Upload
ricardo-s-torques
View
5
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
PONTO 04: Hermenêutica: interpretação, integração e aplicação do Direito do Trabalho. Métodos básicos de exegese. O papel da equidade. Eficácia das normas trabalhistas no tempo e no espaço.
Revogação. Irretroatividade. Direito adquirido.
Atualizado em 20.06.2014
Hermenêutica
INTEPRETAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO
Segundo Maurício Godinho Delgado:
Consiste no processo intelectual mediante o qual se busca compreender e desvelar um determinado fenômeno ou realidade de
natureza ideal ou fática.
Juridicamente, a interpretação atua em dois momentos:
Fase pré-jurídica Fase Jurídica
Momento político. Momento jurídico.
Envolve a elaboração da norma de Direito. Trata do instante da compreensão do sentido e
extensão da norma já elaborada.
Envolve a “fórmula da contradição”, pelo qual
procura-se identificar as contradições do sistema
jurídica, suas falhas, suas lacunas, seu desajuste
a valores que, politicamente, considera-se que a
sociedade erigiu como relevantes.
Envolve a “fórmula da coerência”, pois a
interpretação visa conferir coerência racional e
lógica da norma enfocada ao conjunto do sistema
jurídica e ao conjunto do sistema sociopolítico que
responde por sua criação e reprodução.
A Hermenêutica Jurídica constitui segmento da Ciência do Direito encarregado de fornecer o
instrumento e regras para a garantia do alcance de um patamar mais elevado de concretização da
internação jurídica, hábil a qualificá-la como científica.
Objetiva-se a redução do subjetivismo.
Distinções
Interpretação vs. Hermenêutica:
Interpretação: processo;
Hermenêutica: ciência volta ao estudo do referido processo.
Interpretação vs. Integração
Interpretação: consiste no desvelar da norma jurídica.
Integração: consiste no preenchimento de lacunas percebidas na ordem jurídica (em suas fontes
principais), por intermédio de normas jurídicas supletivas.
Interpretação vs. Aplicação
Interpretação: desvelar da norma jurídica.
Aplicação: operação final da tríade interpretação-integração-aplicação, consubstanciando o
momento de adequação concreta da norma sobre o caso objetivamente figurado.
Interpretação extensiva vs. Analogia
Interpretação extensiva: operação analítica pela qual o intérprete busca aferir o máximo
potencial de sentido e abrangência da norma.
Analogia: processo de integração jurídica pelo qual se aplica à situação fática não tratada em
norma jurídica um preceito normativo regente de situação fática substantivamente semelhante.
Analogia vs. Indução
Analogia: apreendem-se semelhanças existentes entre figuras componentes de espécies
distintas, para fins de produzir a incidência sobre a figura comparada.
Indução: perfaz-se a extensão a todas as figuras de uma mesma espécie do resultado de
observações efetuadas sobre algumas dessas figuras.
Tipologias da Interpretação Jurídica
Critério da origem da interpretação do Direito
Autêntica: produzida pelo mesmo órgão que construiu a norma jurídica;
Jurisprudencial: produzida pelos tribunais a partir da reiteração de decisões simulares tomadas
em face de casos semelhantes; e
Sobre a interpretação jurisprudencial, leciona Maurício Godinho Delgado:
Nos sistemas romano-germânicos (principalmente) nas vertentes de estrita tradição latina) há maior resistência a se conferir
tamanho papel à intepretação jurisprudencial. Na verdade, há até mesmo certa orientação doutrinária que nega qualquer
estatuto de fonte do Direito à jurisprudência. Não obstante tal resistência teórica, é hoje, do pronto de vista estritamente
científico insustentável negar-se a dimensão criativa do Direito inserida em inúmeras súmulas de jurisprudência uniforme dos
tribunais superiores brasileiros.
Doutrinária: produzida pelos juristas, pesquisadores e estudiosos do Direito, na leitura dos
diversos dispositivos integrantes da ordem jurídica.
Critério dos resultados (ou extensão dos resultados) do processo interpretativo
Declarativa: conclui corresponder a transparente expressão linguística da norma jurídica à exata
vontade e sentido da norma. Não há necessidade de ampliação ou restrição do sentido.
Extensiva: conclui ser a transparente expressão linguística da norma jurídica menor ampla do
que o exato sentido objetivo pela norma. Cabe ao intérprete ampliar o sentido do texto legal
formal expresso, para alcançar o sentido real e efetivo da norma.
Restritiva: conclui ser a transparente expressão linguística da norma jurídica mais ampla que o
exato sentido por ela objetivado. Cabe ao intérprete restringir o sentido do texto formal
expresso para alcançar o sentido real efetivo da norma.
De acordo com Francesco Ferrara, a interpretação restritiva tem lugar nos seguintes casos:
Se o texto, entendido no modo tão geral como está redigido, viria a contradizer outro texto de
lei;
Se a lei contém em si uma contradição íntima (é o chamado argumento ad absurdem);
Se o princípio, aplicado sem restrições, ultrapassa o fim para que foi ordenado.
Ainda de acordo com o referido doutrinador, a interpretação extensiva é considerada um dos meios
mais fecundos para o desenvolvimento dos princípios jurídicos e para o seu reagrupamento em
sistema.
Critério dos meios (ou métodos) utilizados no processo e interpretação jurídica
Gramatical: fundada em regras e métodos da linguística e filologia, constrói-se a partir do
exame literal do texto normativa e das palavras que o compõem.
Também denominada de intepretação tradicional ou originária.
O método gramatical evidencia limitações e distorções em razão do reducionismo formalístico.
Por outro lado, constitui o primeiro mecanismo de aproximação do intérprete perante o texto
legal enfocado.
Lógico: busca o significado, coerência e harmonia do texto legal, socorrendo-se das técnicas da
lógica formal. Pesquisa-se a mens legis, a ratio legis.
Sistemático: se caracteriza pela busca de harmonização da norma ao conjunto do sistema
jurídico. Investiga-se também a tendência normativa hegemônica nas diversas normas e
diplomas existentes.
Teleológico: busca subordinar o processo interpretativo ao império dos fins objetivados pela
norma jurídica.
Histórico: reconstituição da occasio legis no momento interpretativo de elaboração da norma,
com o fito de se compreender sua razão de ser, seus fins e a vontade efetiva do legislador.
Quanto ao método histórico são tecidas críticas. Segundo parte da doutrina – entre eles Maurício
Godinho Delgado – esse o método histórico constitui instrumento sem real valor científico, por supor a
ossificação da norma elaborada e a cristalização do fenômeno jurídico.
Por outro lado, deve ser compreendido método histórico como instrumento de apoio à interpretação,
pela reunião de dados históricos, sociais e jurídicos relevantes à época de elaboração da norma.
Registre-se que, segundo Karl Larenz, os métodos de interpretação não se excluem, mas são
complementares na busca pelo significado da norma jurídica.
Sistemas teóricos de Interpretação
Hermenêutica Tradicional
Inspirava-se na cultura jurídica romana.
Vertente que dirigia-se à restrição da interpretação jurídica à procura do sentido que se encontrava
fixado na palavra e textos normativos, cingindo-se o intérprete ao conhecimento literal da linguagem.
Escola Exegética Francesa
Os juristas constroem a concepção de que o processo interpretativo deveria consistir, exclusivamente,
na explicação da lei escrita: a lei seria a fonte exclusive do Direito, estando insculpida em sua palavra a
soberania legislativa.
Escola Histórico-evolutiva
Caberia ao intérprete aferir a vontade do legislador, inserta no texto legal, mas apreendida segundo o
momento histórico vivenciado no contexto da interpretação.
Escola da Interpretação Científica
A lei escrita não é, necessariamente, a fonte exclusiva do Direito.
A interpretação deve se dobrar às exigências da dinâmica da vida: a norma interpretada deve ser
moldada aos fatos e circunstâncias novas.
Escola da Livre Investigação
Também conhecida como “Escola do Direito Livre”, de Bülow, propõe um intensificação do papel do
intérprete no processo interpretativo, ampliando a dimensão adaptativa da norma sobre a meramente
reprodutiva no contexto da interpretação jurídica.
Deve-se procurar à adaptação às necessidades do caso concreto.
Em síntese, segundo Maurício Godinho Delgado o contraponto entre esses grupos tende a mostrar que
ambos (aqueles atrelado à lei e o descolado dos textos legislativos) se mostram inábeis a apreender a
real complexidade do fenômeno do Direito.
Ademais, embora a interpretação do Direito do Trabalho se submeta às linhas gerais básicas que a
Hermenêutica Jurídica traça para qualquer processo interpretativo, temos algumas especificidades que
devem ser consideradas.
Neste ramo jurídico deve ser sempre interpretado sob um enfoque de certo modo valorativo (a
chamada jurisprudência axiológica), inspirado pela prevalência dos valores e princípios essenciais do
Direito do Trabalho no processo de interpretação.
Assim, os valores sociais preponderam sobre os valores particulares, os valores coletivos sobre os
valores individuais. A essa valoração específica devem se agregar, ainda – e harmonicamente –, os
princípio justrabalhistas, especialmente um dos nucleares do ramo jurídico, o princípio da norma mais
favorável.
INTEGRAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO
Integração constitui o processo de preenchimento das lacunas normativas verificadas no sistema
jurídico em face de um caso concreto, mediante o recurso a outras fontes normativas que possam ser
especificamente aplicáveis.
Assim, a integração comporta um conjunto de mecanismos voltados a assegurar o suprimento das
lacunas apresentadas pelas fontes principais do sistema jurídico perante determinado caso concreto.
A integração é instituto destinado à atender o princípio da plenitude da ordem jurídica.
À interpretação, aplicam-se os seguintes dispositivos:
Art. 4º, da LINDB:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.
Art. 126, do CPC:
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No
julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes
e aos princípios gerais de direito.
Art. 8º, da CLT:
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais,
decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o
direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público.
Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for
incompatível com os princípios fundamentais deste.
Maurício Godinho Delgado tece críticas ao dispositivo celetista, acima citado, tendo em vista sua
atecnicalidade:
A jurisprudência, embora nominada como fonte subsidiária, assume papel jurígeno em nosso
ordenamento contemporâneo;
Uso tem caráter de cláusula contratual, logo não é utilizado como forma de integração.
Os costumes – arrolados no CC e no CPC – são efetivamente norma jurídica.
Tipos de integração jurídica
Destacam-se dois tipos de integração jurídica.
Autointegração: quando o operador jurídico vale-se de norma supletiva componente das
próprias fontes principais do Direito.
A analogia jurídica é o instrumento central da autointegração do Direito.
Heterointegração: quando o operador jurídico vale-se de norma supletiva fora do universo
normativo principal do Direito.
Porque posicionada forma das fontes jurídicas principais do sistema constitui-se em típica fonte
supletiva do Direito.
Procedimento analógico
Processo pelo qual se aplica à hipótese prevista em lei disposição relativa a caso semelhante.
Segundo Maurício Godinho Delgado, a analogia possui três requisitos, de acordo com os autores:
a) Que o fato considerado não tenha sido tratado especificamente pelo legislador, através de uma
específica norma jurídica;
b) Que exista, na ordem jurídica, norma regulando situação ou relação que apresente ponto de
contato, semelhança, coincidência ou identidade;
c) Que esse aspecto comum seja o elemento central a autorizar a operação analógica.
A analogia pode ser classificada em:
1. Analogia legis – concretizada a partir de uma norma supletiva específica; e
2. Analogia júris – o operador jurídico infere a norma do conjunto de normas disciplinadoras de
um instituto que tenha pontos fundamentais de contato com aquele que os textos deixaram de
contemplar.
APLICAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO
Constitui o processo de realização da incidência da norma abstrata sobre o caso concreto.
Refere-se à passagem do plano abstrato ao plano do concreto, do plano geral ao plano particular, o que
traduz uma operação de dedução.
Esse processo ocorre por um processo denominado de silogismo1: a norma jurídica desponta como
premissa maior, o fato, como premissa menor, e a sentença, como conclusão.
Aplicação do Direito do Trabalho no Tempo
Regras básicas - a lei trabalhista:
a) Tem efeito imediato, o que significa que ela rege as situações em curso e ainda não
consumadas, lembrando, no entanto, que a lei começa a vigorar em todo os país quarenta e
cinco dias depois de sua publicação (vacatio legis), salvo se outro prazo for por ela estabelecido
(art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). O início da vigência da lei é
condicionado, portanto, pela vacatio legis;
1 Argumento formado de três proposições; a maior, a menor (premissas) e a conclusão deduzida da maior, por intermédio da menor.
b) Não alcança as situações jurídicas consumadas sob o império da lei anterior, o que significa que
a lei antiga rege os atos praticados e as situações jurídicas consumadas sob o seu império (a lei
nova não tem, portanto, efeito retroativo). A norma trabalhista não tem efeito retroativo, na
medida em que deve respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, como
prevê o art. 5º, XXXVI, da CF.
c) Rege as situações futuras, ou seja, que tenham sido iniciadas após a sua entrada em vigor
(efeito diferido da norma jurídica).
Adota-se o princípio jurídico geral da irretroatividade, de modo que a norma jurídica emergente terá
simples efeito imediato, respeitando, assim, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Apenas, por exceção, desde que claramente fixada no próprio texto constitucional, é que uma regra
jurídica poderá afrontar situações passadas já definitivamente constituídas, vindo a regê-las de
maneira alternativa àquela já consumada no tempo.
Contudo, adverte Maurício Godinho Delgado que o núcleo central de concentração de efeitos
justrabalhistas situa-se no contrato de trabalho. Assim, pode-se construir um critério básico e geral
informador de efeitos intertemporais no ramo justrabalhista, qual seja: o princípio da aderência
contratual.
Segundo o referido princípio, preceitos normativos e cláusulas contratuais tendem a aderir ao contrato
de trabalho com intensidade e extensão temporais diferenciados. Fala-se, assim:
A aderências das normas jurídicas tende a ser relativa; ao passo que a aderência das
cláusulas tende a ser absoluta.
Segundo Maurício Godinho Delgado, a CF incentiva a negociação coletiva, induzindo, para tanto, a
maior equivalência entre os seres coletivos trabalhistas – sindicados de trabalhadores e sindicatos de
empresas.
Com respeito às normas jurídicas integrantes dos instrumentos coletivos negociados, há três posições
destacadas:
1ª) Tese da aderência irrestrita: os dispositivos de tais diplomas ingressam para sempre nos contratos
individuais, não mais podendo deles ser suprimidos. Seus efeitos seriam aqueles inerentes às cláusulas
contratuais, que se submetem à regra do art. 468, da CLT.
2ª) Tese da aderência limitada pelo prazo: os dispositivos dos diplomas negociados vigoram no prazo
assinado a tais diplomas, não aderindo definitivamente aos contratos de trabalho.
3ª) Tese da aderência limitada por revogação: os dispositivos dos diplomas negociados vigoram até
que novo diploma negocial os revogasse.
Esse é o entendimento que predomina na jurisprudência do TST, conforme Súmula 277, com redação
de setembro de 2012:
Súmula nº 277 do TST
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE
(redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado
em 25, 26 e 27.09.2012
As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de
trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.
Sobre o assunto, vale a menção à OJ 362, SDI-1, TST:
OJ-SDI1-362 CONTRATO NULO. EFEITOS. FGTS. MEDIDA PROVISÓRIA 2.164-41, DE 24.08.2001, E ART. 19-A
DA LEI Nº 8.036, DE 11.05.1990. IRRETROATIVIDADE (DJ 20, 21 e 23.05.2008)
Não afronta o princípio da irretroatividade da lei a aplicação do art. 19-A da Lei nº 8.036, de 11.05.1990, aos
contratos declarados nulos celebrados antes da vigência da Medida Provisória nº 2.164-41, de 24.08.2001.
Nesse sentido é a orientação jurisprudencial em análise, ao prever a possibilidade de uma lei a ser
aplicada a casos pretéritos. Essa orientação estendeu a aplicação do art. 19-A da Lei do nº 8.036/90
(acrescentando pela Medida Provisória nº 2.164-41/2001) a todos os empregados contratados
irregularmente pela administração, inclusive empregados admitidos anteriormente à publicação do art.
19-A. De acordo com esse artigo, o trabalhador admitido irregularmente terá direito, além do saldo de
salário, ao saque da conta vinculada do FGTS.
O TST, com essa interpretação ampliativa, atesta que não viola o princípio da irretroativa, pois o art.
19-A teria surgido apenas para pacificar a jurisprudência, que já vinha deferindo os saques à conta
vinculada do FGTS, antes mesmo do surgimento da Medida Provisória nº 2.164-41/2001.
Aplicação do Direito do Trabalho no Espaço
Em razão do princípio da soberania, aliado ao critério da territorialidade, as regras trabalhistas aplicam-
se ao território delimitados pelas fronteiras brasileiras.
Já em relação à aplicação do Direito do Trabalho a relações laborativas vivenciadas no espaço externo
ao território brasileiro, especialmente em Estados estrangeiros, é necessário fazer uma ponderação.
A Súmula 207, do TST, previa aplicação do critério da territorialidade (lex loci executionis), segundo o
qual aplica-se a lei vigente no país da prestação do serviços e não aquelas do local da contratação.
Contrariamente a esse enunciado, prevê a Lei 7.064/1982:
Art. 3º - A empresa responsável pelo contrato de trabalho do empregado transferido assegurar-lhe-á,
independentemente da observância da legislação do local da execução dos serviços:
I - os direitos previstos nesta Lei;
II - a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que não for incompatível com o
disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em
relação a cada matéria.
Parágrafo único. Respeitadas as disposições especiais desta Lei, aplicar-se-á a legislação brasileira sobre
Previdência Social, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e Programa de Integração Social -
PIS/PASEP
Essa lei, inicialmente aplicada apenas aos “trabalhadores contratados no Brasil, ou transferidos por
empresas prestadoras de serviços de engenharia, inclusive consultoria, projetos e obras, montagens,
gerenciamento e congêneres, para prestar serviços no exterior” (art. 1º, redação original), após a Lei
11.962/2009 passou a ser aplicada a “trabalhadores contratados no Brasil ou transferidos por seus
empregadores para prestar serviço no exterior” (nova redação).
Portanto, tendo em vista esse dispositivo e o entendimento da comunidade jurídica, o TST cancelou a
Súmula 207, de modo aos trabalhadores contratados no Brasil (que prestar serviços no exterior) ou
transferidos por seus empregadores para prestar serviços no exterior aplica-se a norma mais favorável,
segundo a Teoria do Conglobamento Mitigado.
O PAPEL DA EQUIDADE
O art. 8º, caput, da CLT dispõe que as autoridades administrativas podem na falta de disposições
legais ou contratuais, decidir, conforme o caso, por equidade (trata-se da denominada equidade
legal; o juiz é autorizado a utilizar a equidade para afastar lacuna da lei).
De outro lado, o art. 852-I, §1º, da CLT estabelece que o juiz deve adotar, em cada caso a decisão, a
decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem
comum (trata-se, agora da equidade judicial: ao juiz é determinado que utilize a equidade para
decidir o caso concreto).
Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do juízo, com resumo dos fatos relevantes
ocorridos em audiência, dispensado o relatório. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 12.1.2000)
§ 1º O juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais
da lei e as exigências do bem comum.
A CLT, portanto, aduz a decisão por equidade e decisão equânime:
EQUIDADE LEGAL EQUIDADE JUDICIAL
Art. 8º, da CLT Art. 852-I, §1º, CLT
O Juiz é autorizado para afastar a lacuna da lei
(decisão por equidade).
Ao Juiz é determinado que utilize a equidade para
decidir o caso concreto (decisão equânime).
No julgamento por equidade, o juiz cria, no sentido de revelá-la a partir do sistema jurídico, a norma
para o caso concreto (a equidade, neste aspecto, funciona como critério de interpretação da ordem
jurídica: função integrativa), sendo digno de nota que, como observa Maria Helena Diniz, a equidade
não constitui um mero recurso à especulação jurídica; está dentro do direito, uma vez que o direito
brota do contexto cultural e visa à consecução de uma idéia: criar o justo equilíbrio entre os interesses
da coletividade e dos particulares, ou seja, a realização da justiça (...). A equidade (...) é poder
conferido ao magistrado para revelar o direito latente.
Decisão equânime é aquela em que o juiz aplica a norma preexistente, atenuando o seu rigor,
adaptando-a às particularidades do caso concreto (a equidade, aqui, funciona como critério de
interpretação das normas jurídicas). A equidade atua, neste contexto, como fator de valorização do
caso concreto e de garantia de uma solução jurídica que para ele seja adequada.
Distingue-se, ainda, julgamento com equidade de julgamento por equidade.
JULGAMENTO COM EQUIDADE JULGAMENTO POR EQUIDADE
De origem grega (epieikeia), significa a
amenização do rigor da norma jurídica, retificando
distorções, ou seja, envolve a interpretação mais
branda, equitativa, corrigindo as injustiças da
norma abstrata na aplicação sobre situações em
concreto, levando em conta suas particularidades.
Dessa forma, o art. 852-I, §1°, da CLT, que se
refere ao procedimento sumaríssimo, estabelece
que o juiz adotará, em cada caso, a decisão que
reputar mais justa e equânime, atendendo aos
fins sociais da lei e as exigências do bem comum.
De origem romana (aequitas), significa a criação
de regra jurídica para o caso em concreto,
possibilitando a decisão sem vinculação às
disposições legais, mas sim de acordo com os
critérios de justiça. Conforme o art. 127 do
Código de Processo Civil, a decisão por
equidade depende de expressa autorização
no ordenamento jurídico. Nessa linha, o art. 766
da CLT estabelece que nos dissídios sobre
estipulação de salários serão estabelecidas
condições que, assegurando justos salários aos
trabalhadores, permitam também justa
retribuição às empresas interessadas, indicando a
importância da equidade no exercício do Poder
Normativo pela Justiça do Trabalho.
REVOGAÇÃO
Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou a revogue (art.
2º, caput, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), ao passo que a lei não perde vigência
por desuso ou costume, somente podendo ser modificada ou revogada por outra lei (art. 2º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
(Vide Lei nº 3.991, de 1961)
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
De outro lado, a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que trata a lei anterior (art. 2º, §1º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Assim, a perda de vigência de uma lei pode ocorrer pelo decurso do tempo (lei de vigência temporária)
ou em razão de sua revogação por outra lei. A revogação de uma lei por outra pode ser:
a) Total (ab-rogação);
b) Parcial (derrogação);
c) Expressa (a lei nova determina expressamente a revogação da anterior);
d) Tácita (a lei nova dispõe de maneira diferente da lei anterior sobre a mesma matéria - a lei
posterior revoga a anterior – ou a lei nova regula inteiramente a matéria versada na lei
anterior).
Acrescente-se que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.
Por fim, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter lei revogadora perdido a
vigência. Destarte, em regra, a lei revogada não recupera a sua vigência em razão de a lei que a
revogou perder a sua vigência (salvo disposição em contrário, portanto, não ocorre a denominada
repristinação).
DIREITO ADQUIRIDO
A constituição da República a todos assegura o direito fundamental à segurança (art. 5º, caput). Entre
as formas de manifestação do direito à segurança está a proibição de a lei prejudicar o direito
adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF).
Dispõe o art. 6º, §1º, da LINDB que se consideram direitos adquiridos os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha
termo prefixado, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Para doutrina, o direito é adquirido quando é consequência de um fato idôneo a produzi-lo
em virtude da lei vigente ao tempo em que se efetuou, embora a ocasião de fazê-lo valer
não se tenha apresentado antes da atuação da lei nova, sob o império da lei então vigente,
integrou-se imediatamente no patrimônio do seu titular.
Assim, direito adquirido é direito exercitável, por força da ocorrência dos fatos que a lei vigente ao
tempo desta ocorrência considera idôneos para a sua constituição e do alcance do termo prefixado ou
atendimento de condição preestabelecida inalterável ao arbítrio de outrem, e que já se incorporou ao
patrimônio jurídico do seu titular.
Dizendo de outra forma, ocorridos os fatos que a lei vigente quando de sua verificação considera
suficientes para a constituição do direito e sendo alcançado o termo prefixado ou atendida a condição
preestabelecida inalterável ao arbítrio de outrem, o direito entra no patrimônio jurídico do seu titular e
passa a fazer parte dele, alcançando o status de direito adquirido.
Vale chamar a atenção para o fato de que, como aduz Caio Mário Da Silva Pereira, o direito adquirido
não se confunde com a expectativa de direito, posto que, enquanto direito adquirido é a
consequência de um fato aquisitivo que se realizou por inteiro, a expectativa de direito, que traduz
uma simples esperança, resulta de um fato aquisitivo incompleto (...). Os direitos adquiridos, oriundos
de fatos que se realizaram por inteiro em consonância com a lei velha e ao tempo de sua vigência, e se
incorporaram definitivamente ao patrimônio do sujeito não são alcançados pela lei nova e, portanto,
continuam a reger-se pela lei antiga, que desta sorte estende o plano da sua eficácia por um tempo
ulterior ao momento em que é revogada. As expectativas de direito, isto é, aquelas situações ou
relações aderentes ao indivíduo, provenientes de fato aquisitivo incompleto, e por isso mesmo não
integradas definitivamente no seu patrimônio, são atingidas pela retroatividade da lei nova, que passa
a discipliná-la desde o momento em que começa a vigorar.