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POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECREAÇÃO/LAZER E DESENVOLVIMENTO LOCAL: CONSTRUÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR Centro de Documentación Virtual en Recreación, Tiempo Libre y Ócio Servicio de la Fundación Colombiana de Tiempo Libre y Recreación Fundación Latinoamericana de Tiempo Libre y Recreación - FUNLIBRE Costa Rica POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECREAÇÃO/LAZER E DESENVOLVIMENTO LOCAL: CONSTRUÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR LEILA MIRTES SANTOS DE MAGALHÃES PINTO. Diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Esporte, Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, Ministério do Esporte, Governo Federal do Brasil. X Congreso Nacional de Recreación Coldeportes / FUNLIBRE 10 al 12 de Julio de 2008. Bogotá, D.C., Colombia.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECREAÇÃO/LAZER E

DESENVOLVIMENTO LOCAL: CONSTRUÇÃO A PARTIR DA

EDUCAÇÃO POPULAR

Centro de Documentación Virtual en Recreación, Tiempo Libre y ÓcioServicio de la Fundación Colombiana de Tiempo Libre y Recreación

Fundación Latinoamericana de Tiempo Libre y Recreación - FUNLIBRE Costa Rica

POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECREAÇÃO/LAZER E DESENVOLVIMENTO LOCAL: CONSTRUÇÃO A PARTIR DA

EDUCAÇÃO POPULARLEILA MIRTES SANTOS DE MAGALHÃES PINTO.

Diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Esporte, Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, Ministério do

Esporte, Governo Federal do Brasil.X Congreso Nacional de Recreación Coldeportes / FUNLIBRE

10 al 12 de Julio de 2008. Bogotá, D.C., Colombia.

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Esse desafio tem se tornado cada vez maior desde a abertura democrática ocorrida no Brasil no início da década de 1980, que marcou um momento de transição

importante na gestão social brasileira. As idéias de descentralização, municipalização e participação popular na formulação e no controle das políticas públicas ganharam força, ao mesmo tempo em que se ampliaram os direitos sociais.

O ponto auge desse momento histórico foi a promulgação da Constituição Federal de 1988, que incluiu o lazer como um dos direitos sociais de toda a população. As mudanças ocorridas a partir daí têm gerado experiências de proteção/promoção dos direitos coletivos promulgados.

Nesse cenário, são construídos novos desenhos de ação coletiva por parte de movimentos sociais e governos. E as políticas públicas de lazer, desafiadas a avançar nessa direção, têm, sobretudo, buscado superar barreiras que dificultam, ou impedem, o acesso às oportunidades culturais de lazer disponíveis para os sujeitos de todas as idades, etnias, gêneros e camadas sociais.

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o reconhecimento do lazer como um dos fatores de desenvolvimento local sustentável implicou na

concepção de lazer como tempo/espaço/ oportunidade disponível à livre escolha de diversificadas práticas culturais lúdicas pelos sujeitos.

(PINTO, 2008). o lazer passou a integrar as agendas das políticas que

tratam das desigualdades sociais as quais, como analisa Kliksberg (2000), não se referem somente à carências materiais – como pobreza socioeconômica que conduz à fome, ao desemprego, ao desabrigo, à falta de acesso a projetos, bens e serviços, dentre eles os de lazer. Pedro Demo (1996) nos lembra que lidamos com pobreza, sobretudo, como falta de consciência política dos direitos e deveres sociais, desigualmente distribuídos entre nós. Por isso, para ele, a redução de desigualdades sociais supõe a participação dos cidadãos em ações políticas que sejam,

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Participação dos cidadãos em ações políticas que sejam:

primeiro preventivas, indo às raízes do problema, evitando que [desigualdades] se processem; segundo redistributivas de renda e poder, o que implica atingir concentrações de privilégios, acumulação de poder, centralizações administrativas. Em terceiro lugar equalizadoras de oportunidades, partindo-se do pressuposto de que as oportunidades foram apropriadas pelo grupo dominante. Uma face desse desafio é a universalização [dos direitos sociais]: todos devem ter acesso às oportunidades de modo incondicional, com a mesma qualidade. Em quarto lugar [promotora de] política social que deve ser, sempre que possível, emancipatória, unindo autonomia econômica [voltada à auto-sustentação] com autonomia política [alicerçada por práticas participativas conscientemente vividas]. (DEMO, 1996, p. 21-23)

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parto do reconhecimento de que as pessoas e os grupos sociais são diferentes entre si em vários aspectos (físicos, culturais, sociais, educacionais, econômicos e outros) e que também têm condições diferentes de acesso ao que está disponível em seu meio.

Ao mesmo tempo assumo que as políticas sociais devem ter caráter universal, independente das diferenças socioculturais e limites vividos. Se existem diferenças que impedem o acesso é preciso que sejam construídas políticas que o viabilizem, como, por exemplo, políticas que atendam demandas de segmentos historicamente excluídos como indígenas, populações ribeirinhas, do campo e de assentamentos, idosos, adultos, pessoas com deficiências, crianças e jovens que vivem em situação de risco e de vulnerabilidade social, dentre outros.

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Em que sentidos as políticas de lazer têm contribuído com o desenvolvimento local?

Trago para nossa reflexão experiências de políticas de lazer por mim analisadas em estudos recentes (PINTO, 2007) e que têm em comum o compromisso da garantia da democratização do acesso da população à oportunidades de lazer[1][2].

as políticas de lazer precisam ser articuladas com políticas de garantia de renda mínima, trabalho, provisão de serviços para a família, saúde, educação, planejamento urbano, transporte, cultura, esporte e outras ações intimamente integradas às desenvolvidas no campo do lazer.

é considerado como imprescindível a construção, a manutenção e o uso de espaços e equipamentos específicos e adaptados para as práticas de lazer, de modo a gerar oportunidades diversificadas de vivências de conteúdos culturais que atendam a interesses: físicos, esportivos, artísticos, sociais, intelectuais, tecnológicos, turísticos, de atividades na natureza, dentre outros requeridos pela população

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A ocupação espacial local alia-se ao controle, à preservação, à proteção e à valorização do meio ambiente. Precisamos cuidar dos rios, matas, campos, cachoeiras, praias, florestas, montanhas e outros espaços naturais usados no lazer.

Também é destacada a importância da animação cultural lúdica mobilizada pelos e com as pessoas, os grupos, as comunidades e os profissionais envolvidos nos Programas em ação.

O acesso responsável ao patrimônio cultural disponível é, pois, indispensável à democratização do lazer. Exige competência não só do setor público, como dos outros setores sociais envolvidos no campo do lazer. E, sobretudo, exige consciência para o acesso às oportunidades de lazer vividas nos gêneros de prática, assistência ou busca de conhecimentos, por meio de participação crítica e criativa, superando vivências conformistas no lazer.

o principal problema que tem dificultado a democratização do acesso ao lazer, e que está na base de muitos outros problemas, é a falta de conscientização, conhecimentos e informações a respeito da importância, das possibilidades e dos limites das práticas de lazer, comprometendo a participação consciente tanto de gestores como de pessoas participantes nessas ações. Porque, segundo eles:

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o principal problema que tem dificultado a democratização do acesso ao lazer

é ainda restrito, por parte do conjunto do governo e da população, o conhecimento da importância do lazer para a qualidade de vida dos cidadãos. O lazer merece maior investimento financeiro e educativo para se consolidar nas políticas sociais. (A1)

Em nosso município precisa ser melhorada a consciência da população e dos gestores de que a participação, embora dê mais trabalho e exija predisposição de todos, não pode ser substituída por benesses, que até podem sanar questões e problemas pontuais, mas não contribuem para a emancipação da população. Não fomos educados para a participação e isso dificulta muito. (A2)

Falta maior participação das comunidades no desenvolvimento de ações no lazer e de políticas favoráveis ao desenvolvimento sustentável da comunidade. Precisamos avançar nas questões administrativas com maior descentralização das ações, combinadas com a criação de Conselho Municipal de Esporte e Lazer e Conferências Públicas Deliberativas. A Secretaria precisa ampliar parcerias com setores públicos (estadual e federal) e o Terceiro Setor. (B1)

Precisamos melhorar a comunicação e interlocução da Secretaria com a comunidade. Pensando nisso, trabalhamos no planejamento das pré Conferências Regionais, a ocorrer neste 2005. Fazemos com o que temos, mas estamos muito longe do que queremos. As demandas são tantas!!! (B2)

Precisamos melhorar a comunicação/divulgação das ações desenvolvidas. Os veículos utilizados eram os mais alternativos. Os veículos de comunicação com maior abrangência, rádio, imprensa escrita e TV na maioria das vezes não tinham interesse pelo lazer. Daí a necessidade de criarmos rádios comunitárias e de mais tempo para consolidar a participação popular. (C1)

A sociedade hoje exige formação acadêmica dos profissionais de lazer para atuar em políticas participativas, maior disponibilidade de tempo de todos os envolvidos, processos menos burocráticos e decisões mais rápidas. (D1)

Necessitamos da construção de um modelo mental da nossa entidade, que ainda é muito individual. À medida que os modelos mentais são explicitados e compartilhados, expande a base dos significados compartilhados na organização e aumenta a sua capacidade para realizar ações integradas. Precisamos ainda maior alinhamento conceitual, ampliando a reflexão sobre a própria prática, seus sentidos, significados e intencionalidades. (E1)

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Também Sílvio Bava (2002) afirma que, para que se concretizem inovações políticas, é preciso que haja atuação constante e qualificada da sociedade que estimule a participação consciente. Pois o objetivo principal não é apenas atender necessidades materiais do público alvo, mas especialmente fortalecer a capacidade dos cidadãos de se auto-governarem nos diversos aspectos da vida coletiva. E destaca (BAVA, 2002, p. 87), nunca é demais lembrar que é pela associação livre de vontades que o poder se cria. Desenvolver a capacidade da população de exercer a cidadania, isto é, a capacidade de saber escolher, efetivar escolhas e se beneficiar delas, é a mola central desse processo.

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Nesse sentido, os gestores com os quais dialogamos apontam para a importância de três estratégias de educação popular para autonomia dos sujeitos no lazer, que podem ser desenvolvidas em diferentes espaços educativos (escolas, clubes, comunidades, projetos sociais, praças, ruas e outros), tendo como estratégia articuladora a categoria diálogo, ou seja:

1) sociabilidade lúdica a partir de demandas específicas e do universo de referências das populações atendidas;

2) participação cidadã; 3) formação e ação integrada de gestores,

agentes e lideranças comunitárias.

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Sociabilidade lúdica a partir de demandas específicas e do universo de referências das populações atendidas

Em qualquer circunstância educativa, se desejamos promover uma educação consciente pelo e para o lazer, é importante que as ações sejam ajustadas aos interesses, necessidades e referências culturais dos participantes. Daí a importância de tudo começar com diálogos que busquem conhecer os anseios individuais e coletivos, identificar valores, conceitos, significados, hábitos, memórias lúdicas, mudanças culturais, culturas familiares, condições de habitar, de organizar e animar espaços, mobilizando conhecimentos na realização de atividades de lazer. (PINTO e ZINGONI, 1997).

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A familiarização com as pessoas e os grupos populares com os quais são desenvolvidas ações educativas, gera

ambiente propício para a realização de diagnósticos, que serão enriquecidos na medida em que experiências cotidianas do lazer são identificadas e analisadas, ampliando diálogos com outros membros do grupo, entidade e/ou comunidade. Se a proposta educativa for construída em um município é

fundamental considerar os resultados de conferências, congressos, plenárias e reuniões realizadas entre governo e população para tomadas de decisões sobre as prioridades das políticas de lazer. (BONALUME, 2004).

O lazer como tempo/espaço/oportunidade privilegiada para vivências lúdicas é, pois, uma conquista do sujeito no contexto de suas relações socioculturais, vividas com sentidos e significados diversos, valorizando os atribuídos pelos sujeitos, como por exemplo, o de lazer como tempo/espaço/oportunidade de (re)criação, encontro e pertencimento (PINTO, 2004).

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Participação cidadã O processo educativo participativo implica formas de

construção de idéias, vínculos e trocas de conhecimentos, negociações das regras de convivência e dos conteúdos em ação. Na relação sujeito/mundo, a ação compartilhada gera conhecimentos sobre o outro, as relações estabelecidas e os sistemas simbólicos das práticas sociais e culturais do grupo.

Convivência que se enriquece quando envolve pessoas com diferentes experiências, modos de ser e preferências culturais. Nesse sentido, o lazer é um tempo e espaço importante para a interatividade e participação. E quando essa participação implica decisões compartilhadas com o público local, buscando formas de mediação entre o Estado e a sociedade civil, a prática democrática pode inferir em tomadas de decisão das políticas de lazer, como revelam relatos dos gestores ouvidos.

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Relato da Participação cidadã

Foram muitas reuniões e encontros de qualificação dos recursos humanos: muito diálogo, paciência e humildade. (A1)

As decisões foram tomadas nas reuniões de planejamento da equipe da Secretaria e com a comunidade, Conselho Municipal, Conferências, Orçamento Participativo, Plenária Temática, Congresso da Cidade. (A2)

Os técnicos da Secretaria coordenavam os projetos sociais de esporte e lazer. Havia uma coordenação geral para implantação do setor de ação comunitária no organograma da Secretaria. As ações desenvolvidas eram decididas com as lideranças comunitárias participantes de cada projeto. (B1)

No programa Lazer e Trabalho as decisões foram tomadas com os servidores. No programa Lazer na Cidade, discutimos com a comunidade por meio das regionais administrativas, associações, grupos organizados. Elaboramos Pré-Conferências Regionais de Esporte e Lazer para diagnosticar anseios, potencialidades e lideranças de cada região da cidade, preparando para a 2ª Conferência Municipal de Esporte e Lazer do município. Na Secretaria nossa principal instância de decisão é o Conselho Gestor e nos Pontos de Encontro de Lazer discutimos e decidimos com os agentes comunitários. (B2)

Nossas instâncias de decisão são os: Encontros das Comunidades, Congressos Temáticos e Setoriais da Cidade, Conselhos Municipais das áreas afins, Encontros com Famílias. (C1)

O envolvimento da alta direção é básico para o sucesso da mudança. Foi fundamental o envolvimento do Conselho/Superintendência, corpo técnico, gerentes, assessores, analistas, terceiros, parceiros, estagiários e beneficiários (representantes). (D1)

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Participação Cidadã Uma dessas possibilidades de efetiva participação na

cidade, citada por todos os gestores entrevistados, é o “Orçamento Participativo” (OP). Essa é uma estratégia fundamental para as políticas sociais, uma vez que reflete a direção política das relações econômicas referentes ao processo estatal de alocação e distribuição de valores conforme as prioridades dos municípios.

Outra possibilidade efetiva de participação na gestão das políticas públicas é a criação dos conselhos, que são órgãos colegiados encarregados de formular, acompanhar e fiscalizar as políticas públicas setoriais, considerados indispensáveis para a descentralização e democratização das políticas públicas por ser oportunidade de decisões mais coerentes e realistas quanto aos problemas, necessidades, construção de alternativas e transparência administrativa. (GRAU, 1998).

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Formação e ação integrada de gestores, agentes e lideranças comunitárias. Essa estratégia parte do pressuposto de que todos — gestores,

agentes, lideranças comunitárias — são educadores sociais, todos ensinam e aprendem continuamente em ações compartilhadas.

As atividades comunitárias propõem uma nova relação entre cidadão e governo no que diz respeito a gestão de seus programas de lazer. Com isso, procura superar os sentidos de políticas públicas assistencialistas e paternalistas, que ainda persistem em nosso meio.

Esse investimento é por nós entendido como esforço de mobilização, organização e capacitação da classe popular para a autonomia dos cidadãos na prática do esporte e lazer. A consideração da interface entre a prática educativa e a prática política na presente proposta leva em conta que somente pode ser possível transformações na sociedade se se operarem passo-a-passo com propostas educativas populares.

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Isso requer que elevemos o nível da participação cultural de formas conformistas a patamares mais críticos e criativos, considerando os sujeitos historicamente situados e cultivando o jogo ético que a experiência lúdica inspira. Essa experiência cultiva também, do ponto de vista estético, a beleza dos movimentos

conjuntos e habilidades que se articulam criativamente em cada gesto e prática cultural que se faz.

A concretização de projeto dessa natureza nos leva a ficar atentos para mecanismos político-sociais que possam não só sustentar essas propostas como dificultá-la, influenciando-a de modo inverso.

Tem requerido também investimento na desburocratização e na realização de intervenções mais ágeis, cooperativas, criativas e descentralizadas, desenvolvendo programas que têm em vista reflexos socioculturais mais amplos e contínuos, diretamente articulados com as demandas dos cidadãos e grupos comunitários.

A ação comunitária tem sido considerada como uma alternativa operacional dentro de políticas de ação social, de modo geral, e em especial e de forma privilegiada, no campo de lazer, quando a organização que formula a política quer revesti-la de características próprias.

Essa alternativa, em qualquer área do social onde seja desenvolvida, leva em conta a necessidade do conhecimento da situação, ou seja, da realidade, interesses e aspirações de determinada clientela; sua participação efetiva no planejamento organização e avaliação das ações; e a integração com órgãos e instituições locais, quer em busca de apoio político, ou de recursos para manutenção e/ou ampliação da ação.

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A ação comunitária é entendida, operacionalmente, como

um trabalho socioeducativo que consiste numa intervenção deliberada em determinada comunidade, através de atividades programadas em conjunto com pessoas e instituições locais, objetivando despertar e ampliar sua consciência para os problemas da comunidade, sensibilizá-las para a mobilização e coordenação de lideranças e predispô-las para a ação que vise o encaminhamento de soluções daqueles problemas, ou a tentativa de realização de aspirações relacionadas com a comunidade como um todo. (REQUIXA, 1973, p.15).

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Proposta metodológica socioeducativa para trabalho comunitário

Várias das experiências relatadas fundamentaram-se na proposta metodológica socioeducativa para trabalho comunitário construída por Marcellino (2007), cujo plano de ação é composto por três fases interligadas:

Deflagação propriamente dita: ação sensibilizadora, levantamento de necessidades e possibilidades de intervenção, definição dos objetivos condutores da ação, seleção dos instrumentos de intervenção e realização de atividade impacto. A ação dos técnicos é presente com muita intensidade no planejamento, organização e execução, estimulando e coordenando as iniciativas levantadas na análise da situação.

Avaliação dos resultados da ação: ocorrida num chamado período de carência, considerando dois grupos de resultados, ou seja, (a) respostas ligadas aos objetivos da ação, previstos no projeto e, geralmente, necessitando de acompanhamento técnico para continuidade do processo e (b) resultados reflexos, que são independentes de acompanhamento, pois são assumidos pelas pessoas e grupos, ou não estavam previstos no planejamento da ação.

Continuidade da ação: retomada dos resultados dependentes de acompanhamento num período de sedimentação que requer acompanhamento direto, necessário à consolidação do processo, buscando o alcance do estágio de autonomia, onde o acompanhamento se fará a título de reciclagem.

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Como organizar o saber popular em um programa de ação governamental?

Reconhecemos a necessidade de um conhecimento mais organizado das lutas populares, mas seria equívoco em seguida substituirmos essas lutas por “pacotes”. Há descobertas nisso aí. Referimos-nos a importância de desvendar e equacionar as relações entre população e Poder Público. Esse desvendar quer dizer conquistar o aprender, que para nós é o começo do conhecer pelas relações lúdicas.

não podemos nos esquecer de que uma proposta de educação popular para a autonomia não pode estar centrada na mera transmissão de conhecimentos, mas, sobretudo, na criação de espaços nos quais o saber popular possa se manifestar. A transmissão de conhecimento acontecerá de parte à parte, à medida que se manifestar o desejo de um conhecer algo do domínio do outro. Temos que tomar o cuidado para não sermos autoritários, manipulando os sujeitos pela competência técnica e científica.

A articulação entre parcerias internas e externas - entre programas de lazer e os demais campos de atuação do setor - otimizam a ação em relação ao uso dos recursos de infra-estruturas física, material e financeira disponíveis em diferentes tempos e espaços educativos da entidade, com maiores condições de atendimento às necessidades diagnosticadas e ações realizadas

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A implementação e gestão das informações e conhecimentos sistematizados nos processos de monitoramento e avaliação, difundidos para os envolvidos em todos os níveis do processo, é outro instrumento estratégico de participação e formação dos sujeitos, contribuindo para o fomento de estudos e revisões de programas/projetos, assim como a ampliação de condições de acesso e divulgação, com vistas a socialização e visibilidade dos resultados.

O assessoramento técnico-científico contínuo dos programas e projetos de lazer, buscando a qualificação das ações e formação em serviço, é outro instrumento estratégias que viabilizem a qualidade da gestão dos mesmos e a formação continuada dos educadores do lazer envolvidos

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“ uma ação socioeducativa para a autonomia funda-se em experiências estéticas, éticas, críticas e criativas.

Respeita os saberes dos educandos; rejeita qualquer forma de discriminação;

reconhece a identidade cultural dos educandos e a necessidade da superação dos nossos condicionamentos; corporeifica as palavras pelo exemplo;

busca a apreensão da realidade com convicção de que a mudança é possível.

Curiosa, é comprometida como forma de intervenção no mundo, exercita a liberdade, a tomada consciente de decisões, o saber

escutar; o diálogo, o querer bem aos educandos e a alegria.”

Paulo Freire

Fonte: http://www.redcreacion.org/documentos/congreso10/LMagalhaes.html