitas, e seu desgostoagigantou-se, pois os judeus teriam uma cidade quepoderiam defender. Isso contrariava os interesses des-se homem e dos nobres judeus que com ele semancomunaram e o serviam. Uma grande vitóriaaguardava os judeus de Jerusalém! Sambalá reuniuseus comparsas e fizeram troça, ridicularizaram a obra,dela escarneceram e levantaram insinuações calunio-sas de que Neemias e os judeus de Jerusalém estavamconspirando contra o rei. Acusaram Neemias de estarfazendo exatamente o que eles próprios fariam se ti-vessem condições para tal, se as circunstâncias os aju-dassem!

Com freqüência a oposição possui uma faceta mais es-cura ainda. Os poderes que odeiam a Deus se lançamcontra seus servos. Não estou afirmando que toda opo-sição provém de Satanás, nem que somos grandiososse enfrentamos oposição; às vezes somos simplesmen-te estúpidos e carnais, e damos lugar à oposição!

Mas Neemias estava realmente enfrentando um ódiodiabólico. Ele vindicou a vitória de Deus, reafirmou suafé Naquele que o enviou a executar a obra, e disse emNe 2.20: “Nós, seus servos, nos levantaremos eedificaremos.” John White faz a colocação:

Suas palavras finais são duras. Vós não tendesparte, nem direito, nem lembrança [tradiçãohistórica] em Jerusalém (Ne 2.20). O que eleestá na verdade dizendo, é: ‘este território nãolhes pertence. Pertence ao Deus do céu. Vocêsnão são servos de Deus. Não queremos nem suaajuda nem sua crítica. Dêem o fora daqui!’5

Agora vamos olhar mais de perto e ver como essa his-tória nos ajuda a reconhecer algo sobre os perigos su-tis da liderança gerencial.

Escárnio

O escárnio e o ridículo em público, a intimidação e odescrédito público são armas ardilosas quedesencorajam. São usadas na guerra psicológica como fim de instilar medo e interromper a obra. Isso podevir a acontecer a você como líder!

Com freqüência, nosso inimigo utiliza agentes huma-nos, enganadores, para mofar, acusar, ridicularizar epor fim aterrorizar. O mais chocante é que às vezestais indivíduos são cristãos, e até mesmo de sua pró-pria comunidade. Podem ser antigos amigos que se en-cheram de inveja porque você não desiste. Podem seraté mesmo pessoas dentre seus próprios parentes,também motivadas pela inveja sutil; você está indolonge, enquanto elas ficam sentadas, sem fazer nada.

Deus não zomba de ninguém, senão dos que O desafi-am; assim você já sabe de quem parte essa tribulação.Deus nunca faz troça de seus servos, ainda que come-tam erros crassos. Todavia, Satanás e seus aliados hu-manos atiram acusações flamejantes para atingir nos-sas fraquezas psicológicas, e encaminham-nos pelaestrada da culpa, aterrorizando-nos e intimidando-noscomo no caso da fábula do leão, no começo deste ca-pítulo. Seu objetivo é paralisar a obra, é brecar você eeu.

A Esperteza do Escárnio

Sambalá e seus comparsas tentaram várias estratégiastais como:

• jogar uma pessoa contra a outra

• usar a aparência de poder a fim de aterrorizar e in-timidar

• demonstrar ferocidade para suscitar medo

• empregar perguntas cheias de veneno, que na ver-dade eram “flechas” envenenadas para humilhar,espalhar dúvidas sobre o bom senso do projeto, ri-dicularizar a confiança em Deus e misturar verda-des a “meias verdades”

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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Uma batelada de verdades misturadas a men-tiras, insinuações, fuxicos maliciosos e ame-aças implícitas, pode devastar um líder fraco,e ferir seriamente ou aleijar um forte.

Não fraqueje nem permita que temores ocultos e infe-rioridades sejam utilizados como táticas bem sucedi-das de Satanás e seus parceiros!

A Reação da Oração Irada

Embora precisemos ser cuidadosos quanto à nossa ma-neira de orar quando abrigamos a ira “santa,” isto é,justificada, há lugar e hora para expormos e expres-sarmos nossa ira perante (não contra) Deus, para queEle nos ajude a articulá-la de modo apropriado, semque pequemos. As orações de Neemias eram um tantochocantes! Todavia, a ira de Neemias e a de seu povoeram canalizadas, na sua maior parte, para a obra. Aira dava-lhes maior energia! Liberava a criatividade,alimentava a ambição e a determinação. Seus corposcansados recebiam novo vigor, rejuveneciam, e osmuros cresciam!

Ameaça de Guerra

Sambalá e seus perversos associados se prepararampara a guerra total. Havia um problema quanto à pro-teção a Neemias, da parte do rei — uma distânciaenorme, de várias semanas, separavam-nos, de modoque ficava difícil informar ao rei sobre os perigos ereceber a ajuda necessária. Foi um momento terrívelpara Neemias e seus obreiros. Sendo um verdadeirolíder, Neemias encorajava seus trabalhadores, mastambém lhes mostrava um quadro realístico da situ-ação. Eles agora deveriam trabalhar mais duramente eficar de prontidão para a guerra de um momento paraoutro. Ele não parou de edificar! Organizou-se para en-frentar a crise e continuou a obra. Permaneceu fiel aseus objetivos e à política que lhe estava ligada. Elenão abandonou a edificação dos muros a fim de en-frentar aqueles inimigos, mas ao contrário, organizousuas defesas.

Você já se sentiu tentado a parar de edificar omuro que Deus o chamou para edificar? Eu cons-tantemente tenho que pedir a Deus que me ajude amanter-me firme, porque também sinto as pressõesdesses tremendos perigos!

Contendas Internas

Mais tarde, Neemias enfrentou contendas internas, asresistências e oposições de dentro. Mais uma vez fi-cou evidente sua indignação, sua tremenda ira.

A resistência vinda de dentro pode ser ativa ebeligerante, ou passiva e sutil. É possível quealguém pense que a oposição passiva e sutil sejamais fácil de resolver-se. Todavia, essa oposi-ção pode ser mortífera. Só é passiva no sentidoque as pessoas envolvidas não desejam de modoalgum enfrentar de modo direto aqueles quetrabalham ao lado de Deus. Todavia, tais pes-soas conservam uma agenda que contraria osdesígnios de Deus. Embora nesse momento nãohaja conflitos aparentes, mais cedo ou mais tar-de a guerra vai estourar. A piedade e a iniqüi-dade nunca se misturam.

No caso de Neemias, a oposição vinha de den-tro, e era do tipo passiva e sutil. Mas como sem-pre acontece em situações dessa natureza, aoposição passiva induziu a uma situação explo-siva em que um confronto de grandes propor-ções tornou-se inevitável. No quinto capítulode Neemias lemos sobre como essa resistênciasutil cedeu lugar ao conflito aberto, e como umlíder piedoso manejou a situação.6

Façamos um exame da situação em que surgiu o con-flito. Era necessário que se realizasse uma obra, e ha-via extraordinária unidade no que concernia à neces-sidade urgente de reconstruir os muros. Porém, erammuitas as dificuldades, como a falta de alimentos, aterra estava hipotecada, havia impostos pesados a pa-gar, e o pior, tudo isso provinha de judeus ricos e in-sensíveis dentre os de Jerusalém! Assim foi queNeemias meditou nos problemas que originavam oconflito e, a seguir, repreendeu as pessoas responsá-veis pela situação. Ele conversou com o povo, procu-rou um consenso quanto à forma pela qual o proble-ma poderia ser resolvido de modo a honrar a Deus,fazendo cessar aquele sistema injusto e restaurando adignidade do povo aflito.

Em nenhum trabalho de Deus se deve perder a visãodo propósito central da vocação divina. O constanteperigo que cerca tanto o líder quanto o obreiro éengajarse em questiúnculas, emaranhar-se em porme-

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nores periféricos. Se Neemias não houvesse tratadocom rapidez e energia, de modo adequado, do confli-to entre seu próprio povo, a obra da reconstrução dosmuros provavelmente teria sido paralisada por algumtempo, senão em caráter permanente…

Neemias, como líder do povo de Deus, resolveuo conflito surgido entre os vários grupos de Je-rusalém e redondezas. Tão cedo os problemasvieram à sua atenção, Neemias agiu com sabe-doria, firmeza, coragem e de modo definitivo.Sua ação imediata restaurou a unidade do povode Deus, livrando-o a fim de terminar o projetoda reconstrução.7

Ataques Pessoais

Crucificar o líder não é tática nova. Tem sido pratica-da há muito tempo. Mas não é fácil aguentar a situa-ção de ser o alvo de ataques pessoais! É algo que cau-sa uma pressão terrível, especialmente quando o ca-ráter e a integridade do líder estão sendoescrutinizados de maneira maliciosa; é difícil enfren-tar isto.

Entretanto, antes de prosseguirmos, uma palavra deadvertência: as vezes o líder mereçe isso!

Talvez ele esteja ensinando uma doutrina falsa, viven-do abertamente em pecado, em egoísmo ou em pre-guiça. Os seguidores devem ser protegidos disso. Masaté mesmo numa situação como essa, é preciso que setenham fatos, e não boatos. As palavras acusatóriasdevem ser precisas, e nossa meta jamais deve ser a dedesacreditar o líder cristão, ainda que de fato tenhacaído, mas procurar sua reabilitação.

Ouça com cuidado às “conversas fiadas” ou aos“fuxicos” em seu redor. Você ficará surpreso ao des-cobrir se estão lotados de “fatos” que não podem serverificados, são falsos e quase nunca fazem diferençaalguma no assunto em questão. O caráter e a integri-dade de muitas pessoas têm ido a escrutínio perma-nente e ficado sob suspeita. Seus espíritos ficam feri-dos pela “descoberta de fatos” e pelo levantamento desuspeitas por meramente se fazer “perguntas.” (Porexemplo, Satanás plantou suspeita na mente de Eva:“Deus disse…?”) Todos nós podemos tombar vítimasdos “tribunais de cangurus” presididos pelos chama-

dos cristãos “com boas intenções” e “sinceros.” Quetragédia!

A tragédia é que a maior parte do fuxico, da difama-ção de caráter e da calúnia prevalente entre os cris-tãos é imprecisa, desnecessária, com freqüência vin-gativa e, em muitos casos, resulta da inveja. Commuita freqüência é o resultado do orgulho e do des-prezo da parte de outros, baseados em preconceito emal entendidos envoltos em ignorância. De que modoo líder caluniado pode tratar desse perigo, o da calú-nia?

A difamação do caráter de forma pública tenta o me-lhor dos líderes à ira. O perigo está em que essa irapossa ameaçar nosso sábio discernimento. Precisamoslevantar perguntas objetivas.

1. Quem é o verdadeiro vilão? Quem deseja que fique-mos irados?

2. Que objetivos teriam nosso acusador ou acusado-res em provocar os boatos que circulam a nossorespeito?

3. Objetivam os ataques dos acusadores sutilmen-te desviar o líder do verdadeiro propósito deseu trabalho? É frequente os cristãos atacarem osque os atacam. A luta contra os poderes das trevastorna-se uma guerra entre uma facção da igrejacontra outra.

4. Não é o supremo estratagema de Satanás “dividir econquistar” para levar-nos a cair em sua armadi-lha?

Por outro lado, não há nada de errado numa boa defe-sa contra a calúnia mentirosa! Em muitas ocasiõesmuitos líderes piedosos decidiram não se defender emcertas circunstâncias.

No entanto, às vezes é preciso tomar providênciasquanto ao caluniador. Isto exige sabedoria piedosa. Operigo está no tempo e nos esforços exigidos paraimplementar essas providências necessárias, que po-dem desviar a pessoa de seus reais alvos, objetivos,propósitos e visão.

Ficar obcecado com a auto-justificação pode levar-nosa perder de vista a obra que Deus nos chamou para

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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executar. Você pode corrigir as informações errô-neas, mas raramente nesta vida o dano causadopelas mentiras de outras pessoas a nosso respeitopode ser desfeito. Pode ser impossível limpar nos-so caráter e integridade, e remover as cicatrizesemocionais, de modo que, no fim, precisamos dei-xar a questão nas mãos de Deus. É Ele o nosso vin-gador. Este tremendo fato deveria fazer com que cadalíder fosse extremamente cuidadoso até a respeitodaquilo que diz!

Neemias decidiu que deveria dar resposta às falsas acu-sações que contra ele foram assacadas. Ele o fez de-pressa, em poucas palavras, não perdendo tempo al-gum com retaliações elaboradas. Ele sabia qual era aintenção do caluniador: desencorajá-lo de modo quenão construísse o muro. Ele reagiu à altura: continuoua edificar!

Portanto, líder, edifique o muro,

Não permita que nada o detenha;

DEUS SERÁ SEU VINGADOR!

George Whitefield enfrentou muita oposição e seguiutrês princípios ao lidar com tais situações:

• não dê resposta aos seus críticos

• evite engajar-se em controvérsias

• não pare de proclamar toda a verdade doevangelho

Desejo encerrar a discussão acerca deste perigo comas palavras de John White:

Sempre houve uma verdadeira elite de líderesde Deus. São os mansos que herdarão a terra(Mt 5.5). Eles choram e oram em secreto, masdesafiam em público a terra e o inferno. Tre-mem ao se depararem com o perigo, mas prefe-rem morrer na trincheira em vez de fugir. As-semelham-se ao pastor que defende suas ove-lhas, ou à mãe que protege seus filhinhos. Sa-crificam-se sem murmurar, dão sem medida, so-frem sem queixar-se. A seus subordinados di-zem: ‘se fizerem bem, viveremos.’ O preço des-

ses líderes é superior ao dos rubis. São o sal daterra. E Neemias foi um deles.8

Neemias sabia como enfrentar a oposição!

EstresseConjugal

O estresse conjugal provavelmente é mais comum doque a maior parte dos líderes quer admitir. A questãoque deve ser resolvida é: ‘Onde é que seu cônjuge seencaixa em suas prioridades?’ É certo que as Escritu-ras descrevem o relacionamento conjugal como sendoo mais elevado e o mais místico. O rompimento desserelacionamento pode ocasionar conseqüências tremen-das, na área espiritual, emocional e física. Pode resul-tar em seríssima barreira ao ministério, e perda de efi-cácia da parte do líder. O seu ministério e sua lideran-ça estão apoiados num relacionamento conjugal for-te, ou você tenta ir em frente a despeito de um rela-cionamento ruim? O que está fazendo a fim de edificarou nutrir um relacionamento forte? Existem váriascausas para o estresse conjugal e não discutirei todaselas. Em lugar disso, enfocarei o estresse conjugaldo modo como se relaciona ao chamado e priori-dades de Deus.

Conflito de prioridades

Com bastante freqüência as pessoas se casam antes deterem trabalhado para obter um quadro bem claro doministério para o qual cada um, individualmente ecomo casal, foi chamado por Deus. A pessoa negligen-cia o que o Espírito de Deus esteve tentando dizer.Também são negligenciados os talentos e os dons decada um. Embarcam no casamento, mas depois da lua-de-mel, descobrem que estão em desigualdade no quese refere às suas profundas convicções acerca do cha-mado e ministério. Isto realmente deveria ter sido tra-tado anteriormente. Agora, ou um ou o outro é colo-cado na posição de parecer estar se opondo à vontadedo Senhor por não se sentir seguro com as circuns-tâncias dentro das quais o companheiro está prosse-guindo. O que fazer agora? Não há resposta fácil!

CUIDADO 3

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Incompatibilidade com a vocação de Deus

Esta é uma questão sensível, particularmente nos Es-tados Unidos, e que se manifesta cada vez mais em ou-tras partes do mundo. Isto se deve, em parte, ao mo-vimento feminista extremado, que se rebela contraas Escrituras e ao mandamento de Deus no queconcerne à família. Este movimento conseguiu pene-trar sutilmente [e às vezes de forma nem tão sutil] naigreja também. Vai ficando cada vez mais comum oobreiro cristão ser forçado a abandonar sua vocaçãopor causa da incompatibilidade de sua esposa, e a re-sistência que ela opõe ao chamado do marido. Tais ho-mens acabam desistindo do ministério, arranjam tra-balhos “seculares” e contentam-se com a mediocrida-de, com a situação do status quo, tornam-se compla-centes, vivendo vidas modorrentas e estagnadas. Averdadeira questão é:

O homem obedecerá a Deus e à Sua vontadepara sua vida, sob a autoridade divina

OU

irá obedecer e agradar sua esposa, às custasdo chamado de Deus e Seu plano para ele?

Falta de apoio e de encorajamento

Uma das maiores dificuldades que a pessoa enfrentano ministério provém de um cônjuge que não lhe dáapoio, não o ampara, não o encoraja e não o ajuda acumprir a vocação divina. Quando ela se recusa aajudá-lo, está se rebelando contra o chamado de Deusem sua própria vida, pois, foi chamada para serauxiliadora do marido — que é o primeiro mandadode Deus para a esposa [Gn 2.18]. A angústia mental eemocional, as dores que um homem sofre como resul-tado da rejeição, do ódio, da amargura, da rebelião edo espírito de contenda da esposa, podem ser tão de-vastadoras que frequentemente ele toma uma de-cisão errônea, ao capitular diante dela, em vez decontinuar a obedecer a Deus. As vezes ocorre o divór-cio e arruína o ministério do casal.

Ponto de vista equilibrado

Sejamos equilibrados! Não vou negar que tem havidohomens abusadores que têm dominado suas esposas efamílias, tirando vantagem de seu papel, a fim de sa-

tisfazer seus egos masculinos. Não aprovo nemtampouco promovo tal comportamento. Precisamostratar nossas esposas com respeito.

Precisamos ouvi-las! Precisamos compreendê-las! Pre-cisamos amá-las! Precisamos aceitá-las como nossasconselheiras mais íntimas! Entretanto, foi aos homensque Deus atribuiu a responsabilidade de tomar as de-cisões finais. Trata-se de uma responsabilidade terrí-vel— capaz de facilmente edificar ou destruir, depen-dendo da escolha do rumo de ação.

Muito estresse conjugal provém dos homens que con-sideram suas esposas cidadãs de segunda categoria noreino de Deus! Sem a menor sombra de dúvida, possoafirmar aos que assim pensam que estão errados! Sim,as Escrituras mostram claramente que o homem é ocabeça do lar, mas isso não significa que a mulher sejamenos importante, de segunda categoria ou que deveser escrava. Deus tinha que estabelecer ordem no lare esse foi o método que escolheu.

Embora a Bíblia sempre tenha designado à mu-lher papéis significativos nas atividades domundo, ainda encontramos dentro de certasorganizações cristãs, muito chauvinismomachista, bem mais cultural que bíblico… de-vemos mudar? Cremos que sim, tanto pelo bemda organização, como pelo reconhecimento dacontribuição feita pelas mulheres. Com fre-qüência, a atitude de Jesus para com as mulhe-res desafiava a cultura de Seu tempo.9

Um pouco de encorajamento

O que você pode fazer se perceber que está começan-do a surgir o estresse conjugal? Aqui estão algumassugestões a se pensar:

1. Saiam juntos, só os dois, para sinceramentereexaminar, reavaliar e reajustar seus papéis in-dividuais, e a forma de compatibilizá -los. Esfor-cem-se no sentido de encontrar meios de fazer comque o papel de cada um sirva de complemento parao outro.

2. Façam uma lista separada de seus compromissosindividuais e conjuntos. Isso poderá revelar di-ferente percepção de prioridades.

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3. Estabeleçam alvos de longo prazo para sua vidaa dois. Conversem a respeito dos dons e chama-mento de cada um à medida que trabalham emcima desses alvos. Identifiquem áreas para o de-senvolvimento individual. Comecem a dar passosimediatos para alcançarem juntos tais alvos.

4. Descubra que tipo de preparo ou treinamento suaesposa gostaria de obter. Esforce-se por descobriraquilo que ela é capaz de fazer e então ajude-a adesenvolver seu potencial.

5. Partilhe das responsabilidades domésticas.

6. Separem mais tempo para gastarem juntos a fimde satisfazerem as necessidades um do outro.

7. Experimentem estas sugestões e, acima de tudo,se possível, EVITEM ABANDONAR UM AO OUTROEMOCIONALMENTE.

Tenham cuidado com o desistir do seu casamento. AsEscrituras nos contam a respeito do infeliz casamentode Oséias, porém deixam claro que aquela era a von-tade de Deus para ele. Oséias teve de aceitar a sobera-nia de Deus, apesar disto estar além da sua compreen-são, e continuar seu ministério.

Às vezes os líderes cristãos precisam carregar far-dos, inclusive preocupações familiares. As pesso-as que estão mais próximas a nós e nos são maisqueridas podem nos ferir em mais alto grau.

O que Oséias aprendeu, e o que podemos apren-der com sua experiência? Espera-se que ne-nhum de nós nunca tenha que suportar nadaparecido àquilo que Oséias sofreu. Porém todosnós, em alguma hora, sofreremos lesões por vi-vermos num mundo pecaminoso. O modo comoaprendemos a lidar com isso, pode muito bemser a maneira de Deus nos moldar para o minis-tério que Ele tem para nós, apesar de nos cus-tar tão caro. Esta foi a maneira como Oséiasconseguiu uma introvisão ao coração de Deus,que queima de ira contra o pecado da humani-dade, porém ama o pecador com um infinitoamor. Enquanto passou por tortura emocionalnas mãos de sua esposa, sua mente, sentimen-tos e vontade foram todos moldados por essatortura. Quando sofremos pela infidelidade de

outra pessoa, isso pode nos ajudar a compre-ender como Deus se sente com a nossa infideli-dade.10

O que fazer se você se encontrar casado com alguémque não pode aceitar o chamado de Deus para a suavida? Quais são as suas opções?

Infelizmente as opções são poucas, algumas das quaisnão possuem base bíblica, e portanto devem serriscadas da lista. Minha resposta a este dilema é con-fiar em Deus para intervir.

É preciso uma grande dose de graça para poder agircom maturidade e responsabilidade quando se está sobataque. Muitas vezes você estará numa situação semachar solução. Confie em Deus para trabalhar no cora-ção de seu cônjuge, como somente Ele pode, se eleestiver disposto a deixar que o faça. Mantenha-se emboa forma do melhor modo possível, tanto física,quanto mental, emocional, psicológica e espiritual-mente. Se houver um amigo chegado em quem possaconfiar e de quem possa receber encorajamento, en-tão conserve-o por perto. Você precisará dele! Deusnunca prometeu que a vida seria fácil. É através dasdificuldades que você se torna uma pessoa mais forte.

Conselho aos Solteiros

Meu conselho aos que estão solteiros, tanto a homensquanto a mulheres, é de serem bastante sérios na de-terminação do chamado de Deus para si e para seu fu-turo companheiro antes de assumir o compromisso docasamento. Devo ainda inserir aqui que a compatibi-lidade não é apenas baseada na “espiritualidade”dos cônjuges; existem muitos outros fatores queirão ou não contribuir, que poderão estimular oudevastar o casamento e o ministério mais tarde.

O líder cristão casado deve demonstrar sua ca-pacidade de dirigir seu lar de maneira piedosa—“que governe bem a sua própria casa, criandoos filhos sob disciplina, com todo respeito.” Nãoé o fracasso nessa esfera que tem causado mui-tos ministros e missionários a caírem de suasposições elevadas em sua liderança?… Paraatingir este ideal, o homem deve ter umaesposa que partilhe plenamente de suas as-pirações espirituais e esteja disposta a fa-zer os sacrifícios necessários. Muitos ho-

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mens talentosos tem sido perdidos para car-gos elevados e eficácia espiritual devido àinadequação da esposa que escolheram.11

Se você estiver pensando em se casar, certifique-se deavaliar cuidadosamente o potencial dos dois para verse são compatíveis, eficazes e eficientes, amigos emembros de uma equipe, que possam crescer juntospara cumprir o plano de Deus. Não permita que o“enrabichamento” tome conta! Depois da conversão,a escolha do cônjuge é a decisão de longo prazo maisséria que você jamais fará. Escolha com sabedoria, comoração e com cuidado!

Tentação Sexual

Está claro pelas Escrituras que este perigo existia na-quele tempo tanto quanto existe hoje em dia. E mais,é difícil encontrar muitos personagens bíblicos quepossam nos ajudar nesse aspecto. Os líderes da Bíblianão constituíam exceção. Eram humanos e seus cor-pos possuíam a mesma biologia de qualquer outro;tinham que lidar com sua sexualidade. Alguns se saí-ram bem, ao passo que outros caíram vítimas desteperigo. Sansão, Davi e Salomão servem de advertênci-as de que o líder pode cair nesta armadilha. Temostambém muitos exemplos contemporâneos. Os que sãochamados ao serviço cristão de tempo integral e à li-derança estão expostos a este perigo tanto quantoqualquer outra pessoa. E seus ministérios sofrem tris-temente quando caem.

O líder e seu ministério sofrerão conseqüências quefarão com que jamais sejam os mesmos após terem sidoenvolvidos no centro de um escândalo sexual. Apesarde Deus perdoar e esquecer quando o problema é tra-tado, os seres humanos raramente o farão ou se-rão capazes de fazê-lo. Qualquer pessoa em posiçãode liderança que tenha um cônjuge que esteja espiri-tualmente “desafinado” com ele ou ela e não apoia suavocação e trabalho, está suscetível a este perigo e pre-cisa estar alerta por causa deste instinto criado porDeus. Este deveria ser satisfeito por meio de um bomrelacionamento conjugal. Muitos grandes homens

que se saíram bem, reconhecem que devem muitoao relacionamento satisfatório e apoio de suas par-ceiras. Esta é uma das maiores e melhores salvaguar-das para evitar cair em escândalo sexual. O diabo ado-ra estragar o ministério e o casamento utilizando estepoderoso instinto que pode facilmente sair fora decontrole. Ele tem usado este truque repetidas vezes ecom sucesso. Esteja alerta!

No entanto, temos aqui novamente uma área onde ostatus quo “tradicional” dos cristãos “espirituais” re-age com freqüência e adora procurar “evidências” dealguém se tornar prêsa deste perigo. Aquilo que podeser uma atividade muito inocente, do tipo “estou fa-zendo o meu trabalho”, pode virar fofoca e se espa-lhar pela comunidade de modo bem distorcido e “api-mentado”, de modo que as pessoas começam a pensarque existe imoralidade sexual. Guarde-se contra taispessoas! Cuidado! Pode acontecer em qualquer lugarneste mundo— pode acontecer com você!

Se você estiver injustamente passando por esta situa-ção, CONTINUE A FAZER AQUILO QUE DEUS LHE CHA-MOU PARA FAZER. Ignore as críticas e confie em Deuspara lhe dar a graça, coragem, tenacidade e estabili-dade para continuar a servi-LO. Tenha cuidado paranão dar aparência do mal.

Falta de Ética,Padrões de

Honestidade eIntegridade

Quando se perde a integridade, perde-se um dos se-gredos para a liderança bem-sucedida. É um perigo aser evitado! Pode-se perdê-la também através defalsas acusações.

Para ser líder, é preciso ter seguidores. E para seter seguidores é preciso ter a confiança deles. As-sim, a qualidade suprema do líder é sua integri-dade inquestionável. Sem ela, não é possível ne-nhum êxito real, não importa se na gang de rua,no campo de futebol, no exército ou no escritó-rio. Se os subordinados de alguém descobrem queele é um impostor, se descobrirem que lhe falta

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justa integridade, este alguém fracassará. Seusensinamentos e suas ações devem ser compatíveisuns com os outros. Assim, a primeira grande ne-cessidade é a integridade e o alto propósito.12

…mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não,não; para que não caiais em condenação. [Tg 5.12]

Reflete a sua vida aquilo que você diz acerca da inte-gridade e honestidade? Os seguidores querem crer queseus líderes sejam éticos e honestos. Querem ser ca-pazes de desejar ser iguais a eles.

Dinheiro, Bens,Cobiça

…altercações sem fim, por homens cuja menteé pervertida, e privados da verdade, supondoque a piedade é fonte de lucro. De fato, grandefonte de lucro é a piedade com o contentamen-to. Porque nada temos trazido para o mundo,nem coisa alguma podemos levar dele; tendosustento e com que nos vestir, estejamos con-tentes. Ora, os que querem ficar ricos caem emtentação e cilada, e em muitas concupiscênciasinsensatas e perniciosas, as quais afogam oshomens na ruína e perdição. Porque o amor dodinheiro é a raiz de todos os males; e alguns,nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmosse atormentaram com muitas dores. Exorta aosricos do presente século que não sejam orgulho-sos, nem depositem a sua esperança na instabi-lidade da riqueza, mas em Deus que tudo nosproporciona ricamente para nosso aprazimento,que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras,generosos em dar e prontos a repartir, que acu-mulem para si mesmos tesouros, sólido funda-mento para o futuro, a fim de se apoderaremda verdadeira vida. [1 Tm 6.5-10, 17-19]

Ora, aquele que possuir recursos deste mundo evir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer neleo amor de Deus? [1 Jo 3.17]

Os textos bíblicos acima certamente revelam um peri-go para os líderes e devem nos lembrar que devemosestar contentes com aquilo que Deus nos tem dado,não buscando cada vez mais os ganhos financeiros.Muitos líderes começaram bem, mas foram dominadospelo perigo de transformar seu chamado e talentosdados por Deus na perseguição às riquezas.

Não se esquive do assunto dizendo a si mesmo que esteé um bom conselho para os fiascos dos grandes minis-térios que conhece tão bem. Você pode ser culpadodeste mesmo pecado no seu nível de ministério.

O dinheiro e os bens não constituem males em si, po-rém devem ser colocados em seus devidos lugares emnossas atitudes e ações básicas. Devemos possuir umaperspectiva apropriada no nosso dar e sermos genero-sos ao darmos de nós mesmos pelos outros, bem comono compartilhar de nossos recursos e bens com aque-les que têm necessidades.

O dinheiro é simplesmente um instrumento útil, master amor a ele é pecado; evite cair nas garras deste pe-rigo. Muitos tem deixado o ministério porque o dinhei-ro se tornou mais importante do que o chamado deDeus. Não permita que o dinheiro se torne seu mes-tre. Aqui estão algumas perguntas que o ajudarão aavaliar-se em que ponto se encontra no que tange aeste perigo tão real:

1. Realiza você seu papel de liderança porque épago? Sabe-se, hoje em dia, que muitos pastoresavaliam o chamado de Deus direcionando-os a umadeterminada igreja com base no salário que serápago. Isto não quer dizer que os líderes devem seramordaçados ou prejudicados em sua obra pela fal-ta de sustento financeiro; aliás, é errado pensarque podem realizar seu trabalho com apenas umaninharia. Precisam viver como qualquer outra pes-soa. Mas a advertência é a de terem cuidado paranão serem motivados pelo dinheiro em lugar depela convicção e chamado de Deus.

2. Exercita você sua liderança porque precisa dodinheiro? Bem, se esta for sua única razão, entãoseu chamado à liderança é fraco. Quando faltar odinheiro, você descumpre sua prática de lideran-ça, revelando um falso chamado a esta vocaçãonobre.

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3. Realiza você seu papel de liderança com o in-tuito de ficar rico? O ganho financeiro tem esta-do nas mentes de tantos líderes de nossos dias. Odinheiro é sua principal motivação. Deus prome-teu suprir as nossas necessidades (Fp 4.11-13).Então, por que estamos permitindo que o dinheiroseja a motivação?

Confie em Deus para suprir as suas necessidades. Nãose preocupe em ficar rico e famoso. Faça o que Deuslhe pediu que fizesse e confie Nele para suprir suasnecessidades pessoais. As diferentes pessoas têm ne-cessidades diferentes para cumprir o chamado de Deus.Assim, não se preocupe se o próximo sujeito parecerpossuir mais do que você. Ele pode pensar que vocêtem mais do que ele! Deus ama ver o contentamentoem Seus servos!

É interessante notar que o apóstolo Paulo repudiava aganância [1 Ts 2.5]. Por que ela constitui perigo tãomortífero para o líder? Faz com que ele perca sua pers-pectiva, e o foco de sua vida se volta para longe dochamado de Deus para si. Em breve terá Deus em se-gundo plano e isto leva a não deixar lugar para Ele demodo algum.

O resultado final é que o indivíduo se torna,na realidade, culpado de idolatria, amandoas coisas que cobiça ao invés de amar e ser-vir a Deus.

A questão não é se somos ricos ou pobres. Deus usamuita gente rica a fim de suprir as necessidades e derra-mar bênçãos sobre muitas pessoas. A isso chamo de mi-nistério de dar. É uma dádiva e um chamado de Deus.

O dinheiro deve ser usado de modo sábio, e não comoum laço ou um ídolo, mas para a honra de Deus e pararealizar a Sua obra na edificação da Sua igreja. E digasede passagem, você não levará consigo um centavo se-quer quando tiver terminado seu tempo na terra!

BurocraciaAutocrática

O burocrata é a pessoa que participa e encoraja o de-senvolvimento de facetas entrelaçadas que criam a for-malidade e o desperdício que tão frequentemente as-

sociamos às grandes organizações. Este mundo de re-gras legalistas e de rotina, bem como procedimentos comalto palavreado, acontece quando a personalização e aresponsabilidade se perdem na complexidade da orga-nização. Perde-se a eficiência e eficácia e torna-senuma burocracia inútil e embotada. Ela é caracteriza-da pela padronização, especialização, autoridade nahierarquia, onde o objetivo é ser promovido, é impes-soal nos relacionamentos com os empregados e falta aracionalidade. No entanto, existe um tipo de “buro-cracia” que é necessária quando se está “servindo”,mas com freqüência ela se torna o “mau mestre” daorganização. Em sua tentativa de ser eficiente (fazeras coisas de modo certo), falha em ser eficaz (habili-dade de fazer as coisas certas).

Entende este perigo do qual você, como líder, podeser vítima? O que poderá fazer para evitar tal perigoquando seu ministério ou organização se torna para-lisado como uma burocracia que “não vai a parte al-guma” e vê você como um burocrata que “não vai aparte alguma” nesta burocracia?

Evite este perigo através de:

1. Manutenção de uma flexibilidade estrutural, commenos ênfase nas definições bitoladas dos deverese responsabilidades, deixando espaço para um pou-co de criatividade.

2. Desbloqueio e abertura das linhas de comunicaçãoem todas as direções.

3. Descentralização do poder; divisão dos níveis deautoridade altamente estratificados.

4. Substituição das recompensas de promoção dostatus de cargo pelas recompensas por um traba-lho bem feito. É certo que se deve conceder pro-moções, mas todos precisam se sentir realizados erecompensados —não somente aqueles que forempromovidos.

5. Envolvimento das pessoas nos processos de grupo,permitindo-lhes dar sua contribuição no planeja-mento, na tomada de decisões e na solução de pro-blemas.

6. Evitar a competição excessiva entre colegas bemcomo a busca do poder político.

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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7. Honra dos padrões e princípios bíblicos dos pro-cessos da igreja.

8. Não trocar o desafio da liderança pela “segurança”da burocracia.

Orgulho,Vanglória,Egoísmo,

Egocentrismo, Posição e “Síndromede Sucesso”

Provérbios 6.16, 17; 11.2; 16.18; 29.23

Cuidado para não buscar títulos elevados e altas posi-ções, desejando o reconhecimento público, desfilan-do perante os olhos dos demais. Esta busca de posiçãocega os olhos aos sentimentos daqueles que estão sobsua direção e ao seu redor, fazendo com que tome de-cisões sem compreensão e sem compaixão. As pessoasverão prontamente que está buscando ganho pessoale perderão a confiança em você como líder, questio-nando seus motivos.

Passei a vida toda subindo a escada dosucesso, apenas para descobrir, no final,que minha escada estava encostada naparede errada. [autor desconhecido]

Jesus viu isto nos fariseus (veja-se Mt 23.6-12) que não se importavam com as pessoas,mas gostavam das posições e dos lugares dehonra junto aos assentos principais nas si-nagogas.

Os líderes se tornam prêsas deste perigo porque dese-jam ser a autoridade final, dominar os outros e nãoestão contentes a não ser que as pessoas os estejamrespeitando e olhando-os como superiores o tempotodo. Tais líderes “fracos” são controlados pelo desejode altas posições e demonstram-no através de suasconversas, seu modo de andar e vestir, combinados aoolhar orgulhoso e dominador. Tais pessoas são geral-mente solitárias, infelizes e inseguras.

O apóstolo Paulo disse certa vez: Também jamais an-damos buscando glória de homens, nem de vós, nemde outros�[1 Ts 2.6] e Não nos deixemos possuir devanglória�[Gl 5.26].

Evite este perigo ou armadilha sutil!

Na verdade, a razão pela qual caímos neste laço é por-que somos egoístas,

…uma fraqueza da qual todos temos ciência,exceto os líderes que se acham cegados por ela. Éfácil enxergar tal coisa nos outros, porém difícilvê-la em nós mesmos. Devido ao fato do líder setornar mais ou menos o centro do grupo, algunsinterpretam sua posição como significando queele possui maior importância; tais líderes tornam-se, por vezes, orgulhosos de si e egoístas. Não éraro ouvir-se o comentário: “seu novo cargo lhesubiu à cabeça”, ou “ele pensa que é melhor doque os outros agora, já que é o líder.”13

Pode-se identificar tal pessoa pelo seu esquecimentodos outros, seus próprios interesses sendo a coisa maisimportante da vida; e tal egoísmo é evidenciado emsua maneira despótica, egocêntrica e orgulhosa detratar os demais. Essa pessoa se esqueceu das Escritu-ras que dizem: “Ama o teu próximo como a ti mes-mo.”

Edificação daImagem

O que o líder precisa se perguntar, ao ponderar sobreeste perigo é: “Estou mais preocupado e mais prontoa acreditar no que as pessoas dizem a meu respeito doque naquilo que sei Deus diria acerca de mim?”

Em Atos 20.28 e 1 Timóteo 4.16, as injunções—

• para vigiar de perto a si mesmo,

• estar atento ao propósito de sua vida

• e concentrar-se em seu ministério,

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V. Compreendendo as Realidades da Liderança Gerencial

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—enfatizam que precisamos estar mais preocupa-dos a respeito de como somos vistos por Deus emlugar da imagem que muitas vezes desejamos junto àspessoas.

Outra pergunta que o líder deve se fazer é: “Estou metornando menos capaz de lidar com a apreciação porparte das pessoas, transformando seus elogios embajulação, o que alimenta a minha vaidade?”

Um perigo muito grande é o de profissionalizar seuchamado, formando um escudo protetor por trás doqual você acalenta toda a sorte de idéias infladas acer-ca da sua importância! Peça a Deus para humilhá-lo enão se preocupe acerca deste tipo de busca da ima-gem.

A imagem que você deve refletir é simplesmente a deser um obediente servo de Deus, cumprindo o Seu cha-mado, sendo um bom mordomo dos dons e talentosque Ele lhe emprestou, e prontamente admitir peran-te os outros que você é meramente um pecador salvopor Sua graça.

Juntamente a esta atitude deve estar o espírito desempre mostrar interesse pelos outros, e considerarque é um tremendo privilégio ter a permissão para serservo do Deus Soberano.

Amor aoPrestígio,

Autoridade ePoder

Egoísmo, Egocentrismo, Infalibilidade, Populari-dade também se relacionam a este perigo. Em um doscapítulos anteriores enfatizamos que o poder e a au-toridade não podem ser confundidos como sendo amesma coisa.

Poder é a habilidade de afetar os fins ou os pro-pósitos de outrem no mundo. Autoridade é de-ter não apenas o poder (força), mas o direitode afetar o propósito de outrem. O poder é fre-

quentemente mantido pela força bruta; a au-toridade surge de um fundamento moral.14

A autoridade se acha na posição e o poder jaz na “re-taguarda”, ou no peso por trás da autoridade. O pres-tígio (alta reputação e estima reconhecidas) pode en-tão, sutilmente, tornar-se fonte de poder, crédito ouinfluência, resultante do exercício da autoridade e dopoder.

Vê-se que isto pode vir a ser abusado e tornar-se umgrande perigo a ser evitado! Em si mesmos, a autori-dade e o poder não são maus, e são necessários para aeficácia na liderança. Porém, se depositados na pes-soa errada, ou na pessoa certa com a atitude errada,tornam-se extremamente perigosos. Eis aqui algunsdos resultados:

1. Um estilo de liderança ditatorial mantém todoo poder de decisão concentrado no líder, colocan-do exigências de trabalho irreais e impossíveis so-bre seus seguidores, encerrando disciplina e casti-go excessivos sobre aqueles que falharem e nãocumprirem à altura. Tal pessoa também proíbe aspessoas de questionarem suas decisões e sua auto-ridade.

2. Um estilo de liderança autoritário não é tão cru-el e brutal quanto o ditatorial, no entanto, aindase mostra como aquele que raramente permite aosoutros tomarem decisões porque julga que sua pró-pria experiência e conhecimento o torna melhorqualificado. Myron Rush descreve tal líder comoaquele que:

• considera seus pontos de vista como sendo osmais válidos

• é frequentemente crítico no que tange às opini-ões e decisões diferentes das suas

• falta-lhe, com freqüência, confiança nas habili-dades das outras pessoas

• coloca em prática as idéias de outrem somentese concordar com elas

• fica ofendido se os outros discordarem de seuponto de vista

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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• frequentemente usa as pessoas para seu própriobenefício

• é, com freqüência, voltado para a ação e altamen-te competitivo.15

Um dos sinais deste tipo de líder é o de que ele se tornabastante defensivo ao encarar críticas, ficando ressen-tido com qualquer crítica de seu papel, seu trabalho,demonstrando atitudes negativas para com aquelesque trabalham sob sua supervisão, sempre corrigindoe tentando colocá-los “na linha.”

Acautele-se para não cair vítima deste perigo! Mante-nha o equilíbrio! Crie relacionamentos nos quais te-nha uma forte influência sobre os subordinados. Po-rém é preciso também ser receptivo às influênciasdeles. Procure ter um estilo consultivo que enfoque ouso dos talentos, dons, potencial, habilidades e idéi-as de outros na formulação de planos, tomada de de-cisões e cumprimento da tarefa.

É preciso ser um líder que não perca seu papel de lide-rança e poder final de decisão. Mas é preciso fazê-locom a perspectiva daqueles que serão atingidos porele. Tal líder emprega o poder de maneira cuidadosa,o que minimiza as diferenças de status e evita açõesque ameacem o auto-estima de sua gente. Este lídernão permite que a autoridade, o poder e o prestígiolhe subam à cabeça, pensando ser ou se sentindo so-cialmente superior aos demais por causa do que faz,possui ou é— andando pomposamente como um pa-vão orgulhoso! Seja um líder enérgico, porém comcoração e alma de servo!

Síndrome deCelebridade eComplexo de

Pedestal

“Temos gente demais com muitas medalhas enenhuma cicatriz.” [Warren Wiersbe, Back to Bible

Broadcast]

Charles Colson, autor do livro The Body: Being Lightin the Darkness [“O Corpo: Sendo Luz nas Trevas”], de-nomina este perigo de “Síndrome de Celebridade eComplexo de Pedestal.”

Milhares de cristãos se afastam da comunhão doCorpo e começam a viver suas vidas espirituaisde modo vicário através das celebridades reli-giosas as quais veneram.

Desta forma ocorre a devoção cega de milharesde cristãos que continuam a enviar seu dinhei-ro suado aos tele-evangelistas que usam reló-gios da marca Rolex e vivem em mansõespalacianas fornecidas pelo ministério— e atémesmo aqueles que publicamente desgraçaramo evangelho. Estes figurões “maiores do que avida” fazem mais do que nos proporcionar en-tretenimento; eles também nos reafirmam…Porque desejamos ser como o mundo, criamosnossas próprias super-estrelas a partir dospregadores de “fala doce.” Hoje tal mentali-dade se traduz naquilo que chamamos de com-plexo de pedestal; viceja por toda a igreja.Muitos dentre o clero e organizadores degrupos para-eclesiásticos se vêem como lí-deres, não como servos. E seus paroquianose seguidores, de boa vontade reforçam estaatitude. Assim, temos o pastor que anunciacom um grande movimento do braço… queDeus lhe disse para pregar acerca desteversículo. Grande silêncio cai sobre a congre-gação. E depois do culto as pessoas abrem-lheuma passagem um pouco maior quando ele pas-sa pelo corredor. Seu complexo de pedestal seestende às posições de liderança por toda aigreja…. Aliás, tal atitude pode infectar a igrejatoda. Talvez não no sentido de celebridade, masna preocupação com o orgulho e a auto-impor-tância— um senso de que somos os justos, umpouco melhores do que os outros.16

Chuck Colson aponta as conseqüências para a igrejaquando nós, como líderes, sucumbimos a este perigo.

Em primeiro lugar, a exaltação de líderesencoraja os “Cavaleiros Solitários” espiritu-ais. Apesar de extremo, o caso Bakker serve deilustração. Quando os excessos multi-milioná-rios de Jim e Tammy Bakker vieram à tona,

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todos perguntavam: “Como puderam fazerisso?” Mas poucos indagaram: “Por que o con-selho diretor do ministério PTL permitiu queeles o fizessem?” Onde estava a prestação decontas? Em segundo lugar, muitos desses fra-cassos morais são resultado de indivíduos“tensos”, a segunda conseqüência do com-plexo de pedestal. Esperamos que o pastor sejaum psiquiatra no púlpito, um diretor executi-vo no escritório, e uma pessoa sem defeitos emtodas as áreas de sua vida…. Infelizmente, opastor consciente que tenta viver tais expecta-tivas fora da realidade, pode ser engolido porsuas próprias frustrações e ameaçado pelaexaustão, pela “queima” e até mesmo pela imo-ralidade secreta. Em terceiro lugar, asíndrome de celebridade leva a uma visãodistorcida do valor das pessoas. Perseguimosos ricos e influentes, pensando que se conse-guirmos abocanhar este ou aquele, fazemosuma boa pescaria para o reino. Assim como aspessoas perfiladas pelo apóstolo Tiago, ofere-cemos as cabeceiras de nossas mesas aos opu-lentos e bem vestidos, reservando os assentosdo fundo para aqueles a quem consideramossem importância. Em quarto lugar, asíndrome de celebridade “entorta” a teolo-gia da igreja. Como descobre a maioria dospolíticos, a adulação se alimenta de si mesma.Ela vicia; uma vez que as pessoas provam dela,têm sede de mais. O pastor ou líder cristão queé constantemente objeto de multidões que oadoram, logo não pode viver sem isso e, mui-tas vezes inconscientemente, começa a formu-lar suas mensagens para assegurar adulaçãocontínua. A quinta conseqüência do comple-xo de pedestal, e em certas maneiras a maisdestrutiva, é o fato de deixar todos os de-mais isentos de fazer qualquer coisa. Paga-mos nossos líderes para realizarem o serviçoespiritual para nós. São como animadores—quanto melhor desempenharem, tanto maislhes pagamos.17

Chuck conclui sua advertência enfatizando que deve-mos reavaliar nossos objetivos, evitar esse perigo, trei-nar sucessores e nos identificar estreitamente comaqueles a quem ministramos.

Atitude do “Sabe-Tudo”,

IndispensabilidadeAssim, pois, aquele que pensa estar em pé, vejaque não caia. [1 Co 10.12]

O líder que desenvolve a atitude do “sabe-tudo” su-cumbiu a um perigo devastador que não fere somentea ele mesmo, mas a organização ou departamento sobseu comando. Essa atitude o conduz ao fracasso emmuitas áreas por causa de sua ingenuidade, da ceguei-ra que não lhe permite ver a falta dos princípios deliderança e de táticas gerenciais. Se não tomar provi-dências remediais, por fim será desqualificado. É pre-ciso que entenda que NÃO É INDISPENSÁVEL. Deuspode substituí-lo se não trabalhar da forma que Elequer que desempenhe.

Os maiores líderes cometeram graves erros em uma oumais das seguintes áreas concernentes às questõespessoais que seguem. Talvez você pense que é infalí-vel, que sabe tudo! Nenhum de nós é infalível e sem-pre há coisas novas a serem aprendidas, através denovos e diferentes meios.

Faça um “check-up” periódico de si mesmo. [As fichasde auto-avaliação do Capítulo 20 poderão ser gran-de ajuda.] Seja honesto em suas respostas. Não pre-suma que está bem. Na verdade, seria bom se outrapessoa avaliasse seus hábitos de trabalho, responden-do a estas perguntas por você! Obtenha um diagnós-tico e a seguir proceda à cirurgia necessária paracolocá-lo em linha com os padrões que o bom lídergerencial deve acatar.

“Folie adeux”— líderesque levam seus liderados à loucura

Referimo-nos aqui a certos traços especiais dos líde-res que vão além de meras esquisitices. É verdade que

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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os líderes são pessoas à parte, separadas para desem-penhar um certo mandato; são pelo menos umpouquinho diferentes da média das pessoas em geral.O perigo está em tentarmos violentar a realidade e in-fluenciar um grupo a fazer a mesma coisa, numa es-pécie de “loucura compartilhada.” É a isso que cha-mamos de “folie a deux”, ou seja, líderes que levamseus seguidores à loucura! Esse perigo tem sido des-crito como insanidade dupla, contágio mental, insa-nidade coletiva e até mesmo como psicose por associ-ação. Temos exemplos contemporâneos disto: DavidKoresh e Jim Jones. Para que você não se desculpe echegue à conclusão de que estes são exemplos extre-mados, esteja ciente de que você poderia, em menorescala, errar de forma semelhante.

Também como líderes, precisamos estar alertas contrao perigo de tal contágio insano penetrar no meio denossa própria gente. As pessoas podem vir a ter con-tato com alguém dentro da organização que as deixeirracionais. Uma disfunção desse gênero na pessoa deum líder gerencial pode produzir ondulações negati-vas em toda a organização. Isso precisa ser detectadoo quanto antes, caso contrário os problemas cresce-rão; é possível até que a organização ou o ministériopare de funcionar por causa de um indivíduo.

As pessoas atacadas pela “loucura contagiosa” achammuito difícil mudar suas crenças infundadas, seus con-ceitos e idéias irracionais, seus padrões rígidos que re-gem ações radicais, não havendo lugar algum para aflexibilidade. Na verdade, tais pessoas tornam-se pe-quenos “deuses.”

Ao reconhecer a dependência — necessidade de dire-ção— como sendo uma das nossas características maisuniversais, os líderes devem estar atentos para o fatode que muitos de seus subordinados sacrificarão a re-alidade em favor da dependência, participando atémesmo de decisões irracionais, sem qualquer senso crí-tico e desafiando o que está ocorrendo.

No afã de preservar esta dependência relacional,tanto os líderes como os seguidores podem vir acriar comunidades fechadas, perdendo o conta-to com a realidade imediata do ambiente da or-ganização, em detrimento do bom funcionamen-to da mesma. Entretanto, quando a realidade nãoé completamente abandonada, torna-se muitasvezes difícil reconhecer este fenômeno. Todavia,

à vista das conseqüências perniciosas à organi-zação, ainda que de forma limitada, tal espíritode dependência merece séria atenção.18

Ao detectarmos elementos de “loucura contagiosa” pe-netrando furtivamente em nossa organização, igreja,ministério ou empresa, isto revela que há falhas na li-derança. Os conflitos incendeiam-se, a criatividade de-finha e a desconfiança torna-se a atitude prevalecen-te. Evite-a a todo custo! Mantenha consistência eequilíbrio com os princípios bíblicos— evite a ênfasedemasiada sobre um princípio e a negligência de ou-tro.

O Erro de EstarCerto!

Como líderes, com freqüência tendemos a encerrar dis-cussões e conseguir a satisfação por estarmos certos arespeito de fatos e números. “Ganhamos” a discussãopela nossa mente rápida, baseada em “fatos”. Perde-ao que fala devagar e pensa muito. Os fatos costumamencerrar as discussões!

Na realidade, com freqüência a discussão gira em tor-no das diferenças entre os fatos, e não sobre a éticada questão. O participante mais vagaroso, mais pon-derado, pode ter alguma experiência, algum conheci-mento e visão sobre como “interpretar” aqueles “fa-tos” de forma bem mais adequada, exata, mas não lhedamos a oportunidade. Por que é que caímos nessadificuldade?

1. Todos nós enxergamos o mundo através das lentesde nossas pressuposições individuais acerca dele.Somos influenciados por nossa educação, cultura,ambiente, experiência, convicções etc., não impor-tando se são “boas” ou “más.” Antes de entrar empânico pelo que eu disse, deixe-me afirmar que nãoestou sugerindo que desafiemos os fundamentosnão-negociáveis das Santas Escrituras; estes sãosagrados e neles devemos depositar toda a nossaconfiança. Lembre-se de que Jesus sempre en-trou em choque com os líderes “corretos” e“factuais” de Seus dias!

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2. A maioria de nós pensa que todos agimos racional-mente, segundo nossa própria percepção. Fazemosas coisas por razões que a nossos olhos são corre-tas e boas, ao passo que outras pessoas as vêemcomo sendo más. No entanto, os dois grupos sãoformados por cristãos sinceros e genuínos!

3. Temos a tendência de orientar-nos pelo princípiocausa-e-efeito. Queremos saber por que isto ouaquilo aconteceu. Em geral quando acontece algo,pessoas estão envolvidas, e ficamos procurando “osmotivos.” Isto leva frequentemente à “culpa,” de-pois às “discussões,” e finalmente à “argumenta-ção” que, em última instância, leva à “condena-ção.” Creio que é por isso que Jesus disse: “Nãojulgueis, para que não sejais julgados” [Mt 7.1].Certas pessoas encontram satisfação em cavar econtinuar cavando os fatos, gastando tempo pre-cioso numa busca infrutífera, em mina esgotada,sem contudo jamais fazer qualquer diferença nosproblemas reais. As vezes nem sequer existe umproblema!

Estar certo pode constituir uma proposição deperda. Se você estiver certo o tempo todo, aca-ba intimidando as pessoas; elas vão achar maisdifícil lembrar-se de todos os fatos, ou tentarcompartilhá-los com você. “Não adianta quererconversar com o Fulano de Tal. Ele já tomousuas decisões antes de você começar a falar.”As pessoas não acreditam realmente que o Fu-lano de Tal esteja certo o tempo todo. Só acre-ditam que é isso que ele pensa sobre si mesmo.Pessoas nessa situação tornam-se facilmenteisoladas. E as trágicas conseqüências são quecontinuam a crer que estão certas (na maiorparte do tempo), e no entanto as oportunida-des para interagirem em eventos importantesvão-se tornando cada vez mais raras.19

Desejar sempre ter razão, estar sempre certo, podemalbaratar o tempo e destruir relacionamentos. Deque modo tratamos desse perigo?

1. Comece analisando e ouvindo as discussões de queparticipar. Quem fala mais o tempo todo? As pes-soas ao seu redor têm oportunidade de falar, ouvocê as poda sem dó? Você é dominador? Você é oque sempre tem a última palavra?

2. Verifique quanto tempo se gasta, nas próximasreuniões, ou nas discussões em base de um por um,a fim de estabelecer “fatos.”

3. Comece por mudar a si próprio. Decida que nemsempre está ou precisa estar certo! Se você tiverrazão, em geral a questão se resolve de sua manei-ra mesmo!

4. Resolva não discutir coisas que nada têm que vercom a questão em pauta. Não se preocupe com terrazão ou não a respeito de questiúnculas ou por-menores.

5. Ouça com a máxima atenção e certifique-se de queentende o que os outros estão dizendo.

6. Busque ao Senhor e à Sua sabedoria. “Se, porém,algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus,que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera;e ser-lhe-á concedida” [Tiago 1.5]. O Senhor podeconceder-lhe o “discernimento” correto de cadaproblema e de cada situação.

7. Conte com a presença de Deus em cada reunião ouem cada discussão, e descobrirá como certas coi-sas são triviais, quando você inclui a presença do Se-nhor na reunião, na discussão ou na conversa adois.

O Lado Escurodo Carisma

O carisma tem um lado positivo bem como outro ne-gativo. Tivemos um líder carismático positivo,Franklin Roosevelt, que levantou os Estados Unidostirando a nação da Grande Depressão, implementougrandes programas sociais e mobilizou o país para aSegunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo tivemos ocarismático negativo Adolfo Hitler, que transformoua Alemanha num país impiedoso, sem coração, levan-do-o a uma agressão paranóica, à perseguição, destrui-ção e morte de milhares de pessoas, incluindo os hor-rores do holocausto judaico.

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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O carisma tem seu lado escuro e os cristãos tambémpodem cair vitimados por ele. No entanto, nem todosos carismas são negativos. O líder que possui carismapositivo procurará instilar devoção a um ideal ou auma visão, mais do que a si próprio. É o tipo de carismaque beneficia os seguidores. No entanto, estou falan-do de carismas negativos de líderes que detêm pode-res pessoais com o objetivo de dominar e subjugar seusseguidores, mantendo-os fracos, pobres, deseducadose dependentes deles. São líderes que utilizam puni-ções e recompensas para manipular e controlar seusseguidores. A autoridade que possibilita a tomada dedecisões importantes fica centralizada no líder, quemantém uma imagem de infalibilidade. Alguns líde-res cristãos são culpados de apelar para esse expedi-ente vergonhoso.

Por outro lado, há líderes dotados de carisma piedo-so, positivo, humilde, os quais procurarão…

…criar fidelidade à organização e a seus ide-ais, em vez de a eles mesmos. Delegam sufici-ente autoridade, compartilham informaçõesabertamente, encorajam a participação nas de-cisões e recompensam os colaboradores com oobjetivo de reforçar um comportamento coe-rente com a missão e objetivos da organiza-ção.20

Com freqüência, encontramos líderes cristãos sob tre-mendas pressões em seus ministérios. Eles já começama viver além de seus recursos emocionais, espirituaise morais. Alguns deles tornaram-se vítimas de umcarisma que lhes sobrepujou o caráter no encanto má-gico e nas pressões do meio, e acabaram sucumbindoao engano escandaloso. Considere as palavras deJudson Cornwall:

O orgulho de seus sucessos, as atitudes de supe-rioridade sobre os demais ministros, o ressenti-mento contra as pessoas por causa da pressão queexerceram contra ele, e uma auto-avaliaçãoinflacionada de seu valor pessoal, tudo isso co-bra seu preço do líder.21

As sábias palavras de Philip Grenslade enfatizam osério perigo que enfrentamos:

Não demorou muito e esses servos de Deus, ex-cepcionalmente talentosos, julgaram estar acima

dos padrões e critérios normais, operando deacordo com uma lei de retidão diferente da detodas as demais pessoas; julgaram-se independen-tes, soberanos, sem precisar dar satisfações eprestar contas a quem quer que fosse quanto àssuas incoerências e falta de integridade. O meiode livrar-nos desse declive escorregadio é enca-rar com honestidade nossas fraquezas e erros,confessá-los, demonstrar prontidão persistentepara “julgar-nos a nós mesmos para que não se-jamos julgados” e o compromisso de “buscar pri-meiro o reino de Deus e sua justiça.”22

Falta de Visão

A ausência de liderança, ou a ineficácia da li-derança implica na ausência de visão, uma so-ciedade que não sonha, o que resultará, na me-lhor das hipóteses, na manutenção do “statusquo” e, na pior, na desintegração de nossa so-ciedade por falta de propósito e coesão.23

Perder a visão é a mesma coisa que curvar-se na der-rota, ou mesmo recuar da linha de frente da ação.Perde-se o senso de direção. Acaba-se a energia. O oti-mismo transforma-se em pessimismo. Os líderes paramde inspirar seus seguidores a que busquem os mais ele-vados níveis de desempenho. O perigo está em perder-se a dimensão crucial da liderança. Muitos destes pe-rigos aqui dissecados, com freqüência são conseqüên-cias deste perigo. (Revise o capítulo 11 que trata do“Visionar”.)

Fracasso eInadequação

Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei [Mq 7.8].

Todos nós registramos ou viremos a registrar algumtipo de fracasso em nossa vida, como líderes. Com fre-

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qüência o fracasso traz consigo sentimentos profun-dos, intensos, e grandes feridas emocionais. Parte des-te perigo do fracasso chama-se inadequação.

Moisés, no Antigo Testamento, é um bom exemplo dealguém perturbado por este perigo. Ele era um homemde temperamento rapidamente excitável, mas vêmoloapresentando desculpa após desculpa a Deus, quandoo Senhor lhe ordenou que realizasse uma tarefa difí-cil! [Ex 3] Em Nm 12.3, lemos que ele era um homemmuito manso, mas seu temperamento parece contra-dizer isto. Tem sido notado que o tipo de comporta-mento e caráter de Moisés indica um sentimento do-minante de inadequação.

A liderança faz exigências pesadas às pessoas que atomam com seriedade. Mas com freqüência os líderessofrem de um sentimento de inadequação — sentem-se incapazes e limitados. Acontece que Deus não usasuper-homens em sua obra, mas pessoas comuns quepartilham de fraquezas comuns. Se Moisés sentiu-seinadequado para a obra, nós também nos sentiremos!Gideão também objetou de início, e não queria aceitara responsabilidade. Até mesmo os líderes mais fortessentem-se inadequados para assumir as responsabili-dades colocadas sobre seus ombros. Assim comoMoisés com freqüência foi tratado com ingratidão e foirejeitado por um povo difícil, assim nós também so-freremos esses mesmos males, os quais podem criar,se não forem tratados apropriadamente, sentimentosmais profundos de inadequação. De que modo resol-veremos esse problema?

As explosões de raiva de Moisés demonstram que elenão estava lidando bem com seus sentimentos deinadequação; ele preferia explodir de ira, numa ten-tativa fútil de resolver seus problemas. No entanto,chegou o dia em que vêmo-lo intercedendo pelo povoque tão abertamente havia rejeitado a Deus e a elepróprio. Vemos este homem humilde demonstrandoverdadeiro interesse, suprema preocupação, não porsi mesmo, mas para a glória de Deus e pelo bem estarde seu povo. Moisés havia atingido a posição de poderconfiar em Deus a despeito de sua própriainadequação! É essa posição que você e eu devemosatingir. E para isso existe, é claro, um processo.

Para neutralizar esse perigo, é preciso primeiroanalisá-lo objetiva e ousadamente.

a. Precisamos humilhar-nos perante o Senhor.Deus contraria o orgulhoso mas levanta o humildepara que o sirva de modo produtivo [“…cingivostodos de humildade uns para com os outros, por-que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aoshumildes. Humilhai-vos, portanto, debaixo da po-derosa mão de Deus, para que a seu tempo vosexalte.” 1 Pe 5.5-6]

b. Devemos ter uma forte convicção: a de queestamos realizando a vontade de Deus, e que aestamos realizando no lugar que o próprio Deusescolheu. Esta convicção inabalável dada por Deusnos transportará pelos muitos momentos em quesentirmos consciência de nossas limitações. Nãoviraremos as costas em fuga, abandonando o de-safio, a despeito de nossos sentimentos deinadequação.

c. Devemos crer que Deus nos equipará para o tra-balho que Ele próprio escolheu para que exe-cutássemos. Ele jamais nos mandaria para o cam-po da batalha sem as armas necessárias! Ele nos dáos talentos, os dons, as habilidades e a graça paraque trabalhemos.

d. Devemos certificar-nos de que temos oportuni-dade para comunhão fraternal. O sentimento deinaptidão fica intensificado se pemanecermos iso-lados dos outros. Amigos cristãos sinceros podemser nossos maiores encorajadores e temos um es-pecial, o próprio Senhor, presente a qualquer mo-mento. Esteja em comunhão com Ele o tempo todo.

e. Determine se o fracasso foi causado por outrapessoa, situação ou circunstância— ou se foivocê mesmo o causador. As vezes não há absolu-tamente como impedir que sejamos vítima dasações de outra pessoa. Noutras vezes foi uma cir-cunstância ou uma situação sobre a qual não tí-nhamos controle algum que causou nosso fracas-so. Mas talvez foi por sua própria culpa, pelo quevocê precisa determinar que vai aprender algo va-lioso desse fracasso, para evitar cair nessa arapucaoutra vez.

f. As vezes o fracasso ocorre pelo fato de termosestabelecido alvos ou padrões irreais que nãopodemos alcançar. Lembre-se de que não somosperfeitos e nem sempre atingiremos todos os al-

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vos. A maravilha é que Deus pode transformar vocênuma pessoa importante, cheia de significado, enão espera que você seja perfeito! A medida quevamos servindo a Deus, caminhando em sua luz,Ele de vez em quando nos dirá que certo alvo nãoestava realmente em Seus planos para nós, paraque o alcançássemos, e que tem algo melhor aindapara executarmos para Ele e Sua causa. Assim, oque você considerava fracasso, era Deus orientan-do-o e mantendo-o nos trilhos!

Não posso dar-lhe a fórmula do sucesso, masposso dar-lhe a fórmula do fracasso! Tente

agradar a todos! [Harboured Bayard Swope]

g. As vezes só conseguimos ver fracassos em cer-tas situações, quando na verdade fizemos umaporção de coisas acertadas! Descubra que liçõesdevem ser aprendidas. Talvez você se tenha lança-do com demasiada rapidez e imprudência, e faltou-lhe assim o aconselhamento sábio de outras pes-soas.

“O fracasso não é fracasso, a não ser que nãoaprenda com ele.” [Dr. Roland Niednagel]

h. Agradeça a experiência. A seguir, perdoe, es-queça e vá adiante, enfrentando novos desafi-os. Com demasiada freqüência as pessoas não con-seguem se perdoar, mas se Deus pode perdoar,então deve você perdoar-se a si próprio.

i. É interessante que você poderá receberencorajamento das pessoas que fracassaramcomo você fracassou. Você pode beneficiar-se davisão que tais pessoas adquiriram. E então, de igualmodo, você poderá ajudar outras pessoas que irãofracassar como você fracassou; você estará equipa-do para dar-lhes seu discernimento e suas adver-tências úteis. [2 Co 1.3,4]

j. “Não se pode ganhar sempre.” Faça o melhor quepuder e, ao fracassar, pela graça de Deus levante-se.

Sete vezes cairá o justo, e se levantará, mas osímpios são derrubados pela calamidade. [Pv 24.16]Você pode vencer os efeitos do perigo do fracasso.Podemos lidar com o perigo de fracasso e deinadequação, como Moisés o fez. Ele chegou ao ponto

em que não se preocupava com a boa impressão de simesmo, mas antes, preocupava-se com que Deus rece-besse toda a glória.

Em nossa inadequação e em nossos fracassos, Deus nosconclama para este tipo de maturidade. Por Seu tur-no, Ele elimina nossas limitações e nos usa a despeitode nossas fraquezas humanas.

Faço o melhor possível,o melhor que posso, e querocontinuar agindo assim até o fim.Se no fim eu estiver certo,o que foi dito contra mimnenhum valor terá.Se no fim eu estiver errado,ainda que dez anjos juremque eu estava certonão fará a menor diferença.24

Impulsividade

Os líderes não são perfeitos e sofrem tipos diferentesde limitações. Um desses tipos é o perigo de cair naimpulsividade. Temos nas Escrituras um bom exemplode líder impulsivo, a saber, Pedro. Pedro era um ho-mem de ação, de iniciativa, um porta-voz dos outros,e podia muito bem representar seus companheiros. Ti-nha um pendor natural para a liderança que, obvia-mente, precisava ser trabalhado pelo Senhor a fim dedesenvolver-se, mediante muitas experiências duras.Apesar de tudo, Pedro era um bom líder! Ele não vierade um extrato social refinado; era um pescador rudeque provavelmente recebera pouca educação formal.O resultado era que Pedro enxergava o lado prático davida, em vez do lado intelectual, e achava difícil acom-panhar um argumento racional. Mesmo assim, tornou-se um bom líder.

A impulsividade de Pedro ficou certamente evidenci-ada no incidente em que atacou o servo do sumo sa-cerdote com uma espada (Mt 26.52). Certa vez tentouandar na superfície do mar. Ele contestou o desejo deJesus de lavar-lhe os pés. Com grande relutância foique saiu ao encontro de Cornélio, um gentio, e foi se-

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V. Compreendendo as Realidades da Liderança Gerencial

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veramente repreendido por Paulo por causa de suaconduta incoerente. Em suma, Pedro tinha uma per-sonalidade “impulsiva,” era dotado de temperamentorapidamente explosivo (era um “pavio curto”), e degrande arrogância em certas situações.

Ora, este tipo de personalidade apresenta certas van-tagens quando se fazem necessárias decisões rápidas;entretanto, a pessoa precisa aprender a agir só depoisde cuidadosa reflexão e a desenvolver julgamento só-lido. Muito dano pode originar-se de observações im-pulsivas lançadas sem cuidadosa reflexão, com reper-cussões profundas que poderão ser lamentadas parasempre. No processo de ajudar as pessoas, vamos

• ouvir bem

• manter nossa objetividade

• evitar o emocionalismo exagerado

• pensar antes de falar

• pensar antes de aconselhar

• pensar antes de resolver um problema

• pensar antes de tomar uma decisão

• pensar antes de formular uma opinião

Se formos governados por nossas emoções, correremoso risco de cair no perigo da impulsividade. Jesus ensi-nou a Pedro como lidar com sua impulsividade. Tam-bém nós podemos aprender com tais lições. Jesus lheensinou:

1. …humildade. Isto o ajudou a restringir sua exa-gerada auto-afirmação.

2. …a submeter-se à autoridade de Cristo e estardisposto a aprender do Senhor. Precisava se darconta de que não sabia tudo. Precisava perceberque nunca paramos de aprender.

3. …a ter fé no Senhor, e confiar nele. Precisava tor-nar-se exemplo disto, se quisesse ganhar o respei-to e a confiança dos outros.

4. …amar a Deus e, em seu ministério, demonstraresse amor aos outros.

Pedro precisava continuar a desenvolver essas quali-dades, de tal modo que sua natureza impulsiva pudes-se ser refinada. Tais qualidades de liderança precisamcriar raízes profundas em nossa alma e em nossa per-sonalidade.

Assumir Riscos

O perigo aqui está em a pessoa assumir riscos tolos,não calculados, com toda presunção, sem o mínimo depesquisa e de reflexão.

Um bom piloto jamais voa ainda que o tempo estejaótimo, sem um plano de vôo bem feito e pelo menosduas alternativas.

Por outro lado, diante do que acabamos de dizer aci-ma, há um perigo no qual caem muitos líderesgerenciais—

TÊM MEDO DE ASSUMIR RISCOS!

Precisamos caminhar para a frente, e isto significa, an-dar rumo ao desconhecido. Ao fazermos isso, corre-mos riscos. Todavia, planejamos as melhores estraté-gias que pudermos. Se não o fizermos, ficamos presosna armadilha de pensar no futuro apenas com base dopresente, e chegaremos até mesmo a planejar com basedo passado!

“A tomada de decisões envolta em riscos calcula-dos” poderia ser uma definição do planejamento alongo prazo. Uma declaração sobre o futuro é uma de-claração de fé. As decisões baseadas em nossa percep-ção do futuro conterá elementos de risco, o que não énecessariamente uma coisa ruim, nem algo que se devaevitar.

Na verdade, assumir riscos inteligentemente é umaforma de testar nossa fé! O planejamento de longoprazo ajuda-nos a tomar decisões que reduzem o ris-co.

As decisões tomadas hoje exercem grande impac-to sobre o que vai acontecer amanhã. Mas, é preci-

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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so tomar as decisões com base em pesquisas e re-flexão.

Preguiça,Procrastinação e

Falta deMotivação

Há várias razões ou fatores que podem causar a pre-guiça, a procrastinação e a falta de motivação:

1. uma visão obscura, propósitos, objetivos, alvosou prioridades obscuros

2. a vocação divina que se tornou nebulosa ou forade foco para a vida da pessoa

3. depressão ou ira “enterrada” [ocultada]

4. auto-piedade

5. doença física, fadiga ou estresse

6. problemas emocionais não resolvidos

7. medo do fracasso

8. desgosto por uma tarefa ou projeto em especial

9. medo ou incapacidade de tomar decisões sábiasou de resolver problemas

10. a obra ou tarefa parece amedrontadora demais

Para suplantar esse perigo, a pessoa precisa:

1. identificar a causa da preguiça ou daprocrastinação (medo, visão obscurecida etc.)

2. desenvolver e implementar um plano construtivocapaz de vencer essas fraquezas.

3. prestar contas a alguém que possa ajudá-lo a ven-cer o problema da letargia.

4. confiar em Deus para ajudá-lo a vencer a fraqueza.

InstabilidadeEmocional eImaturidade

A instabilidade emocional pode assumir várias formascomo preocupação, medo, supersensibilidade, insen-sibilidade, imaturidade etc. Pouco importa a forma quetal perigo assuma, o líder precisa crer na Palavra deDeus e confiar Nele para o suprimento de sua própriaestabilidade emocional. Com frequência a instabilida-de se instala quando tomamos a decisão de focalizaras circunstâncias e situações que nos rodeiam, em vezde focalizar em Deus. O fato infeliz a respeito desteperigo, bem como de muitos outros, é que com fre-qüência, a pessoa presa nesta armadilha, nem sequerpercebe sua prisão. Não reconhece e muitas vezes nãoquer reconhecer sua própria instabilidade.

A preocupação, o medo e a ansiedade podem devas-tar a pessoa emocionalmente, paralisando-a e levan-do-a à incompetência. Podem levá-la a fazer coisas ir-racionais. Por exemplo, o rei Saul atirou uma lançacontra Davi porque se sentiu ameaçado por ele. Tinhamuito ciúme dele. Seu medo de perder a posição derei causou-lhe tão grande ansiedade que esteve pres-tes a se tornar um assassino. Felizmente, Davi foi ca-paz de desviar-se da lança! Alguém disse que a preo-cupação decorre de a pessoa assumir uma respon-sabilidade que jamais Deus tencionou dar-lhe.Muitas vezes a pessoa defende a tomada voluntária deuma responsabilidade só porque “ninguém sabia comofazer o trabalho” ou “ninguém quer fazê-lo” ou “nãoserá bem feito” ou… a lista de desculpas parece nãoter fim.

Há outra face da preocupação, medo e ansiedade, quepode ser causada pelo sentimento de insegurança—insegurança e nenhuma disposição da pessoa em con-fiar na capacidade dada por Deus para desempenhar atarefa com todo sucesso; insegurança quanto à perso-nalidade e caráter da pessoa; insegurança quanto àcapacidade e sabedoria das pessoas etc. Moisés foiexemplo de um líder inseguro, e indisposto a aceitar

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V. Compreendendo as Realidades da Liderança Gerencial

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a capacidade e os talentos que Deus lhe havia dado,porém venceu tal estabilidade emocional.

A super-sensibilidade e a insensibilidade são pon-tos extremos em nossos relacionamentos com as ou-tras pessoas. Ambos demonstram a necessidade deapreciação e aceitação, a qual precisa ser satisfeita. In-felizmente, muitas pessoas perderam a capacidade deelogiar e apreciar sinceramente. O resultado é que maise mais pessoas vão-se tornando super-sensíveis ou in-sensíveis perante os demais ao seu redor. Asupersensibilidade não controlada pode induzir à ti-midez e ao medo; a insensibilidade pode levar à aspe-reza, à brutalidade no trato, e à liderança autocráti-ca. Isso também pode induzir à insensibilidade às fe-ridas, dores, lutas e tragédias da humanidade.

Um exemplo

Timóteo é um bom exemplo de pessoa tímida e sensí-vel. O apóstolo Paulo precisou dizer-lhe: “Ninguémdespreze a tua mocidade” [1 Tm 4.12]. Em certo sen-tido, sua super-sensibilidade é que lhe causou algunsde seus problemas, pois as pessoas bondosas torna-vam-se super-cautelosas sobre como tratar dele, en-quanto outras tentavam esmagá-lo como se fossem“rolos compressores”.

Seus sentimentos introvertidos também criavam a ten-dência de Timóteo estar voltado para si mesmo e seusinteresses, em vez de para os outros, para o mundoexterior. Sua preocupação quanto ao que as pessoaspensavam a seu respeito tornava-o nervoso e temero-so. Uma pessoa assim, se não se controlar, pode tor-nar-se demasiada sensível, introvertida, sempre ima-ginando o que os outros estão pensando dela; mago-am-se facilmente bastando não receberem o devido re-conhecimento.

Tudo isso reforça, ou piora, a insegurança e a consci-ência de inadequação. A pessoa acha difícil receber crí-ticas construtivas; interpreta mal os comentáriosalheios e sente-se ameaçada. A reação extremada podeser a busca de isolamento dos outros e do mundo;transformam-se em “casulos” inúteis, quando porémpossuem grandes talentos e habilidades.

Em tudo isso há um grande potencial em tais pessoas—com frequência têm preocupação pelas pessoas,como Paulo revela acerca de Timóteo [a ninguém te-

nho de igual sentimento (Timóteo), que sinceramentecuide do vosso bem-estar. Pois todos buscam o que éseu, e não o que é de Cristo Jesus— Fp 2.20,21].

Têm também a capacidade de trabalhar bem com osoutros, se conseguirem vencer a própria super-sensi-bilidade como Timóteo obviamente o conseguiu. Soba liderança de Paulo, ele aprendeu a vencer esse peri-go e prosseguiu em seu caminho, tornando-se um lí-der cristão forte, maduro e ousado.

Uma Solução

Uma solução para a pessoa livrar-se de um perigo tãoincapacitador é CONFIAR. Confiar em Deus. Só Ele é aRocha sólida, o Líder Soberano e Sábio. Só Ele podedar-nos o senso de segurança. ������������������� ��������������������� ������ ������ ����������������������������������������� [2 Tm 1.7]. Ao meditarmos nas Escrituras, Deusnos ajuda a desenvolver uma auto-estima sadia, e areconhecer nossos pontos fortes e fracos, e como Elenos aceita e nos ama e o que espera de nós. A confi-ança em nossas próprias emoções e caprichos emocio-nais (êxtase de pico de montanha numa semana edepressão profunda na seguinte) causa instabilidade;confiar na palavra de Deus traz estabilidade.

Depressão,Solidão, Rejeição

e DesânimoEmbora hajam algumas diferenças, também há algu-mas semelhanças, pelo que agruparemos estas quatro(depressão, solidão, rejeição e desânimo). O perigoestá em a pessoa permitir que uma ou mais destas tra-gédias a consumam, a ponto de tornar-se ineficiente.

Com frequência as expectativas quanto ao desempe-nho do papel, quanto às funções do cargo, às exigên-cias de tempo e a preocupação genuína a respeito deproblemas reais etc. separamnos das pessoas, ao pon-to de não experimentarmos a comunhão íntima de quetodos necessitamos, uns mais outros menos.

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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Muitos dos grandes líderes da história sofreram de umaou mais destas limitações. Enfrentaram os mesmosperigos de sucumbir de vez. Tais perigos ameaçavame prejudicavam seu trabalho. Você pode ser levado aodesespero e desencorajamento. Quando as coisas nãofuncionam bem, os planos se esfacelam, e os críticostrazem à memória nossos fracassos.

Aqueles com quem você contava não cumpriram suasresponsabilidades ou voltaram-se contra você, os re-cursos se acabaram antes de terminar o projeto— vocêpode ser arrastado ao desespero e desânimo! Sente-sesolitário, deprimido e rejeitado. No entanto, não te-mos aqui um novo perigo! As Escrituras e a históriaregistram os casos de grandes homens e mulheres queenfrentaram esse perigo em suas vidas. Quando nãoidentificado e corrigido, tal perigo apresentará as se-guintes conseqüências:

1. O desespero e o desânimo trazem uma falsa avali-ação de talentos, os seus próprios, dos valores desua organização ou ministério, levando-o a crerque você para nada presta, que é incapaz, destitu-ído de talentos e inadequado.

2. O desespero e o desânimo podem levar-nos a fugire a esquivar-nos de nossas responsabilidades. Lem-bre-se porém de que temos de prestar contas!Livremo-nos dessa armadilha e apeguemo-nos àvontade de Deus para nossa vida, ao trabalho queEle nos deu. Não podemos permitir que nossasemoções e sentimentos nos impeçam de obedecera Deus.

3. O desespero e o desânimo podem levar-nos a cul-par outros pelos nossos próprios dilemas; aponta-mos um dedo acusador ao nosso próximo, denun-ciamos outros pelas nossas falhas.

4. O desespero e o desânimo podem nos levar a am-pliar erroneamente os problemas, que ficam forade toda proporção.

Leia as histórias de Elias [1 Rs 19.9-21] e de Davi [Sl3, 6, 7, 22, 25, 35, 38, 41, 51, 55, 56, 57, 59, 61, 69,70 etc.].

Os problemas podem ser inflados e assumir pro-porções fora de perspectiva. Colinas transfor-mam-se em montanhas. O líder precisa conti-

nuar a caminhar pela fé e esperar que o quadrose esclareça. O apóstolo Paulo sabe estabelecero ritmo. Sua chegada a Filipos, havia sido se-guida de tumulto e desânimo. Mas ao olhar paratrás ele pôde afirmar: “Quero, irmãos, quesaibais que as coisas que me aconteceram con-tribuíram para maior avanço do evangelho” (Fp1.12).25

De que forma você lida com isso?

1. Volte-se para Deus, como Davi! Ele “se fortaleceuno Senhor seu Deus” [1 Sm 30.6]. É preciso man-ter um relacionamento íntimo com o Senhor. Eleprometeu permanecer junto de você, ser-lhe maischegado que um irmão! Quer ser seu amigo maisíntimo, a fim de ajudá-lo nas horas mais difíceis,entendê-lo e cuidar de você. Não me refiro a umdogmatismo a respeito de devoções certas em ho-ras certas, todos os dias. Refiro-me a uma amizadecom o Senhor que perdure o dia todo!

2. Tenha alguns bons amigos com os quais possa servocê mesmo (deixando de lado seu cargo, manten-do-o fora da questão). Lee Iacocca considerava seubarbeiro um de seus melhores amigos. É óbvio queJesus nutria uma amizade especial por Lázaro etambém para com Seu discípulo amado, o apósto-lo João. Refiro-me a amigos que edificam e elevam.

3. Cuide de seu corpo. Alimente-se e exercite-se demodo adequado. A depressão e a solidão podemaumentar quando a fadiga mental e emocional,bem como a instabilidade ocorrerem por causa deuma dieta inadequada, agravadas por falta de sonoe exercício, ou aumentar qualquer destas quatroemoções (depressão, solidão, rejeição e desânimo).

4. No bom sentido, melhore sua auto-imagem saindode si mesmo, crescendo mais um pouco, abando-nando o “gueto cristão”. Aceite novos desafios efaça ainda alguma coisa em prol de seu próximo.

Apenas uma advertência: parece que a depressão écaracterística de certos líderes que tendem a serexcessivamente moralistas.

Estão profundamente conscientes da lei deDeus e estabelecem para si mesmos padrõesmorais elevados. Para eles os padrões morais

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V. Compreendendo as Realidades da Liderança Gerencial

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são vistos em preto e branco. Mas, sendo hu-manos, nunca conseguem atingi-los, pelo quese tornam corroídos por uma consciência defracasso. Ao tentar impor tais padrões sobre osoutros, novamente se vêem lutando contra afragilidade humana. Isso pode produzir uma si-tuação triste numa família, em que pais extre-mamente rígidos travam uma batalha sem tré-guas contra as falhas de seus filhos, recusan-do-se a elogiá-los por aquilo que fazem. Diga-se o mesmo quando esse moralismo exacerba-do domina o púlpito (ou qualquer outro minis-tério); os membros mais sensíveis da congrega-ção (ou do ministério) ficam em estado de auto-condenação contínua, porque são sempre lem-brados de seus fracassos.26

Para eliminar tal ambiente opressivo, as pessoas viti-madas pela síndrome da auto-condenação e depressão,precisam enfocar a graça e o amor de Deus que, emSua misericórdia nos aceita e deseja que nos tornemoso que Ele almeja para nós, e não o que ditam oslegalistas. Tais pessoas precisam desenvolver seu pró-prio relacionamento com Deus, determinando a partirda Sua Palavra, o que é que Deus pensa delas, e o quedeseja delas. Precisam chegar a ver que sua necessi-dade de segurança e auto-afirmação, ou auto-estima,só pode ser satisfeita em Deus, e que Ele não exigeque cumpram nenhuma lista de “faça isto” e “não façaaquilo.”

Pressão eEnfrentandoa Realidade

Sem dúvida o líder gerencial experimentará pressão demuitas formas diferentes. Em alguns dias mais, nou-tros menos. Mas a pressão está ali, firme! Assim comoas ondas do mar nunca param de varrer a praia, àsvezes na forma de ondulações suaves, silenciosas, àsvezes como vagalhões enfurecidos, trovejantes, assimtambém serão as pressões sofridas pelo líder. A causaestá nas muitas responsabilidades, expectativas dema-siado altas, prazos que terminam depressa demais. Àsvezes é algo de dentro para fora, um desejo veementede fazer alguma coisa, de exprimir uma idéia, de rea-lizar e experimentar. A pressão é geralmente a

somatória de múltiplas causas, e não necessariamenteo produto de um único fator dominante. Pode, even-tualmente, ocasionar uma sensação de sufoco. De quemodo lidamos com esse perigo?

Antes de arrebentar como um balão de borracha in-flado demais, comece a liberar a pressão devagar. Cui-de de um problema de cada vez. Damos, a seguir, umalista de perguntas que visam a abordagem da pressão.Ela o ajudará a tratar dessa situação antes que fiqueperigosa, capaz de induzir a um colapso nervoso ouataque cardíaco.

1. Que problemas específicos pesam sobre meusombros hoje? Relacione-os e veja que itens podemser postergados, quais os que podem ser elimina-dos de vez e, a seguir, ataque os três primeiros,pela ordem de prioridade, dando um passo de cadavez.

2. Quais são as três decisões mais prementes dehoje? A indecisão é uma das maiores fontes depressão. O estresse dela resultante pode atingirníveis excruciantes, à medida que sua responsabi-lidade cresce e as decisões demoram. Baixe a pres-são, o estresse, tome essas decisões! Para ajudaadicional, consulte o capítulo 12 a respeito da to-mada de decisões e a resolução de problemas.

3. Estou descansando suficientemente? Verifiqueas razões de sua fadiga.

4. Se estou sobrecarregado de responsabilidades,como é que isso veio a acontecer? Talvez tenhacolocado na boca mais do que consegue mastigar.Talvez esteja correndo depressa demais. Pode serque você esteja concentrando-se em minúcias emvez de dedicar-se ao plano global de ação.

5. Terei estabelecido para mim mesmo alvos de-masiado elevados? Os alvos devem motivá-lo, nãogoverná-lo.

6. Estarei tentando ser perfeito? Relaxe! Ninguémé perfeito. Faça o melhor dentro de suas possibili-dades— isso é tudo que Deus espera de você!

7. Quem pode ajudar-me a aliviar essa pressão?Escolha um amigo de confiança, que não more per-to, capaz de ser objetivo ao discutir essas pressões

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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com você. Esse amigo poderá ajudá-lo a enxergarde onde vem a pressão, e até mesmo dar-lhe con-selhos preciosos sobre como aliviá-la.

8. Pode o dinheiro ajudar a aliviar pressões? Sejarealista, às vezes o dinheiro pode resolver um pro-blema causador de tensão. Com frequência tenhoestado nesta situação, e acho muito difícil conver-sar acerca de minhas necessidades, e as de minhaorganização, onde trabalho. Às vezes temos que re-velar as necessidades e confiar em Deus, em queEle dará um jeito nos “pensamentos” negativos daspessoas que nos rodeiam. Por outro lado, Deuspode falar a alguém que o ajude, e essa pessoa po-derá ter muito prazer em fazê-lo! Já vi isto acon-tecer muitas vezes.

Com frequência prevalece um fato, de certo modo re-lacionado a este perigo: Não queremos ENFRENTAR AREALIDADE. Aqui está outra grande fonte de pressão.Enfrentar a dura realidade com uma expressão fria,destituída de qualquer paixão, não é uma atitude fá-cil de ser tomada pela maioria de nós.

Nosso instinto é fazer o melhor possível, e ra-cionalizar quaisquer frustrações que sobreve-nham…. Podemos adotar a crença de que otempo melhorará a situação. Tendemos a con-tinuar fazendo o que sempre fizemos, e talvezfazer mais ainda.27

Corremos o risco de cair nessa armadilha porque con-tinuamos a pensar que, de alguma maneira, as coisasvão mudar. Permitimos que a situação nos governe,em vez de encararmos os problemas objetiva e realis-ticamente. Toda e qualquer visão que desejamos verrealizada, ou quaisquer mudanças que precisam serintroduzidas produzirão um efeito desestabilizadornaqueles que nos rodeiam. Precisamos aceitar este fatoe agir de acordo!

Precisamos ter a coragem de encarar o fato como elese apresenta, e isto significa, às vezes, agir de modoquase indiferente quanto às conseqüências que pode-rá exercer sobre nós! O medo de perder a aprovação éreal, mas evitar as duras realidades deixa-nos numapenumbra irreal. Por fora, na superfície, mostramos-nos e permanecemos esperançosos, mas por dentro,bem no fundo, sabemos que algo está errado.

Com frequência a realidade é evitada porque sabemosque podemos sobreviver à dor infligida pela situação.O primeiro passo a ser tomado é revestir-nos da cora-gem de ver as coisas como elas são, sem desculpas, semexplicações, sem colorir de cor-de-rosa o que é preto,sem ilusões de um progresso impossível. Confrontar arealidade dura da vida apresenta alguns benefícios:

1. Permite que paremos de desperdiçar nossa energiatentando adaptar-nos a algo, a ceder e a desenvol-ver meios de contornar uma situação problemáti-ca que pode e deve ser resolvida racionalmente.

2. Ajuda-nos a sentir-nos menos frustrados. Percebe-mos ou admitimos que algo mais profundo estáacontecendo, e que não é de nossa inteira respon-sabilidade.

3. Tornamo-nos fortalecidos quando enfrentamos arealidade, quando corajosamente estabelecemosnossa autonomia.

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece”[Fp 4.13].

A sobrevivência é possível com a ajuda e o controlede Deus!

4. Dá-nos credibilidade, e aumenta nossas perspecti-vas de conseguir sustento para nossos projetos.Enfrentar a realidade comunica às pessoas uma es-pécie de força que lhes dá confiança renovada.

5. Ajuda a edificar maior confiança e respeito pelafunção que desempenhamos, por nossa autorida-de e visão.

6. Alivia a pressão e a tensão estressante daquelesque estão ao nosso redor— colegas, cônjuge, fa-mília, parentes, nossos superiores e nossos subor-dinados.

7. Traz certa paz interior, certa tranqüilidade à alma, ain-da que tudo ao redor esteja em tumulto violento.

Trabalhando à Sombrade um Mentor

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Qualquer dia desses você sairá da sombra de seu pre-decessor, ou mentor. E daí?

A situação parece-se com a do piloto novato que pelaprimeira vez terá de voar sozinho. Lembro-me bem dequando tive que voar sozinho pela primeira vez emCalgary, Alberta, no Canadá, na pista de nú-mero 16. Eu não tinha a mínima idéia deque naquele dia eu teria que voar a sós.Meu instrutor eeu tínhamos vo-ado em treina-mento e chegaraa hora de voltar-mos. Aterrissa-mos e taxeamos oavião, saindo da pis-ta movimentada. Subi-tamente meu instrutorabriu a porta e disse-me: “Pare o motor!” Eu parei. Elesaiu. Ao fechar a porta, disse: “Esperarei por você aqui;faça um circuito.” Foi aí que a realidade me acertouem cheio! Foi quando tive que exercer as funções depiloto, voar no mundo real da aviação, entre as ou-tras aeronaves. Eu tinha que fazê-lo certo pela primei-ra vez— sem o meu mentor!

Essa mesma realidade atingiu Eliseu quando de repen-te seu mentor partiu. Essa realidade vai atingi-lo umdia, e nos primeiros estágios pode haver um tempoperigoso, se não for cuidadoso! A partir de então vocêserá responsável pelas suas decisões. Os erros serãotodos seus! Não haverá quem lhe corrija os erros, a nãoser você mesmo! A transição é cheia de complexida-des. Pode ser que se espere de você, acertada, ou quemsabe erroneamente, que tenha um desempenho tãoelevado como o de seu predecessor. Algumas pessoasvirão dizer-lhe que as coisas não estão indo tão bemporque você não está fazendo como seu predecessorfazia.

Parece que Eliseu sabia que enfrentaria algumas difi-culdades ao substituir Elias porque fez este pedido:“Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito so-bre mim” [2 Rs 2.9]. É digno de nota nesse pedido,que Eliseu não pediu a Deus que o transformasseem réplica de Elias, nem que pudesse imitar seusmétodos. Ao contrário, ele pediu capacitação de Deuspara realizar um trabalho responsável. É claro queEliseu compartilhou a visão, a consagração e a pronti-

dão de Elias para o sacrifício. Ele também havia de-monstrado em sua vida que havia sido um bom segui-dor e discípulo. Mostrara maturidade, ao prontificar-se a servir sob o comando de um companheiro maisvelho, e com ele aprender, ainda que às vezes tivesseuma idéia melhor.

Eliseu foi um homem delicado, dotado de espírito sen-sível. Era diferente com um estilo diferente de lide-rança. Agora, uma palavra de advertência para os lí-deres mais velhos:

Jamais espere que seu colega principiante ouaquele a quem está treinando opere e trabalhe

exatamente da mesma maneira que você;jamais tente pressioná-lo

para fazê-lo encaixar-se no mesmo molde.

Esse aprendiz tem talentos e dons diferentes. Precisa-mos aprender a ser nós mesmos, e confiar em Deus,que nos dará a capacidade necessária para desempe-nhar nossas responsabilidades e tarefas.

Lembre-se de que Deus costuma preparar homens emulheres para determinadas situações. As situaçõesmudam e Deus as enfrenta com indivíduos dife-rentes dotados de personalidades, dons, talentose estilos diferentes. Precisamos ser cuidadosos emnão pensar que os moldes que precisam ser preenchi-dos serão sempre os mesmos.

Até mesmo Elias e Eliseu provavelmente pareceriam di-ferentes e teriam desempenhos diferentes, se vives-sem em nossos dias e em nossa situação. Devemos serleais às mesmas verdades e prioridades básicas queDeus estabeleceu em sua Palavra, mas as situações eos métodos mudam. Os líderes precisam estar alertaspara o perigo de serem insensíveis para com o papeldesempenhado pelo mentor, o papel do que está porenquanto na sombra do mentor, e daquele que estásaindo dela.

Fadiga e Fracassoem não Cultivar a

Boa Saúde

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Capítulo 18 — Os Perigos da Liderança Gerencial

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Por que deveríamos preocupar-nos com este perigo?

1. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo, pelo quedevemos mantê-lo limpo, sadio e em boa ordem!

2. A vida do líder sempre tem muito estresse; é pre-ciso, então, manter o corpo sadio, forte a fim deaguentar as pressões.

3. O líder precisa ser capaz de visitar seus comanda-dos onde quer que se encontrem, pelo que é ne-cessário que tenha muita disposição, que estejapronto para topar algum programa diferente, bemcomo comidas e dietas invulgares. Isto exige umcorpo forte!

4. O líder em geral começa mais cedo e se retira maistarde que seus comandados, na obra. Isso é ine-rente ao papel dele.

Por tudo isso, é preciso manter sua saúde espiritual,emocional, física, mental e social. Coma os alimentoscertos. Suplemente sua alimentação com doses extrasde vitaminas, sais minerais e fibras.

Não se torne uma espécie de “fanático da saúde” masatenda ao conselho da Bíblia: “examinai todas as coi-sas, retende o bem”. Existem excelentes suplementosalimentares no mercado, de modo que você deve sercuidadoso e escolher os que poderão ajudá-lo a man-ter um bom equilíbrio nutritivo.

Uma palavra de advertência: Não exceda na alimenta-ção, não ultrapasse seu peso ideal. Do contrário, vocêse tornará pesadão, cansado e se prejudicará de ou-tras maneiras.

Finalmente, seja coerente e faça exercícios físicos ade-quados. E alegre-se em sofrer algumas tribulações!Como líderes podemos ser vitimados por este perigo!

O Preço é AltoDemais?

Qualquer empreendimento digno de execução tem seupreço em termos de trabalho duro, custos financeiros,

paciência, fé, perseverança e oposição. É possível atéque você se torne uma pessoa desprezada, por cau-sa de suas convicções e sua vocação.

Não pense em desistir por causa do preço que devepagar. Todo chamado para uma liderança genuína exi-ge um custo da parte do indivíduo. Dizem as Escritu-ras: “Qualquer que, por minha causa, perder a suavida, esse a salvará” [Lc 9:24]. Isto é verdade paraquem aspira a verdadeira liderança. O preço que sepaga para atender ao chamado à liderança inclui oseguinte.

Críticas

A crítica é um perigo que nos ameaça a todos. Pode-mos ser culpados por criticar duramente os outros, ousermos vítimas de palavras ásperas e destrutivas daspessoas.

Decidimos que o preço a ser pago é por demais eleva-do, e cedemos à tentação de abandonar a vocação deDeus, a quem deixaremos de obedecer. Enfrentamosum dilema quando tratamos deste assunto. Em geralsomos rápidos para encontrar erros, mas damos pou-cos elogios quando as coisas correm bem. Há lugarpara a crítica construtiva necessária, mas por outrolado, não deve haver lugar para o julgamento devas-tador.

Na verdade, temos aqui uma via de duas mãos. Pode-mos ter que avaliar alguém ou alguma situação e er-roneamente sermos advertidos de que estamos julgan-do, sendo lembrados do “não julgueis para que nãosejais julgados”[Mt 7.11]. Todavia, a Bíblia continua-mente nos chama a padrões mais elevados. Portantoprecisamos desenvolver a habilidade ou a arte de sa-ber como oferecer crítica construtiva, bem comorecebê-la.

Todos nós temos diferentes papéis, chamado e manei-ras pelas quais vivemos nossas vidas cristãs. Devemosnos perguntar: “Tenho realmente o direito de criticaresta pessoa, seu chamado ou a situação? Tenho o di-reito de presumir certas coisas ou me precipitar a con-clusões quando não possuo todos os fatos que cercama situação?” Muitas vezes criticamos, ou na realidade“julgamos” porque as coisas não estão sendo feitas “donosso jeito.” Podemos definir uma boa crítica como“avaliação.” Uma pessoa e organização saudáveis dão

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as boas vindas a este tipo de “crítica”, pois ela ajudae pode produzir mudanças e resultados positivos.

Regras para a Crítica

• Não critique uma pessoa na frente das outras ouem público.

• Não use a crítica como um tipo de refutação numargumento, com o intuito de fazer com que o ou-tro participante pare de expor seu ponto de vista.

• Não critique a pessoa, porém a ação.

• Não faça crítica com raiva; tal raiva causa uma re-ação exagerada.

• Lance mão de todos os fatos. Um relato de deter-minada situação emocionalmente carregado, podedistorcer a verdade. Lembre-se de que sempre hádois lados a serem considerados.

• Não adie a crítica se a situação ou erro a requer.Porém, muna-se com o procedimento e abordagemcorretos. Faça-o em amor, de maneira clara, comreflexão, e pense de quais palavras se servirá a fimde expor de modo construtivo.

• Ouça o que está sendo dito quando receber críti-ca. Você pode refrasear dizendo: “O que estou ou-vindo você dizer é…” para ajudar a esclarecer aquestão. Se for justificada, aceite-a com toda a hu-mildade e agradeça a pessoa. Às vezes precisamospedir perdão a fim de restaurar as coisas ao seuestado normal.

• Dê as boas vindas à crítica construtiva e à avali-ação de seu próprio desempenho, comportamen-to, vida, trabalho e de sua organização. Você podeexperimentar resultados positivos sendo grande osuficiente para receber este tipo de ajuda.

• Não fique devastado pela crítica maliciosa edestrutiva. Você pode reconhecer o fato que aouve, mas simplesmente tem razões boas, válidase sólidas para não responder a ela.

• Lembre-se de que por vezes, a crítica demonstraprofunda lealdade da parte de um indivíduo, e essapessoa pode estar tentando ajudá-lo a ultrapassar

o “status quo” a fim de assumir um desafio maiore melhor!

A crítica envolta em julgamento pode ser uma dasmaiores e mais cruéis provações pela qual uma pessoadeve passar. Pode tornar-se um tipo de perseguiçãoemocional que não é fácil de suportar! Como resulta-do disso, a pessoa pode acabar vivendo em constantepavor. Não permita que isso o force para fora do mi-nistério que Deus o chamou para realizar.

Todas as figuras públicas se acham em risco aeste respeito. Suas ações podem ser discutidaspor gente que sabe apenas uma fração dos fa-tos. Uma pessoa que queira denegrílas, semprepode encontrar alguém que ouça a acusação echegue à sentença de culpado sem ouvir qual-quer defesa que o líder acusado possa oferecer;e os cristãos se prestam as este tipo de coisaassim como qualquer outra pessoa. Insinua-ções, exageros, especulações com referência aseus motivos, e o que custa criticar alguém pornão estar em dois lugares ao mesmo tempo,todos podem ser utilizados para manchar repu-tações.28

Você pode ser criticado por uns de ser carismático de-mais, e por outros de não ser carismático o suficiente.Alguns dirão que você é demasiado autocrático, ou-tros dirão que sua liderança é muito fraca. Um o in-terpreta de um modo, outro já o toma como diferentee assim por diante. A crítica pode ser tão ridícula (co-nheço um pastor que foi criticado por causa da cor dasmeias que usava!). Pode se tornar tão ruim que vocêpode chegar ao ponto de desmoronar sob a tensão.

O apóstolo Paulo sofreu muita crítica. Muitos tenta-ram minar seu ministério. Ele suportou muito bemeste tipo de crítica e não se deixou enganar nem mes-mo pela aparente espiritualidade de seus críticos.As pessoas podem ter doutrina sadia, ir a reuniões deoração, estar altamente envolvidas no trabalho daigreja, mas isso não indica necessariamente maturida-de espiritual. Até as reuniões de oração podem sercentros de intrigas e fuxicos maliciosos em nome dointeresse espiritual e dos pedidos de oração. Vocêsempre terá aqueles que terão uma visão baixa aseu respeito e acerca de seu papel no ministério.Um conselho: mantenha uma alta visão de seu minis-tério e uma visão equilibrada acerca de si mesmo,

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como Paulo mostrou em sua vida: Do qual fui consti-tuído ministro conforme o dom da graça de Deus, amim concedida, segundo a força operante do seu po-der. A mim, o menor de todos os santos, me foi dadaesta graça de pregar aos gentios o evangelho das in-sondáveis riquezas de Cristo… [Ef 3.7,8] e …Paulo,apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus… [2 Co1.1]. O fato interessante aqui é que Paulo encorajou omanter da boa reputação com os de fora, como acon-selhou a Timóteo (1 Tm 3.7). Também deu a entenderde modo pungente em 2 Co 4.2 que, apesar de dese-jarmos “nos recomendar à consciência de todo ho-mem”, ele ajuntou: “na presença de Deus”, indicandoque há um escrutínio mais elevado do que a cons-ciência humana, e que aquilo dito pelos outros nãoconstitui nosso árbitro final.

Tantas vezes nosso julgamento dos outros é inadequa-do porque está baseado em conhecimento incomple-to. Muitos ficarão provavelmente surpresos ao desco-brirem ser o julgamento de Deus em seus ministériosmuito mais justo e bondoso do que o de muitos de seuscríticos humanos. Se você, como líder cristão, está re-cebendo muitos apertos apesar de sinceramente estarbuscando cumprir a vontade de Deus, sem dúvida ex-perimentará um grande senso de alívio quando se che-gar perante Deus para uma prestação de contas.

Aprendamos a lidar com a crítica a partir do exemplode Paulo. Ele sofreu com o sentimento irracionaldas pessoas, sentimento este que não era objeti-vo, porém originário de preconceitos, inveja etradicionalismo. Ele se manteve humilde, mas nun-ca se esqueceu que, em última análise, era responsá-vel perante Deus. Nunca desvalorizou a função, cha-mado e papel que Deus lhe dera. Exerceu seu ministé-rio com brandura, todavia demonstrando firmeza ondenecessário, quando tinha que confrontar seus críticos.

À medida que você aprende a lidar com a crítica,tornase-á mais emocionalmente maduro; parte da mu-dança necessária para o crescimento emocional pro-vém do encarar nossas fraquezas e defeitos de perso-nalidade do modo como os outros nos vêem. Isto fazparte do preço da liderança e acontecerá com aquelesque estão sujeitos a uma exposição mais abrangente.A visibilidade da pessoa a torna mais suscetível à crí-tica construtiva, e às vezes, não tão construtiva as-sim!

Quanto mais amadurecer, tanto mais você se benefi-ciará da crítica construtiva, realizando os ajustes pes-soais necessários, bem como as correções. À medidaque amadurece, você também estará apto a descartara crítica maliciosa, aprender a vencê-la e não permitirque ela lhe roube o ânimo.

Fadiga

Já foi dito que o mundo é dirigido por homens can-sados. Há um pouco de verdade nisto, pois os líderesgenuínos devem estar dispostos a se levantar cedo, es-tudar e trabalhar mais tempo do que os demais. Al-guns de nós somos dotados de mais energia do queoutros, mas todos frequentemente deveremos pagaro preço da fadiga se vamos realizar algo que valha apena e levar nossa organização a atingir seus objeti-vos.

É bom encontrar maneiras de reduzir o estresse, mu-dar o ritmo e engajar-se em alguma recreaçãoprazeirosa para manter sua sanidade!

Não se entregue a muitas responsabilidades de uma sóvez, ou acabará perdendo sua eficiência. Se você se“queimar”, porá fim à sua influência e contribuição àcausa que lidera. Mantenha sua saúde, suplemente-acom fontes naturais de vitaminas e minerais, descan-se de modo adequado; tal equilíbrio o ajudará comolíder, a manter a habilidade de persistir. Haverá des-gaste tanto físico como emocional sobre você ao fun-cionar como verdadeiro líder. Mantenha e equilíbrio emude seu ritmo de tempos em tempos.

Tempo para pensar

Outro preço a ser pago pelos verdadeiros líderes é otempo que devem tirar para pensar de modo criativoe para meditação. Tantas vezes estamos tão ocupadospara pensar. Devemos pensar… a fim de “bolar” asmelhores estratégias e a metodologia para alcançarnossos alvos.

Seria bom lembrar que a solução, com frequência,não é trabalhar mais duro, mas pensar e trabalharde modo mais inteligente. Um exame minucioso, adeterminação de prioridades, o lançamento de estra-tégias e o pensamento profundo aumentam a proba-bilidade de um empreendimento ser bem-sucedido.

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Cuidado! Não fique atrasado em seu tempo para“pensar”.

Solidão

Esta é outra parte do preço da liderança. O líder per-de, muitas vezes, sua liberdade no serviço dos outros,e como resultado tem de estar disposto a ficar sozi-nho. Ted Engstrom enuncia muito bem:

O verdadeiro líder promove os outros— seus in-teresses, valores e alvos. Ao mesmo tempo, olíder eficaz deve lutar para cumprir seu própriopotencial e alvos sem ser absorvido no grupo.Isto o deixa vivendo sozinho, “na coluna domeio”, em algum ponto entre uma coisa e ou-tra, pois precisa identificar-se com as pessoas,mas ao mesmo tempo, ficar isolado delas.

Todos os líderes fortes se tornam fortes porquesão capazes de identificar-se prontamente como povo, todavia não se tornam “um da turma”.O líder deve estar pronto para se afastar do gru-po e ficar sozinho. Jesus fez isto muitas vezesem Seu ministério. Apesar do líder poder, pornatureza, ser muito amigável, ele deve, porvezes, estar preparado a trilhar um caminho so-litário.29

Os bons líderes devem receber bem as amizades, masserem maduros o suficiente e possuir bastante forçainterior para se postarem sozinhos, mesmo se enfren-tarem extrema oposição ao executarem suas tarefas.

Muitos dos personagens bíblicos, os quais foram rica-mente abençoados por Deus, eram homens solitários,mal compreendidos e até mesmo considerados comoameaças aos interesses dos demais. Os líderes são mui-tas vezes separados por seu chamado e têm que pagaro preço da solidão.

Identificação

Parece paradoxal que o líder frequentemente deve fi-car isolado e caminhar sozinho, porém necessita iden-tificar-se com a equipe que lidera. Ele precisa, simul-taneamente, andar à frente da equipe, e ainda assimcaminhar juntamente com a gente a quem lidera. Aomesmo tempo que é verdade ser preciso manter algu-ma distância entre o líder e seus seguidores, ele deve

pagar o preço de se aproximar e pertencer ao grupo,de ser um ser humano aberto e honesto. É bom quesua humanidade aflore, em lugar de ser visto como umrobô, como um indivíduo frio ou mecânico. É tão im-portante identificar-se com a equipe, com suas emo-ções, vitórias e derrotas. O líder sabe que seus alvosnão podem ser alcançados sem a participação de seuscomandados.

Decisões desagradáveis

Muitas vezes torna-se responsabilidade do líder eficaza tomada de decisões impopulares que afetarão, a lon-go prazo, o bem da organização. Isto pode significar aretirada de pessoas que não contribuem para a efici-ência da organização. Ela pode estar sendo seriamen-te brecada por tais pessoas, enquanto outras podemestar sendo negativamente influenciadas por tais in-divíduos. É um preço que devemos pagar.

Competição

Ela encerra um preço, bem como um perigo no qualalguns líderes vêm a cair. A competição em si não émá. Ela pode gerar qualidade em muitas áreas do tra-balho e do ministério. O que é mau é sofrer de “ansi-edade competitiva” resultante do medo de fracasso outemor do sucesso.

Abuso do Poder

Há um preço a pagar para evitar o tornar vítima destatentação e perigo insidioso. O poder, quando correta-mente utilizado, é uma característica básica da lide-rança. Quando a uma pessoa é concedida autoridade,ela se acha em posição legítima de exercer controle einfluência, mas NÃO de abusar deles. Alguns tem caí-do na edificação do ego e no estilo autocrático e dita-torial de liderança. A alguns é pedido que usem seupoder para fazer coisas que não agradam a Deus. Sevocê, como líder, se encontra sob a autoridade de al-guém que abusa do poder que tem, você pode acharque o preço é por demais elevado e justificadamentesucumbir à abordagem anti-ética e tirana da “lideran-ça” dele. Com humildade, vá até ele e conceda-lhe aoportunidade de corrigir a situação. Se não ouvir e nãomodificar seus métodos, vá àquele que estiver emautoridade sobre o primeiro e expresse sua preocupa-ção e queixas no que se refere à falta de ética e abor-dagem com respeito ao modo como ele faz as coisas.

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Se isto não trouxer as mudanças necessárias, entre-gue a sua demissão! Você não pode comprometer suaprópria ética e valores, custe o que custar. Você mes-mo deve pagar o preço da modéstia e da humildadeem seu papel de liderança, e estará menos propenso acair neste perigo.

Falso Orgulho, Inveja e o Preço daHumildade

Todos deveríamos possuir o tipo certo de orgulho ousatisfação acerca do que somos e do que fazemos. Oproblema surge quando este “tipo certo de orgulho”se transforma em egocentrismo, colocando-nos emlentes de aumento até o ponto de não termos lugarnem interesse pelas outras pessoas. Este é o tipo erra-do de orgulho. É falso. Tornamo-nos absortos em nósmesmos ao ponto das outras pessoas valerem muitopouco. É bom possuir uma auto-estima saudável, masisto fica muito longe do egocentrismo. Devemos nosprecaver disto.

O líder “admirado” é especialmente suscetível a esteperigo e pode reagir de modo bastante negativo quan-do outros são promovidos, escolhidos ou elogiados. Elefica com suspeita e inveja quando outros ameaçam suapopularidade. O LÍDER DEVE PAGAR O PREÇO DAHUMILDADE. Doutro modo cairá na tentação da infa-libilidade e da indispensabilidade. Os líderes comete-rão alguns erros, e alguns serão substituídos! Elesdevem ter convicções e saber no que crêem, seremgente de ação, mas se resguardarem contra o falso or-gulho ou egocentrismo, orando persistentemente paraque não falhem em permanecer humildes perante Deuse os homens.

O Preço do Tempo

O tempo é o recurso mais importante que Deus nos deupara trabalharmos.

O valor do tempo, como a maioria das conveniên-cias, é determinado pela lei da oferta e procura.Se tivesse estocado bastante petróleo, ele nãoseria tão caro. Por semelhante modo, a água éconsiderada por muitos de nós como algo semvalor; mas para alguém perdido no deserto elavale uma fortuna…. O tempo é a mercadoria maisvaliosa. Vem de uma fonte não renovável. E oscientistas nunca poderão encontrar-lhe um subs-

tituto. Quando nosso tempo se esgotar, nós nosvamos. O tempo é medido em eventos, não emsegundos. Esbanje tempo, e haverão menoseventos dos quais se lembrar, menos realiza-ções, menos momentos de felicidade.30

Porque nascemos inerentemente preguiçosos, há umpreço a ser pago pelo uso do tempo. Temos que alte-rar o processo que nos faz desperdiçar nosso tempo epermanecermos preguiçosos. A administração do tem-po é, na realidade, a administração de si mesmo, e istocusta alguma coisa. O líder precisa de tempo para pen-sar a fim de ser criativo, planejar, solucionar proble-mas, tomar decisões etc.

O Preço da Rejeição

O líder cristão, especialmente, precisa considerar opreço da rejeição pessoal. Isso virá devido à sua pers-pectiva cristã acerca das questões. Jesus sofreu rejei-ção. “Veio para o que era seu, e os seus não o recebe-ram” [Jo 1.11]. O líder pode vir a enfrentá-la quandose coloca contra o espírito errado da época. Deve es-tar disposto a receber o elogio de Deus em lugar doelogio dos homens. Ele sabe também que “quem temeao homem arma ciladas” [Pv 29.25]. Sabe que pagarácaro por manter o “padrão” apropriado. Naturalmen-te, todos desejamos que gostem de nós, mas muitas

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vezes o líder é antipatizado, as pessoas lhe são indife-rentes e seus pontos fortes não são reconhecidos atédepois de sua saída ou sua morte. Como foi dito: “Mo-numentos são erguidos então, com as pedras que,em vida, lhe foram atiradas.” Creia-me, isso não éfácil de suportar! O líder forte se prepara emocionale espiritualmente para encarar tal rejeição e pagar opreço. Ele deve, naquelas horas solitárias, lembrar-sedo amor de Deus e de Seu chamado, permanecendo afi-nado com a força propulsora de sua vida, o SenhorJesus Cristo, que disse: “Maior é aquele que está emvós do que aquele que está no mundo” [1 Jo 4.4]. Oque se segue enfatiza claramente o preço a ser pagopor homens e mulheres que aspiram à liderança— otipo de gente que o mundo e a igreja precisam nesteexato momento.

O MUNDO PRECISA DE HOMENS EMULHERES…

… que não possam ser comprados;… cuja palavra é seu bônus;… que colocam o caráter acima da riqueza;… que possuem opiniões e vontade;… que são mais amplos que suas vocações;… que não hesitam em correr riscos;… que não perdem sua individualidade na multi-

dão;… que são tão honestos nas pequenas coisas como

nas grandes;… que não fazem nenhuma concessão ao errado;… cujas ambições não estão confinadas a seus pró-

prios desejos egoístas;… que não dizem que o farão “porque todos estão

fazendo”;… que são verdadeiros aos seus amigos, quer nas

situações boas ou ruins, quer na adversidade ouna prosperidade;

… que não crêem que a obstinação, a sagacidade ea esperteza são as melhores qualidades para seobter sucesso;

… que não se envergonham nem temem defendera verdade quando esta não for popular, que po-dem dizer “não” enfaticamente, apesar do restodo mundo estar dizendo “sim.”31

1 Kenneth Prior. Perils of Leadership. Introduction.2 Calvin Miller. Leadership. p.102.3 Kenneth O. Gangel. Competent to Lead. p.134,135.4 Robert Clinton. The Making of a Leader. p.109.5 John White. Excellence in Leadership. p.66.6 Ibid. p.797 Ted S. Rendall. Nehemiah: Laws of Leadership. p.114,122.8 Ibid. p.89.9 Ted Engstrom and Edward Dayton. The Christian Executive.

pp.107,109.10 Kenneth Prior. Perils of Leadership. p.104.11 J. Oswald Sanders. Spiritual Leadership. pp.34,35.12 F. A. Manske, Jr. Secrets of Effective Leadership. p.32.13 Paul W. Millhouse. Enlisting and Developing Church Leaders.p.70.14 Charles Colsen. Who Speaks for God?. p.4015 Myron Rush. Management: A Biblical Approach. p.222.16 Charles Colsen. The Body:Being Light in the Darkness.pp.295,296.17 Ibid. pp. 294,295.18 Manfred F.R. Kets de Vries. Prisoners of Leadership. p.12219 Ted Engstrom. 60 Second Management Guide. p.88.20 Gary A. Yukl. Leadership in Organization. p.228.21 Judson Cornwall. Profiles of a Leader. Logos, 1980. p.125.22 Philip Grenslade. Leadership, Greatness & Servanthood. p.86.23 Warren Bennis and Burt Nanus. Leaders. p.228.24 Bobb Biehl. Leadership Confidence. p.109.25 LeRoy Eims. Be the Leader You Were Meant To Be. p.115.26 Kenneth Prior. Perls of Leadership. p.76.27 The Empowered Manager. p.181.28 Kenneth Prior. Perils of Leadership. p.160.29 Ted Engstrom. The Making of a Christian Leader. p.97.30 Harold Taylor. Making Time Work for You. p.17.31 Unknown

Como você se classifica?

De quais perigos você tende a se tornar vítima? Liste-os e escreva alguns passos que você vai dar para nãomais tombar vítima deles, tornando-se por outro lado,um vitorioso sobre eles.

Perigo nº 1:_________________________________

Plano de Ação: ______________________________

Perigo nº 2:_________________________________

Plano de Ação: ______________________________

Perigo nº 3:_________________________________

Plano de Ação: ______________________________