Politicas da educação basica

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    POLTICAS DA EDUCAO BSICA

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    CURSOS DE GRADUAO EAD

    Polticas da Educao Bsica Prof. Ms. Rubens Arantes Corra e Profa. Ms. Karina ElizabethSerrazes

    Meu nome Rubens Arantes Corra. Sou graduado em Histriapela Universidade Estadual Paulista UNESP/Franca e Mestreem Cincias Sociais (rea de concentrao: Sociologia Poltica)pela Universidade Federal de So Carlos UFSCar, local emque defendi dissertao sobre o pensamento e a militnciapoltica de Raul Pompia (1863-1895). Doutorando em Histriapela UNESP/Franca. No Centro Universitrio Claretiano, souprofessor nas reas de Histria, Sociologia e Antropologia, almde lecionar, tambm, algumas disciplinas na rea de Educao.Sou autor do livro O Pensamento Poltico de Raul Pompia,

    lanado em 2008 pela Editora Ex Libris.

    Meu nome Karina Elizabeth Serrazes. Sou graduada emHistria pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Franca),em Pedagogia pelo Centro Universitrio Claretiano e Mestreem Histria na rea de Histria e Cultura tambm pelaUniversidade Estadual Paulista (UNESP/Franca). Atuo comodocente nos cursos de Licenciatura em Pedagogia, Histriae em outros cursos da rea de formao de professores, nasmodalidades presencial e a distncia do Centro UniversitrioClaretiano. Como pesquisadora, realizo estudos na rea dehistria regional, histria e memria, histria da educao,polticas de educao e metodologia de ensino.

    Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educao

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    POLTICAS DA EDUCAO BSICA

    Karina Elizabeth Serrazes

    Rubens Arantes Corra

    Batatais

    Claretiano

    2013

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    Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educao

    Ao Eucacoal Clareaa, 2010 Batatas (SP)Verso: dez./2013

    370 S496p

    Corra, Rubens ArantesPolticas da educao bsica / Rubens Arantes Corra, Karina Elizabeth

    Serrazes, Batatais, SP : Claretiano, 2013.186 p.

    ISBN: 978-85-8377-093-0

    1. Polticas Educacionais. 2. Estrutura do Ensino Brasileiro. 3. Legislao

    Escolar. I. Serrazes, Karina Elizabeth. II. Polticas da educao bsica.

    CDD 370

    Corpo Tcnico Editorial do Material Didtico MediacionalCoordenador de Material Didco Mediacional:J. Alves

    PreparaoAline de Ftima Guedes

    Camila Maria Nardi Matos

    Carolina de Andrade Baviera

    Ca Apareca Rbero

    Dandara Louise Vieira Matavelli

    Elaine Aparecida de Lima Moraes

    Josae Marchor Mars

    Lidiane Maria Magalini

    Luciana A. Mani Adami

    Luciana dos Santos Sanana de Melo

    Patrcia Alves Veronez Montera

    Raquel Baptista Meneses Frata

    Rosemeire Cristina Astolphi BuzzelliSimone Rodrigues de Oliveira

    Bibliotecria

    Ana Carolina Guimares CRB7: 64/11

    RevisoCeclia Beatriz Alves TeixeiraEduardo Henrique MarinheiroFelipe AleixoFilipi Andrade de Deus SilveiraJuliana BiggiPaulo Roberto F. M. Sposati OrtizRafael Antonio MorottiRodrigo Ferreira DaverniSnia Galindo MeloTalita Cristina BartolomeuVanessa Vergani Machado

    Projeto grfico, diagramao e capaEduardo de Oliveira AzevedoJoice Cristina MicaiLcia Maria de Sousa FerroLuis Antnio Guimares ToloiRaphael Fantacini de OliveiraTamires Botta Murakami de SouzaWagner Segato dos Santos

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo, a transmisso total ou parcial por qualquerforma e/ou qualquer meio (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia, gravao e distribuio naweb), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permisso por escrito doautor e da Ao Educacional Claretiana.

    Claretiano - Centro UniversitrioRua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo Batatais SP CEP 14.300-000

    [email protected]: (16) 3660-1777 Fax: (16) 3660-1780 0800 941 0006

    www.claretianobt.com.br

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    SUMRIO

    CADERNO DE REFERNCIA DE CONTEDO

    1 INTRODUO ................................................................................................... 72 ORIENTAES PARA ESTUDO .......................................................................... 9

    UnidAdE 1 POLTICAS DE EDUCAO BSICA: ASPECTOS HISTRICOS,SOCIAIS E POLTICOS

    1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 312 CONTEDOS ..................................................................................................... 313 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 324 INTRODUO UNIDADE ............................................................................... 345 PANORAMA HISTRICO DA EDUCAO BSICA NO BRASIL ....................... 35

    6 PLANOS NACIONAIS DE EDUCAO E REFORMAS EDUCACIONAIS ............ 557 NEOLIBERALISMO, GLOBALIZAO E EDUCAO NO BRASIL .................... 638 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 669 QUESTES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 6910 CONSIDERAES .............................................................................................. 7111 EREFERnCiAS................................................................................................ 7112 REFERnCiAS BiBLiOGRFiCAS...................................................................... 72

    UnidAdE 2 LEGISLAO ESCOLAR NO BRASIL CONTEMPORNEO

    1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 732 CONTEDOS ..................................................................................................... 743 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 744 INTRODUO UNIDADE ............................................................................... 755 A EDUCAO NA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988 .................................... 816 O ESTATUTO dA CRiAnA E dO AdOLESCEnTE ECA ................................... 867 A LEi dE diRETRiZES E BASES dA EdUCAO nACiOnAL n 9.394/96..... 908 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 979 QUESTES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 101

    10 CONSIDERAES .............................................................................................. 10211 E REFERnCiAS .............................................................................................. 10412 REFERnCiAS BiBLiOGRFiCAS...................................................................... 104

    UnidAdE 3 ESTRUTURA, ORGANIZAO E FUNCIONAMENTO DOENSINO BRASILEIRO

    1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 1072 CONTEDOS ..................................................................................................... 107

    3 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 1084 INTRODUO UNIDADE ............................................................................... 1095 O SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO ................................................................... 110

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    6 ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DO SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO ........... 113

    7 ESTRUTURA DIDTICA DO SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO ......................... 1188 O CURRCULO ESCOLAR ................................................................................... 1269 A AVALIAO DO RENDIMENTO ESCOLAR .................................................... 13210 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. 13711 QUESTES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 14212 CONSIDERAES .............................................................................................. 14413 EREFERnCiAS ................................................................................................ 14414 REFERnCiAS BiBLiOGRFiCAS ..................................................................... 145

    UnidAdE 4 O FINANCIAMENTO, OS PROFISSIONAIS DA EDUCAOE A GESTO DOS SISTEMAS DE ENSINO

    1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 1472 CONTEDOS ..................................................................................................... 1483 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 1484 INTRODUO UNIDADE ............................................................................... 1485 O FINANCIAMENTO DA EDUCAO ESCOLAR ............................................... 1496 O PROFESSOR E OS DEMAIS PROFISSIONAIS DA EDUCAO ...................... 1617 A GESTO DOS SISTEMAS DE ENSINO ............................................................ 174

    8 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 1779 QUESTES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 18110 CONSIDERAES .............................................................................................. 18311 CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 18412 EREFERnCiAS................................................................................................ 18513 REFERnCiAS BiBLiOGRFiCAS...................................................................... 186

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    EAD

    CRC

    Caderno deReferncia de

    Contedo

    Contedo As Polticas Educacionais (aspectos sociopolticos e histricos; reformas educa-cionais e planos de educao; programas nacionais de educao). As Estruturasdo Ensino Brasileiro (nveis e modalidades de educao e ensino; estrutura di-dtica; estrutura administrativa; currculo escolar). A Legislao Escolar (Lei Fe-deral n 9.394/96 LDB; Constituio Federal de 1.988; Lei Federal n 8.069/90

    ECA). Financiamento da Educao Escolar. Gesto Escolar. Prossionais da

    Educao.

    1. INTRODUO

    Seja bem-vindo!

    Vamos dar incio ao estudo de Polticas da Educao Bsica,

    componente curricular obrigatrio nos cursos de licenciatura ofere-cidos pelo Centro Universitrio Claretiano na modalidade EaD.

    O objetivo central deste Caderno de Referncia de Contedo o de possibilitar uma discusso sobre as polticas pblicas adota-das no Brasil para as etapas constitutivas da educao bsica, emespecial, para os nveis do ensino fundamental e mdio, analisan-do-as em uma perspectiva histrico-sociolgica.

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    Nesse sentido, importante nos atentarmos relao entre po-ltica educacional e realidade poltica, econmica e social, visto quequem determina as aes pblicas no campo da educao o Estado,por meio de rgos prprios, como o Ministrio da Educao e o Con-selho Nacional de Educao, respaldado pelo poder legislativo.

    Por isso, fundamental que todos aqueles que esto direta-

    mente envolvidos com a educao, como docentes e demais pro-fissionais da rea, conheam tanto a legislao quanto a sua apli-cao, pois a lei e a sua aplicao correspondem materializaodas polticas pblicas para o setor educacional. Isso quer dizer queno basta apenas termos um corpo legislativo satisfatrio, mas

    tambm observarmos sua efetiva aplicabilidade pelos sistemas deensino.

    Dessa forma, procurando facilitar uma melhor compreensodos contedos tratados neste Caderno de Referncia de Contedo,

    dividimos este material de forma bem didtica. importante lem-brar que um conhecimento mais abrangente sobre o tema envol-ve, necessariamente, a leitura de referncias bibliogrficas citadas

    no corpo do material, alm de ser indispensvel, ainda, o acom-panhamento dos assuntos tratados por meio de jornais, revistas,programas de televiso e pesquisas na internet.

    Na primeira unidade, fazemos um balano histrico sobre aeducao bsica no Brasil desde a sua independncia em 1822 at

    o peroo cotemporeo, com a promulgao a Le 9.394/96,que estabelece as diretrizes e as bases para a educao nacional.Vamos perceber, nessa trajetria, as inmeras reformas e planoseducacionais que foram adotados pelo Estado brasileiro, mas quetiveram pouco xito prtico, revelando uma certa dose de negli-gncia por parte das autoridades na aplicao efetiva das leis edu-cacionais.

    Posteriormente, na Unidade 2, tratamos, especificamente, da

    legislao escolar atual que norteia todos os sistemas escolares naatualidade: a Constituio Federal de 1988, especificamente o ca-

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    ptulo "da Eucao, da Cultura e do desporto"; a Le 8.069/90,que institui a doutrina de proteo para crianas e adolescentes,bem como a prpria LDB de 1996, citada no pargrafo anterior.

    J na Unidade 3, o tema central o da estruturao e do

    funcionamento do sistema escolar brasileiro em seus aspectosdidticos, administrativos, curriculares e avaliativos luz da

    legislao em vigor. Finalmente, na Unidade 4, analisamos atemtica do financiamento da educao e abordamos o universoprofissional do docente e os demais ofcios previstos na lei para ocampo do magistrio e a questo da gesto dos sistemas de ensino.

    Aps esta introduo, apresentamos a seguir, no tpico

    Orientaes para Estudo, algumas orientaes de cartermotivacional, dicas e estratgias de aprendizagem que poderofacilitar o seu estudo.

    2. ORIENTAES PARA ESTUDO

    Abordagem GeralProf. Dra. Mecira Rosa Ferreira

    Neste tpico, apresenta-se uma viso geral do que ser es-tudado neste Caderno de Referncia de Contedo . Aqui, voc en-trar em contato com os assuntos principais deste contedo deforma breve e geral e ter a oportunidade de aprofundar essas

    questes no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Aborda-gem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento bsico necessrio apartir do qual voc possa construir um referencial terico combase slida cientfica e cultural para que, no futuro exercciode sua profisso, voc a exera com competncia cognitiva, tica eresponsabilidade social.

    O estudo de Polticas da Educao Bsicaoportuniza a com-

    preenso da estrutura, da organizao e do funcionamento dossistemas de ensino em todos os seus aspectos: sociais, polticos,

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    histricos, pedaggicos e legais. Ela possibilitar uma discusso so-bre as polticas adotadas no Brasil para as etapas da educao b-sica, em especial, para os nveis do Ensino Fundamental e Mdio.

    Inicialmente, faremos uma retomada histrica das polticas

    de educao no Brasil, por meio de suas propostas de reformase planos nacionais para o setor. Em seguida, abordaremos a le-

    gislao fundamental que norteia, atualmente, o sistema escolarbrasileiro representado pela Constituio Federal de 1988, o ECAe a LDB 9.394/96, em que trataremos de alguns aspectos prticosrecomendados pela atual Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional. Posteriormente, centraremos nossos estudos nos pro-

    fissionais da educao, quando destacaremos os papis que soprevistos pela legislao para o desempenho da funo docente edas polticas pblicas para o magistrio, tais como a formao e avalorizao profissional.

    Quando falamos em polticas da educao, estamos nos re-ferindo, especificamente, relao do Estado com a sociedade.Quem estabelece as polticas pblicas o Estado.

    Assim, com esta definio, podemos dizer que, no caso doBrasil, o Estado se concretizou formalmente com a Constituiode 1824.

    Foi nesse momento que o Brasil, em termos jurdicos e polti-

    cos, efetivou sua independncia aps trs sculos de colonialismo.

    Contudo, nessa Constituio, no captulo referente educa-

    o, h somente uma declarao de "boas intenes" de garantia deinstruo primria gratuita para todos os cidados brasileiros, sem,no entanto, dizer como promover, efetivamente, essa garantia.

    Constituio de 1891

    No campo da educao, permaneceu o descentralismo, esta-belecendo que o ensino superior e o ensino secundrio ficariam a

    cargo da Unio e caberiam aos Estados os ensinos elementar e pro-fissional, persistindo o antigo modelo dos tempos monrquicos.

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    Em 1932, os idealizadores da Escola Nova divulgaram o "Ma-nifesto dos pioneiros da Educao Nova", tornando-se um marcono s no sentido de proposio de uma reforma educacional noBrasil, mas tambm de apresentar um diagnstico da situao daeducao vivida pelo pas.

    A CF/1934 incumbiu Unio fixar o Plano Nacional de Educao,compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e es-pecializados, e coordenar e fiscalizar sua execuo em todo o terri-trio do pas (GUIRALDELLI JNIOR, 1991, p. 45).

    Tal constituio tambm previa outras medidas consistentesem relao organizao escolar.

    A partir de 1937, a Era Vargas, aps um golpe de Estado, es-tabeleceu um regime ditatorial chamado Estado Novo.

    Na prtica, o que ocorreu entre 1937-1945, no que se refe-re educao escolar, foi a interveno estatal por meio de leisou decretos que, em conjunto, ficaram conhecidos como ReformaCapanema, aluso ao ministro da Educao do Estado Novo, Gus-tavo Capanema. A nfase dessa reforma recaiu sobre a escola de

    formao tcnica e profissional.Constituio de 1946

    A grande novidade anunciada pela Constituio de 1946 foiprever a elaborao de uma legislao prpria, abrindo possibili-dades para a conquista de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educa-o (LDB) que fora instituda em 20 de dezembro de 1961.

    Em 1964, com o golpe militar que derrubou o presidenteJoo Goulart, chegava ao fim o frgil sistema democrtico cons-trudo no ps-guerra.

    Ingressamos, ento, em uma nova etapa poltica da histriado Brasil, com evidentes consequncias s polticas de educaobsica.

    O golpe de 1964 instaurou uma ditadura que durou at 1985.Essa ditadura utilizou todos os meios para desmobilizar a socie-

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    dade organizada, at mesmo os professores e os estudantes quese mobilizavam em favor de reivindicaes relativas educaoem todos os nveis, os quais tiveram suas manifestaes proibidas,alm de suas entidades representativas colocadas na ilegalidade,como foi o caso da Unio Nacional dos Estudantes.

    Em 1985, uma nova fase na histria poltica do pas abre-

    -se, renovando-se as esperanas, inclusive no mbito educacional,com o reconhecimento do Estado Democrtico de Direito. Nessesentido, a Constituio Federal/1988 estabeleceu princpios geraisda educao nacional, observe:

    a) Proclama que a educao direito de todos e dever do

    Estado e da famlia.b) Estabelece os princpios da educao nacional, inspira-

    dos no liberalismo, na democracia e no respeito aos di-reitos humanos.

    c) Atribui competncias ao Estado no s na oferta, mastambm no atendimento aos estudantes, a fim de man-ter frequncia obrigatria no ensino fundamental.

    d) Determina percentuais mnimos Unio, aos Estados,

    ao Distrito Federal e aos Municpios como forma de ga-rantir financiamento educao.

    Promulgada anos depois, j neste clima de redemocratiza-o do pas, a atual LDB 9.394/96 reestruturou todo o sistema edu-cacional brasileiro. Vejamos:

    a) Prev, em termos de nveis de modalidades de ensino,que a educao brasileira esteja dividida em duas par-

    tes: educao bsica, constituda pela educao infantil,ensino fundamental e ensino mdio, e ensino superior.

    b) Cria competncia aos nveis administrativos em relao educao, fixando incumbncias Unio, aos Estados,ao Distrito Federal e aos Municpios.

    c) Regula nova estrutura curricular instituindo uma base nacio-nal comum e uma parte diversificada no currculo escolar.

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    d) Recomenda um novo paradigma para a verificao dorendimento escolar, incentivando a aplicao de avalia-es contnuas e contextualizantes.

    e) Prev regras flexveis que visem incluso de pessoascom necessidades especiais rede escolar comum.

    Fica evidente a dificuldade de elaborao e implantao depolticas pblicas, dadas as particularidades histricas de um pas.

    Em jaero e 2001, o Cogresso nacoal aprovou a Le 10.172, instituindo o PNE com durao de dez anos. So linhas ge-rais que abordam o respectivo PNE:

    a) Acompanhamento de perto pelo Poder Legislativo e pelasociedade civil organizada durante sua vigncia.

    b) Estados, Distrito Federal e Municpios devem proporseus prprios Planos de Educao em conformidadecom o plano nacional.

    c) Promoo do nvel de escolaridade da populao, redu-zindo as diferenas entre as regies no que diz respeitoao acesso e permanncia na escola pblica.

    d) Segue o princpio constitucional e da LDB quanto ne-

    cessidade de democratizao da gesto da escola pblica.Em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso,

    foi aprovado um fundo destinado, especificamente, ao financia-mento do ensino fundamental, obrigatrio e gratuito conforme aCF/1988 e a LDB de 1996. Tratava-se do FUNDEF (Fundo de Manu-teno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorizaodo Magistrio), que estabelecia critrios de reserva, vinculao

    e distribuio de receitas para o ensino fundamental. O FUNDEFtinha, tambm, como objetivo fundamental investir em pessoaldocente, por meio de incentivos salariais, promoo de cursos deformao continuada e planos de carreira.

    Em 2007, no governo do Presidente Luiz Incio Lula da Sil-va, foi institudo o Fundo de Desenvolvimento da Educao Bsi-ca, cujos objetivos so, tambm, de obter financiamento para a

    educao bsica e no s para o ensino fundamental, como eraanteriormente, com o FUNDEF.

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    A Le 11.494/07, que crou o FUndEB, estee os bee-fcios para os demais nveis do ensino bsico, incluindo as etapascorrespondentes educao de jovens e adultos, bem como as co-munidades indgenas e quilombolas, alm da educao especial,o suporte financeiro que considera adequado para todo o seu de-senvolvimento, incluindo, ainda, as fontes financiadoras do fundo,a obrigao dos repasses da Unio que regulamenta e a distribui-

    o e a fiscalizao dos recursos, entre outras medidas.

    Continuando nosso estudo, abordaremos a CF/1988, a LeiFeeral 8.069/90, que sttuu o Estatuto a Craa e o Ao-lescete e a Le Feeral 9.394/96, que estabeleceu a LdB.

    Constituio Federal de 1988

    no Artgo 6, Captulo ii, Ttulo ii a CF/88 fca garato que

    a educao se constitui legalmente um direito social, ao lado deoutros direitos fundamentais, vindo ao encontro dos ideais preco-nizados por diversos documentos, dentre eles a Declarao Uni-versal dos Direitos do Homem e do Cidado, proclamada pelas

    Naes Unidas.A Constituio Federal de 1988, em seu Artigo 205, enfatiza

    o dever do Estado face educao nos seguintes termos: a educa-o um direito que deve ser garantido em regime de correspon-sabilidade entre o Estado e a famlia, no que condiz oferta de va-

    gas e permanncia dos alunos nas escolas, tendo por finalidade o"pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exerccio da

    cidadania e a qualificao para o trabalho", dentro dos princpioseducacionais que contemplam a igualdade, a permanncia na es-cola, a liberdade como fundamento da prtica educativa e cultural,o respeito diversidade de concepes pedaggicas e o ensinopblico gratuito de qualidade.

    Alm desses direitos e deveres estabelecidos, a Lei Maior

    ainda dispe sobre:

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    A estrutura curricular constituda por contedos mnimosque visam formao bsica comum.

    Sistemas escolares organizados pelo Poder Pblico em"regime de colaborao", cabendo aos Estados e ao DF

    atuar, prioritariamente, nos nveis de ensino fundamen-tal e mdio; e aos Municpios, cabe exercer nos nveis daeducao infantil e ensino fundamental.

    A porcentagem mnima que cada instncia dever aplicarem educao e o estabelecimento de um Plano Nacionalde Educao, plurianual, articulado com as diversas instn-cias do Poder Pblico, visando erradicar o analfabetismo.

    Lei Federal n 8.069/90

    Para darmos continuidade nessa abordagem geral, veremos

    a Lei Federal 8.069/90, que instituiu o Estatuto da Criana e doAdolescente ECA.

    Possivelmente, voc esteja, de alguma forma, familiarizadocom a situao da infncia em nosso pas, como reflexo da questo

    social que a desigualdade. No campo educacional, o ECA est emconsonncia com a CF/88 e com a LDB. Observe:

    O ncleo principal da doutrina que fundamenta o ECAest centrado em duas frentes no excludentes: as medi-

    das de proteo e as medidas socioeducativas.

    A doutrina distingue trs categorias jurdicas de crianase de adolescentes, ou seja, existe para o legislador: o me-

    nor carente; o menor vtima e o menor infrator.

    Para cada uma dessas categorias, a lei estabelece regrasespecficas no sentido de garantir e de promover a prote-o dos menores.

    O ECA estabelece medidas de proteo criana e aos ado-lescentes. Veja, a seguir, algumas dessas medidas:

    a) A famlia tem o dever de criar e de educar seus filhos, demaneira que estes somente sero tirados do ambiente

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    familiar quando suas necessidades fundamentais estive-rem em situao de perigo.

    b) A autoridade constituda dar o encaminhamento ade-quado ao menor que, em razo de abandono, maus tra-tos, violncia ou outros fatores que atentam contra seus

    direitos, foi retirado do convvio familiar.c) A famlia, em conjunto com a comunidade, obrigatoria-mente, matricular e manter menores em idade no en-sino fundamental e, em caso de negligncia por partedos responsveis, estes sero indiciados.

    d) O Estado e a sociedade devero criar condies efetivaspara o devido cuidado da sade do menor, incluindoorientao e tratamento mdico, psicolgico, psiquitri-co, nos casos de envolvimento dos menores com o con-sumo de lcool e de drogas.

    Ao contrrio do que muitos supem, por meio do senso co-mum, o ECA estabelece deveres e prev medidas socioeducativaspara os menores infratores. A Lei estipula competncia ao Juizadode Menores para a aplicao das medidas que se seguem, sob ofundamento de que preciso recuperar esses menores e, portan-to, em lugar de medidas meramente penais, devem ser adotadas

    medidas de carter socioeducativo. So elas:a) Advertncia por escrito, por meio de um termo legal,

    que envolve o menor em questo e os seus respons-veis, impondo a eles deveres e obrigaes.

    b) Reparao de danos, no qual o menor e os responsveisso obrigados a ressarcir os prejuzos causados.

    c) Prestao de servios comunidade, obrigando o menora cumprir socialmente o erro cometido individualmente.

    d) Internao em estabelecimento educacional uma me-dida adotada em casos extremos, privando o menor desua liberdade.

    importante conhecer a educao escolar brasileira em seusaspectos formais e organizacionais, com base nos referenciais le-gais em vigor, como tambm sua estrutura e seu funcionamento,em seus aspectos didticos, administrativos e formais, alm das in-

    dicaes da legislao em vigor sobre o currculo escolar e a avalia-o do rendimento escolar, que regem o sistema escolar brasileiro.

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    Para sua melhor compreenso do que ser exposto poste-riormente, julgamos pertinente algumas indagaes:

    O que um sistema? Quais so as condies essenciais paraque tenhamos um sistema?

    As expresses "sistema de educao", "sistema de ensino" e"sistema escolar" tm sido, muitas vezes, empregadas indistinta-mente. A primeira Lei de Diretrizes e Bases (4.024/61), por exem-plo, usa "sistema de ensino" e "sistema de educao", referindo-se mesma realae. J as Les 5.692/71 e 9.394/96 utlzamsempre a expresso "sistema de ensino".

    Dessa forma, necessrio distinguir essas trs expresses eum dos critrios utilizados para essa distino o grau de abran-

    gncia de cada uma delas. Vejamos:

    Sistema de educao: a expresso que tem o sentidomais amplo de abrangncia, pois se confunde com a pr-pria sociedade. Em ltima anlise, a sociedade que edu-ca, por meio de todos os agentes sociais pessoas, fam-lias, grupos informais, escolas, igrejas, clubes, empresas,meios de comunicao etc.

    Sistema de ensino: a expresso de abrangncia inter-mediria. Alm das escolas, inclui as instituies e as pes-

    soas que se dedicam sistematicamente ao ensino cursosministrados de vez em quando, conferncias, catequistas,professores particulares etc.

    Sistema escolar: a expresso que tem abrangncia mais li-mitada, pois compreende uma rede de escolas e sua estruturade sustentao. As escolas e sua estrutura podem ser conside-radas um sistema, na medida em que formam um conjuntode elementos interdependentes, como um todo organizado. acerca desta dimenso que discutiremos a seguir.

    Neste estudo, identificaremos trs condies bsicas para

    que tenhamos um sistema:

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    Polticas da Educao Bsica18

    possuir vrios elementos em ao;

    relacionar tanto interna como externamente esses ele-mentos;

    constituir uma relao de dependncia em um corpo or-

    ganizado.A partir do momento em que a sociedade humana institucio-

    nalizou a escola como a agncia especfica de educao, a institui-o escolar passou a se constituir em um sistema com funes pr-prias, existindo para atender s necessidades sociais mais gerais, econstitudo por elementos adequados ao seu funcionamento.

    Voc deve estar se perguntando: afinal, o que um sistemaescolar? Para responder a essa questo, recorremos a Jos Queri-no Ribeiro, que nos traz a definio que julgamos pertinente para

    a reflexo aqui proposta. Veja o que este autor nos diz:Por sistema escolar se entende um conjunto de escolas que, to-mando o indivduo desde quando, ainda na infncia, pode ou pre-cisa distanciar-se da famlia, leva-o at que, alcanando o fim daadolescncia ou a plena maturidade, tenha adquirido as condiesnecessrias para definir-se e colocar-se socialmente, com respon-

    sabilidade econmica, civil e poltica (RIBEIRO apud MENEZES,2004, p. 127).

    Completando esta reflexo, este sistema escolar tem umaestrutura administrativa que garante o seu funcionamento no quediz respeito s normas e s competncias, ou seja, todo um apara-to legal que normatiza o funcionamento de uma organizao. Nocaso especfico do sistema escolar brasileiro, a Lei de Diretrizes

    e Bases da Educao Nacional, a LDB 9.394/96, em acordo com osprincpios democrticos estabelecidos na Constituio Federal de1988, alm de pareceres e de resolues.

    Considerando esse corpo jurdico, temos uma disposio or-ganizacional do sistema escolar brasileiro baseada em uma dispo-sio hierrquica de competncias que envolvem a Unio, os Esta-

    dos, o Distrito Federal e os Municpios. Apesar de cada instnciapossuir suas prprias atribuies e funes, tanto a LDB quanto a

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    19 Caderno de Referncia de Contedo

    Constituio Federal recomendam que seja seguido o princpio dainterdependncia entre os trs nveis administrativos.

    Talvez, voc esteja pensando: a formalidade de todas as atri-buies e competncias efetiva-se na prtica do exerccio cotidiano

    tanto dos rgos responsveis como das instituies envolvidas?Ou, em outras palavras, o que est previsto nas leis educacionais

    colocado em prtica?

    A gesto democrtica apontada, tanto na Constituio Fe-deral quanto na LDB 9.394/96, como importante diretriz para aimplementao das polticas educacionais.

    H uma intencionalidade jurdica incumbindo instncias dedeveres para com a educao escolar. Entretanto, as leis, por si s,no promovem as mudanas necessrias e urgentes. So as pes-soas que fazem a diferena nas organizaes, com sua formaopoltica e comprometimento com a educao.

    Alm da estrutura administrativa que apresentamos, h, nosistema escolar brasileiro, uma estrutura didtica que assegura aaprendizagem dos alunos. Para maior compreenso, podemos es-tabelecer o que as diferencia. Vejamos:

    Estrutura administrativa: responsvel pelas condiesmateriais, fsicas e jurdicas, de seu funcionamento, cons-tituindo-se em "atividade-meio" da educao.

    Estrutura didtica: est voltada para o objetivo primor-dial da escola: o ensino aprendizagem constituindo-se em

    "atividade fim" da educao.A LDB 9.394/96 sofreu alteraes em seus artigos que regu-

    lametavam o eso fuametal. Tratam-se as Les Feeras 11.114/2005 e 11.274/2006, que estabelecem a obrgatorea-de do ensino fundamental aos seis anos de idade.

    Essas alteraes vm garantir a insero escolar a um grandecontingente de alunos que estavam fora da escola.

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    importante destacar na LDB a flexibilidade quanto ao calen-drio escolar, organizao e classificao dos alunos na etapa doensino fundamental, considerando a extenso territorial do pas.

    Em relao sua organizao, cabe a cada sistema escolar

    dividir o ensino fundamental em ciclos, sries, semestres ou ou-tras formas de periodizao.

    No que diz respeito classificao dos alunos, a lei permiteque cada sistema escolar estabelea regras prprias para classifi-c-los, independentemente de estarem promovidos.

    Alm do exposto, fundamental abordarmos a importnciado currculo escolar para o desenvolvimento integral das pessoas. Aatual LDB dispe um conjunto de iniciativas no campo do currculoescolar articulado com outros aspectos da vida escolar, visando al-

    canar o padro de qualidade de ensino proclamado pela legislaoe desejado por todos. Assim, pensando na melhoria do ensino fo-ram formulados e institudos os Parmetros Curriculares Nacionaise as Diretrizes Curriculares Nacionais, que podero ser adaptados speculiaridades locais dos sistemas escolares brasileiros.

    No que diz respeito avaliao do rendimento escolar es-pecificamente, a atual LDB tambm a aborda, prevendo a flexibi-lidade em relao aos mtodos de avaliao, deixando que cadasistema escolar adote seus prprios critrios, dentro dos que a

    presente lei estabelece como ideais:

    Avaliao contnua e cumulativa, valorizando, assim, o

    desempenho do educando ao longo de todo o ano letivo. Acelerao e aproveitamento de estudos, possibilidade

    de avano em cursos e sries, conforme a verificao derendimento de alunos que, por algum motivo, se encon-tram fora da idade escolar regular.

    Obrigatoriedade de estudos de recuperao, contnua eparalela ao ano letivo.

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    Todos esses aspectos da educao descritos at ento nosremetem, sem dvida, aos profissionais da educao o gestor, ocoordenador, o supervisor e, em particular, o professor enquan-to responsveis pelo fazer pedaggico das escolas.

    Vale destacar que somente em 1930 surgiram as Faculdadesde Filosofia, Cincias e Letras, que, com o tempo, passaram a seconstituir em formadoras de professores por meio de seus cursosde licenciaturas.

    Entretanto, somente com a LDB 4.024/61 a profisso docenteganhou maior formalidade legal, atentando o legislador para o pro-cesso de formao dos professores e demais profissionais de ensino.

    A legislao educacional sempre esteve, de alguma forma,atrelada aos interesses econmicos, polticos e sociais do pas.Com o advento da Ditadura Militar, uma nova Lei de Diretrizes eBases sancionada a LDB 5.692/71.

    Nesta LDB, a formao de professores e especialistas parao eso e 1 e 2 graus ser feta em ves que se elevem pro-gressivamente, ajustando-se s diferenas culturais de cada regio

    do pas, e com orientao que atenda aos objetivos especficos decada grau, s caractersticas das disciplinas, rea de estudos e sfases de desenvolvimento dos educandos.

    Com o fim do regime militar, o pas vive um novo ciclo poltico,marcado pela democratizao e pelo Estado de direito, impondo anecessidade de reformular a "lei maior" da educao. nesse con-texto poltico e social que a LDB 9.394/96 promulgada, definindo

    os fundamentos nos quais se basearo a formao dos profissionaisda educao, de modo a atender nova realidade do Pas.

    Diante dessa situao, em 1998, as iniciativas governamentaiscomearam a ser adotadas, embora ainda no tenham obtido o resul-tado necessrio, na reverso do quadro crtico da educao: O FUN-DEF em 1998, e o FUNDEB em 2007, o Piso Salarial Mnimo em 2008,alm de iniciativas isoladas de sistemas estaduais e municipais.

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    Com este estudo, poderemos constatar que, como reflexo daausncia de uma atuao mais efetiva do Estado no campo da edu-cao, a formao de professores, alm da valorizao desses pro-fissionais, sempre foram muito negligenciadas pelas autoridades.

    A formao de professores e a valorizao da profisso do-cente configuram como essenciais para a melhoria da qualidadeda educao bsica. Afinal, no bastam as leis, so as pessoas quefazem a diferena nas organizaes.

    Bons estudos!

    Glossrio de Conceitos

    O Glossrio de Conceitos permite a voc uma consulta rpi-da e precisa das definies conceituais, possibilitando-lhe um bomdomnio dos termos tcnico-cientficos utilizados na rea de co-nhecimento dos temas tratados em Polticas da Educao Bsica.Veja, a seguir, a definio dos principais conceitos:

    1) Currculo escolar: projeto que define as intenes, prin-cpios e orientaes educativas e proporciona informa-

    es concretas sobre o que ensinar, quando ensinar,como ensinar e como e quando avaliar.

    2) Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs): conjunto dedefinies doutrinrias sobre princpios, fundamentose procedimento da educao bsica, expressas pela C-mara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Edu-cao, que orientam as escolas brasileiras dos sistemasde ensino na organizao, articulao, desenvolvimento

    e avaliao de suas propostas pedaggicas.3) Educao Bsica: nvel de ensino que compreende a edu-

    cao infantil, o ensino fundamental e o ensino mdio.

    4) Entulho autoritrio: refere-se s leis que foram criadasdurante a ditadura militar.

    5) Globalizao: conceito que designa a etapa do capitalis-mo marcada pela intensificao da interdependncia e

    das relaes mundiais por meio da conjugao de fato-res econmicos, sociais, polticos e culturais.

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    6) Lei de Diretrizes e Bases da Educao: legislao queregulamenta o sistema educacional brasileiro (pblico eprivado).

    7) MEC-USAID: srie de acordos entre o Ministrio da Edu-cao (MEC) e a United States Agency for International

    Development (USAID).8) Modalidades de ensino: referem-se educao de jo-

    vens e adultos, educao profissional, educao a dis-tncia, educao especial e educao indgena.

    9) Municipalizao do ensino: refere-se ao processo dedescentralizao das responsabilidades com o ensino,transferindo aos municpios a responsabilidade de or-ganizar, manter e desenvolver seus sistemas de ensino,oferecendo obrigatoriamente a educao infantil e emalguns casos o ensino fundamental.

    10) Neoliberalismo: conjunto de ideias polticas e econmi-cas que defendem o Estado mnimo, a desregulamenta-o da economia, a privatizao das empresas estataisetc.

    11) Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs): referenciais

    elaborados pelas secretarias de educao fundamentale mdia do MEC que visamapoiar a reviso e/ou a ela-borao das propostas curriculares dos estados ou dasescolas integrantes dos sistemas de ensino.

    12) Polticas educacionais: conjunto de aes adotadas pe-los governos para garantir o direito educao ou paraestruturar, organizar e manter os sistemas de ensino,formar profissionais etc.

    13) Sistema de ensino: refere-se organizao e articula-o das instituies, rgos e atividades de ensino dosmunicpios, dos estados ou da Unio.

    14) Sistema escolar: compreende a rede de escolas e suasestruturas de sustentao.

    Esquema dos Conceitos-chave

    Para que voc tenha uma viso geral dos conceitos maisimportantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um

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    Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhvel que vocmesmo faa o seu esquema de conceitos-chave ou at mesmo oseu mapa mental. Esse exerccio uma forma de voc construir oseu conhecimento, ressignificando as informaes a partir de suasprprias percepes.

    importante ressaltar que o propsito desse Esquema dos

    Conceitos-chave representar, de maneira grfica, as relaes entreos conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar voc na or-denao e na sequenciao hierarquizada dos contedos de ensino.

    Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se

    que, por meio da organizao das ideias e dos princpios em esque-mas e mapas mentais, o indivduo pode construir o seu conhecimen-to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedaggicossignificativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

    Aplicado a diversas reas do ensino e da aprendizagem es-colar (tais como planejamentos de currculo, sistemas e pesquisasem Educao), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilao de novosconceitos e de proposies na estrutura cognitiva do aluno. Assim,novas ideias e informaes so aprendidas, uma vez que existempontos de ancoragem.

    Tem-se de destacar que "aprendizagem" no significa, ape-

    nas, realizar acrscimos na estrutura cognitiva do aluno; preci-so, sobretudo, estabelecer modificaes para que ela se configurecomo uma aprendizagem significativa. Para isso, importante con-siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiaisde aprendizagem. Alm disso, as novas ideias e os novos concei-tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vezque, ao fixar esses conceitos nas suas j existentes estruturas cog-

    nitivas, outros sero tambm relembrados.

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    Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que voco principal agente da construo do prprio conhecimento, pormeio de sua predisposio afetiva e de suas motivaes internase externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-cimento sistematizado em contedo curricular, ou seja, estabele-cendo uma relao entre aquilo que voc acabou de conhecer com

    o que j fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado dosite disponvel em: . Acesso em: 11 mar. 2010).

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    LegislaoPlanos

    Reformas

    ESTADO SOCIEDADE

    Interesseseconmicos e

    polticos

    Organizao eestrutura do ensino

    ValoresConcepo de

    educao

    Forma de governo

    Participaopoltica

    EDUCAO

    Funo social daescola

    Direito educao

    Pressesexternas

    Educaodemocrtica e dequalidade

    Formao geral ehumansticaQualificaoprofissional

    Exerccio pleno decidadania

    Desenvolvimentoeconmico elegitimao do

    poder

    POLTICASEDUCACIONAIS

    Distribuio derendaMelhoria nas

    condies de vida

    Transformaestcnico-cientficas,

    econmicas, polticas,sociais e culturais

    Concepes e prticas

    Ideologia/Partido

    Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referncia de Contedode Polticasda Educao Bsica.

    Como pode observar, esse Esquema oferece a voc, comodissemos anteriormente, uma viso geral dos conceitos mais im-

    portantes deste estudo. Ao segui-lo, ser possvel transitar entreos principais conceitos e descobrir o caminho para construir o seu

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    27 Caderno de Referncia de Contedo

    processo de ensino-aprendizagem. O Esquema dos Conceitos-cha-ve mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somarqueles disponveis no ambiente virtual, por meio de suas ferra-mentas interativas, bem como queles relacionados s atividadesdidtico-pedaggicas realizadas presencialmente no polo. Lem-bre-se de que voc, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia naconstruo de seu prprio conhecimento.

    Questes Autoavaliativas

    No final de cada unidade, voc encontrar algumas questesautoavaliativas sobre os contedos ali tratados, as quais podem ser

    de mltipla escolha, abertas objetivasou abertas dissertativas.Responder, discutir e comentar essas questes, bem como

    relacion-las com a prtica pode ser uma forma de voc avaliar oseu conhecimento. Assim, mediante a resoluo de questes per-tinentes ao assunto tratado, voc estar se preparando para a ava-liao final, que ser dissertativa. Alm disso, essa uma maneira

    privilegiada de voc testar seus conhecimentos e adquirir uma for-

    mao slida para a sua prtica profissional.

    As questes demltipla escolhaso as que tm como respos-ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se porquestes abertas objetivas as que se referem aos contedosmatemticos ou queles que exigem uma resposta determinada,inalterada. J as questes abertas dissertativasobtm por res-posta uma interpretao pessoal sobre o tema tratado; por isso,normalmente, no h nada relacionado a elas no item Gabarito.

    Voc pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seuscolegas de turma.

    Bibliografia Bsica

    fundamental que voc use a Bibliografia Bsica em seusestudos, mas no se prenda s a ela. Consulte, tambm, as biblio-

    grafias complementares.

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    Figuras (ilustraes,quadros...)

    Neste material instrucional, as ilustraes fazem parte inte-grante dos contedos, ou seja, elas no so meramente ilustra-tivas, pois esquematizam e resumem contedos explicitados no

    texto. No deixe de observar a relao dessas figuras com os con-tedos, pois relacionar aquilo que est no campo visual com o con-

    ceitual faz parte de uma boa formao intelectual.

    Dicas (motivacionais)

    Este estudo convida voc a olhar, de forma mais apurada,

    a Educao como processo de emancipao do ser humano.

    importante que voc se atente s explicaes tericas, prticas ecientficas que esto presentes nos meios de comunicao, bem

    como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-

    partilhar com outras pessoas aquilo que voc observa, permite-se

    descobrir algo que ainda no se conhece, aprendendo a ver e a

    notar o que no havia sido percebido antes. Observar , portanto,

    uma capacidade que nos impele maturidade.

    Voc, como aluno dos Cursos de Graduaona modalidade

    EaD, necessita de uma formao conceitual slida e consistente.

    Para isso, voc contar com a ajuda do tutor a distncia, do tutor

    presencial e, sobretudo, da interao com seus colegas. Sugeri-

    mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades

    nas datas estipuladas.

    importante, ainda, que voc anote as suas reflexes em

    seu caderno ou no Bloco de Anotaes, pois, no futuro, elas pode-

    ro ser utilizadas na elaborao de sua monografia ou de produ-

    es cientficas.

    Leia os livros da bibliografia indicada, para que voc amplie

    seus horizontes tericos. Coteje-os com o material didtico, discuta

    a unidade com seus colegas e com o tutor e assista s videoaulas.

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    29 Caderno de Referncia de Contedo

    No final de cada unidade, voc encontrar algumas questesautoavaliativas, que so importantes para a sua anlise sobre oscontedos desenvolvidos e para saber se estes foram significativospara sua formao. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,pois esses procedimentos sero importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

    Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso namodalidade a distncia participar, ou seja, interagir, procurandosempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

    Caso precise de auxlio sobre algum assunto relacionado aeste Caderno de Referncia de Contedo, entre em contato com

    seu tutor. Ele estar pronto para ajudar voc.

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    EAD

    Polticas de EducaoBsica: Aspectos

    Histricos, SociaisE Polticos

    1. OBJETIVOS

    Identificar e analisar as polticas de educao adotadaspelo Estado brasileiro na atualidade, considerando o con-texto das transformaes tcnico-cientficas, econmicas,polticas, sociais e culturais do mundo contemporneo.

    Compreender a trajetria histrica das reformas educa-cionais e dos planos de educao no Brasil e analisar asrelaes entre Estado, Sociedade e Educao.

    Discutir o impacto da globalizao e do neoliberalismo nodirecionamento das polticas educacionais no Brasil.

    2. CONTEDOS

    Panorama histrico da educao bsica no Brasil.

    Planos nacionais de educao e reformas educacionais. Neoliberalismo, globalizao e educao no Brasil.

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    3. ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

    Antes de iniciar o estudo desta unidade, importante quevoc leia as orientaes a seguir:

    1) Tenha sempre mo o significado dos conceitos expli-citados no Glossrio de conceitos e suas relaes como Esquema dos Conceitos-chave para o estudo de todasas unidades deste Caderno de Referncia de Contedo.Isso poder facilitar sua aprendizagem e seu desempe-nho.

    2) Leia os livros indicados nas referncias bibliogrficaspara que voc amplie seus conhecimentos sobre as pol-

    ticas educacionais do Brasil.3) Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser inte-

    ressante conhecer um pouco da biografia de alguns es-tudiosos, cujo pensamento utilizado como refernciapara a aprendizagem dos contedos desta unidade:

    Dermeval SavianiProfessor doutor em Filosoa da Educao pela PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo. Professor emrito daUNICAMP e coordenador geral do grupo de estudos e pes-quisas "Histria, Sociedade e Educao no Brasil" (HISTE-DBR) (imagem disponvel em: . Acesso em: 21 abr. 2012).

    Florestan Fernandes (1920-1995)Foi um dos mais importantes socilogos brasileiros emilitante em favor da escola pblica e gratuita (imagemdisponvel em: . Aces-so em: 21 abr. 2012).

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    33 U1 - Polticas de Educao Bsica: Aspectos Histricos, Sociais e Polticos

    Gustavo CapanemaGustavo Capanema foi Ministro da Educao de 1937 a 1945,foi responsvel por uma srie de projetos importantes de reorga-nizao do ensino no pas, assim como pela organizao doMinistrio da Educao em moldes semelhantes ao que ainda hoje. O apoio dado por Capanema a grupos intelectuais e, espe-

    cialmente, a arquitetos e artistas plsticos de orientao moder-na contribuiu para cercar sua gesto de uma imagem de moder-nizao na esfera educacional que ainda no havia sido exami-nada mais detalhadamente (imagem disponvel em: . Acesso em: 21 abr. 2012).

    Jos Carlos LibneoProfessor doutor em Filosoa e Histria da Educao pela

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1990),ps-doutorado pela Universidade de Valladolid, Espanha(2005), professor titular aposentado da Universidade Fe-deral de Gois. Atualmente, professor titular da Univer-sidade Catlica de Gois, atuando no Programa de Ps--Graduao em Educao (imagem disponvel em: . Acesso em: 21 abr. 2012).

    Moacir GadottiProfessor doutor em educao pela Universite de Gene-ve. Atualmente, professor titular da Universidade de SoPaulo e diretor geral do Instituto Paulo Freire (imagem dis-ponvel em: . Acesso em:21 abr. 2012).

    Paulo Freire (1921-1997)Foi um educador pernambucano e o criador do mtodo dealfabetizao que revolucionou a educao de adultos apartir dos anos de 1950. Sua obra constituiu-se em refe-rncia para a construo da chamada "Pedagogia Liber-

    tadora" (imagem disponvel em: . Acesso em:21 abr. 2012).

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    Polticas da Educao Bsica34

    Paulo Ghiraldelli JuniorFilsofo e escritor. Doutor em Filosoa pela USP e emFilosoa Da Educao pela PUC-SP. Obteve sua livre--docncia pela UNESP e tornou-se professor titular,com defesa de tese em losoa e educao por estauniversidade. Fez ps-doutorado na UERJ, na Medicina

    Social, com tese sobre "Corpo - Filosoa e Educao".Atualmente, diretor do Centro de Estudos em FilosoaAmericana (CEFA) e professor da Universidade FederalRural do Rio de Janeiro (imagem disponvel em: . Acesso em: 21 abr. 2012).

    4. INTRODUO UNIDADE

    Nesta unidade, estudaremos as polticas da educao bsica ado-

    tadas no Brasil, considerando seus aspectos histricos, sociais e polti-cos. Como sabemos, quando falamos em polticas de educao (assimcomo de quaisquer outras polticas pblicas), estamos nos referindo,especificamente, relao do Estado com a Sociedade. Quem estabe-lece as polticas pblicas, entre elas, as de educao, o Estado.

    Dessa forma, podemos dizer que, no caso do Brasil, o Estado

    se concretizou formalmente com a Constituio de 1824. Portanto, operodo colonial (1500-1822) no estar nessa abordagem histrica.

    importante que voc saiba que o perodo colonial (1500-1822) se estende desde o descobrimento do Brasil at a forma-lizao de sua Independncia. Aps este marco, deu-se incio aoperodo monrquico, o qual veremos no tpico seguinte.

    Na atualidade, o direito educao deve ser assegurado

    pelo Estado por intermdio de seu sistema de ensino, institudo apartir de normas, leis e diretrizes educacionais. Esses dispositivoslegais e administrativos do sistema de ensino esto sujeitos a inte-resses polticos e econmicos, pois resultam do embate das forassociais que se movimentam na sociedade.

    Ao longo da histria da estrutura e da organizao do siste-

    ma de ensino no Brasil, as transformaes do mundo do trabalho,a forma de governo adotada no pas, os interesses econmicos e

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    polticos dos grupos no poder e as reivindicaes de diferentesmovimentos sociais marcaram o processo de ampliao do atendi-mento escolar e os princpios organizacionais, pedaggicos e curri-culares que orientaram a educao nacional.

    Assim, para compreender as atuais polticas educacionais noBrasil, precisamos analisar a sua trajetria histrica e as relaes

    entre Estado, Sociedade e Educao ao longo do tempo.

    5. PANORAMA HISTRICO DA EDUCAO BSICANO BRASIL

    Considerando o ponto de vista formal da histria, o Brasiltornou-se verdadeiramente uma nao quando o ento ImperadorPedro I, em 1824, outorgou a Carta Magna, sendo esta a primeiraConstituio da histria do Brasil e a nica do regime monrquico.Depois dela, teramos, ainda, mais cinco cartas constitucionais, to-das proclamadas durante a vigncia do regime republicano.

    Dessa forma, podemos perceber a importncia de uma

    Constituio, pois ela estabelece os direitos e os deveres para to-dos os indivduos que constituem uma dada comunidade, alm deestabelecer paradigmas que nortearo a interveno do Estado nocampo das polticas sociais ou das polticas pblicas. por meioda Constituio, portanto, que os indivduos tomam conhecimen-to sobre seus direitos nas reas de sade, educao, previdncia,lazer, cultura, esportes, entre outros. Por isso, comumente cha-

    mada de "Lei Maior", pois todo o corpo legislativo restante se nor-tear pelo respeito e cumprimento de seus dispositivos.

    Outros dois aspectos importantes que devemos considerarquando tratamos do "corpo jurdico" de uma nao so: em pri-meiro, contextualizar tal cdigo de leis, ou seja, estabelecer rela-es com o momento poltico, econmico, cultural e social pre-

    sente naquele momento de sua elaborao e sano; em segundolugar, no podemos nos esquecer de que no h neutralidade em

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    matria de legislao, ou seja, a lei resultado dos embates trava-dos entre interesses conflitantes no corpo social, representando,portanto, interesses de classes.

    Analisando esses aspectos, possvel elaborar um esboo

    histrico da educao bsica no Brasil, tanto no perodo monrqui-co quanto no republicano, tendo como pano de fundo a legislao

    especfica para a rea educacional, expressa, particularmente, pe-las Constituies Federais vigentes ao longo desses perodos.

    Como mencionado anteriormente, a partir de 1824, o Brasil,em termos polticos e jurdicos, efetivou sua independncia apstrs sculos de colonialismo mercantilista empreendido pela me-

    trpole portuguesa. A Carta Constitucional de 1824 representou aconsagrao das lutas separatistas iniciadas no sculo 18 por meiode movimentos como a Inconfidncia Mineira de 1789 e a Conju-rao Baiana de 1798, passando pela Revoluo Pernambucana de

    1817 e o Grito do Ipiranga de 1822. O contexto poltico da Cartade 1824 foi marcado, portanto, pela necessidade de consolidaoda independncia poltica e pelas disputas entre faces da eli-

    te, culminando com o fechamento da Assembleia Constituinte porparte do Imperador Pedro I, o qual, em seguida, nomeou uma co-misso de juristas responsvel por elaborar o texto constitucional,corroborado pelo Imperador em 25 de maro de 1824. Assim, aConstituio de 1824 teve carter de outorga, pois no foi fruto dasoberania popular por meio de seus representantes.

    A Constituio de 1824 previa poderes especiais ao Impera-dor por meio de um quarto poder o Poder Moderador , o qualprotegia a propriedade privada, no tocava na instituio da escra-vido, institua um sistema eleitoral censitrio e proclamava a re-ligio catlica como religio oficial, alm de ser classificada comoliberal por seus autores:

    A Constituio no fala em escravos. Ora, estranho dizer que liberal e excluir um tero da populao. Contudo, a conscincia

    possvel no princpio do oitocentos (IGLSIAS, 1987, p. 21) .

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    No captulo da Constituio sobre Educao, h somenteuma declarao de "boas intenes" de garantia de instruo pri-mria gratuita para todos os cidados brasileiros sem, no entanto,dizer como promover, efetivamente, essa garantia. Digamos que,com a Constituio de 1824, se inicia, no Brasil, uma tradio mar-cada pela enorme distncia entre o texto legal e a realidade con-cretamente vivida, tornando, assim, a lei uma "letra morta" em

    nossos costumes cotidianos.

    O fato que, ao longo de todo o sculo 19, no houve, porparte do Poder Pblico, iniciativas no sentido de priorizar a edu-cao escolar, em especial a educao bsica, tornando-a um sis-

    tema organizado e sistematizado. Na verdade, continuaram-seiniciativas inauguradas por D. Joo VI quando da permanncia daFamlia Real no Brasil (1808-1821), que, por fora da necessidadede aparelhar a mquina burocrtica, se viu impelido a criar escolasde ensino superior em algumas localidades da ento colnia.

    Assim, a partir da Independncia em 1822 at a proclama-o da Repblica em 1889, as iniciativas do Estado monrquico,

    em termos de Educao, continuaram levando em consideraoa valorizao dos cursos superiores em detrimento da educaobsica. Tais iniciativas (sem se constituir em uma poltica educa-cional propriamente dita) vm ao encontro do modelo de socie-dade hierarquizada, escravista e aristocrtica, com altos ndices deanalfabetismo e sustentada por uma economia agrrio-comercial-

    -exportadora muito bem apontada por Maria Luisa Santos Ribeiro

    (2003).

    Em 1827, aprovada pela Assembleia Legislativa instaladano Rio de Janeiro, a capital do Imprio, uma lei especificamentepara a educao bsica, determinando a criao de escolas deprimeiras letras nas localidades de maior expresso populacional,denominao aplicada naquela poca para a escola de nvel ele-mentar. Essa lei determinava, ainda, que, em termos de contedos

    curriculares, fossem ensinados, obrigatoriamente, a histria do

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    Brasil, a doutrina crist e a leitura. A essa lei no houve resultadosprticos e tal concluso foi, inclusive, registrada por relatrios dasprprias autoridades do Imprio.

    Primeira capital do Brasil

    O Brasil teve como primeira capital a cidade de Salvador e, posteriormente, o Riode Janeiro at o ano de 1960, quando foi inaugurada a cidade de Braslia, a qualassumiu como capital.

    No bojo dos acontecimentos que culminaram com a abdica-o de Pedro I em 1831, a elite agrria passava, ento, a assumir ogoverno do Imprio diretamente, visto que o herdeiro no tinha ida-de compatvel com os dispositivos constitucionais vigentes. Trata-se,portanto, de uma fase intermediria na histria poltica do Imprio,conhecida como Regncia (1831-1840), marcada por intensas lutaspopulares e conflitos de interesses dentro da frao das elites que,por pouco, culminaram com a fragmentao do territrio brasileiro.

    Com a finalidade de acomodar a Constituio de 1824 s cir-cunstncias polticas reais, foi aprovada pelo governo da Regncia

    uma emenda chamada de Ato Adicional em 1834. Entre outras me-didas tomadas por essa adio constitucional, decidiu-se pela des-centralizao de competncias em relao educao escolar, ouseja, caberia aos governos provinciais a atribuio do ensino secun-drio e ensino elementar e ao Governo Central a atribuio de "pro-mover e regulamentar o ensino superior" (ARANHA, 1996, p. 152).

    Tal medida terminou, definitivamente, com a incipiente or-

    ganizao do sistema escolar brasileiro. Atribuindo s provnciasa funo da promoo dos ensinos secundrio e elementar, a Re-gncia deixou a critrio dos grupos polticos regionais os desgniosde investir ou no em educao bsica. Alm disso, as carnciasestruturais das provncias no permitiam grandes iniciativas nocampo educacional.

    Os efeitos dessa medida descentralizadora podem ser observa-

    dos durante a segunda metade do sculo 19 e incio do sculo 20.

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    Apenas iniciativas esparsas e isoladas puderam ser percebidas ao lon-go desse perodo, no integrando um sistema educacional orgnico econsistente. A ausncia do Estado no campo educacional impediu ini-ciativas particulares nessa rea, que visavam ocupar um espao vazioe atender aos interesses localizados de classe. Da o carter elitista eexcludente da educao brasileira desde os seus primrdios.

    Um exemplo do que estamos afirmando observado quando

    visualizamos o mapa de instituies escolares fundadas no Brasil du-

    rante o sculo 19. Podemos constatar que o campo do ensino supe-

    rior foi intencionalmente privilegiado pelo Poder Pblico, por meio

    da promoo e da criao de escolas superiores de Medicina, de

    Engenharias e, principalmente, de Direito, reforando, assim, nossatradio bacharelesca. Os cursos de Direito de So Paulo e de Recife

    so alados condio de Faculdade, ambas de 1854, tornando-se,

    especialmente a Faculdade de Direito do Largo de So Francisco em

    So Paulo, centros privilegiados de formao da elite brasileira.

    Nos demais nveis de educao, as principais referncias soda iniciativa particular, com exceo do Colgio Pedro II, funda-do no Rio de Janeiro, em 1837, que se tornou instituio modelopara as demais escolas de nvel secundrio, alm de agregar como tempo boa parte da elite intelectual brasileira daquele tempo e,obviamente, frequentado por alunos oriundos das classes mais ri-cas do pas. Alm disso, tivemos a iniciativa de religiosos catlicos,como a dos padres Lazaristas em Minas Gerais que fundaram o

    Colgio do Caraa, a experincia de religiosos protestantes em So

    Paulo com a fundao do Colgio Mackenzie (1870) e as primeirasincurses dos positivistas na rea da educao com a criao, emCampinas, da Sociedade Culto Cincia.

    Como no havia a obrigatoriedade da concluso de uma eta-pa para prosseguir os estudos em outro nvel, a funo da escolasecundria era meramente de preparao para o ensino superior,

    privilgio de poucos. O mesmo aplica-se escola elementar, cha-mada "escola de primeiras letras", cuja oferta era to pequena

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    quanto irregular, pois tambm no tinha a exigncia de concluso.Os mais ricos contratavam professores-preceptores que iniciavam,em casa, seus filhos aos conhecimentos bsicos de leitura, escrita,operaes simples de matemtica, entre outros.

    No que diz respeito formao de professores, persistia amesma negligncia. De um modo geral, tinham uma formao

    precria e dedicavam-se a outras atividades alm do magistrio,em virtude da baixa remunerao que recebiam pelo trabalhodocente. Tm-se registros de alguns esforos com a formao deprofessores por meio da criao de escolas normais, inicialmentefranqueadas somente para homens, no Rio de Janeiro (1835), na

    Bahia (1836), no Cear (1845) e em So Paulo (1846).A partir da dcada de 1870, o regime monrquico entra em

    sua fase de decadncia, causada, particularmente, pela re-estru-turao econmica do pas, sobretudo pela ascenso de uma nova

    elite a elite paulista do caf e pela emergncia do Exrcitocomo categoria poltica ativa. A modernizao urbana, a transiodo trabalho escravo para o trabalho assalariado e as pequenas ini-

    ciativas industrializantes contriburam para a queda de Pedro II,cujo reinado no soube se adaptar s transformaes do tempo.

    Duas tentativas reformistas no campo da educao aindaforam propostas nos derradeiros anos da Monarquia. A primeira,de 1879, conhecida como Reforma Lencio de Carvalho, propunha

    um conjunto de normas para o ensino em todos os nveis e susten-tava princpios liberais aplicados educao, tais como liberdadede ensino e credo religioso, alm de outras propostas progressis-tas, mas pouco foi concretizado, vindo ao encontro de nossa tra-dio: apesar das boas intenes, o resultado prtico da lei nopassa de "letra morta".

    Por ltimo, houve uma nova tentativa de reforma educacio-nal entre os estertores do regime monrquico, agora proposta por

    Rodolfo Dantas em 1882. Tal reforma, que nem chegou a ser apre-ciada pela Assembleia Legislativa, teve o mrito de ser esmiuada

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    por Rui Barbosa, que, ao externar publicamente em relatrio so-bre a proposta de reforma da educao, afirmou:

    Deploro profundamente a perigosa anarquia reinante na educaoque todos recebemos; e nenhum desejo em mim maior do que o dever modificarem-se radicalmente os princpios pedaggicos e os pro-

    gramas em vigor. O que sustento que o progresso e o melhoramentono se podem efetuar pela iniciativa da sociedade inteira; que ho deser obra de alguns indivduos, assaz esclarecidos para avaliar a necessi-dade, assaz potentes para vencer a resistncia passiva de uma imensamaioria, que ignora ainda em que direo se h de encaminhar. Orga-nizar-se por si mesmo um ensino liberal impossvel: cumpre, pois,organiz-lo [...] (BARBOSA apud STEPHANOU; BASTOS, 2005, p. 98).

    Podemos observar que a Educao no Brasil do sculo 19, ou

    seja, durante o regime monrquico, teve carter eminentementeelitista, constituindo-se em acesso para poucos, em uma socieda-

    de escravista e com a maioria de analfabetos. As iniciativas na rea

    da educao ficaram a cargo de particulares, religiosos ou leigos,

    priorizando o Poder Pblico a promoo do ensino superior. Pou-

    cas escolas, negligncia na formao de professores, ausncia de

    um sistema escolar: eis o retrato da educao no oitocentos bra-

    sileiro.Com a Proclamao da Repblica em 15 de novembro de

    1889, assistimos a uma reorganizao da elite poltica com vistas

    a aparelhar o Estado e coloc-lo na defesa de seus interesses pr-

    prios. O caf continua norteando os rumos da economia e, com

    ele, uma elite supostamente "progressista" a elite do oeste pau-

    lista , embalada por um liberalismo muito mais oportunista do

    que propriamente fruto de convices mais profundas, surgindo,assim, a poltica at, pelo menos, 1930.

    No entanto, nasce a Constituio de 1891 sob o signo do li-

    beralismo, que enfatiza o carter republicano, federalista e laico

    do Estado brasileiro e cria um sistema representativo, baseado no

    voto direto e aberto. O direito de votar, contudo, no estendido

    aos analfabetos a grande maioria dos brasileiros na poca , smulheres, aos religiosos e aos militares de baixa patente.

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    No campo da educao, a Constituio de 1891 permanececom o descentralismo introduzido pelo Ato Adicional de 1834, es-tabelecendo que o ensino superior e o ensino secundrio ficariama cargo da Unio e caberiam aos Estados os ensinos elementar eprofissional. Na realidade, no houve grandes mudanas na edu-cao escolar brasileira com o advento da Repblica. Na prtica,persiste o modelo decorrido dos tempos monrquicos.

    Alm disso, foram anunciadas muitas tentativas de carterreformista que no malograssem nada de concreto e prtico. Veja,a seguir, as reformas anunciadas:

    a) Reforma Benjamim Constant de 1890: notadamente volta-

    da para as escolas sediadas no Rio de Janeiro e fortementemarcada pela influncia positivista, alm de permitir a cria-o do Ministrio da Instruo, Correios e Telgrafos.

    b) Reforma Rivadvia Correia de 1911: permitia total au-tonomia aos estabelecimentos de ensino e, inclusive, afrequncia s aulas de carter facultativo.

    c) Reforma Carlos Maximiniano de 1915: voltada para oensino secundrio, criou a obrigatoriedade do diploma

    nessa etapa de ensino para que o aluno continuasseseus estudos no nvel superior.

    d) Reforma Luiz Alves/Rocha Vaz de 1925: novamente,teve no ensino secundrio seu foco preferencial e criounormas para a admisso nos cursos de nvel superior.

    A partir da dcada de 1920, em decorrncia da PrimeiraGuerra Mundial (1914-1918), deparamo-nos com um novo cenrio

    mundial e percebemos uma relativa mudana nas bases de sus-tentao econmica do pas, fazendo crescer uma tmida indus-trializao em So Paulo, acelerada com a poltica de substituiode importaes que atraa contingentes de imigrantes europeuspara a cidade. No campo das ideias, ocorre uma movimentaoinquietante entre intelectuais comprometidos com a educao e aimplementao de ideias renovadoras.

    Surge, ento, a Associao Brasileira de Educao formadapor intelectuais militantes, envolvidos profissionalmente com a

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    educao e vidos por mudanas radicais nessa rea. Esse movi-mento ficou conhecido como Escola Nova, cujos membros pro-pagavam suas ideias por meio de conferncias em diversas lo-calidades do pas. Os fundamentos do Escola Nova estavam nopensamento liberal que concebia a educao como uma forma dedemocratizao da sociedade. Por isso, defendiam, ardorosamen-te, a escola pblica, gratuita, laica e obrigatria como maneira de

    oferecer oportunidades iguais para todos.

    O principal idelogo do Escola Nova foi Ansio Teixeira (1900-1970), intelectual baiano cuja formao sofreu forte influncia dopensador norte-americano John Dewey (1859-1952). Sua atuao

    como pensador e militante das questes educacionais marcoudiversas iniciativas reformistas tanto no Brasil quanto em toda aAmrica Latina. Entre as crenas sobre a capacidade da Educaoem oferecer oportunidades a todos, dizia:

    Os ideais e aspiraes, contidos no sistema social democrtico, en-volvem a igualdade rigorosa de oportunidades entre todos os indi-vduos, o virtual desaparecimento das desigualdades econmicas euma sociedade em que a felicidade dos homens seja amparada e fa-cilitada pelas formas mais lcidas e mais ordenadas. Essas aspiraese esses ideais sero, porm, uma farsa, se no os fizermos dominarprofundamente o sistema pblico de educao. [...] A escola tem quedar ouvidos a todos e a todos servir. Ser testede sua flexibilidade, dainteligncia de sua organizao e da inteligncia dos seus servidores.(TEIXEIRA apudGADOTTI, 2002, p. 244-245, grifo nosso).

    Ao lado de outros importantes intelectuais do tempo, tais como

    Fernando de Azevedo, Paschoal Leme e Loureno Filho, a atuao de

    Ansio Teixeira inspira, na dcada de 1920, importantes reformas edu-cacionais nos Estados da federao. Dentre elas, podemos citar:

    a) Reforma Sampaio Dria, em So Paulo (1920).

    b) Reforma Loureno Filho, no Cear (1923).

    c) Reforma Ansio Teixeira, na Bahia (1925).

    d) Reforma Francisco Campos/Mrio Casassanta, em Mi-nas Gerais (1927).

    e) Reforma Fernando de Azevedo, no Distrito Federal(1928).

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    Contudo, os efeitos concretos do movimento Escola Nova fo-ram observados a partir de 1930, aps um movimento civil-militarque derrubou a oligarquia do caf, acontecimento que ensejou umareorganizao da frao elitista de perfil mais urbano e industrial.Capitaneada por Getlio Vargas, inicia-se, a partir de 1930, umanova fase na histria poltica do pas, que se prolonga at 1945. Essanova etapa poltica corresponde re-estruturao do sistema capi-

    talista mundial com reflexos internos, tornando a necessidade deformao e qualificao de mo de obra uma necessidade iminen-te do setor produtivo. Por essa razo, pela primeira vez, o Estadobrasileiro assume o papel no s de agente promotor da educao,como, tambm, de estruturador de um sistema escolar em mbitonacional. evidente que ainda no podemos falar em "universaliza-o da escola bsica", pois o rano elitista historicamente estabele-cido impediu a implantao de projetos reformistas mais radicais.Contudo, no restam dvidas de que a Era Vargas (1930-1945) re-presentou um corte na histria da educao escolar brasileira.

    O primeiro sintoma de que o Estado passaria a ocupar es-

    pao no setor educacional foi percebido em 1930, quando o en-to Governo Provisrio de Getlio Vargas promoveu a criao doMinistrio da Educao, entregando-o aos cuidados de FranciscoCampos, que, na dcada anterior, iniciou a reforma educacional noestado de Minas Gerais.

    Em 1932, os idealizadores do Escola Nova divulgam o "Ma-

    nifesto dos Pioneiros de Educao Nova", tornando-se um marco

    no s no sentido de proposio de uma reforma educacional noBrasil, mas tambm de apresentar um diagnstico da situao daeducao vivida pelo pas. As proposies dos escolanovistas des-pertaram tanto a simpatia, inclusive de membros do governo Var-gas, quanto reaes contrrias, sobretudo de setores conservado-res ligados Igreja Catlica. Tal conflito envolvendo escolanovistase conservadores ficou evidente nas discusses preliminares que

    antecederam a promulgao da Constituio de 1934 a segundada Repblica e a terceira da histria do Brasil.

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    A Constituio de 1934 foi promulgada em 15 de julho, in-corporando avanos possveis para a poca, tais como o voto se-creto e a extenso do direito de voto s mulheres. Alm disso, elamanteve o princpio federativo, republicano e, no campo da edu-cao, estabeleceu competncias maiores Unio e aos demaisentes da federao:

    A [Constituio] de 1934, [...], incumbiu a Unio de fixar o PlanoNacional de Educao, compreensivo do ensino de todos os graus eramos, comuns e especializados, e coordenar e fiscalizar a sua execu-o em todo o territrio do pas. (GHIRALDELLI JNIOR, 1991, p. 45).

    Observe que tal constituio previa, ainda, medidas maisconsistentes em relao organizao escolar. Veja, a seguir, quais

    so elas:a) instituiu a obrigatoriedade e gratuidade do ensino pri-

    mrio;

    b) fixou percentuais mnimos do oramento da Unio e dosEstados que deveriam ser investidos em educao;

    c) atribuiu aos Estados a competncia de fiscalizar estabe-lecimentos de ensino pblico e privado;

    d) imps a obrigatoriedade de concurso pblico para a ad-misso de professores.

    Concomitantemente a essas determinaes previstas pelaConstituio de 1934, outras medidas legais foram tomadas emforma de decretos. Como exemplo, temos os decretos de 1931

    que reformaram o ensino secundrio, atribuindo-lhe os objetivosde instituir o Estatuto das Universidades Brasileiras, no bojo do

    qual foi criada a Universidade de So Paulo em 1934, e de pro-mover a "formao geral e a preparao para o ensino superior"(PILETTI, 1988, p. 209).

    A partir de 1937, a Era Vargas entra em sua segunda etapaaps um golpe de Estado que fechou o Congresso Nacional e esta-beleceu um regime ditatorial intitulado Estado Novo, de forte inspi-rao fascista e fruto do radicalismo tpico dos anos de 1930 e 1940

    por conta do confronto ideolgico mundial entre a direita nazi-fas-

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    cista e a esquerda comunista-stalinista. Tal conflito refletiu no Brasil,culminando com a instalao da ditadura varguista, que durou at1945. Uma nova constituio foi instituda, de carter autoritrio,centralizador e impositivo. No campo educacional, conforme anlisede Ghiraldelli Jnior (1991), a Constituio de 1937 diferencia-se daConstituio de 1934 no sentido de retirar do Estado a competnciade prover educao pblica, alm de no fazer referncia alguma

    sobre financiamento pblico para o sistema escolar.

    Na prtica, o que ocorreu entre 1937 e 1945, no que se re-fere educao escolar, foi a interveno estatal por meio de leisorgnicas ou decretos-lei que, em conjunto, ficaram conhecidas

    como Reforma Capanema aluso ao ministro da Educao doEstado Novo, Gustavo Capanema. A nfase dessa reforma recaiusobre a escola de formao tcnica e profissional. Tal deciso go-vernamental encontrava-se explcita no Artigo 129 da Carta de1937, que destinava essa modalidade de ensino queles que no

    tivessem oportunidade de realizar estudos em nvel superior.

    Na realidade, ao incentivar o ensino tcnico profissionalizan-

    te, o governo Vargas procurava atender s necessidades de ofertade mo de obra qualificada exigidas pela etapa de crescimento in-dustrial e urbano vivida no Brasil nos anos de 1940. Nesse sentido,observe, a seguir, as medidas da Reforma Capanema:

    a reorganizao do ensino secundrio, dividindo-o em gi-nsio (quatro anos) e colegial (trs anos), este subdividido

    em clssico e cientfico;

    a criao de um sistema oficial de ensino tcnico-profis-sional, regulamentando seus diversos ramos: industrial,comercial, normal e agrcola;

    o incentivo criao de um sistema de ensino profissio-nalizante, mantido pelas empresas e suas entidades re-presentativas, das quais originaram o SENAI e SENAC.

    Com o fim do Estado Novo em 1945, por meio de um golpede Estado desferido pelo Exrcito, ingressamos em uma nova eta-

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    pa poltica, que promoveu, novamente, a reorganizao do nossosistema escolar. A ttulo de concluso at esse ponto, temos que,em termos republicanos, a Era Vargas representou um momentode diviso de guas entre o que tnhamos at 1930 em termos depolticas de educao.

    Na Primeira Repblica, vimos que poucas aes foram reali-

    zadas em relao ao perodo monrquico que a antecedeu. O Bra-sil era um pas essencialmente rural e de base agrrio-exportador,controlado politicamente por uma elite que no tinha nenhuminteresse pela Educao na sua promoo e muito menos na suauniversalizao. A Educao era, ento, de carter elitista. A partir

    da Revoluo de 1930, uma nova elite assume o poder e obriga oEstado a assumir compromissos no campo educacional. Com isso,embora a educao escolar continuasse com seu perfil elitista edualista, podemos perceber um esboo de sistema escolar, aindaque incipiente.

    Aps a queda de Vargas em 1945, surgiu um novo cenriopoltico, tanto interno quanto externo, marcado pela lgica da

    Guerra Fria, que imps a bipolarizao entre o mundo capitalista,liderado pelos EUA, e o mundo socialista, aglutinado em torno daUnio Sovitica. Tal cenrio deixou marcas profundas em todo omundo e, no caso brasileiro, no foi diferente. Especificamente noBrasil, assistimos, entre 1946 e 1964, emergncia de governospopulistas e intensificao do processo industrial-urbano que

    colocou em cena a classe operria com suas reivindicaes por

    melhores condies de vida e de trabalho. Esse perodo transfor-mou-se em uma fase de grande efervescncia poltica, ideolgica ecultural que contaminou todos os setores da sociedade brasileira,inclusive, a Educao.

    No incio desse perodo, promulgada a nova constituio de1946, revestida de princpios liberais e democrticos, consagrandoo regime federalista e republicano. Essa constituio reconhecia,

    ainda, amplas liberdades em termos de organizao partidria,

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    de sindicatos, de pensamentos, de manifestaes e de imprensa,alm de garantir o direito de greve e o habeas corpus. No campoda Educao, os constituintes estabeleceram:

    a) o princpio de que Educao um direito de todos;

    b) a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primrio ofi-cial, incluindo programas de assistncia aos estudantescarentes;

    c) a liberdade de oferta de ensino escolar iniciativa privada;

    d) a manuteno do ensino religioso compulsoriamentenas instituies de ensino.

    De um modo geral, o captulo sobre educao da Consti-

    tuio de 1946 recuperou boa parte dos princpios previstos pelaConstituio de 1934. o que afirma Maria Luisa Santos Ribeiro:Quanto educao tal Constituio [de 1946], em muitos dos pon-tos, reafirmava os princpios de democratizao, sendo, entretan-to, mais restrita quanto aos propsitos relativos gratuidade emcomparao ao texto de 1934. No art. 168-II, l-se o seguinte: Oensino primrio oficial gratuito para todos: o ensino oficial ulteriorao primrio s-lo- para quantos provarem falta ou insuficincia derecursos. No mesmo art. (III e IV) colocada a responsabilidade

    das empresas quanto educao de seus empregados menores edos filhos dos empregados, se o nmero destes for superior a cem.O ensino religioso consta do horrio escolar com matrcula faculta-tiva e de acordo com a confisso do aluno (art. 168. V). O amparo cultura dever do Estado, a lei prover da criao de institutosde pesquisa, de preferncia junto aos estabelecimentos de ensinosuperor (art. 174 pargrafo co). O art. 5, cso XV, alea , ocap. I, do Ttulo I, d Unio competncia para legislar sobre as di-retrizes e bases da educao nacional (RIBEIRO, 2003, p. 132-133).

    A grande novidade, portanto, anunciada pela Constituiode 1946 no campo da Educao foi prever a elaborao de umalegislao prpria sobre o assunto, abrindo as possibilidades paraa conquista de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacio-

    nal. Um ano aps a promulgao da Constituio, foi instalada noCongresso Nacional uma comisso parlamentar para propor umanteprojeto da futura Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacio-

    nal (LDB).

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    Entre a instalao da primeira comisso de estudos e suasano presidencial, o anteprojeto da LDB levou 13 anos para seraprovado. O debate sobre a nova lei da Educao envolveu parti-drios da escola pblica, defensores da escola privada e interessesda Igreja Catlica. Duas questes fundamentais agitavam essesgrupos: o princpio da liberdade de ensino e da transferncia derecursos pblicos para instituies privadas de ensino. Esse lon-

    go debate culminou com um texto cheio de remendos, em umatentativa de conciliar pontos de vistas inconciliveis, provocandoinsatisfao de todos os lados que estavam em luta.

    Por fim, em 20 de dezembro de 1961, a Lei n 4.024, que

    institua a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, foi san-cionada pelo Poder Executivo. Sinteticamente, veja os parmetrosque a LDB de 1961 instituiu:

    Em termos e falaes, eclarava em seu Artgo 1 que

    a Educao se voltava para a valorizao da pessoa hu-mana no que diz respeito sua dignidade e desenvolvi-mento integral de sua personalidade, no se admitindo

    discriminaes tanto em razo de classe ou de raa, comoem funo de crenas religiosa, poltica ou filosfica.

    Em termos de organizao escolar, previa a sua estruturaoem quatro nveis, a saber: ensino pr-primrio (oferecidoem escolas maternais e nos chamados Jardins de Infncia),ensino primrio (de durao mnima de quatro anos), ensino

    mdio (dividido em ginsio e colegial) e ensino superior.

    Em termos de organizao curricular, criava uma compo-sio curiosa de componentes: formada por disciplinasobrigatrias e que deveria ser obedecida por todas as es-colas, pois tinha carter nacional; outra envolvendo disci-plinas obrigatrias em termos estaduais e que ficavam acargo dos Conselhos Estaduais de Educao; e, ainda, umterceiro grupo de disciplinas, que ficariam a critrio das

    instituies de ensino sob a fiscalizao dos Conselhos Es-taduais de Educao.

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    De acordo com Buffa e Nosella (1997), apesar dos avanospossibilitados, a LDB n 4024/61 foi muito julgada pelos educa-dores mais crticos, que insistiam em caracteriz-la como fruto deinteresses conservadores, alm de conden-la por permitir querecursos pblicos pudessem ser investidos em instituies priva-das de ensino. Sancionada no contexto dos governos populistas, aLDB de 1961 acabou por no contemplar de fato as necessidades

    de universalizao de ensino bsico, visando pr fim s altas taxasde analfabetismo, evaso e excluso escolar de grande parte dapopulao brasileira. A propsito da poltica educacional dos go-vernos populistas, diz Paulo Ghiraldelli Jnior:

    O esprito do desenvolvimentismo inverteu o papel do ensino p-

    blico colocando a escola sob os desgnios diretos do mercado detrabalho. Da a nfase na proliferao de uma escola capaz de for-mar mo-de-obra tcnica, de nvel mdio, deixando a universidadepara aqueles que tivessem vocao intelectual (GHIRALDELLI J-NIOR, 1991, p. 131).

    Dignas de nota, ainda sobre as polticas de educao durantea Repblica Populista (1946-1964), foram as campanhas em favorda escola pblica e dos movimentos em favor da alfabetizao de

    adultos. A Campanha em Defesa da Escola Pblica envolveu diver-sos setores progressistas em favor do ensino pblico e gratuito,principalmente ao longo dos anos de 1950 e 1960. Um dos intelec-tuais mais atuantes nessa campanha foi Florestan Fernandes, que,em artigo publicado naq