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PATRIMÔNIO CULTURAL: UMA NOVA CONCEPÇÃO DO ATO … · Preservar o patrimônio histórico hoje é percebido como uma questão de cidadania e constitui-se em direito fundamental

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PATRIMÔNIO CULTURAL: UMA NOVA CONCEPÇÃO DO ATO DE

PRESERVAR NO AMBIENTE ESCOLAR

Autora: Davilma Gomes de Aguilar1

Orientador: Marco Antonio Stancik2

Resumo

O presente trabalho destina-se a detalhar atividades desenvolvidas com educandos da 6ª série do ensino fundamental, realizadas no Colégio Estadual Dr. Claudino dos Santos, município de Ipiranga/Pr, no período de agosto a dezembro de 2011. As atividades consistiram em pesquisa-ação com o objetivo de desenvolver uma intervenção pedagógica destinada a interferir significativamente na aprendizagem dos educandos no que se refere à memória de sua cidade. Para tanto, alguns bens arquitetônicos da cidade foram registrados e comparados através do uso de fotografias. São eles: a Igreja Matriz, a Praça Central e a Casa da Cultura. A abordagem metodológica da pesquisa foi qualitativa e delineada pela investigação-ação, com base em metodologias destinadas ao trabalho com imagens. Os instrumentos de coleta de dados e observação permanente no processo foram o portfolio e processofolio de cada educando organizado pela professora e a proposta consistiu em atividades compartilhadas em sala de aula através de material didático produzido pela professora pesquisadora, visando estimular nos educandos o senso da preservação da memória social coletiva como condição indispensável á construção de uma nova cidadania e identidade. Considerando-se a diversidade encontrada, o grupo apresentou resultados relevantes no que se refere à percepção da importância da preservação de bens patrimoniais e do patrimônio histórico de sua cidade. Palavras-chave: Patrimônio; Memória; Fotografia; Identidade Cultural.

1 Administração Escolar, Colégio Estadual Dr. Claudino dos Santos.

2 Professor Adjunto do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História (Stricto

Sensu) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, doutor em História pela Universidade Federal do

Paraná.

1 Introdução

O PDE, Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do

Estado do Paraná, tem como objetivo principal a formação continuada do

educador, através do retorno às atividades acadêmicas de sua área de

formação inicial, dando-lhe condições de atualização e aprofundamento de

seus conhecimentos, permitindo assim uma reflexão teórica sobre a sua prática

com o intuito de provocar mudanças. Como resultado do processo de

formação, foi produzido, fundado na realidade escolar, o Projeto de Intervenção

Pedagógica, que teve como propósito maior enfrentar as fragilidades e

problemas encontrados na escola. O Projeto de Intervenção é o resultado do

trabalho de pesquisa do professor PDE dentro de um tema escolhido, visando

à resolução ou transformação de uma situação problema dentro do ambiente

escolar.

A implementação do Projeto de Intervenção ocorreu no terceiro período

do programa, subsidiado por material didático-pedagógico (Caderno

Pedagógico intitulado “O Patrimônio Cultural da sua cidade”), pertinente ao

objeto de estudo do educador, apresentando atividades direcionadas para a

ressignificação de metodologias específicas. O Caderno Pedagógico foi

produzido pelo professor PDE, com o enfoque em atividades que viessem de

encontro ao tema proposto no Projeto de Implementação, as quais foram

trabalhadas em sala de aula e extraclasse, para que os educandos, através de

uma metodologia diferenciada, pudessem assimilar tal conhecimento com

maior clareza e motivação.

A trajetória proposta pelo PDE impõe uma nova condição e significado

na práxis do educador, de forma a refletir no aprendizado dos educandos,

abrangendo, consequentemente todo ambiente escolar. A partir de uma

concepção de mudanças nas metodologias e propostas inovadoras no que diz

respeito ao ambiente da escola, o processo de implementação teve como foco

o trabalho envolvendo história e fotografia, conforme será discutido na seção

seguinte.

Os educandos participantes do Projeto de Implementação na escola

foram subsidiados através do contato com fundamentação teórica direcionada ao

estudo da fotografia como fonte para a escrita da história e suas funções dentro

do processo histórico e social. Foram também estimulados a trabalharem tendo

em vista sua memória social e coletiva, de forma a compreenderem a

importância do trabalho em torno da memória e da preservação patrimonial,

condições indispensáveis à construção da cidadania e identidade. Após tais

reflexões, procedeu-se a elaboração de material fotográfico para estudos

comparativos entre a cidade de Ipiranga nos anos 1910 a 1940 e a atualidade.

Portanto, tendo em vista o trabalho realizado a partir da produção de

fotografias e sua comparação com material fotográfico datado da década de

1910 a 1940, buscou-se evidenciar a importância de se trabalhar a disciplina de

História tendo em vista o emprego de novas abordagens, de forma a estimular

nos educandos uma ampla discussão sobre importância da preservação de bens

patrimoniais e do patrimônio histórico de sua cidade.

Assim o assunto foco do estudo abrange esta estreita relação que pode

ser estabelecida entre o processo de ensino-aprendizado de História, a partir

do trabalho com fotografia e patrimônio.

Preservar o patrimônio histórico hoje é percebido como uma questão de

cidadania e constitui-se em direito fundamental do cidadão e referencial para a

construção da identidade cultural. Na atualidade, um bem cultural não é

preservado somente porque lhe é atribuído um valor estético, mas por

compreender-se que apresenta um significado para a comunidade em que está

inserido que justifique a sua preservação, contribuindo assim para o processo

de construção/percepção de sua identidade cultural (BITTENCOURT, 2010,

p.137).

O ensino de História dentro da escola tem um papel fundamental no

processo da preservação da memória social e coletiva, pois ao socializar o

conhecimento histórico, prepara a geração atual para a construção de novos

conhecimentos. E assim a escola cumpre seu papel social, abrangendo

também conteúdos que fazem parte das nossas raízes ou pertencem ao

patrimônio da humanidade (BITTENCOURT, 2010, p.140).

Esta estreita relação entre memória histórica e fotografia alicerçou os

pilares deste projeto, mediante o trabalho com fotografias datadas da primeira

metade do século XX e recentes, tomadas de diferentes espaços da cidade.

Estas foram utilizadas como meio de reflexão e estudo.

Assim, as atividades desenvolvidas tiveram por norte questionamentos,

tais como: Que recursos podem ser empregados para ter acesso e

compreender a construção da memória da nossa cidade? Qual a relevância,

para a comunidade local, da preservação de bens, tais como a Casa da

Cultura, sua Praça central, sua Igreja Matriz? Espaços estes transformados em

objeto de reflexão sobre a preservação patrimonial, mediante o emprego de

fotografias. Em que estes questionamentos podem acrescentam para o

educando e comunidade no que diz respeito a historicidade de sua cidade e

seu patrimônio?

O método proposto para a implementação deste projeto esteve

alicerçado nas linhas da investigação-ação e realizou-se no Colégio Estadual

Dr. Claudino dos Santos, instalado no Município de Ipiranga Pr, envolvendo os

personagens do contexto escolar: o educador e os educandos de 6º série C do

Ensino Fundamental.

Como resultados alcançados pode-se elencar uma série de trabalhos

desenvolvidos de maneira participativa, saídas de campo para produção de

material fotográfico, com amplo aproveitamento pelos educandos, e produção

de materiais expositivos para a comunidade escolar, conforme detalhado em

seguida.

2 O desenvolvimento das atividades em sala de aula

Os relatos que seguem destinam-se ao detalhamento das atividades

propostas no Material Didático, o qual foi dividido em três eixos distintos:

memória/tempo, fotografia e patrimônio.

Considerando-se a necessidade de aprofundar a compreensão e as

correlações de noções tais como memória e temporalidade, as atividades

tiveram início a partir de sua problematização. Assim, iniciou-se buscando

demonstrar que a forma como uma sociedade conta seu tempo diz muito de

sua organização social, cultural e histórica.

As sociedades modernas das grandes cidades, cada vez mais

atarefadas, se organizam através do controle rígido do tempo. Embora sigam o

mesmo calendário, sociedades inseridas em realidades distintas, por exemplo,

no campo, tendem a perceber a passagem do tempo de forma um tanto quanto

diferenciada. Nelas, fenômenos da natureza, como o amanhecer, ou o por do

sol, assumem importância primordial, não se revelando tão presas ao emprego

de recursos tais como o relógio. Por esta razão, ressaltamos a importância da

temporalidade no ensino de Historia, afinal:

Ensinar História implica num trabalho diário com a temporalidade. Em cada aula de História, há sempre um jogar com o tempo, isto é, pode-se viajar do presente para um passado mais próximo ou para um tempo mais remoto, de um século para outro, de um milênio para outro, num átimo de tempo, num segundo. (SCHIMIDT e CAINELLI, 2006, p.75)

Assim, para um melhor entendimento por parte dos educandos de tais

concepções de percepção da dimensão do tempo, foram propostas duas

atividades direcionadas que objetivam elucidar a percepção da passagem do

tempo na natureza e as transformações ocorridas pela passagem do tempo na

sociedade.

A ação humana e a sucessão de acontecimentos em que está inserida

se situam dentro da concepção do tempo. O tempo é o responsável pelo

sentido das ações das pessoas, possibilitando localizar os acontecimentos

enfocando o presente, passado e futuro (FERREIRA & FRANCO, 2007).

O ensino de História envolve um trabalho diário com a temporalidade,

como se propuséssemos aos educandos uma viagem no tempo, de um século

para o outro, ou do presente para um passado mais próximo. Dentro deste

enfoque o trabalho com a noção de tempo contribui para a compreensão das

relações entre um momento histórico e outro, permitindo ainda captar os

elementos evidenciadores da dimensão temporal.

A compreensão de algumas diferentes formas de percepção da duração

do tempo faz parte do processo de assimilação das durações da realidade

social, contribuindo assim para o entendimento da duração de acontecimentos

históricos de movimentos sociais e outros. É interessante, neste processo,

chamar a atenção dos educandos em relação à simultaneidade dos fatos que

acontecem ao nosso redor (SCHIMIDT & CAINELLI, 2006).

Na atividade 1, inserida no eixo Conceito de Tempo, destinada à

compreensão da forma de funcionamento dos antigos recursos destinados a

percepção da passagem do tempo, os educandos participaram de uma

atividade realizada no pátio da escola, assinalando a posição da sombra de

seus corpos no chão.

Observaram assim a mudança da sombra no decorrer da experiência,

relacionando a ligação ao movimento da terra ao redor de seu próprio eixo e a

importância para a humanidade de perceber a repetição dos dias, das noites e

das estações do ano, como mostram as figuras 1, 2, 3 e 4.

Figura 1: atividade com sombras. Figura 2: atividade com sombras. Fonte: arquivo da professora. Fonte: arquivo da professora. Data:23/08/2011 Data: 23/08/2011

Figura 3: atividade com sombras. Figura 4: atividade com sombras. Fonte: arquivo da professora. Fonte: arquivo da professora. Data: 23/08/2011 Data: 23/08/2011

Na discussão realizada em torno do tema “Algumas curiosidades sobre

os primeiros relógios”, os educandos questionaram sobre a história do relógio e

o uso do relógio em nosso dia a dia. A ampulheta despertou questionamentos

sobre a marcação do tempo em épocas passadas, confrontando com os

momentos em que sentimos o tempo passar mais rápido ou lentamente.

A atividade seguinte, proposta no Material Didático, se fundamenta no

tema “O historiador e o trabalho com o tempo”. Consistiu ela na observação de

imagens e descrição da produção cultural da humanidade e,

consequentemente, a passagem do tempo. Os educandos elaboraram cartazes

em grupos que exemplificaram as transformações produzidas pelo homem em

sua maneira de habitar e nos espaços públicos ao longo dos séculos.

Dando prosseguimento às discussões, buscou-se evidenciar que a

memória não é apenas individual, sendo que, para os historiadores, a memória

coletiva é de grande valia, pois inclui as lembranças dos indivíduos e as que

foram repassadas e que pertencem a uma comunidade. Sendo assim a

memória social está diretamente relacionada aos problemas do tempo e da

história. Uma das características da memória coletiva é a simplificação da

noção do tempo diferenciando o presente, entendido como “nossos dias”, e o

passado, geralmente apontado por um “antigamente” (SILVA & SILVA, 2005).

3 O trabalho com fotografias em sala de aula

A seguir, foi abordado o eixo temático II, que apresenta o tema

“Construindo a sua História e de sua Comunidade através da Fotografia”,

enfocando inicialmente a possibilidade de pesquisa da história mediante o

trabalho com imagens.

As imagens reservam grandes possibilidades de análise no sentido do

estudo da história, aliadas a diferentes fontes de pesquisa histórica como

textos escritos e esculturas, entre tantas outras. Para compreendermos o

significado destas fontes, devemos primeiramente considerar que pintores,

fotógrafos e escultores selecionam, enquadram, ou simplesmente tendem, por

opção, necessidade, ou outras circunstâncias, a omitir alguns elementos e a

destacar outros.

Para entender as imagens, se faz necessário compreender o seu

contexto, bem como quem e porque as produziu. As imagens dentro desta

perspectiva podem ser entendidas não como uma reprodução fiel do real, do

fato ocorrido, mas como uma narrativa moldada ou influenciada por opiniões,

produzida em uma determinada sociedade. Sendo assim, as imagens não são

reprodução fiel da realidade, nem apenas meras ilustrações (FERREIRA &

FRANCO, 2010).

Através da observação das imagens das fotos trazidas para sala de

aula (figuras 5, 6, 7, 8 e 9), iniciou-se uma reflexão sobre o tema Fotografia.

Definições sobre a palavra foram propostas em um plenário, bem como

discussões relativas a situações em que as pessoas fotografam. Assim foram

propostos questionamentos, tais como: o que fotografamos? Como? O que a

fotografia pode transmitir? O que podemos descrever a partir de uma

fotografia?

Em seguida, produziu-se em sala de aula um painel, utilizando as

fotocópias de fotografias antigas, anexando datas, fatos e outras observações

que os educandos consideraram pertinentes.

Figura nº 5: pessoas da comunidade em momento festivo.

Fonte: Acervo da Casa da Cultura Data: década de 1930

Figura nº 6: antiga Igreja Matriz de Ipiranga.

Fonte: Acervo da Casa da Cultura. Data: 1896

Figura nº 7: Praça João Ribeiro de Freitas

Fonte: Acervo da Casa da Cultura. Data: década de 1940

Figura nº 8: Ponte construída sobre o Rio Ipiranga Fonte: Acervo da Casa da Cultura

Data: década de 1940

Figura n° 9: Casa da Cultura de Ipiranga.

Fonte: Acervo da Casa da Cultura Data: década de 1930.

A proposta do estudo da fotografia foi ampliada através de pesquisa e

colagem a partir de revistas e jornais, tendo em vista desenvolver

questionamentos sobre fotografia histórica, fotografia jornalística e fotografia

para anúncios ou publicitária. Os educandos diferenciaram, através da

pesquisa visual, a fotografia publicitária, caracterizada por chamar a atenção

para um determinado produto; a jornalística que apresenta um fato visando

despertar o interesse e ilustrar uma notícia; e a histórica, que registra algum

aspecto de uma época de forma intencional.

A fotografia jornalística é um ramo do jornalismo no qual a informação,

que se propõe clara e objetiva, ganha um reforço, através do emprego da

imagem fotográfica, em virtude da crença na sua suposta verdade intrínseca. A

fotografia histórica, nas situações analisadas, consistiu em imagens de

determinados espaços, ao longo de vários anos, de forma a dar acesso às

modificações neles operadas, através da intervenção humana.

A Fotografia publicitária foi pensada como sendo aquela produzida

para a difusão comercial de um produto, independente do suporte escolhido

pelo anunciante, que tanto pode ser a mídia impressa - jornais, revistas,

cartazes, outdoors, ou folhetos - quanto audiovisual, como anúncios

transmitidos pela televisão ou mesmo pelo cinema.

Salientamos ainda, em conformidade com as proposições de Boris

Kossoy, (2003, p.101), que “uma única imagem contém em si um inventário de

informações acerca de um determinado momento passado; ela sintetiza no

documento um fragmento do real, visível destacando-o do contínuo da vida”.

A fotografia é uma das maneiras pela qual podemos estudar o

passado, ainda que não reúna apenas por seu conteúdo um conhecimento

acabado do que passou, mostrando somente um fragmento e uma maneira de

construção da realidade, que são ao mesmo tempo limitados e atendem a

determinados interesses. Neste sentido ao observarmos uma fotografia e

através dela tentarmos compreender fatos reais, somos afetados por

interpretações anteriores e, principalmente, pelas intenções do fotógrafo em

seu registro intencional.

Visando unir os elementos até aqui abordados, deu-se início a nova

etapa das atividades. Nela, o trabalho com a linha do tempo de cada educando

foi bastante criativo e produtivo. Os alunos trouxeram suas fotografias, alguns

em menor quantidade, enquanto outros com grande número delas. Através de

fotocópias coloridas, foram analisados e descritos o fato ou lugar registrados

nas imagens, segundo as possibilidades de cada aluno, visando identificar tais

elementos. A atividade contribuiu de maneira significativa no que diz respeito à

melhor percepção da passagem do tempo e também quanto ao emprego da

fotografia como fonte e registro deste tempo.

Na proposta da atividade III foi realizado um passeio pelo centro da

cidade, durante o qual os educandos foram incentivados a observarem mais

atentamente os detalhes de cada espaço que estão habituados a ver

cotidianamente, e a partir de suas escolhas, fotografarem. As fotos foram

impressas e a atividade seguinte proporcionou observações e comentários pelo

grupo de educandos, como podemos observar nas figuras 10, 11,12 e 13.

Esta saída de campo proporcionou aos alunos um contato mais direto

com a máquina fotográfica e o ato de fotografar, exercitando sua sensibilidade

e percepção visual.

Figura nº 10: educando fotografando.

Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data:04/10/2011

Figura nº 11: educandos realizando a atividade III.

Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data: 04/10/2011

Figura nº 12: a praça matriz fotografada pelos educandos

Fonte:arquivo da professora pesquisadora Data: 04/10/2011

Figura nº 13:detalhe da calçada da Igreja, fotografada pelos educandos

Fonte:arquivo da professora pesquisadora. Data: 04/10/2011

4 Remetendo à noção de Patrimônio

O eixo Temático III apresentou atividades direcionadas ao

conhecimento da fundamentação teórica sobre Patrimônio e Patrimônio

Cultural, sendo complementada pelo estudo de um espaço especial dentro da

cidade, denominado Casa da Cultura.

Considera-se que o Patrimônio Histórico e sua preservação remetem à

noção e ao sentimento de cidadania. E, sendo assim, é de interesse de todos,

se constituindo um direito fundamental do cidadão e elemento presente na

construção das identidades históricas e culturais.

A preservação, até bem recentemente, era destinada somente aos

bens materiais considerados de notável valor arquitetônico, que remetessem a

um fato histórico, também ele considerado notável. Se ainda levarmos em

conta tal proposição, teremos a explicação do por que de grande parte da

violação e depredação do patrimônio histórico por parte da população, pois a

mesma não se sente responsável pela preservação de seus bens culturais, não

se identificando com eles (BITTENCOURT, 2010).

Caminhando em sentido diferente, podemos dizer que, atualmente, se

preserva um bem cultural não somente porque lhe é atribuído valor estético,

arquitetônico ou histórico. O mesmo é preservado pela sua significação para a

comunidade onde está inserido, e este pertencimento contribui para a

construção de uma identidade cultural e, consequentemente, para o exercício

da cidadania em uma comunidade.

A partir do momento que uma sociedade preserva e divulga seus bens

culturais temos um fator importante no processo de construção da cidadania

cultural, indicando assim a possibilidade de acesso por todos aos bens

materiais e imateriais que representem seu passado, sua tradição, enfim, a sua

história (BITTENCOURT, 2010).

Estimular o educando a encontrar e assimilar as percepções propostas

sobre patrimônio foi uma iniciativa que os levou a produção de

questionamentos e respostas divergentes sobre o que em nossa cidade

podemos considerar ou já é considerado patrimônio histórico e cultural.

Em suas colocações surgiram idéias de que patrimônio corresponde a

algo que precisa ser mantido para o conhecimento da história de um povo.

Assim, imediatamente surgiu o nome da Casa da Cultura de Ipiranga, o prédio

mais antigo que temos na cidade e que foi o primeiro estabelecimento de

ensino do município. Ao mesmo tempo, os alunos constataram que transitam

muitas vezes pelo local, mas que pouco conhecem sobre sua história e a que o

prédio se destina atualmente.

O conceito de história local nos remete a questões referentes ao ensino

e ao aprendizado da História. Geralmente as obras escritas sobre a história

local têm como autores oriundos de diferentes segmentos sociais, sendo

bastante comum não pertencerem ao campo da História.

Ao se propor o uso da história local, devemos levar em conta alguns

questionamentos: primeiramente, uma realidade local não apresenta em si

mesma uma abertura para ser explicada, pois os problemas que a envolvem

são explicados também pelas relações com outras comunidades, países e até

mesmo por processos históricos mais amplos.

Além disso, podemos propor o ensino da história local como um

indicador da construção de identidade que, no atual processo de

mundialização, deve levar em conta os marcos de referência relacionais, que

são o local, o nacional, o latino- americano, o ocidental e o mundial (SCHMIDT

& CAINELLI, 2004).

Por isso, a proposta seguinte empenhou-se no sentido de responder aos

anseios dos educandos. Isso se deu mediante a organização de uma visita ao

espaço da Casa da Cultura, cuja construção foi inicialmente destinada ao

funcionamento do primeiro Grupo Escolar. O prédio repetia as linhas

arquitetônicas dos edifícios escolares construídos na mesma época em Tibagi

e Palmeira, sendo denominado Grupo Escolar Dr. Claudino dos Santos,

homenagem ao então Professor e Secretário de Estado e fundador do Colégio

Paranaense (LAVALLE, 1996).

Na visita realizada com os alunos foram pesquisados e levantados os

seguintes dados:

Denominação do espaço: Casa da Cultura (antigo Grupo Escolar Dr. Claudino

dos Santos)

Localização: Rua Alcides Ribeiro de Macedo, 74.

Data da construção e reformas: construída em 1907 e restaurada em 1993.

Objetivos da construção: educacional.

Função do edifício: biblioteca pública e extensão da Universidade Estadual de

Ponta Grossa.

Descrição dos aspectos relativos ao interior e exterior da construção: linhas

arquitetônicas clássicas.

O que funcionou neste prédio por vários anos: o Grupo Escolar

Data em que ocorreu o tombamento: 27 de agosto de 1991.

Além dos dados e da visita, os educandos propuseram que cada um

registrasse através da fotografia algum aspecto que mais lhe chamou a

atenção na arquitetura do prédio da Casa da Cultura. Isso é mostrado nas

figuras 14, 15, 16, 17 e 18.

Figura nº 14: porta da Casa da Cultura Fonte: arquivo da Professora pesquisadora. Data:21/11/2011

Figura nº 15: detalhe da fachada.

Fonte: arquivo da Professora pesquisadora. Data: 21/11/2011

Figura nº 16: detalhe da janela

Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data: 21/11/2011

Figura nº 17: sino da escola

Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data: 21/11/2011

Figura nº 18: detalhe de uma das barras de ferro que sustenta o Prédio. Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data: 21/11/2011

Segundo relato dos alunos a visita à Casa da Cultura foi por eles

percebida como uma atividade diferente, por intermédio da qual eles foram

tirados da rotina da sala de aula. Nos seus relatos, indicaram que puderam

observar, entre outros detalhes, detalhes do porão, das saídas de ar do porão,

das portas e janelas, a altura do teto, entre outros detalhes da arquitetura do

prédio. Também lhes chamaram a atenção os objetos que se encontram lá,

fotografias, salas de estudo. Além disso, a oportunidade de escolher um

detalhe para fotografar fez com que eles tendessem a observar tudo mais

atentamente e redescobrissem, através dos detalhes, aspectos que

desconheciam.

A atividade III também consistiu em uma visita à praça da cidade, a

qual foi trabalhada nos mesmos moldes das anteriores, propondo aos

educandos a comparação entre as fotos do passado e a produzida pelos

mesmos. Tudo objetivando a reflexão dos alunos no que diz respeito à

conservação dos lugares públicos, como apresentam as figuras 19 e 20.

A principal praça da cidade foi criada em 27 de novembro de 1908,

pelo então prefeito Hildebrando de Araújo Rochester, com o nome de Praça da

Matriz. Em 18 de julho de 1961, a Câmara Municipal aprovou a Lei que mudou

novamente o nome da Praça para João Ribeiro de Freitas, nome que

permanece até os dias atuais (LAVALLE,1996).

Figura 19: foto da praça da cidade produzida por um educando. Fonte: arquivo da professora pesquisadora. Data: 28/11/2011

Após o término das atividades os educandos participaram da proposta

de exposição dos trabalhos de todas as atividades realizadas. Para tanto,

foram orientados pelo educador em relação à pesquisa dos materiais que

serviram como suporte para as imagens resultantes da proposta, a qual foi

apresentada para a comunidade escolar.

Os educandos de outras séries e também os educadores puderam

observar por um período determinado o banner com as fotos produzidas na

visita a Casa da Cultura, e a Praça Matriz da cidade, fazendo comentários e

trocando informações entre o grupo envolvido e os demais, como ilustra a

figura 20.

Figura 20: Detalhe da exibição dos trabalhos. Fonte: arquivo da professora pesquisadora

Data: 05/12/2011.

5 Considerações finais

O Programa de desenvolvimento Educacional (PDE) tem suas bases

metodológicas direcionadas para a transformação na escola, com a

reflexividade do educador e a busca da transformação dentro de um contexto

enraizado em práticas didáticas que devem ser continuamente repensadas.

O Projeto Patrimônio Cultural da sua Cidade apresentou ao corpo

docente e discente do Colégio estadual Dr. Claudino dos Santos uma

perspectiva de atuação diferenciada e, não menos, causou até mesmo certo

estranhamento, tendo em vista as práticas metodológicas habitualmente

utilizadas na disciplina de História.

Abordar e apontar resultados de maneira a apresentá-los graficamente,

não seria pertinente, pois propostas diferenciadas não podem ser medidas por

números e sim pela apropriação do conhecimento para a vida do educando, e

tal apropriação é a resposta para esta conclusão.

As atividades desenvolvidas dentro do roteiro do Caderno Pedagógico

possibilitaram aos educandos a apropriação de conhecimentos e o

desenvolvimento de um espírito crítico em relação à história local e a questão

patrimonial. Isso pode ser observado através dos resultados obtidos em sala de

aula no decorrer do processo de implementação do Caderno Pedagógico,

podendo-se concluir que o trabalho alcançou os objetivos esperados,

concretizando assim as expectativas que até então estavam em aberto. A

História local foi pesquisada, estudada e questionada pelos educandos, o que

contribuiu para mudança de concepções sobre o Patrimônio Cultural de uma

cidade e a importância de preservá-lo para a historicidade e identidade de um

povo.

A proposta do Caderno Pedagógico pode encerrar uma etapa, mas

podemos abrir horizontes para muitas outras propostas que podem vir a se

encaixar na temática e contribuir para que o educando tenha consciência da

importância da valorização do seu patrimônio, partindo deste pressuposto para

a questão tão atual das pichações, destruição e roubo do que podemos

considerar parte da nossa História.

6 Referências

BITTENCOURT, C. (org.) O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto,

2010.

BUSSELE, M. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Pioneira, 1990.

FERREIRA, M.; FRANCO, R. Aprendendo História. São Paulo: Editora do Brasil, 2010.

KOSSOY, B. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

LAVALLE, A. M. Memórias de Ipiranga: da floresta ao asfalto. Ponta Grossa:

Imprensa Universitária,1996.

SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto,

2005.

SCHIMIDT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

TURAZZI, M. GABRIEL, C. Tempo e História. São Paulo: Moderna, 2000.