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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ÉTICA EMPRESARIAL
Por: ELIZABETH AÔR
Orientador
Prof. Carlos Cereja
Rio de Janeiro/RJ
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ÉTICA EMPRESARIAL
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em
Gestão Empresarial
Por: Elizabeth Aôr
3
AGRADECIMENTOS
... Aos meus Mestres e aos amigos que fiz
durante o curso pelo respeito e carinho
que a mim dedicaram
4
DEDICATÓRIA
...Dedico este trabalho aos meus filhos
Bruno, Juanna e Breno que, apesar de tudo,
não desistiram de mim.
... Aos meus pais, Thyde e Arlete que
sempre pautaram suas vidas pela ética e
pelo respeito ao próximo.
5
RESUMO
Nossa sociedade vive, atualmente, uma redescoberta da ética. Essa
situação não se dá por acaso é só observarmos que ela surge no momento em
que a sociedade passa por uma grave crise de valores, identificada como falta de
decoro, desrespeito pelos outros e pelos limites, o que, para os estudiosos é
identificado pela dificuldade dos indivíduos de se pautarem por normas morais,
respeito às leis e às regras sociais.Ética nos negócios e nas empresas, balanço
social, grau de reputação, relatórios de sustentabilidade, responsabilidade sócio-
ambiental, empresa cidadã, responsabilidade social, marketing relacionado a
causas, todas essas preocupações mostram as tendências atuais das
instituições, organizações e empresas.Este trabalho pretende contribuir para fazer
desses temas uma realidade do dia-a-dia dos empresários, dos executivos, dos
administradores, dos empreendedores e de todos os profissionais que transitam
pelo mundo dos negócios.A ética sem dúvida será o alicerce que sustentará essa
gama de temas que estão na pauta das grandes discussões.
6
METODOLOGIA
A metodologia adotada para a realização do trabalho será a pesquisa bibliográfica
e documental.
Fontes a serem utilizadas: livros; artigos/matérias veiculados em revistas, jornais e
internet; publicações de instituições e materiais de palestras acerca do assunto.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Conceitos 10 CAPÍTULO II - Principais Doutrinas Éticas 13 CAPÍTULO III – Ética Empresarial 25 CAPÍTULO IV – Responsabilidade Social 42 CAPITULO V – Código de Ética 63 CONCLUSÃO 72 BIBLIOGRAFIA 75 WEBGRAFIA 78 ÍNDICE 79 FOLHA DE AVALIAÇÃO 81
I
8
INTRODUÇÃO
Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados no
pensamento administrativo?
Quando, a exigência de fazer negócio entra em conflito com a moral ou o
bem-estar da sociedade, são os negócios que têm que ceder o que é, talvez, o
fundamental da ética empresarial. Embora, historicamente, tenha havido na
filosofia diferentes concepções a respeito da motivação para o comportamento
ético, uma das mais abrangentes e claras, relacionadas ao dever, deriva do
filósofo alemão Immanuel Kant: “Não faça aquilo que você não gostaria que
fizessem consigo”.
Cada empresa tem suas peculiaridades a partir de sua atividade principal,
porém o nosso grande desafio ético é fazer com que o trabalho “enriqueça” o ser
humano num sentido amplo, além do financeiro. Coerência e consciência
constantes entre princípios e atitudes são metas ambiciosas a serem
conquistadas. Muitas declarações de cunho ético estão disponíveis no mundo dos
negócios, podendo ser identificadas como credos, carta de valores e códigos de
ética/conduta. Palavras e intenções tornam-se transformadoras quando
acompanhadas de atitudes e práticas, daí a importância em se fazer com que os
princípios éticos sejam devidamente discutidos, redigidos e distribuídos na
empresa. Por meio dos valores presentes na cultura empresarial, reforça-se o que
se pretende estimular ou erradicar. Para definir sua ética, sua forma de ser e atuar
no mercado, cada empresa precisa saber o que deseja fazer e o que espera de
cada um dos funcionários.
O presente texto está estruturado em cinco tópicos. No primeiro buscou se
conceituar a Ética, através de uma distinção clara entre os termos moral = ação e
ética = reflexão. O segundo faz uma descrição da ética desde os primórdios do
9pensamento ocidental, alguns dos seus principais pensadores e suas abordagens
diferenciadas a respeito do tema. Em seguida, na tentativa de aprofundar o
entendimento da ética do mundo moderno, foi realizado um estudo de obras, que
abordam importantes aspectos relacionados à ética no mundo capitalista e suas
conseqüências para a humanidade. Destes pensadores é que fluiu a clareza de
que a ética está relacionada à ação prática dos homens, não a discursos bem
intencionados, mas sem qualquer relação sólida com o mundo da vida. Portanto, é
deles também que herdamos a capacidade crítica de perceber o abismo existente
entre o que é dito e o que é efetivamente feito em nome da ética, no interior das
organizações formais. Se no plano discursivo a ética aparece como valor
universal, no mundo concreto da vida nega-se tudo isto, invariavelmente, em
nome do auto-interesse.
Tudo isso serviu de base para chegar, finalmente, à questão da ética no
contexto organizacional, aos aspectos relevantes da Responsabilidade Social e a
importância do Código de Ética.
Como todo objeto de pesquisa, este não se encerra aqui. Muito terá que
ser acrescido ainda, com vistas a dar continuidade a este estudo, o que
provavelmente, jamais terá um fim. Afinal, o pensador deve aprender a conviver
com a busca constante da verdade, sabendo de antemão, que jamais irá encontrá-
la. Esta é somente mais uma tentativa...
10
CAPÍTULO I
CONCEITOS
1.1 - Definindo Moral e Ética
Ética: Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta
humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo
absoluto (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque
de Holanda Ferreira)
As duas palavras possuem origens distintas, mas, significados idênticos.
Segundo Camargo (2002, p.22) “(...) a palavra ética etimologicamente origina-se
do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral
vem do latim mores que também significa costume, conduta, modo de agir. Alguns
autores, entre eles Adolfo Sánchez. Vasquez (1975) admitem que, apesar do
estrito vínculo que as une, elas são diferentes, constituem-se em realidades afins,
porém diversas. Para eles, a moral, enquanto norma de conduta refere-se a
situações particulares e cotidianas, não indo além desse nível, seria um conjunto
de princípios que indicam qual deve ser o comportamento dos indivíduos
Ao longo do tempo, foram desenvolvidas diversas teorias na tentativa de
diferenciar os dois conceitos, no entanto, de acordo com Camargo (20002, p.23):
“Pode-se afirmar que as palavras moral e ética são sinônimas, podendo uma
substituir a outra; assim nada impede que em vez de “código de ética profissional”
seja chamado de “código de moral profissional”. Segundo o autor, mais importante
do que discutir o sentido ou o conceito das palavras é colocar em prática os
princípios e valores que ambas agregam. No entanto Srour (2000, p.29)
11apresenta um entendimento diferente com a relação ao significado destes dois
termos, o autor defende que a moral está vinculada à definição dos padrões de
comportamento, das normas de conduta, de acordo com os usos, costumes dos
indivíduos em um determinado espaço de tempo, segundo o autor, “(...) a moral
corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que
se espera deles, quais os comportamentos são bem vindos e quais não”.
Por outro lado, a ética é a ciência, a disciplina teórica que promove o estudo
sistemático das morais existentes, levando em conta todas as variáveis que
instituíram estas normas e padrões, com o objetivo de identificar seus propósitos,
discrepâncias e os efeitos produzidos no indivíduo. “(...) a ética atua no plano das
reflexões ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais
que podem conferir-lhes consistência. A ética visa à sabedoria ou ao
conhecimento temperado pelo juízo”. (Srour, 2000, p.29)
Desta forma, pode-se dizer que, enquanto a moral está relacionada à ação,
a ética está relacionada à reflexão.
A ética destituída do papel normatizador, torna-se uma examinadora da
moral, exame este que consiste em reflexão, em investigação, em teorização. O
que pode ser entendido como: a moral normatiza e direciona a prática das
pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão
superte à moral, donde se pode deduzir que a Ética é a ciência da moral, uma
rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o que é o mau, envolvendo obediência
ao que não é obrigatório.
A disciplina da ética empresarial tal como é praticada hoje em dia não tem
mais do que uma década. O conceito central na maior parte da ética empresarial
mais recente é a idéia de responsabilidade social. É também um conceito que têm
irritado muitos dos entusiastas do mercado livre tradicional, e promovido alguns
argumentos incorretos ou enganadores. O mais famoso será talvez a dura crítica
do prêmio Nobel da Economia Milton Friedman, no New York Times (13 de
Setembro de 1970), intitulada "A responsabilidade social dos negócios é aumentar
12os seus lucros". Neste artigo, Friedman chamava aos homens de negócios que
defendiam a idéia de responsabilidade social da empresa "fantoches involuntários
das forças intelectuais que estão a minar as bases de uma sociedade livre" e
acusava-os de "pregar um socialismo puro e duro". O argumento de Friedman
consiste essencialmente em afirmar que os gestores de uma empresa são
empregados dos acionistas e, enquanto tais têm uma "responsabilidade fiduciária"
de maximizar os seus lucros. Mais ainda, não há qualquer razão para supor que
uma empresa ou os seus empregados têm alguma competência ou conhecimento
especial no âmbito das políticas públicas, logo, quando se envolvem em atividades
comunitárias (enquanto gestores da empresa, não enquanto cidadãos privados
agindo em seu próprio nome), estão não só a ultrapassar as suas competências,
como também a violar as suas obrigações.
“A Ética é a ciência que estuda o comportamento moral dos
homens na Sociedade” (Vasquez - 1975, p.12)
13
CAPÍTULO II
PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS
É necessária, ao entendimento da ética, a compreensão de que cada
sociedade, cada cultura cria valores morais diferentes, correspondentes as suas
condições históricas e sociais e a seus interesses e necessidades. Vásquez
(1997, p.228) afirma que “(...) as doutrinas éticas fundamentais nascem e se
desenvolvem pelas relações entre os homens, e, em particular, pelo seu
comportamento moral efetivo”. Desta forma, existe uma inter-relação entre a
doutrina ética que vigora em uma determinada época na história e os padrões de
conduta, valores e normas que prevalecem e estabelecem a moral predominante.
Devido ao processo dinâmico de mudanças verificado nas sociedades, os
padrões de conduta vão sendo revisados, repensados e as normas alteradas,
gerando conseqüentemente, uma nova moral que será objeto de estudo de uma
nova doutrina ética. Por isso, segundo o autor “as doutrinas éticas não podem ser
consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de
sucessão que constitui propriamente a sua história”. (VÁSQUEZ, 1997, p.228).
Tendo em vista que o interesse deste estudo é A Ética Organizacional,
procuramos, de forma sucinta, apresentar as doutrinas éticas consideradas mais
importantes, sem a menor pretensão de esgotar o assunto apenas compreender a
historia dos valores e tratá-los de forma genérica.
O estudo da ética remonta aos primórdios da filosofia clássica grega. De lá
provém o significado etimológico da palavra: ethos, que significa costume, modo
de agir. Segundo Pessanha: A tradição ética na cultura grega parte de Homero e
Hesíodo. As epopéias homéricas (séculos X-VIII a C.) formulam uma ética
14aristocrática que fazia da virtude um atributo inerente à nobreza e manifestado por
meio da conduta cortesã e do heroísmo guerreiro. Ainda não suavizada por seu
uso posterior puramente ético, estava de início ligado às noções de função, de
realização e de capacitação, desencadeando a excelência de tudo o que é útil
para algum ato ou fim. Pessanha (1999, p.28) ainda ressalta que “(...) com
Hesíodo (século VIII a C.) é que a virtude passa a assumir significado mais
estritamente moral: deixa de ser atributo natural de bem–nascidos para se
transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de
qualquer homem”. Aí nasce à idéia do ensino da virtude, tema que será retomado
posteriormente por Sócrates (470- 399 a C.), se tornando um dos pilares do seu
pensamento.
A seguir serão examinadas algumas destas doutrinas que acompanham o
estudo da Filosofia desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Importante ressaltar
que, de acordo com Vásquez (1997), o surgimento de uma filosofia voltada para o
estudo da ética se deve ao processo de democratização da vida política em
Atenas, quando surge uma preocupação com os problemas do homem, e,
sobretudo, com os problemas políticos e morais, que não eram objeto de estudo
dos primeiros filósofos, chamados pré-socráticos.
2.1 – Idade Antiga
No período considerado Clássico da Idade Antiga, no qual viviam os
filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, a ética adquire um grande valor. Após o
momento pré-socrático, em que o interesse investigativo concentrou-s no mundo
físico, na tentativa de compreenderem sua essência, os filósofos se voltaram para
o “ser” e para os problemas “sociais e morais”.
Sócrates (469-399 a.C). Considerado o pai da filosofia moral, nasceu em Atnas,
filho de um escultor e de uma parteira. È considerado um marco, sendo assim,
todos os pensadores que o antecederam foram identificados como pré socráticos.
Viveu a democracia grega do início ao fim e foi condenado á morte, injustamente,
15sob acusações infundadas, resignado, bebe cicuta. Escolheu não escrever, para
evitar a divulgação popular das idéias. Acreditava que o desenvolvimento da
filosofia deveria se dar através de um processo dialógico onde se podia chegar à
verdade através do diálogo.
Para Vásquez (1997), a ética socrática é racionalista, sendo composta por
três elementos: uma concepção do bem e do bom; a tese da virtude como
conhecimento, e do vício como ignorância e a tese segundo a qual a virtude pode
ser transmitida ou ensinada, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade
se entrelaçam estreitamente. “O homem age retamente quando conhece o bem e,
conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem,
sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz”. (VÁSQUEZ, 1997, p.231).
A questão central de sua ética era o bem supremo da vida humana, a
felicidade (eudemonia) e devia consistir em proceder bem e ter uma alma boa. O
Bem era agir bem e a felicidade é a arte de ter uma vida correta, segundo Maritain
(1964, p. 35) “(...) a arte moral não é arte de viver bem tendo em vista alcançar a
felicidade, e sim a arte de ser feliz porque se vive bem”.
Platão (427-347 a.C.). Natural de Atenas, filho de família aristocrática, foi discípulo
de Sócrates, a quem imortalizou através de sua obra. Após a morte de Sócrates,
embora tendo sido criado para seguir uma carreira política, desiste e funda a
Academia, dedicando se à reflexão filosófica assim como à discussão sobre temas
diversos, tais como a matemática e a astronomia.
Usando a fórmula de diálogos abertos, Platão vai aplicar o método socrático
na formulação do seu pensamento. A teoria das idéias é um dos pilares do
pensamento platônico, ele acredita na necessidade de se buscar a verdade, o
conhecimento verdadeiro da realidade, assim, faz uma relação entre um mundo
das idéias e um mundo real, das coisas. Segundo Vásquez (1997), no
pensamento de Platão, a alma do homem se eleva por intermédio da razão ao
mundo das idéias, onde a finalidade principal é libertar-se da matéria e contemplar
a Idéia do Bem, da perfeição. Para ele, tudo o que conhecemos como existente,
16até mesmo os conceitos que estão em nossa mente, não são reais e sim imagens
reflexas do Ser transcendente, pois segundo ele, existiam dois mundos: um
sensível e outro supra-sensível ou inteligível. Como diziam Luckesi e Passos
(2000, p.136):
“(...) há um mundo próprio de Idéias, transcendente, fora do espaço e
do tempo, além das esferas do sentir e do pensar. As idéias são a
verdadeira realidade, o que nós vemos como coisas e seres
existentes, em nossa experiência imediata, são sombras reflexas das
verdadeiras coisas”.
Sobre a ética platônica, discorre Vásquez: A ética de Platão depende
intimamente, como a sua política, da:
• sua concepção metafísica (dualismo do mundo sensível e do mundo das
idéias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a
verdadeira realidade e tem como cume a Idéia do Bem, divindade, artífice
demiurgo do mundo);
• sua doutrina da alma (princípio que anima ou move o homem e consta de
três partes: razão, vontade ou ânimo, e apetite; a razão que contempla e
quer racionalmente é a parte superior, e o apetite, relacionado com as
necessidades corporais, é a inferior). (VÁSQUEZ, 1997, p.231)
Sua moral, assim como a de Sócrates e como será a de Aristóteles, é
eudenomista (felicidade). Para ele, assim como o fim da vida humana é
transcendente, a moral também consistirá em um preparo para a felicidade, que
se encontra fora da vida terrena, Platão considera que a moral é a arte de
preparar o indivíduo para uma felicidade que não está na vida terra, assim, sua
“fórmula da felicidade” seria:
“(...) cada um de nós para ser feliz deve procurar a temperança e nela
exercer se, fugir o mais rápido possível da intemperança, agir de tal modo
que não precise ser castigado” (Platão, 1948, p. 478).
17Aristóteles (384-322 a.C.). Nasceu em Estagira, Macedônia, foi discípulo de
Platão na Academia em Atenas e mestre de Alexandre “O Grande”. Mais tarde
fundou sua escola, o Liceu, que se tornou um centro de estudos das ciências
naturais. De acordo com Vásquez (1997), para Aristóteles o fim último do homem
é atingir a felicidade e, para atingi-la e sentir-se plenamente realizado, este deve
dedicar-se a uma vida contemplativa guiado pelo seu principal atributo: a razão.
Diferentemente de Platão, seu Mestre, não desprezou o mundo sensível, ao
contrário, buscou unir as observações desse à ciência e à filosofia. O
conhecimento deveria ser do real e não de sua idéia, portanto, parte dos sentidos.
Por intermédio do uso da razão o homem deve buscar um aprendizado constante
que levará ao desenvolvimento de virtudes intelectuais e práticas, ou éticas.
A virtude é o equilíbrio entre dois extremos. Além disso, outras condições
são necessárias para se atingir a felicidade, como maturidade, bens materiais,
liberdade pessoal, saúde, etc.
A ética de Aristóteles – como a de Platão – está unida à sua filosofia
política, já que para ele – como para o seu mestre – a comunidade social e política
é o meio necessário da moral. A vida moral não é um fim em si mesmo, mas
condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual
consiste a felicidade. (VÁSQUEZ, 1997, p.234)
“Para Aristóteles, o conhecimento é esse processo de abstração pelo qual o
intelecto produz conceitos universais que, ao contrário das idéias de Platão, não
existem separadamente das coisas e do intelecto” (Abrão, 1999, p.56).
Epicuro (341-270 a.C.). Criador do epicurismo. É filho de um mestre-escola e de
uma cartomante, nasceu em Samos, colônia de Atenas. No ano de 306 a.C.
fundou em Atenas a Escola do Jardim, onde vivia com seus discípulos.
Sua filosofia estava dividida em três partes: canônica, física e ética, sendo
esta considerada a mais importante, porque que indicaria o caminho da sabedoria
e, portanto, da felicidade.
18“(...) uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a
justiça, e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz.
Aquele que não vive bem honesta, nem sábia, nem justamente, não
pode viver feliz” (Epicuro – citado por Corbisier, 1984, p. 318).
Entendia que a vida humana podia ser afetada pelo prazer ou pela dor,
sendo o prazer sua inclinação natural, de modo que a dor deveria ser evitada.
Para ele, o prazer seria o fim e o começo de uma vida bem aventura, o primeiro
dos bens naturais. O prazer, identificado com a ausência do sofrimento e da dor,
seria a própria felicidade. A ética epicurista orienta para a necessidade de haver
limites a fim de garantir a serenidade e uma vida feliz e sem atropelos, para se
construir uma “estética da existência”.
Zenão (324-263 a.C.). Oriundo de Cítium (Ilha de Chipre), falava pouco e via a
vaidade como a coisa mais feia do mundo.
O Estoicismo é, acima de tudo, uma ética, uma forma de viver, cuja
orientação principal consiste em viver conforme a natureza, ou seja, de acordo
com a virtude. Diferente de Aristóteles, que fazia distinção entre a virtude e o bem,
os estóicos afirmavam que a virtude basta-se por si mesma, é desejável em si
porque não tenderia a um fim exterior. A virtude é, ao mesmo tempo,
conhecimento racional e força suprema, para os etóicos no mundo acontece
apenas o que Deus quer, e o sábio (o homem) deve aceitar seu destino, essa é a
posição do sábio, aquele que não permite ser perturbado pelo mundo externo.
2.2 – Idade Média
A sociedade medieval organiza-se sob as bases do Cristianismo, que se
impôs durante dez séculos após se tornar a religião oficial de Roma no Séc. IV.
Vásquez (1997) argumenta que em um sistema social estratificado e
hierarquizado, a religião, por intermédio da Igreja, vem garantir certa unidade
social, monopolizando a vida intelectual, a moral e a ética, que estarão
19impregnadas de um conteúdo religioso ao longo deste período. De acordo com
esta moral religiosa, o comportamento do homem deve se pautar, a partir de uma
perspectiva sobrenatural, tendo Deus como seu fim último.
A ética cristã estabelece a relação entre Deus e o homem, baseando-se em
verdades reveladas. Deus é colocado como origem e fim de tudo, inclusive das
ações humanas, assim surgem virtudes morais diferentes daquelas da Idade
Antiga, tais como a fé, a esperança e a caridade, bem como a idéia de igualdade
entre os seres humanos, pela condição de filhos de Deus (igualdade espiritual só
possível no plano sobrenatural).
Segundo Vásquez (1997, p.238): “O Cristianismo como religião oferece
assim ao homem certos princípios supremos morais que, por virem de Deus, têm
para ele o caráter de imperativos absolutos e incondicionais.” E ainda acrescenta
que “a ética cristã – como a filosofia cristã em geral – parte de um conjunto de
verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu
criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação
no outro mundo.” (VÁSQUEZ, 1997, p.236).
“Assim, pois, a mensagem cristã tinha um profundo conteúdo moral
na Idade Média, isto é, quando era completamente ilusório e utópico
propor-se a realização de uma igualdade real de todos os homens”.
(VÁSQUEZ, 1997, p.238)
Santo Agostinho (354-430). Nasceu em Tagaste, província romana de Numídia,
filho de um pagão e de uma cristã. A ética agostiniana é bastante influenciada pelo
pensamento de Platão, mas, se contrapõe ao racionalismo ético dos gregos,
quando valoriza a experiência pessoal, a interioridade, à vontade e o amor.
Tomás de Aquino (1225-1274). Nasceu em Roccasecca, na Itália, estudou na
Universidade de Nápoles e no ano de 1243 passou a fazer parte da Ordem dos
Dominicanos. A ética tomista recebe a influência de Aristóteles, colocando Deus
como fim último que vai levar o homem a atingir a felicidade. Para tanto, assim
20como no pensamento aristotélico, uma vida contemplativa e o conhecimento são
os caminhos para chegar a este fim.
2.3 – Idade Moderna
Estabelecida entre os séculos XVI e XIX, difere da anterior em todos os
aspectos, na medida em que coloca o homem como centro de seu “esqueleto”
teórico e não mais Deus. Na ordem espiritual, a religião deixa de ser a forma
ideológica dominante e a Igreja Católica perde a sua função de guia. Verificam-se
os movimentos de reforma, que destroem a unidade cristã medieval. Na nova
sociedade, consolida-se um processo de separação daquilo que a Idade Média
unira: a) a razão separa-se da fé (e a filosofia, da teologia); b) a natureza, de Deus
(e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); c) o Estado, da Igreja; e d) o
homem, de Deus. (VÁSQUEZ, 1997, p.240). Não mais se sustenta a idéia da ética
como o caminho para chegar a uma boa vida no sentido aristotélico. A “boa vida”
ganha novos significados e a felicidade passa a ser, por exemplo, a liberdade de
escolha.
A ética que surge vigora neste período é de tendência antropocêntrica, em
que o ser humano é o fim e fundamento, apesar de ainda consistir na idéia de um
ser universal e possuidor de uma natureza instável, Assim mesmo, ele aparece
como o centro de tudo: da ciência, da política, da arte e da moral.
Vásquez (1997) aponta como expoente principal da expressão da ética moderna
Immanuel Kant (1724-1804). Segundo ele, a ética de Kant está baseada
imperativo categórico que seria: “Age de maneira que possas querer que o motivo
que te levou a agir se torne uma lei universal”.
Por conceber o comportamento moral como pertencente a um sujeito
autônomo e livre, ativo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de
uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou
criador. (VÁSQUEZ, 1997, p.243). A contribuição de Kant é enorme nos campos
do conhecimento e da ética, em relação a esta, escreveu obras como Metafísica
dos Costumes (1785) e Crítica da razão prática (1788). A moral kantiana, não se
21da no puro dever, é metafísica e idealista, na medida em que se fundamenta num
principio formal (o dever), sem lhe dar um conteúdo propriamente dito, Kant
reconhecia que os preceitos de sua ética eram duros e difíceis de serem
colocados em prática, todavia, estava convencido de que uma sociedade perfeita
só seria possível se a beleza, a felicidade, o amor, se submetessem ao dever e a
moralidade.
2.4 – Idade Contemporânea
Esse é um período de grande progresso científico e valorização do ser
humano concreto, também de reação ao formalismo e ao racionalismo kantianos,
a uma ética centrada em valores absolutos, uma ética que tenha o indivíduo como
sua origem e seu fim, onde as regras morais transformam-se em regras de
convivência e os direitos fundamentais passam a ser a igualdade e a liberdade, ou
seja, as chamadas virtudes políticas.
Vásquez (1997) inclui na ética contemporânea tanto as doutrinas éticas atuais,
como aquelas que, embora surgidas no século XIX, continuam exercendo forte
influência nos dias de hoje, citando como exemplo, o existencialismo de
Kierkegaard (1813-1855) e o marxismo de Karl Marx (1818-1883).
Segundo o autor, Kierkegaard, que é considerado o pai do existencialismo,
distingue três estágios na existência individual: estético, ético e religioso: O
estágio superior é o religioso, porque a fé que o sustenta é uma relação pessoal,
puramente subjetiva, com Deus. O estágio ético ocupa um degrau inferior, embora
acima do estético, e, no ético, o indivíduo deve pautar o seu comportamento por
normas gerais e, por isto, perde em subjetividade, ou seja, em autenticidade.
(VÁSQUEZ, 1997, p.246).
De Marx, Vasquez (1997) apresenta as suas teses fundamentais que vão
estruturar a sua doutrina ética, a qual, a partir de uma crítica às morais do
passado, vai colocar em evidência as bases teóricas e práticas de uma nova
moral.
22Dentre os representantes dessa época, destacam-se o Marxismo, o
Pragmatismo e o Existencialismo, como concepções mais significativas do ponto
de vista da reflexão ética.
Karl Marx (1818-1883). Foi o fundador e maior representante do materialismo
histórico. Partindo do princípio que o idealismo mistificava a realidade ao fazê-la
de corrente de conceitos, inaugurou uma nova teoria moral com bases assentadas
no concreto, no real, na prática.
Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo objetivo e subjetivo,
social e histórico, capaz de criar e interferir na realidade e transformá-la. Assim
existe uma relação de dependência entre o mundo material das forças produtivas
e das relações de produção, que ele denominava de infraestrutura, e o mundo
espiritual, das idéias políticas, jurídicas, filosóficas e dos valores, que ele chamava
de superestrutura. A infraestrutura – base econômica – condiciona a
superestrutura às normas da consciência de forma mecânica dialética. Porém,
como o fator econômico é o determinante, sua alteração interfere nos valores
morais. Este tipo de entendimento serve para explicar o caráter histórico e
dialético que o ser humano, a sociedade e os valores ganham na doutrina
marxista.
A moral sobre a perspectiva marxista é relativa, na medida em que é
condicionada ao momento e às condições históricas e, também, de classe, pois
cada classe elabora seus princípios morais.
Friedrich Nietzsche (1844-1900). Seu interesse não consistiu em formular um
sistema teórico, mas uma experiência estética de vida, buscando conhecer a
origem dos valores, ou seja, entender o porquê da valorização de determinados
atos em detrimento de outros.
Com esse objetivo, criticou o conceito do “bom” ensinado pela sociedade,
que visava acomodar os indivíduos, como escreveu em a Genealogia da moral:
23“(...) o bom é o que não injuria ninguém, nem ofende, nem ataca,
nem usa represálias, senão que deixa a Deus o cuidado da vingança
e vive oculto, evita a tentação e espera pouco da vida, como nós os
pacientes, os humildes e os justos” (Nietzsche, 1985, p.79)
A crítica recai, em especial, sobre os representantes do Cristianismo, que,
segundo ele, procuravam passar um ideal ascético para a vida humana, onde as
pessoas estivessem distantes da ambição, da alegria e das transgressões.
Charles Sanders Pierce (1854-19140). É considerado o criador do Pragmatismo
– de prágma -, que significa ação e, depois, prática.
Essa tendência surgiu entre os pensadores norte-americanos para justificar
o valor concedido pela sociedade burguesa ao lucro e ao bem estar material.
Desconsiderando toda verdade metafísica, defendia que as questões
filosóficas precisavam ser tratadas mediante o rigor do método científico, pois
acreditava que “(...) a importância de uma concepção filosófica dependia de suas
consequências práticas” (Luckesi e Passos, 2000, p.218).
O Pragmatismo foi definido por ele como um método e não como uma
teoria, tendo em vista que seu objetivo consistia em auxiliar a compreensão da
ciência e da filosofia. Para ele, a verdade é o útil, aquilo que melhor ajudar os
indivíduos a viverem e a conviverem, portanto, não existem valores absolutos, o
bom e o mal são relativos, variando de situação para situação, dependendo de
sua utilidade para a atividade prática.
Jean-Paul Sartre (1905-1980). É considerado um dos expoentes do
Existencialismo, concepção filosófica que parte do princípio de que a existência
precede a essência, ou seja, que o indivíduo é aquilo que quiser ser.
Sartre é representante do existencialismo ateu, que rejeita toda a verdade
metafísica, assim como todo valor universal. A ética baseia se na liberdade como
fim, de modo que são os seres humanos que vão atribuir valor ao mundo, pois ele
não tem valor nem sentido, só a liberdade decide e, como não existem
24parâmetros, leis, normas, a liberdade torna-se o fim da moral e o valor mais
importante.
Como assegura Maritain (1964, p.426):
“(...) na ausência de todo e qualquer valor, objetivamente fundado e
de qualquer preceito de uma lei moral universal – agora que já não
há ninguém para dar ordens, é a cada indivíduo particular que
compete criar ou inventar em cada caso os valores que orientam sua
conduta” (Ibdem, p.426).
25
CAPÍTULO III
ÉTICA EMPRESARIAL
3.1 – Evolução do Conceito de Ética Empresarial
Enquanto a ética profissional está voltada para as profissões, os
profissionais, associações e entidades de classe do setor correspondente, a ética
empresarial atinge as empresas e organizações em geral. A empresa necessita
desenvolver-se de tal forma que a ética, a conduta ética de seus integrantes, bem
como os valores e convicções primários da organização se tornem parte de sua
cultura.
Falar de empresa ética e procurar caracterizá-la é uma missão possível
porque, como diz Chanlat (1992, p.69), “(...) a vida nas organizações e mais
comumente as relações sociais que aí se tecem repousam sobre valores”. São
eles que definem os rumos das organizações e suas regras de conduta.
As empresas até o momento vêm se orientado por valores de inspiração
econômica e por uma ética utilitarista onde só visam o lucro e a produção. Não há
nada de desonroso com empresas lucrativas, desde que elas renunciem ao lucro
do tipo destrutivo, proveniente da especulação e da exploração. Uma empresa
ética é aquela que valoriza o ser humano, que age de forma responsável,
equilibrando seus interesses econômicos com os sociais.
Os princípios e critérios orientadores da sociedade capitalista apóiam-se em
valores que não priorizam o indivíduo e sim a técnica, a produção e o lucro. As
organizações produtivas vêm agindo com base nas condições tecnológicas que
possuem e produzindo aquilo que a tecnologia faculte, e não o que seja
necessário e útil à vida humana, enquanto o correto seria entender que as
escolhas são próprias dos seres humanos e suas decisões devem ser livres e
26conscientes e não estimuladas pela indústria cultural que impõe falsas
necessidades, modismos e sua conseqüente alienação.
Segundo Srour (2000, p.18), “(...) empresas éticas seriam aquelas que
subordinam suas atividades e estratégias a uma prévia reflexão ética e agem de
forma socialmente responsável”.
Década de 60 - Uma das primeiras preocupações éticas no âmbito empresarial de
que se tem conhecimento revela-se pelos debates ocorridos especialmente nos
países de origem alemã, na década de 60, com a pretensão de elevar o
trabalhador à condição de participante dos conselhos de administração das
organizações.
Década de 60/70 - O ensino da Ética em faculdades de Administração e Negócios
tomou impulso nas décadas de 60 e 70, principalmente nos Estados Unidos,
quando alguns filósofos vieram trazer sua contribuição. Ao complementar sua
formação com a vivência empresarial, aplicando os conceitos de ética à realidade
dos negócios, surgiu uma nova dimensão: a Ética Empresarial.
Década de 70 - Os primeiros estudos de Ética nos Negócios remontam aos anos
70, quando nos Estados Unidos, o Prof. Raymond Baumhart realizou a primeira
pesquisa sobre o tema junto a empresários. Nessa época, o enfoque dado à Ética
nos Negócios residia na conduta ética pessoal e profissional.
Nesse mesmo período, ocorreu a expansão das multinacionais oriundas
principalmente dos Estados Unidos e da Europa, com a abertura de subsidiárias
em todos os continentes. Nos novos países em que passaram a operar choques
culturais e outras formas de fazer negócios conflitavam, por vezes, com os
padrões de ética das matrizes dessas companhias, fatos que incentivaram a
criação de códigos de ética corporativos.
27Década de 80 - Durante a década de 80 foram notados, ainda, tanto nos Estados
Unidos quanto na Europa, esforços isolados, principalmente de professores
universitários, que se dedicaram ao ensino da Ética nos Negócios em faculdades
de Administração, e em programas de MBA - Master of Business Administration.
A primeira revista científica específica na área de administração, denominou-se:
"Journal of Business Ethics"
Década de 80/90 - No início da década de 90, redes acadêmicas foram formadas:
a Society for Business Ethics nos EUA, e a EBEN - European Business Ethics
Network na Europa, originando outras revistas especializadas, a Business Ethics
Quarterly (1991) e a Business Ethics: a European Review (1992).
As reuniões anuais destas associações permitiram avançar no estudo da
ética, tanto conceitualmente quanto em sua aplicação às empresas. Daí surgiu à
publicação de duas enciclopédias, uma nos Estados Unidos e outra na Alemanha:
Encyclopedic Dictionary of Business Ethics e Lexikoin derem Wirtschaftsethik
Nesta mesma ocasião ampliou-se o escopo da Ética Empresarial,
universalizando o conceito.
Visando à formação de um fórum adequado para essa discussão foi criada
a ISBEE - International Society for Business, Economics, and Ethics. O Prof.
Georges Enderle, então na Universidade de St. Gallen, na Suíça, iniciou a
elaboração da primeira pesquisa em âmbito global, apresentada no 1º Congresso
Mundial da ISBEE, no Japão, em 1996. A rica contribuição de todos os
continentes, regiões ou países, deram origem a publicações esclarecedoras,
informativas e de profundidade científica.
Fim do Milênio - Criaram-se as ONGs (Organizações Não Governamentais) que
desempenharam importante papel no desenvolvimento econômico, social e
cultural de muitos países. (International Transparency). A abordagem Aristotélica
dos negócios vem sendo recuperada A boa empresa não é apenas aquela que
apresenta lucro, mas a que também oferece um ambiente moralmente gratificante,
28em que as pessoas boas podem desenvolver seus conhecimentos especializados
e também suas virtudes.
Ética Empresarial na América Latina - Esforços isolados estavam sendo
empreendidos por pesquisadores e professores universitários, ao lado de
subsidiárias de empresas multinacionais em toda a América Latina, quando o
Brasil foi palco do I Congresso Latino Americano de Ética, Negócios e Economia,
em julho de 1998. Nessa ocasião foi possível conhecer as iniciativas no campo da
ética nos negócios, semelhanças e diferenças entre os vários países,
especialmente da América do Sul.
Da troca de experiências acadêmicas e empresariais, da identificação
criada entre os vários representantes de países latinos presentes, da perspectiva
de dar continuidade aos contatos para aprofundamento de pesquisas e
sedimentação dos conhecimentos específicos da região em matéria de ética
empresarial e econômica, emergiu a idéia de formação de uma rede. Foi, então,
fundada a ALENE - Associação Latino-americana de Ética, Negócios e Economia.
Ética Empresarial no Brasil – Levando se em conta que a sociedade brasileira,
apesar dos grandes avanços que tem conquistado, convive com uma das piores
distribuições de renda, com problemas ambientais, com a pobreza, com as
péssimas condições de trabalho, de alta competitividade e sem encontrar as
soluções que se fazem necessárias para enfrentar, importa saber o que elas têm
feito ou devem fazer visando modificar esse quadro e se tornarem instituições
comprometidas com valores verdadeiramente éticos, centradas no ser humano,
quer seja em suas ações voltadas para o seu público interno, quer seja para a
sociedade em geral.
ESAN - Escola Superior de Administração de Negócios - SP, primeira faculdade
de administração do país, fundada em 1941, privilegiou o ensino da ética nos
cursos de graduação desde seu início.
29
MEC - Ministério da Educação e Cultura, em 1992, sugeriu formalmente que todos
os cursos de administração, em nível de graduação e pós-graduação, incluíssem
em seu currículo a disciplina de ética. Nessa ocasião, o CRA - Conselho Regional
de Administração e a Fundação FIDES reuniram em São Paulo mais de cem
representantes de faculdades de administração, que comprometeram se a seguir
a instrução do MEC.
Fundação FIDES, em 1992, desenvolveu uma sólida pesquisa sobre a Ética nas
Empresas Brasileiras.
FGV - Fundação Getulio Vargas, 1992 - São Paulo, criou o CENE - Centro de
Estudos de Ética nos Negócios. Depois de vários projetos de pesquisa
desenvolvidos com empresas, os próprios estudantes da EAESP-FGV - Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,
solicitaram a ampliação do escopo do CENE, para abranger organizações do
governo e não governamentais. Assim, a partir de 1997, o CENE passou a ser
denominado Centro de Estudos de Ética nas Organizações e introduziu novos
projetos em suas atividades. O CENE-EAESP-FGV foi um pólo de irradiação da
ética empresarial, por suas intensas realizações no Brasil e no exterior: ensino,
pesquisas, publicações e eventos.
Fonte: "Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica" de Maria Cecília Coutinho
de Arruda e outros. São Paulo, Atlas, 2001.
3.2 - História da ética empresarial
Num sentido amplo, a atividade empresarial existe pelo menos há cerca de
seis mil anos, onde (de acordo com Samuel Noah Kramer) os antigos habitantes
da Suméria (Mesopotâmia) levavam a cabo uma grande quantidade de trocas
comerciais, mantendo registros das mesmas. Mas o comércio nem sempre foi
30visto como uma atividade fundamental e respeitável, tal como acontece nas
sociedades modernas, e a perspectiva ética sobre o comércio ao longo da maior
parte da história tem sido quase totalmente negativa.
Aristóteles, que merece ser reconhecido como o primeiro economista (dois
mil anos antes de Adam Smith), distinguia dois sentidos diferentes daquilo a que
chamava «economia»; o oikonomikos ou economia doméstica, que ele aprovava e
considerava essencial para o funcionamento de qualquer sociedade ainda que
pouco complexa, e a chrematisike, a troca que tem como objetivo o lucro.
Aristóteles acusou esta atividade de ser completamente destituída de virtude e
chamou de "parasitas" àqueles que se entregavam a tais práticas puramente
egoístas.
Mas se a ética empresarial, como condenação, foi levada a cabo pela
filosofia e pela religião, o mesmo aconteceu com a dramática mudança em relação
ao comércio que teve lugar no início da idade moderna. A nova atitude em
relação ao comércio não surgiu da noite para o dia; ao contrário, baseou-se em
tradições com uma longa história. As guildas medievais, por exemplo, tinham
estabelecido os seus próprios códigos de "ética empresarial", específicos para
cada ofício, muito antes de o comércio se tornar a instituição fundamental da
sociedade.
A aceitação geral do comércio e o reconhecimento da economia como uma
estrutura fundamental da sociedade dependeu de uma maneira completamente
nova de pensar acerca da sociedade que exigiu não apenas uma mudança na
sensibilidade filosófica e religiosa, mas também, um novo sentido da sociedade e
até da natureza humana. Esta transformação pode ser explicada, parcialmente,
em termos de urbanização de sociedades maiores e mais centralizadas, da
privatização de grupos familiares enquanto consumidores, do rápido
desenvolvimento tecnológico, do crescimento da indústria e do concomitante
desenvolvimento de estruturas, necessidades e desejos sociais
A ética empresarial foi, na maior parte, desenvolvida por socialistas, como
uma crítica contínua à amoralidade do modo empresarial de pensar. Só muito
31recentemente começou a dominar no discurso do comércio uma perspectiva mais
moral e respeitável acerca desta atividade, o que levou consigo a idéia de estudar
os valores e ideais subentendidos. Pode se facilmente compreender como a
liberdade do mercado sempre foi uma ameaça aos valores tradicionais e hostis ao
controle governamental, mas já se conclui de forma tão sofística, que o próprio
mercado não tem valores ou que os governos servem melhor o bem público do
que os mercados.
3.3 - Ética micro, macro e molar.
Podemos muito bem distinguir três (ou mais) níveis de comércio e de ética
empresarial, desde o micro nível — as regras para uma troca justa entre dois
indivíduos, até ao macro nível — as regras institucionais ou culturais do comércio
para toda uma sociedade ("o mundo dos negócios"). Devemos também delimitar
uma área, a qual podemos chamar o nível molar da ética empresarial, e que diz
respeito à unidade básica do comércio nos nossos dias — a empresa.
A micro-ética nos negócios é uma parte integrante da ética tradicional, a
natureza das promessas, as consequências e outras implicações das ações de um
indivíduo, o fundamento e a natureza dos diversos direitos individuais. O que é
específico da micro-ética dos negócios é a idéia de troca justa e, juntamente com
ela, a noção de um salário justo, de tratamento justo. A noção aristotélica de
justiça "comutativa" é aqui particularmente útil.
A macro-ética tornou-se uma parte integrante das questões mais amplas
acerca da justiça, da legitimidade e da natureza da sociedade que constituem a
filosofia social e política, ela é uma tentativa de ter uma imagem global, de
compreender a natureza do mundo dos negócios e das suas funções próprias.
Mas a unidade "molar" definitiva do comércio moderno é a empresa, e as
questões centrais da ética empresarial tendem a dirigir-se declaradamente aos
diretores e empregados de milhares de empresas que determinam a maior parte
da vida comercial mundial. São, especificamente, questões que dizem respeito ao
32papel da empresa na sociedade e ao papel do indivíduo na empresa. Assim, não é
de surpreender que os assuntos mais estimulantes se encontrem nos pequenos
espaços entre os três níveis do discurso ético, por exemplo, a questão da
responsabilidade social da empresa — o papel da empresa na sociedade mais
ampla —, e questões de responsabilidades definidas pelo cargo — o papel do
indivíduo na empresa.
3.4 - Ética nas Organizações
“Se não tomarmos cuidado, no próximo milênio não vamos ter nem ética
nem dignidade no dicionário português. Serão substituídas por esperteza”.
(Antônio Ermírio de Moraes)
As organizações éticas buscam, na prática, serem honestas, justas,
verdadeiras e democráticas, por uma questão de princípios e não de
conveniências, muito embora esse tipo de atitude também traga sucesso e
reconhecimento. Na visão de Aguilar (1996, p.26), a empresa ética é “(...) aquela
que conquistou o respeito e a confiança dos seus empregados, clientes,
fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre
seus interesses econômicos e os interesses de todas as partes afetadas, quando
toma decisões ou empreende ações”.
A questão da ética nos negócios, pôr muito tempo foi considerada
insignificante, com a justificativa de que no mundo empresarial nem sempre é
possível tomar decisões corretas ou erradas e prever quem será prejudicado ou
beneficiado. Mas com todas as mudanças que ocorrem, as empresas são
obrigadas a todo instante a tomarem decisões que desencadeiam conseqüências
para indivíduos e meio ambiente. Para Karkotli & Aragão (2004, p.30):
(...) “que uma empresa é considerada ética se adotar uma postura
ética como estratégias de negócios, ou seja, agir de forma honesta
com todos aqueles que têm algum tipo de relacionamento com ela. E
33ainda, que o desempenho também deve ser avaliado quanto ao
esforço no cumprimento de suas responsabilidades públicas e
atuação como organização cidadã”.
Sendo assim, a ética é uma necessidade em todos os níveis de uma
organização, desde a alta administração até os empregados operacionais.
Uma empresa ética é aquela capaz de criar um ambiente de respeito à
autonomia dos indivíduos, para tanto, o diálogo e a transparência são condições
básicas. O que se vê em empresas que se orientam pelos princípios da
racionalidade instrumental é a mutilação da atividade crítica e criadora do
indivíduo, como afirma Almeida (1996, p.58)
“(...) a mutilação da crítica e da criação só pode estabelecer-se em
ambientes nos quais o diálogo não ocorreu ou ocorre entre
interlocutores desiguais, isto é, entre interlocutores de status
diferenciado, que se encontram dentro da organização, em posição
de poder desigual”.
Hoje, para que uma empresa consiga credibilidade junto ao mercado,
obter qualidade em seus produtos ou serviços Embora esse fator seja
primordial e o público consumidor esteja cada vez mais exigente nesse
sentido, a conquista da credibilidade é mais ampla. Ela engloba outros itens
relacionados ao portfólio da empresa e a ética é um desses itens.
Nossa sociedade vive uma redescoberta da ética, há exigência de
valores morais em todas as instâncias sociais, passamos por uma grave crise
de valores, identificada por alguns como falta de decoro e por outros como
falta de respeito. A ética, entendida como a ciência dos costumes ou dos atos
humanos, passa a ser uma questão de sobrevivência para organizações
submetidas a pressões constantes nos setores mais dinâmicos da empresa.
Nas relações empresariais atuais tem-se a identificação de que a ética
pode ser considerada uma essência de sucesso para as organizações
modernas, esta essência apresenta-se por meio das ações entre agentes
34empresariais, como por exemplo, clientes, fornecedores, concorrentes e entre
os próprios colaboradores da empresa. O agir com ética, nesse contexto,
significa agir de acordo com determinadas regras e preceitos, contudo,
verifica-se que muitas empresas divulgam regras, ou até mesmo códigos de
ética, mas não os cumprem, com observa-se a dificuldade de se coordenar o
discurso com a prática diária.
As pessoas demonstram níveis mais elevados de comprometimento ao
sentir que suas empresas trabalham com lisura e integridade, é o chamado
exemplo, o qual contribui para a disseminação destes valores dentro das
organizações.
Nasch (1993:06) define a Ética Empresarial como “(...) o estudo da forma
pela qual normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de
uma empresa comercial”. Com isso, o que a autora afirma é que a ética nas
organizações não se caracteriza como valores abstratos nem alheios aos que
vigoram na sociedade; ao contrário, as pessoas que as constituem, sendo sujeitos
históricos e sociais, levam para elas as mesmas crenças e princípios que
aprenderam enquanto membros da sociedade.
Normalmente, o mundo de uma organização é permeado por conflitos, por
choques entre interesses individuais e, muitas vezes, entre esses e os da própria
organização, de modo que a ética serve para regular essas relações, colocando
limites e parâmetros a serem seguidos.
Segundo Srour (2003:50), “(...) as decisões empresariais não são
inócuas, anódinas ou isentas de conseqüências: carregam um enorme poder
de irradiação pelos efeitos que provocam”. Nas práticas organizacionais,
afetam os agentes que participam das ações relacionadas com a gestão da
empresa. Na frente interna, têm-se os trabalhadores, gestores e proprietários
(acionistas ou quotistas). Já na frente externa, têm-se clientes, fornecedores,
prestadores de serviços, agentes governamentais, instituições financeiras,
concorrentes, mídia, comunidade local e entidades da civil, todos eles acabam
35sofrendo efeitos que variam de acordo com a grandeza dos interesses entre
os partícipes.
A ética na administração tem sido discutida com mais ênfase em virtude da
reflexão sobre as situações relacionadas com o negócio das empresas. Na escala
de valores que começa a se disseminar, contratar um parente incompetente ou
discriminar um colega por razões raciais, de aparência ou escolaridade são
comportamentos equiparados ao uso da propaganda enganosa, à poluição
ambiental, à espionagem industrial ou ao suborno para levar vantagem numa
negociação. A forma como a empresa vende seus produtos, relaciona-se com o
governo ou enfrenta a concorrência define a conduta da empresa. A partir destas
constatações, entende-se que a questão ética torna-se um imperativo no
universo das organizações modernas. Em se tratando de processo evolutivo, tais
fatos demonstram a crescente demanda por valores como transparência e
probidade, tanto no trato da coisa pública como também no fornecimento de
produtos e serviços ao mercado.
Quando os gestores perdem a conduta ética, a contrapartida imediata
passa a ser a perda do respeito por parte dos colaboradores. É preciso que as
lideranças busquem mostrar bons exemplos, para que os mesmos possam
gerar relações de maior confiabilidade e segurança. Nesse novo panorama
que se apresenta a qualificação, o esforço pessoal e a chamada meritocracia
ganham relevo nas práticas organizacionais.
Segundo Srour (2003:294), foi feita uma declaração pelo ex-presidente
do Banco Mundial, o Sr. Jim Wolfensohn: “A administração ética nas empresas
traz um valioso progresso social. Ambos andam de mãos dadas. Assim como
nos governos, a administração de empresas deve ser transparente e
responsável”. Torna-se necessário conciliar a ética com a busca da
maximização dos lucros.
Sobre o Brasil, Srour (2003:381) registra uma mensagem de Herbert de
Souza (Betinho): “O Brasil tem fome de ética e passa fome em conseqüência
da falta de ética na política”. Outra vez é possível verificar a necessidade de
36se coordenar esforços na direção da ética, sendo ela inserida em todos os
setores relacionados com a empresa, pois dessa forma resultará no
desenvolvimento das relações empresariais.
3.5 - Ética - Instrumento para Tomada de Decisões
Não basta que as organizações tomem decisões certas, mas, elas precisam
tomar as decisões certas nos momentos certos e a ética se caracteriza como uma
orientação segura na tomada de decisões no mundo organizacional. É, portanto,
uma situação complexa, pois envolve não só lucro, mas pessoas, na medida em
que as decisões tomadas pelo gerente ou pelo responsável geram impactos
significativos em toda organização. Nesse sentido, a ética se aplica não somente
nas organizações, mas também para os empregados comuns que verão seus
direitos respeitados e, o gerente que terá nela um rumo, uma direção a seguir. O
princípio definidor de qualquer decisão seja ela na sociedade ou em uma
organização, é o respeito à pessoa.
Tomar a decisão correta exige observação, reflexão, análise, julgamento e
decisão, o que deve ser feito levando-se em conta a categoria da totalidade, que
significa entender que o problema faz parte de uma realidade maior e mais
complexa e precisa ser analisado de forma articulada e não isoladamente.
(Passos, 2004).
Um dos maiores desafios dos administradores é conduzir as atividades de
maneira ética, enquanto alcançam altos níveis de desempenho econômico. A
atuação baseada em princípios éticos e a busca de qualidade nas relações são
manifestações da Responsabilidade Social Empresarial. Numa época em que os
negócios não podem mais se dar em segredo absoluto, à transparência passou
ser a alma do negócio: tornou-se um fator de legitimidade social e um importante
atributo positivo para a imagem pública e reputação das empresas.
37Por tudo isto, a ética é bastante questionada sobre inúmeros aspectos na
administração das organizações. Segundo Maximiano (1993), esses aspectos
podem ser classificados em algumas categorias principais como:
Nível Social - na concepção da sociedade a questão ética relaciona-se com a
própria presença, o papel e o efeito das organizações na sociedade.
Nível do Stakeholder - Stakeholder é o termo alternativo de Shareholder
(acionista). Ou seja, são pessoas que estão associadas direta ou indiretamente à
organização ou que sofrem algum de seus efeitos: clientes internos e externos, à
medida que são afetados pelas decisões da administração.
Política Interna – no nível da política interna, a discussão sobre ética focaliza
especialmente as relações da empresa com seus empregados. Muitas decisões
que as empresas e outras organizações têm que tomar, todos os dias, são
afetadas por questões éticas. Liderança, motivação, planejamento de carreira,
motivação de pessoal e conduta profissional são assuntos que envolvem essas
questões.
Individual – diz respeito à maneira como as pessoas devem trata-se umas às
outras. Nesse plano, as decisões têm grande impacto sobre o clima
organizacional, e à qualidade de vida percebida pelos funcionários.
Ainda, Silva (2003) afirma que ao longo dos anos, quatro visões do
comportamento ético têm sido identificadas:
Utilitarista – Considera comportamento ético aquele que entrega os melhores
produtos para um grande número de pessoas;
Individualista – Considera comportamento ético aquele que eleva os auto-
interesses, o respeito à condição de indivíduo, de longo prazo;
Direitos Morais – Considera comportamento ético aquele que respeita e protege
os direitos fundamentais das pessoas;
38Justiça – Considera comportamento ético aquele que trata as pessoas
imparcialmente e de maneira justa de acordo coma s regras e padrões iguais.
Na tentativa de ampliar as chances de sobrevivência do atual modelo
econômico, os administradores, estão revendo posturas e adotando práticas mais
éticas na condução de seus negócios e na gestão das empresas, a própria
necessidade de sobrevivência leva o atual modelo empresarial a ser mais ético.
Dubrin (2003, p.69) afirma que:
“(...) o comportamento ético dos membros da organização, quer
sejam contribuintes individuais (não-gerentes), quer sejam gerentes,
exercem uma força importante na maneira pela qual uma empresa é
vista pelos que estão fora e dentro dela. Se o comportamento de um
número suficiente de pessoas estiver ofensivamente fora dos
padrões da ética, pode-se violar a lei, provocando uma intervenção
externa”.
E Karkotli & Aragão (2004, p.43) concluem que: “(...) quando se trabalha ou
se negocia com confiança, a segurança aumenta e se criam relações duradouras”,
ou seja, empresas socialmente responsáveis estão mais preparada para
assegurar a sustentabilidade em longo prazo dos negócios, por estarem
sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade e o mundo
empresarial.
Poucas questões éticas são de resposta fácil para os gerentes, mas, as
ações dos mesmos devem ser direcionadas por algumas verdades inequívocas
que, no conjunto, constituem os valores humanos essenciais e definem os
padrões éticos mínimos para todas as empresas.
Porém há fatos que interferem direta ou indiretamente na ética
administrativa, são eles:
Administrador - A ética administrativa é afetada por experiências pessoais e pelo
conhecimento do administrador. As influencias da família, os valores religiosos, os
padrões e as necessidades pessoais, financeiras e outros, vão ajudar a determinar
a conduta ética em qualquer circunstancia, aqueles que possuem uma forte
39estrutura ética baseadas em valores e regras pessoais, serão mais consistentes e
confiantes ao tomarem suas decisões, já que tomam como preceitos um conjunto
estável de padrões éticos.
Organização - Os acionistas ou superiores imediatos, exercem um efeito direto no
comportamento de seus colaboradores, uma vez que, o que interessa para eles é
a “recompensa”, caso não ocorra, utilizam ações punitivas o que certamente afeta
as decisões e ações dos indivíduos. Políticas formais e regras escritas, ainda que
não garantam resultados, são muito importantes no estabelecimento de um clima
ético para a organização como um todo; elas sustentam e reforçam a cultura
organizacional, que pode ter uma forte influência sobre o comportamento ético dos
participantes.
Ambiente externo - “O ambiente externo pode ser compreendido como aquele
que não interage diretamente no funcionamento da organização, mas que pode
influenciar as decisões tomadas por seus administradores”, afirmam Karkotli &
Aragão (2004, p.20). São todos os fatores que estão de fora da organização, mas
que de certa forma interferem diretamente em suas ações, como exemplo disto,
temos as leis que interpretam os valores sociais para definir os comportamentos
apropriados das organizações e seus participantes, e as regulamentações ajudam
o governo a monitorar esses comportamentos e mantê-los dentro de padrões
aceitáveis.
Um dos fatores externos que interferem diretamente na ética administrativa
é a pressão dos concorrentes que contribuem para ampliar os dilemas sob o
aspecto da ética profissional.
Tomar decisões éticas é fácil quando os fatos são claros e as escolhas são
fáceis de serem tomadas. Mas a história é diferente quando a situação está
encoberta pela ambigüidade, pela falta de informações, pela diversidade de
pontos de vista e pelo conflito de atribuições. Nestas situações com as quais os
gerentes convivem o tempo todo, decisões éticas dependerão do conceito e
40padrões de valores e conduta absorvidos por quem vai decidir. Contudo, é de
suma importância que os gestores ao tomarem suas decisões estejam focados
num caráter ético e sigam os seguintes tópicos antes de tomar qualquer decisão:
• Colete os fatos – antes de tomar decisões importantes nos negócios é
necessário coletar fatos relevantes.
• Trate os valores organizacionais e as normas de conduta formais como
absolutos e definindo aspectos éticos. Os aspectos éticos numa
determinada decisão são muitas vezes mais complicados do que se possa
imaginar. Quando se está confrontado com uma decisão complexa, talvez
seja útil discutir as questões éticas com outra pessoa.
• Identifique as partes afetadas – ao tomar decisões éticas, é importante
identificar as pessoas que sentirão o impacto das decisões. Decisões
importantes de empresa podem afetar milhares de pessoas, como por
exemplo, se uma empresa pretende fechar uma fábrica ou transferi-la para
outra região onde exista mão-de-obra mais barata, milhares de indivíduos e
vários interessados serão afetados.
• Identifique as conseqüências – É importante identificar as conseqüências
ao se tomar decisões com a maior probabilidade de ocorrência,
principalmente aquelas com os resultados mais negativos, já que a
empresa tem responsabilidade direta para com a sociedade.
• Pense criativamente sobre ações potenciais e siga sua intuição – Quando
confrontado com dilemas éticos, coloque-se no modo de pensamento
criativo. Estenda sua imaginação para inventar várias opções em vez de
pensar que você só tem duas escolhas – fazer ou não fazer algo. Seguindo
a sua intuição com certeza, o gestor conseguirá distinguir o certo do errado.
Só o exercício de desenvolvimento de habilidades, é que dará oportunidade
aos gestores de tomar decisões éticas. Karkotli & Aragão (2004 p.41) diz:
“Empresários inteligentes sabem que o sucesso nos negócios e as práticas éticas
se inter-relacionam. Eles se concentram em um objetivo empresarial que
41ultrapassa os simples negócios do dia-a-dia e sabem que as relações duradouras
são aquelas baseadas na confiança e no respeito mútuo”.
42
CAPÍTULO IV
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Responsabilidade Social Empresarial – RSE – é a forma de gestão que se
define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os
quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que
impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais. Ela e o comportamento ético
dos administradores estão entre as tendências que mais influenciam a teoria e a
prática administrativa nos novos tempos.
Baseado neste contexto, o debate sobre o comportamento ético das
organizações vem tomando lugar na prática administrativa como o caminho para
sobreviver às mudanças competitivas vivenciadas pelas empresas no mundo
globalizado.
Sabendo da importância da ética para a Administração Maximiano (1974, p.294)
conceitua a ética como:
“(...) é a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição
e avaliação do comportamento de pessoas e organizações. A ética
lida com aquilo que pode ser diferente do que é da provação ou
reprovação do comportamento observado em relação ao
comportamento ideal”.
Chiavenato em sua obra, A Administração dos Novos Tempos (1999),
afirma que um dos traços mais impactantes da recente evolução da economia
mundial tem sido a integração dos mercados e queda das barreiras comerciais.
Para grande parte das empresas, isso significou a inclusão, muitas vezes forçada,
na competição em escala planetária. Em curto espaço de tempo, elas viram-se
forçadas a mudar radicalmente suas estratégias de negócio e padrões gerenciais
43para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades decorrentes da
ampliação de seus mercados potenciais, do surgimento de novos concorrentes e
novas demandas da sociedade. Paralelamente, tiveram que passar a acompanhar
a acelerada evolução tecnológica e o aumento do fluxo de informações, que se
tornou exponencial com o avanço da Internet, o crescimento vertiginoso do
chamado terceiro setor, com a proliferação das organizações não governamentais,
configura uma verdadeira revolução cívica, que o mundo da Internet e das
comunicações vem potencializar.
A responsabilidade social não é um fardo adicional sobre a empresa, mas
uma parte integrante das suas preocupações essenciais, servir as necessidades e
ser justo não apenas para com os seus investidores ou proprietários, mas também
para com aqueles que trabalham, compram, vendem, vivem perto ou são de
qualquer outro modo afetados pelas atividades que são exigidas e recompensados
pelo sistema de mercado livre.
Ouvimos muitas vezes empregados (e até mesmo executivos de alto nível)
queixarem-se de que os seus "valores empresariais estão em conflito com os seus
valores pessoais". O que isto normalmente significa é que certas exigências feitas
pelas empresas são antiéticas ou imorais. Aquilo a que a maior parte das pessoas
chama os seus "valores pessoais" são de fato os valores mais profundos e amplos
da sua cultura.
4.1 - Evolução Histórica
Em 1899 o empresário A. Carnigie fundador do Conglomerado U.S. STELL
CORPORATION; apresentava uma abordagem de Responsabilidade Social
baseada em dois princípios: Princípio da Caridade - “O Princípio da Caridade
exigia que os membros mais afortunados da sociedade ajudassem os menos
afortunados como os desempregados, os inválidos, os doentes e os velhos”.
Karkotli & Aragão (2004, p. 49). Este princípio tinha um perfil paternalista e
assistencialista, e eram os próprios ricos quem determinavam com quanto iriam
44contribuir. Princípio da Custódia - “Pelo princípio da Custódia as empresa e os
ricos eram vistos como zeladores da riqueza da sociedade”. (Ibidem, p.49). A
sociedade tinha a visão de que além de zelar pela sua riqueza, as empresas eram
as únicas a multiplicá-las.
Em ambos os princípios a Responsabilidade Social das empresas
associava iniciativas paternalistas e assistencialistas, uma vez que, era
considerada uma obrigação apenas dos proprietários e administradores das
empresas, e não propriamente da empresa. Sendo assim, Drucker (1997, p. 72),
ao comentar seu ponto de vista, sobre a obrigação desses proprietários e
administradores em relação à Responsabilidade Social, afirma que: “Esse modo
tradicional de ver o empresário não se preocupava com as responsabilidades
sociais da empresa, mas sim atuação social dos homens que a dirigiam”.
Por longo tempo a empresa legitimou-se perante a sociedade com o
argumento de que era o principal instrumento de desenvolvimento, e para isso ela
deveria possuir liberdade para gerar lucro. Tal argumento baseava-se na Teoria
Econômica de Adam Smith e nos benefícios à sociedade que o seu desempenho
proporcionava. “(...) por mais de cem anos, a empresa tem sido o instrumento
principal e bem sucedido de progresso social”. Ansoff & McDonnel. (1993, p.236).
Já o fator humano era relegado ao segundo plano nas empresas, uma vez
que as atenções estavam voltadas para fatores de Produção. Como afirmam
Karkotli e Aragão (2004, p.17): “O ambiente neste contexto, estava restrito ao
espaço interno das empresas, sendo o elemento humano aí considerado como
uma das peças da engrenagem fabril.”
Porém estes argumentos foram se desmistificando com o surgimento de
contestações ao comportamento das empresas, e as críticas da Escola de
Relações Humanas a um sistema excessivamente mecanizado. Para poder
explicar e justificar o comportamento humano nas organizações, a Escola das
Relações Humanas passou a estudar intensamente essa integração social, onde
afirma que a organização não é composta de pessoas, mas é o próprio conjunto
de pessoas que se relacionam espontaneamente entre si. O desempenho
45individual é influenciado pelos grupos, que estão entre os principais componentes
das organizações. Ou seja, seu comportamento é fortemente influenciado pelo
meio ambiente e pelas várias atitudes e normas informais existentes nos vários
grupos dentro da organização, onde, à compreensão da natureza dessas relações
humanas permitiram ao administrador obterem melhores resultados de seus
subordinados.
À medida que a economia global ia crescendo, sua distribuição
permanecia desigual. Esse crescimento foi acompanhado de poluição ecológica,
desigualdades sociais e corrupções políticas, bem como oscilações freqüentes
entre situações de prosperidade e recessão. Além do mais, quando livre de
regulamentação, Ansoff & McDonnel (1993, p.238) afirmam que “(...) a empresa
parecia morder a mão que a alimentava”, eliminando a concorrência, criando
monopólios e destruindo assim a justificativa original da liberdade de concorrência.
Como resposta a tal situação, foram criadas restrições à liberdade das empresas,
impondo limites para que cumprissem e seguissem normas como: legislação
quanto ao trabalho de menores, salários mínimos, carga horária e etc Assim, o
conceito de Responsabilidade Social surgiu como resposta à necessidade das
empresas à nova situação ambiental e social no qual elas se deparavam.
Ainda que existam casos de envolvimento de empresas com projetos
voltados para a área, o tema de Responsabilidade Social Empresarial tomou corpo
especialmente a partir dos anos 60, nos EUA e Europa e nos anos 90 no Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(2000), responsabilidade social empresarial é um tema de grande relevância nos
principais centros da economia mundial.
Nos Estados Unidos e na Europa proliferam os fundos de investimento
formados por ações de empresas socialmente responsáveis. O Sustainability
Index, da Dow Jones, por exemplo, enfatiza a necessidade de integração dos
fatores econômicos, ambientais e sociais nas estratégias de negócios das
empresas. Normas e padrões certificáveis relacionados, especificamente, ao tema
46da responsabilidade social, como as normas SA8000 (relações de trabalho) e
AA1000 (diálogo com partes interessadas), vêm ganhando crescente aceitação.
4.2 – Responsabilidade Social no Brasil.
No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social
empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades
não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a
questão. Dois fatores importantes para esta prática foram: a figura do sociólogo
Herbert Viana e o trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas - IBASE - na promoção do Balanço Social, uma de suas expressões e
tem logrado progressiva repercussão.
A obtenção de certificados de padrão de qualidade e de adequação
ambiental, como as normas ISO, por centenas de empresas brasileiras, também é
outro símbolo dos avanços obtidos em alguns aspectos importantes da
Responsabilidade Social Empresarial.
A atuação incansável da Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança,
pela erradicação do trabalho infantil e a adoção do selo Empresa Amiga da
Criança por número expressivo de empresas são exemplos vivos do poder
transformador da iniciativa privada. As enormes carências e desigualdades
sociais existentes em nosso país dão à responsabilidade social empresarial
relevância ainda maior. A sociedade brasileira espera que as empresas cumpram
um novo papel no processo de desenvolvimento: sejam agentes de uma nova
cultura, sejam atores de mudança social, sejam construtores de uma sociedade
melhor.
4.2.1 – Algumas experiências significativas
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (criado no Brasil
em 1998) registra experiências de ações de Responsabilidade Social, conforme
47publicação de 2003, fazendo, ainda, algumas considerações teóricas onde afirma
que o setor empresarial deve ter responsabilidade social, pois possui bons
vínculos com o governo, tem poder econômico e muito se beneficia com os
recursos naturais. Também sabe que um número sempre maior de empresários
brasileiros vem se conscientizando disso e procura fazer frente aos graves
problemas sociais.
“(...) está além do que a empresa deve fazer por obrigação legal. A
relação e os projetos com a comunidade ou os benefícios para o
público interno são elementos fundamentais e estratégias para a
prática da Responsabilidade Social Mas não é só. Incorporar critérios
de Responsabilidade Social na gestão estratégica do negócio é
traduzir as políticas de inclusão social e de promoção de qualidade
ambiental, entre outras, em metas que possam ser computadas na
sua avaliação de desempenho é o grande desafio” (Instituto Ethos,
2003, p.13).
A título de exemplo, foram selecionados alguns relatos, tendo o cuidado de
trazer experiências que contemplam as várias áreas de atuação.
Banco do Brasil
Além de outras ações desenvolvidas, em 2001 lançou a PAT – Programa
Adolescentes Trabalhadores - com o objetivo de promover a inclusão de jovens de
baixa renda, através de qualificação para o trabalho. Além de apoiar
financeiramente o projeto, também o acompanha de perto, como se exige que seja
a atuação da verdadeira prática responsável; não basta doar os recursos
econômicos, é necessário que a instituição a desenvolva de forma consciente e
comprometida.
Serviço Social da Indústria – SESI – DR Bahia
O SESI promove algumas ações de Responsabilidade Social no Estado da
Bahia e dá apoio a outras. Dentre as ações podemos destacar o Programa
Largada 2000 em parceria com o Instituto Ayrton Senna, Ayrton Senna, foi
48implantado em 1999 e, como o PAT do BB, também visa à inclusão do
adolescente de 14 a 19 anos na agenda nacional. Além da ação educativa, o
Programa contempla o lazer com atividades sócio-recreativas como oficinas,
cursos de dança, caratê, natação e balé. O Programa envolve outros parceiros
como as prefeituras dos municípios de Feira de Santana e de Lauro de Freitas, a
Universidade Católica de Salvador e de Feira de Santana e atendem a 2.500
jovens.
As duas experiências acima mencionadas estão na área educacional e de
emprego, ou seja, aquelas agregam de valores. Como resultado, afirmam:
“(...) observam-se alterações visíveis na atitude dos adolescentes
diante da vida, em relação a si mesmos e aos outros. São
perceptíveis também as mudanças dos adolescentes em relação ao
meio ambiente, resultantes de uma nova sensibilidade nos temas
sociais relacionados ao exercício da cidadania” (Instituto Ethos ,
2003, p.115)
Samarco Mineração S.A.
Dentre as várias ações de responsabilidade social que a empresa apresenta,
destaca se a Redução do consumo de óleo lubrificante, desenvolvida no município
de Mariana-MG, onde a Samarco atua na extração e concentração de minério de
ferro.
Em 1998, após um levantamento das conseqüências de sua atividade sobre
o meio ambiente, a empresa iniciou um plano de ação cuidadoso e competente,
através do monitoramento dos equipamentos, coleta e reutilização do óleo que
vazasse. Entre 1999 e 2001 foi registrada uma diminuição do consumo de óleo em
cerca de 75% e uma maior conscientização e comprometimento dos membros da
empresa com as questões ambientais e, especificamente, com o problema.
Esta é uma ação de responsabilidade social que visa à proteção do meio
ambiente. Nesta, como em todas as outras áreas, as empresas precisam começar
49corrigindo seus próprios erros, mesmo que as ações necessárias não demonstrem
possibilidades de ganhos econômicos e sim despesas. Neste caso específico, a
empresa registrou um benefício ao meio ambiente e as pessoas, e para si, na
medida em que verificou não só a diminuição da quantidade do produto
lubrificante como também a constatação de que seus equipamentos passaram a
ter melhor desempenho.
Companhia Siderúrgica de Tubarão
O destaque é para o PRODAFOR - Programa Integrado de
Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores, implantado em 1977 e que tem
como objetivo fortalecer as empresas fornecedoras do Estado do Espírito Santo,
com a redução de custos e a melhoria de seus produtos.
Os fornecedores recebem informações sobre os critérios de qualidade
exigidos pelas empresas compradoras, consultorias e sobre aqueles que
necessitam passar por capacitação e certificação. É preciso ajudá-los a melhorar
seu padrão ético, oferecendo informações, realizando atividades conjuntas,
envolvendo-os em projetos sociais e ambientais.
O Instituto Ethos, na referida publicação, afirma que:
“(...) a relação que a empresa estabelece com os
fornecedores pode revelar o grau de seu comprometimento com a
responsabilidade social” (p.208).
Grupo Pão de Açúcar
A ação que merece destaque é a denominada de Investimentos em
Recursos Humanos, voltada para seu público interno. A empresa exerce um
modelo de gestão por competência de modo que “(...) busca-se identificar
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores dos funcionários, visando criar um
ambiente propício ao desenvolvimento profissional. Os dados levantados
proporcionam à empresa melhores condições para tomar decisões justas e
50transparentes nos processos de seleção, promoção, gestão do desempenho e
competências” (Ethos, p.134).
A empresa, seguindo essa orientação de gestão centrada no ser humano,
afirma ter alguns resultados significativos, o que pode ser atestado pela revista
Exame em um estudo sobre as 100 melhores empresas para se trabalhar.
Companhia de Energia Elétrica do Estado da Bahia – COELBA
De acordo com o Balanço Social e Ambiental /2002 da empresa, várias
ações de responsabilidade social são desenvolvidas. O destaque, aqui, fica para o
PVA – Programa de Valorização do Aposentado, que tem como objetivo a
integração do mesmo na sociedade, procurando mantê-lo engajado e produtivo
com a finalidade de preservar sua saúde física e mental. O programa abrange
atividades regulares como oficinas de ioga, hidroginástica, coral, cursos de arte
em tecidos e línguas estrangeiras além de seminários sobre temas que promovam
o auto conhecimento e o bem-estar físico, mental, social e espiritual. Na Feira de
Talentos, evento anual, os aposentados têm a oportunidade de apresentar e
comercializar seus produtos.
Esta é uma experiência significativa voltada para o público interno, e que
reflete um compromisso essencialmente com o ser humano, a maioria das
empresas, seguidoras de uma filosofia instrumental, não se preocupa com o
destino dos seus ex-funcionários, pois sequer os que estão na ativa são
respeitados como seres humanos.
Existem diversas outras empresas com exemplos relevantes como a
Fundação Kellogg’s, Fundação Henry Ford, Centro Cultural do Banco do Brasil,
Espaço Cultural Unibanco, Instituto GM, Instituto Ayrton Senna e muitos outros.
4.3 – Responsabilidade Social Corporativa
O conceito de Responsabilidade Social, segundo Chiavenato (1999, p.121)
segue o seguinte pensamento: é o grau de obrigações que uma organização
51assume através de ações que protejam e melhorem o bem-estar da sociedade à
medida que procura atingir seus próprios interesses. Refere-se ao grau de
eficiência e eficácia que uma organização apresenta no alcance de suas
responsabilidades sociais.
Sendo assim, a Responsabilidade Social Corporativa representa um novo
tipo de relacionamento entre as empresas e a sociedade, não mais um
relacionamento estritamente comercial, mas um novo relacionamento onde são
compartilhados valores e atitudes comuns. Com o crescente nível de
conscientização e informação da sociedade, as empresas são obrigadas a
modificarem o modelo tradicional da gestão empresarial, aquela baseada na
obtenção de lucratividade sem levar em consideração a sociedade ao seu redor.
“A Responsabilidade Social Corporativa, em sentido estrito, deve ser entendida
como a obrigação que tem a organização de responder por ações próprias ou
quem a ela esteja ligada”. Karkotli & Aragão, (2004, p.45).
Uma organização é um agente transformador da sociedade, já que
influencia e sofre influência de pessoas e fatores sociais. Instalando-se,
desenvolvendo e prosperando na sociedade, essa organização passa a ser co-
responsável pelo desenvolvimento e bem-estar dos agentes do seu entorno.
Camargo (2002, p.92) em complementação ensina: Responsabilidade Social
Corporativa se refere às estratégias de sustentabilidade de longo prazo das
empresas que, em sua lógica de desempenho e lucro, passam a contemplar a
preocupação com os efeitos sociais e/ou ambientais de suas atividades, com o
objetivo de contribuir para o bem comum.
Uma organização socialmente responsável é aquela que desempenha
muitos aspectos, entre os quais se destacam:
Incorporar objetivos sociais em seus processos de planejamento, incentivando a
participação de seus gestores, quanto cidadãos na solução de problemas da
comunidade;
52
• Gerar valor para seus agentes internos – proprietários, investidores e
colaboradores – justificando os investimentos financeiros e humanos
utilizados pelo empreendimento;
• Aplicar normas corporativas de outras organizações em seus programas
sociais;
• Gerar valor para a sociedade, nela identificados: governo, consumidores e
o mercado como um todo, disponibilizando bens ou serviços adequados,
seguros e que proporcionem qualidade de vida para as pessoas;
• Experimentar diferentes abordagens para medir o seu desempenho social;
• Procurar medir os custos dos programas sociais e o retorno dos
investimentos em programas sociais;
• Promover comunicação eficaz e transparente com os colaboradores e
agentes externos;
• Atuar de forma ética em todas as cadeias de relacionamento e atitudes com
os membros da sociedade.
A busca da responsabilidade social corporativa tem, à grosso modo, as
seguintes características:
É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus acionistas, muito
pelo contrário, o mercado deve agora prestar contas aos funcionários, à mídia, ao
governo, ao setor não-governamental e ambiental e, por fim, às comunidades com
que opera. Empresas só têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em
seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas representa
uma mudança de comportamento da empresa, mas também significa maior
legitimidade social.
É distributiva. A responsabilidade social nos negócios é um conceito que se
aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado
por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum e,
portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo.
53Assim como consumidores, as empresas também são responsáveis por seus
fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços
usados ao longo de seus processos produtivos.
É sustentável. Responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de
desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em relação ao ambiente e
à sociedade, não só garante a não escassez de recursos, mas também amplia o
conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não se refere
somente ao ambiente, mas através do fortalecimento de parcerias duráveis,
promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento
orientado. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a
prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais.
É transparente. A globalização traz consigo demandas por transparência. Não
bastam só os livros contábeis, as empresas são gradualmente obrigadas a
divulgar seu desempenho social e ambiental, os impactos de suas atividades e as
medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido,
empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais, onde seu desempenho é
aferido nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem
em caráter voluntário, mas muitos prevêem que relatórios sócio-ambientais serão
compulsórios num futuro próximo.
Ao incorporar todos esses aspectos em suas estratégias e diretrizes, as
organizações passam a ser entendidas como verdadeiras entidades sociais e
responsáveis, uma vez que, além de preocupar-se com seus interesses, também
dão importância para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária,
promovendo o bem-estar e o crescimento de todos. É com base neste princípio
que Karkotli & Aragão (2004, p.47) afirmam: “Para uma organização que cumpre
todos os parâmetros mencionados, demonstra que atingiu um grau de
amadurecimento, da verdadeira cidadania empresarial, no qual direitos e
54obrigações encontram-se implícito no ordenamento do próprio mercado e da
sociedade”.
Como exemplo de responsabilidade social corporativa, vale destacar a
Microsoft do Brasil, líder global no fornecimento de softwares, serviços e soluções
em Tecnologia de Informação, atuando para a realização do potencial de pessoas
e empresas, procurando atingir sua missão por meio do estímulo à criação de
oportunidades, do incentivo ao crescimento econômico e do apoio às
comunidades com tecnologias inovadoras.
Com esse objetivo criou o Programa Potencial Ilimitado, cujo foco é
promover e apoiar ações que busquem transformar a educação e incentivar a
inovação local e gerar oportunidades de emprego. Esse programa consolida o
compromisso da empresa de proporcionar benefícios relevantes para quem não
tem acesso à tecnologia por meio de parcerias com governos, indústrias,
organizações não-governamentais, universidades e escolas.
Segundo Levy, Presidente da Microsoft Brasil
“(...) nesses 20 anos de Brasil, a Microsoft foi consolidando uma série
de programas de responsabilidade social corporativa. É nosso dever
contribuir com a sociedade criando softwares e serviços cada vez
melhores, que ajudem empresas e cidadãos a realizarem
plenamente seu potencial. Para isso apoiamos o fortalecimento do
eco-sistema de parceiros e profissionais, adotamos práticas
comerciais justas e transparentes e nos dedicamos ao
desenvolvimento de produtos cada vez mais inovadores e seguros”
(Relatório 2008 – Responsabilidade social corporativa)
Os parceiros locais são peças chave para aumentar a abrangência dos
projetos apoiados pelas organizações, isso porque eles conhecem melhor que
ninguém as necessidades de suas comunidades e grupos de atuação.
Todas as organizações funcionam dentro de um complexo conjunto de
interesses com elementos do seu ambiente específico e geral. Na realidade,
55Chiavenato (1999, p.124) é condizente em afirmar que “(...) cada organização
forma uma intensa rede de relacionamento com outras organizações e instituições
para poder funcionar satisfatoriamente”. Neste contexto, responsabilidade social
corporativa é a obrigação de atender aos interesses mútuos dos diferentes
públicos envolvidos, Esse público/parceiro é todo aquele que é afetado de alguma
forma pela ação de uma organização em seu cotidiano.
Chiavenato (1999, p.122) afirma que, as organizações apresentam quatro
alternativas de estratégias em termos de comportamento com a Responsabilidade
Social, indo desde uma estratégia obstrutiva até uma estratégia pro ativa.
Estratégia pro ativa - é aquela que preenche todos os critérios de desempenho
social, incluindo desempenho discricionário, tendo liderança na iniciativa social e
assumindo, voluntariamente, responsabilidades econômicas e legais. O
comportamento organizacional neste nível previne impactos sociais adversos às
atividades econômicas das empresas e, algumas vezes, se antecipa na
identificação e resposta aos aspectos sociais emergentes.
Estratégia acomodativa - é aquela que aceita a responsabilidade social e tenta
satisfazer critérios legais e econômicos - ética prevalecente - fazendo o mínimo
eticamente
Estratégia defensiva - é aquela que procura proteger organização, fazendo o
mínimo legalmente requerido para satisfazer as expectativas sociais; e também
assume responsabilidades econômicas e legais.
Estratégia obstrucionista - é aquela que evita a responsabilidade social e reflete,
principalmente, prioridades econômicas da organização, combatendo/rejeitando as
demandas sociais.
Ao pôr em prática os programas e iniciativas de Responsabilidade Social
nas organizações, os gestores devem incluir ao planejamento dos programas um
diagnóstico inicial da situação em que se encontra a empresa, e um planejamento
56estratégico para que ações possam surtir efeito, quando colocadas em prática,
Karkotli & Aragão (2004, p.63) complementam:
“(...) é conveniente registrar que a elaboração e implementação de
programas de introdução das práticas de responsabilidade social
empresarial devam ser conduzidas por profissionais especializados e
habilitados, evitando assim, que estas iniciativas resultem tópicas,
descontínuos ou que se situem no campo da simples filantropia).
4.4 - Balanço Social.
Até meados dos anos 30, a idéia de responsabilidade social e acesso a
informação de cunho empresarial eram, virtualmente, desconhecidos por grandes
corporações. A percepção comum era que a desempenho da empresa deveria ser
de acesso restrito para se proteger os dividendos dos sócios. Grandes fortunas do
capitalismo moderno, como J.P. Morgan, John Rockfeller ou Cornelius Vanderbilt,
eram sigilosos quanto a suas empresas e comportamento, os quais só eram
divulgados na existência de instrumentos compulsórios de prestação de contas.
Tal situação permaneceria virtualmente inalterada até a segunda metade da
década de 60, quando preocupações ambientais começam a ser levantadas
internacionalmente.
Com crescente demanda por “accountability” empresarial vinda de países
europeus, países como a França, através da criação do “Bilan Social” em 1972, e
Reino Unido, com o pacote instrumental do “Corporate Report” em 1975, seriam
pioneiros na “contabilidade social” de empresas. Tal prática, aos poucos, seria
adotada mundialmente em paralelo ao crescimento do poder de aferição e
cobrança típicas imprensa investigativa moderna.
No Brasil, o processo foi mais lento que na Europa e Estados Unidos. No
entanto, com o fim do regime militar e da repressão política, por aqui se verifica
uma explosão de organizações civis. O exercício da cidadania, até então
reprimido, ganha novo impulso através da sociedade civil organizada, a qual
57naquele momento passa a atuar ativamente na promoção de políticas de cunho
social. O movimento de apoio à responsabilidade social, ganha impulso a partir
dos anos 90 e é conseqüência do surgimento de um sem-número de organizações
não governamentais, crescimento desigual dos anos do “milagre econômico”.
Diante da deficiência do Estado em suprir nossas severas demandas sociais,
empresas atuam cada vez mais de forma pro ativa e incorporam um discurso
social mais justo.
São pelas razões acima que, em face de uma crescente cobrança por
transparência, não basta hoje atuar de forma responsável, mas é preciso mostrar
resultados. Por isso, empresas demonstram seu desempenho social em relatórios
corporativos das mais diversas formas e modelos.
Quanto ao formato do que se convencionou chamar “Balanço Social”, este
pode ser o mais variado. Balanços Sociais modernos podem contar com edições
luxuosas, de impressionante impacto visual, a dados quantitativos simples que
sucintamente retratam a desempenho sócio-ambiental da empresa. De modo
geral, a lógica atrás dos relatórios sócio-ambientais é simples. Empresas devem
prestar contas não só aos seus acionistas, mas agora o espectro de
“stakeholders” é muito mais amplo e consumidores, empregados, e até outros
atores sociais, como sindicatos e ONGs, estão dentro da esfera de interesse do
mundo empresarial.
O certo é que a divulgação do desempenho social de uma empresa
interessa grupos empresariais pelas mais diversas razões. A primeira se refere à
ética e ao princípio pelo qual empresas, na qualidade de atores sociais, têm ativa
participação no crescimento de uma nação e, portanto, devem prestar contas à
sociedade. No entanto, razões de cunho prático se somam a estas e, felizmente, a
divulgação dos “Balanços Sociais” tem se tornado uma prática cada vez mais
comum.
Embora muitos, de forma cética, vejam o “Balanço Social” como simples
peça de marketing, este é, antes de tudo, prova de maturidade empresarial. Um
bom relatório sócio-ambiental, ou Balanço Social deve ser claro, ter profundo
58compromisso com a verdade, e ser amplamente disponibilizado ao público por
todos os meios possíveis, incluindo-se aí a Internet. As informações contidas nele
não devem ser apenas um “check-list” de requisitos sócio-ambientais, mas deve
descrever, de forma precisa, o retrato da atividade social da empresa em
determinado período de tempo.
Não é raro empresas mascararem ou omitirem falhas de conduta em seus
relatórios. A transparência, contudo, é importante vantagem comparativa para
empresas, é a prova de que a empresa está aberta a apontar suas deficiências e
assim aprimorar seu desempenho.
Ainda que o modelo brasileiro contenha avanços notáveis – como a
referência à questão racial no Balanço Social – o caráter da informação é ainda
excessivamente quantitativo, o que, se por um lado permite a comparação
temporal do desempenho da empresa e o detalhamento de despesas sociais, por
outro, peca pela falta de descrição narrativa de como estas verbas sociais foram
efetuadas e quais os resultados alcançados. O Balanço Social nos moldes
brasileiros é ainda a melhor forma de relatar a desempenho social de empresas,
na falta de substituto melhor.
Vale lembrar, todavia, que a responsabilidade social, assim como o Balanço
Social, é fenômeno recente e ainda há muito a ser desenvolvido. Empresas ainda
estão no aprendizado de sua cidadania e o Balanço Social surge como importante
marco referencial para aqueles que, voluntariamente, buscam um melhor exercício
de sua responsabilidade para com a sociedade.
Mesmo que se discorde com alguns pontos do Balanço Social em ampla
circulação hoje no país, a iniciativa é louvável e deve ser estimulada por
representar um importante avanço conceitual. Neste ponto, vale a pena ressaltar
alguns exemplos de relatórios sócio-ambientais:
GRI - Global Reporting Initiative: é atualmente um dos modelos de prestação de
contas em ações sócio-ambientais mais completo que existe. É amplamente
utilizado por empresas multinacionais e tem o apoio das Nações Unidas.
59Recentemente, o GRI completou sua comissão permanente para constantemente
atualizar suas recomendações.
IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas: através da figura do
saudoso Herbert de Souza, o Betinho, foi o pioneiro na discussão de relatórios
corporativos com enfoque social no Brasil. O modelo proposto pelo IBASE
começou a ser discutido em meados de 1997 e é um demonstrativo anual
publicado pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre projetos,
benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de
mercado, acionistas e à comunidade. O modelo proposto pelo IBASE é hoje único
no Brasil e ainda é bem atraente. A principal característica do modelo é sua
simplicidade e caráter voluntário.
No intuito de estimular a responsabilidade social empresarial, alguns
instrumentos de certificação foram criados nos últimos anos, o apelo relacionado a
esses selos ou certificados é de fácil compreensão: num mundo cada vez mais
competitivo, empresas vêem vantagens comparativas em adquirir certificações
que atestem sua boa prática empresarial. Entre algumas das certificações mais
cobiçadas atualmente encontram-se os seguintes:
Selo Empresa Amiga da Criança: Selo criado pela Fundação ABRINQ para
empresas que não utilizem mão-de-obra infantil e contribuam para a melhoria das
condições de vida de crianças e adolescentes.
ISO 14000: é apenas mais uma das certificações criadas pela International
Organization for Standardization (ISO). O ISO 14000, parente do ISO 9000, dá
destaque às ações ambientais da empresa merecedora da certificação.
AA1000: foi criada em 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accountability. Esta
certificação de cunho social enfoca principalmente a relação da empresa com
seus diversos parceiros, ou “stakeholders”. Uma de suas principais características
é o caráter evolutivo já que é uma avaliação regular (anual).
SA800 - “Social Accountability 8000” é uma das normas internacionais mais
conhecidas. Criada em 1997 pelo Council on Economic Priorities Accreditation
60Agency (CEPAA), o SA8000 enfoca, primordialmente, relações trabalhistas e visa
assegurar que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como
trabalho infantil, trabalho escravo ou discriminação.
A pressão por produtos e serviços socialmente corretos faz com que
empresas adotem processos de reformulação interna para se adequarem às
normas impostas pelas entidades certificadoras.
4.5 – O Governo e a Responsabilidade Social
O Estado sempre teve em seu poder o “controle” da nação, inclusive o
social e, por decorrência, o assistencialismo social era associado a programas
governamentais. Isso era tão mais verdade quanto mais ativo/ator/agente fosse o
papel do Estado, fosse em governos de esquerda, fosse em governos de direita.
No período que engloba do Império até a 1ª República, as ações sociais
realizadas possuíam um caráter unicamente religioso por influência da
colonização portuguesa e o domínio da Igreja Católica. Da Revolução da década
de 30 até a década de 60, com o Estado mais poderoso e detentor do interesse
público, foi criada a primeira lei brasileira que regulamentava as regras para
declaração de utilidade pública, além do Conselho Nacional do Serviço Social. Ao
mesmo tempo, novas ações filantrópicas de famílias privilegiadas foram ganhando
espaço no cenário social brasileiro. Entre as décadas de 60 e 70, com a ditadura
militar limitando a participação popular na esfera pública, micro-iniciativas, muitas
de cunho político, representadas por movimentos e ONGs, foram nascendo com o
objetivo de combater, dentre outros, a ditadura, a pobreza e o capitalismo.
Historicamente, o governo vem aumentando sua participação na formação
das organizações na sociedade contemporânea; entretanto, o relacionamento
entre organizações e governo é de via dupla, ou seja, do mesmo jeito que o
governo interfere diretamente no comando das empresas, as organizações
também influenciam o governo, Sua influência direta é freqüentemente
demonstrada através de leis e regras que ditam que atividades podem ou não ser
61realizadas. Já indiretamente, o governo pode influenciar de diversas formas, mais
nitidamente nas políticas de tributação.
Sobre esta abordagem Gremaud (2004, p.191) conclui que o governo atua,
também, de forma estabilizadora: “(...) onde utiliza o manejo da política econômica
para tentar garantir o mínimo de emprego, crescimento econômico, com
estabilidade de preços”. Por sua vez, as regulamentações indiretas são influências
que o governo exerce sobre a Responsabilidade Social da organização, por meio
de códigos de tributos ou taxas de incentivos, que são variáveis em função da
atuação social da organização.
Sobre essas taxas de incentivos, Silva (2002, p.74), diz que “(...) são
reduções de impostos, tributos e etc., que o governo concede a organização, por
determinadas situações”. Ou seja, o governo concede descontos em alguns
tributos e até mesmo a sua isenção, com a intenção de atrair empresas para seu
território. Com isso, garantem o crescimento econômico e emprego para a
população. A ação planejada e transparente, pressuposto da responsabilidade
estatal diante da formulação de uma política pública, tem por finalidade dar maior
credibilidade e inteligibilidade ao posicionamento adotado pelo governo dirigente.
Dentro desse cenário, a responsabilidade social e responsabilidade fiscal passam
a ser premissas fundamentais para o que se convencionou a chamar de ação
governamental. Nesse sentido, se um projeto de assistência social é criado pelo
governo para atender uma região onde essa assistência não era prestada à
população, tem-se inquestionavelmente uma ação governamental cuja
fundamentação está pautada na responsabilidade social em gerir uma política de
inserção social e na responsabilidade fiscal para manter o equilíbrio das contas
públicas.
Para fundamentar qualquer teoria socioeconômica aplicada, é necessário
analisar a importância do princípio do bem comum e do interesse público, o que
incide na eterna discussão entre indivíduo e coletividade, entre utilitarismo e
valores. Nesse sentido, toda a atividade estatal deve ser orientada para esse
objetivo, que não é um objetivo meramente formal ou demasiadamente genérico,
62sem conteúdo determinado, mas um objetivo claro, decorrente da natureza prática
das coisas em relação ao convívio social.
Por tal razão, quando se analisa uma política pública extra fiscal, observa-
se que a responsabilidade social deve sempre andar de mãos dadas com a
responsabilidade fiscal, pois a violação desta implica na violação da
responsabilidade social na aplicação de recursos em outros programas. Portanto,
a responsabilidade social e a responsabilidade fiscal, devem ser sempre
convergentes ao bem comum. Trata-se da arte de mover as vontades, a destreza
da resolução, pois o bem próprio não está alheio ao bem dos demais.
É de conhecimento geral que a atribuição de promover o bem comum cabe
ao Estado, por meio de uma atuação voltada às aspirações sociais, dentre elas o
dever de dirimir eventuais conflitos emanados pela própria autoridade
governamental em face dos interesses públicos, a exemplo do conflito:
responsabilidade social versus responsabilidade fiscal. Esses interesses públicos
foram diversificados e ampliados em virtude do bem comum da sociedade, como
na noção de interesse público, privado, coletivo, individual, homogêneo e difuso.
63
CAPÍTULO V
CÓDIGO DE ÉTICA
5.1 – Conceito
O Código de ética é um instrumento que busca a realização dos princípios,
visão e missão da empresa. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e
expressar formalmente, a postura social da empresa em face dos diferentes
públicos com os quais interage. É da máxima importância que seu conteúdo seja
refletido nas atitudes das pessoas a quem se dirige e encontre apoio na alta
administração da empresa, que, tanto quanto o último empregado contratado tem
a responsabilidade de vivenciá-lo.
Para definir sua ética, sua forma de atuar no mercado, cada empresa
precisa saber o que deseja fazer e o que espera de cada um dos funcionários. As
empresas, assim como as pessoas têm características próprias e singulares. Por
essa razão os códigos de ética devem ser gerados por cada empresa que deseja
dispor desse instrumento. Códigos de ética de outras empresas podem servir de
referência, mas não servem para expressar a vontade e a cultura da empresa que
pretende implantá-lo. O próprio processo de implantação do código de ética cria
um mecanismo de sensibilização de todos os interessados, pela reflexão e troca
de idéias que supõe.
De acordo com Arruda et al. (2001), em um contexto organizacional estão
diretamente envolvidos diversos atores, denominados stakeholders: acionistas ou
proprietários, empregados, clientes, fornecedores, governantes e membros da
comunidade em que a empresa está inserida. Os empregados da organização,
devido à sua formação familiar, religiosa, educacional e social, atuam conforme
determinados princípios, sendo que no dia-a-dia os valores individuais podem
conflitar com os valores da organização, que caracterizam a cultura empresarial.
64Para evitar a ocorrência de fatos como este e estabelecer uma homogeneidade de
comportamento é de fundamental importância que a organização estabeleça um
sistema de valores, padrões e políticas uniformes que possibilitem aos
empregados saber qual a conduta adequada e apropriada em qualquer
circunstância. O código de ética, que pode ser definido como a declaração formal
das expectativas da empresa à conduta de seus executivos e demais funcionários,
ele deve traduzir a filosofia e os princípios básicos definidos pelos acionistas,
proprietários e diretores. Desta forma, o código de ética vai regular as relações
dos empregados entre si e com os chamados stakeholders.
5.2 – Conteúdo
O conteúdo do código de ética é formado de um conjunto de políticas e
práticas específicas, abrangendo os campos mais vulneráveis. Este material é
reunido em um relatório de fácil compreensão para que possa circular
adequadamente entre todos os interessados. Uma vez aprimorado com sugestões
e críticas de todos os envolvidos o relatório dará origem a um documento que
servirá de parâmetro para determinados comportamentos, tornando claras as
responsabilidades. Efetuadas as correções, determinadas afirmações serão
aproveitadas para a criação de um código de ética, enquanto outras podem servir
para um Manual de ética.
Entre os inúmeros tópicos abordados no código de ética, predominam
alguns como respeito às leis do país, conflitos de interesse, proteção do
patrimônio da instituição, transparência nas comunicações internas e com os
stakeholders da organização, denúncia, prática de suborno e corrupção em geral.
As relações com os funcionários, desde o processo de contratação,
desenvolvimento profissional, lealdade entre os funcionários, respeito entre chefes
e subordinados, saúde e segurança, comportamento da empresa nas demissões,
entretenimento e viagem, propriedade da informação, assédio profissional e
65sexual, alcoolismo, uso de drogas, entre outros, são aspectos que costumam ser
abordados em todos os códigos.
Segundo Arruda (2002), a elaboração de um código de ética se dá a partir da
definição da base de princípios e valores esperados dos funcionários de
determinada organização. Para se chegar a isto, o ideal é que se proceda a um
relatório que irá agregar as práticas e políticas específicas da organização, o qual
deverá ser discutido e criticado por todos os funcionários em todos os níveis. Este
relatório, aprimorado pelas críticas e sugestões, irá servir de base para a definição
de padrões de comportamento e responsabilidades que nortearão a elaboração
dos artigos do código de ética.
A autora destaca a importância de um código de ética bem elaborado para
a organização. Segundo ela:
“(...) os códigos tornam claro o que a organização entende por
conduta ética. Procuram especificar o comportamento esperado dos
empregados e ajudam a definir marcos básicos de atuação”.
(ARRUDA, 2002, p.5).
A partir de um estudo realizado por Rob Van Tulder e Ans Kolk, professores
universitários na Holanda, que analisaram códigos de 17 organizações brasileiras,
Arruda (2002), apresenta os tópicos que mais predominaram nestes códigos, que
podem ser considerados como elementos necessários a qualquer código de ética:
o comportamento correto com as pessoas, a manutenção dos valores éticos
fundamentais e o esforço por abolir práticas como o suborno e as facilidades de
pagamentos.
Quase com o mesmo nível de consciência, os códigos parecem indicar a
obediência às leis, especialmente no tocante à sociedade e às relações de
trabalho. A seguir fica claro, também ,o respeito aos interesses do consumidor,
voltado para a atenção à necessidade de consumo, a revelação de informação e a
prática respeitosa de marketing. Na mesma linha, boa parte das organizações
registra os interesses comunitários como de suma importância, a ponto de
consolidá-los no seu Código de Ética. (ARRUDA, 2002, p.24-26)
66Dentre os problemas éticos de maior conhecimento público estão àqueles
referentes às relações com os consumidores, e sujeitos aos enquadramentos da
lei de defesa do consumidor, incluindo-se práticas de marketing, propaganda e
comunicação, qualidade do atendimento e reparações no caso de serem
causados danos.
Quanto à cadeia produtiva, envolvendo fornecedores e empresas
terceirizadas, o código de ética pode estabelecer condutas de responsabilidade
social, respeito à legislação, eventual conduta restritiva, bem como estimular a
melhoria dos parceiros visando um crescimento profissional e mercadológico
conjunto.
O código de ética pode também fazer referência à participação da empresa
na comunidade, dando diretrizes sobre as relações com os sindicatos, outros
órgãos da esfera pública, relações com o governo, entre outros.
Relações com acionistas, estabelecimento de políticas de convivência com
os concorrentes, também são pontos que devem constar do código de ética.
Portanto, pode-se verificar que a preocupação com os aspectos éticos
fundamentais é importante nas organizações integrantes do universo por eles
pesquisado, assim como o compromisso com o cumprimento das leis e a
necessidade de um bom relacionamento com os consumidores, fornecedores e
até com os concorrentes. Além disso, fica registrado que as organizações têm
buscado participar mais ativamente na discussão e resolução dos problemas da
comunidade em que está inserida, o que representa um avanço de relevada
importância.
5.3 - Importância na Organização
A adoção de um código de ética é uma ótima oportunidade de aumentar a
integração entre os funcionários da empresa e estimular o comprometimento
deles. O código de ética permite a uniformização de critérios na empresa, dando
respaldo para aqueles que devem tomar decisões. Serve de parâmetro para a
67solução dos conflitos. Protege, de um lado, o trabalhador que se apóia na cultura
da empresa refletida nas disposições do código, de outro, serve de respaldo para
a empresa, por ocasião da solução de problemas de desvio de conduta de algum
colaborador, acionista, fornecedor, ou outros. O código de ética costuma trazer
para a empresa harmonia, ordem, transparência, tranqüilidade, em razão dos
referenciais que cria, deixando um lastro decorrente do cumprimento de sua
missão e de seus compromissos.
É absolutamente imprescindível que haja consistência e coerência entre o
que está disposto no código de ética e o que se vive na organização, caso
contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa
pretende transmitir ao seu público. Essa é a grande desvantagem do código de
ética.
Devido à inter-relação que há entre o indivíduo e a organização, na
qual um influencia diretamente no outro, é necessário o estabelecimento de
regras claras e possíveis que delimitem o comportamento e as atitudes dos
indivíduos dentro da organização. É imprescindível, também, que seja do
conhecimento de todos. As consequências para aqueles que descumprirem
estas regras, o que se denomina “política de conseqüências”. Sobre isto
discorrem Arruda e Navran (2000, p.29): “A empresa que almeje ser ética
deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve criar
procedimentos de verificação para assegurar que todos na organização as
estão cumprindo”. Daí a necessidade de elaboração de códigos de ética
que sejam instrumentos efetivos de determinação de padrões de conduta
que agreguem valor à organização, mas que, para se tornarem eficazes,
devem vir acompanhados de uma política de conseqüências clara e
amplamente aplicável.
Para Arruda et al. (2001, p.67) “(...) uma vez que a organização adota um código
de ética, é importante estabelecer um comitê de alta qualidade, geralmente
formado por um número ímpar de integrantes provenientes de diversos
departamentos, todos reconhecidos como pessoas íntegras, por seus colegas”. A
68finalidade deste comitê será, além de investigar e solucionar casos que surjam no
âmbito da organização que digam respeito a questões éticas, promover uma
revisão constante do código de ética, adaptando-o às mudanças e às
necessidades dos stakeholders.
Arruda et al. (2001) discorre também que algumas organizações chegam a
nomear um profissional de ética, vinculado à Diretoria e com total autonomia para
coordenar os programas de ética. Suas principais atribuições são manter
atualizado o código de ética e promover treinamento com os empregados, visando
à disseminação da cultura ética na organização. Finalmente, com vistas a
possibilitar que esta cultura ética se torne parte da cultura da organização, é
necessária a implementação de um sistema de monitoramento. Sobre isto, a
autora expõe:
“Para que se mantenha o alto nível do clima ético, resultante
do esforço de cada stakeholders, pode ser útil programar um sistema
de monitoramento e controle dos ambientes interno e externo da
organização, para detectar pontos que podem vir a causar uma
conduta antiética. Esse sistema, denominado por alguns de auditoria
ética, e por outros compliance, visa ao cumprimento das normas
éticas do código de conduta, certificando que houve aplicação das
políticas específicas, sua compreensão e clareza por parte de todos
os funcionários”.(ARRUDA, 2001, p.68)
Mas a eficácia desse processo depende da consideração de alguns passos
fundamentais. Segundo Moreira (2002) “(...) o primeiro passo para estabelecer um
programa de Ética numa empresa é a criação de um código com a participação de
todos os níveis da organização. A segunda etapa é a de treinamento para a
aceitação dos valores do código e, neste caso, para que funcione efetivamente
deve ser transmitido pelo chefe direto do funcionário. O compromisso com o
código de ética como um todo, deve valer também para os chefes, gerentes e/ou
diretores, que serão avaliados como qualquer funcionário”.
69Uma boa conduta para garantir o funcionamento do programa de ética é a
criação de um canal de comunicação interno na empresa, inclusive com a
instalação do cargo de “ombudsman interno” divulgando seu funcionamento e sua
atuação.
Organizações têm optado por definir com clareza, no código, ações
disciplinares em casos de violação dos artigos.
Muitas vezes o descumprimento das determinações contidas no código de
ética pode ser passível de punições já previstas nas legislações trabalhistas, de
responsabilidade civil, penal, e outras. Entre os inúmeros tópicos abordados no
código de ética, predominam alguns como respeito às leis do país, conflitos de
interesse, proteção do patrimônio da instituição, transparência nas comunicações
internas e com os stakeholders da organização, denúncia, prática de suborno e
corrupção em geral.
As relações com os funcionários, desde o processo de contratação,
desenvolvimento profissional, lealdade entre os funcionários, respeito entre chefes
e subordinados, saúde e segurança, comportamento da empresa nas demissões,
entretenimento e viagem, propriedade da informação, assédio profissional e
sexual, alcoolismo, uso de drogas, entre outros, são aspectos que costumam ser
abordados em todos os códigos. Dentre os problemas éticos de maior
conhecimento público estão àqueles referentes às relações com os consumidores,
e sujeitos aos enquadramentos da lei de defesa do consumidor, incluindo-se
práticas de marketing, propaganda e comunicação, qualidade do atendimento e
reparações no caso de serem causados danos. Quanto à cadeia produtiva,
envolvendo fornecedores e empresas terceirizadas, o código de ética pode
estabelecer condutas de responsabilidade social, respeito à legislação, eventual
conduta restritiva, bem como estimular a melhoria dos parceiros visando um
crescimento profissional e mercadológico conjunto.
O código de ética pode também fazer referência à participação da empresa
na comunidade, dando diretrizes sobre as relações com os sindicatos, outros
órgãos da esfera pública, relações com o governo, entre outras.
70Um aspecto extremamente atual é o da privacidade de informações, que
atinge particularmente funcionários, fornecedores e consumidores. É importante
levar em conta a sofisticada tecnologia disponível das gravações, filmagens e
outros recursos de telefonia, informática e comunicação. Relações com acionistas,
estabelecimento de políticas de convivência com os concorrentes, também são
pontos que devem constar do código de ética.
O código de ética de uma instituição seja ela governo, empresa, ou
Organização Não Governamental, teoricamente só pode ser vantajoso para os
seus vários públicos com os quais se relaciona, na medida em que fortalece a
imagem da organização.
Enquanto muitos executivos apenas o vêem como um modismo capaz de
capitalizar benefícios ou dividendos, outros têm se desdobrado para criar um
instrumento único, com adesão voluntária de todos os integrantes da organização,
incorporando de maneira natural e profissional os princípios éticos da instituição.
O código de ética costuma trazer para a empresa harmonia, ordem
transparência, tranqüilidade, em razão dos referenciais que cria, deixando um
lastro decorrente do cumprimento de sua missão e de seus compromissos.
Há, ainda, aqueles que, considerando que a consciência ética dos
integrantes de uma organização, desde os mais altos executivos até o mais
simples funcionário, é um patrimônio do indivíduo, defendem a não necessidade
de se implantar códigos de ética, já que a atuação de cada um proporcionará, por
via de conseqüência, um ambiente ético. Com efeito, a conduta ética das
empresas é o reflexo da conduta de seus profissionais. Tal conduta não se limita
ao mero cumprimento da legislação, sendo o resultado da soma dos princípios
morais de cada um de seus integrantes. Assim como a educação, a ética vem do
berço.
A conduta ética, portanto, que se espera das empresas vai muito além do
simples cumprimento da lei, mesmo porque, pode haver leis que sejam antiéticas
ou imorais. Importa que os homens de negócios sejam bem formados, que os
71profissionais sejam treinados, pois o fundamental da questão está na formação
pessoal. Caso contrário, a implantação do código de ética será inócua.
72
CONCLUSÃO
Pode ser que as pessoas estejam começando a perceber que não é
possível construir patrimônios estando apoiadas em ações administrativas que
prescindam da ética. É como se a antiga ilusão de ganhar dinheiro a qualquer
custo tivesse se transformado em desespero em face das vigorosas exigências
éticas. Ao deixar de ser uma ameaça, a ética conquista seu próprio espaço e se
transforma em possibilidade concreta de sucesso.
O presente texto traz uma modesta reflexão sobre a importância da ética no
mundo dos negócios, tendo como base a necessidade do executivo de integrar a
ética da responsabilidade com a ética da convicção.
A pressão internacional pela observância da ética no mundo dos negócios é
crescente. A sobrevivência em uma economia globalizada baseia-se,
fundamentalmente, na possibilidade de cada empresa estabelecer alianças e
parcerias duradouras com clientes, fornecedores, empregados e outros. Mas em
uma sociedade globalizada, cada vez mais consciente dos seus direitos, só o
respeito aos princípios éticos pode garantir a longevidade das organizações
empresariais.
A Ética é cada vez mais um tema presente e recorrente no contexto das
organizações, seja por necessidade identificada pelo próprio gestor, de
implementar padrões de comportamento e costumes que agreguem valor a sua
empresa, seja por imposição do mercado que abriga um consumidor cada vez
mais exigente e consciente dos seus direitos. A partir do momento que há o
despertar para relevância do assunto, ele passa a estar cada vez mais presente
nas atitudes das pessoas que compõem a organização e nas decisões que
venham a ser tomadas.
A importância da ética nas organizações é crescente pela facilidade e forma
de incentivo que as pessoas têm em praticar deslizes de ordem moral. As
empresas precisam investir em programas de incentivo ao comportamento ético,
73assim como em treinamentos pontuais, pois não se pode treinar o indivíduo a ser
ético. É preciso destacar que ética não se aprende ouvindo ou lendo belos
discursos. Ética é, fundamentalmente, emoção, vivência, experiência singular. A
ética só se torna eficaz à medida que os tomadores de decisões adquirem a
capacidade de se indignar diante de ações ou fatos que antes não lhes afetavam.
Não podemos desconsiderar o fato de que ética implica investimento de médio e
longo prazo.
As empresas podem se constituir nos maiores vetores da moralização,
contribuindo decisivamente para a criação de um ambiente de negócios livre de
práticas irregulares que o transformam e o deturpam. A criação deste novo
ambiente só será possível com a propagação de regras éticas. Só a prática da
ética empresarial pode levar a obtenção de maior credibilidade dos parceiros e da
sociedade em geral e, com isso, gerar lucros cada vez maiores e mais seguros.
A prática da ética não é obtida pela simples vontade e determinação dos
controladores e administradores das empresas, ela só poder ser alcançada
através da implementação de um programa que englobe desde a eleição dos
princípios e adoção de um código de ética interno, até a luta contra os
concorrentes antiéticos.
Uma das palavras chave da reflexão ética é: responsabilidade, ou seja, o
dever de responder pelas conseqüências dos seus atos, em todas as decisões
tomadas. Está em jogo uma escolha fundamental em relação à identidade humana
de cada um, desta forma, a ética deve estar de acordo com os limites que a
pessoa se impõe na busca de sua ambição. Este aspecto se torna um problema
no mundo empresarial quando o gestor decide sua ambição antes de sua ética,
quando o certo seria o contrário.
As análises expostas ajudam a concluir parcialmente que ao relacionar o
conceito de ética à possibilidade de reduzir dimensões abusivas das ações dos
homens sobre sociedade pode ser fértil para novos estudos preocupados em
demonstrar que não existe incompatibilidade entre ética e êxito empresarial.
74Para praticar a ética dentro da organização, torna-se necessário questionar
mais as teorias administrativas, para assim aprimorar o próprio senso de
observação revalidando, de tempo em tempos, as premissas na busca de ações
fundamentadas na ética e cidadania para o sucesso das empresas.
Valores como virtude, caráter, amizade, compaixão, respeito, dignidade,
fraternidade devem ser retomados. A busca constante do bem supremo, a procura
do mundo ideal de perfeição e virtude e, principalmente o amor ao próximo se
entendidos e praticados em toda a sua essência, podem adquirir uma dimensão
transformadora e revolucionária, capaz de abalar as estruturas de qualquer
sistema.
Como todo objeto de pesquisa, este não se encerra aqui, muito ainda terá
que ser estudado, afinal, o pensador deve aprender a conviver com a busca
constante da verdade, sabendo de antemão, que jamais irá encontrá-la.
75
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78
WEBGRAFIA
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www.ethos.org.br
79
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
CONCEITOS 10
1.1 – Definição de Moral e Ética 10
CAPÍTULO II
PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICA 13
2.1 – Idade Antiga 14
2.2 – Idade Média 18
2.3 – Idade Moderna 20
2.4 – Idade Contemporânea 21
CAPÍTULO III
ÉTICA EMPRESARIAL 25
3.1 – Evolução do Conceito de Ética Empresarial 25
3.2 – História da Ética Empresarial 29
3.3 – Ética Micro, Macro e Molar 31
3.4 – Reflexões sobre Ética nas Organizações 32
3.5 – Ética – Instrumento para Tomada de Decisão 36
80CAPÍTULO IV
RESPONSABILIDADE SOCIAL 42
4.1 – Evolução Histórica 42
4.2 – Responsabilidade Social no Brasil 46
4.2.1 – Algumas Experiências Significativas 46
4.3 – Responsabilidade Social Corporativa 50
4.4 – Balanço Social 56
4.5 – O Governo e a Responsabilidade Social 60
CAPÍTULO V
CÓDIGO DE ÉTICA 63
5.1 – Conceito 63
5.2 – Conteúdo 64
5.3 – Importância nas Organizações 66
CONCLUSÃO 72
BIBLIOGRAFIA 75
WEBGRAFIA 78
ÍNDICE 79
FOLHA DE AVALIAÇÃO 81
81
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre
Título da Monografia: Ética Empresarial
Autor: Elizabeth Aôr
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: