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29 REVISTA ORDEM PÚBLICA ISSN 1984-1809 Vol. 5, n. 1, Semestre I - 2012. e 2237-6380 ACORS http://www.acors.org.br/rop/index.php?pg=revista OS PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA NO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL Altair Lisot 1 RESUMO Este artigo pretende abordar importantes aspectos relacionados ao recente processo de modernização pelo qual está passando a gestão da segurança pública hoje no Brasil. Para isso buscou-se associar um novo paradigma de gestão no âmbito das estruturas públicas direcionado à Governança Corporativa. Tido como um avançado e eficiente sistema de distribuição e compartilhamento de direitos e responsabilidades, bem como um importante mecanismo de acesso e transparência de informações, a governança corporativa apresenta princípios específicos e orienta o desenvolvimento de boas práticas dentro das organizações. Suas perspectivas otimistas corroboram para estruturação de novos arranjos institucionais dentro do atual processo de gestão pública. Nesse sentido alguns organismos nacionais e internacionais buscaram conformar os princípios da governança corporativa às peculiaridades do Setor Público. Essa análise norteou o objetivo do presente artigo, que é demonstrar a aplicabilidade dos princípios da governança corporativa no âmbito das atuais estruturas de gestão da segurança pública brasileira. Palavras-chave: Administração Pública. Gestão Pública. Governança Corporativa. Segurança Pública. INTRODUÇÃO A Administração Pública de um modo geral está mudando muito rapidamente. Isso se deve em grande parte às constantes transformações que ocorrem diariamente no setor privado. Este setor, impulsionado pela mundialização da economia e do acesso a informação, viu-se obrigado a desenvolver avançados métodos de gestão a fim de atender às crescentes demandas de produtos e serviços de um mercado cada vez mais exigente em todos os sentidos. 1 Tenente da Polícia Militar de Santa Catarina, Especialista em Gestão da Segurança Pública. E-mail: [email protected].

Os Princípios Da Governança Corporativa No Processo de Modernização Da Gestão Da Segurança Pública No Brasil

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Ótimo texto sobre governança.

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    REVISTA ORDEM PBLICA ISSN 1984-1809 Vol. 5, n. 1, Semestre I - 2012. e 2237-6380 ACORS http://www.acors.org.br/rop/index.php?pg=revista

    OS PRINCPIOS DA GOVERNANA CORPORATIVA NO PROCESSO DE

    MODERNIZAO DA GESTO DA SEGURANA PBLICA NO BRASIL

    Altair Lisot1

    RESUMO

    Este artigo pretende abordar importantes aspectos relacionados ao recente processo de

    modernizao pelo qual est passando a gesto da segurana pblica hoje no Brasil. Para

    isso buscou-se associar um novo paradigma de gesto no mbito das estruturas pblicas

    direcionado Governana Corporativa. Tido como um avanado e eficiente sistema de

    distribuio e compartilhamento de direitos e responsabilidades, bem como um importante

    mecanismo de acesso e transparncia de informaes, a governana corporativa apresenta

    princpios especficos e orienta o desenvolvimento de boas prticas dentro das

    organizaes. Suas perspectivas otimistas corroboram para estruturao de novos arranjos

    institucionais dentro do atual processo de gesto pblica. Nesse sentido alguns organismos

    nacionais e internacionais buscaram conformar os princpios da governana corporativa s

    peculiaridades do Setor Pblico. Essa anlise norteou o objetivo do presente artigo, que

    demonstrar a aplicabilidade dos princpios da governana corporativa no mbito das atuais

    estruturas de gesto da segurana pblica brasileira.

    Palavras-chave: Administrao Pblica. Gesto Pblica. Governana Corporativa.

    Segurana Pblica.

    INTRODUO

    A Administrao Pblica de um modo geral est mudando muito rapidamente.

    Isso se deve em grande parte s constantes transformaes que ocorrem diariamente no

    setor privado. Este setor, impulsionado pela mundializao da economia e do acesso a

    informao, viu-se obrigado a desenvolver avanados mtodos de gesto a fim de atender

    s crescentes demandas de produtos e servios de um mercado cada vez mais exigente em

    todos os sentidos. 1 Tenente da Polcia Militar de Santa Catarina, Especialista em Gesto da Segurana Pblica. E-mail:

    [email protected].

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    Paralelo a isso, o pioneirismo de alguns rgos do Setor Pblico em implantar

    arrojados modelos de gesto mostrou-se preponderante para sedimentar as importantes e

    necessrias transformaes dos tradicionais modelos de gesto at ento adotados pela

    Administrao Pblica. Tais modelos, em regra burocrticos, j no mais atendem s

    necessidades atuais de uma Administrao Pblica que precisa assumir um papel mais

    proativo e menos assistencial diante da sociedade moderna.

    Alguns setores pblicos, todavia, necessitam principiar rpidas mudanas em

    seus arqutipos organizacionais, notadamente para levar a cabo suas abrangentes e

    indispensveis atribuies e competncias constitucionais.

    Nesse sentido o presente artigo faz uma rpida anlise sobre as instituies

    responsveis pela Segurana Pblica no Brasil, as quais esto passando por um importante

    momento histrico de transio, cujas transformaes devem delinear e sedimentar um

    novo modelo de gesto. Um modelo mais aberto, compartilhado, eficiente e apto a trabalhar

    com os diferentes protagonistas no processo de construo de um sistema de segurana

    pblica mais efetivo.

    E isso significa estabelecer um novo paradigma na gesto da segurana pblica

    no Brasil, capaz de tratar adequadamente aspectos relacionados ao gerenciamento,

    controle e aplicao eficientes de recursos, desejada transparncia institucional,

    responsabilidade em prestar contas e efetividade de resultados.

    Nesse atual e precrio cenrio de gesto pelo qual passam inmeros rgos da

    segurana pblica brasileira que a Governana Corporativa, em que pese ser uma prtica

    recente no Brasil, tem descortinado importantes aspectos gerenciais de modo a

    proporcionar arranjos poltico-institucionais essenciais a todos os rgos que compem o

    sistema.

    importante destacar que em face da contemporaneidade do presente tema no

    Brasil, especialmente no mbito da Administrao Pblica, a produo literria a respeito do

    tema mostra-se ainda tmida, denotando um tema em plena ascenso e com amplas

    oportunidades de pesquisa. De momento, o artigo procurou trabalhar a literatura existente

    na atualidade sobre o assunto, pautando-se em pesquisa bibliogrfica, artigos eletrnicos,

    sites de organizaes nacionais e internacionais e sites governamentais.

    Nesse sentido, o trabalho apresenta um breve estudo sobre o surgimento e a

    evoluo da governana corporativa no Brasil, acompanhado de uma base conceitual e

    introdutria em que se abordam pontualmente os princpios da governana corporativa no

    setor privado segundo o Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC, 2011).

    A par dessa abordagem, procurou-se contextualizar os princpios da governana

    corporativa no mbito do Setor Pblico brasileiro, sem descuidar dos princpios da

    Administrao Pblica, consignados no art. 37 da Constituio Federal de 1988.

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    Tais bases legais e principiolgicas sustentam a ideia central do trabalho, que

    analisar a aplicabilidade dos princpios da governana corporativa no setor pblico,

    nomeadamente na rea da segurana pblica brasileira.

    Nesse sentido, por fim, procurou-se articular um conjunto de princpios de

    governana indutores de boas prticas que podem ser considerados em uma determinada

    estrutura de governo, contribuindo substancialmente para que os rgos responsveis pelo

    segurana pblica no Brasil possam concretizar de uma forma mais abrangente e efetiva

    suas misses constitucionais.

    1 SURGIMENTO E EVOLUO DA GOVERNANA CORPORATIVA NO BRASIL:

    BREVES CONSIDERAES

    As organizaes2 do mundo inteiro esto mudando muito rapidamente e cada vez

    mais se veem obrigadas a realizar significativas alteraes em seus arqutipos

    institucionais. Esta dinmica, impulsionada especialmente pelo evento da globalizao,

    somadas as profundas mudanas ocorridas na economia brasileira, motivou a reordenao

    das estruturas societrias e das prticas de gesto das organizaes de um modo geral.

    Isso porque, at pouco tempo, a composio, bem como o desenvolvimento das

    organizaes, assentava-se essencialmente em caractersticas de forte cunho e estrutura

    familiar, e de certo modo de pouca abertura de capital. Essas organizaes eram

    administradas essencialmente por seus proprietrios, ou por estes e seus restritos nmeros

    de acionistas, os quais normalmente no participavam ativamente do processo de gesto e

    de deciso.

    De acordo com Clemente (2004), este cenrio histrico reflete ainda o atual modelo

    de desenvolvimento adotado pelas organizaes no Brasil, cuja principal caracterstica o

    controle concentrado em poucos proprietrios e de fortes vnculos e caractersticas

    familiares.

    Em tal contexto, inevitvel auferir que as organizaes modernas esto

    encontrando um novo auge de crescimento e expanso de suas atividades. Porm tal

    desafio exige a ampliao de investimentos e o aperfeioamento do processo decisrio, o

    qual cada vez mais exigir da organizao uma postura gerencial capaz de administrar a

    participao de novos protagonistas no processo produtivo da empresa.

    22

    No presente artigo, o termo organizao ser utilizado para abranger todas as formas societrias previstas. Segundo Maximiano (1991), uma organizao uma combinao de esforos individuais que tem por finalidade realizar propsitos coletivos. Por meio de uma organizao torna-se possvel perseguir e alcanar objetivos que seriam inatingveis para uma pessoa. Uma grande empresa ou uma pequena oficina, um laboratrio ou o corpo de bombeiros, um hospital ou uma escola so todos exemplos de organizaes".

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    Esse recente cenrio econmico ocasionou uma maior abertura organizacional

    entrada e/ou captao de capital (forte participao da figura do acionista) e exigiu

    modernos modelos de gesto, mais participativos e de corresponsabilidade, influenciando

    substancialmente o processo de construo do conceito de Governana Corporativa no

    Pas.

    Contudo, em que pese a problematizao deste novo cenrio emergente, o conceito

    de governana no mundo corporativo implicou tambm outras mudanas e reestruturaes

    organizacionais significativas, criando uma rpida conformao do processo de Governana

    Corporativa no Brasil, ainda restrito Administrao Pblica.

    Com certeza, esse novo paradigma passou a exigir nova formatao no processo de

    gerncia, na separao de poderes de deciso e nas responsabilidades das organizaes,

    nascendo assim a necessidade de monitorar as relaes e realinhar os objetivos entre

    acionistas, administradores e colaboradores.

    Em razo do elevado fluxo de informaes e da forte entrada de capital, a nova e

    influente participao ativa dos acionistas nas estratgias organizacionais gerou inmeros

    conflitos e assimetrias de informao, necessidade de prestao de contas, bem como

    divergncia entre interesses particulares e institucionais.

    Isso se deve, segundo Oresnstein e Santanozo (2001 apud ANDRADE; ROSSETTI,

    2009), ao fato de os executivos e/ou proprietrios privilegiarem seus interesses custa dos

    resultados financeiros e sociais de suas organizaes. Em contrapartida, os acionistas e

    demais interessados (stakeholders)3 concentravam-se apenas na maximizao de suas

    aes, sem contudo envolverem-se no processo de melhoria do desempenho da

    organizao. Referido autor sustenta ainda que h foras potenciais que podem ser

    liberadas e exercidas para obteno de resultados agregados que transpassam os objetivos

    e interesses imediatistas e alcanam a atividade produtiva como um todo.

    Surgem assim, em curta anlise, as prticas da boa governana no mbito das

    organizaes brasileiras, segundo um modelo de controle e gesto compartilhada, com a

    qual passou a colaborar mais ativamente um maior nmero de investidores institucionais. De

    igual forma, novos profissionais ganharam relevo enquanto articuladores estratgicos nos

    processos decisrios e nas diversas formas de fuses organizacionais.

    A Governana Corporativa se apresenta na economia brasileira como um sistema

    capaz de congregar diferentes autores e criar inovadores arranjos societrios e

    3 Termo em ingls amplamente utilizado para designar as partes interessadas, ou seja, qualquer

    indivduo ou grupo que possa afetar o negcio, por meio de suas opinies ou aes, ou ser por ele afetado: pblico interno, fornecedores, consumidores, comunidade, governo, acionistas, etc. H uma tendncia cada vez maior em se considerar stakeholder quem se julgue como tal, e em cada situao a empresa deve procurar fazer um mapeamento dos stakeholders envolvidos (Instituto Ethos). Disponvel em: .

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    institucionais. Seus benefcios comeam a ser transportados Administrao Pblica, que a

    partir de ento passar a contar com novos mecanismos de governana pblica, mais

    eficientes e aptos a demonstrar maior transparncia sobre o uso e a administrao da coisa

    pblica.

    2 GOVERNANA CORPORATIVA CONCEITUAO

    A evoluo das prticas de Governana Corporativa intensificou-se nas ltimas

    dcadas nos Estados Unidos e no Reino Unido, e tornou-se inevitvel sua influncia nas

    organizaes do mundo inteiro, sendo que o Brasil j demonstra uma preocupao

    importante quanto s prticas e princpios aplicveis tanto s organizaes pblicas quanto

    privadas.

    A constante necessidade de atender novos mercados e satisfazer exigncias de um

    pblico externo cada vez mais diversificado confere s organizaes o imperativo de

    empregar prticas de governana corporativa para melhor dominar os assuntos correlatos

    ao poder de controle, ao processo decisrio e prosperidade organizacional.

    Conforme o Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC, 2011), a melhor

    definio aplicada s organizaes a de que:

    Governana Corporativa o sistema pelo qual as organizaes so

    dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre

    proprietrios, conselho de administrao, diretoria e rgos de controle. As

    boas prticas de governana corporativa convertem princpios em

    recomendaes objetivas, alinhando interesses com a finalidade de

    preservar e otimizar o valor da organizao, facilitando seu acesso ao

    capital e contribuindo para a sua longevidade.

    Segundo Davies (2006), governana corporativa significa aperfeioar a estrutura de

    gesto direcionando pessoas, recursos, sistemas e processos com o objetivo de bem e

    melhor dirigir e controlar uma organizao, projetando-a de modo sustentvel, segundo os

    parmetros de eficcia, eficincia e efetividade.

    De acordo com a Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE, 2011), a governana corporativa cuida:

    [...] da estrutura institucional e poltica das corporaes desde o incio do

    empreendimento, passando por suas estruturas de governana, direito

    societrio e privatizao, at a sada do mercado e a insolvncia. A

    integridade das corporaes, instituies financeiras e mercados

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    especialmente importante para a sade de nossas economias e sua

    estabilidade.

    De um modo geral, os conceitos realam o processo constante de transformao

    pelo qual as organizaes tm passado nas ltimas dcadas, suportando paradigmticas

    reestruturaes em seus arqutipos institucionais. Nesse sentido, as prticas crescentes da

    governana corporativa proporcionam s organizaes contemporneas gerao e

    agregao de novos valores em curto e mdio prazo, alm de projetar em longo prazo uma

    organizao mais prspera e slida a atender perfeitamente aos fins a que destina.

    2.1 Princpios da Governana Corporativa

    Para que uma organizao consiga no somente gerar, mas sobretudo agregar

    novos valores e prticas eficientes na gesto de processos, recursos, tecnologias e

    pessoas, imprescindvel a adoo de aes bem definidas e alinhadas perfeitamente aos

    princpios da governana corporativa, os quais acomodam o norte que a organizao

    contempornea deve seguir.

    Num primeiro momento importante destacar que os princpios da Organizao para

    a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE)4 de governana corporativa so tidos

    como marco referencial para as organizaes em todo o mundo, servindo de base para que

    estas desenvolvam seus prprios princpios de acordo com suas particularidades e

    necessidades.

    Estes princpios, de acordo com a OCDE (2004), so assim descritos:

    a) Os direitos dos acionistas: este princpio garante aos acionistas a defesa de seus

    direitos dentro de uma estrutura de governana corporativa. Em que pese a

    responsabilidade dos acionistas ser limitada ao valor do investimento, estes tm plenos

    direitos a participao dos lucros, a obter informaes acerca da empresa, acompanhando e

    influindo indiretamente no processo de gesto e administrao por meio da participao das

    assembleias gerais ordinrias e pelo voto.

    Seus direitos esto concentrados mais diretamente na eleio e composio dos

    conselhos, na alterao do regimento interno da organizao e na aprovao de transaes

    especiais, entre outros direitos reconhecidos por lei em todos os pases da OCDE. Este

    princpio de substancial importncia, pois alm de proporcionar ao acionista uma maior

    4 Aprovados pelo ministros da OCDE em 1999, os Princpios da OCDE sobre o Governo das

    Sociedades tornaram-se uma referncia internacional para decisores polticos, investidores, sociedades e outros sujeitos com interesses relevantes em todo o mundo. Para melhores conhecimentos, os princpios da governana corporativa da OCDE encontram-se disponveis em: .

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    interao e conhecimento dos negcios e da estratgia da organizao, tambm permite

    que esta mensure seu desempenho e sua credibilidade junto aos seus investidores.

    b) O tratamento equitativo dos acionistas: alm de garantir os direitos dos

    investidores (acionistas), uma estrutura de governana corporativa deve assegurar o

    tratamento equnime a todos, independentemente de estes serem minoritrios ou

    estrangeiros. A confiana que a organizao passa aos seus acionistas fator importante

    para seu sucesso e longevidade. Isso significa que a organizao deve desenvolver

    mecanismos hbeis e eficientes para atender reclamaes, processar defesas jurdicas e

    administrativas daqueles que porventura se sentirem lesados ou acreditarem que foram

    desrespeitados em seus direitos. Este princpio cobe o abuso de poder por meio de

    informaes privilegiadas ou restritas, garantindo ao acionista o acesso aos fatos e

    quaisquer transaes ou assuntos relevantes que afetem a organizao.

    c) O papel dos terceiros fornecedores de recursos (stakeholders): a governana

    corporativa deve ainda reconhecer o direito das partes interessadas, a fim de estimular a

    livre e ativa cooperao entre estas e a organizao. Isso garante a gerao de riquezas,

    continuidade no fornecimento de produtos e na prestao de servios, estabilidade de

    empregos e a sustentabilidade dos empreendimentos. Um dos aspectos primordiais da

    governana corporativa estimular a participao de todos os interessados, garantindo

    assim um fluxo constante de capital e de informao e constituindo um valioso recurso na

    formao de empresas lucrativas e competitivas. Por tal motivo, as partes interessadas

    devem ter seus direitos preservados, alm de ter acesso a informaes necessrias para o

    cumprimento de suas responsabilidades.

    d) Acesso e transparncia da informao: uma estrutura de governana corporativa

    busca desenvolver constantemente uma relao de confiana e credibilidade com seus

    acionistas e/ou investidores e as demais partes interessadas (stakeholders). Para isso a

    organizao deve assegurar a divulgao oportuna e precisa de dados e informaes

    relevantes, notadamente a posio financeira, desempenho, participao acionria,

    governana e demais elementos aptos a servir de subsdios tambm sociedade, que de

    um modo geral tem interesse e o direito de tomar conhecimento da estrutura e das

    atividades da organizao em seu meio, o que pode ser realizado por meio de um Balano

    Social Corporativo5.

    5 Referida terminologia bastante empregada no meio corporativo, muito ligado a governana

    corporativa, sendo concebida como um meio de dar transparncia s atividades corporativas, de modo a ampliar o dilogo da organizao com a sociedade. Disponvel em: .

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    Toda organizao busca gerenciar os riscos inerentes a suas atividades. Estes riscos

    por vezes geram dvidas e no raro prejuzos, os quais so transferidos aos investidores e

    s demais partes interessadas, inclusive sociedade. Diante disto, este princpio objetiva

    disponibilizar ao pblico diretamente interessado maior conhecimento das atividades, da

    gesto, da aplicao dos recursos e dos resultados obtidos, criando confiana e

    consolidando a credibilidade organizacional.

    e) A responsabilidade da diretoria e do conselho de administrao: por fim,

    desenvolver uma estrutura de governana corporativa implica na inarredvel

    responsabilizao daqueles que se encontram frente da organizao. Um arqutipo

    organizacional baseado na governana corporativa busca garantir a orientao estratgica,

    a fiscalizao eficaz da diretoria executiva e a prestao de contas do conselho perante a

    organizao e seus investidores (acionistas). A responsabilidade da diretoria e do conselho

    de administrao substancial, pois estes devem garantir o retorno do capital investido por

    parte de seus acionistas e demais interessados, devendo ainda impedir o surgimento de

    conflitos de interesses por meio do eficiente equilbrio de exigncias concorrentes dentro da

    organizao.

    No obstante, a responsabilidade por parte da diretoria e do conselho estendida

    aos stakeholders, os quais devem ser tratados com justia em relao aos demais

    interesses em questo. Ademais, entre outras inmeras atribuies, devem manter

    atualizada a estratgia corporativa, bem como os planos de aes, as polticas de riscos, os

    controles de produtividade e o desempenho profissional e corporativo, assegurando a

    integridade do sistema como um todo.

    Como podemos observar, esses princpios formam a base descritiva e referencial de

    uma legislao concebida e reconhecida mundialmente. Isso significa que cada pas e,

    dentro destes, cada organizao, seja ela pblica ou privada, podem estudar e desenvolver

    suas estruturas jurdicas e reguladoras para governana corporativa.

    Assim, o desenvolvimento de prticas de governana corporativa visa atender as

    prprias circunstncias econmicas, jurdicas, sociais e culturais, de acordo com o fim a que

    se destina cada organizao. neste sentido que passamos a abordar a governana

    corporativa no mbito das organizaes pblicas, especialmente as responsveis pela

    segurana pblica no Brasil.

  • 37

    3 GOVERNANA CORPORATIVA NO SETOR PBLICO

    3.1 Governana e Governana Pblica

    Num momento histrico, em que as organizaes esto passando por grandes e

    constantes mudanas, a Administrao Pblica, com mais dificuldade, segue lutando contra

    antigas estruturas burocrticas, transpondo e criando novos paradigmas. Dentro dessa

    lgica, vocbulos como governana e governana pblica comeam a receber especial

    destaque, tornando-se importante estabelecer conceitos apropriados, a fim de orientar os

    pressupostos relacionados governana corporativa no setor pblico.

    Assim, imprescindvel introduzir como base de abordagem da governana

    corporativa no setor pblico o ainda no consolidado conceito de governana pblica. Por

    no existir um conceito nico, interessante que seja percebido por meio de diferentes

    pontos de partidas, os quais reorientam uma nova estrutura gerencial do Estado e de seus

    diferentes entes federativos e a relao com as organizaes privadas, sociedade civil

    organizada, terceiro setor e o cidado.

    Um dos conceitos mais condizentes com o atual contexto da Administrao Pblica

    Moderna o apresentado por Lffer (2006 apud KISSLER e HEIDEMANN, 2001, p.212),

    que prope entender governana como:

    Uma nova gerao de reformas administrativas e de Estado, que tm como objeto a ao conjunta, levada a efeito de forma eficaz, transparente e compartilhada, pelo Estado, pelas empresas e pela sociedade civil, visando uma soluo inovadora dos problemas sociais e criando possibilidades e chances de um desenvolvimento futuro sustentvel para todos os participantes.

    Podemos perceber que a governana pblica encontra-se intimamente ligada s

    expectativas polticas e sociais geradas pela cooperao de diferentes atores locais e

    regionais, que tm como foco a reduo e/ou soluo dos impasses sociais.

    Neste linear, a governana pblica, segundo Kissler e Heidemann (2001), uma

    inovadora estrutura de governo em que o Estado se transforma num agente ativador, que

    age especificamente sobre o setor privado e o terceiro setor, mobilizando recursos e

    ativando as foras da sociedade civil. Ainda, expem os autores que este novo conceito de

    governana pblica justifica uma diferenciada postura poltica das instituies pblicas, as

    quais no mais ficam obrigadas a fornecer exclusivamente os servios pblicos.

    Percebe-se que o termo governana est mais relacionado esfera local de gesto

    dos servios pblicos e demais atividade de determinado rgo pblico, enquanto o termo

    governana pblica compreende um largo aspecto onde o Estado deixa de ser uma

    instituio que se diferencia abertamente e passa a gerir e articular, por meio de seus

  • 38

    diferentes rgos, a relao e a cooperao com as demais instituies polticas,

    administrativas, associaes, empresas e sociedade civil, redes sociais e a comunidade em

    geral.

    3.2 A Administrao Pblica e os Princpios Constitucionais

    Antes de tudo, imprescindvel esclarecer que a Administrao Pblica regida por

    princpios muito especficos e considerados elementares para a concretizao do interesse

    pblico. No por outro motivo que a funo administrativa do Estado submete-se a um

    especial regime jurdico, tambm denominado regime de direito pblico ou jurdico-

    administrativo.

    Neste sentido, a Constituio Federal, em seu art. 37, caput, trata dos princpios

    inerentes Administrao Pblica: "Administrao Pblica direta e indireta de qualquer dos

    Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos

    princpios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia [...]".

    Para melhor contextualizar o cabimento das prticas de governana corporativa na

    Administrao Pblica, importante destacar, segundo Cardoso (2006), que a crise na qual

    se encontra o atual Estado compreende um fenmeno mundial de mltiplas causas, as

    quais ampliaram acentuadamente as funes e responsabilidade estatais frente aos seus

    conterrneos.

    As transformaes de um Estado liberal para um Estado garantidor do bem-estar

    social (welfare state), sob o efeito do impactante processo de globalizao da economia nas

    ltimas dcadas, acarretaram significativas modificaes no papel tradicionalmente at

    ento exercido pelo Estado. Esse processo de reforma da administrao pblica iniciou-se

    basicamente nas dcadas de 1970 e 1980 e tambm era denominado administrao

    pblica gerencial. Nesse vis, percebe-se que a evoluo natural do Estado desenvolveu

    um modelo focado nos cidados e na constante busca dos resultados por estes almejados

    (BRESSER-PEREIRA, 2008).

    Contudo, com o advento do atual Estado Democrtico e de Direito, a figura da

    Administrao Pblica, mais especificamente aquela focada na figura do gestor pblico,

    passou a ter cada vez mais destaque, e por conta disso, alm de ser mais cobrado, viu-se a

    necessidade de abandonar o modelo de governo tradicional, a fim de trabalhar novos

    modelos e arranjos na gesto e na administrao do bem pblico.

    Diante de tal cenrio, a Administrao Pblica viu-se obrigada a aprimorar seus

    modelos de gesto e, juntamente com estes, seus mecanismos e ferramentas

    administrativo-operacionais para prestao dos servios pblicos ao cidado. Princpios

  • 39

    como eficincia, transparncia, prestao de contas (accountability)6 e qualidade na

    prestao de servios pblicos entraram na pauta das responsabilidades dos agentes e dos

    servidores pblicos em geral.

    Contudo, eficincia e qualidade de servios um paradigma ainda hoje no

    absorvido a contento e adequadamente pela Administrao Pblica. O cidado, de um modo

    geral, carece de informaes sobre aquilo que realizado pelos gestores e funcionrios

    pblicos no mbito da Administrao Direta e Indireta.

    Isto extremamente preocupante se considerarmos o fato, como muito bem expe

    Slomski (2005), de que a Constituio Federal e o cidado brasileiro firmaram uma espcie

    de contrato obrigatrio. Este contrato realizado entre cidados (scios, acionistas ou

    investidores) e o Estado (a Administrao Pblica, uma organizao que tem objetivos e

    responsabilidades).

    Segundo esta viso, cada cidado tem participao acionria (por meio de suas

    contribuies pecunirias tributos) perante o Estado, que a usa para garantir o bem social,

    os servios pblicos e demais investimentos necessrios. Segundo esta analogia, cada

    cidado estaria, segundo o autor, integralizando seu capital. Isto significa que o Estado

    deveria prestar servios pblicos e realizar os investimentos necessrios aos seus scios

    (cidados), capitalizando os investimentos realizados por meio da distribuio de renda ou

    retorno em servios pblicos.

    Mas para que isso se perfectibilize imprescindvel que o gestor pblico moderno

    apresente-se mais proativo, transformador e mobilizador das diferentes foras sociais.

    Agreguem-se a essa postura critrios claros e objetivos que denotem, por parte do Estado,

    uma atuao transparente e imparcial, consubstanciada por meio da disponibilizao ao

    cidado de relatrios sobre a eficincia, sobre o resultado das atividades realizadas, sobre a

    gesto e a administrao financeira e dos recursos humanos.

    3.3 Princpios da Governana Corporativa no Setor Pblico

    Conforme abordado anteriormente, os princpios da Administrao Pblica

    encontram-se expressos no texto constitucional e funcionam como diretrizes superiores que

    norteiam a atuao no somente dos operadores jurdicos, mas essencialmente dos

    agentes polticos e servidores pblicos em geral.

    6 Para Matias-Pereira (2010), o termo accountability pode ser considerado um conjunto de

    mecanismos e procedimentos que levam os decisores governamentais a prestar contas dos resultados de suas aes, garantindo-se maior transparncia e a exposio das polticas pblicas. Ou ainda podemos afirmar que accountability encerra a responsabilidade, a obrigao e a responsabilizao de quem ocupa um cargo, seja ele pblico ou no, de prestar contas segundo os parmetros da lei, estando envolvida a possibilidade de nus, o que seria a pena para o no cumprimento dessa diretiva (PINHO E SACRAMENTO, 2011).

  • 40

    Porm, o universo em que est envolta a Administrao Pblica exige,

    especialmente de seus agentes, a adoo de novas prticas de gesto e de prestao de

    contas frente sociedade brasileira, destacando assim o esperado nvel de

    comprometimento e de responsabilidade daqueles que representam e exercem, em nome

    do povo, importantes funes pblicas.

    Neste toar, segundo Australian National Audit Office ANAO7 (2011), em pesquisa

    pioneira realizada por Barret (2003 apud MARQUES, 2007, p. 18), os passos (princpios)

    fundamentais para que o setor pblico possa atingir uma efetiva governana corporativa so

    seis. Destes, trs encontram-se relacionados com os atributos das pessoas nas

    organizaes (liderana, integridade e compromisso) e trs representam o resultado das

    estratgias, sistemas, polticas e processos estabelecidos (responsabilidades, integrao e

    transparncia).

    Assim, importante descrev-los brevemente:

    a) Liderana: no mbito do setor pblico, a governana corporativa requer o

    desenvolvimento de lideranas no somente no Governo, mas em todos os seus

    rgos e nveis da administrao. Isto significa que o gestor pblico deve

    identificar competncias e articular responsabilidades daqueles que esto

    incumbidos de gerir recursos pblicos e obter resultados satisfatrios, de acordo

    com a necessria, lcida e transparente comunicao;

    b) Compromisso: boas prticas de governana corporativa no setor pblico exigem

    muitos esforos e amadurecimento daqueles que esto frente da gesto do

    servio pblico. Requer, acima de tudo, um forte senso de compromisso por parte

    de todos os gestores sobre a difcil tarefa de implantar a governana corporativa

    e seus princpios na Administrao Pblica em geral. Neste sentido,

    comprometer-se significa estabelecer um eficiente meio de comunicao

    7 Australian National Audit Office ANAO, ou Gabinete de Auditoria Nacional da Austrlia, uma

    espcie de auditoria externa da administrao pblica na Austrlia e fornece uma viso independente do desempenho e da gesto dos recursos financeiros, de pessoas e de materiais s agncias e demais rgos estatutrios. A empresa elabora e fornece relatrios financeiros do setor pblico, administrao e prestao de contas. Ela no exerce funes de gesto nem executiva, posto que estas so de responsabilidade da Administrao Pblica australiana. Somente realizam auditoria de demonstraes financeiras e do desempenho do governo australiano, com avaliao objetiva das reas em que a melhoria pode ser realizada na administrao pblica e na prestao de servios. De forma construtiva, consultiva e atuando cooperativamente com aqueles que tm responsabilidades-chaves nos rgos do governo, a ANAO procura identificar e promulgar, em benefcio do setor pblico em geral, amplas mensagens e lies no sentido de disseminar as boas prticas e as experincias relacionadas governana corporativa. A ANAO tem sua responsabilidade disposta por uma Lei de Auditoria Geral de 1997, bem como por demais normas de auditoria e aplicadas profisso, que regem toda a relao profissional com a Administrao Pblica, alm de dispor tambm dos objetivos esperados, das prticas profissionais e das trocas de experincias por meio da participao de outros profissionais e organizaes para consecuo dos objetivos por ela propostos. Disponvel em: .

  • 41

    baseado em valores ticos que norteiam a relao com todos os envolvidos no

    processo de prestao de servio comunidade, segundo uma abordagem

    sistemtica de gerenciamento;

    c) Integridade: o autor supracitado afirma que a integridade tem a ver com

    honestidade. Ao abordar-se o universo de responsabilidades que a Administrao

    Pblica contempla, percebe-se a relevncia deste princpio medida que os

    padres e valores pessoais e profissionais desenvolvidos numa organizao

    determinam sobremaneira a qualidade e a eficcia das boas prticas de

    governana corporativa, bem como a credibilidade de toda informao ou

    prestao de contas fornecidas sociedade;

    d) Responsabilidade (accountability): os princpios da governana corporativa

    buscam identificar responsabilidades na figura dos agentes envolvidos no

    processo. Assim, importa saber quem responsvel e por que responsvel.

    Isto exige um conhecimento claro dos papis de todos os atores que participam

    do processo de governana, notabilizando a responsabilidade daqueles

    profissionais considerados lderes, sem os quais a relao de confiana existente

    entre seus colaboradores e stakeholders afastada, prejudicando

    substancialmente os resultados organizacionais pretendidos;

    e) Transparncia: a sociedade cada vez mais exige dos rgos pblicos, por meio de

    seus gestores e administradores, constantes votos de confiana. E isso somente

    possvel por meio de uma adequada abertura organizacional, de que resulte

    uma maior participao cidad no processo de conduo dos programas e

    polticas sociais. Por meio de informaes completas, seguras e transparentes,

    as aes dos gestores institucionais ganham credibilidade frente ao pblico e

    tornam-se efetivas, demonstrando a responsabilidade social por parte do corpo

    diretivo. O princpio da transparncia para a governana corporativa de

    significava importncia e deve ser visto como um recurso, a exemplo dos

    recursos materiais, financeiros (dinheiro pblico) e demais ativos pblicos;

    f) Integrao: no obstante cada princpio carregar sua importncia para o sistema

    como um todo (setor pblico), importante perceber que do processo de

    integrao entre todos os princpios de governana corporativa desenvolvida

    dentro destas organizaes que se obter um excelente quadro estratgico e

    promissor organizao. Esse processo de integrao adequadamente

    conduzido e assimilado por funcionrios pblicos, compreendido e bem aplicado

    pelos demais rgos e setores da administrao pblica quando da consecuo

    de seus misteres organizacionais, oportunizar um cenrio vivel s boas

    prticas de governana corporativa.

  • 42

    Como vemos os novos conceitos de governana pblica, muito embora ainda no

    hegemnicos, esto formando as bases para a introduo da governana corporativa, seus

    princpios e prticas no setor pblico brasileiro e mundial. Por meio de uma rpida

    abordagem dos princpios da governana corporativa, principiados pela Australian National

    Audit Office ANAO, em perspectiva, acredita-se que o setor pblico brasileiro tem muito a

    se beneficiar com sua implantao na Administrao Pblica, por meio de seus rgos e

    respectivos gestores.

    4 GOVERNANA CORPORATIVA NA SEGURANA PBLICA

    Realizadas algumas consideraes a despeito da governana corporativa e seus

    princpios, bem como a relao destes com os demais princpios da Administrao Pblica,

    importante agora analisar como as boas prticas de governana corporativa, obtidas por

    meio de seus princpios regentes, podem ser aplicadas no mbito da segurana pblica

    brasileira.

    Em que pese a prtica da governana corporativa no Brasil ser recente e tmida,

    inmeras organizaes j perceberam a sua importncia e principalmente os seus

    benefcios. Desenvolver boas prticas, incluir uma nova forma de pensar, de perceber a

    realidade e agir do profissional interna corporis a essncia do processo de

    desenvolvimento da governana corporativa nas organizaes.

    Ao transportarmos o tema para o mbito da segurana pblica, num primeiro

    momento, importante perceber que a atual segurana pblica brasileira se encontra num

    crescente processo degenerativo, de modo que seu atual estado de falncia pe em cheque

    sua capacidade da responder satisfatoriamente s questes relacionadas violncia e a

    criminalidade.

    Isso se deve, em grande parte, notvel ineficincia dos atuais mecanismos de

    gesto, aos desajustes na prestao de contas (o que permite a omisso de relevantes

    dados e informaes sobre a realidade da administrao dos rgos, a corrupo, o desvio

    de recursos e de finalidades etc), falta de integrao com os demais rgos pblicos e ao

    baixo nvel de responsabilidade e comprometimento dos agentes polticos e gestores

    responsveis pela elaborao e efetivao dos programas e polticas de segurana pblica

    nos Estados.

    A introduo dos princpios e das boas prticas de governana corporativa nos

    rgos (e seus respectivos gestores, diretores, chefes e comandantes) responsveis pela

    segurana pblica possibilita-os contextualizar o crime e a violncia, antes de tudo, como

    fato social. Isso significante, pois releva a realidade, ao passo que facilita maior

  • 43

    compreenso sobre as origens das demandas que remontam ao atual quadro de

    insegurana hoje suportada pela sociedade brasileira.

    Neste andar, para maior efetividade da segurana pblica, entre outras medidas, faz-

    se imperioso introduzir os princpios da governana corporativa no setor pblico,

    especificamente no mbito dos rgos responsveis por levar frente os programas e

    polticas de segurana pblica no Brasil.

    Aos rgos consignados no art. 144 da Constituio Federal, dentro de suas

    atribuies e competncias previstas, cabem a iniciativa, o empreendedorismo e a

    proatividade de principiar uma atuao mais eficiente, integrada e transparente, a fim de

    devolver a confiana ao cidado, possibilitando a participao mais ativa da sociedade civil

    organizada e do setor privado no processo de melhoria da segurana no Brasil.

    4.1 A segurana pblica no Brasil

    A segurana pblica no Brasil e no mundo carece de uma ateno especial. Sem

    segurana, no somente a qualidade de vida das populaes est comprometida, mas

    tambm todo o processo de desenvolvimento econmico e social sustentvel. Sem

    segurana pblica no existe sociedade, no persistem direitos e no h projeo de um

    futuro promissor.

    A Constituio Federal de 1988, em seu art. 144, dispe que a segurana pblica

    dever do Estado e responsabilidade de todos. Esse dispositivo evidencia quais so os

    rgos responsveis pela manuteno da ordem pblica a fim de garantir, em ltima

    anlise, a integridade da vida e a preservao do patrimnio de todo cidado.

    Destaca-se, contudo, que muitos so os fatores associados ao aumento vertiginoso

    da violncia e da criminalidade em todos os Estados brasileiros. Dentre eles, destaca-se o

    abandono por parte do Estado de determinadas reas sociais, as quais ficam merc de

    certos grupos e milcias, que desenvolvem um verdadeiro Estado Paralelo (DURSO, 2002).

    Contudo, evidente que, associado a este contumaz descaso com a violncia e a

    criminalidade por parte do tradicional Estado Provedor8, presencia-se h dcadas uma

    crescente desestabilizao dos poderes estatais e dos rgos relacionados direta e

    indiretamente segurana pblica no Brasil. Hoje, esse processo sistemtico

    institucionalizou a ineficincia, o descaso, a falta de transparncia e de comprometimento

    8 Termo que traz contraste com a viso de um novo Estado, de um Estado no mais provedor ou

    produtor, mas de um Estado que serve garantia do bem pblico; de um Estado ativo, provedor solitrio do bem pblico em um Estado ativador, que aciona e coordena outros atores a produzir com ele; de um Estado dirigente ou gestor em um Estado cooperativo, que produz o bem pblico em conjunto com outros atores (KISSLER e HEIDEMANN, 2006).

  • 44

    com o servio e com o bem pblico, instalando o caos na Administrao Pblica em geral, a

    comear pelos poderes constitudos (Executivo, Legislativo e Judicirio).

    No Poder Executivo temos atrelado o Ministrio da Justia9 (em mbito nacional), as

    Secretarias de Estado da Segurana Pblica (no mbito estadual) e as Secretarias de

    Desenvolvimento Social e/ou Secretarias congneres (na esfera municipal). Esse

    microssistema recentemente comeou a se articular, contudo carece, bem verdade, de um

    urgente e eficiente processo de integrao. As polticas e programas de represso e

    preveno violncia e criminalidade desses entes federados no encontram eco em

    aes sistmicas e integradas.

    Semelhante procedimento sucede com os Poderes Legislativo e Judicirio, que

    abordam a problemtica da segurana pblica de forma dissociada. A segurana pblica

    um problema social srio e de amplitude nacional e no deve ser tratado de forma isolada.

    Percebe-se ainda uma grande distncia entre Poderes, rgos e autoridades pblicas, dos

    verdadeiros fatos e das verdadeiras origens dos problemas e, via de consequncia, de uma

    melhor segurana a todos.

    Assim, desconexos e excessivamente fechados em suas aes e polticas

    institucionais, leis desajustadas realidade social continuam sendo aprovadas em

    processos legislativos tendenciosos e imediatistas. Ao mesmo tempo, o Poder Executivo,

    por meio dos rgos responsveis pela segurana pblica, perpetuam polticas e estratgias

    tradicionais de combate ao crime e violncia, esquecendo-se do plano da preveno. O

    Poder Judicirio, por fim, cada vez mais se mostra ineficiente na prestao de sua tutela

    jurisdicional, posto no mais atender demanda processual, resultado em grande parte de

    procedimentos originados pelos rgos policiais, que batem porta dos fruns em todo o

    Pas.

    As mudanas precisam acontecer em passo acelerado. Alguns processos de

    modernizao e integrao nacional comeam a ganhar destaque. O pioneirismo do

    Ministrio da Justia, por meio de seus rgos normativos (Senasp e Sesp, dos rgos

    Policiais e do Conselho Nacional de Segurana Pblica10), representa um avano

    considervel no processo de promoo de programas e polticas de integrao e

    aperfeioamento do atual modelo de gesto da segurana pblica no Brasil.

    Neste sentido, um novo rumo da segurana pblica brasileira est sendo

    gradativamente construdo e, nesse aspecto, o campo propcio para o desenvolvimento de

    9BRASIL. Ministrio da Justia do Brasil. Disponvel em:

    . Acesso em: 8 ago. 2011. 10

    Secretaria Nacional de Segurana Pblica Senasp e Secretarias Estaduais de Segurana pblica Sesp. Polcia Federal; Polcia Rodoviria Federal; Polcia Militar e Polcia Civil. Conselho Nacional de Segurana Pblica. Disponvel em: .

  • 45

    boas prticas profissionais e institucionais no mbito interno de todos os rgos

    relacionados segurana pblica, conforme abordados anteriormente.

    com o objetivo de envolver todos os protagonistas no processo de melhoria da

    segurana pblica brasileira (agentes polticos, servidores pblicos, o setor pblico, o setor

    privado, o terceiro setor, a sociedade civil organizada e o cidado), que se passa a abordar

    os princpios da governana corporativa e sua aplicabilidade no mbito dos rgos

    responsveis pela segurana pblica no Brasil.

    5 APLICABILIDADE DOS PRINCPIOS DA GOVERNANA CORPORATIVA NO MBITO

    DA MODERNIZAO DA SEGURANA PBLICA NO BRASIL

    At o presente momento discorreu-se a respeito do surgimento e da evoluo da

    governana corporativa no Brasil e balizaram-se brevemente os conceitos de Governana,

    Governana Pblica, Governana Corporativa e seus princpios. Tais abordagens formam o

    supedneo para finalmente introduzir, pontualmente, os princpios da governana

    corporativa, segundo a OCDE11, aplicados no setor pblico. A abordagem desses princpios

    permite projet-los e ajust-los segundo um processo de gesto pblica diferenciada, e esse

    o tema que se pretende lanar na rea de segurana pblica.

    5.1 Princpios da governana corporativa na rea da segurana pblica

    A administrao pblica em geral precisa quebrar paradigmas. E quebrar paradigmas

    implica estabelecer o que prioridade para o sadio e seguro desenvolvimento social. Em

    rpida anlise, Marques (2007) assinala que o processo de governana corporativa, bem

    como a aplicabilidade de seus princpios, envolve atividades fundamentais por parte

    daqueles que ocupam os altos cargos na gesto e na administrao.

    Nesse aspecto o autor destaca a importncia do envolvimento dos Agentes

    Pblicos12 no mbito do Poder Executivo, seus Ministrios e Secretarias. Justapondo-se

    rea da segurana pblica, esses agentes so responsveis pela elaborao de polticas e

    diretrizes que devem nortear suas estratgias institucionais.

    11

    Op cit. 12

    De acordo com Justen Filho (2005), representantes do povo, o que conduz investidura por meio de mandatos eletivos. Mas tambm se reputa que os auxiliares diretos e imediatos do Chefe do Poder Executivo so agentes polticos, tal como se passa com os Ministros de Estado.

  • 46

    Nesse sentido, os princpios da governana corporativa devem ser eficazmente

    comunicados aos demais servidores pblicos13 por meio dos gestores institucionais dos

    respectivos rgos responsveis pela segurana pblica. Estes rgos, ao participarem do

    processo de construo de governana corporativa e seus princpios, contribuem ainda para

    potencializar as capacidades e as habilidades dos profissionais da rea da segurana

    pblica em nvel operacional.

    importante destacar que os princpios sobre governana corporativa aplicveis

    segurana pblica acomodam uma ampla gama de mecanismos de gesto voltados a

    atender s necessidades sociais do cidado, em plena conformidade com as estratgias

    desenvolvidas pela Senasp14, por meio da Matriz Curricular Nacional para aes formativas

    e de valorizao do profissional da rea da segurana pblica.

    de fundamental importncia tal pioneirismo por parte do Ministrio da Justia, que

    principia uma nova perspectiva de formao profissional. Formar bons profissionais para

    atuar na segurana pblica , acima de tudo, valorizar o cidado que ser atendido por um

    profissional policial mais capacitado e mais humano.

    5.1.1. Princpio da liderana

    Poucas atividades no mbito da Administrao Pblica exigem tanto o

    desenvolvimento do esprito de liderana quanto aquela realizada pelos profissionais da

    rea da segurana pblica no Brasil. A caracterstica e as peculiaridades de suas atividades

    exigem inmeras habilidades e a mobilizao de diferentes competncias15.

    Usando por base a Poltica Nacional de Segurana Pblica levada a efeito pela

    Senasp (2011), por meio da Matriz Curricular Nacional, percebe-se que princpios como

    liderana encontram-se dissolvidos em alguns preceitos que fundamentam as aes

    formativas para os profissionais da rea de segurana pblica.

    Reafirmar a liderana, enquanto princpio da governana corporativa na rea de

    segurana pblica, significa fundamentalmente desenvolver em cada profissional (lder

    organizacional) a habilidade de se comunicar, de ser ntegro com os valores, entusiasta

    frente s dificuldades e sobretudo um profissional capaz de formar e trabalhar em equipe

    comunicando a todos a viso e a misso institucional.

    13

    Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, So servidores pblicos, em sentido amplo, as pessoas fsicas que prestam servio ao Estado e s entidades da Administrao Indireta, com vnculo empregatcio e mediante remunerao paga pelos cofres pblicos. 14

    Matriz Curricular Nacional no site do Ministrio da Justia. Disponvel em: . 15

    A mobilizao de competncias abordada na Matriz Curricular Nacional para a Formao em Segurana Pblica, ligada ao Ministrio da Justia, por meio da Senasp. Nesse sentido, a Senasp elaborou um mapa de competncias para aes formativas dos profissionais da rea da segurana pblica, baseado em competncias cognitivas, operacionais e atitudinais.

  • 47

    O princpio da liderana representa um importante mecanismo de mudana

    organizacional. Segundo Fonseca (2000), a formao profissional do administrador e do

    gestor pblico moderno deve estar voltada ao exerccio de uma liderana capaz de perceber

    problemas e criar solues, buscar recursos e mostrar resultados, estabelecer redes sociais,

    demonstrando um perfil mais gerencial e politizado.

    Desenvolver uma poltica de liderana dentro das organizaes que compem o

    sistema de segurana pblica postura estratgica de fundamental importncia.

    Desenvolver e identificar lderes dentro das instituies policiais, sejam elas militares ou

    no, representa um importante avano no processo de modernizao da gesto da

    segurana pblica no Brasil.

    Nesse sentido, o princpio da liderana robustece a cultura de cada instituio

    responsvel pela segurana pblica, que cada vez mais estar apta a produzir e reproduzir

    boas prticas em seu singular ambiente de trabalho, qual seja, o ambiente social. Um

    ambiente cuja diversidade de problemas e de atores exige um profissional de segurana

    com elevado senso de liderana, alm de estar munido de distintas habilidades, tcnicas e

    conhecimentos.

    5.2.1 Princpio do compromisso profissional

    A complexidade em que esto envoltas as atividades relacionadas segurana

    pblica exige de todos os profissionais da rea muito comprometimento com a causa.

    Construir uma mentalidade de eficincia e resultados, especialmente junto aos gestores

    pblicos, pressupe a substituio de antigos hbitos, excessivamente burocratizados, por

    outros de notveis caractersticas operacionais.

    No mbito da segurana pblica, significa que o tradicional padro de gesto pblica

    burocrtica deve ser minimizado ao mximo e reorientado a uma prestao de servios de

    segurana com maior efetividade, eficincia, equidade e responsabilidade.

    Segundo OSBORNE e GAEBLER (1992), a ideia fundamental sobre a segurana

    pblica torn-la uma responsabilidade de toda a comunidade, e no somente dos

    profissionais de segurana pblica. Para isso, o compromisso, como um dos princpios da

    governana corporativa no setor pblico implica muito mais do que eficientes estruturas

    administrativas e operacionais. Pressupe tambm o comprometimento de todos com os

    objetivos e metas colimados pela instituio, bem como os valorosos esforos para a

    implementao dos princpios ora ventilados.

    Tanto a atividade operacional quanto administrativa na rea da segurana pblica

    no pode mais ser realizada sem comprometimento por parte de seus profissionais. E isso

    implica que o profissional deve se comprometer frente sociedade, frente ao cidado. Deve

  • 48

    ainda se comprometer com as atribuies e as responsabilidades inerentes ao seu trabalho,

    bem como aos aspectos inerentes a sua formao e especializao.

    5.2.2 Princpio da integridade

    A integridade um elemento fundamental para o exerccio de todo cargo ou funo

    pblica, por isso sua incluso nos princpios da governana corporativa do setor pblico. As

    caractersticas e a dinmica das atividades policiais na prestao do servio de segurana

    pblica exigem elevados padres ticos e morais de todos os profissionais que atuam no

    mbito das instituies militares e civis.

    Tal princpio se reveste de singular relevncia, pois padres no satisfatrios de

    integridade ecoados de uma organizao no s refletem a qualidade do trabalho como um

    todo, mas tambm comprometem as boas prticas principiadas, os processos internos de

    mudanas, a tomada de deciso, a qualidade e a credibilidade da instituio e de seus

    profissionais.

    Neste sentido, os gestores responsveis pelas instituies que compem o sistema

    de segurana pblica hoje no Brasil, nos nveis estratgicos, tticos e operacionais, devem

    reger-se segundo critrios de honestidade pessoal e profissional e sobretudo de integridade

    de carter.

    5.2.3 Princpio da responsabilidade (accountability)

    A responsabilidade, dentro de qualquer organizao, somente se perfaz na medida

    em que todos tiverem pleno conhecimento de suas funes, atribuies e competncias.

    Isso denota um papel especial daqueles que pertencem ao quadro de governana, do

    quadro de gesto da organizao, posto que estes representam elementos-chaves e

    exemplos ao desenvolvimento de uma cultura de responsabilidade saudvel aos seus

    subordinados.

    Uma instituio responsvel se preocupa com sua funo social. E isso ainda mais

    verdadeiro para as instituies militares e civis que so diretamente responsveis por

    desenvolver programas, projetos e aes destinadas a prevenir e reprimir a violncia e

    criminalidade nas comunidades.

    O princpio da responsabilidade na governana corporativa dentro da segurana

    pblica sugere aes eficientes, produo e demonstrao de resultados, denotando o

    desempenho da organizao, o qual deve ser exteriorizado por meio de relatrios e

    balanos sociais confiveis.

  • 49

    Responsabilidade sobretudo o dever de prestar contas sociedade e ao cidado

    dos recursos recebidos, dos investimentos, dos ndices de reduo do crime e da violncia,

    a fim de ressaltar o alto nvel de maturidade organizacional. Designa enfim, segundo Oliveira

    (2008), o arcabouo de material informativo institucional sobre a situao da organizao a

    despeito das questes de interesse social.

    5.2.4 Princpio da transparncia

    Dentro da rea de segurana pblica, uma estrutura de governana corporativa tem

    o condo de construir uma relao de confiana e credibilidade com todos os protagonistas

    e demais partes interessadas (stakeholders) na reduo e controle da violncia e da

    criminalidade.

    Para que isso se concretize, faz-se necessrio que os rgos integrantes do sistema

    de segurana pblica hoje no Brasil desenvolvam eficientes polticas internas de

    transparncia apoiados em hbeis mecanismos de acesso - a exemplo do Governo

    Federal16 -, as informaes do pblico em geral.

    Tal abertura institucional por parte destes rgos algo expressivo para a sociedade

    brasileira, na verdade uma experincia inusitada. importante destacar que as informaes

    produzidas e disponibilizadas pelos rgos e instituies que levam a efeito as polticas de

    segurana pblica podem ainda receber apoio da mdia e demais meios de comunicao.

    Nesse sentido, Rolin (2009), em seu livro A sndrome da rainha vermelha, muito

    bem salienta a importncia de repensar a mdia como um recurso contra a violncia e a

    criminalidade, de modo que as informaes disponibilizadas aos meios de comunicao

    sobre as atividades realizadas, a aplicao de recursos, os resultados e o desempenho

    organizacional no combate ao crime e violncia pelos rgos da segurana pblica

    estabeleam uma relao de confiana no somente com o cidado, mas com os meios de

    comunicao, os quais podero contribuir substancialmente com o processo de implantao

    da transparncia como princpio norteador da governana corporativa na Administrao

    Pblica.

    No obstante, sabe-se que fazer segurana pblica, alm de ladear altos riscos

    pelas atividades desempenhadas, tambm envolve altos investimentos para manter

    estruturas administrativas e operacionais pesadas. Tal fato vem justificar ainda mais a

    necessidade de transparncia organizacional, especialmente pelo fato de o cidado ser o

    16

    Nesse sentido, importante destacar o Portal da Transparncia do Governo Federal, disponvel em: , o qual disponibiliza, por meio do acesso online a todo cidado, as atividades, transaes, despesas, receitas, transferncia de recursos, obras e muitos outros dados e informaes.

  • 50

    maior investidor17 e sua participao ser cada vez mais ativa e presente no processo de

    melhoria de sua segurana.

    5.2.5 Princpio da integrao

    O princpio da integrao um importante elemento no processo de implementao

    da governana corporativa na rea da segurana pblica brasileira, pois garante a perfeita

    inter-relao entre os demais princpios. Dentro de uma viso mais sistmica, este princpio

    tambm um importante elemento estratgico para articulao de polticas

    interinstitucionais de segurana pblica entre os diferentes rgos que integram o sistema

    nacional de defesa.

    Referido princpio representa um relevante papel estratgico, especialmente por

    atender s bases da poltica nacional de segurana pblica (Senasp), a qual estabeleceu

    condies de cooperao e de integrao entre as diversas instituies de segurana

    pblica.

    Tal princpio contempla as perspectivas nacionais mais recentes de integrao das

    organizaes policiais, a exemplo da Integrao Policial de Minas Gerais18, que principiou

    uma transio gradual para um novo modelo de policiamento convergente com as diretrizes

    preconizadas pelo Governo Federal (SAPORI e ANDRADE, 2008; FALCO-MARTINS et. al,

    2006).

    A integrao atende no somente s necessidades institucionais em prol de um

    modelo de gesto mais amplo, moderno e de coparticipao com os diferentes

    protagonistas sociais, como tambm o principal elemento estratgico comum e acessvel a

    todos os rgos do atual sistema de segurana pblica.

    Percebe-se que o processo de evoluo social impe a todas as organizaes

    pblicas e privadas iguais necessidades de se aprimorarem constantemente para oferecer

    seus produtos e servios dentro de um exigido nvel de satisfao. bem verdade contudo

    que esse processo mais traumatizante para os rgos da Administrao Pblica de um

    modo geral, pois por muito tempo viram-se engessados em seus modelos de gesto

    burocrticos, que somente atendiam s necessidades de uma poca muito remota, no se

    mostrando mais eficientes.

    17

    Aqui, o termo investidor objetiva ressaltar a alta carga tributria paga pelo cidado, alm de sua notvel e crescente participao no desenvolvimento das polticas e programas de segurana pblica, o que o torna sujeito ativo no processo de construo das polticas pblicas de segurana. 18

    Maiores informaes a respeito do processo de integrao principiado pela PMMG podem ser encontradas por meio do site institucional , na guia integrao institucional.

  • 51

    Nesse sentido, trazer para dentro da Administrao Pblica a experincia e o

    aprendizado alcanado pelas grandes corporaes espalhadas pelo mundo sobre boas

    prticas em governana corporativa sem dvida algo expressivo, que nos permite

    acreditar numa perspectiva de sucesso de todos os rgos pblicos, especialmente pela

    relevante funo social de que esto incumbidos.

    No campo da segurana pblica, a fora motriz desses princpios representa a

    possibilidade de se desenvolver uma cultura de boas prticas fortemente apoiadas num

    modelo de gesto mais aberto, responsvel, transparente e acessvel sociedade de uma

    forma geral.

    A aplicabilidade dos princpios da governana corporativa na rea da segurana

    pblica representa um passo fundamental para o amadurecimento institucional e profissional

    de seus rgos. Tais princpios mostraram-se aptos a elevar o desempenho e o

    profissionalismo de nossos policiais militares e civis e demais servidores que labutam

    diuturnamente para garantir a ordem, salubridade, tranquilidade e paz em todos os Estados

    de nosso Pas.

    CONCLUSO

    O presente artigo procurou suscitar discusso a respeito da aplicabilidade dos

    princpios da governana corporativa no processo de modernizao da gesto da segurana

    pblica no Brasil.

    Para isso, num primeiro momento levantaram-se breves aspectos histricos sobre o

    surgimento e a evoluo da governana corporativa no Brasil, a qual se destacou um

    mecanismo promissor no processo de gesto e administrao das organizaes brasileiras.

    Foi possvel perceber que as organizaes, a partir de ento, passaram a contar com um

    avanado e eficiente sistema de distribuio e de compartilhamento de direitos e

    responsabilidades no processo de gesto institucional.

    Viu-se que a governana corporativa permite o desenvolvimento de importantes

    polticas de transparncia organizacional, bem como o acesso pblico s informaes

    relevantes sobre as atividades e os resultados da organizao, repassando confiana e

    credibilidade aos seus colaboradores.

    As conceituaes terminolgicas sobre governana corporativa empregada pelo

    Instituto Brasileiro de Governana Corporativa IBGC nos permitiu aprofundar

    suficientemente o tema objeto do artigo. De igual modo, os princpios da governana

    corporativa desenvolvidos pela Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico OCDE (OECD Organization for Economic Cooperation and Development)

  • 52

    serviram de importante referencial para introduo das bases da governana corporativa

    para o setor pblico.

    Tal abordagem, juntamente com os princpios da Administrao Pblica constantes

    do art. 37 da Constituio Federal, formou os alicerces necessrios para transportar o tema

    da governana corporativa para a rea da segurana pblica por meio do estudo dos

    princpios extrados da Australian National Audit Office ANAO (Gabinete de Auditoria

    Nacional da Austrlia), um gabinete ligado ao Governo que tem ampla experincia com

    auditoria externa na Administrao Pblica da Austrlia, a despeito do desempenho e

    gesto das agncias e rgos governamentais.

    A par deste cenrio construdo em torno da governana corporativa e seus

    princpios, crvel concluir que o atual quadro de gesto, desempenho e transparncia do

    Setor Pblico brasileiro pode ser potencializado. Isso porque os princpios aplicveis

    Administrao Pblica mostram-se sistmicos e estruturados, alm de contar com a

    experincia positiva em inmeros pases.

    Ao levarmos tal proposio para a rea da segurana pblica hoje no Brasil, isso se

    mostra ainda mais verdadeiro. A aplicabilidade dos princpios ventilados - especficos para o

    setor pblico - atende s mais recentes iniciativas do Governo Federal que, por meio do

    Ministrio da Justia, tem implantado inmeros programas, polticas e aes voltadas

    modernizao da rea da segurana pblica no Brasil.

    guisa de concluso, tem-se que a governana corporativa no Brasil est firmando

    suas bases e inaugurando significativos espaos no Setor Pblico. A aplicabilidade de seus

    princpios no mbito do atual sistema de segurana pblica significa introduzir um novo

    paradigma de gesto e de boas prticas das quais todos os rgos e gestores pblicos

    podero se beneficiar.

    A sociedade como um todo ser beneficiada, uma vez que as prticas de

    governana corporativa principiam importantes mecanismos no processo de administrao e

    gesto e tm o condo de fortalecer o grau de responsabilidade e transparncia pblica na

    elaborao das polticas institucionais, na capacitao dos profissionais de segurana

    pblica, na operacionalizao eficiente das atividades, sendo decisivas para construir

    confiana e credibilidade social dos rgos responsveis pela segurana pblica em nosso

    Pas.

    REFERNCIAS

    ANAO. Australian National Audit Office. Performance Information in Portfolio Budget

    Statements. Canberra: Commonwealth of Australia, 2002, n. 18.

  • 53

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    ABSTRACT

    This article aims to address important aspects related to the recent modernization process

    the management of public security in Brazil is going through nowadays. For that sought

    to join a new management paradigm within public structures directed to Corporate

    Governance. Known as an advanced and efficient system of distribution and sharing of rights

    and responsibilities, as well as an important mechanism for information access and

  • 55

    transparency, corporate governance has specific principles and guides to the development of

    best practices within organizations. Its optimistic prospects corroborate for the new

    institutional arrangements organization inside the current public management. Some national

    and international organizations seek to conform the principles of corporate governance to the

    peculiarities of the Public Sector. This analysis guided the objectives of this article, wich is to

    demonstrate the applicability of corporate governance principles in the current management

    structures of the Brazilian public security.

    Keywords: Government. Public Management. Corporate Governance. Public Security.