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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO ARACAJU 2017

PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM … · Apesar de não possuir um núcleo central definido, a representação social sobre a saúde apontou para atitudes preventivas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA

PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM

CAMINHONEIROS DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO

QUALIQUANTITATIVO

ARACAJU

2017

ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA

PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM

CAMINHONEIROS DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO

QUALIQUANTITATIVO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde da Universidade

Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção

do grau de Mestre em Ciências da Saúde.

ORIENTADORA: Profª Drª Kiriaque Barra Ferreira

Barbosa

COORIENTADORA: Profª Drª Andhressa Araújo

Fagundes

ARACAJU

2017

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

B333p

Batista, Adriana Maria Figuerêdo. Percepção sobre os determinantes de saúde em caminhoneiros

do estado de Sergipe: um estudo de caso. / Adriana Maria Figuerêdo Batista ; orientadora Kiriaque Barra Ferreira Barbosa. – Aracaju, 2017.

116 f..

Dissertação (mestrado em Ciência da Saúde)– Universidade Federal de Sergipe, 2017.

1. Indicadores de saúde. 2. Riscos ocupacionais. 3. Transportes. I. Barbosa, Kiriaque Barra Ferreira, orient. II. Título.

CDU 616-057(813.7)

ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA

PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS

DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde da Universidade

Federal de Sergipe como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde.

Aprovada em: ___/___/_____

______________________________________________________________

Orientadora: Profª. Drª. Kiriaque Barra Ferreira Barbosa

______________________________________________________________

1º Examinador: Profª. Drª. Divaldo Lira Pereira Júnior

______________________________________________________________

2º Examinadora: Profª. Drª.Deborah Mônica Machado Pimentel

Aos meus pais, por mim dedicados e orgulhosos,

que incessantemente acreditam no poder da

educação.

AGRADECIMENTOS

Todo mundo tem um sonho. E eu quando era criança sonhava em ser escritora e também

professora. Com a finalização desse trabalho acabo realizando, pelo menos parcialmente, os

dois desejos, apesar de ter sonhado um pouco diferente... queria ser escritora de livros e

professora de ensino infantil. Diante tantas páginas escritas, mesmo com a colaboração de tanta

gente (outros pesquisadores, orientadoras, alunas de iniciação científica), essa “obra” me

pertence. Então esse é o meu primeiro “livro”, ora! Além disso, ser mestre sedimenta ainda

mais meu desejo de continuar como professora, aprofundando meus conhecimentos para que

possa colaborar com a formação de outros nutricionistas. Então, é preciso agradecer!

Agradeço a Deus, supremo e onipotente, que me deu a vida e me dá todas as oportunidades que

devo merecer. O Senhor sempre esteve em minha vida como Pai, Filho e Espirito Santo, Amém!

“E a chamei, Auxiliadora mãe, minha coragem na caminhada! ”, nesse Ano Mariano Católico,

sinto sua presença me inspirando e fortalecendo.

Agradeço aos meus pais pelo brilho de satisfação todas as vezes que conquisto algo importante

na minha vida. Pai e mãe, desde sempre, minha alegria é fazê-los felizes! Meus irmãos lindos

apenas por serem irmãos, me tratando com carinho e respeito, estarão sempre em minha mente.

Ao meu esposo, Marcílio, pelo amor, apoio e suporte nos momentos ausentes (e de estresse).

Minha filha Mariana, amada e desejada, luz de minha vida, motivo principal de meus atrasos,

largo tudo para ficar com você! Amo profundamente todos vocês!

Às queridas orientadoras, amigas, doutoras em paciência e em responder e-mails, Prof.ª Dr.ª

Kiriaque e Prof.ª Dr.ª Andhressa. Vocês são maravilhosas! Kiki, sempre quando

conversávamos, você me dava uma força tão grande que nem imagina, tomava fôlego e reduzia

a culpa da minha lenta caminhada. Andhressa, suas ideias fizeram o trabalho incrível de me

permitir ir além, através do que mais me conquistou: a pesquisa qualitativa. Serei sempre sua,

pesquisa quali...

Aos amigos de caminhada acadêmica Valter, Jamille e todos da turma de Mestrado em Ciências

da Saúde 2015.1, incríveis em responder mensagens com dúvidas, apoio e compartilhando

ansiedade e medos.

Meus amigos do NASF, em especial à Viviane, Tiana, Ériko, Alana e Larissa. Lista de contatos,

ligações, leva e traz de documentos e, principalmente, companheirismo e incentivo (vai lá, você

consegue!). Vocês são maravilhosos na arte da amizade e em fazer Saúde Coletiva!

Às alunas de PIBIC Ketlin, Leidiane e Marília, sem vocês seria muito mais difícil conquistar

os participantes pela insistência, resignação e sorriso amarelo no rosto. Foram tantas ligações e

conversas para convencê-los, hein?! Tenho certeza de que colheram bons frutos de experiência

profissional nessa jornada.

A todos do curso de Nutrição da Faculdade Estácio de Sergipe, meus queridos colegas e minha

coordenadora mais que bem-humorada Carla Bamberg, pela torcida. Somos uma equipe dez!

À Secretaria de Saúde do município de Itabaiana pelo suporte e por ter abraçado a ideia em prol

da saúde dos caminhoneiros, minha pesquisa passou por duas gestões com todo apoio sem

distinção. Ao povo brasileiro que por meio das agências de apoio à pesquisa CNPQ e CAPES

tornou viável financeiramente este trabalho.

Aos professores que aceitaram participar da banca examinadora, contribuindo sobremaneira na

ampliação do olhar sobre as nuances desse trabalho.

Finalmente, aos amigos caminhoneiros pela disposição e paciência. Gratidão!

Percepção sobre os determinantes de saúde em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo

qualiquantitativo. BATISTA, A. M. F. Universidade Federal de Sergipe, Programa de Pós-

graduação em Ciências da Saúde, 2017.

RESUMO

Diante da rotina laboral extenuante do motorista de caminhão, agregado aos hábitos de vida

adversos à saúde, este estudo visa conhecer os determinantes de saúde entre caminhoneiros do

estado de Sergipe, bem como a sua percepção acerca do tema. Trata-se de um estudo

transversal, com abordagem qualiquantitativa. Foram avaliados os determinantes de saúde

relativos às características socioeconômicas, condições de saúde e de trabalho, e escolhas

alimentares. Para abordagem qualitativa, utilizou-se a técnica da livre evocação, entrevistas

individuais e grupos focais, analisados por meio do software EVOC®, análise do conteúdo e

discurso do sujeito coletivo, respectivamente. Participaram 146 caminhoneiros apresentando,

de modo geral, baixa escolaridade (7,0±2,9 anos de estudo), excesso de peso (86,8%),

hipertrigliceridemia (57,7%), sedentarismo (74,7%), com rotina laboral determinada por

extensas rotas (mediana de 700 km), percorridas por longos períodos sem descanso (mediana

de 12h), e uso frequente de anfetaminas para inibir o sono (72,6%). Por outro lado, os resultados

indicam uma boa percepção sobre a importância das escolhas alimentares adequadas. As

informações qualitativas monstraram uma autopercepção satisfatória sobre a saúde (notas

7,5±1,4), denotada pela ‘ausência de doenças’. Apesar de não possuir um núcleo central

definido, a representação social sobre a saúde apontou para atitudes preventivas como

autocuidado e a referência ao risco imposto pelas condições de trabalho. Os resultados sugerem

perfil de morbimortalidade para enfermidades crônicas e relativa compreensão sobre hábitos

saudáveis, no entanto, com dificuldades para colocar em prática, alegando limitações devido às

condições de trabalho.

Descritores: Determinantes de saúde. Riscos ocupacionais. Transportes. Autopercepção em

saúde.

Truck drivers´s perception on determinants of health: a quantitative and qualitative study.

BATISTA, A. M. F. Universidade Federal de Sergipe, Programa de Pós-graduação em Ciências

da Saúde, 2017.

ABSTRACT

Faced with the strenuous work routine of the truck driver, added to the life habits adverse to

health, this study aims to know the determinants of health among truck drivers in the state of

Sergipe, as well as their perception about the theme. This is a cross-sectional study with a

qualitative and quantitative approach. The health determinants related to socioeconomic

characteristics, health and work conditions, and food choices were evaluated. For a qualitative

approach, we used the free evocation technique, individual interviews and focus groups,

analyzed through EVOC® software, content analysis and discourse of the collective subject,

respectively. There were 146 truck drivers with low schooling (7.0 ± 2.9 years of schooling),

overweight (86.8%), hypertriglyceridemia (57.7%), sedentary lifestyle (74.7%), (median of 700

km), followed by long periods without rest (median of 12 hours), and frequent use of

amphetamines to inhibit sleep (72.6%). On the other hand, the results indicate a good perception

about the importance of adequate food choices. Qualitative information showed a satisfactory

self-perception about health (notes 7.5 ± 1.4), denoted by 'absence of disease'. Although it does

not have a defined core, the social representation on health pointed to preventive attitudes such

as self-care and the reference to the risk imposed by working conditions. The results suggest a

morbidity and mortality profile for chronic diseases and a relative understanding of healthy

habits, however, with difficulties to put into practice, alleging limitations due to working

conditions.

Descriptors: Determinants of health. Occupational risks. Transports. Health perception.

LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS

Figura 1. Processo de concepção do percurso metodológico do estudo.................................. 29

Figura 2. Fluxograma de delineamento do estudo .................................................................. 31

Figura 3. Figura 3. Frequência (%) das categorias da pergunta “qual a relação entre a profissão

de caminhoneiro e a saúde? ” ................................................................................................... 56

Figura 4. Frequência (%) das categorias da pergunta “o que ocês entendem por cuidados à

saúde?” ..................................................................................................................................... 60

Quadro 1. Classificação dos parâmetros antropométricos, clínicos e bioquímicos enquanto

determinantes de risco à saúde ................................................................................................. 33

Tabela 1: Características sociodemográficas dos caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146)

.................................................................................................................................................. 41

Tabela 2: Condições de trabalho de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) ................ 43

Tabela 3: Determinantes de saúde de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) ............. 45

Tabela 4: Escolhas alimentares entre caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) .............. 51

Tabela 5: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘risco à saúde’ pelos

caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29) ............................................................................ 55

Tabela 6: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘cuidado com a saúde’ pelos

caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29) ............................................................................ 59

Tabela 7: Frequência das categorias de análise temática entre caminhoneiros do estado de

Sergipe (n=15) .......................................................................................................................... 64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC Circunferência da Cintura

CT Colesterol Total

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

DCV Doenças Cardiovasculares

DM Diabetes Mellitus

DP Desvio-Padrão

DSC Discurso do Sujeito Coletivo

DSS Determinantes Sociais em Saúde

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

ECH Expressões-Chave

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

HDL-c Lipoproteína de Alta Densidade

IC Ideia Central

IMC Índice de Massa Corporal

LDL-c Lipoproteína de Baixa Densidade

OME Ordem Média de Evocação

OMS Organização Mundial de Saúde

PAD Pressão Arterial Diastólica

PAS Pressão Arterial Sistólica

RS Representações Sociais

SINDICAM-SE Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do

Estado de Sergipe

SNC Sistema Nervoso Central

SPSS® Statistical Package for Social Sciences

TG Triglicérides

TRS Teoria das Representações Sociais

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 14

2.1 Geral .................................................................................................................................. 14

2.2 Específicos ......................................................................................................................... 14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 15

3.1 Determinantes de saúde: condições de saúde, trabalho e escolhas alimentares ......... 15

3.1.1 Conceito de determinantes de saúde e modelos explicativos .......................................... 15

3.1.2 Condições de saúde ......................................................................................................... 16

3.1.3 Condições de trabalho ..................................................................................................... 17

3.1.4. Escolhas alimentares ...................................................................................................... 18

3.2 Determinantes de saúde entre caminhoneiros ............................................................... 19

3.3 Autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde ................................. 24

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS ............................................................................................. 28

4.1 Concepção do estudo ........................................................................................................ 28

4.2 Desenho, período e local do estudo ................................................................................. 28

4.3 População e critérios de elegibilidade ............................................................................. 30

4.5 Questões éticas .................................................................................................................. 30

4.5 Fase 1 ................................................................................................................................. 31

4.5.1 Delineamento ................................................................................................................... 31

4.5.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................................... 32

4.5.3 Análise dos dados ............................................................................................................ 34

4.6 Fase 2 ................................................................................................................................. 34

4.6.1 Delineamento ................................................................................................................... 34

4.6.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................................... 35

4.6.3 Análise dos dados ............................................................................................................ 38

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 41

5.1 Fase 1: Artigo 1 ................................................................................................................. 41

5.1.1 Caracterização sociodemográfica ................................................................................... 41

5.1.2 Determinantes de saúde relativos às condições de saúde e trabalho ............................. 42

5.1.3 Escolhas alimentares ....................................................................................................... 50

5.2 Fase 2: Artigos 2 e 3 .......................................................................................................... 54

5.2.1 Artigo 2: Evocação e Grupos Focais .............................................................................. 54

5.2.2 Artigo 3: Entrevista individual ........................................................................................ 63

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 71

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 73

APÊNDICE A – MARCO LÓGICO .................................................................................... 87

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 88

APÊNDICE C – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA VOZ ................................................ 89

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTRUTURADO ........................... 90

APÊNDICE E – FOOD CHOICES INDEX .......................................................................... 92

APÊNDICE F – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .................. 93

APÊNDICE G – QUESTÕES NORTEADORAS PARA O GRUPO FOCAL ................. 94

APÊNDICE H – ARTIGO 01 SUBMETIDO ...................................................................... 95

ANEXO 1 – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO AO PERIÓDICO CADERNOS DE

SAÚDE PÚBLICA (ARTIGO 01) ....................................................................................... 111

ANEXO 2 – INSTRUÇÕES AOS AUTORES PARA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO ... 112

12

1 INTRODUÇÃO

O motorista de caminhão é uma categoria profissional importante para a economia

brasileira sendo responsável por mais de 60% do transporte de cargas (CNT, 2017).

Determinantes de saúde, como rotina laboral e estilo de vida, podem favorecer a prevalência

elevada de morbimortalidade encontrada nesta população. Longas jornadas de trabalho

ininterruptas ou com poucos momentos de folga para recuperação física e mental caracterizam

condições de trabalho extenuantes (MASSON; MONTEIRO, 2010). Ademais, possuem hábitos

de vida adversos à saúde, tais como alimentação não saudável, sedentarismo, uso

indiscriminado de álcool e tabaco, além do uso de drogas a fim de se manterem acordados,

exposição a doenças transmissíveis e insuficiente controle periódico em saúde (ALESSI;

ALVES, 2015).

O Brasil vivencia a modificação dos padrões de saúde e doença, como o aumento da

prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), principal causa de morte

atualmente, e com etiologia multifatorial (BARROS et al., 2013). As condições de vida e de

trabalho dos indivíduos estão relacionadas com sua situação de saúde, associadas aos

comportamentos para o desenvolvimento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT)

(BUSS; PELEGRINE FILHO, 2007; ALBUQUERQUE; SILVA, 2014). Nesse contexto, é

necessário compreender as relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve

determinado grupo populacional e a situação de saúde de seus indivíduos (BARROS et al.,

2013).

O monitoramento da prevalência dos componentes de risco para DCNT, tanto os de

natureza comportamental (dieta, sedentarismo, dependência química de tabaco, álcool e outras

drogas), quanto, os fatores socioeconômicos da população, é uma das ações mais importantes

da vigilância à saúde. As evidências observadas possibilitam implementar ações preventivas

mais eficazes (MALTA et al., 2006).

A literatura aponta a existência de ligações entre indicadores de morbimortalidade e a

percepção de saúde em diferentes populações (REICHERT; LOCH; CAPILHEIRA, 2012;

CUREAU et al., 2013; MEIRELES et al., 2015; THEME FILHA et al., 2015). A análise da

autopercepção de saúde vem sendo frequentemente utilizada para a compreensão do elo entre

saúde, determinantes sociodemográficos e DCNT (BORGES et al, 2014). A partir do

entendimento da autopercepção de saúde pode-se evidenciar a subjetividade do estado físico e

mental e, quando somado à análise das representações sociais, possibilita conhecer o que

13

pensam os atores sociais, neste caso os caminhoneiros, acerca dos cuidados e riscos à saúde

(VINTÉM, 2008).

Os estudos de prevalência com caminhoneiros se propõem a avaliar os componentes do

risco à saúde sem aprofundar quanto aos seus determinantes, principalmente no que concerne

à subjetividade dos indivíduos. No Brasil são inexistentes análises das representações sociais

dos caminhoneiros a respeito dos determinantes do cuidado e risco à saúde. Na literatura

mundial, estudos mostram que estes profissionais reconhecem as condições de trabalho

adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a aquisição de um estilo de vida saudável

(MCDONOUGH et al., 2014; BOEIJINGA; HOEKEN; SANDERS, 2016; GREENFIELD et

al., 2016).

Diante da importância dos determinantes de saúde e sua relevância para o contexto de

qualidade de vida entre motoristas de caminhão, o objetivo do presente estudo foi conhecer os

determinantes de saúde entre caminhoneiros do estado de Sergipe, bem como a percepção dos

mesmos em relação ao processo de saúde.

14

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Conhecer os determinantes de saúde entre caminhoneiros.

2.2 Específicos

1. Caracterizar os determinantes de saúde relativos às condições de saúde, trabalho e

escolhas alimentares;

2. Conhecer a autopercepção dos sujeitos relativa às suas condições de saúde e de trabalho.

15

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Determinantes de saúde: condições de saúde, trabalho e escolhas alimentares

3.1.1 Conceito de determinantes de saúde e modelos explicativos

A reflexão sobre os determinantes de saúde deve ter como ponto de partida a concepção

de saúde e doença e suas correlações, inclusive os diferentes fatores que podem interferir nessas

condições (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014).

A história dos modelos explicativos de saúde demonstra a sua compreensão sob

diferentes pontos de vista. A perspectiva de saúde e doença possui na cosmologia um misto de

religião e magia; a existência do equilíbrio no organismo está expressa na compreensão da visão

holística; e o meio ambiente passou a ser avaliado nessa relação de equilíbrio, através da

concepção hipocrática (BARROS et al., 2013). Ainda predominante na nossa sociedade, o

modelo biomédico se pauta na lógica unicausal ou linear, tendo um agente causador para cada

doença e definindo saúde como ausência de doenças (PUTTINI; PEREIRA JUNIOR;

OLIVEIRA, 2010).

A partir da constituição da Organização Mundial de Saúde, no final da década de 40,

definiu-se saúde de uma maneira ampliada, sendo “o estado de completo bem-estar físico,

mental e social e não mera ausência de moléstia ou enfermidade” (OMS, 1946). Deste modo,

privilegia o entendimento da saúde como um processo, por meio do conhecimento acumulado

do campo científico, numa lógica multicausal, que se baseou no modelo da História Natural da

Doença (PUTTINI; PEREIRA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2010). No entanto, segundo Almeida

Filho e Rouquayrol (2006), a história natural das doenças não é tão somente natural. Existir

com ou sem saúde não se circuscreve, portanto, como um estado de equilíbrio, mas relaciona-

se profundamente às peculiaridades de cada conjuntura sociocultural, e mais, aos sentidos que

cada sujeito atribui ao seu processo de viver (DALMOLIN et al., 2011).

Relativo a definição dos determinantes sociais em saúde (DSS), Buss e Pelegrini Filho

(2007, p. 79) colocam que "o conflito entre saúde pública e a medicina entre os enfoques

biológico e social do processo saúde e doença coloca-se no centro do debate sobre a

configuração de um novo campo de conhecimento, de prática e de educação".

Encontram-se diversos significados de DSS, entretanto todos convergem ao pressuposto

de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão

relacionadas com sua situação de saúde (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007). Segundo a

16

Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (2008), estes se encontram

conectados aos comportamentos individuais e às condições de vida e trabalho, bem como, à

macroestrutura econômica, social e cultural.

O modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, adotado no Brasil, explica os DSS

dispostos em cinco diferentes camadas de maneira abrangente e simplificada (BARROS et al.,

2013). Esta disposição tenta explicar a complexa rede de DSS, onde os determinantes

individuais situados na base do modelo exercem força sobre as condições de saúde, no entanto,

encontram-se permeados pelas influências das redes sociais e comunitárias, bem como, das

condições de vida e de trabalho, e, em maior nível, das condições socioeconômicas, culturais e

ambientais gerais (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007).

3.1.2 Condições de saúde

Segundo Prata (1992), "o perfil de morbimortalidade pode ser considerado um

indicador, relativamente, sensível às condições de vida e ao modelo de desenvolvimento de

uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes". Nesse

contexto, o governo e os profissionais de saúde, antes de atuar, precisam compreender as

relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a

situação de saúde de sua população (BARROS et al., 2013).

No Brasil, os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, a

urbanização e o crescimento econômico e social contribuem com uma profunda modificação

dos padrões de saúde e doença, que interagem com fatores demográficos, econômicos, sociais,

culturais e ambientais (SZWARCWALD; SOUZA-JÚNIOR; DAMACENA, 2010). Esta

modificação se caracteriza pela relativa redução da mortalidade por doenças infecciosas com a

coexistência de DCNT (BARROS et al., 2013).

As DCNT, principalmente as doenças cardiovasculares, o câncer, as doenças

respiratórias crônicas e o diabetes são as principais causas de morte no mundo. Em 2012, as

DCNT foram responsáveis por cerca de 38 milhões de mortes por ano, representando 68% das

mortes em todo o mundo; e entre as mortes prematuras (≤ 70 anos), estima-se que 52% eram

devidos às DCNT (WHO, 2016a). No Brasil, as DCNT representaram em 2013, uma taxa de

51,3 óbitos para cada 100.000 habitantes, e no estado de Sergipe a taxa de 34,1 (BRASIL,

2011a; MALACHIAS et al., 2016).

As DCNT apresentam etiologia multifatorial e entre os seus determinantes sociais são

apontadas as desigualdades sociais, as diferenças no acesso a bens e serviços, a baixa

17

escolaridade e as desigualdades no acesso à informação (BRASIL, 2011b). No entanto o

modelo explicativo mais utilizado é o que enfatiza os fatores de risco (CESSE, 2007). Assim,

entre os fatores de risco considerados de maior importância destacam-se a hipertensão arterial

sistêmica (HAS), as dislipidemias, a obesidade, o diabetes mellitus (DM) e alguns hábitos

relacionados ao estilo de vida, como tabagismo, dieta inadequada, sedentarismo e ingestão de

bebida alcoólica (WHO, 2016b).

Em 2013, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou o “WHO Global Action Plan for the

Preventionand Control of NCDs 2013-2020”, fornecendo aos países membros, aos parceiros

internacionais e à Organização Mundial de Saúde (OMS) algumas opções políticas que

contribuirão para o progresso em nove metas globais de DCNT a serem alcançadas em 2025.

O documento considera como metas globais a melhoria de alguns fatores de risco como

sedentarismo, tabagismo, DM e obesidade; todavia, direciona a discussão das causas das DCNT

para além. Dentre os princípios expostos, o documento reconhece que o arranjo diferenciado

das DCNT entre populações e indivíduos é, explicitamente, devido à distribuição desigual dos

DSS e que as políticas de saúde devem ser incluidas nas ações em todos os setores, como a

agricultura, a comunicação, a educação, o emprego, entre outros (WHO, 2013).

Como resposta ao desafio das DCNT, o Ministério da Saúde do Brasil tem

implementado importantes políticas de enfrentamento dessas doenças, além de apoiar as

políticas públicas de promoção à saúde (BRASIL, 2011b). Adotando medidas de prevenção

primária e secundária de forma enfática, é possível que o cenário epidemiológico das DCNT

possa ser modificado nas próximas décadas (POLANCZYK; ALEGRE, 2005).

3.1.3 Condições de trabalho

Recentemente, a literatura tenta apresentar que as condições particulares de existência

influenciam os comportamentos (de risco), infligindo limites no modo de vida dos diversos

grupos sociais (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014). Os estudos sobre as condições de vida e

trabalho, um dos níveis de determinantes de saúde, indicam que "as pessoas em desvantagem

social estão susceptíveis a um risco diferenciado, determinado por condições habitacionais mais

humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso limitado

aos serviços de saúde" (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007, p. 84).

A fim de garantir a integralidade da atenção à saúde, incluindo abordagens coletivas e

individuais, tornam-se necessárias ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à

saúde de populações que vivem em territórios definidos (BRASIL, 2010). Portanto, aspectos

18

relativos ao trabalho, presentes na vida dos indivíduos, famílias e conjunto da população, devem

ser incorporados nesse processo (BRASIL, 2002).

Em relação aos trabalhadores, há que se considerar os diversos riscos ambientais e

organizacionais aos quais estão expostos, em função de sua inserção nos processos de trabalho.

Minayo-Gomez; Thedim-Costa (1997, p. 24) analisam que "não restam dúvidas de que as

inserções diferenciadas dos indivíduos nos processos produtivos, quer no meio urbano, quer no

rural, definem padrões também diversificados de morbimortalidade". As autoras também

reconhecem que tais padrões de morbimortalidade podem ter a contribuição de outros fatores

decorrentes das condições de vida aos quais os trabalhadores estão submetidos.

As doenças relacionadas ao trabalho fazem referência a um "conjunto de danos ou

agravos que incidem sobre a saúde dos trabalhadores, causados, desencadeados ou agravados

por fatores de risco inerentes aos locais e contexto de trabalho" (BRASIL, 2002, p. 20).

Ademais, além das doenças, deve-se considerar o processo de desgaste que é constituído pelos

diferentes problemas de saúde dos trabalhadores, integrando os campos da saúde mental e

ocupacional, de maneira mais abrangente (PINA; STOTZ, 2014).

Desgaste pode ser entendido como o prejuízo da aptidão potencial e/ ou efetiva corporal

e psíquica (PINA; STOTZ, 2014). Segundo Seligmann-Silva (1994), o desgaste do trabalhador

pode ser explicado por três dimensões: a primeira, em termos orgânicos, decorrente dos

acidentes de trabalho ou da ação de substâncias tóxicas; uma segunda, pela fadiga crônica; e a

terceira, pelo desgaste da esperança, que afeta a identidade do trabalhador, atinge seus valores

e crenças e pode ferir sua dignidade.

3.1.4. Escolhas alimentares

De acordo com Buss e Pelegrini Filho (2007), o estilo de vida dos indivíduos, muitas

vezes julgados apenas como responsabilidades pessoais, estão situados no limiar entre os

fatores individuais e DSS, posto que podem também ser considerados parte dos DSS. Segundo

esses autores, as opções de comportamentos individuais "estão fortemente condicionadas por

determinantes sociais - como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de

acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer" (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007, p. 83).

Em concordância, Rothes e Cunha (2016, p. 46) explicam que "a alimentação humana, enquanto

ato sociocultural se traduz, numa multiplicidade de sistemas alimentares para os quais

contribuem fatores distintos, de ordem social e cultural, mas, também, ecológica e econômica".

19

Lima, Ferreira Neto e Farias (2015) referem que as escolhas alimentares se relacionam

com a disponibilidade de alimentos aos indivíduos e ainda ao potencial técnico que possuem

para processá-los. Delormier, Frohlich e Potvin (2009) defendem que o processo de escolha

alimentar é influenciado pelo convívio social cotidiano (relações familiares, local de trabalho e

escola), zonas de coexistência que permitem trocas e auxiliam a moldar o sistema alimentar dos

indivíduos.

Poulain, Proença e Diez-Garcia (2012) definem as práticas e comportamentos

alimentares como procedimentos pertinentes às escolhas alimentares de grupos humanos

associados a atributos socioculturais, ou seja, aos aspectos subjetivos, individual e coletivos

referentes ao comer e à comida. Esses autores avaliam que o diagnóstico das práticas e

comportamentos alimentares se torna etapa necessária para o desenvolvimento de programas e

intervenções na área de educação nutricional.

A OMS reconhece que o tipo de alimento, bem como, sua quantidade define, em grande

medida, a saúde dos indivíduos, contribuindo para o desenvolvimento das DCNT,

reconhecidamente grandes problemas de saúde pública (WHO, 2016b). Assim, permanece o

empenho pra conhecer os determinantes da seleção de alimentos buscando maneiras mais

eficazes de prover orientação alimentar para indivíduos e populações a fim de melhorar sua

saúde e qualidade de vida (LARSON; STORY, 2009).

Deste modo, entende-se a relevância de conhecer o processo de escolhas alimentares

entre os diferentes grupos sociais. Segundo Contreras e Gracia (2011, p. 147), deve ser

considerada a “dupla natureza biossocial, que funciona com estreita vinculação, especialmente

por aqueles que, por meio de suas orientações e prescrições, pretendem intervir para modificar,

nas pautas alimentares praticadas por determinado grupo humano”.

3.2 Determinantes de saúde entre caminhoneiros

O setor de transporte de cargas rodoviário contribui com mais de quatro milhões de

trabalhadores no Brasil (KNAUTH et al., 2012) e participa em mais de 60% do transporte de

cargas (CNT, 2017), caracterizando-se como um setor do qual todos os outros são dependentes

(MASSON; MONTEIRO, 2010). No entanto, a literatura destaca prevalência elevada de

morbimortalidade nesta população, demonstrando muitas vezes múltiplas condições de saúde

associadas com hábitos de vida inadequados, fatores de risco relevantes para o desenvolvimento

e evolução das DCNT (ALESSI; ALVES, 2015).

20

Estudos entre caminhoneiros brasileiros demonstram a presença simultânea de diversos

fatores de risco. Em uma rodovia em São Paulo, entre 258 motoristas de caminhão, 37%

possuíam HAS, além de outros fatores de risco associados: 46% de sobrepeso, 35% de

obesidade, elevada carga horária de trabalho, em média 10,0 ± 4,0 horas por dia, 55% ingeriam

bebida alcoólica, 19% eram tabagistas, e 57% relataram o uso de medicamentos para manterem-

se acordados (CAVAGIONI; PIERIN, 2010). Outra pesquisa sobre fatores de risco

modificáveis e não modificáveis para o desenvolvimento da HAS demonstrou que 54,1%

possuíam parentes diretos hipertensos; 49,4% e 23,7% relataram uso de bebida alcoólica e

tabaco, respectivamente; e em relação aos hábitos alimentares, 39,3% informaram ingerir,

preferencialmente, alimentos processados, 13,2% consumiam alimentos fritos e 26,8%

acrescentavam sal à alimentação depois de preparada (GUEDES et al., 2010).

Sangaleti et al. (2014), em estudo conduzido com 227 caminhoneiros que trafegavam

na BR 277, demonstraram que predominava a inatividade física, 72,8%; consumo de bebidas

alcoólicas, 66,8%; uso rotineiro de algum tipo de estimulante durante as atividades de trabalho,

19,2%; tabagismo, 29%. Apenas 20,8% tinham peso saudável e 58,2% tinham circunferência

abdominal superior a 102 cm. O diagnóstico de hipertensão arterial foi confirmado em 45,2%

e os níveis anormais de glicose foram detectados em 16,4%. A análise de regressão logística

mostrou que as chances de hipertensão e níveis anormais de glicose foram aumentadas em

motoristas de caminhão com obesidade abdominal.

Entendendo que a sonolência compromete a qualidade de vida do trabalhador, Mansur

et al. (2015) analisaram a relação entre obesidade e síndrome metabólica e a prevalência de

sonolência em 2228 motoristas de caminhão brasileiros entre 2006 e 2011. No período

observou-se aumento de: circunferências cervical (p = 0,011) e abdominal (p < 0,001);

colesterol total (p < 0,001); níveis séricos de triglicerídeos (p = 0,014); sonolência (p < 0,001).

A análise de regressão linear mostrou correlação íntima de sonolência com índice de massa

corporal (p = 0,031), circunferência abdominal (p = 0,021), hipertensão (p = 0,002) e

triglicerídeos (p = 0,022).

A tendência de presença dos diferentes fatores de risco nas amostras de motoristas pode

também ser encontrada entre estudos internacionais. Dabrh et al. (2014) publicaram uma

revisão sistemática com 32 estudos de diferentes países sobre avaliação de saúde envolvendo

151.644 motoristas comerciais (98% homens). A prevalência de diversas condições de saúde

foi elevada: obesidade (45%), DM (33%), HAS (23%) e distúrbios do sono (19%). Sharma e

Ganguly (2014) demonstraram que dos 59 caminhoneiros indianos entrevistados, 54% sofreram

de lombalgia, 16,9% de problemas visuais, 45,7% de HAS, 8,4% de anemia e 30,5% tinham

21

Índice de Massa Corporal (IMC) de alto risco. Apresentaram também comportamentos de risco:

44,1% fumantes crônicos, 47,5% utilizando produtos de tabaco mascável e 57,6% utilizavam

álcool com frequência. Sieber et al. (2014) evidenciaram que 61% entre os 960 caminhoneiros

americanos avaliados relataram ter dois ou mais fatores de risco: HAS, obesidade, tabagismo,

colesterol alto, sedentarismo, seis ou menos horas de sono por dia.

Um estudo que avaliou as relações entre o IMC e comorbidades entre 88.246 motoristas

americanos, utilizando dados de relatórios médicos entre 2005 e 2012, evidenciou que a

maioria dos motoristas estava obesa (53,3%) e com obesidade mórbida (26,6%), superior aos

relatórios anteriores. Os condutores obesos eram mais propensos a reportar doença cardíaca,

hipertensão, diabetes mellitus, distúrbios nervosos, distúrbios do sono e dor lombar crônica

(todos p <0,0001). A prevalência de obesidade mórbida aumentou 8,9% e a prevalência de três

ou mais condições múltiplas aumentou quatro vezes entre 2005 e 2012 (THIESE et al., 2015).

Revisão sistemática que incluiu artigos publicados em inglês entre 2005 e 2015, apontou

que a obesidade abdominal afetava até 70% dos motoristas de caminhões, enquanto que o

sobrepeso e obesidade obteve variação de 35-46% e 15-70%, respectivamente. Dentre os

demais componentes a prevalência variou em: 5-41% para HAS, 17-22% dislipidemia e até

16% de DM (MABRY et al., 2016).

Moulatlet et al. (2010) analisaram a prevalência de fatores associados a HAS entre

motoristas de caminhão de uma transportadora de cargas brasileira, num total de 470

indivíduos, majoritariamente do sexo masculino. Concluíram que os resultados da análise

conjunta dos motoristas mostraram associação estatisticamente significante entre HAS e idade,

IMC, nível de escolaridade e vínculo empregatício, sugerindo que fatores sociodemográficos,

antropométricos e ocupacionais tenham influência sobre a HAS.

Outros fatores de risco relevantes refere-se ao consumo de estimulantes, como

anfetaminas, álcool e outras drogas, frequentemente associados à presença de distúrbios do

sono entre caminhoneiros (KNAUTH et al., 2012; GIROTTO et al., 2014; GIROTTO et al.,

2015; OLIVEIRA et al., 2015).

No Rio Grande do Sul, em pesquisa com 854 motoristas de caminhão, o uso de “rebite”

(medicamento estimulante) era frequente em 12,7% da amostra e mais de 70% desta consumiam

bebidas alcoólicas (KNAUTH et al., 2012). Revisão sistemática sobre a prevalência do uso de

substâncias psicoativas entre motoristas de caminhão incluiu 36 estudos de países diversos,

mostrando o álcool (n = 25), anfetaminas (n = 17), maconha (n = 16) e cocaína (n = 13) como

as substâncias mais estudadas. Apesar das variações relativas ao tipo de substância e ao método

22

de coleta de informações, concluiu-se que a frequência de uso de substâncias psicoativas por

motoristas de caminhão foi elevada (GIROTTO et al., 2014).

Entre 670 caminhoneiros no Porto de Paranaguá, Paraná, observou-se a prevalência de

consumo de substâncias psicoativas no último mês de 10,9% (principalmente anfetaminas),

além de, aproximadamente, 29,1% e 25,2% dos entrevistados terem relatado consumo de álcool

excessivo e tabagismo, respectivamente (GIROTTO et al., 2015). Oliveira et al. (2015)

demonstraram que, entre 684 motoristas de caminhão que trafegavam em três rodovias de São

Paulo, 29,0% relataram ter usado anfetaminas nos doze meses anteriores às suas entrevistas.

Outra revisão incluiu 12 estudos que avaliaram fatores associados ao consumo de

substâncias psicoativas, destacando-se: faixa etária mais jovem, viagens mais longas, consumo

de álcool, condução no turno da noite, rotas interestaduais itinerantes, sono longo ou curto,

menos horas de repouso, pouca experiência do motorista, conexão com pequenas e médias

empresas, renda abaixo dos níveis determinados por acordos trabalhistas, ganhos baseados na

produtividade e envolvimento prévio em acidentes (GIROTTO et al., 2014).

Numa amostra de 670 caminhoneiros no Porto de Paranaguá, Paraná, observou-se que,

após o ajuste por características de trabalho, variáveis sociodemográficas e de estilo de vida, as

condições de trabalho associadas ao consumo de substâncias psicoativas foram: condução na

maior parte à noite (OR= 3,91;), dirigir cansado (OR= 2,26) e receber maior renda mensal (OR=

2,08). Os condutores com 39 anos de idade ou menos (OR= 2,11) e que não viviam com um

parceiro (OR= 2,22) também eram mais propensos a consumir substâncias psicoativas

(GIROTTO et al., 2015).

Oliveira et al. (2015) conduziram um estudo com 684 motoristas de caminhão que

trafegavam em três rodovias de São Paulo avaliando a relação entre as condições de trabalho e

o risco para o uso de anfetaminas. Os resultados mostraram que 29,0% dos motoristas relataram

ter usado anfetaminas nos doze meses anteriores às suas entrevistas. Os determinantes que

indicaram o uso de anfetaminas entre caminhoneiros foram: ter menos de 38 anos (odds ratio:

OR = 3,69), ter passado menos de nove anos na escola (OR= 1,76), ser autônomo (OR= 1,65),

turnos noturnos de trabalho ou horários irregulares (OR= 2,05), trabalhar por mais de 12 horas

diárias (OR= 2,14) e consumo de álcool (OR= 1,74).

As condições e rotina de trabalho dos motoristas de caminhão provocam impactos sobre

a sua qualidade de vida, demonstrando um determinante de saúde relevante nesse grupo. Longas

jornadas com rotina estressante e ausência de autonomia, implicam na falta de repouso

adequado, má alimentação, tabagismo, uso de álcool e outras drogas, além da exposição a

doenças transmissíveis. Essa possível relação pode ser demonstrada tanto em revisões de

23

literatura (MARQUEZE; ULHÔA; MORENO, 2012; GIROTTO et al., 2014), quanto entre

estudos nacionais (GIROTTO et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2015; GIROTTO et al., 2016) e

entre motoristas em outros países (NEOPHYTOU et al., 2014; BIRDSEY et al., 2015; ROSSO

et al., 2015; GUAN et al., 2016).

Revisão sobre a relação entre horários de trabalho irregulares e desordem metabólica

entre motoristas de caminhão, demonstrou que o trabalho por turnos tem influência negativa

substancial sobre as funções fisiológicas, mediada pelo desalinhamento do ciclo circadiano. As

prevalências elevadas de obesidade e distúbios metabólicos, especificamente, entre motoristas

de caminhão, estiveram relacionadas ao trabalho por turnos irregulares, onde a inadequada

organização do trabalho determinou as condições desfavoráveis de sono e de alimentação

(MARQUEZE; ULHÔA; MORENO, 2012).

Estudo conduzido com 665 motoristas de caminhão no Paraná observou que as

condições de trabalho podem ter contribuído para o aumento da prevalência de alguns agravos,

favorecendo o uso contínuo de medicamentos. Este estudo demonstrou que 74,4% possuem

turno alterado de trabalho, 63,3% algum problema de saúde, destacando-se dores crônicas em

geral (braços, pernas ou costas) (35,6%), além do relato de HAS (16,2%), dislipidemias

(12,6%), hemorroidas (8,7%) e DM (7,5%). As características profissionais que se associaram

com o uso de medicamentos foram o tempo de experiência como motorista igual ou superior a

16 anos; caminhão do próprio motorista; e não ter vínculo empregatício (sem registro em

carteira de trabalho) (GIROTTO et al., 2016).

Neophytou et al. (2014) avaliaram o efeito do trabalho como motorista de longa

distância na mortalidade por doença isquêmica cardíaca em uma coorte de 30.448 homens,

empregados na indústria sindicalizada de caminhões dos Estados Unidos da América entre 1985

e 2000. Os resultados indicaram que trabalhar como condutor de longa distância eleva em 1,2

o risco de mortalidade por doença isquêmica cardíaca.

Nos Estados Unidos, o National Survey of US Long-Haul Truck Driver Health and

Injury entrevistou amostra nacional representativa de motoristas de caminhão de longa distância

(n = 1265) em paradas de caminhões. Este estudo constatou que, em comparação com outros

trabalhadores norte americanos, os motoristas de caminhão de longa distância tiveram

prevalência significativamente maior de obesidade, principalmente, relativa à obesidade de

grau II ou mais, entre homens (31,3% versus 9,1%). Os caminhoneiros também apresentaram

maior exposição ao cigarro, comparado com indivíduos com outro tipo de trabalho (46,2% para

os homens e 54,9% para as mulheres versus 20,6% e 17,4%, respectivamente) (BIRDSEY et

al., 2015).

24

Entre motoristas profissionais italianos, 61% dos 497 participantes tinham excesso de

peso ou eram obesos de acordo com o índice de massa corporal. Dentre os fatores preditivos

para a obesidade estavam: viajar mais de 40.000 milhas por ano (OR =4,20) e horas de viagem

por dia (OR = 1,27). Além disso, evidenciou-se associação inversa entre o nível de escolaridade

e a obesidade (OR=0,32) (ROSSO et al., 2015).

Guan et al. (2016), avaliaram dados antropométricos de 1.950 de motoristas de

caminhão americanos (1.779 homens e 171 mulheres) mostrando que nesse público a

prevalência de obesidade é maior do que a população geral dos Estados Unidos, com uma

diferença no peso corporal médio de 13,5 kg para homens e 15,4 kg para mulheres.

Somando-se às condições de saúde e de trabalho dos caminhoneiros, a literatura

demonstra poucas atitudes concernentes aos cuidados à saúde nesse grupo. Muitos relatam que

quando em rota de viagem não usam os serviços de saúde e referem que, em função da sua

rotina de trabalho, não tem tempo para cuidar da saúde (GUEDES et al., 2010; MASSON;

MONTEIRO, 2010).

Birdsey et al. (2015) demonstraram que os motoristas americanos possuem menor

prevalência de vacinação anual contra a gripe e, cerca de 25% nunca tiveram seus níveis de

colesterol aferidos. Sangaleti et al. (2014) demonstrou que embora alguns dos motoristas de

caminhão estivessem cientes do diagnóstico clínico de condições crônicas (HAS, 45,2% e

níveis alterados de glicose entre 16,4%), a maioria não estava tomando medicamentos

específicos. O acesso aos cuidados em saúde minimizam os fatores de risco para o

desenvolvimento das DCNT, favorecendo a prevenção e controle de tais desfechos

(SANGALETI et al., 2014).

3.3 Autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde

A autopercepção de saúde é um indicativo importante para a avaliação global da

situação de saúde do indivíduo. Cada vez mais, por sua relevância, este fator recebe destaque

em estudos epidemiológicos (CUREAU et al., 2013). Desse modo, a autopercepção de saúde

vem sendo frequentemente utilizada para o entendimento da relação entre saúde, determinantes

sociodemográficos e doenças crônicas (BORGES et al., 2014).

Indicadores de mortalidade em diferentes populações e sua relação com a percepção de

saúde têm sido referidos na literatura (REICHERT; LOCH; CAPILHEIRA, 2012).

Compreender a percepção pessoal de saúde traz à luz a subjetividade do estado físico e mental,

25

independente das interpretações médicas dos sintomas, tornando-se um importante preditor da

utilização dos serviços de saúde (VINTÉM, 2008).

Os fenômenos sociais podem ser analisados de forma quantitativa, considerando as

análises de frequência e regularidades, mas também podem ser analisados de maneira

qualitativa, descrevendo relações, histórias, representações, pontos de vista e lógica interna dos

sujeitos em ação (MINAYO, 2010).

Analisando a saúde sob a perspectiva de fenômeno social, recomenda-se o uso da

exploração através das Ciências Sociais, que possuem instrumentos e teorias capazes de fazer

uma aproximação da grandiosidade da existência dos seres humanos em sociedade. Para isso,

“aborda-se o conjunto das expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos, nas

representações sociais, nas expressões da subjetividade, nos símbolos e significados”

(MINAYO, 2016, p. 14).

A Teoria das Representações Sociais (TRS), formulada em 1961, por Serge Moscovici,

adquiriu notoriedade a partir de 1976, baseando-se na heterogeneidade da sociedade

contemporânea. Situando-se dentro da psicologia social, Moscovici teorizou que as

Representações Sociais (RS) não são representações apenas de indivíduos e sim de grupos sobre

um objeto, transpondo o campo da análise individual para o campo da análise social

(FERREIRA; BRUM, 2000).

O fenômeno das RS pode ser entendido como as teorias que são concebidas no senso

comum, ou seja, “como as pessoas e os grupos sociais, no curso de suas vidas cotidianas,

constroem saberes sobre si mesmas, sobre os outros e sobre os diversos objetos sociais que lhe

são relevantes” (FÉLIX et al., 2016, p.199). Envolvem a esfera social dos indivíduos com os

encadeamentos afetivos e normativos, com as internalizações de experiências, práticas,

modelos de conduta e pensamento, socialmente embutidos ou transmitidos. Por isso seu estudo

constitui uma contribuição decisiva para a abordagem da vida mental individual e coletiva

(JODELET, 2001).

Um indivíduo pode assumir diferentes papéis sociais, cada um origina RS comuns,

através das quais a pessoa se auto representa, herdando a história desse papel que assume

(VALSINER, 2015). Através da noção de RS pode-se entender, de maneira ampliada, como se

produzem os saberes sociais em determinados grupos e como esses saberes se manifestam

cotidianamente nas relações destes grupos (FERREIRA; BRUM, 2000).

Optar pelo uso de diferentes métodos de análise contribui para envolver a multiplicidade

do objeto, considerando o nível de complexidade dos fenômenos investigados. Busca-se “dar

atenção ao contexto do estudo, mas também à diversidade de olhares e vozes que caracterizam

26

os grupos sociais relevantes para o estudo de determinadas representações” (NASCIMENTO-

SCHULZE; CAMARGO, 2000, p. 288).

As técnicas de evocação e a uti1ização de textos produzidos de modo ''mais natural"

(falas durante uma entrevista, depoimentos, relatos) são os dois procedimentos mais

empregados no estudo das RS. Complementam-se e fornecem critérios objetivos para a análise

dos materiais textuais (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000).

Em relação à saúde, as práticas que os homens apresentam podem contribuir para

reforçar significados existentes na sociedade atual ou podem auxiliar na descoberta de novas

significações da representação e prática social sobre a saúde masculina. Para contribuir com a

investigação das práticas de saúde do homem, a TRS mostra-se valiosa, uma vez que possibilita

o entendimento dos significados que permeiam tais práticas, relacionando-as com elementos do

cotidiano (MENDONÇA; MENANDRO; TRINDADE, 2011).

No Brasil, revela-se a ausência de estudos sobre autopercepção de saúde entre

caminhoneiros em atividade laboral. Avaliações qualitativas envolvendo esse grupo limitaram-

se a descrever questões referentes aos significados e vulnerabilidades para doenças sexualmente

transmissíveis (SOUSA; SILVA; PALMEIRA, 2014; SOBRINHO-SANTOS et al., 2015;

MAGNO; CASTELLANOS, 2016).

Apenas um estudo brasileiro investigou a concepção de saúde e as interferências das

atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes (2015) avaliaram as percepções

sobre o adoecimento em entrevistas com 13 motoristas afastados da atividade laboral. Dentre

outros achados, encontraram que o entendimento sobre o estado de saúde aparece,

intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com comportamentos de

adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a concepção de saúde como

ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade de vida são exíguos.

Na literatura mundial encontram-se alguns estudos que se propõem a realizar uma

abordagem qualitativa com os caminhoneiros compostos por diferentes objetivos

(MCDONOUGH et al., 2014; BOEIJINGA; HOEKEN; SANDERS, 2016; GRENNFIELD et

al., 2016). Em comum, estes trabalhos mostram, claramente, que os profissionais consentem

em relação às condições de trabalho adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a

aquisição de um estilo de vida saudável.

McDonough et al. (2014) conduziram quatro grupos focais com motoristas de caminhão

e gestores de transportadoras em Ontário, Canadá, para identificar a experiência vivida dos

condutores em relação aos riscos evitáveis para a saúde e bem-estar. Os temas predominantes

descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a comunicação, o estilo de vida, a cultura de

27

condução, a família e as preocupações relacionadas à fadiga. Em termos de ambiente de

trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do potencial da profissão para promover

doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida, e descreveram desafios em tornar a profissão

mais acessível a um estilo de vida saudável.

Boeijinga et al. (2016) conduziram e analisaram 20 entrevistas semi-estruturadas e sete

casos de observações participantes com caminhoneiros holandeses. Os resultados ilustraram

que os indivíduos desejam melhorar seu estilo de vida, mas têm associações improdutivas com

conceitos de vida saudável, bem como, tendência a subestimar os riscos à saúde aos quais estão

sujeitos. Além disso, experimentam barreiras dentro de seu trabalho e ambiente pessoal que os

impedem de traduzir suas intenções em mudanças reais de estilo de vida.

Greenfield et al. (2016) utilizaram de grupo focal com 36 caminhoneiros americanos

para avaliar as necessidades e atitudes no que diz respeito às intervenções de promoção da saúde

e, em particular, a sua percepção sobre o uso de wearable devices (relógios e pulseiras

inteligentes) para monitoramento de sinais vitais e outros dados enviados pelo corpo, para

melhoria da sua saúde. Nesse estudo, a maioria deles percebeu sua saúde como "boa" e seu

estilo de vida como "saudável". No entanto, os motoristas estavam cientes de seu estilo de vida

composto por dietas inadequadas e sedentarismo, tendo interesse em modificá-lo, mas

perceberam-no como um resultado inerente e inevitável de sua ocupação. Os participantes

estavam geralmente dispostos a usar wearable devices como uma medida preventiva para evitar

a morbidade, contudo, demonstraram preocupação quanto à privacidade e o risco do

monitoramento contínuo pelo empregador.

Portanto, investigar sobre o que é socialmente construído e valorizado, tanto pelos

sujeitos quanto pela coletividade, pode auxiliar no conhecimento das dimensões da escolha e

adesão ao estilo de vida saudável (MASSIMO; SOUZA; FREITAS, 2015). A investigação dos

significados de saúde e doença entre os indivíduos, grupos e sociedade, propicia obter uma

abordagem das suas diversidade de saberes e necessidades, corroborando para a garantia de

alguns dos princípios da saúde pública brasileira, como a regionalização e participação popular.

Deste modo, é possível propor políticas que possam atender melhor, e mais especificamente, o

grupo em questão (RIBEIRO; BRANT; PINHEIRO, 2015).

28

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS

4.1 Concepção do estudo

O percurso metodológico está apresentado na Figura 1. Em um procedimento interligado

foram definidos a pergunta, os objetivos da pesquisa e o referencial teórico, permitindo a

delimitação do tema e, por fim, foram escolhidos os métodos. Optou-se por desenvolver a

pesquisa em duas fases complementares, apresentadas e detalhadas a seguir. Para melhor

delineamento do estudo foi elaborado o marco lógico da pesquisa (APÊNDICE A).

A motivação para este trabalho se deu pelo fato do município de Itabaiana, interior do

estado de Sergipe, ser considerado a capital nacional do caminhão, concentrando famílias de

indivíduos caminhoneiros.

4.2 Desenho, período e local do estudo

Tratou-se de um estudo observacional de caráter transversal, de seleção de amostra de

conveniência, de abordagem multimétodo, qualiquantitativo. Nas propostas de métodos mistos

são identificadas cinco finalidades: triangulação, complementaridade, desenvolvimento,

iniciação e expansão (WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004). O presente estudo foi

realizado em conformidade com a finalidade de complementaridade, onde procurou melhorar,

exemplificar e esclarecer os resultados de um método com os resultados de outro método,

analisando mais elementos sobre o objeto de estudo. A junção dos métodos quantitativos e

qualitativos tem o objetivo de alcançar uma representação mais completa do fenômeno de

interesse, conferindo validade ao método (WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004).

A coleta de dados foi realizada de novembro/2015 a fevereiro/2017, no município de

Itabaiana, Sergipe

29

Concepção do estudo

1. Definição da

pergunta da pesquisa

e dos objetivos

2. Concepção do

percurso

metodológico

3. Fundamentação

teórica

1. Definição da pergunta da pesquisa e dos objetivos

Revisão da

literatura

Construção do

marco lógico

2. Concepção do percurso metodológico

FASE 1

Responder aos objetivos específicos 1 e 2

Caráter quantitativo

Coleta de dados: aplicação dos questionários, aferição das

medidas antropométricas e pressão arterial; e encaminhamento

para coleta de sangue (glicemia e lipidograma)

Análise estatística

dos dados (SPSS®)

Revisão da

literatura

Submissão ao Comitê de

Ética em Pesquisa/UFS

FASE 2

Responder ao objetivo específico 3

Caráter qualitativo

Evocação

livre

Entrevistas

semiestruturadas

Grupos

focais

Análise de

Evocação

(EVOC)

Análise de

Conteúdo

Análise de

Discurso do

Sujeito

Coletivo

Figura 1: Processo de concepção do percurso metodológico do estudo.

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

30

4.3 População e critérios de elegibilidade

A população do presente estudo foi composta por caminhoneiros que trafegavam

e residiam no estado de Sergipe, associados ou não ao Sindicato dos Transportadores

Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de Sergipe (SINDICAM-SE), sediado no

município de Itabaiana, Sergipe.

Foram considerados como critérios de inclusão: ter acima de 20 anos, dirigir

veículo de transporte de cargas rodoviário atualmente e possuir Carteira Nacional de

Habilitação nas categorias C, D ou E, de acordo com o artigo 143 do Código de Trânsito

Brasileiro (BRASIL, 1997).

4.5 Questões éticas

Em conformidade com os princípios da declaração de Helsinki, bem como das

Resoluções nº466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, e após explicação clara

sobre o protocolo do estudo, cada participante assinou o termo de consentimento livre e

esclarecido (APÊNDICE B), permitindo sua participação voluntária, além do termo para

autorização da gravação e do uso da voz (APÊNDICE C), necessário para a avaliação

qualitativa (entrevista semiestruturada e/ou grupos focais).

O voluntário foi informado sobre os métodos e técnicas a serem utilizados para a

coleta de dados, os possíveis benefícios e inconveniências, a forma de divulgação dos

resultados e a voluntariedade da participação. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe, sob

Parecer nº 1275680.

As classificações do estado nutricional e da pressão arterial foram informadas logo

após a avaliação. Os pesquisadores entraram em contato com os participantes depois da

realização dos exames laboratoriais para marcação de um novo encontro onde foram

realizadas as orientações nutricionais relativas aos eventuais desvios do estado nutricional

apresentados. Caso o participante não pudesse comparecer, as orientações foram

realizadas pelo telefone.

Os resultados desta pesquisa serão divulgados por um relatório para a gestão da

Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Itabaiana, além da utilização

de meios midiáticos (emissoras de rádio) no município.

31

4.5 Fase 1

4.5.1 Delineamento

Foi composto um banco de dados cadastrais por meio da coleta dos contatos

telefônicos de 312 indivíduos. Estes registros foram colhidos entre as informações

fornecidas pelo Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do

Estado de Sergipe (SINDICAM-SE), lista de presença durante evento com caminhoneiros

promovido pela Prefeitura Municipal de Itabaiana e da abordagem dos indivíduos em

estabelecimentos de maior fluxo desta população, como postos de gasolina, oficinas

mecânicas, lojas de autopeças e fábricas de carroceria no referido município. As técnicas

de coleta de dados serão descritas a seguir.

Os motivos para não adesão, em geral, foram o fato de não estarem na cidade nos

dias das entrevistas (107 cadastros) ou telefone indisponível nos momentos das ligações

(55 cadastros). Aderiram ao estudo 150 indivíduos, havendo perda amostral para algumas

variáveis devido ao não comparecimento para a aferição dos parâmetros antropométricos,

pressão arterial e/ou não realização dos exames bioquímicos, além da omissão de outras

informações (Figura 2).

Figura 2: Fluxograma do delineamento do estudo (Fase 1).

312 indivíduos cadastrados

Adesão

150 indivíduos Assinatura do Termo

de Consentimento

Livre e Esclarecido

Não adesão: 162

indivíduos

Excluídos: 04 indivíduos

03 questionários incompletos

01 questionário duplicado

Amostra: 146 indivíduos

Antropometria:

Válidos=134; Perda=12

Aferição de Pressão Arterial:

Válidos=84; Perda=62

Exames bioquímicos:

Válidos=51; Perda=95

32

4.5.2 Procedimento de coleta de dados

Os dados foram coletados de duas maneiras: encontros agendados na Unidade

Básica de Saúde por meio de contatos telefônicos ou abordagem direta dos indivíduos

nos locais descritos. Após a inclusão dos participantes foram aplicados os questionários

estruturados, aferidas as medidas antropométricas e pressão arterial, em seguida os

mesmos foram encaminhados ao laboratório conveniado ao serviço de saúde do

município para a coleta de sangue e realização dos exames laboratoriais.

Com o objetivo de facilitar a adesão, o laboratório conveniado para a coleta se

encontrava no centro da cidade, em local de fácil acesso e conhecido pela população.

Ademais, o encaminhamento recebido garantia ao indivíduo prioridade de atendimento

de segunda a sexta-feira, a partir das sete horas da manhã. Os resultados dos exames foram

entregues a pesquisadora, que agendava com os participantes a consulta de retorno para

esclarecimentos e orientações.

(A) Características demográficas e socioeconômicas

Os motoristas responderam a um questionário estruturado (APÊNDICE D) sobre

características demográficas (idade e sexo) socioeconômicas (estado civil, escolaridade e

renda), elaborado pelo pesquisador, baseado em estudo prévio (MARQUEZE, 2012).

(B) Determinantes de saúde

A estatura foi aferida utilizando estadiômetro (Altura Exata, Minas Gerais,

Brasil), com escala em milímetros. Para a aferição do peso corporal foi utilizada balança

digital eletrônica (Líder, P 180M, São Paulo, Brasil) com capacidade máxima de 180

quilogramas e escala de 100 gramas. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado

pela razão entre o peso corporal (quilogramas) e a estatura ao quadrado (metros). A

circunferência da cintura (CC) foi aferida na menor curvatura entre a última costela e a

crista ilíaca utilizando-se fita métrica flexível e inelástica, subdividida em milímetros

(BRASIL, 2011c).

Os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram aferidos

mediante esfignomamômetro mecânico de coluna de mercúrio, com aproximação de 2

mmHg, conforme técnica descrita por Perloff et al. (1993).

33

Para a determinação dos parâmetros bioquímicos de colesterol total (CT),

lipoproteína de baixa intensidade (LDL-c), lipoproteína de alta densidade (HDL-c),

triglicerídeos (TG) e glicemia de jejum, os participantes foram encaminhados em jejum

de 12 horas ao laboratório conveniado ao serviço de saúde do município para a coleta de

amostra sanguínea e posterior análise laboratorial.

A classificação dos determinantes de risco à saúde foi considerada segundo os

critérios apresentados no Quadro 1.

Quadro 1: Classificação dos parâmetros antropométricos, clínicos e bioquímicos enquanto

determinantes de risco à saúde.

Fator de risco Critérios

diagnósticos Referência

Sobrepeso/Obesidade IMC ≥ 25kg/m² Norma Técnica do Sistema de

Vigilância Alimentar e Nutricional

(BRASIL, 2011c) Obesidade

abdominal CC> 94 cm

Dislipidemia

CT

LDL-c

HDL-c < 40 mg/dL

TG ≥ 150 mg/dL

V Diretriz Brasileira de Dislipidemias

e Prevenção da Aterosclerose

(XAVIER et al., 2013)

Pressão arterial

sistólica ≥ 121 mmHg 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão

Arterial, 2016

(MALACHIAS et al., 2016) Pressão arterial

diastólica ≥ 81 mmHg

Glicemia em jejum ≥ 100 mg/dL

Diretrizes da Sociedade Brasileira de

Diabetes 2015-2016

(OLIVEIRA et al., 2016) IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura; CT: colesterol total; LDL-c: lipoproteína de

baixa intensidade; HDL-c: lipoproteína de alta intensidade; TG: triglicérides.

Em relação aos problemas de saúde, os caminhoneiros foram questionados se

possuíam alguma patologia dentre as opções dadas (HAS, DM, dislipidemia ou se já

haviam sofrido infarto ou derrame) ou referir outro problema de saúde. Caso o

participante não soubesse da existência de alguma das doenças citadas, poderia responder

a opção "não sabe". Da mesma forma, os entrevistados foram interrogados quanto ao uso

de algum medicamento para o controle de doenças (anti-hipertensivo, antidiabético oral

ou insulina, anticoagulantes e estatinas), referir outro não listado, e ainda se não fazia uso

de medicamentos.

O questionário estruturado (APÊNDICE D), elaborado pelo pesquisador baseado

em estudo prévio (MARQUEZE, 2012), continha perguntas sobre condições de trabalho:

34

tempo que dirige por dia, quilômetros percorridos ao dia, horas de sono por dia, uso de

drogas para inibir o sono.

Para caracterizar as escolhas alimentares, utilizou-se o Food Choices Index

traduzido e adaptado (APÊNDICE E) de um estudo que avaliou as escolhas alimentares

saudáveis entre caminhoneiros de longa distância (JACOBSON; PRAWITZ;

LUKASZUK, 2007). Foram selecionadas oito afirmações, utilizando uma escala de

concordância de um a cinco (1=discordo totalmente; 2=discordo em parte; 3=nem

discordo, nem concordo; 4=concordo em parte e 5=concordo totalmente). Maiores

pontuações indicavam maior percepção da importância de escolhas alimentares

saudáveis.

4.5.3 Análise dos dados

Para a análise dos dados quantitativos foi utilizado o software Statistical Package

for Social Sciences (SPSS®) versão 21.0. As variáveis categóricas foram apresentadas em

frequências absoluta (n) e relativa (%) e os dados contínuos em média e desvio-padrão

e/ou mediana e valores máximos e mínimos da distribuição.

4.6 Fase 2

4.6.1 Delineamento

A segunda etapa do estudo foi de caráter eminentemente qualitativo, com o

objetivo de conhecer a autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde

relativos às características demográficas e socioeconômicas, condições de trabalho e de

saúde, e hábitos alimentares, aprofundando questões levantadas na primeira fase do

estudo. A obtenção das informações foi realizada mediante o contato direto e interativo

do pesquisador com os sujeitos do estudo.

Foram utilizadas as seguintes técnicas de coleta de dados: (A) livre evocação, (B)

entrevistas individuais semiestruturadas e (C) grupos focais. Cada uma das técnicas será

descrita a seguir, segundo seus aspectos teóricos, o objetivo e a forma como foram

desenvolvidas.

35

4.6.2 Procedimento de coleta de dados

Os sujeitos participantes desta etapa foram escolhidos de maneira aleatória por

meio do banco de dados da fase 1 do estudo, de acordo com a disponibilidade do indivíduo

para as datas propostas. Foram realizados contatos telefônicos prévios com os sujeitos

para marcação do encontro, sendo proposta uma agenda inicial pela pesquisadora,

contemplando cinco dias úteis para as entrevistas individuais e para a técnica da livre

evocação e duas datas para os grupos focais.

A coleta dos dados para todas as técnicas foi conduzida em uma Unidade Básica

de Saúde do município de Itabaiana, Sergipe, em ambiente privado e livre de

interferências (consultório ou sala de reuniões), durante o turno matutino. Antes de cada

sessão da entrevista individual semiestruturada e do grupo focal, foi solicitado aos

participantes a assinatura do termo de gravação de voz (APÊNDICE C).

(A) Técnica da Evocação Livre

A técnica de evocação livre incide em apresentar um termo de associação aos

sujeitos e solicitar que pronunciem as quatro primeiras palavras, expressões ou adjetivos

que relacionem a partir deste (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000). Possui

o objetivo de compreender a estrutura da representação do coletivo sobre determinado

tema, bem como distribuição e frequência dos termos evocados pelos sujeitos

(BARCELLOS et al., 2005).

A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora e mais duas entrevistadoras

treinadas previamente para a técnica. Inicialmente, foi esclarecido ao participante que a

entrevistadora diria uma frase e foi solicitado que o mesmo dissesse as quatro primeiras

palavras ou expressões que viessem a sua mente. Os participantes responderam à duas

questões: (1) “Considerando o dia-a-dia do seu trabalho como caminhoneiro, o que vem

na sua cabeça quando você pensa em ‘risco à saúde’? ”; (2) “Considerando o dia-a-dia do

seu trabalho como caminhoneiro, o que vem na sua cabeça quando você pensa em

‘cuidado com sua saúde’? ”.

Foi ofertado um tempo livre a cada indivíduo para que pudesse responder,

individualmente, a cada pergunta, e o pesquisador anotava na ficha cada palavra na

mesma ordem em que foi evocada. O pesquisador não pôde fornecer maiores informações

36

sobre o assunto além do que constava na ficha de avaliação. Caso o indivíduo tivesse

dúvida, o termo era repetido, respeitando o tempo proposto de resposta.

(B) Entrevistas Individuais Semiestruturadas

Consiste em técnica privilegiada de comunicação, destinada a construir

informações pertinentes para um objeto de pesquisa, sendo a estratégia mais utilizada no

processo de trabalho de campo em pesquisa qualitativa (MINAYO, 2010). A entrevista

semiestruturada deve ser direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto

geralmente por questões abertas, o qual permite uma organização flexível e possibilidade

de inserção de novos questionamentos à medida que as informações vão sendo ofertadas

pelos entrevistados (BELEI et al., 2008).

O roteiro semiestruturado elaborado para a entrevista (APÊNDICE F) contou com

duas questões que permitiram esclarecimento e aprofundamento de aspectos relevantes

para o estudo. A primeira questão abordou a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua

saúde, estabelecendo uma classificação numérica (de zero a dez) entre não saudável e

totalmente saudável. A segunda pergunta abordou a percepção do sujeito em relação aos

determinantes de saúde e suas condições de trabalho.

As entrevistas foram conduzidas pela pesquisadora em ambiente calmo e sem

interferências externas, com a gravação do áudio dos diálogos, os registros das linguagens

corporais e das interações.

(C) Grupos focais

Foram planejados dois grupos focais com os sujeitos disponíveis nas datas

propostas. Para ocorrer melhor interação para abertura e exploração do tema, a

metodologia recomenda grupos de indivíduos que possuem características semelhantes

ou aspectos em comum (FAGUNDES, 2013). Portanto, todos os convidados eram

caminhoneiros, classificados nos critérios de inclusão desse estudo.

A técnica de grupo focal consiste em reuniões com um pequeno número de

interlocutores podendo ser utilizado para subsidiar as entrevistas quando o pesquisador

destaca um tema que julgue importante aprofundar e o traz para o debate em grupo

(MINAYO, 2016). Segundo Fagundes (2013, pág. 52), "além de ser útil para investigar o

que os participantes pensam, o grupo focal é fundamentalmente importante para

37

desvendar por que pensam e como pensam", permitindo a formação de consonâncias

sobre o tema ou de discordâncias com as devidas argumentações.

O maior interesse era que os indivíduos debatessem sobre as questões relativas

aos cuidados com a saúde e a interação entre os determinantes de saúde e rotina de

trabalho. Deste modo, foi possível propiciar um maior aprofundamento tanto para o

estudo, quanto para os próprios participantes sobre o tema em questão.

Foram debatidas duas questões abrangentes, com inserção de questões

motivadoras, visando à saturação dos temas junto a esse subgrupo. Os objetivos

específicos relacionados foram considerados, sendo adicionados no decorrer do debate,

de acordo com a necessidade (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002), para que as

sessões fossem bem direcionadas (APÊNDICE G).

Para aqueles participantes que interagiram menos, questões motivadoras também

foram aplicadas, assegurando a oportunidade de falas para todos. Além de responder às

perguntas, os participantes puderam sugerir novos tópicos ou descrever condições que

apresentassem problemas, percepções, opiniões, experiências, necessidades, ideias e

observações.

O primeiro grupo foi dirigido pela coorientadora desse estudo e o segundo pela

pesquisadora, com a gravação do áudio dos diálogos e os registros das linguagens

corporais e interações realizado por uma observadora (estudante de graduação treinada).

Por questões logísticas e financeiras, não foi possível contar com a participação de dois

pesquisadores no segundo grupo focal.

Todos os cuidados foram tomados para captação das informações, segundo Cruz

Neto, Moreira e Sucena (2002), como assentos organizados em forma circular, utilização

de dois gravadores, escolhendo local mais apropriado para situá-los, realização de testes

antes do início da sessão, e certificação de material suficiente para anotar todos os pontos

relevantes do debate.

Inicialmente, a cada encontro, apresentaram-se aos participantes os objetivos da

pesquisa e a técnica do grupo focal, esclarecendo as dúvidas e criando um ambiente

favorável. Todos foram identificados, visando facilitar o contato do pesquisador e entre

os participantes durante o processo.

Foi enfatizado que era um momento de debate, sem necessidade de consenso, onde

divergências também eram positivas. Foi solicitada a participação de todos os presentes,

sendo uma conversa de caráter informal, onde poderiam ficar à vontade. Os instrumentos

38

referentes ao Comitê de Ética também foram cuidadosamente apresentados aos

participantes, com posterior solicitação do consentimento mediante assinatura.

4.6.3 Análise dos dados

Utilizou-se para este estudo a abordagem estrutural das RS, que, segundo

Nascimento et al. (2011, pág. 185), "exige a identificação empírica de elementos

nucleares e periféricos, bem como de um conjunto de informações diretamente

relacionadas a esses elementos". Para cada técnica de coleta, utilizou-se um tipo de

análise de dados.

A técnica de evocação livre foi analisada por meio do software EVOC®, que a

partir da análise prototípica (ou análise de evocações), permitiu a avaliação de evocações

por meio da verificação da frequência e da ordem média de evocação das palavras, com

posterior identificação da RS do coletivo sobre o tema. A análise prototípica implica que

as informações da representação social com relevância em sua estrutura são mais

prototípicos, isto é, mais inteligíveis à consciência (WACHELKE; WOLTER, 2011)

Para tanto, foram utilizadas as etapas recomendadas no software EVOC®:

construção da tabela de quatro quadrantes (representação da análise prototípica), que

possibilitou identificar o núcleo central (1º quadrante), os elementos intermediários (2º e

3º quadrantes) e o sistema periférico (4º quadrante) da RS desse coletivo. As palavras

foram organizadas previamente, agrupando as expressões semelhantes ou por

aproximação temática, com a finalidade de estabelecer as categorias de análise para a

descrição e compreensão das evocações (MANTOVANI et al., 2013).

Conforme Franco (2004, p. 174) “estudar uma RS é de início, e antes de qualquer

coisa, buscar os constituintes de seu núcleo central”, portanto, o conhecimento de um

conteúdo não é suficiente. Utilizando a Teoria do Núcleo Central direciona-se a atenção

às extensões cognitivas e estruturais das RS, onde o sentido e o arranjo interno da RS se

compõem em torno de um núcleo central determinante, conferindo solidez e sustentação

a essa representação e, principalmente, seu sentido (ABRIC, 2001).

O sistema periférico (ancoragem) também se configura como elemento

fundamental para o entendimento da RS. Segundo Franco (2004, pág. 175), a ancoragem

“se constitui na parte operacional do núcleo central e em sua concretização”, uma vez que

é assimilada de maneira individual e personalizada por parte de diferentes atores

representantes de grupos sociais distintos. Portanto “é o sistema periférico que permite a

39

elaboração de representações relacionadas à história e às experiências pessoais do sujeito”

(FRANCO, 2004, pág. 176).

Quanto ao tratamento dos dados para as entrevistas e grupos focais, ao final de

cada uma das sessões os dados foram ouvidos, com o intuito de averiguar a adequação do

áudio, a qualidade da gravação e se os objetivos tinham sido atingidos. As informações

gravadas tiveram dupla transcrição literal: uma pela pesquisadora e outra por uma

estudante de iniciação científica, com confrontamento dos dados.

A análise de conteúdo foi a técnica utilizada para as entrevistas individuais. Esta

é definida por um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que busca identificar

o sentido contido no texto (semântica) (CAMPOS, 2004). Segundo Fagundes (2013, pág.

55), "um dado sobre determinado conteúdo, por exemplo, é sem valor até que seja

vinculado a outro, produzindo inferências embasadas em pressupostos teóricos".

Para Campos (2004), a produção de inferências sobre o texto é o agente da análise

de conteúdo, conferindo relevância teórica ao método. Demanda fazer comparações, visto

que a informação meramente descritiva sobre o conteúdo é de pouca utilidade. Neste

estudo, as comparações e análises foram realizadas com base nas informações coletadas

na fase 1 e nos diferentes métodos qualitativos.

Dentre as modalidades da análise de conteúdo encontra-se a análise temática, que

consiste em encontrar os núcleos de sentido que arranjam o corpus do trabalho, cuja

presença ou frequência denotem algo para o objeto analítico estudado (MINAYO, 2010).

Inicialmente, ocorreu a pré-análise das transcrições, com leitura flutuante do texto

e constituição do corpus (conjunto de respostas). Em seguida, ocorreu a exploração do

material de pesquisa, obtendo a categorização das unidades de registro com posterior

classificação. Por fim, foi possível o tratamento dos resultados por meio das análises em

percentuais de frequência que os temas ocorreram dentro do corpus. Comumente, a

análise de conteúdo permite um tratamento quantitativo, como o cálculo de frequências e

percentagens, que não desvia a interpretação qualitativa e comporta estabelecer a

relevância dos elementos analisados (RICHARDSON, 1999).

A TRS possibilita identificar os diversos fatores psicológicos e socioculturais

envolvidos em muitos eventos em saúde. Esta possibilidade leva em consideração que o

desenvolvimento das RS se efetiva no momento em que as pessoas dialogam e debatem

entre si o seu cotidiano, seus mitos, sua herança histórica e cultural (FREITAS; SOUZA;

ARAÚJO, 2011).

40

Para a análise qualitativa do grupo focal foi utilizada a técnica do Discurso do

Sujeito Coletivo (DSC), de característica qualiquantitativa, proposta por Lefèvre e

Lefèvre (2012), por meio do software QualiQuanti Soft®. Esta metodologia foi capaz de

qualificar as ideias dos sujeitos entrevistados, fazendo emergir o semelhante e o diverso,

com possibilidades de generalizações a partir do compartilhamento e distribuição das

ideias do grupo (LEFÈVRE; LEFRÈVRE, 2012). Permitiu o resgate dos significados

deste grupo social, desejando-se saber o que pensam os atores sociais, os caminhoneiros,

acerca dos determinantes de saúde associados às características laborais e hábitos de vida.

A análise do DSC personaliza uma dada RS, permitindo descrevê-la de modo a ser

favorável aos resultados, fazendo com que auxilie de modo eficaz para a intervenção

social (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2014).

A metodologia exigiu o desenvolvimento de dois operadores para a formação dos

Discursos: as (1) Expressões-Chave (ECH), um ou mais trechos das respostas obtidas,

contínuos ou não, que contém a essência do depoimento de cada sujeito; e a (2) Ideia

Central (IC), que é mais concisa, formulando o sentido das ECH. A partir dessas

operações, realizadas no referido software, foi possível obter os discursos sínteses para

cada ideia central (LEFÈVRE; LEFRÈVRE, 2012).

A análise dos dois grupos foi realizada de forma congregada, atendendo a

recomendação do método e o pressuposto de conhecer a percepção desse coletivo a partir

das opiniões individuais. Para a tabulação dos dados, inicialmente foi lido o corpus,

posteriormente lida cada resposta em particular, com vistas a identificar as ECH e/ou as

IC, em seguida agrupadas às IC semelhantes em categorias, que foram nomeadas e, por

fim, construídos os respectivos discursos, no software QualiQuanti Soft® (LEFÈVRE;

LEFRÈVRE, 2012).

41

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a concepção do estudo (Figura 1), os resultados e discussão serão

apresentados na forma de capítulos, referentes às duas fases do estudo. Os artigos

submetidos constam em anexo.

5.1 Fase 1: Artigo 1

5.1.1 Caracterização sociodemográfica

A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes do

estudo.

Tabela 1: Características sociodemográficas dos caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).

X±DP1 Mediana Mínimo Máximo

Idade (anos) 44,5±11,3 44,0 25,0 75,0

Anos de estudo2 7,0±2,9 6,0 1,0 13,0

Renda Per Capita (Salários Mínimos) 1,2±1,2 0,8 0,2 10,6

Renda Mensal (Salário Mínimo) 3,1±1,8 2,5 0,6 10,6

1dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2foram considerados anos completos

Os caminhoneiros estudados tinham média de idade similar a encontrada em

outros estudos nacionais e internacionais (PYLKKÖNEN et al., 2015; CHEN et al., 2016;

GIROTTO et al., 2016) com predominância de adultos (87,7%; dado não apresentado em

tabela). Os dados apresentaram grande amplitude, entre 25 a 75 anos, expressando a

variação de idade dos caminhoneiros ativos do estado.

Trata-se de um público com baixa escolaridade, apresentando, em média, nível

escolar referente ao Ensino Fundamental incompleto (7,0±2,9 anos de estudo). A baixa

escolaridade foi corroborada por outros estudos, nacionais e internacionais, realizados

com motoristas de caminhão (MASSON; MONTEIRO, 2010; KNAUTH et al., 2012;

MAGNO; CASTELLANOS, 2016).

Em sua maior parte, tinham poucos dependentes (valor de média para situar),

caracterizando a configuração atual da maioria das famílias brasileiras (IBGE, 2010), com

apenas 10,3% morando sozinho (dado não apresentado em tabela). Quanto aos valores de

renda, apresentam um elevado desvio padrão, refletindo a ampla variação. A mediana de

42

renda mensal caracteriza a amostra como baixa renda (até três salários mínimos), em

contrapartida, ao se considerar a mediana de renda per capita acima de meio salário

mínimo a amostra encontra-se acima dessa classificação. Foram incluídos no estudo

caminhoneiros assalariados ou motoristas proprietários de seu veículo ou empresa de

transporte.

Alvarez-Galvez et al. (2013) apontaram a relevância dos fatores como renda,

educação e ocupação para explicar as diferenças nos estados de saúde dos indivíduos nos

países europeus. Para esses autores, as condições econômicas individuais são fatores

básicos que contribuem para um bom estado de saúde, mas a educação pode ser ainda

mais relevante para preservá-la. No Brasil, Pavão, Werneck e Campos (2013), baseados

em um inquérito de abrangência nacional, analisaram que possuir baixos níveis de

escolaridade e renda estavam entre os principais fatores associados à autoavaliação do

estado de saúde ruim. Indivíduos com maiores níveis de escolaridade tendem a adotar,

mais frequentemente, hábitos de vida saudáveis, como: a prática de atividade física, a

manutenção de peso adequado, o consumo moderado de álcool e o hábito de não fumar.

Em geral, os profissionais caminhoneiros começam a trabalhar ainda jovens,

abdicando dos estudos. Deste modo, são expostos, precocemente, aos riscos para a

ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV), doenças sexualmente transmissíveis

(DST), acidentes automobilísticos, ingestão de bebidas alcoólicas e uso de anfetaminas

(RUAS; PAINI; ZAGO, 2010). O comprometimento da capacidade de leitura e

interpretação pode limitar o acesso às informações, afetando negativamente o

autocuidado (RODRIGUES et al., 2012).

5.1.2 Determinantes de saúde relativos às condições de saúde e trabalho

A Tabela 2 descreve as condições de trabalho encontradas nessa população. De

modo geral, trabalham há muito tempo como motoristas, declarando percorrer,

rotineiramente, longas distâncias o que acarreta em horas insuficientes de sono durante a

jornada de trabalho, bem como, poucos dias por mês de folga em casa com a família. Os

desvios-padrão (DP) elevados mostraram, mais uma vez, a dispersão dos dados, relativos

tanto a profissionais que trafegavam em rotas regionais quanto os de rota longa.

43

Tabela 2: Condições de trabalho de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).

X±DP1 Mediana Mínimo Máximo

Tempo de profissão (anos)2 20,2±11,4 19,5 0,0 53,0

Tempo que dirige (horas/dia) 13,1±6,0 12,0 1,5 40,0

Tempo que dirige sem interrupção

(horas)

4,5±3,7 3,5 1,0 28,0

Distância percorrida (Km/dia) 790,4±725,6 700,0 70,0 5.500,0

Folga do trabalho (dias/mês) 11,1±8,1 8,0 1,0 30,0

Horas de sono (horas/dia) 6,1±2,2 6,0 0,0 12,0

n (%)1

Distúrbio do sono3 34 (23,3)

Se já usou drogas para inibir o sono4 106 (72,6)

Diariamente 34 (23,3)

Semanalmente 27 (18,5)

Mensalmente 9 (6,2)

Algumas vezes 1 (0,7)

Ex-usuário 35 (24,0)

Consumo de bebida alcoólica5 22 (15,1)

Diariamente 1 (4,5)

Semanalmente 3 (13,6)

Mensalmente 3 (13,6)

Não faz uso 15 (68,2)

1 dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2foram considerados anos completos 3 apnéia ou insônia 4 “rebite” ou cocaína 5relativos a alguma vez na vida durante jornada de trabalho

Merece destaque os valores máximos relativos ao tempo que dirigem e a distância

percorrida por dia. Para alguns caminhoneiros, o tempo e a distância que trafegam em um

dia se confundem com o tempo que é necessário ficar sem dormir, considerando “dia”

como o período entre os descansos, superando as 24 horas. Este fato pode estar associado

também ao considerável percentual de distúrbios do sono (23,3%), corroborado por

outros estudos (FERREIRA; ALVAREZ, 2013; SHARMA; GANGULY, 2014;

ZHANG; CHAN, 2014).

44

Percebe-se discrepância entre a jornada de trabalho observada e a Lei nº 13.103,

de 02/03/2015, conhecida como “Lei do Caminhoneiro”, que regulamenta o exercício da

profissão de motorista (BRASIL, 2015a). Esta lei normatiza a jornada de trabalho para

oito horas diárias e os períodos de descanso. A cada cinco horas e meia na condução do

veículo é obrigatório um momento para repouso e alimentação de 30 minutos.

Entende-se que o trabalho é um dos principais determinantes sociais da saúde. A

maneira de inclusão dos homens nos espaços de trabalho colabora, inevitavelmente, para

formas típicas de adoecimento, sendo assim, a saúde e a doença como processos

dinâmicos estão estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo

(BRASIL, 2002). Portanto, as ações de saúde do trabalhador devem contemplar as

relações saúde-trabalho em toda sua complexidade, focando em mudanças nestes

processos.

Relativo às questões da jornada de trabalho associadas aos distúrbios do sono,

observou-se que grande parte da população admitiu ter utilizado drogas para inibir o sono

(72,6%) no intuito de auxiliar no cumprimento de suas atividades laborais, apresentando

frequência elevada de uso. Os indivíduos também referiram utilizar essas substâncias com

média de anos de uso de 8,4±10,3, apresentando amplitude de zero a 50 anos (dado não

apresentado em tabela). Vale ressaltar que o “rebite”, nomenclatura popular para as

anfetaminas, foi relatado por todos os caminhoneiros entrevistados que admitiram o uso

de drogas inibidoras de sono.

O uso de anfetaminas é um achado frequente entre os caminhoneiros (LEYTON

et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2012; TAKITANE et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2015).

Nas rodovias brasileiras, tais substâncias são adquiridas com facilidade, sem receita

médica. Seu consumo tem sido relacionado a sérios problemas de saúde e acidentes de

trânsito (LEYTON et al., 2012).

As anfetaminas exercem efeito no Sistema Nervoso Central (SNC) estimulando o

trabalho em ritmo mais acelerado, fazendo com que o indivíduo dirija por mais tempo

que o normal, sem a necessidade da pausa, efeito entendido como uma vantagem pelo

condutor. Entretanto, o desempenho do motorista é reduzido à medida que a concentração

plasmática de anfetaminas diminui. Uma vez diminuído o efeito da substância, um

resultado do tipo “rebote” ocorre sobre o SNC, que submete a indução de depressão,

fadiga e sono (TAKITANE et al., 2013). Isto pode levar ao uso de doses sucessivas e

frequentes para manutenção do efeito estimulante, cuja associação com bebidas

alcoólicas se torna ainda mais deletéria.

45

Alguns caminhoneiros (15,1%) admitiram o consumo de bebidas alcoólicas

durante a jornada de trabalho. Presume-se que este baixo percentual seja reflexo, em

parte, de um avanço nas políticas públicas relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas

entre motoristas. A aprovação da Lei nº 11.705/2008, em consonância com a Política

Nacional sobre o Álcool, regulamenta a proibição da venda e do consumo de substâncias

psicoativas nas rodovias do país (BRASIL, 2008). Assim, pode ter havido, por parte dos

entrevistados, um sub relato mediante receio à consequência da subscrita lei.

Estudo de revisão sistemática revelou que o uso de substâncias psicoativas entre

caminhoneiros apresenta ampla variação: álcool (0,1-91,0%); anfetaminas (0,2-82,5%),

maconha (0,2-29,9%), cocaína (0,1-8,3%). Os autores concluíram que a frequência de uso

foi menor nos estudos que investigaram a presença dessas substâncias em amostras

biológicas do que naqueles baseados em autorrelato (GIROTTO et al., 2014). Os estudos

conduzidos com amostras biológicas necessitam da concordância para a coleta, o que

poderia implicar numa baixa adesão entre aqueles que estão sob efeito das substâncias.

Referente aos determinantes de saúde avaliados, os dados são apresentados na

Tabela 3.

Tabela 3: Determinantes de saúde de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).

n (%)1

Sobrepeso/Obesidadea 118 (86,8)

Obesidade abdominalb 99 (73,9)

Hiperglicemiac 12 (23,5)

Hipertrigliceridemiad 30 (57,7)

Colesterol total elevado (mg/dL)e 32 (64,0)

HDL-c reduzidod 14 (26,9)

LDL-c elevado (mg/dL)f 11 (22,9)

Pressão arterial sistólica elevadag 39 (46,4)

Pressão arterial diastólica elevadag 29 (34,5)

Sedentarismo2 109 (74,7)

Hábito de fumar 15 (10,3)

Ex-fumante 24 (16,4)

HDL-c, Lipoproteína de alta densidade; LDL-c, lipoproteína de baixa densidade. 1dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2prática de atividade física sendo considerada como mínimo de 30 minutos/dia pelo menos duas

vezes/semana an= 136; bn= 134;cn= 51;dn= 52;en= 50;fn= 48;gn= 84

46

Esta população se encontra, majoritariamente, em estado nutricional de sobrepeso

e obesidade, índice mais elevado do que a média da população brasileira (BRASIL,

2015b), no entanto, similar a outros estudos com caminhoneiros no Brasil (FERREIRA;

ALVAREZ, 2013; ALESSI; ALVES, 2015; MANSUR et al., 2015) e no mundo

(APOSTOLOPOULOS et al., 2013; SHARMA; GANGULY, 2014; ROSSO et al., 2015).

Fatores laborais foram associados ao aumento do sobrepeso e obesidade entre

caminhoneiros. Mansur et al. (2015) notaram associação entre sonolência e IMC elevado

entre 2.228 caminhoneiros nas rodovias brasileiras. Paris et al. (2013) mostraram que

existe uma tendência a obesidade entre aqueles que dormem menos de seis horas por

noite, possivelmente, por interferir no apetite e saciedade. Rosso et al. (2015)

relacionaram a obesidade entre condutores com a distância percorrida por ano, bem como,

o tempo gasto dirigindo por dia. Cavagioni e Pierin (2010) ressaltam que, em geral, esses

profissionais se alimentam em restaurantes, que na sua maior parte, ofertam alimentos de

alto valor calórico e baixo valor nutritivo.

Doenças debilitantes causadas pelo aumento da prevalência de sobrepeso e

obesidade e suas comorbidades podem afastar os trabalhadores da sua atividade laboral

temporária ou permanentemente (ARAÚJO et al., 2010). Deste modo, combater o

excesso de peso entre trabalhadores pode auxiliar na redução de afastamentos por licenças

médicas.

Evidenciou-se um contingente expressivo de obesidade abdominal nesse estudo

(73,9%), superando os achados de base populacional no Brasil (PINHO et al., 2013;

SIQUEIRA et al., 2015). Atualmente, é reconhecido que o tecido adiposo, sobretudo o

visceral, produz numerosos fatores secretores que influenciam diretamente tecidos

próximos ou remotos. O tecido adiposo visceral funciona como um órgão endócrino que

regula vários processos fisiopatológicos nas complicações da obesidade (OUCHI, 2016).

A gordura visceral, cujo indicador indireto é a circunferência da cintura, está associada a

resistência insulínica, HAS, DM, dislipidemias e outras alterações metabólicas

decorrentes da obesidade (CARVALHO et al., 2015).

As prevalências de PAS (46,4%) e PAD (34,5%) referem-se aos ponto de corte

para pré-hipertensão (PAS ≥ 121 mmHg e PAD ≥ 81 mmHg), pois entende-se que esta

circunstância já se configura como um risco à saúde, corroborado por estudo de base,

onde a prevalência de pré-hipertensão entre adultos foi de 36,1% (SILVA; PETROSKI;

PERES, 2012). Utilizando diagnóstico com medidas de PAS >140 mmHg e/ou PAD >90

mmHg, entre caminhoneiros no estado do Pará, 45,2% estavam hipertensos segundo

47

Sangaleti et al. (2014), e entre os condutores estudados por Cavagioni e Pierin (2010),

37% possuíam HAS. Mostrando que a presença de HAS é fortemente encontrada entre

indivíduos desta categoria, inclusive associada a fatores sociodemográficos,

antropométricos e ocupacionais (MOULATLET et al. , 2010).

Altas taxas de dislipidemia (45-63%) foram encontradas em estudos americanos

entre caminhoneiros, evidenciados na revisão proposta por Apostolopoulos, Lemke e

Sonmez (2014). O perfil lipídico é um marcador importante no prognóstico de DCV e

este, se define através das dosagens séricas CT, TG, LDL-c e HDL-c. Aumento das

dosagens séricas de CT, TG e do LDL-c, associado com a redução dos níveis de HDL-c,

constituem elevado fator de risco para o desenvolvimento de DCV.

Relativo à atividade física, 74,7% referiram ser sedentários. Destaca-se que os

fisicamente ativos nesse estudo foram caracterizados pela prática de algum tipo de

atividade física, nos últimos seis meses, por pelo menos 30 minutos, duas vezes por

semana. Este critério foi adotado de estudo prévio, referente a avaliação da prevalência

de risco cardiovascular entre caminhoneiros no sul do país, que encontrou 72,8% de

motoristas sedentários (SANGALETI et al., 2014).

É reconhecido o benefício atrelado à prática regular de atividade física

concomitante a uma adequada alimentação para o controle de peso e, consequentemente,

prevenção de DCNT e promoção de hábitos de vida saudáveis (ROCHA-BRISCHILIARI

et al., 2014). No entanto, Masson e Monteiro (2010), evidenciaram que a rotina laboral e

as condições exaustivas de trabalho desses profissionais foram fatores limitantes para tais

práticas saudáveis. Marqueze, Ulhôa e Moreno (2014) afirmam que a atividade física de

lazer de nível moderado é insuficiente para atenuar o aumento do IMC quando associado

ao tipo de trabalho irregular em motoristas de caminhão. Alegaram também que o IMC

elevado foi associado a níveis altos de leptina e reduzidos de grelina nesta categoria

profissional com turno irregular, estimulando o apetite e favorecendo a obesidade.

O tabagismo teve baixa frequência (10,3%), embora tenham sido encontradas

elevadas médias relativas aos anos que fuma (26,4±16,2) e números de cigarro por dia

(16,6±9,2), dados não apresentados na tabela. Valores similares foram encontrados em

estudo de base populacional e em avaliação de tendência temporal relativo ao uso do

tabaco, ambos conduzidos no Brasil (MALTA et al., 2013; MALTA et al., 2015).

O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo e desenvolve ações por

meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco de

Câncer (PNCTOFR), executado pelo Mistério da Saúde. Silva et al. (2014) realizaram

48

uma avaliação identificando as evidências da eficácia dessa política na redução da

prevalência do tabagismo no Brasil. A restrição da disponibilidade, controle do marketing

e comercialização, atividades educativas nas escolas, atendimento na atenção primária à

saúde a profissionais da área e à população em geral, controle do consumo em locais

públicos e de trabalho são algumas das ações que contribuíram para esta redução.

O tabagismo aumenta o risco para mais de 25 doenças, incluindo as DCV. O

hábito de fumar é apontado como fator negativo no controle de hipertensos, no

desconhecimento do diagnóstico de HAS e na interrupção do uso de medicamentos anti-

hipertensivos (MALACHIAS et al., 2016).

Fica evidente a grande perda amostral relativa aos exames bioquímicos neste

estudo, realizados apenas por 14,4% da totalidade. Este comportamento reflete as

características de baixa adesão discutidas entre caminhoneiros e no público masculino,

como também pelo receio de realizar os exames laboratoriais devido ao uso de substâncias

estimulantes.

Em relação a presença autorreferida de problemas de saúde, prevaleceram a HAS

(13,0%) e o DM (8,2%) (dados não apresentados em tabela), similar a outros estudos com

caminhoneiros (CAVAGIONI; PIERIN, 2010; GUEDES et al., 2010; MOULATLET et

al., 2010; TAKITANE et al., 2013; SANGALETI et al., 2014; SHARMA; GANGULY,

2014). Corroboraram ainda com estudo de prevalência de base populacional que indicou,

na capital sergipana, 22,9% de hipertensos e 7,2% de diabéticos, também utilizando dados

autorreferidos (BRASIL, 2015b).

Girotto et al. (2016) encontraram um percentual maior de autorrelato de problemas

de saúde (63,3%) entre caminhoneiros, no entanto esse índice elevado em grande parte

referiu-se à dor crônica em braços, pernas ou costas (35,6%). O questionário do presente

estudo não deixou explícita a opção para relato desse tipo de problema de saúde.

Destaca-se o elevado percentual dos caminhoneiros que afirmaram desconhecer a

presença de algum problema de saúde (26,7%), indicando que os indivíduos não haviam

realizado nenhum tipo de exame clínico e/ou consulta médica recente que o permitisse

deter esta informação. Ressalta-se a subnotificação usualmente ocorrida em casos de

diagnósticos autorreferidos, pelo não entendimento da própria condição ou opção por não

relatar a doença.

O desconhecimento com relação à presença de DCNT pode estar associado a

baixa escolaridade. Arokiasamy et al. (2017) evidenciaram que na China, Gana, Índia,

México, Rússia e África do Sul, níveis menores de escolaridade determinaram maiores

49

probabilidades de existência de condições clínicas não diagnosticadas e não tratadas,

associadas às DCNT. A precisão das estimativas de prevalência autorrelatadas é

influenciada pelo conhecimento sobre saúde, acesso a cuidados de saúde e fatores

culturais.

As condições de saúde de um indivíduo ou população estão ligadas com a

qualidade do acesso aos serviços de saúde (VIACAVA; BELLIDO, 2016). Ao longo do

tempo, o conceito de acesso à saúde tornou-se mais complexo, incorporando outros

elementos além do acesso físico, podendo ser determinado pelo contexto socioeconômico

e cultural em que o indivíduo está inserido (SANCHEZ; CICONELLI, 2012).

Almeida et al. (2013) revelaram a presença de desigualdades no acesso aos

serviços de saúde no país, embora tenha ocorrido uma redução nos últimos anos. A

utilização de plano de saúde privado, a educação e a renda são os principais contribuintes

para as desigualdades identificadas. Essas disparidades foram mais evidentes para

cuidados preventivos, onde indivíduos com menores rendas procuraram menos os

cuidados preventivos em relação aos mais ricos.

A literatura demonstra que os caminhoneiros encontram dificuldades para o

acesso à saúde, o que pode refletir em níveis mais baixos de prevalências das DCNT

autorrelatadas (GUEDES et al., 2010; MASSON; MONTEIRO, 2010; GIROTTO et al.,

2016). Dentre as barreiras para o acesso aos serviços de saúde são referidas: rotina de

trabalho, a falta de tempo entre viagens e a dificuldade de se locomover com o caminhão

dentro das cidades. Ademais, o público masculino possui menor adesão aos serviços e

ações de saúde devido às questões socioculturais e institucionais (MACHIN et al., 2011).

De modo geral, para os homens a enfermidade é avaliada como um sinal de fragilidade,

tendo dificuldade de reconhecê-la como intrínseca à sua própria condição biológica. O

homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que cuide menos de si

mesmo (BRASIL, 2009).

Referente ao uso regular de medicamentos os mais citados pelos caminhoneiros,

assim como pela população em geral, foram os anti-hipertensivos e antidiabéticos orais.

Importante salientar que os tratamentos de doenças crônicas possuem, em geral, menor

adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem a tomada de medicamentos de uso

contínuo (BRASIL, 2009).

50

5.1.3 Escolhas alimentares

A Tabela 4 apresenta questões que permitiram aos entrevistados demonstrarem

suas percepções relativas às escolhas alimentares adequadas. Os resultados retrataram que

os motoristas de caminhão, de modo geral, estavam em concordância com a escolha de

bons hábitos alimentares.

Dentre as respostas, merecem destaque as que obtiveram maiores percentuais de

discordância (questão 01 e 02). Este resultado demonstrou que parcela significativa dos

motoristas não pensa na saúde ou no peso quando escolhem os alimentos que irão comer.

Entre as questões que obtiveram maiores percentuais de concordância, versam sobre a

identificação do teor de gordura dos alimentos (questões 03 e 05) e sobre opções de

escolha dos alimentos nos restaurantes da estrada (questões 06 e 07). Percebe-se que

parcela significativa gostaria que os produtos menos gordurosos fossem identificados

como tal e que os restaurantes da estrada oferecessem melhores opções de alimentos.

Com mediana de resposta abaixo de cinco, a questão 08 aborda sobre a

palatabilidade dos alimentos menos gordurosos. Dentre os caminhoneiros, 25,4%

possuem algum nível de discordância sobre o fato dos alimentos com menos gordura

serem saborosos.

Jacobson, Prawitz e Lukaszuk (2007) utilizaram o Food Choices Index entre

caminhoneiros e também encontraram escores altos, independente da classificação

antropométrica, indicando uma maior percepção da importância das escolhas alimentares

adequadas. Entretanto, os autores observaram uma contradição quando constataram que

os motoristas tinham um consumo abaixo do recomendado para frutas e verduras.

Comentam que este achado pode ser explicado por diversos fatores: escassez de frutas e

vegetais oferecidos em restaurantes na estrada, falta de conhecimento nutricional,

aumento dos preços de produtos frescos ou percepções de que esses alimentos têm baixa

palatabilidade.

51

Tabela 4: Escolhas alimentares entre caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).

Discordo

totalmente

(1)

Discordo

em parte

(2)

Nem discordo

nem concordo

(3)

Concordo

em parte

(4)

Concordo

totalmente

(5)

Mediana

de resposta

n (%)1

1 Você pensa na sua saúde quando escolhe os

alimentos que vai comer.

43 (29,5) 2 (1,4) 2 (1,4) 17 (11,6) 82 (56,2) 5,0

2 Você pensa no seu peso quando escolhe os

alimentos que vai comer.

56 (38,4) 3 (2,1) 3 (2,1) 17 (11,6) 67 (45,9) 4,0

3 Se as informações da quantidade de gordura dos

alimentos estivessem disponíveis, você

consideraria essa informação para escolher os

alimentos com menos gordura a

20 (13,8) 1 (0,7) 4 (2,8) 8 (5,5) 112 (77,2) 5,0

4 Comer alimentos saudáveis é importante para

você.a

1 (0,7) 2 (1,4) 4 (2,8) 7 (4,8) 131 (90,3) 5,0

5 Você gostaria que os alimentos com pouca

gordura fossem rotulados para que você

soubesse identificá-los.b

10 (6,9) 2 (1,4) 3 (2,1) 7 (4,9) 122(84,7) 5,0

6 Os restaurantes da estrada deveriam ter mais

opções de alimentos saudáveis, com pouca

gordura.b

2 (1,4) 1 (0,7) 7 (4,9) 4 (2,8) 130 (90,3) 5,0

7 Se tivesse mais opções de alimentos com pouca

gordura nos restaurantes da estrada, você

escolheria estes alimentos.a

8 (5,5) - 6 (4,1) 3 (2,1) 128 (88,3) 5,0

8 Você acha que alimentos com pouca gordura

são gostosos.

28 (19,2) 9 (6,2) 12 (8,2) 31 (21,2) 66 (45,2) 4,0

1dados apresentados em frequência absoluta e relativa [n(%)] a n= 145; b n= 144

52

O padrão alimentar é um fator preponderante, com influência direta na saúde dos

caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde

em médio e longo prazo (MASSON; MONTEIRO, 2010). Devido às dificuldades relatadas, a

alimentação dos motoristas caminhoneiros é baseada nos restaurantes das estradas, nos quais,

em sua maioria, são ofertadas preparações desbalanceadas nutricionalmente, ricas em gordura

saturada, açúcar e sódio limitando a oferta de alimentos necessários para um padrão adequado

(ALESSI; ALVES, 2015; HAMILTON; VAYRO; SCHWARZER, 2015).

Estudo realizado também com caminhoneiros, mostrou que esse público admite que o

consumo de gordura saturada, sal e açúcar em excesso e o estilo de vida sedentário são

prejudicais à saúde. Mas a acessibilidade, disponibilidade e tempo para a compra de alimentos

adequados são as maiores dificuldades referidas (MCDONOUGH et al., 2014).

Segundo Jomori, Proença e Calvo (2008, p. 67) “os motivos da escolha e das práticas

alimentares são justificados por diversas variáveis, inseridas em uma ordem lógica, que

escapam à consciência do indivíduo”, submergindo um processo complexo que envolve fatores

socioculturais e psicológicos. A múltipla perspectiva do processo de escolha alimentar existe

em três grandes componentes: o curso de vida, as influências e o sistema pessoal. Neste, os

recursos disponíveis, a estrutura social e o contexto alimentar formam umas das bases para as

influências no momento da escolha alimentar, demonstrando, desse modo, a relevância da

relação socioeconômica e cultural com o ato de comer (JOMORI; PROENÇA; CALVO, 2008).

A ambiguidade demonstrada pelo momento da escolha alimentar é comum ao perfil do

comensal contemporâneo, demonstrado por Fonseca et al. (2011), em que o alimento continua

tendo sua função fisiológica, no entanto com o disfarce de novos sentidos. O indivíduo moderno

procura realizar a escolha ideal para o seu consumo alimentar, preocupando-se com uma

alimentação saudável e com a composição nutricional daquilo que ingere. Ademais, os autores

demonstram que o tempo disposto para alimentar-se influencia o consumo de alimentos no

contexto da vida moderna, onde a “competitividade imposta pelo mercado e a fragilidade dos

vínculos de trabalho levam a uma nova organização do tempo e à eleição de prioridades”

Entendendo que a conformação da categoria profissional em questão implica em extensos

períodos longe do lar, alimentando-se fora do domicílio, o que determina a adesão a um padrão

alimentar de risco. Bezerra et al. (2016) constataram, em artigo de revisão, diversas

características da alimentação fora do domicílio que contribuem para o ganho excessivo de peso

como: a elevada densidade energética, o elevado teor de gorduras e açúcares, baixo conteúdo

de fibras e cálcio, grandes porções de alimentos altamente palatáveis e ofertados em grande

variedade e o consumo elevado de refrigerantes e doces.

53

A literatura aponta também que os ambientes de trabalho podem ter influência sobre as

dietas dos adultos. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas

horas de vigília no trabalho e consomem uma proporção substancial de calorias diárias em

ambientes de trabalho e nas mediações (LARSON; STORY, 2009). Portanto, as escolhas e

comportamentos alimentares são influenciados pela disponibilidade de alimentos no local de

trabalho e vizinhança, políticas de local de trabalho, apoio organizacional para programas de

saúde e normas sociais entre colegas de trabalho (LARSON; STORY, 2009).

Estudos mostram a influência do trabalho por turnos (diurno e noturno) na qualidade da

alimentação ingerida, principalmente à noite (NEA et al., 2015; BONHAM; BONNELL;

HUGGINS, 2016; BONNELL et al., 2017). A atividade laboral de grande parte dos

caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por longos períodos, usualmente a noite, com reduzido

tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder 12h.

Em revisão narrativa sobre os efeitos do trabalho por turnos sobre o estilo de vida e o

risco para a saúde dos trabalhadores, Nea et al. (2015) mostraram que, embora a ingestão total

de energia não pareça ser afetada, o trabalho contínuo pode ter um impacto na qualidade da

dieta. Foram observadas alterações na ingestão de macronutrientes após o início do trabalho

por turnos, tais como: o aumento da ingestão de gorduras saturadas e diminuição das

poliinsaturadas e fibra alimentar.

Bonham, Bonnell e Huggins (2016) publicaram uma revisão sistemática com meta-

análise de 12 estudos, incluindo 10.367 trabalhadores diurnos e 4.726 trabalhadores por turnos

(diurno e noturno). Concluíram que os consumos energéticos relatados não foram diferentes

entre os trabalhadores, sugerindo que outros fatores como o desalinhamento circadiano, o tempo

de refeição, a escolha de alimentos e a variação do metabolismo energético à noite podem ser

responsáveis pelo aumento das taxas de obesidade observadas nos indivíduos que também

trabalham durante esse período.

Bonnell et al. (2017) compararam as escolhas alimentares de bombeiros australianos

trabalhadores de turno durante o dia versus o turno da noite, utilizando métodos qualitativos

(grupos focais) e quantitativos (recordatório alimentar de 24h). A análise temática destacou

como determinantes da ingestão dietética: horário de turnos; atitudes e decisões de colegas de

trabalho; tempo e acessibilidade; e conhecimento da relação entre alimentação e saúde.

Relataram consumir mais alimentos arbitrários e disponibilidade limitada de escolhas

alimentares saudáveis aqueles trabalhadores do turno da noite. A ingestão de energia não diferiu

entre os dias que incluíram um turno diurno ou noturno, mas a maior densidade energética da

dieta foi observada no turno noturno.

54

Essas questões procuram elucidar as influências do contexto de um grupo social,

incluindo seu ambiente de trabalho, podendo caracterizar uma escolha alimentar. Deste modo,

não se pode excluir a corresponsabilização nesse contexto dos empregadores e do poder público

os quais devem melhorar o acesso a alimentos adequados para os motoristas, indivíduos

vulneráveis a padrões alimentares de risco.

5.2 Fase 2: Artigos 2 e 3

5.2.1 Artigo 2: Evocação e Grupos Focais

Para a técnica da evocação livre participaram 29 caminhoneiros, com idade entre 33 e

75 anos e média de 50,8±11,4, com mais de dez anos de profissão, de rotas curta ou longa

distância, e escolaridade de 6±2,8 anos de estudo.

Os relatórios obtidos pelo software EVOC® forneceram dados relativos à frequência (f)

e à Ordem Média de Evocação (OME), computando um total de 146 palavras evocadas como

respostas para os termos de associação ‘risco à saúde’ (79) e ‘cuidado com a saúde’ (67). As

evocações foram agrupadas conforme processo de lematização (tratamento de equivalência).

Devido ao número da amostra, foram incluídas todas as palavras evocadas, independente da sua

frequência de evocação.

Se cada participante conseguisse expressar as quatro palavras solicitadas, seriam 116

evocações para cada termo de associação. O quantitativo reduzido de palavras evocadas

demonstra que o coletivo apresentou dificuldade de expressar as suas percepções quanto às

questões alusivas à saúde.

Referente ao grupo focal, os participantes tiveram idade entre 31 e 54 anos e média de

idade de 41(±8), com mais de quatro anos de profissão, predominantemente viajando por longa

distância (média de 817km/dia), e escolaridade variando de 5 a 12 anos de estudo.

Foram realizados dois grupos focais, com tempo médio de duração das sessões de uma

hora. No total compuseram os grupos nove caminhoneiros, participantes das fases anteriores

desse estudo, sendo o primeiro com cinco participantes e o segundo com quatro. Embora não

exista consenso na literatura sobre o quantitativo de integrantes para a realização de grupo focal

(KIND, 2008), ressalta-se a dificuldade de conseguir agendar um horário em comum entre os

profissionais, tendo em vista as características dessa população de ficar pouco tempo em casa,

não possuindo dias pré-determinados de folga, além do encontro ser marcado em horário

comercial, de acordo com o funcionamento da unidade básica de saúde, local dos encontros.

55

Risco à saúde

A análise prototípica que caracteriza a estrutura da RS a partir do termo de associação

“risco à saúde” encontra-se na Tabela 5. Sem casos omissos, houveram 79 menções para a

indagação. Alusivo aos pontos de corte para as coordenadas dos quadrantes, foi empregado o

critério da ordem de evocação de 1,5 e para o critério de frequência, optou-se por considerar a

mediana da frequência de 3,0.

Tabela 5: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘risco à saúde’ pelos caminhoneiros

do estado de Sergipe (n=29)

f ≥ 3,0

OME < 1,5

1º quadrante

f ≥ 3,0

OME ≥ 1,5

2º quadrante

Evocações f OME Evocações f OME

Prevenção 3 1,3 Álcool e drogas 18 2,8

Acidente 10 2,1

Gordura 10 1,7

Adoecimento 09 2,0

Sono 06 3,5

Má alimentação 05 2,0

Fumo 04 2,2

Estresse 03 2,6

Assalto 03 2,3

f < 3,0

OME < 1,5

3º quadrante f < 3,0

OME ≥ 1,5

4º quadrante

Açúcar; DST;

Excesso de trabalho;

Sedentarismo

02

2,0 Nenhuma palavra

presente

f: frequência de evocação; OME: Ordem Média de Evocação.

DST= Doenças Sexualmente Transmissíveis.

No primeiro quadrante, que corresponde ao Núcleo Central da TRS, observa-se que os

sujeitos tiveram como identidade coletiva a palavra ‘prevenção’. As palavras evocadas ‘álcool

e drogas’, ‘acidente’ e ‘gordura’, no entanto, embora não façam parte do núcleo central por

terem sido pronunciadas mais tardiamente, merecem atenção adentrando a primeira periferia

(2º quadrante). Tais evocações podem estar relacionadas ao risco laboral, emergindo também

nas discussões dos grupos focais, referente a relação entre profissão e saúde, obtendo o maior

número de respostas entre as questões propostas (Figura 3).

56

Figura 3: Frequência (%) das categorias da pergunta “qual a relação

entre a profissão de caminhoneiro e a saúde? ”

No que diz respeito à alimentação, eles referem que a qualidade depende da região do

país que estão rodando (qualidade dos restaurantes nas rodovias), sendo, muitas vezes, os únicos

disponíveis. Acrescentam que:

DSC.3.A. Nem todos os alimentos por aí é saudável igual a comida em

casa. Depende da rota e do horário que gente chega nos lugares. Então

você roda para poder você chegar num lugar e dá certo e mesmo assim

não é o adequado, mas cê tem que comer aquilo mesmo. Se tá com a

carga de horário almoça que nem mastiga, come em pé no balcão.

Muitas das vezes você passa fome porque não tem onde comer.

Diversos estudos apontam para a má qualidade da alimentação entre caminhoneiros.

Alessi e Alves (2015) mostraram que, em geral, os caminhoneiros de rota de longa distância se

alimentam em restaurantes à beira das estradas, com oferta de alimentos de alto valor calórico

e baixo valor nutritivo, assim como calorias vazias, provenientes, especialmente, através do

consumo de álcool. Ademais, a grande maioria dos motoristas prepara a comida em local

adaptado como cozinha na parte externa do caminhão, notando-se uma composição de refeições

simples e sem variedade, além do pouco tempo para as refeições.

Muito além de uma atitude biológica, a alimentação assume também um comportamento

cultural, onde “as escolhas alimentares estão relacionadas às possibilidades de alimentos

disponibilizados pelo meio e ao potencial técnico que possuem” (LIMA; FERREIRA NETO;

FARIAS, 2015, p. 508). Os caminhoneiros identificam as dificuldades e diferenças na

29,1%

33,3%

25,0%

12,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

Alimentaçãoruim na estrada

Estressecausando

desgaste físico emental

Sono e descansoinsuficiente

Uso de drogas

57

comensalidade do seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto traz precárias condições

para alimentar-se tranquilamente.

A realização de refeições fora do domicílio se associa com menor qualidade da dieta,

incluindo baixo consumo de frutas, verduras e grãos integrais. Esse tipo de alimentação também

costuma possuir elevada densidade energética e teor de gorduras e açúcares, baixo conteúdo de

fibras e cálcio, grandes porções de alimentos altamente palatáveis e ofertados em grande

variedade e o consumo elevado de refrigerantes e doces (BEZERRA et al., 2016). Estas

características descritas contribuem para o ganho excessivo de peso e, consequentemente, para

o aumento de DCNT nos indivíduos.

A palavra evocada ‘acidente’ pode se relacionar com algumas falas nos grupos sobre

desgaste físico e mental, pois quanto maior o cansaço maiores as chances de envolver-se em

incidentes de trânsito (LEYTON et al., 2012; CHEN; XIE, 2014; DABRH et al., 2014).

Para os caminhoneiros, o ofício causa esgotamento devido às preocupações inerentes à

profissão, como o tipo rota, fiscalizações, compromisso da entrega das cargas e situação do

caminhão.

DSC.3.B. A nossa profissão dá desgaste da nossa saúde. Tem que tá ali

atento a tudo. Tem que trabalhar consciente que tá com uma ferramenta

de trabalho que é caro, com o compromisso de levar a mercadoria

intacta, a preocupação de arrumar outra carga, se preocupar em si e com

os outros, com os guarda, com o pneu... O estresse é muito alto. É a vida

de caminhoneiro.

A atuação dos motoristas de caminhão é marcada por uma organização do trabalho

cansativa e estressante, considerado como origem de adoecimento físico e mental (BEZERRA,

et al., 2016). O estresse contribui de forma independente para as patologias do sistema

cardiovascular, exacerba a angústia associada a esses problemas e impede o progresso para um

estilo de vida mais saudável (STULTS-KOLEHMAINEN, 2013).

Ademais, para os entrevistados, a ausência de repouso adequado mostra-se como

característica, sobretudo, para os que dirigem em longos trechos, podendo gerar mais estresse

e desânimo.

DSC.3.C. Dormir pôco não faz bem. Para quem roda longe dormir nós não

dorme não. Você passa muito tempo sentado, dorme em banco sentado. Cê

desanima mais também, estressa mais. Eu cansei de dormir na direção quando

parar para abastecer, mas com vinte minutos eu tocava novamente.

58

Ainda que ‘álcool e drogas’ tenha sido o termo mais evocado para ‘risco à saúde’, essa

questão emergiu de forma tímida durante os grupos. Mesmo entendendo que o ‘arrebite’

(sinônimo para ‘rebite’, anfetamina utilizada como estimulante) prejudique a saúde, eles

acreditam que seu uso é legitimado porque é necessário para “chegar em casa”, ou seja, para

fins laborais.

DSC.3.D. Eu acho que de tudo (o pior) ainda é o arrebite. O arrebite é

uma droga igual a cachaça, faz mal demais. Mas a gente usa arrebite é

pra chegar em casa que ninguém gosta de ficar drogado não. Quando

nós está com dor de cabeça aí toma arrebite.

Outros estudos com caminhoneiros destacam a rotina da profissão marcada por

distúrbios do sono e abuso de substâncias estimulantes (KNAUTH et al., 2012; GIROTTO et

al., 2014; GIROTTO et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2015). A conjuntura do ambiente de

trabalho é fator que deve ser levado em consideração porque se configura como um

determinante social que exerce influência sobre as condições de saúde do indivíduo (BUSS;

PELEGRINE FILHO, 2007). Para os entrevistados, a dimensão do desgaste relatado pode ser

explicada pela fadiga crônica ligada ao estresse que as atividades laborais impõem, levando ao

uso de álcool e drogas para alívio e cumprimento dos prazos.

Cuidados com a saúde

Relativo ao ‘cuidado com a saúde’ a análise prototípica está expressa na Tabela 6.

Exceto por um indivíduo que não conseguiu evocar nenhuma palavra, houve 67 evocações.

Para determinação do ponto de corte para OME, foi empregado o mesmo critério para o termo

indutor anterior. Referente ao critério de frequência, optou-se por considerar a mediana da

frequência de 3,0.

59

Tabela 6: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘cuidado com a saúde’ pelos

caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29)

f ≥ 3,0

OME < 1,5

1º quadrante

f ≥3,0

OME ≥ 1,5

2º quadrante

Evocações f OME Nenhuma palavra presente Alimentação saudável 21 1,6

Descanso 14 2,6

Evitar álcool 09 2,7

Prevenção 07 1,8

Atividade física 05 2,4

f < 3,0

OME < 1,5

3º quadrante

f < 3,0

OME ≥ 1,5

4º quadrante

Família 03 2,3

Nenhuma palavra presente Evitar drogas; sossego 02 3,0

Não fumar 02 2,0

Viver mais 02 1,5 f: frequência de evocação; OME: Ordem Média de Evocação.

O Núcleo Central constitui elemento importante da RS e é determinado a partir da

natureza do objeto ou pelo tipo de afinidade existente entre este e o grupo social, estabelecendo

um sistema de valores e normas que particularizam a forma de pensar e agir do grupo social

(ABRIC, 2001).

A ausência de núcleo central “desestruturaria a representação ou daria uma significação

completamente diferente à representação em seu conjunto” (ABRIC, 2001, p. 163). Portanto,

nesse grupo, existe uma relação enfraquecida no que se refere aos cuidados à saúde. No entanto,

nota-se através dos discursos nos grupos focais, que os caminhoneiros apresentam

determinantes que dificultam tais cuidados, tanto por questões individuais quanto

socioculturais.

No 2º quadrante, elementos periféricos mais importantes da representação estudada, a

palavra ‘alimentação saudável’ foi a que apresentou maior frequência, seguida de ‘descanso’ e

‘evitar álcool’, mostrando que atitudes que se referem à promoção da saúde e prevenção de

doenças são importantes no cuidado.

As falas dos caminhoneiros durante os grupos focais reforçam o que se encontra no 2º

quadrante, ao serem questionados sobre o entendimento por ‘cuidados com a saúde’. Emergiu

do debate questões referentes à desmotivação pessoal quanto ao autocuidado, dificuldade do

acesso à saúde, e alguns exemplos de cuidados à saúde, conforme Figura 4.

60

Figura 4: Frequência (%) das categorias da pergunta “o que vocês entendem por

cuidados à saúde? ”

Conforme apresentado no discurso a seguir, os caminhoneiros alegam que apenas

procuram o serviço de saúde quando realmente precisam, conotação da doença instalada, sem

a prevenção que apareceu nas evocações.

DSC.1.A. Mas de vez em quando cuido sim, vai ficando mais velho,

vai cuidando. Mas eu para falar a verdade atualmente nada. Falta de

esforço mesmo da gente, por falta de tempo. Quando adoece é que

procura. Que a gente se acomoda um pouco ao chegar em casa.

Caminhoneiro só vai para o médico quando tá ruim.

O autocuidado sendo deixado para segundo plano é achado comum em outros estudos

entre motoristas (MASSON; MONTEIRO, 2010; KNAUTH et al., 2012). Essa é característica

presente entre os homens de modo geral, cuja resistência à busca dos serviços de saúde pode

ser influenciada pelas barreiras institucionais e socioculturais (SIQUEIRA et al., 2014). Gomes

et al. (2007) encontraram como motivos para a baixa procura dos homens por serviços de saúde:

a representação do cuidar como tarefa feminina, as questões relacionadas ao trabalho, a

dificuldade de acesso aos serviços e a falta de unidades especificamente voltadas para a saúde

do homem.

Pautada pela perspectiva de gênero, os homens frequentemente podem se afastar das

características consideradas femininas, dentre elas o cuidado, nas conjunturas sociais onde ao

ser masculino são atribuídos os quesitos referentes ao poder, sucesso e força (GOMES, 2008).

Deste modo, eles somente procuram o serviço nas situações de intercorrências graves ou quando

se veem incapacitados de exercer a atividade laboral, não podendo desempenhar seu papel de

provedor, aumentando a vulnerabilidade aos problemas de saúde (MOURA et al., 2014).

Pesquisa qualitativa com relatos de experiências de saúde do homem na atenção

primária, demonstrou que a captação do usuário masculino passa pelas trocas sociais,

encontrando novamente o vínculo como um meio promotor de saúde ou de cuidado à saúde.

44%

31%25%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Desmotivação com oautocuidado

Acesso ao serviço de saúde Definição de cuidados àsaúde

61

Garantias de retorno, agendamentos e oferta de exames tornam-se artifícios de contentamento

com os serviços prestados (MOREIRA; GOMES; RIBEIRO, 2016). O longo tempo de espera

é tratado pelos profissionais de saúde como agravante ao problema do absenteísmo masculino,

sendo a agilidade do atendimento uma das estratégias para aumentar a adesão (MOREIRA;

GOMES; RIBEIRO, 2016).

Na tentativa de melhorar esta realidade, em 2009 foi criada a Política Nacional de

Atenção à Saúde Integral do Homem, por meio da Portaria GM/MS nº 1.944. Esta política

orientou a articulação de diretrizes e ações constituídas essencialmente para a atenção integral,

visando a prevenção e promoção da saúde, a qualidade de vida e a educação, como eixos

estratégicos para o estímulo às mudanças de hábitos (BRASIL, 2009).

Medrado, Lyra e Azevedo (2011) apresentam princípios e diretrizes, originalmente

publicados pela Rede de Homens pela Equidade de Gênero, que consideram fundamentais para

a formulação de políticas de atenção integral aos homens. Dentre estas, destacam-se: a

importância de se reconhecer que as necessidades dos homens em relação à saúde não se

limitam aos males da próstata ou outras enfermidades; os serviços de saúde precisam acolher

as necessidades, não apenas responder as demandas; e é preciso ir onde os homens estão,

desenvolvendo estratégias aos espaços coletivos.

Outro discurso também reforçou as dificuldades para o acesso ao serviço de saúde,

principalmente quando estão trabalhando. Entretanto, para os participantes dessa pesquisa, a

melhoria desse acesso é vislumbrada quando se encontram em uma estrada privatizada, uma

vez que garante um ponto de apoio para o cuidado quando existe a necessidade extrema de

saúde.

DSC.1.B. Com dificuldade mais consegue na rede pública. Mas tem

muita falta de acesso. Na estrada é pior. Quando é uma estrada privativa

é bom, tem muitos que tem uns pontos de apoio de saúde, mas quando

não é, é rezar que não precise.

Esta realidade de dificuldade ao acesso à saúde acontece em boa parte da população.

Em artigo de revisão sobre a temática, Barbiani et al. (2014) referem que “a representação do

direito à saúde é de sua não efetivação pela dificuldade de acesso aos serviços, facilitado apenas

para alguns”. Essa perspectiva compromete as ações resolutivas, principalmente, nas doenças

crônicas que se relaciona à responsabilização clínica e sanitária dos territórios e de suas regiões.

Para quem está em rodovias privatizadas, existe o serviço de atendimento gratuito e

equipes de resgate, contando com profissionais de saúde que realizam atendimentos pré-

hospitalar em caso de acidente e doença súbita (casos clínicos) no trecho da concessão

62

(VEDOVATO et al., 2015). A visualização da melhoria do acesso à saúde pela presença da

garantia do atendimento em casos de urgência e emergência demonstra a concepção limitada

de saúde como ausência de doença, centrada no modelo biomédico.

Em contrapartida, surgiu no debate também, os cuidados à saúde limitando-se a

realização de exames e consultas periódicas (checkup) ou alimentação adequada ou realização

de atividade física. O sentido alternativo denota a percepção de que o cuidado à saúde não

precisa ser um conjunto de elementos, conforme discurso:

DSC.1.C. Prolonga o tempo de vida, é fazer checkup ou é se alimentar bem

ou é fazer exercício. Alimentação, né, ajuda muito porque às vezes num pode

praticar o exercício.

Destaca-se que o discurso versa sobre as práticas de prevenção, referentes ao

autocuidado, mesmo que não o façam com regularidade e de forma associada. Nascimento et

al., 2011 encontrou entre homens de Belo Horizonte, Minas Gerais, a percepção mais geral do

cuidar da saúde como uma conjuntura de práticas individuais que possuem o desígnio do ‘bem-

estar’, sugerindo uma progressiva individualização do encargo pela saúde. Ademais, o fato da

pesquisadora ser nutricionista acredita-se que pode ter influenciado as respostas dos indivíduos,

onde se percebe um reforço às questões da boa alimentação como referência ao cuidado à saúde.

Quando questionados sobre quais seriam as facilidade e dificuldades para os cuidados à

saúde, novamente as relações de trabalho e questões pessoais de interesse para o autocuidado

geraram as maiores reflexões. Foi citada a ausência de leis punitivas e fiscalização contra as

empresas que dificultam o acesso à saúde.

DSC.4.A. Só se existisse uma lei exigindo que todo motorista teria que

fazer um checkup. Se tivesse uma punição para a empresa? A lei vem

para ajudar, mas cadê a fiscalização? E também conscientização dos

patrão né? Tem muitos patrão aí que nem tá ligando pra você, ele quer

saber se tomou prejuízo. Mesmo você estando meio doente aí o patrão

"não... tem que viajar" e você para não perder o emprego sai. Ele só vai

se importar se a pessoa num tiver condição de ir, aí vai ser obrigado

você procurar um médico.

Segundo Silva et al. (2016, p. 161), “o trabalho precário caracteriza-se pela

imprevisibilidade na qual os empregadores isentam-se de responsabilidades e os riscos são

assumidos pelos próprios trabalhadores”. Existe o comprometimento das condições de trabalho

e saúde provocadas pela informalidade e a precarização das relações presentes nessa profissão.

Silva et al. (2016) encontraram no seu estudo relatos recorrentes sobre as dificuldades (trabalho

informal e precário e condições dos postos de parada e das rodovias) e a imprevisibilidade

63

presentes no exercício da profissão de caminhoneiros tanto entre os autônomos, quanto os

contratados.

Como dificuldade para o cuidado, surgiu outra vez as questões referentes ao acesso aos

serviços de saúde, onde a marcação de consultas e de exames também se constitui como

limitadora para o autocuidado, uma vez que a rotina diferenciada e dias de trabalho muitas vezes

não delimitados.

DSC.4.B. O acesso mais rápido seria melhor. Até na rede particular

você leva dias e pela rede do SUS também, justamente no dia que

marcou você está viajando. A não ser que não tivesse marcado você

chegar no posto tem um médico naquela rota. Só se tivesse uma

exclusividade para o caminhoneiro.

O acesso aos serviços de saúde possui relação direta com a oferta e sua dificuldade se

relaciona, por sua vez, às particularidades dos sistemas e serviços de saúde, em que a

possibilidade de utilizar um serviço de saúde regularmente pode ser considerada porta de

entrada ao sistema de saúde (STOPA et al., 2017). De acordo com Sanchez e Ciconelli (2012,

p. 261), uma das dimensões do acesso à saúde é a disponibilidade, medida pela “representação

da existência ou não do serviço de saúde no local apropriado e no momento em que é

necessário”.

Diante do exposto, as atitudes demonstradas entre este público são preocupantes, uma

vez que as DCNT se desenvolvem de maneira silenciosa e possuem relevante impacto

socioeconômico. Por se tratar de uma categoria profissional importante para a economia

brasileira, é impreterível que as políticas governamentais se direcionem para estes profissionais,

considerando todos os entraves para a adoção de práticas saudáveis. Durante as entrevistas,

surgiram diversas orientações e proposições que poderiam colaborar com a reversão desse

quadro de descuido e descaso, tais como controle das relações de trabalho e a melhoria do

acesso à saúde com desenvolvimento de estratégias diferenciadas para esse público.

Destaca-se como limitações o quantitativo reduzido de sujeitos para ambas as técnicas

de coleta de dados. Dentre as dificuldades encontradas está a questão do tempo disponível dos

indivíduos para as entrevistas e do horário disponibilizado (comercial).

5.2.2 Artigo 3: Entrevista individual

Foram entrevistados 15 caminhoneiros com idade entre 30 e 75 anos (50±13), com mais

de sete anos de profissão, de curta e longa rota, e escolaridade variando de 1 a 11 anos de estudo.

64

A partir dos relatos, foi possível apreender diversas representações sociais relacionadas à saúde.

Visando aprofundar a análise, a partir do corpus de respostas, foram identificadas três categorias

temáticas com as respectivas subcategorias, conforme apresentado na Tabela 7.

Tabela 7: Frequência das categorias de análise temática entre caminhoneiros do estado de Sergipe

(n=15).

Categorias Subcategorias %Respostas %Entrevistados

(1) Autopercepção

de saúde

(A) Presença de doença 7,2 40,0

(B) Ausência de doenças 4,6 26,7

(C) Autocuidado 4,6 26,7

(2) Determinantes

de risco laboral

(A) Rotina de trabalho/ estresse 17,0 73,3

(B) Alimentação 15,5 86,7

(C) Uso de drogas 14,4 93,3

(D) Rotina de trabalho/ sono e descanso 12,4 80,0

(E) Sedentarismo 4,0 26,7

(3) Cuidados com a

saúde

(A) Motivos pessoais 16,5 73,3

(B) Motivos laborais 3,6 33,3

Autopercepção de saúde: se eu continuo trabalhando, estou bem

A autopercepção da saúde mostrou-se satisfatória, obtendo-se em média notas de 7,5 ±

1,4 e mediana de 8 pontos. Ao serem questionados sobre a justificativa para a nota autorreferida,

emergiram duas categorias: (i) a ausência ou a presença de doenças (nota alta e nota mais baixa,

respectivamente); e (ii) a presença ou ausência de cuidados à saúde (nota alta e nota mais baixa,

respectivamente), tais como alimentação, atividade física, descanso e idas ao médico.

Dentre aqueles que responderam com notas mais baixas (entre cinco e sete) a

justificativa foi, predominantemente, a ausência de cuidados à saúde. Estes tinham a

escolaridade acima da média, com mais de nove anos de estudo, caracterizando uma percepção

de saúde mais ampliada do que apenas a ausência da doença. Para aqueles com notas mais

elevadas, a escolaridade era mais baixa (menos de cinco anos de estudo) e também

apresentaram maior média de idade (54,7±12,6).

Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, surgiram

apontamentos como o autocuidado por meio da alimentação, recomendações médicas e prática

de atividade física. Apesar disto, metade dos participantes desse estudo afirmou não cuidar da

saúde de maneira suficiente, alegando falta de tempo ou acomodação pessoal.

Em relação à autopercepção de saúde, para os caminhoneiros se faz presente a

concepção de saúde em torno da presença ou não de doenças, além da incorporação de práticas

65

que caracterizam o cuidado, determinado como “comportamentos saudáveis” (alimentação

saudável, prática de atividade física e rotinas médicas). Entre os mais velhos, a idade mais

avançada também foi um fator determinante para a autoavaliação da saúde. Ao se compararem

com pessoas mais idosas, estes indivíduos sentem-se bem por estarem ainda em atividade

laboral, ou seja, livre de incapacidades físicas que prejudiquem o trabalho.

A maioria dos caminhoneiros amigos meus... são tudo doente... (...)só

vejo gente reclamando disso aí... eu, graças a Deus, minha pressão é

boa... não tenho diabetes... não tenho esse problema de colesterol que

(...) deu um pouquinho alto, mas isso é fácil de resolver né... só... mudar

um pouco a alimentação fazer mais um pouquinho de exercício que

resolve né?... (Entrevistado 02, 65 anos)

A saúde, segundo a OMS, é um estado de completo bem-estar físico, mental e social

(CZERESNIA, 2009). Esse conceito ampliado vem atrelado à ideia de que é um produto de

uma série de fatores relacionados à qualidade de vida, onde interferem não apenas os

determinantes biológicos. No entanto, o processo saúde-doença em sua complexidade, tem

gerado uma tendência natural, entretanto, reducionista, de se pensar na saúde como a ausência

de doença (DALMOLIN et al., 2011), questão que emergiu das entrevistas.

Quando foram questionados sobre a existência da relação entre a própria saúde e a

profissão de caminhoneiro, surgiram como fatores laborais de risco à saúde o descanso

insuficiente, a alimentação irregular, o estresse do trabalho e o uso de drogas para inibir o sono.

No entanto, mais da metade (53,3%) discordou desta relação, referindo motivos como estar, no

momento, em um bom emprego, viajar para perto, não estar doente e cuidar da saúde. De um

modo geral, os participantes alegaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o

equilíbrio de uma boa saúde e seus cuidados.

Algumas análises demonstrarem maior prevalência da percepção negativa de saúde

entre sujeitos com a baixa qualidade de vida (estresse, sono insuficiente, sedentarismo) e

ambiente social desfavorável (FONSECA et al., 2008; MEIRELES et al., 2015). Entretanto,

pôde-se analisar a percepção positiva da saúde entre os entrevistados sob a perspectiva da

negação da doença. A necessidade da presença do indivíduo no trabalho apesar de doente ou

com algum problema físico ou psicológico, pode fazer com que o mesmo não perceba os seus

problemas de saúde, ou mesmo minimizem seus efeitos, retornando mais brevemente ao

trabalho (PASCHOALIN, et al., 2013). Este fato nomeado como “presenteísmo” é apresentado

principalmente entre trabalhadores com vínculos empregatícios precários (IRIART et al.,

2008).

66

Numa análise qualitativa com caminhoneiros sobre condições de trabalho e saúde,

mediante as modalidades de vínculos empregatícios, Silva et al. (2016) evidenciaram a

informalidade e a precarização como características dessa profissão. A remuneração do trabalho

relacionando-se com a produtividade proporciona que esse público permaneça mais tempo no

volante a fim de ganhar mais, ocasionando maiores impactos à saúde.

Determinantes de risco laborais: não existe horário programado

Foram evidenciadas as questões acerca dos determinantes de risco laborais, mostrando

como o modo de trabalhar pode interferir na sua qualidade de vida. A rotina de trabalho intensa

implica em más condições de alimentação, dificuldades com horários e rotina, impossibilidade

da prática regular de atividade física, pressão sofrida para o cumprimento de prazos e

interferências no ciclo circadiano, implicando no uso de medicamentos inibidores do sono.

“(...) o ofício não existe um horário programado como outro trabalho

qualquer (...) a gente trabalha... às vezes fica trinta e seis horas num

volante quarenta horas num volante... sem poder sair a num ser numa

parada num posto alguma coisa para fazer necessidade” (Entrevistado

03, 33 anos)

É por conta da rotina (...) porque acaba também sendo viciante né (...)

chega atrasado aí "ah hoje eu faço um lanche"... aí quando chega o outro

dia... vai acontece a mesma coisa e acaba criando um vício... você acaba

abdicando daquelas coisas que você sabe que... é importante para o

corpo mas... não faz (Entrevistado 04, 53 anos)

O uso de drogas foi temática presente em quase todas as entrevistas. De modo geral, o

uso de substâncias para inibir o sono é prática recorrente entre os caminhoneiros. Alguns dos

entrevistados negaram o uso, no entanto, admitiram sua presença entre a categoria profissional,

seja o “rebite” ou mesmo drogas ilícitas.

Quase que uma necessidade na estrada assim né... porque é... pessoa sai

de São Paulo .... para chegar aqui (...) tem que ser através de remédio

porque o cara só... naturalmente ele não consegue chegar... (...) tem que

ser com droga para não dá sono (Entrevistado 02, 65 anos)

Poucos trabalhos brasileiros investigaram a concepção de saúde e as interferências das

atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes (2015) entrevistaram 13 motoristas

afastados da atividade laboral, encontrarando que o entendimento sobre o estado de saúde

aparece, intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com

67

comportamentos de adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a

concepção de saúde como ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade

de vida são exíguos. Entre pessoas mais idosas, Borges et al. (2014) referem que a percepção

de estar doente relaciona-se mais fortemente com a presença de incapacidades do que ser

portador de doenças crônicas. Nesse estudo, os caminhoneiros ainda se encontram em atividade

laboral, o que pode justificar uma percepção mais positiva da saúde.

Pesquisas apontam para a amplitude das conjunturas de vulnerabilidade vivenciadas por

caminhoneiros, destacando os diferentes aspectos no âmbito social, individual e laboral

(KNAUTH et al., 2012; ALESSI; ALVES, 2015; MAGNO; CASTELLANOS, 2016). Dirigir

caminhão é um tipo de trabalho com elevado nível de desgaste físico e mental, características

que comprometem o desempenho necessário à atividade (FERREIRA; ALVAREZ, 2013). Para

os entrevistados, a representação social sobre sua própria saúde permeia a dimensão do desgaste

causado pela fadiga crônica associada a rotina estressante que as atividades laborais impõem,

levando à alimentação inadequada e ao uso de álcool e drogas para alívio do estresse e

cumprimento dos prazos.

Estudos internacionais de cunho qualitativo também revelam a influência das atividades

laboriais na saúde dos indivíduos. Boeijinga et al. (2016) conduziram e analisaram 20

entrevistas semi-estruturadas e sete casos de observações participantes com caminhoneiros

holandeses. Ressaltaram que os indivíduos desejavam melhorar seu estilo de vida, mas não

conseguiam assimilar conceitos de vida saudável, bem como, subestimavam os riscos à saúde.

Além disso, experimentavam barreiras de cunho laboral e pessoal que os impediam de traduzir

suas intenções em mudanças reais no estilo de vida. McDonought et al. (2014) conduziram

quatro grupos focais com motoristas de caminhão e gestores de transportadoras em Ontário,

Canadá, para identificar a experiência vivida dos condutores em relação aos riscos evitáveis

para a doença. Os temas predominantes descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a

comunicação, o estilo de vida, a cultura de condução, a família e as preocupações relacionadas

à fadiga. Em termos de ambiente de trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do

potencial da profissão em determinar doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida.

O padrão alimentar é um fator preponderante com influência direta na saúde dos

caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde

em médio e longo prazo (MASSON; MONTEIRO, 2010). A alimentação dos caminhoneiros é

baseada nos restaurantes das estradas, nos quais, em sua maioria, são ofertadas preparações

desbalanceadas nutricionalmente, ricas em gordura saturada, açúcar e sódio limitando a oferta

de alimentos necessários para um padrão adequado (FERREIRA; ALVAREZ, 2013; ALESSI;

68

ALVES, 2015). McDonough et al. (2014) apontaram que os caminhoneiros têm conhecimento

de que o consumo de gordura saturada, sal e açúcar em excesso e o estilo de vida sedentário

são prejudicais à saúde. Contudo, a acessibilidade, a disponibilidade e o tempo para a compra

de alimentos adequados são as maiores dificuldades referidas por este público.

A atividade laboral de grande parte dos caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por

longos períodos, com reduzido tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder

12h. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas horas de vigília

e consomem uma proporção substancial de calorias diárias nos ambientes de trabalho e ao redor

(LARSON; STORY, 2009). Estudos demonstram a influência do trabalho por turnos (diurno e

noturno) na qualidade da alimentação ingerida, principalmente à noite (NEA et al., 2015;

BONHAM; BONNELL; HUGGINS, 2016; BONNEL et al., 2017).

Estes resultados demonstram que muito além de uma atitude biológica, a alimentação

assume também um comportamento cultural, onde as escolhas alimentares estão relacionadas

às alternativas de alimentos ofertados pelo meio e ao potencial técnico que os indivíduos

possuem (LIMA; FERREIRA NETO; FARIAS, 2015). Os caminhoneiros identificam as

dificuldades e diferenças na comensalidade do seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto

traz precárias condições para alimentar-se tranquilamente. Sendo assim, o diagnóstico das

práticas e comportamentos alimentares se torna etapa necessária para o desenvolvimento de

programas e intervenções na área de educação nutricional (POULAIN; PROENÇA; DIEZ-

GARCIA, 2012).

A temática recorrente do uso de drogas entre os entrevistados corrobora que

determinantes ocupacionais estão fortemente associados ao uso de anfetaminas, corroborando

com outros trabalhos (GIROTTO et al, 2015; OLIVEIRA et al., 2015). A precarização no

trabalho e os curtos prazos de entrega estão relacionados ao consumo de drogas,

comprometendo as condições de saúde dos caminhoneiros (SILVA et al., 2016).

Cuidados com a saúde: uma opção de cada pessoa

Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, a representação

social girando em torno da alimentação, recomendações médicas e prática de atividade física,

achado comum a outros trabalhos (HEMMI; CONCEIÇÃO; SANTOS, 2015; OROZCO-

SOLIS et al., 2017).

69

“Sempre que ele (o médico) manda eu faço (...) cada um... cabeça é um

mundo, né? (...) uma opção de cada pessoa. ” (Entrevistado 08, 65 anos)

“Eu tenho vários (cuidados com a saúde)... na alimentação (...) quem

tem preguiça aí é por isso que às vezes que é eles mesmos que

descuidam da saúde deles mesmos.”(Entrevistado 09, 50 anos)

Contudo, é relevante a percepção mais ampliada dos determinantes do autocuidado

quando emerge dos discursos a influência das condições de trabalho nesse contexto. Essas

práticas idealizadas não se apresentam como ações concretas para a maior parte deles e a

execução de tais recomendações parece incompatível com a árdua e extenuante rotina de

trabalho.

Você está sempre cansado... caminhoneiro não sabe nem o dia... o dia

após o outro você perde até a noção da semana... você não sabe nem...

se é sexta, sábado, domingo... naquele mundão ali é... só aquilo mesmo

(Entrevistado 08)

De acordo com Arenas-Monreal, Jasso-Arenas e Campos-Navarro (2011), o

autocuidado se constrói a partir de dois eixos: ações intencionais, efetuadas sem reflexão prévia

nem questionamentos, e ações deliberadas, influenciadas pela reflexão e experiências de vida

significativas. No entanto, essas ações diferem entre os sujeitos de acordo com seus

determinantes sociais como classe social, ocupação, sexo e família, onde a medida em que

existam condições de vida adequadas, há oportunidades para incorporar práticas que promovam

a saúde.

A concepção da promoção da saúde é caracterizada com ênfase na percepção do papel

protagonista dos determinantes sociais sobre as condições de saúde (CZERESNIA, 2009). Tais

cuidados estariam pautados em políticas públicas e de ambientes saudáveis, contrariando a

tendência contemporânea da visão reducionista da responsabilidade individual sobre o processo

de saúde (NASCIMENTO et al., 2011). Portanto, sob o prisma do princípio de integralidade do

Sistema Único de Saúde é preciso contemplar ações e políticas intersetoriais que levem em

consideração os determinantes de saúde, compondo níveis de prevenção primária, secundária e

terciária (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

Relativo aos caminhoneiros, deve-se considerar a perspectiva de gênero como

influenciador na compreensão do cuidado. Gomes, Nascimento e Araújo (2007) afirmam que a

identidade do ser masculino se confronta com o fato de evitarem os espaços de saúde no sentido

da prevenção, pois estaria relacionado ao aspecto de fragilidade, frequentemente associado às

representações do universo feminino. Mendonça, Meandro e Trindade (2011) relatam que, nas

70

representações e práticas de saúde entre homens, as ações preventivas são apontadas como

opções relevantes para a manutenção da saúde, embora o discurso seja discrepante da prática.

Essa perspectiva de gênero pode estar ainda relacionada a autopercepção positiva da saúde entre

os caminhoneiros no presente estudo, onde falar sobre seus problemas pode significar uma

possível demonstração de fraqueza (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidenciou-se entre os caminhoneiros determinantes de risco à saúde. Quanto às

características sociodemográficas foram aobservadas baixa escolaridade e renda. Relativo às

condições de saúde destacam-se o excesso de peso, dislipidemias e sedentarismo. Acerca das

condições de trabalho, caracterizam-se como motoristas percorrendo extensas rotas por longos

períodos sem descanso e o uso frequente de anfetaminas para inibir o sono, por mais de dez

anos de profissão. De modo geral, apresentaram concordância com a escolha de bons hábitos

alimentares através da percepção de que os produtos menos gordurosos devessem ser

identificados como tal e que os restaurantes da estrada oferecessem melhores opções de

alimentos.

Relativo à autopercepção de saúde quantificada pelos indivíduos, fez-se presente a

concepção de saúde em torno da ausência de doenças, entre aqueles com notas mais elevadas,

e a insuficiência do autocuidado, nos indivíduos com notas mais baixas. Os caminhoneiros

demonstraram relativa compreensão sobre os bons hábitos de saúde, entretanto, não conseguem

pôr em prática. Embora percebam a influência dos determinantes laborais sobre a sua saúde e

quais ações preventivas devem adotar, mostraram-se pouco estimulados quanto ao autocuidado

alegando questões pessoais, de acesso à saúde e limitações devido à rotina laboral.

Concordaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o equilíbrio de uma boa

saúde e de seus cuidados, dentre as quais, a necessidade de ficarem longos períodos na estrada

com baixa oferta de alimentos adequados, o desgaste físico e mental, o sono e descanso

insuficiente, e o uso de drogas inibidoras de sono, objetivando o cumprimento dos prazos.

As duas fases da pesquisa apresentaram resultados complementares, confirmando a

importância do aprofundamento da utilização de multimétodo. Ademais, acredita-se que a

autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma reflexão mais aprofundada sobre

seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de hábitos e contextualização

social desse processo.

Esses resultados permitiram conhecer o perfil dos motoristas dessa região, entendendo

melhor o seu contexto de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. A partir disso,

espera-se que possa contribuir no direcionamento de verbas públicas aplicadas à saúde do

homem e do trabalhador. Almeja-se que a divulgação do presente estudo possa servir de

fomento ao planejamento de ações no que concerne às atuações direcionadas para a prevenção,

controle e tratamento das doenças crônicas nesta categoria, como oferta de serviços de saúde

diferenciados com facilidade de acesso. Além disso, que também levante discussões sobre a

72

necessidade de reformulação e cumprimento das políticas trabalhistas para o setor de transporte

de cargas rodoviário com intuito de reduzir os impactos ocupacionais na saúde dos

caminhoneiros.

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WORTHEN, B. R.; SANDERS, J. R.; FITZPATRICK, J. L. Avaliação de programas:

concepções e práticas. São Paulo: Editora Gente, 2004.

XAVIER, H. T.; IZAR, M. C.; FARIA NETO, J. R.; ASSAD, M. H.; ROCHA, V. Z.;

SPOSITO, A. C. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.

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ZHANG, T.; CHAN, A. H. S. Sleepiness and the risk of road accidents for professional drivers:

A systematic review and meta-analysis of retrospective studies. Safety Science, v. 70, p. 180-

88, dec., 2014.

87

APÊNDICE A – MARCO LÓGICO

OBJETIVOS

RESUMO

DESCRITIVO DOS

OBJETIVOS

INDICADORES

VERIFICÁVEIS

OBJETIVAMENTE

MEIOS DE

VERIFICAÇÃO

SUPOSIÇÕES

(RISCOS) ATIVIDADES

PERGUNTA(S)

NORTEADORA(S)

OBJETIVO

SUPERIOR Contribuir para a identificação da percepção sobre os determinantes de saúde dos caminhoneiros.

Como se encontram

os determinantes de

saúde entre os

caminhoneiros?

Quais são as

condições laborais

identificadas? Como

eles percebem esses

determinantes de

saúde?

OBJETIVO

GERAL

Conhecer os

determinantes de saúde

entre caminhoneiros do

estado de Sergipe

Análises, conclusões e

recomendações da

pesquisa

Descrição da

metodologia, dos

principais resultados

e conclusões da

pesquisa

Divulgação inadequada ou

insuficiente dos resultados

e recomendações. Não

aplicação/ utilização das

análises, conclusões e

recomendações da

pesquisa

Levantamento de dados

por meio dos

instrumentos de

pesquisa e avaliação

qualitativa

OBJETIVOS

ESPECÍFICOS

Caracterizar os

determinantes de saúde

relativos às condições

de saúde, trabalho e

escolhas alimentares

Avaliação dos

determinantes de saúde

relativos às condições

de saúde, trabalho e

escolhas alimentares

Aplicação de

questionários

Aferição de medidas

antropométricas e

parâmetros clínicos

Análise de

bioquímicos

Análise dos

resultados

Problemas técnicos na

aplicação dos

questionários, aferição de

medidas antropométricas e

parâmetros clínicos e na

análise bioquímica

Baixa adesão à coleta para

os exames bioquímicos

(1) Elaboração técnica

dos questionários

(2) Treinamento de

equipe para coleta de

dados

(3) Coleta de dados

(4) Análise dos dados

(5) Elaboração de

dissertação e artigo

científico

(6) Divulgação dos

resultados em outros

meios, como

entrevistas na mídia e

em eventos

Como se caracterizam

os determinantes de

saúde entre os

caminhoneiros e suas

condições de trabalho,

bem como as escolhas

alimentares?

Conhecer a

autopercepção dos

sujeitos relativa à sua

rotina laboral e suas

condições de saúde

Percepção do sujeito

Pergunta: qual a

avaliação da sua saúde

e sua relação com a

profissão?

Participação na

pesquisa

Análise dos

resultados

Falta do envolvimento dos

respondentes para a

participação da pesquisa -

baixa taxa de resposta

Como se configura a

percepção do

indivíduo sobre suas

condições de trabalho

e saúde?

88

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

Você está sendo convidado a participar da pesquisa “Percepção sobre os determinantes de saúde

em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo qualiquantitativo”, sob responsabilidade da

pesquisadora Dra. Kiriaque Barra Ferreira Barbosa. O objetivo desse estudo é conhecer os

determinantes de saúde entre caminhoneiros. Você poderá ter todas as informações que quiser

a respeito da pesquisa e poderá não participar da entrevista e atividades ou retirar seu

consentimento a qualquer momento.

Realizaremos medida de peso, altura e circunferência da cintura, pressão arterial e exames

laboratoriais necessitando de 12 horas de jejum para mensurar LDL-colesterol, HDL-colesterol,

triglicerídeos e glicemia de jejum. Serão também realizadas entrevistas para coletas de dados

socioeconômicos, de hábitos alimentares e estilo de vida, além de uma pesquisa de opinião.

Todas essas avaliações não apresentarão nenhum risco para você e todos os seus dados estão

sob garantia de sigilo e privacidade por parte dos pesquisadores com objetivo único de estudo

científico. Estará garantido que receberá todos os resultados das avaliações realizadas e que, de

acordo com os resultados, receberá orientações dietéticas importantes para sua saúde.

Caso concorde em participar, favor assinar abaixo.

Eu, _______________________________________________estou ciente da minha total

liberdade em recusar participar do projeto. Aceito que os resultados obtidos sejam divulgados,

sendo meu anonimato pessoal garantido, e tenho conhecimento que poderei esclarecer minhas

dúvidas a qualquer momento entrando em contato com a pesquisadora (Adriana Maria

Figuerêdo Batista, Telefone: (79) 3044-4286).

________________________________________________

Participante

________________________________________________

Entrevistador

Aracaju, ____ de _______________ de 20__.

89

APÊNDICE C – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA VOZ

AUTORIZAÇÃO PARA USO DE VOZ

Eu, __________________________________________________________________

portador do RG n°: __________________________ e CPF n°: ________________________

residente no(a) ______________________________________________________________,

Cidade/UF: __________________________ Telefone: _______________________, concedo,

única e exclusivamente para contribuição na pesquisa "Percepção sobre os determinantes de

saúde em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo qualiquantitativo", os direitos sobre

as declarações gravadas numa entrevista semiestruturada da pesquisa, com o som da minha voz

que serão degravadas e utilizadas, de forma agrupada, na tese, em relatórios e artigos, neste ato,

ao Departamento de Nutrição, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a qualquer tempo.

A presente autorização é concedida em caráter irretratável e de forma gratuita, ficando

o qualquer pessoa isenta do pagamento de quaisquer ônus a minha pessoa a qualquer tempo e

sob qualquer pretexto pela utilização das imagens e relatos.

Aracaju, ______ de _______________ de 2016.

90

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTRUTURADO

QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO E HÁBITOS DE VIDA

“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS DO ESTADO DE

SERGIPE”

Nº do registro: _____ Data da coleta: ____/______/_____ Entrevistadora: __________________

Nome: ____________________________________________________ DN: ____/______/______

Telefone (s):____________________________________ Procedência: _______________________

Componentes Valor Componentes Valor

Peso (kg) PA 1 (mmHg)

Altura (m) PA 2 (mmHg)

IMC (kg/m²) PA 3 (mmHg)

CC (cm) Média PA (mmHg)

1. Qual sua idade? ______ anos

2. Estudou até que série completa? _______________________ Anos de estudo: _____________

3. Há quanto tempo você exerce a profissão de caminhoneiro? _____ anos

4. Aproximadamente, quanto tempo dirige em um dia? Mín ____ h Máx ____ h Média ____ h

5. Aproximadamente, quanto tempo você dirige sem parar? Mín ____ h Máx ____ h Média ____ h

6. Aproximadamente, qual é a sua distância percorrida diariamente? Mín ____ Máx ____ Média ___

7. Quantos dias você passa em casa por mês ou por semana, em média? _____ □ Mês □ Semana

8. Você dorme, aproximadamente, quantas horas por dia?_________ horas

9. Tem algum distúrbio de sono (apneia do sono ou insônia)? ( ) Não ( ) Sim. Qual?_________

10. Você mora sozinho? ( ) Sim ( ) Não, com quem: ____________________________________

11. Você pratica, nos últimos seis meses, algum tipo de atividade física por, pelo menos 30 minutos,

duas vezes por semana? ( ) Sim ( ) Não

12. Você TEM problemas de saúde como:

( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Infarto, derrame ou AVC ( ) Dispilidemia

( ) Não sabe ( ) Outro. Qual?_________________________ ( ) Não tem

13. Você usa algum medicamento para controle de doenças? Que tipo?

( ) Anticoagulante ( ) Anti-hipertensivo ( ) Estatinas ( ) Anti-diabético oral ou insulina

( ) Outro. Qual?________________________________________________________ ( ) Não usa

14. Quanto ao hábito de fumar responda: ( )Fumo diariamente ( )Já fumei, mas parei ( )Nunca

fumei

15. Quantos cigarros você fuma por dia? _______________ cigarros

16. Há quantos anos começou a fumar regularmente? ______ anos (aproximadamente)

17. Qual é a renda familiar por mês? (Média dos últimos 3 meses)? R$ ____________

18. Quantas pessoas dependem dessa renda? _____ pessoas

19. Você já fez alguma vez na sua vida o uso de bebida alcoólica durante sua jornada de trabalho?

( ) Sim ( ) Não (pular para a pergunta 21)

91

20. Atualmente, com que frequência você faz uso de bebidas alcoólicas durante sua jornada de

trabalho? ( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Mensalmente ( ) Não faço uso

ATENÇÂO: Para a próxima pergunta, você pode responder mais de uma alternativa.

21. Você já fez alguma vez na sua vida o uso de medicamentos ou drogas para inibir o sono?

( ) Sim, por quanto tempo usou? ___________ De que tipo? ( ) Rebite ( ) Cocaína ( ) Crack

( ) Outro: qual: _____________________ ( ) Não, nunca fiz uso.

22. Atualmente com que frequência você faz uso de medicamentos ou drogas para inibir o sono?

( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Mensalmente ( ) Não faço uso

92

APÊNDICE E – FOOD CHOICES INDEX

QUESTIONÁRIO DE ESCOLHAS ALIMENTARES “PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS DO

ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”

Nº: _______ Nome: _____________________________________Data da coleta: ____/____/____

Usando a escala fornecida como guia, indique o grau de concordância com cada uma das seguintes afirmações fazendo um círculo à volta do número correspondente. Dar somente uma resposta para cada afirmação.

Usar a seguinte chave: 1. Discordo totalmente 2. Discordo em parte 3. Nem discordo nem concordo 4. Concordo em parte 5. Concordo totalmente

Discordo

totalmente Discordo em parte

Nem discordo nem concordo

Concordo em parte

Concordo totalmente

1 Você pensa na sua saúde quando escolhe os alimentos que vai comer.

1 2 3 4 5

2 Você pensa no seu peso quando escolhe os alimentos que vai comer.

1 2 3 4 5

3

Se as informações da quantidade de gordura dos alimentos estivessem disponíveis, você consideraria essa informação para escolher os alimentos com menos gordura.

1 2 3 4 5

4 Comer alimentos saudáveis é importante para você.

1 2 3 4 5

5 Você gostaria que os alimentos com pouca gordura fossem rotulados para que você soubesse identificá-los.

1 2 3 4 5

6 Os restaurantes da estrada deveriam ter mais opções de alimentos saudáveis, com pouca gordura.

1 2 3 4 5

7

Se tivesse mais opções de alimentos com pouca gordura nos restaurantes da estrada, você escolheria estes alimentos.

1 2 3 4 5

8 Você acha que alimentos com pouca gordura são gostosos.

1 2 3 4 5

TOTAL

93

APÊNDICE F – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

QUESTÕES PARA ENTREVISTA QUALITATIVA DA PESQUISA

“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS

DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”

1. Como você avalia sua saúde de 0 a 10, onde 0 seria não saudável e 10 totalmente

saudável? Fale sobre isso.

Eixos norteadores:

( ) Presença ou ausência de

doenças

( ) Não acha importante cuidar

( ) Cuidados com a saúde ( ) Modificação de hábitos

( ) Falta de tempo ( ) Outra: __________________

( ) Falta de motivação ( ) Outra: __________________

2. Você acredita que sua profissão possui relação com seu estado de saúde? Fale sobre

isso.

Eixos norteadores:

( ) Carga de trabalho (tempo) ( ) Sedentarismo

( ) Sono ( ) Estresse no trânsito e perigos na estrada

( ) Faz uso de drogas ( ) Outra: __________________

( ) Alimentação na estrada ( ) Outra: __________________

94

APÊNDICE G – QUESTÕES NORTEADORAS PARA O GRUPO FOCAL

QUESTÕES PARA GRUPOS FOCAIS DA PESQUISA

“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS

DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”

Etapa de construção do entendimento:

O que você entende por "cuidados à saúde" e qual a importância disso na sua vida?

Etapa da discussão aprofundada:

Qual a relação entre a profissão de caminhoneiro e a saúde?

Quais as razões para justificar a nota que os caminhoneiros atribuíram à saúde?

Quais as facilidades e dificuldades para o cuidado com a sua saúde?

95

APÊNDICE H – ARTIGO 01 SUBMETIDO

Condições de trabalho induzem a autopercepção de saúde em torno da ausência de doenças e

insuficiência no autocuidado entre caminhoneiros de Sergipe, Brasil.

Adriana Maria Figuerêdo Batista1, Andhressa Araújo Fagundes2, Leidiane Teles de Menezes2,

Renata Lopes de Siqueira2, Danielle Góes da Silva2, Kiriaque Barra Ferreira Barbosa2

1 Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Sergipe

2 Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Sergipe

Número de páginas: 15

Número de tabelas: 1

Correspondência:

Adriana Maria Figuerêdo Batista

E-mail: [email protected]

Financiamento:

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPQ)

Programa de Apoio à Pós-graduação (PROAP/CAPES).

Conflito de interesse:

Não há.

96

Resumo:

O objetivo desse estudo foi conhecer a percepção de saúde e sua relação com as atividades

laborais entre caminhoneiros do estado de Sergipe, Brasil. Aplicou-se a metodologia qualitativa

baseada na Teoria das Representações Sociais. A coleta de dados foi realizada por meio de

entrevistas individuais semiestruturadas conduzidas com 15 caminhoneiros adultos do sexo

masculino. O roteiro da entrevista constou de duas perguntas: a primeira solicitou uma

classificação numérica (de zero a dez) sobre a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua saúde;

e a segunda abordou a percepção do sujeito em relação aos determinantes de saúde e suas

condições de trabalho. A análise das transcrições foi realizada segundo metodologia da análise

de conteúdo. Os resultados evidenciaram que autopercepção à saúde foi satisfatória (notas

7,5±1,4), no entanto relativa à concepção limitada em torno da ausência de doenças. A

representação social sobre saúde e trabalho orbitou sobre os determinantes de risco laboral,

destacando-se a rotina de trabalho estressante, alimentação inadequada e uso de drogas. Esses

resultados permitiram conhecer a percepção dos motoristas, entendendo melhor o seu contexto

de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. Acredita-se ainda que a

autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma reflexão mais profunda sobre

seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de hábitos e contextualização

social desse processo.

Autopercepção de saúde. Saúde ocupacional. Transportes. Autocuidado.

Abstract:

The objective of this study was to know the health perception and its relation with the labor

activities among truck drivers of the state of Sergipe, Brazil. The qualitative methodology based

on the Theory of Social Representations was applied. Data collection was performed through

semi-structured individual interviews conducted with 15 adult male truck drivers. The interview

script consisted of two questions: the first asked for a numerical classification (from zero to ten)

on the subject's personal assessment of their health; and the second addressed the subject's

perception of health determinants and their working conditions. The analysis of the

transcriptions was carried out according to the methodology of content analysis. The results

showed that self-perception of health was satisfactory (grades 7.5 ± 1.4), however, regarding

the limited conception around the absence of diseases. The social representation on health and

work orbited on the determinants of occupational risk, highlighting the routine of stressful

work, inadequate feeding and drug use. These results allowed to know the drivers' perception,

understanding better their context of vulnerability to the health determined by the work routine.

97

It is also believed that the self-perception of health could provide individuals with a deeper

reflection on their health and disease process, contributing to the change of habits and social

contextualization of this process.

Self-perception of health. Occupational health. Transport. Self-care.

Introdução

Os trabalhadores, de modo geral, estão sujeitos a riscos ambientais e organizacionais

em função de sua inserção nos processos de trabalho, entretanto, algumas profissões estão mais

expostas 1,2. Entre os caminhoneiros, as condições de vida e trabalho aos quais estão expostos,

como rotina laboral e estilo de vida, influenciam os comportamentos de risco e favorecem a

elevada prevalência de morbimortalidade 3. Longas jornadas de trabalho ininterruptas ou com

poucos momentos de folga para recuperação física e mental caracterizam condições de trabalho

extenuantes entre caminhoneiros 4. Ademais, possuem hábitos de vida adversos à saúde, tais

como alimentação não saudável, sedentarismo, exposição a doenças transmissíveis, insuficiente

controle periódico em saúde, uso indiscriminado de álcool e tabaco, além do uso de drogas a

fim de se manterem acordados 5.

Dentre os trabalhos conduzidos com essa categoria profissional, grande parte aborda a

perspectiva biomédica, investigando os fatores de risco às doenças 6,5,7,8,9. Estes estudos

apontam para a elevada prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e

determinantes de risco associados. No entanto, são limitadas atitudes concernentes ao

autocuidado por parte dos caminhoneiros. Muitos relatam que quando em rota de viagem não

usam os serviços de saúde e referem que, em função da sua rotina de trabalho, não têm tempo

para cuidar da sua saúde 4,10. Birdsey et al. 7 evidenciaram que motoristas americanos possuem

menor prevalência de vacinação anual contra a gripe e, cerca de, 25%, nunca tiveram seus níveis

de colesterol aferidos. Sangaleti et al. 11 apresentaram que, embora cientes do diagnóstico

clínico de condições crônicas (45,2% hipertensos e 16,4% com níveis alterados de glicose), a

maioria dos motoristas não estava realizando controle medicamentoso.

A autopercepção é um indicativo importante para a avaliação global da situação de

saúde do indivíduo. Compreender a percepção pessoal traz à luz a subjetividade do estado físico

e mental, independente das interpretações médicas dos sintomas, tornando-se um importante

preditor da utilização dos serviços de saúde 12. Desse modo, a autopercepção vem sendo,

frequentemente, utilizada para a compreensão da relação entre saúde, determinantes

sociodemográficos e doenças crônicas 13.

98

No Brasil, é notória a ausência de estudos sobre autopercepção de saúde entre

caminhoneiros. Avaliações qualitativas envolvendo esse grupo se limitaram a descrever

questões referentes aos significados e vulnerabilidades para doenças sexualmente

transmissíveis 9,14,15,16.

Na literatura mundial foram conduzidos alguns estudos com abordagem qualitativa

entre caminhoneiros 17,18,19. Estes trabalhos são consonantes em evidenciar que os profissionais

reconhecem as condições de trabalho adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a

adesão a estilo de vida saudável.

Analisando a saúde sob a perspectiva do fenômeno social, recomenda-se a exploração

por meio das Ciências Sociais, cujos instrumentos e teorias são capazes de expressar a

grandiosidade da existência dos seres humanos em sociedade. Para isso, versa sobre o conjunto

das expressões humanas inscrito nas estruturas, nos processos, nas representações sociais, nas

expressões da subjetividade, nos símbolos e significados 20.

A Teoria das Representações Sociais (TRS), situada na psicologia social, foi formulada,

em 1961, por Serge Moscovici, baseando-se na heterogeneidade da sociedade contemporânea.

Teorizou que não são representações apenas de indivíduos, e sim de grupos sobre um objeto,

transpondo o campo da análise individual para o campo da análise social 21. A TRS é concebida

no senso comum, ou seja, na maneira como os indivíduos e os grupos sociais, no percurso de

suas vidas, constroem saberes sobre si, sobre os outros e sobre os diversos objetos sociais que

lhe são relevantes 22. Assim, seu estudo constitui uma contribuição decisiva para a abordagem

da vida mental individual e coletiva 23.

Diante da vulnerabilidade da categoria profissional em questão e da escassez de estudos

com abordagem qualitativa, o objetivo do presente estudo foi conhecer a percepção de saúde e

sua relação com as atividades laborais entre caminhoneiros do estado de Sergipe.

Métodos

Trata-se de um estudo qualitativo, ancorado na teoria das representações sociais. A

coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais semiestruturadas, de julho a

setembro/2016, durante encontros agendados por meio de contatos telefônicos. Os indivíduos

foram selecionados a partir de um estudo maior, que teve como objetivo avaliar os

determinantes de saúde entre caminhoneiros no município de Itabaiana, Sergipe.

A motivação para este trabalho se deu pelo fato do município de Itabaiana ser

considerado a capital nacional do caminhão mediante Lei nº 13.044, de 19/11/2014 24, receber

99

a rodovia BR-235 e concentrar famílias de caminhoneiros. Ademais, a pesquisadora principal

(A. M. F. B.) é profissional atuante na atenção básica do município, verificando a ausência deste

público na rotina dos serviços de saúde.

Foram considerados como critérios de inclusão: sexo masculino, ter acima de 20 anos,

dirigir veículo de transporte de cargas rodoviário atualmente e possuir Carteira Nacional de

Habilitação nas categorias C, D ou E, de acordo com o artigo 143 do Código de Trânsito

Brasileiro 25.

A entrevista individual semiestruturada consiste em técnica privilegiada de

comunicação, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, sendo

a estratégia mais utilizada no processo de trabalho de campo em pesquisa qualitativa 20.

O método foi direcionado por um roteiro previamente elaborado, que permitiu uma

organização flexível e a inserção de novos questionamentos à medida que as informações iam

sendo ofertadas pelos entrevistados 26. O roteiro contou com duas questões abertas: a primeira

abordou a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua saúde, estabelecendo uma classificação

numérica (de zero a dez) entre não saudável e totalmente saudável; e a segunda, a percepção do

sujeito em relação aos determinantes de saúde e suas condições de trabalho. As entrevistas

foram conduzidas em uma Unidade Básica de Saúde do município, em ambiente privativo e

livre de interferências externas.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos

da Universidade Federal de Sergipe, sob Parecer nº 1275680, em conformidade com as

Resoluções nº 466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as entrevistas foram

gravadas, mediante consentimento da gravação e do uso da voz. As gravações tiveram dupla

transcrição literal. Foi considerado o critério de saturação das respostas para determinação do

número de participantes.

Foi realizada análise de conteúdo, buscando identificar o sentido contido no texto

(semântica) 27, produzindo inferências embasadas em pressupostos teóricos. Seguindo o

procedimento metodológico descrito por Bardin 28, inicialmente, ocorreu a pré-análise das

transcrições, com leitura flutuante e constituição do corpus do texto (conjunto de respostas). As

unidades de registro foram categorizadas com posterior classificação e análise em percentuais

de frequência. A partir dos resultados, emergiram as seguintes categorias: (1) autopercepção de

saúde; (2) determinantes de risco laboral; e (3) cuidados com a saúde.

100

Resultados

Foram entrevistados 15 caminhoneiros com idade entre 30 e 75 anos (50±13), com mais

de sete anos de profissão, de curta e longa rota, e escolaridade variando de 1 a 11 anos de estudo.

A partir dos relatos dos caminhoneiros entrevistados, foi possível apreender diversas

representações sociais relacionadas à saúde. Visando aprofundar a análise, a partir do corpus

de respostas, foram identificadas três categorias temáticas com as respectivas subcategorias,

conforme apresentado na Tabela 1.

Autopercepção de saúde: se eu continuo trabalhando, estou bem

A autopercepção da saúde mostrou-se satisfatória, obtendo-se em média notas de 7,5 ±

1,4 e mediana de 8 pontos. Ao serem questionados sobre a justificativa para a nota autorreferida,

emergiram duas categorias: (i) a ausência ou a presença de doenças (nota alta e nota mais baixa,

respectivamente); e (ii) a presença ou ausência de cuidados à saúde (nota alta e nota mais baixa,

respectivamente), tais como alimentação, atividade física, descanso e idas ao médico.

Dentre aqueles que responderam com notas mais baixas (entre cinco e sete) a

justificativa foi, predominantemente, a ausência de cuidados à saúde. Estes tinham a

escolaridade acima da média, com mais de nove anos de estudo, caracterizando uma percepção

de saúde mais ampliada do que apenas a ausência da doença. Para aqueles com notas

mais elevadas, a escolaridade era mais baixa (menos de cinco anos de estudo) e também

apresentaram maior média de idade (54,7±12,6).

Quando foram questionados sobre a existência da relação entre a própria saúde e a

profissão de caminhoneiro, surgiram como fatores laborais de risco à saúde o descanso

insuficiente, a alimentação irregular, o estresse do trabalho e o uso de drogas para inibir o sono.

No entanto, mais da metade (53,3%) discordou desta relação, referindo motivos como estar, no

momento, em um bom emprego, viajar para perto, não estar doente e cuidar da saúde. De um

modo geral, os participantes alegaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o

equilíbrio de uma boa saúde e seus cuidados.

Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, surgiram

apontamentos como o autocuidado por meio da alimentação, recomendações médicas e prática

de atividade física. Apesar disto, metade dos participantes desse estudo afirmou não cuidar da

saúde de maneira suficiente, alegando falta de tempo ou acomodação pessoal.

Em relação à autopercepção de saúde, para os caminhoneiros se faz presente a

concepção de saúde em torno da presença ou não de doenças, além da incorporação de práticas

101

que caracterizam o cuidado, determinado como “comportamentos saudáveis” (alimentação

saudável, prática de atividade física e rotinas médicas). Entre os mais velhos, a idade mais

avançada também foi um fator determinante para a autoavaliação da saúde. Ao se compararem

com pessoas mais idosas, estes indivíduos sentem-se bem por estarem ainda em atividade

laboral, ou seja, livre de incapacidades físicas que prejudiquem o trabalho.

“A maioria dos caminhoneiros amigos meus... são tudo doente... (...) só vejo gente

reclamando disso aí... eu, graças a Deus, minha pressão é boa... não tenho diabetes... não

tenho esse problema de colesterol que (...) deu um pouquinho alto, mas isso é fácil de resolver

né... só... mudar um pouco a alimentação fazer mais um pouquinho de exercício que resolve

né?” (Entrevistado 02, 65 anos)

Determinantes de risco laborais: não existe horário programado

Foram evidenciadas as questões acerca dos determinantes de risco laborais, mostrando

como o modo de trabalhar pode interferir na sua qualidade de vida. A rotina de trabalho intensa

implica em más condições de alimentação, dificuldades com horários e rotina, impossibilidade

da prática regular de atividade física, pressão sofrida para o cumprimento de prazos e

interferências no ciclo circadiano, implicando no uso de medicamentos inibidores do sono.

“(...) o ofício não existe um horário programado como outro trabalho qualquer (...) a

gente trabalha... às vezes fica trinta e seis horas num volante quarenta horas num volante...

sem poder sair a num ser numa parada num posto alguma coisa para fazer necessidade”

(Entrevistado 03, 33 anos)

“É por conta da rotina (...) porque acaba também sendo viciante né (...) chega atrasado

aí "ah hoje eu faço um lanche"... aí quando chega o outro dia... vai acontece a mesma coisa e

acaba criando um vício... você acaba abdicando daquelas coisas que você sabe que... é

importante para o corpo mas... não faz” (Entrevistado 04, 53 anos)

O uso de drogas foi temática presente em quase todas as entrevistas. De modo geral, o

uso de substâncias para inibir o sono é prática recorrente entre os caminhoneiros. Alguns dos

entrevistados negaram o uso, no entanto, admitiram sua presença entre a categoria profissional,

seja o “rebite” ou mesmo drogas ilícitas.

“Quase que uma necessidade na estrada assim né... porque é... pessoa sai de São Paulo

.... para chegar aqui (...) tem que ser através de remédio porque o cara só... naturalmente ele

não consegue chegar... (...) tem que ser com droga para não dá sono”(Entrevistado 02, 65

anos)

102

Cuidados com a saúde: uma opção de cada pessoa

Muitos entrevistados consideraram que o cuidado com a saúde é uma prática que

depende do indivíduo e de sua vontade, apesar de admitirem os determinantes externos, como

o caso das condições de trabalho. Nas respostas da subcategoria “motivos pessoais” esses atores

sociais elencaram um conjunto de práticas entendidas como ideais (alimentação, realização de

check up periódico e atividade física regular), mostrando conhecimento e o ‘saber teórico’.

“Sempre que ele (o médico) manda eu faço (...) cada um... cabeça é um mundo, né? (...)

uma opção de cada pessoa. ” (Entrevistado 08, 65 anos)

“Eu tenho vários (cuidados com a saúde)... na alimentação (...) quem tem preguiça aí

é por isso que às vezes que é eles mesmos que descuidam da saúde deles mesmos.”(Entrevistado

09, 50 anos)

Contudo, no cotidiano dos entrevistados, essas práticas idealizadas não se apresentam

como ações concretas para a maior parte deles. Além disso, a execução de tais recomendações

parece incompatível com a árdua e extenuante rotina de trabalho.

“Você está sempre cansado... caminhoneiro não sabe nem o dia... o dia após o outro

você perde até a noção da semana... você não sabe nem... se é sexta, sábado, domingo...

naquela... naquele mundão ali é... só aquilo mesmo” (Entrevistado 08, 65 anos)

Discussão

A saúde, segundo a OMS, é um estado de completo bem-estar físico, mental e social 29.

Esse conceito ampliado vem atrelado à ideia de que é um produto de uma série de fatores

relacionados à qualidade de vida, onde interferem não apenas os determinantes biológicos. No

entanto, o processo saúde-doença em sua complexidade, tem gerado uma tendência natural,

entretanto, reducionista, de se pensar na saúde como a ausência de doença 30, questão que

emergiu das entrevistas.

Algumas análises demonstrarem maior prevalência da percepção negativa de saúde

entre sujeitos com a baixa qualidade de vida (estresse, sono insuficiente, sedentarismo) 31 e

ambiente social desfavorável 32. Entretanto, pôde-se analisar a percepção positiva da saúde entre

os entrevistados sob a perspectiva da negação da doença. A necessidade da presença do

indivíduo no trabalho apesar de doente ou com algum problema físico ou psicológico, pode

fazer com que o mesmo não perceba os seus problemas de saúde, ou mesmo minimizem seus

efeitos, retornando mais brevemente ao trabalho 33. Este fato nomeado como “presenteísmo” é

apresentado principalmente entre trabalhadores com vínculos empregatícios precários 34.

103

Numa análise qualitativa com caminhoneiros sobre condições de trabalho e saúde,

mediante as modalidades de vínculos empregatícios, Silva et al. 36 evidenciaram a

informalidade e a precarização como características dessa profissão. A remuneração do trabalho

relacionando-se com a produtividade proporciona que esse público permaneça mais tempo no

volante a fim de ganhar mais, ocasionando maiores impactos à saúde.

Poucos trabalhos brasileiros investigaram a concepção de saúde e as interferências das

atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes 16 entrevistaram 13 motoristas

afastados da atividade laboral, encontrarando que o entendimento sobre o estado de saúde

aparece, intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com

comportamentos de adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a

concepção de saúde como ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade

de vida são exíguos. Entre pessoas mais idosas, Borges et al. 13 referem que a percepção de

estar doente relaciona-se mais fortemente com a presença de incapacidades do que ser portador

de doenças crônicas. Nesse estudo, os caminhoneiros ainda se encontram em atividade laboral,

o que pode justificar uma percepção mais positiva da saúde.

Pesquisas apontam para a amplitude das conjunturas de vulnerabilidade vivenciadas por

caminhoneiros, destacando os diferentes aspectos no âmbito social, individual e laboral 9,5,6.

Dirigir caminhão é um tipo de trabalho com elevado nível de desgaste físico e mental,

características que comprometem o desempenho necessário à atividade 35. Para os

entrevistados, a representação social sobre sua própria saúde permeia a dimensão do desgaste

causado pela fadiga crônica associada a rotina estressante que as atividades laborais impõem,

levando à alimentação inadequada e ao uso de álcool e drogas para alívio do estresse e

cumprimento dos prazos.

Estudos internacionais de cunho qualitativo também revelam a influência das atividades

laboriais na saúde dos indivíduos. Boeijinga et al. 18 conduziram e analisaram 20 entrevistas

semi-estruturadas e sete casos de observações participantes com caminhoneiros holandeses.

Ressaltaram que os indivíduos desejavam melhorar seu estilo de vida, mas não conseguiam

assimilar conceitos de vida saudável, bem como, subestimavam os riscos à saúde. Além disso,

experimentavam barreiras de cunho laboral e pessoal que os impediam de traduzir suas

intenções em mudanças reais no estilo de vida. McDonought et al. 19 conduziram quatro grupos

focais com motoristas de caminhão e gestores de transportadoras em Ontário, Canadá, para

identificar a experiência vivida dos condutores em relação aos riscos evitáveis para a doença.

Os temas predominantes descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a comunicação, o estilo

de vida, a cultura de condução, a família e as preocupações relacionadas à fadiga. Em termos

104

de ambiente de trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do potencial da profissão

em determinar doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida.

O padrão alimentar é um fator preponderante com influência direta na saúde dos

caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde

em médio e longo prazo 4. A alimentação dos caminhoneiros é baseada nos restaurantes das

estradas, nos quais, em sua maioria, são ofertadas preparações desbalanceadas

nutricionalmente, ricas em gordura saturada, açúcar e sódio limitando a oferta de alimentos

necessários para um padrão adequado 5,37. McDonough et al. 19 apontaram que os

caminhoneiros têm conhecimento de que o consumo de gordura saturada, sal e açúcar em

excesso e o estilo de vida sedentário são prejudicais à saúde. Contudo, a acessibilidade, a

disponibilidade e o tempo para a compra de alimentos adequados são as maiores dificuldades

referidas por este público.

A atividade laboral de grande parte dos caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por

longos períodos, com reduzido tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder

12h. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas horas de vigília

e consomem uma proporção substancial de calorias diárias nos ambientes de trabalho e ao redor

38. Estudos demonstram a influência do trabalho por turnos (diurno e noturno) na qualidade da

alimentação ingerida, principalmente à noite 39,40,41.

Estes resultados demonstram que muito além de uma atitude biológica, a alimentação

assume também um comportamento cultural, onde as escolhas alimentares estão relacionadas

às alternativas de alimentos ofertados pelo meio e ao potencial técnico que os indivíduos

possuem 42. Os caminhoneiros identificam as dificuldades e diferenças na comensalidade do

seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto traz precárias condições para alimentar-se

tranquilamente. Sendo assim, o diagnóstico das práticas e comportamentos alimentares se torna

etapa necessária para o desenvolvimento de programas e intervenções na área de educação

nutricional 43.

A temática recorrente do uso de drogas entre os entrevistados corrobora que

determinantes ocupacionais estão fortemente associados ao uso de anfetaminas, corroborando

com outros trabalhos 44,45. A precarização no trabalho e os curtos prazos de entrega estão

relacionados ao consumo de drogas, comprometendo as condições de saúde dos caminhoneiros

36.

Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, a representação

social gira em torno da alimentação, recomendações médicas e prática de atividade física,

achado comum a outros trabalhos 46,47. Todavia, é relevante a percepção mais ampliada dos

105

determinantes do autocuidado quando emerge dos discursos a influência das condições de

trabalho nesse contexto.

De acordo com Arenas-Monreal, Jasso-Arenas e Campos-Navarro 48, o autocuidado se

constrói a partir de dois eixos: ações intencionais, efetuadas sem reflexão prévia nem

questionamentos, e ações deliberadas, influenciadas pela reflexão e experiências de vida

significativas. No entanto, essas ações diferem entre os sujeitos de acordo com seus

determinantes sociais como classe social, ocupação, sexo e família, onde a medida em que

existam condições de vida adequadas, há oportunidades para incorporar práticas que promovam

a saúde.

A concepção da promoção da saúde é caracterizada com ênfase na percepção do papel

protagonista dos determinantes sociais sobre as condições de saúde 29. Tais cuidados estariam

pautados em políticas públicas e de ambientes saudáveis, contrariando a tendência

contemporânea da visão reducionista da responsabilidade individual sobre o processo de saúde

49. Portanto, sob o prisma do princípio de integralidade do Sistema Único de Saúde é preciso

contemplar ações e políticas intersetoriais que levem em consideração os determinantes de

saúde, compondo níveis de prevenção primária, secundária e terciária 50.

Relativo aos caminhoneiros, deve-se considerar a perspectiva de gênero como

influenciador na compreensão do cuidado. Gomes, Nascimento e Araújo 51 afirmam que a

identidade do ser masculino confronta-se com o fato de evitarem os espaços de saúde no sentido

da prevenção, pois estaria relacionado ao aspecto de fragilidade, frequentemente associado às

representações do universo feminino. Mendonça, Meandro e Trindade 52 relatam que, nas

representações e práticas de saúde entre homens, as ações preventivas são apontadas como

opções relevantes para a manutenção da saúde, embora o discurso seja discrepante da prática.

Essa perspectiva de gênero pode estar ainda relacionada a autopercepção positiva da saúde entre

os caminhoneiros no presente estudo, onde falar sobre seus problemas pode significar uma

possível demonstração de fraqueza 51.

Considerações Finais

É notável que as condições de trabalho extenuantes entre os entrevistados estão

provocando influências tanto na autopercepção de saúde quanto aos aspectos relativos ao

autocuidado. Fez-se presente a concepção de saúde em torno da ausência de doenças e

insuficiência nos cuidados, reforçando a responsabilização pessoal no processo de saúde.

Embora percebessem a influência dos determinantes laborais na sua saúde e sobre quais ações

106

preventivas devem adotar, mostraram-se pouco estimulados quanto ao autocuidado alegando

questões pessoais e cansaço somados a falta de tempo e limitações devido à rotina laboral.

Apesar das importantes discussões levantadas para reflexão sobre as relações entre

trabalho e saúde a partir da perspectiva do caminhoneiro, deve-se considerar alguns limitadores.

O horário comercial disponível para as entrevistas trouxe um viés de seleção, no entanto,

destaca-se que as pesquisadoras solicitaram a participação de um quantitativo maior de

caminhoneiros com diferentes datas e horários a fim de incluir todos os que pudessem

comparecer de acordo com sua agenda de trabalho. A não segregação por idade ou escolaridade

pode ser considerado como outro limitante, contudo a heterogeneidade das características de

indivíduos caminhoneiros pode ser encontrada em outros estudos. Deste modo, sugere-se outros

trabalhos que possam ampliar o olhar a respeito da percepção desses sujeitos sobre o seu

processo de saúde e sua relação com a atividade laboral.

A valorização do ponto de vista do indivíduo abre o panorama de como enfrentar a

vulnerabilidade dos caminhoneiros às doenças crônicas, considerando todos os aspectos

envolvidos para a promoção à saúde através da mudança de hábitos e seus condicionantes

sociais. Acredita-se ainda que a autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma

reflexão mais profunda sobre seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de

hábitos e contextualização social desse processo.

Esses resultados permitiram conhecer a percepção dos motoristas, entendendo melhor o

seu contexto de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. A partir disso, espera-

se poder contribuir no direcionamento de verbas públicas aplicadas à saúde do homem e do

trabalhador. Além disso, que também levante discussões sobre a necessidade de reformulação

e cumprimento das políticas trabalhistas para o setor de transporte de cargas rodoviário com

intuito de reduzir os impactos ocupacionais na saúde dos caminhoneiros.

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111

ANEXO 1 – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO AO PERIÓDICO CADERNOS DE

SAÚDE PÚBLICA (ARTIGO 01)

112

ANEXO 2 – INSTRUÇÕES AOS AUTORES PARA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO

CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA

Cadernos de Saúde Pública/Reports in Public Health (CSP) publica artigos originais com

elevado mérito científico, que contribuem com o estudo da saúde pública em geral e disciplinas

afins. Desde janeiro de 2016, a revista adota apenas a versão on-line, em sistema de publicação

continuada de artigos em periódicos indexados na base SciELO. Recomendamos aos autores a

leitura atenta das instruções antes de submeterem seus artigos a CSP.

1. CSP ACEITA TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES 1.1 – Perspectivas: análises de temas conjunturais, de interesse imediato, de importância para a

Saúde Coletiva (máximo de 1.600 palavras);

1.2 – Debate: análise de temas relevantes do campo da Saúde Coletiva, que é acompanhado por

comentários críticos assinados por autores a convite das Editoras, seguida de resposta do autor

do artigo principal (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações);

1.3 – Espaço Temático: seção destinada à publicação de 3 a 4 artigos versando sobre tema

comum, relevante para a Saúde Coletiva. Os interessados em submeter trabalhos para essa

Seção devem consultar as Editoras;

1.4 – Revisão: revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à Saúde Coletiva, máximo

de 8.000 palavras e 5 ilustrações. Toda revisão sistemática deverá ter seu protocolo publicado

ou registrado em uma base de registro de revisões sistemáticas como por exemplo o

PROSPERO (http://www.crd.york.ac.uk/prospero/); as revisões sistemáticas deverão ser

submetidas em inglês (leia mais);

1.5 – Ensaio: texto original que desenvolve um argumento sobre temática bem delimitada,

podendo ter até 8.000 palavras (leia mais);

1.6 – Questões Metodológicas: artigos cujo foco é a discussão, comparação ou avaliação de

aspectos metodológicos importantes para o campo, seja na área de desenho de estudos, análise

de dados ou métodos qualitativos (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações); artigos sobre

instrumentos de aferição epidemiológicos devem ser submetidos para esta Seção, obedecendo

preferencialmente as regras de Comunicação Breve (máximo de 1.700 palavras e 3 ilustrações);

1.7 – Artigo: resultado de pesquisa de natureza empírica (máximo de 6.000 palavras e 5

ilustrações). Dentro dos diversos tipos de estudos empíricos, apresentamos dois exemplos:

artigo de pesquisa etiológica na epidemiologia e artigo utilizando metodologia qualitativa;

1.8 – Comunicação Breve: relatando resultados preliminares de pesquisa, ou ainda resultados

de estudos originais que possam ser apresentados de forma sucinta (máximo de 1.700 palavras

e 3 ilustrações);

1.9 – Cartas: crítica a artigo publicado em fascículo anterior de CSP (máximo de 700 palavras);

1.10 – Resenhas: resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos

últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras).

2. NORMAS PARA ENVIO DE ARTIGOS 2.1 – CSP publica somente artigos inéditos e originais, e que não estejam em avaliação em

nenhum outro periódico simultaneamente. Os autores devem declarar essas condições no

processo de submissão. Caso seja identificada a publicação ou submissão simultânea em outro

periódico o artigo será desconsiderado. A submissão simultânea de um artigo científico a mais

de um periódico constitui grave falta de ética do autor.

2.2 – Não há taxas para submissão e avaliação de artigos.

2.3 – Serão aceitas contribuições em Português, Inglês ou Espanhol.

113

2.4 – Notas de rodapé, de fim de página e anexos não serão aceitos.

2.5 – A contagem de palavras inclui somente o corpo do texto e as referências bibliográficas,

conforme item 12.13.

2.6 – Todos os autores dos artigos aceitos para publicação serão automaticamente inseridos no

banco de consultores de CSP, se comprometendo, portanto, a ficar à disposição para avaliarem

artigos submetidos nos temas referentes ao artigo publicado.

3. PUBLICAÇÃO DE ENSAIOS CLÍNICOS 3.1 – Artigos que apresentem resultados parciais ou integrais de ensaios clínicos devem

obrigatoriamente ser acompanhados do número e entidade de registro do ensaio clínico.

3.2 – Essa exigência está de acordo com a recomendação do Centro Latino-Americano e do

Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME)/Organização Pan-Americana da Saúde

(OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o Registro de Ensaios Clínicos a serem

publicados a partir de orientações da OMS, do International Committee of Medical Journal

Editors (ICMJE) e do Workshop ICTPR.

3.3 – As entidades que registram ensaios clínicos segundo os critérios do ICMJE são:

• Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR)

• ClinicalTrials.gov

• International Standard Randomised Controlled Trial Number (ISRCTN)

• Nederlands Trial Register (NTR)

• UMIN Clinical Trials Registry (UMIN-CTR)

• WHO International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP)

4. FONTES DE FINANCIAMENTO 4.1 – Os autores devem declarar todas as fontes de financiamento ou suporte, institucional ou

privado, para a realização do estudo.

4.2 – Fornecedores de materiais ou equipamentos, gratuitos ou com descontos, também devem

ser descritos como fontes de financiamento, incluindo a origem (cidade, estado e país).

4.3 – No caso de estudos realizados sem recursos financeiros institucionais e/ou privados, os

autores devem declarar que a pesquisa não recebeu financiamento para a sua realização.

5. CONFLITO DE INTERESSES 5.1 – Os autores devem informar qualquer potencial conflito de interesse, incluindo interesses

políticos e/ou financeiros associados a patentes ou propriedade, provisão de materiais e/ou

insumos e equipamentos utilizados no estudo pelos fabricantes.

6. COLABORADORES 6.1 – Devem ser especificadas quais foram as contribuições individuais de cada autor na

elaboração do artigo.

6.2 – Lembramos que os critérios de autoria devem basear-se nas deliberações do ICMJE, que

determina o seguinte: o reconhecimento da autoria deve estar baseado em contribuição

substancial relacionada aos seguintes aspectos: 1. Concepção e projeto ou análise e

interpretação dos dados; 2. Redação do artigo ou revisão crítica relevante do conteúdo

intelectual; 3. Aprovação final da versão a ser publicada; 4. Ser responsável por todos os

aspectos do trabalho na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra. Essas

quatro condições devem ser integralmente atendidas.

6.3 – Os autores mantém o direito autoral da obra, concedendo à publicação Cadernos de Saúde

Pública, o direito de primeira publicação.

114

7. AGRADECIMENTOS 7.1 – Possíveis menções em agradecimentos incluem instituições que de alguma forma

possibilitaram a realização da pesquisa e/ou pessoas que colaboraram com o estudo, mas que

não preencheram os critérios para serem coautores.

8. REFERÊNCIAS 8.1 – As referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acordo com a ordem em

que forem sendo citadas no texto. Devem ser identificadas por números arábicos sobrescritos

(p. ex.: Silva 1). As referências citadas somente em tabelas e figuras devem ser numeradas a

partir do número da última referência citada no texto. As referências citadas deverão ser listadas

ao final do artigo, em ordem numérica, seguindo as normas gerais dos (Requisitos Uniformes

para Manuscritos Apresentados a Periódicos Biomédicos). Não serão aceitas as referências em

nota de rodapé ou fim de página.

8.2 – Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade

das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es).

8.3 – No caso de usar algum software de gerenciamento de referências bibliográficas (p. ex.:

EndNote), o(s) autor(es) deverá(ão) converter as referências para texto.

9. NOMENCLATURA 9.1 – Devem ser observadas as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como

abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.

10. ÉTICA EM PESQUISAS ENVOLVENDO SERES HUMANOS 10.1 – A publicação de artigos que trazem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos

está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de

Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996, 2000 e 2008), da Associação Médica

Mundial.

10.2 – Além disso, deve ser observado o atendimento a legislações específicas (quando houver)

do país no qual a pesquisa foi realizada.

10.3 – Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão

conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último

parágrafo da seção Métodos do artigo).

10.4 – Após a aceitação do trabalho para publicação, todos os autores deverão assinar um

formulário, a ser fornecido pela Secretaria Editorial de CSP, indicando o cumprimento integral

de princípios éticos e legislações específicas.

10.5 – O Conselho Editorial de CSP se reserva o direito de solicitar informações adicionais

sobre os procedimentos éticos executados na pesquisa.

Artigos qualitativos

As metodologias qualitativas representam um conjunto amplo e diversificado de procedimentos

interpretativos comprometidos com a análise dos significados das ações sociais e das

experiências humanas. Seus métodos atravessam distintos campos disciplinares e, portanto,

apresentam diferentes parâmetros para aferir a qualidade e as "boas práticas" de pesquisa.

Traçamos aqui um roteiro básico das informações e critérios científicos que consideramos

importantes para um artigo que aporte métodos qualitativos. Antes de enviar seu texto reflita

sobre essas indagações. Embora não seja uma listagem de itens universais ou obrigatórios, a

maioria refere a questões muito relevantes.

115

Adequação aos propósitos de análise qualitativa

- O artigo explora os processos sociais a fim de compreender os significados, sentidos das

ações e experiências?

- O objeto de pesquisa é claramente contextualizado?

Quadro teórico

- O artigo apresenta diálogo com alguma teoria ou reflexão teórica das Ciências Sociais e

Humanas em suas interfaces com a Saúde Coletiva?

- Há perguntas que orientem a busca investigativa?

Metodologia

- O artigo explicita o(s) tipo(s) de método(s) empregado(s), seus princípios e sua adequação

ao objeto de estudo?

- Os acervos utilizados em pesquisas qualitativas são muito diversificados (entrevistas,

conversas, observações, fotos, músicas, documentos oficiais etc.). Em qualquer caso, a

justificativa para a eleição da referida fonte e os critérios de seleção estão definidos?

- Os critérios para escolha do campo de pesquisa e dos sujeitos estão demarcados? Tais

critérios são coerentes com os propósitos do estudo?

- As técnicas para a coleta (construção) dos dados são descritas e suas eventuais limitações

explicitadas?

- O critério para definir o número de registros tomados para análise (número de entrevistas, de

observações ou outros documentos) é descrito?

- As relações, posições e mediações entre pesquisador e os sujeitos do estudo e suas possíveis

influências nos resultados são mencionadas (reflexividade)?

- O tratamento do material e os procedimentos de análise são minuciosamente detalhados?

- As etapas do processo interpretativo são assinaladas? São descritas as categorizações,

agrupamentos, comparações etc.?

- As categorias empregadas para análise (caso existam) são apresentadas?

Resultados e Discussão

- Os resultados apresentados são claros e coerentes com os objetivos do estudo?

- Há equilíbrio entre os resultados apresentados e os distintos objetivos listados?

- Os resultados apresentados trazem informações relevantes e contextualizadas?

- São elucidativos para melhor compreender ou "responder" às perguntas do estudo?

116

– Os resultados contribuem para a ampliação do conhecimento ou restringem-se ao nível da

confirmação de estudos anteriores?

- As evidências empíricas para as interpretações feitas são apresentadas (citações, trechos de

diários de campo, entre outros) de forma adequada e suficiente?

- As interpretações são demarcadas, distinguindo-se do nível descritivo?

- As interpretações apresentadas dialogam com a literatura da área de forma adequada,

atualizada e suficiente?

- As conclusões encontram respaldo nos resultados do artigo?