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PÁGINAS AMPLIADASÁGINAS AMPLIADAS DA ESTRUTURA: O trecho estudado do livro contém 50 páginas e tem por título “Fronteiras Ampliadas de um Território em Conformação”. É estruturado em 5 subtítulos, onde são abordados os contornos visíveis do livro reportagem como um veículo de comunicação jornalística; a busca por um conceito básico de livro- reportagem; os pilares fundamentais do jornalismo; o espaço da reportagem nos meios de comunicação; e uma conceituação, mais específica do livro-reportagem, distinguindo ele dos demais formatos jornalísticos e literários. SOBRE O AUTOR: Edvaldo Pereira Lima é professor aposentado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, jornalista e educador. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e pós- doutorado em Educação pela Universidade de Toronto, no Canadá. É graduado em jornalismo e turismo e foi professor-visitante da Universidade de Florença e da Universidade de Londres. É co-fundador e vice presidente da ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário e mentor pedagógico do curso de pós- graduação em jornalismo literário desta instituição. FRONTEIRAS AMPLIADAS DE UM TERRITÓRIO EM CONFORMAÇÃO 1. Os contornos visíveis O livro-reportagem é um veículo de comunicação jornalística bastante conhecido nos meios editoriais do mundo ocidental. Desempenha um papel específico, de prestar a informação, ampliada sobre os fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade temática expressiva.

Paginas ampliadas

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PÁGINAS AMPLIADASÁGINAS AMPLIADAS

DA ESTRUTURA:

O trecho estudado do livro contém 50 páginas e tem por título “Fronteiras Ampliadas de um Território em Conformação”.

É estruturado em 5 subtítulos, onde são abordados os contornos visíveis do livro reportagem como um veículo de comunicação jornalística; a busca por um conceito básico de livro-reportagem; os pilares fundamentais do jornalismo; o espaço da reportagem nos meios de comunicação; e uma conceituação, mais específica do livro-reportagem, distinguindo ele dos demais formatos jornalísticos e literários.

SOBRE O AUTOR:

Edvaldo Pereira Lima é professor aposentado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, jornalista e educador. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e pós-doutorado em Educação pela Universidade de Toronto, no Canadá. É graduado em jornalismo e turismo e foi professor-visitante da Universidade de Florença e da Universidade de Londres.

É co-fundador e vice presidente da ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário e mentor pedagógico do curso de pós-graduação em jornalismo literário desta instituição.

FRONTEIRAS AMPLIADAS DE UM TERRITÓRIO EM CONFORMAÇÃO

1. Os contornos visíveis

O livro-reportagem é um veículo de comunicação jornalística bastante conhecido nos meios editoriais do mundo ocidental. Desempenha um papel específico, de prestar a informação, ampliada sobre os fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade temática expressiva.

O livro-reportagem cumpre um relevante papel, preenchendo vazios deixados pelo jornal, pela revista, pelas emissoras de rádio, pelos noticiários da televisão, até mesmo pela internet quando utilizada jornalisticamente nos mesmos moldes das normas vigentes na prática impressa convencional.

Como proposta, este livro (Páginas Ampliadas) busca criar instrumentos que permitam delinear de forma mais completa o campo do livro-reportagem. Procura abordar, em caráter específico, também algumas particularidades que merecem um tratamento detalhado. E toma, como o território de manifestação por excelência do livro-reportagem, em especial os Estados Unidos e a Inglaterra. De um lado, e o Brasil do outro. Secundariamente, pinça exemplos de outros países, tanto na América Latina quanto na Europa Ocidental.

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Não se pode esquecer que a prática do jornalismo no Brasil, pelo menos a do jornalismo gráfico, impresso, foi condicionada a assimilar diretrizes técnicas, no sentido operativo, estabelecidas em primeiro lugar nos Estados Unidos. Das normas de redação, introduzidas após a Segunda Guerra Mundial, aos departamentos de pesquisa e documentação, passando pela revista semanal de informação geral, o Brasil tem trilhado caminhos abertos pelo jornalismo norte americano.

2. Em busca de um quadro conceitual

O primeiro é o de tentar suprir a carência existente, de modo a formar um quadro conceitual básico. O segundo é o de, a partir das diretrizes erigidas, detectar o papel que o livro-reportagem vem desempenhando, tomando alguns exemplos como uma das fontes inspiradores para propor, finalmente, elementos que consubstanciem, num futuro que se espera próximo, toda uma linha de livros-reportagem capazes de abordar, com eficiência, as complexas transformações que vive o mundo no século XXI.

O ponto de partida é construir o conceito básico de livro-reportagem, que aqui será baseado na Teoria Geral dos Sistemas, tal qual formulada por Ludwug von Bertalanffy, e adaptada ao jornalismo.

Três condições impostas para a conceituação buscada através da Teoria Geral dos Sistemas:

A contextualização do fenômeno O mapeamento do fenômeno A identificação da função que o fenômeno vem desempenhando ou venha

desempenhar

As bases para a compreensão da interpretação do livro-reportagem como o jornalismo provêm do que se chama de ordem hierárquica, na teoria Geral dos Sistemas. Trata-se de uma proposição que concebe a realidade constituída por diferentes entidades organizadas, numa superposição de muitos níveis. Cada nível é dotado por de um princípio organizador e o conjunto das diferentes entidades organizadas forma um todo único com interligações entre elas.

3. Pilares fundamentais do jornalismo

O que nos leva a aceitar a ideia de que o livro-reportagem é um subsistema do jornalismo?

Basicamente, a função que o livro-reportagem exerce, apesar de matizes particulares, procede, essencialmente, do jornalismo como um todo. Os recursos técnicos com que essa função é desempenhada provém do jornalismo. E o profissional que escreve o livro-reportagem é, quase sempre, um jornalista. Isto é, um comunicador social formado sob a concepção da prática de uma atividade específica de comunicação. Por conseguinte, a realidade essencial do livro-reportagem é determinada a partir das características e dos princípios que regem o jornalismo como um todo.

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O jornalismo, como segmento da comunicação de massa, exerce a função aparente de informar, explicar e orientar. Mas o que diferencia de fato o jornalismo de outras atividades é o desempenho da tarefa informativa e orientativa. O alimento dessa ação é a ocorrência social, sobre a qual se debruça o jornalismo para, a partir daí, manter sua audiência a par dos acontecimentos, possibilitando-lhe orientar-se diante da avalanche de ocorrências relevantes na sociedade.

Otto Groth – características fundamentais nos periódicos:Atualidade- o fato que apresenta uma relação com o momento presente;Periodicidade- a repetição regular no campo das diferentes edições de um periódico;Universalidade- a abordagem dos mais diferentes campos do conhecimento humano que os periódicos realizam com potencial teórico, pelo menos, para abranger todo o leque de conhecimentos possíveis para a humanidade;Difusão coletiva- a circulação dos periódicos por diversificadas camadas sociais, distribuídas geograficamente e economicamente de modo heterogêneo.

Tanto os integrantes iniciais da Escola de Frankfurt, quanto nos EUA pelo menos Dwight MacDonald, que se dedicaram ao estudo da comunicação massiva, parecem ter encontrado variáveis que teciam uma mesma leitura: a comunicação praticada pela indústria cultural exercia exclusivamente funções negativas, nocivas, quanto ao grau de conscientização da massa.

A saber, seriam duas principais funções – a distribuição de status e a de reiteração das normas sociais – e uma disfunção – a narcotizante, - as exercidas, em caráter subjacente, denominadas funções reais, no conceitual sistêmico, pela comunicação de massa.

Gate keepers- líderes de opinião que na prática intermediam o fluxo da comunicação entre os veículos massivos e as comunidades receptoras. Este conceito surgiu da teoria do fluxo em duas etapas, segundo a qual o efeito da mensagem da comunicação de massa só é exercido sobre o indivíduo após a consulta deste, a respeito do assunto, a alguém do seu círculo de relacionamento.

O jornalismo contemporâneo, caracterizado pela produção estandartizada, em larga escala, que começa a nascer no século XIX, a partir das promeiras cadeias de jornais e das agências de notícias formadas nos Estados Unidos e na Europa, encontra a fórmula básica de comunicar no elemento notícia.

A notícia deve corresponder ao acontecimento real que seja de interesse a pelo menos um grupo importante entre os segmentos de receptores de uma dada mensagem jornalística.

A atualidade de Otto Groth ganha uma nova roupagem, passa agora a significar a ocorrência que muitas vezes não é rigorosamente atual, mas ganha essa condição seja por um novo fato que “desperte” o interesse público para uma ocorrência antiga, seja por um artifício que traga para o presente.

Jornalismo informativo tem a função de informar e orientar de maneira rápida, clara, precisa, exata, objetiva.

Notícia redonda- nova formulação em que a informação principal, ao ser tratada pelo repórter, é acompanhada de dados complementares capazes de oferecer aos leitores, elementos mais sólidos para avaliar a extensão do noticiário, isto é, do fato noticiado que supõe preliminarmente uma informação de atualidade.

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Reportagem- ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão contextual. Em especial, esse patamar de maior amplitude é alcançado quando se pratica a grande-reportagem, aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade.

4. O espaço da reportagem

A reportagem começa a se esboçar definitivamente no jornalismo, atrelada a um novo veículo de comunicação periódica criado nos anos 20, e uma nova categoria de prática da informação jornalística, que tem seus primeiros passos definidos também nessa época: a revista semanal de informação geral e o jornalismo interpretativo.

Descobre-se então que a imprensa estava muito presa aos fatos, ao relato das ocorrências, mas era incapaz de costurar uma ligação entre eles, de modo a revelar ao leitor o sentido e o rumo dos acontecimentos.

Jornalismo interpretativo- busca não deixar a audiência desprovida de meios para compreender o seu tempo, as causas e origens dos fenômenos que presencia, suas consequências no futuro. Vai fundamentar sua leitura da realidade na elucidação dos aspectos que em princípio não estão muito claros.

Na prática o jornalismo interpretativo, a elucidação do que está mal explicado se corporifica mediante a inclusão de alguns ou de todos esses ingredientes:

O contexto do fato nuclear ou da situação nuclear Os antecedentes O suporte especializado A projeção O perfil

No jornalismo interpretativo, assim como na Teoria Geral dos Sistemas, não se contenta com a relação simplista de causa e efeito. É tecer esse encontro de relações entre a rede de causas e a rede de efeitos, o objetivo do jornalismo interpretativo, ao procurar fornecer uma leitura precisa, amplia da complexa realidade que cerca o mundo contemporâneo.

A reportagem, como gênero, pressupõe o exame do estilo com que o jornalista articula sua mensagem. Significa também um certo grau de extensão e/ou aprofundamento do relato, quando comparado à notícia e ganha a classificação de grande-reportagem quando o aprofundamento é extensivo e intensivo, na busca do entendimento mais amplo possível da questão em exame.

Que características principais deve apresentar uma reportagem?

Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari apontam a “predominância da forma narrativa”, a “humanização do relato”, o “texto de natureza impressionista” e a “objetividade dos fatos narrados”.

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Três tipos fundamentais de reportagem:

a- Reportagem dos fatosb- Reportagem de açãoc- Reportagem documental

5. Um conceito em progresso do livro-reportagem

O livro-reportagem é o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos.

O livro reportagem se distingue das demais publicações classificadas como livro por 3 razões:

a- Quanto ao conteúdo- o objeto de abordagem do que trata o livro-reportagem corresponde ao real, ao factual. A veracidade e a verossimilhança são fundamentais. Entenda-se aí o real tanto como ocorrência social já definida quanto uma situação mais ou menos perene, uma questão, ou uma ideia vigente, refletindo um estado de coisas mas que não corresponde necessariamente a um acontecimento central.

b- Quanto ao tratamento- compreendendo a linguagem, a montagem e a edição do texto, o livro-reportagem apresenta-se eminentemente jornalístico.

c- Quanto à função- o livro reportagem pode servir a distintas finalidades típicas ao jornalismo, que se desdobram desde o objetivo fundamental de informar, orientar e explicar.

O livro-reportagem não apresenta periodicidade, tem quase sempre caráter monográfico, bem como seu conceito de atualidade deve ser compreendido sob uma ótica de maior elasticidade do que o que se aplica à publicações periódicas.

O núcleo central do tempo presente deixa de ser p fato desencadeador central da ocorrência em si, para ser muito mais o seu contexto, obrigando a prática jornalística dos veículos impressos não-diários a entrar cada vez mais no terreno da opinião, da interpretação, do aprofundamento dos fatos em suma.

Encontramos no livro-reportagem uma extensão do tempo presente superior àquele que encontramos nos periódicos.

No período da ditadura militar no Brasil, o jornalismo diário sofria com censuras e nesse momento começou a ganhar espaço o livro-reportagem, de início surgiram dois tipos de livros reportagem:

O livro reportagem que se origina de uma grande reportagem ou uma série de reportagens veiculadas na imprensa cotidiana, em primeira instância;

O livro reportagem originado, desde o começo, de uma concepção e de um projeto elaborado para o livro.

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Da mesma forma, podem-se colocar duas categorias básicas de livro reportagem, quanto ao seu vínculo menor ou mais estreito com a atualidade:

O livro reportagem que aproveita um fato de repercussão, para explorá-lo com maior alcance, enquanto o impacto reverbera pela sociedade. É chamado de livro flash;

O livro reportagem que não se limita ao rigorosamente atual, trabalhando com temas um pouco mais distantes no tempo, de modo, que possa a partir daí, trazer explicações para as origens, no passado, das realidades, contemporâneas; ou que aborda temas não atrelados a um fato nuclear específico, no sentido restrito do termo, e que mais se relacionam à explicação de uma situação mais ou menos perene.

Dos elementos que compõem o livro reportagem como subsistema do jornalismo, seu catalisador, ou disparador, é a grande reportagem, assim como no jornalismo cotidiano o catalisador é a notícia.

A função aparente de informar e orientar em profundidade sobre ocorrências sociais, episódios factuais, acontecimentos duradouros, situações, ideias, figuras humanas, de modo que ofereça ao leitor um quadro de contemporaneidade capaz de situá-lo diante de suas múltiplas realidades, de lhe mostrar o sentido, o significado do mundo contemporâneo. Essa função aparente, ou declarada, pode se manifestar em diferentes níveis e em dois sentidos. De tal modo que a profundidade pode se dar horizontalmente – sentido extensivo -, verticalmente – sentido intensivo – ou numa mescla de ambos.

A narrativa jornalística constrói-se delimitada pelas dimensões de tempo e espaço. Cada uma dessas dimensões pode ser vista como um conjunto de círculos concêntricos.

A característica da atualidade, no jornalismo, é esse corte na passagem do tempo que não apresenta de maneira uniforme. O corte é tanto reduzido quanto menor a periodicidade do veículo.

Assim, o jornalismo voltado pra o efêmero transcende-se no livro reportagem, quando este leva em conta o tempo histórico para compreender o presente, resgatando do passado suas raízes mais importantes. No livro reportagem o conceito de atualidade pode ser5 substituído pelo de contemporaneidade.

Embora o livro reportagem não obedeça a nenhuma produção regular no tempo, há uma ligação que este estabelece com a periodicidade. Além do aspecto de repetição, em edições sucessivas, de uma mesma publicação, o termo refere-se também ao que ele denominava de “ritmo de vida”. Refere-se ao efeito da periodicidade, mediante a qual a repetição prolonga a existência dos acontecimentos, estende sua durabilidade, diminui sua perecibilidade. Todos esse acontecimentos tornam-se mais fáceis de ser trabalhados pelo autor por que boa parte de seus leitores estará preparada a viajar pelo seu resgate no tempo, pela ação repetitiva, redundante, com que a periodicidade

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jornalística conseguira, no passado recente, manter aqueles acontecimentos vivos na consciência da massa leitora.

O fato é que o tema retorna à tona e nesse intervalo de sobrevida o livro reportagem tem muitas vezes um papel importante de reatualização.

Universalidade, em jornalismo, significa variedade tento no plano da abordagem de diferentes temas quanto da multiplicidade de aspectos que se aborda de um mesmo tema.

Em outras palavras, entendo que o livro reportagem, visto como subsistema do jornalismo, é dotado de universalidade porque sua linha temática vai dos escândalos financeiros do Itamaraty à defesa do consumidor, da solidão nas grandes metrópoles à pesca da baleia.

Por conseguinte, o livro reportagem também complementa o papel da imprensa cotidiana, no que se refere à universalidade. Isso se dá tanto porque o livro amplia o conhecimento sobre um tema já divulgado pela imprensa cotidiana, como também porque penetra, por vezes, em temas pouco explorados por periódicos.