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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
TRIBUNAL PLENO
ATA DA SESSÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL PLENO REALIZ
DO MÊS DE DEZEMBRO DO ANO
DE JUS1 IÇ!\
HOMENAGEM AO EX. mo SR. MINISTRO ESDRAS DA SILVA GUEIROS, VICE-PRESI-
DENTE, QUE SE DESPEDE DO TRIBUNAL.
Aos dezesete dias do mês de dezembro do ano de mil
novecentos e setenta e quatro, na Sala de Sessões do Tribunal Fede -
ral de Recursos, às quatorze horas, sob a presidência do Ex. mo Sr.Mi
nistro Márcio Ribeiro, presentes os Ex.mos Srs. Ministros Amarílio I
Benjamin, Esdras Gueiros, Moacir Catunda, Peçanha Martins, Decio Mi- ,{
randa, José Néri da Silveira, Jarbas Nobre, Jorge Lafayette Guima v_ j \ '
rães, paulo Távora, otto Rocha, Sebastião Alves dos Reis, Rondon Ma.- ']
galhães os três úl timos Juízes Federais convocados, e o Ex.mo sr.Dr~} Henrique Fonseca de Araújo, Subprocurador-Geral da República, funcio '
nando como Secretário o Bel. Francisco Soares de Moura, Secretário I ~ -, _\., , mos
do Tribunal, apos composta a Mesa com os Ex. Srs. Ministro Mozart
victor Russomano, presidente do Tribunal Superior -do Trabalho, Mini~
tro Luiz Octavio pires de Albuquerque Gallotti, presidente do Tribu
nal de Contas da União, Dr. Sebastião portela, representante do Sr •
Ministro de Estado Chefe do Gabinete Civil da presidência da Repúbli
ca e Coronel Clovis José Baptista Filho, representante do Sr. Minis
tro de Estado da Agricultura, o Ex.mo
Sr. Ministro-presidente Márcio
Ribeiro declarou aberta a Sessão proferindo as seguintes palavras: -
Declaro aberta a sessão, especialmente convocada, para as homenagens mo de despedidas ao Ex. Sr. Ministro Esdras Gueiros, que honrou e i -
lustrou este Tribunal, por quase 9 anos, mas que, infelizmente, no
dia 26 de janeiro próximo será atingido pela aposentadoria compu-ls~
ria.
Ao me referir ao nome do Ministro Esdras Gueiros ,
tenho impulso de não contrair o nome, amizade, pronunciando-o como I
em sua origem amicidade pois ninguem como ele sabe cultivar esse sen ... timento, que afeiçoa .e aproxima as pessoas. É com imenso pesar que I
os membros deste Tribunal e os funcionários da Casa veêm diminuida a
oportunidade do ameno convivio com S. Exa, tão jovial, franco e agra
davel.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
Para saudar o homenageado em nome do Tribunal dou'
a palavra ao Ex.mo Sr. Ministro José Néri da Silveira.
o Ex.mo SR. MINISTRO JOSÉ NERÍ DA SILVEIRA:-QUANDO
a noite começa a cair sobre este ano judiciário, laborioso e profí -
cuo corno os demais, quis o Tribunal Federal de Recursos suspender na
tarde de hoje, que será de inolvidável lembrança, o julgamento dos '
feitos componentes de suas volumosas pautas, para, engalanado e hon
rado como tão dignas e ilustres presenças, reunir-se em Sessão plená
ria, especial e solene, embora sob o influxo do mesmo e constante
sentimento de fazer justiça, a fim de prestar homenagem de afetuosa'
admiração, profundo reconhecimento e consignar em seus
cordialíssimo de um adeus que será, só e só, simbólico.
fastos gesto ' \
\.
É que, em fevereiro de 1.975, ao reiniciar suas a- . , , ~
tividades judicantes, uma das catedras desta Corte estara vaga, a "
voz firme de um provecto Juiz não voltará a se ouvir, na concelebra-~'
ção do ofício, que, como coisa sagrada, cada dia, . aqui, realizamos,
com serena e amorosa dedicação, com · espírito cívico e cristão, em
autêntico e silencioso sacrifício, votado ao superior interesse da
paz social, da liberdade, dos direitos individuais, do bem comum, da
pátria.
A 26 de janeiro de 1.975, durante as férias coleti
vas dos membros do Tribunal, completará a idade limite de permanên -
cia no serviço ativo da magistratura togada brasileira o preclaro Mi
nistro ESDRAS DA SILVA GUEIROS, após servi~la, neste pretório, com '
inexcedível entusiasmo, honradez, intelecto lúcido e acendrado amor,
durante nove anos de diuturno trabalho. # • ,
JUst1ss1mo e, pois, renda o Tribunal, nos derradei
ros dias de atividade colegiada de 1.974, a seu ilustre Vice-Presi
dente que dele somente se afastará, por imperativo da Constituição'
homenagem de que é merecedor por haver feito, no dizer do Livro S'
Santo, da Justiça sua vestidura talar de honra, guardando todavia
sempre vivos os sentimentos cristãos de humanidade e de humildade. É
I - 1 - 50 .000 - 4/74 ,
P.J. - TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
digno, ao meu pensar, (2 0 rcspei t:::> ,':c sc~s p,;.r e s c 1:::'03 concidadãos o
magl' s~l.rado cue , p'r ç·sp-r 'r ;",·, ro rl -i ", (i eDe·;~r-c;; -.-.,-. -i;:; J.. - '- ~_ .... of ~"''''''''' ....... ....... J. ... . ~ J; ...... .. , '-- ..... _--...-
, corre no grande pecado (: 0 jui z, no di zer el e calar:1andrei, :;,ue e a so
berba,e pode ... .,..." • 1 Ge sua mlssao , convlcto ce 'iue , . ' "so na , .
uma glorl a" , como procl élrí10U ::-~UJ Gorbosa, "verdadeir cunen te digna eles ,
te nome: e a de sr::r cQm".
':'ive a ventura de tomar assento ao lado do :.hnis -
tro Esdras Gueiros, na (..:olerlda ::;.~ 'TUrma,quando,cinco a.YlOS já fluídos,
cheguei a es te Tri Duna l, I!revere:ci o s o e quase perpl exo", como fi z I
expresso em meu d iscx;_~so e po sse, provi ndo d2. S pJ.asas be!1fazejas e
se.mpre adoráveis :So Rio 3 . ance jo Sul 'L\o e:lse j o , ainda distante {la
idade mais de dois anos da civ.adra dos :-:uarenta , com pO'J..co
mais de um bi êni o e meio de j uc:i Cê.l. tura fe c1.eral de primeiro grau, em J J
bora a experiênci a a!-l teri c:r ua 2.dvocacia mili tante, da ma gistratu.r2. \J
elei toral no T. =:.. Z . gaúcllc, do ma ] i s ~ : éri o superior do Di rei to e de,,~ atividades juric:ic3.s consulti'/as estaduais e municipais, confesso , ....... \ '
1 ' ~ . " , , ,.Y ealmente,naver, E-ntao ,resstJ.l'SlGO ,em meu esplrlto,o temor que me I .
assaI tara, quandc cor:vi dY"'::;, com extrema s'v1.::.'presa, para o honroso car
go,de não estar à altura dos Juizes cesta casa , de tã.o elevada po-..... 1 . ., , . .' , . ~,.~ f' slçao na llerar ' ~",l a JUC.lcl::'I'::.a ;1aClonalL;:':O era e etlvamente SE:rTI '
:noti vação esse S,2:', ti:.len to. Gr:1 reali c.ade, presi .:i a a Turma o cul:o ma
gistrado,seguro e ezperie! l ~ ~ , ' ~ Lle é c ?::inistro : rárcio :(ibeiro, l1oj E;
com proficui dade :10
na, ainda, ilustre e .., . . ., , ' .. ..., . grance j'). J. z qu e o )Jnazonas (lera a :2epuDJ. lca, 0
Ministro Henoch Reis,recentemente , e leito Governador de seu Estado
natal, bem assim o ernii1e:"lte }:Lüs~ro :=sclras ,3Ueiros,potigu.ar de
nascimen to, perna.r.;":Jucc1LO de formação e vid.a públ ica; duas vezes
duado em C'.lrso s1.À?e~-io :c ; er:t :::irei to pela ~:ra ciicional Facul dade de
, rioso advogado,a par t ir do i ll-::e:::.'ior d e ?erl1a'11buco,ate 2eci f e,onde'
fora , 'o.. ., ,
tambem depu tacJo es ta'2v.cl , i ndo apos para o 210 ce J anelro, J a I
como advogado do J anco c}o Jrasi :l. S/A., C'J.jo Servi;o Jurí dico em
sua AG~ncia Central no novo ~istri to ?edera: viera, ou~ro ssim, c~e-v
da Seção local Jrasi~,com a ncmea;âo
teuoriados : J
-,""I ~ .... .. .- ........ ""','\ - ;
.:. 0.
1- 33 C - 450 ,000/4/74
" \ "
P.J. - TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
ra posse a 7 de janeiro de 1.966.
Assevero-vos, Senhores, entretanto, que a tranquilida
de toda informada de paciência do Ministro Márcio Ribeíro, a trans
parente bondade do Ministro Henoch Reis e o cavalheirismo, a gener2,
sidade transbordante, a prestimosa colaboração do Ministro Esdras '
Gueiros,notas, de resto, tão características de sua personalidade,f~
ram causas com efeitos imediatos,em ordem a que o recém-empossado' ...
nao reprimisse a espontaneidade de suas intervenções, tão ao feitio'
do gaúcho da fronteira, que não sabe enfeitar o que diz e cuja elo "" . , qttenc1a e ser franco.
Assim,muito debatemos e de · sua Excelência o Senhor'
Ministro Esdras Gueiros bastantes vezes ousei dissentir e com não '
pouca freqttência, até de forma acalorada, terçamos as armas da razão, í
no exame das questões de fato e de direito,vindas ao julgamento da.~ TUrma. "S
PUde,assim e por isso mesmo,formular sobre o ilus ~ tre varão, honrado e bom, e o juiz Esdras Gueiros a convicção, que te'> - '-
nho, acerca de seu entranhado e efetivo :· amor à verdade, à liberdade, "-.\, "' \
de seu respei to profundo à dignidade da pessoa humana e do vivo sen "i
timento de humildade cristã, que não titubeia em reconsiderar pronu!!i
ciamento anterior, ainda que recente,se,em consciência,convencido de
outra ser a solução mais justa ou jurídica para o caso concreto.
É o Ministro Esdras Gueiros filho de pastor evangé
lico,educador e pregador sacro, o Saudoso professor e Reverendo Je
rônimo Gueiros,cuja memória também eu aprendi a reverenciar,ao con
tato com seu descendente ilustre,que o relernbra a cada passo,sob um
misto de piedosa devoção, filial e perene encantamento.Compreendeu ,
portanto, desde cedo, sua Excelência que há algo no homem que é como'
um jardim fechado; não se tem, aí,o direito de penetrar-lhe a inti
midade.Nessa perspectiva, como juiz,Esdras Gueiros tem dado,indiscu
tivelmente,sopro de vida à frase que CARNELUTTI escreveu,em sua "AR ,
TE DEL DERECHO": " O direi to e uma das formas que toma o amor para'
obrar entre os homens". ,
Dotado de bom senso,em seus votos,transparece a 1n-
tima certeza, que o anima, segundo a qual,para conhecer a realidade e
captá-la,na sua totalidade,não basta,consoante proclamou MERTON," o , , .
interesse abstrato .pelas coisas como conceitos,mas e necessarl.O o '
amor e elas como valores". ASsim, do direi to, é jus to 1-33 C - 450.000/4/74
reconhecer C!.ue
o magistrado Esdras Gueiros sempre teve o entendimento de a normati
vidade não ficar adstrita à abstração,ao formalismo,mas projetar-se'
no conviver humano, como realidade disciplinadora de fatos concretos'
na vida social, em defesa dos valores nela encarnados.
Testemunha tenho sido, ademais, durante um qttinqttÊnio,
de gestos de mais lídima inspiração cristã, brotados do âmago de sua'
consciência de juiz,no desdobrar e desfilar de votos,em que, humildes
e desamparados,por vezes,mereceram,no deslinde favorável da causa,~
tes a solução que nasce da caridade do que um ato de púra justiça. 'É , , ,
que esse julgador que o tempo ~mplacavel esta para arrebatar do seio
do Tribuna l tem compreendido e vivido, com rara acuidade,as razões do
coração a que aludiu PASCAL(PENSÉES,277), e antes dele o Apóstolo das
Gentes,na Epístola aos Romanos(lO,lO), ao escrever, ':com o coração 51 crê para ter a justiça".E, em princípio,nem,aí,andou errado, porque, ,
em realidade,pela misericórdia,somente,pode completar-se a justiça' •
Segundo a lição de Santo Ambrósio,não há 'justiça sem misericórdia. ~ verdade, outrossim, emanada das fontes mais puras do cristianismo qu~
somente a caridade estabelece o vínculo perfeito(Col., III, 14), uni ~ ~ . -~
camente ela realiza a plenitude da lei(Rom., XIII,lO), ou como disse .<" '.~ , ,
JACQUES Mfu~ITAIN, so ela e a alma da liberdade(in o PENSAMENTO VIVO'
DE SÃO PAULO, p.14).
Nessa linha,à sua vez, traçou página de admirável sa-I
, t " bedoria um dos ma~s consp~cuos Jur~stas do Rio Grande do Sul, de to-
dos os tempos, o ilustríssimo professor RUY CIRNE LIMA, faz além de '
vinte anos, ao explicar:
I - 33 C - 450 .000/4/74
, , , "partindo,pois,da ideia de que Deus veio ate nos, e
está entre nós, a caridade cristã havia que fazer
lhe lugar em todas as relações de convívio humano e,
conseqttentemente,nas relações jurídicas.Esse lugar' , .
sera ma~or ou menor, segundo a medida da caridade mesm
Mas,ser-lhe-á criado,sempre.Vimos,já,de resto,como a ....
"obligatio" paga se transforma e, de algum modo, se'
diviniza,ao influxo da caridade cristã. Sim, a "obli
gatio", e não a justiça: variou a obrigação,a justi
ça permaneceu,imutável.Não obstante, algo de novo su~
giu.À obrigação, que tende a realizar a justiça como'
Fim,acrescentou alguma cousa,que não lhe era, antes ,
inerente.E como o estabelecer a obrigação é próprio'
P.J. - TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
da lei,o acréscimo,se está na obrigação,há de estar
necessariamente, também, na mesma lei.
Na verdade,desde que se aceita,como um fato,que DeuS
veio até nós e está entre nós, participando conosco •
das relações jurídicas, como de toda a nossa vida,uma
ordem jurídica,em que esse fato fosse ignorado, seria
deficiente ou falsa."
(apud POR UM DIREITO CRISTÃO, 1.95l,ps.36/37)
Esdras Gueiros tem professado,no Tribunal,pontualme~
te,essa lição da sabedoria cristã e eterna.
Não é, entretanto,Senhores,apenas,esse porte de Juiz
e de varão probo que cabe destacar no Ministro Esdras Gueiros. Tem •
ele também exercido a magistratura com a ele!lada compreensão do ve;-l
dadeiro sentido da independência do juiz,em nossos dias. . ~
Alhures,já afirmei:" se a missão de julgar deve ser'
cumprida,com inteira indiferença,em relação aos poderosos,jamâis p~ derá ser, entretanto,cega aos imperativos do bem comum"."Se a admis-
são do JUdiciário,como poder autônomo, a par do Executivo e do Legii'~;
lativo,representa,indubitavelmente,garantia dos direitos dos cidadãos ~, , ..,
sem a qual nao e posslvel o florescimento da vida democratica, e as-
sinala um marco avançado na evolução jurídicas dos povos, não menos '
certo é que se impõe exercitem os juízes,numa democracia, a sua com
petência jurisdicional, com lúcida visão da enorme responsabilidade,
perante a pátria, que assumem,notadamente,quando,usando do extraordi
nário poder de decidir terminativamente,anulam atos ou suspendem a
sua eficácia,si et in quantum, que hajam sido praticados por órgão'
do Executivo ou do Legislativo.N·a condição de prerrogativa eminente'
da soberania nacional,há,na função jUdiciária,o exercício de Um po -
der,de um comando,por via do qual é possível opor ~imite ao arbítrio
do Governo ou da legislatura,mas tal arbítrio deve ser tido, em prin-I . IV ,
Clplo,como exceção,no Estado de Direito, onde a presunçao e do exer-
cício da autoridade, segundo a Lei" " Dessa sorte, quando os detento -
res da autoridade- executiva ou legislativa-,preocupados com a prom~
ção do bem comum, introduzem alterações na ordem ou nos processos de . ,
realização do bem-estar coletivo,impende não procedam os JUlzes, di-
ante das mutações havidas,como sujeitbs a "tortura do anacronismo" ,
tão cruel quanto a do "isolamento ou do automatismo judiciário"( 11'1
Rev.TFR, vol. 26,ps, 184/186). 1-33 C - 450 .000/4/74
o Ministro Esdras Gueiros,nesta corte, tem realizado • com visão admirável tal figura de magistrado, aberto a todos, acess~
vel,cavalheiro e independente,com o alto sentido da responsabilida
de,perante a Nação,que promana do exercício da função jurisdicional
éerto de que,no concerto das instituições necessárias e uma saudá -
vel convivência livre, democrática e representativa, na expressão de . .' . VANDERBILT, " o poder do jUdlClarlo depende grandemente de sua rep~
tação quanto à sua independência,integridade e bom senso". (apud
BERNARD SCH\</ARTZ CONSTITUCIONAl AMERICANO", p.186).
Escreveu BERGSON, em seu liVro famoso, liA EVOLUÇÃO'
CRIADORA" :
"Toda obra humana que encerra uma parte de invençãct
todo ato l' '~ J
'voluntário que encerra uma parte de liberdade,todo~
movimento dum organismo que manifesta espontaneamente, trazem qUal,::')
quer coisa de novo ao mundo". '<))
Como me seria dado, segundo tal entender, Sr .Ministro " . " Esdras Gueiros,com inteira justiça,muito lembrar,nesta hora,acerca"'\
de sua atividade,em nove anos,no Tribunal Federal de Recursos,em in
tenso trabalho,lúcido,pertinaz,de afirmação de valores humanos, de '
constante preocupação no sentido de identificar o rumo do justo na
solução das preten~ões e súplicas dos que batem às portas deste Pret:'
rio,pedindo lenitivo a suas dores morais,reparação de gravames sofri
dos e liberdade.
Em particular, entretanto, esta Corte e a Justiça Fed~
ral de primeira instância são beneficiárias de sua ação criadora,na
expressão do escritor laureado.Do Tribunal é Vossa Excelência Vice -
presidente,havendo,inclusive,por certo período,no corrente ano,exer
cido a presidência, onde deixou sinais de sua passagem, especialmente, , ; . .. .
em . ~uma pronta, louvavel e humana lnlclatl va, que mereceu eKpresso a-
plauso de seus pares.Membro do Conselho da Justiça Federal,em dois '
biênios,do qual é hoje,também,Vice-presidente,soma alto o acervo dE
suas realizações para a organização da justiça Federal,ao ser restau
rada no Brasil,por decisão feliz do saudoso presidente Castelo Bran
co.Com descortino,vivacidade,senso da realidade,equilíbrio,Vossa Ex
celência de 1.967 a 1.969, nesse setor,como vem fazendo de 1.973 ao :
dias em curso, prestou efetivamente relevantes serviços à administra
ção superior da justiça c5rdinária da união, de primeiro grau. I - 33 C - 450.000/4/74
P.J. - TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
cu.mpre-me,ainda,Sr.Ministro Esdras Gueiros,sinalar
que Vossa Excelência merece especial reconhecimento desta Casa,pe
la contribuição inestimável que,em nove anos,deu,a fim de existir,
no Tribunal,o ambiente de feliz e agradabilíssimo convívio, entre '
todos os seus juízes,desde o mais antigo ao mais moderno,irmanados
hoje por cordialíssima e fraternal amizade, espírito es~e que tanto
engrandece,em particular,os órgãos jurisdicionais colegiados e lh~
propicia,no cumprimento exato de suas funções,a superação mais ame
na das dificuldades do oficio sagrado de jülgar os atos e erros I
do próximo e do poder.cabe-me,assim,não sem emoção,repetir a Vossa
Excelência a máxima inspirada do Livro dos provérbios(18,24):
"Há amigos que servem simplesmente para fazer com
panhia; mas também os há mais afeiçoados do que
irmão" •
Não sei, por tudo isso,Sr.Ministro Esdras
que mais exaltar no colega que, dentro em breve,deixará de formar
" nosco, cada tarde,na execução da tarefa interminável de dar a cada
um o que lhe pertence,nesse perene cultuar a justiça,professar o
nhecimento do bom e do equitativo,separar o équitativo do iníquo
discernir o lícito do ilícito,no dizer de DOMfcIO ULPIANO.
cc"' ~ \
,
Tranqailiza-me,porém,a certeza de que este adeus
que hoje se registra na ata da sessão é meramente simbólico,porque'
o colega e o amigo, o amigo e o colega, não deixarão efetivamente o
Tribunal, Quando o tempo fluir,aí verificaremos que é apenas apare~
te o conflito que, agora,parece desenhar-se entre o tempo e a perm~ ,., . ,. . ,
nencla, e quase nos esta a angustlar. Prossegulra conosco Vossa Ex-
celência,entretanto,por seu pensamento e obra,que aqui se enraiza -
ram e perpetuarão inefável diálogo entre os amigos que ficam e o co
lega que Se despede,de tal sorte que, por essa presença existencial
se revela,ao fim e ao cabo, o mistério de uma partida e regresso
constantes.
QUanto a Vossa Excelência,Senhor Ministro Esdras
Gueiros, certo estou de, acerca da Justiça, que tanto tem servido e
distribuído com amor,repetir,nesta hora,o que, no famoso diálogo, ,
disse PROMETEU A DOXA, no ponto do caminho onde uma só passagem ha
via, qUillldo a altiva interloc~tora, como 'uma sombra, atravessando
se-lhe na estrada,fixando nele olhar imperioso,interpelou-o em tom'
insólito e, depois, com benevolêYlci a ; I - 33 C - 450,000/4/74
P.J. - TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
"-Ora, mui to bem! Que alma é essa que fez tudo isto
e a quem obedeceste sempre cegamente e a quem sa
crificaste voluntariamente a felicidade e o bem -
estar de tua vida?
E ele respondeu com simplicidade;
-De seu nome e condição nunca indaguei,nem exigi'
nenhum sinal: um dia de verão, ao meio-dia,encon
trei-a entre as flores, à beira do ribeiro,e logo
acredi tei nela por causa de sua grande beleza."
(CARL SPITTELER, "PROMETEU E EPIMETEU", trad. de
Manuel Bandeira,parte Final).
Senhor Ministro Esdras Gueiros! QUe o futura lhe '
seja longo,muito longo em anos de existência,os juízes e todos os'-1
funcionários deste Tribunal,genuflexos,pedimos,aos Senhor nosso '~
Deus,lhe conceda,ao lado de sua excelentíssima esposa, dona Elcy I~ Gueiros,com o coração pleno de felicidade,poder prosseguir contem~ plando a beleza eterna da Justiça e do Amor,na certeza da inspirada ~
, ~~ promessa, que esta no Livro Santo: """\
"O que exerce a jus tiça e a misericórdia encontrará
a vida e a glória."
(provérbios, 21, 21)