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Análise do discurso
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A DISCURSIVIDADE EM PIADAS DE SOGRA: A ESTEREOTIPIA
Resumo O gênero de humor de piadas de sogra perdura por incontáveis gerações
que compreendem a mesma coisa: “sogras” são indesejáveis e é engraçado
ridicularizá-las. Presente em diversas culturas e períodos da história, a sátira focada
nas sogras é conhecida por todos. O presente trabalho pretende entender os
mecanismos do discurso presentes nas piadas de sogras e por quais dispositivos
discursivos eles operam para gerar efeitos de humor, além de buscar fatores sócio-
históricos para a consolidação da estereotipia sobre as sogras.
Palavras-chave: Discurso, piadas, sogras, estereotipia
Abstract: The “mother-in-law” comedy genre spreads for countless generations that
comprehend the same thing: mother-in-laws are unwanted and to make fun of them
is a quick route to laughter. Present among several different cultures and periods of
history, mother-in-law satire is known by everyone. This paper aims to: (a)
understand the mechanisms of discourse present in this particular genre, (b) through
which discursive devices they operate to generate comedy and (c) to gather social
and historical factors that weight-in on the crystallisation of the mother-in-law
stereotype.
Keywords: Discourse, jokes, mother-in-law, stereotyping.
1 Introdução
O presente trabalho visa expor a discursividade em piadas de sogra e, assim
sendo, analisar e discutir a materialidade linguística que nelas constitui a
estereotipia, bem como a ideologia imbuída na representação da “sogra”. Para
atingir o cerne da questão, será necessário verificar e discutir as possíveis causas
sociais, históricas e ideológicas que criaram e ainda mantêm o estereótipo das
sogras na cultura popular.
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Dizer que certo gênero de humor funciona é afirmar que esse humor, para
certo grupo de pessoas, é engraçado e isto, por sua vez, significa dizer que o humor
conversa com certos aspectos da mente e/ou psique humana de cada indivíduo ou
grupo. Para atingir seu efeito, o humor faz uso de certos dispositivos para cada estilo
diferente. O gênero “piadas de sogra” utiliza, primordialmente, dois dispositivos do
humor: uma porção da teoria por trás de toda piada e/ou conteúdo humorístico,
doravante “a piada”, independente da mídia em que é veiculada, consiste na
inserção de seu público-alvo no contexto nela abordado, e o mesmo princípio é visto
no exemplo das sogras: é lugar-comum, além de hipótese do presente trabalho, que,
no estereótipo tratado aqui, as sogras carregam marcas sócio-históricas e
ideológicas que as configuram como um ser indesejado, inconveniente. E a segunda
hipótese é de que esse tipo de humor opera com enunciados discursivos que
contribuem para a criação, manutenção e reforço de estereótipos, em razão de ela
(sogra), não raro, intrometer na vida do casal e tomar posições favoráveis à(o)
filha(o), depreciando o/a genro/nora.
A desavença genro/nora:sogra está longe de ser novidade e algo tão
cristalizado em tantas culturas diferentes deve possuir mecanismos de discurso com
fundações profundas em ideologia e psique humanas, inerentes ao convívio social.
2 Fundamentação teórica
Todas as manifestações da psique humana, por mais variadas que sejam,
estão sempre relacionadas com a utilização da língua (BAKHTIN, 1997 p. 290),
carregam certas estratégias de discurso imbuídas de ideologias, reflexos do
indivíduo ou grupo falante, e oferecem muitos dados de relevância linguística.
Essas manifestações operam por enunciados (orais e escritos, concretos e únicos)
que emanam de qualquer esfera da atividade humana. O discurso expõe a condição
e a finalidade destas esferas que elaboram seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo estes, segundo Bakhtin, os gêneros do discurso. Tem-se que
para estudar os gêneros do discurso com a estereotipia das piadas de sogras, faz-se
necessário estudar a formação ideológica (FI).
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Pêcheux (1975) considera a noção de ideologia como essencial para o
desenvolvimento da formação discursiva e define a formação ideológica como
elemento constituído por atitudes e representações, que não são nem individuais
nem universais, mas se relacionam a posições de classe e é passível de intervenção
no choque entre diferentes forças na conjuntura ideológica inerente à formação
social. Assim, para o referido autor (idem), as formações discursivas (FD) intervêm
nas formações ideológicas enquanto componentes e determinam o que pode e deve
ser dito, a partir de uma relação de lugares no interior de um aparelho ideológico e
inscrita numa relação de classes.
Olhando por esses conceitos, é possível enxergar a estratégia do discurso
nas piadas quando essas fazem uso da estereotipia da imagem das sogras
(“representações nem individuais nem universais”) e unem isso à FI de oposição às
sogras (“posições de classe e choque de diferentes forças na conjuntura ideológica”)
para produzir o efeito de sátira.
Da mesma forma, as duas partes que compõem o gênero de humor sobre as
sogras faz uso do interdiscurso, que é a ponte entre dois campos do discurso
(MAINGUENEAU, 2005) e possibilita o cruzamento de sentidos entre duas linhas do
discurso. Aqui, entre a formação ideológica e a formação discursiva do humor
analisado.
Estereótipos, FI e FD necessitam de eventos e fatos que solidifiquem a
ideologia antes que essa seja construída no discurso (condições de produção).
Incontáveis eras de relações humanas, conjugais e familiares, compartilham
características que não necessariamente dependem de cultura ou etnia, mas são
inerentes à condição humana e há “material” suficiente de situações da dinâmica
genro/nora:sogra para compor um estereótipo concomitante em diversas regiões do
mundo. Enquanto muitas teorias, desde as esferas de estudos dos sexos e gêneros
até da Psicologia, para entender a relação entre genros e noras com suas sogras, já
foram descritas, além de outras que ainda carecem de desenvolvimento, o foco aqui
é sobre as estratégias discursivas presentes no tipo de humor analisado. Portanto, a
análise se restringe ao estudo do discurso e seus campos, embora haja um
cruzamento freudiano-marxista entre Pêcheux e Gregolin na ligação do estereótipo
com a mente e os fatores históricos deste para produzirem sentido.
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O principal fator da estereotipia, qualquer que seja, é a generalização. Por
exemplo, em um dado grupo A, uma parcela A’ com uma característica x qualquer
pode compartilhá-la (a característica) com quaisquer outros grupos (B, C, D...) ou
parcelas (B’, C’, D’...) destes. Entretanto, por conta de fatores aleatórios que tornem
o grupo A diferente ou destacado dos demais, temos a tendência de apenas notar a
característica x como inerente ao grupo A, que não lhe é exclusiva, tampouco da
parcela A’. Dessa forma, algumas sogras que se comportaram da forma que, hoje, o
estereótipo das sogras sugere, tornaram-se a fonte da generalização de todas as
sogras, conforme vemos nas piadas a elas referentes. Esse é o viés da confirmação,
descrito por Skinner (1948), psicólogo e pesquisador. Nem todas as sogras agem
conforme o estereótipo, mas só se destacam os eventos que comprovam a
estereotipia. Esse é o mesmo princípio da superstição e do preconceito.
Michel Pêcheux, entre 1977 e 1982, refletiu sobre o contexto das Ciências
Humanas, além de analisar as bases epistemológicas que possibilitaram o
surgimento da Análise do Discurso. Para isso, focou no papel da linguística “nas
Ciências Humanas, nas suas crises, nas suas conquistas e na contribuição que a
ciência da linguagem traz ao campo da AD” (GUERRA, 2009). Com isso em mente,
entendemos o que Pêcheux chama de “tripla entente” (Saussure-Marx-Freud) que
sustenta todo o seu estudo. Para Gregolin et al.(2001, p. 01), [...] essa tríplice traz
consequências: a forma primordial do discurso é linguístico-histórica, tem origem na
História para gerar sentido, enquanto a “forma do sujeito do discurso é ideológica,
assujeitada, não psicológica, não empírica; na ordem do discurso há o sujeito na
língua e na História” (GREGOLIN, 2001; GUERRA, 2009)
É no domínio da historicidade que vamos inscrever a reflexão sobre a questão
da materialidade da linguagem, que considera dois aspectos: o linguístico e o
histórico, como indissociáveis no processo de produção do sujeito do discurso e dos
sentidos que o significam, o que possibilita afirmar que o sujeito é um lugar de
significação historicamente constituído. Pela noção de interpretação desenvolvida e
pela consideração de que sujeito e sentido são constituídos pela ordem significante
na história, ficam visíveis as relações entre sujeito, sentido, língua, história,
inconsciente e ideologia (ORLANDI, 1996).
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3 Procedimentos metodológicos
Para analisar a discursividade no gênero humorístico “piadas de sogra” e
verificar os fatores sócio-históricos nelas impregnados, estudamos o corpus que
será apresentado posteriormente, composto por sete (7) piadas sobre “sogra”, as
quais foram escolhidas pelo critério da abrangência junto ao público, coletadas da
internet, especificamente do site Piadas On-Line (www.piadasonline.com.br) e
passaram por um estudo de base analítico-interpretativo, sustentado por
pressupostos teóricos da Análise do Discurso segundo Pêcheux, seguindo pelos
gêneros do discurso de Bakhtin e de conceitos importantes descritos por
Charaudeau e Maingueneau.
Para identificar e analisar os efeitos de sentidos que emergem das piadas de
sogra e, dessa forma, expor os enunciados operadores que emergem de sequências
discursivas, foi utilizado o dispositivo matricial, haja vista esse possibilitar a
Nconfiguração de uma matriz de análise discursiva que mapeia “[as] ocorrências das
regularidades no todo do corpus, com vistas a uma organização distintiva da
enunciação em análise” (SANTOS, 2004, p. 114).
3.1 Corpus
Piadas
Achando a faca – Piada 01
Dois amigos conversando:
- Rapaz, você não é de ver que ontem fui procurar a minha faca e quando a
encontrei estava enfiada na barriga da minha sogra!
-Caramba, não acredito! Disse o amigo.
- Quem não acredita sou eu. Foi a primeira vez que consegui encontrar algo no lugar
que deixei!
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Nessa piada, o efeito de humor é gerado pela quebra de expectativa ao notarmos
que o lugar onde a faca foi deixada pela última vez era no corpo da sogra,
assassinada pelo genro.
Sogra estrela – PD 02
O genro chega perto da sogra e a surpreende com a seguinte frase:
“Ai sogrinha, gostaria muito que a senhora fosse uma estrela!”
“Quanta gentileza, genrinho”. Por que você falou isso?
“Porque a estrela mais próxima está a milhares e milhares de quilômetros da Terra”.
Em PD 02, quando acreditamos que o genro estava elogiando a sogra, percebemos
que ele, na verdade, quer distância astronômica da mãe de sua esposa.
Cortando o rabo do cachorro – PD 03
O sujeito leva o cachorro ao veterinário
-Quero cortar o rabo do meu cachorro!
O veterinário, acostumado a esse tipo de serviço, obedece calado. Vinte minutos
depois o sujeito está de volta com o cachorro.
-Pronto, meu senhor! Aqui está!
-Para aí! Eu mandei cortar o rabo, mas o senhor ainda deixou um pedaço!
-Se eu cortar o rabo todo, seu cachorro vai ficar horrível! – defende-se o veterinário.
-Não me interessa! Quero que corte tudinho!
-Tudo bem, tudo bem! Concorda o médico. – Mas posso ao menos saber o motive
da implicância com o pobrezinho?
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-Implicância nenhuma, doutor!. É que minha sogra vai almoçar em casa no próximo
domingo, e eu não quero ver nenhuma manifestação de alegria!.
A cauda do cão, sempre manifestando suas emoções, é retirada para não fazer a
sogra pensar que é querida por qualquer ser vivo, humano ou não.
O melhor amigo do homem – O cachorro – PD 04
Senhor Manuel ia andando com um caixão sobre um carro-e-mão, com um
cachorrinho amarrado com uma corda e uma fila com mais de 500 pessoas atrás.
Um homem o parou no meio da rua e lhe perguntou:
_ Quem foi que morreu, senhor Manuel?
- Minha sogra.
- Morreu de quê?
- Foi esse cachorrinho que a mordeu!!
- Mais que depressa, o homem lhe perguntou: “ – O senhor me empresta esse
cachorrinho?” Ao que ele lhe respondeu:
- Entra na fila!
Nessa piada, inicialmente, pensamos que as 500 pessoas que seguem o caixão são
parentes e amigos lamentando a morte da mulher, mas são apenas pessoas
esperando na fila para usufruir do cão que matou uma sogra.
O Livro – PD 05
A mulher pergunta ao seu marido:
– Amor você viu onde esta meu livro de como viver 100 anos?
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O marido responde:
– Toquei fora.
A esposa espantada pergunta:
– Mas por quê?
Ele responde:
– É que sua mãe vem nos visitar e não quero que ela leia essas coisas.
O efeito de humor é gerado quando testemunhamos o medo do marido acerca da
possibilidade de a sogra, aprendendo as técnicas do livro, viver até 100 anos.
Relógio Assassino – PD 06
A mulher comenta com o marido:
- Querido, hoje o relógio caiu da parede da sala e por pouco não bateu na cabeça da
mamãe...
- Maldito relógio! Sempre atrasado...
O homem lamenta emotivamente o fato de o relógio, atrasado nas horas, também
ter atrasado na queda, “errando” a cabeça da sogra.
A morte da sogra – PD 07
O cara chega pro amigo e fala:
- Minha sogra morreu e agora fiquei em dúvida: não sei se vou trabalhar ou vou ao
enterro da velha...O que você acha?
E o amigo:
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- Primeiro o trabalho, depois a diversão!
A sogra falecida é considerada um alívio e diversão para o genro que (1) não
prioriza o enterro da sogra perante o trabalho e (2) vê apenas o trabalho como
essencial, como uma responsabilidade.
3.2 Matriz com as sequências discursivas (SD) e enunciados-operadores (EO)
SD1- [...] - Quem não acredita sou
eu. Foi a primeira vez que consegui
encontrar algo no lugar que
deixei!
EO1- A faca
estava justamente onde
ele a havia deixado.
PD1- Faca –
crueldade e indiferença
SD2- [...] “Porque a estrela
mais próxima está a milhares e
milhares de quilômetros da Terra”.
EO2- A distância
da estrela da Terra
PD2-
Aversão/Repulsa –
desapreço,
SD3- [...] - Implicância
nenhuma, doutor!. É que minha
sogra vai almoçar em casa no
próximo Domingo, e eu não quero
ver nenhuma manifestação de
alegria!.
EO3- Negação à
alegria diante da sogra
PD3- Negação –
crueldade, ódio, repulsa
SD4- [...] “ – O senhor me
empresta o cachorrinho?” Ao que ele
lhe respondeu:
- Entra na fila!
EO4- A
necessidade de se
esperar na fila
PD4- Desejar a
morte “acidental” da
sogra – ódio, crueldade.
SD5- [...] – É que sua mãe
vem nos visitar e não quero que ela
leia essas coisas.
EO5 - O não
desejo de que a sogra
lesse o livro sobre tal
tema
PD5- Impedir
longevidade da sogra:
ideologia de
superioridade, ódio,
imagem de algoz,
antagonista..
SD6 - [...] - Maldito relógio!
Sempre atrasado...
EO6 –
Manifestação de raiva
pelo relógio nunca
PD6- Desejo que
o relógio caia e mate a
sogra: crueldade, ódio.
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trabalhar direito. Demonstração de
emoção sobre o relógio,
não sobre a pessoa., .
SD7- “[...] não sei se vou
trabalhar ou vou ao enterro da velha.
O que você acha?” E o amigo:
Primeiro o trabalho, depois a
diversão!
EO7– Opção pelo
trabalho, em vez da
diversão
PD7- Morte da
sogra: Alívio,
entretenimento,
ideologia de ridicularizar
3.3 Análise
Por todo o corpus analisado, as piadas variam entre a morte das sogras, por
parte dos genros (PD01) ou não (PD04 e PD07), o desejo de morte da sogra (PD05
numa certa medida e PD06) e até demonstrações de desapreço pela mesma,
sempre em grandes medidas (PD02 e PD03).
Nas piadas que tratavam da morte ou do desejo que a sogra morresse, o
efeito de humor aparece na quebra da expectativa no momento em que a piada
apresenta a indiferença (PD01) do genro com a morte da sogra, e até a felicidade
(PD07) quando isso acontece, ou infelicidade quando não acontece (PD06). Em
outro caso (PD04), a quebra de expectativa está no momento em que percebemos
que a fila que segue o genro e o caixão não é de pessoas lamentando o falecimento
de alguém, mas é uma fila de espera para fazer uso do cão que “mata sogras”. E
nas piadas que tratam “apenas” do desapreço pela sogra, vão desde querer a sogra
distante (PD02), negá-la de qualquer demonstração sentimental positiva (PD03) até
evitar sua longevidade (PD05).
O gênero de piadas de sogras possui todas as características do
assujeitamento de figuras indesejáveis. Morte, desprezo, ridicularização e
generalização (passo primordial da estereotipia), por exemplo, também estão
presentes no gênero de piadas de português, entre outros gêneros de piada focados
em atingir estereótipos indesejáveis.
Partindo do viés da confirmação de Skinner e da formação ideológica de
Pêcheux, forma-se a estereotipia das sogras, e neste contexto e condição de
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produção temos a formação discursiva. O discurso, que se sustenta no próprio
estereótipo das sogras, produz efeito de humor ao se ligar à cultura popular e ao
lugar-comum sobre as sogras, num interdiscurso entre a imagem negativa destas
com a ideologia de depreciação daqueles(as) assujeitados(as) por um estereótipo,
demovendo-as para a condição de dispensáveis, risíveis e “megeras”.
A ideologia de depreciação é bem demonstrada quando analisamos as
sequências discursivas e como elas se comunicam com os enunciados-operadores.
Essa ligação não seria possível sem o contexto, isto é, sem a ciência prévia do
estereótipo. Na piada 01, a quebra de expectativa da surpresa (EO1)do personagem
sobre o local onde encontrou o utensílio (SD01) não faria sentido se o estereótipo
não estivesse presente na mente do leitor, isto é, seria até possível compreender
quem deu a facada, mas não provocaria o efeito de humor pretendido.
Baseado no corpus, não é possível desvelar os fatores sócio-históricos, mas,
pelo viés da confirmação de Skinner e pelo conceito de assujeitamento de Pêcheux,
é possível encontrar a face linguística destes fatores. Poucos dados foram
registrados sobre a relação nora/genro:sogra, pelo menos no que diz respeito ao
convívio social. Mas, como disse Gregolin, a forma primordial do discurso é tanto
linguística quanto histórica, e tem base na História para fazer sentido, ao passo que
a “forma do sujeito do discurso é ideológica, assujeitada, não psicológica, não
empírica; na ordem do discurso há o sujeito na língua e na História” (Gregolin, 2001;
Guerra, 2009).
4 Considerações finais
Como vimos, embora pareça, até certo ponto, banal, o gênero de humor das
piadas de sogra possui fundações complexas e relação interdiscursiva interessante.
A singularidade do gênero reside na onipresença, e na imagem, das sogras por
todas as eras e culturas: razão pela qual este gênero parece escapar aos longos
braços da agenda politicamente correta, mesmo que compartilhe tantos fatores
ideológicos com faces mais controversas do humor e até mesmo com linhas de
pensamentos xenofóbico e/ou preconceituosos. Todas as gerações de genros, noras
e sogras estiveram, ou estarão, em algum ponto de suas vidas, “do outro lado”.
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Noras serão sogras e sogras já foram noras e é desta “dinâmica” que vem a
condição universal das sogras. Vem da antiga expressão, de autor desconhecido: “É
engraçado porque é verdade.”
O que se sabe, concretamente, é que a relação com as noras é, e sempre
será, inerente à condição humana e ao convívio familiar e, como disse Bakhtin,
todas as manifestações humanas estão sempre relacionadas com a utilização da
língua. Logo, por um certo viés, pode ser visto como natural que o gênero de humor
das piadas de sogra perdure tanto, ultrapassando as barreiras geográficas,
linguísticas e temporais para se espalhar por gerações, principalmente nas culturas
de maior concentração familiar. E é natural que a discursividade neste gênero esteja
tão próxima da psicologia, comumente corroborada pela linguística.
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