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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Ana Flávia Santos Vieira MODELOS DE NEGÓCIO E INTERAÇÃO ESTRATÉGICA: IMPACTOS SOBRE A VANTAGEM COMPETITIVA DE BANCOS PRIVADOS NO BRASIL Belo Horizonte 2013

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS … lucratividade econômica, quando acima do mercado, ... framework, in that the strategic interaction has a two-dimensional relationship

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

Ana Flávia Santos Vieira

MODELOS DE NEGÓCIO E INTERAÇÃO ESTRATÉGICA: IMPACTOS SOBRE A

VANTAGEM COMPETITIVA DE BANCOS PRIVADOS NO BRASIL

Belo Horizonte

2013

1

Ana Flávia Santos Vieira

MODELOS DE NEGÓCIO E INTERAÇÃO ESTRATÉGICA: IMPACTOS SOBRE A

VANTAGEM COMPETITIVA DE BANCOS PRIVADOS NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito para a obtenção do título de Mestre em

Administração.

Área de concentração: Administração

Orientador: Humberto Elias Garcia Lopes

Belo Horizonte

2013

2

3

Ana Flávia Santos Vieira

MODELOS DE NEGÓCIO E INTERAÇÃO ESTRATÉGICA: IMPACTOS SOBRE A

VANTAGEM COMPETITIVA DE BANCOS PRIVADOS NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito para a obtenção do título de Mestre em

Administração.

_____________________________________________________________________

Orientador Prof. Dr. Humberto Elias Garcia Lopes

(Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

_____________________________________________________________________

Profa. Dra. Alessandra Mello da Costa (IAG PUC Rio de Janeiro)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Baroni (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Belo Horizonte

2013

4

A meus pais,

pelo amor e carinho durante

toda a minha caminhada

5

AGRADECIMENTOS

A Deus pela sabedoria, paciência e força concedida nos momentos difíceis.

Ao professor e orientador, Humberto Elias Garcia Lopes, pelo conhecimento compartilhado,

por sua dedicação e paciência ao longo de minha caminhada.

Ao Grupo de Estudos em Estratégias Organizacionais (GESTOR), que, com suas sugestões e

críticas, contribuíram significativamente para a construção de meu trabalho.

Ao professor André Luís, que me auxiliou na etapa de análise dos dados financeiros e

econômicos.

À CAPES, que, por meio do PROSUP, concedeu-me a bolsa de estudos para a realização do

mestrado desta pesquisa.

Aos familiares e amigos, em especial, Maria Fernandes Maciel, pela compreensão durante a

minha ausência, e a Marielle Porfira Rodrigues, pela amizade e pelo apoio concedido durante

os momentos difíceis.

6

“Quem acredita, sempre alcança”

Renato Russo

7

Resumo

O objetivo geral desta pesquisa foi analisar como a interação estratégica moldada pelo

modelo de negócio impacta a lucratividade econômica, e, por conseguinte, a vantagem

competitiva obtida pelos maiores bancos privados do Brasil, ou seja, Bradesco, Itaú Unibanco

e Santander Brasil. Para isso, a pesquisa se desenvolveu em três etapas. Na primeira etapa

elaborou-se um arcabouço teórico, relacionando as variáveis da pesquisa. Na segunda

coletaram-se as informações e construiu-se o modelo de negócio para cada banco, além de

calcular-se a lucratividade econômica dos bancos, para posteriormente compará-la com os

resultados do mercado e de seus concorrentes. Na terceira desenvolveu-se a análise do

material elaborado na segunda etapa. Dessa forma, avaliou-se o modelo de negócio de cada

banco para o período de 2009 a 2011. Para se associarem as variáveis da pesquisa,

desenvolveu-se um modelo teórico, em que a interação estratégica possui uma relação

bidimensional com os modelos de negócio. Isto porque, dentre as escolhas envolvidas na

interação estratégica, está a escolha por qual modelo de negócio adotar para a criação de

valor e, assim, competir-se no mercado. Já os modelos de negócio, além de terem como foco

a criação de valor e permitirem que simultaneamente haja a captura de parte do valor criado,

também buscam atender a uma estratégia preestabelecida. A captura do valor foi medida por

meio da lucratividade econômica, que afeta o modelo de negócio, pois diz se ele foi ou não

capaz de gerar o resultado esperado e a necessidade ou não de readequação do modelo de

negócio. A lucratividade econômica, quando acima do mercado, significa que a empresa

obteve vantagem competitiva. Por fim, analisou-se a unidade de negócio varejo, com a coleta

de dados com base nos dados secundários (Besanko, Dranove, Schaefer, & Shanley, 2006;

Casadesus-Masanell & Larson, 2010; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009a; Casadesus-

Masanell & Ricart, 2010; Fumás, 2009; Massa, Zott, & Amit, 2010; Monin, Editor, &

Lecocq, 2010; Teece, 2010).

8

Palavras-chave: Interação Estratégica; Modelos de negócio; Criação de valor; Captura de

valor; Lucratividade econômica.

9

Abstract

The overall objective from this research was how the strategic interaction structured by the

business model impacts the economic profitability, and after the competitive advantage

obtained by the largest private banks in Brazil, in other words, Bradesco, Itaú Unibanco and

Santander Brasil. For this, the research was developed in three stages. In the first stage was

developed a theoretical framework relating the research’s variables. The second was

developed by collecting information, building a business model for each bank, calculating the

banks’ economic profitability and after comparing the banks’ results with the market’s results

and the competitors’ results. In the third stage we analyzed all the material collected and

developed in the second stage. Thus, we evaluated the business model from each bank, in the

period from 2009 to 2011. To associate the research’s variables we developed a theoretical

framework, in that the strategic interaction has a two-dimensional relationship with the

business models. This is because, among all the choices involved in strategic interaction we

identify the choice for what business model the company can adopt to create value, and thus,

compete in the market. Besides the business model creates value and captures part of this

value at the same moment, it also seeks a pre-determined strategy. The capture of value was

measure by the economic profitability, which impacts in the business model, because it

indicates if it was or wasn’t able to create the desire result and the need to readapt the

business model. When we identify an economic profitability above the market’s average, it

means that the company had competitive advantage. Lastly, we analyzed retail business unit,

which the collect of information was based in secondary data. (Besanko, Dranove, Schaefer,

& Shanley, 2006; Casadesus-Masanell & Larson, 2010; Casadesus-Masanell & Ricart,

2009a; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Fumás, 2009; Massa, Zott, & Amit, 2010;

Monin, Editor, & Lecocq, 2010; Teece, 2010).

10

Key-words: Strategic interaction; Business model; Creation of value; Capture of value;

Economic profitability.

11

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Modelo Teórico da pesquisa ..................................................................................... 30

Figura 2. Modelo teórico da pesquisa ...................................................................................... 47

Figura 3. Fórmula para o cálculo do Economic Value Added (EVA) ..................................... 55

Figura 4. Modelo de Negócio do Bradesco, no período de 2009 a 2011 ................................. 56

Figura 5. Modelo de Negócio Itaú Unibanco, no período de 2009 a 2011 .............................. 63

Figura 6. Modelo de Negócio do Santander Brasil, no período de 2009 a 2011 ..................... 69

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Bradesco - Cálculo do Economic Value Added (EVA) ........................................... 60

Tabela 2: Bradesco – Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus

concorrentes ............................................................................................................................. 61

Tabela 3: Itaú Unibanco- Cálculo do Economic Value Added (EVA) .................................... 66

Tabela 4: Itaú Unibanco– Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus

concorrentes ............................................................................................................................. 67

Tabela 5: Santander Brasil - Cálculo do Economic Value Added (EVA) ............................... 72

Tabela 6: Santander Brasil – Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus

concorrentes............................................................................................................................73

13

LISTA DE SIGLAS

BACEN – Banco Central do Brasil

BMF & F Bovespa – Bolsa de Mercadorias e Futuros/ Bolsa de Valores de São Paulo

CAPM – Capital Asset Pricing Model ( Modelo de precificação de ativos)

CRM – Customer Relationship Management (Gestão de relacionamento com o consumidor)

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

EVA – Economic Value Added (Valor Econômico Adicionado)

PABs – Postos de Atendimento bancário

ROE – Retorno sobre Patrimônio Liquido

RORAC – Return on Risk-Adjusted Capital (Retorno sobre o capital de risco ajustado)

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia

14

SUMÁRIO

1 Introdução Geral ................................................................................................................... 15

2 Modelos de Negócio e Interação Estratégica: Impactos sobre a Lucratividade Econômica 19

Resumo ................................................................................................................................. 19

2.1 Introdução....................................................................................................................... 20

2.2 Criação e captura de valor em modelos de negócio ....................................................... 23

2.3 Modelos de negócio, interação estratégica e lucratividade econômica .......................... 27

2.4 Método utilizado para a representação do modelo de negócio ...................................... 31

2.5 Conclusão ....................................................................................................................... 33

3 Modelos de Negócio e Interação Estratégica: Impacto na Lucratividade Econômica de

Bancos Privados no Brasil ....................................................................................................... 37

Resumo ................................................................................................................................. 37

3.1 Introdução....................................................................................................................... 38

3.2 Criação e captura de valor em modelos de negócio ....................................................... 41

3.3 Interação estratégica, modelo de negócio e a lucratividade econômica ......................... 43

3.4 Método utilizado para a representação do modelo de negócio ...................................... 48

3.5 Cenário econômico e atuação dos bancos privados no Brasil ........................................ 49

3.6 Metodologia da pesquisa ................................................................................................ 52

3.7 Análise dos resultados .................................................................................................... 56

3.7.1 Bradesco .................................................................................................................. 56

3.7.2 Itaú Unibanco .......................................................................................................... 62

3.7.3 Santander Brasil ....................................................................................................... 68

3.8 Conclusão ....................................................................................................................... 73

4 Conclusão Geral .................................................................................................................... 77

Referências ............................................................................................................................... 81

Apêndice .................................................................................................................................. 90

15

1 Introdução Geral

O setor bancário brasileiro tem passado por uma série de mudanças nos últimos anos,

sendo duas de acentuado destaque: o aumento na concentração e na bancarização. A primeira

tem sua origem nas recentes incorporações ocorridas no setor. Em 2011, somente o Bradesco,

Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal englobavam

aproximadamente 79% do mercado nacional de crédito. A segunda é um reflexo da

população bancarizada, que cresceu 6,3% em 2011, enquanto o número de contas correntes

ativas cresceu 3,8% em 2010, correspondendo a 92 milhões de contas ativas. Essas duas

mudanças, aumento na concentração e na bancarização, tiveram impacto no setor, pois os

bancos passaram a prestar mais atenção a um novo público que surgia e suas práticas

adotadas até então para atender às diferentes demandas (Feltrim, Cruvinel, Ventura, & Dodl,

2009; Marcon, 2010; Dantas, Medeiros & Paulo, 2011; Laboratório de Economia e Finanças

[Labefin], 2011; Federação Brasileira de Bancos [Febraban], 2012; Instituto de Pesquisa de

estatística Aplicada [Ipea], 2012).

Entre as consequências dessa postura dos bancos para atender a diferentes demandas de

cada cliente, está a abertura de novos canais de atendimento, ou seja, agências, postos de

atendimento bancário (PABs), internet banking, postos eletrônicos, dentre outros. O intuito é

oferecer ao cliente acesso aos principais serviços bancários, além de disponibilizar uma

plataforma tecnológica como Customer Relationship Management (CRM), para atender ao

cliente com maior agilidade (Feltrim et al., 2009; Febraban, 2012).

Do ponto de vista dos bancos, essas ações foram necessárias, uma vez que, além da

significativa diversidade de clientes, o segmento bancário passava por um aumento da

demanda por seus serviços. Porém outras decisões também foram tomadas pelos bancos,

como aquelas relativas a sua forma de operação e de governança. Tais decisões podem ser

16

denominadas também como escolhas estratégicas em busca de um determinado objetivo. E

como toda escolha tem consequências, as escolhas estratégicas e suas consequências podem

ser representadas por meio de um modelo de negócio. Este, por sua vez, tem como finalidade

explicar como uma determinada empresa se estrutura para criar valor aos stakeholders, além

de permitir que haja simultaneamente a captura de parte do valor criado (Casadesus-Masanell

& Ricart, 2009d; Fumás, 2009).

A criação e a captura de valor em modelo de negócio podem levar a empresa a gerar o

resultado esperado. Porém, para que tal resultado se sustente ao longo do tempo, a empresa

precisa se atentar a três elementos: 1) oferecer benefício maior que custo de produção; 2)

estruturar as atividades de maneira única, difícil de ser reproduzida pela concorrência; 3)

associar o modelo de negócio a outras variáveis que influenciam tanto a criação quanto a

captura de valor. Neste trabalho, uma dessas variáveis assumiu um papel relevante: a

lucratividade econômica. Ela foi utilizada como medida da captura do valor criado. Sua

interpretação é que uma lucratividade acima da média do mercado implica a obtenção de

vantagem competitiva por parte da empresa focal (Besanko, Dranove, Schaefer, & Shanley,

2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d, 2010; Teece, 2010).

A partir dessa lógica, identificou-se uma relação bidimensional entre os modelos de

negócio e a interação estratégica. No caso, a interação estratégica envolveu um grupo de

escolhas, dentre elas, a escolha por qual modelo de negócio a empresa deve adotar para criar

valor e, assim, competir no mercado. O modelo de negócio é um reflexo da estratégia, ou

seja, o conjunto de escolhas que descrevem a interação estratégica pode ser representado em

um modelo de negócio, e este, além de focar a criação de valor, também busca atender a uma

estratégia preestabelecida.

Essa concepção fundamentou o objetivo geral desta pesquisa. Este consistiu em analisar

como a interação estratégica moldada pelo modelo de negócio impacta a lucratividade

17

econômica e, por conseguinte, a vantagem competitiva de três dos maiores bancos privados

do Brasil, ou seja, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil, bancos nacionais e

estrangeiros com atuação no Brasil. Para relacionar as variáveis-chave da pesquisa - interação

estratégica, modelos de negócio, criação de valor, captura de valor e lucratividade econômica,

foi proposto um modelo teórico com base na revisão da literatura.

A interação estratégica determina a extensão do modelo de negócio. A interação entre

as atividades e agentes determinam até onde vai a complexidade e a extensão do modelo de

negócio implementado. Além disso, a quantidade de escolhas envolvidas no modelo de

negócio parte da estratégia a ser implementada pela empresa (Ammar, 2006; Casadesus-

Masanell & Ricart, 2009b; Monin et al., 2010).

Esta pesquisa foi estruturada em dois capítulos, um teórico e um teórico-empírico.

Estes artigos adotaram o formato de artigos independentes, isto é, há argumentos quanto à

abordagem teórica que são apresentados ambos os capítulos. Isto obteve como propósito

adaptar ao método de redação científico já adotado em outros campos da ciência.

Dessa forma, esta pesquisa se desenvolveu em três etapas. A primeira consistiu em

elaborar um arcabouço teórico com foco na criação e na captura de valor em modelos de

negócio e em estabelecer uma relação entre a interação estratégica, modelos de negócio e a

lucratividade econômica. Essa etapa permitiu desenvolver o primeiro artigo teórico da

pesquisa.

A segunda etapa correspondeu à coleta de informações e à construção do modelo de

negócio de cada banco, além de calcular a lucratividade econômica gerada pelos bancos,

individualmente, no período de 2009 a 2011, e os resultados obtidos para o mercado e seus

concorrentes. A terceira se desenvolveu na análise do modelo construído e dos resultados

quanto à lucratividade econômica de cada banco, para posterior comparação com os

18

resultados do mercado e de seus concorrentes. Estas duas etapas se traduziram no segundo

artigo teórico empírico da pesquisa.

Desse modo, analisou-se a unidade de negócio varejo, que se apresenta com

representatividade em relação às atividades desempenhadas pelos bancos, permitindo definir

como pressuposto a existência de uma relação linear entre o desempenho do varejo e o

desempenho do banco. O período analisado foi de 2009 a 2011. A coleta de informações deu-

se por meio de dados secundários, em que as informações foram coletadas em sites dos

próprios bancos, sites governamentais, revistas, artigos e demais publicações de nível

acadêmico.

Por fim, na análise dos resultados, a lucratividade econômica foi mensurada por meio

do indicador econômico Economic Value Added (EVA – Valor Econômico Adicionado), que

tem como pressuposto a empresa ser capaz de produzir um lucro que cubra, além de suas

despesas, seus custos, dentre eles, o custo de capital próprio. Posteriormente, comparou-se o

resultado obtido em cada banco com os do mercado e os de seus concorrentes, para

identificar se o banco obteve ou não vantagem competitiva no período estudado (Besanko et

al., 2006; Assaf & Lima, 2011).

19

2 Modelos de Negócio e Interação Estratégica: Impactos sobre a Lucratividade

Econômica

Resumo

O objetivo deste capítulo é analisar como a interação estratégica condicionada pelo

modelo de negócio impacta a lucratividade econômica das empresas e, por conseguinte, a

vantagem competitiva. A interação estratégia envolve um grupo de escolhas ou decisões

tomadas pela empresa, o que reflete na escolha de qual modelo de negócio adotar em

determinado negócio. O modelo de negócio tem como foco a criação de valor aos

stakeholders, mas ao mesmo tempo permite que haja a captura de parte do valor criado. A

captura desse valor foi mensurada pela lucratividade econômica, em que o resultado obtido

pela empresa afeta o modelo de negócio, pois indica se esse modelo foi ou não eficaz para

alcançar determinado objetivo, por ser uma representação da estratégia definida e buscar,

dessa forma, atender a essa estratégia. Quando a lucratividade econômica é acima da média

do mercado significa que a empresa obteve vantagem competitiva. Além disso, como a

interação estratégica envolve a escolha de qual modelo de negócio adotar e a aplicação desse

modelo indica se ele foi ou não capaz de atender a essa estratégia, considera-se uma relação

bidimensional existente entre interação estratégia e modelo de negócio. Por fim, a construção

teórica se desenvolveu a partir dos periódicos de maior relevância para a área de

administração, considerando-se a classificação webqualis, ou seja, aqueles classificados nos

estratos A1, A2, B1 e B2.

20

2.1 Introdução

Para que uma empresa obtenha o resultado econômico esperado a partir de suas

atividades, é necessário que primeiramente ela tenha se estruturado de forma eficiente e

eficaz. Isto se dá por meio de modelo de negócio.

Em termos gerais, o modelo de negócio está focado na criação de valor aos

stakeholders, por meio das atividades executadas na cadeia de valor de uma determinada

empresa. Ao mesmo tempo em que cria valor, a empresa captura parte dele, seja pelos

resultados parciais no processo de produção ou pelo retorno aos acionistas. Essa captura afeta

o modelo de negócio, uma vez que ela indica se tal modelo foi eficaz para obter resultado

esperado, atendendo a uma estratégia preestabelecida. (Casadesus-Masanell & Ricart, 2010;

Massa et al., 2010; Monin et al., 2010; Smith, Binns, & Tushman, 2010)

Por sua vez, essa estratégia preestabelecida direciona a empresa a escolher o modelo de

negócio mais adequado para seu caso. A operacionalização desse modelo, na prática, mostra

se as atividades desenvolvidas foram eficazes para, ao mesmo tempo, obter o resultado

esperado e atender a essa estratégia preestabelecida. Esta envolve um grupo de escolhas ou

decisões tomadas pela empresa, denominado interação estratégica. Por isso, assume-se que há

uma relação bidimensional entre modelo de negócio e a interação estratégica (Casadesus-

Masanell & Ricart, 2009c; Fumás, 2009; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010).

Nesse sentido, cada negócio requer um modelo de negócio para a criação de valor, ou

seja, para o atendimento às necessidades dos consumidores, acionistas e demais stakeholders.

Dentre as diferentes formas de se mensurar o valor criado, optou-se em mensurar o valor

econômico (Besanko et al., 2006; Zott & Amit, 2008).

Assim, a capacidade de criação de valor econômico é dada pela forma como as

empresas estruturam seu modelo de negócio. As atividades envolvidas nesse modelo de

21

negócio agregam valor ao longo de seu desenvolvimento e podem se desenvolver de forma

totalmente diferenciada de seu concorrente. A empresa também pode estruturar suas

atividades envolvidas no modelo de negócio de maneira igual a de seus concorrentes, mas

executando-as com mais eficiência e eficácia (Besanko et. al., 2006).

As atividades para a criação de valor permitem que haja simultaneamente a captura de

parte do valor criado, seja durante o processo de produção, seja pelo resultado final entregue

ao consumidor ou pelo retorno obtido pelos sócios e acionistas. O valor econômico criado é

mensurado por meio da lucratividade econômica. Um resultado maior que zero significa que

a empresa conseguiu capturar parte do valor criado. Já o resultado oposto indica a

incapacidade do modelo de negócio para a criação de valor aos stakeholders, apontando para

a necessidade de reavaliar este modelo (Besanko et. al., 2006).

Dessa forma é necessário que a empresa busque oferecer aos stakeholders benefícios

maiores que o custo de produção, os chamados benefícios líquidos. Mesmo assim, não é

garantia de geração e manutenção da lucratividade econômica. Isto porque, para que a

empresa obtenha uma lucratividade econômica sustentável, é também necessário que suas

atividades sejam desempenhadas em um nível em que seus concorrentes não consigam

reproduzir (Besanko et. al., 2006; Teece, 2010).

Isoladamente, os modelos de negócio podem até ser capazes de gerar lucratividade

econômica, mas são insuficientes para assegurar esse resultado ao longo do tempo. Além de

os modelos de negócio envolverem atividades em nível de difícil reprodução, é necessário

que se associem os modelos de negócio a outras variáveis, como a estratégia, que influencia

tanto a criação como a captura de valor. Essa associação auxilia a empresa a se adaptar diante

das contingências, ou seja, oportunidades, dificuldades e ameaças, uma vez que, por mais que

o modelo de negócio envolva um sistema e um processo complexo, é difícil desenvolver

22

barreiras que dificultem a réplica da ideia base de um negócio (Casadesus-Masanell & Ricart,

2009d; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Teece, 2010).

Desse modo, o modelo de negócio é um reflexo da estratégia, na medida em que as

atividades envolvidas no modelo de negócio representam as ações da empresa em busca de

uma estratégia pré-definida. Essa estratégia envolve um grupo de escolhas de como a

empresa vai operar, o que se denomina como interação estratégica, e considera a interação

estratégica moldada pelo modelo de negócio como necessária e suficiente para geração e

manutenção da lucratividade econômica. Além de as atividades envolvidas no modelo de

negócio produzirem benefícios maiores que o custo de produção e serem em nível de difícil

reprodução, é preciso associá-lo a outras variáveis, como a estratégia, ficando assim menos

vulnerável às contingências do ambiente e a seu declínio com o passar do tempo (Ammar,

2006; Besanko et. al., 2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Casadesus-Masanell &

Ricart, 2010; Teece, 2010).

Com base nessa lógica, este trabalho buscou relacionar as variáveis presentes na

pesquisa, com o objetivo de analisar como a interação estratégica, condicionada pelo modelo

de negócio, impacta a lucratividade econômica das empresas. Ao final, foi apresentado um

modelo teórico que mostra a relação dos construtos desta pesquisa, ou seja, interação

estratégica, modelo de negócio, criação de valor e captura de valor.

Em termos metodológicos, a revisão teórica se desenvolveu a partir dos periódicos de

maior relevância para a área de administração, segundo o sistema Qualis, ou seja, aqueles

classificados nos estratos A1, A2, B1 e B2. Em sequência, foi arbitrariamente estabelecido

que esta pesquisa abrangeria, prioritariamente, os artigos publicados recentemente, dentro da

comunidade científica internacional a respeito do tema. Por fim, optou-se por estruturar o

texto em formato de artigo, buscando pontuar as conclusões teóricas sobre o tema e as

premissas que sustentavam essas conclusões teóricas (Apêndice).

23

2.2 Criação e captura de valor em modelos de negócio

Cada empresa tem uma maneira diferente para a criação de valor. Assim, a capacidade

de criação de valor é dada pela forma como uma empresa estrutura seu modelo de negócio.

Essa estrutura envolve as atividades e ações necessárias para a entrega final do bem ou do

serviço prestado, além de se caracterizarem por serem atividades interdependentes que

agregam valor ao longo de seu desenvolvimento (Drucker, 1954; Magretta, 2002; Besanko et.

al. 2006; Zott, Amit, R., & Massa, 2011).

A literatura indica que, sob o ponto de vista das atividades, o modelo de negócio pode

ser estruturado de duas formas diferentes. Na primeira, a empresa define seu modelo de

negócio a partir de atividades que formam uma cadeia de valor totalmente diferente de seus

concorrentes. Na segunda, ela estrutura o mesmo modelo de negócio que seus rivais, porém

desenvolvendo suas atividades de forma mais eficiente e eficaz. Para isso, as empresas devem

possuir recursos, sejam eles tangíveis ou intangíveis, e competências que seus concorrentes

não possuem. A integração e a aplicação desses recursos, em um contexto específico,

permitem a criação de valor (Porter, 1996; Besanko et. al., 2006).

Dentre as diferentes formas de se mensurar o valor criado, esta pesquisa optou por

mensurá-lo via valor econômico A criação desse valor é direcionada às partes envolvidas no

negócio, seja por meio do retorno desejado aos sócios, acionistas, seja pelo atendimento às

necessidades dos consumidores e demais stakeholders (Lusch & Vargo, 2006; Zott & Amit,

2008; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Massa et al., 2010; Teece, 2010).

Em geral, as atividades envolvidas no modelo de negócio da empresa têm como foco a

criação de valor. Essas atividades agregam valor ao longo de seu desenvolvimento e este

pode ser identificado por meio dos resultados parciais no processo de produção, pelo

resultado final entregue ao consumidor, ou pelo retorno aos acionistas. Dessa forma, ao

24

mesmo tempo em que há a criação de valor, há também sua captura. Porém, somente parte do

valor criado é capturado pela empresa (Doz & Kosonen, 2010; Zott et al., 2011; Zott & Amit,

2008, 2010).

Nesse sentido, o modelo de negócio foca a criação e não a captura de valor econômico.

Mas isso não é feito de forma mutuamente excludente, pois existem outras variáveis

associadas ao modelo de negócio que enfatizam a captura de parte do valor criado. O modelo

de negócio busca explicar como o valor econômico é criado, ou seja, como gerar riquezas aos

sócios, acionistas e demais stakeholders simultaneamente, envolvendo as atividades

relacionadas à cadeia de valor da empresa. Entretanto criação e captura de valor estão

relacionadas no sentido de que o resultado ou valor capturado, anteriormente, foi criado pelas

atividades associadas ao modelo de negócio da empresa (Monin et al., 2010; Zott et al., 2011;

Zott & Amit, 2008, 2010).

A captura de parte do valor criado é mensurada por meio da lucratividade econômica,

em que o resultado maior que a média do mercado significa que a empresa obteve vantagem

competitiva. Diversos estudos centram-se em relacionar os modelos de negócio com

tecnologia e inovação (Chesbrough, 2007a; Chesbrough, 2007b; Giesen, Berman, Bell, &

Blitz, 2007; Schilke, Ullrich & Wirtz, 2010; Sosna, Trevinyo-Rodríguez, & Velamuri, 2010;

Teece, 2010), negócio estratégico (Casadesus-Masanell & Zhu, 2009; Demil & Lecocq,

2010; Monin et al., 2010; Mcgrath, 2010; Richardson, 2008; Shi, 2010; Smith et al., 2010;

Teece, 2010), um sistema de aprendizagem, com a arquitetura de um sistema de atividades

por meio dos elementos de conteúdo, estrutura e governança (Amit & Zott, 2009; Sheehan &

Stabell, 2007; Zott et al., 2011), proposição de valor e desempenho da empresa (Fielt, 2011;

Gronroos & Ravald, 2011; Johnson, Christensen, kagermann, 2008; Pereira, 2009; Peteraf &

Barney, 2003; Vargo, Maglio & Akaka, 2008; Zaefarian, Henneberg, & Naudé, 2010), além

de analisar os diferentes conceitos existentes para modelos de negócio (Baden-Fuller &

25

Morgan, 2010; Dahan, 2010; Fumás, 2009; Itami & Nishino, 2010; Perkmann & Spicer,

2010; Sinfield, Calder, McConnell, & Colson, 2012).

A lucratividade econômica, como medida do valor econômico, permite à empresa

identificar o valor criado e capturado por meio do retorno aos acionistas. Entretanto, para que

a empresa alcance o resultado desejado, é necessário que o modelo de negócio adotado tenha

processos e estruturas que capacitem a empresa a construir uma configuração específica

interna de produção, gestão, criação e entrega de valor a seus stakeholders e que possam ser

vistos como diferenciadores no resultado econômico obtido pela empresa. Por isso, o modelo

de negócio pode ser visto como uma fonte para a lucratividade econômica. (Smith et al.,

2010; Teece, 2010).

A partir disso, cada negócio requer um tipo de modelo de negócio diferenciado, o que

influencia diretamente a lucratividade econômica de uma empresa. Isso porque a construção

do modelo de negócio determina a geração de valor econômico aos stakeholders e,

posteriormente, afeta o nível valor capturado. Vale ressaltar que, quando empresas diferentes

implementam o mesmo modelo de negócio, é necessário que estas possuam recursos e

competências diferenciadas umas das outras, para que possam alcançar o resultado esperado

(Porter, 1996; Zott& Amit, 2008).

A lucratividade econômica de uma empresa depende da forma como se desempenha a

gestão de sua unidade de negócio. As atividades devem ser desenvolvidas com eficiência e

eficácia para alcançar o objetivo e trazer como resultado a lucratividade econômica. Além

disso, as empresas concorrem em um mesmo mercado, o que pode trazer uma paridade entre

essas empresas e dificultar assim a geração de uma lucratividade econômica adicional

(Besanko et. al., 2006).

Em suma, os modelos de negócio, quando analisados isoladamente, podem ser vistos

como fonte de lucratividade econômica, mas são insuficientes para assegurar esse resultado

26

ao longo do tempo. Os modelos de negócio por si só são capazes de criar valor aos

stakeholders e trazer um resultado econômico positivo. Porém, para que a empresa consiga

sustentar esse resultado por um período mais significativo, é necessário que combine aos

modelos de negócio outras variáveis ou ações como estratégia que influencie não somente a

criação de valor, mas também sua captura (Teece, 2010).

Além disso, os elementos dos modelos de negócios são frequentemente fáceis de imitar,

e é difícil desenvolver barreiras que dificultem a réplica da ideia base de um negócio. Por

mais que o modelo de negócio envolva um sistema complexo, de difícil compreensão quanto

aos detalhes, o modelo de negócio, além de ter as atividades interdependentes, deve ser capaz

de se adaptar diante das contingências, incorporando as mudanças, de acordo com as

oportunidades, as dificuldades e as ameaças do mercado, para que consiga ter uma

lucratividade econômica sustentável (Casadesus-Masanell & Ricart 2009d; Teece, 2010).

Por fim, o modelo de negócio adotado conduz a empresa a alcançar o resultado

esperado, ou seja, as atividades relacionadas ao modelo de negócio permitem a criação de

valor e simultaneamente levam a empresa a resultado. Esse resultado é capturado por meio da

lucratividade econômica e, para que esse resultado seja sustentável, além de entregar

benefícios maiores que o custo de produção, a empresa deve desenvolver as atividades em

nível de difícil reprodução e associar seu modelo a outras variáveis, como a estratégia que

influencia tanto a criação quanto a captura de valor. Com isso, a empresa torna-se apta a

enfrentar as contingências do mercado em que atua (Besanko et. al., 2006; Casadesus-

Masanell & Ricart, 2010; Teece, 2010).

27

2.3 Modelos de negócio, interação estratégica e lucratividade econômica

A criação e a captura de valor em modelos de negócio, tomados de forma isolada, são

insuficientes para sustentar o resultado econômico esperado ao longo do tempo. Por isso, a

necessidade de se associar o modelo de negócio à interação estratégica reúne um grupo de

escolhas ou decisões tomadas pela empresa e, consequentemente, conduz a um resultado.

Esse resultado foi mensurado por meio da lucratividade econômica, ou seja, identificou se a

empresa foi capaz de entregar o retorno esperado aos acionistas, e, quando entregue um valor

superior à média do mercado, tinha como significado o fato de a empresa obter vantagem

competitiva (Besanko et. al., 2006; Fumás, 2009; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Teece,

2010).

As escolhas ou as decisões tomadas pela empresa consistem em escolhas estratégicas,

que podem ser políticas, de recurso e de governança. As escolhas políticas se referem a toda e

qualquer decisão quanto a sua forma de operação. As escolhas de recursos correspondem aos

recursos tangíveis, como a infraestrutura adotada pela empresa para desempenhar suas

atividades. Já as escolhas de governança se estabelecem por meio da estrutura contratual,

permeando as decisões políticas e de recursos. O conjunto dessas escolhas, além de formar a

interação estratégica, permite à empresa competir no nível do modelo de negócio, uma vez

que associa essas escolhas a suas consequências (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009c;

Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Denardin, 2011).

Dessa forma, o modelo de negócio representa como a empresa atuará estrategicamente

no mercado, moldando, assim, a interação estratégica. Isso porque uma das formas de

representar a interação estratégica é por meio do conjunto de escolhas que são descritas no

modelo de negócio. Essa associação é necessária para que a empresa não fique vulnerável às

contingências do ambiente e, consequentemente, a seu declínio com o passar do tempo. Além

28

disso, essa interface pode conduzir a empresa a uma lucratividade econômica acima da média

do mercado e tornar sustentável esse resultado (Besanko et al., 2006; Teece, 2010).

Para que a lucratividade econômica seja sustentável, é necessário que a empresa

desempenhe suas atividades relacionadas ao processo produtivo e de gestão com um menor

custo, além de desenvolvê-las em um nível que seus concorrentes não consigam reproduzir e

associá-las, por exemplo, à estratégia. Assim, essas atividades compõem uma estratégia de

uma unidade de negócio (Besanko et al., 2006).

A partir disso, a interação estratégica moldada pelo modelo de negócio pode ser

considerada como necessária e suficiente para a geração e manutenção da lucratividade

econômica. O modelo de negócio é necessário e suficiente para conectar o desenvolvimento

dos produtos e/ou serviços às necessidades dos consumidores, e assim promover a geração de

valor aos diversos stakeholders. Além disso, o modelo de negócio é um reflexo da estratégia,

o que faz com que a implementação de um modelo de negócio seja para atender a uma

estratégia preestabelecida (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009a; Smith et al., 2010.)

Nesse sentido, toda empresa tem um modelo de negócio e uma estratégia, seja ela

explícita ou implícita aos olhos dos gestores. Numa estratégia explícita, a empresa possui

planos de ação alternativos para enfrentar as contingências do ambiente, estando claramente

definidas as atividades e as ações a serem desempenhadas em meio às contingências do

ambiente. Quando implícitas, os gestores não conseguem visualizar e desenvolver planos

alternativos, o que conduz a se dizer que a empresa não possui uma estratégia. Além disso,

toda empresa desenvolve atividades relacionadas a sua cadeia de valor para a criação de valor

econômico, ou seja, tem um modelo de negócio associado a uma estratégia maior,

independente da empresa que se esteja analisando (Smith et al., 2010).

Há autores, no entanto, que defendem que toda empresa tem um modelo de negócio,

mas nem toda empresa tem uma estratégia. Uma empresa não tem uma estratégia quando não

29

tem um plano de ação para as diferentes contingências que possam aparecer. Tanto as

estratégias quanto os modelos de negócio requerem um conhecimento profundo dos gestores

para que possam ser definidos, porém, enquanto os modelos de negócio se referem às

atividades relacionadas à cadeia de valor da empresa, as estratégias se referem às ações e aos

planos de ações planejados pela empresa, para a execução das atividades relacionadas a sua

cadeia de valor e para a captura de parte do valor agregado ao longo do desenvolvimento

dessas atividades. Por isso, a implementação de uma estratégia é mais complexa do que sua

representação por meio de um modelo de negócio. O modelo de negócio foca a criação de

valor enquanto as estratégias são cruciais tanto para a criação quanto para a captura de valor

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2009b; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010).

Uma diferença crucial entre modelos de negócio e estratégia consiste em que o modelo

de negócio é observável, enquanto a estratégia não é completamente observável. Quanto ao

modelo de negócio, é possível representá-lo, seja de forma mais simplificada ou mais

complexa, em um diagrama, uma vez que envolve as atividades relacionadas à cadeia de

valor da empresa, enquanto a estratégia se torna mais difícil, por considerar os planos de ação

para a execução dessas atividades e de captura de parte do valor econômico criado ao longo

do desenvolvimento dessas atividades. Até onde se buscará identificar escolhas e

consequências de um modelo de negócio depende da questão de pesquisa, mas são

informações mais explícitas quando comparadas a uma estratégia (Casadesus-Masanell &

Ricart, 2009b; Casadesus-Masanell & Zhu, 2009).

A interação estratégica, todavia, determina a extensão do modelo de negócio de uma

empresa. A interação entre as atividades e agentes determinam até onde irá a complexidade e

a extensão do modelo de negócio implementado, uma vez que a configuração adotada para o

modelo de negócio da empresa impactará direta ou indiretamente os resultados obtidos pela

empresa e pelo concorrente (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

30

Os modelos de negócio são um reflexo da estratégia realizada, isto é, a complexidade e

a quantidade de escolhas envolvidas no modelo de negócio partem da estratégia a ser

desenvolvida pela empresa, mesmo que não esteja explícita aos olhos dos gestores. Uma

estratégia é um plano de ação, em que os objetos de escolhas são os modelos de negócio.

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010)

Portanto, a interação estratégica envolve a escolha pelo modelo de negócio com o qual

a empresa vai competir, uma vez que as escolhas estabelecidas conduzirão a seus próprios

resultados. Logo, o modelo de negócio desenvolvido a partir dessas escolhas e consequências

busca atender a uma estratégia estabelecida, existindo assim uma relação bidimensional entre

a interação estratégica e os modelos de negócio. Além disso, as atividades envolvidas no

modelo de negócio têm como foco a criação de valor, mas, ao mesmo tempo, acontece a

captura de valor, informando ao gestor se o modelo de negócio foi ou não eficaz para atender

à estratégia estabelecida.

Dessa forma, desenvolveu-se um modelo que representasse e integrasse as variáveis da

pesquisa, isto é, interação estratégica, modelo de negócio, criação de valor e captura de valor,

conforme apresentado a seguir.

Figura 1. Modelo Teórico da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora.

31

Assim, a interação estratégica consiste na relação entre as escolhas estratégicas

desenvolvidas em busca de um determinado resultado. Sua representação pode ser feita por

meio do modelo de negócio, ou seja, o conjunto dessas escolhas e suas consequências que

têm como foco a criação de valor a seus stakeholders. Durante a criação de valor,

simultaneamente há a captura de valor, medida pela lucratividade econômica, e esta indica a

necessidade de se adequar ou não o modelo de negócio para atender a uma estratégia

estabelecida. Quando a empresa obtém lucratividade econômica acima da média do mercado

significa que ela obteve vantagem competitiva (Besanko et. al., 2006; Casadesus-Masanell &

Ricart, 2010; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010; Smith et al., 2010; Zott & Amit, 2008).

2.4 Método utilizado para a representação do modelo de negócio

Os componentes dos modelos de negócio são constituídos pelas escolhas em como a

empresa vai operar e as consequências dessas escolhas. Sua representação seguiu as

orientações de Casadesus-Masanell e Ricart (2009), que já aplicaram esse método em outros

segmentos, além de sistematizarem um método para a construção de um modelo de negócio.

Nesse sentido, primeiramente listaram-se as escolhas ou as decisões tomadas pela

empresa o quanto fosse possível e que se enquadravam dentro das escolhas políticas, de

recursos, e de governança das políticas e dos recursos. As escolhas políticas se referem a toda

e qualquer decisão quanto a sua forma de operação. As escolhas de recursos correspondem

aos recursos tangíveis, como a infraestrutura adotada pela empresa para desempenhar suas

atividades. Já as escolhas de governança se estabelecem por meio da estrutura contratual,

permeando as decisões políticas e de recursos.

32

Além de se identificarem as escolhas de cada empresa, buscou-se traduzi-las nas ações

que foram desenvolvidas para a execução efetiva de cada escolha. Posteriormente,

identificaram-se as consequências diretamente relacionadas a essas escolhas, relacionando-as

e classificando-as como flexíveis e rígidas. As consequências flexíveis são sensíveis às

escolhas que a geram, ou seja, ao modificar-se a escolha, o resultado também se modifica. As

rígidas não se modificam instantaneamente com as escolhas que a geram, isto é, mesmo que

se modifiquem as escolhas, os resultados mudam gradualmente (Casadesus-Masanell &

Ricart, 2009d).

A partir disso, o modelo de negócio de cada empresa foi representado em um diagrama

que envolve as escolhas demarcadas em sublinhado, as consequências rígidas em caixa,

enquanto as flexíveis se apresentam normalmente sem nenhum destaque. A análise desse

modelo se desenvolveu a partir das conclusões empíricas e das premissas que sustentavam

essas conclusões (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Volpato, 2011).

Tendo em vista que cada negócio envolve um modelo de negócio diferenciado em prol

de um objetivo, sua representação não inclui toda escolha e toda consequência (Casadesus-

Masanell & Ricart, 2009d). Isso porque, por mais que se possa representar um modelo de

negócio de forma mais simples ou complexa em um diagrama, o modelo de negócio envolve

inúmeras interações que podem ser facilmente visualizadas quando informações são

disponibilizadas ao público, e, também, interações de difícil observação, com informações

restritas ao corporativo da empresa.

A representação dos modelos de negócio de forma simplificada pode se desenvolver

por meio de duas formas, a agregação e a decomposição. Na agregação, analisam-se as

escolhas e as consequências a certa distância e consegue-se relacioná-las, transformando-as

em grandes construtos, não havendo a necessidade de descrever todos os detalhes e todas as

escolhas e consequências. A distância em que se analisa um modelo de negócio depende da

33

questão que se deseja buscar responder. Muito próximo, torna-se difícil enxergar como o

modelo de negócio funciona. Muito distante, os detalhes são perdidos. Um alto nível de

agregação significa olhar o modelo de negócio em uma distância satisfatória, um baixo nível

de agregação significa estar próximo dos detalhes (Casadesus-Masanell & Ricart, 2010).

A decomposição consiste em diferentes grupos de escolhas e consequências não se

relacionarem; por exemplo, uma empresa que desenvolve um modelo para sua gestão de risco

e outro para a gestão de qualidade, as decisões e as escolhas para cada modelo são diferentes

e conduzem a empresa a resultados diferenciados. Porém ambas as atividades, escolhas e

consequências desse modelo, estão diretamente relacionadas à atividade fim da empresa.

Dessa forma, é possível estudar isoladamente cada modelo, pois cada um impacta, de uma

forma diferente, o modelo de negócio da empresa (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009b;

Casadesus-Masanell & Ricart, 2010).

Dessa forma, esta pesquisa se desenvolveu com alto nível de agregação, em que não se

consideraram todos os detalhes existentes em relação a cada escolha e consequência

identificadas para a construção do modelo de negócio da empresa.

Por fim, as decisões identificadas correspondem às escolhas estratégicas da empresa

para atuar em determinado mercado e alcançar determinado objetivo, isto é, fazem parte de

um plano de ação em busca de atender a uma estratégia maior da empresa. (Smith et al.,

2010; Denardim, 2011)

2.5 Conclusão

Tendo em vista o objetivo proposto, ou seja, analisar como a interação estratégica

moldada pelo modelo de negócio impacta a lucratividade econômica das empresas, buscou-se

primeiramente analisar a criação e a captura de valor em modelo de negócio, que envolve um

34

grupo de escolhas ou decisões tomadas pela empresa, o que representa, assim, a interação

estratégica e as consequências dessas escolhas. Posteriormente, analisou-se a relação entre as

variáveis-chave da pesquisa, interação estratégica, modelos de negócio e lucratividade

econômica, além de apresentar um modelo teórico que sumariza a relação entre essas

variáveis.

Nesse sentido, a interação estratégica foi analisada a partir das escolhas ou decisões

estratégicas desenvolvidas em prol de um objetivo e traduziu-se em um modelo de negócio,

que tem como foco descrever como a empresa opera e cria valor a seus stakeholders. Durante

o processo de criação de valor, as atividades desenvolvidas em um modelo de negócio

permitem também a captura de parte do valor criado. Apesar disso, o modelo de negócio

busca explicar como o valor é criado, isto é, como gerar riquezas aos sócios, acionistas,

atender às necessidades dos consumidores e demais stakeholders. Porém a criação e a captura

de valor estão relacionadas no sentido de que o resultado ou valor capturado anteriormente

foi criado pelas atividades associadas à cadeia de valor de uma empresa. (Casadesus-

Masanell & Ricart, 2009b; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010; Zott et al., 2011; Zott &

Amit, 2008).

A capacidade de criação de valor é ditada pela forma como as empresas moldam seu

modelo de negócio, ou seja, um modelo diferenciado ou o mesmo modelo de seu concorrente,

porém desenvolvido de forma mais eficiente e eficaz. O valor é criado para as partes

envolvidas no negócio, isto é, sócios, acionistas, consumidores e demais stakeholders.

(Porter, 1996; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Massa et al., 2010; Teece, 2010; Zott &

Amit, 2010).

Dentre as diferentes formas de se mensurar o valor criado, optou-se em mensurar o

valor econômico e, consequentemente, sua captura por meio da lucratividade econômica, que,

quando acima da média do mercado, significa que a empresa obteve vantagem competitiva.

35

Para alcançar esse resultado, é necessário que a empresa desempenhe suas atividades

relacionadas à cadeia de valor com eficiência e eficácia, ou seja, além de oferecer benefícios

líquidos aos consumidores maiores que o custo de produção, é preciso que essas atividades

sejam desenvolvidas em nível em que seus concorrentes não consigam reproduzir e associem

seu modelo de negócio a outras variáveis como a estratégia que influencia tanto a criação

quanto a captura de valor (Besanko et al., 2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009c; Smith

et al., 2010; Teece, 2010).

A partir disso, analisou-se a relação existente entre a interação estratégica, os modelos

de negócio e a lucratividade econômica. A interação estratégica moldada pelo modelo de

negócio pode ser considerada como necessária e suficiente para a geração de lucratividade

econômica. O modelo de negócio como componente da interação estratégica permite conectar

o desenvolvimento dos produtos e/ou serviços às necessidades dos consumidores, e assim

promover a geração de valor aos stakeholders. Além disso, o modelo de negócio é um reflexo

da estratégia, em que, quando uma empresa implementa um modelo de negócio, ela busca o

alcance a uma estratégia maior, mesmo que ela não esteja claramente explícita aos olhos dos

gestores. Uma estratégia explícita significa que a empresa tem planos alternativos para

enfrentar as contingências do ambiente, sejam elas oportunidades, dificuldades ou ameaças.

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Casadesus-Masanell & Ricart,2010).

Dessa forma, as ações envolvidas nesse processo podem conduzir a empresa a um

resultado econômico positivo ou negativo, dependendo de como as escolhas estratégicas e as

atividades se interagem para atender a uma estratégia estabelecida. Porém um resultado

econômico positivo não significa a manutenção desse resultado ao longo do tempo, pois, para

isso, o modelo de negócio deve se associar a outras variáveis como a estratégia, além de se

desenvolver em nível de difícil reprodução e englobar atividades que produzam benefícios

36

maiores que o custo de produção (Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Smith et al., 2010;

Teece, 2010).

Portanto, considerou-se uma relação bidimensional entre interação estratégica e

modelos de negócio, uma vez que a primeira envolve a escolha por qual modelo de negócio

adotar e a aplicação desse modelo indica se ele foi ou não eficaz para atender a uma

estratégia estabelecida. Essas variáveis em conjunto impactam a lucratividade econômica, ou

seja, o retorno aos acionistas, além de indicar a necessidade ou não de uma readequação no

modelo de negócio para atender à estratégia estabelecida (Drucker, 1954; Besanko et. al.

2006; Zott et al., 2011).

37

3 Modelos de Negócio e Interação Estratégica: Impacto na Lucratividade Econômica de

Bancos Privados no Brasil

Resumo

O objetivo deste capítulo foi analisar os maiores bancos privados do Brasil no período

de 2009 a 2011, com base na interação estratégica e nos modelos de negócio adotados pelo

banco e seu impacto na lucratividade econômica e posteriormente na vantagem competitiva.

Para isso, desenvolveu-se um modelo teórico, que relaciona as variáveis centrais da pesquisa,

interação estratégica, modelos de negócio, criação de valor e captura de valor. Nesse modelo,

a interação estratégica e os modelos de negócio possuem uma relação bidimensional, isto é,

dentre as escolhas que formam a interação estratégica, uma destas consiste na escolha por

qual modelo de negócio a empresa deve adotar para criar valor aos stakeholders e, assim,

competir no mercado. Já a aplicação dos modelos de negócio, além de focar a criação de

valor permite simultaneamente a captura de parte do valor criado, busca também atender a

uma estratégia maior, uma vez que o modelo de negócio é reflexo da estratégia. A captura de

valor nesse modelo é mensurada pela lucratividade econômica, que, quando acima do

mercado, significa que a empresa obteve vantagem competitiva. Esse resultado afeta o

modelo de negócio, uma vez que indica se o modelo desenvolvido foi eficaz para gerar o

resultado esperado ou se há a necessidade de readequação do modelo para atender a uma

estratégia preestabelecida (Besankoet al., 2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d). Nesse

sentido, esse modelo foi avaliado no segmento bancário brasileiro, envolvendo os maiores

bancos privados do Brasil e tendo como foco a unidade de negócio varejo. A coleta de dados

deu-se por meio dos dados secundários em sites dos próprios bancos, sites governamentais,

revistas, artigos e demais publicações realizadas em meio acadêmico. Por fim, a análise dos

38

dados se desenvolveu com a construção do modelo de negócio para cada banco, além de se

compararem os resultados econômicos obtidos pelo banco com a média do mercado e de seus

concorrentes, e identificar-se, assim, se o banco obteve ou não vantagem competitiva no

período estudado.

3.1 Introdução

Nos últimos anos, o mercado bancário tem experimentado a ampliação da base de

clientes, de colaboradores e de canais de atendimento. Isto é particularmente significativo,

pois a atividade bancária tem impacto na economia do país. Grosso modo, os bancos auxiliam

indiretamente o Banco Central do Brasil na distribuição da moeda, oferecem oportunidades

aos poupadores de recursos e concedem financiamentos a pessoas físicas e jurídicas que

necessitam de algum tipo de captação de recurso para cobrir suas despesas (Marques, Matias,

& Camargo, 2004).

Quando se analisam os maiores bancos privados do Brasil, vê-se que as atividades

desempenhadas pelo Bradesco, Itaú Unibanco e Santander apresentam crescimento do lucro

líquido de 10,0%, 9,7% e 5,1%, respectivamente, no período de 2010 a 2011. Já o ativo total

se destacou positivamente com 19,5%, 13,3%, 9,4%, respectivamente aos mesmos bancos,

além do patrimônio líquido sofrer uma variação de 15,7%, 17,2% e 1,1%. Esses resultados

ocorreram em um período no qual a economia mundial estava em crise. Porém esses

resultados sofreram menor impacto dessa crise, uma vez que as atividades bancárias no Brasil

tinham como foco o mercado interno, e assim os bancos possuíam poucos investimentos em

títulos em outros países estrangeiros (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos [Dieese], 2011; Gutierrez, 2011; Bradesco, 2012; Itaú Unibanco, 2012b;

Santander, 2012).

39

Com base nisso, para atender a essas diferentes demandas, os bancos tomam decisões

estratégicas e desenvolvem ações para sua implementação, que podem se traduzir nas

escolhas realizadas pelos bancos e que, consequentemente, trazem um resultado, seja ele

positivo ou negativo. O conjunto dessas escolhas forma a interação estratégica e, quando

associadas a suas consequências, pode ser representado por meio do modelo de negócio, que

foca a criação de valor ou riqueza aos stakeholders. Durante a criação de valor, há a captura

de parte do valor criado por meio da lucratividade econômica (Besanko et. al., 2006;

Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

Dessa forma, foi desenvolvido um modelo teórico considerando-se as variáveis da

pesquisa, ou seja, interação estratégica, modelos de negócio, criação de valor e captura de

valor. Quando se analisa a interação estratégica e os modelos de negócio, há uma relação

bidimensional, uma vez que as escolhas que formam a interação estratégica envolvem a

escolha do modelo de negócio com o qual a empresa vai competir no mercado. Já os modelos

de negócio, além de terem como foco a criação de valor e permitirem que simultaneamente

haja a captura de parte do valor criado, são aplicados para atender a uma estratégia maior,

além de ser a representação dessa estratégia.

Quanto à criação de valor, a capacidade de criação de valor é ditada pela forma como as

empresas moldam seu modelo de negócio, seja de maneira diferenciada de seu concorrente,

ou da mesma forma que seu concorrente, porém desenvolvendo as atividades com mais

eficiência e eficácia. Dessa forma, cada negócio requer um modelo de negócio, o que afeta

diretamente o resultado obtido pela empresa. Esse resultado foi mensurado por meio da

lucratividade econômica, que, quando acima da média do mercado, significa que a empresa

obteve vantagem competitiva (Besanko et. al., 2006; Smith et al., 2010; Teece, 2010).

A interação estratégica moldada pelo modelo de negócio permite à empresa alcançar

lucratividade econômica e sustentar suas atividades, quando implementada com eficiência.

40

Para que a empresa gere lucratividade econômica e se torne sustentável, é necessário que ela,

além de entregar benefícios líquidos maiores que o custo incorrido na produção, desenvolva

suas atividades em nível de difícil reprodução e associe seu modelo de negócio a outras

variáveis, como a estratégia, para ser capaz de enfrentar as contingências do ambiente,

evitando, assim, seu declínio com o passar do tempo (Casadesus-Masanell & Ricart 2009d,

Teece, 2010).

A partir disso, estabeleceu-se como objetivo analisar cada banco para o período de

2009 a 2011, com base na interação estratégica e nos modelos de negócio e o impacto desses

elementos na lucratividade econômica e na vantagem competitiva obtida por cada banco.

Assim, o objeto de estudo foram os bancos Bradesco, Itaú Unibanco e Santander,

considerados os três maiores bancos privados do Brasil.

Na análise desses três bancos, focou-se a unidade de negócio varejo, em que a coleta de

dados foi realizada por meio de dados secundários, envolvendo sites de fontes

governamentais, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sites do próprio banco,

revistas, pesquisas setoriais e artigos publicados em meio acadêmico. A análise de dados se

desenvolveu primeiramente com a construção de um modelo de negócio, a partir das escolhas

e consequências dessas escolhas e posteriormente analisou-se a relação entre esses elementos

e o impacto desse modelo na geração de lucratividade econômica, que foi mensurada pelo

Economic Value Added (EVA – Valor Econômico Adicionado). Posteriormente, avaliou-se

se a empresa se apresentou no período estudado com ou sem vantagem competitiva,

comparando o resultado do EVA obtido para cada banco no período estudo com os resultados

do mercado e de seus concorrentes.

Por fim, elaboraram-se, primeiramente, um arcabouço teórico com base na criação e na

captura de valor em modelos de negócio e a análise da relação entre as variáveis interação

estratégica, modelos de negócio e lucratividade econômica. Em sequência, além de se

41

descreverem características do mercado bancário e de atuação dos bancos no Brasil,

apresentaram-se os resultados da pesquisa para cada banco, relacionando-os com o do

mercado e com seus concorrentes.

3.2 Criação e captura de valor em modelos de negócio

A capacidade de criação de valor é ditada pela forma como as empresas moldam seu

modelo de negócio. Este envolve atividades que agregam valor ao longo de seu

desenvolvimento. Além disso, o modelo de negócio pode ser estruturado de duas formas

diferentes. A primeira consiste na empresa estruturar seu modelo de negócio de forma

totalmente diferenciada de seu concorrente. A segunda é a empresa desenvolver o mesmo

modelo, porém desenvolvendo suas atividades de forma mais eficiente e eficaz (Besanko et.

al., 2006).

As atividades envolvidas no modelo de negócio buscam a criação de valor para as

partes envolvidas no negócio, seja por meio do retorno desejado aos sócios, acionistas ou

pelo atendimento às necessidades dos consumidores e demais stakeholders (Casadesus-

Masanell & Ricart, 2010; Massa et al., 2010; Teece, 2010).

Dentre as diferentes formas de se mensurar o valor criado, optou-se por medi-lo por

meio do valor econômico. O modelo de negócio foca a criação e não a captura de valor

econômico, mas isso não é feito de forma mutuamente excludente. A explicação é de que

existem outras variáveis associadas ao modelo de negócio que enfatizam a captura de parte

do valor criado. Entretanto criação e captura de valor estão relacionadas no sentido de que o

resultado ou valor capturado foi previamente criado pelas atividades associadas ao modelo de

negócio da empresa ( Besanko et. al., 2006; Moninet al. 2010; Zott, Amit, & Massa, 2011;

Zott & Amit, 2008, 2010).

42

Nesse sentido, durante o processo de criação de valor, há também a captura de parte do

valor criado. Essa captura foi mensurada pela lucratividade econômica, que, quando acima da

média do mercado, significa que a empresa obteve vantagem competitiva. Para que uma

empresa consiga gerar a lucratividade econômica esperada, é necessário que tenha

desenvolvido previamente um modelo de negócio eficiente e eficaz (Porter, 1986, 1991;

Besanko et. al., 2006; Denardim, 2011).

Cada negócio envolve um modelo de negócio diferenciado, o que influencia

diretamente a lucratividade econômica obtida pela empresa. A construção do modelo de

negócio determina a criação de valor econômico aos stakeholders, o que posteriormente afeta

o nível valor capturado. Dessa forma, o resultado esperado desse processo corresponde à

empresa oferecer benefícios líquidos aos consumidores, acionistas e demais stakeholders

maiores que o custo de produção, além de desenvolver um nível de difícil reprodução por

seus concorrentes, para que possa, assim, garantir a geração e a manutenção da lucratividade

econômica (Porter, 1996; Besanko et. al., 2006; Zott & Amit, 2008).

Para que a lucratividade econômica seja sustentável, é necessário ainda que a empresa

combine seu modelo de negócio a outras variáveis, como a estratégia que influencia tanto a

criação quanto a captura de valor, pois os modelos de negócio analisados isoladamente são

capazes de gerar lucratividade econômica, mas são insuficientes para manter esse resultado

ao longo do tempo. Isso porque, por mais que o modelo de negócio envolva um sistema

complexo, é difícil implementar barreiras que dificultem a réplica de sua ideia base

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Teece, 2010).

Portanto, além do modelo de negócio criar valor econômico, permitindo

simultaneamente a captura de parte desse valor por meio da lucratividade econômica, é

necessário que esse modelo seja capaz de se adaptar às contingências do ambiente, sejam elas

oportunidades, ameaças ou dificuldades. Para isso, a empresa deve combinar seu modelo de

43

negócio a outras variáveis, como a estratégia que influencia tanto a criação e a captura de

valor, e, assim, consigam sustentar esse resultado ao longo do tempo (Casadesus-masanell &

Ricart, 2010; (Casadesus-masanell & Ricart, 2010; Teece, 2010).

3.3 Interação estratégica, modelo de negócio e a lucratividade econômica

A criação e a captura de valor em modelo de negócio, quando analisados isoladamente,

são capazes de gerar o resultado esperado pelos sócios ou acionistas, mas são insuficientes

para manter esse resultado ao longo do tempo. As atividades envolvidas em um modelo de

negócio devem gerar benefícios líquidos aos stakeholders maiores que o custo incorrido na

produção, se desenvolver em nível de difícil reprodução e ainda se associar a outras variáveis,

como a estratégia, para que o resultado econômico possa se sustentar com o passar do tempo.

Por isso, há a necessidade de associar os modelos de negócio à interação estratégica. Além

disso, a combinação dessas variáveis e a forma como aplicada no mercado é capaz de gerar o

resultado econômico obtido pela empresa, seja positiva ou negativamente (Casadesus-

Masanell & Larson, 2010; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009c; Casadesus-Masanell &

Ricart, 2010; Zott & Amit, 2008).

A interação estratégica corresponde a um grupo de escolhas e atividades estratégicas

que interagem entre si em prol de um objetivo, e que se traduz no ambiente empresarial no

modelo de negócio. O modelo de negócio envolve escolhas políticas, de recurso e de

governança. As escolhas políticas se referem a toda e qualquer decisão quanto a sua forma de

operação. As escolhas de recursos correspondem aos recursos tangíveis, como a

infraestrutura adotada pela empresa para desempenhar suas atividades. Já as escolhas de

governança se estabelecem por meio da estrutura contratual, permeando as decisões políticas

e de recursos. O conjunto dessas escolhas, além de formar a interação estratégica, permite à

44

empresa competir no nível do modelo de negócio, uma vez que associa essas escolhas a suas

consequências (Ammar, 2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d, 2010; Fumás, 2009;

Denardin, 2011).

O modelo de negócio, além de ter como componentes as escolhas e as consequências,

envolve as atividades que são desempenhadas em busca de criar valor aos stakeholders. Além

disso, o modelo de negócio desenvolvido também busca atender a uma estratégia

estabelecida. Por isso, considera-se o modelo de negócio um reflexo da estratégia, podendo

dizer ainda que o modelo de negócio molda a interação estratégica, uma vez que engloba o

conjunto de escolhas ou decisões tomadas pela empresa e as associa a suas consequências.

Assim, considera-se a existência de uma relação bidimensional entre a interação estratégica e

os modelos de negócio (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009, 2010; Fumás, 2009; Denardin,

2011).

Toda empresa tem um modelo de negócio e uma estratégia, seja ela explícita ou

implícita aos olhos dos gestores. Numa estratégia explícita, a empresa possui planos de ação

alternativos para enfrentar as contingências do ambiente, estando claramente definidas as

atividades e as ações a serem desempenhadas em meio às contingências do ambiente. Quando

implícita, os gestores não conseguem visualizar e desenvolver planos alternativos, o que

conduz a dizer que a empresa não possui uma estratégia. Além disso, toda empresa

desenvolve atividades relacionadas a sua cadeia de valor para a criação de valor econômico,

ou seja, tem um modelo de negócio associado a uma estratégia maior, independente da

empresa que se esteja analisando (Smith et al., 2010).

Há autores, no entanto, que defendem que toda empresa tem um modelo de negócio,

mas nem toda empresa tem uma estratégia. Uma empresa não tem uma estratégia quando não

tem um plano de ação para as diferentes contingências que possam aparecer. Tanto as

estratégias quanto os modelos de negócio requerem um conhecimento profundo dos gestores

45

para que possam ser definidos; porém, enquanto os modelos de negócio se referem às

atividades relacionadas à cadeia de valor da empresa, as estratégias se referem às ações e aos

planos de ações planejados pela empresa, para a execução dessas atividades. Por isso, o

desenho de uma estratégia é mais complexo que do que sua representação por meio de um

modelo de negócio. O modelo de negócio foca a criação de valor enquanto as estratégias são

cruciais tanto para a criação quanto para a captura de valor (Casadesus-Masanell & Ricart,

2009c; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010).

A interação estratégica determina a extensão do modelo de negócio de uma empresa, ou

seja, a quantidade de escolhas envolvidas no modelo de negócio parte da estratégia a ser

implementada pela empresa. A interação entre as atividades e agentes determinam até onde

vai a complexidade e extensão do modelo de negócio implementado, além das escolhas

envolverem a escolha por qual modelo de negócio adotar (Casadesus-Masanell & Ricart,

2009c; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010).

Quando se trata da representação do modelo de negócio, identifica-se que o modelo de

negócio não inclui toda escolha e toda consequência. Isso porque, por mais que se possa

representar o modelo de negócio de forma mais simples em um diagrama, ele envolve

inúmeras interações, em que algumas são facilmente identificadas quando informações são

disponibilizadas ao público, e outras de difícil observação, quando as informações são

restritas ao corporativo. Desse modo, a quantidade de escolhas e consequências representadas

em um modelo de negócio depende da questão que se deseja estudar e do nível de acesso às

informações necessárias para esse estudo (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

Além disso, a representação do modelo de negócio pode ocorrer de duas formas, a

agregação e a decomposição. Na agregação, as escolhas e as consequências são analisadas a

certa distância, mas se consegue relacioná-las e transformá-las em grandes construtos, não se

considerando ainda todos os detalhes referentes a cada escolha e consequência. A

46

decomposição consiste em diferentes grupos de escolhas e consequências não se

relacionarem. Por exemplo, numa empresa que desenvolve um modelo para sua gestão de

risco e outro para a gestão de qualidade, as decisões e escolhas para cada modelo são

diferentes e conduzem a empresa a resultados diferenciados. Porém ambas as atividades,

escolhas e consequências, desse modelo estão diretamente relacionadas à atividade fim da

empresa (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009a; Casadesus-Masanell & Ricart, 2010).

A partir disso, o modelo de negócio conduz a empresa a um resultado. Esse resultado

identifica a captura de parte do valor criado e é mensurado por meio da lucratividade

econômica. A lucratividade econômica acima da média do mercado significa que a empresa

obteve vantagem competitiva (Besanko et. al., 2006; Porter, 1999).

A interação estratégica moldada pelo modelo de negócio pode ser considerada como

necessária e suficiente para a geração e a manutenção da lucratividade econômica. O modelo

de negócio por si só é capaz de conectar os produtos e os serviços desenvolvidos às

necessidades dos consumidores e, assim, gerar valor aos stakeholders. Porém, para que a

lucratividade econômica seja sustentável, é necessário ao modelo de negócio associar-se a

outras variáveis, como a estratégia que influencia tanto a criação quanto a captura de valor

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2007, 2008, 2009a; Smith et al., 2010; Teece, 2010;

Denardim, 2011).

Com base nisso, elaborou-se um modelo teórico buscando relacionar as variáveis da

pesquisa, ou seja, interação estratégica, modelos de negócio, criação de valor e captura de

valor, conforme a seguir, na Figura 2.

47

Figura 2. Modelo teórico da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora.

A interação estratégica envolve um grupo de escolhas estratégicas desenvolvidas em

prol de um objetivo. Essas escolhas são representadas por meio do modelo de negócio, além

de associá-las a suas consequências. Dentre essas escolhas, está a escolha por qual modelo de

negócio adotar para a criação de valor aos stakeholders. Durante a criação de valor,

simultaneamente há a captura de valor, medida pela lucratividade econômica, e indica a

necessidade de se adequar ou não o modelo de negócio para atender a uma estratégia

estabelecida. Quando a empresa obtém lucratividade econômica acima da média do mercado,

significa que ela obteve vantagem competitiva. (Ammar, 2006; Besanko et. al., 2006;

Casadesus-Masanell & Ricart, 2010; Massa et al., 2010; Monin et al., 2010; Smith et al.,

2010; Zott & Amit, 2008)

Por fim, como a interação estratégica envolve a escolha por qual modelo de negócio

adotar para competir no mercado, as atividades desenvolvidas nesse modelo de negócio, além

de buscarem a criação de valor, também representam as ações de uma estratégia estabelecida,

estabelecendo-se, assim, uma relação bidimensional entre a interação estratégica e os

modelos de negócio.

48

3.4 Método utilizado para a representação do modelo de negócio

Os componentes dos modelos de negócio são constituídos pelas escolhas em como a

empresa vai operar e as consequências dessas escolhas. Sua representação seguiu as

orientações de Casadesus-Masanell e Ricart (2009d), que já aplicaram este método em outros

segmentos, além de sistematizarem um método para a construção de um modelo de negócio.

Nesse sentido, primeiramente, listaram-se as escolhas ou as decisões tomadas pela

empresa o quanto fosse possível e que se enquadravam dentro das escolhas políticas, de

recursos, e de governança das políticas e dos recursos. As escolhas políticas se referem a toda

e qualquer decisão quanto a sua forma de operação. As escolhas de recursos correspondem

aos recursos tangíveis, como a infraestrutura adotada pela empresa para desempenhar suas

atividades. Já as escolhas de governança se estabelecem por meio da estrutura contratual,

permeando as decisões políticas e de recursos. (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

Além de identificar as escolhas de cada empresa, buscou traduzir essas escolhas nas

ações que foram desenvolvidas para a execução efetiva de cada escolha. Posteriormente,

identificaram-se as consequências diretamente relacionadas a essas escolhas, relacionando-as

e classificando-as como flexíveis e rígidas. As consequências flexíveis são sensíveis às

escolhas que a geram, ou seja, ao modificar a escolha, o resultado também modifica. As

rígidas não se modificam instantaneamente com as escolhas que as geram, isto é, mesmo que

se modifiquem as escolhas, os resultados mudam gradualmente (Casadesus-Masanell &

Ricart, 2009d).

A partir disso, o modelo de negócio de cada empresa foi representado em um diagrama

que envolve as escolhas demarcadas em sublinhado, as consequências rígidas em caixa,

enquanto as flexíveis se apresentam normalmente sem nenhum destaque. A análise desse

49

modelo se desenvolveu a partir das conclusões empíricas e das premissas que sustentavam

essas conclusões (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Volpato, 2011).

O modelo desenvolvido não envolve toda escolha e toda consequência, em que se

desenvolveu com um alto nível de agregação, não se considerando todos os detalhes

existentes em relação a cada escolha e consequência identificadas para a construção do

modelo de negócio da empresa (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009a; Casadesus-Masanell &

Ricart, 2010).

Por fim, as decisões identificadas correspondem às escolhas estratégicas da empresa

para atuar em determinado mercado e alcançar determinado objetivo, isto é, fazem parte de

um plano de ação em busca de atender a uma estratégia maior da empresa (Smith et al., 2010;

Denardim, 2011).

3.5 Cenário econômico e atuação dos bancos privados no Brasil

O mercado bancário encontra-se em concentração de capital, devido às recentes

incorporações. Em abril de 2011, havia uma concentração bancária no mercado brasileiro, em

que esse conglomerado era composto de aproximadamente 79% do mercado nacional de

crédito apenas pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco, Bradesco e

Santander (Dantas et al., 2011; Labefin, 2011; Marcon, 2010; Febraban, 2012).

Esse contexto faz com que os bancos busquem uma estrutura interna para atender às

necessidades dos sócios, acionistas, consumidores e demais stakeholders, de maneira mais

eficiente e eficaz. Para isso é necessário que o banco execute as atividades relacionadas a sua

cadeia de valor de forma mais eficiente e eficaz, ou seja, entregue benefícios líquidos aos

stakeholders com menor custo de produção e em nível de difícil reprodução por seus

concorrentes. A representação dessas ações e atividades pode se desenvolver por meio de um

50

modelo de negócio, que tem como foco a criação de valor a esses diferentes agentes (Besanko

et. al. 2006; Carabias & Fernandez, 2006; Casadesus-Masanell & Ricart, 2009).

Nesse sentido, os bancos desenvolveram um modelo interno de gestão, que os

conduziram a maior bancarização, ou seja, o nível de acesso aos serviços bancários e o grau

de uso desses serviços. A população bancarizada cresceu 6,3% em 2011, enquanto o número

de contas correntes ativas cresceu 3,8% em 2010, o que corresponde a 92 milhões de contas

ativas. Quando comparado a outros países, o Brasil possui aproximadamente 4.315 contas por

agência, estando abaixo da média da Austrália, que é de 4.657, e acima da média dos Estados

Unidos com 4.029 contas por agência e de países na União Europeia com 3.401. Isso fez com

que os bancos se atentassem ao novo público que surgia e em suas práticas para atender às

diferentes demandas (Feltrim et al., 2009; Ipea, 2012; Febraban, 2012).

Para atender à demanda de cada cliente, cada banco desenvolveu um modelo de

atendimento às diferentes necessidades de seus clientes, o que se verifica em investimentos

em canais de atendimento, como agências, PABs, internet, postos eletrônicos, dentre outros,

para permitir ao cliente ter acesso aos serviços bancários, além de disponibilizar uma

plataforma tecnológica, como CRM, dentre outros, para atender ao cliente com maior

agilidade. Os canais de atendimento apresentam-se em crescimento, desde 2005, em

decorrência da bancarização, em que o número de canais de atendimento aumentou 7% em

2011 (Feltrim et al. 2009; Febraban, 2012).

Além disso, os maiores bancos privados detinham maior participação no mercado com

relação à concessão de crédito em 2008 com 47,9% das operações de crédito, mas

começaram a perder força para os bancos públicos, visto que em 2012 os bancos privados

possuíam 37,1% e os bancos públicos detinham 46,2% dos R$ 2.237 trilhões emprestados a

terceiros (Brasil, 2012). Apesar de os bancos privados se apresentarem com desvantagem,

juntos aos bancos públicos corresponderam a 81% das emissões de cartões, uma das formas

51

de concessão de crédito no mercado (Banco Central do Brasil [BACEN], 2012; Cardmonitor,

2012).

Dentro desse contexto, optou-se por analisar os bancos Bradesco, Itaú Unibanco e

Santander, que, juntamente a outros órgãos e sites, disponibilizaram, em meios eletrônicos,

informações, para a análise do objetivo geral desta pesquisa, permitindo, assim, adequação

dos dados coletados ao proposto na pesquisa.

O Bradesco é um banco múltiplo e privado, presente em todos os municípios

brasileiros. Opera principalmente em dois segmentos: os serviços bancários e os serviços de

seguros. Em 2011, o banco possuía 4.634 agências em todo o Brasil e mantinha uma variação

de praticamente dois milhões de clientes correntistas anualmente, no período de 2009 a 2011.

O ativo total do Bradesco variou 19,5% de 2010 para 2011, enquanto o patrimônio líquido

cresceu 15,7%, e o lucro líquido 10%, nesse mesmo período. Além disso, o banco apresentou

o índice de eficiência de 41,0%, 42,7%, 43,0%, respectivamente a 2009, 2010 e 2011

(Bradesco, 2012; Dieese, 2011).

O Itaú Unibanco foi líder do mercado nacional de cartões de crédito em 2009, com a

participação de 37,5% no faturamento do setor, o que correspondeu a uma movimentação de

cerca de 85 bilhões, a partir de 52 bilhões de cartões de crédito em circulação. No período de

2010 a 2011, o ativo total variou em 13,3%, o patrimônio líquido variou em 17,2% e seu

lucro líquido obteve um crescimento de 9,7%. Além desses indicadores, há o índice de

eficiência que foi de 47,2% em 2009, de 49,1% em 2010 e de 47,7% em 2011 (Itaú

Unibanco, 2012b; Dieese, 2011).

O Santander é o maior banco estrangeiro no Brasil e o terceiro maior banco privado em

total de ativos. Sua orientação ao cliente tem como foco o varejo. Em setembro de 2011, 86%

das ações e serviços prestados pelo Santander Brasil tinham como foco o banco comercial,

contra 11% do Banco Global de atacado, ou seja, clientes corporativos globais e atividades de

52

tesouraria, e 3% de gestão de recursos de terceiros e seguros. Além disso, em junho de 2011,

o banco tinha uma participação de mercado de 11,4%, em termos de quantidade de agências

distribuídas em todo o Brasil. No período de 2010 a 2011, o Santander apresentou uma

variação de 9,4% em seus ativos totais, um crescimento de 1,1% em seu patrimônio líquido e

5,1% em seu lucro líquido (Dieese, 2011; Santander, 2011a, 2011b).

Esses resultados, contudo, foram influenciados pela maior bancarização, pelas melhores

condições macroeconômicas e pela estrutura interna adotada por cada banco para o

desenvolvimento de suas atividades, além de considerar o impacto das ações e práticas de

seus concorrentes no mercado. Portanto, esses resultados se sustentaram mesmo em meio à

crise financeira e econômica mundial, pois a constituição de reservas cambiais e a solidez do

sistema bancário tornou o país menos exposto ao trancamento de crédito e a demais impactos

dessa crise (Nassif, 2012).

3.6 Metodologia da pesquisa

O objeto de estudo desta pesquisa foram os maiores bancos privados brasileiros,

Bradesco, Itaú Unibanco e Santander. O período analisado foi de 2009 a 2011, período após

as aquisições realizadas pelo Itaú e pelo Santander. Esses bancos, juntamente a outros órgãos

e sites, disponibilizaram, via canais eletrônicos, informações para análise do objetivo geral

desta pesquisa, permitindo, assim, adequação dos dados coletados ao proposto na pesquisa.

Dentro das atividades desenvolvidas pelo banco, estudou-se a unidade de negócio

varejo, que envolve operações com grande representatividade nas atividades do banco em sua

totalidade. Dada à restrição de informações específicas ao varejo quando se trata das

demonstrações financeiras e demais índices calculados para toda a atividade do banco,

determinou-se, como pressuposto, a existência de uma relação linear entre o desempenho do

53

varejo e o desempenho do banco. Isso significa que os resultados identificados e divulgados

para os bancos são considerados nas mesmas perspectivas para a unidade de negócio varejo.

Cada banco configura seu varejo de uma forma diferenciada, em que para o Bradesco

corresponde aos clientes pessoas físicas e jurídicas até o faturamento anual de R$30 milhões.

Para o Itaú Unibanco, o varejo é composto somente com as pessoas físicas que possuem uma

renda até R$4 mil reais. No Santander existe maior categorização que envolve desde o cliente

clássico com renda igual ou inferior a R$1.200,00 até empresas com faturamento entre R$30

e R$250 milhões. Neste banco, somente os clientes corporativos globais não pertencem ao

varejo (Bradesco, 2012; Itaú Unibanco, 2012a; Santander, 2012).

As informações financeiras e índices financeiros e econômicos envolvem as atividades

do banco em sua totalidade, mas há artigos, relatórios e sites que publicam informações tanto

do banco quanto dos segmentos de atuação do banco, ou seja, publicações setoriais. Nesse

sentido, a coleta de dados foi realizada com base nos dados secundários, em publicações

empresariais, setoriais, revistas, sites de fontes governamentais, como a CVM, artigos e

demais trabalhos publicados em meio acadêmico.

A coleta de dados por meio dos dados secundários permitiu realizar uma análise com

alto nível de agregação, isto é, uma distância ideal quanto ao modelo de negócio de cada

banco. Dessa forma, não houve a necessidade de considerar todos os detalhes quanto às

escolhas e consequências, o que possibilitou transformá-las em grandes construtos através de

sua relação (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

A quantidade e a qualidade das informações disponibilizadas ao público, no entanto, e

posteriormente coletadas, exigiram maior rigor do pesquisador, uma vez que há informações

generalizadas e publicadas até mesmo em fontes não confiáveis. Além disso, essa

generalização impossibilitou ao pesquisador ter acesso às particularidades da gestão do

54

negócio, que poderiam, às vezes, complementar a análise quanto ao modelo de negócio de

cada banco.

A análise dos dados deu-se primeiramente pela elaboração de uma planilha que

abordava as escolhas e as consequências de cada banco para atuar no varejo e sua

classificação como consequência flexível ou rígida. Essas escolhas e consequências

permitiram a construção de um modelo de negócio para cada banco, em que as conclusões

teóricas a partir desses modelos tiveram como premissas a relação existente entre as escolhas

e as consequências pontuadas na planilha.

Posteriormente, calculou-se o Economic Value Added (EVA – Valor Econômico

Adicionado), que consiste em uma medida de criação de valor identificada pelo desempenho

operacional da própria empresa. O resultado do valor econômico adicionado indica se a

empresa foi ou não capaz de gerar um retorno suficiente para cobrir todos os seus custos e

despesas, inclusive o custo de capital próprio e, assim, gerar valor ou riqueza aos acionistas.

Na revisão da literatura, essa medida é descrita por meio da lucratividade econômica, que,

quando acima da média do mercado, significa que a empresa obteve vantagem competitiva

(Besanko et. al., 2006; Matias, 2007; Assaf Neto & Lima, 2011).

Para calcular o EVA, considerou-se o custo de capital próprio e o retorno sobre

patrimônio liquido (ROE). O cálculo do custo de capital próprio levou em conta o Capital

Asset Pricing Model (CAPM - modelo de precificação de ativos), que engloba o rendimento

do ativo livre de risco, o Beta e a remuneração média do mercado. No rendimento do ativo

livre de risco, considerou-se a taxa anual do Sistema Especial de Liquidação e Custódia

(SELIC). O cálculo do Beta envolveu os preços de mercado das cotações de cada banco em

uma análise de regressão, em que o coeficiente angular era o Beta. Além disso, o Beta

significa a variação das ações do banco em relação às ações do mercado. Na remuneração

55

média de mercado, considerou-se a variação anual da taxa média de crescimento entre dois

períodos, medida pelo Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Ibovespa, 2012).

O ROE foi identificado nos sites de cada banco, para o período em análise. Dessa

forma, todos os dados para o cálculo do EVA foram coletados em sites do Banco Central do

Brasil, do Ibovespa e do próprio banco, exceto o Beta, que foi calculado a partir da descrição

anterior. Estes podem ser resumidos nas seguintes fórmulas:

Figura 3. Fórmula para o cálculo do Economic Value Added (EVA)

Fonte: Procedimento de cálculo estabelecido a partir da dedução dos conceitos envolvidos no EVA.

Essa fórmula provém da dedução dos conceitos envolvidos no cálculo do EVA. O

princípio do EVA consiste na empresa produzir um lucro que cubra, além das despesas, tanto

o custo de capital de terceiros quanto o custo de capital próprio. O custo de capital de

terceiros já é considerado no cálculo do ROE, uma vez que ele já é deduzido quando se

calcula o lucro líquido. Logo, precisa-se calcular o custo de capital próprio, que foi calculado

pelo CAPM, para encontrar o EVA.

Em sequência, calculou-se o EVA médio anual do segmento estudado, a partir dos

valores anuais identificados para os três bancos e o EVA médio dos concorrentes para cada

banco analisado, para uma posterior comparação entre os resultados.

A partir disso, avaliou o modelo de negócio de cada banco, que englobava as escolhas e

consequências dessas escolhas relacionando-as com o EVA obtido para cada banco.

CAPM = Rendimento do Ativo Livre de Risco + [BETA X (Remuneração Média do Mercado - Rem Ativo Livre de Risco)]

EVA = ROE – CAPM

56

3.7 Análise dos resultados

A análise dos dados é apresentada para cada banco. Ao final de cada análise é

realizada uma análise comparativa com seus concorrentes e com o mercado, considerando o

EVA médio dos maiores bancos do Brasil e o EVA médio de seus concorrentes.

3.7.1 Bradesco

Para analisar-se como o Bradesco se estruturou internamente para competir no

mercado, no período de 2009 a 2011, elaborou-se o modelo de negócio desse banco,

considerando-se o grupo de escolhas ou decisões tomadas pela empresa, que representam a

interação estratégica e as consequências dessas escolhas. Esse modelo é apresentado em

sequência.

Figura 4. Modelo de Negócio do Bradesco, no período de 2009 a 2011

Fonte: Dados da pesquisa

57

Esse modelo representa as decisões do Bradesco para atuar no mercado de varejo, as

quais, juntamente a seus resultados, configuraram o modelo de negócio desse banco. Dessa

forma, essas são algumas das decisões tomadas pelo banco para buscar a criação de valor a

seus acionistas e o atendimento às necessidades dos consumidores e demais stakeholders.

Isso porque, como um modelo consiste em uma representação simplificada de uma realidade

mais complexa, esse modelo não envolve toda escolha e toda consequência das ações do

banco para buscar a criação de valor aos diferentes agentes envolvidos no negócio

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

O método utilizado para a configuração desse modelo de negócio seguiu as orientações

desses autores, em que as escolhas são demarcadas em sublinhado, as consequências rígidas

são apresentadas em caixa e as consequências flexíveis se apresentam normalmente sem

nenhum destaque. As consequências flexíveis significam que a cada modificação na ação de

uma escolha surge um novo resultado. Em contraposição, as rígidas correspondem aos

resultados mudarem gradualmente quando se modifica alguma instância da escolha

estabelecida.

Nesse sentido, a decisão quanto ao segmento de atuação fez com que o banco

dimensionasse suas operações e investisse em infraestrutura para atender ao cliente, o que

trouxe como resultado a ampliação da base de clientes, maior quantidade de canais de

atendimento e um pacote de serviços específicos para as demandas dos clientes desse

segmento. A base de clientes variou positivamente no período analisado, no qual em 2009 o

varejo possuía 20,9 milhões de clientes correntistas e, em 2010, mais de 22 milhões. Já em

2011, o varejo possuía cerca de 24 milhões de clientes correntistas, sendo eles pessoas físicas

e jurídicas.

Quanto aos canais de atendimento, em 2009 o banco envolvia 58.423 canais, dentre

eles agências, postos e pontos de atendimento bancário (PABs), máquinas de

58

autoatendimento e bancos expressos, que são os bancos correspondentes. Em 2010, esse valor

evolui para 66.227 canais, o que representa uma variação anual de 13%. Já em 2011, os

canais de atendimento totalizaram em uma variação de 77% com base no ano anterior, sendo

representado por 117.418 canais. Outro resultado é o pacote de serviços prestados pelo banco

ao varejo, que envolve captação de depósitos, serviços bancários para pessoas físicas e

jurídicas, operações de crédito e cartões de crédito e débito.

Outra decisão tomada pelo banco é a diversificação geográfica que reflete nos locais de

atuação do banco e na localização de seus canais de atendimento ao cliente. Os resultados das

ações dessa escolha foram o aumento da base de clientes, uma vez que possuíam canais de

atendimento em todos os municípios brasileiros, tendo maior participação de mercado no

norte do Brasil, com 27,8%, quando comparado aos demais bancos existentes na região.

A concentração dos canais de atendimento é identificada nas regiões sudeste e sul do

Brasil, para todos os bancos analisados, porém, quando se analisa a região norte ou até

mesmo a região nordeste com 25,6%, a participação de mercado é maior em termos de canais

de atendimento, pelo fato de, mesmo havendo uma menor quantidade de canais na região, os

demais bancos também atuam em menor proporção, aumentando, assim, a participação

individual de cada banco nesse mercado.

As demais decisões tomadas pelo banco contribuíram para um resultado em comum, o

índice de eficiência, que foi de 41,0%, 42,7% e 43,0%, respectivamente a 2009, 2010 e 2011.

O desenvolvimento simultâneo das ações e atividades relacionadas a essas escolhas

permitiram ao banco obter um índice de eficiência acima da média do setor financeiro em

2010 e 2011, que foi de 39,8% e 37, 0%, respectivamente. Somente em 2009, esse resultado

foi inferior à média desse mercado de 56,4%.

Além disso, o relacionamento banco-fornecedor também trouxe como resultado a

ampliação da base de clientes, enquanto a política de qualidade Bradesco também se

59

relacionou à presença dos canais de atendimento nos municípios brasileiros. A gestão de

risco, além de contribuir para o resultado quanto ao índice eficiência, trouxe como

consequência a identificação do nível de risco do banco quanto a seu negócio, seja quanto a

seu relacionamento com o fornecedor, com relação à diversificação geográfica ou quanto aos

serviços prestados pelo banco.

O relacionamento banco acionista, os investimentos em infraestrutura tecnológica, a

escolha dos serviços a serem prestados no varejo contribuíram, nesse caso, somente para a

geração do índice de eficiência. A escolha quanto a manter parcerias com bancos postais

impactou também a presença das atividades oferecidas pelo banco em todos os municípios

brasileiros, pois isso ampliava os canais de atendimento ao cliente.

Os elementos do modelo de negócio, ou seja, as escolhas e as consequências

identificadas quanto ao Bradesco correspondem à estrutura interna adotada pelo banco para

competir no mercado no período estudado, em busca da criação de valor aos diferentes

agentes envolvidos no negócio. Dessa forma, a partir dessa análise avaliou-se o impacto

desse modelo na geração de lucratividade econômica, que indicou parte do valor captura pelo

banco e, quando acima da média do mercado, significa que a empresa obteve vantagem

competitiva (Besanko et. al., 2006).

A lucratividade econômica foi mensurada pelo EVA, que indica se a empresa foi ou

não capaz de gerar lucro para cobrir seus custos e despesas, dentre eles o custo de capital

próprio. Quando o resultado é positivo, ou seja, superior ao custo de capital, significa que o

banco gerou lucratividade econômica, isto é, gerou riquezas a seus acionistas. Quando

resultado negativo, entende-se que o banco se posiciona em situação de prejuízo econômico,

não sendo, assim, capaz de cobrir nem seu custo de capital próprio (Matias, 2007; Assaf Neto

& Lima, 2011).

60

Nesse sentido, os resultados identificados para o Bradesco no período analisado foram

conforme a Tabela 1.

Tabela 1

Bradesco - Cálculo do Economic Value Added (EVA)

Período Rendimento do ativo

livre de risco Beta¹

Remuneração

média do mercado CAPM²

CAPM – 2009 0,087 0,657 0,010 0,036

CAPM – 2010 0,107 0,654 -0,181 -0,081

CAPM – 2011 0,109 0,657 0,006 0,041

Período ROE³ CAPM EVA4

EVA – 2009 0,238 0,036 0,202

EVA – 2010 0,277 -0,081 0,308

EVA – 2011 0,199 0,041 0,158

Nota. 1Variação das ações do banco em relação às ações do mercado

2Capital Asset Pricing Model

3 Retorno

sobre o Patrimônio Líquido 4Economic Value Added. Fonte: Dados da pesquisa.

Para se calcular o EVA, considerou-se a diferença entre o ROE e o CAPM. O ROE

indica o quanto os acionistas auferiram de retorno dos recursos próprios aplicados na

empresa. O CAPM considerou o rendimento do ativo livre de risco por meio da SELIC, a

remuneração média de mercado que foi identificada pelo Ibovespa por meio da taxa média de

crescimento e o Beta que foi calculado a partir dos preços de mercado das cotações de cada

banco, e aplicou-se o método de regressão, em que o coeficiente linear foi considerado como

o Beta (Matias, 2007; Assaf Neto & Lima, 2011).

Os resultados alcançados pelo Bradesco no período de 2009 a 2011, para o EVA,

indicam que houve criação de valor aos acionistas, uma vez que os valores foram positivos. O

lucro obtido pelo Bradesco foi suficiente para cobrir todos os seus custos e despesas, dentre

eles o custo de capital próprio, criando, assim, lucratividade econômica aos acionistas.

No entanto, após constatar que o banco foi capaz de gerar riquezas aos acionistas,

avaliou–se se o banco obteve vantagem competitiva, no período analisado. Para isso,

calculou-se o EVA médio anual dos maiores bancos privados do Brasil e este foi comparado

61

ao resultado anual do banco. Além disto, calculou-se o EVA médio anual dos bancos

concorrentes, ou seja, analisou-se o resultado do banco com os resultados de seus pares

concorrentes.

Assim, tendo o EVA anual do Bradesco, a Tabela 2 apresenta também o EVA médio

anual dos maiores bancos privados do Brasil e o EVA médio anual de seus concorrentes.

Tabela 2

Bradesco – Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus concorrentes

EVA médio

Período Maiores bancos privados

do Brasil

Concorrentes do

Bradesco

EVA

Bradesco

2009 0,195 0,192 0,202

2010 0,351 0,372 0,308

2011 0,168 0,173 0,158

Nota. Fonte: Dados da pesquisa.

A partir da Tabela 2, observa-se que o Bradesco somente se posicionou em uma

situação de vantagem competitiva em 2009, quando o resultado obtido pelo banco quanto ao

EVA foi superior à média do mercado considerado e à média de seus concorrentes, ou seja,

Itaú Unibanco e Santander. Dessa forma, para que seja considerada vantagem competitiva, o

EVA do banco precisa ser superior às outras duas medidas consideradas na análise. Em 2010

e 2011, o resultado obtido pelo banco foi inferior tanto à média do mercado considerado

quanto à média de seus concorrentes, não sendo, assim, possível dizer que o banco Bradesco

obteve vantagem competitiva.

As atividades relacionadas ao modelo de negócio do Bradesco foram capazes de gerar

um lucro econômico excedente ao custo incorrido em todas as operações bancárias, mas

foram insuficientes para gerar um resultado acima da média do mercado e garantir uma

sustentabilidade quanto aos resultados esperados pelo banco. Dessa forma, essa desvantagem

competitiva pode se associar ao fato de as decisões tomadas e as ações desenvolvidas pelo

62

banco não terem sido desempenhadas em um nível em que seus concorrentes não

conseguissem reproduzir (Besanko et. al. 2006). Isso se comprova quando esse modelo se

compara aos outros modelos de negócio analisados na pesquisa e se identifica que as escolhas

estratégicas são muitas vezes semelhantes, diferenciando-se somente na forma como as ações

são desempenhadas e, às vezes, nos resultados obtidos consequentemente.

Por fim, a interação estratégica por meio das escolhas envolvidas no modelo de negócio

do Bradesco foi necessária e suficiente para a geração de lucratividade econômica, mas as

ações podem não ter sido desempenhadas em nível de difícil reprodução, o que conduziu o

banco a desvantagem em 2009 e 2010.

3.7.2 Itaú Unibanco

Com base nas informações coletadas referentes ao período estudado, elaborou-se um

modelo de negócio que representasse como as decisões tomadas pelo banco se relacionaram

com seus resultados. Quanto à estrutura do modelo, ressalta-se que as consequências em

caixa foram identificadas como consequências rígidas, ou seja, por mais que se modifique a

escolha, em alguma instância as mudanças no resultado acontecem de forma gradual,

enquanto as consequências flexíveis são apresentadas normalmente e significam que a cada

mudança na escolha um novo resultado pode surgir, além de as escolhas serem representadas

por sublinhado (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d).

Além disso, o período analisado foi o mesmo do Bradesco, de 2009 a 2011, em que o

modelo de negócio descrito abaixo representa as escolhas feitas pelo banco neste período e as

consequências dessas escolhas. Esse conjunto de escolhas realizadas pelo banco forma a

interação estratégica.

63

Figura 5. Modelo de Negócio Itaú Unibanco, no período de 2009 a 2011 Fonte: Dados da pesquisa

O modelo de negócio do Itaú Unibanco, construído para o período de 2009 a 2011,

também não envolve toda escolha estratégica e toda consequência a partir das ações dessas

escolhas, sendo esse modelo uma representação simplificada das ações e atividades

desempenhadas pelo banco em prol de um objetivo (Casadeus-Masanell & Ricart, 2009d).

O conjunto dessas escolhas estratégicas forma a interação estratégica e, quando

associadas a seus resultados, traduzem-se em seu modelo de negócio, que é observável e

possibilita a análise das atividades envolvidas nesse modelo, ao contrário de uma estratégia

que não é completamente observável, sendo mais difícil para representar em um diagrama

(Casadesus-Masanell & Ricart, 2009; Casadesus-Masanell & Zhu, 2009).

A escolha do banco em atuar com foco no varejo trouxe resultados positivos quanto à

ampliação na quantidade de canais de atendimento e das regiões de atuação, a prestação de

64

serviços com agilidade no atendimento e quanto ao pacote de serviços do banco. O aumento

na quantidade de canais de atendimento é representado pela abertura de novas agências,

postos de atendimento, instalação de novas máquinas de autoatendimento. Em 2009 o banco

possuía 4.896 canais de atendimento, dentre eles agências e PABs e 30.276 caixas

eletrônicos. Em 2010, a quantidade de agências e de PABs ampliou para 4.911, enquanto as

máquinas de autoatendimento reduziram para 29.301. Já em 2011, os canais de atendimento

se totalizaram em 4.984 e os caixas eletrônicos, em 28.769.

A opção em oferecer um serviço com agilidade no atendimento se traduz em o banco

buscar profissionais qualificados, seja por meio de sua própria capacitação ou pela

incorporação de profissionais já qualificados para atuar em determinado serviço. Além disso,

o banco investe em estruturas específicas e processos para facilitar o atendimento ao cliente,

além de buscar atender à Lei n. 13. 948/2005, que trata das exigências quanto ao tempo de

permanência na fila no banco. O tempo máximo de espera é de 15 minutos em dias normais

e de 25 minutos em vésperas e após feriados e de 30 minutos em dias de pagamento de

pensionistas e funcionários públicos. Tudo isso permite ao banco redução no número de

relações, economia no tempo de atendimento e agilidade nas respostas ao cliente. Essa

agilidade na transferência de informações comprova-se também pelo Programa de

Transparência 100%, que promoveu várias mudanças operacionais e foi consolidado em

2011.

A agilidade no atendimento relaciona-se também à quantidade de canais de

atendimento disponibilizados para atender o cliente e ao tipo de serviço oferecido ao mercado

de varejo, como serviços de conta corrente, cartões de crédito, financiamento, consórcios e

serviços de recebimentos. Em 2009 foi líder do mercado nacional de cartões de crédito com a

participação de 37,5% no faturamento do setor, correspondente a uma movimentação com

cerca de 85 bilhões gerados por 52 bilhões de cartões de crédito em circulação. Além desse

65

ponto, os serviços podem se diferenciar de acordo com as regiões de atuação no Brasil. As

ações para a captação de clientes também se diferenciam de acordo com as regiões de atuação

do banco.

O Itaú Unibanco obteve, no período estudado, o melhor índice de eficiência do mercado

financeiro, quando comparado a seus maiores concorrentes, Bradesco e Santander. Em 2009

seu índice de eficiência foi 47,2%, em 2010 foi de 49,1% e em 2011 foi de 47,7%. Esse

resultado também é fruto de outras escolhas, como a prestação de serviços com agilidade, a

capacitação profissional de seus colaboradores, a relação entre o banco e os acionistas, a

gestão de risco e a implantação do Projeto Eficiência.

A relação entre o banco e seus acionistas contribuiu para o resultado quanto ao índice

de eficiência, por meio de suas ações, como informar o desempenho das ações do banco aos

acionistas, promover eventos voltados à educação financeira e à formação de investidores

individuais, as quais atraíram para o Itaú Unibanco mais investidores e profissionais do setor,

divulgando informações sobre a companhia e ministrando palestras sobre educação

financeira, além de promover as reuniões públicas exigidas pela regulamentação. Além disso,

o relacionamento banco-acionista impactou a rentabilidade líquida obtida pelo banco nos

anos estudados.

A gestão de risco identifica a exposição do banco ao risco envolvido no negócio com

base nos serviços prestados pelo banco, em seu relacionamento com os fornecedores e nas

regiões de atuação do banco no Brasil. Os fornecedores do banco são avaliados quanto ao

grau de perda potencial e de risco de continuidade dos serviços. Os critérios considerados

nesta análise são risco na operação, facilidade de substituição do fornecedor, acesso a

informações sigilosas do banco, probabilidade de ações trabalhistas, relevância financeira da

categoria e risco de imagem.

66

A implantação do Projeto Eficiência, após a incorporação do Unibanco pelo Itaú, teve

como objetivo a gestão orçamentária e o acompanhamento matricial dos custos e das receitas,

estabelecendo metas para cada unidade de negócio. Esse acompanhamento detalhado dos

indicadores de resultado contribuiu para o índice de eficiência obtido pelo banco, isto é,

indicador que mede a relação existente entre as despesas e receitas operacionais.

Com base nessas escolhas e em seus resultados, o banco atuou no mercado em busca de

um retorno desejado. Esse retorno se resume na geração de riquezas aos acionistas, em que,

para isso, o banco parte do pressuposto de que o atendimento s necessidades dos

consumidores e demais stakeholders já aconteceram. Dessa forma, a geração de riquezas aos

acionistas foi mensurada pelo EVA, que indica se o banco obteve lucro ou prejuízo

econômico. Os resultados obtidos para o Itaú Unibanco são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3

Itaú Unibanco- Cálculo do Economic Value Added (EVA)

Período

Rendimento do

ativo livre de

risco

Beta¹ Remuneração média

do mercado CAPM²

CAPM – 2009 0,087 0,651 0,010 0,037

CAPM – 2010 0,107 0,643 -0,181 -0,078

CAPM – 2011 0,109 0,648 0,006 0,042

Período ROE³ CAPM EVA4

EVA – 2009 0,214 0,037 0,177

EVA – 2010 0,241 -0,078 0,319

EVA – 2011 0,223 0,042 0,181

Nota. 1Variação das ações do banco em relação às ações do mercado

2Capital Asset Pricing Model

3Retorno

sobre o Patrimônio Líquido 4Economic Value Added. Fonte: Dados da pesquisa -

Conforme explicado anteriormente, o EVA mede a criação de valor a partir do

desempenho operacional do próprio banco. Os resultados identificados mostram que o Itaú

Unibanco conseguiu gerar lucratividade econômica nos três anos estudados, uma vez que o

resultado do EVA foi positivo. Isso significa que o banco foi capaz de gerar um lucro

suficiente para cobrir seus custos e suas despesas, inclusive o custo de capital próprio.

67

Além de se verificar se o banco obteve ou não lucratividade econômica, identificou-se

se o valor criado foi suficiente para posicionar o banco em uma situação de vantagem

competitiva, quando comparado à média do mercado considerado, ou seja, os três maiores

bancos privados do Brasil e a média de seus concorrentes. Para isso, calculou-se o EVA

médio anual dos maiores bancos privados do Brasil e o EVA médio anual de seus

concorrentes e estes foram comparados ao resultado obtido pelo banco. Os resultados são

apresentados na Tabela 4.

Tabela 4

Itaú Unibanco– Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus

concorrentes

EVA médio

Período maiores bancos privados

do Brasil

concorrentes do Itaú

Unibanco

EVA

Unibanco

2009 0,195 0,204 0,177

2010 0,351 0,367 0,319

2011 0,168 0,162 0,181

Nota. Fonte: Dados da pesquisa

Apesar de o Itaú Unibanco ter gerado lucratividade econômica em 2009 e 2010, ele não

se posicionou em uma situação de vantagem competitiva, quando comparado ao EVA médio

dos maiores bancos do Brasil e aos EVA médios de seus concorrentes. Os resultados

auferidos pelo banco foram inferiores aos resultados comparados. Já em 2011, o Itaú

Unibanco obteve vantagem competitiva, uma vez que seu resultado quanto ao EVA foi

superior aos resultados comparados.

Essa desvantagem em 2009 e 2010 pode ter ocorrido pelo fato de o banco não

conseguir desenvolver suas atividades de forma a dificultar a cópia de sua ideia-chave por

seus concorrentes. Nesse período, o banco enfrentava problemas com seus colaboradores, que

buscavam melhorias conferidas a eles como direitos, o que pode ter influenciado essa

68

situação, uma vez que seus profissionais impactavam a qualidade dos serviços prestados.

Além disso, 2010 foi o ano de conclusão da integração das marcas Itaú e Unibanco, o que

promoveu uma série de mudanças nos sistemas e nas operações da rede, tornando-se o

período de adequação. O banco, no entanto, conseguiu desenvolver suas ações e atividades de

forma a obter o melhor índice de eficiência do mercado financeiro, quando comparado a seus

maiores concorrentes no período estudado.

Por fim, a vantagem competitiva alcançada pelo banco em 2011 é resultado da prática

de um conjunto de ações englobadas nas escolhas estratégicas que moldam seu modelo de

negócio juntamente a seus resultados.

3.7.3 Santander Brasil

O modelo de negócio do banco Santander foi estruturado da mesma forma que os

demais bancos, em que as escolhas são apresentadas em sublinhado, as consequências rígidas

em caixa e as consequências flexíveis são apresentadas sem nenhum destaque. As

consequências rígidas consistem nos resultados se modificarem gradualmente, quando

alguma instância é mudada na escolha. As escolhas flexíveis correspondem a um novo

resultado a cada instância modificada na escolha realizada pelo banco. Desse modo, o modelo

de negócio do Santander é apresentado na Figura 6.

69

Figura 6. Modelo de Negócio do Santander Brasil, no período de 2009 a 2011 Fonte: Dados da pesquisa.

Esse modelo representa o modelo de negócio do Santander no período de 2009 a 2011.

As escolhas estratégicas identificadas foram a partir da análise dos materiais coletados sobre

o banco nesse período, não sendo feito, em nenhum momento, uma análise individualizada,

quanto aos anos no que se trata da construção desse modelo. O objetivo desse modelo foi a

criação de valor aos diferentes agentes envolvidos no negócio (Casadesus-Masanell & Ricart,

2009a).

Inicialmente o banco teve como foco atuar em busca de crescimento pautada no varejo,

em que suas ações trouxeram como resultado a ampliação da base de clientes, de seu quadro

de colaboradores e de seus canais de atendimento. Em 2009 o banco Santander tinha 22.412

milhões clientes. Em 2010 possuía 24.757 milhões clientes, enquanto em 2011 tinha 24

milhões de clientes, sendo clientes ativos e não ativos, englobando pessoas físicas e jurídicas.

70

Destes clientes, 9,3 milhões de clientes eram correntistas ativos e 11,9% eram clientes que

possuíam cartão de cartão de crédito. Quanto aos canais de atendimento, em setembro de

2009, o banco tinha 2.090 agências, 1.508 PABs e 18.081 caixas eletrônicos. Em 2010, o

Santander Brasil possuía 2.201 agências, das quais 73% estão localizadas na região sudeste

do Brasil, 1.495 PABs e 18.312 máquinas de autoatendimento. Em setembro de 2011, o

banco Santander Brasil obteve 11,4% do mercado em termos de agências e 10,3% do

mercado em termos de créditos. Dessa forma, o banco atendeu a sua meta estabelecida quanto

à abertura de 100 a 120 novas agências por ano.

Seu quadro de colaboradores obteve uma variação positiva em todos os anos

analisados. Em 2009 o banco tinha 50.961 funcionários; em 2010, esse valor evolui para

54.406 colaboradores; e, no início de 2011, o banco possuía 54.603 colaboradores.

A diversificação geográfica adotada pelo banco refletiu na ampliação das regiões de

atuação do banco, dos canais de atendimento e nas ações de captação de cliente. A ampliação

das regiões de atuação do banco se desenvolve a partir da meta de abrir de 100 a 120 novas

agências, no Brasil, por ano.

A ampliação da base de clientes também é um resultado quando se consideram as ações

para a captação de clientes, que se traduzem na segmentação realizada pelo banco, nos canais

de atendimento oferecidos e nos serviços prestados pelo banco. Esse resultado é considerado

uma consequência rígida, ou seja, mesmo que as ações voltadas para a captação de clientes se

modifiquem em alguma instância, a ampliação da base de clientes acontecerá de forma

gradual, não sendo em curto período de tempo.

O relacionamento do banco com seus fornecedores permite ao banco refletir sobre suas

ações e práticas, uma vez que o banco realiza reuniões periodicamente com seus

fornecedores, para que estes possam opinar com sugestões e críticas quanto ao desempenho

das atividades que dão base a seu relacionamento. Isso também se associa às ações para

71

captação de cliente, pois reflete também nas ações direcionadas aos canais de atendimento e

aos serviços prestados pelo banco.

O Santander Brasil é capaz de financiar suas operações, independente de quaisquer

outras empresas do Grupo, ou seja, o banco não depende de sua matriz Santander Espanha

para a captação de recursos. Isso acontece principalmente devido aos depósitos dos clientes

que, combinados ao capital próprio, conseguem cobrir as necessidades de liquidez. Porém a

gestão dos ativos e passivos, o controle de riscos e demais atividades desempenhadas pelo

banco seguem as diretrizes e os procedimentos estabelecidos pela matriz Santander Espanha.

Essa decisão tomada pelo banco traz como consequência a redução dos custos

administrativos e o crescimento da receita para cada operação bancária.

O relacionamento do banco com seus acionistas trouxe como consequências o

crescimento da receita para cada operação bancária e o crescimento da rentabilidade líquida,

que, juntos, influenciaram a geração de lucratividade econômica, além do impacto do modelo

de capital econômico (Return on Risk-Adjusted Capital [Retorno sobre o capital de risco

ajustado] - RORAC) adotado pelo banco. Esse modelo gerencia a eficiência do retorno sobre

o capital e estima o valor adicionado para cada unidade de negócio, para posteriormente

avaliar as metas definidas para o desempenho das operações bancárias. Em 2009, o RORAC

foi de 22,91%. O banco tem 95% mais capital que o capital econômico exigido. No que

concerne ao capital regulamentar, o banco tem 108% mais capital.

A gestão de risco é desenvolvida a partir dos padrões Santander Espanha e traz como

resultados a identificação ou não da continuidade de um negócio, o risco envolvido em cada

operação bancária, influência à política de preços do banco e ao pacote de serviços oferecidos

a cada segmento, além da contribuição para o resultado obtido quanto ao índice de eficiência.

Além disso, na gestão de risco, o banco também obtém expertise do Grupo Santander, por

72

meio da transferência do conhecimento, das políticas e das ações da matriz, o que também

influencia o crescimento da receita de cada operação bancária.

A aquisição do conhecimento da matriz contribui para o desempenho das atividades e

se relaciona à busca por eficiência de custo. O desempenho dos serviços prestados pelo banco

também busca maior eficiência de custo efetivo, o que impacta o índice de eficiência obtido

pelo banco no período estudado. O índice de eficiência auferido pelo banco foi de 41,7% em

2009, 42,7% em 2010 e 43,0% em 2011, o que supera a média do mercado financeiro

somente nos dois últimos anos, quando as médias foram 39,8% e 37,0%. Em 2009 o

Santander Brasil apresentou um valor inferior à média do mercado financeiro, 56,4%.

Após analisar o modelo de negócio do banco, verificou-se o impacto de suas atividades

na geração de lucratividade econômica, que indica parte do valor capturado pelo banco. Essa

lucratividade econômica foi mensurada a partir do EVA, uma medida que aponta se o banco

foi ou não capaz de gerar lucro suficiente para cobrir seus custos e despesas, dentre eles o

custo de capital. A Tabela 5 mostra os resultados quanto ao EVA para cada ano.

Tabela 5

Santander Brasil- Cálculo do Economic Value Added (EVA)

Período

Rendimento do

ativo livre de

risco

Beta¹ Remuneração média

do mercado CAPM²

CAPM – 2009 0,087 1,303 0,010 0,013

CAPM – 2010 0,107 1,260 -0,181 -0,256

CAPM – 2011 0,109 1,097 0,006 0,004

Período ROE³ CAPM EVA4

EVA – 2009 0,193 0,013 0,206

EVA – 2010 0,169 -0,256 0,425

EVA – 2011 0,162 0,004 0,166

Nota. 1Variação das ações do banco em relação às ações do mercado

2Capital Asset Pricing Model Retorno

sobre o Patrimônio Líquido 4Economic Value Added. Fonte: Dados da pesquisa.

Com base nos resultados da Tabela 5, constatou-se a geração de lucratividade

econômica, ou seja, o banco conseguiu criar valor aos acionistas, gerando um lucro que fosse

73

superior aos custos e às despesas do banco no período estudado. Além da geração de valor

agregado aos acionistas, comparou-se o resultado do banco com o do mercado, que inclui os

maiores banco privados do Brasil e a média de seus concorrentes, conforme demonstrado na

Tabela 6.

Tabela 6

Santander Brasil – Comparação do EVA do banco com o do mercado e de seus

concorrentes

EVA médio

Período maiores bancos

privados do Brasil

concorrentes do

Santander

EVA

Santander

2009 0,195 0,190 0,206

2010 0,351 0,314 0,425

2011 0,168 0,169 0,166

Nota. Fonte: Dados da pesquisa

A partir da Tabela 6, identificou-se que o banco apresentou vantagem competitiva em

2009 e 2010, porém em 2011 resultou em desvantagem competitiva, pois o resultado obtido

para o EVA do Santander foi inferior às médias do mercado considerado e a de seus

concorrentes. Portanto, o banco pôde permanecer no mercado gerando lucro econômico, uma

vez que cumpre os requisitos necessários dentro do modelo de negócio, e não ter vantagem

competitiva, quando seus resultados, mesmo que positivos, não superam a média do mercado

ao qual concorre.

3.8 Conclusão

O modelo de negócio de cada banco tem como foco a criação de valor aos sócios,

acionistas, consumidores e demais stakeholders. Com isso, os diferentes modelos de negócio

envolveram as escolhas e suas consequências, representando a forma de atuação do banco no

74

mercado para a criação de valor. O conjunto dessas escolhas deu forma à interação

estratégica adotada por cada banco. Além disso, o processo para a criação de valor permitiu

que simultaneamente houvesse a captura de parte do valor criado. Essa captura foi mensurada

a partir da lucratividade econômica, que indicou se o modelo de negócio foi ou não capaz de

gerar o resultado esperado pelos acionistas, atendendo, assim, a uma estratégia

preestabelecida.

Para se associarem as variáveis em estudo, elaborou-se um modelo teórico, em que a

interação estratégica e os modelos de negócio possuem uma relação bidimensional, ou seja,

dentre as escolhas que formam a interação estratégica está a escolha por qual modelo de

negócio operar para a criação de valor, enquanto a aplicação dos modelos de negócio, além

de ter como foco a criação de valor, é o reflexo de uma estratégia preestabelecida. Logo, o

modelo de negócio molda a interação estratégica adotada pela empresa.

O modelo de negócio tem como foco a criação de valor, mas simultaneamente permite

a captura de parte do valor criado, que foi mensurada pela lucratividade econômica. Esse

resultado afeta o modelo de negócio, pois indica se ele foi ou não capaz de gerar o resultado

esperado pela empresa, mostrando, assim, a necessidade ou não de uma readequação para

atender a uma estratégia preestabelecida.

Assim, a interação estratégica moldada pelo modelo de negócio permite à organização

alcançar lucratividade econômica e sustentá-la, quando implementada com eficiência. Para

que a empresa gere lucratividade econômica é necessário que ela ofereça benefícios maiores

que o custo de produção e em nível que seus concorrentes não possam reproduzir. Porém,

para que esse resultado seja sustentável, é necessário que associe seu modelo de negócio a

outras variáveis, como a estratégia que influencia tanto a criação quanto a captura de valor,

pois, dessa forma, a empresa torna-se capaz de enfrentar as contingências do ambiente, sejam

elas oportunidades, dificuldades ou ameaças, evitando, assim, seu declínio com o passar do

75

tempo (Besanko et. al., 2006; Casadesus-Masanell, Ricart, 2009d; Teece, 2010, Denardim,

2011).

Com base nisso, o modelo de negócio de cada banco foi apresentado para o período de

2009 a 2011 e os resultados financeiros e econômicos foram analisados ano a ano. Isso

porque as escolhas ou as decisões tomadas pelo banco para a criação de valor aos

stakeholders variaram muito pouco, quando se avalia ano a ano, o que se comprova quando

se estudam os relatórios e demais publicações realizadas pelo banco. Quando uma decisão

englobada foi muito específica a um determinado ano e trouxe consequências significativas

para o banco, apresentou-se na análise o ano em que essa decisão foi tomada pelo banco.

Quanto aos resultados financeiros e econômicos, eles foram obtidos e calculados a partir das

informações disponibilizadas nas demonstrações financeiras publicadas pela Comissão de

Valores Mobiliários (2012).

O modelo de negócio adotado por cada banco foi influenciado pelo aumento da

demanda no mercado bancário, que fez com que os bancos se preocupassem mais com a

geração de valor econômico tanto para os acionistas quantos para seus consumidores e

realizassem investimentos com o propósito de se estruturarem internamente com maior

solidez para competir no mercado. Esses investimentos envolvem a ampliação dos canais de

atendimento ao cliente, como agências, PABs, caixas eletrônicos, dentre outros. Outras ações

também foram desenvolvidas, como a gestão de risco, que permitiram o banco se relacionar

com seus stakeholders e gerir seu negócio.

A análise dos bancos Bradesco, Itaú Unibanco e Santander desenvolveu-se na unidade

de negócio varejo, que se apresenta com representatividade em relação às atividades

desempenhadas pelos bancos, permitindo definir, como pressuposto, a existência de uma

relação linear entre o desempenho do varejo e o desempenho do banco. Cada banco segmenta

o varejo de uma forma diferenciada, em que há bancos que consideram pessoas físicas e

76

jurídicas no varejo com delimitação de faturamento, como é o caso do Bradesco e do

Santander. O Itaú Unibanco somente considera no varejo pessoas físicas com a renda igual ou

inferior a R$ 4 mil reais.

Além da análise do modelo de negócio de cada banco, analisou-se a captura de parte do

valor criado, em que foi medida a lucratividade econômica através do indicador econômico

EVA, que permite inferir se os bancos produziram lucro suficiente para cobrir seus custos e

despesas, dentre eles, seu custo de capital, gerando, assim, valor aos acionistas (Matias, 2007;

Assaf Neto & Lima, 2011).

Nesse sentido, todos os bancos estudados geraram valor aos acionistas no período

estudado, uma vez que os EVA obtidos pelos bancos nos anos em estudo foram positivos.

Isso permite concluir também que, se o banco foi capaz de gerar riquezas aos acionistas,

previamente tinha se criado valor a seus consumidores.

Por fim, avaliou-se se a lucratividade econômica foi acima da média do mercado e a de

seus concorrentes, para, assim, apresentar-se com vantagem competitiva. Apesar de o

Bradesco ter gerado lucratividade econômica em todos os anos, ele se apresentou com

vantagem competitiva somente em 2009, quando o EVA do banco foi superior à média do

mercado e a de seus concorrentes. O Itaú Unibanco obteve vantagem competitiva somente em

2011, quando o resultado econômico obtido pelo banco foi superior à média do mercado e à

de seus concorrentes. Já o Santander se apresentou com vantagem competitiva somente em

2009 e 2010.

77

4 Conclusão Geral

Tendo em vista o objetivo geral desta pesquisa, ou seja, analisar como a interação

estratégica e os modelos de negócio impactam a lucratividade econômica e, por conseguinte,

a vantagem competitiva obtida pelos maiores bancos privados do Brasil, os artigos focaram a

criação de valor por meio dos modelos de negócio e a relação desta variável com a interação

estratégica e a lucratividade econômica, além de desenvolver a parte empírica com a análise

dos bancos Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil.

Dentre as diferentes formas de se mensurar o valor criado por uma empresa, optou-se

por mensurar o valor econômico, em que a captura de parte do valor criado foi medida pela

lucratividade econômica, que, quando acima da média do mercado, significou que a empresa

obteve vantagem competitiva. Dessa forma, cada negócio requer um modelo de negócio, o

que afeta diretamente a lucratividade econômica obtida pela empresa, pois envolve uma

estrutura específica de produção, gestão e criação de valor aos stakeholders. A forma como

são desempenhadas essas atividades impacta o resultado obtido pela empresa, seja positiva ou

negativamente. A lucratividade econômica positiva significa que a empresa foi capaz de gerar

riquezas aos acionistas, o que pressupõe o atendimento as necessidades dos consumidores. A

negativa se remete ao fato de a empresa não conseguir criar valor aos consumidores e

consequentemente aos acionistas e demais stakeholders. (Besanko et. al., 2006; Smith et al.,

2010; Teece, 2010; Zott & Amit, 2008).

O modelo de negócio por si só é capaz de gerar lucratividade econômica, mas, para esse

resultado ser sustentável, é necessário que a empresa, além de oferecer benefícios líquidos

aos consumidores maiores que o custo incorrido na produção, desempenhe suas atividades

em nível de difícil reprodução e associe seu modelo a outras variáveis, como a estratégia.

78

Assim, a empresa torna-se apta a enfrentar as contingências do ambiente, evitando seu

declínio com o passar do tempo (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Teece, 2010).

A partir disso, associaram-se os modelos de negócio à interação estratégica, uma vez

que as escolhas estratégicas envolvem também a escolha por qual modelo de negócio adotar,

e os modelos de negócio, além de terem como foco a criação de valor e permitirem

simultaneamente a captura de parte do valor criação, buscam também atender a uma

estratégia preestabelecida. O modelo de negócio é um reflexo da estratégia, ou seja, a

estratégia preestabelecida pode ser representada pelo modelo adotado por cada empresa.

Dessa forma, considerou-se uma relação bidimensional entre a interação estratégica e os

modelos de negócio, conforme o modelo teórico proposto na pesquisa (Casadesus-Masanell

& Ricart, 2009d).

Nesse sentido, a interação estratégica moldada pelo modelo de negócio permite à

empresa alcançar lucratividade econômica, uma vez que, além de conectar os produtos e/ou

serviços às necessidades dos consumidores e demais stakeholders, inclui as decisões e a

forma como as atividades serão desempenhadas para a criação de valor e, posteriormente, sua

captura sob forma de lucratividade econômica.

As variáveis do modelo teórico foram analisadas em cada modelo de negócio

construído para cada banco. Primeiramente o modelo elaborado envolveu o conjunto de

escolhas estratégicas identificadas para cada banco, buscando representá-las e associá-las a

suas consequências. Posteriormente avaliou-se o valor econômico, criado a partir de sua

captura sob a forma de lucratividade econômica. A lucratividade econômica foi medida por

meio do EVA, que tem como princípio a empresa ser capaz de produzir um lucro para cobrir

suas despesas e custos, dentre eles, o custo de capital próprio. Além disso, compararam-se os

resultados obtidos por cada banco com os do mercado e os de seus concorrentes, para

79

identificar-se se o banco apresentou ou não vantagem competitiva (Besanko et al., 2006;

Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d; Assaf-Neto, 2011).

Desse modo, todos os bancos, isto é, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, foram

capazes de criar valor aos acionistas, o que implica previamente a criação de valor aos

consumidores. Os resultados obtidos para todos os bancos quanto ao EVA foram positivos

em todos os anos analisados, indicando que conseguiram produzir um lucro que cobre, além

de suas despesas, seus custos, dentre eles, o custo de capital próprio.

Quanto à vantagem competitiva, nenhum banco se apresentou com vantagem

competitiva nos três anos consecutivos. O Bradesco apresentou-se com vantagem competitiva

somente em 2009, enquanto o Itaú Unibanco obteve vantagem competitiva somente em 2011,

e o Santander apresentou-se com vantagem competitiva somente em 2009 e 2010.

Ao analisar os maiores bancos privados do Brasil e os seus pares de concorrentes, ou

seja, ao analisar o Bradesco, os seus principais concorrentes foram o Itaú Unibanco e o

Santander Brasil, e assim sucessivamente ao considerar o universo dos bancos estudados, se

permitiram entender como resultados positivos quando se trata da lucratividade econômica,

sob a ótica dos acionistas. Isto porque, os resultados obtidos permitiram aos acionistas

obterem um retorno superior aos custos incorridos em todas as operações bancárias, a

manutenção dos bancos no mercado e o atendimento ao pressuposto quanto ao atendimento

às necessidades dos consumidores.

Quando se trata da vantagem competitiva, no período analisado de 2009 a 2011, há

diversos fatores como escolhas estratégicas muitas vezes semelhantes entre os bancos, se

diferenciando somente na forma como as ações são desempenhadas e nos resultados obtidos,

além de problemas com os seus colaboradores, como o caso do Itaú Unibanco. Seus

colaboradores buscavam melhorias conferidas a eles como direitos, o que pode ter

influenciado na qualidade dos serviços prestados, com base no atendimento oferecido pelos

80

seus profissionais. Além disto, a conclusão da integração entre as marcas Itaú e Unibanco,

Real e Santander no ano de 2010, que promoveram mudanças nos sistemas e operações da

rede, se tornando também um período de adequação.

A análise dos maiores bancos privados do Brasil possibilitou entender a importância de

se estruturar internamente, de forma eficiente e eficaz, para a criação de valor econômico. A

forma como as atividades são desempenhadas impactam diretamente o resultado obtido pela

empresa. Por isso, há a necessidade de se tomarem decisões quanto aos relacionamentos

estabelecidos entre os agentes e as atividades envolvidas no negócio e desenvolver ações

efetivas para a execução dessas decisões.

Contudo, o desenvolvimento desta pesquisa também envolveu limitações quanto ao

delineamento das informações substanciais para a análise dos bancos, uma vez que é um setor

com uma significativa quantidade de material publicado em meios secundários, sendo

necessária uma análise rigorosa do material coletado. Outra dificuldade foi quanto a coleta

das informações financeiras não apresentadas nas demonstrações ou relatórios financeiros,

em que muitas das vezes os resultados foram encontrados para o segmento sendo necessário a

aplicação de um método para o cálculo do EVA, consequente da dedução de seu conceito.

Por fim, a autora desta pesquisa coloca disponível o acesso aos dados deste trabalho,

para futuros desdobramentos e continuidade do presente trabalho para os interessados. Uma

das possibilidades de estudos futuros está em avaliar até quanto uma empresa ou os bancos

conseguem capturar parte do valor criado, dado que a literatura pressupõe que a empresa

somente consegue capturar parte do valor criado, não sendo total em nenhum momento. Isto

poderia se desenvolver através de um modelo de defasagem estrutural, que ajudaria a

mensurar uma parte que a literatura não trabalha.

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90

Apêndice

Conclusões teóricas e suas premissas, que sustentaram a elaboração do artigo teórico.

CONCLUSÕES

TEÓRICAS

PREMISSAS QUE SUSTENTAM AS

CONCLUSÕES TEÓRICAS

A capacidade de criação de

valor econômico é ditada

pela forma como as

empresas moldam seu

modelo de negócio

(Besanko et al. 2006, p.

359).

As atividades e ações envolvidas no modelo de negócio capacitam a empresa a criar

valor econômico, dentro do mercado em que concorre, e a capturar parte desse valor

em forma lucratividade econômica. Quando essa lucratividade é maior que a dos

concorrentes a empresa tem vantagem competitiva.

O modelo de negócio pode ser moldado de duas formas diferentes. Primeiro, moldam

seu modelo de negócio a partir de uma cadeia de valor totalmente diferente de seus

concorrentes. Ou essencialmente moldam o mesmo modelo de negócio que seus

rivais, porém desenvolvem as atividades de forma mais eficiente e eficaz (ou seja,

efetiva = effectiveness). Para isso, as empresas devem possuir recursos (o que as

empresas possuem) e competências (o que as empresas fazem) que seus concorrentes

não possuem.

Compreender como uma empresa cria valor econômico é o primeiro passo para

diagnosticar o potencial de uma empresa para atingir lucratividade econômica e obter

vantagem competitiva em seu mercado.

Oferecer benefícios

líquidos aos consumidores

maiores que o custo de

produção não é garantia de

geração e manutenção de

lucratividade econômica

(Besanko et al. 2006, p.

371-372).

A lucratividade econômica de uma empresa depende da forma como se desempenha

a gestão de sua unidade de negócio. As atividades devem ser desenvolvidas com

eficiência e eficácia para alcançar uma estratégia maior e trazer como resultado a

lucratividade econômica.

A criação de maior valor econômico permite a geração de maiores lucros e a oferecer

maiores benefícios líquidos aos consumidores do que seus concorrentes. Porém esse

resultado pode não se sustentar por um período maior quando comparado somente ao

custo de produção da empresa, ou seja, para obter uma lucratividade econômica

acima da média do mercado e sustentar os benefícios líquidos oferecidos aos

consumidores, esses benefícios, além de serem maiores que os custos de produção,

devem se apresentar em nível que seus concorrentes não possam reproduzir.

As empresas que concorrem no mesmo mercado essencialmente criam o mesmo

valor econômico, o que pode trazer uma paridade entre essas empresas, dificultando,

assim, a geração de uma lucratividade econômica adicional.

Cada negócio requer um

tipo de modelo de negócio

diferenciado, o que

influencia diretamente a

lucratividade econômica de

uma empresa. Isto porque a

construção do modelo de

negócio determina a

geração de valor econômico

aos consumidores e demais

stakeholders, e

posteriormente afeta o nível

valor capturado (Zott,

Amit, & Massa, 2008).

Dificilmente se encontram estudos que buscam relacionar os modelos de negócio ao

resultado da empresa em termos econômicos. Grande parte dos estudos centram-se

em relacionar os modelos de negócio com tecnologia e inovação, teoria econômica,

negócio estratégico, arquitetura e proposição de valor e desempenho da empresa.

O modelo de negócio se tornou uma fonte para a lucratividade econômica e uma pré-

condição para o sucesso no mercado, por possuir processos e estruturas que

capacitam a empresa a construir uma configuração específica interna de produção,

gestão, criação e entrega de valor a seus stakeholders e que podem ser vistos como

importantes diferenciadores no resultado econômico obtido pela empresa (Teece,

2010; Smith, Binns, & Tushman, 2010 – LRP). A criação de valor para os sócios

somente acontece se a empresa consegue obter a lucratividade econômica desejada,

enquanto para o consumidor tem de haver o atendimento a sua necessidade.

As atividades interdependentes e distintas desempenhadas por meio de um modelo de

negócio agregam valor ao longo de seu desenvolvimento e influenciam o retorno da

empresa, seja ele o desempenho da empresa, o posicionamento ou a lucratividade

econômica obtida pela empresa (Besanko et. al. 2006). Esse resultado é identificado

por meo da captura do valor criado, isto é, envolve um conjunto de ações planejadas

para capturar parte do valor criado.

O modelo de negócio foca a

criação e não a captura de

valor econômico, porém

isto não é feito de forma

mutuamente excludente,

O modelo de negócio busca explicar como o valor é criado, ou seja, como gerar

riquezas aos sócios e atender às necessidades dos consumidores e demais

stakeholders simultaneamente, uma vez que envolve as atividades relacionadas à

cadeia de valor da empresa (Zott et al., 2008). A captura de valor não é elemento

central no modelo de negócio, isto é, a forma de se obter um retorno desejado sob

91

pois existem outras

variáveis associadas ao

modelo de negócio que

enfatizam a captura de parte

do valor criado pela

organização (Zott, Amit, &

massa, 2010; Demil, &

Lecocq, Ventura, 2010)

forma de posicionamento, desempenho ou lucratividade econômica. No entanto

criação e captura de valor estão relacionadas no sentido de que o resultado ou valor

capturado, anteriormente, foi criado pelas atividades associadas à cadeia de valor de

um modelo de negócio de uma empresa (Zott, Amit, & Massa, 2011).

A interação estratégica

moldada pelo modelo de

negócio permite à

organização alcançar uma

lucratividade econômica

acima da média do mercado

e sustentar suas atividades

por um período maior,

quando implementada com

eficiência.

Interação estratégica – refere-se a como as atividades e as modificações

desenvolvidas em um modelo de negócio afetam o desenvolvimento do modelo de

negócio concorrente. O efeito pode ser direto ou indireto por meio dos resultados dos

modelos de negócio e envolvem escolhas politicas, de recurso e de governança

(Casadesus-Masanell R. & Ricart, J. E. [2009, agosto] Competing through Business

Model: Interdependence, tactical, and Strategic Interation (C). Harvard Business

School). O modelo de negócio compõe a interação estratégica, uma vez que envolve

elementos (escolhas e consequências) que explicam como os agentes e empresas

interagem entre si. Assim, o modelo de negócio é uma representação simplificada de

uma realidade infinitamente complexa. Uma ação desenvolvida pela empresa é a sua

escolha estratégica para a geração e maior valor e lucratividade econômica

(Denardin, 2011).

Os modelos de negócio analisados isoladamente permitem às empresas alcançarem

uma lucratividade econômica acima da média do mercado (Teece, 2010), porém,

quando não combinados a outras ações ou variáveis, como estratégias, ficam mais

vulneráveis às contingências do ambiente e, consequentemente, a seu declínio com o

passar do tempo.

Para a lucratividade econômica seja sustentada no longo prazo é necessário que a

empresa desempenhe suas atividades relacionadas ao processo produtivo e de gestão

com um menor custo, além de desenvolvê-las em um nível que seus concorrentes não

consigam reproduzir (Besanko et al., 2006). Essas atividades estão envolvidas no

modelo de negócio da empresa e compõem uma estratégia daquela unidade de

negócio.

Os modelos de negócio

analisados isoladamente

podem ser vistos como

fonte de lucratividade

econômica, mas são

insuficientes para assegurar

esse resultado por um

extenso período (Teece,

2010).

Os modelos de negócio por si só são capazes de criar valor aos stakeholders e trazer

um resultado econômico positivo, porém, para que a empresa consiga sustentar esse

resultado por um período maior, é necessário que combine aos modelos de negócio

outras variáveis ou ações como estratégia que influenciam não somente a criação de

valor, mas também sua captura.

Isto se refere ao fato de que os elementos dos modelos de negócios frequentemente

são fáceis de imitar, e é difícil implementar barreiras que dificultem a réplica da ideia

base de um negócio (Teece, 2010). Por mais que o modelo de negócio envolva um

sistema e um processo complexo, que seja em nível opaco para seus concorrentes, ou

seja, de difícil compreensão quanto aos detalhes necessários para a sua

implementação, o modelo de negócio, além de ter suas atividades coespecializadas

umas às outras, deve ser capaz de se adaptar diante das contingências, incorporando

as novas mudanças, de acordo com as oportunidades, dificuldades e ameaças do

mercado e, assim, se ajustar para o futuro, para que seja possível sustentar a

lucratividade econômica por um extenso período (Casadesus-Masanell & Ricart,

2010; Teece, 2010).

No entanto toda

organização tem um

modelo de negócio, mas

nem toda organização tem

uma estratégia explícita.

Uma organização não tem

uma estratégia quando não

tem um plano de ação para

as diferentes contingências

que podem aparecer.

Definir e implementar uma estratégia é mais difícil do que desenhar um modelo de

negócio (Casadesus-Masanell & Ricart, 2009d). Tanto as estratégias quanto os

modelos de negócio requerem um conhecimento profundo dos gestores das empresas

para que possam ser definidos, porém, enquanto os modelos de negócio se referem às

atividades relacionadas à cadeia de valor da empresa, as estratégias se referem às

ações e aos planos de ações planejados pela empresa, para a execução das atividades

relacionadas a sua cadeia de valor e para a captura de parte do valor agregado ao

longo do desenvolvimento dessas atividades.

O modelo de negócio foca a criação de valor enquanto as estratégias são cruciais

92

(Casadesus-Masanell &

Ricart, 2009d).

tanto para a criação quanto para a captura de valor, o que torna o processo mais

complexo (Zott et al., 2010; Demil et al., 2010). As estratégias envolvem a escolha

pelo modelo de negócio ao qual a empresa vai competir.

Toda empresa desenvolve atividades de sua cadeia de valor para a geração de valor

econômico, mas nem sempre tem claramente explícito que, com essas ações, está

buscando alcançar uma estratégia maior. Para que a estratégia seja efetiva é

necessário que a empresa possua planos de ação alternativos para enfrentar as

contingências que aparecerem.

Toda a empresa desenvolve atividades relacionadas à cadeia de valor para a criação

de valor econômico, ou seja, tem um modelo de negócio que está associado a uma

estratégia maior, independente da empresa em que esteja estudando. Porém essa

estratégia pode estar implícita ou explícita aos olhos dos gestores. Quando a empresa

tem uma estratégia explícita, ela possui planos de ação alternativos para enfrentar as

contingências do ambiente. Quando as estratégias são implícitas, os gestores não

conseguem visualizar e desenvolver planos alternativos, o que permite dizer que a

empresa não tem uma estratégia.

Para o a autora desta pesquisa, toda empresa tem um modelo de negócio e uma

estratégia, mesmo que a estratégia não esteja claramente definida e explícita aos

olhos dos gestores.

Essa é uma conclusão que contradiz o que é afirmado por Casadesus-Masanell e

Ricart (2009).

A interação estratégica

determina a extensão do

modelo de negócio de uma

empresa (Casadesus-

masanell & Ricart, 2009

art. ©).

A interação entre os agentes ou empresas determinam até onde vai a complexidade e

extensão do BM implementado, uma vez que a configuração adotada para o modelo

de negócio da empresa irá impactar direta ou indiretamente os resultados obtidos pelo

concorrente, seja lucratividade econômica desempenho, dentre outros (Casadesus-

Masanell & Ricart, 2009 art. ©).

As estratégias envolvem a escolha pelo modelo de negócio com o qual a empresa vai

cooperar ou competir (Zott et al., 2010; Demil et al., 2010). As estratégias consistem

nas decisões ou escolhas a serem implementadas.

Os BMs são um reflexo da estratégia realizada, isto é, a complexidade e as

quantidades de escolhas envolvidas no modelo de negócio partem da estratégia a ser

implementada pela empresa, mesmo que não esteja explícita aos olhos dos gestores.

Uma estratégia é um plano de ação, em que os objetos de escolhas são os modelos de

negócio (Casadeus-Masanell, R. & Ricart, J. E. (2009, agosto) Competing through

bm – competitive strategy vs bm (B). Harvard business School.).

A representação do modelo

de negócio não inclui toda

escolha e toda

consequência. Casadesus-

Masanell, R. & Ricart, J. E.

(2009, agosto) Compating

through Business Model:

Business Model essencials

(A).

Por mais que se possa representar um modelo de negócio de forma mais simples ou

complexa em um diagrama, o BM não inclui toda escolha e consequência, uma vez

que envolve inúmeras interações que podem ser facilmente visualizadas quando

informações são disponibilizadas ao público, e também por envolver interações de

difícil observação com informações restritas ao corporativo da empresa e não

disponibilizadas ao público.

A representação dos modelos de negócio de forma simplificada pode se desenvolver

por meio de duas formas: agregação e decomposição. Na agregação analisa as

escolhas e consequências a certa distância e consegue relacioná-las, transformando-

as em grandes construtos e não havendo a necessidade de descrever todos os detalhes

e todas as escolhas e consequências. A distância em que se analisa um modelo de

negócio depende da questão em que se deseja buscar responder. Muito próximo

torna-se difícil enxergar os como o BM funciona. Muito distante os detalhes são

perdidos. Um alto nível de agregação significa olhar o BM em uma ótima distância,

um baixo nível de agregação significa estar próximo dos detalhes. Alto nível de

agregação é necessário quando se analisa integração entre modelos de negócio

de diferentes jogadores. A decomposição consiste em analisar o BM isolado; por

exemplo, quando estuda uma unidade de negócio praticado pela empresa como o

varejo no setor bancário.

Uma diferença crucial entre

modelos de negócio e

estratégia consiste em que o

O modelo de negócio é possível representá-lo seja de forma mais simplificada ou

mais complexa em um diagrama, enquanto a estratégia se torna mais difícil, por às

vezes não estar claramente explicita, dificultando sua observação. Até onde se vai

93

modelo de negócio é

observável, enquanto a

estratégia não é

completamente observável (Casadesus-Masanell, R;

Zhu, F. (2009, June)

Strategies to fight ad-

sponsored rivals. [Working

paper, pp. 1-58] IESE

Business School- University

of Nevarra.

buscar identificar escolhas e consequências de um BM, depende da questão de

pesquisa, mas são informações mais explícitas quando comparadas a uma estratégia.

Definir e implementar uma estratégia é mais difícil do que desenhar um modelo de

negócio (Casadesus-Masanell; Ricart, 2009d). Tanto as estratégias quanto os modelos

de negócio requerem um conhecimento profundo dos gestores das empresas para que

possam ser definidos, porém enquanto os modelos de negócio se referem às

atividades relacionadas à cadeia de valor da empresa, as estratégias se referem às

ações e aos planos de ações planejados pela empresa, para a execução das atividades

relacionadas a sua cadeia de valor e para a captura de parte do valor agregado ao

longo do desenvolvimento dessas atividades.

A interação estratégica

moldada pelo modelo de

negócio pode ser

considerada como

necessária e suficiente para

a geração e manutenção da

lucratividade econômica.

O modelo de negócio é um reflexo da estratégia. Uma empresa quando implementa

um modelo de negócio busca o alcance de uma estratégia maior, mesmo que esta

estratégia não esteja claramente explícita. O resultado esperado desse processo é

neste estudo a lucratividade econômica.

O modelo de negócio como componente da estratégia é visto como necessário e

suficiente para conectar o desenvolvimento dos produtos e/ou serviços às

necessidades dos consumidores e, assim, promover a geração de valor aos diversos

stakeholders. O modelo de negócio como necessário se refere ao fato de que toda e

qualquer organização o possui, enquanto como suficiente consiste em afirmar que ele

por si só é capaz de conectar os produtos e serviços desenvolvidos as necessidades

particulares dos consumidores, gestores, acionistas e demais stakeholders.

As escolhas dos modelos de

negócio são consideradas

como escolhas estratégicas

e, para competir no nível do

modelo de negócio é

considerado como interação

estratégica.

Casadesus-Masanell & Ricart. (2010). Competing through Business Model (D).

Havard Business School.