33
P P ó ó s s - - g g r r a a d d u u a a ç ç ã ã o o e e m m E E n n o o l l o o g g i i a a e e V V i i t t i i c c u u l l t t u u r r a a “O Coberto Vegetal Semeado em Vinha” Pedro Manuel Nogueira Tereso 2008

Pós-graduação em Enologia e Viticultura · que o objectivo é, acima de tudo, atingir produções elevadas, os desequilíbrios ambientais criados revelaram-se de difícil ou quase

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PPóóss--ggrraadduuaaççããoo eemm EEnnoollooggiiaa ee

VViittiiccuullttuurraa

““OO CCoobbeerrttoo VVeeggeettaall SSeemmeeaaddoo eemm VViinnhhaa””

PPeeddrroo MMaannuueell NNoogguueeiirraa TTeerreessoo

2008

2

Índice

IInnttrroodduuççããoo 33

11.. RReessuummoo HHiissttóórriiccoo 44

22.. CCoobbeerrttoo VVeeggeettaall SSeemmeeaaddoo 55

22..11.. CCoobbeerrttooss VVeeggeettaaiiss ddee PPllaannttaass AAnnuuaaiiss 55

LLeegguummiinnoossaass 55

GGrraammíínneeaass 1155

22..22.. CCoobbeerrttooss VVeeggeettaaiiss ddee PPllaannttaass VViivvaazzeess 1166

LLeegguummiinnoossaass 1166

GGrraammíínneeaass 1177

22..33.. EEffeeiittooss ddoo CCoobbeerrttoo VVeeggeettaall SSeemmeeaaddoo 2211

FFeerrttiilliiddaaddee ddoo SSoolloo 2211

BBiiooddiivveerrssiiddaaddee ddoo SSoolloo 2222

EErroossããoo ddoo SSoolloo 2233

IInnffiillttrraaççããoo ddoo SSoolloo 2233

LLiimmiittaaççããoo NNaattuurraall 2255

QQuuaalliiddaaddee àà VViinnddiimmaa 2266

22..44.. IInnssttaallaaççããoo ee MMaannuutteennççããoo ddoo CCoobbeerrttoo VVeeggeettaall 2277

SSeemmeenntteeiirraa 2277

FFeerrttiilliizzaaççããoo 2288

CCoorrttee 2299

33.. CCoonnssiiddeerraaççõõeess FFiinnaaiiss 3300

BBiibblliiooggrraaffiiaa 3311

3

Introdução

A ecologia é tão antiga como a agricultura e só a forte ligação entre elas manteve

o equilíbrio da natureza ao longo de milénios, no entanto, nas zonas de maior

intensificação agrícola, de grande expansão de sistemas baseados em monoculturas, em

que o objectivo é, acima de tudo, atingir produções elevadas, os desequilíbrios

ambientais criados revelaram-se de difícil ou quase impossível reparação.

A conservação do solo e da água é condição absolutamente básica para manter a

produção e muitas são as causas que têm contribuído para a perda destes dois factores,

destacando-se entre elas a falta de cobertura vegetal, que conduza à erosão do solo, ao

seu arrastamento pela água e pelo vento, aumentando concomitantemente as perdas de

água, por diminuir a infiltração e aumentar a evaporação.

De facto, o coberto vegetal semeado apresenta um impacto positivo nos

agrossistemas agrícolas em geral [1], na viticultura em particular, directa e

indirectamente através de fenómenos de simbiose, como por exemplo aumentando a

qualidade nutritiva de um solo este terá tendência para aumentar a sua dinâmica e

sustentabilidade diminuindo custos de produção no médio/longo prazo [45].

Hoje em dia está na “moda” o tema do aquecimento global e a agricultura terá

que se adaptar ao fenómeno com práticas adequadas e a sementeira de um coberto

vegetal pode induzir ao aumento da sustentabilidade e da biodiversidade da exploração

agrícola contribuindo assim para um mundo melhor.

Este trabalho não é mais que uma contribuição para o conhecimento e sucesso na

utilização de cobertos semeados na entrelinha na cultura da vinha.

4

1. Resumo Histórico

Os cobertos vegetais nos cultivos arbustivos existem desde sempre, alguns

autores referem que já no tempo dos Romanos se utilizava na entre-linha das vinhas o

desenvolvimento da flora espontânea durante grande parte do ano [2].

No início do séc. XX (1902) são realizados os primeiros ensaios com cobertos

vegetais, sendo este controlado mecanicamente e os restos eram utilizados para a

alimentação animal [9].

Em 1924 foram apresentados os resultados de um ensaio de 25 anos em pomares

de Macieiras onde a utilização do coberto vegetal apresentava aumentos nas quantidades

de húmus, superiores à própria incorporação de fertilizantes comerciais [2].

O mesmo autor refere que entre 1930 e 1940 a estação experimental East

Malling, no Reino Unido, realizou diversos estudos sobre a eliminação mecânica de

cobertos com Gramíneas e Leguminosas, como sistema alternativo à manutenção do solo

em culturas permanentes.

Na Califórnia, durante 20 anos (1970-1990), realizaram-se numerosos estudos

sobre modalidades de cobertos semeados em vinhas e outras espécies fruteiras, que

ainda hoje são utilizados pelos agricultores [2].

Hoje em dia é prática corrente entre os agricultores em geral e os viticultores em

particular, os Americanos optam por uma instalação de cobertura do solo plurianual

enquanto os Australianos utilizam o coberto para incorporação em verde (sideração)

com o abrolhamento da vinha, evitando a concorrência com a cultura.

Em Portugal começa-se a dar os primeiros passos na instalação de cobertos

semeados plurianuais, mas no Douro já existem quintas a utilizar a incorporação em

verde das mais variadas espécies.

5

2. Coberto Vegetal Semeado

O enrelvamento constitui um sistema de gestão do solo recomendado na

viticultura sustentável e para a sua instalação devemos ter em consideração diversos

factores, tais como:

- Clima (quantidade de precipitação anual na região a instalar o coberto).

- Topografia (necessidade de controlo da erosão).

- Caracterização do solo (textura, pH, fertilidade, etc…)

- Estratégia a adoptar com o coberto (sideração ou coberto plurianual).

- Características das espécies a semear (cortes, maturação da semente, etc.)

- Desvantagens do coberto (competição com a vinha, etc…)

2.1. Cobertos Vegetais de Plantas Anuais

� Leguminosas

Trifolium subterraneum (Trevo subterrâneo)

É uma leguminosa que está adaptada às condições mediterrânicas, necessitando

de 350-1200 mm de precipitação por ano para o seu desenvolvimento [41]. Na época

estival depois de maduro, a semente tem capacidade de autosementeira realizando-se o

seu restabelecimento após as primeiras chuvas.

Apresenta 3 variedades adaptadas a diversas condições edafo-climáticas, como

seja o T. subterraneum, o mais comum, que está adaptado ao clima mediterrâneo e a pH

entre 5,5 e 7,5. O T. Yanninicum é o melhor adaptado para solos encharcados e o T.

brachycalcycinum que apresenta elevada tolerância a solos alcalinos e ao

ensombramento [40].

A temperatura óptima para a sua germinação é entre os 15 -25 ºC e não tolera

temperaturas abaixo dos -4ºC, a geada durante a floração influencia a formação da

semente para o ano seguinte [41].

Em condições de secura na estação estival é adequado a utilização de variedades

com elevado número de sementes duras permitindo a sua autosementeira com as

primeiras chuvas Outonais.

6

Este trevo prefere solos de elevada fertilidade, particularmente com elevados

teores de fósforo e enxofre, não tolera solos arenosos [40].

Deverá produzir perto de 600 kg/ha de semente para a regeneração do “prado”,

no entanto as condições de secura durante a floração pode reduzir significativamente o

banco de sementes [41].

As sementeiras devem ser feitas até 10 mm de profundidade, com humidade e

temperatura de solo suficientes para assegurar uma boa germinação, a densidade deve

rondar os 10 a 15 kg/ha em monocultura e 3–6 kg/ha em maturação com gramíneas [40].

O fósforo, o enxofre e o potássio, são elementos nutritivos críticos e melhoram a

produção do trevo, assim a aplicação de superfosfato aumenta não só a sua performance

como a geração de nódulos. Os solos ácidos melhoram o seu estabelecimento e

regeneração [41].

As cultivares Clare e Koala apresentam-se resistentes a solos de pH superiores a

7,2 [41].

O T. subterraneum é compatível com outros cobertos, nomeadamente o Lolium

multiflorum e o Lolium perene e Phalares aquática, contudo, devemos evitar a mistura

com Trifolium repens pois reduz a produção de semente [41].

Na Austrália pode fixar 50 a 188 kg/ha, enquanto que nos EUA apresenta valores

entre 104 e 206 kg/ha [41].

Em 5 meses pode produzir 16 t/ha de matéria seca, sendo a precipitação a

principal responsável pela produção. Em consociação com gramíneas existe umaumenta

a sua taxa de crescimento, devido à manutenção do coberto vegetal, favorecendo-se a

leguminosa [41].

Normalmente é mais resistente a doenças do que as outras leguminosas, mas há a

destacar a podridão radicular, principalmente em solos com excesso de água, o oídio

também é comum nos cobertos que não sofrem cortes [41].

O quadro 1 mostra algumas cultivares de trevo subterrâneo e as suas

características agronómicas.

7

Quadro 1 – Características Agronómicas de diversas cultivares de Trifolium subterraneum.

Cultivares Sementes duras

(1-10)

Sementes

(nº/lb)

Nec. hídricas

(mm)

Dias para

Floração Maturação

Geraldton 8 8500 200 97 Precoce

Daliak 6 80 000 240 97 Precoce

Dwalgarup 7 85 000 24 83 Precoce

Seaton Park 5 65 000 360 110 Média

Yarloop 4 60 000 360 109 Média

Dinninup 7 85 000 360 113 Média

Woogenellup 3 60 000 400 130 Média

Howard 3 80 000 400 93 Média

Clare 3 70 000 400 129 Média

Bacchus

March 1 75 000 500 131 Média

Ornithopus compressus (Serradela)

Leguminosa anual (figura 1) de clima

mediterrâneo, precisando de 350 mm de

precipitação para o seu desenvolvimento.

Prefere solos ácidos, férteis e profundos (+

60 cm), tolera melhor a reduzida fertilidade

que outras leguminosas, sendo menos

exigente em P e K que o trevo subterrâneo

[33].

Apresenta elevada tolerância a solos

com pH entre 4 e 5 e altos níveis de alumínio

(35% no complexo de troca) [33].

Figura 1 - Aspecto do Ornithopus compressus

8

Em solos de baixa fertilidade fixa normalmente 15 a 20 kg de N por cada

tonelada de matéria seca produzida por ha, já em solos mais férteis pode chegar aos 40

kg de N [33].

A cama de sementeira terá que ser bem cultivada, uniforme e firme. A semente

não deve ficar a mais de 15 mm de profundidade, com densidades até 10 kg/ha [33].

A elevada proporção de sementes duras (quadro 2) permite passar a época estival

no banco de sementeira, à espera das primeiras chuvas, podendo produzir até 900 kg/ha

de sementes [34].

Quadro 2 – Algumas características agronómicas de diversas cultivares de Ornithopus compressus

Cultivar Dias 1ª Flor Dias p/

Maturação

Sementes Duras

(%)

Necessidade

Hídricas (mm)

Charano 108 177 100 300 - 500

Paros 109 182 99 300 – 500

Santorini 114 171 99 300 – 500

Madeira 124 179 97 > 600

Tauro 133 183 52 > 600

Pitman 135 185 71 600 – 1000

Ávila 143 190 99 600 - 1000

É compatível em misturas com Trevo subterrâneo, Biserula e algumas gramíneas,

melhorando a sua performance em condições de monocultura ou misturada com outras

cultivares de Serradela [34].

Não lhe são conhecidas sensibilidades a doenças, contudo a praga Heliothis

punetigera pode reduzir a produção de sementes.

9

Trifolium resupinatum (Trevo persa)

É uma leguminosa (figura 2)

anual que pode atingir os 60 cm de

altura, originária do Sul da Europa e

deste modo adaptada ao clima

mediterrâneo. É muito resistente ao frio

(> - 12 ºC) [38], apresentando nestas

condições um crescimento muito lento.

Está adaptado a diversos tipos de

solo preferindo os férteis, de pH neutros

a alcalinos (5,5 – 9). Tolera o

encharcamento e a salinidade, providos

de fósforo e potássio [39].

Necessita de mais de 450 a 600 mm anuais para produção de semente necessária

para a auto sementeira. A cama de sementeira deve ser firme e bem preparada com

densidade entre os 5 – 10 kg/ha [38].

Trifolium vesiculosum (Trevo vesiculoso)

Leguminosa anual mais sensível ao frio (- 4ºC), originária do Sul da Europa,

prefere solos férteis, profundos e bem drenados. Com pH neutro ou alcalino (6 a 7),

podendo apresentar clorose férrica quando vegeta em solos calcários. Não tolera o

encharcamento [42].

Apresenta elevada produção de sementes duras como mostra o quadro 3,

permitindo a sua auto sementeira. A cama de sementeira deve ser bem cultivada,

uniforme e firme, não devendo exceder os 20 mm com densidades a rondar os 7 – 11

kg/ha [42].

Quadro 3 – Características de 2 cultivares de Trifolium vesiculosum

Cultivares pH Necessidade hídrica p/

Germinação

(mm)

Floração

Aniclo 6 – 7,5 35 Precoce

Meecher 6 – 7,5 36 Tardia

Figura 2 - Foto do Trifolium resupinatum.

10

A espécie apresenta um ritmo de crescimento elevado, e no que respeita á

maturação da semente, esta pode produzir 9,4 t/ha de matéria seca e 100 a 400 kg de

semente (880 000 sementes/kg).

Os cortes devem ser no máximo até 10 cm durante o crescimento vegetativo.

Medicago polimorfa (Luzerna anual)

Planta indígena da região

mediterrânica, de rápido crescimento. Está a

adaptada a diferentes tipos de solo,

preferindo os neutros a alcalinos (6 a 8 pH),

e bem drenados (figura 3).

Os solos ácidos afectam a simbiose

entre rizobium e planta, reduzindo a fixação

de N atmosférico [43].

Necessita de 200-600 mm de precipitação para ter um bom desenvolvimento.

Tolera as condições de secura, (mais do que o T. subterrâneo), necessitando de 12” para

germinar. Contudo, mostra-se muito sensível ao encharcamento [31].

Apresenta elevada proporção de sementes duras como mostra o quadro 4, o que

facilita a sua ressementeira e restabelecimento. É compatível em misturas com Phalaris

aquática e Lolium rigidum, mas apresenta melhores resultados quando semeada em

monocultura [30].

No que respeita a cama de sementeira, deve-se evitar sementeiras a

profundidades superiores a 20 mm e as densidades devem estar entre 8 a 12 kg/ha [31].

A sua performance está associada à presença de fósforo e enxofre, e tal como o

T. subterrâneo, a fertilização com superfosfato é a chave para o estabelecimento do

coberto. Em algumas regiões, a deficiência em nutrientes como o cobalto e o cobre, teve

de ser compensado para melhorar a sua performance [31].

Quanto aos problemas fitossanitários, os afídeos são o principal problema desta

espécie, provocando também a transição de viroses, promovendo uma redução

significativa no crescimento e produtividade das sementes [31].

Figura 3 - Aspecto de Medicago polimorfa

11

A luzerna tolera bem o corte, sendo este até aos 12cm, durante a época de

crescimento, de modo a melhorar a competição contra as infestantes e a formação da

semente. Quando atinge os 30 cm de altura, o corte deve ser efectuado aos 15 cm, pois

cortes mais curtos podem provocar problemas no novo crescimento [30].

A contribuição de azoto desta leguminosa está estimada em 85 a 360 kg/ha [30].

Quadro 4 – Alguns aspectos agronómicos de cultivares de Medicago polimorfa

Cultivares Nec. Hídricas

(mm) Sementes Duras

Densidade de

Sementeira

Cauquenes 400 -800 97% 15 kg/ha

Combaula 150 -550 96% 12 -15 kg/ha

Trifolium glanduliferum (Trevo glandulifero)

É uma planta anual, originária da zona mediterrânica, semeada em zonas da

Austrália, com precipitações anuais entre os 350 a 600 mm, tolerando o frio até os -5ºC

[10].

É uma leguminosa bem adaptada a diversos tipos de solo, preferindo os neutros a

ácidos, de textura pesada e bem drenados, existindo alguns estudos que evidenciam a sua

boa resposta ao encharcamento temporário no Inverno [37].

Existe uma cultivar, Prime, que apresenta uma maturação precoce da semente,

que floresce 100 a 115 dias após a sementeira [37]. A semente é pequena e requer um

solo bem preparado, fino e uma cama uniforme. Quanto à sementeira não deve ser

semeada a mais de 1 cm de profundidade, com densidades de 1 a 3 kg/ha [9].

Pode produzir 300 – 700 kg/ha de semente, de elevada dureza (90%), podendo

estar presente no solo durante 3 anos após a sua auto sementeira [12].

As necessidades nutritivas desta leguminosa são similares a outras leguminosas

anuais, destacando-se para além do fósforo, enxofre e potássio, o molibdénio [13].

É uma planta muito usada em várias misturas, nomeadamente, como T.

subterrâneo, Serradela anual, Luzerna anual e Biserrula [24]. No entanto está sujeita a

fenómenos de competição no estabelecimento do coberto, devido ao pequeno tamanho

da sua semente [12].

12

Trifolium balansae (Trevo balansa)

É uma espécie proveniente da Ásia

Menor (Turquia), é uma planta anual

(figura 4) que apresenta elevada proporção

e sementes duras (60-80%), permitindo a

sua regeneração na campanha seguinte. É

uma semente muito mais pequena do que a

do T. subterrâneo, encontrando-se

aproximadamente 1.400.000 unidades/kg

[36].

A sementeira deve apresentar uma profundidade máxima de 15 mm, com

densidades na ordem dos 3 a 5 kg/ha. O solo deve ser firme, bem esmiuçado e provido

principalmente de fósforo, potássio e enxofre [36].

Este trevo está adaptado a regiões de clima mediterrânico, sendo tolerante ao frio

invernal (-6ºC) e requer pelo menos 450 mm de precipitação para o seu correcto

desenvolvimento vegetativo, como mostra o quadro 5 [36].

Uma vez estabelecido o prado, suporta longos períodos de encharcamento, o que

se deve á respiração anaeróbia do seu sistema radicular [16].

Adapta-se a vários tipos de solos, no entanto, tem preferência por aqueles que

possuem textura pesada e férteis. O pH deverá rondar os 5,4 e os 8,2, sendo sensível a

altos níveis de alumínio [36].

Este trevo é utilizado em misturas com Phalaris, Festuca e T. subterrâneo [15].

Quadro 5 – Algumas características agronómicas de cultivares de Trifolium balansae

Cultivar Sementes Duras Nec. Hídricas (mm) Floração

Frontier 95 450 – 600 126

Paradana 89 - 93 600 - 800 136

Figura 4 - Aspecto de Trifolium balansae

13

Trifolium alexandrinum (Bersim)

Leguminosa anual, originária do Egipto, difundida por diversas regiões. É

sensível ao frio (-6ºC) e a calores extremos, necessitando de 300 – 1300 mm de

precipitação anual para o seu crescimento vegetativo [23].

O Bersim tolera solos com pH compreendidos entre 4,9 e 7,8, de textura média e

com adequada composição em fósforo [23].

A densidade de sementeira deve rondar os 20 -25 kg/ha, a uma profundidade

máxima de 2,5 cm [16].

A floração ocorre entre o mês de Abril e Maio, e a maturação da semente no mês

de Julho, quando atinge 40 cm de altura [15].

É uma espécie que demonstra capacidade de crescimento após os sucessivos

cortes, podendo desta forma incrementar ao solo, através de sideração, cerca de 33 a 66

kg de N/ha [23].

Podemos encontrar o Bersim consociado (50%) com outras leguminosas

nomeadamente com o Trifolium repens e gramíneas como o Azevém anual [13].

Vicia spp (Ervilhaca)

É uma leguminosa (figura 5) de rápido crescimento, originária do Sul da Europa.

É utilizada em regiões semi-áridas do mediterrâneo, onde existem precipitações entre

Outubro e Abril, na ordem dos 200-400 mm. Apresenta uma boa resistência ao frio [28].

Quanto ao tipo de solo, prefere aqueles que apresentam uma textura fina, argilosa

ou franco-argilosos, com pH entre 6-7. No entanto apresenta uma boa performance

aceitável em solos franco-arenosos [28].

Para que o coberto fique bem estabelecido, é necessário que os solos sejam bem

drenados. Tal como outros cobertos responde bem á fertilização fosfatada [3].

A sementeira deverá ser a uma profundidade entre 3 a 5 cm, com densidades

entre 100-150 kg/ha em monocultura e 50-150 kg/ha em consociação com gramíneas,

20-70 kg/ha [27].

A sua incorporação no solo é muito fácil, sendo o estado de floração completo o

melhor momento para a sideração. Normalmente é utilizada em mistura com gramíneas,

aconselhando-se uma proporção de 25 a 30% do peso da Vicia [27].

14

No que respeita ao aspecto fitossanitário, apresenta grande sensibilidade ao oídio,

o que pode trazer problemas á vinha. Mostra ser também uma boa hospedeira de ácaros

como os Tetranychus spp [28].

Lupinus luteus (Tremocilha)

É uma planta originária da Península Ibérica, amplamente cultivada em toda a

Europa, África do Sul, Austrália e EUA. Demonstra uma adaptabilidade a diversos

ambientes, tolerando o frio (-6ºC) e temperaturas médias entre 6,6 e os 26,2 ºC [35].

Apresenta como necessidades hídricas os 300 mm de precipitação, para o seu

óptimo crescimento, demonstrando tolerância ao encharcamento temporário do solo

[35].

A larga difusão pelo mundo é permitida pela sua tolerância a diversos pH (4,5-

8,2), preferindo solos ácidos de textura ligeira a média [15].

A tremocilha é exigente para além do fósforo e potássio, em ferro e manganês,

tolerando altas percentagens de alumínio no complexo do solo [15].

A densidade de sementeira a utilizar deve rondar os 45-80 kg/ha, a uma

profundidade máxima de 15 cm. O seu crescimento é melhorado com a precocidade de

sementeira, diminuindo assim a competição com as infestantes. Floresce de Março a

Julho, podendo ser incorporado no solo, pois não forma sementes duras [35].

A sua contribuição em N pode ir dos 147 aos 160 Kg de N/ha (sideração),

fixando 18 a 34 kg de N [35].

O seu sistema radicular profundante (2 m) permite o aumento do arejamento do

solo, diminuindo a compactação e aumentando a infiltração da água da chuva [43].

As flores amarelas da tremocilha são atractivos para as abelhas e muitos

organismos auxiliares importantes para a limitação natural [8].

15

� Gramíneas

Lolium multiflorum (Azevém anual)

É uma gramínea anual, originária da bacia mediterrânica com cultivos em

diversos países. Está adaptada a condições climáticas semi-áridas e pouco exigentes em

água. É tolerante ao frio, germinando em condições de temperaturas mais adversas.

Quanto á precipitação, necessita no mínimo de 240 mm para obter o óptimo de

desenvolvimento [19].

Está adaptada a inúmeros tipos de solo, desde arenosos a argilosos, preferindo os

de textura média. Prefere solos bem drenados, apesar de tolerar o encharcamento

temporário. Quanto ao pH prefere solos com valores entre os 6 e 7 [19].

É exigente em azoto podendo assimilar 90 kg de N/ha/ano, responde

favoravelmente á incorporação de fósforo e potássio quando em mistura com uma

leguminosa [21].

Em geral, são recomendadas elevadas densidades de sementeira (15-30 kg/ha),

utilizando as mais elevadas para situações de controlo de erosão com profundidade

máxima de 1,5 cm [20].

Apresenta um crescimento erecto, robusto e rápido, mesmo em temperaturas

mais baixas, promovendo assim uma rápida cobertura do solo [15].

Floresce de Junho até Agosto, amadurecendo as primeiras sementes logo no mês

de Junho. Apresenta capacidade de auto sementeira mas existem problemas de

persistência após o 3º ano [20].

O corte não deverá ser abaixo dos 6 cm de altura e nunca depois do início da

floração, podendo ser utilizada não só para incorporação no solo, como também para

mulching na linha da vinha [20].

É aconselhada a sua utilização em sementeiras com leguminosas, promovendo a

fixação de azoto atmosférico, reduzindo assim a sua lixiviação e aumentando a sua

eficiência de uso, potenciando a produção de biomassa para o mulching [15].

Devido ao seu sistema radicular permite um melhor controlo da erosão,

aumentando o arejamento e infiltração de água no solo [43].

16

2.2. Cobertos Vegetais de Plantas Vivazes

� Leguminosas

Lotus corniculatos

Leguminosa anual com aproximadamente 100 cultivares, difundidas por

inúmeras regiões, como por exemplo, Austrália e a Euroásia [16].

É utilizada em regiões de precipitação superior a 50 cm, tolera solos de 5,5 a 7,5

de pH, pouco férteis, encharcados, salinos, alcalinos, e níveis de Al (23%) na solução do

solo [15].

A sementeira não deve ter mais de 1 cm de profundidade com uma boa cama de

sementeira, fértil em fósforo e um bom controlo da flora adventícia para não promover o

ensombramento das pequenas plântulas, devido ao seu reduzido crescimento inicial [12].

O corte muito curto, reduz significativamente os gomos axilares e elimina a

possibilidade de novos crescimentos. Deste modo deve-se evitar cortes abaixo dos 10 cm

[11].

Trifolium incarnatum (Trevo encarnado)

Leguminosa anual utilizada para incorporação da matéria verde, visto não

produzir sementes duras [12]. É uma planta nativa do Sul da Europa [8].

Está adaptada a solos com pH entre 6 e 7 apresentando fortes sintomas de clorose

férrica quando instalada em solos alcalinos. Não tolera solos encharcados ou solos

totalmente secos [15].

A cama de sementeira deve ser bem preparada, a uma profundidade máxima de

12 mm e com uma densidade de 10-20 kg/ha para uma produção de 8-10 kg/ha de

semente [16].

Pode fixar 155 kg de N /ha, durante o seu crescimento, e quando utilizada em

sideração depois de floração, pode incrementar 70 kg/ha de N, produzindo 1,5 a 3 t/ha de

matéria seca. O corte deve ser evitado durante o Inverno, pois afecta o crescimento

primaveril [15].

17

� Gramíneas

Dactylis glomerata (Panasco)

Gramínea perene originária da Europa e Norte de África, adaptada a diversos

climas frios e húmidos, quentes e secos. É utilizada para o controlo da erosão devido á

sua densidade radicular [26].

Necessita de 320 mm de precipitação para o seu desenvolvimento [25].

Prefere solos com pH entre 5,8 a 7,5, tolerando os 8,5. Não tolera solos

encharcados, preferindo aqueles que apresentam boa drenagem [25].

O coberto com Panasco é fácil de estabelecer sendo recomendada uma densidade

entre 15-20 kg/ha, a uma profundidade máxima de 1 cm [25]. Apresenta lento

crescimento permitindo elevada competição com a vegetação nativa. No entanto com o

tempo pode dominar o coberto apresentando uma longa persistência no campo, a

maturação da semente ocorre em Julho. Devemos permitir a ocorrência da maturação

para que haja o restabelecimento do coberto [3].

A planta apresenta boa resposta à fertilização de sementeira, para melhorar a sua

performence devemos fertilizar após o 1º ou o 2º corte, para assim aumentar o seu

crescimento e % de cobertura de solo [25].

Pode-se utilizar em mistura com azevém [22] e diversos tipos de trevos e

luzernas [3].

Festuca megalura (Festuca)

Gramínea originária da Europa e difundida um pouco por todo o mundo e

adaptada a climas temperados, sendo utilizada na vinha como anual em solos de baixa

fertilidade, com o intuito de reduzir a erosão do solo [8].

É tolerante a condições de secura, necessitando no mínimo de 250 mm de

precipitação anual para um correcto desenvolvimento, mas prefere condições hídricas

mais favoráveis [28].

A festuca adapta-se a solos aluviões de acidez elevada mas prefere a

infertilidade, desaparecendo em condições de aplicação elevada de fertilizante. É

tolerante à secura, mas o solo deverá apresentar elevada humidade aquando da

sementeira.

18

Não é utilizada em monocultura sendo-lhe conhecida consociação com diversos

tipos de trevos e gramíneas. Usualmente constitui 25 a 60% do peso da mistura sendo a

chave do coberto em zonas ensombradas[3].

A sementeira deve ser realizada a uma profundidade máxima de 2 cm com

densidade de 20-24 kg, tendo crescimentos rápidos e agressivos para infestantes nativas

[15]. Os cortes são essenciais para reduzir a competição de outras espécies, e não devem

ser inferiores a 2 cm de altura, pois pode causar elevados estragos no coberto levando á

sua não recuperação. O corte pode ser realizado até ao início do desenvolvimento da

semente, ou só depois da maturação completa. Demora 5 meses a atingir a plena

floração, que ocorre normalmente entre Abril e Junho [29].

É excelente no controlo do fenómeno de erosão, aumentando a infiltração da

água no solo [43].

Phalaris aquática

Originária da bacia mediterrânica como a Austrália, Estados Unidos e Sul da

Península Ibérica. Necessita de 240 mm de precipitação anual para o correcto

desenvolvimento vegetativo [32].

A implementação é lenta e difícil, a sementeira deve apresentar uma

profundidade máxima de 1 cm, com densidades entre os 10 e 12 kg/ha de semente, sem

competição de infestantes e necessita de 30 mm de precipitação para germinar [15].

Não deve ser feita nenhuma fertilização no ano de instalação do coberto,

tornando-se exigente em N e P [32].

O corte deve ser feito para diminuir a competição, e deve ser o mais curto

possível para não retardar o seu crescimento vegetativo. A sua regeneração é feita tanto

por via vegetativa como por seminal. Na época estival entra em dormência [3].

É normalmente utilizada em mistura com a Luzerna e Trevos subterrâneos,

podendo ser utilizada em monocultura [3].

Poa pratensis

Gramínea perene de origem Europeia e difundida em regiões temperadas,

especialmente no Norte da América [16].

19

É uma planta tolerante ao frio e em condições de calor paralisa o seu crescimento

pois é muito sensível à falta de água [3].

Apresenta adaptação a diversos tipos de solo mas prefere aqueles que são bem

drenados de textura média de origem calcária e tem preferência por pH entre 5,8 a 8,2.

Necessita de grandes quantidades de N durante as épocas de crescimento vegetativo

[16].

A Poa pratensis é pouco competitiva e de difícil instalação devendo-se evitar

misturas com espécies de rápido crescimento inicial. A densidade de sementeira deve

rondar os 10 kg/ha a 2 cm de profundidade [15].

Requer água em abundância para ocorrer a germinação, reduzindo as suas

necessidades hídricas após a sua emergência, uma vez instalada é bastante persistente no

solo [3].

Apresenta um crescimento activo no início da Primavera, difundindo-se através

de rizomas [3]. O frio pode também promover o seu crescimento enquanto outros

cobertos passam por dificuldades sendo bastante agressiva para espécies nativas.

20

O quadro 6 e 7 resumem algumas das características mais importantes para a

escolha das diversas espécies avaliadas [15].

Quadro 6 – Principais características de algumas espécies para cobertos vegetais semeados (escala 0-5)

Melhora solo

Controla erosão

Controlo infestantes

Rapidez cresciment

os

Comportamento em mistura

Impacto sub-solo

Alelopatia Limitação natural

Facilidade incorporaç

ão

Azevém anual 4 4 4 4 5 3 3 2 3

Bersim

4 4 5 5 3 2 2 3 4

Ervilhaca

4 3 3 2 3 3 3 5 3

Luzerna

3 3 4 5 3 3 2 2 4

Trevo subterraneo

4 4 5 3 5 1 4 4 4

Quadro 7 – Tolerância de diversas espécies a factores edafoclimáticos (escala 0–5)

Tolerância

Calor Secura Sombra Encharcamento Baixa

fertilidade

Azevém anual 2 2 4 4 2

Bersim 4 3 4 3 3

Ervilhaca 2 3 3 2 2

Luzerna 5 4 4 2 3

Trevo subterraneo

3 4 4 3 5

21

2.3. Efeitos do Coberto Vegetal Semeado

� Fertilidade do solo

O coberto vegetal semeado apresenta efeitos directos e indirectos na fertilidade

do solo e na nutrição da vinha. A incorporação de leguminosas (sideração), em diversas

fases do seu ciclo vegetativo (figura 6) aumenta sempre o conteúdo em Azoto orgânico

do solo, que após algumas semanas mineraliza, ficando disponível para as plantas.

Figura 6 - Quantidade de N decomposto consoante época de incorporação do coberto

Apesar disto, essas plantas têm a capacidade de fixar elevadas quantidades de

Azoto atmosférico. Em contrapartida, as gramíneas competem com a vinha por este

mesmo azoto. Em situação de encharcamento o coberto semeado pode melhorar o

arejamento do solo aumentando a absorção de Azoto e Potássio [15], demonstrando

assim que estas e outras interacções entre o coberto vegetal, fertilidade do solo e

crescimento vegetativo da vinha são complexas e muito dinâmicas.

A incorporação de culturas anuais apresenta uma relação C/N (Quadro 8) baixa,

existindo uma rápida decomposição e consequente libertação de N. As gramíneas

apresentam uma relação C/N favorável à incorporação até á sua floração, a partir daí a

sua incorporação imobiliza o Azoto durante semanas ou meses [13]. Contudo, o seu

rápido crescimento, a sua profundidade radicular, raiz fasciculada e a elevada produção

de biomassa promove o aumento de M.O.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

FCV AF DF SM FCV AF DF SM FCV AF DF SM

4 Semanas 8 Semanas 16 Semanas

N d

ecom

post

o K

g/ha

FCV- Crescimento vegetativo; AF – Antes floração; DF – Depois floração; SM – Semente madura

80% 66% 66% 58%

22

Quadro 8 - Relação C:N de diversos cobertos e outros compostos

Coberto/Composto Relação C:N

Solo 10 - 12

Estrume 10

Trevos 13

Luzerna 13

Azevém 80

Adubos 15

Ervilhacas 15

Cobertos vegetais com vivazes como o Azevém perene, compete com a vinha

(durante o seu crescimento) em água e nutrientes, contudo estes cobertos podem ser úteis

em zonas para reduzir o excessivo vigor da vinha, este impacto pode levar vários anos a

ser viável.

As leguminosas podem fixar 56 a 224 kg/ha azoto dependendo do coberto, pH e

temperatura, pH do solo, humidade do solo, quantidade de N no solo e inoculação da

bactéria rizobium [2]. Em estufa existem nutrientes retirados do solo pelos diferentes

cobertos, tal como o fósforo, potássio e manganês mas não está provado em condições

de campo [2].

Biodiversidade do solo

A composição e dinâmica da comunidade viva do solo é muito importante para o

aumento da sustentabilidade da agricultura, as constantes mobilizações criam habitat’s

inadequados à sobrevivência de muitos organismos, não só aves e pequenos mamíferos

como também de insectos e microrganismos de solo, estes últimos são importantes na

decomposição da matéria orgânica, mineralizando-a, aumentando assim a

disponibilidade de nutrientes às plantas.

O coberto vegetal do solo influência directamente a comunidade de

microrganismos, pois a sua maior parte encontra nas raízes, o carbono, os nutrientes e

outros compostos necessários para o seu desenvolvimento, melhorando não só a

estrutura como também a permeabilidade do solo através da sua actividade [5].

Existem microrganismos que estão envolvidos na dinâmica do azoto e outros

nutrientes do solo, disponibilizando-os para as plantas.

23

A cobertura física do solo da superfície do solo aumenta não só a temperatura

como também a humidade do solo criando assim um meio mais favorável para o seu

desenvolvimento e multiplicação [2].

� Erosão do solo

O solo constitui o suporte das plantas e o meio de onde obtêm os elementos

necessários para o seu desenvolvimento.

Quando ocorre o fenómeno da erosão, existem áreas onde o solo se vai perder

(elementos sólidos) e outras onde se vai acumular. A intensidade deste fenómeno

depende de uma série de factores, tais como as propriedades físicas, orográficas, declive

e o tipo de protecção da superfície do solo.

Para controlar a perda de solo por escorrência superficial, existem várias medidas

que podem ser tomadas para minorar as suas consequências. Uma dessas medidas é a

protecção da superfície do solo com coberto vegetal. Isto porque, a sua utilização reduz

drasticamente a erosão do solo, através de um melhoramento na permeabilidade do solo,

evitando deste modo o fenómeno de escorrência e permitindo manter inalterado o perfil

do solo.

As espécies apresentam diferentes capacidades de controlo da erosão, as vivazes

apresentam melhores performances visto apresentarem folhagem e um sistema radicular

mais densos. As anuais (gramíneas) não são tão efectivas, pois apresentam um sistema

radicular mais pequeno. Com a sementeira anual também as leguminosas são pouco

efectivas no controlo da erosão [13].

Para um elevado controlo da erosão, com reduções na ordem dos 90-95%, as

espécies mais adaptadas são aquelas que apresentam maior vigor e um sistema radicular

denso e profundo tal como a Festuca e o Azevém perene.

Uma instalação precoce do coberto é essencial devido à intensa precipitação

Outonal [13].

� Infiltração do solo

A utilização de um coberto vegetal semeado melhora as diversas características

físicas do solo, aumentando a quantidade de água disponível para as plantas através do

aumento da taxa de infiltração. Este aumento está associado à interacção biológica entre

cultura e coberto semeado. Alguns responsáveis por esta actividade biológica produzem

24

polissacarídeos que promovem a formação de agregados mais estáveis, partículas mais

resistentes à erosão provocada pela água [13].

A taxa de infiltração é influenciada pela vulnerabilidade do solo ao formar a

“crosta superficial”, a sua permeabilidade varia com o tipo de propriedades físicas,

químicas e biológicas desse mesmo solo [2].

Grande parte das crostas superficiais resultam da ruptura ou fraca

organização dos agregados do solo, assim qualquer prática que influencie ou

minimize esta ruptura minimiza o encrostamento aumentando assim a taxa de

infiltração [2].

O coberto para ser efectivo no aumento da taxa de infiltração, deve ser denso

o suficiente para proteger a superfície do solo, reduzindo o impacto da água da

chuva, aumentando a estabilidade dos agregados na superfície do solo.

Os efeitos do coberto no crescimento das plantas e na produção de uva não é

consensual, contudo se a quantidade de água disponível aumentar então a produção

tende a aumentar também [44].

Estudos confirmam que a utilização de gramíneas (sideração) promove

alterações estruturais no solo, reduz a resistência à penetração, promove o

aparecimento de canais de passagem da água devido à menor quantidade de azoto

(Figura 7) [2].

Figura 7 - Taxa de infiltração, após incorporação de matéria verde nos diferentes sistemas.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Taxa de Infiltração (cm/h)

Mobilizado Leguminosa Graminea

25

� Limitação natural

As populações de inimigos naturais (predadores e parasitóides) das pragas

agrícolas tendem a aumentar nos ecossistemas mais diversificados devido, à maior

disponibilidade de alimento e de habitats alternativos, que criam condições mais

favoráveis à sua sobrevivência e reprodução [4].

O enrelvamento da entrelinha, ao contribuir para o aumento da diversidade

vegetal da vinha, pode criar condições mais favoráveis à actividade dos auxiliares e

consequentemente, à limitação natural das pragas da cultura [17]. Estudos realizados na

Califórnia, indicam que a redução das densidades de Cigarrinhas da vinha está associado

à presença de vegetação na entrelinha [5]. Em Portugal verificaram uma menor

intensidade de ataque de cigarrinhas em vinhas com coberto vegetal devido não só ao

aumento de predadores e parasitoides como também tornando a videira um hospedeiro

menos atractivo para a praga (ver figura 8) [6].

Figura 8 - Presença de diferentes organismos nos diversos tipos de manutenção de solo na vinha

Deste modo, o coberto vegetal ao contribuir para a intensificação dos

mecanismos de regulação natural dos inimigos da cultura, através da biodiversidade

funcional, constitui um tipo de infra-estrutura ecológica que pode ser explorada como

táctica de controlo dos inimigos da cultura. Todavia, o seu sucesso depende da

diversidade florística da vinha e da sua gestão, designadamente do número e da época

dos cortes. Com efeito, a presença da flora residente ou semeada em floração durante os

0

10

20

30

40

50

60

70

%

Aux

ilia

res

Pra

gas

Indi

fere

ntes

Aux

ilia

res

Pra

gas

Indi

fere

ntes

Aux

ilia

res

Pra

gas

Indi

fere

ntes

Mobilizado Coberto espontâneo Coberto semeado

Maio Junho Julho Agosto

26

meses de Abril e Maio, providencia um habitat e fornece alimento alternativo aos

inimigos naturais, especialmente em áreas afectadas pela Cigarrinha verde [6].

� Qualidade à vindima

Pela avaliação de diversos parâmetros de qualidade existem autores a defender

que a competição exercida pelo coberto na entrelinha apresenta a vantagem de reduzir o

vigor inicial excessivo da videira, induzindo um melhor equilíbrio entre source/sink,

melhorando o microclima na zona dos cachos, diminuindo não só a incidência de

doenças como beneficiando a composição do bago em polifenois totais [14], como

mostra a figura 9 [46].

Figura 9 - Quantificação de componentes polifenólicos no bago em diversos sistemas de manutenção

Estudos com diferentes sistemas de manutenção do solo revelaram competições

existentes entre a cultura e a vegetação da entrelinha [7], principalmente pela água na

fase inicial do ciclo vegetativo da cultura e não pelos nutrientes [46].

O enrelvamento reduz o crescimento do bago entre o vingamento e o pintor,

reduzindo assim a produtividade, pois teores de água no solo no final da primavera

sugerem uma competição pela água o que será factor responsável pelas diferenças

observadas entre sistemas de manutenção com espontâneas, semeado com Dactylus

glomerata e mobilização tradicional [46].

0

200

400

600

800

1000

1200

mg/g bago

Espontaneo Dactylus Mobilização

Polifenois Totais (x10) Antocianas Totais

27

Outro autor [14], apresenta as necessidades hídricas de diferentes cobertos (ver

figura 10) para diferentes fases do ciclo vegetativo da vinha e refere que não houve

diferenças significativas no consumo entre modalidades.

2.4. Instalação e Manutenção do Coberto Vegetal

� Sementeira

A sementeira do coberto deve ser feita antes das primeiras chuvas de

Setembro/Outubro, quando o solo apresenta uma temperatura entre os 21 e os 27ºC,

ideal para a germinação da semente [15].

Normalmente este período coincide com a época das vindimas, mas existem

autores que defendem uma sementeira antes da colheita, mesmo em condições de secura

do solo que germinaram com as primeiras chuvas. As sementeiras após 15 de Outubro

podem ser um risco devido à diminuição drástica da temperatura do solo, sementeiras

após este período deverão apresentar menores densidades [11].

A preparação da cama de sementeira é bastante simples, teremos que preparar

uma cama com 6 a 10 cm [15] de profundidade, 25 a 30 cm para [13], cama firme, fofa e

plana, induzindo assim a obtenção de elevadas taxas de sucesso na sementeira.

O coberto deve ser semeado no máximo a 1 cm, com um semeador de linhas

(utilizado na sementeira directa) ou com um distribuidor centrífugo, permitindo o

primeiro, uma melhor precisão na colocação da semente. A passagem de um rolo

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

mm

/dia

2003 2004 2003 2004 2003 2004

Abrolhamento-Floração

Floração-Pintor Maturação

Mobilização

Coberto espontaneo

Coberto semeado (G60%+L40%)

Figura 10 - Necessidades hídricas do coberto em diferentes fases do ciclo vegetativo da vinha.

28

seccionado é muito importante depois da sementeira permitindo uma melhor

compactação de todo o solo semeado [3].

A densidade de sementeira depende da espécie adoptada no coberto vegetal, mas

40 kg/ha para sementeiras mais tardias, e para cobertos só com leguminosas os 20 kg/ha

e 25 kg/ha para as misturas de gramíneas e leguminosas [3].

� Fertilização

As necessidades nutritivas do coberto é bastante diferente da vinha e toda a

fertilização deve ser baseada numa análise de solo.

O fósforo é o nutriente essencial para cobertos com leguminosas, sendo o seu

“motor”. Fertilizações em azoto são de evitar, visto diminuir a fixação de azoto

atmosférico. O enxofre também é necessário mas não é limitante na cultura da vinha

[43].

O pH inferior a 5,3 é limitante para o crescimento do coberto vegetal e deverá

estar provido de fósforo e potássio (+ 80 ppm). Em solos muito arenosos as leguminosas

são muito exigentes em potássio [15].

Podemos incorporar à instalação 80 a 90 unidades de fósforo e 60 a 70 unidades

de potássio e se possível deveram ser incorporados com a preparação da cama de

sementeira [3].

Outros autores referem necessidades de leguminosas baseados em quantidades

disponíveis no solo como mostra o quadro 9 [13].

Quadro 9 - Necessidades das leguminosas baseado P disponível no solo

P disponível solo (ppm) Aplicação Superfosfato (Kg/ha)

<5 672

5 – 10 336

> 10 168

As gramíneas apresentam necessidades em azoto na ordem dos 28 kg/ha [18]

sendo necessário aplicar este nutriente à sementeira e no princípio da Primavera para o

seu melhor desenvolvimento.

29

Em caso de sementeira de mistura a adubação em azoto não deve ser feita pois

estimula o crescimento das gramíneas promovendo o ensombramento das leguminosas.

Para a manutenção do coberto devemos aplicar 30 unidades de fósforo e potássio

[13].

� Corte

O corte na época ideal pode melhorar a performance do coberto, existem 2

épocas de corte, uma primeira com o início da floração, ao aparecimento das primeiras

flores com o intuito de eliminação de infestantes mais altas (que ensombram o coberto) e

aumentar o afilhamento das espécies. Este primeiro corte não deve ser inferior a 10 cm.

O segundo corte deve ser feito já com a semente madura e depositada no solo, de modo a

facilitar o crescimento do “prado”[3]. O cortes nunca deverá ser inferior a 5 cm.

Podemos optar pela sideração, esta deverá acontecer após o corte, um pouco

antes ou até mesmo quando o coberto está em floração não competindo com a vinha

pelos nutrientes e água. O coberto só está presente no repouso vegetativo da vinha.

Após o primeiro corte devemos fertilizar o coberto (gramíneas perenes) para

estimular o crescimento e acumulação de reservas no sistema radicular permitindo uma

melhor recuperação depois do período estival [44].

30

3. Considerações Finais

Depois da abordagem feita às diferentes características e benefícios da

sementeira do coberto vegetal na entrelinha, podemos concluir que os benefícios

superam largamente os inconvenientes da sua instalação, quer seja pela sementeira para

controlo da erosão durante o Outono/Inverno e incorporação em verde, quer por

sementeira de um coberto plurianual.

A sementeira do coberto reduz o risco de erosão do solo, promove o aumento da

fertilidade não só através da fixação do azoto atmosférico como também no incremento

dos teores de matéria orgânica através do melhoramento da estrutura do solo.

Ao atrair diversos organismos auxiliares, o coberto pode apresentar também um

papel importante no controlo de algumas pragas como o caso da cigarrinha verde e da

traça da uva.

O principal inconveniente para além dos custos iniciais com a instalação é a

competição em água e alguns nutrientes como o fósforo, podendo promover uma

redução no vigor e consequentemente na qualidade da uva, apesar deste inconveniente

não ser consensual.

O sucesso do coberto depende de muitos factores entre eles está a correcta

escolha das espécies e a gestão correcta e eficaz, só assim podemos obter as mais valias

associadas à instalação do coberto semeado.

31

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