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magine Distribuição gratuita Dezembro 2013 Periodicidade Trimestral 12 # Revista da Associação dos Moradores da Portela «Querem que as pessoas estejam coisificadas» Entrevista a Mário de Carvalho P rtela Conhece a Associação de Moradores da Quinta da Vitória? Declarações d vencedores das autárquicas

Portela magazine n.º 12

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Conhece a Associação de Moradores da Quinta da Vitória? Com esta edição ficará a conhecê-la, bem como ficará a par do percurso literário de Mário de Carvalho numa entrevista repleta de humanismo. Na 12º edição da Portela Magazine é feito um balanço acerca das eleições autárquicas decorridas no dia 29 de Setembro de 2013.

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magazineDistribuição gratuitaDezembro 2013 Periodicidade Trimestral

12#

Revista da Associação dos Moradores da Portela

«Querem que as pessoas estejam coisificadas»

Entrevista a Mário de Carvalho

P rtela

Conhece a Associação de Moradores

da Quinta da Vitória?

Declarações dos vencedores das autárquicas

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MENSAGEM DA PRESIDENTE

Carla MarquesPresidente da Associação dos Moradores da Portela

Caros leitores:

Nestes tempos de receios e de incertezas, em que tudo e todos são contestados, em que o papel do Estado é questionado e posto à prova, em que é generalizada a desconfiança nas instituições, proponho-me falar-vos sobre o papel do associativismo e a sua importância na evolução de uma sociedade democrática.Começo por referir a lei consti-tucional portuguesa, que é cla-ra ao apontar, nos seus artigos 73.º e 79.º, a obrigatoriedade de colaboração do Estado com as «associações e fundações de fins culturais, as colectividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais» e com as «associações e colectividades desportivas», na promoção e na democratização da cultura e do desporto. O direito à livre associação cons-titui uma garantia básica de rea-lização pessoal dos indivíduos na vida em sociedade, sendo que é obrigação do Estado fomentar e apoiar a criação e a generalização do associativismo. Ora, o fomento dos movimentos associativos e o reforço da sua sustentabilidade organizativa e fi-nanceira é um dos propósitos do Estado, a quem incumbe valorizar e apoiar as actividades regulares das associações estimulando a participação das populações.De facto, a importância do mo-vimento associativo em Portugal remonta ao final do século XVIII/ /início do século XIX, e surge as-sociado ao início do processo de

industrialização, quando apare-cem as primeiras colectividades operárias assentes em princípios de solidariedade e de cooperação, com responsabilidades na luta dos direitos dos trabalhadores à instrução, à cultura e à protecção social. O surgimento destas estruturas associativas representa a evolu-ção da consciência social no pla-no da formação pessoal, cívica e política das populações, que ra-pidamente se tornam em espaços de convívio da comunidade local e pólos de criatividade das artes e das letras.Mesmo antes do 25 de Abril, as associações exerciam já o direito de livre associação, de reunião, de expressão e de opinião. A prá-tica da democracia e da liberdade era uma realidade na vida interna destas instituições, que, não só desenvolviam as suas activida-des, culturais e recreativas, como as aprofundaram, tendo mesmo assumido um importante papel de resistência ao poder, de organiza-ção, de luta e de consciencializa-ção do povo.Após a Revolução de Abril, o mo-vimento associativo conheceu um novo e diversificado crescimento, com o surgimento de associações de âmbito social, de reformados, de deficientes, juvenis e estudan-tis, ambientais, associações de moradores, associações de pais, entre outras.Num país debilitado, o movimen-to associativo, os seus dirigentes e associados deram um contributo indiscutível para o desenvolvi-mento e progresso das localidades em que estavam inseridos.Ainda hoje, e cada vez mais, o mo-vimento associativo desempenha um papel inestimável junto das po-pulações, continua a ser o garante da democratização, do acesso à criação e fruição cultural, social e desportiva, direitos conquistados pelo 25 de Abril, mas que o Estado nem sempre assegura. A capacidade de realização e mo-bilização do movimento associa-tivo em torno de aspectos sociais,

Há associações cujo orçamento é maior do que o da sua freguesia e grupos de associações cujo orçamento é superior ao do município respectivo. Trata-se de uma fortíssima actividade económica cujo produto é reinvestido socialmente em actividades e serviços prestados aos associados, na melhoria das condições dessa prestação, no enriquecimento do património associativo, ou ainda no funcionamento geral das associações. A dimensão e o crescimento desta actividade económica, em geral benéfica para as associações, em muitos casos assume dimensões que acabam por gerar as mais diversas confusões no que respeita à gestão das instituições.

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culturais e desportivos é enorme. A sua participação diária em di-versas dimensões da vida local, no desporto, na cultura, na acção social e cooperação, na educação e juventude, como parceiros na organização de iniciativas junta-mente com as autarquias, constitui um grande potencial de organiza-ção, intervenção e reivindicação das populações locais. Sem dúvi-da que a promoção da participa-ção das populações na vida local, a partilha das suas preocupações e a busca de soluções contribuem indiscutivelmente para o desen-volvimento local.No passado, como no presente, o movimento associativo assume- -se como um espaço de forma-ção pessoal e cívica, de apren-dizagem e exercício dos valores democráticos, da participação e da liberdade. Afirma-se como es-paço de exercício e de reivindi-cação de direitos, mas, acima de tudo, aprofunda o seu papel de consciencialização e emancipa-ção das populações, desde logo porque, pela sua própria nature-za, o associativismo constitui a expressão e o exercício de liber-dade e um exemplo de vida de-mocrática. Para o desenvolvimento e a afir-mação do movimento associativo, é consensual a importância da va-liosa participação e envolvimento dos seus associados, pela dinâmi-ca e mobilização que imprimem às organizações que integram. In-tervir num espaço de luta e de re-clamação por objectivos concre-tos e imediatos; dar expressão a formas concretas de mobilização é a génese do associativismo.É indispensável ainda ter presente que a actividade e o papel funda-mental do movimento associativo ao serviço das populações não são substituíveis por qualquer al-ternativa de organização social e ainda menos por qualquer solução de ordem comercial. A afirmação, o desenvolvimento e o reconhecimento do papel social do movimento associativo exigem a solução de alguns problemas

que o podem descaracterizar, tais como as questões da renovação e adequação às novas realidades, aspirações, interesses e pólos de atracção das populações, assim como da sua independência e au-tonomia de acção ante os poderes constituídos.No nosso País, não está quanti-ficado o produto do trabalho dos milhares de voluntários que inter-vêm no movimento associativo, nem a sua capacidade de captação de recursos, nem o valor social e financeiro do trabalho voluntá-rio, mas este é certamente um dos maiores valores da vida em socie-dade. De facto, a participação volun-tária dos associados em toda a vida das associações é um factor decisivo para que o movimento associativo possa cumprir inte-gralmente a sua vocação ante as populações e o meio. Esta mobili-zação é um desafio que se coloca aos seus corpos dirigentes, que têm de encontrar as formas de relacionamento, as iniciativas, as formas de informação e comuni-cação que motivem e estimulem a ampla participação de todos os associados, assegurando a quali-dade das áreas de actividade das associações e respondendo à cres-cente diversificação e evolução da sociedade. Sem perder as suas características essenciais, torna-se premente que o movimento associativo, hoje, como no passado, assuma um pa-pel relevante na elevação do ní-vel cultural e da consciência das populações, na pesquisa de novas actividades e de novas soluções de actuação, a fim de dar uma res-posta colectiva à satisfação de in-teresses e necessidades comuns. O papel que as autarquias podem

desempenhar na defesa e no apro-fundamento das características de intervenção social das associa-ções constitui um contributo de relevante importância para a con-solidação da democracia no nosso País. Torna-se indispensável para atin-gir este objectivo que o próprio movimento associativo e os seus dirigentes tomem consciência e reconheçam a sua força social e que procurem o reconhecimento do valor do associativismo na so-ciedade e intensifiquem o seu po-der de reivindicação junto do Go-verno e da Administração Local. E este tem sido e continuará a ser o desígnio da AMP, que nunca se contentou apenas com o desempe-nho de um relevante papel na di-namização desportiva na fregue-sia, e que hoje, como sempre, mas cada vez mais, pretende contribuir para o desenvolvimento cultural e social da nossa localidade. Bem-haja a todos os que contri-buíram e continuam a contribuir para o desenvolvimento da nossa Associação.

A independência económica é uma condição essencial para a independência e autonomia de acção das associações. As associações em geral vivem dos recursos que conseguem, mas têm o direito e devem exigir ao poder local o apoio e a colaboração financeira para o desenvolvimento da sua actividade em prol das populações, enquanto parceiros autónomos num quadro de relacionamento e cooperação com os poderes do Estado.

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Portela Magazine – Revista Trimestral – Proprietário Associação dos Moradores da Portela – Director Manuel Monteiro – Redacção Eva Falcão, Filipa Assunção, Leonor Noronha – Colaboradores Armando Jorge Domingues, Bonifácio Silva, Carla Marques, Diogo Coelho, Fernando Caetano, Hugo Rosa, Hum-berto Tomaz, José Alberto Braga, Miguel Esteves Pinto, Miguel Matias, Patrícia Guerreiro Nunes, Rui Rego – Sede de Redacção Associação dos Moradores da Portela, Urbanização da Portela, Parque Desportivo da AMP, Apartado 548, 2686-601 Portela LRS – Telefone 219 435 114 – Site www.amportela.pt – E-mail [email protected] – Email Comercial [email protected] – Direcção Comercial: António Rodrigues – Grafismo ITW-Ideas That Work, Lda. – Impressão Grafedisport – Impressão e Artes Gráficas, SA – Tiragem 6500 exemplares – Depósito Legal n.o 336956/11 – ISSN N.o 2182-9551

Ficha Técnica

O aceleramento da sociedade globalizada e «sem fios» conduziu à hiperinforma-

ção. Essa pletora de informação e desinformação – 60% dos artigos da Wikipedia contêm erros factuais, re-velou um aturado estudo de Marcia W. DiStas – instantânea, veloz, em catadupa dificulta e, em muitos ca-sos, retira ao cidadão comum, cres-centemente obnubilado, a possibili-dade de um refúgio de paz, silêncio e distanciamento que lhe permita reflectir e comparar.Aristóteles defendia que só devería- mos formular um juízo sobre um assunto depois de termos disseca-do toda a informação respeitante ao mesmo e de termos observado de todos os ângulos o nosso objecto de estudo. Nunca como hoje se viveu tão opostamente à ideia aristotélica. Dir-me-ão: mas hoje há mais liber-dade, hoje já mais democracia. Ver-dade, ainda que muitas vezes me-ramente formal, mas o ponto não é esse. O nervo da questão é que antes se sabia que se vivia em ditadura, antes sabia-se que havia censura e hoje pensa-se que não há, pensa-se que a informação é livre, pensa-se que temos acesso à realidade à dis-tância de um clique. A auto-ilusão do

conhecimento é feroz, a auto-ilusão do «Vi na Net» como mecanismo suficiente de certificação de veraci-dade cresceu a tal ponto, que cami-nhamos para uma sociedade em que todos têm opinião sobre tudo. Veri-fico inúmeras citações com milhares de likes, com referências em inú-meras páginas da Internet (algumas delas «credíveis» como o Citador...) em que a frase é atribuída a um pre-tenso autor (sendo Fernando Pessoa um dos mais massacrados. García Márquez ainda foi a tempo de avi-sar o mundo da sua falsa «carta de despedida», lida e comentada por milhões...).Como escreveu Manuel Maria Car-rilho, vivemos numa época de «in-flação de notícias sem a correspon-dente capacidade para as organizar, hierarquizar ou metabolizar». Há hoje demasiada distracção sensorial e demasiada pressa para a concreti-zação da condição essencial ao ser vivente e pensante definida por Leo- nardo Coimbra: a necessidade de a alma se recolher. Regresso a Carri-lho: «A lentidão, que na verdade foi sempre uma condição sine qua non da civilização, tem vindo a ser cada vez mais substituída por uma apolo-gia estonteada da velocidade.» As conversas demoradas parecem não ter cabimento no mundo ho-dierno; o que não produz um estí-

mulo imediato é deitado no caixote do lixo das coisas maçudas; a língua é reduzida ao léxico mínimo (90% das conversas telefónicas nos EUA utilizam as mesmas 150 palavras, re-levou a companhia telefónica Bell; um número arrepiante se nos lem-brarmos de que Joyce usou mais de 30 mil palavras diferentes só numa obra e Shakespeare mais de 24 mil); a ditadura do visual esmaga a pala-vra e o pensamento; o soundbite e o tópico do PowerPoint triunfam so-bre um arrazoado, necessariamente longo e complexo (por isso, assimi-lamos acriticamente tantas verdades feitas que nos impingem sem estu-do, sem epistemologia, sem funda-mentos, sem comparações de época e de lugar, sem multidisciplinari-dade); e, claro, só um tolinho não percebe que a privacidade enquanto valor essencial da civilização morre dia a dia. Repare-se, por exemplo, como as redes sociais e os aparelhos de comunicação nos estão sempre a «convidar» para indicar onde esta-mos. Não há hoje um tema que seja tão consensualmente imune a uma crí-tica holística como as novas tecno-logias – quem ousa denunciar peri-gos inerentes às novas tecnologias é imediatamente rotulado de Velho do Restelo (personagem que adquiriu um sentido absurdamente pejorati-vo). Exagero? Um estudo da Experian Marketing Services revelou que, em 2013, 16 minutos de cada hora de um norte-americano em linha foram passados numa rede social. No Rei-no Unido foram 14 e na Austrália 13. De acordo com o Nielsen’s an-nual Social Media, o tempo passado em redes sociais pelos habitantes dos EUA (e muitos não têm...), só

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Da lentidão como virtudeEDITORIAL

[email protected]

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tas empresas podem hodiernamente prescindir do e-mail, que começou por ser «uma opção»?Dizem outros: mas há mecanis-mos de controlo dos abusos. A realidade está aí para quem a quiser ver: cada vez há mais ca-

sos de cyberbullying, cada vez há mais jovens (maioritariamente raparigas) que se suicidam pela perseguição psicológica a que foram sujeitos por difamações na Internet, por exposição de víde-os da sua intimidade sexual. De acordo com os últimos dados do PWE Internet and American Life Survey, 33% dos adolescentes dos EUA foram vítimas de cyber-bullying em 2011.Termino voltando a Manuel Maria Carrilho: «O cérebro de um viciado na Internet transforma-se num cére-bro análogo ao de um alcoólico ou de um drogado, com “reduções” de dez a vinte por cento na massa cinzenta res-ponsável pelas funções da linguagem, da memória, do controlo motor, das emoções. A situação é tal que o DSM (The Diagnosos Statistical Manual of Mental Disorders) do próximo ano [2013] incluirá, pela primeira vez, a “Internet Addiction Disorder”...»P.S. Sugestão de um vídeo sobre como grande parte da nossa vida está na Internet: Escreva «Fantástico - O Vidente - Se-gurança nas Redes Sociais» no You-Tube.

no mês de Julho de 2012, equivaleu – atente-se bem – a 230 060 anos. Em média, um utilizador da Internet só está três minutos dedicado a um assunto. São inúmeras as pessoas que vivem em directo, expondo ao mundo fo-tografias das suas refeições, da sua casa, das suas férias, das primei-ras fraldas do seu bebé, dos seus estados de alma, de bons-dias e de boas-noites atirados ao ecrã na so(li)fregui(dão) que pena por esse mecanismo de validação social que é actualmente o like do Facebook.Tudo é vaidade, já o sabíamos des-de o Eclesiastes, mas nunca a irra-cionalidade e o narcisismo tinham possuído um tanque ilimitado para lhes dar vazão...Sempre que estou num café ou em transportes públicos, mais de meta-de das conversas sub-23 que inter-cepto são sobre o Facebook. São as gerações nascidas neste Admirável Mundo Novo em que o que não está na Internet não existe – e como isso é falso para tantos livros, por exem-plo. Basta observar a interacção grupal – quantas vezes não vemos quatro ou cinco amigos e amigas todos juntos e cada um mergulha-do no seu aparelho, completamente alienado do mundo circundante? O espaço e o tempo como barrei-ras esbatem-se dia a dia – e este fe-nómeno merece ser estudado, sem anátemas nem endeusamentos. O ali passou a aqui e agora, tudo se tornou premente e objecto da di-tadura do imediato, estilhaçando o pensamento do médio e do longo prazo. O trabalhador e o cidadão está hoje permanentemente contac-tável, e, por isso, permanentemente disponível, seja pelo e-mail, pelo te-lemóvel, pelo Facebook, pelo Viber, pelo WhatsApp; e, pior do que isso, caminha-se para que todos esteja-mos permanentemente localizáveis (o chip nos automóveis é já uma

realidade no Brasil, por exemplo). O pior é que o trabalhador e o cida-dão, grosso modo, não percebe que está a ser policiado, condicionado, que a empresa passa a ser dona do seu tempo, que o lazer e o trabalho deixam de ser compartimentos es-tanques, que o que veio «facilitar» e «libertar», afinal, o aprisiona e domestica. É conhecido que muitas empresas perscrutam o Facebook dos candidatos como ferra-menta de exclusão e que o despedimento executa-do por um singelo e-mail vai desumanamente grassando... É im-portante termos em mente que conhece-mos pelos media ape-nas a ponta do icebergue. Antes das revelações de Snowden, muitos que ex-punham os seus temores quanto à prefiguração de uma sociedade totalitá-ria de tipo orwelliano eram apelidados de paranóicos.Dizem alguns: mas só usa esses ins-trumentos quem quer! Falsíssimo. Recuemos 20/25 anos. O telemóvel era uma opção, o e-mail era uma opção – quantos trabalhadores po-dem hoje dar-se ao luxo de dizer à entidade patronal que não têm tele-móvel nem e-mail? Quantos jovens podem prescindir do telemóvel e do e-mail (e até das redes sociais nas faixas etárias mais juvenis) sem graves danos na sua sociabilidade? Não sejamos ingénuos. Quem es-tuda a tecnologia (Heidegger, Jac-ques Ellul, John Zerzan, Theodore Kaczynski) mostra isso mesmo – na história da tecnologia, tudo o que aparece como um extra acaba, bas-tas vezes mais cedo do que tarde, por ser obrigatório, reconfigurando- -se permanentemente a sociedade em função das exigências tecnoló-gicas. Pensem, por exemplo, quan-

Quer ver a sua carta de leitor publicada? Escreva para [email protected] ou para a sede da Associação dos Moradores da Portela, identificando-se com o primeiro e o último nomes e o número de um documento de identificação.

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AUTÁRQUICAS 2013

O PCP-PEV foi a força po-lítica mais votada na Câ-mara Municipal e na As-

sembleia Municipal de Loures. A Câmara Municipal de Loures era há 12 anos uma câmara do PS, presidida por Carlos Teixeira.Se compararmos os votantes e as percentagens de 2009 com 2013 para a Câmara Municipal de Lou-res, o PCP passou de 20 667 votos (22,96%) para 28 572 (34,74%), enquanto o PS desceu de 43 342 votos (48,16%) para 25 699

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Resultados eleitoraisAutárquicas Loures 2013

(31,24%). O PSD, o BE e o CDS- -PP baixaram as suas votações, en-quanto o PCTP-MRPP foi a força política que mais subiu proporcio-nalmente a sua votação.Na Assembleia Municipal, o PCP (ganhou 3 mandatos) ultrapassou o PS (perdeu 4 mandatos) e o PC-TP-MRPP passou a ter um man-dato, sendo a composição política restante igual à de 2009.Na inédita junção de freguesias de Portela e Moscavide, o PSD (concretamente, a coligação PPD/ /PSD-MPT-PPM) venceu, ficando a presidência atribuída a Manuela Dias. Na composição da Assembleia de Freguesia, o PSD perdeu a maio-ria absoluta. A anterior composição de 7 membros do PSD, 4 do PS, 1 do PCP e 1 do CDS-PP passou para 6 do PSD, 5 do PS e 2 do PCP.

A Comissão Nacional de Eleições não divulgou os votos desagre-gados por freguesias da Portela e Moscavide. Podemos, contudo, analisar os votos para a Câmara Munipal e a Assembleia Municipal nas freguesias de Portela e Mosca-vide de forma conjunta. Para a Câ-mara Municipal, o PS foi o partido mais votado, seguido pelo PSD e o PCP. Na Assembleia Municipal, o partido mais votado foi o PSD, seguido pelo PS e pelo PCP.Declarações dos vencedoresApós 18 anos como deputado e 11 enquanto líder da bancada do PCP, Bernardino Soares deixa a Assem-bleia da República e assume a presidência da Câmara Municipal de Loures. O novo presidente da Câmara Municipal de Loures afir-mou que «esta vitória aconteceu por-

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que a população se revoltou contra a estagnação, a promiscuidade e a má gestão», prometendo uma auditoria às contas da câmara. Manuela Dias, a agora presidente da união das freguesias de Moscavide e da Portela, afirmou à Portela Ma-gazine: «Sempre considerei que es-tas eleições representavam a opção por modelos de gestão autárquica distintos que foram praticados nas antigas freguesias de Moscavide e Portela. A população escolheu o modelo, o projecto e a equipa que considerou mais ajustado às suas necessidades.» Sem especifi-car quais os modelos de gestão au-

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AUTÁRQUICAS 2013

tárquica distintos, recorde-se que uma das bandeiras de campanha do PSD, quer para a câmara, quer para a junta, foi o número alegada-mente excessivo de funcionários, reconhecendo, todavia, a nova pre-sidente a obra social deixada por Daniel Lima em Moscavide.Sobre o desafio de abraçar a fre-guesia de Moscavide, Manuela Dias afirma que «nenhuma fre-

a melhorar a qualidade de vida de todos. O desafio deste mandato é o mesmo que existiu durante os últi-mos quatro anos: fomentar o espí-rito de comunidade e de pertença e fazer da nova freguesia uma fre-guesia de excelência no concelho de Loures».Manuela Dias deixa ainda um ape-lo aos Portelenses e Moscaviden-ses: «Gostaria de lançar um repto a todos os que vivem, trabalham, visitam ou estudam na nossa fre-guesia de Moscavide e Portela: que possam, dentro das suas possi-bilidades, intervir de forma activa e positiva na nossa comunidade. Contamos com todos!»

guesia é homogénea. Enquanto Presidente da Junta de Freguesia da Portela lidei sempre com as re-alidades diferentes, por exemplo, dos residentes das pracetas junto ao Seminário, dos habitantes da Quinta da Vitória ou dos morado-res do Bairro Municipal. O traba-lho de um autarca é esse mesmo, saber gerir as necessidades da sua comunidade e trabalhar com vista

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É conhecido por muitos porte-lenses pelo seu empenho em múltiplas actividades, mor-

mente na esfera da política, e pelo seu trato educado e simpático. Ri-cardo Andrade tem 37 anos e nasceu em Lisboa, mas com coração ribate-jano, de Riachos (é sócio do Clube Atlético Riachense), concelho de Torres Novas. Foi o cabeça-de-lista do PSD à Assembleia Municipal e é comissário de bordo da TAP. À Portela Magazine, deixa a pro-messa: «Defenderei de forma igual os interesses de todos os Louren-ses, não esquecendo nunca de onde vim, e o que cá aprendi. Tenho um sentimento de responsabilidade, ainda para mais tratando-se da mi-nha terra.»Pese embora o descrédito que muitos portugueses atribuem aos jovens que fazem «carreira» polí-tica, nomeadamente nos partidos

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Figuras da POrTELa

do designado «arco governativo», Ricardo Andrade, que se desdobra em inúmeras tarefas, entre elas pro-jectos de solidariedade, garante que pretende «servir a população e ser sempre fiel aos meus princípios, não esquecendo nunca que os car-gos públicos só fazem sentido se trabalharmos para e pelas pessoas. Não é a ambição ou os sonhos que me movem, mas sim os princípios e os projectos. Acredito no que faço e em tudo coloco a minha energia e capacidade a 100%. Foi desta forma que na minha família, desde cedo, me ensinaram a viver. Tam-bém nunca esqueço os meus ami-gos, os meus professores, os meus colegas de trabalho e todos aqueles com quem fui privando e que fazem de mim quem sou hoje».Em jeito filosófico, e contra o pes-simismo reinante, conclui: «Desde que me mantenha fiel a estes prin-cípios, o futuro será sempre sorri-dente.».

«O futuro será sempre sorridente»

Dados biográficos

É presidente da Comissão Política do PSD de Loures, foi candidato a deputado pelo Distrito de Lisboa. É membro do Gabinete de Estudos do PSD.

Ex-director do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil em 2011/2012.

Estudou nas Escolas da Portela e nos Olivais. Estudou Direito na Universidade Internacional e na Clássica, em Lisboa.

Fez parte do Grupo de Acólitos da Portela e foi catequista.

É membro da Assembleia de Freguesia da Portela e é membro da Assembleia Municipal de Loures.

Colabora em diversos projectos de solidariedade fora e dentro do concelho.

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No seu texto Doze Notas sobre Li-teratura em Tom de Preceito, afir-ma que «Mesmo o texto mais so-lene e dorido tem um fio lúdico». Enquanto leitor, encontro esse fio lúdico nas suas obras. Mesmo na literatura mais circuns-pecta, mais carregada, mais som-bria, há sempre algo que apela ao nosso sentido de jogo, ao nosso sentido lúdico. Trata-se de uma arte. A imaginação e a criatividade do receptor, do leitor estão sempre envolvidas e são sempre desafiadas. Por outro lado, é importante que nos autores haja uma certa graça, graça no sentido de encher plenamente o espírito, como encontramos em Aquilino Ribeiro, em Gógol. Há uma inspiração que como que cor-re o texto mesmo em autores mais soturnos como Dostoiévski. Há um fio que escapa à banalidade e nos eleva.Um tema recorrente nos seus textos e até em entrevistas é o do retorno do fascismo sob várias máscaras e várias capas, quase como se a civilização fosse um in-tervalo da barbárie.É por comodidade de conversação que falo em «fascismo». A história não volta. Quando falo em «fascis-mo», quero significar esta situação

em que um ser humano oprime outro, humilha, rebaixa, esmaga o outro. Esta situação de desigualda-de e de injustiça é própria de fases anteriores da humanidade. A liber-dade e aquilo a que nós chamamos «civilização» foram conquistadas com tanto esforço. Este patamar a que nós chegámos tem de ser de-fendido a cada momento, porque

a animalidade, o primitivismo es-preitam a cada momento. Aconte-ceu em civilizações como o Japão que apresentam requintes de deli-cadeza. Os alemães da Madame de Staël no século xviii são criaturas encantadoras, poéticas, imagina-tivas e depois vamos encontrar no século xx coisas monstruosas. Não têm que ver com a natureza deste

Manuel Monteiro

«Os leitores dos livros são autores dos livros»

ENTREVISTA

[email protected]

Mário de Carvalho à conversa com os seus leitores

Gentil, afável, humanista. Um dos maiores escritores de língua portuguesa. Mário de Carvalho teve um longo e profícuo diálogo com

o Clube de Leitura do Portela Sábios a convite da escritora Isabel Fraga, mentora do projecto. O mote foi o livro Os Alferes.

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ou daquele povo, têm que ver com esta facilidade com que nós somos recuperados pelo mal. É o regresso ao predador, à violência.O Dicionário Houaiss afirma no preâmbulo que é um registo das palavras que os escreventes e os falantes usam. Como escreve palavras caras, eruditas, infren-quentes, vejo-o como um perpe-tuador de palavras em vias de extinção. O escritor deve procu-rar salvar as palavras do olvido utilizando-as? As palavras estão provisoriamente adormecidas. A comunicação so-cial, especialmente as televisões, procura nivelar pelo mais baixo – a linguagem afunila-se, reduz-se. É uma linguagem muito primária, muito básica. A nossa língua tem imensos recursos e esse armazém que está ao nosso dispor deve ser utilizado. Toda a paleta e toda a gradação de cores que nós quere-mos emprestar estão ao nosso dis-por, basta ir buscá-las.Afirmou hoje que «As palavras são cargas eléctricas» e expli-cou a uma leitora como não é só o significado das palavras que é importante, mas também o som, referindo a propósito da frase citada a intenção da assonância. Subscreve a tese de que não há sinónimos perfeitos?Não há, porque tudo faz sentido. Às vezes, a própria diferença de sonoridades. A Demanda do Santo Graal é muito diferente de A Pro-cura da Tijela Sagrada. Encontros com o leitor como este, em que o autor é confrontado com

tantas leituras sobre a sua obra, o que produzem no escritor? Quando o texto é entregue e circu-la, o autor deixa de ter poder sobre ele e pouco adianta dizer qual foi a intenção. O que importa é o que lá está e que é refeito e reconstru-ído pelos leitores de acordo com a sua enciclopédia pessoal e com a sua vivência pessoal. No fundo, os leitores dos livros são autores dos livros à sua maneira também. Há uma velha história judaica que conta que uma vez os rabis esta-vam a discutir um problema sério sobre a alma da mulher e Deus es-tava lá em cima farto de os ouvir e disse: «Eu vou explicar isso.» E os rabis disseram: «Não, não. O Senhor criou o mundo, mas a nós compete-nos interpretá-lo.» É aos leitores que compete interpretar o livro.Uma das observações mais fre-quentes hoje foi: «Não conhecia esta palavra, tive de ir ao dicio-nário.»Não precisamos de saber tudo. Isso privava-nos de ler o D. Quixote que tem indicações sobre armas, comidas e vestuário do século XVII, ou Guerra e Paz com tantas per-sonagens. Contudo, se houver um apelo ao leitor para ir ao dicioná-rio, isso não é mau. O enriqueci-mento do vocabulário enriquece a nossa visão sobre o mundo, temos mais palavras com que abordá-lo, descrevê-lo, decifrá-lo.O facto de hoje qualquer figura pública ou semipública conse-guir publicar um livro dificulta o florescimento de novos autores?

Hoje, publica-se muitíssimo mais. Esta diferença entre várias formas de estar na literatura sempre exis-tiu. Há autores do século xix que tiveram uma grande popularidade e de que ninguém fala hoje. Porque não há-de haver autores populares que vendam cem mil exemplares?Mas é a tal diferença entre o best-seller e o long-seller.A literatura também está organi-zada em hierarquias. O que é um bocado irritante é que as pessoas que têm esse senso de massas mui-tas vezes julgam que a literatura é só aquilo. Há um cânone que foi formado durante séculos e perante qualquer leitor informado há limi-tes que são difíceis de ultrapassar: Camões, Pessoa, Gógol, Tolstói, Tchékhov. É com eles que deve-mos aprender. Como vê os conglomerados edi-torais e o encerramento de livra-rias e editoras que não têm como único móbil o lucro, como única vocação a comercial? No outro dia, passei pelo Rossio e fiquei espantado, porque mais uma livraria de referência fechou. A Sá da Costa tem uma tradição honro-sa e fechou. É preocupante. A nos-sa forma de dar resposta a isto é criar novos públicos, novos espa-ços de cultura, de leitura. Não dei-xar que todo o espaço cultural seja dominado pelos interesses, pelo negócio. O que é que querem as grandes cadeias de televisão? Que as pessoas estejam pegadas aos televisores para passarem os seus anúncios. Que as pessoas estejam coisificadas.

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FOTOGRAFIA MIGUEL ESTEVES PINTO

Arte moderna?

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REPORTAGEM

Em 17 de Junho de 1974, um grupo de bairro decidiu juntar-se em Moscavide e fundar a Associação de Moradores da Quinta da Vitória.

Foram campeões juniores e femininos em fute-bol de salão nos Jogos de Lisboa e organizaram inúmeras actividades. Contudo, desde cedo que as dificuldades, a falta de apoios e de verbas se fizeram sentir nesta pequena associação. Floriano Rebelo foi um dos presidentes, tendo sido em 1982 que começou a exercer o seu cargo. Foi há cerca de 15 anos, durante a sua presidência, que a sede da associação se mudou para o local onde ainda hoje se encontra. «Fui presidente durante 4 ou 5 anos e ajudei sempre no que pude. Este bairro tem uma história muito grande e desde o início que tivemos dificuldade em tudo. Atra-vés da Lusoponte e da Câmara, todo o terreno do bairro deveria pertencer-nos, mas como se passaram alguns anos sem se construir nada, a associação perdeu o direito ao terreno. Acabou por ser a Lusoponte que nos ajudou a construir tudo, porque a única ajuda que a Câmara nos deu foi para a construção do balcão do café», conta.Hélio Lima é o actual presidente, que abraça to-dos os dias o desafio e a responsabilidade de manter viva esta associação: «No total, existem cerca de 80 a 90 sócios que deveriam pagar 1 euro por mês, mas menos de metade dos sócios são pagantes. Alguns desistiram, outros não se interessam ou têm o cartão e não vêm à sede. Nós sobrevivemos das quotas e do funcionamen-to do bar, que serve para pagar as contas», diz. O desinteresse e a falta de tempo dos sócios ditaram o afastamento da participação em jogos e actividades ao nível municipal. Actualmente, os entretenimentos mais comuns são os jogos de cartas, de snooker e de matraquilhos, em que ainda se realizam alguns torneios. Hélio comenta que «Viver por nós próprios» é um dos lemas que têm seguido para tentar contornar todas as dificuldades encontradas. «No entanto, é de sa-lientar o apoio da Dra. Manuela Dias, que tem sido

Filipa Assunção

Associação de Moradores da Quinta da Vitória:uma associação que poucos conhecem

muito importante para o desenvolvimento desta associação.» «A câmara deixou de apoiar o nosso bairro porque estivemos cerca de 10 anos sem pagar rendas, e no final desse período vieram exigir as rendas legais. A maior parte das pessoas pagaram, mas algumas não pagaram até hoje. Como a câmara nunca lucrou nada com o nosso bairro, nunca nos apoiou, pois dizia que o orçamento não era suficiente para resolver os nossos pequenos problemas, que não eram mais do que arranjar buracos, pintar paredes, etc. Só pintaram os dois blocos exteriores, aqueles que são visíveis para quem entra no bairro», relata o presidente. Apesar

de o café ser a sede da Associação de Morado-res, o espaço não é suficientemente grande para dinamizar as actividades pensadas. «Temos uma sala aqui ao lado, com duas divisões indepen-dentes. Já tivemos uma reunião com a Câmara onde nos disseram que aquela divisão tinha sido atribuída a outra associação. O espaço esteve fe-chado durante muito tempo, mas só agora é que apareceu a presidente da AIDGLOBAL e disse que a Câmara lhe tinha cedido o espaço. Contudo, está dividido em duas partes, e uma delas é onde nós temos a sala de reuniões. Com esta situação, temos de devolver a nossa metade do espaço e ficamos sem essa sala. Fazia mais sentido que este espaço fosse todo nosso, visto que já temos as nossas instalações aqui criadas, e que lhes fosse atribuído outro espaço, mais perto da sua sede. Estamos a tentar que a Associação de Mo-radores da Quinta da Vitória, em conjunto com a AIDGLOBAL, consiga fazer um pedido à Câmara para que se arranje outro espaço para eles, de modo a que pudéssemos dinamizar o espaço com as nossas actividades. A nós, dava-nos muito jeito ter aquela parte para poder promo-ver actividades de informática para os miúdos ou até mesmo actividades para a terceira idade, como crochet, bordados, etc.»Floriano Rebelo remata ainda dizendo que «fazia muita falta tirar as crianças da rua. Quando a Dr. Geni era a presidente da junta ainda utilizámos o campo de futebol do Ralis e levámos os miúdos para lá. Há uns anos, tentámos que isso acon-tecesse, mas como não tínhamos verbas nem apoios o projecto acabou por ficar parado». Apesar da sua pequena dimensão, a associação organiza todos os anos duas festas especiais: uma de aniversário e outra em Setembro, quan-do a população regressa ao trabalho. É num es-pírito de companheirismo, solidariedade e ami-zade que associações como esta conseguem resistir e manter a população unida. «Temos orgulho em mostrar o nosso bairro e aquilo que fazemos», remata um dos sócios desta Asso-ciação.

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CINEMA

Escrevo hoje com um sentimen-to de alegria com contornos de tristeza. A série Breaking Bad,

do canal norte-americano AMC, aca-bou ao fim de cinco temporadas e 62 episódios. Muitos críticos revelaram, logo após o término deste programa, que a televisão norte-americana terá de se esforçar imenso para produzir uma série como Breaking Bad. É as-sim tão grave a situação ou será um claro exagero para impulsionar ainda mais a reputação da série e os prémios que, obviamente, virão num futuro próximo? Bem, a verdade é que mui-to provavelmente os críticos estarão certos. Será muito difícil a criação de uma nova série televisiva como esta. Com todo o respeito para os demais canais e para os demais programas, Breaking Bad elevou a fasquia no que ao meio diz respeito e conseguiu um lugar no panteão de qualidade televi-siva que, de certa maneira, diria até que suplanta as suas próprias barreiras e restrições inerentes ao universo tele-visivo. Breaking Bad é Arte.Não, não estou a exagerar. Existem poucas alturas em que se pode obser-var um produto cultural e saber, des-de o seu início, que está destinado à grandeza, à elevação do género e que, no fundo, pertence a uma liga de uma equipa só.A série conta a história de Walter Whi-te, um professor de Química do ensi-no secundário que passou ao lado de uma carreira brilhante por decisões tomadas em cima do joelho e por al-guma falta de sorte. Walter vive com a sua mulher Skylar e o seu filho Walt Jr, numa vivenda típica de classe mé-dia norte-americana. Em certa altura, Walter descobre que tem cancro nos pulmões e que a sua situação não é de todo solucionável. Walter decide, então, com a ajuda de um rapaz que vendia substâncias ilícitas chamado Jesse Pinkman, começar a cozinhar

Diogo [email protected]

E agora para algo completamente

diferente...a melhor metanfetamina do mercado para assim poder pagar o tratamento e garantir dinheiro para o futuro da sua família. Parece incrivelmente estra-nho, não é? Na verdade, é um pouco. O problema (ou aliás, a solução) é que toda esta narrativa serve-se do melhor que os vários departamentos técnicos têm ao dispor: os melhores actores de televisão, escolhidos a dedo; os me-lhores técnicos visuais e realizadores que dão à série um estilo completa-mente único e estilizado; os melho-res argumentistas que nos oferecem situações cómicas no meio de situa-ções dramáticas, sempre com um olhar no futuro da série e esforçando-se por nos trocar as voltas quando menos es-peramos e sobretudo a noção e a con-firmação de um valor artístico que não estava presente nas séries de televisão desde Sete Palmos de Terra.Tudo isto pode passar por uma hiper-bolização clara do autor desta crónica e, acreditem, chegou a passar pela sua cabeça se não estaria a exagerar na categorização desta série. A verdade é que não está, é facilmente identificá-vel o empenho, a dedicação e a supre-ma qualidade técnica e visual envol-vida nesta série, que nunca retira o pé do acelerador quando não deve, não poupando o espectador à mais crua realidade que muitos filmes e séries

tentam embelezar. A falibilidade do ser humano, a sua inerente capacidade de se corromper e, no fundo, as deci-sões e escolhas que fazemos e a sua repercussão no futuro de cada um. A linha entre a ficção e a realidade está presa por um fio apenas e, em alguns momentos, chegamos a preferir uma versão mais romantizada, talvez mais fantasiosa dos acontecimentos, para que não tenhamos de confrontar aqui-lo que sabemos que corresponde, no fundo, à verdade mais dura e crua. Eu sei que muitos esperariam uma crítica pormenorizada às cinco tem-poradas da série, mas a minha noção de uma crítica passa por uma obser-vação geral ao rigor e à qualidade do produto, para que possa ser apreciada de uma forma pessoal e específica por qualquer pessoa. Um pouco como o «faça você mesmo» e neste caso faça, veja esta série e deixe-se arrebatar pela forma como ela penetra no seu interior e o trabalhará por dentro; na forma como as personagens deixam de ser criadas para passarem a ser «vivas» e, no fim, sabendo que se trata apenas de uma série de televisão que conseguiu algo que poucos filmes podem orgu-lhar-se de conseguir: domar o espec-tador. Um feito televisivo inigualável, que dificilmente sairá da nossa mente mesmo após a sua conclusão.

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ACONTECEU NA AMP

Em resultado da excelente época dos nossos atletas, a equipa de

Ténis da AMP foi galardoada com uma distinção da Câmara Municipal de Loures na 5.ª Gala do Desporto realizada no dia 11 de Outubro no Pavilhão Paz e Amizade.Decorreram no fim-de-semana de 5 e 6 de Outubro os Campeonatos Nacionais de Veteranos em que a AMP esteve representada nos esca-lões de +45 Masculinos e +60 Mas-culinos.Mais uma vez, a nossa associação deu provas do seu valor eviden-ciando um inegável espírito de gru-po e dando mostras do valor dos seus atletas.Premiados pelo seu esforço, os nos-

sos atletas +60 lograram alcançar o título de Campeões Nacionais da 2.ª Divisão do seu escalão, ganhando na final por 2-1 à não menos prestigiosa equipa do Millennium BCP.Não menos esforçados foram os +45 dada a curta equipa que se deslocou à terra do fundador. Com o longo ca-lendário pela frente, havia que cha-mar todas a forças e encarar todos os encontros com desportivismo.Deste modo, a classificação de 3.º lugar, que nos dá a subida à 1.ª divi-são, é prova da dedicação dos nos-sos atletas.Parabéns a todos os premiados, continuação do excelente trabalho e que os resultados desta época se-jam igualmente brilhantes.

Veteranos de parabéns...

Acrobática – AcroPortelaA Acroportela iniciou no dia 1 de Setembro os treinos para a próxima

época dando continuidade ao projecto iniciado pelos treinadores José Maria Peixoto e Cátia Gomes. Esta época conta com 27 atletas, prova da qualidade do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e do seu reconhe-cimento público. Em Dezembro, os nossos atletas realizaram a sua festa de Natal com um pequeno torneio interno e troca de presentes. Foi grande o companheirismo entre eles.Continuação de um bom trabalho e boa sorte aos nossos atletas nesta época desportiva.

Dança JazzAs classes de Dança Jazz da

AMP iniciaram a sua activida-de no dia 17 de Setembro pela mão da nossa professora Manuela Bas-tos. Esta modalidade já com uma longa história na AMP é uma das nossas referências e está dividida em 2 classes, Dança Jazz I e Dança Jazz II, com um total de 36 atletas. As nossas classes de Dança Jazz fizeram já a sua primeira apresenta-ção no sarau realizado no dia 20 de Outubro, no Fórum do Montijo.

Desporto SéniorA AMP dá continuidade à sua colaboração

em conjunto com a Câmara de Loures e a Junta de freguesia da Portela na promoção do Desporto Sénior. Assim, a nossa profes-sora Alexandra Granado irá continuar a tra-balhar com a classe de Ginástica Sénior (+ 55 anos) da AMP em prol de uma vida mais activa e saudável dos nossos seniores e conta neste ano já com 26 alunos.

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Façam-se amigos do Portela Sábios

e do Portela Jovem e da Portela Magazine

através do facebook

Jantar Início Ano Lectivo 2013/2014

Mário de Carvalho no Clube de Leitura do Portela SábiosO escritor Mário de Carvalho foi o convidado especial de

mais um Clube de Leitura do Portela Sábios. Iniciativa promovida por Isabel Fraga, orientadora do nosso clube de lei-tura, que juntou uma série de leitores deste autor para conversa-rem sobre o livro Os Alferes.

O ano lectivo da nossa Universidade Sénior – Portela Sá-bios teve início no dia 7 de Outubro, neste ano com mais alunos, mais professores e novas disciplinas, das quais destacamos Alemão; Italiano; Russo; Filosofia; Cultura Clássica (módulo de Grego e módulo de Romano) e Ofi-cina da Escrita. Passamos assim a contar com um leque de 39 disciplinas.Para este ano lectivo, será este o nosso calendário escolar:– 1.º Período: 7 de Outubro a 14 Dezembro; – 2.º Período: 3 Janeiro a 15 Março; – 3.º Período: 2 Abril a 28 de Junho;– Pausas lectivas – Férias de Natal de 17 Dezembro a 2 Janeiro de 2013; Carnaval de 11 a 13 Fevereiro e Férias Páscoa de 18 Março a 1 Abril.

Desejamos a todos um excelente ano lectivo recheado de sapiência…

Para marcar o início do novo ano lectivo do Portela Sábios, rea-

lizámos no dia 12 de Outubro mais um jantar convívio, no qual e à se-melhança dos anteriores, a anima-ção foi uma constante. Neste ano, os nossos alunos, professores, co-laboradores e restantes convidados foram surpreendidos com uma exi-bição de Danças de Salão por parte dos alunos da Associação de Dança de Moscavide, a quem muito agra-decemos.

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ACONTECEU NA AMP

4.º Ciclo de Palestras Neste ano, iniciamos o nosso

ciclo de palestas mais cedo e realizamos conjuntamente com a IAC uma conferência pública sob o tema «EQM (Experiência de Quase Morte): Haverá vida para além da vida?» A IAC – Internacional Academy of Counsciousness é uma organi-zação de pesquisa e educação, sem fins lucrativos, dedicada à inves-tigação da consciência de forma

integral (abrangendo múltiplas dimensões e existências). A IAC considera a terceira idade como uma fase da vida em que existe uma maior disponibilidade para o desenvolvimento pessoal, cresci-mento e maior autoconhecimento, sendo o conteúdo dos seus cursos e das suas conferências públicas do interesse dos nossos alunos da Universidade Sénior Portela Sá-bios.

Estas tertúlias são realizadas uma vez por mês, normalmente no

último sábado de cada mês e após as férias de Verão, reiniciaram no mês Setembro. No passado dia 30 de Novembro, foi já realizada a 16.ª edição destas tertúlias, desta vez su-bordinada ao tema Relacionamento.

As tertúlias são realizadas no Cen-tro de Convívio do Portela Sábios, são de entrada livre e estão abertas a toda a comunidade, é só ficar atento à data, a qual normalmente é publi-citada através do facebook da AMP e do Portela Sábios. Apareçam e divirtam-se com sabedoria.

Continuidade das nossas Tertúlias Alimentar o Ser

Este ano lectivo começou cheio de surpresas, desde logo os

nossos jovens foram surpreendidos com um novo espaço, mais am-plo e agradável. O Portela Jovem passou a funcionar nas instalações do Centro de actividades da AMP, um espaço partilhado com a nossa Universidade Portela Sábios, mais um paço para fomentar a interge-racionalidade e a partilha entre es-tes dois grupos etários. Os nossos jovens podem ainda beneficiar da ajuda dos nossos seniores na realização das suas tarefas esco-lares, contando com o apoio de professores no plano da língua

Portela Jovem com novas instalaçõesportuguesa, matemática e história.Esperamos que aproveitem bem os ensinamentos dos nossos sábios e desejamos a todos os nossos jovens um ano escolar recheado de suces-so e com muito juízo.O dia de São Martinho foi come-morado no Portela Jovem com a re-alização de um painel especial, alu-sivo à época, decorado pelos nossos jovens com a ajuda da nossa queri-da professora Dra. Manuela Rego. Tivemos ainda algumas guloseimas e castanhas assadas para o lanche, foi um dia diferente, animado, de convívio entre os nossos jovens.

um espaço partilhado com a nossa Universidade Portela Sábios, mais um paço para fomentar a intergeracionalidade e a partilha entre estes dois grupos etários. Os nossos jovens podem ainda beneficiar da ajuda dos nossos seniores na realização das suas tarefas escolares, contando com o apoio de professores no plano da língua

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A AMP está consciente das dificuldades que as nossas famílias enfrentam. Desta forma, através do projecto Portela Solidária, vamos, à semelhança do ano anterior e dando corpo ao protocolo celebrado com a Câmara Municipal de Loures, realizar mais uma recolha de bens essenciais. Esta recolha será re-alizada durante o mês de Dezembro e será posteriormente entregue nas Lojas solidárias que os irá canalizar às famílias mais carenciadas.

Por favor, ajude-nos a ajudar e colabore com esta ideia!

A AMP deseja a todos os seus associados e amigos um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde e alegria!

Façam-se amigos da Associação dos Moradores da Portela através do facebook

Apareçam, colaborem e desfrutem da Vossa Associação! Carla MarquesPresidente de Direcção

VAI ACONTECER NA AMP

Portela Sábios no anfíbioOs alunos do Portela Sábios ti-

veram oportunidade de viver uma experiência única na cidade de Lisboa. Um passeio a bordo do úni-co veículo anfíbio do país que per-mite explorar as diferentes facetas da nossa capital quer por terra, quer por mar, sem ter de sair do mesmo lugar!!! Tal foi o sucesso desta via-gem que foram já realizados 3 pas-seios para abranger todos os nossos alunos que manifestarem interesse nesta viagem!Ainda antes das férias lectivas do Natal, os nossos sábios foram ao Teatro Politeama assistir à mais recente produção de Filipe La Fé-ria – Grande Revista à Portuguesa –, uma megaprodução que home-nageia o género mais genuíno do nosso teatro, num espectáculo que revisita o humor e a arte de ser por-tuguês.

As férias lectivas do Natal estão a chegar e a equipa do Portela jovem já orga-nizou o seu programa para as férias de Natal para os vossos filhos, que inclui vários passeios e actividades lúdicas e culturais adequadas à época. Será sem dúvida uma forma divertida de passar o tempo de merecido descanso após um intenso período escolar.

Durante as férias de Natal, o Portela Jovem recebe também os jovens que não estão connosco durante o período lectivo. Reservem já o lugar para os vossos filhos – Para mais informações sobre o programa de Férias de Natal, contactar a secretaria da AMP – telef. 21 9435114 ou 918552954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected]

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CULTURA

No meu quarto, há uma ré-plica da Ofélia morta de Millais. Agrada-me ador-

mecer sob o signo daquela que morreu de amor. Criada ou não pela literatura, tive desde idade muito precoce uma propensão para amores fatais. Desconfiava dos amores calmos e seguros e, como seria de prever, dediquei a primeira década adulta a co-leccionar paixões impossíveis e várias crises nervosas. Conse-gui, apesar de tudo, chegar aos trinta anos com várias mortes imaginárias, mas nenhum óbito efectivo. A morte real foi sempre interrom-pida pela leitora que há em mim; insónia após insónia, narrativizava cada amor até me aperceber de que o amante em questão era demasia-do medíocre para um desfecho tão sublime. Não quero com isto des-valorizar os homens que amei ou julguei amar, eles foram os amantes necessários. Lidos no seu conjunto, eles contam a história da formação do meu desejo. Como peças de um puzzle ou fragmentos de uma epo-peia menor.Franchizado o desamor, comecei a interessar-me por outro tipo de heroí- nas literárias: as que sobrevivem ao fim do amor. Neste campo, também não é fácil encontrar uma persona-gem à altura do meu desejo. Se a li-teratura parece exímia a ensinar os corações a despedaçarem-se, poucas são as pistas para quem deseja um caminho alternativo.Leitoras ou não, as mulheres sempre foram percebidas como um perigo que não se sabia bem como contro-lar. Era preciso dar-lhes um destino, uma solução, e o dispositivo literário soube apropriar-se da ideia de amor romântico para arrumar o género fe-minino. De ora em diante, a mulher tinha uma função muito clara: con-

Patrícia Guerreiro NunesLeiturasdemadamebovary.blogspot.com

Que fazer quando tudo ardeu?

sagrada a Eros, deveria dedicar a sua vida à procura e à prática do amor.A questão é que a própria solução se revelou também problemática, pois um pharmakon nunca é inteiramente controlável. A primeira fenda no edi-fício romântico é a sua profunda an-títese com o casamento; «contratuali-zado» o amor, logo este devém tédio ou neurastenia, se preferirmos o termo clínico em voga no século XIX. Onde Eros falha, o dispositivo literário con-voca Tanatos e as mulheres que trans-gridem o espaço doméstico são puni-das com a morte. É o caso de Madame Bovary e de Anna Karenina.Entre Eros e Tanatos, que alternativas nos sugere a literatura para lidar com este problema literário? Além das nar-rativas de ascetismo redentor ou de voluptuosidade da carne, as respostas são raras. Estava a ficar sem esperan-ças numa emancipação literária da mulher relativamente à ideia de amor quando encontrei uma assombração textual: Thérèse Desqueyroux.As afinidades com Madame Bovary denotam uma intenção óbvia de Mau-riac em reescrever a história da apari-ção de um desejo feminino incontro-lável. Como Emma, também Thérèse sufoca numa vida menor na provín-cia, casada com um homem simples e a maternidade não lhe traz qualquer alegria ou paliativo. Mas o que inte-

ressa em Thérèse não são as afini-dades que a unem a Emma Bovary, mas o desacordo que as distingue.Thérèse é uma lei-tora ávida e inteli-gente. Casou com um homem simples e rude na esperança de que ele a simpli-ficasse, mas não con-seguiu acomodar-se na ordem da família e salvar-se da sua pró-

pria inquietude. Perante este falhanço, Thérèse encerra-se em si, num iso-lamento sem lenitivos nem amantes («Não suspeitava de que um outro homem lhe pudesse ser de algum so-corro. Ao fim, ao cabo, Bernardo não era assim tão mau. Ela execrava nos romances a pintura de seres extraordi-nários, como nunca se encontram na vida»). Como a outra, sonha com uma vida mais intensa; ao contrário da ou-tra, não se deixa devorar pelos ideais românticos. Opta por se intoxicar com cigarros e envenenar o marido com arsénico.Despedimo-nos de Thérèse em Paris. O marido liberta-a na grande urbe, libertando-se também da ameaça que esta mulher sempre significou. Ela tem finalmente o tempo e a solidão que tanto desejou para se fixar no seu desespero misterioso. Inicialmente, tem medo desta liberdade desco-nhecida – é que também ela se sente ameaçada pelo seu poder cego. Se o marido a pudesse perdoar, imagina-se a voltar com ele de bom grado para o seu papel de mãe e de esposa burgue-sa. Mas, felizmente, o desejo de uma vida maior vence e, na última vez que a vemos, Thérèse ri sozinha e pinta os lábios com minúcia, antes de se perder pelas ruas da cidade. O que acontece depois é um enigma. Como o desejo feminino.

-plica da Ofélia morta de

-mecer sob o signo daquela que

gui, apesar de tudo, chegar aos trinta

Leiturasdemadamebovary.blogspot.com

a Emma Bovary, mas o desacordo que as distingue.Thérèse é uma leitora ávida e inteligente. Casou com um homem simples e rude na esperança de que ele a simplificasse, mas não conseguiu acomodar-se na ordem da família e salvar-se da sua pró

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Humor Uma Carta Aberta aos Comerciais MEO

Excelentíssimo(a) Sr(a). Comercial:

Eu já tenho MEO. Não preciso que me toque à campainha para tentar vender o M4O! E sabe porquê? Porque eu já tenho o M4O! Comprei o pacote literalmente cinco minutos depois de ver os Gato Fedorento a gozar com aquele senhor norte-americano. Por um lado, achei um anúncio cómico e brilhante. Por outro lado, eu sou facilmente influenciável e compro de tudo, como poderá comprovar pelo cortador de relva movido a energia solar que está guardado na minha garagem, na eventualidade de um dia ter um jardim no interior do meu apartamento na Portela.

Estou seguro de que, algures no mundo digital das bases de dados, está escrito que eu já tenho o seu produto. Será que não tem acesso a esta informação a priori? É que já estou mes-mo farto de interromper jantares, filmes e a ocasional relação sexual para lhe abrir a porta. Acredite, nem eu quero ver a sua cara, nem você a minha erecção. São minutos que ambos perdemos e, no meu caso, por mais que tente, não vão entrar para a estatística como tempo útil de «jogo».

Para mim, a sua laia está apenas ligeiramente acima da das Testemunhas de Jeová, que me batem à porta de 2 em 2 dias. E até nesses casos, se no passado já respondi «Sim» à pergunta «Conhece a palavra do Senhor?», diria que cumpro os requisitos mínimos para que, de futuro, não me chateiem. Parece que os Jeovás só têm 2 leis: Não fazer transfusões de sangue e não investir num sistema informático centralizado de «convertidos».

Mas voltando a si, peço-lhe encarecidamente que não me deixe o panfleto informativo com o seu contacto telefónico, apesar de já lhe ter dito que possuo MEO. «É para o caso de conhecer alguém que esteja interessado.»Ahhhh, agora ainda quer que faça o seu trabalho por si? Além de não saber quem são os seus clientes, é incompetente! Um coala narcoléptico faria um melhor trabalho.A partir do momento em que me dá o panfleto, ele tem o destino traçado: lixo, juntamente com os rissóis que deixei queimar porque tive de lhe abrir a porta.

Para concluir, uma nota positiva: desejo que desfrute da sua breve carreira enquanto comer-cial. Sei que não é o seu emprego de sonho e que só o está a fazer porque tem algo muito im-portante para pagar, ou porque tirou Psicologia. De qualquer das formas, a culpa não é sua.

Despeço-me cordialmente,Hugo Rosa

P.S. – Eu não sou Testemunha de Jeová, simplesmente dá menos trabalho mentir-lhes.

Hugo Rosa www.facebook.com/hugohrosa

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FUTSAL

A equipa Sénior de Futsal da Portela recebeu, no passado dia 18 de Setembro, o Spor-

ting Clube de Portugal, Campeão Nacional, para o jogo de apresenta-ção da equipa da casa. A Portela entrou em campo com ex-celentes indicadores frente a um Spor-ting muito forte, num jogo marcado por alguma indisciplina por parte dos jogadores. A equipa da casa chegou ao intervalo a vencer por 3 a 1, mas a oito minutos do final do jogo os campeões nacionais já tinham dado a volta ao re-sultado e o placard já assinalava 4-4. O jogo foi muito equilibrado, mas os Leões conseguiram dar a volta ao re-sultado e venceram por 4-7. Nuno Dias, treinador do SportingQual a sua opinião sobre a equipa da Portela?Acho que está melhor que no ano pas-sado, muito sinceramente. Viemos cá no ano passado, regressámos este ano e parece-me que a equipa está, de uma forma geral, melhor organizada. É um ano com este treinador novo e parece- -me que o Mário tem qualidade e tra-balha bem. É uma equipa organizada, que sabe o que faz. Pelo que vi, e se não começarem tão mal como na épo-ca passada, acho que neste ano há for-tes hipóteses de estarem connosco na próxima época na primeira divisão.Mário Silva, treinador da equipa sénior da AMPQuem são as novidades da equipa para esta época?A aposta nesta época foi claramente na continuidade. Mantivemos o plan-tel praticamente todo, excepção feita a um dos guarda-redes, uma vez que por necessidade terminámos a tempo-rada passada com quatro. Infelizmen-te, no início dos trabalhos já tivemos uma contrariedade com a saída do João Pinheiro por motivos profissio-nais. As caras novas são três: Osvaldo Moreno ex-Belenenses, Bruno Santos

Leonor Noronha

Jogo de Apresentação e Expectativas para a Nova Época

ex-Leões de Porto Salvo e Ricardo Cardoso ex-Torpedos.Quais as expectativas para a época 2013/2014?Como todos os que são exigentes no seu trabalho, nós não fugimos à regra e achamos que há sempre espaço para melhorar o que foi feito. Mentalmente, entramos em todos os jogos para ven-cer e com a responsabilidade de dig-nificar os valores da Associação dos Moradores da Portela por todo o País bem presente. O mais importante é termos a consciência de que se alguma vez não conseguirmos atingir os nos-sos objectivos desportivos, que seja porque outros foram mais competen-tes e nunca porque não demos tudo. O pior sentimento que uma equipa pode ter é esse! Quais as principais dificuldades que pensa que vão encontrar? Neste ano, a segunda divisão nacional está mais exigente. No ano passado exis-tia um núcleo de cinco ou seis equipas que podiam lutar pelo objectivo subida e este ano parece-me que esse número se mantém, com uma grande diferença. A qualidade dessas equipas está subs-tancialmente melhor. Acrescido a isso, as alterações nos quadros competitivos que entram em vigor neste ano tam-bém são um factor de agravamento das dificuldades. Neste ano, apenas uma equipa subirá de divisão ao contrário das tradicionais duas. De qualquer das formas, preparámo-nos bem e os três novos jogadores também colmataram algumas lacunas que tínhamos no nosso jogo. Tão ou mais importante que isso, a selecção natural que se foi fazendo da equipa na época passada permite-nos hoje pensar que temos um grupo muito mais homogéneo na for-ma de pensar, de trabalhar, nos valores,

e isso poderá ser um factor decisivo na estabilidade emocional da equipa e na prevenção de incidentes internos que nos prejudicam e prejudicaram.Kiko, capitão de equipa AMPortelaQuais as expectativas para a época 2013/2014?Tentar fazer melhor que na época pas-sada (no ano passado ficámos em 2.º lugar, a 1 ponto da subida de divisão). Nesta época, vamos tentar, jogo a jogo, dar sempre o nosso melhor e en-carar os jogos como finais, para que no final possamos alcançar uma melhor classificação que a da época passada. O grupo está a trabalhar muito bem e com grande ambição, daí, se tudo cor-rer bem, estivermos unidos e formos uma verdadeira equipa à AMPortela, estaremos perto de atingir os nossos objectivos.Quais as principais dificuldades que pensam que vão encontrar?Todas as épocas existem dificuldades e esta não será excepção com toda a certeza. Temos um plantel experiente que neste ano foi reforçado com jo-vens com muita qualidade, que permi-tem à Portela ser encarada como um dos «alvos a abater» como tem sido ao longo destes últimos 3/4 anos. Daí, sabermos de antemão que todos os adversários vão querer dificultar-nos ao máximo o nosso trabalho, mas esta questão não pode ser vista como difi-culdade, mas sim como forma de nos aplicarmos ainda mais quer em treino quer no jogo.A grande preocupação que o plantel da Portela tem de ter neste ano é dar sem-pre tudo de si, por forma a que todas as dificuldades possam ser ultrapassa-das com o nosso trabalho, sempre com base nas directrizes da equipa técnica.Claro está que por vezes as lesões poderão influenciar o rendimento da equipa, mas, como disse anteriormen-te, neste ano a AMPortela tem um plantel vasto e com muita qualidade, daí não podermos estar preocupados com esta questão.

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Bonifácio Peter da Silva

TECNOLOGIA

Caros leitores, hoje trago-vos uma grande novidade, o Goo-gle Glass (óculos da Google).

Já se imaginou a passear pela rua e es-tar ligado à Internet, aceder às mensa-gens electrónicas, editar a agenda pes-soal, utilizar o telefone e estar ligado à rede de satélites para obter direcções, tudo isto e muito mais, ao mesmo tempo, de forma discreta e de mãos nos bolsos?Hoje, é possível fazer isso e muito mais, o Google Glass é um projecto da Google, cuja missão é organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e úteis, mas

da triangulação das antenas das redes móveis, Wi-Fi ou até de satélites GPS, podemos encontrar as melhores direc-ções para localizar um amigo.Destaco duas características que me impressionaram, o facto de o som ser transmitido pelos ossos, através de dois condutores colocados na parte poste-rior das hastes. É, de facto, algo que nunca imaginaria possível no presen-te. Outra coisa que me impressionou foi o reconhecimento facial, o facto de olharmos para um rosto e obter todos os dados que estejam na base de dados sobre essa pessoa (assim como toda a informação disponibilizada nas redes sociais). Tudo o resto achei normal para um aparelho daquele tamanho, a bateria é que terá de ser carregada diariamente.O protótipo já se tornou público, muitos foram distribuídos por cola-boradores e alguns especialistas para avaliação, prevendo-se, para breve, o lançamento mundial cujo preço ron-

dará os 500 €. É certo que é mais caro do que um médio smartphone, mas, se levarmos em conta as funcionalidades destes óculos e o valor de mui-tos aparelhos que o nor-mal português utiliza, o preço nem é elevado. Em Portugal, a apresentação e demonstração desta mara-vilha ocorreu no passado dia 19 no IST Porto.Na certeza de não estar disponível, em tempo útil, para este Natal, quem não gostaria de abrir um em-brulho com um par destes óculos?

Google Glass

aceder desta forma vai certamente alterar a forma de interagir com uma máquina. Com um design arrojado, este wearable gadget substitui o mais avançado smartphone, tornando-os obsoletos.Podemos fazer videoconferências no escritório e enviar mensagens de tex-tos com o comando da voz, além de filmar ou fotografar momentos da vida real e compartilhar na Internet. Através

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