96
Alicita Joana Miranda Guimarães PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE GESTÃO DO PORTFÓLIO ESTRATÉGICO DA SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA DE MINAS GERAIS Belo Horizonte 2015

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

Alicita Joana Miranda Guimarães

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE GESTÃO DO

PORTFÓLIO ESTRATÉGICO DA SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA DE

MINAS GERAIS

Belo Horizonte

2015

Page 2: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

Alicita Joana Miranda Guimarães

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE GESTÃO DO

PORTFÓLIO ESTRATÉGICO DA SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA DE

MINAS GERAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Administração Pública da Escola de Governo

Professor Paulo Neves de Carvalho da

Fundação João Pinheiro, como requisito

parcial à obtenção do título em bacharel em

Administração Pública.

Orientador: Tadeu Geraldo Miranda de

Resende Barros

Belo Horizonte

2015

Page 3: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

Guimarães, Alicita Joana Miranda

G963p Planejamento estratégico: análise do modelo de gestão do portfólio

estratégico da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais / Alicita

Joana Miranda Guimarães – Belo Horizonte, 2015.

95 p. : il.

Monografia (Curso Superior em Administração Pública) – Escola de

Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, Fundação João Pinheiro.

Orientador: Tadeu Geraldo Miranda de Resende Barros

Referência: f. 85-89

1. Planejamento estratégico – Minas Gerais. 2. Secretaria de Estado da

Fazenda – Minas Gerais. 3. Administração pública – Minas Gerais. 4.

Reforma do estado – Minas Gerais. 5. Administração estratégica – Minas

Gerais. I. Barros, Tadeu Geraldo Miranda de Resende. II. Título.

CDU 35.001.7(815.1)

Page 4: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

Alicita Joana Miranda Guimarães

Planejamento estratégico: análise do modelo de gestão do portfólio estratégico da Secretaria

de Estado de Fazenda de Minas Gerais.

Monografia apresentada ao Curso de Administração Pública da Escola de Governo Professor

Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro, como requisito parcial à obtenção do

título em bacharel em Administração Pública.

Banca Examinadora

Prof. Me. Tadeu Geraldo Miranda de Resende

Barros

(Orientador)

Fundação João Pinheiro (FJP)

Prof. Dr. Marcus Vinícius Gonçalves da Cruz

Fundação João Pinheiro (FJP)

Prof. Dr. Mauro César da Silveira

Fundação João Pinheiro (FJP)

Belo Horizonte, 16 de junho de 2015.

Page 5: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Tadeu, pela paciência, sabedoria, disponibilidade e disposição

para trilhar este caminho junto comigo. ―Vamo que vamo‖ foi sua frase de motivação ao final

de cada e-mail e aqui chegamos: o trabalho está pronto!

Agradeço à toda equipe da Agei da SEF/MG pela acolhida, convivência e oportunidade de

experiência enriquecedora.

Agradeço aos meus amigos de Fundação João Pinheiro, em especial Ana e Marcelo, que

juntos aturaram minha impaciência e dividiram também suas angústias, dúvidas e problemas,

sem perder o bom humor. Vocês redefiniram o conceito de companheirismo!

Agradeço ao Felipe por ter sido presente, paciente e um ótimo ouvinte.

Agradeço aos meus pais Maria Lúcia e Sebastião por terem acompanhado com carinho a

realização deste trabalho e por sempre possuírem palavras de encorajamento.

Por fim, agradeço a Deus.

Page 6: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente; é

o que melhor se adapta à mudança.

Charles Darwin

Page 7: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

RESUMO

Dada a necessidade de planejamento, priorização e melhor alocação dos recursos, a Secretaria

de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG) desenvolveu, em 2011, sistemática

denominada ―Governança por Comitês‖ com o objetivo de trazer ganhos incrementais ao

processo de tomada de decisão da alta gerência, de maneira participativa, auxiliando no

processo de definição do portfólio estratégico e, por conseguinte, no monitoramento e

avaliação dos projetos estratégicos da secretaria. Também no mesmo ano, desenvolveu-se

sistema informatizado – Sistema ―Projetar‖ – para auxiliar no gerenciamento dos projetos.

Tendo em vista este contexto, o presente trabalho possui como objetivo geral promover uma

análise descritiva do processo de planejamento estratégico desde a priorização até o

gerenciamento do portfólio estratégico, dando especial atenção à verificação da realização de

mudanças de rumos na estratégia como resultado do monitoramento do portfólio. Para

embasar essa análise, o trabalho contou com pesquisa bibliográfica de literatura atinente a

planejamento estratégico, gestão de projetos e gestão de portfólio, além de pesquisa

documental em atas de reunião, legislação e ordens de serviço. De forma complementar,

utilizou-se do expediente de observação não-participante e de entrevistas semi-estruturadas

com atores envolvidos no processo do planejamento estratégico da SEF/MG.A análise voltou-

se, mais especificamente, para os processos de gerenciamento de projetos e permitiu

identificar avanços proporcionados pela sistemática dos Comitês e desenvolvimento do

Sistema ―Projetar‖, além de apontar, igualmente, possibilidades de evolução do modelo.

Palavras-chave: 1. Planejamento Estratégico. 2. Gestão de Projetos. 3. Gestão de Portfólio. 4.

Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais.

Page 8: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

ABSTRACT

Given the need of planning, prioritizing and better resources allocation, the ―Secretaria de

Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG)‖ developed, in 2011, the systematic called

―Governance by Committees‖ which tried to bring incremental gains to the decision making

process, in a participatory way, helping the process of strategic portfolio definition out and,

therefore, also helping the project management out. In the same year was created the ―Projetar

System‖ to improve the management process. Bearing in mind this context, this paper work

has the objective of analyzing the strategic planning process since the prioritization until the

portfolio management, paying special attention to the ascertainment of strategic changes as a

result from the management process. In order to support the study, this paper work has relied

on strategic management, project and portfolio management bibliography research, as well as

documental research in legislation, service orders and meeting minutes. Complementary, it

was used the non-participant observation and interviews with stakeholders involved in the

SEF/MG strategic planning process. The analysis focused, specifically, on the management

process and allowed the identification of advances provided by ―Governance by Committees‖

and ―Projetar System‖ development, in addition to indicate model‘s evolutionary possibilities.

Key-words: 1. Strategic Planning. 2. Project Management. 3. Portfolio Management. 4.

Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais.

Page 9: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 1 – Estrutura genérica de ciclo de vida de projeto ........................................................ 34

Figura 2 – Grupos de processos de gerenciamento de projetos ............................................... 40

Figura 3 – Contexto organizacional do gerenciamento de portfólio ........................................ 42

Figura 4 – Os componentes de um portfólio ............................................................................ 43

Figura 5 – Processos envolvendo gerenciamento de portfólio, segundo Prado (2009) ........... 44

Figura 6 – Modelo de gerenciamento de portfólio ................................................................... 45

Figura 7 – Arquitetura de comitês da SEF/MG ....................................................................... 53

Figura 8– Ciclo de vida de projeto ........................................................................................... 57

Figura 9 – Termo de abertura de projeto (TAP) ...................................................................... 58

Figura 10 – Processo de priorização e composição do portfólio estratégico da SEF/MG ....... 60

Figura 11 – Acompanhamento mensal dos projetos estratégicos - sistema ―Projetar‖ 2015 ... 62

Figura 12 – Relatório referente ao acompanhamento mensal dos projetos estratégicos pelo

sistema ―Projetar‖, 2015 ...................................................................................... 63

Figura 13 – Caderno de planejamento 2015 ............................................................................ 65

Figura 14 – Caderno de resultados 2013 .................................................................................. 66

QUADROS

Quadro 1 – As escolas do pensamento estratégico ................................................................... 28

Quadro 2 – Modelos Evolutivos de PMO, segundo Dinsmore (1998) ..................................... 36

Quadro 3 – Classificação de PMO, segundo Verzuh (1999) .................................................... 37

Quadro 4 – Identificação dos entrevistados por perfil .............................................................. 50

Quadro 5 – Objetivos dos comitês temáticos ........................................................................... 55

Page 10: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Agei Assessoria de Gestão Estratégica e Inovação

ALMG Assembleia Legislativa de Minas Gerais

BSC Balanced Scorecard

Dasp Departamento Administrativo do Serviço Público

EAP Estrutura Analítica de Projeto

Mare Ministério da Administração e Reforma do Estado

Nasa National Aeronautics and Space Administration

NP Núcleo de Planejamento

NP Núcleo de Planejamento

ONG Organização Não Governamental

PMBOK Project Management Body Of Knowledge

PMDI Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado

PMI Project Management Institute

PPAG Plano Plurianual Governamental

Sade Sistema de Análise do Desempenho da Estratégia

Seccri Secretaria de Casa Civil e Relações Institucionais de Minas Gerais

SEF/MG Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais

Seplag Secretaria de Planejamento e Gestão de Minas Gerais

STI Superintendência de Tecnologia da Informação

TCE/MG Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais

TI Tecnologia da Informação

Page 11: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12

2 DA REFORMA DO ESTADO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL ....... 19

2.1 Conceitos e Evolução da Administração Pública Gerencial ......................................... 19

2.2 Discussão contemporânea ................................................................................................ 21

2.3 O caso brasileiro ............................................................................................................... 22

2.4 Administração Gerencial em Minas Gerais ................................................................... 24

3 GESTÃO ESTRATÉGICA ................................................................................................ 26

3.1 Estratégia e Gestão Estratégica ....................................................................................... 26

3.2 Planejamento Estratégico ................................................................................................ 28

4 GESTÃO DE PROJETOS .................................................................................................. 32

4.1 Projetos e Gerenciamento de Projetos: Origem e Conceituação ................................. 32

4.2 Ciclo de Vida do Projeto .................................................................................................. 34

4.3 Escritórios de Gestão de Projetos.................................................................................... 35

4.4 Gerenciamento de Projetos .............................................................................................. 38

4.5 Gerenciamento da carteira de projetos: portfólio ......................................................... 42

5 METODOLOGIA ................................................................................................................ 48

5.1 Tipo de Estudo e método de pesquisa ............................................................................ 48

6 A EXPERIÊNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA SEF/MG ................ 52

6.1 Histórico ............................................................................................................................ 52

6.2 A arquitetura da Governança por Comitês ................................................................... 53

6.3 A priorização ..................................................................................................................... 56

6.4 A gestão do portfólio estratégico ..................................................................................... 60

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................. 67

7.1 Dinâmica e funcionamento da Governança por Comitês ............................................. 68

7.2 Formação e priorização do portfólio estratégico ........................................................... 69

7.3 Monitoramento, identificação de gargalos e correção de rumos da estratégia ........... 70

Page 12: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

7.4 Benefícios do modelo ........................................................................................................ 76

7.5 Possibilidades de evolução ............................................................................................... 78

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 81

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 85

APÊNDICES ............................................................................................................................ 90

APÊNDICE A – Roteiro de pesquisa semi-estruturada ........................................................... 90

ANEXOS .................................................................................................................................. 91

ANEXO A – Identidade organizacional da SEF/MG ............................................................... 91

ANEXO B – Organograma resumido da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais .. 92

ANEXO C – Base de cálculo da execução de projetos utilizada pela Seplag/MG .................. 93

ANEXO D – Mapa estratégico da SEF/MG ............................................................................. 94

ANEXO E – Sistema de análise da estratégia (Sade) da SEF/MG referente ao ano de 2014 .. 95

Page 13: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

12

1 INTRODUÇÃO

Em âmbito governamental, no qual os recursos são escassos e as necessidades

da população são infinitas, cabe à Administração Pública o exercício do planejamento e da

priorização. Assim, o Estado pode e deve se valer de instrumentos de planejamento para

orientar sua atuação, visto que este representa a coesão de suas ações globais com as ações

específicas de cada uma das instituições que o compõe. Desse modo, além da convergência de

objetivos,

o planejamento estratégico é importante para as instituições governamentais

porque, apesar de não possuírem fins lucrativos, os recursos disponíveis são

limitados e determinantes do tamanho das despesas. Num cenário de

restrição, se a alocação dos recursos não convergir para atender da melhor

forma a demanda da sociedade, a organização pode desvirtuar-se de sua

missão e prejudicar sua continuidade (ALMEIDA; CRUZ, 2002).

Ademais, segundo Aktouf (1996), a Administração Pública pode ser

considerada como uma ação concreta e contínua, na qual o gestor é um ente de ação. Assim, o

gestor é alguém que se baseia num máximo de saberes para melhor assentar sua percepção das

situações e melhor fundar as instituições que guiarão no exercício, o mais adequado possível,

de sua atividade.

Para embasar a percepção dos gestores, nas últimas décadas, tem-se utilizado

ferramentas de gestão estratégica comuns à administração privada, como o planejamento

estratégico e o gerenciamento de projetos, que passaram a integrar a Administração Pública, a

qual denominou-se de administração gerencial. Nesse sentido, a administração pública

gerencial se configura como uma alternativa, de acordo com Pereira (2004, p.546-547) à

―supervisão, regulamentação detalhada e auditoria [da administração burocrática], [utilizando-

se de] controle por resultados, competição administrada por excelência, e o controle social por

[meio de] organizações da sociedade civil e pela mídia.‖

Acredita-se, então, que o planejamento estratégico seja ―uma valiosa

ferramenta de auxílio à alta administração, pois permite nortear as ações gerenciais da

instituição em um plano previamente determinado de metas e estratégias, diminuindo, com

isso, a possibilidade de tomada de decisões equivocadas‖ (BARBOSA; BRONDANI, 2005,

p.108).

Page 14: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

13

Planejamento, segundo De Toni (2003), exige maturidade para lidar com as

limitações impostas pelo ambiente externo ou pelo grau de desenvolvimento da organização.

Portanto, um bom planejamento parte da premissa de se definir, com exatidão, quais são as

prioridades.

Ainda, ao buscar o sucesso do planejamento estratégico na organização, é

fundamental que as ações priorizadas sejam efetivamente desenvolvidas, possibilitando o

alcance dos objetivos estabelecidos.Logo, ao se definir a estratégia, os planos de ação

resultantes do planejamento estratégico devem ser vistos como um portfólio estratégico de

projetos e gerenciados como tal, visto que a utilização de metodologias de gestão de projetos

beneficia a execução dos objetivos, trazendo agilidade, confiabilidade, foco e controle.

Nota-se, então, que para cumprir com os objetivos da organização, os projetos

estratégicos devem passar por monitoramento durante toda a sua execução, possibilitando a

análise das atividades que se encontram em caminho crítico, bem como a orientação quanto

aos recursos e alternativas disponíveis para correção de rumos. Dessa maneira, percebe-se que

ambos planejamento estratégico e gestão de projetos estão interligados e devem estar

alinhados para que a estratégia da organização, de fato, seja cumprida.

Trazendo tal problemática para o contexto de Minas Gerais, na última década,

buscou-se uma maior utilização de ferramentas de gestão como planejamento estratégico e

gestão de projetos por parte da administração pública, com a proposta de alcançar os objetivos

de longo prazo estabelecidos pelo governo e delineados no Plano Mineiro de

Desenvolvimento Integrado (PMDI). Às secretarias de estado coube uma atualização de sua

gestão, devendo buscar alinhamento às diretrizes governamentais. Mais especificamente no

caso da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG), a qual constitui-se como

unidade de análise do presente trabalho, a partir de 2003, iniciou-se o desenho de seu

planejamento estratégico, com definição de missão, visão e valores da organização.

Entretanto, o alinhamento à estratégia não se limitou à construção de documentos e adoção de

metodologias para o estabelecimento de indicadores como o Balanced Scorecard (BSC).

Percebeu-se a necessidade de melhorias no processo decisório e também no processo de

gestão de projetos.

Page 15: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

14

Destarte, partindo de um cenário de planejamento estratégico de curto prazo

em que a constituição do portfólio anual de projetos era realizada levando-se em consideração

mais o rito de datas e abertura de ―janelas‖ para submissão dos projetos, e muito pouco os

vieses orçamentário e estratégico cuja base seria a agenda de governo, a SEF/MG visualizou a

necessidade de priorizar e definir quais ações seriam realmente estratégicas para a

organização, evitando, com isso, o dispêndio de recursos e buscando o alinhamento às

diretrizes governamentais e entrega de resultados mais efetiva.

Com a instituição das Assessorias de Gestão Estratégica e Inovação (Ageis),

por meio da Lei Delegada nº 180 de 20 de janeiro de 2011, que dispõe sobre a estrutura

orgânica da Administração Pública de Minas Gerais e por meio do Decreto nº 45.780 de 24 de

novembro de 2011, o qual regulamenta a organização da Secretaria de Estado de Fazenda de

Minas Gerais, coube à Agei:

CAPÍTULO X

DA ASSESSORIA DE GESTÃO ESTRATÉGICA E INOVAÇÃO

Art. 10. A Assessoria de Gestão Estratégica e Inovação tem por finalidade

promover o gerenciamento estratégico setorial de forma alinhada à estratégia

governamental, em conformidade com as diretrizes técnicas estabelecidas

pela Subsecretaria de Gestão da Estratégia Governamental, da Secretaria de

Estado de Planejamento e Gestão - Seplag, bem como garantir o efetivo1

gerenciamento das ações voltadas para a gestão orçamentária e o

planejamento institucional, em consonância com as diretrizes

estratégicas da SEF, competindo-lhe:

I - promover o alinhamento das ações setoriais com a estratégia

governamental contida no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado

- PMDI;

II – coordenar a elaboração do planejamento global da SEF, com ênfase

no portfólio estratégico;

III - coordenar a elaboração da proposta orçamentária da SEF e acompanhar

sua efetivação;

IV - orientar a elaboração e a execução das atividades relativas à gestão

para resultados da SEF e das entidades a ela vinculadas, subsidiando o

Secretário na tomada de decisão;

V - dar suporte à execução do portfólio estratégico da SEF e das

entidades a ela vinculadas; e

VI - apoiar a SEF na relação com a SECCRI nas atividades e iniciativas

voltadas para a integração institucional da ação governamental, em matéria

de competência comum (MINAS GERAIS, 2011a).

Sobre o Núcleo de Planejamento, o mesmo Decreto dispõe:

1 Grifo nosso.

Page 16: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

15

Seção I

Do Núcleo de Planejamento

Art. 11. O Núcleo de Planejamento tem por finalidade promover ações de

planejamento, no âmbito da SEF, competindo-lhe:

I - coordenar o processo de elaboração, revisão, monitoramento e

avaliação do Plano Plurianual de Ação Governamental - PPAG2;

II - propor e coordenar o processo de elaboração do planejamento

estratégico e global da SEF, promovendo a integração dos planos

setoriais;

III - gerenciar o processo de planejamento global das atividades da SEF

e avaliar o desempenho de suas atividades, propondo ações que visem

assegurar os objetivos e as metas estabelecidos;

IV - estabelecer diretrizes, definir e implementar metodologias para

desenvolvimento e acompanhamento de projetos estratégicos da SEF;

V - operacionalizar o controle do planejamento estratégico;

VI - coordenar, acompanhar e avaliar a formulação e implementação de

planos, programas, projetos e atividades da SEF;

VII - consolidar as informações sobre as atividades, os projetos e os

programas das unidades da SEF para subsidiar a elaboração de Relatórios

Gerenciais e da ―Mensagem de Governo encaminhada à ALMG; e

VIII - acompanhar a execução dos projetos estruturadores, participando de

reuniões promovidas pela Seplag (MINAS GERAIS, 2011a).

Com essa nova estrutura, foi possível, então, construir uma arquitetura

denominada ―Governança por Comitês‖, a qual buscava trazer melhorias ao processo de

tomada de decisão da alta gerência, de maneira participativa, auxiliando no processo de

definição do portfólio estratégico e, por conseguinte, no monitoramento e avaliação dos

projetos estratégicos da secretaria. Ainda, com vistas a trazer ganhos incrementais, utilizou-se

de ferramentas de TI para a construção de sistema informatizado para o gerenciamento de

projetos. O que se observa, então, é a tentativa da secretaria de tornar seu processo de

planejamento estratégico mais robusto e alinhado às diretrizes governamentais, buscando com

a priorização uma melhor utilização dos recursos públicos.

A fim de promover análise acerca do planejamento estratégico da SEF/MG, e

mais especificamente do monitoramento do seu portfólio estratégico, este trabalho parte da

seguinte pergunta: ―Se, e em que medida são realizadas mudanças de rumo nas prioridades

estratégicas da organização como resultado do monitoramento e avaliação do portfólio de

projetos estratégicos?‖ Considerando que o ciclo do planejamento da SEF/MG inicia-se com a

priorização pelo Comitê de Prioridades e aprovação pelo Comitê de Governança, buscar-se-á

verificar se, após o monitoramento dos projetos, estes resultados retroalimentam o ciclo,

2 Grifo nosso.

Page 17: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

16

retornando para o Comitê de Governança, possibilitando uma melhor tomada de decisões,

além de verificar se as ações, uma vez planejadas, estão no rumo certo e atendendo à

estratégia organizacional.

Portanto, constitui-se como objetivo deste trabalho promover uma análise

descritiva do modelo de planejamento estratégico da SEF/MG, perpassando pelo processo de

formação do portfólio anual de projetos prioritários até o seu monitoramento e avaliação.

Para atingir o objetivo geral da pesquisa, recorrer-se-á aos seguintes objetivos

específicos:

Levantar pesquisa bibliográfica acerca da evolução do planejamento

estratégico e gestão de projetos enquanto ferramentas na Gestão Pública;

Analisar o processo de formação do portfólio anual de projetos prioritários da

SEF/MG, perpassando pelas etapas de priorização e monitoramento dos projetos estratégicos;

Levantar junto a atores estratégicos sua percepção a respeito do processo de

priorização e monitoramento;

Elencar potencialidades e pontos de evolução do modelo de planejamento

estratégico anual delineado pela SEF/MG.

Para este trabalho, parte-se da hipótese de que embora a tentativa de

priorização da carteira de projetos da SEF/MG ocorra de maneira participativa, por meio da

arquitetura de ―Governança por Comitês‖ e o monitoramento utilize ferramentas de tecnologia

da informação, os dados colhidos nesta última etapa não voltam a retroalimentar o ciclo; ou

seja, após a seleção e aprovação dos projetos, o Comitê de Governança não consegue, de fato,

avaliar o andamento destes, o que faz com que, possivelmente, falhas na estratégia

organizacional deixem de ser corrigidas ao longo da execução.

Cumpre ressaltar que a relevância do tema deve-se ao fato de ser o

planejamento estratégico:

(...) uma valiosa ferramenta de auxílio à alta administração, pois permite

nortear as ações gerenciais em um plano previamente determinado de metas

e estratégias, diminuindo, com isso, a possibilidade de tomada de decisões

equivocadas num ambiente extremamente competitivo em que as demandas

sociais são cada vez mais acentuadas. A aplicação de ferramentas

relacionadas ao planejamento estratégico governamental auxilia os gestores

públicos a traçar estratégias para acabar com rotinas administrativas que (...)

Page 18: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

17

que comprometem os resultados obtidos com a ação de governo (SILVA,

2001, p. 123).

Optou-se pelo processo de construção do planejamento estratégico anual da

SEF/MG como objeto de análise, dado que este, após mudanças realizadas em 2011, passou a

buscar critérios legítimos e participativos de priorização, por meio da ―Governança por

Comitês‖, questão essencial que acredita-se possibilitar uma melhor alocação de recursos,

contribuindo para a melhoria do gasto público. Ademais, a partir deste modelo, será possível

analisar se a priorização e, especialmente, o monitoramento dão subsídios para uma avaliação

a posteriori da carteira de projetos estratégicos definida anualmente. Assim, além da

discussão teórica a respeito do planejamento estratégico, o trabalho proporcionará a descrição

da experiência na secretaria, procurando verificar se a seleção de prioridades, monitoramento

e avaliação de projetos estratégicos vêm contribuindo para o alcance da estratégia

organizacional.

Além desta introdução, o trabalho está dividido em 8 (oito) seções. As três

seções subsequentes à introdução compõem o referencial teórico que baliza as análises

promovidas no estudo de caso do planejamento estratégico da SEF/MG.A seção 2 apresenta

retrospecto da Administração Pública Gerencial, buscando os principais conceitos e sua

evolução nas experiências internacional, brasileira e mineira.A seção 3 aborda o tema da

gestão estratégica, e mais especificamente o planejamento estratégico: seus fundamentos,

aplicações e benefícios para as organizações. Na seção 4 trata-se da gestão de projetos e

gestão de portfólio, seu surgimento como disciplina, principais conceitos, e aplicabilidade

enquanto ferramenta para a execução da estratégia.

A seção 5 descreve a metodologia e aponta quais as ferramentas utilizadas nas

análises, a abordagem e qual o tipo de pesquisa realizada.

Na seção 6 é contextualizada a experiência de planejamento estratégico da

Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG), que envolveu a criação da

arquitetura de ―Governança por Comitês‖ e o desenvolvimento do Sistema ―Projetar‖ para

gerenciamento de projetos e dá-se enfoque ao processo de monitoramento do portfólio

estratégico de projetos.

Page 19: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

18

A seção 7 trata da apresentação e análise dos resultados obtidos com a pesquisa

documental e entrevistas semi-estruturadas, buscando relacionar as informações e percepções

captadas aos conceitos da literatura consultada na revisão bibliográfica.

Por fim, na seção 8 são elaboradas as considerações finais, apresentando

síntese das principais questões levantadas neste trabalho e indicando os benefícios do modelo

e as possibilidades de evolução.

Page 20: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

19

2 DA REFORMA DO ESTADO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL

Esta seção apresenta um breve retrospecto da evolução da Administração

Pública Gerencial, perpassando pela crise e reforma do Estado nas experiências internacionais

e brasileira, além de discutir as mudanças ocorridas em Minas Gerais nas últimas décadas, o

qual se faz necessário para contextualizar a gestão estratégica e, mais especificamente o

planejamento estratégico, bem como a gestão de projetos no universo da Administração

Pública, possibilitando melhor compreensão a respeito do porquê da adoção dessas

tradicionais ferramentas de gestão privada no setor governamental.

2.1 Conceitos e Evolução da Administração Pública Gerencial

A partir da crise do petróleo, na década de 1970, as economias mundiais se

viram frente ao fim da ―era dourada‖3 e, segundo Abrucio (1997), desde o final dessa década

a reforma do Estado se tornou palavra de ordem em quase todo o mundo. O Estado foi o

grande afetado pela crise econômica mundial que resultou em um grande período recessivo

nas décadas de 1980 e 1990, levando-o a uma grave crise fiscal. Os governos estavam

sobrecarregados de atividades, mas, ao mesmo tempo, não tinham mais como financiar seus

déficits. Ademais, de acordo com Pereira (1996, p.5)

o Estado social e econômico4 do século XX não garantia rapidez, boa

qualidade, bem como custos baixos para os serviços prestados ao

público. Na verdade, a administração burocrática, revelou-se em certa

medida lenta, cara, auto-referida, pouco ou nada orientada para o

atendimento das demandas dos cidadãos.

Para enfrentar essa situação, ―o aparato governamental precisava ser mais ágil

e mais flexível, tanto em sua dinâmica interna como em sua capacidade de adaptação às

3A ―era dourada‖, segundo Eric Hobsbawn (1995 apud Abrucio, 1997) foi o período em que ambos

países socialistas e capitalistas alcançaram altas taxas de crescimento. Ainda de acordo com este

autor, a principal receita para o contínuo crescimento foi o consenso a respeito do papel do Estado, o

qual procurava garantir prosperidade econômica e bem-estar social. 4Conforme Abrucio (1997), o Estado que se viu em crise a partir do final da década de 1970 possuía

três dimensões: Econômica, claramente keynesiana, marcada pela forte intervenção do Estado na

economia; Social, marcada pelo Welfare Stateque tinha como objetivo principal a produção de

políticas públicas nas áreas de educação, saúde, previdência social, habitação, etc., para garantir o

suprimento das necessidades básicas da população; e, por fim, Administrativa, que se referia ao

funcionamento interno do Estado, o chamado modelo burocrático weberiano, ao qual cabia o papel

de manter a impessoalidade, a neutralidade e a racionalidade do aparato governamental.

Page 21: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

20

mudanças externas‖ (ABRUCIO, 1997, p.10). Assim, a cartilha que começava a surgir nos

anos 1980 e que daria as bases para a futura Nova Gestão Pública5

, proposta pelos

reformadores que acreditavam no modelo gerencial, preconizava corte de gastos, inclusive de

pessoal, aumento da eficiência e atuação mais flexível do aparato burocrático; ou seja, o

managerialism6 substituiria o modelo weberiano, introduzindo a lógica da produtividade

existente no setor privado.Naquele momento, os movimentos de reforma, conduzidos em

especial na Grã-Bretanha e Estados Unidos na década de 1980, estavam, então, voltados para

a retração da máquina governamental a um menor número de atividades.

A fim de cumprir os objetivos do managerialism, implementou-se diversos

instrumentos gerenciais, tais como controle orçamentário e técnicas de avaliação de

desempenho. A descentralização administrativa também constituiu-se em outra opção

organizacional importante, com o objetivo de aumentar a autonomia das agências e dos

departamentos. Entretanto, ao enfatizar em demasia a estratégia da eficiência, o modelo

gerencial puro corria o risco de excluir valores como flexibilidade para decidir e inovar,

fazendo com que os critérios de medição da eficiência se tornassem rígidos e ineficazes, nos

termos do managerialism, quanto às regras e procedimentos do modelo burocrático

weberiano.

Ademais, outra crítica refere-se à necessidade de avaliação dos serviços

públicos e que não recebe a devida importância, entendendo-se aqui efetividade como o grau

em que se atinge o resultado esperado (OSBORNE; GAEBLER, 1994, apud ABRUCIO,

1997).

Contudo, mesmo não abordando todas as falhas, cabe ressaltar os principais

êxitos do modelo gerencial puro, a saber: a ênfase dada à questão financeira, que acabou por

se tornar um valor importante a todos os governos que realizaram reformas administrativas

recentemente; a busca pela eficiência governamental; a discussão acerca do modelo gerencial

e seus novos rumos a partir de meados da década de 1980 – relacionados à dinâmica intra

5 New Public Management ou Nova Gestão Pública- é um conjunto de argumentos e filosofias

administrativas aceitas em determinados contextos e propostas como novo paradigma de gestão

pública a partir da emergência dos temas crise e reforma do Estado nos anos 80 (Hood & Jackson,

1991 apud GUIMARÃES, 2012, p.17). 6 Modelo Gerencial. Public Management.

Page 22: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

21

organizacional (flexibilidade, planejamento estratégico e qualidade) – e à preocupação com a

adoção de serviços públicos voltados para os anseios dos clientes/consumidores.

2.2 Discussão contemporânea

O conceito de managerialism evoluiu ao longo dos anos e, certamente, o

impacto da crise da burocracia weberiana e da implementação do modelo gerencial puro

transformou o debate na área da Administração Pública.

Abrucio (1997) apresenta as principais tendências de modificação no antigo

padrão burocrático weberiano, vinculadas a estruturas pós-burocráticas profundamente

influenciadas pelo debate em torno do modelo gerencial.

a) Incentivo à adoção de parcerias com o setor privado e com as organizações

não governamentais (ONGs);

b) Ampla introdução de mecanismos de avaliação de desempenho individual e

de resultados organizacionais, atrelados uns aos outros, e baseados em indicadores de

qualidade e produtividade;

c) Maior autonomia às agências governamentais e, dentro delas, aos vários

setores, horizontalizando a estrutura hierárquica;

d) Descentralização política, apoiada no princípio de que quanto mais perto

estiver do cidadão o poder de decisão com relação às políticas públicas, melhor será a

qualidade da prestação do serviço e, de fundamental importância, maior será o grau de

accountability. Os governos também têm atuado no sentido de implantar políticas de

coordenação entre as várias esferas administrativas;

e) Estabelecimento do conceito de planejamento estratégico , adequado às

mudanças no mundo contemporâneo e capaz de pensar, também, as políticas de médio e

longo prazo7;

f) Flexibilização das regras que regem a burocracia pública;

g) Mesmo com a flexibilização da política de pessoal, a profissionalização do

servidor público continua sendo prioridade;

7 Grifo nosso.

Page 23: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

22

h) Desenvolvimento das habilidades gerenciais dos funcionários, em particular

os de nível médio e os do alto escalão burocrático.

Indo ao encontro da lógica acima apresentada por Abrucio (1997), Kettl (2003,

p. 116) aponta que ―segundo a perspectiva de um melhor funcionamento do Estado, é que se

vislumbra a necessidade de se criar uma nova capacidade administrativa, que compreende um

funcionalismo público com qualificações diferentes, tendo como suporte a nova tecnologia de

informação e novos processos gerenciais‖.

No caminho da flexibilização da gestão pública, também podemos citar a

passagem da lógica do planejamento para o conceito de estratégia:

Na primeira, prevalece o conceito de plano, o qual estabelece, a partir de

uma racionalidade técnica, o melhor programa a ser cumprido. Já na lógica

de estratégia, são levadas em conta as relações entre os atores envolvidos em

cada política, de modo a montar cenários que permitam a flexibilidade

necessária para eventuais alterações nos programas governamentais. A

utilidade da lógica de estratégia vai além da confecção dos programas

governamentais. O contexto maior da reforma administrativa se beneficia

igualmente do conceito de estratégia, sobretudo porque a maioria dos

Estados contemporâneos passa por três grandes crises: a fiscal; a decisória,

uma vez que o quadro institucional mais atrapalha do que favorece a

implementação de reformas; e, por fim, a de confiança, pois a população

desconfia, cada vez mais, dos governos e de suas políticas. É neste ambiente

que é proposta a utilização da estratégia, que não leva só em conta os

objetivos dos programas e das reformas propostas, mas principalmente

requer um acompanhamento das reações da sociedade e dos funcionários

públicos frente às ações do governo (CROZIER, 1992apud ABRUCIO,

1997, p.20).

Ideias como a melhoria contínua dos processos e dos serviços, além da gestão

da qualidade também difundiram-se no contexto das reformas, dando à gestão do Estado

características da administração privada. A fim de prosseguir com a discussão sobre reforma

do Estado, na subseção seguinte será apresentado o caso brasileiro e suas experiências de

reforma.

2.3 O caso brasileiro

Trazendo a temática da reforma do Estado para o contexto brasileiro, de acordo

com Bresser-Pereira (1996), a ideia de uma administração pública gerencial no Brasil é

antiga. Primeiro, pode-se afirmar que os princípios da administração burocrática clássica

Page 24: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

23

foram introduzidos no país por meio da criação, em 1936, do Departamento Administrativo

do Serviço Público (Dasp). A criação do Dasp representou mais do que a primeira reforma

administrativa do país, com a implantação da administração pública burocrática; representou

também a afirmação dos princípios centralizadores e hierárquicos da burocracia clássica.

Contudo, nota-se que já em 1938, é possível perceber um primeiro sinal de administração

pública gerencial, com a criação da primeira autarquia. Nascia, nesse momento, a ideia de que

os serviços públicos na ―administração indireta‖ deveriam ser descentralizados e não obedecer

a todos os requisitos burocráticos da ―administração direta‖ ou central até então preconizados

pela então administração burocrática.

A primeira tentativa de implantação da reforma gerencial da administração

pública brasileira acontece no final dos anos 60, através do Decreto-Lei 200, de 1967, o qual

representava uma tentativa de superação da rigidez burocrática. Enfatizou-se a

descentralização mediante a autonomia da administração indireta, a partir do pressuposto da

rigidez da administração direta e da maior eficiência da administração descentralizada.

Ainda na visão de Bresser-Pereira (1996), o Decreto-Lei 200 teve, entretanto,

duas consequências inesperadas e indesejáveis. De um lado, ao permitir a contratação de

empregados sem concurso público, perpetuou a sobrevivência de práticas patrimonialistas e

fisiológicas. De outro lado, ao não se preocupar com mudanças no âmbito da administração

direta ou central, que foi vista pejorativamente como ―burocrática‖ ou rígida, deixou de

realizar concursos e de desenvolver carreiras de altos administradores. O núcleo estratégico

do Estado acabou enfraquecido indevidamente através de uma estratégia oportunista do

regime militar, que, ao invés de se preocupar com a formação de administradores públicos de

alto nível selecionados através de concursos públicos, preferiu contratar os escalões

superiores da administração através das empresas estatais. Desta maneira, a reforma

administrativa embutida no Decreto-Lei 200 ficou pela metade e fracassou.

O Brasil passou por outra reforma na década de 1990, após uma década de

1980 de crises e aumento do papel do Estado enquanto Estado social, quando foram

introduzidos os princípios da ―Nova Gestão Pública‖.

Como marco institucional é possível destacar a criação do Ministério da

Administração e Reforma do Estado (Mare), em 1995, cuja responsabilidade era formular

Page 25: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

24

políticas para a reforma do Estado, reforma administrativa, modernização da gestão, bem

como a promoção da qualidade do serviço público. Dessa maneira, definiu-se inicialmente a

reforma através do Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado, o qual previa a

terceirização atividades de apoio para o setor privado; a transferência das atividades sociais e

científicas que a sociedade acredita devam ser total ou parcialmente financiadas pelo Tesouro

para setor público não estatal; e fortalecimento do núcleo estratégico do Estado, onde as

decisões de políticas são tomadas por políticos e funcionários do alto escalão.

Segundo Bresser-Pereira (2008) a Reforma Gerencial de 1995 pode ser vista

sob dois ângulos: o estrutural e o da gestão. Do ponto de vista estrutural, a característica

fundamental da reforma gerencial foi a transferência de atividades não exclusivas do Estado

para o setor público não estatal por meio da criação de agências reguladoras – entidades com

autonomia para regulamentarem os setores empresariais que operem em mercados não

suficientemente competitivos –, agências executivas - ocupam-se principalmente da execução

das leis -, além das organizações sociais já mencionadas. Ao promover a transferência da

execução dos serviços sociais foi possível que o Estado se limitasse a contratar servidores

estatutários de alto nível que, além de participarem em conjunto com os políticos da

formulação de políticas públicas, deveriam contratar os serviços e verificar sua execução.

Sob o ângulo da gestão, cresceu o número de organizações públicas que

possuem planos estratégicos no quadro de uma administração de resultados, além da

disseminação de sistemas de gestão baseados na motivação positiva dos servidores públicos

que atingem metas ou alcançam melhores desempenhos (BRESSER-PEREIRA, 2008, p.

175).

Como exemplo de organização pública que passou a utilizar planos

estratégicos, será contextualizado o caso do governo do estado de Minas Gerais na próxima

subseção.

2.4 Administração Gerencial em Minas Gerais

A partir de 2003, em Minas Gerais, a estratégia voltou-se, em um primeiro

momento, segundo Vilhena (2006), para a busca pela eficiência da máquina pública,

estabelecendo um novo modus operandi do Estado, sob a diretriz da reforma administrativa

Page 26: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

25

intitulada ―Choque de Gestão‖, e implantada em três fases distintas, cujos pilares de atuação

foram: redução das despesas, aumento da receita, reestruturação de processos e gerenciamento

de projetos.

A primeira geração considerada emergencial do Choque de Gestão, focava

mais especificamente no equilíbrio fiscal e modernização da máquina, já a segunda geração,

implantada entre 2007-2010, denominada Estado para Resultados se propôs a dar

continuidade ao processo iniciado, com a revisão do planejamento estratégico de longo prazo,

o Plano de Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI)8, além de incorporar o alcance de

resultados na melhoria da qualidade de vida da população mineira, por meio da criação de

onze áreas prioritárias de resultado, interligando o planejamento de longo prazo à gestão para

resultados, pautada pelo contínuo gerenciamento de projetos.

Em 2011, foi introduzida a terceira geração do Choque de Gestão, conhecida

por Gestão para Cidadania, na qual o arranjo governamental se dá por meio de Redes de

Desenvolvimento Integrado; o Estado em Rede pode ser definido como um modelo

transversal de gestão que ocorre por meio da governança integrada entre governo e sociedade,

além de incorporar conceitos como a intersetorialidade das políticas públicas durante a

revisão do instrumento de planejamento de longo prazo do governo, o PMDI.

O PMDI orienta que, em face de recursos escassos, definir prioridades torna-se

essencial para potencializar a capacidade de execução por parte do governo. Assim, a

definição da visão para o estado serve como guia para o seu planejamento, além de permitir

melhor comunicação entre o governo e a sociedade.

8De acordo com a ALMG (2015), peça do planejamento governamental do estado de Minas Gerais que

estabelece objetivos, estratégias e indicadores de longo prazo para incentivar o desenvolvimento de

Minas Gerais em todas as áreas da ação governamental, que serão operacionalizadas pelo Plano

Plurianual Governamental (PPAG) e Lei Orçamentária Anual (LOA). Sua principal função é definir a

visão de futuro e as diretrizes e objetivos estratégicos do governo. Foi criado pela lei nº 15.032/2004 e

atualizado pela última vez em 2012, por meio da lei nº 20.008/2012.

Page 27: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

26

3 GESTÃO ESTRATÉGICA

A gestão estratégica deixou de ser uma temática exclusiva da gestão privada e,

há algumas décadas, adentrou o setor governamental, imprimindo uma nova proposta de

gestão pública. Nesta seção são abordados os principais conceitos de gestão estratégica e,

mais especificamente, de planejamento estratégico verificados na literatura.

3.1 Estratégia e Gestão Estratégica

São vários os conceitos de estratégia; alguns com sentido mais amplo, e outros

com sentido restrito. Segundo Mintzberg e Quinn (1991), não há uma definição

universalmente aceita; entretanto, abundam definições reconhecidamente válidas.

De origem na Grécia Antiga, a palavra estratégia teve conotação voltada para a

guerra, denotando general, arte e a ciência de conduzir um exército por um caminho.

(MEIRELLES, 1995). Segundo Evered (1983 apud MINTZBERG; QUINN, 1991), o termo

estratégia assumiu o sentido de habilidade administrativa na época de Péricles (450 a.C.),

quando passou a significar habilidades gerenciais (administrativas, liderança, oratória, poder).

Mais tarde, no tempo de Alexandre (330 a.C.), adquiria o significado de habilidades

empregadas para vencer um oponente e criar um sistema unificado de governança global.

Numa perspectiva histórica, segundo Ansoff e McDonnell (2009, p.70), o

―conceito de estratégia apenas se tornou parte do vocabulário das empresas americanas a

partir da década de 1950, motivadas pelas descontinuidades ambientais, o que exigia delas

uma rápida resposta em suas ações‖. Como conceito, era somente utilizada na acepção militar;

entretanto, isto mudou a partir da segunda metade do século XX, quando o contexto passou de

calmo a turbulento devido à evolução da tecnologia, reestruturação dos mercados

internacionais, o que representou, de acordo com Ansoff e McDonnell (2009), ao mesmo

tempo novas ameaças e novas oportunidades às empresas. Daí, a estratégia surgiu como uma

ferramenta para a orientação da dinâmica organizacional.

Page 28: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

27

Mintzberg (2000, p. 20) conceitua o que ele chama de 5Ps da estratégia, cinco

formas de se pensar e analisar o conceito de estratégia, quais sejam:

a) Plano (Plan) – definido pela direção, guia ou curso de ação para o

futuro;

b) Padrão (Pattern) – consistência de comportamento ao longo do tempo;

c) Posição (Position) – localização de certos produtos em determinados

mercados;

d) Perspectiva (Perspective) – uma maneira fundamental de a organização

fazer as coisas. Como perspectiva, a estratégia olha para dentro da organização tendo como

referencial a visão da empresa;

e) Estratagema (Play) – uma manobra específica para vencer com ardil um

oponente ou concorrente.

Para Mintzberg e Quinn (1991), estratégia é um plano ou modelo que integra

os objetivos, as políticas e as ações sequenciais de uma organização, transformando-os em um

todo coeso. Ainda, Meirelles e Gonçalves (2001) definem estratégia como a disciplina da

administração que se ocupa da adequação da organização ao seu ambiente.

Wright, Kroll e Parnell (2000 apud CAMARGOS; DIAS, 2003), conceituam

estratégia como sendo planos da alta administração para alcançar resultados consistentes com

a missão e os objetivos gerais da organização.

Indo ao encontro desta lógica, Kaplan e Norton (2009) defendem que a

estratégia necessita enfocar a criação de valor para clientes, funcionários, considerando todo o

ambiente que envolve a organização. Além disso, destacam que a estratégia deve ser integrada

a um processo mais abrangente, o qual se inicia com a definição da visão e missão, até a

consecução dos objetivos estratégicos; e tal processo mais abrangente é o planejamento

estratégico.

Page 29: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

28

3.2 Planejamento Estratégico

O planejamento estratégico constitui-se, conforme Silveira Júnior (1995), na

utilização de um arcabouço de técnicas direcionadas à elaboração de análise ambiental interna

e externa da organização, definição da missão, formulação dos objetivos estratégicos, quebra

e fixação de novos paradigmas, além de detalhamento de políticas e diretrizes em projetos e

ações estratégicas.

Steiner (1969 apud OLIVEIRA, 2001, p.3) define cinco dimensões que

precisam ser observadas no planejamento:

a) Função desempenhada pela empresa como, por exemplo, produção,

pesquisa, novos produtos, finanças, marketing;

b) Elemento de planejamento que se configura no objetivo, estratégias,

política, programação, orçamento, normas, etc.;

c) Tempo do planejamento, se ele é de longo, médio ou curto prazo;

d) Unidades organizacionais nas quais o planejamento é elaborado que

pode ser corporativa, unidade estratégica, grupos de funcionários;

e) Características do planejamento avaliando seu grau de complexidade,

se confidencial ou público, se estratégico ou tático.

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2004) promoveram grande revisão da

literatura atinente ao planejamento estratégico, sintetizando os pensamentos solidificados

sobre o assunto em dez escolas de planejamento estratégico, conforme o Quadro 1:

Quadro 1– As escolas do pensamento estratégico

Escola Formulação

da Estratégia

Conceito-chave Principais

Autores

Design Como um

processo de

concepção

Busca atingir adequação entre as capacidades

internas e as possibilidades externas,

posicionando uma organização em seu

ambiente.

Andrews

(1965)

Planejamento Como um

processo

formal

Conduz a formulação de estratégias a partir de

um departamento de estratégia que responde

diretamente ao executivo principal e a partir

de um processo formal com muitos

indicadores e controles.

Ansoff (1965)

Posicionamento Como um

processo

analítico

Estratégias genéricas. Define-se um grupo

muito pequeno de poucas estratégias-chave

que são desejáveis em determinada

organização e que podem ser defendidas

contra concorrentes atuais e futuros.

Porter (1980)

Continua

Page 30: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

29

Continuação

Escola Formulação

da Estratégia

Conceito-chave Principais

Autores

Empreendedora Como um

processo

visionário

A força de um único líder, na sua intuição,

julgamento, sabedoria, experiência e critério,

para definir as estratégias formais da

organização.

Schumpeter

(1950)

Cognitiva Como um

processo

mental

Tem como ferramenta fundamental a

psicologia cognitiva, que a partir de técnicas

adequadas efetua uma sondagem da mente do

estrategista.

Simon (1947)

Aprendizado Como um

processo

emergente

Está fundamentada no fato de que as

estratégias vão surgindo e se consolidando a

partir da maneira com que as pessoas e a

organização vão aprendendo a lidar com elas.

Lindblom

(1959)

Prahalad e

Hamel (199)

Poder Como um

processo de

negociação

Tem como foco o uso de poder e da política

para negociar estratégias favoráveis a

determinados interesses.

Allison (1971)

Cultural Como um

processo

coletivo

É um processo enraizado na força social da

cultura organizacional, preocupando-se com a

influência da cultura na manutenção da

estabilidade estratégica.

Norman (1960)

Ambiental Como um

processo

reativo

Está relacionado a uma organização passiva,

que permite que o ambiente conduza uma

pauta de mudanças, devido à forte influência

que exerce sobre a formação de estratégias.

Freeman

(1977)

Configuração Como um

processo de

transformação

Consideram-se os estados da organização e do

contexto no qual ela se insere como

configurações. Se uma organização adota

estados de ser, então a geração de estratégia

torna-se um processo de saltar de um estado

para outro.

Mintzberg e

Miller (1970)

Miles e Show

(1978)

Fonte: Adaptado de (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2004).

Para a organização, segundo Pennings et. al (1985) o planejamento estratégico

permite que se desenvolva um sentido de direção, um conceito do futuro e uma forma de

controlar aspectos deste nos quais a organização tem interesse. Seja ou não utopia, o

planejamento estratégico gera as informações preliminares com as quais se pode avançar no

planejamento de longo prazo para decisões organizacionais.

Ainda, De Toni (2003 apud BARROS 2013, p.14) vai ao encontro de Pennings

et. al. (1985) e aponta que

O ―verdadeiro planejamento‖ não consiste em uma listagem de desejos ou

boas intenções. Ele deve evidenciar objetivos exequíveis e alcançáveis, pois,

caso contrário, perderá a credibilidade. Planejar exige a ousadia de visualizar

um futuro melhor, mas não é simplesmente ―sonhar grande‖. Exige

maturidade para se acomodar às restrições impostas pelo ambiente ou pelo

Page 31: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

30

grau de desenvolvimento da organização. Além disso, o planejamento obriga

a selecionar as ações concretas necessárias para alcançar o objetivo desejado.

Portanto, um bom planejamento parte da premissa de se conseguir, a priori,

definir com exatidão, quais as prioridades. (Grifo do autor)

Oliveira (2007, p. 18) afirma que ―o planejamento estratégico corresponde ao

processo de implementação de estratégias para aproveitar as oportunidades e neutralizar as

ameaças do ambiente‖. Seguindo este mesmo raciocínio, de acordo com Almeida (2010, p. 1)

―planejamento estratégico é o processo de tomada de decisões para direcionar o futuro da

organização. É o planejamento da direção da empresa visando a eficiência‖. Ambas

definições revelam palavras-chave que exprimem o significado do planejamento estratégico:

tomada de decisões; direcionar o futuro; oportunidades; implementação de estratégias.

Para Gracioso (1991 apud LIMA, 2003) o planejamento é indispensável em um

ambiente de turbulências como o atual – muito mais do que em ambientes organizados e de

mudanças previsíveis -, pois ele integra todos os demais sistemas de controle, orçamento,

informações e a estrutura organizacional. As organizações precisam decidir de forma

organizada que respostas pretendem ter para determinado período, definindo quais são suas

metas e como é possível atingi-las.

Ao desenvolver esforços para definir e explicitar sua estratégia por meio de um

processo de planejamento estratégico, a organização adquire direção, foco e constância de

finalidade, facilitando o movimento da posição atual para uma posição mais desejável com

economia de tempo, esforço, custos e recursos (BEAL, 2004).

Em síntese, conforme Barros (2013), o planejamento estratégico é capaz de

nortear, sob um prisma administrativo, as ações que levarão a organização ao cumprimento de

suas metas e objetivos estratégicos anteriormente delimitados, com vistas a proteger a

instituição de possíveis ameaças, além de prospectar potenciais oportunidades. É um

instrumento que estimula os administradores a pensar em termos do que é importante e

também a se concentrar em assuntos de relevância.

Entretanto, o planejamento estratégico não é um processo único que não possui

desdobramentos – pelo contrário. De acordo com Beer e Eisenstat (2000 apud BARROS,

2013) caso haja falta de clareza, conflitos de prioridades, comunicação ineficiente e ausência

Page 32: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

31

de coordenação do processo de desdobramento da estratégia, esta última não será

efetivamente implementada.

A fim de controlar as ações estratégicas de maneira estruturada, recorre-se ao

gerenciamento de projetos, baseando-se, em geral, no PMBOK9 como maneira de buscar

melhores práticas e mais eficiência. Assim, ao tratar-se os planos de ação resultantes do

planejamento estratégico como projetos, as organizações evitam, conforme Pize (2005),que

ocorra inadequado gerenciamento, falta de métodos apropriados, alocação inadequada de

recursos e limitações e falhas no processo de seleção e priorização de projetos.

Neste contexto, o gerenciamento de projetos pode ser um mecanismo

importante de execução da estratégia, ao passo que se trata de um processo estruturado que

possibilita a execução de um conjunto de tarefas de forma consecutiva e incremental para a

geração de um resultado único, em um espaço de tempo definido (ALMEIDA, 2011).

9O Guia PMBOK - Project Management BodyOfKnowledge- identifica um subconjunto do conjunto de

conhecimentos em gerenciamento de projetos, que é amplamente reconhecido como boa prática, utilizado

como base pelo Project Management Institute (PMI).

Page 33: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

32

4 GESTÃO DE PROJETOS

Essa seção trata dos principais conceitos relativos à gestão de projetos. Inicia-

se com um breve histórico da origem dos projetos, bem como sua definição de acordo com a

literatura consultada. Posteriormente é apresentada a estrutura genérica do ciclo de vida de

projetos, com suas principais fases. Em seguida, busca-se explicitar a classificação dos

escritórios de projetos (Project Management Office - PMO), além de detalhar os principais

processos de gerenciamento de projetos. Por fim, adentra-se nos conceitos e práticas de

gerenciamento de portfólios, os quais são de suma importância para a análise do modelo a

qual este trabalho se propõe.

4.1 Projetos e Gerenciamento de Projetos: Origem e Conceituação

Projetos são realizados desde os primórdios da civilização, tais como a

construção das Pirâmides do Egito; entretanto, com o advento da Revolução Industrial e a

partir da última metade do século XIX, observou-se um crescente aumento na complexidade

dos negócios em escala mundial o que fez com que surgissem, assim, os princípios da

gerência de projetos (TORREÃO, 2005). A primeira organização a utilizar tais conceitos foi

a empresa norte-americana Central Pacific Railroad, que iniciou suas atividades na década de

1870, com a construção da estrada de ferro transcontinental, o que fez com que os líderes da

organização se vissem frente a novos desafios, tais como a grande e perigosa tarefa de

organizar as atividades de milhares de trabalhadores, a manufatura e a montagem de

quantidades não previstas de matéria-prima.

Antes de Frederick Taylor (1856-1915), conhecido como o ―pai do

gerenciamento científico‖, a única maneira de melhorar a produtividade era exigir dos

trabalhadores mais horas de dedicação ao trabalho. Entretanto, no início do século XX, Taylor

aplicou o raciocínio científico para provar que o trabalho poderia ser analisado e melhorado

caso fosse dado enfoque a suas partes elementares (TORREÃO, 2005).

Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que as estratégias de marketing, a

psicologia industrial, e as relações humanas começaram a ser partes integrantes do

gerenciamento do negócio e da administração das empresas. No início dos anos 60, o

Page 34: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

33

gerenciamento de projetos foi formalizado como ciência. Os negócios e outras organizações

começaram a enxergar o benefício do trabalho organizado em torno dos projetos e a entender

a necessidade crítica para comunicar e integrar o trabalho através de múltiplos departamentos

e profissões.Em 1969, no auge dos projetos espaciais da Nasa, cinco profissionais de gestão

de projetos, da Philadelphia, Pensilvania, nos EUA, se reuniram para discutir as melhores

práticas, levando à fundação do Project Management Institute – PMI, o qual pode ser

considerado como a maior instituição internacional dedicada à disseminação do conhecimento

e ao aprimoramento das atividades de gestão profissional de projetos atualmente (TORREÃO,

2005).

De acordo com o Project Management Institute (PMI, 2013, p.3), pode-se

conceituar projeto como sendo ―um esforço temporário empregado de forma progressiva para

produzir um produto ou serviço único.‖

Vargas (2009, p. 6) vai além e define projeto como

Um empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma sequência clara e

lógica de eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um

objetivo claro e definido, sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros

predefinidos de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade.

Segundo Prado (2004), os projetos surgem da formulação estratégica, pois são

facilmente previsíveis e o ajuste entre as metas globais e as correspondentes iniciativas

estratégicas com os programas e projetos capazes de atendê-las é denominado alinhamento

estratégico.

No planejamento estratégico, o gerenciamento deve abranger todos os aspectos

da organização para atingir a excelência em gestão de projetos. O planejamento representa,

para o gerenciamento de projetos, o desenvolvimento de uma metodologia-padrão que se pode

utilizar repetidamente com a alta probabilidade de atingir resultados. O planejamento

estratégico eficaz, segundo Kerzner (2006), para esse fim é uma atividade interminável.

Dinsmore (1999) aponta que o que garante o alinhamento dos projetos, tanto

estratégicos, quanto específicos, ao plano estratégico e o sucesso ou fracasso dos resultados é

a utilização e intensidade da aplicação de técnicas, metodologias de gestão de projetos e

sistemas empregados.

Page 35: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

34

4.2 Ciclo de Vida do Projeto

O PMBOK (PMI, 2013, p. 38) define ciclo de vida do projeto como ―a série de

fases pelas quais um projeto passa, do início ao término. As fases são geralmente sequenciais

e os seus nomes e números são determinados pelas necessidades de gerenciamento e controle

da organização envolvida no projeto, a natureza do projeto em si e sua área de aplicação.‖

As fases podem ser desmembradas por objetivos funcionais ou parciais,

resultados ou entregas intermediários,marcos específicos no escopo geral do trabalho, ou

disponibilidade financeira. As fases são geralmente limitadas pelo tempo, com um início e

término ou ponto de controle. Um ciclo de vida pode ser documentado em uma metodologia.

O ciclo de vida do projeto pode ser definido ou moldado de acordo com aspectos exclusivos

da organização, setor ou tecnologia empregada. Embora todos os projetos tenham um início e

um fim definidos,as entregas e atividades específicas conduzidas neste ínterim poderão variar

muito de acordo com o projeto.O ciclo de vida oferece uma estrutura básica para o

gerenciamento do projeto, independentemente do trabalho específico envolvido (PMI, 2013).

De maneira simplificada, em geral, todos os projetos podem seguir a estrutura

genérica de ciclo de vida – (1) início do projeto; (2) organização e preparação; (3) execução

do trabalho do projeto e; (4) encerramento do projeto, conforme ilustra a figura a seguir:

Figura 1– Estrutura genérica de ciclo de vida de projeto

Fonte: PMI, 2013.

Page 36: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

35

Esta estrutura genérica de ciclo de vida, entretanto, não deve ser confundida

com os grupos de processos de gerenciamento de projeto porque as atividades de um grupo de

processos podem ser executadas e ocorrer novamente em cada fase de um projeto, assim

como no projeto como um todo. O ciclo de vida do projeto é independente do ciclo de vida do

produto produzido ou modificado pelo projeto (PMI, 2013).

4.3 Escritórios de Gestão de Projetos

O escritório de gestão de projetos ou PMO (Project Management Office)

constitui o núcleo de competências que cria uma cultura de projetos na organização. Embora

possa assumir diferentes configurações e funções na organização, os PMO consistem em uma

estrutura voltada para a aplicação dos conceitos de gerenciamento de projetos, que pode

auxiliar, sobremaneira, a transformação das estratégias de uma empresa em resultados através

do gerenciamento de projetos (CARVALHO; RABECHINI JR., 2006).

O PMO pode ser definido como uma entidade organizacional estabelecida para

auxiliar os gerentes de projeto e os times da organização na implementação dos princípios,

práticas, metodologias, ferramentas e técnicas do gerenciamento de projetos (DAI; WELLS,

2004 apud CARVALHO E RABECHINI JR., 2006).

Page 37: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

36

Dinsmore (1998) propõe quatro modelos evolutivos de PMO:

Quadro 2 – Modelos Evolutivos de PMO, segundo Dinsmore (1998)

Nome Características

Project Support Office - PSO

Fornece apoio técnico e administrativo, ferramentas e

serviços aos vários gerentes de projeto simultaneamente,

auxiliando no planejamento, na programação e na condução

das mudanças de escopo e no gerenciamento de custos dos

projetos. A responsabilidade pelo sucesso do projeto não

reside no PSO, mas nos gerentes de projetos que utilizam

seus serviços.

Project Management Center of

Excellence - PMCOE

É o núcleo experiência em projetos, mas não assume a

responsabilidade pelos resultados dos mesmos. A tarefa do

PMCOE é, em grande parte, de natureza missionária:

disseminar a ideia, converter os incrédulos e transformar os

adeptos em profissionais, sendo ele encarregado das

metodologias. Mantém abertos os canais de informação

entre os projetos e a comunidade externa ao gerenciamento

de projetos.

Program Management Office - PrgMO

Gerencia os gerentes de projetos e é, em última instância, o

responsável pelos resultados dos projetos. Em grandes

corporações, o PrgMO concentra seus esforços nos projetos

prioritários. Os outros projetos são gerenciados por

departamentos ou unidades. Para que um PrgMO funcione

adequadamente são necessários: poder, prioridade

corporativa e controle em âmbito empresarial.

Chief Project Officer - CPO

A responsabilidade do CPO consiste em cuidar e alimentar

o portfólio de projetos da organização, desde o estágio de

decisão de negócios à sua implementação final. Entre as

atividades do CPO podem ser citadas as seguintes:

envolvimento nas decisões de negócios que resultem em

novos projetos, planejamento estratégico de negócios,

estabelecimento de prioridades e negociação de recursos

para projetos, avaliação periódica de projetos,

gerenciamento de stakeholders de alto nível.

Fonte: Adaptado de (DINSMORE, 1998 apud CARVALHO; RABECHINI JR, 2006).

Page 38: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

37

Assim como Dinsmore (1998), Verzuh (1999) também apresenta uma

classificação de cinco diferentes tipos de PMO:

Quadro 3 – Classificação de PMO, segundo Verzuh (1999)

Nome Características

Center of Excellence- CE

É o tipo mais simples de escritório de projetos, no qual se

concentram conhecimentos em gestão de projetos, cujo

propósito é manter os padrões e promover o seu uso na

organização. Funciona como uma empresa de consultoria,

que não possui um papel direto na tomada de decisões do

projeto, nem em sua execução.

Project Support Office - PSO

Acrescenta às funções exercidas pelo CE a responsabilidade

pelas análises de cronograma e orçamento, bem como pelo

gerenciamento das informações dos projetos, estando,

portanto, envolvido na tomada de decisões.

Project Management Office - PMO

Além das atividades exercidas pelo PSO, é também a

estrutura que abriga os gerentes de projetos, sendo

responsável pelo plano de carreira destes profissionais, bem

como pelo sucesso ou fracasso dos projetos da organização.

Accountable Project Office - APO

O tipo mais completo de escritório de projetos é o APO,

pois não só participa, mas também assume total

responsabilidade na gestão de projetos.

Program Management Office - PgrMO

Apresenta uma dinâmica diferente dos demais tipos de

escritórios, pois se trata de uma estrutura temporária

construída para suportar um programa. Desta forma, o

PrgMO visa fornecer o conhecimento de gerenciamento de

projetos e participar do processo de tomada de decisão no

âmbito do programa, ou seja, conjunto de projetos

relacionados que se encerra em seu término.

Fonte: Adaptado de (VERZUH, 2000apudCARVALHO; RABECHINI JR., 2006).

Para que a implantação de um escritório de projetos seja satisfatória, devem ser

considerados fatores críticos de sucesso de ordem estrutural (PATAH; CARVALHO, 2003;

PATAH, 2004 apud CARVALHO; RABECHINI JR., 2006, p.41):

a) patrocínio e apoio da alta administração da empresa: sem eles a iniciativa de

se implantar um PMO pode terminar antes mesmo de ter começado;

b) realização de uma avaliação do tipo da organização e dos tipos de projetos

que esta organização executa: isto se faz necessário para a escolha do tipo de PMO mais

adequado à mesma, sua missão, seus objetivos e os benefícios esperados;

c) alinhamento do PMO com a estratégia da organização com o objetivo de

empreender somente as mudanças realmente necessárias à mesma;

Page 39: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

38

d) integração da implantação do PMO com os sistemas de informação

existentes na empresa e com seus processos;

e) focar os principais problemas da organização;

f) estabelecer objetivos incrementais;

g) envolver pessoas corretas da alta administração.

Ainda, os mesmos autores sugerem os fatores críticos de sucesso de ordem técnica:

a) manter a implantação o mais simples possível;

b) comunicar os objetivos e sucessos atingidos pelo PMO;

c) não esquecer de compartilhar as expectativas e objetivos do processo;

d) proporcionar auxílio aos gerentes de projeto da organização;

e) procurar entender os problemas da organização de vários pontos de vista;

f) realizar testes pilotos das metodologias envolvidas;

g) fazer um planejamento detalhado do processo de implementação do PMO.

4.4 Gerenciamento de Projetos

O gerenciamento de projetos inclui, conforme Carvalho e Rabechini Jr. (2006)

planejamento, organização, supervisão e controle de todos os aspectos do projeto, em um

processo contínuo, para alcançar seus objetivos, conforme definição da norma ISO 1000610

.

Cabe aqui diferenciar conceitualmente o gerenciamento de projetos do

gerenciamento por projetos11

. Para Dinsmore (1999), o gerenciamento de projetos é aquele

que atende aos requisitos do projeto por intermédio da aplicação de conhecimento,

habilidades e técnicas, seguindo os processos de iniciação, planejamento, execução,

monitoramento e controle e encerramento. Ele traz a resposta de como se pode conseguir que

um projeto específico seja feito com eficiência.

10Segundo Filho (2007), a ISO 10006:2003, Quality management; Guidelines to quality in project

management, é um padrão internacional específico para gerência de projetos. Em 2006, a Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou esta norma, sendo denominada ABNT NBR ISO

10006:2006 – Sistemas de gestão da qualidade – Diretrizes para a gestão da qualidade em

empreendimentos. A norma ISO 10006 define como os princípios e práticas de gestão da qualidade

relacionam-se com gerenciamento de projetos. 11

Grifo nosso.

Page 40: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

39

Já o gerenciamento por projetos responde a como uma empresa com múltiplos

projetos pode tornar seu negócio mais adaptável, mais sensível e lucrativo num cenário de

rápidas mudanças (DINSMORE, 1999). Segundo Kerzner (2006), essa gestão é o

planejamento, a programação e o controle de uma série de tarefas integradas de forma a

atingir com êxito os objetivos da empresa.

Para Prado (2003, p.25), ―a busca da excelência em gerenciamento de projetos

é um processo que deve ser abertamente estimulado pela alta administração. É atingida com a

experiência e por meio de profissionais competentes‖. É pela implementação da gestão do

projeto que se atinge a excelência (KERZNER, 2006).

O PMBOK (PMI, 2013, p. 48) ressalta que ―o gerenciamento de projetos é um

processo integrado que requer que cada processo e produto seja alinhado e conectado de

forma apropriada com os outros processos para facilitar a coordenação. Asações adotadas

durante um processo em geral afetam esse e outros processos relacionados.‖

Os processos de gerenciamento de projetos são agrupados em cinco categorias

conhecidas como grupos de processos de gerenciamento de projetos (ou grupos de processos),

conforme o PMBOK (2013), quais sejam:

a) Grupo de processos de iniciação.

b) Grupo de processos de planejamento.

c) Grupo de processos de execução.

d) Grupo de processos de monitoramento e controle.

e) Grupo de processos de encerramento.

A Figura 2 resume todos esses grupos esquematicamente.

Page 41: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

40

Figura 2 – Grupos de processos de gerenciamento de projetos

Fonte: PMI, 2013.

A primeira fase, de iniciação, consiste na definição do escopo do projeto e no

comprometimento dos recursos financeiros necessários. Busca-se a identificação das partes

interessadas – stakeholders – e designa-se o gerente do projeto. São elaborados o termo de

abertura e a declaração básica de escopo, a qual contém informações primárias a respeito das

entregas, da duração e dos recursos a serem utilizados.

Em seguida, na fase de planejamento, ocorrem os processos para se estabelecer

o escopo total do projeto, definir e apurar os objetivos, além de desenvolver o curso de ação

necessário para alcançar tais objetivos. Como resultado desses processos tem-se a produção

de documentos, um dos quais o plano de gerenciamento, que abarca todos os aspectos do

escopo, tempo, qualidade, comunicações, recursos humanos, riscos, aquisições e

gerenciamento das partes interessadas.

Posteriormente, na fase de execução, todos os esforços são empreendidos para

concluir o trabalho definido no plano de gerenciamento do projeto a fim de cumprir todas as

especificações pré-estabelecidas. Este grupo de processos envolve a coordenação de pessoas e

recursos, gerenciamento das expectativas dos stakeholders, bem como a integração e

execução das atividades conforme o plano de gerenciamento do projeto. Nessa fase, podem

ocorrer atualizações no planejamento e mudanças nas atividades, produtividade,

disponibilidade de recursos, entre outros.

Page 42: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

41

O monitoramento e controle é responsável pelos processos de

acompanhamento, análise e organização do progresso e desempenho do projeto. Ademais,

identifica-se áreas em que são necessárias mudanças e propõe-se o início destas. O

monitoramento contínuo fornece à equipe do projeto melhor visão sobre a saúde do projeto,

ou seja, dá subsídios para que possam ser tomadas ações corretivas com vistas a alcançar os

resultados pretendidos.

Finalmente, a fase de encerramento consiste dos processos executados para

finalizar todos os grupos de gerenciamento do projeto, caracterizando-se pelo aceite do

produto ou serviço. Em algumas organizações, procura-se incentivar o registro de boas

práticas ou simplesmente da memória do projeto em questão para que sirva de orientação para

projetos semelhantes no futuro.

Segundo Kerzner (2006), a integração da gestão de projetos com outros

processos administrativos, tais como gestão da qualidade total, engenharia simultânea, gestão

de mudanças, gestão de riscos, planejamento estratégico, gestão do conhecimento e escritório

de projetos é um fator decisivo para se alcançar a excelência e criar um ambiente de

gerenciamento de alto nível.

Shenhar (2004 apud BARROS, 2013, p.51) questiona que ―conceitualmente

verifica-se ausência de associação entre a estratégia de negócios e o plano de projeto; ou seja,

como o plano estratégico deve ser traduzido para o que precisa ser realizado na arena do

projeto?‖ É nesse cenário que o gerenciamento de portfólio surge para, segundo Archibald

(2008 apud BARROS, 2013, p. 51), ―criar a ponte que vincula os processos estratégicos da

organização com a gestão operacional de projetos‖.

Page 43: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

42

4.5 Gerenciamento da carteira de projetos: portfólio

Segundo o PMI (PMI, 2008c) chama-se de portfólio (Figura 4): ―uma coleção

de programas, projetos e outras atividades operacionais que são agrupados para facilitar o

efetivo gerenciamento daquele trabalho de forma que o resultado combinado atinja os

objetivos estratégicos da organização.‖

O contexto organizacional no qual o gerenciamento de portfólio está inserido

encontra-se representado pela Figura 3.

Figura 3 – Contexto organizacional do gerenciamento de portfólio

Fonte: PMI, 2008c.

Já a Figura 4. resume esquematicamente quais são os componentes que

compõem um portfólio de projetos.

Page 44: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

43

Figura 4 – Os componentes de um portfólio

Fonte: PMI, 2008.

Quanto ao gerenciamento de portfólio de projetos, pode-se dizer, conforme

define Kerzner (2006), que é o gerenciamento de um conjunto de programas12

, iniciativas ou

projetos. Esse conjunto concentra-se em um nível mais agregado, que envolve custos

agregados, riscos e retorno de todos os projetos e as compensações entre eles. Segundo o PMI

(2013), o gerenciamento de portfólio é feito com base em metas específicas como maximizar

o valor do portfólio a partir do exame minucioso dos projetos ou programas a serem incluídos

no portfólio. Aqueles que não atenderem aos objetivos estratégicos da organização deverão

ser excluídos.

O PMI (2008c) identifica os seguintes grupos de processos para criação da

carteira e seu acompanhamento:

Alinhamento estratégico, para criação da carteira de investimentos;

Revisão e informação do andamento dos portfólios: a finalidade deste

processo é obter indicadores de desempenho, montar relatórios e divulgá-los, e revisar o

portfólio com uma determinada frequência, para assegurar tanto o alinhamento com a

estratégia da organização como a efetiva utilização de recursos;

Mudanças Estratégicas: a finalidade deste processo é tornar o processo

de gerenciamento do portfólio apto a responder às alterações na estratégia.

12Um programa é definido como um grupo de projetos, subprogramas e atividades de programa

relacionados, gerenciados de modo coordenado visando a obtenção de benefícios que não estariam

disponíveis se eles fossem gerenciados individualmente. Os programas podem incluir elementos de

trabalho relacionado fora do escopo dos projetos distintos do programa. Um projeto pode ou não ser

parte de um programa, mas um programa sempre terá projetos (PMI, 2013, p. 9).

Page 45: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

44

Figura 5 – Processos envolvendo gerenciamento de portfólio, segundo Prado (2009)

Fonte: PRADO, 2009.

Assim, o gerenciamento de portfólio é um processo dinâmico de decisão, pelo

qual uma lista de produtos e projetos é constantemente atualizada e revisada. Nesse processo

novos projetos são avaliados, selecionados e priorizados;projetos existentes podem ser

acelerados, abortados ou ter suas prioridades alteradas; os recursos podem ser alocados e

realocados nos projetos ativos (COOPER; EDGETT; KLEINSCHIMIDT, 2001). Depreende-

se, então, que ao se falar em gerenciamento de portfólio, aspectos como tomada de decisão,

adequação à estratégia e priorização estão intrinsecamente relacionados, visto que o portfólio

é a tradução, em projetos diversos, porém alinhados, da estratégia organizacional.

Carvalho e Rabechini Jr. (2006) afirmam que há dois eixos conceituais

significativos sob os quais pode-se analisar uma carteira de projetos: aderência estratégica e

efetividade. Estes conceitos servem para ser aplicados na avaliação de cada projeto no intuito

de formar a carteira.

O conceito de aderência estratégica leva em conta o quão um determinado

projeto está vinculado aos objetivos de médio e longo prazo de uma

organização específica. Nesse sentido, o grau de aderência pode ser

percebido em função do quanto um projeto pode gerar recursos, quanto

contribui para a redução dos custos, etc. Já a efetividade refere-se a um tipo

de questão de ordem mais tática, ou seja, significa perceber o quanto de

recursos está disponível e quanto será consumido, qual o nível de esforço

esperado, qual o orçamento previsto e quais desafios técnicos

requer(CARVALHO; RABECHINI JR., 2006, p. 60).

Page 46: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

45

Os autores acima mencionados propõem um modelo de gerenciamento de

portfólio conforme mostrado na Figura 6.

Figura 6 – Modelo de gerenciamento de portfólio

Fonte: Adaptado de (CARVALHO; RABECHINI JR., 2006).

Segundo este modelo, há quatro elementos inter-relacionados:

a) O primeiro elemento, considerações preliminares, refere-se à

disponibilização e entendimento da cultura organizacional. Assim, antes de levantar as

necessidades em projetos numa organização, faz-se necessário saber sobre os recursos

envolvidos em projetos, bem como sobre aspirações e expectativas da alta administração em

relação aos projetos que efetivamente comporão os negócios da empresa. Essa reflexão

estratégica deve ser feita permanentemente pelos executivos da empresa.

b) Após essas considerações, o modelo sugere que sejam identificados os

projetos potenciais a compor a carteira. Este elemento do modelo visa representar, então, a

formação de oportunidades de negócios para a empresa, bem como identificar os problemas

existentes na condução de suas estratégias para serem resolvidos.

c) A partir de uma lista obtida dos projetos potenciais, faz-se necessário

realizar as análises no âmbito estratégico e de efetividade. Poucas organizações têm este

processo formalmente delineado. Em geral, isto ocorre intuitivamente, gerando, em muitos

casos, projetos que não faz sentido serem desenvolvidos pela organização e, com isto, gastam-

se recursos indevidamente. A priorização de projetos é, neste aspecto, fundamental.

Page 47: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

46

d) Uma vez estabelecida a lista de projetos prioritários, cabe aos gestores

da carteira buscar recursos e desenvolvê-los enquanto empreendimento de negócios da

empresa.

Nota-se, a partir daí, que o processo de gerenciamento de portfólio é mais

complexo que o gerenciamento de projetos isoladamente visto que o primeiro foca na

integração dos projetos à estratégia; ou melhor, em como a estratégia definida está sendo

executada pelos diferentes projetos que, em conjunto, traduzem o objetivo principal que a

organização tenta alcançar.

Cabe ressaltar que nenhum modelo de gerenciamento é único e perfeito; cada

organização deve adequar o seu modelo às suas necessidades, sem perder de vista que o

gerenciamento de portfólio de projetos tem foco estratégico, voltando-se para a efetividade

dos resultados da carteira de projetos da organização como um todo. Além disso, deve-se

focar na questão do processo decisório sobre o portfólio, já que ―as decisões sobre o portfólio

abrangem uma série de processos diferentes, incluindo revisões periódicas de toda a carteira

de projetos, decisões pela continuidade ou descontinuidade de projetos individuais e

desenvolvimento de novas estratégias para o negócio, alinhadas à alocação dos recursos de

forma estratégica‖ (COOPER; EDGETT; KLEINSCHMIDT, 2001a apud BARROS, 2013).

Conforme nos aponta Barros (2013, p. 53), ―cabe à gestão de portfólio

identificar as prioridades, tomar decisões de investimento e alocar os recursos de forma

alinhada à diretriz estratégica‖. Assim, contextualizando esta temática no setor

governamental, não se pode descartar um recorrente problema de planejamento que nasce na

dificuldade dos gestores públicos em selecionar quais são as estratégias prioritárias, agregado

ao cenário de disponibilidade de recursos escassos, tornando-se essencial a busca criteriosa

por uma priorização de ações a serem empreendidas.

Conforme a lógica já apresentada até então neste trabalho, é possível

depreender que, segundo Campos (2012, p. 25) ―a gestão estratégica, evolução dos métodos

de planejamento e administração, toca a administração pública à qual empresta seus princípios

e ferramentas.‖ No caso de Minas Gerais, e mais especificamente no âmbito da SEF/MG, o

Núcleo de Planejamento da Assessoria de Gestão Estratégica e Inovação NP/Agei procurou

aprimorar o processo de construção do planejamento estratégico anual, além do

Page 48: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

47

monitoramento de projetos a fim de ampliar a participação e ganhar legitimidade na definição

das prioridades organizacionais. Como resultado, criou-se a metodologia da ―Governança por

Comitês‖ – que será detalhada na seção 6 – para priorizar os projetos e buscou-se o

aperfeiçoamento do gerenciamento do portfólio de projetos estratégicos da organização, o

qual será o objeto de análise deste estudo de caso.

Page 49: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

48

5 METODOLOGIA

Esta seção busca apresentar como foi realizado o estudo acerca da gestão de

portfólios da SEF/MG, caracterizando, assim, o método de pesquisa adotado, com o objetivo

de delimitar o escopo da pesquisa, bem como as formas de coleta e análise de dados.

5.1 Tipo de Estudo e método de pesquisa

Para o desenvolvimento do trabalho, optou-se pela realização de pesquisa

qualitativa, por meio de um estudo de caso, visto que a pesquisa qualitativa permite um

relacionamento mais longo e flexível entre o pesquisador e os entrevistados, e lida com

informações mais subjetivas, amplas e com maior riqueza de detalhes que os métodos

quantitativos (DIAS, 2000). Ainda, busca compreender determinado fenômeno no contexto

em que ocorre, devendo ser analisado em perspectiva integrada (GODOY, 1995).

Sobre o estudo de caso, este se mostrou o método mais adequado visto que, de

acordo com Goldenberg (2009), reúne o maior número de informações detalhadas, por meio

de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e

descrever a complexidade de um caso concreto. Assim, através de um mergulho profundo e

exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade

social, não conseguida pela análise estatística.

Como unidade de análise para a construção do estudo de caso, dois fatores

foram determinantes para a escolha da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais

(SEF/MG). O primeiro, por possuir um modelo de planejamento estratégico que possibilita

descrição da arquitetura, estrutura, procedimentos e análise à luz da literatura de gestão

estratégica e gerenciamento de projetos. O segundo, por ter possibilitado à autora o

expediente de observação não-participante do modelo.

Inicialmente, o trabalho contou com pesquisa bibliográfica, buscando-se

literatura atinente à gestão estratégica, planejamento estratégico e gerenciamento de projetos,

o que conferiu ao trabalho as bases teóricas necessárias para sua fundamentação.

Page 50: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

49

Posteriormente, além da pesquisa bibliográfica, utilizou-se de pesquisa

documental, recorrendo-se a atas de reuniões, relatórios gerenciais e instrumentos normativos

da organização, visto que estes possuem informações-chave sobre o planejamento estratégico

da SEF/MG, permitindo à autora apreender particularidades do processo.

Por fim, realizou-se entrevistas semi-estruturadas, que segundo Triviños (1987,

p. 146), têm como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e

hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Assim, os questionamentos dariam frutos a

novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes sendo que o foco principal

seria colocado pelo investigador-entrevistador. Complementa, ainda, o autor, afirmando que a

entrevista semi-estruturada ―[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas

também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]‖ além de manter a presença

consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987,

p. 152).

Para Manzini (1991), a entrevista semi-estruturada está focalizada em um

assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas

por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Esse tipo de

entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão

condicionadas a uma padronização de alternativas.

Sete entrevistas foram realizadas com atores detentores de informações acerca

do processo de construção do planejamento estratégico e monitoramento do portfólio da

SEF/MG. Assim, entrevistou-se alguns dos responsáveis pela Agei, (assessor-chefe e dois

diretores); dois gerentes de projetos que atuam no Núcleo de Planejamento (NP) realizando o

acompanhamento dos projetos; e dois gerentes de projetos estratégicos de diferentes unidades

da SEF/MG. O Quadro 4 sintetiza a identificação dos atores entrevistados.

Page 51: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

50

Quadro 4 – Identificação dos entrevistados por perfil

Entrevistado Perfil

A Estratégico

B Estratégico

C Estratégico

D Gerente do Núcleo de Planejamento

E Gerente do Núcleo de Planejamento

F Gerente de Projeto

G Gerente de Projeto

Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.

Durante a realização das entrevistas, que aconteceram entre os dias 5 e 17 de

março de 2015, procurou-se captar informações importantes acerca do objeto de estudo e,

para tanto, o questionário, que consta no Apêndice A, foi elaborado de forma a abordar o

processo de planejamento estratégico como um todo, buscando fornecer elementos para

responder ao problema de pesquisa ―Se, e em que medida são realizadas mudanças de rumo

nas prioridades estratégicas da organização como resultado do monitoramento e avaliação do

portfólio de projetos estratégicos?‖. Assim, o questionário elaborado perpassa pela arquitetura

de Governança por Comitês, mas concentra-se no processo de gerenciamento do portfólio e a

retroalimentação do ciclo com os resultados do monitoramento, bem como a correção de

rumos da estratégia. Contou-se com dez questões pré-estruturadas e outras questões pontuais

ao longo das entrevistas, de acordo com o decorrer de cada uma.

Acredita-se, assim, que a pesquisa qualitativa, tal como estruturada neste

trabalho, atende ao propósito da pesquisa visto que, por ser se tratar de um estudo de caso,

fica possível detalhar as particularidades de todo o processo e analisá-las à luz da literatura

consultada que constitui o referencial teórico desta monografia. E, ainda, com as entrevistas,

capta-se a percepção de atores envolvidos no processo em estudo, corroborando e

complementando a análise desenvolvida.

Entretanto, é importante ressaltar que a forma de análise aqui utilizada possui

algumas limitações. Uma delas é a ausência de referências comparativas a modelos de outras

Page 52: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

51

organizações públicas (YIN, 2005). Outra limitação refere-se ao fato de que o trabalho não

aborda mudanças realizadas especificamente no âmbito dos projetos decorrentes de seu

gerenciamento como mudanças de cronograma, escopo e orçamento; ele se prende ao nível do

portfólio e seu alinhamento à estratégia da organização. Mesmo assim, tais limitações

apontadas não impedem, nem tampouco prejudicam o resultado da análise, tendo em vista a

relevância do tema no âmbito da Administração Pública, em especial, para a SEF/MG, que

terá seu processo de construção e monitoramento do portfólio estratégico analisado no

contexto de seu planejamento estratégico anual.

Page 53: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

52

6 A EXPERIÊNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA SEF/MG

6.1 Histórico

A partir das diretrizes estabelecidas pelo governo do Estado de Minas Gerais,

em 2003, a SEF/MG deu início à construção do primeiro desenho de plano estratégico

composto de missão, visão, valores e estratégia da secretaria, conforme apresentado no Anexo

A.

Em 2007, foram contratadas consultorias para auxiliar no processo de definição

de nova metodologia de gestão de projetos, tendo em vista a demanda do programa

governamental denominado ―Estado para Resultados‖. Assim, desenvolveu-se uma planilha

para contemplar objetivos e metas dos projetos estratégicos das unidades. Nesse mesmo ano,

a fim de buscar ganhos incrementais e conectar planejamento e execução, a SEF/MG adotou a

metodologia do Balanced Scorecard (BSC), a qual, segundo Kaplan e Norton (1997) é um

sistema que considera indicadores não apenas financeiros, mas também não-financeiros,

oriundos da estratégia da organização. Possui como diferencial a capacidade de comunicar a

visão e a estratégia por meio de indicadores de desempenho originários de objetivos

estratégicos e metas que interagem em meio a uma estrutura lógica de causa e efeito.

A SEF/MG optou por essa ferramenta por permitir a gestão de indicadores

qualitativos e quantitativos, orientados para a estratégia da organização, além de servir como

instrumento de alinhamento e comunicação em toda a secretaria.

Em 2011 teve início um novo ciclo de gestão que propiciou mudanças na

estrutura da SEF/MG. Uma das principais mudanças foi a instituição das Assessorias de

Gestão Estratégica e Inovação (Agei), instituída pelada Lei Delegada nº 180 de 20 de janeiro

de 2011, a qual dispõe sobre a estrutura orgânica da Administração Pública de Minas Gerais

e, ainda, por meio do Decreto n.º 45.780 de 24 de novembro de 2011. Coube, então, às Ageis

assessorar o dirigente máximo dos órgãos da administração direta e indireta do governo de

Minas Gerais na gestão estratégica setorial, com o objetivo de promover a excelência no

alcance dos resultados, além de implantar e conduzir a gestão estratégica dos órgãos.

Page 54: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

53

Com base nessa nova estrutura, a SEF/MG optou pela arquitetura de

Governança por Comitês como metodologia de suporte ao processo decisório, respaldada

pelos estudos de Machline (1977 apud BARROS, 2013, p.79) que explicita que ―o processo

de tomada de decisão é uma das funções mais relevantes do gestor, estando no mesmo

patamar que outras atribuições como o planejamento, direção e controle13

‖.

6.2 A arquitetura da Governança por Comitês

Segundo sistemática desenvolvida pela Agei da SEF/MG, a Governança por

Comitês possui uma arquitetura conforme a Figura 7.

Figura 7 – Arquitetura de comitês da SEF/MG

Fonte: Ordem de Serviço SEF/MG n.º 003/2012.

Tal modelo instituiu quatro comitês: o Comitê de Governança e três comitês

temáticos - de Prioridades e Inovação, de Gestão do Desempenho e de Gestão de Pessoas,

geridos pela Agei.

13

Grifo nosso.

Page 55: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

54

O Comitê de Governança se configura como a instância máxima no processo

decisório da SEF/MG e é composto por:

Secretário

Secretário-Adjunto

Subsecretários (Subsecretário da Receita e Subsecretário do Tesouro14

)

Chefe de Gabinete

O objetivo desse fórum decisório é assegurar o alinhamento da gestão

estratégica com as diretrizes governamentais, imprimir agilidade ao processo decisório, bem

como conferir mais legitimidade às decisões, por meio do modelo de gestão corporativo

(BARROS, 2013).

Os demais comitês, temáticos, subsidiam o Comitê de Governança em relação

a assuntos relativos ao seu tema de atuação. Assim o papel de cada um deles é o de

assessoramento à governança, com o objetivo de minimizar ao máximo as incertezas para a

tomada de decisão. Tais comitês apresentam a seguinte composição:

Um representante da Agei, que é o coordenador do comitê;

Um representante do gabinete do Secretário;

Dois representantes das unidades ligadas ao Secretário-Adjunto;

Dois representantes da Subsecretaria do Tesouro Estadual;

Três representantes da Subsecretaria da Receita Estadual;

Percebe-se, pela composição dos comitês, o intuito de envolver a participação

de todas as áreas da organização e, assim, dar mais legitimidade aos assuntos tratados. Cada

comitê possui sua composição específica, a qual não deve ser alterada, visando conferir mais

efetividade à representação das unidades e às proposições formuladas. Essa composição levou

em consideração atores formadores de opinião dentro da Secretaria e que tivessem autoridade

e legitimidade para contribuir com a tomada de decisão.

14

Para melhor compreensão acerca da estrutura organizacional da SEF/MG, consultar Anexo B que apresenta o

organograma resumido da secretaria.

Page 56: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

55

Ser um espaço para que sejam examinadas, discutidas e formuladas

recomendações ao Comitê de Governança no que diz respeito a planos, estudos, cenários e

projetos estratégicos apresentados, bem como alterações no plano orçamentário, e

acompanhar a implantação dos planos e projetos estratégicos examinados, a fim de assegurar

o atendimento às orientações sugeridas e aprovadas pelo Comitê de Governança, é o papel

fundamental dos comitês temáticos. O Quadro 5 sintetiza os objetivos de cada um dos comitês

temáticos.

Quadro 5 – Objetivos dos comitês temáticos

Comitê Objetivo

Comitê de Prioridades e Inovação

Subsidiar o Comitê de Governança quanto ao

estabelecimento de prioridades estratégicas e

inovações a serem implementadas na

SEF/MG, mantendo o foco no planejamento

estratégico estabelecido.

Comitê de Pessoas

Visa tratar de temas pertinentes à gestão de

pessoas, como a definição do foco para o

desenvolvimento estratégico de pessoas com

o fim de assegurar a alocação do perfil

adequado para cada função desempenhada,

bem como garantir ganhos de produtividade

e efetiva entrega dos resultados esperados.

Comitê de Gestão do Desempenho

Visa tratar de temas relativos à gestão do

desempenho corporativo, como a

identificação de oportunidades de ganhos

incrementais às estratégias vigentes e a

avaliação do desempenho institucional.

Fonte: BARROS, 2013.

Coube à Agei responsabilizar-se pelo encaminhamento dos resultados e

proposições oriundas das reuniões dos comitês temáticos ao Comitê de Governança, além de

preparar toda a logística de funcionamento do modelo, a qual inclui a convocação,

preparação, organização, elaboração e distribuição das agendas e atas das reuniões dos

comitês e preparação das informações necessárias para a discussão das matérias constantes da

ordem do dia.

Page 57: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

56

6.3 A priorização

Como já mencionado anteriormente, no que diz respeito à gestão de portfólios,

há que se falar em: identificação de prioridades, tomada de decisão e alocação de recursos

alinhada à diretriz estratégica. Assim, a priorização é a primeira etapa e deve ser executada de

maneira cuidadosa, visto que este é o momento em que são definidos os projetos que se

alinham aos objetivos estratégicos da organização, para os quais serão alocados esforços e

recursos e sobre os quais devem ser empregados métodos de gerenciamento eficazes.

Destarte, de acordo com o modelo estabelecido pela SEF/MG, a etapa de

priorização é a primeira e pode ser comparada à de identificação dos projetos proposta para o

gerenciamento de portfólios, segundo Carvalho e Rabechini Jr. (2006). Portanto, buscou-se

com a Governança por Comitês, uma melhor seleção dos projetos que viriam a compor o

portfólio estratégico da secretaria, sendo este um modelo singular no contexto do Governo de

Minas Gerais. Verifica-se, dessa maneira, alinhamento à posição dos autores supracitados,

buscando-se então, a priorização na composição da carteira de projetos, aspecto este

fundamental.

É válido esclarecer que antes da instituição da Governança por Comitês o

portfólio estratégico da SEF/MG era formado muito mais observando-se o rito de datas e

―janelas‖ para submissão dos projetos, usando como critério para priorização o viés

orçamentário, do que realizando-se análise de aderência à estratégia governamental.Desse

modo, a unidade de planejamento responsável pelo portfólio abria uma ―janela‖ de dois meses

para que todas as unidades demandantes da organização enviassem seus pleitos de projetos.

Caso houvesse margem financeira para a execução dos projetos, eles recebiam aprovação

independente dos impactos e/ou benefícios do pleito do projeto e sua aderência às prioridades

da organização face ao seu papel no âmbito da Administração Pública estadual.

A partir de 2011, com o objetivo de superar essas inconsistências e adoção do

novo modelo, buscou-se aprimorar o processo de elaboração do portfólio, tendo como

premissa básica o ciclo de vida do projeto, composto por estruturação, execução,

gerenciamento, monitoramento e avaliação, conforme a Figura 8.

Page 58: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

57

Figura 8– Ciclo de vida de projeto

Fonte: Adaptado de ((PMI, 2013).

Dessa maneira, com vistas a já elaborar o planejamento estratégico para o ano

subsequente, o Núcleo de Planejamento (NP) convoca reunião inaugural e solicita que as

unidades demandantes preencham e enviem os termos de abertura de projetos (TAP), que

constituem os chamados pleitos de projetos, cujas informações principais seguem as diretrizes

do PMBOK, isto é: nome do projeto, objetivo, impactos, benefícios, responsáveis, riscos e

custos. O seu preenchimento é realizado no sistema desenvolvido para o gerenciamento de

projetos, cujo detalhamento será objeto de análise na próxima seção.

A Figura 9 mostra exemplo de Termo de Abertura de Projeto utilizado pelos

gerentes de projetos das unidades da SEF/MG.

Page 59: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

58

Figura 9– Termo de abertura de projeto (TAP)

Fonte: Sistema ―Projetar‖ – NP/Agei - SEF/MG.

Além dos TAP, cada unidade demandante que possui um pleito a ser inserido

no planejamento estratégico da SEF/MG preenche um formulário com 11 (onze) questões que

avaliam os objetivos e entregas dos pleitos de projetos a partir de três dimensões, quais sejam:

alinhamento, metodologia e planejamento, além da previsão orçamentária e respectivo

impacto financeiro. Assim, a partir dessas informações, o NP promove um ranking dos pleitos

considerando-se os seguintes critérios:

a) Alinhamento às diretrizes governamentais e institucionais, bem como

histórico do projeto15

;

b) Metodologia: caracterização de projeto (PMI);

c) Planejamento: capacidade de execução, identificação dos atores e

negociação com os envolvidos.

15

Entende-se por histórico aqueles projetos que porventura tenham se iniciado em anos anteriores.

Page 60: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

59

Com todas essas informações – TAP e ranking- , o NP elabora uma

apresentação para reunião do Comitê de Prioridades, considerada como instância

multidisciplinar que discute e analisa cada um dos pleitos dos projetos e avalia a possibilidade

de sua adequação à estratégia da SEF/MG a valer para o ano subsequente. Ao final, chega-se

a uma proposta de portfólio estratégico composto pelos projetos que tiveram seu pleito aceito.

Assim, essa proposta é, então, submetida a análise e posterior deliberação do Comitê de

Governança. Finalmente, as propostas aprovadas são endossadas e passam a compor o

portfólio estratégico definitivo.

A partir desse momento, o NP comunica aos gerentes quais projetos foram

aprovados ou sofreram alguma ressalva de mudança de escopo, ou ainda, tiveram as

iniciativas reprovadas. Em seguida, é solicitado aos que tiveram seus pleitos aceitos que

preencham no sistema o escopo do projeto, utilizando-se de todos os elementos que regem as

boas práticas da gestão de projetos. Assim, com base no PMBOK, as etapas passam a fazer

parte da realidade de todos os projetos que compõem o portfólio estratégico da SEF:

iniciação; planejamento; execução; monitoramento e controle; encerramento.

Após a etapa de iniciação, realizada pelos gerentes de projetos das unidades,

realizada por meio do preenchimento do TAP, as etapas subsequentes, sob a responsabilidade

dos gerentes de projetos acontecem por meio do preenchimento e posterior monitoramento do

sistema desenvolvido pelo NP da SEF/MG.

Finalmente, é possível, então, resumir o processo de priorização do portfólio

estratégico conforme a Figura 10.

Page 61: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

60

Figura 10– Processo de priorização e composição do portfólio estratégico da SEF/MG

Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.

6.4 A gestão do portfólio estratégico

Vencida a fase da priorização na gestão de portfólios, a qual integra a fase de

iniciação e que ocorre por meio dos Comitês, segue-se agora ao detalhamento de como é

realizado o monitoramento do portfólio estratégico. Tal monitoramento se dá, no âmbito da

SEF/MG,por meio do Núcleo de Planejamento (NP) da Agei, constituído por 7 (sete)

servidores efetivos, dos quais 4 (quatro) atuam diretamente com o gerenciamento de projetos,

sendo considerados gerentes, para fins do modelo aqui exposto.

O NP, entretanto, não exerce apenas funções de escritório de projetos, visto

que agrega atividades referentes à estruturação, monitoramento e avaliação do Plano

Plurianual Governamental (PPAG), elaboração de relatórios de prestação de contas ao

Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE/MG), construção da mensagem do

governador no âmbito do sistema de finanças, coordenação da sistemática da Governança por

Page 62: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

61

Comitês, entre outros, mas uma das principais, certamente, é o acompanhamento do portfólio

estratégico da secretaria.

Alinhada à estratégia governamental vigente, a SEF/MG implantou seu

processo de planejamento estratégico que evoluiu até chegar à proposta da Governança por

Comitês, cujo objetivo é promover maior e melhor priorização dos projetos da secretaria, bem

como seu gerenciamento.

No que diz respeito ao gerenciamento de projetos, até 2011, tal processo se

dava por meio de planilhas em Excel, constituindo-se em um modo quase ―artesanal‖ de

gerenciamento. A partir de então, com o novo modelo de priorização, o Núcleo de

Planejamento procurou solucionar o problema,melhorando o processo de monitoramento e

avaliação da execução dos projetos, o que levou ao desenvolvimento de um novo sistema para

realizar o acompanhamento dos projetos. Desde 2011 até agora o sistema passou por diversas

melhorias e recebeu o nome de ―Projetar‖, constituindo-se, atualmente, na principal

ferramenta de auxílio aos gerentes de projetos e gestores do NP para o monitoramento do

portfólio estratégico da organização.

Construído em plataforma web16

, o sistema ―Projetar‖ possui entre suas

principais funcionalidades: o preenchimento do termo de abertura (na fase de priorização),

dos dados dos projetos como etapas-marco, descrição das atividades, prazos, matriz de

responsabilidade, custos, monitoramento, EAP17

(Estrutura Analítica de Projetos), fórum de

interlocução entre atores envolvidos no projeto e vários perfis de visualização da carteira de

projetos da SEF.

A Figura 11 apresenta tela do sistema que ilustra como é realizado o

monitoramento mensal dos projetos estratégicos.

16O conceito de plataforma web se baseia na ideia de aplicações que são desenvolvidas usando

serviços disponibilizados na internet. Assim, a web funciona de forma muito semelhante a um sistema

operacional, como Windows, que fornece funções (serviços) para que terceiros possam desenvolver

novas aplicações e funcionalidades (CUNHA, 2006). 17

A EAP é uma decomposição hierárquica do escopo total do trabalho a ser executado pela equipe do

projeto a fim de alcançar os objetivos do projeto e criar as entregas requeridas. A EAP organiza e

define o escopo total do projeto e representa o trabalho especificado na atual declaração do escopo do

projeto aprovada (PMI, 2013).

Page 63: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

62

Figura 11 – Acompanhamento mensal dos projetos estratégicos - sistema ―Projetar‖ 2015

Fonte: Sistema ―Projetar‖, NP/Agei/ SEF/MG, 2015.

Com a automatização do processo de gerenciamento, em substituição às

tradicionais reuniões que eram realizadas entre o NP e a unidade executora, coube aos

gerentes dos projetos o papel de alimentar o sistema mensalmente até a segunda quinta-feira

de cada mês com os dados referentes à execução do projeto. Com frequência mensal, o NP

produz relatórios indicando o andamento de cada um dos projetos estratégicos. Esse

acompanhamento se dá por meio de faróis – verde, amarelo e vermelho – que apontam,

ilustrativamente, o quão atrasada a execução de um projeto pode estar ou não.

Page 64: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

63

A Figura 12 apresenta tela do sistema que ilustra o relatório gerencial mensal

dos projetos estratégicos monitorados pelo Sistema ―Projetar‖.

Figura 12 – Relatório referente ao acompanhamento mensal dos projetos estratégicos pelo

sistema ―Projetar‖, 2015

Fonte: Sistema ―Projetar‖, NP/Agei/ SEF/MG, 2015.

Page 65: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

64

Atribui-se um percentual18

de execução a cada projeto, com base nos

indicadores estratégicos aos quais estão relacionados. Este percentual é visualizado de acordo

com os objetivos constantes no documento do mapa estratégico19

da SEF/MG, em versão

eletrônica, disponibilizada no portal de Sistema de Análise do Desempenho da Estratégia

(Sade), o qual permite a visualização global do portfólio e seu status de execução20

.

Para eliminar possíveis dúvidas, o contato entre os gerentes de projetos e os

gerentes do NP se dá, em sua maioria via e-mail ou por telefone. Dessa forma, diminui-se

consideravelmente o número de reuniões realizadas para o acompanhamento, visto que é o

próprio gerente do projeto o responsável pelo preenchimento das informações no sistema

―Projetar‖. Obviamente, quando os gerentes do NP percebem que um projeto está com o seu

status constantemente atrasado, procura-se descobrir com a equipe responsável quais os

fatores determinantes de tal atraso com a equipe responsável.

Cabe ao Núcleo de Planejamento, em primeira instância, buscar a solução de

quaisquer problemas que os gerentes de projeto venham a ter, sejam eles de ordem técnica ou

de ordem executória. Busca-se, assim, realizar reuniões com os atores envolvidos para discutir

os gargalos apontados no monitoramento, de acordo com a natureza dos problemas

encontrados; entretanto, caso os mesmos se mostrem persistentes ou complexos de tal forma

que fujam do alcance do NP, são encaminhados ao Comitê de Governança para serem

discutidos e apresentadas as soluções.Dessa maneira, na gestão de projetos, além de realizar o

monitoramento, o NP tem a responsabilidade de buscar a interlocução entre os diferentes

atores para garantir o sucesso na execução dos projetos.

Normalmente, a cada mês são emitidos relatórios gerenciais com o status de

cada projeto, que possuem o viés de serem um painel de controle que mostra, no geral, a

execução dos projetos do portfólio estratégico. O feedback, então, aos gerentes dos projetos se

dá também por meio do sistema, visto que eles podem acompanhar o andamento das

atividades conforme os faróis no relatório gerencial e o percentual de execução no Sade.

18

A base de cálculo do percentual é a mesma utilizada pela Seplag/MG para o cálculo da execução dos projetos

estratégicos governamentais e se encontra no Anexo C. 19

O mapa estratégico da SEF/MG pode ser encontrado no Anexo D. 20

Os percentuais de execução dos projetos estratégicos da SEF/MG podem ser acompanhados por meio do portal

do Sade (Sistema de Análise do Desempenho da Estratégia) pelos servidores de todas as unidades. Navegando

no sistema, é possível visualizar os mapas estratégicos "iluminados", ou seja, cada um dos objetivos coloridos

conforme o desempenho dos indicadores a ele vinculados. O Anexo E apresenta exemplo de acompanhamento

dos objetivos estratégicos referentes ao ano de 2014.

Page 66: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

65

A metodologia do gerenciamento de projetos segue as práticas sugeridas pelo

PMBOK, tendo sido adaptada para atender às particularidades da estrutura organizacional e

valores da SEF/MG.

Outro aspecto relativo ao processo de planejamento estratégico da SEF/MG

que merece destaque é a elaboração, pela equipe do NP, de cadernos de planejamento e de

resultados anuais onde constam os registros das informações básicas dos projetos planejados e

acompanhados a cada ano.

Figura 13 – Caderno de planejamento 2015

Fonte: Núcleo de Planejamento / Agei/ SEF/MG. 2015.

O caderno de planejamento é elaborado no ano anterior ao ano de referência do

planejamento e é composto da previsão orçamentária, dos desafios, das perspectivas que

compõem o mapa estratégico e de cada um dos objetivos estratégicos da secretaria e dos

projetos estratégicos e planos de ação selecionados para compor a carteira anual, além da

pactuação das capacitações e desenvolvimento de sistemas para o ano de referência. Assim, é

possível afirmar que o caderno de planejamento anual é caracterizado como sendo a

materialização do portfólio estratégico da SEF/MG, disponível para todos os servidores.

Page 67: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

66

Figura 14 – Caderno de resultados 2013

Fonte: Núcleo de Planejamento / Agei / SEF/MG. 2013.

Já o caderno de resultados, é elaborado no começo ano subsequente ao ano de

planejamento e apresenta a execução orçamentária detalhada por programa, os resultados

referentes a cada uma das perspectivas e objetivos estratégicos e, por fim, o percentual de

execução dos projetos estratégicos que compuseram o portfólio do ano anterior.

Page 68: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

67

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta seção busca apresentar os resultados provenientes das entrevistas

realizadas com servidores da SEF/MG, além de discuti-los e analisá-los com base na literatura

consultada para realização deste trabalho, bem como documentos institucionais atinentes ao

processo de planejamento estratégico e gestão de portfólio de projetos.

Como já apresentado na seção de Metodologia, foram entrevistados 7 (sete)

atores envolvidos no processo de gestão do portfólio estratégico da SEF/MG e, para melhor

estruturar a análise a ser realizada, optou-se por dividi-la em 5 (cinco) dimensões, quais

sejam:

1) Dinâmica e funcionamento da Governança por Comitês;

2) Formação e priorização do portfólio estratégico;

3) Monitoramento, identificação de gargalos e correção de rumos da

estratégia;

4) Benefícios do modelo;

5) Possibilidades de evolução.

As dimensões 1 e 2 são importantes para caracterizar e contextualizar como se

dá o processo de formação do portfólio de projetos estratégicos no âmbito da SEF/MG, a

partir da percepção dos entrevistados. A dimensão 3 relaciona-se mais especificamente ao

objetivo deste trabalho e ao problema de pesquisa, buscando verificar se o monitoramento do

portfólio gera informações que voltam a retroalimentar o ciclo de planejamento estratégico,

retornando ao Comitê de Governança, e dando subsídios para tomada de decisões que

possibilitem a correção de rumos da estratégia da organização. Na dimensão 4 são apontados

benefícios que o modelo trouxe à SEF/MG, na visão dos atores que lidam com o processo de

planejamento. E, por fim, na dimensão 5, busca-se apresentar quais são os pontos de melhoria

e evolução do processo.

Page 69: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

68

7.1 Dinâmica e funcionamento da Governança por Comitês

Com relação à dinâmica e funcionamento da Governança por Comitês, todos os

entrevistados responderam que trata-se de uma inovação benéfica, por dar maior legitimidade

ao processo decisório e também a transparência necessária às ações propostas. Conforme o

Entrevistado G:

[...] eu acho que ela é uma iniciativa interessante de transformar as decisões

em questões mais estudadas, mais estratégicas e mais divulgadas. [...]eu acho

que, por exemplo, o Comitê de Prioridades ele deu mais legitimidade, mais

transparência em relação à escolha dos projetos, e também em relação ao

recurso, que é sempre um assunto delicado e que gera insatisfação, porque

como na casa da gente, você tem mais projetos do que recursos, então a hora

que você traz isso para um grupo técnico, onde existe a chance de discutir,

não é que isso vai decidir, mas vai subsidiar a decisão do comitê de

governança, eu acho que isso traz mais legitimidade, mais transparência e

mais a sensação pra casa toda de que todo mundo está sendo ouvido, de que

todo mundo está tendo a chance de apresentar as coisas (Entrevistado G).

Posicionamento observado entre a maioria dos entrevistados, os quais

reiteraram que a sistemática vem conseguindo imprimir uma maneira mais participativa de

administrar, de acordo com o Entrevistado B, se referindo ao comitê ―ele permitiu com que eu

tivesse fóruns, com representação de Receita, de Tesouro, de áreas transversais, então, a

construção passou a ser uma construção coletiva, eu passei a ter uma participação da casa

muito maior e não a ter ações isoladas por algumas unidades‖.

Indagado se a criação dos comitês proporcionou uma maior participação, o

Entrevistado D afirma que

(...) acho que sim. Principalmente na parte de seleção de projetos; nessa

parte de constituir a carteira de projetos da Fazenda... eu acho que ela foi

primordial pra trazer a discussão acerca desses projetos, não simplesmente

colocar os projetos na carteira e pronto. Vários projetos foram questionados,

tanto o conteúdo, quanto os recursos; e eu acho que as unidades solicitantes

tiveram que rever em vários momentos o quê que elas estavam colocando

naquele projeto (Entrevistado D).

É possível depreender, então, de acordo com a visão dos entrevistados, que a

sistemática de Governança por Comitês oi bem aceita na SEF/MG e tida como benéfica na

organização, por imprimir maior legitimidade e participação ao processo da formação da

carteira de projetos. Isto é, tal modelo vai ao encontro dos objetivos traçados, quais sejam

Page 70: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

69

―assegurar o alinhamento da gestão estratégica com as diretrizes governamentais, dar

agilidade ao processo decisório, bem como conferir mais legitimidade às decisões, por meio

do modelo de gestão corporativo‖ (BARROS, 2013, p.81) e, finalmente, promover maior

participação de todas as áreas da organização.

7.2 Formação e priorização do portfólio estratégico

A formação e priorização do portfólio estratégico da SEF/MG é tida como um

dos grandes avanços proporcionados pela sistemática da Governança por Comitês. Tal

processo sintetiza o pensamento de Cooper, Edgett e Kleinschimidt (2001), os quais apontam

que, ao se falar em gerenciamento de portfólio, aspectos como tomada de decisão, adequação

à estratégia e priorização estão intrinsecamente relacionados, visto que o portfólio é a

tradução, em projetos diversos, porém alinhados, da estratégia organizacional. Nessa mesma

linha, o entrevistado B afirma que a priorização foi um dos grandes benefícios percebidos pela

SEF/MG, a qual hoje, conta com um portfólio mais enxuto e estratégico:

[...] por tudo que eu vivi o tempo que eu estou na administração pública, se

alguém me perguntar um dos grandes problemas que eu vejo na gestão

pública é a baixa capacidade de priorização. E eu vejo os Comitês como um

dos efeitos colaterais e muito bons é fazer com que a Secretaria de Fazenda

consiga exercitar esse lado de priorização. A gente viu nesses últimos quatro

anos a carteira, a capacidade que a casa teve de chegar a consenso e com

recursos cada vez mais limitados, saber bem onde investir esses recursos.

[...] eu vejo N benefícios do processo de comitês, uma integração da casa,

um compartilhamento de ideias, melhoria do processo decisório, mas no que

eu vejo, principalmente, como nosso assunto é projetos, é a capacidade de

priorizar. Eu passo a conseguir exercitar isso e a metodologia, ela permite

com que a Secretaria faça esse exercício cada vez melhor de priorizar

(Entrevistado B).

O entrevistado E relata como era realizada a seleção dos projetos antes da

criação dos Comitês e os benefícios advindos após a sua implementação:

A gente fazia dessa forma aqui na secretaria: a gente ia até as unidades e

solicitávamos as unidades para mandar dentro daquele orçamento disponível,

quais os projetos que a gente ia fazer. E a partir daí, a gente olhava muito em

termos de orçamento, fazia a carteira e depois a gente a levava ao secretário

pra ele dar uma olhada, mas era uma olhadela, e aí com essa questão do

comitê, passou a ser analisado mesmo, pelo secretário, sub e adjunto, se era

aquilo mesmo que eles queriam pra Fazenda, ‗é isso que é estratégico pra

Fazenda?‘ (Entrevistado E).

Page 71: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

70

Verifica-se, portanto, por meio das entrevistas, que a partir da

institucionalização dos Comitês foi possível criar um fórum que abarcasse as funções de

priorização e decisão da formação do portfólio estratégico, seguindo o modelo semelhante ao

proposto por Carvalho e Rabechini Jr. (2006) na Figura 6 (pag. 47), o qual considera como de

extrema importância o processo de análise no âmbito estratégico dos projetos que irão compor

uma carteira, pois poucas instituições possuem este processo formalmente delineado e, em

muitos casos, o que se vê é o dispêndio desnecessário de recursos em projetos que não trazem

benefícios para a organização.

7.3 Monitoramento, identificação de gargalos e correção de rumos da estratégia

Para o melhor entendimento acerca do monitoramento do portfólio estratégico

é importante retomar a classificação dos PMO sintetizada por Dinsmore (1998) e Verzuh

(1999), descrita na subseção 4.3 – Escritórios de Gerenciamento de Projetos, a fim de

identificar o papel que o NP possui enquanto instância central de gestão de projetos.

Com base em tais classificações, nota-se que o Núcleo de Planejamento da

SEF/MG agrega características de Project Support Office (PSO), de Dinsmore (1998), em

conjunto com o Center of Excellence (CE), de Verzuh (1999). Assim, embora o NP não

execute apenas atividades relativas à gestão de projetos, se comporta como um PMO na

medida em que fornece apoio técnico e administrativo, ferramentas e serviços aos vários

gerentes de projeto simultaneamente, auxiliando no planejamento, na programação e na

condução das mudanças de escopo e no gerenciamento de custos dos projetos. Ou seja,

funciona como uma empresa de consultoria, que não possui um papel direto na tomada de

decisões do projeto, nem em sua execução. De acordo com Verzuh (1999), em seu modelo de

PSO, o escritório de projetos teria responsabilidade pelas análises de cronograma e

orçamento, bem como pelo gerenciamento das informações dos projetos, estando, portanto,

envolvido na tomada de decisões. O que se observa é que, com a sistemática de Governança

por Comitês, coube ao Núcleo de Planejamento o papel de interlocutor entre os comitês de

Prioridades e Governança, atuando como um gestor das informações do portfólio, e

fornecendo suporte à tomada de decisões.

Tratando do processo do monitoramento em si, de acordo com o Entrevistado

B:

Page 72: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

71

Eu tenho dentro da Diretoria de Planejamento um sistema que é um sistema

hoje em plataforma WEB, descentralizado, ou seja, todos os gerentes de

projetos conseguem entrar e monitorar todas aquelas atividades que são de

responsabilidade dele ou da equipe dele. O Núcleo de Planejamento a todo o

momento tem acesso a uma visão global de todos os projetos, de como está o

andamento e a partir dessa visão global e desse sistema a gente consegue

tirar alguns relatórios, que são relatórios que eu costumo dizer que são

painéis de controle que a gente consegue levar pra Governança da secretaria,

pra alta gerência da secretaria e falar assim, ―você priorizou, pediu que eu

precisaria priorizar tais iniciativas e eu estou monitorando e essa é a

situação‖ (Entrevistado B).

O sistema desenvolvido pelo Núcleo de Planejamento agrega os processos de

acompanhamento, análise e organização do progresso e desempenho do projeto, conforme o

preconizado pelo PMI (2013), além de utilizar informações qualitativas e quantitativas sobre

os projetos. De acordo com o Entrevistado D, gerente do NP:

Com o novo sistema de acompanhamento, a gente retornou com essa ideia

do percentual, com essa informação mais quantitativa, e aí com base nessas

informações, tem uma sistemática de cores, que se relacionam ao status de

―concluído‖, ―em andamento‖, ―atrasado‖, e é uma coisa bem visual. [...]

chama a atenção e proporciona um relatório bem simples e interessante e aí

com esse monitoramento, [...] a gente consolida a informação que o pessoal

colocou nos projetos e se precisar a gente dá um retorno, procura entender

melhor o que está acontecendo, e a gente gera relatórios gerenciais que

retornam pra essas unidades. Então, é um processo bem simples e ao mesmo

tempo muito rico porque você monta seu projeto, e ele é organizado ali e

todo mês as pessoas vão inserindo as atividades [...] é um produto bem

tangível que é um relatório gerencial sobre o projeto da unidade

(Entrevistado D).

Concordando com este ponto de vista, o Entrevistado E afirma que:

O monitoramento da execução ele é muito em cima da atividade que estava

marcada no período, se ele [gerente] fez; se está com algum problema; aí a

gente pega o status. O status é o que? É o porquê. O quê que ta

acontecendo? Porque nesse monitoramento, junto com o gerente, com a

unidade, a gente percebe se tem algum entrave e embora a gente não tenha

esse nome, trabalhamos como um escritório de projetos, com essa carteira, e

tentamos então intermediar. Então o monitoramento não é só a gente olhar se

a pessoa colocou ou não as atividades no sistema; a gente monitora tudo:

fez? Ta com problema? [...] Não fez? O que o NP pode ajudar? Então ele

parte muito de, como se fosse uma consultoria mesmo, junto com o gerente,

tentando juntar as partes, as áreas que se relacionam, como por exemplo,

compras e SGF (Superintendência de Gestão e Finanças). Então a gente faz

esse caminhar aqui dentro, a gente ta sempre acompanhando, orientando.

(Entrevistado E).

Page 73: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

72

O monitoramento contínuo fornece à equipe do projeto uma visão sobre a

saúde do projeto, dando subsídios para que possam ser tomadas ações corretivas com vistas a

alcançar os resultados pretendidos.

Verifica-se, então, que na opinião de todos os entrevistados, é possível

perceber ganhos com o desenvolvimento deste novo modelo de monitoramento dos projetos.

Nas palavras do Entrevistado F, gerente de projeto:

Eu acho que ele é muito bom. Aí eu acho que a área de planejamento faz um

trabalho bacana. Acho que já está mais amadurecido esse processo de

monitoramento.Antes fazia-se reuniões com todos os gerentes e levava-se

um tempo grande acompanhando aquilo ali. Essa sistemática que é utilizada

agora de ter um sistema que as pessoas podem alimentar da forma devida as

informações que tão ali, eu acho que é um ganho, acho muito bom, acho que

é muito bacana mesmo (Entrevistado F).

Entretanto, para que tal modelo funcione, é necessária ―uma mudança de

cultura do gerente do projeto, já que é mais fácil vir pra uma reunião falar daquilo que ele

sabe, aquilo que ele domina do que chegar num sistema formatado pra colocar as

informações‖ (Entrevistado F).

Como apontado pelo Entrevistado F, substituiu-se as reuniões presenciais

mensais pelo preenchimento das informações e seu devido acompanhamento por meio do

Sistema ―Projetar‖. Isso representa ganho de tempo e proporciona conforto.

O Entrevistado G, também gerente de projeto destaca que ―hoje, com o

sistema, o monitoramento é muito mais pragmático, sim, mas acho que não ter nenhuma

[reunião], acho que trouxe menos visibilidade‖ (Entrevistado G).

Tal situação já havia sido observada e discutida pelos gerentes do NP,

conforme descrito pelo Entrevistado E:

um dos gaps que a gente tinha no monitoramento, é que a gente parou

totalmente com essas reuniões presenciais porque a gente achou que seria

melhor só essa questão do sistema, ou seja, eles preenchem, a gente daqui

está vendo tudo. Mas a gente já viu esse ano, e a gente já fez uma reunião

pra rever isso que necessita a gente trazê-los mais. Então, muitas coisas que

a gente resolvia pelo próprio e-mail, a gente deveria tentar trazer os gerentes.

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Hoje em dia, quanto menos exigir de

tempo e quanto mais informatizadas as coisas, melhor. Mas, por outro lado,

Page 74: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

73

também existe uma necessidade desse teti-a-teti com eles. Tava ficando

muito mecanizado o nosso contato com as unidades. Então a gente viu esse

gap e já estamos trabalhando pra melhorar essa parte (Entrevistado E).

Quanto à identificação de gargalos, quando perguntado se o monitoramento no

sistema conseguia sinalizar possíveis gargalos nos projetos, o Entrevistado C respondeu que:

―consegue sinalizar sim, até pela avaliação criteriosa que eles têm das justificativas dos

atrasos e pelo monitoramento dos indicadores dos projetos de cada área. Há uma cobrança

muito grande quando um projeto fica parado por um longo período.‖

Conforme exemplifica o Entrevistado E,

em desenvolvimento de sistemas há a atuação de duas áreas – a STI

(Superintendência de Tecnologia da Informação) e a área demandante. Às

vezes no monitoramento a gente percebe que ta atrasado, ta amarelo, e a

gente faz o contato – quê que ta acontecendo? Como tem a parte descritiva lá

no status, aí a unidade escreve e a STI também escreve. Aí acontece muitas

vezes da unidade escrever uma coisa e a área demandada escreve outra, aí a

gente vai e faz acontecer: ‗olha, peraí, você ta falando que o

desenvolvimento de sistemas não ta dentro do prazo que vocês

estabeleceram, já a STI ta falando que sim, que o projeto ta caminhando‘. Aí

a gente faz os dois conversarem e a gente também. Às vezes, por reuniões, a

gente pede pra fazer mesmo, presencial, ou as vezes a gente resolve isso

pelos e-mails(Entrevistado E).

É possível observar, então, que o Núcleo de Planejamento atua praticamente

como uma consultoria, o que proporciona uma interação benéfica para mediar possíveis

conflitos. Portanto, visualiza-se que o NP cumpre alguns fatores críticos de sucesso para a

implementação de um PMO, conforme apontado por PATAH; CARVALHO, 2003; PATAH,

2004 (apud CARVALHO; RABECHINI JR., 2006), visto que proporciona auxílio aos

gerentes de projetos da organização desde o planejamento até o monitoramento dos projetos.

Logo,uma das principais vantagens dessa proximidade de atuação do NP é a de, em projetos

cujo escopo envolva duas unidades distintas, identificar no monitoramento divergências no

andamento das etapas-marco de execução dos projetos, nas justificativas, etc., o que faz com

que o NP atue, então, como um mediador entre as áreas responsáveis. O NP é, portanto, a

primeira instância para lidar com os gargalos identificados. Não sendo possível resolver

determinado entrave, este é levado ao Comitê de Governança para discussão e deliberação.

Page 75: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

74

No que diz respeito à correção de rumos da estratégia, a qual está inserida na

etapa de monitoramento e revisão da carteira de projetos, apontada na Figura 5, p. 46, pode-se

afirmar que são dois os grupos de processos de gerenciamento de portfólios que estão

relacionados a essa dimensão de correção de rumos da estratégia, de acordo com o PMI

(2008c), quais sejam:

Revisão e informação do andamento dos portfólios: a finalidade deste

processo é obter indicadores de desempenho, montar relatórios e divulgá-los, e revisar o

portfólio com uma determinada frequência, para assegurar tanto o alinhamento com a

estratégia da organização como a efetiva utilização de recursos;

Mudanças Estratégicas: a finalidade deste processo é tornar o processo

de gerenciamento do portfólio apto a responder às alterações na estratégia.

O que se observa na SEF/MG, segundo o Entrevistado B é um gargalo

relacionado ao processo decisório acerca do monitoramento:

[hoje] eu consigo trazer informações relevantes em relação ao

acompanhamento desses projetos mas eu enxergo ainda poucas correções de

rumo. Esse retorno dentro da governança, ele ainda é carente de melhorias

significativas. Melhorias em que sentido? Os projetos foram priorizados, eu

trago um status da situação desses projetos, mas eu não enxergo ainda uma

utilização ótima e otimizada desse monitoramento pra, se isso é prioritário e

muitos deles, atrasando, com problemas de execução, eu não vejo mudanças

de rumo. Falta aí, eu vejo, um vácuo decisório entre problemas que

acontecem na execução e correções de rumo (Entrevistado B).

Questionado acerca do recebimento de feedbacks e necessidade de realizar

mudanças por parte da equipe executora dos projetos, o mesmo entrevistado aponta que:

[As equipes] recebem e esse feedback é por meio dos relatórios de

monitoramento, todo o apoio que a Diretoria de Planejamento dá. Quanto à

mudança, [...] eu vejo ainda como incipiente e até natural num processo de

amadurecimento da organização. Na organização a gente vê que [ela] já

consegue pensar em planejamento, já melhorou o processo de priorização, já

consegue estruturar uma carteira de projetos, e a gente já está monitorando.

A gente já varreu uma grande parte, agora eu acho que os próximos passos é

melhorar essa correção de rumos nos projetos. Rumos pequenos o gerente de

projetos tem autonomia, ele consegue fazer. Mas algumas questões mais

significativas a gente ainda é bem emperrado, por conta desse vácuo

decisório em relação a alguns gargalos (Entrevistado B).

Page 76: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

75

Ressaltando o que foi dito por tal entrevistado, observa-se que o processo de

gerenciamento de portfólios da organização, embora tenha amadurecido muito, em

comparação ao modo artesanal de gerenciamento de projetos, ainda é carente da visão de que

o portfólio deve representar a estratégia do órgão. Permanece a ideia, muitas vezes, de

gerenciamento de projetos isolados e mudanças isoladas em relação a escopo, custo e

cronograma. Dessa maneira, não é possível afirmar que todos os grupos de processos de

gerenciamento de portfólio segundo o PMI (2008c) são cumpridos no âmbito da SEF/MG.

Apenas a etapa de priorização vem sendo rigorosamente executada. Não há um processo de

revisão periódica do portfólio institucionalizado a fim de avaliar seu desempenho, além do

que o monitoramento esbarra na falta de utilização dos relatórios gerenciais como subsídios

para tomada de decisão das instâncias deliberativas da organização, as quais são responsáveis

por avaliarem possíveis mudanças na estratégia. Contata-se, então, que mesmo que tenha

havido esforço para o desenvolvimento de instâncias deliberativas para a priorização do

portfólio, permanece a carência de processos que busquem o contínuo alinhamento dos

projetos à estratégia da organização, bem como ainda é preciso buscar amadurecimento da

visão acerca das mudanças e correções de rumo da estratégia.

Nota-se, também, conforme o Entrevistado D que em relação a mudanças nos

projetos:

via de regra não se faz. A ideia é a de que o projeto, ele foi planejado e vai

ser executado dessa maneira, até porque ele foi planejado assim. Agora,

mediante uma ou outra situação, como por exemplo, mudanças de legislação,

a Fazenda tem que se readequar, mas assim, nesses casos é feita uma

mudança, é feita uma solicitação de alteração e isso tudo é registrado

(Entrevistado D).

Dessa maneira, muitos atores entendem as mudanças no escopo dos projetos

como as únicas mudanças possíveis e que não devem acontecer com frequência. Permanece a

falta da visão dos projetos como um portfólio que integra todas as ações que impactarão na

estratégia da organização, ou seja, o portfólio deve ser revisto e monitorado para que,

tempestivamente, sejam propostas mudanças de rumo na estratégia, que, certamente, alterarão

os projetos em execução.

Indagados, ainda, se o monitoramento possibilita avaliar se os projetos estão

alinhados à estratégia organizacional, a maioria dos entrevistados respondeu que sim e

acrescentam que, se eles estão sendo executados e compõem o portfólio, já é o indicativo de

Page 77: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

76

alinhamento, visto que passaram pela discussão no Comitê de Prioridades e Inovação e,

portanto, foram deliberados e aprovados pelo Comitê de Governança. Nas palavras do

Entrevistado D:

Eu acho que no planejamento dele [do projeto] já dá pra ter essa noção [de

alinhamento à estratégia], porque quando chegam os termos de abertura, a

gente já tem as informações primordiais de objetivo do projeto, de

justificativa, premissas, então já dá pra ter uma noção se ele está coerente

com os objetivos organizacionais. Então, são essas informações que são

levadas pro comitê pra que sejam selecionados os projetos e eu acho que

assim nesse ponto, vários projetos já são eliminados se não estão coerentes

com a estratégia. Acredito que ao longo do monitoramento isso é

consolidado... talvez o monitoramento ajude a dizer o quão alinhado ele está,

mais do que se está ou não, eu acho que esse funil é feito antes (Entrevistado

D).

Finalmente, buscou-se averiguar sobre a possibilidade da existência de

problemas informacionais no processo de monitoramento, isto é, se as informações geradas

são suficientes para avaliar se os projetos estão de acordo com a estratégia estabelecida. Na

visão do Entrevistado B:

Eu não vejo que a gente tem problema informacional, eu acho que o

problema agora é mais decisório e, de repente, de rever um pouco esse

processo. (...) Igual conseguimos uma estratégia pra forçar a casa a exercitar

a priorização; vamos pensar numa estratégia de forçar a casa a tomar

decisões em relação a rumos de correções de projetos. De repente, passa por

aí. Porque se colocar no colo do outro, é muito fácil e muito cômodo. Então,

eu não vejo como um problema informacional, isso porque a saída hoje dos

relatórios e do monitoramento são bastante ricas; eu vejo como um problema

de processos, de repente como que essa informação chega e também, é, de

decisão (Entrevistado B).

7.4 Benefícios do modelo

A visão do Entrevistado G resume a percepção de todos os entrevistados acerca

do maior benefício do modelo da Governança por Comitês no que diz respeito à priorização e

formação do portfólio estratégico:

Eu acho que trouxe muita legitimidade para a escolha dos projetos. Aqui,

antes dos comitês, quais eram os projetos? Aqueles que cada um tinha

vontade. Ponto. Não tinha uma discussão de quais eram considerados

projetos estratégicos, onde os recursos vão ser alocados, então eu acho que

esse foi um grande salto pra que a casa, de verdade, priorize, coloque

recursos e garanta esforço, nos projetos que estão alinhados à diretriz da

Page 78: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

77

organização, porque senão você pode ter projetos, não que não sejam

importantes, mas que naquele conjunto, eles impactam menos a estratégia.

Com certeza os comitês, eles dão essa legitimidade ao portfólio

(Entrevistado G).

Assim, a etapa de alinhamento estratégico preconizada pelo PMI (2008c) está

sendo cumprida no âmbito da SEF/MG e a melhoria do processo é nítida, visto que gerou a

redução do número de projetos do portfólio de cerca de quarenta, para vinte, em média.

Outro aspecto abordado e essencial para o bom funcionamento de qualquer

empreitada em uma organização é o patrocínio e apoio da alta administração. Nas palavras do

Entrevistado A: ―Em todo esse processo, a importância é você ter o comprometimento do

chefe maior. Isso é fundamental. Você tem que ter esse compromisso dele com isso, porque a

hora que ele te dá a diretriz, você ta respaldado. Se ele não te dá a diretriz, você não anda. Aí

não funciona.‖ Ainda segundo o mesmo Entrevistado, após todas as discussões no Comitê de

Prioridades a proposta que chegava ao Comitê de Governança oferecia subsídios para a

tomada de decisão da alta administração, a qual também indicava sua concordância e

patrocínio para os projetos a serem desenvolvidos:

A hora que a gente levava o portfólio de projetos pro secretário no comitê de

governança, ali já tava bem estruturado o que era o desejo da casa e o que

não era. Aí dava pro secretário e pra equipe dele, todo o subsídio pra ele

decidir. Então essa parte foi sensacional, porque assim, a hora que saía do

comitê de governança: ―os projetos serão esses, financiados ou não‖, não

tinha discussão na casa. Era aquilo que seria feito. E isso foi verdade, não foi

um faz de conta. (Entrevistado A).

Ademais, como benefícios, pode-se apontar que houve ganhos também no

processo de gerenciamento de projetos em si, com a construção do Sistema ―Projetar‖,

possibilitando um acompanhamento tempestivo, mais eficiente e menos burocrático do

portfólio de projetos. Embora alguns atores defendam a permanência da realização de

algumas reuniões conjuntas, o monitoramento via sistema trouxe agilidade, confiabilidade e

segurança para o processo.

Outro fator que contribui para um bom desempenho da gestão de projetos na

organização é a vinculação dos projetos aos objetivos estratégicos e sua inclusão no mapa

estratégico. Semanalmente são enviados os percentuais de execução dos projetos e cada

unidade pode acompanhar seu status via Sistema de Análise do Desempenho Estratégico

Page 79: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

78

(Sade) e não só no Sistema ―Projetar‖. Isso indica o alinhamento à estratégia dos projetos

desenvolvidos, bem como um bom resultado da priorização realizada na etapa inicial da

constituição do portfólio.

7.5 Possibilidades de evolução

Possibilidades de evolução foram apontados pelos próprios entrevistados e

enriquecem a discussão acerca do gerenciamento de portfólios aqui apresentada.

A primeira delas diz respeito às ―regras do jogo‖ dos Comitês, algo que é visto

como necessidade pelo Entrevistado F: ―Como primeira experiência, muitos ajustes podem

ser feitos. Por exemplo, o comitê não tinha uma regra na hora que você chegava num impasse,

por exemplo, e que ia ter uma votação; não tinha uma regra de como que seria aquela votação,

então era uma coisa mais assim meio que intuitiva, sabe?‖. Assim, como um processo que já

está alcançando um bom nível de amadurecimento, cabe à Agei fomentar essa discussão

acerca de questões práticas das reuniões dos Comitês, como a que foi levantada por este

entrevistado.

Além disso, de acordo com o Entrevistado G, permanece a necessidade de

buscar a eficiência na alocação dos recursos investidos nos projetos selecionados para o

portfólio:

Ainda mais em um momento em que a gente tem poucos recursos, eu acho

que a casa devia estar se perguntando ―até que ponto a quantidade de coisas

que eu estou fazendo contribui pra estratégia?‖ A gente precisava ter um

foco: ―o quê que a gente pode parar? O que pode ser descontinuado?‖ Pra

gerar menos custo, e pra ter mais foco naquilo que de verdade contribui pra

estratégia. O fato é que eu acho que isso é uma questão de tempo mesmo,

acho que a gente vem melhorando. A gente ainda gasta muito tempo e

energia fazendo coisa que a gente deveria fazer mais barato, com menos

esforço. E acho que aí é o esforço do planejamento de que a gente tenha

discussão do escopo, do que o projeto vai gerar e que essa discussão não seja

deixada de lado. E aí é a importância do Comitê de Prioridades, ele

perguntar ―em que medida de fato o custo desses projetos vai trazer todo o

benefício pra casa? E em que medida ele vai cumprir com a estratégia

estabelecida?‖ Eu acho que o caminho está posto, falta é a vivência, fazer a

engrenagem rodar pra que a cultura esteja completamente no sangue das

pessoas (Entrevistado G).

Page 80: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

79

Outra possibilidade abordada nas entrevistas, foi a necessidade de se ter mais

transparência na execução orçamentária dos projetos:

A gente tem que fazer um ajuste maior da transparência da execução

orçamentária na execução desses projetos. Alguns projetos que consomem

muitos recursos orçamentários, é preciso ter esse acompanhamento.A gente

está desenvolvendo um trabalho em conjunto, do [Núcleo de] Planejamento

e do [Núcleo de] Orçamento pra que a gente tenha um painel orçamentário

dos projetos que estão na carteira. Que a gente tenha o custo de cada projeto

e o benefício que ele gerou pra casa. Então isso a gente ainda tem que

evoluir bastante nos próximos anos, mas a rigidez orçamentária dos

programas e das ações orçamentárias, eles ainda não nos deram a permissão

de fazer um acompanhamento em tempo real. Talvez a gente precise numa

próxima elaboração do PPAG, a gente consiga fazer talvez mais ações

orçamentárias vinculadas aos projetos que estão na carteira e que a gente

identifique o que foi gasto em cada projeto de forma clara (Entrevistado C).

Por meio de análise documental e das entrevistas foi possível identificar que

muitos projetos da SEF/MG são na verdade ações que compõem um projeto maior e que se

delongam por mais de anos, o que dificulta o gerenciamento de projetos tal qual as boas

práticas propostas pelo PMBOK. Entretanto, esta não é uma exclusividade da SEF/MG e sim

um problema do setor governamental como um todo.

Ademais, outra consideração a ser feita e que vai ao encontro do supracitado, é

a necessidade de se diferenciar projetos de processos para que o gerenciamento seja, de fato,

realizado de maneira eficaz. Conforme aponta o Entrevistado C, tem que ser observada, para

fins de melhoria no modelo:

A parte de o projeto ser projeto. Porque o projeto é aquilo, é o novo, algo

que você vai fazer; então, de repente, eu vejo alguns que já são processos,

né. Mas é uma coisa que amadurece, que vai amadurecer pra isso. E

confunde, porque no governo também é assim. E no governo, se você pegar,

falar os projetos estruturadores, chega num ponto que eles viram processos.

Porque é muito tênue a diferença de um projeto e de um processo, né.

Porque o processo você também começa, você vai fazer melhorias, você tem

principio, meio e fim, você tem marcos e atividades, a linha é muito tênue

dessa diferença. Então nem sei se a gente num futuro maior vai conseguir

isso não, porque senão ficariam muito poucos, aquilo que é totalmente novo,

que é, sabe? Mas que são coisas que também precisam de acompanhamento

(Entrevistado C).

Finalmente, como possibilidade de evolução é importante destacar que ao

longo do processo de planejamento estratégico, embora a etapa de priorização já tenha

Page 81: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

80

evoluído consideravelmente, o gerenciamento do portfólio sofre com a falta de utilização de

seus relatórios para embasar as decisões da alta administração no que diz respeito a mudanças

de rumo da estratégia, fazendo com que os ―painéis de controle‖ percam parte de seu

potencial de serem sinalizadores do andamento do portfólio. Dessa maneira, é preciso

repensar e aprimorar a retroalimentação do ciclo do planejamento estratégico com as

informações advindas do gerenciamento dos projetos e do portfólio a fim de que se possa

analisar o retorno que os projetos em andamento estão trazendo à organização, evitar que

projetos não prioritários consumam recursos que poderiam ser empregados em outros projetos

e obter lições aprendidas para aperfeiçoar o ciclo da gestão do portfólio.

Page 82: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

81

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Priorizar recursos se torna cada vez mais essencial em contexto de demandas

crescentes da população, em contrapartida ao cenário macroeconômico delimitado por

recursos escassos. Assim, nas últimas décadas, a Administração Pública inspirou-se em

ferramentas da gestão privada, como planejamento estratégico e gestão de projetos a fim de

estabelecer objetivos e metas para o setor governamental e, com isso, tentar buscar maior

eficiência e qualidade do gasto público, não perdendo de vista as peculiaridades inerentes ao

setor público.

No âmbito do governo do estado de Minas Gerais, procurou-se implementar

tais ferramentas, cabendo às secretarias de Estado buscar o alinhamento às diretrizes

governamentais que preconizavam a elaboração de planejamento estratégico e utilização de

instrumentos de gestão de projetos. Mais especificamente no caso da Secretaria de Estado de

Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG), a qual constituiu-se como unidade de análise do

presente trabalho, a partir de 2003, iniciou-se o desenho de seu planejamento estratégico, com

definição de missão, visão e valores da organização. Contudo, o alinhamento à estratégia não

se limitou à construção de documentos e adoção de metodologias para o estabelecimento de

indicadores como o Balanced Scorecard (BSC). Percebeu-se a necessidade de melhorias no

processo decisório e também no processo de gestão de projetos, o que resultou na criação da

arquitetura de ―Governança por Comitês‖, instância deliberativa com primordial atuação no

processo de definição do portfólio estratégico, e no desenvolvimento de sistema para

gerenciamento de projetos, o Sistema ―Projetar‖.

Tendo em mente este cenário, o trabalho se propôs a promover uma análise

descritiva do modelo de planejamento estratégico da SEF/MG, perpassando pelo processo de

formação do portfólio anual de projetos prioritários até o seu monitoramento e avaliação,

tendo como ponto de partida o seguinte questionamento: ―Se, e em que medida são realizadas

mudanças de rumo nas prioridades estratégicas da organização como resultado do

monitoramento e avaliação do portfólio de projetos estratégicos?‖.

Para alcançar tal objetivo, o trabalho contou, primeiramente, com pesquisa

bibliográfica acerca da gestão estratégica, planejamento estratégico e gestão de projetos dos

principais conceitos, evolução e ferramentas que permeiam estas temáticas. Além disso,

Page 83: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

82

utilizou-se de pesquisa documental, recorrendo-se a instrumentos normativos e atas de

reunião. Em seguida, buscou-se descrever o modelo do processo de planejamento estratégico

construído na SEF/MG desde a concepção do portfólio de projetos com as discussões no

Comitê de Prioridades, deliberação pelo Comitê de Governança e monitoramento do portfólio

pelo Núcleo de Planejamento (NP) da Agei. Por fim, realizou-se entrevistas com atores

envolvidos no processo de planejamento estratégico a fim de captar a percepção destes acerca

do modelo desenvolvido e embasar a presente análise.

Verificou-se, durante a análise, que a dinâmica da ―Governança por Comitês‖

trouxe benefícios para a organização, sendo a legitimidade e transparência os mais

reconhecidos pelos entrevistados. Além disso, os atores também identificaram que a

participação aumentou visto que os Comitês, de fato, se tornaram instâncias para discussão

com representação de toda a Secretaria. Ademais, notou-se que toda a sistemática de

―Governança por Comitês‖ contou com o apoio da alta administração da secretaria, por meio

do Comitê de Governança, o que fez com que fosse dada a legitimidade que tal empreitada

necessitava para se constituir como imprescindível no âmbito da SEF/MG.

No que diz respeito à priorização, o portfólio de projetos, de fato, reflete as

melhorias neste processo, visto que a média de projetos que anteriormente era de 40

(quarenta), reduziu para cerca de 20 (vinte). Assim, nota-se que o processo de alinhamento

estratégico está formalmente delineado na SEF/MG, conforme sugere a literatura consultada.

Tratando especificamente do monitoramento do portfólio, objeto de análise

deste trabalho, constatou-se alguns avanços, bem como falhas no processo. Como avanços é

possível destacar a confiabilidade, agilidade e conforto que o desenvolvimento do Sistema

―Projetar‖ trouxe aos gerentes de projeto e aos gerentes do Núcleo de Planejamento. A

vinculação dos percentuais de execução dos projetos ao mapa estratégico e sua divulgação no

Sistema de Análise do Desempenho da Estratégia (Sade) também configura-se como um

avanço, visto que todos os servidores da SEF/MG têm acesso a tais informações, o que

proporciona um acompanhamento transparente no âmbito da organização.

Entretanto, como possibilidades de evolução destaca-se fragilidades na adoção

de processos de revisão do portfólio estratégico e mudanças da estratégia. Tal fator se dá pela

carência da visão dos projetos como um todo, isto é, como um portfólio, o qual deve ser

Page 84: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

83

gerenciamento, revisado e avaliado para verificar se ações uma vez priorizadas estão no rumo

certo e atendendo à estratégia da organização. Notou-se que os relatórios gerenciais gerados

pelo Sistema ―Projetar‖, embora constituam-se como painéis de controle, não são de fato

utilizados como ferramentas que possibilitem o embasamento da tomada de decisões da alta

administração para corrigir os rumos de projetos que apresentem gargalos. Assim, embora o

processo de planejamento tenha evoluído consideravelmente com a implementação da

―Governança por Comitês‖, em 2011, e apresente atualmente avanços no que diz respeito à

priorização e ao gerenciamento de projetos em si, pode-se apontar que os processos de revisão

e avaliação de mudanças referentes ao portfólio estratégico ainda é incipiente.

Como possíveis fatores que influenciam nesta ―falta de visão de portfólio‖ que

foi descrita acima, tem-se o entendimento por parte dos atores envolvidos no processo de que

mudanças nos projetos acontecem apenas em relação a escopo, cronograma e recursos; não se

observa o consenso de que o portfólio representa a estratégia maior da organização e que tal

estratégia pode ser revista ao longo do tempo para se adequar aos cenários interno e externo.

Ademais, a partir das entrevistas, destacou-se a existência no portfólio de ações que

constituem projetos que, na verdade, são processos e não possuem o caráter inovador e

temporal de um projeto. Também observa-se que alguns projetos que compõem o portfólio,

além de sofrerem com possíveis contingências de recursos, não têm duração exata,

perdurando por mais de um ano, o que dificulta o gerenciamento.

Outra possibilidade de evolução levantada nas entrevistas diz respeito à maior

necessidade de transparência na execução orçamentária dos projetos, o que vem sendo

discutido entre os Núcleos de Planejamento e Orçamento da Agei para que o

acompanhamento do portfólio de projetos estratégicos também apresenta informações

tempestivas sobre os custos e com os respectivos benefícios gerados para a organização.

A partir da análise das entrevistas, é possível, então, responder à pergunta que

incitou esta pesquisa e afirmar que não são realizadas mudanças de rumo na estratégia da

organização como resultado do monitoramento e avaliação do portfólio de projetos.

Todavia, embora os processos de gerenciamento de portfólio sejam executados

parcialmente na SEF/MG, cabe ressaltar que o processo de planejamento estratégico avançou

consideravelmente no que diz respeito à priorização, ganhos de legitimidade e aumento da

Page 85: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

84

participação no processo decisório alcançado pela ―Governança por Comitês‖. Assim,

acredita-se que cabe destacar a possibilidade de estudos e análises do modelo abordado,

levando em consideração a proposição de ações que objetivem o aperfeiçoamento do processo

de planejamento estratégico, quais sejam:

Busca de constante apoio dos gerentes do Núcleo de Planejamento para,

junto ao Comitê de Governança, reforçar a importância dos relatórios gerenciais resultantes

do Sistema ―Projetar‖, a fim de proporcionar alinhamento entre técnicos e alta direção quanto

aos resultados obtidos com o monitoramento, bem como reforçar o patrocínio ao

gerenciamento de projetos na organização;

Formalização do processo de revisão do portfólio estratégico anual pelo

Comitê de Governança, previamente à data de revisão do Plano Plurianual Governamental

(PPAG), adequando-se à própria lógica do PPAG que é torná-lo flexível ao enfrentamento de

problemas e demandas que venham a surgir na sociedade. Assim, a revisão do portfólio da

SEF/MG daria subsídios para identificar quais projetos estratégicos continuam em execução

ou não, se haverá alguma mudança relacionada ao orçamento, entre outros. Caberia à Agei,

mais especificamente ao Núcleo de Planejamento, a responsabilidade de desenhar e

operacionalizar este processo de revisão, estabelecendo datas e pautas para as reuniões com o

Comitê de Governança, além de conduzi-las e consolidar as deliberações.

Page 86: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

85

REFERÊNCIAS

ABRUCIO, F. L. O impacto do modelo gerencial na administração pública: um breve

estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n.

10, 50 p.

AKTOUF, O. A administração entre a tradição e a renovação. São Paulo: Atlas, 1996. 272

p.

ALMEIDA, K.T.D. Planejamento Estratégico e Metodologia de Gerenciamento de

Projetos: uma vantagem competitiva para as empresas. Revista Techoje. Belo Horizonte,

2009. Disponível em :<www.ietec.com.br/site/techoje/categoria/abrirPDF/108>. Acesso em:

5 fev. 2015.

ALMEIDA, M. I. R.; CRUZ, J. M. F. Planejamento Estratégico para Instituições

Governamentais. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ESTRATÉGIA - SLADE,

15., 2002, Montevidéu. Anais do XV Congresso Latino Americano de Estratégia - SLADE,

2002. v. 1.

ALMEIDA, N. Gerenciamento de portfólio:alinhando o gerenciamento de projetos à

estratégia da empresa e definindo sucesso e métricas em projetos. Rio de Janeiro: Brasport,

2001.

ALMG, Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2015. Disponível em:

<http://www.almg.gov.br/acompanhe/planejamento_orcamento_publico/pmdi/o_que_e.html>

. Acesso em: 28 abril. 2015.

BARBOSA, E. R.; BRONDANI, G. Planejamento Estratégico Organizacional. Revista

Eletrônica de Contabilidade, UFSM, v. 107, n. 1, 2005, p. 107-123.

BARROS, T. G. M. de R. B. Da seleção de prioridades ao monitoramento da estratégia: a

experiência do planejamento estratégico da SEF/MG. Dissertação. (Mestrado em

Administração Pública). Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho. Fundação

João Pinheiro. Belo Horizonte, 2013. 148 p.

BRESSER-PEREIRA, L. C. Os primeiros passos da reforma gerencial do Estado de 1995.

Revista Brasileira de Direito Público, Belo Horizonte, v. 6, n. 23, p.145-186, out-dez. 2008.

BRESSER-PEREIRA, L.C. Da Administração Pública Burocrática à Gerencial. Brasília:

Revista do Serviço Público, n. 47, 1996, 28 p.

BRESSER-PEREIRA, L.C. Reforma da gestão e avanço social em uma economia semi-

estagnada.Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.38, n.4, p.543-560, jul./ago.

2004.

CAMPOS, A. C. Gestão estratégica: análise da adesão dos servidores ao modelo implantado

na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais 2009/2010.Dissertação. (Mestrado em

Administração Pública). Fundação João Pinheiro. Professor Paulo Neves de Carvalho. Belo

Horizonte, 2012, 111p.

CARVALHO, M. M; RABECHINI JR., R. Construindo competências para gerenciar

projetos – teoria e casos.São Paulo: Atlas, 2006. 317 p.

Page 87: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

86

CLARKE, T. Reconstructing the public sector: performance measurement, quality assurance

and social accountability. Texto apresentado ao InstitutfurWirtshaftsundSozialforschung

Chemnitz, Germany, 1993. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo gerencial na

administração pública: um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília:

ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

CROZIER, M. Cómo reformar al Estado. Três países, três estrategias: Suecia, Japón y

Estados Unidos. Cidade do México: Fondo de Cultura Econômica, 1992. In: ABRUCIO, F. L.

O impacto do modelo gerencial na administração pública: um breve estudo sobre a

experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; nº 10, 50 p.

CUNHA, L. C. O. C. Timeline web browser e arquitetura de software para aplicações

web 2.0. 2006. 48 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciência da Computação, Centro de

Informática, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

DE TONI, J.Planejamento e elaboração de projetos. Porto Alegre, 2003. 183 p. In: BARROS,

T. G. M. de R. B. Da seleção de prioridades ao monitoramento da Estratégia: a

experiência do planejamento estratégico da SEF/MG. Dissertação. (Mestrado em

Administração Pública). Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho. Fundação

João Pinheiro. Belo Horizonte, 2013. 148 p.

DIAS, C. Pesquisa qualitativa: características gerais e referências. [S.1.: s.n., 2000].

Disponível em <http://www.reocities.com/claudiaad/qualitativa.pdf/>. Acesso em: 25 fev.

2014.

DINSMORE, P. C. Transformando estratégias empresariais em resultados através da

gerência de projetos. Tradução Bazan Tecnologia e Lingüística, Rio de Janeiro,

Qualitymark, 1999, 284p.

FLYNN, N. Public sector management. New York/London: Harvester Wheatsheaf, 1990. In:

ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo gerencial na administração pública: um breve

estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n.

10, 50 p.

FREDERICSON, G.H. Hacia una teoria del público para La administração público. Gestión y

Política Pública, vol I, n.1, México, 1992. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo

gerencial na administração pública: um breve estudo sobre a experiência internacional

recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

GODOY, A.S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de

Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 57-63, abr. 1995.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. 2 ed. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2009.

GRAY, A. & JENKINS, B. From public administration to public management: ressessing a

revolution?, Public Administration, vol. 73, n.1, 1995. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do

modelo gerencial na administração pública: um breve estudo sobre a experiência

internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

GUIMARÃES, A. R. A implantação da Assessoria de Gestão Estratégica e Inovação -

AGEI - na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais. 2012. 120 f. TCC

(Graduação) - Curso de Administração Pública, Escola de Governo Professor Paulo Neves de

Carvalho, Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2012.

Page 88: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

87

HOBSBAWN, E. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo, Companhia

das Letras, 1995. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo gerencial na administração

pública: um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997.

Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

HOLMES, M.; SHAND, D. Management reform: some practitioner perspectives on the past

ten years, Governance, v. 8, n.4. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo gerencial na

administração pública: um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília:

ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

KERZNER, H. Gestão de projetos: as melhores práticas. Tradução: Lene Belon Ribeiro. 2.

Ed., Porto Alegre: Bookman, 2006, 824 p.

KOONTZ, H.; O‘DONNELL, C. Os princípios de administração: uma análise das funções

administrativas. São Paulo: Pioneira, 1980.

MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p. 149-158,

1991.

MEIRELLES, A. M. O planejamento estratégico no Banco Central do Brasil e a

viabilidade estratégica em uma unidade descentralizada da autarquia: um estudo de

caso. Dissertação (Mestrado em Administração) – CEPEAD/FACE/UFMG, Belo Horizonte:

UFMG, 1995. 229p.

MEIRELLES, A.M; GONÇALVES, C. A. O que é estratégia: histórico, conceito e

analogias.In: GONÇALVES, C. A.; REIS, M. T.; GONÇALVES, C. (Orgs.). Administração

estratégica: múltiplos enfoques para o sucesso empresarial. Belo Horizonte: UFMG/Cepead,

2001. p. 21-33.

MINAS GERAIS. Decreto nº 45.780, de 24 de novembro de 2011. Dispõe sobre a

organização da Secretaria de Estado de Fazenda. Diário Oficial de Minas Gerais, Belo

Horizonte, 25 nov. 2011a. Disponível em:

<http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=DEC&num=4578

0&comp=&ano=2011>.Acesso em: 11 out. 2014.

__________. Lei delegada nº 180, de 20 de janeiro de 2011. Dispõe sobre a estrutura

orgânica da Administração Pública do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais e dá outras

providências. Diário Oficial de Minas Gerais, Belo Horizonte, 21 jan. 2011b. Disponível em:

<http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa-nova-

min.html?tipo=LDL&num=180&comp=&ano=2011&texto=consolidado>. Acesso em: 11

out. 2014.

MINTZBERG, H. et al. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento. Porto

Alegre: Bookman, 2000.

MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. The strategy process: concepts, contexts and cases. 2. ed.

EnglewoodCliffs: Prentice-Hall International, Inc., 1991.

OLIVEIRA, A. F. Gestão de projetos estratégicos: um estudo de caso. Dissertação

(Mestrado em Engenharia). 197f. Departamento de Engenharia Naval e Oceânica, Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007. p. 15-42.

Page 89: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

88

OSBORNE, D. & GAEBLERR, T. Reinventando o governo — como o espírito

empreendedor está transformando o governo. Brasília: MH Comunicação, 1994. In:

ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo gerencial na administração pública: um breve

estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n.

10, 50 p.

PIZE, A. O papel do gerenciamento de projetos no sucesso do planejamento estratégico

da organização. 2005. Disponível em: <http://www.excellencegestao.com.br/

downloads/Artigo_Papel_do_GP_no_Sucesso_do_PE.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2014.

PRADO, D. Gerenciamento de portfólios, programas e projetos nas organizações.4 ed.

Nova Lima-MG: INDG-Tecs, 2004.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Standards Committee. A standard for

portfolio management.2 ed. USA: PMI, 2008c, 201p.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Um guia do conhecimento em

gerenciamento de projetos (Guia PMBOK®). 5 ed. Project Management Institute, 2013.

SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 523

p.

SILVEIRA JÚNIOR, A. Planejamento estratégico como instrumento de mudança

organizacional. Dissertação. (Mestrado em Administração). 220p. Faculdade de Estudos

Sociais da Universidade de Brasília. Brasília, 1995.

STEINER, George. A top management planning. New York, 1969. The MacmillanCompany.

In: OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São

Paulo: Atlas, 2011.

STEWART J.; WALSH, K. Change in the public management of public

services.PublicAdministration, v. 70, n.4, 1992. In: ABRUCIO, F.L. O impacto do modelo

gerencial na administração pública: um breve estudo sobre a experiência internacional

recente. Brasília: ENAP, 1997. Cadernos ENAP; n. 10, 50 p.

TORREÃO, P.G.B.C. Project Management Knowledge Learning Environment: ambiente

inteligente de aprendizado para educação em gerenciamento de projetos. Dissertação

(Mestrado em Ciência da Computação). Universidade Federal de Pernambuco, Recife., 2005.

Disponível em:

<http://php.cin.ufpe.br/~pmk/hp/publicacoes/dissertacao/capitulo3PaulaTorreao.pdf> Acesso

em: 23 abril 2015.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VARGAS, V. R. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. 7 ed.

Rio de Janeiro: Brasport, 2009, 233 p.

VILHENA, R. et al. (Org.). O choque de gestão em Minas Gerais: políticas da gestão

pública para o desenvolvimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

WRIGHT, P.; KROLL, M.; PARNELL, L. Administração estratégica: conceitos. São Paulo:

Atlas, 2000. In: CAMARGOS, M. A.; DIAS, A.T. Estratégia, administração estratégica e

Page 90: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

89

estratégia corporativa: uma síntese teórica.Caderno de Pesquisas em Administração. São

Paulo. v.10, 2003. 13 p.

Page 91: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

90

APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro de Pesquisa Semi-estruturada

Prezado (a),

A presente entrevista faz parte da pesquisa de monografia de conclusão do Curso Superior em

Administração Pública (CSAP) da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro (FJP). A temática

abordada no trabalho é a análise da gestão do portfólio estratégico da Secretaria de Estado de Fazenda

de Minas Gerais. Assim, o roteiro a seguir tem como objetivo captar a percepção de alguns atores que

estão inseridos no processo de planejamento estratégico e gestão do portfólio da organização.

IDENTIFIQUE CARGO OCUPADO:

PERÍODO NO CARGO:

1) Qual o seu contato com a gestão de projetos na SEF? Há quanto tempo você já tem contato com

tal matéria na SEF?

2) Qual sua percepção a respeito do funcionamento dos comitês na SEF/MG?

3) Você acredita que a sistemática de governança por comitês trouxe maior participação ao processo

do planejamento estratégico da SEF/MG?

4) Você considera que a formação do portfólio estratégico abarca projetos relevantes para a

organização? Ou seja, a priorização ocorre, de fato?

5) Após a seleção dos projetos estratégicos, como ocorre o processo de monitoramento? E o

processo de avaliação?

6) Você acredita que o processo de monitoramento atende às necessidades da organização? Ou seja,

o acompanhamento/monitoramento consegue sinalizar os gerentes e alta gerência para gargalos

identificados e necessidade de mudanças de rumos?

7) No monitoramento, os resultados são encaminhados ao Comitê de Governança ou a outros

comitês? Se identificados problemas no processo de monitoramento, como eles são tratados?

8) As equipes responsáveis pelos projetos recebem feedback com os resultados do monitoramento

dos projetos? Caso seja necessário realizar mudanças, as equipes têm condições de fazê-las?

9) Ao longo do monitoramento do projeto, as informações geradas são suficientes para avaliar se

este está de acordo com a estratégia estabelecida?

10) Em sua percepção, no processo de gestão dos projetos estratégicos como um todo, há algum gap

ou falha que precise ser ajustado?

Page 92: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

91

ANEXOS

ANEXO A – Identidade organizacional da SEF/MG

Negócio

Provimento e gestão dos recursos financeiros do Estado.

Visão de Futuro

Ser reconhecida como instituição de excelência no cumprimento da sua missão por:

Possuir fisco reconhecido como justo, eficaz e com ações transparentes;

Contar com um quadro de funcionários qualificados, motivados e comprometidos com

o seu trabalho;

Responder às mudanças agindo com flexibilidade diante da variação dos cenários

político, econômico e social;

Manter o equilíbrio estrutural das contas públicas;

Contribuir para a transformação de Minas Gerais no melhor estado para se viver,

trabalhar e investir.

Missão

Prover e gerir os recursos financeiros do estado, formulando e implementando políticas que

garantam a justiça fiscal, o equilíbrio das contas públicas e a consecução das ações de

governo, em benefício da sociedade mineira.

Objetivos Estratégicos da SEF

Manter o equilíbrio das contas públicas de Minas Gerais;

Aumentar a satisfação dos clientes, prestando serviços com qualidade e

tempestividade.

Valores

Efetividade: a SEF, a partir da melhor aplicação dos recursos humanos, materiais e

institucionais, buscará atingir resultados que contribuam para a prestação de serviços

públicos de qualidade.

Ética: a atuação da SEF e de cada um de seus servidores será pautada nos princípios da

lealdade, impessoalidade, moralidade, probidade administrativa e respeito para com a

instituição.

Justiça fiscal: a SEF promoverá justiça fiscal, obedecendo ao princípio da legalidade

tributária, aplicando tratamento igualitário entre os contribuintes e coibindo a

sonegação.

Qualidade: a SEF buscará a qualidade dos seus resultados, por meio de um trabalho

competente e participativo, objetivando a satisfação do cliente, em conformidade com

seus anseios e exigências, e a qualidade de vida de seus servidores.

Responsabilidade social: a atuação da SEF deverá se basear em ações que visem a

proteger e melhorar o bem-estar da sociedade.

Page 93: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

92

Transparência: a SEF tornará visíveis e acessíveis à sociedade, sem prejuízo do sigilo

fiscal, as ações institucionais, as decisões administrativas e os valores de receitas e

gastos públicos.

ANEXO B – Organograma resumido da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais

Page 94: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

93

ANEXO C – Base de cálculo da execução de projetos utilizada pela Seplag/MG

Page 95: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

94

ANEXO D – Mapa estratégico da SEF/MG

Page 96: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: ANÁLISE DO MODELO DE …

95

ANEXO E – Sistema de análise da estratégia (Sade) da SEF/MG referente ao ano de 2014