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O DESAFIO DO
TRABALHO INFANTILAs crianças, o trabalho e a rua em Minas Gerais
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIROG O V E R N O D E M I N A S G E R A I S
Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil
CONTRACAPA
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL
As crianças, o trabalho e a rua em Minas Gerais
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIROG O V E R N O D E M I N A S G E R A I S
Belo Horizonte2008
FICHA CATALOGÁFICA
Estou aqui;
Sem saber. Aonde irei dormi?
Ainda estou aqui;
Fome, sede vivo a sentir.
E sem o que vestir.
Moro nas ruas do Brasil,
Nas calçadas, viadutos, sem ninguém.
.
Eu preciso
De amor estou carente
Estou com frio.
De sofrimento sou dependente.
( Viclécio L. Santos)
Adolescente - Agente Jovem de Januária
Agora vou catar latinhas e papelão,Mas há tantas pessoas
Sem amor compreensão.- Oh meu Deu!
O destino tu me deu,Não tenho família,
Pra que possa me ajudar crescer,Estudar, e trabalhar dignamente
INCOMPREENSÃO
Governo do Estado de Minas Gerais
Governador
Secretário Adjunto de Desenvolvimento Social
Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e Adolescente
Superintendência de Planos e Projetos Específicos
Superintendência de Políticas para a Criança e o Adolescente
Diretoria de Promoção da Criança e do Adolescente
Diretoria de Proteção e Defesa da Criança e do Adolescente
Diretoria de Apoio aos Planos e Projetos Específicos
Assessoria Técnica
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social
Aécio Neves da Cunha
Juliano Fisicaro Borges
Fernanda Flaviana de Souza Martins
Eliana Benício Siqueira
Ivan Ferreira da Silva
Maria Helena Almeida
Adriane Morais Fam
Maria de Fátima Silva Prados
Murilo Tadeu Moreira da Silva
FICHA TÉCNICA
Conselho Estadual
dos Direitos da
Criança e do
Adolescente -
Composição
Governamental
Conselheiros Titulares Governamentais
Assembléia Legislativa/MG
DOPCAD/DI/SGPC – Polícia Civil/ MG
Polícia Militar de Minas Gerais
Secretaria de Estado da Educação
SEDESE: Sub-Secretaria de Direitos Humanos
Secretaria de Estado da Fazenda
Secretaria de Estado da Saúde
SEPLAG: Secretaria de Estado de Planejamento eGestão
SUASE – Secretaria de Estado de Defesa Social
Deputada Gláucia Brandão
Dagoberto Alves Batista
Capitão Cleverson Natal de Oliveira
Rosimery Leite Mattos
Maria da Conceição Barros Rezende
Odilon Pereira de Andrade Neto
Fernanda Flaviana de Souza Martins
João Batista de Oliveira
Maria Cândida R. Jacques Gonçalves
Ronaldo Araújo Pedron
SEDESE: Secretaria de Estado de DesenvolvimentoSocial
Conselho Estadual
dos Direitos da
Criança E Do
Adolescente -
Composição
Sociedade Civil
Conselheiros Titulares da Sociedade Civil
ABA - Associação Beneficente Ágape
Inspetoria São João Bosco
OAB/MG
Sindicado dos Psicólogos de MG
Hudson Roberto Lino
Raymundo Rabelo Mesquita
James Andris Pinheiro
Amaury Costa Inacio da Silva
Associação Profissionalizante do Menor - ASSPROM
Associação Regional dos Portadores de Deficiência -ARPODE
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - RegionalLeste II
Convenção Batista Mineira
Frente Sul Mineira dos Direitos da Criança e doAdolescente
Giz – Grupo de Instituições Solidárias
Regina Helena Cunha Mendes
Sônia Feres Slaib Ferreira
Maria da Consolação Faria
Rosilene Estevam Nazar
Leila José Veronez
Obedes Barbosa Soares
Fundação
João Pinheiro
Fundação João Pinheiro
Centro de Estudos de Políticas Públicas Paulo Camilode Oliveira Pena
Centro de Estatísticas e Informação
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho
EQUIPE RESPONSÁVEL PELO DIAGNÓSTICO
Coordenação Geral do Projeto
Diagnóstico do Trabalho Infantil Em Minas Gerais
Diagnóstico da Situação de Rua de Crianças eAdolescentes
Diagramação e Arte Gráfica
Ricardo Luís Santiago
Afonso Henriques Borges Ferreira
Laura Maria Irene de Michelis Mendonça
Afonso Henriques Borges Ferreira
Bruno Lazzarotti Diniz Costa
Nícia Raies Moreira de Souza (coordenação)
Bruno Lazzarotti Diniz Costa
Lucas Gevisiez (bolsista de mestrado)
Frederico Martins Poley (coordenação)
Bruno Lazzarotti Diniz Costa
Yuri Freitas Reis (bolsista de iniciação científica)
Kelly dos Santos Gusmão
SUMÁRIO
Apresentação
O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e aErradicação do Trabalho Infantil...................................................................
...............................................................................................
............................................................................
2.1. Trabalho realizado por crianças e adolescentes em MinasGerais...........................................................................................................
2.2. Características das crianças e adolescentes e suasfamílias.........................................................................................................
2.2.1 Renda domiciliar.........................................................
2.2.2 Cor e incidência do trabalho infantil............................
2.2.3 Composição familiar...................................................
2.3 Perfil da inserção das crianças e adolescentes notrabalho.........................................................................................................
2.3.1 Setor de atividade........................................................
2.3.2 Ocupações perigosas...................................................
2.3.3 Jornada de trabalho......................................................
2.3.4 Trabalho não remunerado............................................
2.4 Rendimentos do trabalho............................................................
2.5 Considerações finais..................................................................
2.6 Referências Bibliográficas.........................................................
1. O DESAFIO DAPESQUISA: o percursometodológico
2 . Perfil e Incidência do TrabalhoInfantil em Minas Gerais
3. Vida e trabalho nas ruas de Minas Gerais..............................................
3.1 Crianças e adolescentes encontrados..........................................
3.2 Perfil de crianças e adolescentes em situação derua.................................................................................................................
3.3 Situação familiar.........................................................................
3.4 Relação com a escola..................................................................
3.5 Trabalho.....................................................................................
3.6 Participação em programas.........................................................
3.7 Saúde e violência.......................................................................
3.8 Aspecto metropolitano................................................................
3.9 Conclusão...................................................................................
3.10. Referências Bibliográficas.......................................................
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 2.1 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por idade e sexo - Minas Gerais, 2006....................................................
Gráfico 2.2 - Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos quetrabalharam por faixa de rendimento per capita.............................................
Gráfico 2.3 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por cor e idade - Minas Gerais, 2006......................................................
Gráfico 2.4: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupadas por número de moradores na família – Minas Gerais – 2006...........
Gráfico 2.5: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos quetrabalharam, por tipo de família - Minas Gerais – 2006..................................
Gráfico 3.1: Proporção de crianças e adolescentes em situação de rua emrelação ao total de crianças e adolescentes por município pesquisado –Minas Gerais – 2007......................................................................................
Gráfico 3.2: Horário das entrevistas com as crianças e os adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................
Gráfico3. 3: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo local ondedormem - Minas Gerais – 2007......................................................................
Gráfico 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo local demoradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.....................
Gráfico 3.5: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1 - Evolução da ocupação das crianças e adolescentes de cinco a 15anos por faixa etária e situação censitária - Minas Gerais - 2004, 2006...........
Tabela 2.2: Sexo e cor de crianças e adolescentes por condição de atividade -Minas Gerais, 2006.......................................................................................
Tabela 2.3: Faixa de renda domiciliar per capita por condição de atividade ecor, Minas Gerais, 2006.................................................................................
Tabela 2.4: Taxa de ocupação de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos,segundo a situação censitária, por tipo de família – Minas Gerais – 2006.......
Tabela 2.5: Distribuição de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupados por setor de atividade econômica – Minas Gerais, 2004- 2006.......
Tabela 2.6 – Estimativa de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos ocupadasna atividade agrícola segundo sexo e por idade – Minas Gerais – 2006...........
Tabela 2.7: Estimativa de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos emocupações perigosas – Minas Gerais – 2006..................................................
Tabela 2.8: Estimativa de crianças e adolescentes de 10 a 15 anos ocupadosque freqüentavam escola jornada semanal de trabalho – Minas Gerais –2006..............................................................................................................
Tabela 2.9 – Estimativa de crianças e adolescentes entre cinco e 15 anossegundo faixa de renda domiciliar per capita, por condição econômica efreqüência à escola – Minas Gerais – 2006.....................................................
Tabela 2.10: Jornada semanal de trabalho de crianças e adolescentes entrecinco e 15 anos por setor de atividade econômica – Minas Gerais – 2006.......
Tabela 2.11: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anosocupadas em trabalho não remunerado segundo faixa etária, por atributospessoais e de mercado - Minas Gerais - 2006.................................................
Tabela 2.12: Distribuição das crianças de cinco a 15 anos ocupadas emtrabalho não remunerado por setor de atividade econômica – Minas Gerais –2006..............................................................................................................
Tabela 2.13: Distribuição percentual dos ocupados de cinco a 15 anossegundo faixa de renda domiciliar per capita por tipo de trabalho – MinasGerais, 2006...................................................................................................
Tabela 2.14: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a 15 anosocupados por faixa de renda- Minas Gerais – 2006.........................................
Tabela 2.15: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a15 anosocupados por faixa de contribuição para a renda domiciliar – Minas Gerais,2006...............................................................................................................
Tabela 3.1: Questionários aplicados às crianças e aos adolescentes emsituação de rua por município - Minas Gerais – 2007......................................
Tabela 3.2: Motivo das recusas de crianças e adolescentes em situação de ruaem responder ao questionário - Minas Gerais – 2007......................................
Tabela 3.3: Descrição dos entrevistados - Minas Gerais – 2007......................
Tabela 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua por sexo - MinasGerais – 2007.................................................................................................
Tabela 3. 5: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo o sexo pormunicípios pesquisado - Minas Gerais – 2007................................................
Tabela 3.6: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo faixa etáriaspor município pesquisado - Minas Gerais – 2007...........................................
Tabela 3. 7: Crianças e adolescentes em situação de rua que têm filhos -Minas Gerais – 2007.......................................................................................
Tabela3. 8: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local ondedormem - Minas Gerais – 2007.......................................................................
Tabela 3.9: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local demoradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007......................
Tabela 3.10: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo estadia eminstituições de atendimento - Minas Gerais – 2007.........................................
Tabela 3.11: Distribuição das crianças e adolescentes em situação de rua quepernoitaram em alguma instituição segundo tipo de instituição - Minas
Gerais – 2007.................................................................................................
Tabela 3. 12: Crianças e adolescentes em situação de rua que declararammorar só com a mãe, só com o pai, só com os avós por município - MinasGerais – 2007.................................................................................................
Tabela 3.13: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo pessoascom quem moram, por município - Minas Gerais – 2007................................
Tabela 3.14: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo trabalhonas ruas das mães - Minas Gerais – 2007........................................................
Tabela 3.15: Distribuição das ocupações das mães de crianças eadolescentes em situação de rua que também trabalham nas ruas – MinasGerais – 2007.................................................................................................
Tabela 3.16: Mães das crianças e dos adolescentes em situação de rua quetambém trabalham na rua, por município - Minas Gerais – 2007....................
Tabela 3.17: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo horário detrabalho por freqüência à escola- Minas Gerais – 2007...................................
Tabela 3.18: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo idade, porfreqüência à escola – Minas Gerais - 2007......................................................
Tabela 3.19: Crianças e adolescentes em situação de rua, por município,segundo freqüência à escola – Minas Gerais - 2007........................................
Tabela 3.20: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes emsituação de rua - Minas Gerais – 2007............................................................
Tabela 3. 21: Tipo de atividade desenvolvida para ganhar dinheiro,população infantil de rua, por cidade, Minas Gerais – 2007............................
Tabela 3. 22: Freqüência semanal ao trabalho de crianças e adolescentes emsituação de rua- Minas Gerais – 2007.............................................................
Tabela 3.23: Atividades desenvolvidas por crianças e adolescentes emsituação de rua -Minas Gerais – 2007.............................................................
Tabela 3.24: Horário de trabalho de crianças e adolescentes em situação derua - Minas Gerais – 2007..............................................................................
Tabela 3.25: Horário de trabalho nas ruas, população infantil de rua,municípios pesquisados, Minas Gerais – 2007..............................................
Tabela 3.26: Prioridade dos gastos com o dinheiro que ganha nas ruas,população infantil de rua, Minas Gerais – 2007.............................................
Tabela 3. 27: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas famílias decrianças e adolescentes em situação de rua, Minas Gerais – 2007..................
Tabela3. 28: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas famílias decrianças e adolescentes em situação de rua, por município - Minas Gerais –2007..............................................................................................................
Tabela 3.29: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundorecebimento do Bolsa Família e freqüência à escola, por município- MinasGerais – 2007................................................................................................
Tabela 3.30: Crianças e adolescentes em situação de rua com algumproblema de saúde, Minas Gerais – 2007.......................................................
Tabela 3.31: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundoproblemas de saúde relatados - Minas Gerais – 2007.....................................
Tabela 3.32: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundovitimização na rua, por município- Minas Gerais – 2007...............................
Tabela 3.33: Crianças e adolescentes em situação de rua vitimizadas na rua,por tipo de acidentes e/ou violência sofridos n- Minas Gerais – 2007.............
Tabela 34: Crianças e adolescentes em situação de rua entrevistadas emBelo Horizonte com residência em outros municípios da regiãometropolitana - Minas Gerais – 2007.............................................................
|19O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Apresente Pesquisa representa um
esforço do Governo de Minas Gerais e
uma resposta ao chamamento de sua
ação social para o enfrentamento da
situação de crianças e adolescentes nas
ruas e em trabalho infantil no Estado. Nesse sentido, a
Secretaria de Desenvolvimento Social, por meio da
Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e
Adolescente realizou um esforço coletivo para quantificar,
conhecer a realidade e as condições em que vivem esses
jovens cidadãos e suas famílias com seus direitos violados.
Para tanto, foi contratada a Fundação João Pinheiro,
com experiência incontestável na realização de pesquisas
dessa natureza, e a parceria de 21 (vinte e um) municípios de
grande e médio porte, que representam 46% da população
de Minas Gerais. Prefeitos, gestores municipais,
pesquisadores de campo e técnicos foram envolvidos e
capacitados para a realização desse diagnóstico sobre
crianças e adolescentes em situação de rua e em trabalho
APRESENTAÇÃOO desafio do trabalho infantil em Minas Gerais
infantil.
APesquisa acerca dessas circunstâncias busca, sobretudo, qualificar
e orientar a política estadual relativa a essa problemática, através do
aprofundamento do conhecimento das condições de vida dessa população.
Pode-se então apontar as possibilidades de trabalhar a realidade apreendida
em cada município e formular um Plano Municipal para enfrentar o
problema, a partir do conhecimento da rede socioassistencial local: suas
deficiências, possibilidades e necessidades.Assim, com o co-financiamento
do Estado, as redes locais serão revitalizadas, construídas e potencializadas,
com vistas a restituir os direitos de crianças e adolescentes.
O resultado da Pesquisa e dos Planos municipais subsidiou a
elaboração do Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil. O
conhecimento propiciado por esta pesquisa, acerca da situação de milhares
de crianças e adolescentes que fazem das ruas e do seu trabalho espaço de
vida e luta pela sobrevivência nos leva a refletir ações urgentes na busca de
novas maneiras de entender e agir para que nos possibilite intervir de forma
mais conseqüente e efetiva nessa cruel realidade.
O Governo de Minas Gerais tem procurado de maneira tenaz
cumprir as responsabilidades assumidas diante da Sociedade para combater
esse dramático problema, mas precisa do concurso de todos para enfrentá-
lo. Diante de uma pesquisa dessa magnitude, que inquieta a todos, devemos
refletir sobre os aspectos políticos, econômicos, éticos, culturais e
ideológicos que roubam a preciosa infância de milhares de crianças, ao
arrepio de toda a legislação avançada que a Sociedade Brasileira construiu e
conquistou e que ao mesmo tempo transgride e desrespeita.
Ao retratarmos a infância e a adolescência com contornos que nos
envergonham devemos antes, sermos impulsionados a reunir nossos mais
20 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
vigorosos esforços e nossas riquezas e potencialidades para superarmos a
desigualdade e mudarmos o panorama desenhado por esta análise.
Ressalto que essa pesquisa só se viabilizou com a tenacidade e
determinação de Custódio Mattos, Secretário de Estado à época da
pesquisa, cuja gestão deixou impressa a marca da dimensão humana do seu
trabalho e a grande preocupação com os direitos ameaçados de crianças e
adolescentes.
Cumpre agradecer a todos que participaram desse esforço coletivo,
em especial ao Senhor GovernadorAécio Neves, que não poupou recursos e
se empenhou pessoalmente para levar adiante o presente projeto. Aos 21
Prefeitos e suas Equipes técnicas, aos companheiros da Sedese, à Fundação
João Pinheiro, aos Conselheiros de Direitos Estaduais e Municipais,
Tutelares, Ministério Público, Organizações da Sociedade Civil e o Fórum
Estadual de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente de
Minas Gerais (Fectipa/MG) pela dedicação e apoio imprescindível para o
sucesso da ação.
Na verdade, esta Pesquisa coloca um desafio para Governantes,
Empresários e para a Sociedade de restituir às crianças e adolescentes os
direitos que lhes foram confiscados pelo trabalho precoce e desprotegido e
pelas condições aviltantes da vida nas ruas.
Juliano Fisicaro BorgesSecretário Adjunto de Desenvolvimento Social
|21O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Toda construção social tem muitos atores,
e é sempre bom lembrar um pouco da
história da construção deste diagnóstico
aqui publicado. Ele é conseqüência do
investimento de órgãos, movimentos e,
sobretudo, do trabalho de pessoas que buscam que a
família, a sociedade e o Estado garantam os direitos das
crianças e dos adolescentes.
Em setembro de 2005, o Conselho Estadual dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA/MG) foi
convidado pelo Fórum Estadual de Erradicação do
Trabalho Infantil e Proteção doAdolescente Trabalhador de
Minas Gerais (FECTIPA), por meio de sua coordenadora,
Elvira Cosendey, a participar de uma reunião do Fórum
Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho infantil (
FNPETI) em Brasília. Essa reunião, na qual estive presente
como representante do CEDCA/MG, que então era
presidido por James Pinheiro, teve como pauta a discussão
e orientação para que todos os estados da Federação
O Conselho Estadualdos Direitosda Criança
e do Adolescentee a Erradicação
do Trabalho Infantil
22 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
construíssem seu Plano Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil e
Proteção do Adolescente Trabalhador. O Fundo das Nações Unidas Para a
Infância (UNICEF) realizou uma oficina na qual abordou a metodologia
para a construção do plano, em especial, os aspectos estratégicos e
operacionais.
Sabíamos o que e como fazer, porém não tínhamos recursos
orçamentários e financeiros para realizá-lo.
Então, em 2006, conseguimos inserir recursos orçamentários para a
realização desse diagnóstico no orçamento. Fizemo-lo por meio da
mobilização do CEDCA/MG e de diversos movimentos sociais.
Mencionamos, em especial, a Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente (FDDCA/MG), representada pelas coordenadoras Marilene
Cruz e Cristiane Nazaré e pela secretária executivaAlice da Silva; o Fectipa,
representado pela coordenadora Elvira Cosendey, entre outros, em
articulação com a Frente Parlamentar da Criança e do Adolescente da
Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, na época presidida pelo
DeputadoAndré Quintão e assessorada por Gláucia Barros.
O conselho então formou um grupo de trabalho integrado
inicialmente por representantes do movimento social, da Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), da Frente Parlamentar da
Criança e do Adolescente, entre outros. Convidou universidades e a
Fundação João Pinheiro (FJP) para apresentarem a proposta da construção
do diagnóstico em Minas. Compareceram a UFMG, a PUC e a FJP,
escolhida para elaborar este diagnóstico a partir de dados da Pesquisa
Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), do Censo Populacional, dos
conselhos tutelares e das superintendências regionais de Trabalho e
Emprego (SRTE), entre outras fontes. O subsecretário de Direitos
|23O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Humanos, João Batista de Oliveira, e a então secretária, Maria Coeli Simões
Pires, ajudaram nesse momento na liberação da emenda parlamentar.
Durante o processo, assume a Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social o Deputado Custódio Mattos, que cria a Coordenadoria Especial de
Políticas Pró-Criança e Adolescente (CEPCAD), com Fernanda Martins na
coordenação. O próprio secretário propõe então a ampliação desse
diagnóstico utilizando a pesquisa de campo, incluindo crianças e
adolescentes em situação de rua de 21 municípios mineiros de médio e
grande porte, alocando recursos para tal. Houve o envolvimento dos
gestores e conselhos desses municípios e a elaboração do Plano Municipal
de Enfrentamento ao Trabalho Infantil de Crianças e Adolescentes. Na
verdade, essas crianças e esses adolescentes encontravam-se excluídos até
mesmo das pesquisas.
Sob responsabilidade do CEDCA/MG, o Plano Estadual de
Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente Trabalhador
teve no diagnóstico uma de suas importantes etapas.
Acitação de tantas pessoas, tantos órgãos e movimentos sociais visa
a que se reconheça o compromisso e trabalho de tais parceiros. Sem a clareza
e articulação do conselho, a participação e tenacidade dos movimentos
sociais, o empenho do Legislativo e a vontade política do Executivo, não
teríamos construído este plano.
Esta é uma construção coletiva e precisa ser entendida como tal. Pela
necessidade e prioridade, foi até muito lenta. Somente a participação,
articulação, integração e o compromisso de todos podem mudar a história de
nossas crianças e nossos adolescentes – nossa história. Ela precisa ser
reinventada urgentemente.
Neste momento, mais de 300 mil crianças, só em Minas Gerais,
24 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
estão trabalhando. Para a maioria delas, a representação desse “trabalho”
ainda nos remete simbolicamente à origem da palavra trabalho, do latim,
“tripaliare”, que significa torturar com o “tripallium” (instrumento romano
de três pontas). Muitas delas ainda se encontram em situação perigosa,
penosa ou insalubre, submetidas à violência física e psicológica.
O trabalho pode e deve ser sinônimo de prazer e realização. Para
essas crianças, todavia, é uma verdadeira tortura, pois as impede de serem
crianças, não permite que desfrutem de uma infância com brincadeiras e
estudo. Furta delas o presente e o futuro. Nossa sociedade não tem o direito
de fazê-lo. Ao contrário, tem o dever de protegê-las. Todos nós temos essa
responsabilidade.
Vamos todos ao trabalho, façamos agora a nossa parte na construção
de uma realidade mais justa, mais fraterna e mais feliz. Com certeza,
ninguém o fará por nós.
Regina Helena Cunha Mendes.
presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Minas Gerais
|25O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Otrabalho infantil e a situação de
crianças e adolescentes nas ruas
deixaram de ser apenas mais um item
na agenda do Governo de Minas Gerais
e da Sedese para ser enfrentado na
realidade. Para subsidiar a formulação das políticas para
esse segmento, foi necessário compreender a realidade da
criança e do adolescente em Minas. Nesse sentido, a
Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e
Adolescente, em parceria com o Conselho Estadual dos
Direitos da Criança e do Adolescente, decidiu pela
realização de estudos prévios que orientassem a formulação
e implementação de tais políticas. A Pesquisa sobre
Trabalho Infantil e Crianças e Adolescentes em Situação de
Rua, encomendada à Fundação João Pinheiro, foi, portanto,
o ponto de partida para uma intervenção sustentada na
análise da realidade do estado e dos municípios.
O DESAFIO DAPESQUISA:o percurso
metodológico
1
26 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
A presença de crianças e adolescentes na paisagem urbana das
cidades brasileiras parece haver se incorporado sob as mais diferentes
formas de trabalho infantil. Em qualquer uma delas, revela-se aviltante a
sistemática violação dos direitos desses cidadãos, em um país com
legislação avançada e que vem conhecendo crescente prosperidade
econômica. A inaceitável presença desses meninos e meninas nas ruas
ganhou maior visibilidade a partir dos anos 1970. Desde então, inúmeras
iniciativas vêm se sucedendo, e o avanço na reflexão sobre essas
experiências poderá nos ajudar a intervir de maneira mais assertiva e com
maior impacto para resgatar o futuro dessas crianças e desses adolescentes.
Analisando o crescimento das estatísticas sobre trabalho infantil e a
demanda pelo acolhimento de crianças e adolescentes com trajetória de vida
nas ruas, a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE), em parceria
com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CEDCA), decidiram pela realização da pesquisa. A Fundação João
Pinheiro foi convidada a realizá-la, por sua notória experiência nessa área.
Após várias reuniões, decidiu-se pela necessidade de realizar duas
pesquisas simultaneamente.
Sobre o trabalho infantil, a pesquisa diagnóstica foi realizada a partir
dos dados secundários obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (PNAD). Tal diagnóstico incluiu análises específicas das faixas
etárias por região e atividade, sobre as condições de vida e de trabalho,
freqüência à escola e relações familiares.
Outra pesquisa voltou-se especificamente para a situação de rua de
crianças e adolescentes, a partir dos dados primários, coletados diretamente
dos indivíduos abordados pelos pesquisadores. Nesse aspecto, levou-se em
conta os ensinamentos de Rizinni (2000). Eles resumem a intenção do
trabalho nesta fase: “A situação de rua se apresenta de forma complexa e
|27O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
heterogênea, sugerindo perfis distintos de crianças e adolescentes nas ruas:
trabalhadores, pedintes, moradores, com menor ou maior grau de contato
com suas famílias e comunidades, ou até mesmo com tais vínculos
rompidos, bem como crianças e adolescentes que se movimentam entre suas
casas, as ruas e as instituições, em busca de proteção e de um lugar onde se
sintam pertencentes, sendo diversos os fatores de ordem política mais ampla
que determinam os processos excludentes que afetam as vidas de cada uma
dessas crianças e suas famílias”. A partir dessa perspectiva, o objetivo da
pesquisa foi quantificar e caracterizar o perfil das crianças, dos adolescentes
e de suas famílias nas mais diferentes situações
Foi constituído o grupo de trabalho, composto por representantes do
Ministério Público do Trabalho, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
– Programa Miquilim, Cedca, Comissão de Políticas Públicas e Fectipa, da
Fundação João Pinheiro e da Sedese. Esse grupo foi fundamental para a
validação dos procedimentos de coleta dados e a elaboração dos
instrumentos da pesquisa. Foi fundamental a participação das equipes dos
municípios em todas as fases dos trabalhos: desde a coleta dos dados até a
proposição de ações para enfrentar a situação pesquisada.
Um dos critérios utilizados pelo grupo interinstitucional para escolha
dos municípios integrantes da pesquisa foi o número de habitantes.Aescolha
justificou-se. A presença de crianças e adolescentes é, sobretudo, um
problema dos grandes centros urbanos. Com isso, 17 municípios foram
escolhidos por serem de médio e grande porte. Os outros quatro, por
indicação do Cedca, do Ministério Público do Trabalho e do Fectipa, por
apresentarem crianças em situação de rua em número impressionante e com
grande visibilidade.
Os municípios pesquisados foram: Almenara, Belo Horizonte,
Betim, Contagem, Divinópolis, Governador Valadares, Ibirité, Ipatinga,
28 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Janaúba, Januária, Juiz de Fora, Montes Claros, Muriaé, Ouro Preto, Poços
de Caldas, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, Teófilo Otoni, Uberaba
e Uberlândia. Após a escolha, os prefeitos, por meio da Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Social, foram convidados a participar da pesquisa.
A preparação do pessoal técnico e dos gerentes das secretarias
municipais deAssistência Social foi realizada no período de 23 a 25 de julho
de 2007, com a capacitação da equipe na condição de multiplicadores,
responsáveis pela preparação dos pesquisadores de campo em seus
municípios. A colaboração dos municípios e, principalmente, a dedicação,
competência e o compromisso de seus técnicos, foram fundamentais para a
obtenção de informações confiáveis. O conhecimento da cidade, dos
parceiros locais, da distribuição das crianças e o acesso e a legitimidade
frente às meninas e aos meninos permitiram que os dados fossem completos
e de boa qualidade. Aos municípios e aos seus técnicos, nosso
agradecimento e reconhecimento.
A pesquisa foi realizada nos 21 municípios simultaneamente, no
período de 20 a 26 de agosto de 2007, nos turnos da manhã, tarde e noite.
Contou com a participação de 450 pesquisadores e a participação efetiva dos
técnicos e representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social,
responsável local pela pesquisa, conselhos tutelares, conselhos municipais
dos Direitos da Criança e do Adolescente, entidades da sociedade civil,
universidades e a Polícia Militar. Terminada a pesquisa, os municípios
enviaram seus questionários e relatórios circunstanciados
, que trabalhou os dados e divulgou os resultados preliminares
.De posse dos dados e orientados pelos técnicos da Fundação João
Pinheiro e da Sedese, os municípios elaboraram seus planos municipais.As
propostas operacionais deste plano foram organizadas em cinco
componentes estratégicos articulados entre si. Tais componentes foram
à Fundação João
Pinheiro em
novembro de 2007
|29O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
baseados nos mesmos eixos definidos no Plano Nacional de Promoção,
Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes: 1) rede de
atendimento, 2) articulação e participação, 3) mobilização social, 4)
políticas para a família e as relações de gênero, e 5) integração com outros
municípios.
Finalizados os planos, foram encaminhados à Coordenadoria
Especial de Política Pró-Criança e Adolescente, onde foram analisados. Em
seguida, os secretários de Assistência Social dos Municípios foram
comunicados sobre o apoio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social ao plano e a disposição da Sedese de co-financiar as ações destinadas
a enfrentar as situações apontadas. Em 20 de maio de 2008, com a presença
do secretário de Estado de Desenvolvimento Social, de prefeitos,
autoridades municipais e técnicos, foram celebrados convênios de
Cooperação Técnica e Financeira.
Está prevista a capacitação continuada e a realização de campanhas
municipais e estadual para sensibilização da opinião pública. O objetivo é
interromper os efeitos causados pelo ciclo perverso perpetuado pela prática
de dar esmola e adquirir mercadorias de crianças e adolescentes. Serão
ressaltadas as conseqüências deletérias que tais atitudes fomentam e o fato
de que perenizam a presença das crianças nas ruas, quase sempre
exploradas, em situações de perigo iminente, abusadas, negligenciadas e
fora da escola.
O grande objetivo dessa mobilização e do esforço conjunto é
minimizar a existência de crianças e adolescentes em situação de rua em
Minas Gerais, por meio do fortalecimento e desenvolvimento da rede
socioassistêncial voltada à intervenção e ao acompanhamento desse
segmento, buscando garantir o direito a convivência familiar e comunitária,
fortalecendo esses núcleos na perspectiva da inclusão e da promoção social.
30 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Nos próximos capítulos, com base na análise dos pesquisadores,
percebe-se a necessidade de intervir nas situações de risco a que são
expostas as crianças e os adolescentes em situação de rua e em trabalho
infantil. Percebe-se sobretudo a necessidade de promover as famílias como
espaço fundamental para a socialização e proteção de crianças e
adolescentes.
Como nos ensina Rizzini (2000), "a compreensão da dinâmica das
relações desenvolvidas no interior das famílias dos meninos e meninas que
se encontram em situação de rua é fundamental para se formular políticas
que criem ou fortaleçam estratégias de apoio familiar e comunitário no
cuidado das crianças". Por trás das crianças de rua e na rua, existem as
famílias que também se encontram abandonadas, desprotegidas e de muitas
formas agredidas, excluídas do acesso a bens e serviços.
Nessa perspectiva, impõe-se-nos um trabalho que vá convergir para
as crianças e os adolescentes e suas famílias, ao resgatar-lhes seu
protagonismo, seus direitos de sujeitos sociais capazes de proteger seus
filhos como previsto no Estatuto da Criança e doAdolescente.
Se não trabalharmos com as famílias, dando-lhes chances reais de fazer
retornar para elas as crianças que estão nas ruas vivendo, trabalhando e
sobrevivendo com dificuldade, estaremos roubando-lhes as chances de
futuro.As constatações e as lições aqui analisadas confirmam a necessidade
de políticas públicas cujos focos sejam a criança, o adolescente e, sobretudo,
um olhar especial para a família e a comunidade.
Fernanda Flaviana de Souza Martins
Coordenadora Especial de Politicas Pró-Crianças e AdolescentesSedese- MG
|31O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
2. Perfil e Incidência doTrabalho Infantil em Minas Gerais
Aredução do trabalho infantil tem sido
alvo de diversas políticas nacionais e
internacionais. A crescente ênfase na
redução da pobreza e na acumulação
de capital humano como requisitos
para se alcançar desenvolvimento indica que o trabalho
infantil é um entrave ao progresso socioeconômico
(KASSOUF, 2006).
A legislação brasileira¹ é bastante avançada quando
se trata de proibir a exploração do trabalho de crianças e
adolescentes. A incidência de trabalho infantil em alguns
segmentos populacionais, no entanto, merecem estudos
mais aprofundados para compreender tanto suas
características quanto suas causas.
A inserção precoce no mercado de trabalho sofre
influência de diversos fatores de ordem econômica, social,
demográfica e cultural. Estudos demonstram que o fato de o
indivíduo começar a trabalhar cedo reduz seu rendimento e
¹No Brasil, com a aprovação da Emenda Constitucional nº20 em dezembro de 1998, a idade mínima para a entrada nomercado de trabalho é 16 anos, salvo na condição de aprendiz, entre 14 e 16 anos. Somente a partir de 18 anos há permissãolegal para trabalhos que possam causar danos à saúde e, especificamente, trabalhos de produção ou manipulação de materialpornográfico, divertimento e comércio nas ruas. Há proibição ainda, de trabalhos em minas, estivagem, ou qualquer trabalhosubterrâneo para aqueles abaixo de 21 anos.
32 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
estado de saúde na fase adulta. Também aumenta a probabilidade de
inserções precárias no mercado de trabalho. A trajetória futura no mercado
de trabalho depende, em grande medida, das primeiras experiências. O
ingresso precário e antecipado pode determinar desfavoravelmente o
desempenho profissional futuro (KASSOUF, 2006; POCHMANN, 2000).
Assim, o que está em jogo é a integração das novas gerações na sociedade
(SANCHIS, 1997).
Uma das maiores preocupações com relação ao trabalho infantil se
refere a seus efeitos adversos e perversos na escolaridade. Quando não
resulta no abandono total da escola, a concorrência entre escola e trabalho
compromete a qualidade da escolarização. Há indícios, todavia, de que o
trabalho não é o único fator que impede as crianças de estudarem.
Este trabalho visa a explorar algumas dessas questões para Minas
Gerais comresultados da Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios de 2006, desenvolvida anualmente pelo IBGE.
|33O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
2.1. TRABALHO REALIZADOPOR CRIANÇAS E ADOLESCENTESEM MINAS GERAIS
Aocupação das crianças e adolescentes
em 2006 apresentou elevação de 5,6%
em relação ao ano anterior. Assim,
estimou-se a existência de 375.839 mil
trabalhadores entre cinco e 15 anos no
mercado de trabalho em Minas Gerais. Este aumento
deveu-se basicamente à expansão do trabalho em áreas
urbanas (17,9%), na medida em que houve retração do
emprego infantil em regiões rurais (-14,1%) conforme
mostra tabela 2.1.
Ataxa de ocupação² é maior para aqueles com mais
de nove anos de idade e, proporcionalmente, mais
expressiva em áreas rurais: 7,6% dos entre cinco e 15 anos
em áreas urbanas tinham uma ocupação, em 2006, contra
20,7% em áreas rurais. Como a população urbana é maior
que a rural, a estimativa do número de trabalhadores
infantis é maior na primeira, principalmente para aqueles
com idade entre dez e 15 anos. Estima-se que havia 241.745
² Neste trabalho, a taxa de ocupação é definida como a proporção (como porcentagem) de crianças e adolescentes quetrabalharam no ano de referência, em relação ao total de crianças e adolescentes.
34 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
crianças trabalhando em áreas urbanas e 134.094, em áreas rurais em 2006.
Vale notar que a estimativa do número de ocupados com menos de dez anos
é praticamente a mesma em áreas urbanas e rurais: em torno de 11 mil
crianças.
Há outro padrão bastante claro de inserção de crianças e
adolescentes no mercado de trabalho. Em áreas rurais, é maior a pressão
para entrada no mercado de trabalho, que acontece mais cedo: quase um
terço das crianças de dez a 15 anos em áreas rurais estavam ocupadas em
2006.Ataxa de ocupação para elas em áreas urbanas foi de 12,8% no mesmo
período.
Tabela 2.1 - Evolução da ocupação das crianças e adolescentes de
cinco a 15 anos por faixa etária e situação censitária - Minas Gerais - 2004,
2006
O gráfico 2.1 mostra crescente aumento da taxa de ocupação das
crianças de acordo com a idade e, ao mesmo tempo, uma clara distinção
entre os sexos. Mais de um terço dos meninos de 15 anos trabalhavam em
2006, contra 23,9% das meninas.
Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP) - *estimativa
OCUPADOS* TAXA DE OCUPAÇÃO
ESPECIFICAÇÃO 2004 2005 2006 2006/2005 (%) 2004 2005 2006
TOTAL 291.662 359.545 375.839 5,6 7,5 9,6 9,8
SITUAÇÃO CENSITÁRIA
Urbano 179.311 209.651 241.745 17,9 5,6 6,7 7,6
5 a 9 anos 10.701 11.427 11.512 0,8 0,7 0,8 0,8
10 a 15 anos 168.610 198.224 130.233 -40,3 9,5 11,4 12,8
Rural 112.351 149.894 134.094 -14,1 17,1 23,2 20,7
5 a 9 anos 10.623 16.293 11.624 -44,0 3,7 5,9 4,2
10 a 15 anos 101.728 133.601 122.470 -10,9 27,8 36,4 32,8
|35O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Para complementar essa análise de idade e sexo, vale notar que já nessa
faixa etária há certa preponderância do trabalho produtivo para os meninos,
enquanto as meninas assumem um papel maior nas tarefas reprodutivas.
Entretanto, “apesar de o reprodutivo não ser considerado 'trabalho', é a base
da organização da família como unidade de produção. Sem eele, o trabalho
produtivo não poderia se realizar”. Ao mesmo tempo, cumprir obrigações
no lar pode implicar utilização do tempo da criança. Há a concorrência com
as atividades escolares, as lúdicas ou o ócio, necessários ao
desenvolvimento infantil.
Segundo a PNAD, em 2006, 46% das crianças de cinco a 15 anos se
dedicaram aos afazeres domésticos.Adistribuição entre os sexos indica que
as meninas são as que mais se dedicam a eles (63%). Da mesma forma, a
intensidade é maior para elas, principalmente a partir de dez anos de idade.
Entre cinco e nove anos, tanto meninos quanto meninas se dedicaram
quatro horas semanais, em média, aos afazeres domésticos.Apartir dos dez
anos, os meninos dedicaramsete horas, em média, as meninas, 12 horas
semanais.
Gráfico 2.1 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco
a 15 anos por idade e sexo - Minas Gerais, 2006
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%d
eo
cup
ado
s
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
idade
masculino feminino
36 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
2.2. CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS EADOLESCENTES E SUAS FAMÍLIAS
Afim de analisar a inserção precoce no
mercado de trabalho, pretende-se
identificar as características pessoais e
d a s f a m í l i a s d e c r i a n ç a s e
adolescentes. Foram selecionadas as
variáveis que a literatura mostra serem as mais importantes
na determinação do trabalho infanto-juvenil:renda
domiciliar, composição familiar, cor e faixa etária.
2.2.1 RENDADOMICILIAR
Há uma percepção generalizada de que o principal
determinante do trabalho infantil é econômico. No caso de
Minas Gerais, nota-se, de fato, forte vinculação entre
rendimento familiar e incidência de trabalho infantil
(Gráfico 2.2).
Como se vê, a taxa de ocupação de crianças de cinco
a 15 anos em famílias de até ¼ de salário mínimo de renda
per capita situa-se em 14% e reduz-se progressivamente à
medida que a renda familiar aumenta, até chegar a cerca de
|37O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
5% nas famílias com renda familiar per capita acima de três salários
mínimos. Ou seja, nos estratos de renda mais altos, a taxa de ocupação é
cerca de um terço da observada nos estratos mais baixos de renda.
Gráfico 2.2 - Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15
anos que trabalharam por faixa de rendimento per capita
Entretanto, esta análise deve ser relativizada. Apesar de se
concentrar nas famílias com renda mais baixa, o trabalho infantil tem
grande presença em todos os estratos de renda, inclusive nos mais altos. Isso
indica que, se a renda é uma influência importante, não é a única. Há outros
fatores de ordem estrutural, como sexo da criança, idade (a pressão para
trabalhar aumenta com a idade) e a cor, conforme se verá adiante.
Há indicações também da influência de fatores de ordem cultural e
não diretamente econômica no fenômeno do trabalho infantil em Minas
Gerais. Como se demonstrará, grande proporção das crianças que
trabalharam não foram pagas(o que indica trabalho com a família, produção
para o próprio consumo ou construção para o próprio uso). Além disso, no
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
14,1%
10,1%9,7%
8,6%
4,7% 5,2%
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Até ¼saláriomínimo
Mais de ¼até ½salário
Mais de ½até 1 salário
Mais de 1até 3
salários
Mais de 3até 5
salários
Mais de 5salários
38 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
caso de crianças e adolescentes remunerados, os rendimentos são, na
maioria, muito baixos.
Em certos casos, eles contribuem com uma proporção alta da renda
familiar. Em outros, sua participação na renda familiar é bem pequena. À
medida que os dados forem apresentados, tornar-se-á mais claro que os
fatores econômicos parecem ter peso muito importante no trabalho infantil,
mas não são o único tipo de determinante.
2.2.2 COR E INCIDÊNCIADO TRABALHO INFANTIL
Como em outras áreas da vida social brasileira, o trabalho infantil
não é indiferente à cor das crianças. A taxa de ocupação de negras é bem
maior do que a de crianças e adolescentes brancos (gráfico 2.3 e a tabela
2.2).
Como se pode perceber, a taxa de ocupação entre crianças brancas é
de 8,4%. Já no caso das negras, ela chega a 16%. Entre crianças pardas, de
10%.
Tabela 2.2: Sexo e cor de crianças e adolescentes por condição de
atividade - Minas Gerais, 2006
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
CONDIÇÃO DE ATIVIDADE
ESPECIFICAÇÃO TRABALHOU NÃO TRABALHOU TOTAL
SEXO
Masculino 12,3 87,7 100,0
Feminino 7,2 92,8 100,0
COR
Branca 8,4 91,6 100,0
Preta 16,0 84,0 100,0
Parda 10,0 90,0 100,0
|39O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Amesma tendência pode ser observada no gráfico 2.3: à medida que a idade
de crianças e adolescentes aumenta, aumenta também a pressão para o
ingresso no mercado de trabalho, principalmente na adolescência.Aidade é
um fator determinante do ingresso no mercado de trabalho.
Gráfico 2. 3 - Taxa de ocupação das crianças e adolescentes de cinco
a 15 anos por cor e idade - Minas Gerais, 2006
O gráfico também mostra que essa pressão se exerce mais sobre as
crianças negras do que sobre as brancas. Para as primeira, já aos 12 anos
nota-se uma aceleração do crescimento da taxa de ocupação à medida que a
idade aumenta. Já no caso das brancas, essa intensificação ocorre somente
aos 14 anos.
Esse tipo de análise, entretanto, dever ser feito com cautela. Como
as famílias com menor renda são as mais vulneráveis ao trabalho infantil e
como existem proporcionalmente mais negros entre as famílias pobres,
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
Distribuição percentual das criançasocupadas por cor
Branca
Preta
Parda
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
40 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
pode haver uma sobreposição entre as variáveis. A tabela 2.3 avalia essa
possibilidade.
Tabela 2.3: Faixa de renda domiciliar per capita por condição de
atividade e cor, Minas Gerais, 2006
O que pode ser verificado é que, por um lado, nas faixas de renda
familiar mais baixas, tanto brancos como negros³ têm uma taxa de ocupação
mais alta. A renda é um fator que influencia ambos os grupos. Em
praticamente todas as faixas de renda, no entanto, a taxa de ocupação de
negros é maior do que a de brancos. Isso reforça a hipótese de que, de fato, as
crianças negras são mais vulneráveis ao trabalho infantil do que as brancas
independente da renda.
2.2.3 COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Finalmente, foi avaliada a taxa de ocupação de crianças e adolescentes,
levando-se em conta duas características das famílias: tamanho e
composição. Quanto ao tamanho, encontra-se a situação esperada (ainda
(...) Amostra não comporta desagregação a esse nívelFonte: IBGE, PNAD 2006 Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
³Para que a amostra comporte esta desagregação, consideramos, nesta tabela, pretos e pardos como negros.
Brancos Preto/pardoFaixa de renda domiciliar
per capita (salários
minínos) % ocupados estimativa % ocupados estimativa
sem rendimento - - 18,3 9.882
ate 1/4 10,9 10.669 14,5 52.795
mais de 1/4 ate 1/2 10,5 34.570 9,4 63.884
mais de 1/2 a 1 8,9 47.587 10,0 69.915
mais de 1 a 2 8,3 29.347 11,6 33.078
mais de 2 9,2 188.438 4,3 4.464
|41O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
que indesejável): quanto mais moradores, maior a taxa de ocupação de
crianças e adolescentes. Enquanto nos domicílios com até três moradores a
taxa de ocupação é de 7,2%, naqueles com mais de oito moradores, quase
18% das crianças trabalharam em 2006 (gráfico 2.4).
Gráfico 2.4? Proporção de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos ocupadas
por números moradores no domicílio.
Já quando se considera a composição da família, o resultado se
afasta da percepção do senso comum sobre o problema.Ao contrário do que
comumente se acredita, a taxa mais alta de ocupação de crianças e
adolescentes não está nas famílias ditas monoparentais (gráfico 2.5).
De fato, nota-se que é nas famílias compostas por casal e filhos
maiores que ela é mais alta (21%). Ao contrário, nas compostas por mãe e
filhos maiores, tal taxa situa-se em torno de 14%. Em parte, esse resultado
contra-intuitivo talvez possa ser atribuído à maior taxa de ocupação na zona
rural, onde as famílias chamadas nucleares são mais freqüentes do que na
zona urbana. Como demonstra a tabela 2.4, entretanto, esse não parece ser o
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
7,2%8,7%
12,7%
17,8%
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
2 a 3 4 a 5 6 a 8 mais de 8
42 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
caso. Não se percebe um padrão suficientemente claro indicando que a taxa
de ocupação de crianças no que se costuma chamar “famílias
monoparentais femininas” é sistematicamente maior do que em outros
arranjos familiares, seja na zona urbana, seja na zona rural.
Gráfico 2.5: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos que
trabalharam, por tipo de família - Minas Gerais - 2006
Tabela 2.4: Taxa de ocupação de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos,
segundo a situação censitária, por tipo de família – Minas Gerais - 2006
3,9851485154,408765846
9,95108288311,43945028
13,8423200414,61377202
15,01890358
20,7
0
5
10
15
20
25
Mãe filhosmenores
Casal comfilhos
menores
Casal semfilhos
Mãe comfilhos de
todasidades
Mãe comfilhos
maiores
Outrostipos defamília
Casal comfilhos de
todasidades
Casal comfilhos
maiores
Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
TAXA DE OCUPAÇÃOTIPO DE FAMÍLIA
URBANO RURAL
Casal sem filhos 9,4 12,5
Casal com todos os filhos menores de 14 anos 3,2 10,6
Casal com todos os filhos de 14 anos ou mais 17,1 37,0
Casal com filhos menores de 14 anos e de 14 anos ou mais 11,1 27,8
Mãe com todos os filhos menores de 14 anos 3,4 11,8
Mãe com todos os filhos de 14 anos ou mais 13,9 13,0
Mãe com filhos menores de 14 anos e de 14 anos ou mais 10,3 24,6
Outros tipos de família 11,3 31,4
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
|43O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Por outro lado, há que se destacar uma regularidade presente em todas as
análises feitas até aqui. Trata-se da idade. Mesmo quando consideradas as
outras variáveis — renda familiar, sexo, cor e composição da família — a
idade tem aparentemente um peso decisivo sobre a taxa de ocupação.A
pressão para o ingresso no mercado de trabalho se exerce com intensidade
crescente sobre os adolescentes, a partir dos 12 anos de idade
aproximadamente.
Há diversas maneiras de considerar esse fator, ainda que de maneira
bastante especulativa. Pode-se pensar que, a despeito da proibição legal, a
partir da adolescência, as expectativas em determinados grupos quanto à
situação ocupacional dos adolescentes começa a se inverter. Se antes se
esperava que crianças e adolescentes se dedicassem exclusivamente aos
estudos (e aos afazeres domésticos, como se viu), a partir da adolescência,
cada vez mais se espera que trabalhem, seja para contribuir com a renda
familiar, seja como parte de sua educação. De outro modo, se nas idades
menores, a tolerância ao trabalho infantil é pequena, na adolescência tende-
se a considerá-lo tolerável, ainda que indesejável. Isso pode enfraquecer o
que se chama “controles primários” (a repreensão dos parentes, os
comentários da vizinhança, a advertência na reunião da escola etc).Eles
evitam que se torne necessário recorrer aos controles institucionais. Desse
ponto de vista, a interdição legal seria necessária,mas insuficiente para
coibir o trabalho precoce. Seriam necessárias intervenções que alterassem
essas expectativas e/ou reduzissem tal tolerância, principalmente em
relação aos adolescentes.
Uma maneira um pouco distinta de pensar o assunto é em termos
econômicos. Manter um membro da família estudando sem trabalhar é um
investimento. Tem um custo de oportunidade para essa família. Ela abre
44 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
mão de recursos que poderiam ser acrescentados ao orçamento familiar.
Investe na educação como se fizesse um cálculo do acréscimo futuro de
rendimentos e oportunidades que a educação poderia proporcionar às
crianças e aos adolescentes, menos seu custo, os riscos e a incerteza. A
partir de determinada idade e escolaridade, tanto os ganhos adicionais de
renda que o adolescente poderia ter com o aumento da escolaridade quanto
as expectativas quanto a suas oportunidades educacionais futuras passam a
não compensar a renda imediata a mais que seu ingresso no mercado de
trabalho proporciona. – ou essa, ao menos, é a percepção, e a pressão para
o trabalho aumenta .
Nessa linha de raciocínio é que se assentam programas como o
Poupança Jovem, de Minas Gerais. Eles procuram aumentar a atratividade
da permanência na escola. O problema com tal tipo de abordagem é que ela
freqüentemente supõe que as famílias fazem escolhas sobre o que é mais
vantajoso, manter a criança estudando ou trabalhando. O que pode ser
equivocado é supor que essas escolhas estejam ao alcance das famílias. Ou
seja, é equivocado supor que elas têm como sustentar seus filhos fora do
mercado de trabalho, estudando, e tratam de avaliar o que é mais vantajoso.
Nem sempre é o caso. Muitas vezes, conforme se mostrou aqui, não
basta incentivar a permanência na escola. Isso é muito importante. Mais
importante, porém, é proporcionar condições para isso.
O que as análises até aqui demonstram, portanto, é que a renda
familiar parece ser um forte determinante do trabalho infantil. No entanto,
outros fatores também condicionam a vulnerabilidade a esse tipo de
violação de direitos: sexo, idade e cor, além de características da família,
como seu tamanho. Desses, a idade parece ter um efeito extensivo, que se
sobrepõe aos outros fatores.
4
4 Este é mais um dos motivos pelos quais a cultura da repetência é prejudicial particularmente para os grupos maisvulneráveis: cada ano repetido aumenta muito o custo de oportunidade de educação para os mais pobres e reduz asexpectativas sobre as oportunidades e o alcance educacional das crianças, contribuindo duplamente para o ingresso nomercado de trabalho e abandono da escola.
|45O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
2.3 PERFIL DA INSERÇÃO DASCRIANÇAS E ADOLESCENTESNO TRABALHO
Nota-se que a inserção de crianças e
adolescentes ocorre num locus
determinado: grande incidência de
trabalho em área rural, importância
extrema do setor agrícola, grande
porcentagem de trabalho não remunerado, principalmente
para os mais novos.
Assim, esta seção do trabalho visa a identificar os
padrões da inserção das crianças no mercado de trabalho e
chama a atenção também para as piores formas de trabalho
infantil. A Convenção nº 182 da Organização Internacional
do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, é uma das
principais convenções internacionais que enfatiza a
eliminação das piores formas de trabalho infantil. O núcleo
básico do conceito piores formas de trabalho infantil tem
quatro categorias: (a) todas as formas de escravidão,
servidão, trabalho forçado ou compulsório; (b) utilização,
recrutamento e oferta de crianças para fins de prostituição,
46 | DIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTESDIAGNÓSTICO | TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
produção ou atuações pornográficas; (c) utilização, recrutamento e oferta
de criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico
de entorpecentes e (d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas
circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a
saúde, a segurança e a moral da criança.
2.3.1 SETOR DEATIVIDADE
A maioria das crianças trabalha no setor agrícola, padrão
encontrado em vários países onde há crianças no mercado de trabalho. Em
2006, 41,8% delas trabalharam nesse setor em Minas Gerais. Ele foi
seguido pelo comércio e reparação, que ocupou 20,9% das crianças. Os
serviços domésticos ocuparam, cada um, 10% das crianças que trabalharam
(tabela 2.5).
Tabela 2.5: Distribuição de crianças e adolescentes de cinco a 15
anos ocupados por setor de atividade econômica – Minas Gerais, 2004-
2006
Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
|47O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
ANO (%)_SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA
2004 2005 2006
Agrícola 41,7 45,6 41,8
Indústria de transformação 10,6 9,2 8,4
Construção 3,6 2,8 5,6
Comércio e reparação 18,8 17,2 20,9
Serviços 9,7 10,9 10,0
Serviços domésticos 12,9 12,0 10,0
Outros 2,7 2,2 3,3
Total 100,0 100,0 100,0
Por sexo, constata-se o mesmo padrão de ocupação para meninos e
meninas.Aexceção são os serviços domésticos. Neles se encontram 21,5%
das meninas ocupadas e apenas 1,7% dos meninos. Nos demais ramos de
atividade, a distribuição é parecida: maioria de meninas e meninos no setor
agrícola, seguido do comércio e reparação.
a) Setor agrícola
A maioria das regulamentações sobre o trabalho infantil inclui
restrições específicas a atividades realizadas em ambientes perigosos. A
Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) define
trabalho perigoso como aquele que pode causar danos à saúde, segurança
ou moral das crianças.
O limite etário é distinto em cada país. No Brasil, somente a partir
de 18 anos é permitido a realização de trabalhos que possam causar danos à
saúde. É proibido qualquer produção ou trabalho de manipulação de
material pornográfico, divertimento (clubes noturnos, bares, circo etc) e
comércio nas ruas. Abaixo de 21 anos, é restringido o trabalho em minas,
estivagem ou qualquer trabalho subterrâneo.
O caderno especial da PNAD 2001 mostra que as crianças ocupadas
no ramo agrícola foram as que mais se machucaram ou adoeceram (8,7%),
seguidas das ocupadas na indústria (6,8%) e construção civil (5,1%).
Assim, o trabalho na agropecuária expõe os trabalhadores a
ferramentas e máquinas, a produtos químicos, como agrotóxicos e
herbicidas, cujo uso pode ser lesivo, e que podem ocasionar intoxicações,
alergias, cortes ou até amputações. O estudo citado indicou, no entanto, que
pequena parte das crianças ocupadas utilizou produtos químicos. A maior
incidência de machucados ou doentes devido ao trabalho acontece na
cultura da banana, de oleaginosas, na rizicultura, produção de verduras e
48 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
cultura do milho. Esse resultado deve ser visto atentamente. Há uma
discussão maior dos efeitos danosos de culturas agrícolas como a cana de
açúcar, o sisal e fumo, e se presta pouca atenção aos danos à saúde do
originados do cultivo de banana ou da produção de verdura .
A tabela 2.6 mostra a porcentagem de crianças desenvolvendo
atividades agrícolas no total de crianças trabalhadoras. Mostra também o
número de crianças no ramo agrícola por sexo e idade. A maioria dos mais
jovens trabalha no setor agrícola, relação ainda mais forte para os meninos.
Como ressaltado por Cepea/USP (2007), parece que as atividades agrícolas
são de fácil acesso a crianças pequenas, talvez por estarem engajadas em
atividades familiares. Quanto mais velho, menor a proporção de trabalho no
setor agrícola, principalmente para as meninas, que passam a se ocupar dos
serviços domésticos.
Tabela 2.6 – Estimativa de crianças e adolescentes de cinco a15
anos ocupadas na atividade agrícola segundo sexo e por idade – Minas
Gerais – 2006.
5
5 Proporção do cultivo de cana, sisal e verduras e banana em MG? Onde encontrar esses dados?
Fonte: IBGE, PNAD 2006 - Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
|49O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
TRABALHANDO NO SETOR AGRÍCOLA
MENINOS MENINASIDADE
ABSOLUTO* % ABSOLUTO* %
DE 5 A 9 ANOS 9.506 92,3 5.644 76,4
10 7.761 62,4 2.906 50,0
11 9.509 47,1 4.857 47,2
12 14.360 66,6 6.994 40,0
13 18.991 52,6 5.042 41,2
14 19.220 49,0 5.626 28,1
15 25.782 44,6 8.922 25,4
TOTAL 105.129 53,2 39.991 36,9
Nota-se que, para crianças de cinco a 15 anos, a ocupação mais
freqüente no ramo agrícola está na horticultura e na fruticultura. Em
segundo lugar aparecem as atividades ligadas à pecuária e criação de aves
(PNAD, 2006).
b) Comércio e serviços
No comércio, as principais atividades desempenhadas são
atendente de diversos tipos de estabelecimentos comerciais e comércio
ambulante. Esse último tem efeitos totalmente danosos à formação dos
jovens. Pela legislação brasileira, só pode ser realizado a partir dos 18 anos.
Por ser realizado na rua, expõe crianças e jovens a diversas mazelas: tráfico
de drogas, prostituição e diversos tipos de abuso.
No setor de serviços, as principais atividades estão nos serviços
pessoais: manicures, cabeleireiros e esteticistas.O segundo grupo engloba
várias atividades perigosas: lavador de carros, flanelinha, panfletista,
dedetizador, biscateiros e auxiliares de serviços (exclusive comércio e
limpeza). Essas atividades são também danosas ao desenvolvimento de
crianças e jovens pelos mesmos motivos indicados anteriormente.
No setor de serviços, chamam a atenção também os serviços
domésticos, desempenhado pelas meninas principalmente. 10% das
crianças e dos adolescentes que trabalharam em 2006 fizeram algum serviço
no âmbito doméstico. O trabalho doméstico infanto-juvenil gera
preocupações específicas devido, principalmente, a duas peculiaridades: (1)
como esse tipo de trabalho ocorre fora do sistema econômico, há indícios de
que ele tem um impacto diferente sobre a socialização para o trabalho em
relação aos realizados em empresas; (2) por estar restrito ao espaço
domiciliar e, em geral, para um único cliente, permite ou facilita alguns tipos
de abuso, desde a baixa remuneração e longas jornadas de trabalho sem
50 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
direito a descanso semanal remunerado, até formas mais críticas de
exploração como atos de violência (Barros, Mendonça, Deliberalli, Bahia,
2001).
2.3.2 OCUPAÇÕES PERIGOSAS
Atenção especial tem sido dada às formas mais prejudiciais de
trabalho infantil, conforme as convenções 138 e 162 da OIT. A forma pela
qual as atividades estão classificadas na PNAD, entretanto, impede uma
desagregação maior e faz com que atividades particularmente perigosas
para crianças e adolescentes recebam a mesma classificação que outras
menos prejudiciais. Nota-se que a ocupação mais freqüente no ramo
agrícola para crianças de cinco a 15 anos é na horticultura e fruticultura. Em
segundo lugar aparecem as atividades ligadas à pecuária e criação de aves.
Sem contar as atividades agrícolas, 33,2% das crianças e dos
adolescentes que trabalharam desempenharam ocupações que podem ser
consideradas perigosas. As maiores incidências são: babá/acompanhante
(5,6%), pedreiro/pintor (5,6%) e as de doméstico (4,4%). Outro grupo
importante de trabalho para meninos e meninas é composto por atividades
realizadas na rua: ambulantes, entregadores de panfleto e catadores de
papel/lata/ferro velho. Juntos, ocupam 6,9% das crianças que trabalharam
em 2006 (tabela 2.7).
|51O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 2.7: Estimativa de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos em
ocupações perigosas – Minas Gerais - 2006
2.3.3 JORNADADE TRABALHO
A jornada de trabalho é outra variável que deve ser avaliada para
tentar perceber as implicações da inserção precoce dos jovens no mercado
de trabalho. A concorrência entre escola e trabalho é sempre prejudicial na
medida em que toma tempo que deveria ser dedicado a outras atividades
adequadas a cada faixa etária. Quanto maior o tempo usado para atividades
produtivas, maior a perda de bem estar.Comparando-se com o mercado de trabalho em geral, as jornadas de
trabalho das crianças são reduzidas. Geralmente, é menor do que o limite
52 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
OCUPAÇÕES PERIGOSAS % ABS
Artesão 1,1 4.274
Doméstico 4,4 16.893
Garçom/copeiro/cozinheiro 1,5 5.623
Faxineiro/gari/jardineiro 1,3 4.857
Babá/acompanhante 5,6 21.578
Catador de ferro velho, latinha 1,6 6.207
Ambulantes 3,6 13.840
Entregador de panfleto, lavador de carro, flanelinha 1,7 6.641
Carvoeiro 0,2 581
Pedreiro/pintor 5,6 21.435
Indústria mecânica 1,0 3.692
Indústria Têxtil 2,0 7.782
Calçados e produtos de couro 0,3 975
Carpinteiro/confeccionador de escovas, vassouras 0,5 1.556
Operador de máquinas, prensadores/ funileiros/ lanterneiros de automóveis 2,8 10.874
Total 33,2 126.808
usual de tempo de trabalho (entre 40 e 44 horas). Ressalta-se, entretanto,
que 14% das crianças de dez a 15 anos trabalharam mais que 40 horas
semanais (PNAD, 2006).
Atabela 2.8 mostra a proporção de pessoas em cada faixa de jornada
de trabalho que não freqüentavam escola. Constata-se, assim, que tal
proporção é maior quanto maior a jornada de trabalho. Somente 11,6% das
crianças de dez a 15 anos não freqüentavam escola em 2006. Há uma
diferença, porém, de acordo com a jornada de trabalho. Entre os que
trabalharam até 14 horas, somente 2,4% não freqüentavam escola. Já entre
os que trabalharam entre 40 e 44 horas ou 45 horas ou mais, 33,3% e 67,6%,
respectivamente, não freqüentavam escola/creche.
O que as informações parecem indicar é que o trabalho infantil de
fato concorre com a dedicação à escola. A informação positiva é a de que a
maioria das crianças e dos adolescentes freqüentam a escola, trabalhando
ou não. Em qualquer caso, entretanto, a freqüência à escola é menor entre as
crianças que trabalham do que entre as que não trabalham. Além disso, a
jornada de trabalho representa um risco adicional importante para a
escolarização: é entre crianças e adolescentes com as jornadas mais longas
que se concentra a deserção da escola. Deve-se perguntar também sobre a
sustentabilidade dessa “competição” entre escola e trabalho. É provável
que, para os que ingressam precocemente no mercado de trabalho ao
mesmo tempo em que estudam, o rendimento escolar e o desgaste se
imponham (agravados pelas condições de trabalho) e, após algum tempo, a
criança ou o adolescente tenda a se evadir da escola.
|53O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 2.8: Estimativa de crianças e adolescentes de dez a 15 anos ocupados
que freqüentavam escola jornada semanal de trabalho - Minas Gerais -
2006.
A análise da relação entre trabalho infantil e acesso à educação
deve, porém, tomar cuidado com a sobreposição entre renda, trabalho
infantil e freqüência à escola. Como se sabe, a renda familiar está
fortemente associada à escolarização: quanto maior a renda familiar, maior
tendencialmente a freqüência, permanência e o desempenho de uma
criança na escola. Por outro lado, conforme se mostrou anteriormente, o
trabalho infantil está concentrado nas famílias de menor renda familiar.
Assim, a renda e não o trabalho explicaria a falta de acesso dessas crianças
à escola.
A tabela 2.9 ajuda a compreender essa situação. De fato, pode-se
notar que a freqüência à escola é maior nas faixas de rendimento mais alta.
Em quase todas as faixas de rendimento, no entanto, há uma taxa maior de
freqüência à escola entre crianças e adolescentes não ocupados em relação
aos que trabalharam. Isso reforça a hipótese abraçada aqui: tanto o acesso à
54 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
FREQUENTAVA
ESCOLA/CRECHETOTAL
HORAS TRABALHADAS
% Absoluto* Absoluto* %
Até 14 horas 97,6 116.456 119.364 41,39
15 a 39 horas 91,7 118.195 128.861 44,68
40 a 44 horas 66,7 13.988 20.961 7,27
45 ou mais 32,4 6.228 19.223 6,67
Total 88,4 254.867 288.409 100
Fonte: IBGE, PNAD 2004, 2005 E 2006 Elaboração:Fundação João Pinheiro (FJP)
Nota: como quase a totalidade das crianças até nove anos estava na escola,não é possível desagregar essa informação para essa faixa etária. * Estimativa
educação quanto o trabalho infantil são fenômenos complexos. Diferentes
ordens de fatores contribuem para seu comportamento.
Tabela 2.9 – Estimativa de crianças e adolescentes entre cinco e 15
anos segundo faixa de renda domiciliar per capita, por condição econômica
e freqüência à escola – Minas Gerais - 2006
Quanto às diferenças de jornada entre os setores de atividades, note-
se que a jornada é maior no comércio (tanto média quanto mediana). Ela tem
dispersão menor, porém, que a construção civil. Nos serviços domésticos,
também se encontram crianças que trabalham mais do que meia jornada. A
metade delas trabalha mais do que 20 horas semanais.
|55O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
OCUPADOS NÃO OCUPADOS
FAIXA DE RENDA DOMICILIAR PER
CAPITA (Salários Mínimos)
%
FREQUENTA
ESCOLA
ABSOLUT
O
%
FREQUENTA
ESCOLA
ABSOLUT
O
Sem rendimento 0 87,5 17.741
Ate 1/4 85,8 49.084 89,7 312.171
Mais de 1/4 ate 1/2 84,5 86.605 93,2 851.654
Mais de 1/2 a 1 87,2 108.596 95,9 1.113.467
Mais de 1 a 2 92,0 62.238 97,3 592.704
Mais de 2 100,0 5.062 99,2 163.541
Sem declaração 92,1 6.806 98,1 40.350
87,7 329.285 95,2 3.302.020
Fonte: IBGE, PNAD 2006 Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
Tabela 2.10: Jornada semanal de trabalho de crianças e adolescentes entre
cinco e 15 anos por setor de atividade econômica – Minas Gerais - 2006
2.3.4. TRABALHO NÃO REMUNERADO
Grande parte das crianças que trabalham desempenham atividades
não remuneradas, principalmente quando mais novos. No geral, 91% das
crianças de cinco a nove anos que trabalham não são remunerados. Dentre
os de dez a 15 anos, essa proporção se reduz para 47% de não remunerados
(tabela 2.11).
Nota-se que não há um padrão estabelecido por características
pessoais, mas por tipo e local do empreendimento. Assim, as crianças que
trabalham em áreas rurais têm probabilidade muito maior de
desempenharem atividades não remuneradas do que as das áreas urbanas. A
partir de dez anos, somente 29,6% das crianças ocupadas em áreas urbanas
não são remuneradas, contra 77,6% dos que trabalham em áreas rurais.
Por tipo de família, constata-se um equilíbrio entre os trabalhadores
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
56 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
HORAS TRABALHADAS
SETOR DE ATIVIDADE MÉDIA 25% 50% 75% ESTIMATIVA
Agrícola 20 10 16 28 129.970
Indústria 19 10 16 24 24.690
Construção 21 7 12 40 14.817
Comércio 22 10 21 20 62.557
Serviços 14 5 12 20 30.709
Serviços Domésticos 23 7 20 30 18.071
Outras atividades 19 8 16 25 7.595
Total 20 288.409
remunerados ou não, principalmente na faixa etária entre dez e 15 anos.
Antes disso, quase a totalidade desempenha trabalho não remunerado.
Aanálise por freqüência à escola revela que metade das pessoas que
freqüentavam escola/creche não eram remunerados, contra apenas 20,2%
dos que não freqüentavam escola. Isso pode indicar que o trabalho
remunerado apresenta características mais mercantilizadas e menos
familiares. Semelhante característica, nesse caso, pode torná-lo um
trabalho menos protegido em relação à jornada, cuidado com outras
dimensões da vida (como o próprio estudo) etc.
|57O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 2.11: Proporção de crianças e adolescentes de cinco a 15 anos
ocupadas em trabalho não remunerado segundo faixa etária, por atributos
pessoais e de mercado - Minas Gerais - 2006
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
58 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Trabalho não remunerado
5 a 9 anos 10 a 15 anos
Especificação% Absoluto* % Absoluto*
Sexo
Masculino 88,7 12.242 48,4 198.822
Feminino 93,8 8.756 44,9 103.302
Cor/Raça
Branca 95,8 8.924 46,1 107.552
Preta 84,3 3.113 43,5 32.833
Parda 88,5 8.961 48,9 161.739
Analfabetismo
Sim 96,4 15.748 48,0 302.124
Não 77,1 5.250 0,0 -
Situação Censitária
Urbano 81,4 9.374 29,6 119.998
Rural 100,0 11.624 77,6 182.126
Região Metropolitana
Sim 92,3 4.725 42,7 41.750
Não 90,3 16.273 48,0 260.374
Ramo de Atividade
Agrícola 100,0 17.681 76,3 212.059
Não Agrícola 60,8 3.317 24,9 90.065
Tipo de Família
Casal com Filhos 100,0 13.987 52,4 258.777
Mãe com Filhos 93,2 5.438 49,4 208.114
Outro tipo de família 93,0 5.250 50,1 180.769
Freqüência à escola
Sim 100,0 17.287 50,9 286.035
Não 20,2 16.089
Pela tabela 2.12, constata-se que o peso do trabalho não remunerado
é devido basicamente ao setor agrícola e à construção civil. Nos demais
setores, a prevalência é do trabalho remunerado. Há espaços de inserção no
mercado de trabalho que determinam a forma e o tipo de força de trabalho a
ser empregada. O fato de que está nas atividades agrícolas a maior incidência
de trabalho não remunerado indica a importância das crianças no apoio aos
empreendimentos familiares.
Tabela 2.12: Distribuição das crianças de cinco a 15 anos ocupadas
em trabalho não remunerado por setor de atividade econômica – Minas
Gerais - 2006
NÃO REMUNERADOSETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA
% Absoluto*
Agrícola 79,4 206.436
Indústria 36,3 17.918
Construção 50,7 15.027
Comércio 29,5 36.892
Serviços 25,3 15.560
Serviços Domésticos ...** ...**
Outras atividades 7,6 1.162
Total 292.995
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP) - *Estimativa**... Amostra não permite desagragação neste nível
|59O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A tabela 2.13 apresenta a distribuição dos ocupados de cinco a 15
anos, por tipo de trabalho e faixa de renda domiciliar per capita. Apesar de
diferenças na distribuição, não é identificável um padrão claro que, quanto à
renda familiar, diferencie crianças e adolescentes que desempenharam
trabalho remunerado dos não remunerados. O peso do setor agrícola parece
ser a principal influência sobre o tipo de trabalho, se é remunerado ou não.
Tabela 2.13: Distribuição percentual dos ocupados de cinco a 15
anos segundo faixa de renda domiciliar per capita por tipo de trabalho –
Minas Gerais, 2006
FAIXA DE RENDA DOMICILIAR
PER CAPITA
(salários mínimos)
REMUNERADO NÃO REMUNERADO TOTAL
Até 1/4 8,3 21,2 14,5
Mais de 1/4 ate 1/2 24,6 30,0 27,3
Mais de 1/2 a 1 35,7 28,8 32,3
Mais de 1 a 2 25,0 13,1 19,2
Mais de 2 a 3 0,7 2,3 1,5
Sem declaração 2,9 0,8 1,9
100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
60 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
|61
2.4 RENDIMENTOSDO TRABALHO
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Amaioria das crianças ocupadas de
cinco a nove anos são trabalhadoras
sem remuneração, seja em ajuda a
negócios e parentes, seja para a
produção ou o próprio consumo.Para aqueles que auferem renda, ela é geralmente baixa. A
contribuição desse recurso para a renda familiar, porém,
mostrou-se importante. Em muitos casos, os rendimentos
gerados pelo trabalho infantil são cruciais para a
sobrevivência das famílias.
A média de renda das crianças ocupadas de dez a 15
anos foi de R$ 122,00 em 2006. 23% das crianças ocupadas
nessa faixa etária não são remuneradas (não estão
computadas aquelas que não tiveram rendimento no mês).
Um terço recebeu entre R$ 5,00 e R$ 50,00.
Tabela 2.14: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a 15 anos
ocupados por faixa de rendimento- Minas Gerais - 2006
Vale notar que, em média, os rendimentos auferidos pelas crianças
de dez a 15 anos representavam 11,9% da renda total do domicílio, e 7%
contribuíram com mais de 30% da renda domiciliar.
Por fim, verificou-se que a renda de 10,9% das crianças de dez a 15
anos equivaleu a de 20% a 30% da renda domiciliar total.
62 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
Ocupados de 10 a 15 anosFaixas de Rendimento (R$)
Abs %
Até 50 47.624 34,0
Mais de 50 a 100 33.766 24,1
Mais de 100 a 150 21.383 15,2
Mais de 150 a 200 16.122 11,5
Mais de 200 a 250 5.624 4,0
Mais de 250 a 300 3.301 2,4
Mais de 300 a 400 10.296 7,3
Mais de 400 2.137 1,5
Total 140.253 100,0
Tabela 2.15: Distribuição de crianças e adolescentes de dez a15 anos
ocupados por faixa de contribuição para a renda domiciliar – Minas Gerais,
2006
Ocupados de 10 a 15 anosContribuição para a renda domiciliar (%)
Abs %
até 5 43.350 31,6
mais de 5 a 10 40.806 29,7
mais de 10 a 15 17.079 12,4
mais de 15 a 20 11.248 8,2
mais de 20 a 30 14.942 10,9
mais de 30 9.902 7,2
Total 137.327 100,0
Fonte: IBGE, PNAD 2006. Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP)
|63O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
2.5 CONSIDERAÇÕESFINAIS
Ocombate ao trabalho infantil é um dos
desafios tanto para a proteção dos
direitos da infância e da adolescência
quanto para a construção de um
mercado de trabalho civilizado no
Brasil.
No caso de Minas Gerais, esse desafio é maior.
Após um decréscimo importante, a taxa de ocupação de
crianças e adolescentes voltou a crescer em 2005 e, um
pouco menos, em 2006. Parte desse crescimento talvez
possa ser atribuído a um efeito indesejável do fenômeno
positivo de recuperação das taxas mais gerais de ocupação
da população. Desse ponto de vista, intervenções centradas
na fiscalização ou na inclusão das famílias nos programas
como o Peti são indispensáveis, mas insuficientes. Há que
se reduzir a demanda por trabalho infantil e a tolerância em
relação a ele.
A discussão apresentada aqui traz alguns elementos
64 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
importantes para o combate ao trabalho infantil. Os dados ressaltam que a
situação socioeconômica das famílias parece ser um importante
condicionante do trabalho infantil. Em todos os grupos analisados, a taxa de
ocupação é maior entre as famílias com menor rendimento, o que não chega
a ser surpreendente.
Apesar de importante, entretanto, a renda das famílias não parece
ser o único fator a influenciar o trabalho precoce. Há varias indicações disso
no trabalho: apesar de maior nas famílias com menor rendimento, a taxa de
ocupação é expressiva também em outras faixas. Parte grande das crianças
não recebe remuneração pelo trabalho (provavelmente trabalho familiar).
Entre os que recebem remuneração, ela é muito pequena na maior parte.Na
maioria dos casos, a contribuição para a renda familiar dos rendimentos
obtidos pelo trabalho é reduzida.
Essas são indicações de que, do ponto de vista da “oferta” de
trabalho infantil (ou seja, a disposição para trabalhar ou a aceitação do
trabalho por parte de crianças, adolescentes e suas famílias), há também
determinantes não econômicos. Eles podem ser de diversas ordens, e pode-
se especular sobre algumas situações. Há fatores culturais, como a
percepção de que o trabalho infantil (principalmente na adolescência)
possui efeito “educativo”. Ele contribuiria para aumentar a
responsabilidade, a disciplina. É melhor do que o “ócio”, estar na rua, ou em
más companhias, entre outros.
Pode haver também casos e setores em que o próprio processo de
trabalho supõe tradicionalmente a inclusão de crianças e adolescentes.É o
caso da agricultura familiar ou em que a aprendizagem do ofício se dá por
meio da inclusão progressiva do aprendiz na profissão, como em alguns
setores artesanais. Possivelmente há também aquelas situações onde a
participação da criança é vista como forma de proteção: na ausência de
|65O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
alternativas confiáveis de cuidado de crianças e adolescentes, a família
julga que acompanhar os pais no trabalho é uma forma mantê-los perto e sob
sua orientação.
Desse ponto de vista, o combate ao trabalho infantil precisa incluir
alternativas econômicas (renda ou oportunidades de obtê-la) que
substituam o rendimento da criança e/ou do adolescente. Precisa também
alternativas de atendimento às crianças (atividades complementares à
escola vistas como relevantes pelas famílias, escolas em tempo integral
etc.). É importante também esclarecer a família sobre os verdadeiros riscos
e prejuízos decorrentes do ingresso precoce no trabalho. Finalmente,
observada a existência das alternativas, é necessário, nos casos mais
renitentes, responsabilizar famílias e empregadores pela violação de
direitos.O trabalho mostra também que há grupos e famílias mais
vulneráveis ao trabalho infantil. Ele (não incluídos os afazeres domésticos)
é majoritariamente masculino e atinge mais as crianças negras. Quanto à
composição familiar, a taxa de ocupação é maior nas famílias mais
numerosas. Ao contrário da visão predominante no senso comum, no
entanto, não parece ser mais freqüente nas famílias ditas monoparentais.
Entre todos os fatores analisados, reforça-se o aspecto crítico da idade. A
entrada na adolescência parece estar associada ao aumento da pressão para o
ingresso no mercado de trabalho e/ou ao aumento da tolerância em relação a
essa violação de direitos. O desenho das intervenções deve contemplar a
vulnerabilidade crescente dos adolescentes ao trabalho. A extensão dos
benefícios do Bolsa-Família a esse público é um exemplo do início do
processo de reconhecimento de riscos e vulnerabilidades enfrentados pelos
cidadãos dessa faixa etária.
Quanto a esse ponto, deve-se estar atento também para o problema da
66 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
escolaridade. Apesar de alta a freqüência à escola tanto entre os ocupados
quanto os não ocupados, deve-se ressaltar que, em qualquer faixa de renda,
crianças e adolescentes ocupados têm acesso menor à escola do que os não
ocupados. Além disso, jornadas mais extensas aumentam os riscos para a
escolarização representados pelo trabalho. À medida que a idade avança, é
crescente a “opção” (na medida em que se pode falar de escolha) pelo
trabalho em detrimento da escola. Isso ressalta a importância de políticas
como o Poupança Jovem, que procura ampliar os benefícios e a atratividade
da conclusão do ensino médio para os adolescentes. É preciso acrescentar
que as intervenções devem ter em foco a atratividade da escolarização e
também a garantia das condições para permanecer na escola.
Do ponto de vista dos setores e atividades, deve-se destacar a
concentração em alguns setores e atividades. Há forte participação das
atividades agrícolas na zona rural e da construção civil e do trabalho
doméstico na zona urbana. Isso permite desenhar intervenções de combate
ao trabalho infantil orientadas não apenas para a “oferta” de trabalho
infantil, mas também para a redução da “demanda”.Para isso, pode-se focar
cadeias produtivas, comprometendo os elos mais concentrados e
institucionalizados das cadeias produtivas (grandes empresas, que não
utilizam diretamente trabalho infantil, mas às vezes consomem insumos
que se utilizam dele) com a correção social das matérias primas e dos
serviços que consomem. Exemplo de intervenções desse tipo é a
certificação de produtos e cadeias produtivas vinculados à visibilidade
social e também o acesso a crédito ou programas de fomento, ou como
condição para participação em licitações.
Outro tipo de ação é a mobilização de setores específicos, incluindo
associações de classe, sindicatos de trabalhadores e patronais,
consumidores etc. Permite também (o que, em boa medida, já é feito)
|67O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
direcionar melhor a fiscalização por parte de conselhos tutelares,
Ministério do Trabalho e Ministério Público, entre outros.Deve-se notar ainda que grande parcela de crianças e adolescentes
trabalhadores estava ocupada em atividades que representam riscos físicos
ou sociais. Isso deve ser ressaltado. Demonstra o equívoco de se supor que o
trabalho infantil é inofensivo, quando não benéfico para as crianças e suas
famílias.
Finalmente, considerando que a ocupação da mão-de-obra de
crianças e adolescentes parece decorrer tanto de fatores econômicos quanto
culturais, é necessário alterar a percepção e a tolerância generalizada em
relação ao trabalho infantil. Para isso, campanhas mais intensas de opinião
pública, mobilização de personalidades com prestígio social e visibilidade
e estímulo e difusão tanto de estudos sobre o assunto quanto de iniciativas
exitosas de enfrentamento do problema devem compor a estratégia de
enfrentamento do trabalho infantil.
Boa parte dos investimentos sociais apresenta a característica de
“rendimentos decrescentes”: de início, as situações-problema respondem
de forma imediata e intensa às intervenções públicas. A partir de certo
ponto, cada avanço é muito mais custoso e difícil. É o caso do acesso à
educação, da mortalidade infantil e parece ser o caso do trabalho infantil.
Isso exige intervenções decididas, estratégicas e continuadas de todos os
setores comprometidos com os direitos de crianças e adolescentes.
68 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Odebate sobre o trabalho de crianças e
adolescentes no Brasil não é novo. As
discussões e ações sobre essa questão
têm merecido maior atenção por parte
tanto do Estado como da sociedade há,
pelo menos, 15 anos, quando, entre outros fatos, o Estatuto
da Criança e doAdolescente (ECA) foi aprovado.
Nesse período, uma série de experiências bem
sucedidas foram desenvolvidas com relação ao trabalho
infantil nas ruas, tanto por iniciativas do terceiro setor, como
por ações sociais de empresas e pelo próprio Estado. Entre as
experiências mais freqüentes, temos os diversos trabalhos e
programas de transferência de renda, ações voltadas para a
formação e qualificação de jovens, campanhas publicitárias,
acompanhamento de famílias, construção e manutenção de
abrigos, aumento da fiscalização trabalhista e o próprio
desenvolvimento da legislação. Do ponto de vista
institucional, temos a criação dos conselhos da criança e do
3 VIDA E TRABALHONAS RUAS DE MINAS GERAIS
|69O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
adolescente, nas esferas federal, estadual e municipal e também a
implantação dos conselhos tutelares, promotorias especializadas e das
próprias delegacias regionais do trabalho.
Mesmo com a melhoria das ações e o esforço de muitas instituições,
persiste ainda o problema do trabalho infantil, de forma geral, e
especificamente o trabalho infantil nas ruas.. Ele demanda, sem dúvida,
ações mais específicas e de melhor qualidade. Nesse contexto, é necessário
conhecer melhor os empecilhos que barram a maior efetividade das
políticas voltadas para essa questão social.
Analisando diretamente o trabalho infantil nas ruas, observam-se
pelo menos três grandes problemas relacionados à formulação e
implementação de políticas públicas. O primeiro é a falta de conhecimento
de quem são e quantas são essas crianças e esses adolescentes, que fatores os
levam às ruas e quais os “mantêm” lá. O segundo se refere a quais
instituições, serviços, programas, projetos e ações atendem esse grupo. O
terceiro, em grande medida relacionado com o segundo, é até onde a
atuação dos vários níveis de governo, terceiro setor e sociedade civil estão
integrados para que as ações sejam eficientes e eficazes.
No que se refere a conhecer essas crianças e suas trajetórias, uma
série de questões e discussões metodológicas justificam as dificuldades
encontradas na abordagem e no desenvolvimento de ações específicas para
esse público.
Entre outros aspectos, essa complexidade se reflete na própria
profusão de definições sobre crianças de rua.
70 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Nesse sentido, Rizzini (1995, p.37) aponta que
Observa-se uma tendência a incluir as crianças estudadas na
categoria geral “meninos de rua” ou “niños de la calle”, como
uma espécie de denominação padronizada, que se tornou
altamente popular na década de 80. Sob o termo “meninos de
ruas”, encontra-se uma multiplicidade de tipos de crianças ou
jovem: do sexo masculino ou feminino; aqueles que passam
apenas parte do seu tempo nas ruas; aqueles que dormem nas
ruas; jovens de 15 a 18 anos, que normalmente não seriam
chamados de “meninos”ou “niños” e assim por diante.
Assim sendo, os estudos voltados para o problema da criança e do
adolescente nas ruas se torna extremamente multifacetado. De acordo com
Koller (1996, p113): ”Um aspecto relevante nesses estudos é a utilização do
espaço da rua como fonte de recursos para subsistência e socialização para
algumas dessas crianças.”
Por outro lado, considerando-se as pesquisas oficiais de caráter
domiciliar, como os censos demográficos ou a Pesquisa Nacional por
Amostra Domiciliar (PNAD), é muito difícil identificar quem de fato
seriam as crianças em situação de rua. Seja porque não identificam o que
crianças e adolescentes fazem nas ruas, já que muitos estão nos setores
informais da economia. Seja devido ao fato de que muitas famílias na rua
não possuem domicílio.
Dadas essas diversidades de enfoques, é complicado dimensionar
ou mesmo realizar estudos comparativos numa perspectiva geral, como a
|71O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
estadual ou a nacional. Muitas vezes, cada município, entidade ou
organização trabalha com um conceito de criança em situação de rua, uma
estratégia de coleta de dados e, conseqüentemente, um público diferente.
Isso se torna um grande complicador quando são realizadas políticas
públicas de cunho nacional, estadual, ou metropolitano.
72 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
|73
3.1 CRIANÇAS E ADOLESCENTESENCONTRADOS
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Nesta pesquisa, total foram abordadas
3.028 crianças e adolescentes nos 21
municípios no período de 20 a 26 de
agosto de 2007 (semana de referência
da pesquisa). O público alvo foram
todas as crianças e os adolescentes até 18 anos incompletos
que estivessem nas zonas urbanas e na rua exercendo
qualquer tipo de ocupação (incluindo nesses casos
mendicância, guardadores de carro e guardas mirins, entre
outros), durante os três períodos do dia (manhã, tarde e
noite). Também foram incluídas as crianças e os
adolescentes com trajetória de rua morando em abrigos
temporários (casas de passagem) há menos de três meses,
os quais, do mesmo modo, foram mapeados e visitados. No
caso das crianças muito pequenas, o questionário foi
respondido por algum adulto ou jovem que as
acompanhava.
Após serem abordadas, crianças e adolescentes
respondiam a um questionário com 25 questões organizadas em sete blocos:
características individuais, educação, família, ocupação nas ruas,
características do local de moradia, saúde/violência e expectativa de vida.
De maneira geral, avaliou-se que a qualidade dos dados obtidos nos
municípios foi bastante adequada no que se refere a aspectos de
confiabilidade e validade. No limite, apenas os dados do município de
Uberlândia não alcançou o grau de confiabilidade considerado adequado.
Mesmo assim, optou-se por incluí-los nas análises que se seguem.
Sucintamente, os questionários válidos representaram 83,19%
(2.519) do universo pesquisado, e as recusas representaram 16,81% (509).
Para analisar as informações por município, não basta identificar o número
total de questionários. Muito provavelmente, o número de crianças nas ruas
é influenciado pelo tamanho da população de crianças e adolescentes no
município. Para se ter uma noção mais clara da situação, dividimos o
número de questionários aplicados pela população de crianças e
adolescentes de até 18 anos estimada pelo IBGE para 2007 (na tabela 3.1 e
no gráfico 3.1) .
Tabela 3.1: Questionários aplicados às crianças e aos adolescentes em
situação de rua por município - Minas Gerais – 2007
6
6 Deve-se tomar cuidado na análise destas taxas nos municípios pertencentes a Regiões Metropolitanas, pois o municípiosede tende a atrair as crianças dos outros municípios, como ocorre em Belo Horizonte, por exemplo, em que uma proporçãoalta das crianças encontradas nas ruas moram em outros municípios.
MUNICÍPIOSPOPULAÇÃOTOTAL* 2007
POPULAÇÃO| 18 ANOS
2007**ENTREVISTAS RECUSAS
TOTALENTREVISTAS
E RECUSAS
POP RUA/ POP | 18ANOS (%)
Almenara 36.907 14.009 111 4 115 0,82Belo Horizonte 2.412.937 720.886 711 279 990 0,14Betim 415.098 158.184 56 29 85 0,05Contagem 608.650 202.409 140 9 149 0,07Divinópolis 209.921 66.040 137 24 161 0,24GovernadorValadares
260.396 90.241 112 7 119 0,13
Ibirité 148.535 58.046 155 22 177 0,30Ipatinga 238.397 80.967 244 11 255 0,31Janaúba 65.387 27.043 28 4 32 0,12Januária 64.985 28.532 38 5 43 0,15Juiz de Fora 513.348 152.331 39 4 43 0,03Montes Claros 352.384 129.801 145 42 187 0,14Muriaé 95.548 30.799 110 9 119 0,39Ouro Preto 67.048 22.925 21 4 25 0,11Poços de Caldas 144.386 43.430 28 6 34 0,08Ribeirão das Neves 329.112 126.239 71 1 72 0,06Sabará 120.770 43.027 63 17 80 0,19Santa Luzia 222.507 81.748 54 1 55 0,07Teófilo Otoni 126.895 45.119 86 14 100 0,22Uberaba 287.760 87.049 153 10 163 0,19Uberlândia*** 608.369 193.776 17 7 24 0,03Total 6.720.971 2.208.826 2.519 509 3.028 0,14
* IBGE, 2007, referencia 1o de abril, 2007, consulta dia 30/01/2008.** Estimativas com base na distribuição por grupo etário proporcional do Censo 2000.
*** Dados não confiáveis.Fonte: Pesquisa sobre Trabalho de Crianças e Adolescentes de Minas Gerais, 2007.
74 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Gráfico 3.1: Proporção de crianças e adolescentes em situação de
rua em relação ao total de crianças e adolescentes por município pesquisado
– Minas Gerais - 2007
Os formulários incluídos no banco foram classificados entre válidos
e recusas. Para efeitos desta pesquisa, válidos são aqueles em que o
aplicador conseguiu que o entrevistado respondesse até o final, mesmo que
as informações não tenham sido relatadas na íntegra ou de forma adequada.
As recusas, por sua vez, originam-se da desistência do entrevistado
em responder às perguntas até o fim ou da negação do jovem em responder o
formulário. Ou seja, recusas são os formulários em que o entrevistador não
conseguiu encerrar a entrevista com o jovem ou aqueles jovens que se
recusaram a responder. Os questionários válidos representaram 83,19%
Relação Porcentual Questionários Crianças Rua/ Pop.< 18 anos
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90
AlmenaraBelo Horizonte
BetimContagem
Divinópolis
Governador Val.Ibirité
IpatingaJanaúbaJanuária
Juiz de Fora
MuriaéOuro Preto
Poços de CaldasRibeirão das Neves
SabaráSanta Luzia
Teófilo OtoniUberaba
Uberlândia
Mun
icíp
ios
% de questionários
Fonte: Fundação João Pinheiro
|75O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
(2519) da amostra total, as recusas, 16,81% (509).
A pesquisa também procurou registrar o motivo das recusas, por que
os entrevistados se recusaram a responder e/ou interromperam sua resposta.
A tabela 3.2 aponta que 57,96% dos formulários recusados apresentaram
motivo de recusa explícita, 23,58% das recusas se devem ao fato de o
entrevistado ter corrido no momento da abordagem e/ou durante a entrevista.
O motivo de 11,39% das recusas foi a proibição de adultos. 3,54% das
recusas se devem a que outras crianças/adolescentes impediram os
entrevistados. Ainda foram citados como motivos de recusa o fato de o
entrevistado estar aparentemente embriagado/drogado (3,14%) e outros
motivos não listados (3,73%).
Tabela 3.2: Motivo das recusas de crianças e adolescentes em
situação de rua em responder ao questionário - Minas Gerais – 2007.
Registrou-se quem foi o entrevistado, se a própria criança ou
oadolescente ou se outra pessoa. Essa estratégia, basicamente, foi utilizada
para crianças muito pequenas, que não poderiam responder às questões. A
Motivo da recusa Freqüência (%)
Correu 23,58
Aparentemente embriagado/ drogado 3,14
Recusa Explícita 57,96
Impedido por terceiros, adultos. 11,39
Impedido por terceiros, outras crianças/
adolescentes 3,54
Outros 3,73
Fonte: Fundação João Pinheiro
76 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
tabela 3.3 mostra que 81,21% dos formulários foram respondidos pelos
próprios jovens e apenas 5,68% por terceiros.
Tabela 3.3: Descrição dos entrevistados - Minas Gerais – 2007.
Objetivando melhor caracterizar a pesquisa e captar informações sobre o
horário em que os jovens encontram-se na rua, registrou-se o horário em
que a entrevista foi realizada e a relacionou-se a um período do dia (manhã,
tarde, noite, madrugada). O gráfico 3.2 indica que 39,99% das entrevistas
foram realizadas no período da manhã (6:01 às 12:00); 37,91%, na parte da
tarde (de 12:01 às 18:00); 19,19%, durante a noite (18:01 às 24:00), e
apenas 0,53%, no período da madrugada (24:01 às 6:00).
Gráfico 3.2: Horário das entrevistas com as crianças e os
adolescentes em situação de rua - Minas Gerais – 2007.
QUEM RESPONDEU OFORMULÁRIO
Nº DEFORMULÁRIOS
% DE FORMULÁRIOS
Própria criança/ adolescente 2459 81,21Outra pessoa 172 5,68Não Informado 397 13,11TOTAL 3028 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro* Irmãos, parentes ou outras pessoas que acompanhavam as crianças
39,99%
37,91%
19,19%
0,53%
2,38%
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45
Não informado
Madrugada
Noite
Tarde
Manhã
Crianças e Adolescentes
Fonte: Fundação João Pinheiro
Hor
ário
da
entr
evis
ta
|77O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.2 Perfil de crianças eadolescentes emsituação de rua
a) Sexo
A pesquisa identificou a faixa etária e o sexo das
crianças e dos adolescentes em situação de rua (tabela 3.4).
Das respostas válidas, 82,14% dos jovens (2069
crianças/adolescentes) se afirmaram do sexo masculino, e
17,03% (429 crianças/ adolescentes), do sexo feminino.
Tabela 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua por
sexo - Minas Gerais – 2007.
Observa-se a porcentagem mais baixa da presença das
mulheres, se comparada à dos homens, em todos os
Sexo Absoluto %
Masculino 2069 82,14
Feminino 429 17,03
Não Informado 21 0,83
TOTAL 2519 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro.
78 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
municípios estudados (tabela 3.5). Janaúba apresenta a maior “distorção
homens-mulheres”: 96,77% para homens e 3,23% para mulheres. Por outro
lado, Betim revela a mais baixa "distorção homens-mulher” do quadro, com
61,67% para homens e 38,33% para mulheres.
Tabela 3. 5: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo o
sexo por municípios pesquisado - Minas Gerais – 2007.
Sexo (%)Municípios
Homens Mulheres Total
Almenara 90,99 9,01 100,00
Belo Horizonte 76,25 23,75 100,00
Betim 61,67 38,33 100,00
Contagem 77,30 22,70 100,00
Divinópolis 86,33 13,67 100,00
Gov. Valadares 93,86 6,14 100,00
Ibirité 82,39 17,61 100,00
Ipatinga 79,35 20,65 100,00
Janaúba 96,77 3,23 100,00
Januária 86,84 13,16 100,00
Juiz de Fora 82,05 17,95 100,00
Montes Claros 95,12 4,88 100,00
Muriaé 76,52 23,48 100,00
Ouro Preto 90,91 9,09 100,00
Poços de Caldas 90,91 9,09 100,00
Ribeirão das Neves 92,86 7,14 100,00
Sabará 78,79 21,21 100,00
Santa Luzia 88,24 11,76 100,00
Teófilo Otoni 90,53 9,47 100,00
Uberaba 87,34 12,66 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
|79O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
b) Idade
A pesquisa mapeou e dividiu por municípios as faixas etárias que
compreendem o intervalo de zero a 18 anos, e está exposto na tabela 3.6 o
percentual correspondente às seguintes faixas de idade: “zero a seis anos”,
“sete a 14 anos” e “15 a 18 anos”. Se se considerar o primeiro grupo
indicador de “crianças” e o último indicador de adolescentes, verifica-se que
Sabará possui maior percentual relativo de crianças (9,26%), enquanto
Divinópolis indica ter o maior percentual relativo de adolescentes (57,46%).
80 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.6: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo faixa etárias
por município pesquisado - Minas Gerais – 2007.
Faixa Etária (%)Município
0 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 18 anos
Almenara 1,09 75,00 23,91
Belo Horizonte 8,03 48,32 43,65
Betim 5,45 40,00 54,55
Contagem 7,58 53,03 39,39
Divinópolis 0,75 41,79 57,46
Gov. Valadares 1,85 69,44 28,70
Ibirité 4,70 64,43 30,87
Ipatinga 1,72 65,67 32,62
Janaúba 3,70 55,56 40,74
Januária - 87,10 12,90
Juiz de Fora 5,41 40,54 54,05
Montes Claros 0,67 74,67 24,67
Muriaé 2,83 60,38 36,79
Ouro Preto - 50,00 50,00
Poços de Caldas - 55,56 44,44
Ribeirão das Neves 1,49 43,28 55,22
Sabará 9,26 50,00 40,74
Santa Luzia 3,70 59,26 37,04
Teófilo Otoni 2,63 75,00 22,37
Uberaba 4,14 72,41 23,45
Uberlândia 5,26 63,16 31,58
Total 4,46 57,98 37,57
Fonte: Fundação João Pinheiro
|81O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.3 SITUAÇÃOFAMILIAR
Ainda sobre o perfil dos jovens em
situação ou trajetória de rua, procurou-
se saber como se dá a composição
familiar. A tabela 3.7 mostra o
porcentual de jovens que têm filhos.
2,42% dos entrevistados (questionários válidos) afirmaram
tê-los. Dos jovens que afirmaram ter filhos, a pesquisa
ainda registrou seu número. Em média, os jovens pais
possuem 1,16 filho aproximadamente.
Tabela 3. 7: Crianças e adolescentes em situação de
rua que têm filhos - Minas Gerais – 2007.
Os dados da tabela 3.8 e do gráfico 3.3 mostram onde
freqüentemente os jovens em situação de rua dormem.
JOVENS QUE POSSUEMFILHOS
OCORRÊNCIAS % DE JOVENS
Não 2042 81,06Sim 61 2,42Não Informado 416 16,51TOTAL 2519 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
82 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
80,55% dormem na casa dos pais.
10,12% moram em casa de parentes. A terceira opção mais
assinalada foi na rua, sozinho ou com amigos, que conta com 3,89%. Ainda
foram citadas as opções casa de amigos (1,67%), na rua com parentes
(0,79%) e outras opções (outros) não especificadas nas alternativas do
questionário (3,02%). Além disso, 1,55% dos jovens entrevistados não
informou a resposta (não informado).
Gráfico3.3: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
local onde dormem - Minas Gerais – 2007
Já a tabela 3.9 — também reapresentada pelo gráfico 3.4 — mostra
onde os jovens moram durante a maior parte do tempo. Evidentemente, é de
se notar a semelhança entre os números das duas tabelas ( 3.8 e 3.9). Tal fato
indica que o local onde os jovens dormem coincide com o local eleito como
moradia (isso também pode indicar uma boa consistência dos dados obtidos
na pesquisa).
1,55%
3,02%
0,79%
1,67%
3,89%
10,12%
80,55%
0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00
Não informado
Outros
Nas ruas com os parentes
Casa de amigos
Nas ruas, sozinho ou comamigos
Casa de parentes
Casa dos pais
Freqüência (%)
Fonte: Fundação João Pinheiro
|83O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.8: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local
onde dormem - Minas Gerais – 2007.
Tabela 3.9: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo local
de moradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.
Gráfico 3.4: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
local de moradia durante a maior parte do tempo - Minas Gerais – 2007.
Fonte: Fundação João Pinheiro
ONDE DORME A MAIORPARTE DO TEMPO
FREQÜÊNCIA (%)
Casa dos pais 80,55Casa de parentes 10,12Nas ruas, sozinho ou com amigos 3,89Casa de amigos 1,67Nas ruas com os parentes 0,79Outros 3,02Não informado 1,55
Fonte: Fundação João Pinheiro
LOCAL (%)Casa dos pais 80,39Casa de parentes 10,04Nas ruas sozinho 3,96Casa de amigos 1,65Nas ruas com parentes 0,90Outro 3,06TOTAL 100,00
3,06%
0,9%
1,65%
3,96%
10,04%
80,39%
0 20 40 60 80 100 120
Outro
Nas ruas com parentes
Casa de amigos
Nas ruas sozinho
Casa de parentes
Casa dos pais
Fonte: Fundação João Pinheiro (%)
Fonte: Fundação João Pinheiro
84 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Observa-se que, a partir da análise do local onde as crianças dormem
e suas referências de moradia, pode-se classificá-las em pelo menos três
grandes grupos: o primeiro abrange as que se utilizam da rua apenas para o
trabalho propriamente dito e têm casa e família. O segundo grupo é
composto por aqueles que, mesmo tendo a casa dos pais, também pernoitam
na rua e nos logradouros públicos. O terceiro grupo abrange aqueles
provenientes de famílias que já são moradoras de rua e, nesse caso, estão aí
permanentemente.
A pesquisa também registrou o pernoite ou a permanência das
crianças e dos adolescentes em instituições de atendimento. A partir da
tabela 3.10, temos que 13,50% dos entrevistados já moraram/dormiram em
alguma instituição, enquanto 86,50% afirmaram o contrário.
Tabela 3.10: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo
estadia em instituições de atendimento - Minas Gerais – 2007.
A tabela 3.11 mostra a natureza das instituições freqüentadas pelos
jovens que assinalaram “sim” na questão anterior. Ela indica que, dos jovens
que afirmaram já terem dormido em instituições, 40,27% o fizeram em
algum abrigo; ao passo que a opção casa de passagem foi assinalada por
37,25%. Ainda foram citadas as opções casa lar (5,37%), instituição de
medida sócio-educativa (6,38%) e outro (10,74%).
Pernoite ou estadia (%)
Sim 13,50
Não 86,50
TOTAL 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
|85O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.11: Distribuição das crianças e adolescentes em situação de
rua que pernoitaram em alguma instituição segundo tipo de instituição -
Minas Gerais – 2007.
Quanto ao perfil da convivência familiar dos jovens em trajetória de
rua, procurou-se reproduzir o panorama dessa questão também com base na
situação por municípios mineiros. Conforme as tabelas 3.12 e 3.13, a
maioria das crianças e dos adolescentes nos municípios pesquisados
declarou morar com a mãe ou só com a mãe.
Tipo de Instituição (%)
Abrigo 40,27
Casa de passagem 37,25
Casa lar 5,37
Instituição de medida sócio-educativa 6,38
Outro 10,74
TOTAL 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
86 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3. 12: Crianças e adolescentes em situação de rua que declararam
morar só com a mãe, só com o pai, só com os avós, por município - Minas
Gerais – 2007.
Tabela 3.13: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo pessoas
com quem moram, por município - Minas Gerais – 2007.
MUNICÍPIOS MÃE PAI IRMÃOS AVÓS TIOSOUTROS
PARENTESOUTROS
Almenara 19,09 3,64 2,73 14,55 2,73 0,00 1,82Belo Horizonte 14,79 1,85 1,56 4,27 1,00 1,28 3,13Betim 7,41 7,41 3,70 9,26 0,00 3,70 7,41Contagem 16,67 0,72 2,17 1,45 0,72 1,45 2,90Divinópolis 7,35 0,74 0,74 4,41 0,74 1,47 5,88Gov. Valadares 19,27 1,83 7,34 5,50 0,92 0,00 5,50Ibirité 9,87 1,97 1,32 5,26 0,00 1,97 1,32Ipatinga 7,41 4,94 0,82 2,47 1,65 1,23 2,06Janaúba 10,71 3,57 0,00 17,86 0,00 0,00 3,57Januária 5,41 0,00 5,41 5,41 0,00 0,00 5,41Juiz de Fora 15,38 0,00 2,56 5,13 2,56 0,00 5,13Montes Claros 7,48 2,72 1,36 10,20 2,04 0,00 2,04Muriaé 19,09 2,73 2,73 9,09 0,00 0,91 0,91Ouro Preto 19,05 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 4,76Poços de Caldas 11,54 0,00 3,85 7,69 3,85 0,00 11,54Ribeirão das Neves 7,14 0,00 1,43 4,29 2,86 0,00 1,43Sabará 14,75 6,56 0,00 1,64 0,00 0,00 0,00Santa Luzia 11,11 0,00 0,00 0,00 1,85 3,70 0,00Teófilo Otoni 17,95 2,56 1,28 10,26 0,00 1,28 2,56Uberaba 4,83 1,38 1,38 6,90 2,76 2,07 1,38Uberlândia 16,67 0,00 0,00 5,56 0,00 5,56 0,00Média Total 12,51 2,26 1,82 5,57 1,17 1,17 2,86
Fonte: Fundação João Pinheiro
Fonte: Fundação João Pinheiro
MUNICÍPIOS MÃE (%) PAI (%)IRMÃOS
(%)AVÓS (%)
TIOS(%)
OUTROSPARENTES (%)
OUTROS (%)
TOTAL (%)
Almenara 36,79 23,58 21,23 13,21 2,83 0,47 1,89 100,00Belo Horizonte 38,91 18,35 29,17 4,77 2,62 3,49 2,69 100,00Betim 31,30 26,96 28,70 4,35 1,74 2,61 4,35 100,00Contagem 39,93 22,53 26,62 3,07 2,05 1,37 4,44 100,00Divinópolis 36,13 25,81 27,74 2,90 0,97 1,61 4,84 100,00Gov. Valadares 38,97 16,90 30,52 5,63 1,88 0,94 5,16 100,00Ibirité 35,85 25,21 26,89 5,60 2,52 2,52 1,40 100,00Ipatinga 35,14 27,57 28,65 2,34 2,16 1,98 2,16 100,00Janaúba 35,59 30,51 23,73 8,47 0,00 0,00 1,69 100,00Januária 36,47 25,88 30,59 3,53 0,00 0,00 3,53 100,00Juiz de Fora 36,36 19,32 29,55 4,55 3,41 2,27 4,55 100,00Montes Claros 33,44 24,54 27,91 8,59 1,53 0,92 3,07 100,00Muriaé 39,65 18,06 26,87 8,81 1,76 0,88 3,96 100,00Ouro Preto 40,00 22,00 24,00 4,00 0,00 2,00 8,00 100,00Poços de Caldas 29,63 18,52 22,22 12,96 3,70 0,00 12,96 100,00Ribeirão dasNeves
35,09 21,05 30,99 4,09 2,92 3,51 2,34 100,00
Sabará 39,69 23,66 29,01 3,82 0,76 1,53 1,53 100,00Santa Luzia 37,98 20,16 27,91 3,10 3,88 4,65 2,33 100,00Teófilo Otoni 38,56 20,92 23,53 11,76 1,31 1,31 2,61 100,00Uberaba 35,65 18,73 30,21 7,85 1,51 3,63 2,42 100,00Uberlândia 42,11 21,05 28,95 5,26 0,00 2,63 0,00 100,00Média Total 37,16 21,78 28,08 5,53 2,10 2,30 3,05 100,00
|87O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Sabendo que a presença materna corresponde a um referencial
determinante na vida de crianças e adolescentes, a pesquisa obteve
informações acerca de alguns perfis da figura materna dos jovens em
situação ou trajetória de rua. A pesquisa procurou identificar as ocupações
e/ou atividades desenvolvidas pela mãe desses jovens. A tabela 3.14
apresenta a relação das mães dos jovens entrevistados com o trabalho na rua,
se elas aí trabalham ou não. A partir dela, temos que apenas 20,11% dos
entrevistados afirmaram que suas mães trabalham na rua, enquanto 77,19%
afirmaram o contrário.
Tabela 3.14: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo
trabalho nas ruas das mães - Minas Gerais – 2007.
Das mães que trabalham na rua, procurou-se saber quais as
atividades desenvolvidas de forma a identificar as mais recorrentes no
ambiente de rua. A tabela 3.15 mostra que 46,81% das mães que trabalham
exercem a função de vendedora ambulante. Já as que catam
papel/latas/plástico representam 23,19%. As que pedem na rua representam
22,55%. Ainda foram listadas as atividades de guardadora de carros
(4,04%), lavadora de carros (1,49%), distribuidora de panfletos (1,49%),
lavadora de pára-brisa (0,85%), malabarista (0,64%) e garota de programa
(0,64%). Outras opções não listadas acima somaram 4,47%, e 9,57% dos
entrevistados não informaram a atividade das mães.
Fonte: Fundação João Pinheiro
MÃES QUE TRABALHAMNAS RUAS
OCORRÊNCIAS % DE MÃES
Sim 470 20,11Não 1804 77,19Não informado 63 2,70TOTAL 2337 100,00
88 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.15: Distribuição das ocupações das mães de crianças e
adolescentes em situação de rua que também trabalham nas ruas - Minas
Gerais – 2007.
A tabela 3.16 aponta a distribuição percentual das mães dos jovens
em situação ou trajetória de rua que também aí trabalham e não exercem
outros trabalhos, de acordo com os municípios de Minas Gerais. Em todas as
cidades, a maioria das mães não exerce atividades de trabalho na rua. A
média total de todos os municípios pesquisados para as mães que também
trabalham na rua é de 20,65%. É de 79,35% a média total para as mães que
também não trabalham na rua para os mesmos municípios.
Ocupação Freqüência (%)
Vendedora ambulante 46,81
Catadora de papel/ latas/ plástico 23,19
Pede 22,55
Guardadora de carros 4,04
Lavadora de carros 1,49
Distribuidora de panfletos/ propaganda 1,49
Lavadora de pára-brisa 0,85
Faz "malabarismo" 0,64
Garota de programa (exploração sexual) 0,64
Outros 4,47
Não Informado 9,57
Fonte: Fundação João Pinheiro
|89O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.16: Mães das crianças e dos adolescentes em situação de
rua que também trabalham na rua, por município - Minas Gerais – 2007.
Fonte: Fundação João Pinheiro
MUNICÍPIOS SIM (%) NÃO (%) TOTAL (%)Almenara 11,76 88,24 100,00Belo Horizonte 27,84 72,16 100,00Betim 13,73 86,27 100,00Contagem 30,77 69,23 100,00Divinópolis 13,18 86,82 100,00Gov. Valadares 17,31 82,69 100,00Ibirité 27,03 72,97 100,00Ipatinga 21,70 78,30 100,00Janaúba 11,54 88,46 100,00Januária 3,13 96,88 100,00Juiz de Fora 17,95 82,05 100,00Montes Claros 11,85 88,15 100,00Muriaé 15,69 84,31 100,00Ouro Preto 0,00 100,00 100,00Poços de Caldas 4,17 95,83 100,00Ribeirão das Neves 19,40 80,60 100,00Sabará 18,97 81,03 100,00Santa Luzia 22,00 78,00 100,00Teófilo Otoni 12,82 87,18 100,00Uberaba 17,61 82,39 100,00Uberlândia 11,76 88,24 100,00Média total 20,65 79,35 100,00
90 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.4 RELAÇÃO COMA ESCOLA
Nesra seção será discutida a relação de
crianças e adolescentes em situação de
rua com a educação. Será enfocado o
acesso, a percepção dos pesquisados
sobre a escola e a relação entre ela e o
trabalho. A tabela 3.17 mostra que, tal como ocorre com o
trabalho infantil em geral, a maioria das crianças em
situação de rua (quase 76%) freqüenta a escola. A menor
freqüência à escola é dos entrevistados que afirmaram
trabalhar o dia todo (39,15% do total). Os entrevistados que
trabalham no turno da manhã obtiveram o maior índice de
freqüência às escolas: 87,50%. Já o segundo maior índice
de crianças e adolescentes que estudam está no grupo dos
que trabalham no turno da tarde: 87,31%.
Dos entrevistados que afirmaram trabalhar nos
turnos da manhã e noite, 82,35% afirmaram que estudam.
Em seguida, no horário de trabalho dos turnos da tarde e
noite, 78,26% dos jovens afirmaram estudar. Quanto aos
horários de trabalho, é nos turnos da manhã e da tarde que o
|91O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
índice de freqüência à escola cai para 70,43%. Finalmente, das crianças e
dos adolescentes que trabalham no turno da noite, 68,51% afirmaram que
freqüentam a escola.
Tabela 3.17: Crianças e adolescentes em situação de rua segundo
horário de trabalho por freqüência à escola- Minas Gerais - 2007.
A tabela 3.18 indica o percentual de meninos e meninas em situação
de rua, de zero a 17 anos, que estudam e não estudam. Uma observação geral
faz notar que, de zero anos a sete-oito anos, os percentuais de crianças e
adolescentes que estudam é em geral crescente. Por outro lado, é
decrescente o percentual de jovens que estudam com idade aproximada de
dez-11 a 17 anos, faixa etária correspondente ao período de adolescência
Freqüência à escolaPeríodo de
trabalhoSim (%) Não (%)
Não Informado
(%)
Número de
entrevistados
Manhã 87,50 10,63 1,87 536
Tarde 87,31 11,38 1,31 536
Manhã e tarde 70,43 27,82 1,75 399
Dia todo 39,15 59,91 0,94 212
Noite 68,51 28,18 3,31 181
Tarde e noite 78,26 20,50 1,24 161
Manhã e noite 82,35 15,69 1,96 51
Não informado 70,65 26,64 2,71 443
TOTAL 75,66 22,47 1,87 2.519
Fonte: Fundação João Pinheiro
92 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
dos entrevistados.
Tabela 3.18: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
idade, por freqüência à escola – Minas Gerais - 2007.
Freqüência à escola
Idade Sim (%) Não (%)
0 - 100,00
1 - 100,00
2 - 100,00
3 8,30 91,70
4 11,80 88,20
5 23,10 76,90
6 66,70 33,30
7 86,40 13,60
8 84,50 15,50
9 94,20 5,80
10 89,70 10,30
11 90,10 9,90
12 89,70 10,30
13 85,90 14,10
14 84,40 15,60
15 76,40 23,60
16 68,30 31,70
17 62,73 37,27
Fonte: Fundação João Pinheiro
|93O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A tabela 3.19 mostra a freqüência à escola por município. Pode-se
aferir que as cidades com melhor índice de freqüênciasão Januária (92,11%
do total de entrevistados) e Ouro Preto (90,48% de freqüência).
Em contrapartida, as cidades onde houve as menores incidências de
freqüência à escola foram Uberlândia (58,82% dos jovens) e Poços de
Caldas, com 60,71% do total. O total global para municípios mineiros de
freqüência à escola pelos alunos aponta que a maioria (75,66%) freqüenta a
escola, à minoria cabe a porção de 22,47% que não a freqüenta.
Tabela 3.19: Crianças e adolescentes em situação de rua, por município,
segundo freqüência à escola – Minas Gerais - 2007.
Freqüênciaà escola
Municípios
Sim (%) Não (%) Não Informado (%)
Número de
Entrevistados
Januária 92,11 5,26 2,63 38
Ouro Preto 90,48 9,52 - 21
Uberaba 86,27 11,76 1,96 153
Montes Claros 84,83 13,10 2,07 145
Ipatinga 83,20 15,57 1,23 244
Almenara 82,88 15,32 1,80 111
Janaúba 82,14 14,29 3,57 28
Ibirité 81,94 17,42 0,65 155
Sabará 80,95 14,29 4,76 63
Betim 80,36 19,64 - 56
Muriaé 80,00 14,55 5,45 110
Teófilo Otoni 79,07 18,60 2,33 86
Ribeirão das Neves 78,87 18,31 2,82 71
Santa Luzia 75,93 16,67 7,41 54
Divinópolis 75,91 21,17 2,92 137
Governador Valadares 75,89 23,21 0,89 112
Contagem 75,71 20,00 4,29 140
Juiz de Fora 74,36 25,64 - 39
Belo Horizonte 63,57 35,72 0,70 711
Poços de Caldas 60,71 39,29 - 28
Uberlândia 58,82 41,18 - 17
Total Global 75,66 22,47 1,87 2519
Fonte: Fundação João Pinheiro
94 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A pesquisa registrou também a relação de crianças e adolescentes
com a escola, como avaliam seu local de estudo.Atabela 3.20 e o gráfico 3.5
indicam que menos de um por cento dos entrevistados (0,87%) afirmam
detestá-lo, e 5,20% relataram que não gostam da sua escola. O índice de
indiferença também se aproxima do índice dos que não gostam: 6,55% do
total. De acordo com a pesquisa, a maioria das crianças e dos adolescentes
em situação ou trajetória de rua gosta da escola. Essa freqüência chega a
45,69% do total. 17,19% informaram também que gostam muito do local de
estudos. O percentual de crianças e adolescentes que não responderam a essa
pergunta foi de 24,49%.
É relevante salientar o fato de a maioria dos entrevistados, 62,88%,
gostarem da escola. Como não pode ser priorizada por esses jovens, acaba
gerando baixo aproveitamento das oportunidades oferecidas. Essas
circunstâncias podem gerar um tipo de ciclo vicioso em que as crianças e os
adolescentes que trabalham na rua nunca poderão aproveitar de maneira
satisfatória os benefícios da educação escolar.
Tabela 3.20: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes
em situação de rua - Minas Gerais – 2007.
O que acha da escola Freqüência (%)
Gosta muito 17,19
Gosta 45,69
Tanto faz 6,55
Não gosta 5,20
Detesta 0,87
Não Informado 24,49
Fonte: Fundação João Pinheiro
|95O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Gráfico 3.5: Avaliação da escola segundo crianças e adolescentes
em situação de rua - Minas Gerais – 2007.
24,49%
0,87%
5,20%
6,55%
17,19%
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00
Detesta
Não gosta
Tanto faz
Gosta
Freqüência (%)
45,69%
Não Informado
Gosta muito
Fonte: Fundação João Pinheiro
96 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.5 TRABALHO
Visando a identificar o que essas
crianças e esses adolescentes fazem na
rua, foram colhidos dados que
tipificam as atividades que lhes dão
algum retorno financeiro.A tabela 3.21 apresenta o tipo de atividade desenvolvida,
em termos de percentual para cada tipo por cidade. Pode-se
perceber que a maior incidência de jovens engraxates
encontra-se em Janaúba. 21,43% de suas crianças e seus
adolescentes informam que ganham dinheiro com essa
atividade.
Teófilo Otoni é a cidade com maior recorrência de
crianças e adolescentes lavadores de carros (19,77%).
Catadores de papel são proporcionalmente mais freqüentes
em Ibirité, onde 40,00% dos jovens trabalhando na rua
alegam desempenhar tal atividade. Já as crianças e os
adolescentes malabaristas (geralmente nos sinais de
trânsito) se concentram mais na capital, com 11,25% de
incidência. Panfletistas são destaque em Betim, região
metropolitana de Belo Horizonte, com 12,50% dos casos.
|97O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
O único município onde que não houve ocorrência de pedintes é Janaúba.
Poços de Caldas, no sul de Minas, é, entretanto ,a cidade com a maior
proporção dessa atividade: 32,14%. E é aí também onde se encontra a maior
incidência de crianças e adolescentes na rua vendendo drogas, um
percentual de 14,29%. Teófilo Otoni também é responsável pela maior
concentração de jovens carregadores de sacolas: 43,02% dos casos da
cidade.
A tabela 3.21 permite aferir que vendedor ambulante é a única
atividade recorrente em todas as cidades mineiras onde foram feitas as
entrevistas. Juiz de Fora é o município com maior incidência proporcional
de jovens vendedores ambulantes: 71,79% dos entrevistados.Muriaé é o
principal quanto a crianças e adolescentes que se prostituem: 7,27% de
ocorrências. Já a incidência de crianças e adolescentes que praticam
roubos/furtos foi maior, novamente, em Poços de Caldas: 7,14% dos casos.
Ribeirão das Neves foi o município onde houve o maior número de casos em
que a atividade desempenhada não constava da lista de opções: 33,80% dos
casos.
Tabela 3. 21: Tipo de atividade desenvolvida para ganhar dinheiro,
população infantil de rua, por cidade, Minas Gerais – 2007.
O QUE FAZ NAS RUAS? (0%)MUNICÍPIOS
A B C D E F G H I J K L M NAlmenara 9,91 0,90 1,80 - 1,80 - - 7,21 1,80 22,52 53,15 - 3,60 13,51Belo Horizonte 0,98 5,91 3,80 11,25 9,85 13,22 2,39 20,96 0,28 7,03 24,61 0,14 3,38 6,33Betim 1,79 3,57 1,79 1,79 12,50 16,07 - 28,57 - 3,57 50,00 1,79 - 14,29Contagem - 7,14 5,71 3,57 6,43 21,43 1,43 16,43 0,71 4,29 35,71 2,86 - 10,00Divinópolis - 2,92 12,41 - 3,65 3,65 - 1,46 2,19 - 51,09 1,46 - 14,60Gov. Valadares 13,39 11,61 3,57 - 2,68 13,39 3,57 8,04 0,89 9,82 32,14 - - 16,96Ibirité - 3,23 40,00 - 1,94 6,45 - 4,52 - 3,23 36,13 1,29 - 19,35Ipatinga 1,23 4,92 8,61 - 5,33 10,25 1,23 3,69 0,82 3,69 56,56 2,05 0,41 12,30Janaúba 21,43 - 14,29 - - 10,71 - - - - 53,57 - - 17,86Januária 10,53 5,26 - - - 7,89 - 5,26 - - 60,53 - - 5,26Juiz de Fora - 2,56 2,56 - 5,13 5,13 - 12,82 - - 71,79 - - 2,56Montes Claros 2,76 9,66 8,97 0,69 - 18,62 0,69 4,14 - 22,07 42,76 - - 22,07Muriaé 4,55 3,64 17,27 - 6,36 0,91 - 18,18 - 5,45 33,64 7,27 - 27,27Ouro Preto 4,76 - - - 4,76 - 19,05 - 19,05 47,62 - - 28,57Poços de Caldas 10,71 7,14 10,71 - - - - 32,14 14,29 - 50,00 3,57 7,14 3,57Ribeirão dasNeves
- 4,23 4,23 - - 22,54 - 2,82 2,82 22,54 30,99 - 1,41 33,80
Sabará - 4,76 4,76 - 4,76 31,75 3,17 12,70 1,59 9,52 38,10 - 1,59 17,46Santa Luzia - 1,85 5,56 - 5,56 12,96 1,85 5,56 - 20,37 44,44 - - 14,81Teófilo Otoni 2,33 19,77 1,16 - - 36,05 1,16 13,95 - 43,02 18,60 2,33 - 11,63Uberaba - 0,65 0,65 - 1,96 43,14 0,65 7,84 0,65 - 28,10 - - 8,50Uberlândia 5,88 - - - 11,76 52,94 - 17,65 - 11,76 23,53 - - -
Fonte: Fundação João Pinheiro
98 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
LEGENDA(tabela 3.21)
A pesquisa também buscou aferir a periodicidade do trabalho
realizado por crianças e adolescentes. 22,95% o fazem todos os dias da
semana, o que representa a maior freqüência entre as respostas (tabela
3.22). Em seguida, a maior recorrência (16,36%) se dá para aqueles que
trabalham apenas uma vez por semana, enquanto 14,93% dos entrevistados
afirmaram trabalhar duas vezes por semana.
Afreqüência de quem trabalha cinco vezes por semana corresponde
a 12,47% do total. É seguida por quem trabalha seis e três vezes por semana,
com 11,59% e 10,80% do total respectivamente. O menor índice foi
encontrado por quem afirmou trabalhar quatro vezes por semana, 4,57% do
total de entrevistados. Ressalta-se, ainda, que 6,35% dos entrevistados
ocupam o campo não informado da pesquisa.
Os dados obtidos revelam que 47,01% dos entrevistados trabalham
de cinco a sete vezes por semana. Isso pode caracterizar uma dependência
do próprio trabalho. Ou seja, como muitos informaram que o dinheiro
ganho na rua destina-se a ajudar nas despesas de casa, pode-se entender que
ele só é suficiente quando o jovem trabalha em média de cinco a sete vezes
por semana.
a) Engraxate h) Pede
b) Lavador de carros i) Vende drogas
c) Catador de papel j) Carregador de sacolas
d) Malabarismo k) Vendedor ambulante
e) Panfletista l) Faz programas
f) Guardador de carros m) Rouba/ furta
g) Lavador de pára-brisa n) Outros
|99O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3. 22: Freqüência semanal ao trabalho de crianças e adolescentes em
situação de rua- Minas Gerais – 2007.
De acordo com a Tabela 3.23, vendedor ambulante é a atividade
desempenhada com mais freqüência (37,08%) pelos entrevistados. Em
seguida, aparecem os guardadores/vigias (14,85%) e os pedintes (12,27%).
Crianças e adolescentes catadores de papel somam 9,05% da pesquisa, e
carregadores de sacolas aparecem com 8,81% do total. Lavadores de carros
e lavadores de pára-brisas possuem, respectivamente, 5,48% e 1,27% do
total de respostas aferidas. A freqüência de panfletistas foi de 5,24%;
malabaristas em sinais, 3,45%, e engraxates, 2,82% do total das respostas.
Crianças e adolescentes na rua para roubar, prostituirem-se ou
vender drogas representam 1,31%, 1,03% e 0,75% respectivamente. Outras
atividades, não listadas como opções do questionário, somam 12,86% do
total da pesquisa.
Frequência
freqüência semanal ao trabalho Absoluta (%)
1 vez 412 16,36
2 vezes 376 14,93
3 vezes 272 10,80
4 vezes 115 4,57
5 vezes 314 12,47
6 vezes 292 11,59
Todos os dias 578 22,95
Não Informado 160 6,35
Fonte: Fundação João Pinheiro
100 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.23: Atividades desenvolvidas por crianças e adolescentes em
situação de rua -Minas Gerais – 2007.
A pesquisa também obteve informações acerca dos horários em que
crianças e adolescentes trabalham na rua, como mostra a tabela 3.24. De
acordo com os dados, o número de ocorrências (e a freqüência) de crianças e
adolescentes que trabalham nos turnos da manhã ou da tarde é quase o
mesmo, totalizam 537 e 540 respectivamente. É grande a quantidade de
ocorrências para os mesmos dois turnos (“manhã e tarde”). A mais baixa
Frequência
O que faz para ganhar dinheiro? Absoluta (%)
Vendedor ambulante 934 37,08
Guardador de carros 374 14,85
Pede 309 12,27
Catador de papel 228 9,05
Carregador de sacolas 222 8,81
Lavador de carros 138 5,48
Panfletista 132 5,24
Malabarismo 87 3,45
Engraxate 71 2,82
Roubos/ furtos 33 1,31
Lavador de para brisas 32 1,27
Programas sexuais 26 1,03
Vende drogas 19 0,75
Outros 324 12,86
Fonte: Fundação João Pinheiro
|101O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
porção percentual (coluna “freqüência”) pertence ao quesito “manhã e
noite”: 2,40%, ou 51 ocorrências.Essa grande concentração da jornada de trabalho desses jovens no período da
manhã e da tarde pode ser mais bem compreendida pela própria concepção
de 'horário comercial'. A maior circulação de pessoas e carros se dá nesse
horário, o que torna o ambiente ideal para o desempenho de suas funções
comerciais. Constatou-se que muitos entrevistados percebem sua situação
como uma profissão, já que saem às ruas para trabalhar e ganhar dinheiro no
horário comercial.
Tabela 3.24: Horário de trabalho de crianças e adolescentes em
situação de rua - Minas Gerais – 2007.
A tabela 3.25 aponta os mesmos turnos de trabalho dos jovens distribuídos
por cidade. O da tarde (somente tarde) é o mais alocado pelos jovens em
situação de rua com a finalidade de trabalho: compõe 25,90% do total de
turnos alocados para a mesma finalidade. Em seguida, e muito próximo,
encontra-se o turno da manhã (25,70% ). Apenas 2,40% dos entrevistados
Freqüência
Horário de trabalho Absoluta (%)
Manhã 537 25,70
Tarde 540 25,90
Manhã e tarde 399 19,10
Dia todo 211 10,10
Noite 182 8,70
Tarde e noite 166 8,00
Manhã e noite 51 2,40
Fonte: Fundação João Pinheiro
102 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
afirmam trabalhar de manhã e à noite.Buscou-se aferir também qual o destino do dinheiro ganho na rua.
De acordo com a tabela 3.26, 33,55% dos jovens afirmaram que o entregam
aos pais, e 30,85% o utilizam o consumo próprio . Em seguida, 13,50%
afirmam que compram comida para casa, e 3,18% usam o dinheiro para
ajudar em outras despesas domésticas como contas, por exemplo. Amesma
criança pode ter respondido mais de uma opção.
5,36% das crianças e dos adolescentes entrevistados priorizam
gastar o dinheiro na própria rua, com diversão e afins. 5,56% informam que
o gastam com outras coisas não integrantes do questionário. De acordo com
a tabela 3.26, 50,23% dos gastos de crianças e adolescentes em situação de
rua têm como destino a própria família. Isso pode significar que esses
jovens são responsáveis por parte do sustento da casa.
Tabela 3.25: Horário de trabalho nas ruas, população infantil de rua,
municípios pesquisados, Minas Gerais – 2007.
MUNICÍPIOSMANHÃ
(%)TARDE
(%)NOITE
(%)
DIATODO
(%)
MANHÃE TARDE
(%)
MANHÃE
NOITE(%)
TARDE ENOITE
(%)
TOTAL(%)
Almenara 59,30 29,60 4,90 4,90 1,20 0,00 0,00 100,00Belo Horizonte 15,50 18,60 10,00 14,30 27,40 2,00 12,20 100,00Betim 32,50 32,50 7,50 27,50 0,00 0,00 0,00 100,00Contagem 22,50 31,50 7,20 8,10 23,40 0,90 6,30 100,00Divinópolis 28,30 46,50 10,10 6,10 7,10 0,00 2,00 100,00Gov. Valadares 33,90 33,90 16,10 6,50 8,10 0,00 1,60 100,00Ibirité 29,90 29,90 10,40 4,20 18,80 0,00 6,90 100,00Ipatinga 37,70 32,60 5,10 2,90 15,40 1,70 4,60 100,00Janaúba 12,50 37,50 6,30 25,00 12,50 0,00 6,30 100,00Januária 39,10 34,80 0,00 4,30 21,70 0,00 0,00 100,00Juiz de Fora 61,10 2,80 5,60 2,80 27,80 0,00 0,00 100,00Montes Claros 31,20 27,30 10,40 3,90 16,90 2,60 7,80 100,00Muriaé 22,70 28,90 7,20 7,20 16,50 9,30 8,20 100,00Ouro Preto 38,90 38,90 0,00 5,60 16,70 0,00 0,00 100,00Poços de Caldas 7,70 23,10 11,50 11,50 30,80 3,80 11,50 100,00Ribeirão dasNeves
23,90 21,10 2,80 21,10 21,10 2,80 7,00 100,00
Sabará 21,30 14,80 19,70 13,10 11,50 3,30 16,40 100,00Santa Luzia 29,40 23,50 0,00 9,80 35,30 0,00 2,00 100,00Teófilo Otoni 13,30 33,70 9,60 9,60 14,50 7,20 12,00 100,00Uberaba 29,10 23,00 10,10 8,80 11,50 8,10 9,50 100,00Uberlândia 29,40 29,40 0,00 23,50 11,80 0,00 5,90 100,00Total 25,70 25,90 8,70 10,10 19,10 2,40 8,00 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
|103O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.26: Prioridade dos gastos com o dinheiro que ganha nas
ruas, população infantil de rua, Minas Gerais – 2007.
O que faz com o dinheiro Ocorrências Freqüência (%)
Dá para os pais 845 33,55
Compra coisas para você mesmo 777 30,85
Compra comida para casa 340 13,50
Outros 140 5,56
Gasta na rua com diversão 135 5,36
Compra coisas para casa 80 3,18
Não Informado 202 8,02
TOTAL 2519 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
104 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
|105
3.6 PARTICIPAÇÃO EMPROGRAMAS
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Com o interesse de verificar qual a
abrangência dos programas e benefícios
sociais realizados pelo governo, coletou-
se dos entrevistados dados sobre a
participação e/ou o cadastramento das
famílias de crianças e adolescentes em programas sociais,
como se pode ver na tabela 3.27.
Entre os benefícios recebidos, o Bolsa Família, do
Governo Federal, foi o mais recorrente (44,54%). O
percentual de famílias que não recebem beneficio algum do
governo foi de 29,18%. 8,50% das crianças e dos
adolescentes entrevistados não sabiam informar se sua
família recebia assistência ou não.
O percentual de crianças e adolescentes informando
que sua família recebe aposentadoria foi de 5,12%. O
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)
aparece com 1,39% do total dos entrevistados, e famílias
que recebem cestas básicas somam 3,57% da pesquisa. O
Beneficio de Prestação Continuada (Loas) corresponde a
106 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
0,52%, e outros benefícios citados como opções do questionário
representam 2,46% do total da pesquisa. Obtiveram-se, também, 4,72% de
respostas nas quais rianças e adolescentes entrevistados não informaram se
recebiam algum beneficio. Nota-se que o Bolsa Família possui grande
adesão entre as famílias:, mais de 75,00% dos entrevistados freqüentam a
escola, o que atende às exigências do programa.
A tabela 3.28 faz uma análise por cidade do alcance dos benefícios
nos municípios integrantes da pesquisa. Nesse sentido, começando pelos
entrevistados cujas famílias recebem aposentadoria, o maior número de
ocorrências foi em Teófilo Otoni — 16,28% dos jovens responderam sim —
e o mais baixo foi em Governador Valadares, com 0,89% do total.
O Bolsa Família foi o único presente em todas as cidades
entrevistadas. O menor índice de famílias beneficiadas foi registrado em
Governador Valadares, 22,32% do total, e o maior ficou em Montes Claros,
62,76%.
Entre as cidades em que o entrevistado informou que a família recebe
cestas básicas, a maior incidência está em Betim, com 16,07% dos casos.
Montes Claros teve o menor registro, 0,69% do total. Já Janaúba, Januária,
Ouro Preto, Poços de Caldas e Uberlândia não tiveram qualquer registro.
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) obteve o
maior índice em Teófilo Otoni, com 5,81% do total. O menor índice ficou em
Uberaba, com 0,65%. Quanto ao Beneficio de Prestação Continuada (Loas),
os percentuais encontrados são semelhantes aos do Peti: ocorrendo apenas
em alguns municípios. Das crianças e dos adolescentes que não sabiam se a
família recebia beneficio ou não, Uberaba obteve o maior índice, 24,84% do
total da pesquisa.
|107O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A tabela 3.29 permite a visualização da cobertura dos programas sociais
entre as famílias das crianças em situação de rua nos municípios
pesquisados. Isso porque ela associa duas variáveis: “jovem freqüenta
escola” e “família da criança e adolescente recebe benefício”. Temos, por
exemplo, que Ouro Preto apresenta 68,42% de jovens que freqüentam a
escola e cuja família é beneficiária. A cidade que menos segue essa relação
entre “família recebe bolsa família” e “membro jovem da família freqüenta
escola” é Betim. Ela apresenta apenas 22,22% de crianças e adolescentes
que freqüentam a escola e cuja família é beneficiária do Bolsa Família.
Tabela 3. 27: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas
famílias de crianças e adolescentes em situação de rua, Minas Gerais – 2007.
Benefício Recebido Ocorrências Freqüência (%)
Bolsa família 1122 44,54
Não recebe 735 29,18
Não sabe 214 8,50
Aposentadoria 129 5,12
Cesta básica 90 3,57
Outros 62 2,46
PETI 35 1,39
LOAS 13 0,52
Não informado 119 4,72
TOTAL 2519 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
Tabela3. 28: Recebimento de benefícios sociais ou bolsas pelas
famílias de crianças e adolescentes em situação de rua, por município -
Minas Gerais – 2007.
BENEFÍCIO RECEBIDO
MUNICÍPIOS APOSENTADORIABOLSAFAMÍLIA
CESTABÁSICA
PETI LOAS OUTROSNÃORECEBE
NÃOSABE
NÃOINFORMADO
NÚMERO DEENTREVISTADOS
Almenara 3,60 35,14 7,21 2,70 2,70 1,80 6,31 11,71 39,64 111Belo Horizonte 3,66 43,60 3,52 0,98 0,56 2,25 38,82 8,58 3,80 711Betim 7,14 25,00 16,07 3,57 1,79 8,93 8,93 8,93 42,86 56Contagem 7,14 37,86 3,57 2,14 - 7,14 25,71 3,57 21,43 140Divinópolis 5,11 40,15 1,46 0,73 0,73 1,46 35,04 4,38 14,60 137GovernadorValadares
0,89 22,32 0,89 1,79 - 0,89 12,50 17,86 42,86 112
Ibirité 1,29 44,52 5,16 - - 2,58 40,65 9,03 1,94 155Ipatinga 5,33 47,54 2,46 - - 1,64 29,51 4,10 14,75 244Janaúba 10,71 60,71 - - - 3,57 10,71 10,71 10,71 28Januária - 60,53 - 5,26 - - 28,95 2,63 7,89 38Juiz de Fora - 46,15 7,69 2,56 - - 30,77 10,26 5,13 39Montes Claros 6,21 62,76 0,69 2,07 - 2,07 20,00 1,38 8,28 145Muriaé 12,73 62,73 6,36 - - - 12,73 6,36 7,27 110Ouro Preto 4,76 61,90 - - - - 28,57 4,76 - 21Poços deCaldas
14,29 25,00 - - - 10,71 42,86 3,57 14,29 28
Ribeirão dasNeves
5,63 52,11 5,63 1,41 - 1,41 32,39 2,82 8,45 71
Sabará 12,70 58,73 9,52 4,76 - 1,59 19,05 4,76 9,52 63Santa Luzia 1,85 31,48 1,85 1,85 1,85 1,85 37,04 22,22 1,85 54Teófilo Otoni 16,28 51,16 1,16 5,81 1,16 3,49 17,44 5,81 9,30 86Uberaba 1,96 40,52 1,96 0,65 0,65 0,65 32,03 24,84 - 153Uberlândia 5,88 35,29 - - 5,88 - 47,06 5,88 - 17
Fonte: Fundação João Pinheiro
108 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
|109O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.29: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
recebimento do Bolsa Família e freqüência à escola, por município- Minas
Gerais – 2007.
Fonte: Fundação João Pinheiro
Municípios Freqüenta a Escola? Família recebe Bolsa Família
Sim Não
Sim 33 59
(%) 35,87 64,13
Não 4 13Almenara
(%) 23,53 76,47
Sim 224 236
(%) 48,70 51,30
Não 85 172Belo Horizonte
(%) 33,07 66,93
Sim 10 35
(%) 22,22 77,78
Não 4 7Betim
(%) 36,36 63,64
Sim 46 62
(%) 42,59 57,41
Não 7 21Contagem
(%) 25,00 75,00
Sim 43 62
(%) 40,95 59,05
Não 11 18Divinópolis
(%) 37,93 62,07
Sim 21 65
(%) 24,42 75,58
Não 4 22Gov. Valadares
(%) 15,38 84,62
Sim 57 70
(%) 44,88 55,12
Não 11 16Ibirité
(%) 40,74 59,26
Sim 107 97
(%) 52,45 47,55
Ipatinga
Não 7 31
Fonte: Fundação João Pinheiro
110 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Sim 14 9
(%) 60,87 39,13
Não 2 2Janaúba
(%) 50,00 50,00
Sim 23 12
(%) 65,71 34,29
Não 0 2Januária
(%) 0,00 100,00
Sim 13 16
(%) 44,83 55,17
Não 5 5Juiz de Fora
(%) 50,00 50,00
Sim 83 43
(%) 65,87 34,13
Não 7 14Montes Claros
(%) 33,33 66,67
Sim 58 30
(%) 65,91 34,09
Não 7 9Muriaé
(%) 43,75 56,25
Sim 13 6
(%) 68,42 31,58
Não 0 2Ouro Preto
(%) 0,00 100,00
Sim 6 11
(%) 35,29 64,71
Não 1 10Poços de Caldas
(%) 9,09 90,91
Sim 31 25
(%) 55,36 44,64
Não 6 7Ribeirão das Neves
(%) 46,15 53,85
Sim 32 19
(%) 62,75 37,25
Não 4 5Sabará
(%) 44,44 55,56
Sim 14 28
(%) 33,33 66,67
Não 3 6Santa Luzia
(%) 33,33 66,67
Sim 38 31
(%) 55,07 44,93
Não 5 11Teófilo Otoni
(%) 31,25 68,75
Sim 54 79
(%) 40,60 59,40
Não 5 13Uberaba
(%) 27,78 72,22
Sim 5 5
(%) 50,00 50,00
Não 1 6Uberlândia
(%) 14,29 85,71
Fonte: Fundação João Pinheiro
|111O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.7 SAÚDE | VIOLÊNCIA
Crianças e ado lescen te s fo ram
perguntados se possuíam algum
problema de saúde. Ao todo, 2466
crianças responderam à questão, sendo
que 398 — 16,14% do total —
afirmativamente. O município que apresentou
relativamente o maior número de crianças com problemas
de saúde foi Januária, com 30,30% ( tabela 3.30).
112 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Tabela 3.30: Crianças e adolescentes em situação de rua com algum
problema de saúde, Minas Gerais – 2007.
Municípios Sim Total* %
Almenara 10 108 9,26
Belo Horizonte 100 692 14,45
Betim 12 53 22,64
Contagem 29 140 20,71
Divinópolis 17 136 12,50
Gov. Valadares 22 113 19,47
Ibirité 31 153 20,26
Ipatinga 44 244 18,03
Janaúba 0 27 0,00
Januária 10 33 30,30
Juiz de Fora 2 38 5,26
Montes Claros 30 146 20,55
Muriaé 17 104 16,35
Ouro Preto 5 21 23,81
Poços de Caldas 3 26 11,54
Ribeirão das Neves 9 70 12,86
Sabará 10 58 17,24
Santa Luzia 6 53 11,32
Teófilo Otoni 13 84 15,48
Uberaba 25 151 16,56
Uberlândia 3 16 18,75
Total 398 2466 16,14
*Total dos que responderam à questãoFonte: Fundação João Pinheiro
|113O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
114 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Os problemas de saúde mais relatados foram alergias/inflamações
(38,13%). Em seguida, aparecem os problemas respiratórios (9,34%). Outro
ponto a se destacar foi que 9,34% das crianças e dos adolescentes não sabiam
informar qual doença tinham ou não responderam à pergunta (tabela 3.31).
Problemas oftalmológicos, neurológicos e cardíacos somam juntos
20,00% dos casos relatados na pesquisa. Os outros problemas de saúde
tiveram poucos relatos, configurando uma freqüência pequena no banco de
dados.
O fato de alergias e inflamações serem os principais problemas de
saúde pode ser explicado quando se leva em consideração o meio em que
essas crianças e adolescentes vivem. O contato direto e permanente com a
sujeira e a falta de higiene, somados a uma alimentação fraca em nutrientes,
podem tornar o organismo mais susceptível e vulnerável a processos
inflamatórios e alérgicos. Com os problemas respiratórios também não é
diferente. Essas crianças e esses adolescentes permanecem durante todo o
dia em contato direto com a poluição, principalmente de veículos.
Conseqüentemente, seu organismo sofre os efeitos maléficos desse
problema, fazendo com que doenças como asma e bronquite sejam mais
iminentes nessas situações.
|115O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Fonte: Fundação João Pinheiro
Tabela 3.31: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
problemas de saúde relatados - Minas Gerais – 2007.
Freqüência
Tipos de Problema de Saúde Absoluta (%)
Alergias/ Inflamações 151 38,13
Respiratórios 37 9,34
Oftalmológicos 28 7,07
Cardíacos 27 6,82
Neurológicos 23 5,81
Auditivos 15 3,79
Hematológicos 13 3,28
Ortopédicos 9 2,27
Gastrintestinais 7 1,77
Dermatológicos 6 1,52
Renais 6 1,52
Tontura/ Desmaio 6 1,52
Deficiência Mental 4 1,01
Distúrbios Metabólicos 4 1,01
Hormonais 4 1,01
Verminose 4 1,01
Circulatórios 3 0,76
Dicção 3 0,76
Linfáticos 3 0,76
Deformações Fisiológicas 2 0,51
Psicológicos 2 0,51
Deficiência Física 1 0,25
Oncológicos 1 0,25
Não Informado 37 9,34
TOTAL 396 100,00
116 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A tabela de número 3.32 retrata o panorama da relação
acidente/violência sofrido por crianças e adolescentes em situação de rua.
Ao todo, foram contatados 2.403 jovens com idade inferior a 18 anos.
15,48% (372 indivíduos) deles afirmaram ter sofrido algum acidente e/ou
violência. A cidade que, relativamente, mais expõe suas crianças a acidentes
e/ou violência é Poços de Caldas. Foram nove respondentes em 27, 33,33%
dos entrevistados. Por outro lado, onde menos se verificou essa ocorrência
foi em Ouro Preto, com apenas um respondente afirmando positivamente.
Isso representa apenas 5,00% do total de 20 entrevistados que responderam a
essa pergunta.
Tabela 3.32: Crianças e adolescentes em situação de rua, segundo
vitimização na rua, por município- Minas Gerais – 2007.
*Total dos que responderam à questãoFonte: Fundação João Pinheiro
|117O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Municípios Sim Total* Cumulativo %
Almenara 13 103 12,62
Belo Horizonte 109 670 16,27
Betim 12 54 22,22
Contagem 20 135 14,81
Divinópolis 18 128 14,06
Gov. Valadares 23 101 22,77
Ibirité 14 148 9,46
Ipatinga 25 239 10,46
Janaúba 5 27 18,52
Januária 4 35 11,43
Juiz de Fora 5 38 13,16
Montes Claros 26 143 18,18
Muriaé 18 103 17,48
Ouro Preto 1 20 5,00
Poços de Caldas 9 27 33,33
Ribeirão das Neves 5 71 7,04
Sabará 10 62 16,13
Santa Luzia 6 53 11,32
Teófilo Otoni 18 85 21,18
Uberaba 28 145 19,31
Uberlândia 3 16 18,75
Total 372 2403 15,48
118 | O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
A tabela 3.33 registrou a incidência de casos por tipo de violência
sofrida. Os atropelamentos foram identificados por 40,27%. Em seguida,
acidentes leves de rua e ferimentos somaram 13,51% dos casos. 13,24% já
sofreram agressão por terceiros, e 2,70% já brigaram na rua. Dos tipos de
violência registrados, o maior índice é de violência policial, com 8,11% do
total, e violência verbal, com 2,16%.
Foi registrado, também, 1,89% de casos de violência exercida por
fiscais de prefeitura.Os casos de violência sexual somam 1,62% do total.
Outros pontos de destaques são roubos sofridos por crianças e adolescentes
na rua, 6,49% dos casos. Por fim, 3,24% das crianças e dos adolescentes
entrevistados já sofreram quedas quando pegavam carona em traseiras de
ônibus, caminhões etc.
É importante ressaltar que o fato de os atropelamentos são quase
41,00% do total dos acidentes.Acidentes leves e ferimentos correspondem à
segunda maior freqüência dos acidentes de rua. As agressões por terceiros
também revelam que a rua é um ambiente de risco e perigo constante para
crianças e adolescentes. Não oferecem refúgio em situações nas quais os
jovens dele necessitam.
Tabela 3.33: Crianças e adolescentes em situação de rua vitimizadas
na rua, por tipo de acidentes e/ou violência sofridos - Minas Gerais – 2007.
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG |119
Tipo de Acidente Ocorrências Freqüência (%)
Atropelamento 149 40,27
Acidente de rua/ ferimento 50 13,51
Agressão por terceiros 49 13,24
Violência Policial 30 8,11
Roubo 24 6,49
Queda de traseiras 12 3,24
Brigas 10 2,70
Violência Verbal 8 2,16
Violência de fiscal da prefeitura 7 1,89
Violência Sexual 6 1,62
Queimaduras 5 1,35
Tentativa de roubo 5 1,35
Tiro 2 0,54
Desmaio 1 0,27
Não informado 12 3,24
TOTAL 370 100,00
Fonte: Fundação João Pinheiro
3.8 ASPECTOMETROPOLITANO
No caso específico do município de Belo
Horizonte, 27,00% das crianças e dos
adolescentes que responderam a essa
questão provêm de outras cidades. Do
total de crianças moradoras de outras
cidades, mas que trabalham em Belo Horizonte, 98,00%
provêm de municípios da própria região metropolitana.
Merecem destaque: Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das
Neves, Contagem, Betim, Ibirité e Sabará (tabela 3.34). Por
sua vez, em Sabará, 20,96% do total das crianças
entrevistadas têm residência em Belo Horizonte.
120 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
Fonte: Fundação João Pinheiro
O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG |121
Tabela 34: Crianças e adolescentes em situação de rua entrevistadas
em Belo Horizonte com residência em outros municípios da região
metropolitana - Minas Gerais – 2007.
Além da região metropolitana, esse fenômeno também foi
observado em outras regiões do estado. Em Teofilo Otoni, 11,60% não
moram no município. Desse total, 60,00% são provenientes de Mucuri.
Em Ipatinga, 11,00% não moram no município. Nesse caso, do total
dos que moram fora do município, 59,00% são provenientes de Coronel
Fabriciano. O restante vem de outros municípios.
Município de residência Ocorrências (%)
Betim 6,95
Caeté 0,53
Contagem 10,70
Esmeraldas 2,67
Ibirité 8,56
Mario Campos 0,53
Nova Lima 0,53
Pedro Leopoldo 0,53
Ribeirão das Neves 17,65
Sabará 11,76
Santa Luzia 21,89
São José da Lapa 0,53
Vespasiano 17,17
TOTAL 100,00 (13 casos)
3.9 CONCLUSÃO
Aprincipal contribuição do diagnóstico
apresentado foi permitir a análise do
fenômeno das crianças em situação de
rua a partir de uma amostra bastante
abrangente de municípios com
diversidade regional, demográfica e socioeconômica. Já
desde finais dos anos 80 que esforços sistemáticos vêm
sendo feitos para dimensionar e caracterizar o contingente
de crianças que utilizam a rua para sua sobrevivência,
moradia, trabalho ou lazer em grandes cidades brasileiras.
Por suas características, entretanto, esses trabalhos
padecem de duas limitações. Por um lado, em sua maioria
circunscrevem-se às grandes cidades, geralmente sedes de
regiões metropolitanas. Por outro lado, mesmo para esse
tipo de município, os estudos tendem a ter limitações fortes
de comparabilidade. Isso se dá seja em decorrência da
diversidade metodológica — das estratégias de coleta dos
dados, dos instrumento de coleta — seja em virtude de
serem realizados em períodos muito distintos, o que é
122 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
importante para um fenômeno cujas características variam muito.
O trabalho proposto, ao contrário, permitiu uma análise comparativa
de municípios que guardam grande dispersão quanto a quase todas as
dimensões relevantes de análise. Isso permitiu tomar não apenas as próprias
crianças como unidade de análise do fenômeno, mas também os municípios,
o que possibilitou levantar e explorar hipóteses em relação aos determinantes
e às influências mais estruturais sobre a magnitude, as características e
relações de crianças e adolescentes em situação de rua com a cidade.
Desse ponto de vista, percebe-se que a situação de rua esconde
diferentes trajetórias e usos do espaço urbano para o trabalho, lazer ou a
moradia de crianças e adolescentes. Nota-se também que, em todos os
municípios, a maior parte das crianças e dos adolescentes entrevistados
utiliza a rua como espaço de trabalho. Apenas uma minoria realiza ali
atividades ilícitas.
Por outro lado, nota-se também a predominância de grandes vínculos
familiares das crianças e dos adolescentes, indicados pelo fato de a maior
parte residir em casa (e não na rua) e com os pais. Além disso, a maioria dos
entrevistados afirmaram que a destinação principal dos ganhos obtidos na
rua é a própria família, indicando a centralidade da referência familiar para
tais crianças e adolescentes.
Há que se destacar ainda que a maioria das crianças e dos
adolescentes em situação de rua freqüentava a escola e tinha uma avaliação
positiva dela. Entretanto, os custos e os riscos para a escolarização e para o
desempenho escolar são evidentes.
De maneira geral, é totalmente equivocada a identificação (e
estigmatização) da situação de rua com a vivência na rua, a ausência de
vínculos familiares ou o abandono e a prática de atividades ilícitas. Todos
|123O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
esses fenômenos ocorrem sim, mas em proporção comparativamente
reduzida. Há, porém, que se levar em conta que, se reduzida numericamente,
a gravidade da violação de direitos e os riscos que a vida na rua, exploração
sexual ou o abandono representam requerem atenção e medidas específicas.
A consideração anterior traz outra conclusão que a análise permite.
Se o trabalho evidenciou uma diversidade de perfis de crianças e
adolescentes e de usos e vivências na rua, mostrou também que diferentes
tipos de município têm diferentes perfis predominantes de situações e
atividades por parte das crianças e dos adolescentes. Os meninos e meninas
em situação de rua em metrópoles como Belo Horizonte ou Ipatinga são
distintos e realizam atividades distintas daqueles em cidades menores ou
com zonas rurais importantes. Essa heterogeneidade requer estratégias
distintas de enfrentamento.
Finalmente, é necessário alertar para o fato de que, apesar das
diferenças entre crianças e municípios, eles compartilham a gravidade de
riscos, doenças e abandono da escola aos quais a situação de rua os expõe.
Impedir que o direito à infância e à escolha do futuro continuem sendo
negado a tantas de nossas crianças é tarefa que deve mobilizar a todos.
124 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
3.10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Serviço Social e
Sociedade
Pesquisa de
Informações Básicas Municipais: Perfil dos Municípios Brasileiros-
2005Assistência Social
Crianças de Rua e ONG's no Rio : Um Estudo do
Atendimento Não Governamental
Coletâneas da ANPEPP
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
Deserdados da sociedade: os meninos de rua da América
Latina
Vida
nas Ruas, Crianças eAdolescentes nas Ruas: trajetórias inevitáveis?
FERREIRA, Frederico P. M. e MACHADO, Sulamita Vidas privadas em
espaços públicos: Os moradores de rua em Belo Horizonte,
, São Paulo, Ed. Cortez no 90, junho, 2007.(pp. 102-121)
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca,
, Rio de Janeiro, Ed. IBGE, 2006
IMPELIZIERI, Flávia
, Rio de Janeiro, IUPERJ, 1995
KOELLER, S. Hutz C. Meninos e meninas em situação de rua: Dinâmica,
diversidade e definição. , 1(12), 5-12.1996.
MDS - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE
À FOME
, Belo
Horizonte, SESEDE/MG, 2006.
RIZZINI, Irene
; Rio de Janeiro: USU Ed. Universitária, 1995.
RIZZINI, Irene e BUTLER, U. M. Crianças e adolescentes que vivem e
trabalham nas ruas revisitando a literatura IN RIZZINI, Irene (Coord)
Rio
de Janeiro, Editora Puc Rio, .2003.
|125O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
RIZZINI, Irene (Coord)
Rio de Janeiro, Editora Puc Rio, .2003.
SILVA, Enid Rocha e MELLO, Simone G. de Contextualizando o
“Levantamento Nacional dos Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede
de Serviços de Ação Continuada” In , IPEA/CONANDA,
, Brasília, Ed. Ipea, 2004
Vida nas Ruas, Crianças e Adolescentes nas
Ruas: trajetórias inevitáveis?
O direito à
convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e
adolescentes no Brasil
126 |O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
ANEXOQuestionário | Crianças e Adolescentes
em Situação ou Trajetória de Rua
|127O DESAFIO DO TRABALHO INFANTIL | AS CRIANÇAS, O TRABALHO E A RUA EM MG
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO OU TRAJETÓRIA DE RUA(um questionário para cada criança)
CONFIDENCIAL
No Provisório ___________
No Definitivo ___________
Identificação
Entrevistador: __________ Revisor: _______________
1º Contato
Data: _____/_____/_____
Hora de Início _____:_____ Hora de Termino: _____:_____
2º Contato
Data: _____/_____/_____
Hora de Início _____:_____ Hora de Termino: _____:_____
Localização
Cidade: ________________
Local: ________________________________________________________________
Instituição: _____________________________________________________________
Recusa Definitiva
a) Correub) Aparentemente embriagado/drogadoc) Recusa explicitad) Impedido por terceiros, adultos.e) Impedido por terceiros, outras crianças/adolescentesf) Outros: _____________________________________________________
( ) Própria criança/adolescente respondendo( ) Outra pessoa respondendo (ir para a QUESTÃO 2)1 - Como eu te chamo? _______________________________________________
2 - (No caso de crianças pequenas perguntar para um adulto ou outras criançasmaiores que a(s) acompanham)
2.1 – Qual o nome da criança__________________________ 99 – S/I 00 – N/A
2.2 – Qual sua relação com a criança: O que você é dessa criança (procurar identificar oresponsável na rua)
a) Pai b) Mãe c) Irmão d) Avô/Avó e) amigo dos paisf) Outros:______________________________________ 99 – S/I 00 – N/A
Dados da Criança/Adolescente3 – Sexo
a) Masculino b) Feminino 99 – S/I
3.1 - Data de nascimento: ___/___/___ 99 – S/I
4 – Atualmente, onde você dorme a maior parte do tempo, (marcar no máximo duasrespostas)
a) Casa dos Paisb) Casa de Parentesc) Casa de Amigosd) Nas ruas com parentese) Nas ruas sozinho ou com amigosf) Outro ______________________________________ 99 - S/I
Dados de Escolaridade5 - Estuda?
a) Sim b) Não (Ir para 5.5) 99 – S/I
Se Sim:5.1 - Qual série? ___________________ 99 – S/I 00 – N/A
5.2 - Qual Escola? __________________ 99 – S/I 00 – N/A
5.3 - Você gosta de sua escola?
a) Gosta Muito b) Gosta c) Tanto faz d) Não gosta e) Detesta.99 – S/I 00 – N/A
5.4 - Por que?________________________________________________________99 – S/I 00 – N/A
Se Não estuda5.5 - Já foi à escola
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se Sim5.6 - Parou em qual série? ___________ 99 – S/I 00 – N/A
5.7 - Em que ano? _____ 99 – S/I 00 – N/A
5.8 - Por que Parou? ______________________________ 99 – S/I 00 – N/A
Tempo nas ruas
6 - Desde que idade você fica nas ruas? ____ anos 99 – S/I
7 – Qual o período que normalmente fica(va) nas ruas? (marcar mais de uma opção)
a) Manhã b) Tarde c) Noite d) Mora nas ruas 99 – S/I
Companhias
8 – Quando você vai(ia) para as ruas você vai(ia) acompanhado de alguém?
a) Sim b) Não 99 – S/I
Se Sim8.1 Quem?
a) Mãe/paib) Irmãosc) Avó/Avôd) Outros parentese) Amigosf) Colegas de trabalhog) Outros _______________________ 99 – S/I 00 – N/A
Família9 – Com quem você mora? (mais de uma resposta)
a) Mãe b) Pai c) Irmãos d) Avó/avô
e) Tio/tia f) Outros parentes f) Outros ____________________
Se sim9.2 - Qual é o nome da mãe?____________________ 99 – S/I 00 – N/A(Se possível nome completo)9.3 - Possui algum apelido?_________________________99 – S/I 00 – N/A
9.4 - Qual a idade da mãe? ____ anos 99 – S/I 00 – N/A
9.5 - Ela também trabalha nas ruas?
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se Sim9.6 - Em que ela trabalha?
a) Lavadora de carrosb) Catadora de papel/latas/plasticoc) Faz “malabarismo”d) Distribuidor de panfletos/propagandae) Guardadora de carrosf) Lavadora de para-brisag) Pedeh) Vendedora ambulante (fruta, bala, amendoim, flores, utensílios para carros, etc)i) Faz programa (exploração sexual comercial)j) Outros ___________________________________________99 – S/I 00 – N/A
Programas
10 - Sua família ou você recebe/ganha algum benefício ou bolsa?a) Aposentadoriab) Bolsa Famíliac) Cesta Básicad) PETIe) Benefício de Prestação Continuada/LOASf) Outros ______________________________________g) Não recebe nenhum benefícioh) Não Sabe99 – S/I 00 – N/A
10.1 - Você participa de algum projeto social?
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se sim10.2 – Qual projeto? ______________________________99 – S/I 00 – N/A
Irmãos
11 - Quantos irmãos você (a criança) tem? Número _____ 99 – S/I
11.1 - Desses quantos trabalham nas ruas? Número _____ 99 – S/I 00 – N/A
Filhos
12 – Você tem filhos?
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se Sim12.1 – Quantos _____
Ocupação
13 – Faz alguma coisa nas ruas para ganhar dinheiro?
a) Sim b) Não 99 – S/I
Se não13.1 - O que faz nas ruas: _________________________________________________________________________________ 99 – S/I 00 – N/A(ir para QUESTÃO 16)
14 - O que faz para ganhar dinheiro nas ruas? (no máximo 04 respostas principais)
a) Engraxateb) Lavador de carrosc) Catador de papeld) Faz “malabarismo”e) Distribuidor de panfletos/propagandaf) Guardador de carrosg) Lavador de para-brisah) Pedei) Vende Drogasj) Carregador de sacolask) Vendedor ambulante (fruta, bala, amendoim, flores, utensílios para carros, etc)l) Faz programa (exploração sexual comercial)m) Rouba/furtan) Outros __________________________ 99 – S/I 00 – N/A
14.1 - Com que freqüência (quantos dias por semana)?
a) 1 vez por semanab) 2 vezes por semanac) 3 vezes por semanad) 4 vezes por semanae) 5 vezes por semanaf) 6 vezes por semanag) Todos os dias da semana99 – S/I 00 – N/A
14.2 - Todos os meses do ano?
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se não14. 3 - Quais meses?
a) Jan b)Fev c)Marçd)Abr. e)Mai f)jun
g)Jul h)Ago i)Set j)Out k) Nov l) Dez 99 – S/I 00 – N/A
15 - Em que períodos(s) você trabalha? (marcar mais de uma resposta)
a) Manhã b) Tarde c) Noite d) Dia todo 99 – S/I 00 – N/A
16 - Trabalha(ou) para algum patrão/empresa nas ruas?
a) Sim b) Não 99 – S/I 00 – N/A
Se sim16.1 - Para quem ________________________________ 99 – S/I 00 – N/A
Dinheiro
17 - O que faz com o dinheiro que ganha(va) nas ruas?: E depois disso?Prioridade
a) Dá para o pai ou para a mãe ( )b) Compra comida para a casa ( )c) Compra outros produtos para a casa ( )d) Compra coisas para você mesmo ( )e) Gasta na rua mesmo com diversão ( )f) Outros _______________________ ( )99 – S/I 00 – N/A17.1 – Quanto em média ganha(va) nas ruas?
R$ _____ Por a) hora b) dia c) semana d) mês 99 – S/I00 – N/A
18. – Já sofreu algum acidente/violência nas ruas enquanto trabalhava?
a) Sim b) Não
Se Sim18.1 Qual ? ______________________________________99 – S/I 00 – N/A
(Para todos: Quem trabalha e Não trabalha)19 - Gosta de ficar nas ruas?
a) Gosta Muito b) Gosta c) Tanto faz d) Não gosta e) Detesta 99 – S/I
19.1 Por que?_____________________________________________ 99 – S/I
Localização20 - Qual bairro que você/a (criança/adolescente) mora ______________ 99 – S/I(Moradia de referencia)20.1 – Em qual cidade ____________________________ 99 – S/I
21 - Do que você (criança/adolescente) gosta, onde mora?.Prioridade
a) Da família ( )b) Da casa onde mora ( )c) Da escola ( )d) Dos amigos ( )e) Há lugar para brincar ( )f) Perto do trabalho ( )g) Outros________________________ ( )99 – S/I
21.1 – Do que você (criança/adolescente) não gosta, onde mora?Prioridade
a) Da família ( )b) Da violência ( )c) Da falta de escola ( )d) Da falta de trabalho ( )e) Da falta de amigos ( )f) Da falta de lugar para brincar ( )g) Da casa (sem água, luz, espaço) ( )h) Da falta de transporte ( )i) Outros _________________________ ( )99 – S/I
Instituições
22 – Você/a criança já morou/dormiu em alguma instituição?
a) Sim b) Não 99 – S/I
Se Sim22.1 – Qual?
a) Abrigo b) Casa de passagem c) Casa Lar
d) Instituição de medida sócio-educativa e) Outra _______________ 99 – S/I00 – N/A
Saúde
23 - Tem algum problema de saúde?
a) Sim b) Não 99 – S/I
Se Sim23.1 - Qual?__________________________________________ 99 – S/I
00 – N/A
Motivações
24 – Por que você está nas ruas?Prioridade
a) Para trabalhar ( )b) Por que fugiu/não gosta de ficar em casa ( )c) Por que mãe/pai obriga ( )d) Por que a família precisa ( )e) Por que saiu da Escola ( )f) Outros _____________________________ ( )99 – S/I
25 - O que você mais quer na vida? Ou qual será o futuro dessa criança?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
99 – S/IOBSERVAÇÕES
CONTRACAPA FINAL