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DIREITO PENAL 1 DIREITO PENAL PONTO 1: Lavagem de Dinheiro PONTO 2: Análise dos Crimes Antecedentes PONTO 3: Tipo Subjetivo PONTO 4: Aspectos Processuais 1. Lavagem de Dinheiro: Conceito: Lavagem de dinheiro “pode ser conceituada como atividade de desvinculação ou afastamento do dinheiro da sua origem ilícita para que possa ser aproveitado”. (BALTAZAR, 2010, p. 598) Compreendendo a criminalização da Lavagem de Dinheiro: Qual seria a vantagem de praticar ilícitos para obter dinheiro fácil se não se pudesse usufruir deste benefício material? Objetivo primordial do tipo penal: - Provar que o crime não compensa. Outros objetivos (MORO, 2010, p. 16-18): - incrementar as chances de confisco do produto do crime; - promover a "asfixia econômica" do crime organizado; - viabilização da punição do líder de organização, que "não suja as mãos com o pó branco da cocaína ou com o sangue da vítima" (MORO, 2010, p. 18). Bem jurídico tutelado (BALTAZAR, 2010, p. 599): Vários posicionamentos: - Mesmo do crime antecedente. - Administração da Justiça, ao lado da ordem econômica e sistema financeiro – crime pluriofensivo. - Ordem econômica e do sistema financeiro. Fases da Lavagem de Dinheiro (MORO, 2010, p. 32): - Colocação (placement) – desvinculação da origem.

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DIREITO PENAL

1

DIREITO PENAL

PONTO 1: Lavagem de Dinheiro PONTO 2: Análise dos Crimes Antecedentes PONTO 3: Tipo Subjetivo PONTO 4: Aspectos Processuais

1. Lavagem de Dinheiro:

Conceito:

Lavagem de dinheiro “pode ser conceituada como atividade de desvinculação ou

afastamento do dinheiro da sua origem ilícita para que possa ser aproveitado”. (BALTAZAR,

2010, p. 598)

Compreendendo a criminalização da Lavagem de Dinheiro:

Qual seria a vantagem de praticar ilícitos para obter dinheiro fácil se não se pudesse

usufruir deste benefício material?

Objetivo primordial do tipo penal:

- Provar que o crime não compensa.

Outros objetivos (MORO, 2010, p. 16-18):

- incrementar as chances de confisco do produto do crime;

- promover a "asfixia econômica" do crime organizado;

- viabilização da punição do líder de organização, que "não suja as mãos com o pó branco da

cocaína ou com o sangue da vítima" (MORO, 2010, p. 18).

Bem jurídico tutelado (BALTAZAR, 2010, p. 599):

Vários posicionamentos:

- Mesmo do crime antecedente.

- Administração da Justiça, ao lado da ordem econômica e sistema financeiro – crime

pluriofensivo.

- Ordem econômica e do sistema financeiro.

Fases da Lavagem de Dinheiro (MORO, 2010, p. 32):

- Colocação (placement) – desvinculação da origem.

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- Dissimulação ou circulação (layering) – realização de atos que visam "impedir ou dificultar o

rastreamento".

- Integração (integration) – reintegração dos valores em propriedades ou negócios com

aparência de investimento lícito.

Gerações da Lavagem de Dinheiro (Baltazar, 2010, p. 601):

- Primeira Geração => tráfico como único crime antecedente.

- Segunda Geração => rol de crimes (leis italiana e brasileira**).

- Terceira Geração => qualquer crime grave (CP Espanha).

Tipologia:

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou

propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

Tipologia (MORO, 2010, p. 29):

Para o autor, os verbos nucleares são os equivalentes a "esconder" ou "disfarçar".

De certa forma, quem dissimula, também oculta, o que demonstra a intenção do

legislador de "tornar o tipo mais abrangente e evitar dúvidas interpretativas".

Sem ocultação ou dissimulação, não há crime.

Veja-se o seguinte trecho do seguinte julgado: TRF4, ACR 2007.71.00.033740-6,

Sétima Turma, Relator Néfi Cordeiro, D.E. 06/10/2011.

"Na espécie, verifico que, apesar de ter restado demonstrada a prática do delito de

evasão de divisas, por ter o réu conduzido para fora do País, sem a devida autorização legal, o

montante de US$ 254.560,88 (duzentos e cinqüenta e quatro mil quinhentos e sessenta dólares

e oitenta e oito centavos), não foi comprovada a prática do crime de lavagem de capitais, nos

termos pretendidos pela acusação. Com efeito, o fato atribuído ao acusado de portar moeda

trocada no exterior não tipifica quaisquer das condutas descritas no dispositivo acima referido,

na medida em que o numerário apreendido não chegou a ser utilizado para ocultar ou

dissimular a sua origem ilícita.

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Dessa forma, não tendo havido a efetiva dissimulação da origem e escondimento de

dinheiro próprio, proveniente de prévio crime financeiro, impõe-se a absolvição do réu, com

fulcro no artigo 386, inciso III, do Código Penal".

Tipologia (MORO, 2010, p. 31):

Ao falar em "bens, direitos e valores", o tipo "contempla qualquer benefício de

natureza econômica, material ou imaterial".

Classificação do crime (BALTAZAR, 2010, p. 599-600):

- crime comum;

- admite autoria e participação;

- desnecessária a participação no crime antecedente;

- doloso;

- Crime derivado ou acessório – depende do antecedente. O rol é taxativo

EXTRADIÇÃO. TRATADO DE EXTRADIÇÃO (DECRETO 1.325/1994). NATUREZA

INSTRUTÓRIA DO PLEITO. ACUSAÇÕES DE BURLA QUALIFICADA,

FALSIFICAÇÃO E BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS. REQUISITOS LEGAIS

ATENDIDOS PARA A EXTRADIÇÃO DO ESTRANGEIRO TÃO-SOMENTE

QUANTO AO DELITO DE BURLA QUALIFICADA. DUPLA TIPICIDADE E DUPLA

PUNIBILIDADE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO QUANTO AOS CRIMES DE

FALSIFICAÇÃO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. FALTA DE

DUPLA TIPICIDADE QUANTO AO CRIME DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS.

CRIME ANTECEDENTE. ROL TAXATIVO DO ART. 1º DA LEI 9.613/1998.

EXTRADIÇÃO PARCIALMENTE DEFERIDA. (...)5. Impossibilidade de deferimento do

pedido, no tocante ao crime português de branqueamento de capitais. É que o art. 1º da Lei

9.613/1998 estabelece um rol taxativo dos delitos antecedentes que gerariam o crime brasileiro

de “Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores”. Rol taxativo, esse, que não

contempla as infrações penais antecedentes, supostamente cometidas pelo ora extraditando. 6.

Extradição parcialmente deferida. (Ext 1194, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal

Pleno, julgado em 11/11/2010, DJe020 DIVULG 31-01-2011 PUBLIC 01-02-2011 EMENT

VOL-02454-01 PP-00023)

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2. Análise dos Crimes Antecedentes:

Importante:

Crimes contra a ordem tributária não são antecedentes de lavagem de dinheiro.

Fundamento:

Não se agregaria patrimônio neste crime. O agente apenas deixaria de pagar o tributo.

Assim, a sonegação produz “dinheiro negro, mas não dinheiro sujo” (BALTAZAR,

2010, p. 602)

I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;

Baltazar (2010, p. 602) lembra que a Lei 11.343/06 não fala em tráfico.

Para o citado autor, a associação estaria abrangida como crime antecedente, diante do

mencionado no art. 44 da Lei, que estende a este crime os rigores dos crimes equiparados a

hediondos.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e

insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de

suas penas em restritivas de direitos.

Sérgio Moro (2010, p. 36) fala apenas nos crimes previstos na Lei 11.343/06.

Posição do Professor: qualquer crime previsto na Lei 11.343/06, desde que gere lucro,

o que exclui o consumo próprio e o fornecimento gratuito de entorpecente.

II – de terrorismo e seu financiamento;

Não existe tipo com este nome (terrorismo). Contudo, afigura-se claro que o

terrorismo é criminalizado pelo art. 20 da Lei 7.170/83, Lei de Segurança Nacional.

Art. 20 -Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado,

incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por

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inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações

políticas clandestinas ou subversivas.

Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se

resulta morte, aumenta-se até o triplo.

Baltazar (2010, p. 603) entende que a Lei de Lavagem se refere ao art. 20 da Lei de

Segurança Nacional.

Ao contrário de Rodolfo Tigre Maia (2007, p. 76), que entende, em síntese, que não há

um crime com nomen iuris terrorismo, de sorte que estaríamos violando a reserva legal.

Sérgio Moro (2010, p. 37-38) também demonstra sua preocupação com a inexistência

de um tipo penal com nomen iuris de terrorismo.

Como não haveria crime de terrorismo aqui, em consequência não seria lavagem de

dinheiro reciclar bens originários do terrorismo.

Posição pessoal.

Ver Informativo do STF n.º 593, Transcrições:

Aqui se registrou a polêmica em torno da existência ou não do delito de terrorismo,

mas foram solicitadas informações sobre os fatos imputados ao agente, para ver se há

atendimento ao princípio da dupla tipicidade.

III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;

Arts. 17 e 18 da Lei 10.826/03. O art. 334 se enquadra no inciso V, como bem salienta

Sérgio Moro (2010, p. 38).

Comércio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,

montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito

próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou

munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

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Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo,

qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino,

inclusive o exercido em residência.

Tráfico internacional de arma de fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer

título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

IV - de extorsão mediante seqüestro;

- Art. 159, CP.

V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de

atos administrativos;

Para Baltazar (2010, p. 604), aqui estariam incluídos não só os delitos previstos no

capítulo assim nominado do CP, mas também os crimes da Lei de Licitações, do DL 201/67

(Prefeitos), eleitorais, funcionais contra a ordem tributária, entre outros. DESDE QUE

TRAGAM VANTAGEMECONÔMICA.

VI - contra o sistema financeiro nacional;

- Lei 7.492/86

VII - praticado por organização criminosa.

Convenção de Palermo e Crime Antecedente da Lavagem de Dinheiro

Para Baltazar (2010, p. 155) e Moro (2010, p. 40) o conceito da Convenção pode ser

utilizado para caracterizar o crime antecedente de Lavagem de Dinheiro.

A Lei de Lavagem fala em crimes praticados por organização criminosa.

Para Rodrigo Carneiro Gomes (2008, p.105) e Luiz Flávio Gomes, não!

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Como se posiciona a jurisprudência?

A tendência majoritária vem admitindo o uso do conceito da Organização de Palermo

para fins de tipificação do crime de lavagem de dinheiro.

HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO. INCISO VII DO ART. 1.º DA LEI N.º

9.613/98. APLICABILIDADE. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CONVENÇÃO DE

PALERMO APROVADA PELO DECRETO LEGISLATIVO N.º 231, DE 29 DE MAIO

DE 2003 E PROMULGADA PELO DECRETO N.º 5.015, DE 12 DE MARÇO DE

2004.AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE

ELEMENTOS SUFICIENTES PARA A PERSECUÇÃO PENAL.

1. Hipótese em que a denúncia descreve a existência de organização criminosa que se valia da

estrutura de entidade religiosa e empresas vinculadas, para arrecadar vultosos valores,

ludibriando fiéis mediante variadas fraudes – mormente estelionatos –, desviando os

numerários oferecidos para determinadas finalidades ligadas à Igreja em proveito próprio e de

terceiros, além de pretensamente lucrar na condução das diversas empresas citadas, algumas

por meio de “testas-de-ferro”, desvirtuando suas atividades eminentemente assistenciais,

aplicando seguidos golpes.

2. Capitulação da conduta no inciso VII do art. 1.º da Lei n.º 9.613/98, que não requer

nenhum crime antecedente específico para efeito da configuração do crime de lavagem de

dinheiro, bastando que seja praticado por organização criminosa, sendo esta disciplinada no

art. 1.º da Lei n.º 9.034/95, com a redação dada pela Lei n.º 10.217/2001, c.c. o Decreto

Legislativo n.° 231, de 29 de maio de 2003, que ratificou a Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto n.º 5.015, de 12 de

março de 2004. Precedente. (...) (HC 77.771/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA

TURMA, julgado em 30/05/2008, DJe 22/09/2008)

(...) I. O delito de quadrilha ou bando, capitulado no art. 288 do Código de Processo Penal,

trata-se de crime autônomo, que independe dos crimes posteriores que venham a ser

cometidos pelos agentes.

II. A conceituação de organização criminosa se encontra definida no nosso ordenamento

jurídico pelo Decreto 5.015, de 12 de março de 2004, que promulgou a Convenção das Nações

Unidas contra o Crime Organizado Transnacional -Convenção de Palermo, que entende por

grupo criminoso organizado, "aquele estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum

tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves

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ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um

benefício econômico ou outro benefício material".

III. As sanções do crime tipificado no art. 1º, VII, da Lei 9.613/98, que difere do crime de

quadrilha definido no art. 288 do Código Penal, alcançam o agente que oculta ou dissimule a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens direitos ou

valores provenientes, direita ou indiretamente, de crimes praticados por organização criminosa,

ou seja, que auferem vantagens ilícitas advindas dos crimes efetuados pelo crime organizado.

IV. Interpretando-se o § 4º do art. 1º da referida Lei, a causa de aumento ali elencada deve ser

aplicada ao agente que oculta ou dissimule a natureza, origem, localização, disposição,

movimentação ou propriedade de bens direitos ou valores provenientes, direita ou

indiretamente, dos crimes elencados nos incisos I a VI, do art. 1º, da Lei de lavagem de

dinheiro, por intermédio da organização criminosa, isto é, necessita ser membro da

organização. (...) (HC 171.912/SP, Rel. MIN. GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em

13/09/2011, DJe 28/09/2011)

(...) 1. O conceito jurídico da expressão organização criminosa ficou estabelecido em nosso

ordenamento com o Decreto n.º 5.015, de 12 de março de 2004, que promulgou o Decreto

Legislativo nº 231, de 29 de maio de 2003, que ratificou a Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo). Precedentes desta Corte e

do Supremo Tribunal Federal.

2. A Lei nº 9.613/98 não só estabelece, em seu art. 1º, um rol de crimes antecedentes ao de

lavagem, como também autoriza que outros delitos nela não especificados venham a constituir

crimes antecedentes, desde que cometidos por organização criminosa. Assim, possível a

imputação do crime de lavagem de capitais quando os recursos financeiros foram obtidos por

organização criminosa, não havendo necessidade de se elencar quais seriam as supostas

condutas por ela perpetradas a fim de se obter as vantagens econômicas indevidas. (…) (HC

129.035/PE, Rel. MIN. CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/SP), Rel. p/ Acórdão MIN. HAROLDO RODRIGUES

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em

16/08/2011, DJe 03/11/2011)

Há que se atentar para o Caso Renascer, que chegou ao STF.

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Já há votos por parte dos Ministros Marco Aurélio e Tóffoli no sentido na

inaplicabilidade da Convenção de Palermo para tal fim.

Informativo 567:

Inicialmente, ressaltou que, sob o ângulo da organização criminosa, a inicial acusatória

remeteria ao fato de o Brasil, mediante o Decreto 5.015/2004, haver ratificado a Convenção

das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional -Convenção de Palermo

(“Artigo 2 Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) ‘Grupo criminoso

organizado’ -grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando

concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na

presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício

econômico ou outro benefício material;”). Em seguida, aduziu que, conforme decorre da Lei

9.613/98, o crime nela previsto dependeria do enquadramento das condutas especificadas no

art. 1º em um dos seus incisos e que, nos autos, a denúncia aludiria a delito cometido por

organização criminosa (VII). Disse que o parquet, a partir da perspectiva de haver a definição

desse crime mediante o acatamento à citada Convenção das Nações Unidas, afirmara estar

compreendida a espécie na autorização normativa.

Tendo isso em conta, entendeu que tal assertiva mostrar-se-ia discrepante da premissa

de não existir crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF,

art. 5º, XXXIX). Asseverou que, ademais, a melhor doutrina defenderia que a ordem jurídica

brasileira ainda não contempla previsão normativa suficiente a concluir-se pela existência do

crime de organização criminosa. Realçou que, no rol taxativo do art. 1º da Lei 9.613/98, não

consta sequer menção ao delito de quadrilha, muito menos ao de estelionato — também

narrados na exordial. Assim, arrematou que se estaria potencializando a referida Convenção

para se pretender a persecução penal no tocante à lavagem ou ocultação de bens sem se ter o

delito antecedente passível de vir a ser empolgado para esse fim, o qual necessitaria da edição

de lei em sentido formal e material. Estendeu, por fim, a ordem aos co-réus. Após, pediu vista

dos autos a Min. Cármen Lúcia. HC 96007/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 10.11.2009. (HC-

96007)

Conclusão:

- É preciso acompanhar a questão;

- Lembrando-se que o STF recebeu a denúncia, no caso Mensalão, no tocante à acusação do

art. 1º, VII, da Lei de Lavagem de Dinheiro;

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DIREITO PENAL

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Convenção de Palermo - Artigo 2:

Terminologia:

Para efeitos da presente Convenção, entende-se por:

a) "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há

algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações

graves ou enunciadas na presente Convenção, com a

intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício

material;

b) "Infração grave" - ato que constitua infração punível com uma pena de privação de

liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior;

c) "Grupo estruturado" - grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de

uma infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que

não haja continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada;

(...) VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-

B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal).

(Inciso incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)

Pena: reclusão de três a dez anos e multa.

Desnecessidade de requintada engenharia financeira.

Lavagem de dinheiro: L. 9.613/98: caracterização. O depósito de cheques de terceiro recebidos

pelo agente, como produto de concussão, em contas-correntes de pessoas jurídicas, às quais

contava ele ter acesso, basta a caracterizar a figura de "lavagem de capitais" mediante ocultação

da origem, da localização e da propriedade dos valores respectivos (L. 9.613, art. 1º, caput): o

tipo não reclama nem êxito definitivo da ocultação, visado pelo agente, nem o vulto e a

complexidade dos exemplos de requintada "engenharia financeira" transnacional, com os quais

se ocupa a literatura. (RHC 80816, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira

Turma, julgado em 18/06/2001, DJ 18-06-2001 PP-00013 EMENT VOL-02035-02 PP-

00249)

Mero proveito não configura lavagem:

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DIREITO PENAL

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(...) I - O mero proveito econômico do produto do crime não configura lavagem de dinheiro,

que requer a prática das condutas de ocultar ou dissimular. Assim, não há que se falar em

lavagem de dinheiro se, com o produto do crime, o agente se limita a depositar o dinheiro em

conta de sua própria titularidade, paga contas ou consome os valores em viagens ou

restaurantes. (…) (APn .458/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/

Acórdão Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em

16/09/2009, DJe 18/12/2009)

Aplicação em novos crimes:

(...) O crime de lavagem de dinheiro consuma-se com a prática de quaisquer das condutas

típicas descritas ao longo do artigo 1º da lei de regência, sendo, pois, desnecessário que o

agente proceda à conversão dos ativos ilícitos em lícitos. Basta a mera ocultação/dissimulação

do dinheiro oriundo do crime anterior, sem a necessidade de recorrer, na precisa lição do Min.

Sepúlveda Pertence (RHC 80.816-6/SP, DJ de 18-06-2001), aos requintes de engenharia

financeira. Logo, deixar de punir o branqueamento só porque o capital obtido ilicitamente foi

empregado em nova prática delitiva, seja ela consumada ou tentada, ensejaria grave paradoxo

na repressão penal ao beneficiar o agente que já praticou dois crimes

anteriores (delito antecedente da lavagem e a própria ocultação de capitais) e persiste no

submundo do crime, em detrimento daquele sujeito que se limita a ocultar das autoridades

estatais, mediante exclusiva aquisição de bens lícitos, o numerário auferido com a prática de

uma das condutas típicas arroladas nos incisos I a VIII do artigo 1º da Lei nº 9.613/98. (...)

(TRF4, ACR 2006.71.00.032684-2, Oitava Turma, Relator Paulo Afonso Brum Vaz, D.E.

22/07/2009)

Prática do crime por contador e advogado:

PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES. LAVAGEM DE DINHEIRO.

RESPONSABILIDADE PENAL DO ADVOGADO E DO CONTADOR.

INEXISTÊNCIA DE DEVER DE COLABORAÇÃO. AUSÊNCIA DE

CIRCUNSTÂNCIAS FACTUAIS OBJETIVAS. ABSOLVIÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1.

Os artigos 9º e 10 da Lei 9.613/98 não incluem o contador e o advogado entre os profissionais

que possuem dever de colaboração (compliance) com a repressão à lavagem de dinheiro

(identificação de clientes, manutenção de registros e comunicação de operações financeiras

com sérios indícios de lavagem de dinheiro). 2. O próprio Conselho Federal de Contabilidade

não exige do contador a obrigação de fiscalizar a veracidade das informações que lhe são

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DIREITO PENAL

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repassadas pelos seus clientes, conforme muito bem observou o ilustre Juiz Federal Eduardo

Gomes Philippsen na sentença proferida na AP nº 2007.71.04.004606-0/RS. Evidentemente,

isso não significa que um profissional da contabilidade jamais poderá ser responsabilizado

criminalmente. Por ocasião do julgamento da ACR nº 2004.04.01.025529-6, Rel. Juíza Federal

ELOY BERNST JUSTO, D.E. 28-06-2007, a Oitava Turma da Corte teve a oportunidade de

manter a condenação por sonegação fiscal de um contador que trabalhava em um

departamento de contabilidade exclusivo da aludida escola de informática, o qual controlava

diretamente todas as falsidades fiscais que propiciaram vultoso crime contra a ordem tributária.

(...) 3. Ademais, a simples prestação de serviços advocatícios pelo acusado (contador e

advogado) por ocasião da constituição da empresa utilizada para a ocultação de capital

proveniente de tráfico internacional de drogas não é, por si só, suficiente para justificar a sua

condenação, porque a acusação não logrou êxito em indicar na denúncia e comprovar ao

longo da instrução que o réu teria incorrido no tipo penal do artigo 1º, inciso I, § 2º, I e II da

Lei 9.613/98, isto é, que sabia dos propósitos obscuros da aludida pessoa jurídica. 4. Portanto,

se é verdade que advogados e contadores também podem praticar o branqueamento de

capitais quando as circunstâncias factuais objetivas preconizadas pelo artigo 6º, item 2, "f", da

Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (v.g. pagamento de

honorários em espécie, valores fracionados, em joias) demonstrarem que houve subversão da

sua atuação profissional, orientando e auxiliando, direta ou indiretamente, seus clientes no

desiderato de ocultar ou dissimular valores provenientes dos delitos precedentes, também é

certo que esses profissionais liberais não podem ser incriminados pelo simples contato que

tiverem com os autores dos crimes antecedentes quando o órgão acusatório deixar de

demonstrar, com segurança, como no caso em tela, os aspectos que denotam a ciência dos fins

ilícitos da assessoria prestada. 5. Embargos infringentes providos. (TRF4, ENUL

2007.70.00.026565-0, Quarta Seção, Relator Paulo Afonso Brum Vaz, D.E. 24/06/2011)

Análise dos Crimes Demais Figuras Típicas:

§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou

valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo:

I - os converte em ativos lícitos;

II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito,

movimenta ou transfere;

III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

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DIREITO PENAL

13

Moro (2010, p. 41) lembra que no § 1° se exige o fim especial de ocultar ou dissimular.

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem

provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo; (...)

Para Moro (2010, p. 43-45), o § 2º, I, demonstra que um dos principais objetivos da

criminalização da lavagem de dinheiro é a proteção da ordem econômica e financeira.

Não basta apenas o emprego de bens, direitos e valores provenientes dos crimes

antecedentes. É preciso empregá-los em atividade financeira ou econômica.

Ressalta o autor, também, que, para a consumação do delito, não é necessário a prática

de ocultação ou dissimulação.

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:

(...) II -participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade

principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.

MORO, 2010, p. 46:

=> tipo autônomo de participação em organização criminosa

=> não se pode aplicar também o tipo referente à quadrilha, sob pena de bis in idem.

Para Baltazar (2010, p. 614), tanto o caput, quanto os §§ 1º e 2º são mistos alternativos,

consumando-se com a prática de quaisquer das condutas nele elencadas.

Pode haver concurso material com o delito antecedente (BALTAZAR, 2010, p. 615).

3. Tipo Subjetivo:

Lavagem de dinheiro é um tipo doloso.

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DIREITO PENAL

14

Apesar da polêmica existente, Sérgio Moro (2010, p. 62) entende que o art. 1º, caput,

admite o dolo eventual, não se podendo alegar a ausência de expressa previsão legal em face ao

art. 18 do Código Penal.

Não se pode dizer o mesmo do § 1º, I, II e III, posto que aqui se exige o fim específico

de ocultar ou dissimular (MORO, 2010, p. 62).

Teoria da Cegueira Deliberada – “Willfull blindness ou conscius avoidance doctrine”.

Ocorre quando: a) o agente tinha ciência da elevada probabilidade da proveniência dos bens,

direito e valores, e b) mesmo assim, agiu de modo indiferente (MORO, 2010, p. 66).

Evasão x Lavagem:

A evasão de divisas é absorvida pelo delito de lavagem de dinheiro? DEPENDE:

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM MATÉRIA

PENAL. MLAT. REGRAS PROCESSUAIS DO ESTADO REQUERIDO. TRADUÇÃO.

IRREGULARIDADE. INOCORRÊNCIA. OPERAÇÃO DE INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA IRREGULAR. GESTÃO FRAUDULENTA. IMPOSSIBILIDADE.

EVASÃO DE DIVISAS ATRAVÉS DE OPERAÇÕES DE "DOLÁR-CABO". LAVAGEM

DE DINHEIRO. CONCURSO MATERIAL. (...) 7. Não ficando configurada a absorção do

crime de evasão de divisas pelo delito de lavagem de dinheiro quando o agente promove, na

condição de "doleiro", a evasão de divisas para os seus clientes e oculta a milionária quantia

evadida nas contas bancárias mantidas no exterior, em nome de

offshore constituída em paraíso fiscal, impõe-se a aplicação do concurso material de delitos,

consoante iterativa jurisprudência deste Tribunal. (TRF4, ACR 2005.70.00.034205-1, Oitava

Turma, Relator Paulo Afonso Brum Vaz, D.E. 10/03/2010)

PENAL. PROCESSO PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. ART.

334 DO CP. ART. 22 DA LEI 7.492/86. INCISOS VE VI DO ART. 1º, § 1º, I E § 2º, I, DA

LEI Nº 9.613/98. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. ABSORÇÃO DO CRIME DE

EVASÃO DE DIVISAS PELO DELITO DE LAVAGEM DE DINHEIRO.

POSSIBILIDADE. LAVAGEM DE DINHEIRO. ELEMENTO

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DIREITO PENAL

15

SUBJETIVO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. (...). 3. Quantias que foram empregadas

para a realização de outras importações e pagamento dos fornecedores localizados no exterior,

através do crime de evasão de divisas, procurando dar a elas uma aparência de licitude, razão

pela qual se constituiu numa das etapas para emprestar efetividade ao delito e lavagem de

dinheiro, sendo por este absorvido. (...) (TRF4, ENUL 2000.71.00.041264-1, Quarta Seção,

Relator Tadaaqui Hirose, D.E. 10/02/2010)

Causa de Aumento de Pena:

§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do

caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio deorganização

criminosa. (...)

IV. Interpretando-se o § 4º do art. 1º da referida Lei, a causa de aumento ali elencada deve ser

aplicada ao agente que oculta ou dissimule a natureza, origem, localização, disposição,

movimentação ou propriedade de bens direitos ou valores

provenientes, direita ou indiretamente, dos crimes elencados nos incisos I a VI, do art. 1º, da

Lei de lavagem de dinheiro, por intermédio da organização criminosa, isto é, necessita ser

membro da organização. (...) (HC 171.912/SP, Rel. MIN. GILSON DIPP, QUINTA

TURMA, julgado em 13/09/2011, DJe 28/09/2011)

Colaboração:

§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto,

podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-

autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos

que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens,

direitos ou valores objeto do crime.

Lei de Proteção às Testemunhas - Lei 9.807/99:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a

conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado

efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa

colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

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DIREITO PENAL

16

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do

beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o

processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização

da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de

condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

4. Aspectos Processuais:

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:

I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos com

reclusão, da competência do juiz singular;

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo

anterior, ainda que praticados em outro país; (...)

O inciso II deve ser combinado com o § 1.º

Art. 2º (...)

§ 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime antecedente,

sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor

daquele crime.

Acessoriedade Limitada:

Baltazar ensina que, no Brasil, foi adotada a teoria da acessoriedade limitada, pois o

crime de lavagem é independente do processo e julgamento do crime antecedente, ainda que

em outro país.

A referida teoria também é chamada de Princípio da Autonomia, como se percebe no

julgado a seguir.

Princípio da Autonomia:

(...) 5. O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da

Autonomia, não se exigindo, para que a denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de

dinheiro seja considera apta, prova concreta da ocorrência de uma das infrações penais

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DIREITO PENAL

17

exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art. 1º do referido diploma legal, bastando a

existência de elementos indiciários de que o capital lavado tenha origem em algumas das

condutas ali previstas. 6. A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a

condenação, independente da existência de processo pelo crime antecedente. (...) (HC 93368,

Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011, DJe-163 DIVULG 24-

08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

(...) 4 -A majoritária jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a

apuração do crime de lavagem de dinheiro é autônoma e independe do processamento e da

condenação em crime antecedente, sendo necessário apenas sejam apontados os indícios

suficientes da prática do delito anterior.

(...) 8 -Por outro ponto, também mostra-se inviável o trancamento da ação penal em relação ao

crime de lavagem de capitais se a denúncia imputa à paciente a prática de crimes de lavagem de

dinheiro, formação de quadrilha e descaminho, todos praticados dentro de estruturada

organização criminosa, adequando-se as condutas na previsão do inciso VII do art. 1º da Lei

nº 9.613/1998. (...) (HC 137.628/RJ, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em

26/10/2010, DJe 17/12/2010)

(...) 3. O delito de lavagem de dinheiro é autônomo e independente dos crimes antecedentes,

motivo pelo qual pode se configurar mesmo sem que os demais sejam alvo de sentença

condenatória. Precedentes. (...) (HC 87.843/MS, Rel. Ministra JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em

25/11/2008, DJe 19/12/2008)

(…) A denúncia não precisa trazer prova cabal acerca da materialidade do crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro. Nos termos do art. 2º, II e § 1º, da Lei 9.613/1998, o processo e

julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro "independem do processo e julgamento dos

crimes antecedentes", bastando que a denúncia seja "instruída com indícios suficientes da

existência do crime antecedente", mesmo que o autor deste seja "desconhecido ou isento de

pena". Precedentes (HC 89.739, rel. min. Cezar Peluso, DJe-152 de 15.08.2008). (…) (HC

94958, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 09/12/2008,

DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734)

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DIREITO PENAL

18

Mas...

PENAL CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. ART. 1º, VI, DA

LEI Nº 9.613/98. NORMA SUPLEMENTAR DO BACEN. DISPENSAVA DE

DECLARAÇÃO. CRIME ANTECEDENTE À LAVAGEM DE DINHEIRO.

ATIPICIDADE. (...) Não configurada a materialidade da conduta apontada como crime

antecedente, atípica a conduta imputada como crime de lavagem de dinheiro. (TRF4, ACR

2003.72.00.008866-0, Oitava Turma, Relator Nivaldo Brunoni, D.E. 03/03/2010)

Conclusão:

Isto é: Recebimento da denúncia: indícios da prática dos crimes antecedentes

Sentença: certeza de que os valores dissimulados são oriundos do crime antecedente,

mesmo que não haja condenação ou mesmo processo sobre este delito.

Aspectos Processuais (MORO, 2010, p. 89):

Muito embora a prova indiciária viabilize o recebimento da denúncia, a condenação

demandará a prova categórica no sentido de que o objeto do crime é fruto da prática de crime

antecedente.

A prova categórica, contudo, pode ser constituída tão somente de prova indireta.

A aceitação da prova indiciária é fruto do Princípio da Livre Convicção Motivada.

Participação em crime antecedente:

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. EXORDIAL

ACUSATÓRIA QUE DESCREVE, SATISFATORIAMENTE, CONDUTA, EM TESE,

DELITUOSA. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO NO RECEBIMENTO DA

DENÚNCIA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. DESNECESSIDADE DE PROVA DE

PARTICIPAÇÃO EM CRIMES ANTECEDENTES. TRANCAMENTO DA AÇÃO

PENAL. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.

1. O art. 1.º da Lei n.º 9.613/98 não requer prova de participação em crime antecedente

específico para efeito de configuração do crime. Precedentes do STF e do STJ.

2. Segundo já decidiu esta Corte "[a] participação no crime antecedente não é indispensável à

adequação da conduta de quem oculta ou dissimula a natureza, origem, localização, disposição,

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DIREITO PENAL

19

movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou

indiretamente, de crime, ao tipo do art. 1.º, da Lei n.º 9.613/98." (RMS 16813/SP, 5.ª Turma,

Rel. Ministro GILSON DIPP, DJ 02/08/2004.) (...) (HC 119.130/RJ, Rel. Ministra LAURITA

VAZ, QUINTA TURMA, julgado em

08/02/2011, DJe 28/02/2011)

Prescrição e Crime Antecedente:

PENAL E PROCESSO PENAL. LEI Nº 7492/86, ARTIGO 22, PARÁGRAFO ÚNICO.

EVASÃO DE DIVISAS. PRESCRIÇÃO. LEI Nº9.613/98, ARTIGO 1º, INCISO VI.

LAVAGEM DE DINHEIRO. ABSOLVIÇÃO. 1. A prescrição reconhecida quanto ao

demonstrado crime de evasão de divisas, pela manutenção de depósitos no exterior sem a

devida declaração à autoridade competente, não exclui sua admissão como necessário crime

antecedente à lavagem de dinheiro. 2. (...). (TRF4, ACR 2003.72.00.015235-0, Sétima Turma,

Relator Luiz Carlos Canalli, D.E. 24/02/2010)

Emendatio Libelli:

PROCESSUAL PENAL. EMENDATIO LIBELLI NAS ALEGAÇÕES FINAIS.

ACUSAÇÃO DE LAVAGEM DE DINHEIRO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME

DO ART. 22, PARÁGRAFO ÚNICO, PARTE FINAL DA LEI 7.492/86.

POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO ART. 383 DO CPC AO CASO CONCRETO.

INVIABILIDADE DE CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO.

IMPROVIDOS.

I - Na acusação por lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98), tendo a denúncia narrado

em detalhes o crime antecedente (art. 22, parágrafo único, parte final da Lei nº 7.492/86), é

possível acolher, em sede de alegações finais, proposta do Ministério Público para que

julgamento final ocorra apenas em vista do delito antecedente.

II - Aplicação do art. 383 do Código de Processo Penal.

III - Ausência de prejuízo aos réus que por mais de uma oportunidade teceram considerações

escritas acerca da não materialização do crime antecedente.

IV - Inviabilidade de concessão de habeas corpus de ofício, dada a complexidade das provas a

serem examinadas.

V - Agravos improvidos. (AP 461 AgR-terceiro, Relator(a): Min. RICARDO

LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2011, DJe-160 DIVULG 19-08-2011

PUBLIC 22-08-2011 EMENT VOL-02570-01 PP-00001)

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DIREITO PENAL

20

Caráter transnacional (MORO, 2010, p. 23):

O referido inciso II é explícito ao mencionar que o crime antecedente pode ser

praticado em outro país.

(...) IV - A adequação da conduta praticada no exterior a um dos crimes antecedentes previstos

no rol taxativo do art. 1º da Lei 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro) se submete ao princípio da

dupla incriminação, segundo o qual, o fato deve ser considerado ilícito penal também no país

de origem. Além disso, o enquadramento legal da conduta deve ser realizado à luz do

ordenamento jurídico pátrio, isto é, conforme a legislação penal brasileira.

V - In casu, a denúncia narra que o paciente está sendo processado, no âmbito da Federação

Russa, por infrações que, segundo o ordenamento jurídico pátrio, configurariam os crimes de

peculato (art. 312 do CP) e lavagem de capitais praticada por organização criminosa, os quais

são previstos como delitos antecedentes, no rol taxativo do art. 1º da Lei 9.613/98. (...) (HC

94.965/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 10/03/2009,

DJe 30/03/2009)

Dupla Tipicidade:

(...) IV - A adequação da conduta praticada no exterior a um dos crimes antecedentes previstos

no rol taxativo do art. 1º da Lei 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro) se submete ao princípio da

dupla incriminação, segundo o qual, o fato deve ser considerado ilícito penal também no país

de origem. Além disso, o enquadramento legal da conduta deve ser realizado à luz do

ordenamento jurídico pátrio, isto é, conforme a legislação penal brasileira.

V - In casu, a denúncia narra que o paciente está sendo processado, no âmbito da Federação

Russa, por infrações que, segundo o ordenamento jurídico pátrio, configurariam os crimes de

peculato (art. 312 do CP) e lavagem de capitais praticada por organização criminosa, os quais

são previstos como delitos antecedentes, no rol taxativo do art. 1º da Lei 9.613/98. (...) (HC

94.965/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 10/03/2009,

DJe 30/03/2009)

Aspectos Processuais - Art. 2º:

(...) III - são da competência da Justiça Federal:

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em

detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou

empresas públicas;

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DIREITO PENAL

21

b) quando o crime antecedente for de competência da Justiça Federal.

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. ALEGAÇÃO DE

INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INOCORRÊNCIA. CONEXÃO COM

CRIMES DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PERPETUATIO

JURISDICTIONIS. ART. 81 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE

APROFUNDADA DE FATOS E PROVAS EM SEDE DE HABEAS CORPUS. ORDEM

DENEGADA. I – A competência para julgamento do feito foi fixada na Justiça Federal pois

no curso das investigações, que serviram de base para o oferecimento da denúncia, surgiram

fortes indícios de que o homicídio estava relacionado com o tráfico internacional de drogas. II

– O paciente foi, ainda, denunciado em outra ação penal pela prática dos delitos de lavagem de

dinheiro e sonegação fiscal supostamente relacionados ao tráfico internacional de drogas, o

que reforçou a manutenção da competência da Justiça Federal. (...)

III - Quando há crimes conexos de competência da Justiça Federal o processamento e

julgamento dos feitos compete a esta.

IV – A posterior extinção da punibilidade de um dos feitos e o reconhecimento da

incompetência do outro, que também atraíram a competência da Justiça Federal não extingue a

competência desta em razão da perpetuação de jurisdição, nos termos do art. 81 do CPP.

Precedentes.

V - A discussão acerca da correta fixação da competência, bem como da existência de conexão

em razão da ligação do homicídio com o crime de tráfico internacional de drogas ou de outro

delito apto a justificar a competência da Justiça Federal exige o exame aprofundado de fatos e

provas, o que, em sede de habeas corpus, não se mostra possível, visto tratar-se de

instrumento destinado à proteção de direito demonstrável de que não admite dilação

probatória.

VI - Ordem denegada. (HC 100154, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,

Primeira Turma, julgado em 16/11/2010, DJe-035 DIVULG 21-02-2011 PUBLIC 22-02-2011

EMENT VOL-02468-01 PP-00078)

Especialização de Varas:

PENAL E PROCESSO PENAL. RESOLUÇÃO Nº 20/2003 DO TRF/4ª REGIÃO.

LEGALIDADE. INTENMPESTIVIDADE DO RECURSO DA ACUSAÇÃO.

NECESSIDADE DE RATIFICAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. ARTIGOS 4º DA LEI

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DIREITO PENAL

22

Nº 7.492/86. SUJEITO ATIVO. TERCEIRO ESTRANHO À ADMINISTRAÇÃO DA

INSTITUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DO

ARTIGO 171 DO CÓDIGO PENAL. GESTÃO FRAUDULENTA E ESTELIONATO.

MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. PRESCRIÇÃO. 1. A Resolução n.º

20/2003 do TRF da 4ª Região, que criou as varas especializadas para crimes contra o sistema

financeiro e lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores, foi autorizada

legalmente, nos termos do art. 3º da Lei n.º 9.664/98. Precedentes do STJ e STF. (…) (TRF4,

ACR 0046483-77.2003.404.7100, Sétima Turma, Relator Néfi Cordeiro, D.E. 22/09/2011)

§ 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Código

de Processo Penal.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão

suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção

antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos

termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Para Baltazar (2010, p. 622), este dispositivo é constitucional e justificado “no contexto

de um delito no qual muitas vezes o agente se utiliza de pessoas interpostas, sendo essa a razão

de opção legislativa que se fez”.

Para Moro (2010, p. 97), a distinção justifica-se pois um dos grandes objetivos do

processo penal é assegurar o confisco.

Para Tigre Maia (2007, p. 125), cria uma distinção infundada, pelo que viola do devido

processo legal. Não seria o autor do crime antecedente mais perigoso que o responsável pela

“lavagem”.

Art. 3º Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de fiança e liberdade provisória e,

em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar

em liberdade.

O entendimento jurisprudencial majoritário, contudo, é tranquilo ao afirmar que a

prisão cautelar é possível apenas quanto presentes os requisitos da preventiva.

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DIREITO PENAL

23

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO FÊNIX.

PRISÃOPREVENTIVA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. LAVAGEM DE DINHEIRO.

MANTENÇA DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR. GRAVIDADE DO CRIME.

SOFISTICADA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. VULTOSA MOVIMENTAÇÃO DE

DROGAS, ARMAS E DINHEIRO. ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A

MEDIDA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. RISCO PARA ORDEM PÚBLICA.

EXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA.

1. A necessidade da custódia cautelar restou demonstrada, com base em dados concretos dos

autos, conforme recomenda a jurisprudência desta Corte, estando o decisum proferido na

origem fundamentado na participação em sofisticado esquema de lavagem de valores

proveniente da distribuição de drogas, a movimentar vultosa quantidade de dinheiro,

entorpecentes e armas, a evidenciar, portanto, risco para ordem pública.

2. Ordem denegada. (HC 120.324/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS

MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 21/03/2011)

Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou representação da autoridade

policial, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios suficientes,

poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão ou o seqüestro de bens,

direitos ou valores do acusado, ou existentes em seu nome, objeto dos crimes previstos nesta

Lei, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de

1941 - Código de Processo Penal.

§ 1º As medidas assecuratórias previstas neste artigo serão levantadas se a ação penal não for

iniciada no prazo de cento e vinte dias, contados da data em que ficar concluída a diligência.

Terminologia (BALTAZAR, 2010, p. 625-627):

- Busca e Apreensão => objeto é a busca de material probatório, sendo que Moro (2010, p.

181) lembra que o termo apreensão é apropriado para móveis.

- Sequestro => recai sobre o proveito do crime. Segundo Moro (2010, p. 181), tanto móveis,

quanto imóveis.

- Apreensão e sequestro devem recair sobre instrumento ou produto do crime (Moro, 2010, p.

181)

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- Arresto é uma medida preparatória à hipoteca legal, recaindo sobre o patrimônio do acusado,

independentemente de ser proveito do crime.

Dirigem-se a "garantir o pagamento das custas e da multa penal e ainda a reparação de

danos", pelo que não se discute a licitude dos bens (MORO, 2010, p. 181-182).

Medidas Assecuratórias (BALTAZAR, 2010, p. 625-627):

Para Baltazar, nada impede a aplicação subsidiária do CPP ao caso, para, por exemplo,

arrestar bens do patrimônio do acusado.

Há precedentes, inclusive, sobre a aplicação do Decreto-Lei 3.420/41.

(...) 1. A teor do art. 4.º do Decreto-Lei n.º 3.240/41, o sequestro, para a constrição de bens

de pessoas indiciadas ou já denunciadas por crimes dos quais resulte prejuízo para a Fazenda

Pública, pode recair sobre todo o patrimônio dos Acusados e compreender os bens em poder

de terceiros, contanto que estes os tenham adquirido com dolo ou culpa grave.

2. No caso, a medida acautelatória está devidamente fundamentada, tendo em vista que as

instâncias ordinárias consideraram os veementes indícios, nos autos de inquérito, da prática

dos crimes de formação de quadrilha, desvio de dinheiro público, dispensa indevida de

licitação e lavagem de dinheiro, além do periculum in mora, consubstanciado nos fortes

vestígios de proposital confusão patrimonial entre os patrimônios dos Acusados com os de

seus familiares, a ensejar sérios riscos de inviabilizar o ressarcimento, ainda que parcial, dos

volumosos recursos desviados dos cofres públicos. (...) (REsp 1133763/DF, Rel. MIN.

LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 23/08/2011, DJe 08/09/2011)

Em sentido contrário:

(...) Nos termos do art. 4º da Lei Antilavagem, somente podem ser indisponibilizados bens,

direitos ou valores sob fundada suspeição de guardarem vinculação com o delito de lavagem

de capitais. Patrimônio diverso, que nem mesmo indiretamente se vincule às infrações

referidas na Lei nº 9.613/98, não se expõe a medidas de constrição cautelar, por ausência de

expressa autorização legal. (...) (Inq 2248 QO, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal

Pleno, julgado em 25/05/2006, DJ 20-10-2006 PP-00049 EMENT VOL-02252-01 PP-00093

RTJ VOL-00200-01 PP-00041)

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O prazo do § 1º não é inflexível.

(...) Não é de se considerar vencido o prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98,

que é de 120 dias, pois ainda se encontram inconclusas as diligências requeridas pelo

Ministério Público Federal, em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapso temporal.

Questão de ordem que se resolve pelo indeferimento do pedido de substituição de bens. (Inq

2248 QO, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2006, DJ

20-10-2006 PP-00049 EMENT VOL-02252-01 PP-00093 RTJ VOL-00200-01 PP-00041)

(...) 2. Nos termos do art. 4.º da Lei n.º 9.613, de 03 de março de 1998, o Juiz, de ofício, a

requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial, poderá

decretar, no curso de inquérito policial, o sequestro de bens, direitos ou valores do investigado.

Conforme o § 1.º do mesmo artigo, essas medidas assecuratórias serão levantadas se a ação

penal não for iniciada no prazo de cento e vinte dias.

3. Segundo já decidiu este Superior Tribunal de Justiça, o atraso no encerramento das

diligências deve ser analisado conforme as peculiaridades de cada procedimento.

4. No caso, não tendo sido proposta, até o presente momento, a ação penal em desfavor do

Paciente, mostram-se impreteríveis o levantamento do sequestro e o desbloqueio das contas

bancárias, porquanto ultrapassados os limites da razoabilidade. Precedentes. (...) (HC

144.407/RJ, Rel. MIN. LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 16/06/2011, DJe

28/06/2011)

PENAL. PROCESSO PENAL. INCIDENTE DE RESTITUIÇÃO DE COISAS

APREENDIDAS. VEÍCULO SUJEITO A PERDIMENTO. CÓDIGO PENAL, ARTIGO

91, II, "B". LAVAGEM DE DINHEIRO. EXCESSO DE PRAZO. ARTIGO 4º, § 1º, DA

LEI N. 9.613/98. A Lei nº 9.613/98 permite a apreensão ou sequestro dos bens que sejam

objeto dos crimes previstos naquele diploma legal. De acordo com o artigo 4º, § 1º, dessa lei,

apreendidos os bens, a medida assecuratória será levantada se não observado o prazo de 120

(cento e vinte) dias para oferecimento da denúncia. Todavia, não se trata de prazo

peremptório, podendo ser dilatado conforme as peculiaridades do caso concreto. Em se

tratando de crimes supostamente praticados por organização criminosa, com grande número

de investigados, envolvendo lavagem de capitais, justifica-se a flexibilização do prazo, quando

evidente a sua complexidade. (...) (TRF4, ACR 5021190-73.2010.404.7100, Sétima Turma,

Relator p/ Acórdão Márcio Antônio Rocha, D.E. 16/06/2011)

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Se houver outros delitos envolvidos...

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA A ORDEM

TRIBUTÁRIA. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E LAVAGEM DE DINHEIRO.

BUSCA E APREENSÃO. ART. 4º, § 1º, DA LEI Nº 9.613/98. INAPLICABILIDADE.

EXCESSO DE PRAZO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS

CORPUS DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE.

1. Não há falar em infringência ao art. 4º, § 1º, da Lei 9.613/98, uma vez que o magistrado não

estaria adstrito a determinar a constrição com base na Lei que trata tão somente de um dos

delitos em apuração, não se sujeitando, portanto, ao prazo nela previsto para levantamento da

medida.

2. Realizada a constrição dos bens em 22.8.2003, o oferecimento da denúncia depois de

transcorrido mais de sete anos do bloqueio, sem previsão para o término do processo,

configura constrangimento ilegal a determinar a concessão de habeas corpus de ofício para

liberação dos bens apreendidos. Precedentes.

3. Recurso especial ao qual se nega provimento. Habeas corpus concedido de ofício para

determinar a liberação dos bens apreendidos, mediante a nomeação de seu legítimo

proprietário como depositário. (REsp 865.163/CE, Rel. MIN. OG FERNANDES, SEXTA

TURMA, julgado em 02/06/2011, DJe 01/07/2011)

É importante lembrar que aqui se fala em indícios suficientes.

Para Baltazar (2010, p. 627), a alienação antecipada, ainda que não expressamente

prevista, pode ser aplicada através de analogia ao § 5º do art. 120 do CPP.

§ 2º O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou seqüestrados

quando comprovada a licitude de sua origem.

§ 3º Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado,

podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou

valores, nos casos do art. 366 do Código de Processo Penal.

§ 4º A ordem de prisão de pessoas ou da apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores,

poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata

possa comprometer as investigações.

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=> Registra Baltazar (2010, p. 629) que o § 2º, de acordo com a exposição de motivos, encerra

hipótese de inversão do ônus da prova.

=> Para Moro (2010, p. 183), o artigo apenas informa que incumbe ao juiz liberar os bens em

caso de comprovação da sua licitude, o que pode ocorrer na sentença ou no curso do

processo.

( BALTAZAR, 2010, p. 628)

=> Não há incompatibilidade entre o § 3º deste artigo e o § 2º do art. 2º.

O art. 366 não se aplica a este delito. Mas, no caso de revelia, não se conhece do

pedido de restituição sem a apresentação do acusado.

Sérgio Moro (2010, p. 177-181) ressalta para a relevância de alguns tratados

internacionais sobre a matéria, que foram ratificados pelo Brasil e que ingressaram em nosso

ordenamento com status de lei ordinária. São as Convenções da ONU sobre drogas, crime

organizado (Palermo) e corrupção.

Tomando como exemplo a Convenção sobre Drogas, elenca o autor que, com base

nela, é possível o confisco:

a) de bem de valor equivalente,

b) bem convertido ou transformado,

c) do bem misturado e

d) da renda ou benefício derivado do produto do crime.

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM

MANDADO DE SEGURANÇA. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA CONEXO

A CRIMES FEDERAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULA 122/STJ.

CAUTELAR DE SEQUESTRO DE BENS. DECRETO-LEI Nº 3.240/41. LEGALIDADE

DA MEDIDA CONSTRITIVA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. Nos termos do enunciado 122 da Súmula desta Corte, "compete à justiça federal o processo

e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se

aplicando a regra do art. 78, II, "a", do código de processo penal".

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2. Este Superior Tribunal de Justiça já assentou que o sequestro de bens de pessoa indiciada ou

já denunciada por crime de que resulta prejuízo para a Fazenda Pública, previsto no Decreto

Lei nº 3.240/41, tem sistemática própria e não foi revogado pelo Código de Processo Penal.

3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no RMS 24.083/PR, Rel. Ministra

MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 03/08/2010, DJe

16/08/2010)

Breve análise do Decreto-Lei 3.240:

Apesar de se chamar sequestro, não seria semelhante ao arresto do CPP, que é

preparatório à hipoteca legal e visa recompor o patrimônio da vítima?

Efeitos da Condenação:

- Diversos do Código Penal:

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:

I - a perda, em favor da União, dos bens, direitos e valores objeto de crime previsto nesta Lei,

ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;

II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de

membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no art. 9º,

pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada.

Art. 91 - São efeitos da condenação:

(...) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,

porte ou detenção constitua fato ilícito;

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo

agente com a prática do fato criminoso.