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THAIS VANESSA LARA PATRIMÔNIO, AUDIOVISUAL E EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE SOBRE OS FESTIVAIS INTERNACIONAIS DE CINEMA DE ARQUIVO − O RECINE E O ARQUIVO EM CARTAZ Trabalho de Conclusão apresentado ao Centro Lucio Costa/CLC-IPHAN, Centro de Categoria 2 sob os auspícios da UNESCO, no âmbito do 1º Curso de Capacitação para Gestores de Bens Culturais. Rio de Janeiro 2017

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THAIS VANESSA LARA

PATRIMÔNIO, AUDIOVISUAL E EDUCAÇÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE OS FESTIVAIS INTERNACIONAIS DE

CINEMA DE ARQUIVO − O RECINE E O ARQUIVO EM CARTAZ

Trabalho de Conclusão apresentado ao Centro Lucio

Costa/CLC-IPHAN, Centro de Categoria 2 sob os

auspícios da UNESCO, no âmbito do 1º Curso de

Capacitação para Gestores de Bens Culturais.

Rio de Janeiro

2017

As opiniões e conceitos emitidos neste trabalho são de inteira responsabilidade de seu autor, não

refletindo, necessariamente, o pensamento do Centro Lucio Costa/CLC-IPHAN, Centro de

Categoria 2 sob os auspícios da UNESCO.

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte e para fins não comerciais.

Como citar:

LARA, Thais Vanessa. Patrimônio, Audiovisual e Educação: Uma análise sobre os Festivais

Internacionais de Cinema de Arquivo − O REcine e o Arquivo em Cartaz. Rio de Janeiro: Centro

Lucio Costa-CLC. 1º Curso de Capacitação para Gestores de Bens Culturais, 2017.

AGRADECIMENTOS

- À equipe do Centro Lucio Costa pela oportunidade de participar do curso e por

proporcionar esse tempo tão valoroso de troca de conhecimento entre pessoas de países tão

semelhantes e ao mesmo tempo tão distintos. - Às companheiras e aos companheiros do curso por compartilharem suas experiências com

os trabalhos de gestão e preservação do patrimônio e pelos belos dias vivenciados no Rio

de Janeiro. - Aos professores do curso por compartilharem suas aulas e experiências que contribuíram

para o desenvolvimento desta pesquisa. - Às queridas Anna Paula e Aline Bezerra pelos brigadeiros, cafés & cia.

- A Sandra Branco e Marlene Custódio pela agradável noite na academia. Saímos todos

formados!

- A todos os funcionários do Arquivo Nacional que me receberam calorosamente, em

especial aos meus entrevistados: Ana Moreira, Antonio Laurindo, Beatriz Monteiro,

Claudia Tebyriçá, Clovis Molinari Jr., Fátima Taranto, Heliene Nagasava e Valéria Morse. - A Antonio Laurindo, pelos inúmeros e-mails e conversas, e por sua extrema generosidade

em me auxiliar em tudo, durante a pesquisa no Arquivo Nacional. - A Clovis Molinari Jr. por compartilhar comigo a história do REcine.

- A Hernani Heffner pela esclarecedora entrevista. É sempre um prazer ouvi-lo.

- A Ricardo Favilla por responder prontamente meus e-mails e pela entrevista.

- A Dani amiga paulista-carioca que chegou para ficar.

- À FAPESP por liberar minha participação no curso e por permitir que eu me dedique a

pesquisar o patrimônio audiovisual. - E finalmente ao Rio de Janeiro que continua sempre lindo!

3

RESUMO

Esta pesquisa teve por finalidade identificar, descrever e analisar o processo de valorização

do acervo audiovisual do Arquivo Nacional, por meio dos festivais de cinema REcine e

Arquivo em Cartaz. Buscamos entender como os conceitos de patrimônio, audiovisual e

educação se relacionam nas atividades dos dois festivais. Para tanto, analisaram-se os

documentos administrativos – atas e relatórios − e de divulgação – fôlderes, catálogos e

revistas − dos festivais, e foram conduzidas entrevistas com curadores e funcionários do

Arquivo Nacional.

Palavras-chave: Arquivo Nacional; Patrimônio Audiovisual; REcine; Arquivo em Cartaz.

4

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 -‐ BANNER CONVITE AOS EDUCADORES – MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2016. ............................................ 77

FIGURA 2 – CARTA CONVITE -‐ MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2016. ....................................................................... 78

FIGURA 3 – TROFÉU BATOQUE .............................................................................................................................. 79

FIGURA 4 -‐ ABERTURA DO FESTIVAL ARQUIVO EM CARTAZ, 2015............................................................................. 80

FIGURA 5 -‐ MOSTRA COMPETITIVA, 2015. EXIBIÇÃO DO FILME “VERÃO DA LATA”. .................................................... 80

FIGURA 6 -‐ EXPOSIÇÃO RIO 1908: A CIDADE DE PORTOS ABERTOS, ESPAÇO BNDES. ............................................... 81

FIGURA 7 – EXPOSIÇÃO RIO 1908: A CIDADE DE PORTOS ABERTOS, ESPAÇO BNDES. ............................................... 81

FIGURA 8 – CONVIDADOS DO DEBATE “POR DENTRO DOS ARQUIVOS CINEMATOGRÁFICOS” : MAURO ................................ 82

FIGURA 9 – DEBATE “POR DENTRO DOS ARQUIVOS CINEMATOGRÁFICOS” ..................................................................... 82

FIGURA 10 – OFICINA TÉCNICA “NOÇÕES BÁSICAS DE CONSERVAÇÃO DE PELÍCULAS CINEMATOGRÁFICAS”, 2016. ........... 83

FIGURA 11 – OFICINA TÉCNICA “ O SOM NO CINEMA”, 2016. .................................................................................... 83

FIGURA 12 – EXPOSIÇÃO " O SÉCULO DO SAMBA ", ARQUIVO NACIONAL, 2016. ......................................................... 84

FIGURA 13 -‐ EXPOSIÇÃO " O SÉCULO DO SAMBA ", ARQUIVO NACIONAL, 2016. ........................................................ 84

FIGURA 14 -‐ HAROLDO COSTA, UM DOS HOMENAGEADOS, COM O TROFÉU BATOQUE NA SESSÃO DE .................................. 85

FIGURA 15 -‐ ENCERRAMENTO DO FESTIVAL ARQUIVO EM CARTAZ, 2016. ................................................................. 85

FIGURA 16 -‐ ESTUDANTES NA ENTRADA DO ARQUIVO NACIONAL, 2015. ................................................................... 86

FIGURA 17 – SESSÃO MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2015. .................................................................................... 87

FIGURA 18 – SESSÃO MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2016. .................................................................................... 88

FIGURA 19 – ALUNOS, MOSTRA ARQUIVO EM CARTAZ, 2016. .................................................................................. 88

FIGURA 20 – DIFUSÃO/REVISÃO -‐ SETOR DE IMAGEM EM MOVIMENTO, ARQUIVO NACIONAL. ....................................... 89

FIGURA 21 – DEPÓSITO DE PELÍCULAS -‐ SETOR DE IMAGEM EM MOVIMENTO, ARQUIVO NACIONAL. .............................. 90

FIGURA 22 – DEPÓSITO DE PELÍCULAS -‐ SETOR DE IMAGEM EM MOVIMENTO, ARQUIVO NACIONAL. .............................. 91

5

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 -‐ CATEGORIAS DA MOSTRA COMPETITIVA .............................................................................................. 39

QUADRO 2 -‐ FILMES EXIBIDOS NA MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2015. .................................................................. 54

QUADRO 3 -‐ FILMES EXIBIDOS NA MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA, 2016. .................................................................. 54

QUADRO 4 -‐ FILMES EXIBIDOS NA MOSTRA ARQUIVOS DO AMANHÃ, 2015. ............................................................... 56

QUADRO 5 -‐ FILMES EXIBIDOS NA MOSTRA ARQUIVOS DO AMANHÃ, 2016. ............................................................... 57

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ARQUIVO AUDIOVISUAL,

PATRIMÔNIO E EDUCAÇÃO 13

1.1 AUDIOVISUAL É PATRIMÔNIO? POR QUÊ? 16

1.2 EDUCAÇÃO AUDIOVISUAL? EDUCAÇÃO PATRIMONIAL? − UM OLHAR 19

CAPÍTULO II MUITO ALÉM DO DOCUMENTO ESCRITO 24

2.1 O ARQUIVO NACIONAL E AS ATIVIDADES EDUCATIVAS 24

2.2 O ACERVO AUDIOVISUAL 26

2.3 AS MOSTRAS DE CINEMA E A VALORIZAÇÃO DO ACERVO 29

CAPÍTULO III FESTIVAL DE CINEMA DE ARQUIVO NO BRASIL 33

3.1 O RECINE – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE ARQUIVO 34

3.1.1 A EXIBIÇÃO DE FILMES NO RECINE 36

3.1.2 AS PALESTRAS, FÓRUNS DE DEBATES, A REVISTA RECINE E AS OFICINAS DE VÍDEO 41

3.2 UM NOVO FESTIVAL, UMA NOVA PROPOSTA? 46

3.3 O ARQUIVO EM CARTAZ 47

3.3.1 A MOSTRA “ARQUIVO FAZ ESCOLA” 52

3.3.2 A MOSTRA “ARQUIVOS DO AMANHÔ 56

3.3.3 A REVISTA ARQUIVO EM CARTAZ 57

3.4 AÇÕES EDUCATIVAS OU EDUCAÇÃO PATRIMONIAL? UMA ANÁLISE SOBRE AS ATIVIDADES DO RECINE

E DO ARQUIVO EM CARTAZ 58

7

CONSIDERAÇÕES FINAIS 62

BIBLIOGRAFIA 64

APÊNDICE A -‐ PALESTRAS REALIZADAS DE 2004 A 2012 68

APÊNDICE B -‐ FÓRUNS DE DEBATES DO RECINE (2004-‐2014) 69

APÊNDICE C – TEMA DO RECINE, 2004 – 2014 74

APÊNDICE D -‐ FILMES PRODUZIDOS PELA EQUIPE DO ARQUIVO NACIONAL 75

APÊNDICE E – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO PARA AS ESCOLAS EPROFESSORES, ARQUIVO

FAZ ESCOLA 77

APÊNDICE F – FOTOGRAFIAS DO FESTIVAL ARQUIVO EM CARTAZ 79

APÊNDICE G – FOTOGRAFIAS DA MOSTRA ARQUIVO FAZ ESCOLA 86

ANEXO -‐ FOTOGRAFIAS DA COORDENAÇÃO DE DOCUMENTOS AUDIOVIOSUAIS E

CARTOGRÁFICOS 89

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INTRODUÇÃO

Este trabalho quer contribuir com os estudos sobre a difusão do patrimônio

audiovisual brasileiro. Nesse sentido, o objetivo desta monografia, em um âmbito muito

limitado, não é realizar um aprofundamento teórico em torno de conceitos tão

fundamentados e já estudados em suas unidades como o patrimônio, o audiovisual e a

educação. Mas sim apresentar por meio de um relato a união desses três conceitos

personificados pelas atividades dos Festivais Internacionais de Cinema de Arquivo −

REcine e Arquivo em Cartaz − que carecem de pesquisas.

Nos últimos anos, presenciamos um crescimento das atividades culturais em

instituições que têm por objetivo principal salvaguardar o patrimônio cultural brasileiro. O

Arquivo Nacional do Brasil mantém programas de difusão de seus acervos por meio do

atendimento ao público (base de dados, biblioteca, sala de consultas e visitas guiadas). No

caso do acervo audiovisual, a instituição realizou, entre 2002 e 2014, em parceria com a

Rio de Cinema Produções Culturais, o REcine − Festival Internacional de Cinema de

Arquivo que tinha por objetivo divulgar os acervos dos arquivos audiovisuais brasileiros

bem como incentivar a criação e difusão de obras produzidas, a partir de imagens de

arquivo. Durante esse período, foram desenvolvidas diversas atividades entre mostras,

fórum de debates, oficinas e a publicação da Revista REcine.

Em 2015, o Arquivo Nacional estabelece uma nova parceria com a produtora

cultural Universo Produção e lança o Festival Arquivo em Cartaz que conserva o mesmo

direcionamento do REcine, porém amplia a atuação no campo educativo com a Mostra

“Arquivo faz Escola”, Mostra “Arquivos do Amanhã” e as oficinas técnicas. Essas

mudanças serão o foco desta investigação, buscaremos entender como o patrimônio

audiovisual se relaciona com a educação por intermédio desses eventos.

9

A revisão bibliográfica

No campo acadêmico, as pesquisas sobre o patrimônio audiovisual brasileiro vêm

ganhando impulso nos últimos anos. Nesse sentido, destacamos duas teses: “Políticas para a

preservação audiovisual no Brasil (1995-2010) ou: “para que eles continuem vivos através

de novos modos de vê-los” de Laura Lindner, defendida, em 2013, na Universidade Federal

da Bahia; e “Em territórios do patrimônio cinematográfico: cinema, memória e

patrimonialização”, de Renata Soares, defendida, em 2014, no programa de Pós-Graduação

em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho de

Laura Lindner relaciona preservação audiovisual e políticas públicas e traz uma excelente

abordagem sobre o espaço destinado ao patrimônio nas políticas culturais. Já a pesquisa de

Renata Soares investiga a patrimonialização do cinema e apresenta uma análise sobre a

atuação de instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

e a Cultura (UNESCO) e a Federação Internacional de Arquivos de Filmes (FIAF).

É crescente, também, o número de pesquisas que se dedicam a investigar os

processos de gestão dos acervos audiovisuais. Na área da arquivologia, temos uma tese e

duas dissertações defendidas na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade

Estadual Paulista e na Universidade de Brasília: “Gestão arquivística na era do cinema

digital: formação de acervos de documentos digitais provindos da prática cinematográfica”

de Alessandro Ferreira Costa, de 2007; “Abordagens do documento audiovisual no campo

teórico da arquivologia” de Luiz Antônio Santana da Silva, de 2013; e “O arquivo

contemporâneo e os recursos da web 2.0: verificação do uso de folksonomias em acervos

eletrônicos digitais de imagem em movimento” de Sérgio Peçanha da Silva Colleto, de

2014.

Entretanto, os estudos relacionados às políticas de difusão direcionadas à educação1

nos arquivos audiovisuais2 ainda apresentam lacunas. As pesquisas existentes sobre os

2 Para mais informações sobre a Cinemateca Brasileira, ver: MATTOS

(2002); FUTEMMA (2006);

10

arquivos audiovisuais foram realizadas, na maior parte, por profissionais das instituições e

concentram-se sobre os trabalhos de preservação, catalogação e documentação. No caso do

Arquivo Nacional, temos as três dissertações: “Entre o passado e o futuro: limites e

possibilidades da preservação documental no Arquivo Nacional do Brasil” de Adriana

Lúcia Cox Hollós, de 2006; “Os cinejornais da agência nacional no sistema de informações

do arquivo nacional (sian) e no portal zappiens: contribuições para análise, descrição e

representação arquivística da informação” de Antonio Laurindo, de 2014; e “Da máquina

erudita à instituição arquivística: rupturas e continuidades nas relações entre pesquisa

histórica e técnicas de arquivo; o caso da reforma administrativa do Arquivo Nacional

(1958-1964)” de João Vicente Teixeira Buzzatti, de 2015.

No que se refere aos festivais REcine e Arquivo em Cartaz não localizamos

nenhuma pesquisa ou publicação que pondere o tema. Diante desse panorama, a

reconstituição dos fatos referentes à criação do REcine e do Arquivo em Cartaz foi

fundamentada em três fontes documentais, o site dos festivais, as publicações (catálogos,

fôlder e revistas) e os relatórios.

Sendo assim, devido à ausência de estudos prévios e de uma sistematização sobre as

atividades desses dois eventos, foi preciso realizar entrevistas com funcionários do Arquivo

Nacional e especialistas da área de preservação audiovisual. No Arquivo Nacional, a

pesquisadora entrevistou: Ana Moreira (editora de vídeos do Arquivo Nacional e

coordenadora da Oficina Lanterna Mágica); Antonio Laurindo (supervisor da Área de

Imagens em Movimento e curador do Festival Arquivo em Cartaz); Claudia Tebyriçá

(Núcleo de Educação e Capacitação Profissional do Arquivo Nacional); Clovis Molinari Jr.

(idealizador e curador do REcine, 2002 e 2011); Fátima Taranto (conservadora de

documentos audiovisuais e coordenadora das oficinas técnicas); Valéria Morse (Promoção

Institucional - Coordenação de Acesso e Difusão Cultural). Na Cinemateca do MAM-RJ

COELHO (2009); SOUZA (2009); CORREA.JR (2010); FOSTER (2010); LARA (2015). Sobre a

Cinemateca do MAM-RJ, ver: MENEZES (2009); QUENTAL (2010) e sobre os museus de imagem e som,

ver: MENDONÇA (2012).

11

entrevistei o conservador-chefe Hernani Heffner e por fim entrevistei Ricardo Favilla da

Rio de Cinema e um dos idealizadores junto a Clovis Molinari do REcine.

A metodologia utilizada foi com entrevistas abertas, e elaboramos para cada

entrevistado questões que relacionavam sua atuação nos festivais estudados e que usamos

para guiar nossas conversas. Entretanto, para alguns funcionários do Arquivo Nacional e

para Ricardo Favilla da Rio de Cinema, elaboramos e enviamos por e-mail um questionário

prévio com questões, por vezes mais técnicas, que orientariam também a entrevista.

Somente a entrevista realizada para Valéria Morse foi totalmente por e-mail, pois ela estava

de férias na semana em que foi realizado o estágio de pesquisa no Arquivo Nacional.

Convém pontuarmos que a única entrevista não gravada e realizada de maneira mais

informal foi com Ricardo Favilla. Esse fato ocorreu devido à pesquisa estar no início e o

encontro ter sido eventual, no entanto Favilla foi solícito e respondeu a todos os nossos

diversos e-mails.

A monografia será apresentada em três capítulos. O primeiro capítulo tem como

foco as reflexões sobre o audiovisual como patrimônio e sua relação com a educação.

Discutiremos, ainda, os conceitos sobre educação audiovisual e patrimonial.

No segundo capítulo, serão apresentadas as atividades educativas do Arquivo

Nacional e a formação do setor de audiovisual. Nesse sentido, descreveremos a estrutura do

setor e como as mostras de cinema auxiliaram na valorização do acervo.

Em seguida, o terceiro capítulo é dedicado à análise da formação dos festivais

REcine e Arquivo em Cartaz e sistematiza suas atividades de exibição e formação.

Por fim, segue aos capítulos os apêndices com as tabelas de palestras, fóruns de

debates, temas do REcine, filmes produzidos pela equipe do Arquivo Nacional, material de

divulgação do Arquivo em Cartaz e as fotografias do “Arquivo em Cartaz” e da mostra de

“Arquivo faz escola” de 2015 e 2016. O anexo contém as fotografias do setor de imagens

em movimento e dos depósitos de películas do Arquivo Nacional realizadas pela

pesquisadora durante o estágio na instituição.

12

CAPÍTULO I

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ARQUIVO

AUDIOVISUAL, PATRIMÔNIO E EDUCAÇÃO

A relação entre patrimônio e audiovisual, mais especificamente o cinema, já vem

sendo estudada por uma equipe multidisciplinar que transita pelos campos da arquivologia,

cinema e história. São diversas as abordagens, entretanto alguns temas como a valorização

do audiovisual como patrimônio e as políticas públicas para a preservação têm se

destacado. Uma evidência dessas reflexões em torno do binômio patrimônio e audiovisual é

o aumento de festivais, encontros, congressos e publicações voltados exclusivamente para a

discussão do tema como, por exemplo, o REcine − Festival Internacional de Cinema de

Arquivo (2002), a CineOP − Mostra de Cinema de Ouro Preto (2006) e mais recentemente

o Arquivo em Cartaz − Festival Internacional de Cinema de Arquivo (2015).

No entanto, o audiovisual nem sempre se viu contemplado pelas políticas públicas

de patrimônio, talvez este fato ocorra devido ao seu caráter físico de difícil

patrimonialização, como explica o curador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do

Rio de Janeiro (MAM-RJ), Hernani Heffner, em relação ao cinema

O cinema nunca teve um [material]. O um dele não serve pra nada, que é o

negativo, que você não projeta, você não vê. O que você vê é um múltiplo

monumental, são milhares, milhares e milhares [de cópias], para certos filmes.

Esse aspecto quebrou toda a teoria arquivística, museológica, etc. anterior. Porque

ela era toda voltada para a ideia do único, ou seja, o fundo arquivístico, o objeto

museológico, o sítio arqueológico, era tudo um. No cinema, como é que você se

cerca desse objeto que teria mais valor? E, outra coisa, no cinema você duplica,

reproduz. Então, o que tem mais valor? O original ou a cópia? A cópia de 1ª

geração, 5ª geração, 7ª geração? As pessoas nem entendem isso. Pra elas Cidadão

Kane é Cidadão Kane (HEFFNER, apud SOARES, 2014, p.134).

Outro motivo para esse “afastamento” das políticas patrimoniais seria a associação

entre audiovisual e indústria cultural, porém outras artes também possuem um vínculo

13

industrial. Ou como aponta Renata Soares (2015, p.61) “ficou claro para mim que as

questões do patrimônio cinematográfico e sua preservação ainda estão apartadas do

contexto maior de estudos na área de patrimônio que [...] sempre se voltaram

principalmente para a pedra e cal e, mais recentemente, para o patrimônio imaterial”.

Em seu texto “O campo do Patrimônio Cultural: uma revisão de premissas”,

Ulpiano Meneses3 alerta para as inconveniências da polaridade entre patrimônio material e

imaterial e apresenta de maneira clara e objetiva as dificuldades e cuidados em aferir

valores aos “bens culturais” explicando que :

Podemos concluir que o patrimônio cultural tem como suporte, sempre, vetores

materiais. Isso vale também para o chamado patrimônio imaterial, pois se todo

patrimônio material tem uma dimensão imaterial de significado e valor, por sua

vez todo patrimônio imaterial tem uma dimensão material que lhe permite

realizar-se. As diferenças não são ontológicas, de natureza, mas basicamente

operacionais (MENESES, 2012, p.31).

É preciso esclarecer que para o autor, os significados e valores podem ser

atribuídos por um sujeito ou coletivo, pois eles não estão “nas coisas em si, mas nas

práticas sociais”. No entanto, o estado ou governo podem participar “da criação desses

valores, privilegiando ou marginalizando uns e outros, mas sempre no jogo das práticas

sociais” (MENESES, 2012, p.34). Nesse sentido, podemos nos perguntar: se os valores

culturais são criados pela sociedade e se o patrimônio é um fato social, por que existe tanta

resistência em aceitar o audiovisual como um patrimônio cultural?

Este fato pode ocorrer devido a um conflito na definição de patrimônio cultural e

nos parece importante ressaltar aqui à fala do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil sobre o

conceito de Patrimônio Cultural:

3 Professor emérito da Universidade de São de Paulo e conselheiro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.

14

pensar em patrimônio agora é pensar com transcendência, além das paredes, além

dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes. Os costumes, os sabores, os

saberes. Não mais somente as edificações históricas, os sítios de pedra e cal.

Patrimônio também é o suor, o sonho, o som, a dança, o jeito, a ginga, a energia

vital, e todas as formas de espiritualidade de nossa gente. O intangível, o

imaterial. (IPHAN, 2008 apud FLORÊNCIO, 2012, p.26)

E nossa Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, corrobora essa definição

do conceito ao afirmar que:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988, grifo da

pesquisadora).

Notamos que mesmo sendo uma linguagem para a comunicação e expressão, que

reproduz nossa arte, história, paisagens e modos de viver, o audiovisual ainda encontra

dificuldades em ser enquadrado no campo do patrimônio, seja ele material ou imaterial. Os

questionamentos e as (in)certezas para essa ausência do audiovisual nas políticas

patrimoniais têm sido investigados tanto pela academia como pelas associações de

profissionais audiovisuais e órgãos culturais.

Nas próximas linhas, iremos abordar algumas das políticas instituídas pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que

ajudaram a valorizar o audiovisual como patrimônio cultural e compreender os caminhos

para uma educação voltada para as imagens em movimento.

15

1.1 Audiovisual é Patrimônio? Por Quê?

Nas políticas patrimoniais conduzidas pela Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o audiovisual recebeu atenção com a

Recomendação para a salvaguarda e preservação das imagens em movimento de Belgrado,

1980. O texto assinala a necessidade dos Estados-Membros se comprometerem com a

“proteção física apropriada contra deterioração causada pelo tempo e pelo meio ambiente”

4 e recomenda medidas jurídicas e administrativas, técnicas e complementares que visam

efetivamente a salvaguardar e conservar este patrimônio.

A Recomendação considera como imagens em movimento “qualquer série de

imagens captadas e fixadas em um suporte (independente do método de captação das

mesmas e da natureza do suporte – por exemplo, filmes, fitas, disco, etc. – utilizado inicial

ou posteriormente para fixá-las) com ou sem acompanhamento sonoro”. E quanto ao valor

cultural das imagens em movimento, ressalta “as imagens em movimento são uma

expressão da identidade cultural dos povos e que, devido a seu valor educacional, cultural,

artístico, científico e histórico, formam parte integrante do patrimônio cultural de uma

nação” (UNESCO, 1980).

O documento ainda faz menção à necessidade do repasse aos arquivos oficialmente

reconhecidos por cada nação de recursos referentes a pessoal, material, equipamentos e

sublinha a necessidade de envolver a sociedade na causa da preservação e conservação.

Entretanto, devido ao seu caráter de recomendação e não convenção5 os países não são

obrigados e sim convidados a aplicar as recomendações.

4 http://portal.unesco.org/es/ev.php-URL_ID=13139&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html Acessado em 10/02/17. 5 No caso das convenções, os Estados-Membros devem ratificar, ou seja, aceitar o instrumento, o que implica na aplicação das normas estabelecidas pelo documento.

16

Nesse sentido, a pesquisadora Renata Soares, em sua tese de doutorado Em

territórios do patrimônio cinematográfico: cinema, memória e patrimonialização,

defendida em 2014, realiza uma ampla abordagem sobre questões importantes como a

influência da Recomendação para o estabelecimento, promoção e desenvolvimento dos

arquivos de imagens em movimento e sobre a patrimonialização do cinema.

No que se refere à Recomendação, a autora, a partir da análise de um relatório da

Federação Internacional de Arquivos de Filmes (FIAF) e da Federação Internacional de

Arquivos de Televisão (FIAT) publicado em 1989, aponta três pontos positivos remarcáveis

do relatório: 1) a reunião anual de ONGs ligadas à preservação de imagens que discutiam e

planejam ações em conjunto com a UNESCO; 2) a possibilidade de liberação de ajuda

material para arquivos em países em desenvolvimento pela UNESCO; 3) a criação de

novos arquivos e avanço de outros já existentes, cooperação internacional e troca de

experiências.

Embora a Recomendação tenha sido um marco histórico importante, não houve

ampla implementação e por conta dos avanços tecnológicos já não atendem às necessidades

atuais da preservação audiovisual. Nesse sentido, em 2005 a Coordinating Council of

Audiovisual Archive Associations (CCAAA) apresentou à UNESCO um documento com a

intenção de atualizar a antiga Recomendação. Entre as novas proposições, destacam-se a

inclusão dos materiais sonoros, das novas mídias, a elucidação dos termos “patrimônio

audiovisual” e “patrimônio digital” e o reconhecimento de outras áreas do patrimônio

(imaterial/intangível) (SOARES, 2014, p.73-5).

Para esta pesquisa, duas colocações nos interessam particularmente. A primeira é a

explicação sobre patrimônio audiovisual:

“Patrimônio audiovisual” e “Patrimônio digital” frequentemente parecem termos

equivalentes, porque imagens e sons são facilmente acessados pelo computador.

Mas a diferença é fundamental. “Digital” é uma tecnologia. “Audiovisual” –

imagens em movimento e sons gravados – é uma linguagem para a comunicação

17

e expressão que faz uso de tecnologias em constante evolução. Documentos

audiovisuais têm um caráter linear, acessibilidade intelectual e integridade que os

torna inerentemente diferente (por exemplo) da palavra escrita ou da pintura,

independentemente do formato ou suporte. A tecnologia digital oferece um meio

de acesso alternativo a todas as formas de documento, assim como modos de

comunicação interpessoal. Ao mesmo tempo em que se reconhece o papel da

tecnologia digital nos arquivos, é essencial explicar essa diferença, que se

estende, entre outros fatores, a métodos de preservação, documentação e acesso, e

expertise curatorial6

.

A segunda é a interligação entre as áreas do patrimônio, nesse aspecto o documento

elaborado pela CCAAA sublinha que um patrimônio imaterial pode integrar o patrimônio

audiovisual, pois “os registros sonoros e visuais destas manifestações imateriais são,

reconhecidamente, um meio efetivo de preservação e transmissão das mesmas. Uma vez

fixado no formato audiovisual, este patrimônio imaterial passa a integrar o patrimônio

audiovisual” (SOARES, 2014, p.75). Por fim, a associação aconselha que o novo

instrumento a ser formulado considere outros documentos da UNESCO.

Convém, ainda, ressaltar que três outras ações da UNESCO foram importantes para

a preservação audiovisual: 1) o Programa Memória do Mundo, criado em 1992, que tem

como objetivo proteger e promover o patrimônio documental mundial. No caso do

audiovisual, de acordo com as estatísticas da UNESCO, dos “349 inscritos no registro

internacional, 70 são audiovisuais ou têm elementos audiovisuais significativos: 16 filmes

ou vídeos, 24 músicas ou gravações de som, 13 coleções de fotos ou imagens, 17 outros se

comunicam com componentes audiovisuais”7; 2) a publicação do livro Filosofia e

princípios da arquivística audiovisual, em 1998, de Ray Edmondson e; 3) a instituição do

Dia Mundial da Preservação Audiovisual que é comemorado em 27 de outubro desde 2005.

Mas afinal, o audiovisual é patrimônio?

6 UNESCO, Instrument for the safeguarding and preservation of the audiovisual heritage: CCAAA issues

paper, p.3 apud Renata SOARES, 2014, p. 74.

7 Dados disponível em http://en.unesco.org/wdah2016 Acessado em 22 março 2017

18

Como pudemos notar, o conceito de patrimônio audiovisual ainda tem dificuldade

em se estabelecer no campo do patrimônio, entretanto as ações da UNESCO foram muito

importantes para que houvesse mundialmente maior atenção à preservação das imagens em

movimento. Apesar disso, notamos ainda no Brasil, a ausência de uma política pública

destinada à preservação audiovisual que permita a estabilidade institucional e financeira

dos arquivos, liberando-os das políticas descontínuas de governantes e dirigentes.

1.2 Educação audiovisual? Educação Patrimonial? − um olhar

Ao longo dos anos, fui percebendo, com surpresa, que

na verdade, o campo da “educação audiovisual” não

existia como tal. E que não existiam tampouco diretrizes

bibliográficas para a atuação de seus pretensos

profissionais.

(Moira Toledo CIRELLO, 2010, p. 20)

À guisa de apresentar uma conceituação sobre termos ainda em constante mutação

na teoria e na prática, apresentaremos algumas formulações desenvolvidas por

pesquisadores da comunicação e da museologia que vêm se dedicando, cada um em seu

campo de atuação, a estudar formas de ensinar o contato com a arte e a cultura.

Ressaltamos que relacionar audiovisual e patrimônio ao conceito abrangente que é a

educação seria uma tarefa colossal que este trabalho não nos permitiria intentar, portanto

propomos algumas definições que esclarecerão o que neste trabalho está sendo

compreendido como Educação Audiovisual e Educação Patrimonial.

19

Educação Audiovisual

O termo educação audiovisual remete, em geral, a oficinas de aprendizagem de

técnicas de gravação/filmagem, bem como à história e linguagem dos meios de

comunicação. No entanto, a definição de educação audiovisual ainda parece indefinida e se

confunde com conceitos já estabelecidos ou em formação como os estudos em mídia-

educação8, educomunicação

9 ou as propostas voltadas para o uso do cinema em contexto

escolar que são desenvolvidas por grupos de pesquisas universitários ou secretarias de

educação. Entretanto, a necessidade de uma formação audiovisual não se limita às escolas,

como explica o professor Cezar Migliorin (2015), ao narrar os esforços para a criação do

curso de licenciatura em cinema na Universidade Federal Fluminense:

acreditávamos que havia uma necessidade de uma formação especializada para as

pessoas que ministravam oficinas de cinema em escolas livres, que se ocupavam

de projetos pedagógicos em museus, centros culturais e cinematecas e,

sobretudo, na formação de professores que possam atuar nas artes (MIGLIORIN,

2015, p.19, grifo da pesquisadora).

Nesse sentido, sabemos que a educação audiovisual ultrapassa os muros das escolas

e universidades e atinge também entidades culturais como, por exemplo, os centros

8 Do termo em inglês media-literacy traduzido para o português como mídia-educação ou alfabetização

midiática tem por objetivo educar para, com e através das mídias. No Brasil, alguns autores, como FANTIN, 2011; 2012 e GIRARDELLO, 2008, têm realizado estudos que relacionam Infância, Mídia, Cultura e Arte. 9 A educomunicação busca articular iniciativas voltadas a facilitar o diálogo social por intermédio do uso consciente das tecnologias da informação. Em 2011, a Universidade de São Paulo criou a primeira licenciatura em educomunicação do país. Para mais informações ver: http://www.cca.eca.usp.br/educom

20

culturais, museus de cinema, cinematecas, filmotecas e museus de imagem e som10

. Além

dos museus de arte que se utilizam cada vez mais do audiovisual em suas exposições.

Seguindo essa perspectiva, entendemos a educação audiovisual não somente como a

atividade de ensino histórico e prático do audiovisual, mas como assinalado pela

Recomendação da UNESCO de Belgrado de 1980, como sendo todas as atividades que

busquem “chamar a atenção do público em geral sobre a importância educativa, cultural,

artística, científica e histórica das imagens em movimento e para as medidas necessárias

para sua salvaguarda e conservação” 11

.

Educação Patrimonial

Enquanto campo de estudo, a educação patrimonial encontra-se mais desenvolvida e

computa um número considerável de estudos e publicações sobre o tema que vem sendo

impulsionadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que

desde sua criação, em 1937, pelo poeta Mario de Andrade, tem como um dos objetivos

educar para o patrimônio cultural.

No que se refere à atuação do IPHAN, Sônia Florêncio (2012, p.23) explica que

Rodrigo Melo Franco de Andrade, diretor do instituto desde sua criação até a década de

10 Na Europa e América do Norte, é expressivo o número de museus de cinema ou mídias. Em nosso país, a ideia de um museu de cinema existe desde quando Paulo Emilio Sales Gomes indicava, em 1954 , tal necessidade a então Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Entretanto, ao longo de todos esses anos nunca houve uma proposta que saiu do papel. Em 2001, o projeto de um prédio idealizado por Oscar Niemeyer abrigaria o Museu Petrobras de Cinema em Niterói, Rio de Janeiro, no entanto a ideia de museu foi abandonada e se tornou um complexo de salas do Reserva cultural com salas de exibição, livrarias e restaurante.

11 Para mais informações ver: http://portal.unesco.org/es/ev.php-URL_ID=13139&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html

Acessado em 17/02/17

21

1960, sublinhou a “importância da educação na preservação do patrimônio cultural”. No

entanto, explica que o tema só receberia maior destaque com a criação, em 1979, da

Fundação Pró-Memória12

por Aloísio Magalhães.

Fundamentada nas experiências inglesas de “Heritage Education” é a partir da

década de 1980 que o termo Educação Patrimonial passaria a ser utilizado no Brasil. De

acordo com o Guia Básico da Educação Patrimonial publicado em 1999, pelo Museu

Imperial, a Educação Patrimonial é definida como:

um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no

Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento

individual e coletivo. [...] Educação Patrimonial é um instrumento de

“alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que

o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e trajetória

histórico-temporal em que está inserido (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO,

1999, p.6, grifo da pesquisadora).

O Guia ainda apresenta uma proposta metodológica de aprendizado baseada em

quatro etapas:

1) Observação: exercícios de percepção visual/sensorial por meio de

perguntas, manipulação, experimentação, medição, anotações,

comparação, dedução, jogos de detetive.

2) Registro: desenhos, descrição verbal ou escrita, gráficos, fotografias,

maquetes, mapas e plantas baixas.

3) Exploração: análise do problema, com levantamento de hipóteses,

discussão, questionamento, avaliação, pesquisa em outras fontes como

bibliotecas, arquivos, cartórios, instituições, jornais, entrevistas.

4) Apropriação: recriação, releitura, dramatização, interpretação em

diferentes meios de expressão como pintura, escultura, drama, dança,

musica, poesia, texto, filme, vídeo (HORTA; GRUNBERG;

MONTEIRO, 1999, p.9).

12 A Fundação Nacional Pró-Memória foi criada, em 1979, por Aloísio Magalhães e absorveu o antigo Sphan

– Serviço do Patrimônio Histórico e artístico Nacional que permaneceu com essa nomenclatura até 1990. É preciso ressaltar que mesmo não existindo uma política direcionada à preservação audiovisual, a Cinemateca Brasileira esteve vinculada à Fundação Nacional Pró-Memória e posteriormente ao IPHAN por dez anos. Para mais informações ver : LINDNER (2013).

22

Vale ressaltar que os bens culturais passam a ser considerados como “suporte vivo”

na construção do conhecimento, assim a compreensão de patrimônio abrange e alcança

elementos intangíveis como esclarece Analucia Thompson e Igor de Souza (2015, p. 155)

“o entendimento de educação para o patrimônio expandiu-se incomensuravelmente,

exigindo reflexões que abarquem novos métodos e agentes, diferentes materiais, didáticas

inovadoras e, principalmente, um posicionamento político-pedagógico adequado aos

anseios da população ou dela emergentes”.

Nessa perspectiva, o IPHAN exerceria um papel fundamental por meio das

publicações e das ações da Coordenação de Educação Patrimonial do Departamento de

Articulação e Fomento (CEDUC) que atualmente defende que a Educação Patrimonial

constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm

como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a

compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas

manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e

preservação. Considera ainda que os processos educativos devem primar pela

construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo

permanente entre os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das

comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem

diversas noções de Patrimônio Cultural (IPHAN, 2014, p.19).

Seguindo esta direção, Sônia Florêncio (2012) esclarece que o patrimônio cultural

deve ser considerado como “tema transversal, interdisciplinar e/ou transdisciplinar” e as

ações educativas para valorização do patrimônio cultural devem ser entendidas como

“ações mediadoras” que contribuam para a afirmação de identidades. No item 3.4 do

capítulo 3, realizamos uma breve análise das atividades educativas desenvolvidas pelo

Arquivo Nacional com o objetivo de identificar os princípios e diretrizes da educação

patrimonial do IPHAN.

23

CAPÍTULO II

MUITO ALÉM DO DOCUMENTO ESCRITO

O Arquivo Nacional do Brasil foi criado em 1838 e tem por missão “implementar e

acompanhar a política nacional de arquivos, por meio da gestão, recolhimento, tratamento

técnico, preservação e divulgação do patrimônio documental do País”13

. Localizado na

Praça da República, no centro do Rio de Janeiro, seu conjunto de prédios abrigou a sede da

Casa da Moeda, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN). A instituição possui um acervo formado por documentos textuais, fotografias,

mapas e plantas, filmes, discos e vídeos. Entretanto, o Arquivo Nacional encontra-se

desconhecido da população, seu público ainda é de pesquisadores ou cidadãos em busca de

documentos comprobatórios. Nas páginas seguintes, iremos apresentar as atividades

educativas e descrever a formação do acervo audiovisual da instituição.

2.1 O Arquivo Nacional e as atividades educativas

O capítulo 14 de Arquivos permanentes – tratamento documental de Heloisa

Bellotto vai abordar dois pontos importantes da difusão editorial, cultural e educativa nos

arquivos: a programação e o acesso do público. Sendo os arquivos públicos lugares

importantes de gestão documental da área governamental (consultiva e comprobatória) e de

pesquisa, durante muito tempo esteve distanciado, especialmente no Brasil, de atividades

culturais e educativas que não só apresentassem seu acervo, mas que utilizassem seu local

13 ARQUIVO NACIONAL. Catálogo de apresentação.

24

como um espaço cultural. No contexto europeu e norte-americano, os arquivos já possuem

setores educativos que buscam atrair, por meio de um trabalho conjunto entre professores e

arquivistas, o público escolar. Como esclarece a pesquisadora francesa Annick Pegeon

(2012, p.89), “o documento arquivístico fez, paulatinamente, sua entrada na escola,

facilitada pela criação, na França, a partir dos anos de 1950, dos serviços educativos em

arquivos que oferecem aos professores e a seus alunos oficinas e visitas pedagógicas

destinadas a proporcionar a descoberta dos arquivos e dos grandes períodos históricos”. A

França não será o único exemplo, Portugal, Espanha, Inglaterra e outros países foram

criando políticas de difusão que sublinhassem o papel social dos arquivos e ressaltassem

sua importância enquanto lugar de memória.

No Brasil, essas experiências começam a ter contornos e volumes. Casos

expressivos são as atividades do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, do

Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte e do Arquivo Público do Estado de São

Paulo que criaram setores educativos e desenvolveram propostas de acesso e difusão dos

seus acervos. Já o Arquivo Nacional sempre manteve atividades voltadas para o público

que são desenvolvidas por cada setor, como: as exposições, os cursos, as publicações e o

Festival Arquivo em Cartaz, além do atendimento ao público e pesquisadores em sua sala

de consultas. Contudo, suas ações culturais e educativas se concentram em atividades como

seminários, mesas-redondas, exposições e concursos de monografias que, de acordo com o

relatório de 2015, alcançaram um público de 5.000 pessoas14

. Entretanto, notamos que o

Arquivo Nacional ainda é acessado por pesquisadores das áreas de arquivologia, história e

ciências sociais e que a ampliação das visitas ocorrerá por meio dos festivais de cinema.

Primeiro com o REcine e seguidamente com o Arquivo em Cartaz.

Convém, contudo, ressaltar outra questão, a Revista Acervo é uma importante

publicação para o campo das ciências humanas e sociais. Em seu volume do segundo

14 Relatório de gestão. Disponível em http://arquivonacional.gov.br/images/Relatorio_de_gestao/Relat%C3%B3rio%20de%20gest%C3%A3o%202 016%20-%20vers%C3%A3o%20final%20-%2014-06-16.pdf Acessado em 18 de março de 2017.

25

semestre de 2012, dedicou seu dossiê temático à Difusão cultural em arquivos, porém

notamos que, entre as diversas experiências nacionais e internacionais abordadas pelo

periódico, não houve nenhum artigo ou relato sobre o Arquivo Nacional. Essa ausência

pode demonstrar uma fragilidade nas políticas de difusão da instituição que criou, em 2016,

o Núcleo de Educação e Capacitação Profissional. Como explica Claudia Tebyriça o

“objetivo é de promover ações educativas e de capacitação profissional na área arquivística

em conformidade com as diretrizes que vêm sendo formuladas pela Câmara Técnica de

Capacitação de Recursos Humanos, do Conselho Nacional de Arquivos-CONARQ” 15

. E

sobre como estão sendo organizadas as ações, ela esclarece:

Nossas ações estão sendo organizadas tendo em vista atender a duas linhas

principais: a interação com as escolas e formação de público em geral e a

capacitação profissional. Para tanto estão sendo planejadas ações locais e virtuais.

Estamos ainda em processo de construção. Uma de nossas metas está em

organizar a Escola Virtual do Arquivo Nacional. As demais ações educativas

neste momento estão sendo planejadas em conjunto à área de pesquisa,

responsável pela curadoria das exposições. Inicialmente o Núcleo, que é

subordinado à COACE, está estruturando duas equipes: uma voltada para

educação patrimonial e outra voltada para educação a distância.

Embora haja uma orientação destinada a fortalecer as atividades voltadas para a

educação, notamos uma atenção maior com as questões formativas e técnicas. Área de

atuação que o Arquivo Nacional já privilegia em suas atividades educativas e culturais.

Outro fator pontuável são as mudanças políticas e administrativas do país que impedem o

fluxo de desenvolvimento de algumas ações.

2.2 O Acervo Audiovisual

O Arquivo Nacional já possuía no seu acervo onze fotogramas em nitrato, datados

de 1897, que pertenciam ao médico e químico José Roberto da Cunha Sales que havia feito

15 TEBYRIÇA, Claudia. Entrevista concedida à pesquisadora em 09/03/16.

26

o pedido de registro de patente com a intenção de explicar o funcionamento das

“fotografias vivas”, mas não havia um setor especializado. Em 1974, a instituição recebeu o

acervo do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais – IPES com 16 latas de filmes sobre as

atividades do instituto, porém o Arquivo não tinha um espaço dedicado à salvaguarda deste

material. No ano seguinte, o Arquivo Nacional estabelece a Divisão de Documentação

Audiovisual que, segundo o pesquisador e servidor da instituição Clovis Molinari Jr., “era

de documentação sonora (discos), depois veio o laboratório fotográfico. Mas a área de

filmes nasceu em 1982, como a Seção de Filmes” em que foi o primeiro coordenador.

O fato é que somente no início da década de 1980, quando Celina Vargas assume a

direção da instituição que as imagens (estáticas ou em movimento) conseguiriam relevância

entre os documentos em papel. Criadora do Centro de Pesquisa e Documentação da

Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), ela já tinha experiência na gestão de

documentação associada à pesquisa. Seus estudos de doutorado na França aproximaram-na

do Arquivo Nacional francês e quando assume a direção do arquivo brasileiro resolve

implantar um processo de modernização, motivando assim uma abertura para os

documentos audiovisuais como explica Clovis Molinari em entrevista concedida à

pesquisadora:

Eu era estagiário do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio

Vargas e quem dirigia era a Celina Vargas, neta do Getúlio Vargas, e lá eu

comecei a cuidar do audiovisual, dos filmes que existiam, dos áudios, das

fotografias. A coluna Prestes que eu tenho grandes lembranças dessas sequências

fotográficas da coluna prestes ... e quando a Celina assumiu a direção do Arquivo

Nacional em 1980, eu já era estagiário lá no CPDOC e aqui no Arquivo Nacional

então como estagiário eu já tinha uma familiaridade, eu conseguia perceber que o Arquivo tinha uma geração antiga. O Arquivo não era moderno, era uma coisa antiga eu sentia o cheiro de mofo, dava para sentir que o Arquivo Nacional precisava de oxigenação e a Celina fez isso, o primeiro projeto de modernização

do arquivo foi ela quem fez 16

.

E sobre o setor de imagens em movimento, relata:

16 MOLINARI, Clovis. Entrevista concedida à pesquisadora em 06/03/17.

27

Então a construção de um acervo no Arquivo Nacional foi tão lenta, mas ao longo do tempo passou a ser rápido, porque quando eu cheguei com a minha vontade e com o meu entusiasmo, eu falei Celina não tem cinema no Arquivo Nacional. Um dia eu estava na minha casa, naquela época o melhor jornal do Rio de Janeiro era o Jornal do Brasil, e vi uma notinha dizendo filmes da Agência Nacional serão incinerados e eu imediatamente entrei em contato com a Celina "não pode são os cinejornais continuação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da era do Getúlio, do teu avô, cara não é possível isso". Ela ligou para Brasília mandou sustar a incineração [...] Ela sustou a incineração e quando ela sustou demorou um mês para a gente ter acesso ao galpão que ficava

aqui no centro da cidade, na sede da polícia federal 17

.

Com a recuperação das latas de Cinejornais da Agência Nacional, o acervo torna-se

expressivo, mas é precisamente com a grave crise da Cinemateca do MAM18

, em 2002, que

o Arquivo Nacional receberia a maior doação de filmes. Como demonstra o relatório de

área de 2004, a quantificação realizada no mês de janeiro que, abarcava nove anos de

acervo de filmes na instituição, constatou que:

No ano de 1994 todo o acervo de filmes (35mm e 16 mm, depósitos 616 e 616.1) contabilizava 12.077 latas. Em março de 2000, esse número já era de 12.981 latas. No ano de 2002, com a chegada do acervo do MAM e da TV-E, tivemos um salto significativo: 42.331 latas. No ano de 2003 ainda recebíamos acervo do

MAM. O número subiu para 43.755 latas 19.

As películas foram transferidas em regime de comodato para o Arquivo Nacional

que passou a ser responsável pela guarda e conservação do material. Nas coleções desse

acervo, encontram-se filmes de Aída Marques, Hugo Carvana, José Joffily, Júlio Graber,

Luis Carlos Barreto, Luis Carlos Pretti, Lúcia Murat, Murilo Sales, Nelson Pereira dos

Santos, Ney Sroulevich, Octávio Bezerra, Olney São Paulo entre outros20

.

17 MOLINARI, Clovis. Entrevista concedida à pesquisadora em 06/03/17.

18 Em 2002, a direção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro havia anunciado a impossibilidade de sua Cinemateca manter o acervo de matrizes dos filmes brasileiros sobre sua guarda. Tal situação gerou uma grave crise que quase levou ao fechamento da Cinemateca do MAM. Para mais informações ver: QUENTAL, 2010; MENEZES, 2009; e SOUZA, 2009.

19 E-mail de Antonio Laurindo de 06 de abril 2017 escrito por ele após eu ter solicitado uma informação sobre a quantidade de filmes vindos da Cinemateca do MAM-RJ. 20 Para mais informações ver : http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Multinivel_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=59375

1&v_aba=undefined Acessado em 17 março de 2017.

28

Outras duas coleções importantes a serem mencionadas são os cinejornais

produzidos por César Nunes, durante o período de 1950 a 1980, as imagens registram as

atividades de diversos políticos do Estado do Rio de Janeiro; e as entrevistas, cursos,

documentários e cinejornais da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (TVE).

Atualmente o acervo do Arquivo Nacional possui 179 fundos21

, o departamento

responsável pelos filmes pertence à Coordenação de Documentos Audiovisuais e

Cartográficos (CODAC) que se divide em cinco setores distintos: documentos

iconográficos, documentos filmográficos, documentos cartográficos, documentos sonoros e

ilha de edição de vídeo. Uma base de dados, SIAN22

, do Arquivo Nacional permite a

consulta ao material. É preciso sublinhar que os 958 cinejornais, produzidos entre 1940 e

1970, estão disponíveis para consulta no portal www.zappiens.br. No entanto, ressaltamos

que como a maior parte do acervo filmográfico é formado por películas cinematográficas

(35mm e 16mm), não possuem cópias de acesso na Sala de Consultas do Arquivo Nacional.

Sendo que os principais usuários do acervo são os próprios depositantes (diretores e

produtores de filmes) e produtores de mostras e festivais de cinema.

2.3 As Mostras de Cinema e a valorização do acervo

No Brasil, a situação não era tão positiva para os arquivos de filmes. Em 2002, a

direção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro afirmaria que sua Cinemateca não

tinha capacidade de continuar mantendo o acervo de matrizes dos filmes brasileiros,

alegando risco de perda. Como explica José Quental (2010, p. 144), a “intenção da diretoria

do Museu era a transferência dos filmes para a Cinemateca Brasileira em São Paulo, que

pouco tempo antes havia inaugurado o primeiro módulo de seu depósito de matrizes.

Porém, as repercussões frente à possibilidade de envio de tamanho patrimônio cultural para

21 Conforme dados do setor de documentos filmográficos. Para mais informações sobre cada fundo entrar em contato com [email protected]. 22 http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp

29

fora do Rio de Janeiro foram enormes e geraram muitos debates no meio cinematográfico

da cidade do Rio de Janeiro”. Tal situação mobilizou diversos arquivos audiovisuais do país

para o possível recebimento deste acervo da Cinemateca do MAM. Entretanto, a instituição

que iria receber a maior parte do acervo seria o Arquivo Nacional, o que, como veremos,

pode justificar a abertura de espaço na instituição ao tema da preservação audiovisual.

Como parte das comemorações de inauguração da nova sede do Arquivo Nacional,

foi realizada, em 2002, em parceria com a produtora Rio de Cinema, a primeira edição do

Recine com a Mostra Informativa “Tesouros do Cinema Brasileiro” - que tinha como

objetivo apresentar ao público imagens raras, propor discussões sobre os trabalhos de

preservação audiovisual, incentivar o uso das imagens de arquivo em novas produções e

principalmente divulgar, para arquivistas, estudantes, pesquisadores, realizadores e

cinéfilos, as imagens conservadas pelas instituições de salvaguarda do país.

A programação da Mostra teve duração de um dia, incluindo dois fóruns de debates

“Preservação de filmes no Brasil” e “Novas tecnologias aplicadas à preservação” que,

segundo Clovis Molinari, buscaram debater “sobre a condição do cinema brasileiro, das

cinematecas e arquivos filmes e o que fazer para solucionar esse impasse”. Porém, sublinha

que o tema central foi a crise da Cinemateca do MAM.

Além dos fóruns, houve a exibição ao ar livre da “Mostra Tesouros do Cinema

Brasileiro” que, de acordo com os organizadores do evento, recebeu cerca de 700 pessoas,

o que motivou uma segunda edição no ano seguinte com o tema “Os Cortes da Censura

Federal”23

.

No ano seguinte, a segunda edição do festival teria sua duração ampliada para dois

dias, mas a formatação continuaria a mesma: fóruns de debates e exibição ao ar livre de

filmes de arquivos. O destaque da mostra daquele ano foi a exibição, até então inédita, de

trechos de filmes cortados pelos censores do Departamento de Censura e de Diversões

Públicas,

23 Dados disponíveis em http://www.recine.com.br/2005/anteriores.htm Acessado em 8 de fevereiro, 2017.

30

durante o período militar. Para debater o tema, foram formadas duas mesas “A Censura no

Cinema Brasileiro” e “Produzindo Cinema sob Censura”.

O festival teve ainda dois diferenciais: uma palestra sobre cineclubes

“Cineclubismo: resistência e retomada” e o lançamento da edição do primeiro semestre de

2003 da Revista Acervo do Arquivo Nacional, dedicada inteiramente ao tema “Imagens em

Movimento”.

A publicação contou com 12 artigos que abordavam temas como história do cinema,

formação de público e preservação audiovisual. Entre eles, o texto A preservação de Filmes

no Arquivo Nacional, de Adriana Cox Hollós, chama atenção por seu caráter informativo e

ao mesmo tempo por ser defensor da capacidade do Arquivo Nacional de preservar,

conservar e difundir o acervo vindo da Cinemateca do MAM-RJ, bem como de pedir a

união dos especialistas e aumentar a relação com profissionais do cinema.

uma vez estabelecido como parte da missão do Arquivo Nacional a preservação de

matrizes cinematográficas, é fundamental que se implemente uma política de

preservação para que parte da memória cinematográfica brasileira permaneça

acessível e em boas condições de conservação. Sem dúvida, trata-se de uma questão

de grande complexidade, mas que deve ser debatida pelos diferentes atores desse

processo para que se definam os procedimentos a serem adotados para a salvaguarda

desse acervo... enquanto aguardamos a construção do depósito climatizado, estamos

iniciando um plano de salvaguarda desse importante acervo de matrizes. Para isso,

além dos investimentos já realizados, foi contratada uma equipe de profissionais

recém-formados pela Universidade Federal Fluminense para realizar o processamento

técnico e a preservação (HOLLOS, 2003, p.104-108).

O trecho acima citado deixa evidente a preocupação do Arquivo Nacional em

demonstrar a capacidade e esforços que a instituição vinha fazendo para melhor

salvaguardar o acervo recebido da Cinemateca do MAM-RJ. Outro ponto importante

sublinhado pelo texto é a união dos especialistas e contratação de profissionais, nesse caso

se referindo aos estudantes de cinema recém-formados da Universidade Federal

Fluminense.

31

Para Hernani Heffner, curador da Cinemateca do MAM-RJ, havia por parte dos

gestores da Coordenação de Documentos Audiovisuais um “projeto maior do Arquivo

Nacional de atuar mais fortemente no campo da preservação audiovisual e isso incluía entre

outras iniciativas, a iniciativa de criar um Festival de Cinema voltado para a dimensão da

preservação” 24

.

ooo

24 HEFFNER, Hernani. Entrevista concedida à pesquisadora em 08/03/17.

32

CAPÍTULO III

FESTIVAL DE CINEMA DE ARQUIVO NO BRASIL

Em 1978, a Federação Internacional de Arquivos de Filme (FIAF) organizou, em

seu Congresso de Brighton, o segundo simpósio histórico que teve a presença de arquivistas

e historiadores interessados em assistir e discutir às produções do cinema silencioso. Esse

simpósio permitiu que filmes até então desprezados fossem examinados e estudados,

estimulando arquivos a localizarem e restaurarem obras esquecidas. Nessa perspectiva no

início da década de 1980, surgem os festivais de cinema mudo como local de exibição e

discussão dos filmes restaurados (SOUZA, 2009, p. 164). Entres os primeiros e mais

consolidados, destacam-se o Giornate del cinema Muto (Pordenone,1982), o Cinema

Ritrovato (Bologna, 1986) e o CinéMémoire (Paris,1991). De certa forma, esses festivais

foram inspiradores para a criação, em 2002, do REcine − Festival Internacional de Cinema

de Arquivo realizado pelo Arquivo Nacional, da CineOP − Mostra de Cinema de Ouro

Preto, em 2006, da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso organizada pela Cinemateca

Brasileira entre 2007 e 2012 e mais recentemente em 2015 o Arquivo em Cartaz.

Embora tenha uma proposta diferente do REcine, a CineOP – Mostra de Cinema de

Ouro Preto possui vários elementos em comum, como a proposta de refletir sobre a

preservação audiovisual, as sessões de homenagem, os fóruns de discussões, a publicação

de um catálogo com artigos sobre cinema, história e educação. Seu diferencial é não

privilegiar somente a exibição de filmes e sim as discussões e a elaboração de diretrizes e

metas para o setor da preservação audiovisual. Ao longo dos anos, a Mostra tornou-se um

fecundo espaço para as reflexões sobre a preservação e difusão da memória

cinematográfica brasileira, permitindo em 2008, a criação da Associação Brasileira de

Preservação Audiovisual (ABPA) e em 2016 a finalização de um Plano Nacional de

Preservação Audiovisual que deveria ser entregue aos órgãos executivos federais. Em

33

decorrência das mudanças políticas ocorridas no país, diversos setores culturais encontram-

se paralisados.

Convém ressaltar outra questão importante da Mostra, sua forte atuação na

educação. Em parceria com a Rede Kino, Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e

Audiovisual, o evento acolhe os fóruns de debates da Rede que buscam o diálogo com

educadores e pesquisadores envolvidos com atividades de pesquisa, ensino e extensão no

âmbito do cinema e do audiovisual25

.

3.1 O REcine – Festival Internacional de Cinema de Arquivo

Embora o REcine tenha sido criado em 2002 com a Mostra Informativa, é somente

em 2004 que o evento tomaria contornos maiores se tornando um Festival Internacional de

Cinema de Arquivo. A proposta do festival era ser uma vitrine para os acervos dos arquivos

audiovisuais brasileiros e para os filmes produzidos com material de arquivo. Segundo

Clovis Molinari, um dos organizadores do festival, a ideia de mostrar filmes ao ar livre lhe

havia surgido quando esteve em Brasília e foi a uma exibição nesse formato. Ao retornar ao

Rio de Janeiro, e com a realidade de um acervo de filmes agora muito maior, viu a

possibilidade de seguir este modelo no Arquivo Nacional. Sobre o início do festival, ele

conta

eu falei [vamos passar filme] no auditório também e aqui fora. Aí começaram, a

gente não tem gente, não tem como montar, não tem projecionista, não tem

projetor, mas a gente aluga. Começou essa discussão, um dia eu estava andando

de bicicleta na Urca e encontrei o Ricardo Favilla [amigo e diretor da Rio de

Cinema], ele fazia um festival no metrô, o Metrôcine, que passava cinema no

mezanino do metrô. Eu contei a história e ele disse eu posso fazer isso. Eu

apresentei ele para o diretor [do Arquivo Nacional] e acabou que nos juntamos 26

.

25 Para mais informações ver: http://www.cineop.com.br; http://www.redekino.com.br;

26 FAVILLA, Ricardo. Entrevista concedida à pesquisadora em 08/03/17.

34

Após a parceria nas duas edições da Mostra, surgiu a oportunidade de transformar o

evento em um Festival de Cinema. O primeiro impasse foi encontrar um nome que

resumisse o objetivo do festival e Clovis Molinari relata “Eles [Ricardo Favilla e a

programadora visual] diziam é RE de: resgatar, reviver, relembrar ... É Re, o que? É

cinema... É REcinema? Não, é REcine. E foi um brainstorm27

que fizemos. As ideias

foram gerais, todo mundo foi dando ideias, aí a menina fez a logomarca” 28

. Definido o

nome, o REcine foi organizado e teria cinco dias de duração, uma exposição, uma oficina

para criação com imagens de arquivo e uma programação mais ampla constituída por

Mostra Informativa que todos os anos teria um tema, Mostra Competitiva Brasileira,

Mostra Internacional, Programa Petrobras, uma sessão de homenagens e a publicação de

uma revista, a REcine. Além disso, todas as edições teriam uma temática que iria orientar

toda a organização do festival desde a exposição até as homenagens29

.

Durante as duas primeiras edições, a programação do REcine ainda não tinha seu

formato definitivo. Nesse meio tempo, algumas Mostras que tinham nomes dos

patrocinadores, como, por exemplo, o Programa Petrobras ou a Sessão Curta Petrobras

seriam retiradas, e o nome do patrocinador iria aparecer associado a uma mostra. Outra

modificação foi a eliminação da Mostra Internacional que esteve presente somente em

2004, pois a Mostra Competitiva Brasileira se tornaria somente Mostra Competitiva e

abarcaria os filmes internacionais.

No entanto, somente em 2007, o festival iria ter um formato definitivo que perduraria

até 2014 quando deixa de ser organizado em parceria com o Arquivo Nacional30

. É preciso,

esclarecer que em 2015, devido às divergências com a Produtora Rio de Cinema,

27 Termo inglês, cuja tradução para o português seria “tempestade de ideias”. É uma metodologia para a

liberação da imaginação de grupo de maneira criativa muito utilizada pela publicidade. Para mais informações ver:http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/741A876FE828908 203256E7C00614A23/$File/NT00002206.pdf Acessado em 01/04/17. 28 MOLINARI, Clovis. Entrevista concedida à pesquisadora em 06/03/17.

29 No apêndice C, sistematizamos o tema de cada edição de 2004 a 2014.

30 O REcine era organizado (pesquisa e curadoria) pelo Arquivo Nacional, porém a produção geral – o que incluía a captação de recursos financeiros era realizada pela produtora Rio de Cinema.

35

o Arquivo Nacional lança o Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de

Arquivo que passa a ser organizado pela Universo Produção, a mesma produtora da

CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.

Durante um período de 10 anos31

, o festival desenvolveu uma estrutura de exibição,

produção e propagação de filmes de arquivos ou realizados com material de arquivo. Nesse

sentido, descreveremos a estrutura do REcine, buscando ao final entender o que foi

transmitido para o festival Arquivo em Cartaz, apontando as diferenças e similaridades

entre eles.

3.1.1 A exibição de filmes no REcine

Como já sinalizado, um dos objetivos principais do Festival era justamente tornar

acessível ao público o acervo depositado nas instituições de salvaguarda. Sabemos que a

questão da difusão de filmes do acervo das cinematecas sempre foi um tema divisor de

águas, afinal preservar e difundir ou difundir e depois preservar? Claro que a situação não é

tão simples de se resolver, e grandes de nomes como Henri Langlois e Ernest Lindgren

seguem sendo orientadores até hoje de posturas em arquivos de filmes pelo mundo inteiro.

Porém, o REcine nasce com este desafio de “popularizar” os filmes preservados nos

arquivos audiovisuais brasileiros. Essa intenção pioneira demandou uma estrutura não só de

exibição, mas também de pesquisa e produção com e sobre as imagens de arquivos como

veremos a seguir.

Entretanto, convém, antes de prosseguir, esclarecer que optamos por fazer quadros

expositivos com as informações sistematizadas e rever a fim de facilitar a compreensão.

Esses quadros ou tabelas quando não disponíveis no corpo do texto estarão no apêndice,

31 Em 2002, oficialmente o REcine tem sua primeira edição com a Mostra Informativa, no entanto para esta

pesquisa consideraremos para análise o período inicial de 2004 quando o festival já tem um modelo consolidado e passa a se chamar Festival Internacional de Cinema de Arquivo até 2014: ano em que se desvincula do Arquivo Nacional.

36

porém haverá sempre uma nota sinalizando tal informação quando necessário. Sabemos que

pode ser muitas vezes enfadonho, mas além do entendimento, outro motivo nos levou a

aderir a tal método: as fontes. Para a redação do texto sobre o REcine, o site do festival

representou junto às entrevistas realizadas pela pesquisadora com Ana Moreira, Clovis

Molinari Jr, Ricardo Favilla e Hernani Heffner as únicas fontes disponíveis. Ao sabermos

que o site do evento32

é mantido por uma produtora privada, a Rio de Cinema, que a

qualquer momento pode ser modificado ou retirado da web, acreditamos que seja de

extrema importância manter de alguma maneira esses dados acessíveis.

Uma segunda questão também foi relevante para corroborar esta decisão, durante o

período de estágio33

, realizado no Arquivo Nacional não foram localizadas fontes textuais

sobre o REcine, sendo nesse sentido nossa única fonte as revistas publicadas pelo festival.

Não seremos exaustivos nas descrições, a intenção é proporcionar uma visão global

da organização do festival, assim iniciamos nosso trabalho com os programas de exibição

(as mostras) para então adentrar o caminho da pesquisa e produção. Porém, convém,

sublinharmos novamente que o período estudado é de 2004 a 2014, momento em que o

festival estava ainda atrelado ao Arquivo Nacional.

Para que o festival pudesse acontecer uma equipe multissetorial era formada no

Arquivo Nacional, funcionários de quase todos os departamentos eram mobilizados para a

produção dos documentos da exposição, dos filmes ou da revista. Porém, a maior parte das

decisões organizacionais partia da Coordenação de Documentos Audiovisuais e

Cartográficos. O REcine se estruturava em três eixos principais: exposição, mostras de

filmes e publicação.

32 www.recine.com.br

33 Entre 06 e 10 de março, a pesquisadora realizou um estágio no Arquivo Nacional. Durante o período foram realizadas visitas na CODAC e nos demais setores da instituição bem como na sala de consulta e nenhum material sobre o evento estava acessível.

37

Abertura

A noite de abertura do festival desde sua primeira edição iniciava com a

inauguração de uma exposição relacionada ao tema do festival, com o lançamento da

revista REcine e a exibição de um curta-metragem produzido pela equipe do Arquivo

Nacional e um longa-metragem inédito ou também com a temática do ano. Somente em

algumas edições essa estrutura sofreu alteração, mas nada que destoasse desse formato.

A Mostra Informativa

Os filmes exibidos pela Mostra Informativa eram escolhidos pela organização do

evento e tinham como característica privilegiar a temática do ano. Por meio de uma análise

realizada no site do festival, foi possível avaliar que as obras selecionadas variam entre

longa/média e curta-metragem sendo que podiam ser nacionais ou estrangeiros e

necessariamente não precisavam ser inéditos ou recentes.

A Mostra Competitiva

A mostra competitiva tinha por objetivo selecionar filmes e vídeos com, no mínimo,

40% de imagens em movimento provenientes de arquivos públicos ou particulares que

podiam conter fontes cinematográficas, televisivas, publicitárias ou privadas (REcine,

2004). As obras deveriam ser recentes, tendo sido finalizadas até três anos à data do festival

e podiam ser captadas em todos os formatos, sendo o formato de exibição o betacam

analógico ou DVD, e filmes de 16mm e 35mm34. É preciso ressaltar que nem todas as

edições aceitaram os formatos 16mm ou 35mm.

34 Ao analisar a programação da mostra notou-se um predomínio por filmes de curta-metragem em formato DVD. Mais informações ver: www.recine.com.br Acessado em 20 de março de 2017.

38

Sobre as categorias premiadas pelo festival, houve algumas mudanças no decorrer

das edições, como demonstra o quadro abaixo:

De 2004 a 2006 De 2007 a 2014 35

Melhor filme ou vídeo Melhor filme de longa/média-metragem, segundo

o júri popular

Melhor direção Melhor filme de longa/média-metragem

Melhor roteiro Melhor direção de longa/média-metragem

Melhor edição de imagem Melhor filme de curta-metragem, segundo o júri

popular

Melhor contribuição à linguagem cinematográfica Melhor filme de curta-metragem

Melhor concepção sonora Melhor direção de curta-metragem

Melhor pesquisa Melhor roteiro

________________ Melhor edição de imagem

________________ Melhor contribuição à linguagem cinematográfica

________________ Melhor concepção sonora

________________ Melhor pesquisa

Quadro 1 - Categorias da Mostra Competitiva

Fonte: Site REcine; www.REcine.com.br

Para a premiação, uma comissão de júri era formada por convidados que somente a

partir da edição de 2009 são identificados no site do Festival. Além do júri oficial, existia

ainda o júri popular para o melhor longa/média-metragem e curta-metragem. O Festival

premiava os filmes vencedores com uma medalha dourada cunhada pela Casa da Moeda

com inscrições do logo do REcine e no verso a categoria vencedora. Clovis Molinari afirma

35 Em 2011, três novas categorias foram incluídas Prêmio de Melhor filme realizado pela Oficina de Vídeo do REcine, Prêmio de Menção honrosa pela originalidade e Prêmio de Melhor Filme da Décima edição do REcine 2011. Entretanto no ano seguinte, a premiação retornaria ao padrão anterior composto por 11 categorias. Dados disponíveis em http://www.REcine.com.br/2011/mostra_competitiva.php Acessado em 28 de março de 2017..

39

que a parceria era óbvia, haja vista que o conjunto arquitetônico havia sido a sede original

da Casa da Moeda do Brasil e pontua que o prêmio

não ficava nisso. Os diretores vencedores, pelos critérios de um júri muito bem

escolhido, estão mencionados nos catálogos, eram também premiados na forma

de cotas de serviço de laboratório. Vale dizer: o diretor tinha direito a um

determinado de uso de ilha de vídeo gratuitamente, ou uma cota de laboratório de

telecinagem. Havia uma parceria e apoio de empresas especializadas em serviços

de vídeo e película36

.

Notamos uma tentativa da equipe do REcine de valorizar todo o patrimônio cultural

disponível na instituição, por meio de documentos e fotografias nas exposições no festival,

no uso das imagens em movimento nas mostras e o próprio prédio com sua história na

medalha.

Homenagens

Todos os anos, o REcine homenageava uma pessoa importante para o audiovisual.

De cineasta a técnicos, a sessão projetava um filme realizado pelo ou sobre o homenageado

que em geral tinha uma ligação com a temática do festival. É interessante notar que

festivais como a CineOP e o Arquivo em Cartaz também seguiriam essa proposta. Por

coincidência, ou talvez não, a primeira edição do REcine em 2004 e a primeira edição do

Arquivo em Cartaz em 2015 consagraram esse espaço de homenagem a Jurandyr Noronha.

36 Molinari, Clovis. E-mail de 10 de abril 2017, escrito por ele após eu ter solicitado uma confirmação sobre a premiação do REcine.

40

3.1.2 As palestras, fóruns de debates, a Revista REcine e as oficinas de vídeo

A crise da Cinemateca do MAM-RJ havia colocado a preservação audiovisual em

pauta, dividindo opiniões e direções, o tema agora precisava ser discutido, e o REcine criou

inicialmente esse espaço com os fóruns de debates, palestras e a publicação da revista.

Agora arquivistas, profissionais de cinema e representantes das instituições de salvaguarda

podiam apresentar suas opiniões. Foi nesse clima acalorado que as duas primeiras edições

do festival se organizariam.

Nessa perspectiva, ao criar uma mostra competitiva que valorizava os filmes

produzidos com materiais de arquivo, o REcine incentivava as obras realizadas a partir da

reapropriação dessas imagens, ou seja, o found footage movimento que os autores Rosa e

Filho (2016, p.4) explicam como sendo “a reapropriação de arquivo que, como gênero ou

procedimento, recicla, reedita e ressignifica imagens alheias, filmadas em outro tempo e

contexto e depois transpostas para um novo tempo e um novo contexto”. Esse fato aliado à

formação de uma oficina de vídeo seguia a mesma proposta de trabalhar com imagens do

acervo do Arquivo Nacional que iriam consequentemente encaminhar o festival para o

campo da investigação, e o resultado seria a publicação da revista e a oficina de vídeo.

Entretanto, no decorrer das edições do festival, um fato que chama atenção tanto nas

palestras e, principalmente, na revista REcine é a diminuição do espaço destinado às

questões da preservação e a ausência de discussões sobre as produções realizadas com as

imagens de arquivo. Como veremos, o festival acabaria privilegiando a temática escolhida

para cada ano e enfraquecendo seus objetivos iniciais.

Palestras

Desde o início do REcine, havia um espaço dedicado à pesquisa. Inicialmente os

primeiros palestrantes estavam diretamente relacionados ao meio acadêmico, a partir de

41

2007 também iria privilegiar os especialistas do cinema e do audiovisual37. As palestras

duravam em média duas horas, e as falas possuíam sempre uma relação direta com a

temática anual do festival. Vale ressaltar que entre 2007 e 2009, o jornalista Ruy Castro foi

o convidado e que suas apresentações de 2007 e 2008 foram dedicadas, respectivamente, às

personalidades homenageadas: Moniz Vianna e Mané Garrincha. Nos anos seguintes, as

palestras foram suprimidas ou receberiam outra estrutura, fazendo parte dos fóruns ou

sendo intituladas de Mesas-redondas38.

Fóruns de Debate

Como o título sugere, os Fóruns de debate tinham um caráter de discussão sobre

temas ligados ao audiovisual. Cada edição do REcine possuía, em geral, dois debates. Um

privilegiando a temática anual do festival e outro dedicado à preservação audiovisual. No

caso, para esta pesquisa, nos interessa pontualmente os fóruns dedicados à preservação

audiovisual.

Numa análise notamos que, em suas duas primeiras edições, os tópicos de estudo

foram respectivamente a preservação de filmes e TV. Os convidados nacionais e

internacionais desempenhavam atividades em arquivos audiovisuais e televisões ou eram

pesquisadores e professores de universidades. É preciso sublinhar que importantes

instituições internacionais de preservação audiovisual estiveram representadas nestes

debates, tais como INA da França, a Cinemateca Alemã e a Cinemateca Portuguesa.

Ao contrário das palestras que estavam estritamente ligadas à temática do festival,

os fóruns de debates deixariam de ter a preservação audiovisual como assunto somente nos

37

No apêndice A, sistematizamos em uma tabela os dados (convidados, título da comunicação e formação/instituição) referentes às palestras realizadas entre 2004 e 2012. 38 Nas edições 2012 e 2013, as palestras serão agregadas aos fóruns, já em 2014 recebem estrutura de mesas-redondas sobre a temática do festival daquele ano.

42

anos de 2006, 2008 e 201439. Contudo, observamos que não houve uma sistematização das

reflexões tratadas durante os fóruns. Por exemplo, a revista REcine não publicou nenhum

artigo ou entrevista dedicada exclusivamente aos fóruns de debate. Embora, em 2014,

ocorra a mudança no título de fóruns para mesas-redondas consideramos que a proposta do

espaço continuou a mesma.

Revista REcine

Esta publicação que acaba de nascer pretende acompanhar o tema

de cada ano do evento cinematográfico, e reunir textos consistentes

de pensadores cuja criação se mantém em permanente atividade,

com os olhos voltados para a vida passada em imagens em

movimento (Molinari, JR., 2004, p7).

A Revista REcine dá continuidade a uma tradicional via de difusão cultural do

Arquivo Nacional que eram as publicações. Como já suscitada, a instituição mantinha a

Revista Acervo dedicada aos temas de interesse histórico e arquivístico. No entanto, não

havia um espaço para o audiovisual, como explica Ricardo Favilla

a revista era o desejo antigo de diversas pessoas do arquivo, mas não tinha como

ser feita, pois já existia uma publicação da própria instituição. O festival serviu de

desculpa para uma edição especial só sobre o audiovisual e assim nasceu a

revista. A ideia era repetir um pouco a extinta Filme Cultura da Embrafilme, que

depois retornou por um breve período, com uma apresentação mais voltada para

ser um item que bibliotecas e instituições gostariam de ter nas estantes40

.

39 No apêndice B, apresentamos uma tabela com os fóruns de debates realizados no período de 2004 a 2014. Deixamos em destaque os fóruns dedicados à preservação e difusão audiovisual. 40 FAVILLA, Ricardo. Entrevista concedida à pesquisadora por e-mail em 08/02/17.

43

Desse modo, a REcine nasce com o propósito de acompanhar o festival e ser uma

referência no tema cinema, especialmente na abordagem da preservação audiovisual e da

reflexão sobre o uso de imagens de arquivos. Organizada de maneira a contemplar a

temática do festival, a homenagem à personalidade do ano e às questões da preservação, a

revista trouxe diversos textos sobre história e estética do cinema e do audiovisual, além de

traduções inéditas de artigos de pesquisadores internacionais. Entretanto, notamos que ao

longo das 11 edições foram poucos os artigos dedicados efetivamente à preservação e ao

uso de imagens de arquivos. O tema anual do festival acabou dominando os editoriais.

Convém, claro, ressaltar que os textos publicados trazem amplo embasamento para os

estudos sobre o audiovisual, e que alguns volumes como a terceira edição, de 2006,

“Vanguardas” acabaram esgotados.

Oficinas de Vídeo

Todos os anos o festival promovia uma oficina de vídeo com imagens do acervo do

Arquivo Nacional. Clovis Molinari conta que inicialmente a ideia de fazer uma oficina

surgiu quando estavam organizando a mostra competitiva da primeira edição. Com medo

de que não tivessem filmes suficientes inscritos, decidiram chamar um cineasta, no caso

Silvio Tendler, para ministrar um pequeno curso que resultaria ao final em curtas-

metragens produzidos por uma dezena de alunos que iriam poder concorrer na mostra. A

oficina teve ótima aceitação e se tornou parte do festival.

Nas primeiras edições, os filmes eram realizados individualmente, no entanto para

que pudesse ter um número maior de participantes houve a opção pelo trabalho em equipe.

A seleção era feita por carta, as pessoas deveriam dizer por que gostariam de participar da

oficina. Molinari pontua que ele “fazia questão de participar [da seleção] porque tinha

44

muita gente com experiência [...] mas a gente queria fazer a oficina para quem não tinha a

oportunidade, que não tinha participado [de filmes, de cursos], que era iniciante.”41

A iniciativa de proporcionar a dezenas de participantes o contato com o acervo do

Arquivo Nacional, principalmente as imagens em movimento, era uma iniciativa muito

inovadora e frutífera que ao longo dos dez anos de festival resultou em um novo acervo.

Entretanto, convém sublinhar que houve pouco espaço no festival dedicado à pesquisa

sobre essa produção. Somente na Revista REcine de 2012, seria publicado o artigo

“Arquivo em movimento: o uso de imagens de arquivo nas oficinas de vídeo do REcine” de

Antonio Laurindo e Marina Lambert que analisa alguns filmes produzidos nas oficinas.

Vale ressaltar ainda três atividades educativas que foram desenvolvidas pelo

festival: 1) o circuito itinerante que em parceria com outras instituições e escolas levavam a

mostra informativa do festival para outras cidades e Estados. Este projeto ocorreu em 2009

e 2010; 2) a Mostra Escola Técnica Adolpho Bloch que foi realizada em 2013. É preciso

sublinhar que essa escola possui um curso técnico de produção audiovisual e que muitos de

seus alunos já eram estagiários do festival; 3) a produção de filmes realizada por

funcionários do Arquivo Nacional. Entre 2002 e 2014, a equipe produziu 14 filmes que

foram exibidos, em geral, na sessão de abertura do festival42.

Para Hernani Heffner, o REcine “foi pioneiro no Brasil. No sentido de um festival

contemporâneo, existiram festivais que tinham sessões, exibições especiais, pré-estreia de

cópias restauradas não era nova, mas um festival cuja curadoria fosse dedicada a uma certa

ideia de preservação acabou se cristalizando no REcine”

É preciso compreender que, a partir de uma pesquisa bibliográfica e na internet, não

localizamos nenhum outro Arquivo Nacional que possua um Festival de Cinema nem

projeto de exibição de filmes similares, o que ressalta ainda a relevância do Festival. Outro

41 MOLINARI, Clovis. Entrevista concedida à pesquisadora em 07/03/17.

42 Segue, no apêndice D, uma tabela com informações de cada obra.

45

fator importante a destacar é que a partir de 2003, com a chegada do presidente Luís Inácio

Lula da Silva, houve uma mudança nas políticas culturais que favoreceram o crescimento

do número de festivais de cinema pelo país.

Em 2014, as divergências com a produtora Rio de Cinema levou à formação de um

novo festival, o Arquivo em Cartaz. Aparentemente criado com o mesmo formato do antigo

REcine, o novo festival traz modificações na organização das mostras, amplia o espaço

dedicado à formação com as oficinas técnicas e de vídeo e institui uma programação

destinada à educação infantojuvenil com as Mostras “Arquivo Faz Escola” e “Arquivos do

Amanhã”. Essas características ainda em processo de formação serão o foco de nossa

análise.

Para que pudéssemos ter maior compreensão sobre a nova estrutura do festival,

entrevistamos o curador Antonio Laurindo e Valéria Morse responsável nas duas primeiras

edições pela parte pedagógica do Arquivo em Cartaz. Além deles, a entrevista com Ana

Moreira, coordenadora da oficina de vídeo, foi importante para entender a oficina e a

mostra Lanterna Mágica.

3.2 Um novo festival, uma nova proposta?

Os festivais REcine e Arquivo em Cartaz apresentam pontos de convergência com

propostas bem similares de incentivar a exibição de filmes dos acervos de arquivos

audiovisuais e a produção com imagens de arquivos. Entretanto, grandes diferenças

marcam esses dois festivais, nossa intenção é expor suas semelhanças e diferenças. É

importante, pontuarmos, que nossa análise se pauta no festival REcine, realizado entre 2004

e 2014, enquanto ainda estava associado ao Arquivo Nacional. Insistimos em sublinhar este

fato, pois o festival continua existindo e sendo organizado somente pela Rio de Cinema.

46

O REcine e o Arquivo em Cartaz conservam em comum o subtítulo “Festival

Internacional de Cinema de Arquivo”, ambos são realizados no segundo semestre e

possuem uma temática anual. Na programação se mantêm a exposição e as mostras

homenagem e competitiva, já as palestras, a oficina de vídeo e os fóruns de debates foram

alterados.

Em relação às diferenças, notamos nessas duas primeiras edições do Arquivo em

cartaz uma vertente mais cinematográfica e educativa. A sua estrutura inclui novas mostras:

Pré-estreia, Acervos, Arquivo N, Arquivos faz escola, Arquivos do amanhã e Lanterna

Mágica. A proposta educativa é ampliada para além das mostras e da produção de vídeo,

adicionando-se oficinas técnicas de preservação audiovisual. No caso das publicações, o

festival terá um catálogo e uma revista, a Arquivo em Cartaz.

Nas próximas linhas, sublinharemos essas diferenças apontando para a possibilidade

do surgimento de uma nova proposta ou para a reprodução de um modelo de festival de

cinema de arquivo já existente e, por que não, já esgotado.

3.3 O Arquivo em Cartaz

O Arquivo em Cartaz teve sua primeira edição realizada entre 9 e 13 de novembro

de 2015, nos seguintes locais: Arquivo Nacional, Espaço BNDES e Cine Arte UFF com

entrada gratuita, em todos os espaços. No entanto, a maior parte da programação esteve

concentrada nas dependências do Arquivo Nacional e foi organizada em conjunto com a

Universo Produção. Nesta edição, o festival apresentou seis mostras, três debates, uma

oficina de vídeo e três oficinas técnicas. Além de uma revista-catálogo e duas exposições

com o tema do festival, a comemoração de 450 anos do Rio de Janeiro: “O Rio em

Movimento: cidade natural, cidade construção” realizada no Arquivo Nacional e “ Rio

1908: a cidade de Portos Abertos” realizada na galeria do espaço BNDES.

47

Em seu texto de apresentação Arquivo em Cartaz: nossas histórias nas telas de

cinema, o curador do festival Antonio Laurindo (2015, p.10) escreve que “tirar os filmes

das prateleiras para colocá-los nas telas é Arquivo em Cartaz” e indica que o festival surge

vocacionado para divulgar e incentivar a realização de filmes com

imagem de arquivo e para debater e refletir a preservação de acervos

cinematográficos. Os filmes propriamente ditos e seus documentos

relacionados, como roteiros, críticas, memórias, fotos e cartazes, ganham

destaque em diferentes iniciativas. Não se trata do lançamento de mais um

evento de cinema, mas de um espaço permanente de exibição, debates,

formação e capacitação (LAURINDO, 2015, p.10, grifo nosso).

No trecho acima, notamos a intenção de esclarecer que o Arquivo em Cartaz não

seria “mais um evento de cinema”, mas que estaria dedicado à “exibição, debates, formação

e capacitação”. Entretanto, como veremos, o festival seguiria uma linha já seguida pelo

REcine e pela CineOP.

O tema do Arquivo em Cartaz 2016 foi o Samba e seu reportório teve exposição e

exibições dedicadas ao tema. A programação contou com sete Mostras: Pré-estreia,

Competitiva, Acervos, Arquivo N, Oficina Lanterna Mágica, Arquivos faz escola e

Arquivos do Amanhã. Além de oficinas técnicas e dos debates. De maneira sucinta,

descreveremos cada uma das atividades, deixando de fora somente as mostras Arquivos faz

escola e Arquivos do Amanhã que serão estudadas separadamente.

Mostra Homenagem

Dedicada a homenagear uma personalidade do cinema, a mostra busca aliar as duas

personagens que tenham conexão com o tema anual do festival e com o cinema. Na

segunda edição do Arquivo em Cartaz, os homenageados foram Haroldo Costa e Chico

48

Moreira. O objetivo da mostra é que o público possa conferir filmes representativos e raros,

dos homenageados. Contudo, convém, sublinhar que existe uma repetição dos mesmos

homenageados nos três festivais REcine, CineOP e Arquivo em Cartaz. Por exemplo, um

dos homenageados do I Arquivo em Cartaz, de 2015, foi Jurandyr Noronha que tinha sido

também homenageado em 2004 no REcine e na 8° edição da CineOP, de 2013. O mesmo

vai acontecer com Chico Moreira que havia sido homenageado também pela CineOP de

2016. Curador da mostra em 2015 e 2016: Antonio Laurindo.

Mostra Pré-estreia

A mostra tem por objetivo exibir as produções nacionais que utilizaram imagens de

arquivos. Em sua primeira edição, em 2016, foram exibidos Divas Divinas (Documentário,

2016) de Leandra Leal, Pitanga (Documentário, 2016) de Beto Brant e Camila Pitanga e

Memórias Verde e Rosa (Documentário, 2016) de Pedro Von Kruger. Curador da mostra:

Antonio Laurindo.

Mostra Competitiva

Para a mostra, ficou estabelecido que os filmes tenham a presença mínima de 30%

de material de arquivo (imagens em movimento, áudio, fotografias, mapas, manuscritos

etc.) e a finalização entre os anos de 2014 e 2016. Não há restrição a formato e gênero,

podem ser nacionais e estrangeiros, entre curtas, médias e longas-metragens. Categorias

premiada pelo festival: Melhor filme do júri popular, Melhor longa, Melhor média, Melhor

curta, Melhor direção, Melhor roteiro, Melhor edição de imagem, Melhor pesquisa e

49

Prêmio Jurandyr Noronha – Melhor uso de Material de arquivo. Os vencedores recebem o

troféu batoque43. Coordenadora da Mostra em 2015: Mariana Lambert e em 2016: Mariana

Monteiro.

Mostra Acervos

Um diferencial em relação aos outros festivais de arquivo, o Arquivo em Cartaz, em

2016, inseriu a Mostra acervos, um espaço dedicado à projeção dos filmes que estão sob a

guarda de instituições científicas, educacionais e arquivísticas. De acordo com o catálogo

do festival, a mostra tem por objetivo “aproximar o público dos acervos, contribuindo para

a difusão de filmes antigos, películas restauradas, material recém-disponibilizado ao

público” (ARQUIVO EM CARTAZ, 2016, p.72). Curador da Mostra em 2015 e 2016:

Antonio Laurindo.

Mostra Arquivo N

Em 2016, o festival ofereceu em parceria com a Globo News uma mostra dedicada

ao programa Arquivo N que tem por objetivo resgatar por meio das imagens de arquivos,

fatos e personagens da história do Brasil e do mundo. Nessa primeira edição da mostra,

foram exibidos os programas: “Cartola”, “Gonzaguinha” e “Maria Bethânia”.

Mostra Oficina Lanterna Mágica

A Oficina de criação de filmes Lanterna Mágica oferece a participantes previamente

inscritos e selecionados a oportunidade de experimentar a realização de filme por meio das

imagens do acervo do Arquivo Nacional. Seguindo a mesma proposta do REcine, o curso é

43 “Peça cilíndrica conhecida como batoque que garante a sustentação e a firmeza do rolo de película

cinematográfica, funcionando como o seu núcleo”. LAURINDO, 2015, p.10.

50

ministrado por um cineasta, nessas duas primeiras edições, o cineasta convidado foi Joel

Pizzini, e orientado tecnicamente pelos editores Ana Moreira e Jorge Effi do Arquivo

Nacional. A novidade proposta pelo Arquivo em Cartaz é que os filmes resultantes da

atividade concorrem entre si na Mostra Competitiva Oficina Lanterna Mágica cujo júri é

formado por professores universitários. O melhor filme é anunciado no encerramento e

além do troféu batoque recebe 10 minutos de imagens em movimento do acervo do

Arquivo Nacional para futura utilização em obra do vencedor. Coordenadora da Mostra em

2015 e 2016: Ana Moreira.

As oficinas técnicas

Criadas com o objetivo de contribuir na capacitação de profissionais e estudantes, as

oficinas, além da questão técnica, ofereceram dois cursos que relacionavam formação

docente, audiovisual e educação. Em sua primeira edição, 2015, as oficinas técnicas

ofereceram três cursos sobre noções básicas de conservação de películas cinematográficas,

documentos fotográficos e documentos de imagem e som. Ministradas por técnicos do

Arquivo Nacional e especialistas convidados. Essa edição também contou ainda com duas

outras oficinas: Oficina de formação discente – “ Quase tudo que você quis saber sobre as

relações entre história e audiovisual” que buscou refletir sobre o processo de produção de

discursos históricos, a partir do uso de material audiovisual do acervo do Arquivo Nacional;

e Oficina de formação docente − “O Rio de Janeiro pelas lentes do cinema: uso

pedagógico dos filmes em sala de aula” que procurou mostrar o potencial e os desafios da

utilização pedagógica das fontes audiovisuais, a partir das obras depositadas no acervo. As

duas oficinas foram realizadas devido a uma parceria com a Universidade Estadual do Rio

de Janeiro (UERJ) e foram ministradas, respectivamente, pelos professores Carlos Eduardo

Pinto e Flaviano Isolan, e Carina Martins e Vivian Fonseca.

51

Em 2016, o festival ofereceu cinco oficinas técnicas e um workshop internacional.

Os cursos ministrados foram “O som no cinema” por Edwaldo Mayrinck; “Noções básicas

de conservação de documentos fotográficos” por Sandra Baruki; “Noções básicas de

conservação de películas cinematográficas por Antonio Gonçalves e Mauro Domingues;

“Noções básicas de conservação e processamento de documentos sonoros” por Clenilson

Miranda e Thiago Vieira; e “Tratamento arquivístico de acervos audiovisuais” por Rosa

Inês Cordeiro. O workshop “Pesquisa em arquivos” ficou a cargo da argentina Laura Tusi.

Nessa edição, não houve oficinas de formação docente. É preciso salientar que as oficinas

são gratuitas e que o festival Arquivo em Cartaz torna-se pioneiro em oferecer tais oficinas.

Coordenadora das oficinas: Fátima Taranto.

3.3.1 A Mostra “Arquivo faz Escola”

Como pudemos observar, as questões educativas estarão mais presentes em toda a

estrutura do festival. Seguindo uma corrente contemporânea dos arquivos audiovisuais de

criarem setores ou atividades direcionadas ao público infantojuvenil, escolares e familiares,

o Arquivo em Cartaz apresenta a mostra Arquivo faz escola. Coordenada por Valéria

Morse, a mostra é destinada às escolas e ocorre no período matutino, com sessão às 8h30,

no Cine-Teatro do Arquivo Nacional.

De acordo com o catálogo, as sessões têm por objetivo “chamar a atenção do

público escolar para a importância da preservação da memória cinematográfica, assim

como promover a utilização do cinema como uma ferramenta de aprendizado e despertar o

interesse pela produção nacional” 44

. Quando questionado sobre como ocorreu a ideia de

criar uma mostra para esse público, o curador do festival Antonio Laurindo explica que

o Grupo Técnico (GT) Arquivo em Cartaz definiu desde a edição de 2015 que o

festival deveria se preocupar com a formação de público, incentivando a

44 ARQUIVO NACIONAL. Cinema e educação. Catálogo Arquivo em Cartaz, 2016, p.82.

52

utilização do cinema como ferramenta de aprendizado e despertando o interesse

pela produção nacional. Consequentemente, o Arquivo Nacional estaria aberto

para um público diferente daquele que frequenta a instituição para defesa de

direitos e prova e pesquisas acadêmicas45

.

Para maior compreensão da importância dessas atividades, convém abrir um

pequeno parêntese e pontuar que a inclusão do cinema torna-se mais presente no contexto

educativo, e os arquivos audiovisuais seriam uma das principais instituições culturais a

auxiliar na difusão dos filmes. Sublinhamos que esta direção recebeu ainda mais

notoriedade com a Lei 13.006, de 26 de junho de 2014, que obriga que todas as escolas de

educação básica exibam duas horas de cinema nacional por mês como componente

curricular complementar, integrado à proposta pedagógica da escola. Sabemos que a nova

lei chega para acentuar antigas reflexões sobre a infraestrutura necessária para a inclusão do

cinema no contexto escolar e principalmente sobre uma velha, e presente, questão do

cinema brasileiro: a formação de público. Como afirmou Pola Ribeiro, ex-secretário do

audiovisual “se cada estudante do Ensino básico assistir a dois longas em posse da

Cinemateca Brasileira, por exemplo, começa se criar, ao longo prazo, uma consciência

social da importância da preservação do cinema brasileiro” 46

.

Nesse sentido, a programação da mostra “Arquivo faz escola” é totalmente dedicada

às obras nacionais, e os filmes exibidos buscam dialogar com o tema anual do festival.

Apresentamos abaixo os filmes exibidos nas duas primeiras edições, de 2015 e 2016, da

mostra.

45 LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

46 RISTOW, Fabiano. Acervos do cinema brasileiro têm condição precária. Incêndio na Cinemateca Brasileira chama a atenção para o estado das instituições. Jornal O Globo, 14/02/16. Disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/acervos-do-cinema-brasileiro-tem-condicao-precaria-18670335 Acessado em

14 de fevereiro, 2016.

53

Mostra Arquivo faz Escola - 2015

Título Diretor Gênero Cor Formato Duração Ano Cartola: música para os Hilton Lacerda e Documentário cor Digital 90’ 2006

olhos Lírio Ferreira

Maré, nossa história de Lúcia Murat Ficção cor Digital 104’ 2007

amor

Carioca era um rio Simplício Neto Documentário cor Digital 72’ 2012

Últimas conversas Eduardo Documentário cor Digital 85’ 2015

Coutinho Quadro 2 - Filmes exibidos na Mostra Arquivo faz escola, 2015. Fonte: Catálogo Arquivo em Cartaz

Mostra Arquivo faz Escola – 2016

Título Diretor Gênero Cor Formato Duração Ano

O samba que mora Georgia Guerra- Documentário cor Digital 72’ 2011

em mim Peixe A alma roqueira de Alex Miranda Documentário cor Digital 70’ 2011

Noel

Trinta Paulo Michline Documentário cor Digital 92’ 2014

Quadro 3 - Filmes exibidos na Mostra Arquivo faz escola, 2016. Fonte: Catálogo Arquivo em Cartaz

Conforme os quadros acima, observamos na programação da Mostra Arquivo faz

Escola que houve um predomínio de documentários de longas-metragens, coloridos e

realizados recentemente, entre 2006 e 2011. Quando questionado sobre quais os motivos

que levaram a esta seleção, o curador Antonio Laurindo explica

os filmes foram escolhidos de acordo com a abordagem: 2015 a cidade do Rio de

Janeiro e em 2016 o centenário do samba. Os documentários recentes possuem

uma linguagem mais próxima do público infantojuvenil e abordam questões

importantes sobre a cultura brasileira e suas personagens47

.

47 LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

54

Compreendemos a importância que é trazer esses jovens até o Arquivo Nacional e

que os desafios ultrapassam a seleção dos filmes como sublinha Valéria Morse48, ao

esclarecer os processos de divulgação da Mostra:

Temos um acordo de cooperação técnica com a Universo Produções, que a

divulga em seu site e nas suas redes sociais, assim como o Arquivo Nacional.

Ambas contam com suas Assessorias de Comunicação para realizar esse trabalho

de divulgação.

Quando questionada se existia um acordo de cooperação com algum órgão

educativo que facilitasse o contato com as escolas, ela afirma que

Não. Tentamos o contato com a Secretaria Estadual de Educação, porém não

obtivemos resultado. Durante o ano o Arquivo Nacional recebe visitas guiadas

[escolares] em suas exposições e divulgamos o evento. Outra forma de

divulgação é nossa mala direta.

E explica como ocorre o agendamento das escolas

A produtora, Universo Produções, disponibiliza um formulário em seu site para

os agendamentos das sessões Arquivo Faz Escola, porém as escolas não os

utilizam. Os contatos acontecem a partir de um trabalho mais pessoal de contato

direto com a direção das escolas. Esse ano, eu e o curador do festival [Antonio

Laurindo], visitamos uma escola próxima ao Arquivo Nacional durante a reunião

do conselho de classe e conversamos com os professores e conseguimos trazer

150 alunos em uma das sessões.

O relato de Valéria descreve um pouco as dificuldades para que as atividades

culturais adentrem os espaços escolares e mudem a rotina estabelecida. É preciso pontuar

que a Universo Produção em conjunto com a equipe do Arquivo Nacional produziram um

material de divulgação para as escolas e professores49

.

48 MORSE, Valéria. Entrevista concedida à pesquisadora em 02/02/17.

49 Segue no apêndice E o material de divulgação.

55

3.3.2 A Mostra “Arquivos do Amanhã”

É crescente o número de produções audiovisuais realizadas por jovens em oficinas,

escolas e cursos de férias. No entanto, os espaços para a exibição desses filmes acabam

sendo limitados. Ainda são poucos os festivais de filmes juvenis ou escolares. Nesse

sentido, o Arquivo em Cartaz traz uma proposta que, de certa maneira, vem suprir essa

necessidade.

A Mostra “Arquivos do Amanhã” exibe curtas-metragens de até 10 minutos

produzidas por estudantes em parceria com a escola ou por iniciativa própria. Segundo os

organizadores, o objetivo da Mostra é

incentivar a produção de registros audiovisuais a partir do ponto de vista de estudantes, entre 8 e 17 anos, realizados no âmbito das atividades educacionais, que documentem fatos, lugares e tradições significativas de seu tempo e sirvam

como memória para os arquivos do futuro50

.

Em 2015, na primeira edição, as inscrições deveriam ser realizadas pelas

instituições de ensino. A equipe do festival havia entrado em contato com as escolas para

fazer a divulgação. Como demonstra o quadro abaixo, a maior parte dos filmes inscritos foi

da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch que possui um curso técnico de produção

audiovisual e já havia sido parceira de algumas atividades do REcine.

Mostra “Arquivos do amanhã” - 2015

Título Escola Gênero Cor Formato Duração ano

Caminhos Cruzados Projeto Rede Escola Rio – Ficção cor Digital 4’37” 2015 Escola Municipal Bolívar

A copa da rua ETE Adolpho Bloch Documentário cor Digital 4’52” 2015

Santa Arte ETE Adolpho Bloch Experimental cor Digital 3’50” 2015

Artes em cena ETE Adolpho Bloch Documentário cor Digital 5’ 2015

Quadro 4 - Filmes exibidos na Mostra Arquivos do Amanhã, 2015. Fonte: Catálogo Arquivo em Cartaz

50 ARQUIVO NACIONAL. Cinema da nova geração. Catálogo “Arquivo em Cartaz”, 2016, p.86.

56

Na segunda edição da Mostra, os organizadores do festival alteraram a forma de

inscrição que passou a ser aberta aos estudantes. No entanto, em razão da greve das escolas

estaduais do Rio de Janeiro, notamos uma ausência da Escola Técnica Estadual Adolpho

Bloch. Laurindo afirma que devido a esse fato, os contatos de divulgação junto às escolas

também foram prejudicados51. Segue abaixo um quadro com os filmes exibidos em 2016.

Mostra “Arquivos do amanhã” - 2016

Título Escola Gênero Cor Formato Duração ano

Clic Colégio Estadual José Leite Ficção cor Digital 4’41” 2015 Lopes - Nave

Coração de madeira Leonardo Martinelli Experimental cor Digital 6’39” 2015

Voltas ao redor do mundo Cairu Sampaio de Freitas Ficção cor Digital 1’48” 2015

Quadro 5 - Filmes exibidos na Mostra Arquivos do Amanhã, 2016. Fonte: Catálogo Arquivo em Cartaz

3.3.3 A Revista Arquivo em Cartaz

A primeira revista do Arquivo em Cartaz possuía uma semelhança de conteúdo bem

próxima da revista REcine, apresentação escrita pelo curador da mostra e os textos

divididos entre os homenageados, o tema anual do festival e um destaque para a

preservação audiovisual. Em relação à revista, Antonio Laurindo pontua que existe uma

tentativa de resgatar a discussão sobre a preservação audiovisual.

O primeiro volume da Revista Arquivo em Cartaz traz três artigos sobre o tema:

Preservação Audiovisual no século XXI: avanços e desafios no Brasil, de Laura Bezerra; A

formação de acervos audiovisuais, de Mauro Domingues; e A vez do Rio: a criação da

Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro de José Quental. Laurindo

esclarece que há uma tentativa de instituir uma chamada para artigos, sobretudo de

pesquisadores, para compor a publicação, mas considera não ter atingido o ideal. E salienta

51 LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

57

que tem uma mudança “a primeira revista foi uma editora, na segunda já foi uma outra

editora com visões diferentes sobre aquela revista” 52

. O editor que também faz parte do

grupo técnico do festival é quem decide e define o formato da Revista, embora os temas

sejam discutidos com todos os membros.

Na segunda edição, notamos que o tema da preservação continuou em pauta e teve

mais diversidade na abordagem com os textos sobre salvaguarda e preservação digital,

pesquisa em arquivos, acervos musicais e um relato sobre os acervos do Centro de

Capacitação Cinematográfica no México.

De todo modo, como todo o Festival Arquivo em Cartaz, a revista ainda passa por

um processo de formulação, ora tendendo por textos mais acadêmicos, ora por

apresentações das temáticas do festival. No entanto, Antonio Laurindo pontua que o

objetivo é priorizar os “temas relacionados à preservação e os relatos de experiência” que

pouco recebem espaço nos periódicos acadêmicos de cinema e comunicação.

3.4 Ações Educativas ou Educação Patrimonial? Uma análise sobre as atividades do

REcine e do Arquivo em Cartaz

Ao longo deste texto, observamos que as atividades educativas dos festivais

REcine e Arquivo em Cartaz se diferenciaram da programação oferecida ao público pelo

Arquivo Nacional. No entanto, surgiu uma questão importante: estas atividades educativas

podem ser enquadradas nos princípios e diretrizes da Educação Patrimonial elaborados pelo

CEDUC-IPHAN?

Para elucidar esta questão, buscaremos identificar nestas atividades a definição

sugerida pelo Guia Básico da Educação Patrimonial e os princípios e diretrizes da

52 LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

58

Educação Patrimonial definidos pelo IPHAN e consolidados na portaria nº137 de abril de

2016.

De acordo com o Guia considera-se as ações educativas de Educação

Patrimonial como “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional” 53

.

Como notamos, as atividades do REcine e Arquivo em Cartaz foram isoladas e pontuais e

não possuem uma continuidade na programação do Arquivo Nacional. Esse fato pode

provocar o distanciamento do público conquistado durante os festivais.

Nesse sentido, as diretrizes da Educação Patrimonial do IPHAN recomendam que

os “processos educativos deverão primar pelo diálogo permanente entre os agentes sociais e

pela participação efetiva das comunidades” 54

e propõe no artigo 3 que as ações busquem:

Art. 3º São diretrizes da Educação Patrimonial: I - Incentivar a participação social na formulação, implementação e execução das ações

educativas, de modo a estimular o protagonismo dos diferentes grupos sociais; II - Integrar as práticas educativas ao cotidiano, associando os bens culturais aos espaços de

vida das pessoas;

III - valorizar o território como espaço educativo, passível de leituras e interpretações por meio

de múltiplas estratégias educacionais;

IV - Favorecer as relações de afetividade e estima inerentes à valorização e preservação do

patrimônio cultural; V - Considerar que as práticas educativas e as políticas de preservação estão inseridas num campo de conflito e negociação entre diferentes segmentos, setores e grupos sociais; VI - Considerar a intersetorialidade das ações educativas, de modo a promover articulações das políticas de preservação e valorização do patrimônio cultural com as de cultura, turismo, meio ambiente, educação, saúde, desenvolvimento urbano e outras áreas correlatas;

VII - incentivar a associação das políticas de patrimônio cultural às ações de sustentabilidade

local, regional e nacional;

VIII - considerar patrimônio cultural como tema transversal e interdisciplinar (BRASIL, 2016,

p.6).

53 HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Museu Imperial, 1999, p.6. 54 BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - portaria nº 137, de 28 de abril de 2016. http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Portaria_n_137_de_28_de_abril_de_2016.pdf

59

Destacamos que as atividades educativas dos festivais possuem algumas

características correspondentes às diretrizes do IPHAN, tais como: a valorização do

território como espaço educativo, a intersetorialidade e a valorização do patrimônio cultural

como tema transversal e interdisciplinar. Entretanto, percebemos que as atividades são

promovidas em parceria com produtoras culturais e que há uma ausência de artistas,

agentes e instituições locais no desenvolvimento das atividades o que causa, por vezes, o

desconhecimento dos acervos e ações da instituição.

Antes de encerrar esta análise, é preciso ressaltar três pontos importantes que

não puderam ser examinados neste trabalho, mas que merecem ser destacados: a produção

de vídeos pela equipe do Arquivo Nacional, o aumento do público no Arquivo Nacional

devido ao REcine e ao Arquivo em Cartaz e a relação dos festivais e mostra de cinema de

arquivo com o patrimônio material.

Durante todos os anos em que o REcine foi organizado em conjunto com o

Arquivo Nacional foram produzidos curtas e médias-metragens55

com material do acervo

pela equipe de servidores. Os filmes eram exibidos na sessão de abertura do festival, essa

ideia se mantém no Arquivo em Cartaz, no entanto o desenvolvimento dessa questão

implicaria em outro tipo de análise e aprofundamentos que esta pesquisa não poderia

comportar devido ao seu caráter de um trabalho monográfico com tempo limitado.

Em relação ao aumento de público no Arquivo nacional, o relatório do Arquivo em

Cartaz de 2015 indica que o festival teve um público estimado de mais de 3 mil participantes56.

Em 2016, esse número sobe para mais de 5 mil participantes, convém, no entanto, ressaltar que

esses números não são exatos, pois como apontou Antonio Laurindo57

não há uma

contabilização via ingressos ou seja exata. Nas sessões do Arquivo Nacional pode-se fazer uma

contagem por meio da quantidade de assentos disponíveis no pátio e no

55 Segue no Apêndice D uma lista com os filmes produzidos pela equipe do Arquivo Nacional.

56 UNIVERSO PRODUÇÃO. Relatório Arquivo em Cartaz, 2015, p.8.

57 LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

60

cine-teatro. Entretanto, é preciso sublinhar que nos cinco dias de evento, o festival alcança

um público próximo ou superior ao que a instituição atinge em um ano inteiro de atividades

culturais como vimos pelos números expostos no segundo capítulo. Pontuamos também que

o Arquivo em Cartaz mantém uma atuação constante de publicações nas rede sociais.

Por fim, sublinhamos a importante união entre patrimônio material e imaterial

que está presente nos festivais e mostra de cinema. Nesse caso, destacamos o REcine e o

Arquivo em Cartaz que além de incentivar a preservação e a produção audiovisual permite

que o público conheça o patrimônio documental, fotográfico e arquitetônico do Arquivo

Nacional. Essa “convergência de patrimônios” também é realizada em outros festivais

como a CineOP realizada na cidade mineira de Ouro Preto, primeiro sítio brasileiro

considerado Patrimônio Mundial da UNESCO.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Preservação audiovisual, patrimônio e educação permearam de forma insistente

esta pesquisa. Vimos que no decorrer dos anos houve uma valorização dos acervos

audiovisuais no Brasil e que a união entre patrimônio material e imaterial se faz presente

em festivais e mostra como o REcine, a CineOP e o Arquivo em Cartaz que são realizados

em cidades ou prédios históricos. Entendemos também que os festivais de cinema do

Arquivo Nacional têm potencialidade de despertar o interesse de um público não

especializado pelas imagens de arquivo e mais do que isso de gerar novas produções com

imagens históricas e artísticas do país.

Neste sentido, pretendemos com este trabalho analisar o processo de

valorização do acervo audiovisual do Arquivo Nacional com o objetivo de estudar a

formação dos festivais REcine e Arquivo em Cartaz. Para que pudéssemos visualizar como

ocorreu a valorização do acervo, optamos por começar nosso percurso abordando os

conceitos de patrimônio, audiovisual e educação.

Nesse sentido, analisamos a atuação da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da Federação Internacional de Arquivos de

Filmes (FIAF), no estabelecimento de políticas de preservação audiovisual. Discutimos

ainda a relação entre patrimônio audiovisual e educação.

Em seguida, no capítulo 2, apresentamos as atividades educativas do Arquivo

Nacional e narramos o início da criação do acervo audiovisual, destacando seu crescimento

e sua valorização que desencadearam nas Mostras de Cinema. Esse novos eventos

incidiram notoriedade ao Arquivo Nacional, colocando-o não mais somente como uma

instituição de salvaguarda mas como um local cultural.

Por fim, o último capítulo foi dedicado à análise da formação dos festivais

REcine e Arquivo em Cartaz. Essa parte do trabalho buscou apresentar a organização e as

62

propostas dos festivais, sublinhando suas semelhanças e diferenças. Nesse sentido,

sistematizamos as atividades de exibição e formação com objetivo de verificar como os

conceitos de patrimônio, audiovisual e educação foram desenvolvidos em cada festival.

Conclui-se que, por meio das oficinas de vídeos e das mostras infantojuvenis, esses três

conceitos podem ser desenvolvidos em conjunto e gerar uma consciência social sobre a

importância da preservação audiovisual.

Ao nosso ver, esta pesquisa sublinhou algumas questões quanto ao lugar

alcançado pelos documentos audiovisuais no Arquivo Nacional durante o período do

REcine e como sucede está continuidade no Arquivo em Cartaz. Assim, ao concluirmos

este trabalho parece necessário esclarecer que o tema não se esgota aqui e que esta primeira

pesquisa buscou dar visibilidade a um tema pouco estudado até o momento.

63

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https://portalseer.ufba.br/index.php/pculturais/article/view/13405

ENTREVISTAS

FAVILLA, Ricardo. Entrevista concedida à pesquisadora em 08/03/17.

HEFFNER, Hernani. Entrevista concedida à pesquisadora em 08/03/17.

LAURINDO, Antonio. Entrevista concedida à pesquisadora em 10/03/17.

MOLINARI, Clovis. Entrevista concedida à pesquisadora em 06 e 07/03/17.

66

MOREIRA, Ana. Entrevista concedida à pesquisadora em 09/03/17.

MORSE, Valéria. Entrevista concedida à pesquisadora em 02/02/17.

TEBYRIÇA, Claudia. Entrevista concedida à pesquisadora em 09/03/16.

67

APÊNDICE A - PALESTRAS REALIZADAS DE 2004 A 2012

Sistematizamos na tabela os dados referentes às palestras realizadas entre 2004 e 2012. É preciso explicar

que optamos em por este período, pois nas edições 2012 e 2013 as palestras serão agregadas aos fóruns, já em 2014

recebem estrutura de mesas-redondas sobre a temática do festival daquele ano.

Palestras

2004 - 2012

Convidado Título Formação/Instituição Ano

Marc Ferro As Relações entre a História e o Historiador - Escola de 2004 Cinema Altos Estudos em Ciências

Sociais da França Jean-Louis Comolli e O Poder da Televisão e suas Cineasta, critico de cinema 2005

Maurício Lissovsky vicissitudes na vida contemporânea e escritor - Trafic/Images

documentaires –

Escritor e professor –

ECO/RJ

Vincent Deville A Experimentação Cinematográfica Cinemateca Francesa 2006

Aurélio González Palestra do fotógrafo Aurélio Fotógrafo 2007

González sobre a recuperação de seu

acervo, três décadas após o golpe

militar no Uruguai. Ruy Castro Palestra de Ruy Castro sobre o Jornalista, escritor e 2007

homenageado, o crítico de cinema tradutor

Moniz Vianna José Miguel Wisnik Veneno Remédio: o futebol e o Brasil Escritor e professor – 2008

Universidade de São Paulo Ruy Castro Estrela Solitária – um brasileiro Jornalista, escritor e 2008

chamado Garrincha tradutor Ruy Castro Do éter à tela: uma trajetória de vozes, Jornalista, escritor e 2009

do rádio ao cinema tradutor José Ramos Tinhorão As relações da música popular com o Crítico e pesquisador 2010

cinema brasileiro

João Sócrates de Oliveira O papel das tecnologias digitais na Arquivista e Restaurador de 2011

restauração do filme Cabíria (1914) filmes/ PresTech Film

Laboratories Limited

Halder Gomes e Betse de Humor no cinema nacional Cineastas 2012

Paula

Fonte: Site REcine; www.REcine.com.br

68

APÊNDICE B - FÓRUNS DE DEBATES DO RECINE (2004-2014)

Para elaboração desta tabela, foram utilizados os dados da programação de cada

evento disponível no site do festival – recine.com.br . Os quadros em azul indicam os

fóruns de debates do REcine dedicados à preservação e difusão audiovisual.

Fóruns de debates

2004 - 2014

Convidados Temas Mediador Ano

Marc Ferro (EHESS, França) Cinema e História Paulo Markun 2004

Michel Marie (Paris 3, França)

João Luis Vieira (UFF, Brasil)

Silvio Tendler (PUC, Brasil) João de Sócrates de Oliveira Preservação de Filmes: Uma Clovis Molinari Jr. 2004

(Inglaterra) Questão Internacional (Arquivo Nacional,

José Manuel Costa (Cinemateca Brasil)

Portuguesa)

Martin Körber (Alemanha)

Adriana Cox Hóllos (Arquivo

Nacional,Brasil)

Sílvia Fiúza (Central Globo de

Comunicação, Brasil)

Heitor Capuzzo (UFMG, Brasil)

Eugenio Bucci (Presidente da Cinema e Televisão Clovis Molinari Jr. 2005

Radiobrás) (Arquivo Nacional,

Fernando Barbosa Lima (Produtor Brasil)

e diretor de TV)

Domingos de Oliveira (Diretor,

produtor e escritor de cinema e

teatro )

Luiz Gleizer ( Diretor e produtor

de televisão – Rede Globo) Max Benoix (Direção geral do Televisão: memória em perigo Nelson Hoineff 2005

INA, França) (Instituto e Estudos da

Sylvia Fiuza (Gerente de memória Televisão, Brasil)

da Rede Globo, Brasil)

Amélia Antunha (Gerente de

memória da Rede Record, Brasil)

Beth Carmona (Direção Geral da

TVE, Brasil)

Carlos Magalhães

Cineastas convidados: A renovação do cinema atual Clovis Molinari Jr. 2006

Cláudio Assis (Pernambuco) (Arquivo Nacional,

Edgar Navarro Filho (Bahia) Brasil)

Eryc Rocha (Rio de Janeiro)

69

Joel Pizzini (Rio de Janeiro)

José Araripe Jr. (Rio de Janeiro)

Kleber Mendonça Filho

(Pernambuco) Alexandre Niemeyer (Canal 100, Os Herdeiros de Cinejornais José Carlos Avellar 2007

RJ) Brasileiros – Exibição dos (crítico decinema,

Martha Sirimarco e Manoel cinejornais: curador, cineasta e

Carriço (Carriço Film, MG) - Canal 100 Atualidades 70 X 39, gestor público)

Eduardo Morettin (DIP,SP) de 1970;

Regina Carbonari (Primo - João Carriço, O Amigo do Povo,

Carbonari, SP) de 2000;

Herbert Richers Jr. (Herbert - Cine Jornal Brasileiro vol. 1 nº

Richers, RJ) – 120”, de 1940;

Roberto Farias (Teleobjetiva, RJ) - Cinejornal Notícias em Ampla

visão Nº 339”, de 1976;

- Cinejornal Cine Noticiário Nº

300, de 1961;

- Cinejornal Teleobjetiva, da

década de 1970 José Araripe Jr. (Diretor do CTAv Cinema, Imprensa e Educação – ______ 2007

– Centro Técnico Audiovisual) INCE e RÁDIO MEC – 70

Orlando Guilhon (Diretor da ANOS

Rádio MEC)

Sheila Schvarzman (Pesquisadora)

Liana Milanez (Gerente Executiva

da Rádio MEC) Sybil Bittencourt Sessão de resgate da memória do Celina Vargas do 2007

Carlos Heitor Cony jornal Correio da Manhã Amaral Peixoto

Marcus Gasparian

Arthur Poerner

Maurício Azedo

Jaime Antunes da Silva

Jose Carlos Asbeg O futebol no cinema – Filmes de Clovis Molinari Jr. 2008

Luiz Rosemberg Filho ficção e documentário: quais as (Arquivo Nacional,

Oswaldo Caldeira dificuldades? Brasil) Fernando Calazans Futebol: Violência e Paixão Clovis Molinari Jr. 2008

João Maximo (Arquivo Nacional,

Manolo Epelbaum Brasil)

José Murilo Júnior (Fórum Rádio: preservação de acervos de Ana Baumworcel 2009

Cultura Digital – MinC, Brasil) áudio (UFF, Brasil)

Carlos Andrade (Visom Digital,

Brasil)

Valérie Chaumelle Serrus – (INA,

França)

Carlos Nepomuceno – PontoNet – O rádio do futuro Orlando Guilhon 2009

Rádio web (Rádio MEC, Brasil)

Michel Penneroux (Comitê do

70

Consórcio Europeu de Rádio

Digital, França)

Janete El Haouli (Casa de Cultura

de Londrina, Brasil)

Maria Emília Alencar (Radio

France Internationale, Brasil)

Edinha Diniz – Socióloga Memória da música brasileira – Anna Paes, professora, 2010

Charles Gavin – Músico, produtor Pesquisadores pesquisadora, violonista

e colecionador de discos raros e cantora

José Ramos Tinhorão – Jornalista,

crítico musical, colecionador. -

e colunista do jornal O Globo. Ana de Hollanda (Vice-presidente Memória da música brasileira – Adair Rocha, Ministério 2010

do Museu da Imagem e do Som, Instituições que guardam a da Cultura

RJ) memória

Francisco Bosco (Coordenador da

Rádio Batuta, do Instituto Moreira

Salles)

Cristiano Menezes (Gerente

regional de rádio da Empresa

Brasil de Comunicação)

Ricardo Cravo Albin (Presidente

do Instituto Cravo Albin)

Guy Bourlée (Curador do Cine Preservação e Restauro de Júlia Levy , 2011

Ritrovato, da Cineteca di Bologna, películas cinematográficas Superintendente do

Itália) Audiovisual do Estado

Carlos Magalhães (Diretor da do Rio de Janeiro

Cinemateca Brasileira, Brasil)

Patrícia de Filippi (Conservadora

da Cinemateca Brasileira)

Paloma Rocha (Cineasta -

Presidente do Tempo Glauber)

Sinai Sganzerla (Compositora -

Resgate de Rogério Sganzerla)

Roberto Moura (Professor da A influência da Itália no cinema Clovis Molinari Jr. 2011 UFF, pesquisador e cineasta) brasileiro: pioneiros, vera cruz, Curador do REcine

Ana Carolina Maciel cinema novo, Glauber rocha

(Historiadora e cineasta)

Joel Pizzini (Cineasta)

Ismail Xavier (Professor da ECA-

USP e teórico do cinema

brasileiro)

Rita Marques (Gerente do Centro Imagens de arquivo e difusão Mauro Domingues 2012

de Documentação da TV cultural (Coordenador de

Globo/RJ) Preservação do Acervo

Maria Byington (Produtora e do Arquivo Nacional)

71

pesquisadora audiovisual)

Renata William (Historiadora e

pesquisadora do Arquivo

Nacional)

Lacy Barca (Gerente Executiva de

Acervo e Conhecimento na

Empresa Brasil de Comunicação -

EBC)

Sílvio Tendler (Documentarista) Cineastas e as imagens de arquivo Beth Formaggini 2012

Marcos Mendes (Cineasta e (Inepac, RJ)

professor da UNB)

José Inácio Parente (Psicanalista,

cineasta e fotógrafo)

Maurício Bragança ( Professor da Preservaçãoe restaurode Júlia Levy , 2012

UFF) arquivos audiovisuais Superintendente do

Rodrigo Mercês (Restaurador da Audiovisual do Estado

Cinemateca Brasileira) do Rio de Janeiro

José Inácio Parente (Psicanalista, Rio de Memórias: fotografia e Cláudia Heynemann 2013

cineasta e fotógrafo) cinema no início do século XX (Supervisora de

Milton Guran (Fotógrafo, pesquisa do Arquivo

Coordenador-geral do FotoRio) Nacional)

Joaquim Marçal (Pesquisador da

Divisão de Iconografia da

Biblioteca Nacional)

Pedro Vasques (Infoto/Funarte) Aída Marques (Professora da SRTV: registros do cinema Lacy Barca (Empresa 2013 UFF) brasileiro Brasil de Comunicação

Tizuka Yamasaki (Diretora de – EBC)

cinema e televisão)

José Carlos Asbeg (Cineasta,

roteirista, jornalista e produtor) Representantes do Instituto Acervos cariocas: a renovação das Antonio Laurindo 2013

Moreira Salles e Museu da imagens de arquivo (Supervisor do Setor de

Imagem e do Som Documentos

Filmográficos do

Arquivo Nacional)

Eduardo Morettin (Professor Literatura No Cinema Júlia Scamparini 2014

ECA-USP) Ferreira (Coordenadora

Vera Lúcia Follain de Figueiredo do Laboratório de

(Professora PUC-RJ) Imagem e Som da UFF)

Denise Costa Lopes ( Jornalista e

professora PUC-RJ)

Manfredo Caldas (Cineasta) Como fazer cinema com literatura Aline da Silva Novaes 2014

Angélica Coutinho (Doutora em (Doutora em Literatura,

Letras pela PUC-Rio e Cultura e

especialista em Regulamentação Contemporaneidade

Cinematográfica e Audiovisual na pela PUC-Rio e

72

Agência Nacional do Cinema) professora licenciada

das universidades Cândido Mendes e Estácio de Sá) Nelson Pereira dos Santos A literatura na obra de Nelson Arquivista e 2014

(Cineasta) Pereira dos Santos Restaurador de filmes/

José Carlos Avellar (Jornalista, PresTech Film

crítico de cinema e coordenador Laboratories Limited

de cinema do Instituto Moreira

Salles)

Silvia Oroz (Cineasta, doutora em

Notório Saber pelo Centro Cordinador y Difusor de Estudios Latinoamericanos)

Fonte: Site REcine, www.recine.com.br

73

APÊNDICE C – TEMA DO RECINE, 2004 – 2014

Para se ter maior compreensão dos temas abordados ao longo dos 10 anos de Recine, elaboramos um

quadro com o curador e a temática de cada ano do festival durante o período de 2004 a 2014. É preciso pontuar que

de 2004 a 2011, os créditos de curadoria do REcine são de Clovis Molinari Jr., nas edições de 2012, 2013 e 2014 os

créditos passam a ser de curadoria geral sendo que cada mostra ou oficina pode ter tido um curador diferente.

Temas

2004 - 2014

Tema Curador Ano

Revoluções Clovis Molinari Jr. 2004

Televisão Clovis Molinari Jr. 2005

Vanguardas no cinema Clovis Molinari Jr. 2006

A imprensa no cinema Clovis Molinari Jr. 2007

Futebol Clovis Molinari Jr. 2008

A história do rádio Clovis Molinari Jr. 2009

Música brasileira Clovis Molinari Jr. 2010

A Itália e o cinema brasileiro Clovis Molinari Jr. 2011

O REcine ri à toa Ricardo Favilla Ferreira 2012

O Rio em prosas e fitas Mauro Domingues e Ricardo Favilla 2013

Com a palavra, o cinema Renata dos Santos Ferreira 2014

Elfi Kürten Fenske

Fonte: REcine, www.recine.com.br

74

APÊNDICE D - FILMES PRODUZIDOS PELA EQUIPE DO

ARQUIVO NACIONAL

Elaboramos uma tabela com título, assunto, características técnicas e ano de cada

obra produzida pela equipe do Arquivo Nacional para o REcine. No entanto, precisamos

esclarecer que nem todos os campos foram preenchidos, pois os dados foram consultados

no site do festival e por diversas vezes não haviam todas as informações, principalmente

técnicas. Outro fator a ressaltar é que até 2011, a programação de filmes apresentava essas

obras como uma produção do Arquivo Nacional. Entretanto, em consulta no Arquivo

Nacional a pesquisadora assistiu à alguns destes filmes e nos créditos finais existe a

assinatura de direção geralmente associada à Clovis Molinari Jr. e Ana Moreira, porém

devido ao tempo limitado da pesquisa não foi possível assistir a todos os filmes e atualizar à

autoria de cada filme.

75

Título Assunto Características Ano

técnicas

Meio Século de Revoluções Edição de imagens de algumas das mais importantes revoluções e contra- 55 min., P&b/cor, 2004

revoluções que aconteceram na segunda metade do século XX. Acervo Betacam

Arquivo Nacional do Brasil

TV Tupi – A insistência das Documentário produzido pela equipe do Arquivo Nacional que revela a Betacam; 20 min., 2005

imagens esquecidas descoberta de parte importante do acervo da extinta TV Tupi, em fitas P&B/Cor

quadruplex e películas de 16mm, recém chegada ao Arquivo Nacional. O

material mostra aspectos da vida cotidiana e política do Brasil nos anos de

1950 a 1970, necessitando de recuperação urgente.

As Mudanças mudam Vídeo produzido pelo Arquivo Nacional. A edição utiliza imagens de arquivo 15’, cor e p&b, sonoro, 2006

que remetem ao estranhamento dos movimentos surrealista e dadaísta Betacam

Actualidades REcine Cinejornal produzido pelo Arquivo Nacional sobre a trajetória do 9 min. – 2007

REcine B&P/Cor

Publique-se Aversão Curta-metragem produzido pelo Arquivo Nacional 15 min. – 2007

B&P/Cor

Abrindo o jogo Curta-metragem produzido pelo Arquivo Nacional 17’ 2008

Cinema ligado no rádio Curta-metragem produzido pelo Arquivo Nacional 8’ 2009

Todos os caminhos levam à Curta-metragem produzido pelo Arquivo Nacional 16’ 2010

música

10 anos de REcine Documentário curta-metragem 10’, dvd 2011

Pioneiros do cinema brasileiro Fragmentos de filmes do início do século XX. Produção Arquivo Nacional 25’, P&B, dvd 2011

Sobre comédias e artistas Com a participação de Carlos Manga, João Luiz Vieira e Roberto Farias, o 20’, cor, 2012

populares curta apresenta um breve panorama do cinema de comédia produzido no

Brasil entre as décadas de 1930 e 1960.

Cinema Doméstico Utilizando material produzido em 1931 por um cinegrafista amador, doado 10’, PB 2013

anos mais tarde à TV Brasil, o filme apresenta aspectos do Méier, tradicional

bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, destacando o valor dos registros

caseiros para o resgate dos costumes de uma época.

Cinema Letrado – A literatura a Dir. Ana Moreira – Produção do Arquivo Nacional 19’ 2014

24 quadros por segundo

76

APÊNDICE E – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO PARA AS ESCOLAS

E PROFESSORES, ARQUIVO FAZ ESCOLA

Figura 1 - Banner convite aos educadores – Mostra Arquivo faz escola, 2016.

Fonte: Arquivo Nacional/ Universo Produção

77

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Figura 2 – Carta convite - Mostra Arquivo faz escola, 2016. Fonte: Arquivo Nacional/ Universo Produção.

78

APÊNDICE F – FOTOGRAFIAS DO FESTIVAL ARQUIVO EM

CARTAZ

Figura 3 – Troféu Batoque

Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

79

Figura 4 - Abertura do Festival Arquivo em cartaz, 2015 Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 5 - Mostra Competitiva, 2015. Exibição do filme “Verão da Lata”. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção.

80

Figura 6 - Exposição Rio 1908: A cidade de Portos Abertos, Espaço BNDES. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção.

Figura 7 – Exposição Rio 1908: A cidade de Portos Abertos, Espaço BNDES.

Fonte: Léo Lara/ Universo Produção.

81

Figura 8 – Convidados do debate “Por dentro dos arquivos cinematográficos” : Mauro Domingues, Olga Futemma, Maria Thereza Kahl Fonseca, a mediadora Laura Bezerra e

Hernani Heffner. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 9 – Debate “Por dentro dos arquivos

cinematográficos” Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

82

Figura 10 – Oficina técnica “Noções Básicas de Conservação de Películas Cinematográficas”, 2016.

Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 11 – Oficina técnica “ O som no cinema”, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

83

Figura 12 – Exposição " O Século do Samba ", Arquivo Nacional, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 13 - Exposição " O Século do Samba ", Arquivo Nacional, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

84

Figura 14 - Haroldo Costa, um dos homenageados, com o troféu batoque na sessão

de encerramento. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 15 - Encerramento do Festival Arquivo em Cartaz, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

85

APÊNDICE G – FOTOGRAFIAS DA MOSTRA ARQUIVO FAZ

ESCOLA

Figura 16 - Estudantes na entrada do Arquivo Nacional, 2015. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

86

Figura 17 – Sessão Mostra Arquivo faz escola, 2015. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

87

Figura 18 – Sessão Mostra Arquivo faz escola, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção

Figura 19 – Alunos, Mostra Arquivo em Cartaz, 2016. Fonte: Léo Lara/ Universo Produção.

88

ANEXO - FOTOGRAFIAS DA COORDENAÇÃO DE DOCUMENTOS

AUDIOVIOSUAIS E CARTOGRÁFICOS

Apresentamos aqui algumas fotografias do setor de imagens em movimento e dos

depósitos de películas do Arquivo Nacional.

Figura 20 – Difusão/revisão - Setor de Imagem em Movimento, Arquivo Nacional. Fonte: Thaís Lara

89

Figura 21 – Depósito de Películas - Setor de Imagem em Movimento, Arquivo Nacional. Fonte: Thaís Lara

90

Figura 22 – Depósito de Películas - Setor de Imagem em Movimento, Arquivo Nacional. Fonte: Thaís Lara

91