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PÁGINA 7 REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 2 - Número 1 | 1 o semestre de 2017 | p. 7 - 13 | http://insepe.org.br/revistainsepe | ISSN 2448-3451 PARÁ DE MINAS 894: “DEUS DÁ. O QUE FALTAR A SENHORA COMPLETA.” DENILSON FIUZA 1 RESUMO: Este artigo tem como objetivo contextualizar a representavidade da irmandade de Folia de Reis e São Sebastião do bairro Padre Eustáquio, a partir do olhar de um pesquisador filho dessa irmandade, resgatando a memória valorizando princípios éticos e estéticos e o potencial transformador da religiosidade popular que constituiu este folguedo,apresentando alguns aspectos que dão , sentido e dinamismo pertencente manisfestaçãoes culturais de africanidades mineiras. Palavras-chave: Folguedo.identidade .africanidade. INTRODUÇÃO Criada na década de 50 em torno de 1956 uma tradicional Festa de Folia veio e sempre esteve presente na Vila Celeste Império. Joaquina Pinto Fiuza à matriarca: casada com Modesto Pinto Fiuza foi mentora das festas de Moçambique e Reisado. Filhos : Olga Pinto Fiuza, Nair Pinto Fiuza, Maria Pinto Fiuza, Geraldo Pinto Fiuza, Mário Pinto Fiuza, Fausto Pinto Fiuza, Jair Pinto Fiuza, Valdir Pinto Fiuza, José Pinto Fiuza, Jeová Pinto Fiuza. No terceiro ano foi incorporado pelo Jeová a folia de São Sebastião - em 1964 Jeová Pinto Fiuza converteu-se para religião adventista do sétimo dia . Márcio Pinto Fiuza pré adolescente na época conhecedor de toda religiosidade da irmandade ofereceu-se para ajudar a festa. Joaquina pergunta: ‘’Você dá conta meu filho?’’ Márcio responde: Deus dá! O que faltar a Senhora completa. Senhor Ramiro era tirador da folia de 1964 a 1969 e Márcio na sua pré adolescência tomava conta durante todo esse tempo, Mário Pinto Fiuza foi o Capitão regente do Moçambique. Joaquina Pinto Fiuza faleceu em 1969 realizada em ter obtido êxito por permanecer junto ao sagrado perante a vida. A Irmandade silenciou. Em seguida faleceu Senhor Ramiro. José, mais conhecido como ‘’Zé galego’’, era capitão e Geraldo, o ‘’IÁ’,era fé de bandeira. Geraldo e José tinham afinidade e proximidade com Capitão Ciriaco, mesmo porque Joaquina tinha sido escolhida para ser madrinha de batismo de Antônio Jorge Muniz, sendo coroado como príncipe da irmandade do Padre Eustáquio com 8 anos de idade. Por volta de 1970 foi estabelecido no Ciriaco uma diretoria respeitando os interesse de todos. O primeiro presidente da irmandade foi Geraldo Fiuza, Membro de guarda de bairro Padre Eustáquio e amigo próximo dos Ciriacos . A convite da capitania , uma vez que este já possuía bastante conhecimento em relação ao funcionamento de uma irmandade, podendo assim contribuir de forma mais efetiva para com o Ciriacos.(Andrade Júnior, Abebal de. II. Dellamore, Carolina.) Jeová decidiu voltar em 74 com as atividades e fica no comando como Capitão Mor, junto o bastão característico é um dos símbolos marcantes do Moçambique. Este Bastão da paz é passado para seu sucessor após a morte para o comando da Irmandade. Nas orações dentro da sede começando com o Pai Nosso seguido de Ave Maria e Salve Rainha o ritual chegava até os corações te todos os foliões. Mestre de canto Jeová Pinto Fiuza depois de todo ritual com seu apito característico de todo Capitão Mor dava como aberto a Folia de Santos Reis de 24 de dezembro a 20 de Janeiro. Já vestidos com as roupas de Reis os três monarcas com suas particularidades vermelha, preta e rosa junto com as máscaras, coroas, manguaras, luvas de fronte ao presépio esperando o tocar contagiante da sanfona de Jair Pinto Fiuza, juntamente com o cavaquinho de Valdir Eustaquio Alves que sempre esteve desde o

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pará de Minas 894: “deus dá. O que faltar a senhOra cOMpleta.”

DENILSON FIUZA 1

resuMO: este artigo tem como objetivo contextualizar a representavidade da irmandade de folia de reis e são sebastião do bairro Padre Eustáquio, a partir do olhar de um pesquisador filho dessa irmandade, resgatando a memória valorizando princípios éticos e estéticos e o potencial transformador da religiosidade popular que constituiu este folguedo,apresentando alguns aspectos que dão , sentido e dinamismo pertencente manisfestaçãoes culturais de africanidades mineiras.Palavras-chave: Folguedo.identidade .africanidade.

intrOduçãOCriada na década de 50 em torno de 1956 uma tradicional Festa de Folia veio e sempre esteve presente na Vila Celeste Império.

Joaquina Pinto Fiuza à matriarca: casada com Modesto Pinto Fiuza foi mentora das festas de Moçambique e Reisado.filhos : Olga pinto fiuza, nair pinto fiuza, Maria pinto fiuza, geraldo pinto fiuza, Mário pinto fiuza, fausto pinto fiuza,

Jair Pinto Fiuza, Valdir Pinto Fiuza, José Pinto Fiuza, Jeová Pinto Fiuza. No terceiro ano foi incorporado pelo Jeová a folia de São Sebastião - em 1964 Jeová Pinto Fiuza converteu-se para religião adventista

do sétimo dia . Márcio Pinto Fiuza pré adolescente na época conhecedor de toda religiosidade da irmandade ofereceu-se para ajudar a festa.Joaquina pergunta:‘’Você dá conta meu filho?’’Márcio responde:Deus dá! O que faltar a Senhora completa.Senhor Ramiro era tirador da folia de 1964 a 1969 e Márcio na sua pré adolescência tomava conta durante todo esse tempo,

Mário Pinto Fiuza foi o Capitão regente do Moçambique. Joaquina Pinto Fiuza faleceu em 1969 realizada em ter obtido êxito por permanecer junto ao sagrado perante a vida.

A Irmandade silenciou. Em seguida faleceu Senhor Ramiro.José, mais conhecido como ‘’Zé galego’’, era capitão e Geraldo, o ‘’IÁ’,era fé de bandeira.Geraldo e José tinham afinidade e proximidade com Capitão Ciriaco, mesmo porque Joaquina tinha sido escolhida para ser

madrinha de batismo de Antônio Jorge Muniz, sendo coroado como príncipe da irmandade do Padre Eustáquio com 8 anos de idade.Por volta de 1970 foi estabelecido no Ciriaco uma diretoria respeitando os interesse de todos.

O primeiro presidente da irmandade foi Geraldo Fiuza, Membro de guarda de bairro Padre Eustáquio e

amigo próximo dos Ciriacos . A convite da capitania , uma vez que este já possuía bastante conhecimento

em relação ao funcionamento de uma irmandade, podendo assim contribuir de forma mais efetiva para

com o ciriacos.(andrade Júnior, abebal de. ii. dellamore, carolina.)

Jeová decidiu voltar em 74 com as atividades e fica no comando como Capitão Mor, junto o bastão característico é um dos símbolos marcantes do Moçambique. Este Bastão da paz é passado para seu sucessor após a morte para o comando da Irmandade.

Nas orações dentro da sede começando com o Pai Nosso seguido de Ave Maria e Salve Rainha o ritual chegava até os corações te todos os foliões.

Mestre de canto Jeová Pinto Fiuza depois de todo ritual com seu apito característico de todo Capitão Mor dava como aberto a Folia de Santos Reis de 24 de dezembro a 20 de Janeiro. Já vestidos com as roupas de Reis os três monarcas com suas particularidades vermelha, preta e rosa junto com as máscaras, coroas, manguaras, luvas de fronte ao presépio esperando o tocar contagiante da sanfona de Jair Pinto Fiuza, juntamente com o cavaquinho de Valdir Eustaquio Alves que sempre esteve desde o

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começo da irmandade . Jair Pinto Fiuza com sua Sanfona acompanhado da caixa, pandeiros e reco-reco, dava inicio a reza cantada na sede, todos reunido é chegada à hora do Rei Belchior tirar a bandeira do presépio. Dando prosseguimento a ritualidade a bandeira é tirada do presépio para todos diante dela se benzer beijando-a e passando em suas cabeças, pendindo proteção na jornada.

A Folia de Reis e São Sebastião é uma manifestação cultural de caráter Religioso onde é representado pelos Três Reis Magos sendo guiados pela luz da estrela guia para encontro do Menino Deus, todos levavam em suas bagagem as ofertas ao Deus menino que nasceu para nosso bem. Criada no século XlX de origem Europeia , no Brasil tem a sua religiosidade e simbolismo na cultura com marcações de tambores por todo estado de Minas Gerais chegando no Brasil no final do período colonial. Sendo assim, em cada estado seus traços tem suas particularidade. Os Reis magos foram ao encontro de menino Jesus, saindo cada uma de suas respectivas cidades; Pérsia , Sábia e Arábia , encontrando em Oriente a caminho de Belém à procura de Deus menino que nasceu para nosso bem,ofertando Ouro Incenso e Mirra:

Ouro a tributo de deus.Mirra para santidade de deus.incenso para adora a deus.Folia de Reis e São Sebastião faz parte dos folguedos do ciclo natalino sendo distintos aos demais.Folia é caracterizada pela festa religiosa onde os participantes o têm como sagrado.Uma pedagogia de ensina através da ancestralidade, passando a tradição para todos que fazem parte da irmandade. Tendo em vista

a continuidade do trabalho com a identificação da cultura de raiz Africana pelo fato de ter a reza cantada, as máscaras dando sentido ao balanço do corpo no compasso das caixas ou tambores, fazendo analogia às culturas de matrizes africanas e afro Brasileiras. A folia de reis foi implantada como cultura européia no Brasil, sendo modificada de acordo com as diversidades culturais de cada estado.

Reis, I. d. (s.d.). suapesquisa.com. Acesso em 16 de janeiro de 2017, disponível em suapesquisa.com: http://www.suapesquisa.com/musicacultura/folia_reis.htm

No começo da jornada na década de 80, éramos três irmãos; Edvaldo Fiuza, Edilson Pinto Fiuza e Denilson Fiuza. No dia 24 de dezembro Vera Lúcia Pinto Fiuza, nossa Mãe ‘’apalavrada’’ com Seu Tio Jeová Pinto Fiuza esperava ele passar de carro – esperávamos anciosos! A recomendação era para ajudar no que fosse possível. Assim aprendemos a oralidade e corporeidade na irmandade; orações da bandeira e presépio, adorações no encontro com outras folias Reis. Histórias que eram representados pelos mascarados junto com a religiosidade daquele que levava a bandeira de santos reis ou são sebastião. Mais conhecidos como bastião e Velho com suas vestimentas vermelha e preta tinha que levar com sigo todo conhecimento adquirido ao longo dos anos, mesmo porque não era qualquer um folião na família que levava a bandeira.

A pluralidade faz surgir um país feito a muitas mãos, onde todos juntos, vindos de tradições diversas,

com distintas formas de arrumar o mundo, com inúmeras concepções do belo, conseguem criar uma

comunidade plena da consciência da importância da participação de cada um na construção do

bem comum. Todos podem ser diferentes mas não absolutamente necessários. Só com essa união

na diversidade se constrói um mundo novo, onde se respeita a maneira de cada um falar com Deus,

de invocá-lo por nomes e ritos adotados segundo a tradição de seu grupo, mas que determina toda a

organização e valores da comunidade.( Munanga, 2005, p.83)

No entanto, ao encontrarmos com outra folia, eles sim, tinham que fazer oração e saudação da bandeira junto com a troca sempre de joelhos não importando onde. Quaisquer perguntas feitas aos reis Gaspar ou Baltazar os mesmos não sabendo responder; Rei Belchior tinha como obrigatoriedade saber a resposta certa no que se referia Folia de Santos Reis.

A dança tradicional chamada de ‘’lundu compassiado ‘’ característica da guarda de caboclinho da Vila Operária Fazenda do Mato da Lenha’’, conhecido como região Oeste, mas precisamente Nova Cintra. Em 1964 na Guarda do Bairro Santo André onde Senhor Agenor que era da nossa primeira Guarda de Moçambique, batendo as caixas na casa desse folião; quando os Três reis pediram o ‘’lundu compassiado’’ para dançar, Senhor Agenor gritou no terreno:

É para’’ todo mundo’’gente! Assim o todo mundo ficou imortalizado na Folia da Vila Celeste Império umas das danças tradicionais de nossa folia.

Fato enriquecedor com experiências inesquecível e pedagógica diante das trocas de conhecimentos nos valores civilizatórios como conferimos em Pereira :

As Festas populares , além do caráter sagrado,são eventos pedagógicos que evoluem pessoas de diferentes

gerações e localidades ,abrindo a cena também para os contatos entre classes sociais distintas . As inter-

relações entre velhos e jovens ,crianças e adultos ,os da casa e os visitantes ,os pobres e os de classe

média ilustram um lugar e um período onde se estabelecem os intercâmbios de informações de sentido

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iniciático e social . Durante a festa ,os atos de ensinar e aprender adquirem um sentido público; os devotos

coordenam as lições do sagrado e, de igual modo, os processos ensino-aprendizagem se concretizam nos

trabalhos comunitários que garante a realização da festa. (Pereira, 2003, P. 17)

DESENVOLVIMENTO

O sagrado vem à tona nas festas da Folia de Reis quanto devotos prostados diante a bandeira com seus olhos marejados rodando-a em suas cabeças e passando-a na mão de cada um integrante da família para que, haja até um simples toque na bandeira ou até mesmo nos mascarados, isso é comovente porque os mais velhos sempre ao lado de seus filhos, netos vai orientando a importância da missão de cada um integrante nos valores civilizatórios através da oralidade. Forma-se um círculo ao mesmo tempo em que Mestre de canto com sua toalha no pescoço soprando sua apito suavemente dá inicio a reza cantada ,dando todas as orientações através do canto, após as saudações é chegado momento para que o devoto(a)fique com a bandeira estendida na altura da cintura de fronte aos mascarados ,assim todos os integrantes fazem oferta para menino Jesus ,Maria e José . O tempo todo prostados diante a bandeira é chegada hora de fazer as orações.

‘’Deus te salva bela estrela porque sempre cristalina, pelo clarão desta estrela se sabe onde está o menino. Nós que vimos sua estrela a brilhar no Oriente e viemos adorar o Senhor de toda gente.No portal da estrebaria fez pousada a estrela guia e encontramos na lapinha com Jesus ,José e Maria, e prostados os três monarcas cada um com seu tesouro para adorar a Deus menino trazemos mirra ,incenso e Ouro.

Cantando, dançando e muitas vezes chorando, de fato sempre acontece com todos os mascarados –é inevitável a comoção durante todo ritual.Tendo como continuação a saudação ao Soldado combatente São Sebastião após dia 6 de janeiro às 00.00 horas era dado como oficial a troca de bandeira de Santos Reis para São Sebastião pela Rainha Nair Pinto Fiuza.

‘’De Belém partimos para Oliveira à procura do mastro São Sebastião amarrado de pé e mão em um tronco de Figueira as margens do rio Jordão.

Essa flecha no peito é sinal de respeito.Essa flecha na barriga foi combate aos inimigos.Essa fecha no joelho corre por terra seu sangue vermelho.Essa fecha no chão foi deixada de recordação.Viva São Sebastião, Viva São Sebastião, Viva São Sebastião’’!Essa é uma das orações da Folia de Santos Reis e São Sebastião da família Fiuza, localizada no Bairro Padre Eustáquio,

tendo inicio em 1956; sendo que naquela época ,esse bairro tinha o nome de Vila Celeste Impériotodos os anos o mesmo comprometimento, sempre vinha às expectativas de como seria o ano seguinte e o ciclo natalinho nem

tinha acabado. A citação a baixo comprova essa afirmação:

A cultura popular carrega essa ressonância afirmativa por causa do peso da palavra’’popular’’. E, em

certo sentido, a cultura popular tem sempre sua base em experiências, prazeres , memórias e tradições

do povo. Ela tem ligações com as esperanças e aspirações locais, tragédias e cenários locais que são

práticas e experiências cotidianas de pessoas comuns. (Hall, Start, 2003, P.340)

Fica explicito as pluraridades de visões a respeito da folia de Reis, sendo notório as diversidades de exemplos no campo científico. Asseverar sobre o assunto será uma prática perigosa. Sabe-se que na abordagem do assunto para as crianças têm um tratamento tipificado como forma lúdica.

Ao contrario do profano o sagrado tem usa identidade marcante na Folia Reis junto com solidariedade. Isto é, nas horas de descanso, em círculos fazemos nossas orações com agradecimento à jornada. No contexto da circularidade cultural em momentos descontraídos todos podem sentar para uma conversa informal. Os mascarados sempre sentados em lugares estratégicos para não serem identificados. Mas para quem acompanha sabe que todos têm suas peculiaridades.

‘’Isaías7/14 ‘’profetiza a chegado do salvador nascido de Maria, jovem pura e temente a Deus‘’Eis aquele que dizia o Profeta Geremias, 25 de dezembro era nascido Deus messias. Quando o Anjo anunciou, aquela estrela

clariou, na gruta sagrada era nascido o salvador. Nós viemos do Oriente a caminho de Belém à procura de menino Jesus que nasceu para nosso bem. Aqui chegamos prostamos e adoramos, abrimos nossos tesouros e fizemos nossas orfertas; Ouro, Incenso e Mirra.’’

‘’No antigo testamento estava a vinda do salvador. Tempo de Adão até Noé, Noé até Abraão, Abraão até Moises. Já passou 2017 anos e o divino salvador nasce no coração de cada Cristão ao saber que ele sim é o salvador ,nasce na fé,no desencontro,na virtude moral,na tristeza e felicidade e está em tudo momento na Irmandade. Essa é nossa festa de folia ou no encontro com outra folia. Na saída ou entrada para cumprir nossa missão, com joelhos no chão em qualquer lugar; na chuva , na rua onde for a missão não pára.’’

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Isso porque não estamos lidando com uma cultura. É mais que isso, é devoção ao sagrado, comprometimento , fé, religiosidade para que sempre esteve na mesma proposta .

Não são três palhaços - é três reis que representam aquela missão a procura do menino Jesus. Depois os reis dançavam e cada folia tinha sua dança inconfundível - marca registrada como característica ,a vestimenta ,canto ,batida da caixa ,pandeiro e instrumentos de corda. Na folia do Bairro padre eustáquio tinha o fragote, Fragote cantado,serrador ,afogado,todo mundo ‘’lundu compassiado ‘’,quando ajoelhado a qualquer presépio era obrigação fazer a oração e ofertar .

O vigor dessa atividade poética aponta para a articulação de uma rede comunicativa que permite aos

representantes das culturas populares estabelecer leituras de suas experiências sociais. A cotidianidade

da comunicação faz com que se sintam relacionados à história do seu grupo, além de assegurar-lhes que

essa história pode ser apresentada de diferentes maneiras (nas cantigas ou narrativas ). No que tange

à vivência do sagrado, a realização da festa institui um momento forte de socialização e de exercício

das relações ensino-aprendizagem. Referimo-nos à festa gerenciada pelos grupos menos favorecidos,

que são exilados das instâncias de poder à medida que se acentua o seu estado de marginalização

socioeconômica. A festa organizada por esses segmentos populares é escrita como um livro de muitos e

contraditórios capítulos, através dos quais é possível apreender os conflitos de classes que se exprimem

de modo específico na linguagem da festa . O conflito decorrente da distribuição da autoridade, por

exemplo, é traduzido pelas tensões entre as lideranças populares (contendas simbólicas e reais entre

capitães no congado ou entre mestres nas folias de reis) e entre os grupos econômica e etnicamente

diferenciados (pobres versus ricos, negros versus brancos, respectivamente). Os grupos de devotos se

encontram na festa, vivenciando-a como herança recebida dos ancestrais e como tradição veiculadora

de uma certa ordem social. No espaço ritual, o encontro é revestido pelas forças de coesão e da

dispersão: os grupos, por um lado, reafirmam os laços de pertencimento e solidariedade; por outro,

confronta-se para definir quem assume projeção no quadro da hegemonia local. ( Pereira, 2007,p. 85)

cOnsiderações finais A piscomotricidade de forma lúdica evolvendo a dança, batidas de caixas, cantos ,os movimentos das mãos sincronizados com

o balanço do corpo, a batida firme dos pés no chão entoados com o coro harmônico, tudo de forma descontraída para integração da personalidade da criança e adolescente para que seu desenvolvimento cognitivo não seja prejudicado.

As danças são atividade de alto impacto para quem veste a roupa do sagrado. Para cada missão são em torno de 23 horas de empenho no ciclo natalino. Falar no que tange o sagrado é afirmar aspecto da religiosidade popular. O reconhecimento da Folia de reis como patrimônio imaterial de Minas Gerais é valorização daquela religiosidade estereotipada em menção as culturas marginalizadas.

A população afro-descendente no Brasil tem característica culturais muito marcantes , que precisam ser mais estudadas e entendidas já que a contribuição dos inúmeros países africanos é muito significativo para todos os setores da vida brasileira, quer se relacione à linguagem,à vida familiar,ao sistema simbólico,à comunidade religiosa, à produção do saber (Ciência) ou à transmissão do saber (Educação). ( Munanga, 2005, p. 83)

Em 2015, faleceu Jeová Pinto Fiuza. A irmandade silenciou novamente.

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registrO icOnOgráficO

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Sede no Padre Eutáquio – Vila Celeste Império 1940

Três Reis, Capitão Jeová Pinto Fiuza e sr° Destério

Sanfoneiro Jair Pinto Fiuza

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Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Valdir Eustáquio Alves

capitão Jeová pinto fiuza

folia de reis e são sebastião

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REFERêNCIA BIBLIOGRÁFICA

HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais/ Stuart Hall – Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil,2003.

MUNANGA, organizador.-[ Brasília ]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Contiunuada, Alfabetização e Diversidade,2005.

Organizadores: Adebal de Andrade Júnior, Carolina Dellamore; 1 ed.- Contagem: Irmandade do Rosário Os Ciriacos,2015.

PEREIRA, Edimilson de Almeida. Malungos na escola: questões sobre culturas afrodescedendentes e educação/ Edimilson de Almeida Pereira – São Paulo: Paulinas, 2007. ( Coleção em

foco. Série educação, história e cultura)

nOta de fiM

1 Pós Graduando em Gestão Pública Municipal pela UFSJ,Graduando em Pedagogia,Graduado em Logística.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

José Pinto Fiuza – Caboclinho em 1946 - Vila Celeste Império

Joaquina Pinto Fiuza 1946 Vila Celeste Império

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