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PONTO 04: Hermenêutica: interpretação, integração e aplicação do Direito do Trabalho. Métodos básicos de exegese. O papel da equidade. Eficácia das normas trabalhistas no tempo e no espaço. Revogação. Irretroatividade. Direito adquirido. Atualizado em 20.06.2014 Hermenêutica INTEPRETAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO Segundo Maurício Godinho Delgado: Consiste no processo intelectual mediante o qual se busca compreender e desvelar um determinado fenômeno ou realidade de natureza ideal ou fática. Juridicamente, a interpretação atua em dois momentos: Fase pré-jurídica Fase Jurídica Momento político. Momento jurídico. Envolve a elaboração da norma de Direito. Trata do instante da compreensão do sentido e extensão da norma já elaborada. Envolve a “fórmula da contradição”, pelo qual procura-se identificar as contradições do sistema jurídica, suas falhas, suas lacunas, seu desajuste a valores que, politicamente, considera-se que a sociedade erigiu como relevantes. Envolve a “fórmula da coerência”, pois a interpretação visa conferir coerência racional e lógica da norma enfocada ao conjunto do sistema jurídica e ao conjunto do sistema sociopolítico que responde por sua criação e reprodução. A Hermenêutica Jurídica constitui segmento da Ciência do Direito encarregado de fornecer o instrumento e regras para a garantia do alcance de um patamar mais elevado de concretização da internação jurídica, hábil a qualificá-la como científica. Objetiva-se a redução do subjetivismo. Distinções Interpretação vs. Hermenêutica: Interpretação: processo; Hermenêutica: ciência volta ao estudo do referido processo. Interpretação vs. Integração Interpretação: consiste no desvelar da norma jurídica.

Ponto 04 - Direito Do Trabalho

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PONTO 04: Hermenêutica: interpretação, integração e aplicação do Direito do Trabalho. Métodos básicos de exegese. O papel da equidade. Eficácia das normas trabalhistas no tempo e no espaço.

Revogação. Irretroatividade. Direito adquirido.

Atualizado em 20.06.2014

Hermenêutica

INTEPRETAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO

Segundo Maurício Godinho Delgado:

Consiste no processo intelectual mediante o qual se busca compreender e desvelar um determinado fenômeno ou realidade de

natureza ideal ou fática.

Juridicamente, a interpretação atua em dois momentos:

Fase pré-jurídica Fase Jurídica

Momento político. Momento jurídico.

Envolve a elaboração da norma de Direito. Trata do instante da compreensão do sentido e

extensão da norma já elaborada.

Envolve a “fórmula da contradição”, pelo qual

procura-se identificar as contradições do sistema

jurídica, suas falhas, suas lacunas, seu desajuste

a valores que, politicamente, considera-se que a

sociedade erigiu como relevantes.

Envolve a “fórmula da coerência”, pois a

interpretação visa conferir coerência racional e

lógica da norma enfocada ao conjunto do sistema

jurídica e ao conjunto do sistema sociopolítico que

responde por sua criação e reprodução.

A Hermenêutica Jurídica constitui segmento da Ciência do Direito encarregado de fornecer o

instrumento e regras para a garantia do alcance de um patamar mais elevado de concretização da

internação jurídica, hábil a qualificá-la como científica.

Objetiva-se a redução do subjetivismo.

Distinções

Interpretação vs. Hermenêutica:

Interpretação: processo;

Hermenêutica: ciência volta ao estudo do referido processo.

Interpretação vs. Integração

Interpretação: consiste no desvelar da norma jurídica.

Integração: consiste no preenchimento de lacunas percebidas na ordem jurídica (em suas fontes

principais), por intermédio de normas jurídicas supletivas.

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Interpretação vs. Aplicação

Interpretação: desvelar da norma jurídica.

Aplicação: operação final da tríade interpretação-integração-aplicação, consubstanciando o

momento de adequação concreta da norma sobre o caso objetivamente figurado.

Interpretação extensiva vs. Analogia

Interpretação extensiva: operação analítica pela qual o intérprete busca aferir o máximo

potencial de sentido e abrangência da norma.

Analogia: processo de integração jurídica pelo qual se aplica à situação fática não tratada em

norma jurídica um preceito normativo regente de situação fática substantivamente semelhante.

Analogia vs. Indução

Analogia: apreendem-se semelhanças existentes entre figuras componentes de espécies

distintas, para fins de produzir a incidência sobre a figura comparada.

Indução: perfaz-se a extensão a todas as figuras de uma mesma espécie do resultado de

observações efetuadas sobre algumas dessas figuras.

Tipologias da Interpretação Jurídica

Critério da origem da interpretação do Direito

Autêntica: produzida pelo mesmo órgão que construiu a norma jurídica;

Jurisprudencial: produzida pelos tribunais a partir da reiteração de decisões simulares tomadas

em face de casos semelhantes; e

Sobre a interpretação jurisprudencial, leciona Maurício Godinho Delgado:

Nos sistemas romano-germânicos (principalmente) nas vertentes de estrita tradição latina) há maior resistência a se conferir

tamanho papel à intepretação jurisprudencial. Na verdade, há até mesmo certa orientação doutrinária que nega qualquer

estatuto de fonte do Direito à jurisprudência. Não obstante tal resistência teórica, é hoje, do pronto de vista estritamente

científico insustentável negar-se a dimensão criativa do Direito inserida em inúmeras súmulas de jurisprudência uniforme dos

tribunais superiores brasileiros.

Doutrinária: produzida pelos juristas, pesquisadores e estudiosos do Direito, na leitura dos

diversos dispositivos integrantes da ordem jurídica.

Critério dos resultados (ou extensão dos resultados) do processo interpretativo

Declarativa: conclui corresponder a transparente expressão linguística da norma jurídica à exata

vontade e sentido da norma. Não há necessidade de ampliação ou restrição do sentido.

Extensiva: conclui ser a transparente expressão linguística da norma jurídica menor ampla do

que o exato sentido objetivo pela norma. Cabe ao intérprete ampliar o sentido do texto legal

formal expresso, para alcançar o sentido real e efetivo da norma.

Restritiva: conclui ser a transparente expressão linguística da norma jurídica mais ampla que o

exato sentido por ela objetivado. Cabe ao intérprete restringir o sentido do texto formal

expresso para alcançar o sentido real efetivo da norma.

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De acordo com Francesco Ferrara, a interpretação restritiva tem lugar nos seguintes casos:

Se o texto, entendido no modo tão geral como está redigido, viria a contradizer outro texto de

lei;

Se a lei contém em si uma contradição íntima (é o chamado argumento ad absurdem);

Se o princípio, aplicado sem restrições, ultrapassa o fim para que foi ordenado.

Ainda de acordo com o referido doutrinador, a interpretação extensiva é considerada um dos meios

mais fecundos para o desenvolvimento dos princípios jurídicos e para o seu reagrupamento em

sistema.

Critério dos meios (ou métodos) utilizados no processo e interpretação jurídica

Gramatical: fundada em regras e métodos da linguística e filologia, constrói-se a partir do

exame literal do texto normativa e das palavras que o compõem.

Também denominada de intepretação tradicional ou originária.

O método gramatical evidencia limitações e distorções em razão do reducionismo formalístico.

Por outro lado, constitui o primeiro mecanismo de aproximação do intérprete perante o texto

legal enfocado.

Lógico: busca o significado, coerência e harmonia do texto legal, socorrendo-se das técnicas da

lógica formal. Pesquisa-se a mens legis, a ratio legis.

Sistemático: se caracteriza pela busca de harmonização da norma ao conjunto do sistema

jurídico. Investiga-se também a tendência normativa hegemônica nas diversas normas e

diplomas existentes.

Teleológico: busca subordinar o processo interpretativo ao império dos fins objetivados pela

norma jurídica.

Histórico: reconstituição da occasio legis no momento interpretativo de elaboração da norma,

com o fito de se compreender sua razão de ser, seus fins e a vontade efetiva do legislador.

Quanto ao método histórico são tecidas críticas. Segundo parte da doutrina – entre eles Maurício

Godinho Delgado – esse o método histórico constitui instrumento sem real valor científico, por supor a

ossificação da norma elaborada e a cristalização do fenômeno jurídico.

Por outro lado, deve ser compreendido método histórico como instrumento de apoio à interpretação,

pela reunião de dados históricos, sociais e jurídicos relevantes à época de elaboração da norma.

Registre-se que, segundo Karl Larenz, os métodos de interpretação não se excluem, mas são

complementares na busca pelo significado da norma jurídica.

Sistemas teóricos de Interpretação

Hermenêutica Tradicional

Inspirava-se na cultura jurídica romana.

Vertente que dirigia-se à restrição da interpretação jurídica à procura do sentido que se encontrava

fixado na palavra e textos normativos, cingindo-se o intérprete ao conhecimento literal da linguagem.

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Escola Exegética Francesa

Os juristas constroem a concepção de que o processo interpretativo deveria consistir, exclusivamente,

na explicação da lei escrita: a lei seria a fonte exclusive do Direito, estando insculpida em sua palavra a

soberania legislativa.

Escola Histórico-evolutiva

Caberia ao intérprete aferir a vontade do legislador, inserta no texto legal, mas apreendida segundo o

momento histórico vivenciado no contexto da interpretação.

Escola da Interpretação Científica

A lei escrita não é, necessariamente, a fonte exclusiva do Direito.

A interpretação deve se dobrar às exigências da dinâmica da vida: a norma interpretada deve ser

moldada aos fatos e circunstâncias novas.

Escola da Livre Investigação

Também conhecida como “Escola do Direito Livre”, de Bülow, propõe um intensificação do papel do

intérprete no processo interpretativo, ampliando a dimensão adaptativa da norma sobre a meramente

reprodutiva no contexto da interpretação jurídica.

Deve-se procurar à adaptação às necessidades do caso concreto.

Em síntese, segundo Maurício Godinho Delgado o contraponto entre esses grupos tende a mostrar que

ambos (aqueles atrelado à lei e o descolado dos textos legislativos) se mostram inábeis a apreender a

real complexidade do fenômeno do Direito.

Ademais, embora a interpretação do Direito do Trabalho se submeta às linhas gerais básicas que a

Hermenêutica Jurídica traça para qualquer processo interpretativo, temos algumas especificidades que

devem ser consideradas.

Neste ramo jurídico deve ser sempre interpretado sob um enfoque de certo modo valorativo (a

chamada jurisprudência axiológica), inspirado pela prevalência dos valores e princípios essenciais do

Direito do Trabalho no processo de interpretação.

Assim, os valores sociais preponderam sobre os valores particulares, os valores coletivos sobre os

valores individuais. A essa valoração específica devem se agregar, ainda – e harmonicamente –, os

princípio justrabalhistas, especialmente um dos nucleares do ramo jurídico, o princípio da norma mais

favorável.

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INTEGRAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO

Integração constitui o processo de preenchimento das lacunas normativas verificadas no sistema

jurídico em face de um caso concreto, mediante o recurso a outras fontes normativas que possam ser

especificamente aplicáveis.

Assim, a integração comporta um conjunto de mecanismos voltados a assegurar o suprimento das

lacunas apresentadas pelas fontes principais do sistema jurídico perante determinado caso concreto.

A integração é instituto destinado à atender o princípio da plenitude da ordem jurídica.

À interpretação, aplicam-se os seguintes dispositivos:

Art. 4º, da LINDB:

Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios

gerais de direito.

Art. 126, do CPC:

Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No

julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes

e aos princípios gerais de direito.

Art. 8º, da CLT:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais,

decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas

gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o

direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o

interesse público.

Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for

incompatível com os princípios fundamentais deste.

Maurício Godinho Delgado tece críticas ao dispositivo celetista, acima citado, tendo em vista sua

atecnicalidade:

A jurisprudência, embora nominada como fonte subsidiária, assume papel jurígeno em nosso

ordenamento contemporâneo;

Uso tem caráter de cláusula contratual, logo não é utilizado como forma de integração.

Os costumes – arrolados no CC e no CPC – são efetivamente norma jurídica.

Tipos de integração jurídica

Destacam-se dois tipos de integração jurídica.

Autointegração: quando o operador jurídico vale-se de norma supletiva componente das

próprias fontes principais do Direito.

A analogia jurídica é o instrumento central da autointegração do Direito.

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Heterointegração: quando o operador jurídico vale-se de norma supletiva fora do universo

normativo principal do Direito.

Porque posicionada forma das fontes jurídicas principais do sistema constitui-se em típica fonte

supletiva do Direito.

Procedimento analógico

Processo pelo qual se aplica à hipótese prevista em lei disposição relativa a caso semelhante.

Segundo Maurício Godinho Delgado, a analogia possui três requisitos, de acordo com os autores:

a) Que o fato considerado não tenha sido tratado especificamente pelo legislador, através de uma

específica norma jurídica;

b) Que exista, na ordem jurídica, norma regulando situação ou relação que apresente ponto de

contato, semelhança, coincidência ou identidade;

c) Que esse aspecto comum seja o elemento central a autorizar a operação analógica.

A analogia pode ser classificada em:

1. Analogia legis – concretizada a partir de uma norma supletiva específica; e

2. Analogia júris – o operador jurídico infere a norma do conjunto de normas disciplinadoras de

um instituto que tenha pontos fundamentais de contato com aquele que os textos deixaram de

contemplar.

APLICAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO

Constitui o processo de realização da incidência da norma abstrata sobre o caso concreto.

Refere-se à passagem do plano abstrato ao plano do concreto, do plano geral ao plano particular, o que

traduz uma operação de dedução.

Esse processo ocorre por um processo denominado de silogismo1: a norma jurídica desponta como

premissa maior, o fato, como premissa menor, e a sentença, como conclusão.

Aplicação do Direito do Trabalho no Tempo

Regras básicas - a lei trabalhista:

a) Tem efeito imediato, o que significa que ela rege as situações em curso e ainda não

consumadas, lembrando, no entanto, que a lei começa a vigorar em todo os país quarenta e

cinco dias depois de sua publicação (vacatio legis), salvo se outro prazo for por ela estabelecido

(art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). O início da vigência da lei é

condicionado, portanto, pela vacatio legis;

1 Argumento formado de três proposições; a maior, a menor (premissas) e a conclusão deduzida da maior, por intermédio da menor.

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b) Não alcança as situações jurídicas consumadas sob o império da lei anterior, o que significa que

a lei antiga rege os atos praticados e as situações jurídicas consumadas sob o seu império (a lei

nova não tem, portanto, efeito retroativo). A norma trabalhista não tem efeito retroativo, na

medida em que deve respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, como

prevê o art. 5º, XXXVI, da CF.

c) Rege as situações futuras, ou seja, que tenham sido iniciadas após a sua entrada em vigor

(efeito diferido da norma jurídica).

Adota-se o princípio jurídico geral da irretroatividade, de modo que a norma jurídica emergente terá

simples efeito imediato, respeitando, assim, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Apenas, por exceção, desde que claramente fixada no próprio texto constitucional, é que uma regra

jurídica poderá afrontar situações passadas já definitivamente constituídas, vindo a regê-las de

maneira alternativa àquela já consumada no tempo.

Contudo, adverte Maurício Godinho Delgado que o núcleo central de concentração de efeitos

justrabalhistas situa-se no contrato de trabalho. Assim, pode-se construir um critério básico e geral

informador de efeitos intertemporais no ramo justrabalhista, qual seja: o princípio da aderência

contratual.

Segundo o referido princípio, preceitos normativos e cláusulas contratuais tendem a aderir ao contrato

de trabalho com intensidade e extensão temporais diferenciados. Fala-se, assim:

A aderências das normas jurídicas tende a ser relativa; ao passo que a aderência das

cláusulas tende a ser absoluta.

Segundo Maurício Godinho Delgado, a CF incentiva a negociação coletiva, induzindo, para tanto, a

maior equivalência entre os seres coletivos trabalhistas – sindicados de trabalhadores e sindicatos de

empresas.

Com respeito às normas jurídicas integrantes dos instrumentos coletivos negociados, há três posições

destacadas:

1ª) Tese da aderência irrestrita: os dispositivos de tais diplomas ingressam para sempre nos contratos

individuais, não mais podendo deles ser suprimidos. Seus efeitos seriam aqueles inerentes às cláusulas

contratuais, que se submetem à regra do art. 468, da CLT.

2ª) Tese da aderência limitada pelo prazo: os dispositivos dos diplomas negociados vigoram no prazo

assinado a tais diplomas, não aderindo definitivamente aos contratos de trabalho.

3ª) Tese da aderência limitada por revogação: os dispositivos dos diplomas negociados vigoram até

que novo diploma negocial os revogasse.

Esse é o entendimento que predomina na jurisprudência do TST, conforme Súmula 277, com redação

de setembro de 2012:

Súmula nº 277 do TST

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE

(redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado

em 25, 26 e 27.09.2012

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As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de

trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.

Sobre o assunto, vale a menção à OJ 362, SDI-1, TST:

OJ-SDI1-362 CONTRATO NULO. EFEITOS. FGTS. MEDIDA PROVISÓRIA 2.164-41, DE 24.08.2001, E ART. 19-A

DA LEI Nº 8.036, DE 11.05.1990. IRRETROATIVIDADE (DJ 20, 21 e 23.05.2008)

Não afronta o princípio da irretroatividade da lei a aplicação do art. 19-A da Lei nº 8.036, de 11.05.1990, aos

contratos declarados nulos celebrados antes da vigência da Medida Provisória nº 2.164-41, de 24.08.2001.

Nesse sentido é a orientação jurisprudencial em análise, ao prever a possibilidade de uma lei a ser

aplicada a casos pretéritos. Essa orientação estendeu a aplicação do art. 19-A da Lei do nº 8.036/90

(acrescentando pela Medida Provisória nº 2.164-41/2001) a todos os empregados contratados

irregularmente pela administração, inclusive empregados admitidos anteriormente à publicação do art.

19-A. De acordo com esse artigo, o trabalhador admitido irregularmente terá direito, além do saldo de

salário, ao saque da conta vinculada do FGTS.

O TST, com essa interpretação ampliativa, atesta que não viola o princípio da irretroativa, pois o art.

19-A teria surgido apenas para pacificar a jurisprudência, que já vinha deferindo os saques à conta

vinculada do FGTS, antes mesmo do surgimento da Medida Provisória nº 2.164-41/2001.

Aplicação do Direito do Trabalho no Espaço

Em razão do princípio da soberania, aliado ao critério da territorialidade, as regras trabalhistas aplicam-

se ao território delimitados pelas fronteiras brasileiras.

Já em relação à aplicação do Direito do Trabalho a relações laborativas vivenciadas no espaço externo

ao território brasileiro, especialmente em Estados estrangeiros, é necessário fazer uma ponderação.

A Súmula 207, do TST, previa aplicação do critério da territorialidade (lex loci executionis), segundo o

qual aplica-se a lei vigente no país da prestação do serviços e não aquelas do local da contratação.

Contrariamente a esse enunciado, prevê a Lei 7.064/1982:

Art. 3º - A empresa responsável pelo contrato de trabalho do empregado transferido assegurar-lhe-á,

independentemente da observância da legislação do local da execução dos serviços:

I - os direitos previstos nesta Lei;

II - a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que não for incompatível com o

disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em

relação a cada matéria.

Parágrafo único. Respeitadas as disposições especiais desta Lei, aplicar-se-á a legislação brasileira sobre

Previdência Social, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e Programa de Integração Social -

PIS/PASEP

Essa lei, inicialmente aplicada apenas aos “trabalhadores contratados no Brasil, ou transferidos por

empresas prestadoras de serviços de engenharia, inclusive consultoria, projetos e obras, montagens,

gerenciamento e congêneres, para prestar serviços no exterior” (art. 1º, redação original), após a Lei

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11.962/2009 passou a ser aplicada a “trabalhadores contratados no Brasil ou transferidos por seus

empregadores para prestar serviço no exterior” (nova redação).

Portanto, tendo em vista esse dispositivo e o entendimento da comunidade jurídica, o TST cancelou a

Súmula 207, de modo aos trabalhadores contratados no Brasil (que prestar serviços no exterior) ou

transferidos por seus empregadores para prestar serviços no exterior aplica-se a norma mais favorável,

segundo a Teoria do Conglobamento Mitigado.

O PAPEL DA EQUIDADE

O art. 8º, caput, da CLT dispõe que as autoridades administrativas podem na falta de disposições

legais ou contratuais, decidir, conforme o caso, por equidade (trata-se da denominada equidade

legal; o juiz é autorizado a utilizar a equidade para afastar lacuna da lei).

De outro lado, o art. 852-I, §1º, da CLT estabelece que o juiz deve adotar, em cada caso a decisão, a

decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem

comum (trata-se, agora da equidade judicial: ao juiz é determinado que utilize a equidade para

decidir o caso concreto).

Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do juízo, com resumo dos fatos relevantes

ocorridos em audiência, dispensado o relatório. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 12.1.2000)

§ 1º O juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais

da lei e as exigências do bem comum. 

A CLT, portanto, aduz a decisão por equidade e decisão equânime:

EQUIDADE LEGAL EQUIDADE JUDICIAL

Art. 8º, da CLT Art. 852-I, §1º, CLT

O Juiz é autorizado para afastar a lacuna da lei

(decisão por equidade).

Ao Juiz é determinado que utilize a equidade para

decidir o caso concreto (decisão equânime).

No julgamento por equidade, o juiz cria, no sentido de revelá-la a partir do sistema jurídico, a norma

para o caso concreto (a equidade, neste aspecto, funciona como critério de interpretação da ordem

jurídica: função integrativa), sendo digno de nota que, como observa Maria Helena Diniz, a equidade

não constitui um mero recurso à especulação jurídica; está dentro do direito, uma vez que o direito

brota do contexto cultural e visa à consecução de uma idéia: criar o justo equilíbrio entre os interesses

da coletividade e dos particulares, ou seja, a realização da justiça (...). A equidade (...) é poder

conferido ao magistrado para revelar o direito latente.

Decisão equânime é aquela em que o juiz aplica a norma preexistente, atenuando o seu rigor,

adaptando-a às particularidades do caso concreto (a equidade, aqui, funciona como critério de

interpretação das normas jurídicas). A equidade atua, neste contexto, como fator de valorização do

caso concreto e de garantia de uma solução jurídica que para ele seja adequada.

Distingue-se, ainda, julgamento com equidade de julgamento por equidade.

Page 10: Ponto 04 - Direito Do Trabalho

JULGAMENTO COM EQUIDADE JULGAMENTO POR EQUIDADE

De origem grega (epieikeia), significa a

amenização do rigor da norma jurídica, retificando

distorções, ou seja, envolve a interpretação mais

branda, equitativa, corrigindo as injustiças da

norma abstrata na aplicação sobre situações em

concreto, levando em conta suas particularidades.

Dessa forma, o art. 852-I, §1°, da CLT, que se

refere ao procedimento sumaríssimo, estabelece

que o juiz adotará, em cada caso, a decisão que

reputar mais justa e equânime, atendendo aos

fins sociais da lei e as exigências do bem comum.

De origem romana (aequitas), significa a criação

de regra jurídica para o caso em concreto,

possibilitando a decisão sem vinculação às

disposições legais, mas sim de acordo com os

critérios de justiça. Conforme o art. 127 do

Código de Processo Civil, a decisão por

equidade depende de expressa autorização

no ordenamento jurídico. Nessa linha, o art. 766

da CLT estabelece que nos dissídios sobre

estipulação de salários serão estabelecidas

condições que, assegurando justos salários aos

trabalhadores, permitam também justa

retribuição às empresas interessadas, indicando a

importância da equidade no exercício do Poder

Normativo pela Justiça do Trabalho.

REVOGAÇÃO

Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou a revogue (art.

2º, caput, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), ao passo que a lei não perde vigência

por desuso ou costume, somente podendo ser modificada ou revogada por outra lei (art. 2º da Lei de

Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

(Vide Lei nº 3.991, de 1961)

§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou

quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

De outro lado, a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela

incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que trata a lei anterior (art. 2º, §1º da Lei de

Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

Assim, a perda de vigência de uma lei pode ocorrer pelo decurso do tempo (lei de vigência temporária)

ou em razão de sua revogação por outra lei. A revogação de uma lei por outra pode ser:

a) Total (ab-rogação);

b) Parcial (derrogação);

c) Expressa (a lei nova determina expressamente a revogação da anterior);

d) Tácita (a lei nova dispõe de maneira diferente da lei anterior sobre a mesma matéria - a lei

posterior revoga a anterior – ou a lei nova regula inteiramente a matéria versada na lei

anterior).

Page 11: Ponto 04 - Direito Do Trabalho

Acrescente-se que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,

não revoga nem modifica a lei anterior.

Por fim, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter lei revogadora perdido a

vigência. Destarte, em regra, a lei revogada não recupera a sua vigência em razão de a lei que a

revogou perder a sua vigência (salvo disposição em contrário, portanto, não ocorre a denominada

repristinação).

DIREITO ADQUIRIDO

A constituição da República a todos assegura o direito fundamental à segurança (art. 5º, caput). Entre

as formas de manifestação do direito à segurança está a proibição de a lei prejudicar o direito

adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF).

Dispõe o art. 6º, §1º, da LINDB que se consideram direitos adquiridos os direitos que o seu

titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha

termo prefixado, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

Para doutrina, o direito é adquirido quando é consequência de um fato idôneo a produzi-lo

em virtude da lei vigente ao tempo em que se efetuou, embora a ocasião de fazê-lo valer

não se tenha apresentado antes da atuação da lei nova, sob o império da lei então vigente,

integrou-se imediatamente no patrimônio do seu titular.

Assim, direito adquirido é direito exercitável, por força da ocorrência dos fatos que a lei vigente ao

tempo desta ocorrência considera idôneos para a sua constituição e do alcance do termo prefixado ou

atendimento de condição preestabelecida inalterável ao arbítrio de outrem, e que já se incorporou ao

patrimônio jurídico do seu titular.

Dizendo de outra forma, ocorridos os fatos que a lei vigente quando de sua verificação considera

suficientes para a constituição do direito e sendo alcançado o termo prefixado ou atendida a condição

preestabelecida inalterável ao arbítrio de outrem, o direito entra no patrimônio jurídico do seu titular e

passa a fazer parte dele, alcançando o status de direito adquirido.

Vale chamar a atenção para o fato de que, como aduz Caio Mário Da Silva Pereira, o direito adquirido

não se confunde com a expectativa de direito, posto que, enquanto direito adquirido é a

consequência de um fato aquisitivo que se realizou por inteiro, a expectativa de direito, que traduz

uma simples esperança, resulta de um fato aquisitivo incompleto (...). Os direitos adquiridos, oriundos

de fatos que se realizaram por inteiro em consonância com a lei velha e ao tempo de sua vigência, e se

incorporaram definitivamente ao patrimônio do sujeito não são alcançados pela lei nova e, portanto,

continuam a reger-se pela lei antiga, que desta sorte estende o plano da sua eficácia por um tempo

ulterior ao momento em que é revogada. As expectativas de direito, isto é, aquelas situações ou

relações aderentes ao indivíduo, provenientes de fato aquisitivo incompleto, e por isso mesmo não

integradas definitivamente no seu patrimônio, são atingidas pela retroatividade da lei nova, que passa

a discipliná-la desde o momento em que começa a vigorar.