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O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL As crianças, o trabalho e a rua em Minas Gerais FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO GOVERNO DE MINAS GERAIS Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil

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O DESAFIO DO

TRABALHO INFANTILAs crianças, o trabalho e a rua em Minas Gerais

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIROG O V E R N O D E M I N A S G E R A I S

Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil

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CONTRACAPA

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O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL

As crianças, o trabalho e a rua em Minas Gerais

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIROG O V E R N O D E M I N A S G E R A I S

Belo Horizonte2008

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FICHA CATALOGÁFICA

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Estou aqui;

Sem saber. Aonde irei dormi?

Ainda estou aqui;

Fome, sede vivo a sentir.

E sem o que vestir.

Moro nas ruas do Brasil,

Nas calçadas, viadutos, sem ninguém.

.

Eu preciso

De amor estou carente

Estou com frio.

De sofrimento sou dependente.

( Viclécio L. Santos)

Adolescente - Agente Jovem de Januária

Agora vou catar latinhas e papelão,Mas há tantas pessoas

Sem amor compreensão.- Oh meu Deu!

O destino tu me deu,Não tenho família,

Pra que possa me ajudar crescer,Estudar, e trabalhar dignamente

INCOMPREENSÃO

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Governo do Estado de Minas Gerais

Governador

Secretário Adjunto de Desenvolvimento Social

Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e Adolescente

Superintendência de Planos e Projetos Específicos

Superintendência de Políticas para a Criança e o Adolescente

Diretoria de Promoção da Criança e do Adolescente

Diretoria de Proteção e Defesa da Criança e do Adolescente

Diretoria de Apoio aos Planos e Projetos Específicos

Assessoria Técnica

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social

Aécio Neves da Cunha

Juliano Fisicaro Borges

Fernanda Flaviana de Souza Martins

Eliana Benício Siqueira

Ivan Ferreira da Silva

Maria Helena Almeida

Adriane Morais Fam

Maria de Fátima Silva Prados

Murilo Tadeu Moreira da Silva

FICHA TÉCNICA

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Conselho Estadual

dos Direitos da

Criança e do

Adolescente -

Composição

Governamental

Conselheiros Titulares Governamentais

Assembléia Legislativa/MG

DOPCAD/DI/SGPC – Polícia Civil/ MG

Polícia Militar de Minas Gerais

Secretaria de Estado da Educação

SEDESE: Sub-Secretaria de Direitos Humanos

Secretaria de Estado da Fazenda

Secretaria de Estado da Saúde

SEPLAG: Secretaria de Estado de Planejamento eGestão

SUASE – Secretaria de Estado de Defesa Social

Deputada Gláucia Brandão

Dagoberto Alves Batista

Capitão Cleverson Natal de Oliveira

Rosimery Leite Mattos

Maria da Conceição Barros Rezende

Odilon Pereira de Andrade Neto

Fernanda Flaviana de Souza Martins

João Batista de Oliveira

Maria Cândida R. Jacques Gonçalves

Ronaldo Araújo Pedron

SEDESE: Secretaria de Estado de DesenvolvimentoSocial

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Conselho Estadual

dos Direitos da

Criança E Do

Adolescente -

Composição

Sociedade Civil

Conselheiros Titulares da Sociedade Civil

ABA - Associação Beneficente Ágape

Inspetoria São João Bosco

OAB/MG

Sindicado dos Psicólogos de MG

Hudson Roberto Lino

Raymundo Rabelo Mesquita

James Andris Pinheiro

Amaury Costa Inacio da Silva

Associação Profissionalizante do Menor - ASSPROM

Associação Regional dos Portadores de Deficiência -ARPODE

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - RegionalLeste II

Convenção Batista Mineira

Frente Sul Mineira dos Direitos da Criança e doAdolescente

Giz – Grupo de Instituições Solidárias

Regina Helena Cunha Mendes

Sônia Feres Slaib Ferreira

Maria da Consolação Faria

Rosilene Estevam Nazar

Leila José Veronez

Obedes Barbosa Soares

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Fundação

João Pinheiro

Fundação João Pinheiro

Centro de Estudos de Políticas Públicas Paulo Camilode Oliveira Pena

Centro de Estatísticas e Informação

Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho

EQUIPE RESPONSÁVEL PELO DIAGNÓSTICO

Coordenação Geral do Projeto

Diagnóstico do Trabalho Infantil Em Minas Gerais

Diagnóstico da Situação de Rua de Crianças eAdolescentes

Diagramação e Arte Gráfica

Ricardo Luís Santiago

Afonso Henriques Borges Ferreira

Laura Maria Irene de Michelis Mendonça

Afonso Henriques Borges Ferreira

Bruno Lazzarotti Diniz Costa

Nícia Raies Moreira de Souza (coordenação)

Bruno Lazzarotti Diniz Costa

Lucas Gevisiez (bolsista de mestrado)

Frederico Martins Poley (coordenação)

Bruno Lazzarotti Diniz Costa

Yuri Freitas Reis (bolsista de iniciação científica)

Kelly dos Santos Gusmão

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SUMÁRIO

Apresentação

O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e aErradicação do Trabalho Infantil...................................................................

...............................................................................................

............................................................................

2.1. Trabalho realizado por crianças e adolescentes em MinasGerais...........................................................................................................

2.2. Características das crianças e adolescentes e suasfamílias.........................................................................................................

2.2.1 Renda domiciliar.........................................................

2.2.2 Cor e incidência do trabalho infantil............................

2.2.3 Composição familiar...................................................

2.3 Perfil da inserção das crianças e adolescentes notrabalho.........................................................................................................

2.3.1 Setor de atividade........................................................

2.3.2 Ocupações perigosas...................................................

2.3.3 Jornada de trabalho......................................................

2.3.4 Trabalho não remunerado............................................

2.4 Rendimentos do trabalho............................................................

2.5 Considerações finais..................................................................

2.6 Referências Bibliográficas.........................................................

1. O DESAFIO DAPESQUISA: o percursometodológico

2 . Perfil e Incidência do TrabalhoInfantil em Minas Gerais

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3. Vida e trabalho nas ruas de Minas Gerais..............................................

3.1 Crianças e adolescentes encontrados..........................................

3.2 Perfil de crianças e adolescentes em situação derua.................................................................................................................

3.3 Situação familiar.........................................................................

3.4 Relação com a escola..................................................................

3.5 Trabalho.....................................................................................

3.6 Participação em programas.........................................................

3.7 Saúde e violência.......................................................................

3.8 Aspecto metropolitano................................................................

3.9 Conclusão...................................................................................

3.10. Referências Bibliográficas.......................................................

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por idade e sexo - Minas Gerais, 2006....................................................

Gráfico 2.2 - Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos quetrabalharam por faixa de rendimento per capita.............................................

Gráfico 2.3 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por cor e idade - Minas Gerais, 2006......................................................

Gráfico 2.4: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupadas por número de moradores na família – Minas Gerais – 2006...........

Gráfico 2.5: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos quetrabalharam, por tipo de família - Minas Gerais – 2006..................................

Gráfico 3.1: Proporção de crianças e adolescentes em situação de rua emrelação ao total de crianças e adolescentes por município pesquisado –Minas Gerais – 2007......................................................................................

Gráfico 3.2: Horário das entrevistas com as crianças e os adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................

Gráfico3. 3: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo local ondedormem - Minas Gerais – 2007......................................................................

Gráfico 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo local demoradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.....................

Gráfico 3.5: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 - Evolução da ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por faixa etária e situação censitária - Minas Gerais - 2004, 2006...........

Tabela 2.2: Sexo e cor de crianças e adolescentes por condição de atividade -Minas Gerais, 2006.......................................................................................

Tabela 2.3: Faixa de renda domiciliar per capita por condição de atividade ecor, Minas Gerais, 2006.................................................................................

Tabela 2.4: Taxa de ocupação de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos,segundo a situação censitária, por tipo de família – Minas Gerais – 2006.......

Tabela 2.5: Distribuição de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupados por setor de atividade econômica – Minas Gerais, 2004- 2006.......

Tabela 2.6 – Estimativa de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos ocupadasna atividade agrícola segundo sexo e por idade – Minas Gerais – 2006...........

Tabela 2.7: Estimativa de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos emocupações perigosas – Minas Gerais – 2006..................................................

Tabela 2.8: Estimativa de crianças e adolescentes de 10 a 15 anos ocupadosque freqüentavam escola jornada semanal de trabalho – Minas Gerais –2006..............................................................................................................

Tabela 2.9 – Estimativa de crianças e adolescentes entre cinco e 15 anossegundo faixa de renda domiciliar per capita, por condição econômica efreqüência à escola – Minas Gerais – 2006.....................................................

Tabela 2.10: Jornada semanal de trabalho de crianças e adolescentes entrecinco e 15 anos por setor de atividade econômica – Minas Gerais – 2006.......

Tabela 2.11: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupadas em trabalho não remunerado segundo faixa etária, por atributospessoais e de mercado - Minas Gerais - 2006.................................................

Tabela 2.12: Distribuição das crianças de cinco a 15 anos ocupadas emtrabalho não remunerado por setor de atividade econômica – Minas Gerais –2006..............................................................................................................

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Tabela 2.13: Distribuição percentual dos ocupados de cinco a 15 anossegundo faixa de renda domiciliar per capita por tipo de trabalho – MinasGerais, 2006...................................................................................................

Tabela 2.14: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a 15 anosocupados por faixa de renda- Minas Gerais – 2006.........................................

Tabela 2.15: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a15 anosocupados por faixa de contribuição para a renda domiciliar – Minas Gerais,2006...............................................................................................................

Tabela 3.1: Questionários aplicados às crianças e aos adolescentes emsituação de rua por município - Minas Gerais – 2007......................................

Tabela 3.2: Motivo das recusas de crianças e adolescentes em situação de ruaem responder ao questionário - Minas Gerais – 2007......................................

Tabela 3.3: Descrição dos entrevistados - Minas Gerais – 2007......................

Tabela 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua por sexo - MinasGerais – 2007.................................................................................................

Tabela 3. 5: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo o sexo pormunicípios pesquisado - Minas Gerais – 2007................................................

Tabela 3.6: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo faixa etáriaspor município pesquisado - Minas Gerais – 2007...........................................

Tabela 3. 7: Crianças e adolescentes em situação de rua que têm filhos -Minas Gerais – 2007.......................................................................................

Tabela3. 8: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local ondedormem - Minas Gerais – 2007.......................................................................

Tabela 3.9: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local demoradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007......................

Tabela 3.10: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo estadia eminstituições de atendimento - Minas Gerais – 2007.........................................

Tabela 3.11: Distribuição das crianças e adolescentes em situação de rua quepernoitaram em alguma instituição segundo tipo de instituição - Minas

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Gerais – 2007.................................................................................................

Tabela 3. 12: Crianças e adolescentes em situação de rua que declararammorar só com a mãe, só com o pai, só com os avós por município - MinasGerais – 2007.................................................................................................

Tabela 3.13: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo pessoascom quem moram, por município - Minas Gerais – 2007................................

Tabela 3.14: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo trabalhonas ruas das mães - Minas Gerais – 2007........................................................

Tabela 3.15: Distribuição das ocupações das mães de crianças eadolescentes em situação de rua que também trabalham nas ruas – MinasGerais – 2007.................................................................................................

Tabela 3.16: Mães das crianças e dos adolescentes em situação de rua quetambém trabalham na rua, por município - Minas Gerais – 2007....................

Tabela 3.17: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo horário detrabalho por freqüência à escola- Minas Gerais – 2007...................................

Tabela 3.18: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo idade, porfreqüência à escola – Minas Gerais - 2007......................................................

Tabela 3.19: Crianças e adolescentes em situação de rua, por município,segundo freqüência à escola – Minas Gerais - 2007........................................

Tabela 3.20: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................

Tabela 3. 21: Tipo de atividade desenvolvida para ganhar dinheiro,população infantil de rua, por cidade, Minas Gerais – 2007............................

Tabela 3. 22: Freqüência semanal ao trabalho de crianças e adolescentes emsituação de rua- Minas Gerais – 2007.............................................................

Tabela 3.23: Atividades desenvolvidas por crianças e adolescentes emsituação de rua -Minas Gerais – 2007.............................................................

Tabela 3.24: Horário de trabalho de crianças e adolescentes em situação derua - Minas Gerais – 2007..............................................................................

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Tabela 3.25: Horário de trabalho nas ruas, população infantil de rua,municípios pesquisados, Minas Gerais – 2007..............................................

Tabela 3.26: Prioridade dos gastos com o dinheiro que ganha nas ruas,população infantil de rua, Minas Gerais – 2007.............................................

Tabela 3. 27: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas famílias decrianças e adolescentes em situação de rua, Minas Gerais – 2007..................

Tabela3. 28: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas famílias decrianças e adolescentes em situação de rua, por município - Minas Gerais –2007..............................................................................................................

Tabela 3.29: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundorecebimento do Bolsa Família e freqüência à escola, por município- MinasGerais – 2007................................................................................................

Tabela 3.30: Crianças e adolescentes em situação de rua com algumproblema de saúde, Minas Gerais – 2007.......................................................

Tabela 3.31: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundoproblemas de saúde relatados - Minas Gerais – 2007.....................................

Tabela 3.32: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundovitimização na rua, por município- Minas Gerais – 2007...............................

Tabela 3.33: Crianças e adolescentes em situação de rua vitimizadas na rua,por tipo de acidentes e/ou violência sofridos n- Minas Gerais – 2007.............

Tabela 34: Crianças e adolescentes em situação de rua entrevistadas emBelo Horizonte com residência em outros municípios da regiãometropolitana - Minas Gerais – 2007.............................................................

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|19O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Apresente Pesquisa representa um

esforço do Governo de Minas Gerais e

uma resposta ao chamamento de sua

ação social para o enfrentamento da

situação de crianças e adolescentes nas

ruas e em trabalho infantil no Estado. Nesse sentido, a

Secretaria de Desenvolvimento Social, por meio da

Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e

Adolescente realizou um esforço coletivo para quantificar,

conhecer a realidade e as condições em que vivem esses

jovens cidadãos e suas famílias com seus direitos violados.

Para tanto, foi contratada a Fundação João Pinheiro,

com experiência incontestável na realização de pesquisas

dessa natureza, e a parceria de 21 (vinte e um) municípios de

grande e médio porte, que representam 46% da população

de Minas Gerais. Prefeitos, gestores municipais,

pesquisadores de campo e técnicos foram envolvidos e

capacitados para a realização desse diagnóstico sobre

crianças e adolescentes em situação de rua e em trabalho

APRESENTAÇÃOO desafio do trabalho infantil em Minas Gerais

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infantil.

APesquisa acerca dessas circunstâncias busca, sobretudo, qualificar

e orientar a política estadual relativa a essa problemática, através do

aprofundamento do conhecimento das condições de vida dessa população.

Pode-se então apontar as possibilidades de trabalhar a realidade apreendida

em cada município e formular um Plano Municipal para enfrentar o

problema, a partir do conhecimento da rede socioassistencial local: suas

deficiências, possibilidades e necessidades.Assim, com o co-financiamento

do Estado, as redes locais serão revitalizadas, construídas e potencializadas,

com vistas a restituir os direitos de crianças e adolescentes.

O resultado da Pesquisa e dos Planos municipais subsidiou a

elaboração do Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil. O

conhecimento propiciado por esta pesquisa, acerca da situação de milhares

de crianças e adolescentes que fazem das ruas e do seu trabalho espaço de

vida e luta pela sobrevivência nos leva a refletir ações urgentes na busca de

novas maneiras de entender e agir para que nos possibilite intervir de forma

mais conseqüente e efetiva nessa cruel realidade.

O Governo de Minas Gerais tem procurado de maneira tenaz

cumprir as responsabilidades assumidas diante da Sociedade para combater

esse dramático problema, mas precisa do concurso de todos para enfrentá-

lo. Diante de uma pesquisa dessa magnitude, que inquieta a todos, devemos

refletir sobre os aspectos políticos, econômicos, éticos, culturais e

ideológicos que roubam a preciosa infância de milhares de crianças, ao

arrepio de toda a legislação avançada que a Sociedade Brasileira construiu e

conquistou e que ao mesmo tempo transgride e desrespeita.

Ao retratarmos a infância e a adolescência com contornos que nos

envergonham devemos antes, sermos impulsionados a reunir nossos mais

20 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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vigorosos esforços e nossas riquezas e potencialidades para superarmos a

desigualdade e mudarmos o panorama desenhado por esta análise.

Ressalto que essa pesquisa só se viabilizou com a tenacidade e

determinação de Custódio Mattos, Secretário de Estado à época da

pesquisa, cuja gestão deixou impressa a marca da dimensão humana do seu

trabalho e a grande preocupação com os direitos ameaçados de crianças e

adolescentes.

Cumpre agradecer a todos que participaram desse esforço coletivo,

em especial ao Senhor GovernadorAécio Neves, que não poupou recursos e

se empenhou pessoalmente para levar adiante o presente projeto. Aos 21

Prefeitos e suas Equipes técnicas, aos companheiros da Sedese, à Fundação

João Pinheiro, aos Conselheiros de Direitos Estaduais e Municipais,

Tutelares, Ministério Público, Organizações da Sociedade Civil e o Fórum

Estadual de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente de

Minas Gerais (Fectipa/MG) pela dedicação e apoio imprescindível para o

sucesso da ação.

Na verdade, esta Pesquisa coloca um desafio para Governantes,

Empresários e para a Sociedade de restituir às crianças e adolescentes os

direitos que lhes foram confiscados pelo trabalho precoce e desprotegido e

pelas condições aviltantes da vida nas ruas.

Juliano Fisicaro BorgesSecretário Adjunto de Desenvolvimento Social

|21O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Toda construção social tem muitos atores,

e é sempre bom lembrar um pouco da

história da construção deste diagnóstico

aqui publicado. Ele é conseqüência do

investimento de órgãos, movimentos e,

sobretudo, do trabalho de pessoas que buscam que a

família, a sociedade e o Estado garantam os direitos das

crianças e dos adolescentes.

Em setembro de 2005, o Conselho Estadual dos

Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA/MG) foi

convidado pelo Fórum Estadual de Erradicação do

Trabalho Infantil e Proteção doAdolescente Trabalhador de

Minas Gerais (FECTIPA), por meio de sua coordenadora,

Elvira Cosendey, a participar de uma reunião do Fórum

Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho infantil (

FNPETI) em Brasília. Essa reunião, na qual estive presente

como representante do CEDCA/MG, que então era

presidido por James Pinheiro, teve como pauta a discussão

e orientação para que todos os estados da Federação

O Conselho Estadualdos Direitosda Criança

e do Adolescentee a Erradicação

do Trabalho Infantil

22 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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construíssem seu Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil e

Proteção do Adolescente Trabalhador. O Fundo das Nações Unidas Para a

Infância (UNICEF) realizou uma oficina na qual abordou a metodologia

para a construção do plano, em especial, os aspectos estratégicos e

operacionais.

Sabíamos o que e como fazer, porém não tínhamos recursos

orçamentários e financeiros para realizá-lo.

Então, em 2006, conseguimos inserir recursos orçamentários para a

realização desse diagnóstico no orçamento. Fizemo-lo por meio da

mobilização do CEDCA/MG e de diversos movimentos sociais.

Mencionamos, em especial, a Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do

Adolescente (FDDCA/MG), representada pelas coordenadoras Marilene

Cruz e Cristiane Nazaré e pela secretária executivaAlice da Silva; o Fectipa,

representado pela coordenadora Elvira Cosendey, entre outros, em

articulação com a Frente Parlamentar da Criança e do Adolescente da

Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, na época presidida pelo

DeputadoAndré Quintão e assessorada por Gláucia Barros.

O conselho então formou um grupo de trabalho integrado

inicialmente por representantes do movimento social, da Secretaria de

Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), da Frente Parlamentar da

Criança e do Adolescente, entre outros. Convidou universidades e a

Fundação João Pinheiro (FJP) para apresentarem a proposta da construção

do diagnóstico em Minas. Compareceram a UFMG, a PUC e a FJP,

escolhida para elaborar este diagnóstico a partir de dados da Pesquisa

Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), do Censo Populacional, dos

conselhos tutelares e das superintendências regionais de Trabalho e

Emprego (SRTE), entre outras fontes. O subsecretário de Direitos

|23O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Humanos, João Batista de Oliveira, e a então secretária, Maria Coeli Simões

Pires, ajudaram nesse momento na liberação da emenda parlamentar.

Durante o processo, assume a Secretaria de Estado de Desenvolvimento

Social o Deputado Custódio Mattos, que cria a Coordenadoria Especial de

Políticas Pró-Criança e Adolescente (CEPCAD), com Fernanda Martins na

coordenação. O próprio secretário propõe então a ampliação desse

diagnóstico utilizando a pesquisa de campo, incluindo crianças e

adolescentes em situação de rua de 21 municípios mineiros de médio e

grande porte, alocando recursos para tal. Houve o envolvimento dos

gestores e conselhos desses municípios e a elaboração do Plano Municipal

de Enfrentamento ao Trabalho Infantil de Crianças e Adolescentes. Na

verdade, essas crianças e esses adolescentes encontravam-se excluídos até

mesmo das pesquisas.

Sob responsabilidade do CEDCA/MG, o Plano Estadual de

Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente Trabalhador

teve no diagnóstico uma de suas importantes etapas.

Acitação de tantas pessoas, tantos órgãos e movimentos sociais visa

a que se reconheça o compromisso e trabalho de tais parceiros. Sem a clareza

e articulação do conselho, a participação e tenacidade dos movimentos

sociais, o empenho do Legislativo e a vontade política do Executivo, não

teríamos construído este plano.

Esta é uma construção coletiva e precisa ser entendida como tal. Pela

necessidade e prioridade, foi até muito lenta. Somente a participação,

articulação, integração e o compromisso de todos podem mudar a história de

nossas crianças e nossos adolescentes – nossa história. Ela precisa ser

reinventada urgentemente.

Neste momento, mais de 300 mil crianças, só em Minas Gerais,

24 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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estão trabalhando. Para a maioria delas, a representação desse “trabalho”

ainda nos remete simbolicamente à origem da palavra trabalho, do latim,

“tripaliare”, que significa torturar com o “tripallium” (instrumento romano

de três pontas). Muitas delas ainda se encontram em situação perigosa,

penosa ou insalubre, submetidas à violência física e psicológica.

O trabalho pode e deve ser sinônimo de prazer e realização. Para

essas crianças, todavia, é uma verdadeira tortura, pois as impede de serem

crianças, não permite que desfrutem de uma infância com brincadeiras e

estudo. Furta delas o presente e o futuro. Nossa sociedade não tem o direito

de fazê-lo. Ao contrário, tem o dever de protegê-las. Todos nós temos essa

responsabilidade.

Vamos todos ao trabalho, façamos agora a nossa parte na construção

de uma realidade mais justa, mais fraterna e mais feliz. Com certeza,

ninguém o fará por nós.

Regina Helena Cunha Mendes.

presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do

Adolescente de Minas Gerais

|25O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Otrabalho infantil e a situação de

crianças e adolescentes nas ruas

deixaram de ser apenas mais um item

na agenda do Governo de Minas Gerais

e da Sedese para ser enfrentado na

realidade. Para subsidiar a formulação das políticas para

esse segmento, foi necessário compreender a realidade da

criança e do adolescente em Minas. Nesse sentido, a

Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e

Adolescente, em parceria com o Conselho Estadual dos

Direitos da Criança e do Adolescente, decidiu pela

realização de estudos prévios que orientassem a formulação

e implementação de tais políticas. A Pesquisa sobre

Trabalho Infantil e Crianças e Adolescentes em Situação de

Rua, encomendada à Fundação João Pinheiro, foi, portanto,

o ponto de partida para uma intervenção sustentada na

análise da realidade do estado e dos municípios.

O DESAFIO DAPESQUISA:o percurso

metodológico

1

26 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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A presença de crianças e adolescentes na paisagem urbana das

cidades brasileiras parece haver se incorporado sob as mais diferentes

formas de trabalho infantil. Em qualquer uma delas, revela-se aviltante a

sistemática violação dos direitos desses cidadãos, em um país com

legislação avançada e que vem conhecendo crescente prosperidade

econômica. A inaceitável presença desses meninos e meninas nas ruas

ganhou maior visibilidade a partir dos anos 1970. Desde então, inúmeras

iniciativas vêm se sucedendo, e o avanço na reflexão sobre essas

experiências poderá nos ajudar a intervir de maneira mais assertiva e com

maior impacto para resgatar o futuro dessas crianças e desses adolescentes.

Analisando o crescimento das estatísticas sobre trabalho infantil e a

demanda pelo acolhimento de crianças e adolescentes com trajetória de vida

nas ruas, a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE), em parceria

com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CEDCA), decidiram pela realização da pesquisa. A Fundação João

Pinheiro foi convidada a realizá-la, por sua notória experiência nessa área.

Após várias reuniões, decidiu-se pela necessidade de realizar duas

pesquisas simultaneamente.

Sobre o trabalho infantil, a pesquisa diagnóstica foi realizada a partir

dos dados secundários obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostragem de

Domicílios (PNAD). Tal diagnóstico incluiu análises específicas das faixas

etárias por região e atividade, sobre as condições de vida e de trabalho,

freqüência à escola e relações familiares.

Outra pesquisa voltou-se especificamente para a situação de rua de

crianças e adolescentes, a partir dos dados primários, coletados diretamente

dos indivíduos abordados pelos pesquisadores. Nesse aspecto, levou-se em

conta os ensinamentos de Rizinni (2000). Eles resumem a intenção do

trabalho nesta fase: “A situação de rua se apresenta de forma complexa e

|27O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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heterogênea, sugerindo perfis distintos de crianças e adolescentes nas ruas:

trabalhadores, pedintes, moradores, com menor ou maior grau de contato

com suas famílias e comunidades, ou até mesmo com tais vínculos

rompidos, bem como crianças e adolescentes que se movimentam entre suas

casas, as ruas e as instituições, em busca de proteção e de um lugar onde se

sintam pertencentes, sendo diversos os fatores de ordem política mais ampla

que determinam os processos excludentes que afetam as vidas de cada uma

dessas crianças e suas famílias”. A partir dessa perspectiva, o objetivo da

pesquisa foi quantificar e caracterizar o perfil das crianças, dos adolescentes

e de suas famílias nas mais diferentes situações

Foi constituído o grupo de trabalho, composto por representantes do

Ministério Público do Trabalho, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

– Programa Miquilim, Cedca, Comissão de Políticas Públicas e Fectipa, da

Fundação João Pinheiro e da Sedese. Esse grupo foi fundamental para a

validação dos procedimentos de coleta dados e a elaboração dos

instrumentos da pesquisa. Foi fundamental a participação das equipes dos

municípios em todas as fases dos trabalhos: desde a coleta dos dados até a

proposição de ações para enfrentar a situação pesquisada.

Um dos critérios utilizados pelo grupo interinstitucional para escolha

dos municípios integrantes da pesquisa foi o número de habitantes.Aescolha

justificou-se. A presença de crianças e adolescentes é, sobretudo, um

problema dos grandes centros urbanos. Com isso, 17 municípios foram

escolhidos por serem de médio e grande porte. Os outros quatro, por

indicação do Cedca, do Ministério Público do Trabalho e do Fectipa, por

apresentarem crianças em situação de rua em número impressionante e com

grande visibilidade.

Os municípios pesquisados foram: Almenara, Belo Horizonte,

Betim, Contagem, Divinópolis, Governador Valadares, Ibirité, Ipatinga,

28 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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Janaúba, Januária, Juiz de Fora, Montes Claros, Muriaé, Ouro Preto, Poços

de Caldas, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, Teófilo Otoni, Uberaba

e Uberlândia. Após a escolha, os prefeitos, por meio da Secretaria de Estado

de Desenvolvimento Social, foram convidados a participar da pesquisa.

A preparação do pessoal técnico e dos gerentes das secretarias

municipais deAssistência Social foi realizada no período de 23 a 25 de julho

de 2007, com a capacitação da equipe na condição de multiplicadores,

responsáveis pela preparação dos pesquisadores de campo em seus

municípios. A colaboração dos municípios e, principalmente, a dedicação,

competência e o compromisso de seus técnicos, foram fundamentais para a

obtenção de informações confiáveis. O conhecimento da cidade, dos

parceiros locais, da distribuição das crianças e o acesso e a legitimidade

frente às meninas e aos meninos permitiram que os dados fossem completos

e de boa qualidade. Aos municípios e aos seus técnicos, nosso

agradecimento e reconhecimento.

A pesquisa foi realizada nos 21 municípios simultaneamente, no

período de 20 a 26 de agosto de 2007, nos turnos da manhã, tarde e noite.

Contou com a participação de 450 pesquisadores e a participação efetiva dos

técnicos e representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social,

responsável local pela pesquisa, conselhos tutelares, conselhos municipais

dos Direitos da Criança e do Adolescente, entidades da sociedade civil,

universidades e a Polícia Militar. Terminada a pesquisa, os municípios

enviaram seus questionários e relatórios circunstanciados

, que trabalhou os dados e divulgou os resultados preliminares

.De posse dos dados e orientados pelos técnicos da Fundação João

Pinheiro e da Sedese, os municípios elaboraram seus planos municipais.As

propostas operacionais deste plano foram organizadas em cinco

componentes estratégicos articulados entre si. Tais componentes foram

à Fundação João

Pinheiro em

novembro de 2007

|29O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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baseados nos mesmos eixos definidos no Plano Nacional de Promoção,

Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes: 1) rede de

atendimento, 2) articulação e participação, 3) mobilização social, 4)

políticas para a família e as relações de gênero, e 5) integração com outros

municípios.

Finalizados os planos, foram encaminhados à Coordenadoria

Especial de Política Pró-Criança e Adolescente, onde foram analisados. Em

seguida, os secretários de Assistência Social dos Municípios foram

comunicados sobre o apoio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento

Social ao plano e a disposição da Sedese de co-financiar as ações destinadas

a enfrentar as situações apontadas. Em 20 de maio de 2008, com a presença

do secretário de Estado de Desenvolvimento Social, de prefeitos,

autoridades municipais e técnicos, foram celebrados convênios de

Cooperação Técnica e Financeira.

Está prevista a capacitação continuada e a realização de campanhas

municipais e estadual para sensibilização da opinião pública. O objetivo é

interromper os efeitos causados pelo ciclo perverso perpetuado pela prática

de dar esmola e adquirir mercadorias de crianças e adolescentes. Serão

ressaltadas as conseqüências deletérias que tais atitudes fomentam e o fato

de que perenizam a presença das crianças nas ruas, quase sempre

exploradas, em situações de perigo iminente, abusadas, negligenciadas e

fora da escola.

O grande objetivo dessa mobilização e do esforço conjunto é

minimizar a existência de crianças e adolescentes em situação de rua em

Minas Gerais, por meio do fortalecimento e desenvolvimento da rede

socioassistêncial voltada à intervenção e ao acompanhamento desse

segmento, buscando garantir o direito a convivência familiar e comunitária,

fortalecendo esses núcleos na perspectiva da inclusão e da promoção social.

30 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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Nos próximos capítulos, com base na análise dos pesquisadores,

percebe-se a necessidade de intervir nas situações de risco a que são

expostas as crianças e os adolescentes em situação de rua e em trabalho

infantil. Percebe-se sobretudo a necessidade de promover as famílias como

espaço fundamental para a socialização e proteção de crianças e

adolescentes.

Como nos ensina Rizzini (2000), "a compreensão da dinâmica das

relações desenvolvidas no interior das famílias dos meninos e meninas que

se encontram em situação de rua é fundamental para se formular políticas

que criem ou fortaleçam estratégias de apoio familiar e comunitário no

cuidado das crianças". Por trás das crianças de rua e na rua, existem as

famílias que também se encontram abandonadas, desprotegidas e de muitas

formas agredidas, excluídas do acesso a bens e serviços.

Nessa perspectiva, impõe-se-nos um trabalho que vá convergir para

as crianças e os adolescentes e suas famílias, ao resgatar-lhes seu

protagonismo, seus direitos de sujeitos sociais capazes de proteger seus

filhos como previsto no Estatuto da Criança e doAdolescente.

Se não trabalharmos com as famílias, dando-lhes chances reais de fazer

retornar para elas as crianças que estão nas ruas vivendo, trabalhando e

sobrevivendo com dificuldade, estaremos roubando-lhes as chances de

futuro.As constatações e as lições aqui analisadas confirmam a necessidade

de políticas públicas cujos focos sejam a criança, o adolescente e, sobretudo,

um olhar especial para a família e a comunidade.

Fernanda Flaviana de Souza Martins

Coordenadora Especial de Politicas Pró-Crianças e AdolescentesSedese- MG

|31O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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2. Perfil e Incidência doTrabalho Infantil em Minas Gerais

Aredução do trabalho infantil tem sido

alvo de diversas políticas nacionais e

internacionais. A crescente ênfase na

redução da pobreza e na acumulação

de capital humano como requisitos

para se alcançar desenvolvimento indica que o trabalho

infantil é um entrave ao progresso socioeconômico

(KASSOUF, 2006).

A legislação brasileira¹ é bastante avançada quando

se trata de proibir a exploração do trabalho de crianças e

adolescentes. A incidência de trabalho infantil em alguns

segmentos populacionais, no entanto, merecem estudos

mais aprofundados para compreender tanto suas

características quanto suas causas.

A inserção precoce no mercado de trabalho sofre

influência de diversos fatores de ordem econômica, social,

demográfica e cultural. Estudos demonstram que o fato de o

indivíduo começar a trabalhar cedo reduz seu rendimento e

¹No Brasil, com a aprovação da Emenda Constitucional nº20 em dezembro de 1998, a idade mínima para a entrada nomercado de trabalho é 16 anos, salvo na condição de aprendiz, entre 14 e 16 anos. Somente a partir de 18 anos há permissãolegal para trabalhos que possam causar danos à saúde e, especificamente, trabalhos de produção ou manipulação de materialpornográfico, divertimento e comércio nas ruas. Há proibição ainda, de trabalhos em minas, estivagem, ou qualquer trabalhosubterrâneo para aqueles abaixo de 21 anos.

32 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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estado de saúde na fase adulta. Também aumenta a probabilidade de

inserções precárias no mercado de trabalho. A trajetória futura no mercado

de trabalho depende, em grande medida, das primeiras experiências. O

ingresso precário e antecipado pode determinar desfavoravelmente o

desempenho profissional futuro (KASSOUF, 2006; POCHMANN, 2000).

Assim, o que está em jogo é a integração das novas gerações na sociedade

(SANCHIS, 1997).

Uma das maiores preocupações com relação ao trabalho infantil se

refere a seus efeitos adversos e perversos na escolaridade. Quando não

resulta no abandono total da escola, a concorrência entre escola e trabalho

compromete a qualidade da escolarização. Há indícios, todavia, de que o

trabalho não é o único fator que impede as crianças de estudarem.

Este trabalho visa a explorar algumas dessas questões para Minas

Gerais comresultados da Pesquisa Nacional por Amostragem de

Domicílios de 2006, desenvolvida anualmente pelo IBGE.

|33O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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2.1. TRABALHO REALIZADOPOR CRIANÇAS E ADOLESCENTESEM MINAS GERAIS

Aocupação das crianças e adolescentes

em 2006 apresentou elevação de 5,6%

em relação ao ano anterior. Assim,

estimou-se a existência de 375.839 mil

trabalhadores entre cinco e 15 anos no

mercado de trabalho em Minas Gerais. Este aumento

deveu-se basicamente à expansão do trabalho em áreas

urbanas (17,9%), na medida em que houve retração do

emprego infantil em regiões rurais (-14,1%) conforme

mostra tabela 2.1.

Ataxa de ocupação² é maior para aqueles com mais

de nove anos de idade e, proporcionalmente, mais

expressiva em áreas rurais: 7,6% dos entre cinco e 15 anos

em áreas urbanas tinham uma ocupação, em 2006, contra

20,7% em áreas rurais. Como a população urbana é maior

que a rural, a estimativa do número de trabalhadores

infantis é maior na primeira, principalmente para aqueles

com idade entre dez e 15 anos. Estima-se que havia 241.745

² Neste trabalho, a taxa de ocupação é definida como a proporção (como porcentagem) de crianças e adolescentes quetrabalharam no ano de referência, em relação ao total de crianças e adolescentes.

34 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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crianças trabalhando em áreas urbanas e 134.094, em áreas rurais em 2006.

Vale notar que a estimativa do número de ocupados com menos de dez anos

é praticamente a mesma em áreas urbanas e rurais: em torno de 11 mil

crianças.

Há outro padrão bastante claro de inserção de crianças e

adolescentes no mercado de trabalho. Em áreas rurais, é maior a pressão

para entrada no mercado de trabalho, que acontece mais cedo: quase um

terço das crianças de dez a 15 anos em áreas rurais estavam ocupadas em

2006.Ataxa de ocupação para elas em áreas urbanas foi de 12,8% no mesmo

período.

Tabela 2.1 - Evolução da ocupação das crianças e adolescentes de

cinco a 15 anos por faixa etária e situação censitária - Minas Gerais - 2004,

2006

O gráfico 2.1 mostra crescente aumento da taxa de ocupação das

crianças de acordo com a idade e, ao mesmo tempo, uma clara distinção

entre os sexos. Mais de um terço dos meninos de 15 anos trabalhavam em

2006, contra 23,9% das meninas.

Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP) - *estimativa

OCUPADOS* TAXA DE OCUPAÇÃO

ESPECIFICAÇÃO 2004 2005 2006 2006/2005 (%) 2004 2005 2006

TOTAL 291.662 359.545 375.839 5,6 7,5 9,6 9,8

SITUAÇÃO CENSITÁRIA

Urbano 179.311 209.651 241.745 17,9 5,6 6,7 7,6

5 a 9 anos 10.701 11.427 11.512 0,8 0,7 0,8 0,8

10 a 15 anos 168.610 198.224 130.233 -40,3 9,5 11,4 12,8

Rural 112.351 149.894 134.094 -14,1 17,1 23,2 20,7

5 a 9 anos 10.623 16.293 11.624 -44,0 3,7 5,9 4,2

10 a 15 anos 101.728 133.601 122.470 -10,9 27,8 36,4 32,8

|35O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Para complementar essa análise de idade e sexo, vale notar que já nessa

faixa etária há certa preponderância do trabalho produtivo para os meninos,

enquanto as meninas assumem um papel maior nas tarefas reprodutivas.

Entretanto, “apesar de o reprodutivo não ser considerado 'trabalho', é a base

da organização da família como unidade de produção. Sem eele, o trabalho

produtivo não poderia se realizar”. Ao mesmo tempo, cumprir obrigações

no lar pode implicar utilização do tempo da criança. Há a concorrência com

as atividades escolares, as lúdicas ou o ócio, necessários ao

desenvolvimento infantil.

Segundo a PNAD, em 2006, 46% das crianças de cinco a 15 anos se

dedicaram aos afazeres domésticos.Adistribuição entre os sexos indica que

as meninas são as que mais se dedicam a eles (63%). Da mesma forma, a

intensidade é maior para elas, principalmente a partir de dez anos de idade.

Entre cinco e nove anos, tanto meninos quanto meninas se dedicaram

quatro horas semanais, em média, aos afazeres domésticos.Apartir dos dez

anos, os meninos dedicaramsete horas, em média, as meninas, 12 horas

semanais.

Gráfico 2.1 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco

a 15 anos por idade e sexo - Minas Gerais, 2006

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

%d

eo

cup

ado

s

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

idade

masculino feminino

36 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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2.2. CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS EADOLESCENTES E SUAS FAMÍLIAS

Afim de analisar a inserção precoce no

mercado de trabalho, pretende-se

identificar as características pessoais e

d a s f a m í l i a s d e c r i a n ç a s e

adolescentes. Foram selecionadas as

variáveis que a literatura mostra serem as mais importantes

na determinação do trabalho infanto-juvenil:renda

domiciliar, composição familiar, cor e faixa etária.

2.2.1 RENDADOMICILIAR

Há uma percepção generalizada de que o principal

determinante do trabalho infantil é econômico. No caso de

Minas Gerais, nota-se, de fato, forte vinculação entre

rendimento familiar e incidência de trabalho infantil

(Gráfico 2.2).

Como se vê, a taxa de ocupação de crianças de cinco

a 15 anos em famílias de até ¼ de salário mínimo de renda

per capita situa-se em 14% e reduz-se progressivamente à

medida que a renda familiar aumenta, até chegar a cerca de

|37O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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5% nas famílias com renda familiar per capita acima de três salários

mínimos. Ou seja, nos estratos de renda mais altos, a taxa de ocupação é

cerca de um terço da observada nos estratos mais baixos de renda.

Gráfico 2.2 - Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15

anos que trabalharam por faixa de rendimento per capita

Entretanto, esta análise deve ser relativizada. Apesar de se

concentrar nas famílias com renda mais baixa, o trabalho infantil tem

grande presença em todos os estratos de renda, inclusive nos mais altos. Isso

indica que, se a renda é uma influência importante, não é a única. Há outros

fatores de ordem estrutural, como sexo da criança, idade (a pressão para

trabalhar aumenta com a idade) e a cor, conforme se verá adiante.

Há indicações também da influência de fatores de ordem cultural e

não diretamente econômica no fenômeno do trabalho infantil em Minas

Gerais. Como se demonstrará, grande proporção das crianças que

trabalharam não foram pagas(o que indica trabalho com a família, produção

para o próprio consumo ou construção para o próprio uso). Além disso, no

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

14,1%

10,1%9,7%

8,6%

4,7% 5,2%

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Até ¼saláriomínimo

Mais de ¼até ½salário

Mais de ½até 1 salário

Mais de 1até 3

salários

Mais de 3até 5

salários

Mais de 5salários

38 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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caso de crianças e adolescentes remunerados, os rendimentos são, na

maioria, muito baixos.

Em certos casos, eles contribuem com uma proporção alta da renda

familiar. Em outros, sua participação na renda familiar é bem pequena. À

medida que os dados forem apresentados, tornar-se-á mais claro que os

fatores econômicos parecem ter peso muito importante no trabalho infantil,

mas não são o único tipo de determinante.

2.2.2 COR E INCIDÊNCIADO TRABALHO INFANTIL

Como em outras áreas da vida social brasileira, o trabalho infantil

não é indiferente à cor das crianças. A taxa de ocupação de negras é bem

maior do que a de crianças e adolescentes brancos (gráfico 2.3 e a tabela

2.2).

Como se pode perceber, a taxa de ocupação entre crianças brancas é

de 8,4%. Já no caso das negras, ela chega a 16%. Entre crianças pardas, de

10%.

Tabela 2.2: Sexo e cor de crianças e adolescentes por condição de

atividade - Minas Gerais, 2006

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

CONDIÇÃO DE ATIVIDADE

ESPECIFICAÇÃO TRABALHOU NÃO TRABALHOU TOTAL

SEXO

Masculino 12,3 87,7 100,0

Feminino 7,2 92,8 100,0

COR

Branca 8,4 91,6 100,0

Preta 16,0 84,0 100,0

Parda 10,0 90,0 100,0

|39O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Amesma tendência pode ser observada no gráfico 2.3: à medida que a idade

de crianças e adolescentes aumenta, aumenta também a pressão para o

ingresso no mercado de trabalho, principalmente na adolescência.Aidade é

um fator determinante do ingresso no mercado de trabalho.

Gráfico 2. 3 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco

a 15 anos por cor e idade - Minas Gerais, 2006

O gráfico também mostra que essa pressão se exerce mais sobre as

crianças negras do que sobre as brancas. Para as primeira, já aos 12 anos

nota-se uma aceleração do crescimento da taxa de ocupação à medida que a

idade aumenta. Já no caso das brancas, essa intensificação ocorre somente

aos 14 anos.

Esse tipo de análise, entretanto, dever ser feito com cautela. Como

as famílias com menor renda são as mais vulneráveis ao trabalho infantil e

como existem proporcionalmente mais negros entre as famílias pobres,

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

Distribuição percentual das criançasocupadas por cor

Branca

Preta

Parda

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

40 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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pode haver uma sobreposição entre as variáveis. A tabela 2.3 avalia essa

possibilidade.

Tabela 2.3: Faixa de renda domiciliar per capita por condição de

atividade e cor, Minas Gerais, 2006

O que pode ser verificado é que, por um lado, nas faixas de renda

familiar mais baixas, tanto brancos como negros³ têm uma taxa de ocupação

mais alta. A renda é um fator que influencia ambos os grupos. Em

praticamente todas as faixas de renda, no entanto, a taxa de ocupação de

negros é maior do que a de brancos. Isso reforça a hipótese de que, de fato, as

crianças negras são mais vulneráveis ao trabalho infantil do que as brancas

independente da renda.

2.2.3 COMPOSIÇÃO FAMILIAR

Finalmente, foi avaliada a taxa de ocupação de crianças e adolescentes,

levando-se em conta duas características das famílias: tamanho e

composição. Quanto ao tamanho, encontra-se a situação esperada (ainda

(...) Amostra não comporta desagregação a esse nívelFonte: IBGE, PNAD 2006 Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

³Para que a amostra comporte esta desagregação, consideramos, nesta tabela, pretos e pardos como negros.

Brancos Preto/pardoFaixa de renda domiciliar

per capita (salários

minínos) % ocupados estimativa % ocupados estimativa

sem rendimento - - 18,3 9.882

ate 1/4 10,9 10.669 14,5 52.795

mais de 1/4 ate 1/2 10,5 34.570 9,4 63.884

mais de 1/2 a 1 8,9 47.587 10,0 69.915

mais de 1 a 2 8,3 29.347 11,6 33.078

mais de 2 9,2 188.438 4,3 4.464

|41O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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que indesejável): quanto mais moradores, maior a taxa de ocupação de

crianças e adolescentes. Enquanto nos domicílios com até três moradores a

taxa de ocupação é de 7,2%, naqueles com mais de oito moradores, quase

18% das crianças trabalharam em 2006 (gráfico 2.4).

Gráfico 2.4? Proporção de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos ocupadas

por números moradores no domicílio.

Já quando se considera a composição da família, o resultado se

afasta da percepção do senso comum sobre o problema.Ao contrário do que

comumente se acredita, a taxa mais alta de ocupação de crianças e

adolescentes não está nas famílias ditas monoparentais (gráfico 2.5).

De fato, nota-se que é nas famílias compostas por casal e filhos

maiores que ela é mais alta (21%). Ao contrário, nas compostas por mãe e

filhos maiores, tal taxa situa-se em torno de 14%. Em parte, esse resultado

contra-intuitivo talvez possa ser atribuído à maior taxa de ocupação na zona

rural, onde as famílias chamadas nucleares são mais freqüentes do que na

zona urbana. Como demonstra a tabela 2.4, entretanto, esse não parece ser o

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

7,2%8,7%

12,7%

17,8%

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

2 a 3 4 a 5 6 a 8 mais de 8

42 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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caso. Não se percebe um padrão suficientemente claro indicando que a taxa

de ocupação de crianças no que se costuma chamar “famílias

monoparentais femininas” é sistematicamente maior do que em outros

arranjos familiares, seja na zona urbana, seja na zona rural.

Gráfico 2.5: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos que

trabalharam, por tipo de família - Minas Gerais - 2006

Tabela 2.4: Taxa de ocupação de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos,

segundo a situação censitária, por tipo de família – Minas Gerais - 2006

3,9851485154,408765846

9,95108288311,43945028

13,8423200414,61377202

15,01890358

20,7

0

5

10

15

20

25

Mãe filhosmenores

Casal comfilhos

menores

Casal semfilhos

Mãe comfilhos de

todasidades

Mãe comfilhos

maiores

Outrostipos defamília

Casal comfilhos de

todasidades

Casal comfilhos

maiores

Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

TAXA DE OCUPAÇÃOTIPO DE FAMÍLIA

URBANO RURAL

Casal sem filhos 9,4 12,5

Casal com todos os filhos menores de 14 anos 3,2 10,6

Casal com todos os filhos de 14 anos ou mais 17,1 37,0

Casal com filhos menores de 14 anos e de 14 anos ou mais 11,1 27,8

Mãe com todos os filhos menores de 14 anos 3,4 11,8

Mãe com todos os filhos de 14 anos ou mais 13,9 13,0

Mãe com filhos menores de 14 anos e de 14 anos ou mais 10,3 24,6

Outros tipos de família 11,3 31,4

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

|43O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Por outro lado, há que se destacar uma regularidade presente em todas as

análises feitas até aqui. Trata-se da idade. Mesmo quando consideradas as

outras variáveis — renda familiar, sexo, cor e composição da família — a

idade tem aparentemente um peso decisivo sobre a taxa de ocupação.A

pressão para o ingresso no mercado de trabalho se exerce com intensidade

crescente sobre os adolescentes, a partir dos 12 anos de idade

aproximadamente.

Há diversas maneiras de considerar esse fator, ainda que de maneira

bastante especulativa. Pode-se pensar que, a despeito da proibição legal, a

partir da adolescência, as expectativas em determinados grupos quanto à

situação ocupacional dos adolescentes começa a se inverter. Se antes se

esperava que crianças e adolescentes se dedicassem exclusivamente aos

estudos (e aos afazeres domésticos, como se viu), a partir da adolescência,

cada vez mais se espera que trabalhem, seja para contribuir com a renda

familiar, seja como parte de sua educação. De outro modo, se nas idades

menores, a tolerância ao trabalho infantil é pequena, na adolescência tende-

se a considerá-lo tolerável, ainda que indesejável. Isso pode enfraquecer o

que se chama “controles primários” (a repreensão dos parentes, os

comentários da vizinhança, a advertência na reunião da escola etc).Eles

evitam que se torne necessário recorrer aos controles institucionais. Desse

ponto de vista, a interdição legal seria necessária,mas insuficiente para

coibir o trabalho precoce. Seriam necessárias intervenções que alterassem

essas expectativas e/ou reduzissem tal tolerância, principalmente em

relação aos adolescentes.

Uma maneira um pouco distinta de pensar o assunto é em termos

econômicos. Manter um membro da família estudando sem trabalhar é um

investimento. Tem um custo de oportunidade para essa família. Ela abre

44 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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mão de recursos que poderiam ser acrescentados ao orçamento familiar.

Investe na educação como se fizesse um cálculo do acréscimo futuro de

rendimentos e oportunidades que a educação poderia proporcionar às

crianças e aos adolescentes, menos seu custo, os riscos e a incerteza. A

partir de determinada idade e escolaridade, tanto os ganhos adicionais de

renda que o adolescente poderia ter com o aumento da escolaridade quanto

as expectativas quanto a suas oportunidades educacionais futuras passam a

não compensar a renda imediata a mais que seu ingresso no mercado de

trabalho proporciona. – ou essa, ao menos, é a percepção, e a pressão para

o trabalho aumenta .

Nessa linha de raciocínio é que se assentam programas como o

Poupança Jovem, de Minas Gerais. Eles procuram aumentar a atratividade

da permanência na escola. O problema com tal tipo de abordagem é que ela

freqüentemente supõe que as famílias fazem escolhas sobre o que é mais

vantajoso, manter a criança estudando ou trabalhando. O que pode ser

equivocado é supor que essas escolhas estejam ao alcance das famílias. Ou

seja, é equivocado supor que elas têm como sustentar seus filhos fora do

mercado de trabalho, estudando, e tratam de avaliar o que é mais vantajoso.

Nem sempre é o caso. Muitas vezes, conforme se mostrou aqui, não

basta incentivar a permanência na escola. Isso é muito importante. Mais

importante, porém, é proporcionar condições para isso.

O que as análises até aqui demonstram, portanto, é que a renda

familiar parece ser um forte determinante do trabalho infantil. No entanto,

outros fatores também condicionam a vulnerabilidade a esse tipo de

violação de direitos: sexo, idade e cor, além de características da família,

como seu tamanho. Desses, a idade parece ter um efeito extensivo, que se

sobrepõe aos outros fatores.

4

4 Este é mais um dos motivos pelos quais a cultura da repetência é prejudicial particularmente para os grupos maisvulneráveis: cada ano repetido aumenta muito o custo de oportunidade de educação para os mais pobres e reduz asexpectativas sobre as oportunidades e o alcance educacional das crianças, contribuindo duplamente para o ingresso nomercado de trabalho e abandono da escola.

|45O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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2.3 PERFIL DA INSERÇÃO DASCRIANÇAS E ADOLESCENTESNO TRABALHO

Nota-se que a inserção de crianças e

adolescentes ocorre num locus

determinado: grande incidência de

trabalho em área rural, importância

extrema do setor agrícola, grande

porcentagem de trabalho não remunerado, principalmente

para os mais novos.

Assim, esta seção do trabalho visa a identificar os

padrões da inserção das crianças no mercado de trabalho e

chama a atenção também para as piores formas de trabalho

infantil. A Convenção nº 182 da Organização Internacional

do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, é uma das

principais convenções internacionais que enfatiza a

eliminação das piores formas de trabalho infantil. O núcleo

básico do conceito piores formas de trabalho infantil tem

quatro categorias: (a) todas as formas de escravidão,

servidão, trabalho forçado ou compulsório; (b) utilização,

recrutamento e oferta de crianças para fins de prostituição,

46 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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produção ou atuações pornográficas; (c) utilização, recrutamento e oferta

de criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico

de entorpecentes e (d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas

circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a

saúde, a segurança e a moral da criança.

2.3.1 SETOR DEATIVIDADE

A maioria das crianças trabalha no setor agrícola, padrão

encontrado em vários países onde há crianças no mercado de trabalho. Em

2006, 41,8% delas trabalharam nesse setor em Minas Gerais. Ele foi

seguido pelo comércio e reparação, que ocupou 20,9% das crianças. Os

serviços domésticos ocuparam, cada um, 10% das crianças que trabalharam

(tabela 2.5).

Tabela 2.5: Distribuição de crianças e adolescentes de cinco a 15

anos ocupados por setor de atividade econômica – Minas Gerais, 2004-

2006

Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

|47O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

ANO (%)_SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA

2004 2005 2006

Agrícola 41,7 45,6 41,8

Indústria de transformação 10,6 9,2 8,4

Construção 3,6 2,8 5,6

Comércio e reparação 18,8 17,2 20,9

Serviços 9,7 10,9 10,0

Serviços domésticos 12,9 12,0 10,0

Outros 2,7 2,2 3,3

Total 100,0 100,0 100,0

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Por sexo, constata-se o mesmo padrão de ocupação para meninos e

meninas.Aexceção são os serviços domésticos. Neles se encontram 21,5%

das meninas ocupadas e apenas 1,7% dos meninos. Nos demais ramos de

atividade, a distribuição é parecida: maioria de meninas e meninos no setor

agrícola, seguido do comércio e reparação.

a) Setor agrícola

A maioria das regulamentações sobre o trabalho infantil inclui

restrições específicas a atividades realizadas em ambientes perigosos. A

Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) define

trabalho perigoso como aquele que pode causar danos à saúde, segurança

ou moral das crianças.

O limite etário é distinto em cada país. No Brasil, somente a partir

de 18 anos é permitido a realização de trabalhos que possam causar danos à

saúde. É proibido qualquer produção ou trabalho de manipulação de

material pornográfico, divertimento (clubes noturnos, bares, circo etc) e

comércio nas ruas. Abaixo de 21 anos, é restringido o trabalho em minas,

estivagem ou qualquer trabalho subterrâneo.

O caderno especial da PNAD 2001 mostra que as crianças ocupadas

no ramo agrícola foram as que mais se machucaram ou adoeceram (8,7%),

seguidas das ocupadas na indústria (6,8%) e construção civil (5,1%).

Assim, o trabalho na agropecuária expõe os trabalhadores a

ferramentas e máquinas, a produtos químicos, como agrotóxicos e

herbicidas, cujo uso pode ser lesivo, e que podem ocasionar intoxicações,

alergias, cortes ou até amputações. O estudo citado indicou, no entanto, que

pequena parte das crianças ocupadas utilizou produtos químicos. A maior

incidência de machucados ou doentes devido ao trabalho acontece na

cultura da banana, de oleaginosas, na rizicultura, produção de verduras e

48 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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cultura do milho. Esse resultado deve ser visto atentamente. Há uma

discussão maior dos efeitos danosos de culturas agrícolas como a cana de

açúcar, o sisal e fumo, e se presta pouca atenção aos danos à saúde do

originados do cultivo de banana ou da produção de verdura .

A tabela 2.6 mostra a porcentagem de crianças desenvolvendo

atividades agrícolas no total de crianças trabalhadoras. Mostra também o

número de crianças no ramo agrícola por sexo e idade. A maioria dos mais

jovens trabalha no setor agrícola, relação ainda mais forte para os meninos.

Como ressaltado por Cepea/USP (2007), parece que as atividades agrícolas

são de fácil acesso a crianças pequenas, talvez por estarem engajadas em

atividades familiares. Quanto mais velho, menor a proporção de trabalho no

setor agrícola, principalmente para as meninas, que passam a se ocupar dos

serviços domésticos.

Tabela 2.6 – Estimativa de crianças e adolescentes de cinco a15

anos ocupadas na atividade agrícola segundo sexo e por idade – Minas

Gerais – 2006.

5

5 Proporção do cultivo de cana, sisal e verduras e banana em MG? Onde encontrar esses dados?

Fonte: IBGE, PNAD 2006 - Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

|49O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

TRABALHANDO NO SETOR AGRÍCOLA

MENINOS MENINASIDADE

ABSOLUTO* % ABSOLUTO* %

DE 5 A 9 ANOS 9.506 92,3 5.644 76,4

10 7.761 62,4 2.906 50,0

11 9.509 47,1 4.857 47,2

12 14.360 66,6 6.994 40,0

13 18.991 52,6 5.042 41,2

14 19.220 49,0 5.626 28,1

15 25.782 44,6 8.922 25,4

TOTAL 105.129 53,2 39.991 36,9

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Nota-se que, para crianças de cinco a 15 anos, a ocupação mais

freqüente no ramo agrícola está na horticultura e na fruticultura. Em

segundo lugar aparecem as atividades ligadas à pecuária e criação de aves

(PNAD, 2006).

b) Comércio e serviços

No comércio, as principais atividades desempenhadas são

atendente de diversos tipos de estabelecimentos comerciais e comércio

ambulante. Esse último tem efeitos totalmente danosos à formação dos

jovens. Pela legislação brasileira, só pode ser realizado a partir dos 18 anos.

Por ser realizado na rua, expõe crianças e jovens a diversas mazelas: tráfico

de drogas, prostituição e diversos tipos de abuso.

No setor de serviços, as principais atividades estão nos serviços

pessoais: manicures, cabeleireiros e esteticistas.O segundo grupo engloba

várias atividades perigosas: lavador de carros, flanelinha, panfletista,

dedetizador, biscateiros e auxiliares de serviços (exclusive comércio e

limpeza). Essas atividades são também danosas ao desenvolvimento de

crianças e jovens pelos mesmos motivos indicados anteriormente.

No setor de serviços, chamam a atenção também os serviços

domésticos, desempenhado pelas meninas principalmente. 10% das

crianças e dos adolescentes que trabalharam em 2006 fizeram algum serviço

no âmbito doméstico. O trabalho doméstico infanto-juvenil gera

preocupações específicas devido, principalmente, a duas peculiaridades: (1)

como esse tipo de trabalho ocorre fora do sistema econômico, há indícios de

que ele tem um impacto diferente sobre a socialização para o trabalho em

relação aos realizados em empresas; (2) por estar restrito ao espaço

domiciliar e, em geral, para um único cliente, permite ou facilita alguns tipos

de abuso, desde a baixa remuneração e longas jornadas de trabalho sem

50 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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direito a descanso semanal remunerado, até formas mais críticas de

exploração como atos de violência (Barros, Mendonça, Deliberalli, Bahia,

2001).

2.3.2 OCUPAÇÕES PERIGOSAS

Atenção especial tem sido dada às formas mais prejudiciais de

trabalho infantil, conforme as convenções 138 e 162 da OIT. A forma pela

qual as atividades estão classificadas na PNAD, entretanto, impede uma

desagregação maior e faz com que atividades particularmente perigosas

para crianças e adolescentes recebam a mesma classificação que outras

menos prejudiciais. Nota-se que a ocupação mais freqüente no ramo

agrícola para crianças de cinco a 15 anos é na horticultura e fruticultura. Em

segundo lugar aparecem as atividades ligadas à pecuária e criação de aves.

Sem contar as atividades agrícolas, 33,2% das crianças e dos

adolescentes que trabalharam desempenharam ocupações que podem ser

consideradas perigosas. As maiores incidências são: babá/acompanhante

(5,6%), pedreiro/pintor (5,6%) e as de doméstico (4,4%). Outro grupo

importante de trabalho para meninos e meninas é composto por atividades

realizadas na rua: ambulantes, entregadores de panfleto e catadores de

papel/lata/ferro velho. Juntos, ocupam 6,9% das crianças que trabalharam

em 2006 (tabela 2.7).

|51O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 2.7: Estimativa de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos em

ocupações perigosas – Minas Gerais - 2006

2.3.3 JORNADADE TRABALHO

A jornada de trabalho é outra variável que deve ser avaliada para

tentar perceber as implicações da inserção precoce dos jovens no mercado

de trabalho. A concorrência entre escola e trabalho é sempre prejudicial na

medida em que toma tempo que deveria ser dedicado a outras atividades

adequadas a cada faixa etária. Quanto maior o tempo usado para atividades

produtivas, maior a perda de bem estar.Comparando-se com o mercado de trabalho em geral, as jornadas de

trabalho das crianças são reduzidas. Geralmente, é menor do que o limite

52 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

OCUPAÇÕES PERIGOSAS % ABS

Artesão 1,1 4.274

Doméstico 4,4 16.893

Garçom/copeiro/cozinheiro 1,5 5.623

Faxineiro/gari/jardineiro 1,3 4.857

Babá/acompanhante 5,6 21.578

Catador de ferro velho, latinha 1,6 6.207

Ambulantes 3,6 13.840

Entregador de panfleto, lavador de carro, flanelinha 1,7 6.641

Carvoeiro 0,2 581

Pedreiro/pintor 5,6 21.435

Indústria mecânica 1,0 3.692

Indústria Têxtil 2,0 7.782

Calçados e produtos de couro 0,3 975

Carpinteiro/confeccionador de escovas, vassouras 0,5 1.556

Operador de máquinas, prensadores/ funileiros/ lanterneiros de automóveis 2,8 10.874

Total 33,2 126.808

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usual de tempo de trabalho (entre 40 e 44 horas). Ressalta-se, entretanto,

que 14% das crianças de dez a 15 anos trabalharam mais que 40 horas

semanais (PNAD, 2006).

Atabela 2.8 mostra a proporção de pessoas em cada faixa de jornada

de trabalho que não freqüentavam escola. Constata-se, assim, que tal

proporção é maior quanto maior a jornada de trabalho. Somente 11,6% das

crianças de dez a 15 anos não freqüentavam escola em 2006. Há uma

diferença, porém, de acordo com a jornada de trabalho. Entre os que

trabalharam até 14 horas, somente 2,4% não freqüentavam escola. Já entre

os que trabalharam entre 40 e 44 horas ou 45 horas ou mais, 33,3% e 67,6%,

respectivamente, não freqüentavam escola/creche.

O que as informações parecem indicar é que o trabalho infantil de

fato concorre com a dedicação à escola. A informação positiva é a de que a

maioria das crianças e dos adolescentes freqüentam a escola, trabalhando

ou não. Em qualquer caso, entretanto, a freqüência à escola é menor entre as

crianças que trabalham do que entre as que não trabalham. Além disso, a

jornada de trabalho representa um risco adicional importante para a

escolarização: é entre crianças e adolescentes com as jornadas mais longas

que se concentra a deserção da escola. Deve-se perguntar também sobre a

sustentabilidade dessa “competição” entre escola e trabalho. É provável

que, para os que ingressam precocemente no mercado de trabalho ao

mesmo tempo em que estudam, o rendimento escolar e o desgaste se

imponham (agravados pelas condições de trabalho) e, após algum tempo, a

criança ou o adolescente tenda a se evadir da escola.

|53O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 2.8: Estimativa de crianças e adolescentes de dez a 15 anos ocupados

que freqüentavam escola jornada semanal de trabalho - Minas Gerais -

2006.

A análise da relação entre trabalho infantil e acesso à educação

deve, porém, tomar cuidado com a sobreposição entre renda, trabalho

infantil e freqüência à escola. Como se sabe, a renda familiar está

fortemente associada à escolarização: quanto maior a renda familiar, maior

tendencialmente a freqüência, permanência e o desempenho de uma

criança na escola. Por outro lado, conforme se mostrou anteriormente, o

trabalho infantil está concentrado nas famílias de menor renda familiar.

Assim, a renda e não o trabalho explicaria a falta de acesso dessas crianças

à escola.

A tabela 2.9 ajuda a compreender essa situação. De fato, pode-se

notar que a freqüência à escola é maior nas faixas de rendimento mais alta.

Em quase todas as faixas de rendimento, no entanto, há uma taxa maior de

freqüência à escola entre crianças e adolescentes não ocupados em relação

aos que trabalharam. Isso reforça a hipótese abraçada aqui: tanto o acesso à

54 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

FREQUENTAVA

ESCOLA/CRECHETOTAL

HORAS TRABALHADAS

% Absoluto* Absoluto* %

Até 14 horas 97,6 116.456 119.364 41,39

15 a 39 horas 91,7 118.195 128.861 44,68

40 a 44 horas 66,7 13.988 20.961 7,27

45 ou mais 32,4 6.228 19.223 6,67

Total 88,4 254.867 288.409 100

Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006 Elaboração:Fundação João Pinheiro (FJP)

Nota: como quase a totalidade das crianças até nove anos estava na escola,não é possível desagregar essa informação para essa faixa etária. * Estimativa

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educação quanto o trabalho infantil são fenômenos complexos. Diferentes

ordens de fatores contribuem para seu comportamento.

Tabela 2.9 – Estimativa de crianças e adolescentes entre cinco e 15

anos segundo faixa de renda domiciliar per capita, por condição econômica

e freqüência à escola – Minas Gerais - 2006

Quanto às diferenças de jornada entre os setores de atividades, note-

se que a jornada é maior no comércio (tanto média quanto mediana). Ela tem

dispersão menor, porém, que a construção civil. Nos serviços domésticos,

também se encontram crianças que trabalham mais do que meia jornada. A

metade delas trabalha mais do que 20 horas semanais.

|55O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

OCUPADOS NÃO OCUPADOS

FAIXA DE RENDA DOMICILIAR PER

CAPITA (Salários Mínimos)

%

FREQUENTA

ESCOLA

ABSOLUT

O

%

FREQUENTA

ESCOLA

ABSOLUT

O

Sem rendimento 0 87,5 17.741

Ate 1/4 85,8 49.084 89,7 312.171

Mais de 1/4 ate 1/2 84,5 86.605 93,2 851.654

Mais de 1/2 a 1 87,2 108.596 95,9 1.113.467

Mais de 1 a 2 92,0 62.238 97,3 592.704

Mais de 2 100,0 5.062 99,2 163.541

Sem declaração 92,1 6.806 98,1 40.350

87,7 329.285 95,2 3.302.020

Fonte: IBGE, PNAD 2006 Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

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Tabela 2.10: Jornada semanal de trabalho de crianças e adolescentes entre

cinco e 15 anos por setor de atividade econômica – Minas Gerais - 2006

2.3.4. TRABALHO NÃO REMUNERADO

Grande parte das crianças que trabalham desempenham atividades

não remuneradas, principalmente quando mais novos. No geral, 91% das

crianças de cinco a nove anos que trabalham não são remunerados. Dentre

os de dez a 15 anos, essa proporção se reduz para 47% de não remunerados

(tabela 2.11).

Nota-se que não há um padrão estabelecido por características

pessoais, mas por tipo e local do empreendimento. Assim, as crianças que

trabalham em áreas rurais têm probabilidade muito maior de

desempenharem atividades não remuneradas do que as das áreas urbanas. A

partir de dez anos, somente 29,6% das crianças ocupadas em áreas urbanas

não são remuneradas, contra 77,6% dos que trabalham em áreas rurais.

Por tipo de família, constata-se um equilíbrio entre os trabalhadores

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

56 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

HORAS TRABALHADAS

SETOR DE ATIVIDADE MÉDIA 25% 50% 75% ESTIMATIVA

Agrícola 20 10 16 28 129.970

Indústria 19 10 16 24 24.690

Construção 21 7 12 40 14.817

Comércio 22 10 21 20 62.557

Serviços 14 5 12 20 30.709

Serviços Domésticos 23 7 20 30 18.071

Outras atividades 19 8 16 25 7.595

Total 20 288.409

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remunerados ou não, principalmente na faixa etária entre dez e 15 anos.

Antes disso, quase a totalidade desempenha trabalho não remunerado.

Aanálise por freqüência à escola revela que metade das pessoas que

freqüentavam escola/creche não eram remunerados, contra apenas 20,2%

dos que não freqüentavam escola. Isso pode indicar que o trabalho

remunerado apresenta características mais mercantilizadas e menos

familiares. Semelhante característica, nesse caso, pode torná-lo um

trabalho menos protegido em relação à jornada, cuidado com outras

dimensões da vida (como o próprio estudo) etc.

|57O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 2.11: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos

ocupadas em trabalho não remunerado segundo faixa etária, por atributos

pessoais e de mercado - Minas Gerais - 2006

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

58 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Trabalho não remunerado

5 a 9 anos 10 a 15 anos

Especificação% Absoluto* % Absoluto*

Sexo

Masculino 88,7 12.242 48,4 198.822

Feminino 93,8 8.756 44,9 103.302

Cor/Raça

Branca 95,8 8.924 46,1 107.552

Preta 84,3 3.113 43,5 32.833

Parda 88,5 8.961 48,9 161.739

Analfabetismo

Sim 96,4 15.748 48,0 302.124

Não 77,1 5.250 0,0 -

Situação Censitária

Urbano 81,4 9.374 29,6 119.998

Rural 100,0 11.624 77,6 182.126

Região Metropolitana

Sim 92,3 4.725 42,7 41.750

Não 90,3 16.273 48,0 260.374

Ramo de Atividade

Agrícola 100,0 17.681 76,3 212.059

Não Agrícola 60,8 3.317 24,9 90.065

Tipo de Família

Casal com Filhos 100,0 13.987 52,4 258.777

Mãe com Filhos 93,2 5.438 49,4 208.114

Outro tipo de família 93,0 5.250 50,1 180.769

Freqüência à escola

Sim 100,0 17.287 50,9 286.035

Não 20,2 16.089

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Pela tabela 2.12, constata-se que o peso do trabalho não remunerado

é devido basicamente ao setor agrícola e à construção civil. Nos demais

setores, a prevalência é do trabalho remunerado. Há espaços de inserção no

mercado de trabalho que determinam a forma e o tipo de força de trabalho a

ser empregada. O fato de que está nas atividades agrícolas a maior incidência

de trabalho não remunerado indica a importância das crianças no apoio aos

empreendimentos familiares.

Tabela 2.12: Distribuição das crianças de cinco a 15 anos ocupadas

em trabalho não remunerado por setor de atividade econômica – Minas

Gerais - 2006

NÃO REMUNERADOSETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA

% Absoluto*

Agrícola 79,4 206.436

Indústria 36,3 17.918

Construção 50,7 15.027

Comércio 29,5 36.892

Serviços 25,3 15.560

Serviços Domésticos ...** ...**

Outras atividades 7,6 1.162

Total 292.995

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP) - *Estimativa**... Amostra não permite desagragação neste nível

|59O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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A tabela 2.13 apresenta a distribuição dos ocupados de cinco a 15

anos, por tipo de trabalho e faixa de renda domiciliar per capita. Apesar de

diferenças na distribuição, não é identificável um padrão claro que, quanto à

renda familiar, diferencie crianças e adolescentes que desempenharam

trabalho remunerado dos não remunerados. O peso do setor agrícola parece

ser a principal influência sobre o tipo de trabalho, se é remunerado ou não.

Tabela 2.13: Distribuição percentual dos ocupados de cinco a 15

anos segundo faixa de renda domiciliar per capita por tipo de trabalho –

Minas Gerais, 2006

FAIXA DE RENDA DOMICILIAR

PER CAPITA

(salários mínimos)

REMUNERADO NÃO REMUNERADO TOTAL

Até 1/4 8,3 21,2 14,5

Mais de 1/4 ate 1/2 24,6 30,0 27,3

Mais de 1/2 a 1 35,7 28,8 32,3

Mais de 1 a 2 25,0 13,1 19,2

Mais de 2 a 3 0,7 2,3 1,5

Sem declaração 2,9 0,8 1,9

100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

60 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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|61

2.4 RENDIMENTOSDO TRABALHO

O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Amaioria das crianças ocupadas de

cinco a nove anos são trabalhadoras

sem remuneração, seja em ajuda a

negócios e parentes, seja para a

produção ou o próprio consumo.Para aqueles que auferem renda, ela é geralmente baixa. A

contribuição desse recurso para a renda familiar, porém,

mostrou-se importante. Em muitos casos, os rendimentos

gerados pelo trabalho infantil são cruciais para a

sobrevivência das famílias.

A média de renda das crianças ocupadas de dez a 15

anos foi de R$ 122,00 em 2006. 23% das crianças ocupadas

nessa faixa etária não são remuneradas (não estão

computadas aquelas que não tiveram rendimento no mês).

Um terço recebeu entre R$ 5,00 e R$ 50,00.

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Tabela 2.14: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a 15 anos

ocupados por faixa de rendimento- Minas Gerais - 2006

Vale notar que, em média, os rendimentos auferidos pelas crianças

de dez a 15 anos representavam 11,9% da renda total do domicílio, e 7%

contribuíram com mais de 30% da renda domiciliar.

Por fim, verificou-se que a renda de 10,9% das crianças de dez a 15

anos equivaleu a de 20% a 30% da renda domiciliar total.

62 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

Ocupados de 10 a 15 anosFaixas de Rendimento (R$)

Abs %

Até 50 47.624 34,0

Mais de 50 a 100 33.766 24,1

Mais de 100 a 150 21.383 15,2

Mais de 150 a 200 16.122 11,5

Mais de 200 a 250 5.624 4,0

Mais de 250 a 300 3.301 2,4

Mais de 300 a 400 10.296 7,3

Mais de 400 2.137 1,5

Total 140.253 100,0

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Tabela 2.15: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a15 anos

ocupados por faixa de contribuição para a renda domiciliar – Minas Gerais,

2006

Ocupados de 10 a 15 anosContribuição para a renda domiciliar (%)

Abs %

até 5 43.350 31,6

mais de 5 a 10 40.806 29,7

mais de 10 a 15 17.079 12,4

mais de 15 a 20 11.248 8,2

mais de 20 a 30 14.942 10,9

mais de 30 9.902 7,2

Total 137.327 100,0

Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)

|63O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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2.5 CONSIDERAÇÕESFINAIS

Ocombate ao trabalho infantil é um dos

desafios tanto para a proteção dos

direitos da infância e da adolescência

quanto para a construção de um

mercado de trabalho civilizado no

Brasil.

No caso de Minas Gerais, esse desafio é maior.

Após um decréscimo importante, a taxa de ocupação de

crianças e adolescentes voltou a crescer em 2005 e, um

pouco menos, em 2006. Parte desse crescimento talvez

possa ser atribuído a um efeito indesejável do fenômeno

positivo de recuperação das taxas mais gerais de ocupação

da população. Desse ponto de vista, intervenções centradas

na fiscalização ou na inclusão das famílias nos programas

como o Peti são indispensáveis, mas insuficientes. Há que

se reduzir a demanda por trabalho infantil e a tolerância em

relação a ele.

A discussão apresentada aqui traz alguns elementos

64 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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importantes para o combate ao trabalho infantil. Os dados ressaltam que a

situação socioeconômica das famílias parece ser um importante

condicionante do trabalho infantil. Em todos os grupos analisados, a taxa de

ocupação é maior entre as famílias com menor rendimento, o que não chega

a ser surpreendente.

Apesar de importante, entretanto, a renda das famílias não parece

ser o único fator a influenciar o trabalho precoce. Há varias indicações disso

no trabalho: apesar de maior nas famílias com menor rendimento, a taxa de

ocupação é expressiva também em outras faixas. Parte grande das crianças

não recebe remuneração pelo trabalho (provavelmente trabalho familiar).

Entre os que recebem remuneração, ela é muito pequena na maior parte.Na

maioria dos casos, a contribuição para a renda familiar dos rendimentos

obtidos pelo trabalho é reduzida.

Essas são indicações de que, do ponto de vista da “oferta” de

trabalho infantil (ou seja, a disposição para trabalhar ou a aceitação do

trabalho por parte de crianças, adolescentes e suas famílias), há também

determinantes não econômicos. Eles podem ser de diversas ordens, e pode-

se especular sobre algumas situações. Há fatores culturais, como a

percepção de que o trabalho infantil (principalmente na adolescência)

possui efeito “educativo”. Ele contribuiria para aumentar a

responsabilidade, a disciplina. É melhor do que o “ócio”, estar na rua, ou em

más companhias, entre outros.

Pode haver também casos e setores em que o próprio processo de

trabalho supõe tradicionalmente a inclusão de crianças e adolescentes.É o

caso da agricultura familiar ou em que a aprendizagem do ofício se dá por

meio da inclusão progressiva do aprendiz na profissão, como em alguns

setores artesanais. Possivelmente há também aquelas situações onde a

participação da criança é vista como forma de proteção: na ausência de

|65O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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alternativas confiáveis de cuidado de crianças e adolescentes, a família

julga que acompanhar os pais no trabalho é uma forma mantê-los perto e sob

sua orientação.

Desse ponto de vista, o combate ao trabalho infantil precisa incluir

alternativas econômicas (renda ou oportunidades de obtê-la) que

substituam o rendimento da criança e/ou do adolescente. Precisa também

alternativas de atendimento às crianças (atividades complementares à

escola vistas como relevantes pelas famílias, escolas em tempo integral

etc.). É importante também esclarecer a família sobre os verdadeiros riscos

e prejuízos decorrentes do ingresso precoce no trabalho. Finalmente,

observada a existência das alternativas, é necessário, nos casos mais

renitentes, responsabilizar famílias e empregadores pela violação de

direitos.O trabalho mostra também que há grupos e famílias mais

vulneráveis ao trabalho infantil. Ele (não incluídos os afazeres domésticos)

é majoritariamente masculino e atinge mais as crianças negras. Quanto à

composição familiar, a taxa de ocupação é maior nas famílias mais

numerosas. Ao contrário da visão predominante no senso comum, no

entanto, não parece ser mais freqüente nas famílias ditas monoparentais.

Entre todos os fatores analisados, reforça-se o aspecto crítico da idade. A

entrada na adolescência parece estar associada ao aumento da pressão para o

ingresso no mercado de trabalho e/ou ao aumento da tolerância em relação a

essa violação de direitos. O desenho das intervenções deve contemplar a

vulnerabilidade crescente dos adolescentes ao trabalho. A extensão dos

benefícios do Bolsa-Família a esse público é um exemplo do início do

processo de reconhecimento de riscos e vulnerabilidades enfrentados pelos

cidadãos dessa faixa etária.

Quanto a esse ponto, deve-se estar atento também para o problema da

66 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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escolaridade. Apesar de alta a freqüência à escola tanto entre os ocupados

quanto os não ocupados, deve-se ressaltar que, em qualquer faixa de renda,

crianças e adolescentes ocupados têm acesso menor à escola do que os não

ocupados. Além disso, jornadas mais extensas aumentam os riscos para a

escolarização representados pelo trabalho. À medida que a idade avança, é

crescente a “opção” (na medida em que se pode falar de escolha) pelo

trabalho em detrimento da escola. Isso ressalta a importância de políticas

como o Poupança Jovem, que procura ampliar os benefícios e a atratividade

da conclusão do ensino médio para os adolescentes. É preciso acrescentar

que as intervenções devem ter em foco a atratividade da escolarização e

também a garantia das condições para permanecer na escola.

Do ponto de vista dos setores e atividades, deve-se destacar a

concentração em alguns setores e atividades. Há forte participação das

atividades agrícolas na zona rural e da construção civil e do trabalho

doméstico na zona urbana. Isso permite desenhar intervenções de combate

ao trabalho infantil orientadas não apenas para a “oferta” de trabalho

infantil, mas também para a redução da “demanda”.Para isso, pode-se focar

cadeias produtivas, comprometendo os elos mais concentrados e

institucionalizados das cadeias produtivas (grandes empresas, que não

utilizam diretamente trabalho infantil, mas às vezes consomem insumos

que se utilizam dele) com a correção social das matérias primas e dos

serviços que consomem. Exemplo de intervenções desse tipo é a

certificação de produtos e cadeias produtivas vinculados à visibilidade

social e também o acesso a crédito ou programas de fomento, ou como

condição para participação em licitações.

Outro tipo de ação é a mobilização de setores específicos, incluindo

associações de classe, sindicatos de trabalhadores e patronais,

consumidores etc. Permite também (o que, em boa medida, já é feito)

|67O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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direcionar melhor a fiscalização por parte de conselhos tutelares,

Ministério do Trabalho e Ministério Público, entre outros.Deve-se notar ainda que grande parcela de crianças e adolescentes

trabalhadores estava ocupada em atividades que representam riscos físicos

ou sociais. Isso deve ser ressaltado. Demonstra o equívoco de se supor que o

trabalho infantil é inofensivo, quando não benéfico para as crianças e suas

famílias.

Finalmente, considerando que a ocupação da mão-de-obra de

crianças e adolescentes parece decorrer tanto de fatores econômicos quanto

culturais, é necessário alterar a percepção e a tolerância generalizada em

relação ao trabalho infantil. Para isso, campanhas mais intensas de opinião

pública, mobilização de personalidades com prestígio social e visibilidade

e estímulo e difusão tanto de estudos sobre o assunto quanto de iniciativas

exitosas de enfrentamento do problema devem compor a estratégia de

enfrentamento do trabalho infantil.

Boa parte dos investimentos sociais apresenta a característica de

“rendimentos decrescentes”: de início, as situações-problema respondem

de forma imediata e intensa às intervenções públicas. A partir de certo

ponto, cada avanço é muito mais custoso e difícil. É o caso do acesso à

educação, da mortalidade infantil e parece ser o caso do trabalho infantil.

Isso exige intervenções decididas, estratégicas e continuadas de todos os

setores comprometidos com os direitos de crianças e adolescentes.

68 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Odebate sobre o trabalho de crianças e

adolescentes no Brasil não é novo. As

discussões e ações sobre essa questão

têm merecido maior atenção por parte

tanto do Estado como da sociedade há,

pelo menos, 15 anos, quando, entre outros fatos, o Estatuto

da Criança e doAdolescente (ECA) foi aprovado.

Nesse período, uma série de experiências bem

sucedidas foram desenvolvidas com relação ao trabalho

infantil nas ruas, tanto por iniciativas do terceiro setor, como

por ações sociais de empresas e pelo próprio Estado. Entre as

experiências mais freqüentes, temos os diversos trabalhos e

programas de transferência de renda, ações voltadas para a

formação e qualificação de jovens, campanhas publicitárias,

acompanhamento de famílias, construção e manutenção de

abrigos, aumento da fiscalização trabalhista e o próprio

desenvolvimento da legislação. Do ponto de vista

institucional, temos a criação dos conselhos da criança e do

3 VIDA E TRABALHONAS RUAS DE MINAS GERAIS

|69O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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adolescente, nas esferas federal, estadual e municipal e também a

implantação dos conselhos tutelares, promotorias especializadas e das

próprias delegacias regionais do trabalho.

Mesmo com a melhoria das ações e o esforço de muitas instituições,

persiste ainda o problema do trabalho infantil, de forma geral, e

especificamente o trabalho infantil nas ruas.. Ele demanda, sem dúvida,

ações mais específicas e de melhor qualidade. Nesse contexto, é necessário

conhecer melhor os empecilhos que barram a maior efetividade das

políticas voltadas para essa questão social.

Analisando diretamente o trabalho infantil nas ruas, observam-se

pelo menos três grandes problemas relacionados à formulação e

implementação de políticas públicas. O primeiro é a falta de conhecimento

de quem são e quantas são essas crianças e esses adolescentes, que fatores os

levam às ruas e quais os “mantêm” lá. O segundo se refere a quais

instituições, serviços, programas, projetos e ações atendem esse grupo. O

terceiro, em grande medida relacionado com o segundo, é até onde a

atuação dos vários níveis de governo, terceiro setor e sociedade civil estão

integrados para que as ações sejam eficientes e eficazes.

No que se refere a conhecer essas crianças e suas trajetórias, uma

série de questões e discussões metodológicas justificam as dificuldades

encontradas na abordagem e no desenvolvimento de ações específicas para

esse público.

Entre outros aspectos, essa complexidade se reflete na própria

profusão de definições sobre crianças de rua.

70 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Nesse sentido, Rizzini (1995, p.37) aponta que

Observa-se uma tendência a incluir as crianças estudadas na

categoria geral “meninos de rua” ou “niños de la calle”, como

uma espécie de denominação padronizada, que se tornou

altamente popular na década de 80. Sob o termo “meninos de

ruas”, encontra-se uma multiplicidade de tipos de crianças ou

jovem: do sexo masculino ou feminino; aqueles que passam

apenas parte do seu tempo nas ruas; aqueles que dormem nas

ruas; jovens de 15 a 18 anos, que normalmente não seriam

chamados de “meninos”ou “niños” e assim por diante.

Assim sendo, os estudos voltados para o problema da criança e do

adolescente nas ruas se torna extremamente multifacetado. De acordo com

Koller (1996, p113): ”Um aspecto relevante nesses estudos é a utilização do

espaço da rua como fonte de recursos para subsistência e socialização para

algumas dessas crianças.”

Por outro lado, considerando-se as pesquisas oficiais de caráter

domiciliar, como os censos demográficos ou a Pesquisa Nacional por

Amostra Domiciliar (PNAD), é muito difícil identificar quem de fato

seriam as crianças em situação de rua. Seja porque não identificam o que

crianças e adolescentes fazem nas ruas, já que muitos estão nos setores

informais da economia. Seja devido ao fato de que muitas famílias na rua

não possuem domicílio.

Dadas essas diversidades de enfoques, é complicado dimensionar

ou mesmo realizar estudos comparativos numa perspectiva geral, como a

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estadual ou a nacional. Muitas vezes, cada município, entidade ou

organização trabalha com um conceito de criança em situação de rua, uma

estratégia de coleta de dados e, conseqüentemente, um público diferente.

Isso se torna um grande complicador quando são realizadas políticas

públicas de cunho nacional, estadual, ou metropolitano.

72 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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|73

3.1 CRIANÇAS E ADOLESCENTESENCONTRADOS

O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Nesta pesquisa, total foram abordadas

3.028 crianças e adolescentes nos 21

municípios no período de 20 a 26 de

agosto de 2007 (semana de referência

da pesquisa). O público alvo foram

todas as crianças e os adolescentes até 18 anos incompletos

que estivessem nas zonas urbanas e na rua exercendo

qualquer tipo de ocupação (incluindo nesses casos

mendicância, guardadores de carro e guardas mirins, entre

outros), durante os três períodos do dia (manhã, tarde e

noite). Também foram incluídas as crianças e os

adolescentes com trajetória de rua morando em abrigos

temporários (casas de passagem) há menos de três meses,

os quais, do mesmo modo, foram mapeados e visitados. No

caso das crianças muito pequenas, o questionário foi

respondido por algum adulto ou jovem que as

acompanhava.

Após serem abordadas, crianças e adolescentes

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respondiam a um questionário com 25 questões organizadas em sete blocos:

características individuais, educação, família, ocupação nas ruas,

características do local de moradia, saúde/violência e expectativa de vida.

De maneira geral, avaliou-se que a qualidade dos dados obtidos nos

municípios foi bastante adequada no que se refere a aspectos de

confiabilidade e validade. No limite, apenas os dados do município de

Uberlândia não alcançou o grau de confiabilidade considerado adequado.

Mesmo assim, optou-se por incluí-los nas análises que se seguem.

Sucintamente, os questionários válidos representaram 83,19%

(2.519) do universo pesquisado, e as recusas representaram 16,81% (509).

Para analisar as informações por município, não basta identificar o número

total de questionários. Muito provavelmente, o número de crianças nas ruas

é influenciado pelo tamanho da população de crianças e adolescentes no

município. Para se ter uma noção mais clara da situação, dividimos o

número de questionários aplicados pela população de crianças e

adolescentes de até 18 anos estimada pelo IBGE para 2007 (na tabela 3.1 e

no gráfico 3.1) .

Tabela 3.1: Questionários aplicados às crianças e aos adolescentes em

situação de rua por município - Minas Gerais – 2007

6

6 Deve-se tomar cuidado na análise destas taxas nos municípios pertencentes a Regiões Metropolitanas, pois o municípiosede tende a atrair as crianças dos outros municípios, como ocorre em Belo Horizonte, por exemplo, em que uma proporçãoalta das crianças encontradas nas ruas moram em outros municípios.

MUNICÍPIOSPOPULAÇÃOTOTAL* 2007

POPULAÇÃO| 18 ANOS

2007**ENTREVISTAS RECUSAS

TOTALENTREVISTAS

E RECUSAS

POP RUA/ POP | 18ANOS (%)

Almenara 36.907 14.009 111 4 115 0,82Belo Horizonte 2.412.937 720.886 711 279 990 0,14Betim 415.098 158.184 56 29 85 0,05Contagem 608.650 202.409 140 9 149 0,07Divinópolis 209.921 66.040 137 24 161 0,24GovernadorValadares

260.396 90.241 112 7 119 0,13

Ibirité 148.535 58.046 155 22 177 0,30Ipatinga 238.397 80.967 244 11 255 0,31Janaúba 65.387 27.043 28 4 32 0,12Januária 64.985 28.532 38 5 43 0,15Juiz de Fora 513.348 152.331 39 4 43 0,03Montes Claros 352.384 129.801 145 42 187 0,14Muriaé 95.548 30.799 110 9 119 0,39Ouro Preto 67.048 22.925 21 4 25 0,11Poços de Caldas 144.386 43.430 28 6 34 0,08Ribeirão das Neves 329.112 126.239 71 1 72 0,06Sabará 120.770 43.027 63 17 80 0,19Santa Luzia 222.507 81.748 54 1 55 0,07Teófilo Otoni 126.895 45.119 86 14 100 0,22Uberaba 287.760 87.049 153 10 163 0,19Uberlândia*** 608.369 193.776 17 7 24 0,03Total 6.720.971 2.208.826 2.519 509 3.028 0,14

* IBGE, 2007, referencia 1o de abril, 2007, consulta dia 30/01/2008.** Estimativas com base na distribuição por grupo etário proporcional do Censo 2000.

*** Dados não confiáveis.Fonte: Pesquisa sobre Trabalho de Crianças e Adolescentes de Minas Gerais, 2007.

74 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Gráfico 3.1: Proporção de crianças e adolescentes em situação de

rua em relação ao total de crianças e adolescentes por município pesquisado

– Minas Gerais - 2007

Os formulários incluídos no banco foram classificados entre válidos

e recusas. Para efeitos desta pesquisa, válidos são aqueles em que o

aplicador conseguiu que o entrevistado respondesse até o final, mesmo que

as informações não tenham sido relatadas na íntegra ou de forma adequada.

As recusas, por sua vez, originam-se da desistência do entrevistado

em responder às perguntas até o fim ou da negação do jovem em responder o

formulário. Ou seja, recusas são os formulários em que o entrevistador não

conseguiu encerrar a entrevista com o jovem ou aqueles jovens que se

recusaram a responder. Os questionários válidos representaram 83,19%

Relação Porcentual Questionários Crianças Rua/ Pop.< 18 anos

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90

AlmenaraBelo Horizonte

BetimContagem

Divinópolis

Governador Val.Ibirité

IpatingaJanaúbaJanuária

Juiz de Fora

MuriaéOuro Preto

Poços de CaldasRibeirão das Neves

SabaráSanta Luzia

Teófilo OtoniUberaba

Uberlândia

Mun

icíp

ios

% de questionários

Fonte: Fundação João Pinheiro

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(2519) da amostra total, as recusas, 16,81% (509).

A pesquisa também procurou registrar o motivo das recusas, por que

os entrevistados se recusaram a responder e/ou interromperam sua resposta.

A tabela 3.2 aponta que 57,96% dos formulários recusados apresentaram

motivo de recusa explícita, 23,58% das recusas se devem ao fato de o

entrevistado ter corrido no momento da abordagem e/ou durante a entrevista.

O motivo de 11,39% das recusas foi a proibição de adultos. 3,54% das

recusas se devem a que outras crianças/adolescentes impediram os

entrevistados. Ainda foram citados como motivos de recusa o fato de o

entrevistado estar aparentemente embriagado/drogado (3,14%) e outros

motivos não listados (3,73%).

Tabela 3.2: Motivo das recusas de crianças e adolescentes em

situação de rua em responder ao questionário - Minas Gerais – 2007.

Registrou-se quem foi o entrevistado, se a própria criança ou

oadolescente ou se outra pessoa. Essa estratégia, basicamente, foi utilizada

para crianças muito pequenas, que não poderiam responder às questões. A

Motivo da recusa Freqüência (%)

Correu 23,58

Aparentemente embriagado/ drogado 3,14

Recusa Explícita 57,96

Impedido por terceiros, adultos. 11,39

Impedido por terceiros, outras crianças/

adolescentes 3,54

Outros 3,73

Fonte: Fundação João Pinheiro

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tabela 3.3 mostra que 81,21% dos formulários foram respondidos pelos

próprios jovens e apenas 5,68% por terceiros.

Tabela 3.3: Descrição dos entrevistados - Minas Gerais – 2007.

Objetivando melhor caracterizar a pesquisa e captar informações sobre o

horário em que os jovens encontram-se na rua, registrou-se o horário em

que a entrevista foi realizada e a relacionou-se a um período do dia (manhã,

tarde, noite, madrugada). O gráfico 3.2 indica que 39,99% das entrevistas

foram realizadas no período da manhã (6:01 às 12:00); 37,91%, na parte da

tarde (de 12:01 às 18:00); 19,19%, durante a noite (18:01 às 24:00), e

apenas 0,53%, no período da madrugada (24:01 às 6:00).

Gráfico 3.2: Horário das entrevistas com as crianças e os

adolescentes em situação de rua - Minas Gerais – 2007.

QUEM RESPONDEU OFORMULÁRIO

Nº DEFORMULÁRIOS

% DE FORMULÁRIOS

Própria criança/ adolescente 2459 81,21Outra pessoa 172 5,68Não Informado 397 13,11TOTAL 3028 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro* Irmãos, parentes ou outras pessoas que acompanhavam as crianças

39,99%

37,91%

19,19%

0,53%

2,38%

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45

Não informado

Madrugada

Noite

Tarde

Manhã

Crianças e Adolescentes

Fonte: Fundação João Pinheiro

Hor

ário

da

entr

evis

ta

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3.2 Perfil de crianças eadolescentes emsituação de rua

a) Sexo

A pesquisa identificou a faixa etária e o sexo das

crianças e dos adolescentes em situação de rua (tabela 3.4).

Das respostas válidas, 82,14% dos jovens (2069

crianças/adolescentes) se afirmaram do sexo masculino, e

17,03% (429 crianças/ adolescentes), do sexo feminino.

Tabela 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua por

sexo - Minas Gerais – 2007.

Observa-se a porcentagem mais baixa da presença das

mulheres, se comparada à dos homens, em todos os

Sexo Absoluto %

Masculino 2069 82,14

Feminino 429 17,03

Não Informado 21 0,83

TOTAL 2519 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro.

78 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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municípios estudados (tabela 3.5). Janaúba apresenta a maior “distorção

homens-mulheres”: 96,77% para homens e 3,23% para mulheres. Por outro

lado, Betim revela a mais baixa "distorção homens-mulher” do quadro, com

61,67% para homens e 38,33% para mulheres.

Tabela 3. 5: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo o

sexo por municípios pesquisado - Minas Gerais – 2007.

Sexo (%)Municípios

Homens Mulheres Total

Almenara 90,99 9,01 100,00

Belo Horizonte 76,25 23,75 100,00

Betim 61,67 38,33 100,00

Contagem 77,30 22,70 100,00

Divinópolis 86,33 13,67 100,00

Gov. Valadares 93,86 6,14 100,00

Ibirité 82,39 17,61 100,00

Ipatinga 79,35 20,65 100,00

Janaúba 96,77 3,23 100,00

Januária 86,84 13,16 100,00

Juiz de Fora 82,05 17,95 100,00

Montes Claros 95,12 4,88 100,00

Muriaé 76,52 23,48 100,00

Ouro Preto 90,91 9,09 100,00

Poços de Caldas 90,91 9,09 100,00

Ribeirão das Neves 92,86 7,14 100,00

Sabará 78,79 21,21 100,00

Santa Luzia 88,24 11,76 100,00

Teófilo Otoni 90,53 9,47 100,00

Uberaba 87,34 12,66 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

|79O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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b) Idade

A pesquisa mapeou e dividiu por municípios as faixas etárias que

compreendem o intervalo de zero a 18 anos, e está exposto na tabela 3.6 o

percentual correspondente às seguintes faixas de idade: “zero a seis anos”,

“sete a 14 anos” e “15 a 18 anos”. Se se considerar o primeiro grupo

indicador de “crianças” e o último indicador de adolescentes, verifica-se que

Sabará possui maior percentual relativo de crianças (9,26%), enquanto

Divinópolis indica ter o maior percentual relativo de adolescentes (57,46%).

80 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3.6: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo faixa etárias

por município pesquisado - Minas Gerais – 2007.

Faixa Etária (%)Município

0 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 18 anos

Almenara 1,09 75,00 23,91

Belo Horizonte 8,03 48,32 43,65

Betim 5,45 40,00 54,55

Contagem 7,58 53,03 39,39

Divinópolis 0,75 41,79 57,46

Gov. Valadares 1,85 69,44 28,70

Ibirité 4,70 64,43 30,87

Ipatinga 1,72 65,67 32,62

Janaúba 3,70 55,56 40,74

Januária - 87,10 12,90

Juiz de Fora 5,41 40,54 54,05

Montes Claros 0,67 74,67 24,67

Muriaé 2,83 60,38 36,79

Ouro Preto - 50,00 50,00

Poços de Caldas - 55,56 44,44

Ribeirão das Neves 1,49 43,28 55,22

Sabará 9,26 50,00 40,74

Santa Luzia 3,70 59,26 37,04

Teófilo Otoni 2,63 75,00 22,37

Uberaba 4,14 72,41 23,45

Uberlândia 5,26 63,16 31,58

Total 4,46 57,98 37,57

Fonte: Fundação João Pinheiro

|81O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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3.3 SITUAÇÃOFAMILIAR

Ainda sobre o perfil dos jovens em

situação ou trajetória de rua, procurou-

se saber como se dá a composição

familiar. A tabela 3.7 mostra o

porcentual de jovens que têm filhos.

2,42% dos entrevistados (questionários válidos) afirmaram

tê-los. Dos jovens que afirmaram ter filhos, a pesquisa

ainda registrou seu número. Em média, os jovens pais

possuem 1,16 filho aproximadamente.

Tabela 3. 7: Crianças e adolescentes em situação de

rua que têm filhos - Minas Gerais – 2007.

Os dados da tabela 3.8 e do gráfico 3.3 mostram onde

freqüentemente os jovens em situação de rua dormem.

JOVENS QUE POSSUEMFILHOS

OCORRÊNCIAS % DE JOVENS

Não 2042 81,06Sim 61 2,42Não Informado 416 16,51TOTAL 2519 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

82 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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80,55% dormem na casa dos pais.

10,12% moram em casa de parentes. A terceira opção mais

assinalada foi na rua, sozinho ou com amigos, que conta com 3,89%. Ainda

foram citadas as opções casa de amigos (1,67%), na rua com parentes

(0,79%) e outras opções (outros) não especificadas nas alternativas do

questionário (3,02%). Além disso, 1,55% dos jovens entrevistados não

informou a resposta (não informado).

Gráfico3.3: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

local onde dormem - Minas Gerais – 2007

Já a tabela 3.9 — também reapresentada pelo gráfico 3.4 — mostra

onde os jovens moram durante a maior parte do tempo. Evidentemente, é de

se notar a semelhança entre os números das duas tabelas ( 3.8 e 3.9). Tal fato

indica que o local onde os jovens dormem coincide com o local eleito como

moradia (isso também pode indicar uma boa consistência dos dados obtidos

na pesquisa).

1,55%

3,02%

0,79%

1,67%

3,89%

10,12%

80,55%

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00

Não informado

Outros

Nas ruas com os parentes

Casa de amigos

Nas ruas, sozinho ou comamigos

Casa de parentes

Casa dos pais

Freqüência (%)

Fonte: Fundação João Pinheiro

|83O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3.8: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local

onde dormem - Minas Gerais – 2007.

Tabela 3.9: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local

de moradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.

Gráfico 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

local de moradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.

Fonte: Fundação João Pinheiro

ONDE DORME A MAIORPARTE DO TEMPO

FREQÜÊNCIA (%)

Casa dos pais 80,55Casa de parentes 10,12Nas ruas, sozinho ou com amigos 3,89Casa de amigos 1,67Nas ruas com os parentes 0,79Outros 3,02Não informado 1,55

Fonte: Fundação João Pinheiro

LOCAL (%)Casa dos pais 80,39Casa de parentes 10,04Nas ruas sozinho 3,96Casa de amigos 1,65Nas ruas com parentes 0,90Outro 3,06TOTAL 100,00

3,06%

0,9%

1,65%

3,96%

10,04%

80,39%

0 20 40 60 80 100 120

Outro

Nas ruas com parentes

Casa de amigos

Nas ruas sozinho

Casa de parentes

Casa dos pais

Fonte: Fundação João Pinheiro (%)

Fonte: Fundação João Pinheiro

84 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Observa-se que, a partir da análise do local onde as crianças dormem

e suas referências de moradia, pode-se classificá-las em pelo menos três

grandes grupos: o primeiro abrange as que se utilizam da rua apenas para o

trabalho propriamente dito e têm casa e família. O segundo grupo é

composto por aqueles que, mesmo tendo a casa dos pais, também pernoitam

na rua e nos logradouros públicos. O terceiro grupo abrange aqueles

provenientes de famílias que já são moradoras de rua e, nesse caso, estão aí

permanentemente.

A pesquisa também registrou o pernoite ou a permanência das

crianças e dos adolescentes em instituições de atendimento. A partir da

tabela 3.10, temos que 13,50% dos entrevistados já moraram/dormiram em

alguma instituição, enquanto 86,50% afirmaram o contrário.

Tabela 3.10: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo

estadia em instituições de atendimento - Minas Gerais – 2007.

A tabela 3.11 mostra a natureza das instituições freqüentadas pelos

jovens que assinalaram “sim” na questão anterior. Ela indica que, dos jovens

que afirmaram já terem dormido em instituições, 40,27% o fizeram em

algum abrigo; ao passo que a opção casa de passagem foi assinalada por

37,25%. Ainda foram citadas as opções casa lar (5,37%), instituição de

medida sócio-educativa (6,38%) e outro (10,74%).

Pernoite ou estadia (%)

Sim 13,50

Não 86,50

TOTAL 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

|85O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3.11: Distribuição das crianças e adolescentes em situação de

rua que pernoitaram em alguma instituição segundo tipo de instituição -

Minas Gerais – 2007.

Quanto ao perfil da convivência familiar dos jovens em trajetória de

rua, procurou-se reproduzir o panorama dessa questão também com base na

situação por municípios mineiros. Conforme as tabelas 3.12 e 3.13, a

maioria das crianças e dos adolescentes nos municípios pesquisados

declarou morar com a mãe ou só com a mãe.

Tipo de Instituição (%)

Abrigo 40,27

Casa de passagem 37,25

Casa lar 5,37

Instituição de medida sócio-educativa 6,38

Outro 10,74

TOTAL 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

86 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3. 12: Crianças e adolescentes em situação de rua que declararam

morar só com a mãe, só com o pai, só com os avós, por município - Minas

Gerais – 2007.

Tabela 3.13: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo pessoas

com quem moram, por município - Minas Gerais – 2007.

MUNICÍPIOS MÃE PAI IRMÃOS AVÓS TIOSOUTROS

PARENTESOUTROS

Almenara 19,09 3,64 2,73 14,55 2,73 0,00 1,82Belo Horizonte 14,79 1,85 1,56 4,27 1,00 1,28 3,13Betim 7,41 7,41 3,70 9,26 0,00 3,70 7,41Contagem 16,67 0,72 2,17 1,45 0,72 1,45 2,90Divinópolis 7,35 0,74 0,74 4,41 0,74 1,47 5,88Gov. Valadares 19,27 1,83 7,34 5,50 0,92 0,00 5,50Ibirité 9,87 1,97 1,32 5,26 0,00 1,97 1,32Ipatinga 7,41 4,94 0,82 2,47 1,65 1,23 2,06Janaúba 10,71 3,57 0,00 17,86 0,00 0,00 3,57Januária 5,41 0,00 5,41 5,41 0,00 0,00 5,41Juiz de Fora 15,38 0,00 2,56 5,13 2,56 0,00 5,13Montes Claros 7,48 2,72 1,36 10,20 2,04 0,00 2,04Muriaé 19,09 2,73 2,73 9,09 0,00 0,91 0,91Ouro Preto 19,05 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 4,76Poços de Caldas 11,54 0,00 3,85 7,69 3,85 0,00 11,54Ribeirão das Neves 7,14 0,00 1,43 4,29 2,86 0,00 1,43Sabará 14,75 6,56 0,00 1,64 0,00 0,00 0,00Santa Luzia 11,11 0,00 0,00 0,00 1,85 3,70 0,00Teófilo Otoni 17,95 2,56 1,28 10,26 0,00 1,28 2,56Uberaba 4,83 1,38 1,38 6,90 2,76 2,07 1,38Uberlândia 16,67 0,00 0,00 5,56 0,00 5,56 0,00Média Total 12,51 2,26 1,82 5,57 1,17 1,17 2,86

Fonte: Fundação João Pinheiro

Fonte: Fundação João Pinheiro

MUNICÍPIOS MÃE (%) PAI (%)IRMÃOS

(%)AVÓS (%)

TIOS(%)

OUTROSPARENTES (%)

OUTROS (%)

TOTAL (%)

Almenara 36,79 23,58 21,23 13,21 2,83 0,47 1,89 100,00Belo Horizonte 38,91 18,35 29,17 4,77 2,62 3,49 2,69 100,00Betim 31,30 26,96 28,70 4,35 1,74 2,61 4,35 100,00Contagem 39,93 22,53 26,62 3,07 2,05 1,37 4,44 100,00Divinópolis 36,13 25,81 27,74 2,90 0,97 1,61 4,84 100,00Gov. Valadares 38,97 16,90 30,52 5,63 1,88 0,94 5,16 100,00Ibirité 35,85 25,21 26,89 5,60 2,52 2,52 1,40 100,00Ipatinga 35,14 27,57 28,65 2,34 2,16 1,98 2,16 100,00Janaúba 35,59 30,51 23,73 8,47 0,00 0,00 1,69 100,00Januária 36,47 25,88 30,59 3,53 0,00 0,00 3,53 100,00Juiz de Fora 36,36 19,32 29,55 4,55 3,41 2,27 4,55 100,00Montes Claros 33,44 24,54 27,91 8,59 1,53 0,92 3,07 100,00Muriaé 39,65 18,06 26,87 8,81 1,76 0,88 3,96 100,00Ouro Preto 40,00 22,00 24,00 4,00 0,00 2,00 8,00 100,00Poços de Caldas 29,63 18,52 22,22 12,96 3,70 0,00 12,96 100,00Ribeirão dasNeves

35,09 21,05 30,99 4,09 2,92 3,51 2,34 100,00

Sabará 39,69 23,66 29,01 3,82 0,76 1,53 1,53 100,00Santa Luzia 37,98 20,16 27,91 3,10 3,88 4,65 2,33 100,00Teófilo Otoni 38,56 20,92 23,53 11,76 1,31 1,31 2,61 100,00Uberaba 35,65 18,73 30,21 7,85 1,51 3,63 2,42 100,00Uberlândia 42,11 21,05 28,95 5,26 0,00 2,63 0,00 100,00Média Total 37,16 21,78 28,08 5,53 2,10 2,30 3,05 100,00

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Sabendo que a presença materna corresponde a um referencial

determinante na vida de crianças e adolescentes, a pesquisa obteve

informações acerca de alguns perfis da figura materna dos jovens em

situação ou trajetória de rua. A pesquisa procurou identificar as ocupações

e/ou atividades desenvolvidas pela mãe desses jovens. A tabela 3.14

apresenta a relação das mães dos jovens entrevistados com o trabalho na rua,

se elas aí trabalham ou não. A partir dela, temos que apenas 20,11% dos

entrevistados afirmaram que suas mães trabalham na rua, enquanto 77,19%

afirmaram o contrário.

Tabela 3.14: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo

trabalho nas ruas das mães - Minas Gerais – 2007.

Das mães que trabalham na rua, procurou-se saber quais as

atividades desenvolvidas de forma a identificar as mais recorrentes no

ambiente de rua. A tabela 3.15 mostra que 46,81% das mães que trabalham

exercem a função de vendedora ambulante. Já as que catam

papel/latas/plástico representam 23,19%. As que pedem na rua representam

22,55%. Ainda foram listadas as atividades de guardadora de carros

(4,04%), lavadora de carros (1,49%), distribuidora de panfletos (1,49%),

lavadora de pára-brisa (0,85%), malabarista (0,64%) e garota de programa

(0,64%). Outras opções não listadas acima somaram 4,47%, e 9,57% dos

entrevistados não informaram a atividade das mães.

Fonte: Fundação João Pinheiro

MÃES QUE TRABALHAMNAS RUAS

OCORRÊNCIAS % DE MÃES

Sim 470 20,11Não 1804 77,19Não informado 63 2,70TOTAL 2337 100,00

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Tabela 3.15: Distribuição das ocupações das mães de crianças e

adolescentes em situação de rua que também trabalham nas ruas - Minas

Gerais – 2007.

A tabela 3.16 aponta a distribuição percentual das mães dos jovens

em situação ou trajetória de rua que também aí trabalham e não exercem

outros trabalhos, de acordo com os municípios de Minas Gerais. Em todas as

cidades, a maioria das mães não exerce atividades de trabalho na rua. A

média total de todos os municípios pesquisados para as mães que também

trabalham na rua é de 20,65%. É de 79,35% a média total para as mães que

também não trabalham na rua para os mesmos municípios.

Ocupação Freqüência (%)

Vendedora ambulante 46,81

Catadora de papel/ latas/ plástico 23,19

Pede 22,55

Guardadora de carros 4,04

Lavadora de carros 1,49

Distribuidora de panfletos/ propaganda 1,49

Lavadora de pára-brisa 0,85

Faz "malabarismo" 0,64

Garota de programa (exploração sexual) 0,64

Outros 4,47

Não Informado 9,57

Fonte: Fundação João Pinheiro

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Tabela 3.16: Mães das crianças e dos adolescentes em situação de

rua que também trabalham na rua, por município - Minas Gerais – 2007.

Fonte: Fundação João Pinheiro

MUNICÍPIOS SIM (%) NÃO (%) TOTAL (%)Almenara 11,76 88,24 100,00Belo Horizonte 27,84 72,16 100,00Betim 13,73 86,27 100,00Contagem 30,77 69,23 100,00Divinópolis 13,18 86,82 100,00Gov. Valadares 17,31 82,69 100,00Ibirité 27,03 72,97 100,00Ipatinga 21,70 78,30 100,00Janaúba 11,54 88,46 100,00Januária 3,13 96,88 100,00Juiz de Fora 17,95 82,05 100,00Montes Claros 11,85 88,15 100,00Muriaé 15,69 84,31 100,00Ouro Preto 0,00 100,00 100,00Poços de Caldas 4,17 95,83 100,00Ribeirão das Neves 19,40 80,60 100,00Sabará 18,97 81,03 100,00Santa Luzia 22,00 78,00 100,00Teófilo Otoni 12,82 87,18 100,00Uberaba 17,61 82,39 100,00Uberlândia 11,76 88,24 100,00Média total 20,65 79,35 100,00

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3.4 RELAÇÃO COMA ESCOLA

Nesra seção será discutida a relação de

crianças e adolescentes em situação de

rua com a educação. Será enfocado o

acesso, a percepção dos pesquisados

sobre a escola e a relação entre ela e o

trabalho. A tabela 3.17 mostra que, tal como ocorre com o

trabalho infantil em geral, a maioria das crianças em

situação de rua (quase 76%) freqüenta a escola. A menor

freqüência à escola é dos entrevistados que afirmaram

trabalhar o dia todo (39,15% do total). Os entrevistados que

trabalham no turno da manhã obtiveram o maior índice de

freqüência às escolas: 87,50%. Já o segundo maior índice

de crianças e adolescentes que estudam está no grupo dos

que trabalham no turno da tarde: 87,31%.

Dos entrevistados que afirmaram trabalhar nos

turnos da manhã e noite, 82,35% afirmaram que estudam.

Em seguida, no horário de trabalho dos turnos da tarde e

noite, 78,26% dos jovens afirmaram estudar. Quanto aos

horários de trabalho, é nos turnos da manhã e da tarde que o

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índice de freqüência à escola cai para 70,43%. Finalmente, das crianças e

dos adolescentes que trabalham no turno da noite, 68,51% afirmaram que

freqüentam a escola.

Tabela 3.17: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo

horário de trabalho por freqüência à escola- Minas Gerais - 2007.

A tabela 3.18 indica o percentual de meninos e meninas em situação

de rua, de zero a 17 anos, que estudam e não estudam. Uma observação geral

faz notar que, de zero anos a sete-oito anos, os percentuais de crianças e

adolescentes que estudam é em geral crescente. Por outro lado, é

decrescente o percentual de jovens que estudam com idade aproximada de

dez-11 a 17 anos, faixa etária correspondente ao período de adolescência

Freqüência à escolaPeríodo de

trabalhoSim (%) Não (%)

Não Informado

(%)

Número de

entrevistados

Manhã 87,50 10,63 1,87 536

Tarde 87,31 11,38 1,31 536

Manhã e tarde 70,43 27,82 1,75 399

Dia todo 39,15 59,91 0,94 212

Noite 68,51 28,18 3,31 181

Tarde e noite 78,26 20,50 1,24 161

Manhã e noite 82,35 15,69 1,96 51

Não informado 70,65 26,64 2,71 443

TOTAL 75,66 22,47 1,87 2.519

Fonte: Fundação João Pinheiro

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dos entrevistados.

Tabela 3.18: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

idade, por freqüência à escola – Minas Gerais - 2007.

Freqüência à escola

Idade Sim (%) Não (%)

0 - 100,00

1 - 100,00

2 - 100,00

3 8,30 91,70

4 11,80 88,20

5 23,10 76,90

6 66,70 33,30

7 86,40 13,60

8 84,50 15,50

9 94,20 5,80

10 89,70 10,30

11 90,10 9,90

12 89,70 10,30

13 85,90 14,10

14 84,40 15,60

15 76,40 23,60

16 68,30 31,70

17 62,73 37,27

Fonte: Fundação João Pinheiro

|93O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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A tabela 3.19 mostra a freqüência à escola por município. Pode-se

aferir que as cidades com melhor índice de freqüênciasão Januária (92,11%

do total de entrevistados) e Ouro Preto (90,48% de freqüência).

Em contrapartida, as cidades onde houve as menores incidências de

freqüência à escola foram Uberlândia (58,82% dos jovens) e Poços de

Caldas, com 60,71% do total. O total global para municípios mineiros de

freqüência à escola pelos alunos aponta que a maioria (75,66%) freqüenta a

escola, à minoria cabe a porção de 22,47% que não a freqüenta.

Tabela 3.19: Crianças e adolescentes em situação de rua, por município,

segundo freqüência à escola – Minas Gerais - 2007.

Freqüênciaà escola

Municípios

Sim (%) Não (%) Não Informado (%)

Número de

Entrevistados

Januária 92,11 5,26 2,63 38

Ouro Preto 90,48 9,52 - 21

Uberaba 86,27 11,76 1,96 153

Montes Claros 84,83 13,10 2,07 145

Ipatinga 83,20 15,57 1,23 244

Almenara 82,88 15,32 1,80 111

Janaúba 82,14 14,29 3,57 28

Ibirité 81,94 17,42 0,65 155

Sabará 80,95 14,29 4,76 63

Betim 80,36 19,64 - 56

Muriaé 80,00 14,55 5,45 110

Teófilo Otoni 79,07 18,60 2,33 86

Ribeirão das Neves 78,87 18,31 2,82 71

Santa Luzia 75,93 16,67 7,41 54

Divinópolis 75,91 21,17 2,92 137

Governador Valadares 75,89 23,21 0,89 112

Contagem 75,71 20,00 4,29 140

Juiz de Fora 74,36 25,64 - 39

Belo Horizonte 63,57 35,72 0,70 711

Poços de Caldas 60,71 39,29 - 28

Uberlândia 58,82 41,18 - 17

Total Global 75,66 22,47 1,87 2519

Fonte: Fundação João Pinheiro

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A pesquisa registrou também a relação de crianças e adolescentes

com a escola, como avaliam seu local de estudo.Atabela 3.20 e o gráfico 3.5

indicam que menos de um por cento dos entrevistados (0,87%) afirmam

detestá-lo, e 5,20% relataram que não gostam da sua escola. O índice de

indiferença também se aproxima do índice dos que não gostam: 6,55% do

total. De acordo com a pesquisa, a maioria das crianças e dos adolescentes

em situação ou trajetória de rua gosta da escola. Essa freqüência chega a

45,69% do total. 17,19% informaram também que gostam muito do local de

estudos. O percentual de crianças e adolescentes que não responderam a essa

pergunta foi de 24,49%.

É relevante salientar o fato de a maioria dos entrevistados, 62,88%,

gostarem da escola. Como não pode ser priorizada por esses jovens, acaba

gerando baixo aproveitamento das oportunidades oferecidas. Essas

circunstâncias podem gerar um tipo de ciclo vicioso em que as crianças e os

adolescentes que trabalham na rua nunca poderão aproveitar de maneira

satisfatória os benefícios da educação escolar.

Tabela 3.20: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes

em situação de rua - Minas Gerais – 2007.

O que acha da escola Freqüência (%)

Gosta muito 17,19

Gosta 45,69

Tanto faz 6,55

Não gosta 5,20

Detesta 0,87

Não Informado 24,49

Fonte: Fundação João Pinheiro

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Gráfico 3.5: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes

em situação de rua - Minas Gerais – 2007.

24,49%

0,87%

5,20%

6,55%

17,19%

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00

Detesta

Não gosta

Tanto faz

Gosta

Freqüência (%)

45,69%

Não Informado

Gosta muito

Fonte: Fundação João Pinheiro

96 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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3.5 TRABALHO

Visando a identificar o que essas

crianças e esses adolescentes fazem na

rua, foram colhidos dados que

tipificam as atividades que lhes dão

algum retorno financeiro.A tabela 3.21 apresenta o tipo de atividade desenvolvida,

em termos de percentual para cada tipo por cidade. Pode-se

perceber que a maior incidência de jovens engraxates

encontra-se em Janaúba. 21,43% de suas crianças e seus

adolescentes informam que ganham dinheiro com essa

atividade.

Teófilo Otoni é a cidade com maior recorrência de

crianças e adolescentes lavadores de carros (19,77%).

Catadores de papel são proporcionalmente mais freqüentes

em Ibirité, onde 40,00% dos jovens trabalhando na rua

alegam desempenhar tal atividade. Já as crianças e os

adolescentes malabaristas (geralmente nos sinais de

trânsito) se concentram mais na capital, com 11,25% de

incidência. Panfletistas são destaque em Betim, região

metropolitana de Belo Horizonte, com 12,50% dos casos.

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O único município onde que não houve ocorrência de pedintes é Janaúba.

Poços de Caldas, no sul de Minas, é, entretanto ,a cidade com a maior

proporção dessa atividade: 32,14%. E é aí também onde se encontra a maior

incidência de crianças e adolescentes na rua vendendo drogas, um

percentual de 14,29%. Teófilo Otoni também é responsável pela maior

concentração de jovens carregadores de sacolas: 43,02% dos casos da

cidade.

A tabela 3.21 permite aferir que vendedor ambulante é a única

atividade recorrente em todas as cidades mineiras onde foram feitas as

entrevistas. Juiz de Fora é o município com maior incidência proporcional

de jovens vendedores ambulantes: 71,79% dos entrevistados.Muriaé é o

principal quanto a crianças e adolescentes que se prostituem: 7,27% de

ocorrências. Já a incidência de crianças e adolescentes que praticam

roubos/furtos foi maior, novamente, em Poços de Caldas: 7,14% dos casos.

Ribeirão das Neves foi o município onde houve o maior número de casos em

que a atividade desempenhada não constava da lista de opções: 33,80% dos

casos.

Tabela 3. 21: Tipo de atividade desenvolvida para ganhar dinheiro,

população infantil de rua, por cidade, Minas Gerais – 2007.

O QUE FAZ NAS RUAS? (0%)MUNICÍPIOS

A B C D E F G H I J K L M NAlmenara 9,91 0,90 1,80 - 1,80 - - 7,21 1,80 22,52 53,15 - 3,60 13,51Belo Horizonte 0,98 5,91 3,80 11,25 9,85 13,22 2,39 20,96 0,28 7,03 24,61 0,14 3,38 6,33Betim 1,79 3,57 1,79 1,79 12,50 16,07 - 28,57 - 3,57 50,00 1,79 - 14,29Contagem - 7,14 5,71 3,57 6,43 21,43 1,43 16,43 0,71 4,29 35,71 2,86 - 10,00Divinópolis - 2,92 12,41 - 3,65 3,65 - 1,46 2,19 - 51,09 1,46 - 14,60Gov. Valadares 13,39 11,61 3,57 - 2,68 13,39 3,57 8,04 0,89 9,82 32,14 - - 16,96Ibirité - 3,23 40,00 - 1,94 6,45 - 4,52 - 3,23 36,13 1,29 - 19,35Ipatinga 1,23 4,92 8,61 - 5,33 10,25 1,23 3,69 0,82 3,69 56,56 2,05 0,41 12,30Janaúba 21,43 - 14,29 - - 10,71 - - - - 53,57 - - 17,86Januária 10,53 5,26 - - - 7,89 - 5,26 - - 60,53 - - 5,26Juiz de Fora - 2,56 2,56 - 5,13 5,13 - 12,82 - - 71,79 - - 2,56Montes Claros 2,76 9,66 8,97 0,69 - 18,62 0,69 4,14 - 22,07 42,76 - - 22,07Muriaé 4,55 3,64 17,27 - 6,36 0,91 - 18,18 - 5,45 33,64 7,27 - 27,27Ouro Preto 4,76 - - - 4,76 - 19,05 - 19,05 47,62 - - 28,57Poços de Caldas 10,71 7,14 10,71 - - - - 32,14 14,29 - 50,00 3,57 7,14 3,57Ribeirão dasNeves

- 4,23 4,23 - - 22,54 - 2,82 2,82 22,54 30,99 - 1,41 33,80

Sabará - 4,76 4,76 - 4,76 31,75 3,17 12,70 1,59 9,52 38,10 - 1,59 17,46Santa Luzia - 1,85 5,56 - 5,56 12,96 1,85 5,56 - 20,37 44,44 - - 14,81Teófilo Otoni 2,33 19,77 1,16 - - 36,05 1,16 13,95 - 43,02 18,60 2,33 - 11,63Uberaba - 0,65 0,65 - 1,96 43,14 0,65 7,84 0,65 - 28,10 - - 8,50Uberlândia 5,88 - - - 11,76 52,94 - 17,65 - 11,76 23,53 - - -

Fonte: Fundação João Pinheiro

98 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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LEGENDA(tabela 3.21)

A pesquisa também buscou aferir a periodicidade do trabalho

realizado por crianças e adolescentes. 22,95% o fazem todos os dias da

semana, o que representa a maior freqüência entre as respostas (tabela

3.22). Em seguida, a maior recorrência (16,36%) se dá para aqueles que

trabalham apenas uma vez por semana, enquanto 14,93% dos entrevistados

afirmaram trabalhar duas vezes por semana.

Afreqüência de quem trabalha cinco vezes por semana corresponde

a 12,47% do total. É seguida por quem trabalha seis e três vezes por semana,

com 11,59% e 10,80% do total respectivamente. O menor índice foi

encontrado por quem afirmou trabalhar quatro vezes por semana, 4,57% do

total de entrevistados. Ressalta-se, ainda, que 6,35% dos entrevistados

ocupam o campo não informado da pesquisa.

Os dados obtidos revelam que 47,01% dos entrevistados trabalham

de cinco a sete vezes por semana. Isso pode caracterizar uma dependência

do próprio trabalho. Ou seja, como muitos informaram que o dinheiro

ganho na rua destina-se a ajudar nas despesas de casa, pode-se entender que

ele só é suficiente quando o jovem trabalha em média de cinco a sete vezes

por semana.

a) Engraxate h) Pede

b) Lavador de carros i) Vende drogas

c) Catador de papel j) Carregador de sacolas

d) Malabarismo k) Vendedor ambulante

e) Panfletista l) Faz programas

f) Guardador de carros m) Rouba/ furta

g) Lavador de pára-brisa n) Outros

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Tabela 3. 22: Freqüência semanal ao trabalho de crianças e adolescentes em

situação de rua- Minas Gerais – 2007.

De acordo com a Tabela 3.23, vendedor ambulante é a atividade

desempenhada com mais freqüência (37,08%) pelos entrevistados. Em

seguida, aparecem os guardadores/vigias (14,85%) e os pedintes (12,27%).

Crianças e adolescentes catadores de papel somam 9,05% da pesquisa, e

carregadores de sacolas aparecem com 8,81% do total. Lavadores de carros

e lavadores de pára-brisas possuem, respectivamente, 5,48% e 1,27% do

total de respostas aferidas. A freqüência de panfletistas foi de 5,24%;

malabaristas em sinais, 3,45%, e engraxates, 2,82% do total das respostas.

Crianças e adolescentes na rua para roubar, prostituirem-se ou

vender drogas representam 1,31%, 1,03% e 0,75% respectivamente. Outras

atividades, não listadas como opções do questionário, somam 12,86% do

total da pesquisa.

Frequência

freqüência semanal ao trabalho Absoluta (%)

1 vez 412 16,36

2 vezes 376 14,93

3 vezes 272 10,80

4 vezes 115 4,57

5 vezes 314 12,47

6 vezes 292 11,59

Todos os dias 578 22,95

Não Informado 160 6,35

Fonte: Fundação João Pinheiro

100 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3.23: Atividades desenvolvidas por crianças e adolescentes em

situação de rua -Minas Gerais – 2007.

A pesquisa também obteve informações acerca dos horários em que

crianças e adolescentes trabalham na rua, como mostra a tabela 3.24. De

acordo com os dados, o número de ocorrências (e a freqüência) de crianças e

adolescentes que trabalham nos turnos da manhã ou da tarde é quase o

mesmo, totalizam 537 e 540 respectivamente. É grande a quantidade de

ocorrências para os mesmos dois turnos (“manhã e tarde”). A mais baixa

Frequência

O que faz para ganhar dinheiro? Absoluta (%)

Vendedor ambulante 934 37,08

Guardador de carros 374 14,85

Pede 309 12,27

Catador de papel 228 9,05

Carregador de sacolas 222 8,81

Lavador de carros 138 5,48

Panfletista 132 5,24

Malabarismo 87 3,45

Engraxate 71 2,82

Roubos/ furtos 33 1,31

Lavador de para brisas 32 1,27

Programas sexuais 26 1,03

Vende drogas 19 0,75

Outros 324 12,86

Fonte: Fundação João Pinheiro

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porção percentual (coluna “freqüência”) pertence ao quesito “manhã e

noite”: 2,40%, ou 51 ocorrências.Essa grande concentração da jornada de trabalho desses jovens no período da

manhã e da tarde pode ser mais bem compreendida pela própria concepção

de 'horário comercial'. A maior circulação de pessoas e carros se dá nesse

horário, o que torna o ambiente ideal para o desempenho de suas funções

comerciais. Constatou-se que muitos entrevistados percebem sua situação

como uma profissão, já que saem às ruas para trabalhar e ganhar dinheiro no

horário comercial.

Tabela 3.24: Horário de trabalho de crianças e adolescentes em

situação de rua - Minas Gerais – 2007.

A tabela 3.25 aponta os mesmos turnos de trabalho dos jovens distribuídos

por cidade. O da tarde (somente tarde) é o mais alocado pelos jovens em

situação de rua com a finalidade de trabalho: compõe 25,90% do total de

turnos alocados para a mesma finalidade. Em seguida, e muito próximo,

encontra-se o turno da manhã (25,70% ). Apenas 2,40% dos entrevistados

Freqüência

Horário de trabalho Absoluta (%)

Manhã 537 25,70

Tarde 540 25,90

Manhã e tarde 399 19,10

Dia todo 211 10,10

Noite 182 8,70

Tarde e noite 166 8,00

Manhã e noite 51 2,40

Fonte: Fundação João Pinheiro

102 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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afirmam trabalhar de manhã e à noite.Buscou-se aferir também qual o destino do dinheiro ganho na rua.

De acordo com a tabela 3.26, 33,55% dos jovens afirmaram que o entregam

aos pais, e 30,85% o utilizam o consumo próprio . Em seguida, 13,50%

afirmam que compram comida para casa, e 3,18% usam o dinheiro para

ajudar em outras despesas domésticas como contas, por exemplo. Amesma

criança pode ter respondido mais de uma opção.

5,36% das crianças e dos adolescentes entrevistados priorizam

gastar o dinheiro na própria rua, com diversão e afins. 5,56% informam que

o gastam com outras coisas não integrantes do questionário. De acordo com

a tabela 3.26, 50,23% dos gastos de crianças e adolescentes em situação de

rua têm como destino a própria família. Isso pode significar que esses

jovens são responsáveis por parte do sustento da casa.

Tabela 3.25: Horário de trabalho nas ruas, população infantil de rua,

municípios pesquisados, Minas Gerais – 2007.

MUNICÍPIOSMANHÃ

(%)TARDE

(%)NOITE

(%)

DIATODO

(%)

MANHÃE TARDE

(%)

MANHÃE

NOITE(%)

TARDE ENOITE

(%)

TOTAL(%)

Almenara 59,30 29,60 4,90 4,90 1,20 0,00 0,00 100,00Belo Horizonte 15,50 18,60 10,00 14,30 27,40 2,00 12,20 100,00Betim 32,50 32,50 7,50 27,50 0,00 0,00 0,00 100,00Contagem 22,50 31,50 7,20 8,10 23,40 0,90 6,30 100,00Divinópolis 28,30 46,50 10,10 6,10 7,10 0,00 2,00 100,00Gov. Valadares 33,90 33,90 16,10 6,50 8,10 0,00 1,60 100,00Ibirité 29,90 29,90 10,40 4,20 18,80 0,00 6,90 100,00Ipatinga 37,70 32,60 5,10 2,90 15,40 1,70 4,60 100,00Janaúba 12,50 37,50 6,30 25,00 12,50 0,00 6,30 100,00Januária 39,10 34,80 0,00 4,30 21,70 0,00 0,00 100,00Juiz de Fora 61,10 2,80 5,60 2,80 27,80 0,00 0,00 100,00Montes Claros 31,20 27,30 10,40 3,90 16,90 2,60 7,80 100,00Muriaé 22,70 28,90 7,20 7,20 16,50 9,30 8,20 100,00Ouro Preto 38,90 38,90 0,00 5,60 16,70 0,00 0,00 100,00Poços de Caldas 7,70 23,10 11,50 11,50 30,80 3,80 11,50 100,00Ribeirão dasNeves

23,90 21,10 2,80 21,10 21,10 2,80 7,00 100,00

Sabará 21,30 14,80 19,70 13,10 11,50 3,30 16,40 100,00Santa Luzia 29,40 23,50 0,00 9,80 35,30 0,00 2,00 100,00Teófilo Otoni 13,30 33,70 9,60 9,60 14,50 7,20 12,00 100,00Uberaba 29,10 23,00 10,10 8,80 11,50 8,10 9,50 100,00Uberlândia 29,40 29,40 0,00 23,50 11,80 0,00 5,90 100,00Total 25,70 25,90 8,70 10,10 19,10 2,40 8,00 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

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Tabela 3.26: Prioridade dos gastos com o dinheiro que ganha nas

ruas, população infantil de rua, Minas Gerais – 2007.

O que faz com o dinheiro Ocorrências Freqüência (%)

Dá para os pais 845 33,55

Compra coisas para você mesmo 777 30,85

Compra comida para casa 340 13,50

Outros 140 5,56

Gasta na rua com diversão 135 5,36

Compra coisas para casa 80 3,18

Não Informado 202 8,02

TOTAL 2519 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

104 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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3.6 PARTICIPAÇÃO EMPROGRAMAS

O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Com o interesse de verificar qual a

abrangência dos programas e benefícios

sociais realizados pelo governo, coletou-

se dos entrevistados dados sobre a

participação e/ou o cadastramento das

famílias de crianças e adolescentes em programas sociais,

como se pode ver na tabela 3.27.

Entre os benefícios recebidos, o Bolsa Família, do

Governo Federal, foi o mais recorrente (44,54%). O

percentual de famílias que não recebem beneficio algum do

governo foi de 29,18%. 8,50% das crianças e dos

adolescentes entrevistados não sabiam informar se sua

família recebia assistência ou não.

O percentual de crianças e adolescentes informando

que sua família recebe aposentadoria foi de 5,12%. O

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)

aparece com 1,39% do total dos entrevistados, e famílias

que recebem cestas básicas somam 3,57% da pesquisa. O

Beneficio de Prestação Continuada (Loas) corresponde a

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106 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

0,52%, e outros benefícios citados como opções do questionário

representam 2,46% do total da pesquisa. Obtiveram-se, também, 4,72% de

respostas nas quais rianças e adolescentes entrevistados não informaram se

recebiam algum beneficio. Nota-se que o Bolsa Família possui grande

adesão entre as famílias:, mais de 75,00% dos entrevistados freqüentam a

escola, o que atende às exigências do programa.

A tabela 3.28 faz uma análise por cidade do alcance dos benefícios

nos municípios integrantes da pesquisa. Nesse sentido, começando pelos

entrevistados cujas famílias recebem aposentadoria, o maior número de

ocorrências foi em Teófilo Otoni — 16,28% dos jovens responderam sim —

e o mais baixo foi em Governador Valadares, com 0,89% do total.

O Bolsa Família foi o único presente em todas as cidades

entrevistadas. O menor índice de famílias beneficiadas foi registrado em

Governador Valadares, 22,32% do total, e o maior ficou em Montes Claros,

62,76%.

Entre as cidades em que o entrevistado informou que a família recebe

cestas básicas, a maior incidência está em Betim, com 16,07% dos casos.

Montes Claros teve o menor registro, 0,69% do total. Já Janaúba, Januária,

Ouro Preto, Poços de Caldas e Uberlândia não tiveram qualquer registro.

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) obteve o

maior índice em Teófilo Otoni, com 5,81% do total. O menor índice ficou em

Uberaba, com 0,65%. Quanto ao Beneficio de Prestação Continuada (Loas),

os percentuais encontrados são semelhantes aos do Peti: ocorrendo apenas

em alguns municípios. Das crianças e dos adolescentes que não sabiam se a

família recebia beneficio ou não, Uberaba obteve o maior índice, 24,84% do

total da pesquisa.

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|107O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

A tabela 3.29 permite a visualização da cobertura dos programas sociais

entre as famílias das crianças em situação de rua nos municípios

pesquisados. Isso porque ela associa duas variáveis: “jovem freqüenta

escola” e “família da criança e adolescente recebe benefício”. Temos, por

exemplo, que Ouro Preto apresenta 68,42% de jovens que freqüentam a

escola e cuja família é beneficiária. A cidade que menos segue essa relação

entre “família recebe bolsa família” e “membro jovem da família freqüenta

escola” é Betim. Ela apresenta apenas 22,22% de crianças e adolescentes

que freqüentam a escola e cuja família é beneficiária do Bolsa Família.

Tabela 3. 27: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas

famílias de crianças e adolescentes em situação de rua, Minas Gerais – 2007.

Benefício Recebido Ocorrências Freqüência (%)

Bolsa família 1122 44,54

Não recebe 735 29,18

Não sabe 214 8,50

Aposentadoria 129 5,12

Cesta básica 90 3,57

Outros 62 2,46

PETI 35 1,39

LOAS 13 0,52

Não informado 119 4,72

TOTAL 2519 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

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Tabela3. 28: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas

famílias de crianças e adolescentes em situação de rua, por município -

Minas Gerais – 2007.

BENEFÍCIO RECEBIDO

MUNICÍPIOS APOSENTADORIABOLSAFAMÍLIA

CESTABÁSICA

PETI LOAS OUTROSNÃORECEBE

NÃOSABE

NÃOINFORMADO

NÚMERO DEENTREVISTADOS

Almenara 3,60 35,14 7,21 2,70 2,70 1,80 6,31 11,71 39,64 111Belo Horizonte 3,66 43,60 3,52 0,98 0,56 2,25 38,82 8,58 3,80 711Betim 7,14 25,00 16,07 3,57 1,79 8,93 8,93 8,93 42,86 56Contagem 7,14 37,86 3,57 2,14 - 7,14 25,71 3,57 21,43 140Divinópolis 5,11 40,15 1,46 0,73 0,73 1,46 35,04 4,38 14,60 137GovernadorValadares

0,89 22,32 0,89 1,79 - 0,89 12,50 17,86 42,86 112

Ibirité 1,29 44,52 5,16 - - 2,58 40,65 9,03 1,94 155Ipatinga 5,33 47,54 2,46 - - 1,64 29,51 4,10 14,75 244Janaúba 10,71 60,71 - - - 3,57 10,71 10,71 10,71 28Januária - 60,53 - 5,26 - - 28,95 2,63 7,89 38Juiz de Fora - 46,15 7,69 2,56 - - 30,77 10,26 5,13 39Montes Claros 6,21 62,76 0,69 2,07 - 2,07 20,00 1,38 8,28 145Muriaé 12,73 62,73 6,36 - - - 12,73 6,36 7,27 110Ouro Preto 4,76 61,90 - - - - 28,57 4,76 - 21Poços deCaldas

14,29 25,00 - - - 10,71 42,86 3,57 14,29 28

Ribeirão dasNeves

5,63 52,11 5,63 1,41 - 1,41 32,39 2,82 8,45 71

Sabará 12,70 58,73 9,52 4,76 - 1,59 19,05 4,76 9,52 63Santa Luzia 1,85 31,48 1,85 1,85 1,85 1,85 37,04 22,22 1,85 54Teófilo Otoni 16,28 51,16 1,16 5,81 1,16 3,49 17,44 5,81 9,30 86Uberaba 1,96 40,52 1,96 0,65 0,65 0,65 32,03 24,84 - 153Uberlândia 5,88 35,29 - - 5,88 - 47,06 5,88 - 17

Fonte: Fundação João Pinheiro

108 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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|109O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Tabela 3.29: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

recebimento do Bolsa Família e freqüência à escola, por município- Minas

Gerais – 2007.

Fonte: Fundação João Pinheiro

Municípios Freqüenta a Escola? Família recebe Bolsa Família

Sim Não

Sim 33 59

(%) 35,87 64,13

Não 4 13Almenara

(%) 23,53 76,47

Sim 224 236

(%) 48,70 51,30

Não 85 172Belo Horizonte

(%) 33,07 66,93

Sim 10 35

(%) 22,22 77,78

Não 4 7Betim

(%) 36,36 63,64

Sim 46 62

(%) 42,59 57,41

Não 7 21Contagem

(%) 25,00 75,00

Sim 43 62

(%) 40,95 59,05

Não 11 18Divinópolis

(%) 37,93 62,07

Sim 21 65

(%) 24,42 75,58

Não 4 22Gov. Valadares

(%) 15,38 84,62

Sim 57 70

(%) 44,88 55,12

Não 11 16Ibirité

(%) 40,74 59,26

Sim 107 97

(%) 52,45 47,55

Ipatinga

Não 7 31

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Fonte: Fundação João Pinheiro

110 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Sim 14 9

(%) 60,87 39,13

Não 2 2Janaúba

(%) 50,00 50,00

Sim 23 12

(%) 65,71 34,29

Não 0 2Januária

(%) 0,00 100,00

Sim 13 16

(%) 44,83 55,17

Não 5 5Juiz de Fora

(%) 50,00 50,00

Sim 83 43

(%) 65,87 34,13

Não 7 14Montes Claros

(%) 33,33 66,67

Sim 58 30

(%) 65,91 34,09

Não 7 9Muriaé

(%) 43,75 56,25

Sim 13 6

(%) 68,42 31,58

Não 0 2Ouro Preto

(%) 0,00 100,00

Sim 6 11

(%) 35,29 64,71

Não 1 10Poços de Caldas

(%) 9,09 90,91

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Sim 31 25

(%) 55,36 44,64

Não 6 7Ribeirão das Neves

(%) 46,15 53,85

Sim 32 19

(%) 62,75 37,25

Não 4 5Sabará

(%) 44,44 55,56

Sim 14 28

(%) 33,33 66,67

Não 3 6Santa Luzia

(%) 33,33 66,67

Sim 38 31

(%) 55,07 44,93

Não 5 11Teófilo Otoni

(%) 31,25 68,75

Sim 54 79

(%) 40,60 59,40

Não 5 13Uberaba

(%) 27,78 72,22

Sim 5 5

(%) 50,00 50,00

Não 1 6Uberlândia

(%) 14,29 85,71

Fonte: Fundação João Pinheiro

|111O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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3.7 SAÚDE | VIOLÊNCIA

Crianças e ado lescen te s fo ram

perguntados se possuíam algum

problema de saúde. Ao todo, 2466

crianças responderam à questão, sendo

que 398 — 16,14% do total —

afirmativamente. O município que apresentou

relativamente o maior número de crianças com problemas

de saúde foi Januária, com 30,30% ( tabela 3.30).

112 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Tabela 3.30: Crianças e adolescentes em situação de rua com algum

problema de saúde, Minas Gerais – 2007.

Municípios Sim Total* %

Almenara 10 108 9,26

Belo Horizonte 100 692 14,45

Betim 12 53 22,64

Contagem 29 140 20,71

Divinópolis 17 136 12,50

Gov. Valadares 22 113 19,47

Ibirité 31 153 20,26

Ipatinga 44 244 18,03

Janaúba 0 27 0,00

Januária 10 33 30,30

Juiz de Fora 2 38 5,26

Montes Claros 30 146 20,55

Muriaé 17 104 16,35

Ouro Preto 5 21 23,81

Poços de Caldas 3 26 11,54

Ribeirão das Neves 9 70 12,86

Sabará 10 58 17,24

Santa Luzia 6 53 11,32

Teófilo Otoni 13 84 15,48

Uberaba 25 151 16,56

Uberlândia 3 16 18,75

Total 398 2466 16,14

*Total dos que responderam à questãoFonte: Fundação João Pinheiro

|113O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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114 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Os problemas de saúde mais relatados foram alergias/inflamações

(38,13%). Em seguida, aparecem os problemas respiratórios (9,34%). Outro

ponto a se destacar foi que 9,34% das crianças e dos adolescentes não sabiam

informar qual doença tinham ou não responderam à pergunta (tabela 3.31).

Problemas oftalmológicos, neurológicos e cardíacos somam juntos

20,00% dos casos relatados na pesquisa. Os outros problemas de saúde

tiveram poucos relatos, configurando uma freqüência pequena no banco de

dados.

O fato de alergias e inflamações serem os principais problemas de

saúde pode ser explicado quando se leva em consideração o meio em que

essas crianças e adolescentes vivem. O contato direto e permanente com a

sujeira e a falta de higiene, somados a uma alimentação fraca em nutrientes,

podem tornar o organismo mais susceptível e vulnerável a processos

inflamatórios e alérgicos. Com os problemas respiratórios também não é

diferente. Essas crianças e esses adolescentes permanecem durante todo o

dia em contato direto com a poluição, principalmente de veículos.

Conseqüentemente, seu organismo sofre os efeitos maléficos desse

problema, fazendo com que doenças como asma e bronquite sejam mais

iminentes nessas situações.

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|115O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Fonte: Fundação João Pinheiro

Tabela 3.31: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

problemas de saúde relatados - Minas Gerais – 2007.

Freqüência

Tipos de Problema de Saúde Absoluta (%)

Alergias/ Inflamações 151 38,13

Respiratórios 37 9,34

Oftalmológicos 28 7,07

Cardíacos 27 6,82

Neurológicos 23 5,81

Auditivos 15 3,79

Hematológicos 13 3,28

Ortopédicos 9 2,27

Gastrintestinais 7 1,77

Dermatológicos 6 1,52

Renais 6 1,52

Tontura/ Desmaio 6 1,52

Deficiência Mental 4 1,01

Distúrbios Metabólicos 4 1,01

Hormonais 4 1,01

Verminose 4 1,01

Circulatórios 3 0,76

Dicção 3 0,76

Linfáticos 3 0,76

Deformações Fisiológicas 2 0,51

Psicológicos 2 0,51

Deficiência Física 1 0,25

Oncológicos 1 0,25

Não Informado 37 9,34

TOTAL 396 100,00

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116 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

A tabela de número 3.32 retrata o panorama da relação

acidente/violência sofrido por crianças e adolescentes em situação de rua.

Ao todo, foram contatados 2.403 jovens com idade inferior a 18 anos.

15,48% (372 indivíduos) deles afirmaram ter sofrido algum acidente e/ou

violência. A cidade que, relativamente, mais expõe suas crianças a acidentes

e/ou violência é Poços de Caldas. Foram nove respondentes em 27, 33,33%

dos entrevistados. Por outro lado, onde menos se verificou essa ocorrência

foi em Ouro Preto, com apenas um respondente afirmando positivamente.

Isso representa apenas 5,00% do total de 20 entrevistados que responderam a

essa pergunta.

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Tabela 3.32: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo

vitimização na rua, por município- Minas Gerais – 2007.

*Total dos que responderam à questãoFonte: Fundação João Pinheiro

|117O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Municípios Sim Total* Cumulativo %

Almenara 13 103 12,62

Belo Horizonte 109 670 16,27

Betim 12 54 22,22

Contagem 20 135 14,81

Divinópolis 18 128 14,06

Gov. Valadares 23 101 22,77

Ibirité 14 148 9,46

Ipatinga 25 239 10,46

Janaúba 5 27 18,52

Januária 4 35 11,43

Juiz de Fora 5 38 13,16

Montes Claros 26 143 18,18

Muriaé 18 103 17,48

Ouro Preto 1 20 5,00

Poços de Caldas 9 27 33,33

Ribeirão das Neves 5 71 7,04

Sabará 10 62 16,13

Santa Luzia 6 53 11,32

Teófilo Otoni 18 85 21,18

Uberaba 28 145 19,31

Uberlândia 3 16 18,75

Total 372 2403 15,48

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118 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

A tabela 3.33 registrou a incidência de casos por tipo de violência

sofrida. Os atropelamentos foram identificados por 40,27%. Em seguida,

acidentes leves de rua e ferimentos somaram 13,51% dos casos. 13,24% já

sofreram agressão por terceiros, e 2,70% já brigaram na rua. Dos tipos de

violência registrados, o maior índice é de violência policial, com 8,11% do

total, e violência verbal, com 2,16%.

Foi registrado, também, 1,89% de casos de violência exercida por

fiscais de prefeitura.Os casos de violência sexual somam 1,62% do total.

Outros pontos de destaques são roubos sofridos por crianças e adolescentes

na rua, 6,49% dos casos. Por fim, 3,24% das crianças e dos adolescentes

entrevistados já sofreram quedas quando pegavam carona em traseiras de

ônibus, caminhões etc.

É importante ressaltar que o fato de os atropelamentos são quase

41,00% do total dos acidentes.Acidentes leves e ferimentos correspondem à

segunda maior freqüência dos acidentes de rua. As agressões por terceiros

também revelam que a rua é um ambiente de risco e perigo constante para

crianças e adolescentes. Não oferecem refúgio em situações nas quais os

jovens dele necessitam.

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Tabela 3.33: Crianças e adolescentes em situação de rua vitimizadas

na rua, por tipo de acidentes e/ou violência sofridos - Minas Gerais – 2007.

O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG |119

Tipo de Acidente Ocorrências Freqüência (%)

Atropelamento 149 40,27

Acidente de rua/ ferimento 50 13,51

Agressão por terceiros 49 13,24

Violência Policial 30 8,11

Roubo 24 6,49

Queda de traseiras 12 3,24

Brigas 10 2,70

Violência Verbal 8 2,16

Violência de fiscal da prefeitura 7 1,89

Violência Sexual 6 1,62

Queimaduras 5 1,35

Tentativa de roubo 5 1,35

Tiro 2 0,54

Desmaio 1 0,27

Não informado 12 3,24

TOTAL 370 100,00

Fonte: Fundação João Pinheiro

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3.8 ASPECTOMETROPOLITANO

No caso específico do município de Belo

Horizonte, 27,00% das crianças e dos

adolescentes que responderam a essa

questão provêm de outras cidades. Do

total de crianças moradoras de outras

cidades, mas que trabalham em Belo Horizonte, 98,00%

provêm de municípios da própria região metropolitana.

Merecem destaque: Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das

Neves, Contagem, Betim, Ibirité e Sabará (tabela 3.34). Por

sua vez, em Sabará, 20,96% do total das crianças

entrevistadas têm residência em Belo Horizonte.

120 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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Fonte: Fundação João Pinheiro

O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG |121

Tabela 34: Crianças e adolescentes em situação de rua entrevistadas

em Belo Horizonte com residência em outros municípios da região

metropolitana - Minas Gerais – 2007.

Além da região metropolitana, esse fenômeno também foi

observado em outras regiões do estado. Em Teofilo Otoni, 11,60% não

moram no município. Desse total, 60,00% são provenientes de Mucuri.

Em Ipatinga, 11,00% não moram no município. Nesse caso, do total

dos que moram fora do município, 59,00% são provenientes de Coronel

Fabriciano. O restante vem de outros municípios.

Município de residência Ocorrências (%)

Betim 6,95

Caeté 0,53

Contagem 10,70

Esmeraldas 2,67

Ibirité 8,56

Mario Campos 0,53

Nova Lima 0,53

Pedro Leopoldo 0,53

Ribeirão das Neves 17,65

Sabará 11,76

Santa Luzia 21,89

São José da Lapa 0,53

Vespasiano 17,17

TOTAL 100,00 (13 casos)

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3.9 CONCLUSÃO

Aprincipal contribuição do diagnóstico

apresentado foi permitir a análise do

fenômeno das crianças em situação de

rua a partir de uma amostra bastante

abrangente de municípios com

diversidade regional, demográfica e socioeconômica. Já

desde finais dos anos 80 que esforços sistemáticos vêm

sendo feitos para dimensionar e caracterizar o contingente

de crianças que utilizam a rua para sua sobrevivência,

moradia, trabalho ou lazer em grandes cidades brasileiras.

Por suas características, entretanto, esses trabalhos

padecem de duas limitações. Por um lado, em sua maioria

circunscrevem-se às grandes cidades, geralmente sedes de

regiões metropolitanas. Por outro lado, mesmo para esse

tipo de município, os estudos tendem a ter limitações fortes

de comparabilidade. Isso se dá seja em decorrência da

diversidade metodológica — das estratégias de coleta dos

dados, dos instrumento de coleta — seja em virtude de

serem realizados em períodos muito distintos, o que é

122 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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importante para um fenômeno cujas características variam muito.

O trabalho proposto, ao contrário, permitiu uma análise comparativa

de municípios que guardam grande dispersão quanto a quase todas as

dimensões relevantes de análise. Isso permitiu tomar não apenas as próprias

crianças como unidade de análise do fenômeno, mas também os municípios,

o que possibilitou levantar e explorar hipóteses em relação aos determinantes

e às influências mais estruturais sobre a magnitude, as características e

relações de crianças e adolescentes em situação de rua com a cidade.

Desse ponto de vista, percebe-se que a situação de rua esconde

diferentes trajetórias e usos do espaço urbano para o trabalho, lazer ou a

moradia de crianças e adolescentes. Nota-se também que, em todos os

municípios, a maior parte das crianças e dos adolescentes entrevistados

utiliza a rua como espaço de trabalho. Apenas uma minoria realiza ali

atividades ilícitas.

Por outro lado, nota-se também a predominância de grandes vínculos

familiares das crianças e dos adolescentes, indicados pelo fato de a maior

parte residir em casa (e não na rua) e com os pais. Além disso, a maioria dos

entrevistados afirmaram que a destinação principal dos ganhos obtidos na

rua é a própria família, indicando a centralidade da referência familiar para

tais crianças e adolescentes.

Há que se destacar ainda que a maioria das crianças e dos

adolescentes em situação de rua freqüentava a escola e tinha uma avaliação

positiva dela. Entretanto, os custos e os riscos para a escolarização e para o

desempenho escolar são evidentes.

De maneira geral, é totalmente equivocada a identificação (e

estigmatização) da situação de rua com a vivência na rua, a ausência de

vínculos familiares ou o abandono e a prática de atividades ilícitas. Todos

|123O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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esses fenômenos ocorrem sim, mas em proporção comparativamente

reduzida. Há, porém, que se levar em conta que, se reduzida numericamente,

a gravidade da violação de direitos e os riscos que a vida na rua, exploração

sexual ou o abandono representam requerem atenção e medidas específicas.

A consideração anterior traz outra conclusão que a análise permite.

Se o trabalho evidenciou uma diversidade de perfis de crianças e

adolescentes e de usos e vivências na rua, mostrou também que diferentes

tipos de município têm diferentes perfis predominantes de situações e

atividades por parte das crianças e dos adolescentes. Os meninos e meninas

em situação de rua em metrópoles como Belo Horizonte ou Ipatinga são

distintos e realizam atividades distintas daqueles em cidades menores ou

com zonas rurais importantes. Essa heterogeneidade requer estratégias

distintas de enfrentamento.

Finalmente, é necessário alertar para o fato de que, apesar das

diferenças entre crianças e municípios, eles compartilham a gravidade de

riscos, doenças e abandono da escola aos quais a situação de rua os expõe.

Impedir que o direito à infância e à escolha do futuro continuem sendo

negado a tantas de nossas crianças é tarefa que deve mobilizar a todos.

124 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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3.10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Serviço Social e

Sociedade

Pesquisa de

Informações Básicas Municipais: Perfil dos Municípios Brasileiros-

2005Assistência Social

Crianças de Rua e ONG's no Rio : Um Estudo do

Atendimento Não Governamental

Coletâneas da ANPEPP

Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária

Deserdados da sociedade: os meninos de rua da América

Latina

Vida

nas Ruas, Crianças eAdolescentes nas Ruas: trajetórias inevitáveis?

FERREIRA, Frederico P. M. e MACHADO, Sulamita Vidas privadas em

espaços públicos: Os moradores de rua em Belo Horizonte,

, São Paulo, Ed. Cortez no 90, junho, 2007.(pp. 102-121)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca,

, Rio de Janeiro, Ed. IBGE, 2006

IMPELIZIERI, Flávia

, Rio de Janeiro, IUPERJ, 1995

KOELLER, S. Hutz C. Meninos e meninas em situação de rua: Dinâmica,

diversidade e definição. , 1(12), 5-12.1996.

MDS - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE

À FOME

, Belo

Horizonte, SESEDE/MG, 2006.

RIZZINI, Irene

; Rio de Janeiro: USU Ed. Universitária, 1995.

RIZZINI, Irene e BUTLER, U. M. Crianças e adolescentes que vivem e

trabalham nas ruas revisitando a literatura IN RIZZINI, Irene (Coord)

Rio

de Janeiro, Editora Puc Rio, .2003.

|125O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

Page 126: Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil O ...social.mg.gov.br/images/stories/CEPCAD/livro_erradicao_ do_trabalho... · Superintendência de Planos e Projetos Específicos

RIZZINI, Irene (Coord)

Rio de Janeiro, Editora Puc Rio, .2003.

SILVA, Enid Rocha e MELLO, Simone G. de Contextualizando o

“Levantamento Nacional dos Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede

de Serviços de Ação Continuada” In , IPEA/CONANDA,

, Brasília, Ed. Ipea, 2004

Vida nas Ruas, Crianças e Adolescentes nas

Ruas: trajetórias inevitáveis?

O direito à

convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e

adolescentes no Brasil

126 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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ANEXOQuestionário | Crianças e Adolescentes

em Situação ou Trajetória de Rua

|127O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG

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CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO OU TRAJETÓRIA DE RUA(um questionário para cada criança)

CONFIDENCIAL

No Provisório ___________

No Definitivo ___________

Identificação

Entrevistador: __________ Revisor: _______________

1º Contato

Data: _____/_____/_____

Hora de Início _____:_____ Hora de Termino: _____:_____

2º Contato

Data: _____/_____/_____

Hora de Início _____:_____ Hora de Termino: _____:_____

Localização

Cidade: ________________

Local: ________________________________________________________________

Instituição: _____________________________________________________________

Recusa Definitiva

a) Correub) Aparentemente embriagado/drogadoc) Recusa explicitad) Impedido por terceiros, adultos.e) Impedido por terceiros, outras crianças/adolescentesf) Outros: _____________________________________________________

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( ) Própria criança/adolescente respondendo( ) Outra pessoa respondendo (ir para a QUESTÃO 2)1 - Como eu te chamo? _______________________________________________

2 - (No caso de crianças pequenas perguntar para um adulto ou outras criançasmaiores que a(s) acompanham)

2.1 – Qual o nome da criança__________________________ 99 – S/I 00 – N/A

2.2 – Qual sua relação com a criança: O que você é dessa criança (procurar identificar oresponsável na rua)

a) Pai b) Mãe c) Irmão d) Avô/Avó e) amigo dos paisf) Outros:______________________________________ 99 – S/I 00 – N/A

Dados da Criança/Adolescente3 – Sexo

a) Masculino b) Feminino 99 – S/I

3.1 - Data de nascimento: ___/___/___ 99 – S/I

4 – Atualmente, onde você dorme a maior parte do tempo, (marcar no máximo duasrespostas)

a) Casa dos Paisb) Casa de Parentesc) Casa de Amigosd) Nas ruas com parentese) Nas ruas sozinho ou com amigosf) Outro ______________________________________ 99 - S/I

Dados de Escolaridade5 - Estuda?

a) Sim b) Não (Ir para 5.5) 99 – S/I

Se Sim:5.1 - Qual série? ___________________ 99 – S/I 00 – N/A

5.2 - Qual Escola? __________________ 99 – S/I 00 – N/A

5.3 - Você gosta de sua escola?

a) Gosta Muito b) Gosta c) Tanto faz d) Não gosta e) Detesta.99 – S/I 00 – N/A

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5.4 - Por que?________________________________________________________99 – S/I 00 – N/A

Se Não estuda5.5 - Já foi à escola

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se Sim5.6 - Parou em qual série? ___________ 99 – S/I 00 – N/A

5.7 - Em que ano? _____ 99 – S/I 00 – N/A

5.8 - Por que Parou? ______________________________ 99 – S/I 00 – N/A

Tempo nas ruas

6 - Desde que idade você fica nas ruas? ____ anos 99 – S/I

7 – Qual o período que normalmente fica(va) nas ruas? (marcar mais de uma opção)

a) Manhã b) Tarde c) Noite d) Mora nas ruas 99 – S/I

Companhias

8 – Quando você vai(ia) para as ruas você vai(ia) acompanhado de alguém?

a) Sim b) Não 99 – S/I

Se Sim8.1 Quem?

a) Mãe/paib) Irmãosc) Avó/Avôd) Outros parentese) Amigosf) Colegas de trabalhog) Outros _______________________ 99 – S/I 00 – N/A

Família9 – Com quem você mora? (mais de uma resposta)

a) Mãe b) Pai c) Irmãos d) Avó/avô

e) Tio/tia f) Outros parentes f) Outros ____________________

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Se sim9.2 - Qual é o nome da mãe?____________________ 99 – S/I 00 – N/A(Se possível nome completo)9.3 - Possui algum apelido?_________________________99 – S/I 00 – N/A

9.4 - Qual a idade da mãe? ____ anos 99 – S/I 00 – N/A

9.5 - Ela também trabalha nas ruas?

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se Sim9.6 - Em que ela trabalha?

a) Lavadora de carrosb) Catadora de papel/latas/plasticoc) Faz “malabarismo”d) Distribuidor de panfletos/propagandae) Guardadora de carrosf) Lavadora de para-brisag) Pedeh) Vendedora ambulante (fruta, bala, amendoim, flores, utensílios para carros, etc)i) Faz programa (exploração sexual comercial)j) Outros ___________________________________________99 – S/I 00 – N/A

Programas

10 - Sua família ou você recebe/ganha algum benefício ou bolsa?a) Aposentadoriab) Bolsa Famíliac) Cesta Básicad) PETIe) Benefício de Prestação Continuada/LOASf) Outros ______________________________________g) Não recebe nenhum benefícioh) Não Sabe99 – S/I 00 – N/A

10.1 - Você participa de algum projeto social?

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se sim10.2 – Qual projeto? ______________________________99 – S/I 00 – N/A

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Irmãos

11 - Quantos irmãos você (a criança) tem? Número _____ 99 – S/I

11.1 - Desses quantos trabalham nas ruas? Número _____ 99 – S/I 00 – N/A

Filhos

12 – Você tem filhos?

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se Sim12.1 – Quantos _____

Ocupação

13 – Faz alguma coisa nas ruas para ganhar dinheiro?

a) Sim b) Não 99 – S/I

Se não13.1 - O que faz nas ruas: _________________________________________________________________________________ 99 – S/I 00 – N/A(ir para QUESTÃO 16)

14 - O que faz para ganhar dinheiro nas ruas? (no máximo 04 respostas principais)

a) Engraxateb) Lavador de carrosc) Catador de papeld) Faz “malabarismo”e) Distribuidor de panfletos/propagandaf) Guardador de carrosg) Lavador de para-brisah) Pedei) Vende Drogasj) Carregador de sacolask) Vendedor ambulante (fruta, bala, amendoim, flores, utensílios para carros, etc)l) Faz programa (exploração sexual comercial)m) Rouba/furtan) Outros __________________________ 99 – S/I 00 – N/A

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14.1 - Com que freqüência (quantos dias por semana)?

a) 1 vez por semanab) 2 vezes por semanac) 3 vezes por semanad) 4 vezes por semanae) 5 vezes por semanaf) 6 vezes por semanag) Todos os dias da semana99 – S/I 00 – N/A

14.2 - Todos os meses do ano?

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se não14. 3 - Quais meses?

a) Jan b)Fev c)Marçd)Abr. e)Mai f)jun

g)Jul h)Ago i)Set j)Out k) Nov l) Dez 99 – S/I 00 – N/A

15 - Em que períodos(s) você trabalha? (marcar mais de uma resposta)

a) Manhã b) Tarde c) Noite d) Dia todo 99 – S/I 00 – N/A

16 - Trabalha(ou) para algum patrão/empresa nas ruas?

a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A

Se sim16.1 - Para quem ________________________________ 99 – S/I 00 – N/A

Dinheiro

17 - O que faz com o dinheiro que ganha(va) nas ruas?: E depois disso?Prioridade

a) Dá para o pai ou para a mãe ( )b) Compra comida para a casa ( )c) Compra outros produtos para a casa ( )d) Compra coisas para você mesmo ( )e) Gasta na rua mesmo com diversão ( )f) Outros _______________________ ( )99 – S/I 00 – N/A17.1 – Quanto em média ganha(va) nas ruas?

R$ _____ Por a) hora b) dia c) semana d) mês 99 – S/I00 – N/A

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18. – Já sofreu algum acidente/violência nas ruas enquanto trabalhava?

a) Sim b) Não

Se Sim18.1 Qual ? ______________________________________99 – S/I 00 – N/A

(Para todos: Quem trabalha e Não trabalha)19 - Gosta de ficar nas ruas?

a) Gosta Muito b) Gosta c) Tanto faz d) Não gosta e) Detesta 99 – S/I

19.1 Por que?_____________________________________________ 99 – S/I

Localização20 - Qual bairro que você/a (criança/adolescente) mora ______________ 99 – S/I(Moradia de referencia)20.1 – Em qual cidade ____________________________ 99 – S/I

21 - Do que você (criança/adolescente) gosta, onde mora?.Prioridade

a) Da família ( )b) Da casa onde mora ( )c) Da escola ( )d) Dos amigos ( )e) Há lugar para brincar ( )f) Perto do trabalho ( )g) Outros________________________ ( )99 – S/I

21.1 – Do que você (criança/adolescente) não gosta, onde mora?Prioridade

a) Da família ( )b) Da violência ( )c) Da falta de escola ( )d) Da falta de trabalho ( )e) Da falta de amigos ( )f) Da falta de lugar para brincar ( )g) Da casa (sem água, luz, espaço) ( )h) Da falta de transporte ( )i) Outros _________________________ ( )99 – S/I

Instituições

22 – Você/a criança já morou/dormiu em alguma instituição?

a) Sim b) Não 99 – S/I

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Se Sim22.1 – Qual?

a) Abrigo b) Casa de passagem c) Casa Lar

d) Instituição de medida sócio-educativa e) Outra _______________ 99 – S/I00 – N/A

Saúde

23 - Tem algum problema de saúde?

a) Sim b) Não 99 – S/I

Se Sim23.1 - Qual?__________________________________________ 99 – S/I

00 – N/A

Motivações

24 – Por que você está nas ruas?Prioridade

a) Para trabalhar ( )b) Por que fugiu/não gosta de ficar em casa ( )c) Por que mãe/pai obriga ( )d) Por que a família precisa ( )e) Por que saiu da Escola ( )f) Outros _____________________________ ( )99 – S/I

25 - O que você mais quer na vida? Ou qual será o futuro dessa criança?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

99 – S/IOBSERVAÇÕES

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CONTRACAPA FINAL

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