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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ÉTICA EMPRESARIAL Por: ELIZABETH AÔR Orientador Prof. Carlos Cereja Rio de Janeiro/RJ 2010

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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ÉTICA EMPRESARIAL

Por: ELIZABETH AÔR

Orientador

Prof. Carlos Cereja

Rio de Janeiro/RJ

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ÉTICA EMPRESARIAL

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em

Gestão Empresarial

Por: Elizabeth Aôr

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AGRADECIMENTOS

... Aos meus Mestres e aos amigos que fiz

durante o curso pelo respeito e carinho

que a mim dedicaram

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DEDICATÓRIA

...Dedico este trabalho aos meus filhos

Bruno, Juanna e Breno que, apesar de tudo,

não desistiram de mim.

... Aos meus pais, Thyde e Arlete que

sempre pautaram suas vidas pela ética e

pelo respeito ao próximo.

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RESUMO

Nossa sociedade vive, atualmente, uma redescoberta da ética. Essa

situação não se dá por acaso é só observarmos que ela surge no momento em

que a sociedade passa por uma grave crise de valores, identificada como falta de

decoro, desrespeito pelos outros e pelos limites, o que, para os estudiosos é

identificado pela dificuldade dos indivíduos de se pautarem por normas morais,

respeito às leis e às regras sociais.Ética nos negócios e nas empresas, balanço

social, grau de reputação, relatórios de sustentabilidade, responsabilidade sócio-

ambiental, empresa cidadã, responsabilidade social, marketing relacionado a

causas, todas essas preocupações mostram as tendências atuais das

instituições, organizações e empresas.Este trabalho pretende contribuir para fazer

desses temas uma realidade do dia-a-dia dos empresários, dos executivos, dos

administradores, dos empreendedores e de todos os profissionais que transitam

pelo mundo dos negócios.A ética sem dúvida será o alicerce que sustentará essa

gama de temas que estão na pauta das grandes discussões.

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METODOLOGIA

A metodologia adotada para a realização do trabalho será a pesquisa bibliográfica

e documental.

Fontes a serem utilizadas: livros; artigos/matérias veiculados em revistas, jornais e

internet; publicações de instituições e materiais de palestras acerca do assunto.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Conceitos 10 CAPÍTULO II - Principais Doutrinas Éticas 13 CAPÍTULO III – Ética Empresarial 25 CAPÍTULO IV – Responsabilidade Social 42 CAPITULO V – Código de Ética 63 CONCLUSÃO 72 BIBLIOGRAFIA 75 WEBGRAFIA 78 ÍNDICE 79 FOLHA DE AVALIAÇÃO 81

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INTRODUÇÃO

Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados no

pensamento administrativo?

Quando, a exigência de fazer negócio entra em conflito com a moral ou o

bem-estar da sociedade, são os negócios que têm que ceder o que é, talvez, o

fundamental da ética empresarial. Embora, historicamente, tenha havido na

filosofia diferentes concepções a respeito da motivação para o comportamento

ético, uma das mais abrangentes e claras, relacionadas ao dever, deriva do

filósofo alemão Immanuel Kant: “Não faça aquilo que você não gostaria que

fizessem consigo”.

Cada empresa tem suas peculiaridades a partir de sua atividade principal,

porém o nosso grande desafio ético é fazer com que o trabalho “enriqueça” o ser

humano num sentido amplo, além do financeiro. Coerência e consciência

constantes entre princípios e atitudes são metas ambiciosas a serem

conquistadas. Muitas declarações de cunho ético estão disponíveis no mundo dos

negócios, podendo ser identificadas como credos, carta de valores e códigos de

ética/conduta. Palavras e intenções tornam-se transformadoras quando

acompanhadas de atitudes e práticas, daí a importância em se fazer com que os

princípios éticos sejam devidamente discutidos, redigidos e distribuídos na

empresa. Por meio dos valores presentes na cultura empresarial, reforça-se o que

se pretende estimular ou erradicar. Para definir sua ética, sua forma de ser e atuar

no mercado, cada empresa precisa saber o que deseja fazer e o que espera de

cada um dos funcionários.

O presente texto está estruturado em cinco tópicos. No primeiro buscou se

conceituar a Ética, através de uma distinção clara entre os termos moral = ação e

ética = reflexão. O segundo faz uma descrição da ética desde os primórdios do

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9pensamento ocidental, alguns dos seus principais pensadores e suas abordagens

diferenciadas a respeito do tema. Em seguida, na tentativa de aprofundar o

entendimento da ética do mundo moderno, foi realizado um estudo de obras, que

abordam importantes aspectos relacionados à ética no mundo capitalista e suas

conseqüências para a humanidade. Destes pensadores é que fluiu a clareza de

que a ética está relacionada à ação prática dos homens, não a discursos bem

intencionados, mas sem qualquer relação sólida com o mundo da vida. Portanto, é

deles também que herdamos a capacidade crítica de perceber o abismo existente

entre o que é dito e o que é efetivamente feito em nome da ética, no interior das

organizações formais. Se no plano discursivo a ética aparece como valor

universal, no mundo concreto da vida nega-se tudo isto, invariavelmente, em

nome do auto-interesse.

Tudo isso serviu de base para chegar, finalmente, à questão da ética no

contexto organizacional, aos aspectos relevantes da Responsabilidade Social e a

importância do Código de Ética.

Como todo objeto de pesquisa, este não se encerra aqui. Muito terá que

ser acrescido ainda, com vistas a dar continuidade a este estudo, o que

provavelmente, jamais terá um fim. Afinal, o pensador deve aprender a conviver

com a busca constante da verdade, sabendo de antemão, que jamais irá encontrá-

la. Esta é somente mais uma tentativa...

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CAPÍTULO I

CONCEITOS

1.1 - Definindo Moral e Ética

Ética: Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta

humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do

mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo

absoluto (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque

de Holanda Ferreira)

As duas palavras possuem origens distintas, mas, significados idênticos.

Segundo Camargo (2002, p.22) “(...) a palavra ética etimologicamente origina-se

do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral

vem do latim mores que também significa costume, conduta, modo de agir. Alguns

autores, entre eles Adolfo Sánchez. Vasquez (1975) admitem que, apesar do

estrito vínculo que as une, elas são diferentes, constituem-se em realidades afins,

porém diversas. Para eles, a moral, enquanto norma de conduta refere-se a

situações particulares e cotidianas, não indo além desse nível, seria um conjunto

de princípios que indicam qual deve ser o comportamento dos indivíduos

Ao longo do tempo, foram desenvolvidas diversas teorias na tentativa de

diferenciar os dois conceitos, no entanto, de acordo com Camargo (20002, p.23):

“Pode-se afirmar que as palavras moral e ética são sinônimas, podendo uma

substituir a outra; assim nada impede que em vez de “código de ética profissional”

seja chamado de “código de moral profissional”. Segundo o autor, mais importante

do que discutir o sentido ou o conceito das palavras é colocar em prática os

princípios e valores que ambas agregam. No entanto Srour (2000, p.29)

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11apresenta um entendimento diferente com a relação ao significado destes dois

termos, o autor defende que a moral está vinculada à definição dos padrões de

comportamento, das normas de conduta, de acordo com os usos, costumes dos

indivíduos em um determinado espaço de tempo, segundo o autor, “(...) a moral

corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que

se espera deles, quais os comportamentos são bem vindos e quais não”.

Por outro lado, a ética é a ciência, a disciplina teórica que promove o estudo

sistemático das morais existentes, levando em conta todas as variáveis que

instituíram estas normas e padrões, com o objetivo de identificar seus propósitos,

discrepâncias e os efeitos produzidos no indivíduo. “(...) a ética atua no plano das

reflexões ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais

que podem conferir-lhes consistência. A ética visa à sabedoria ou ao

conhecimento temperado pelo juízo”. (Srour, 2000, p.29)

Desta forma, pode-se dizer que, enquanto a moral está relacionada à ação,

a ética está relacionada à reflexão.

A ética destituída do papel normatizador, torna-se uma examinadora da

moral, exame este que consiste em reflexão, em investigação, em teorização. O

que pode ser entendido como: a moral normatiza e direciona a prática das

pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão

superte à moral, donde se pode deduzir que a Ética é a ciência da moral, uma

rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o que é o mau, envolvendo obediência

ao que não é obrigatório.

A disciplina da ética empresarial tal como é praticada hoje em dia não tem

mais do que uma década. O conceito central na maior parte da ética empresarial

mais recente é a idéia de responsabilidade social. É também um conceito que têm

irritado muitos dos entusiastas do mercado livre tradicional, e promovido alguns

argumentos incorretos ou enganadores. O mais famoso será talvez a dura crítica

do prêmio Nobel da Economia Milton Friedman, no New York Times (13 de

Setembro de 1970), intitulada "A responsabilidade social dos negócios é aumentar

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12os seus lucros". Neste artigo, Friedman chamava aos homens de negócios que

defendiam a idéia de responsabilidade social da empresa "fantoches involuntários

das forças intelectuais que estão a minar as bases de uma sociedade livre" e

acusava-os de "pregar um socialismo puro e duro". O argumento de Friedman

consiste essencialmente em afirmar que os gestores de uma empresa são

empregados dos acionistas e, enquanto tais têm uma "responsabilidade fiduciária"

de maximizar os seus lucros. Mais ainda, não há qualquer razão para supor que

uma empresa ou os seus empregados têm alguma competência ou conhecimento

especial no âmbito das políticas públicas, logo, quando se envolvem em atividades

comunitárias (enquanto gestores da empresa, não enquanto cidadãos privados

agindo em seu próprio nome), estão não só a ultrapassar as suas competências,

como também a violar as suas obrigações.

“A Ética é a ciência que estuda o comportamento moral dos

homens na Sociedade” (Vasquez - 1975, p.12)

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CAPÍTULO II

PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

É necessária, ao entendimento da ética, a compreensão de que cada

sociedade, cada cultura cria valores morais diferentes, correspondentes as suas

condições históricas e sociais e a seus interesses e necessidades. Vásquez

(1997, p.228) afirma que “(...) as doutrinas éticas fundamentais nascem e se

desenvolvem pelas relações entre os homens, e, em particular, pelo seu

comportamento moral efetivo”. Desta forma, existe uma inter-relação entre a

doutrina ética que vigora em uma determinada época na história e os padrões de

conduta, valores e normas que prevalecem e estabelecem a moral predominante.

Devido ao processo dinâmico de mudanças verificado nas sociedades, os

padrões de conduta vão sendo revisados, repensados e as normas alteradas,

gerando conseqüentemente, uma nova moral que será objeto de estudo de uma

nova doutrina ética. Por isso, segundo o autor “as doutrinas éticas não podem ser

consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de

sucessão que constitui propriamente a sua história”. (VÁSQUEZ, 1997, p.228).

Tendo em vista que o interesse deste estudo é A Ética Organizacional,

procuramos, de forma sucinta, apresentar as doutrinas éticas consideradas mais

importantes, sem a menor pretensão de esgotar o assunto apenas compreender a

historia dos valores e tratá-los de forma genérica.

O estudo da ética remonta aos primórdios da filosofia clássica grega. De lá

provém o significado etimológico da palavra: ethos, que significa costume, modo

de agir. Segundo Pessanha: A tradição ética na cultura grega parte de Homero e

Hesíodo. As epopéias homéricas (séculos X-VIII a C.) formulam uma ética

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14aristocrática que fazia da virtude um atributo inerente à nobreza e manifestado por

meio da conduta cortesã e do heroísmo guerreiro. Ainda não suavizada por seu

uso posterior puramente ético, estava de início ligado às noções de função, de

realização e de capacitação, desencadeando a excelência de tudo o que é útil

para algum ato ou fim. Pessanha (1999, p.28) ainda ressalta que “(...) com

Hesíodo (século VIII a C.) é que a virtude passa a assumir significado mais

estritamente moral: deixa de ser atributo natural de bem–nascidos para se

transformar numa conquista, resultado do esforço e do trabalho enobrecedor de

qualquer homem”. Aí nasce à idéia do ensino da virtude, tema que será retomado

posteriormente por Sócrates (470- 399 a C.), se tornando um dos pilares do seu

pensamento.

A seguir serão examinadas algumas destas doutrinas que acompanham o

estudo da Filosofia desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Importante ressaltar

que, de acordo com Vásquez (1997), o surgimento de uma filosofia voltada para o

estudo da ética se deve ao processo de democratização da vida política em

Atenas, quando surge uma preocupação com os problemas do homem, e,

sobretudo, com os problemas políticos e morais, que não eram objeto de estudo

dos primeiros filósofos, chamados pré-socráticos.

2.1 – Idade Antiga

No período considerado Clássico da Idade Antiga, no qual viviam os

filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, a ética adquire um grande valor. Após o

momento pré-socrático, em que o interesse investigativo concentrou-s no mundo

físico, na tentativa de compreenderem sua essência, os filósofos se voltaram para

o “ser” e para os problemas “sociais e morais”.

Sócrates (469-399 a.C). Considerado o pai da filosofia moral, nasceu em Atnas,

filho de um escultor e de uma parteira. È considerado um marco, sendo assim,

todos os pensadores que o antecederam foram identificados como pré socráticos.

Viveu a democracia grega do início ao fim e foi condenado á morte, injustamente,

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15sob acusações infundadas, resignado, bebe cicuta. Escolheu não escrever, para

evitar a divulgação popular das idéias. Acreditava que o desenvolvimento da

filosofia deveria se dar através de um processo dialógico onde se podia chegar à

verdade através do diálogo.

Para Vásquez (1997), a ética socrática é racionalista, sendo composta por

três elementos: uma concepção do bem e do bom; a tese da virtude como

conhecimento, e do vício como ignorância e a tese segundo a qual a virtude pode

ser transmitida ou ensinada, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade

se entrelaçam estreitamente. “O homem age retamente quando conhece o bem e,

conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem,

sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz”. (VÁSQUEZ, 1997, p.231).

A questão central de sua ética era o bem supremo da vida humana, a

felicidade (eudemonia) e devia consistir em proceder bem e ter uma alma boa. O

Bem era agir bem e a felicidade é a arte de ter uma vida correta, segundo Maritain

(1964, p. 35) “(...) a arte moral não é arte de viver bem tendo em vista alcançar a

felicidade, e sim a arte de ser feliz porque se vive bem”.

Platão (427-347 a.C.). Natural de Atenas, filho de família aristocrática, foi discípulo

de Sócrates, a quem imortalizou através de sua obra. Após a morte de Sócrates,

embora tendo sido criado para seguir uma carreira política, desiste e funda a

Academia, dedicando se à reflexão filosófica assim como à discussão sobre temas

diversos, tais como a matemática e a astronomia.

Usando a fórmula de diálogos abertos, Platão vai aplicar o método socrático

na formulação do seu pensamento. A teoria das idéias é um dos pilares do

pensamento platônico, ele acredita na necessidade de se buscar a verdade, o

conhecimento verdadeiro da realidade, assim, faz uma relação entre um mundo

das idéias e um mundo real, das coisas. Segundo Vásquez (1997), no

pensamento de Platão, a alma do homem se eleva por intermédio da razão ao

mundo das idéias, onde a finalidade principal é libertar-se da matéria e contemplar

a Idéia do Bem, da perfeição. Para ele, tudo o que conhecemos como existente,

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16até mesmo os conceitos que estão em nossa mente, não são reais e sim imagens

reflexas do Ser transcendente, pois segundo ele, existiam dois mundos: um

sensível e outro supra-sensível ou inteligível. Como diziam Luckesi e Passos

(2000, p.136):

“(...) há um mundo próprio de Idéias, transcendente, fora do espaço e

do tempo, além das esferas do sentir e do pensar. As idéias são a

verdadeira realidade, o que nós vemos como coisas e seres

existentes, em nossa experiência imediata, são sombras reflexas das

verdadeiras coisas”.

Sobre a ética platônica, discorre Vásquez: A ética de Platão depende

intimamente, como a sua política, da:

• sua concepção metafísica (dualismo do mundo sensível e do mundo das

idéias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a

verdadeira realidade e tem como cume a Idéia do Bem, divindade, artífice

demiurgo do mundo);

• sua doutrina da alma (princípio que anima ou move o homem e consta de

três partes: razão, vontade ou ânimo, e apetite; a razão que contempla e

quer racionalmente é a parte superior, e o apetite, relacionado com as

necessidades corporais, é a inferior). (VÁSQUEZ, 1997, p.231)

Sua moral, assim como a de Sócrates e como será a de Aristóteles, é

eudenomista (felicidade). Para ele, assim como o fim da vida humana é

transcendente, a moral também consistirá em um preparo para a felicidade, que

se encontra fora da vida terrena, Platão considera que a moral é a arte de

preparar o indivíduo para uma felicidade que não está na vida terra, assim, sua

“fórmula da felicidade” seria:

“(...) cada um de nós para ser feliz deve procurar a temperança e nela

exercer se, fugir o mais rápido possível da intemperança, agir de tal modo

que não precise ser castigado” (Platão, 1948, p. 478).

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17Aristóteles (384-322 a.C.). Nasceu em Estagira, Macedônia, foi discípulo de

Platão na Academia em Atenas e mestre de Alexandre “O Grande”. Mais tarde

fundou sua escola, o Liceu, que se tornou um centro de estudos das ciências

naturais. De acordo com Vásquez (1997), para Aristóteles o fim último do homem

é atingir a felicidade e, para atingi-la e sentir-se plenamente realizado, este deve

dedicar-se a uma vida contemplativa guiado pelo seu principal atributo: a razão.

Diferentemente de Platão, seu Mestre, não desprezou o mundo sensível, ao

contrário, buscou unir as observações desse à ciência e à filosofia. O

conhecimento deveria ser do real e não de sua idéia, portanto, parte dos sentidos.

Por intermédio do uso da razão o homem deve buscar um aprendizado constante

que levará ao desenvolvimento de virtudes intelectuais e práticas, ou éticas.

A virtude é o equilíbrio entre dois extremos. Além disso, outras condições

são necessárias para se atingir a felicidade, como maturidade, bens materiais,

liberdade pessoal, saúde, etc.

A ética de Aristóteles – como a de Platão – está unida à sua filosofia

política, já que para ele – como para o seu mestre – a comunidade social e política

é o meio necessário da moral. A vida moral não é um fim em si mesmo, mas

condição ou meio para uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual

consiste a felicidade. (VÁSQUEZ, 1997, p.234)

“Para Aristóteles, o conhecimento é esse processo de abstração pelo qual o

intelecto produz conceitos universais que, ao contrário das idéias de Platão, não

existem separadamente das coisas e do intelecto” (Abrão, 1999, p.56).

Epicuro (341-270 a.C.). Criador do epicurismo. É filho de um mestre-escola e de

uma cartomante, nasceu em Samos, colônia de Atenas. No ano de 306 a.C.

fundou em Atenas a Escola do Jardim, onde vivia com seus discípulos.

Sua filosofia estava dividida em três partes: canônica, física e ética, sendo

esta considerada a mais importante, porque que indicaria o caminho da sabedoria

e, portanto, da felicidade.

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18“(...) uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a

justiça, e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz.

Aquele que não vive bem honesta, nem sábia, nem justamente, não

pode viver feliz” (Epicuro – citado por Corbisier, 1984, p. 318).

Entendia que a vida humana podia ser afetada pelo prazer ou pela dor,

sendo o prazer sua inclinação natural, de modo que a dor deveria ser evitada.

Para ele, o prazer seria o fim e o começo de uma vida bem aventura, o primeiro

dos bens naturais. O prazer, identificado com a ausência do sofrimento e da dor,

seria a própria felicidade. A ética epicurista orienta para a necessidade de haver

limites a fim de garantir a serenidade e uma vida feliz e sem atropelos, para se

construir uma “estética da existência”.

Zenão (324-263 a.C.). Oriundo de Cítium (Ilha de Chipre), falava pouco e via a

vaidade como a coisa mais feia do mundo.

O Estoicismo é, acima de tudo, uma ética, uma forma de viver, cuja

orientação principal consiste em viver conforme a natureza, ou seja, de acordo

com a virtude. Diferente de Aristóteles, que fazia distinção entre a virtude e o bem,

os estóicos afirmavam que a virtude basta-se por si mesma, é desejável em si

porque não tenderia a um fim exterior. A virtude é, ao mesmo tempo,

conhecimento racional e força suprema, para os etóicos no mundo acontece

apenas o que Deus quer, e o sábio (o homem) deve aceitar seu destino, essa é a

posição do sábio, aquele que não permite ser perturbado pelo mundo externo.

2.2 – Idade Média

A sociedade medieval organiza-se sob as bases do Cristianismo, que se

impôs durante dez séculos após se tornar a religião oficial de Roma no Séc. IV.

Vásquez (1997) argumenta que em um sistema social estratificado e

hierarquizado, a religião, por intermédio da Igreja, vem garantir certa unidade

social, monopolizando a vida intelectual, a moral e a ética, que estarão

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19impregnadas de um conteúdo religioso ao longo deste período. De acordo com

esta moral religiosa, o comportamento do homem deve se pautar, a partir de uma

perspectiva sobrenatural, tendo Deus como seu fim último.

A ética cristã estabelece a relação entre Deus e o homem, baseando-se em

verdades reveladas. Deus é colocado como origem e fim de tudo, inclusive das

ações humanas, assim surgem virtudes morais diferentes daquelas da Idade

Antiga, tais como a fé, a esperança e a caridade, bem como a idéia de igualdade

entre os seres humanos, pela condição de filhos de Deus (igualdade espiritual só

possível no plano sobrenatural).

Segundo Vásquez (1997, p.238): “O Cristianismo como religião oferece

assim ao homem certos princípios supremos morais que, por virem de Deus, têm

para ele o caráter de imperativos absolutos e incondicionais.” E ainda acrescenta

que “a ética cristã – como a filosofia cristã em geral – parte de um conjunto de

verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu

criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação

no outro mundo.” (VÁSQUEZ, 1997, p.236).

“Assim, pois, a mensagem cristã tinha um profundo conteúdo moral

na Idade Média, isto é, quando era completamente ilusório e utópico

propor-se a realização de uma igualdade real de todos os homens”.

(VÁSQUEZ, 1997, p.238)

Santo Agostinho (354-430). Nasceu em Tagaste, província romana de Numídia,

filho de um pagão e de uma cristã. A ética agostiniana é bastante influenciada pelo

pensamento de Platão, mas, se contrapõe ao racionalismo ético dos gregos,

quando valoriza a experiência pessoal, a interioridade, à vontade e o amor.

Tomás de Aquino (1225-1274). Nasceu em Roccasecca, na Itália, estudou na

Universidade de Nápoles e no ano de 1243 passou a fazer parte da Ordem dos

Dominicanos. A ética tomista recebe a influência de Aristóteles, colocando Deus

como fim último que vai levar o homem a atingir a felicidade. Para tanto, assim

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20como no pensamento aristotélico, uma vida contemplativa e o conhecimento são

os caminhos para chegar a este fim.

2.3 – Idade Moderna

Estabelecida entre os séculos XVI e XIX, difere da anterior em todos os

aspectos, na medida em que coloca o homem como centro de seu “esqueleto”

teórico e não mais Deus. Na ordem espiritual, a religião deixa de ser a forma

ideológica dominante e a Igreja Católica perde a sua função de guia. Verificam-se

os movimentos de reforma, que destroem a unidade cristã medieval. Na nova

sociedade, consolida-se um processo de separação daquilo que a Idade Média

unira: a) a razão separa-se da fé (e a filosofia, da teologia); b) a natureza, de Deus

(e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); c) o Estado, da Igreja; e d) o

homem, de Deus. (VÁSQUEZ, 1997, p.240). Não mais se sustenta a idéia da ética

como o caminho para chegar a uma boa vida no sentido aristotélico. A “boa vida”

ganha novos significados e a felicidade passa a ser, por exemplo, a liberdade de

escolha.

A ética que surge vigora neste período é de tendência antropocêntrica, em

que o ser humano é o fim e fundamento, apesar de ainda consistir na idéia de um

ser universal e possuidor de uma natureza instável, Assim mesmo, ele aparece

como o centro de tudo: da ciência, da política, da arte e da moral.

Vásquez (1997) aponta como expoente principal da expressão da ética moderna

Immanuel Kant (1724-1804). Segundo ele, a ética de Kant está baseada

imperativo categórico que seria: “Age de maneira que possas querer que o motivo

que te levou a agir se torne uma lei universal”.

Por conceber o comportamento moral como pertencente a um sujeito

autônomo e livre, ativo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de

uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou

criador. (VÁSQUEZ, 1997, p.243). A contribuição de Kant é enorme nos campos

do conhecimento e da ética, em relação a esta, escreveu obras como Metafísica

dos Costumes (1785) e Crítica da razão prática (1788). A moral kantiana, não se

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21da no puro dever, é metafísica e idealista, na medida em que se fundamenta num

principio formal (o dever), sem lhe dar um conteúdo propriamente dito, Kant

reconhecia que os preceitos de sua ética eram duros e difíceis de serem

colocados em prática, todavia, estava convencido de que uma sociedade perfeita

só seria possível se a beleza, a felicidade, o amor, se submetessem ao dever e a

moralidade.

2.4 – Idade Contemporânea

Esse é um período de grande progresso científico e valorização do ser

humano concreto, também de reação ao formalismo e ao racionalismo kantianos,

a uma ética centrada em valores absolutos, uma ética que tenha o indivíduo como

sua origem e seu fim, onde as regras morais transformam-se em regras de

convivência e os direitos fundamentais passam a ser a igualdade e a liberdade, ou

seja, as chamadas virtudes políticas.

Vásquez (1997) inclui na ética contemporânea tanto as doutrinas éticas atuais,

como aquelas que, embora surgidas no século XIX, continuam exercendo forte

influência nos dias de hoje, citando como exemplo, o existencialismo de

Kierkegaard (1813-1855) e o marxismo de Karl Marx (1818-1883).

Segundo o autor, Kierkegaard, que é considerado o pai do existencialismo,

distingue três estágios na existência individual: estético, ético e religioso: O

estágio superior é o religioso, porque a fé que o sustenta é uma relação pessoal,

puramente subjetiva, com Deus. O estágio ético ocupa um degrau inferior, embora

acima do estético, e, no ético, o indivíduo deve pautar o seu comportamento por

normas gerais e, por isto, perde em subjetividade, ou seja, em autenticidade.

(VÁSQUEZ, 1997, p.246).

De Marx, Vasquez (1997) apresenta as suas teses fundamentais que vão

estruturar a sua doutrina ética, a qual, a partir de uma crítica às morais do

passado, vai colocar em evidência as bases teóricas e práticas de uma nova

moral.

Page 22: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

22Dentre os representantes dessa época, destacam-se o Marxismo, o

Pragmatismo e o Existencialismo, como concepções mais significativas do ponto

de vista da reflexão ética.

Karl Marx (1818-1883). Foi o fundador e maior representante do materialismo

histórico. Partindo do princípio que o idealismo mistificava a realidade ao fazê-la

de corrente de conceitos, inaugurou uma nova teoria moral com bases assentadas

no concreto, no real, na prática.

Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo objetivo e subjetivo,

social e histórico, capaz de criar e interferir na realidade e transformá-la. Assim

existe uma relação de dependência entre o mundo material das forças produtivas

e das relações de produção, que ele denominava de infraestrutura, e o mundo

espiritual, das idéias políticas, jurídicas, filosóficas e dos valores, que ele chamava

de superestrutura. A infraestrutura – base econômica – condiciona a

superestrutura às normas da consciência de forma mecânica dialética. Porém,

como o fator econômico é o determinante, sua alteração interfere nos valores

morais. Este tipo de entendimento serve para explicar o caráter histórico e

dialético que o ser humano, a sociedade e os valores ganham na doutrina

marxista.

A moral sobre a perspectiva marxista é relativa, na medida em que é

condicionada ao momento e às condições históricas e, também, de classe, pois

cada classe elabora seus princípios morais.

Friedrich Nietzsche (1844-1900). Seu interesse não consistiu em formular um

sistema teórico, mas uma experiência estética de vida, buscando conhecer a

origem dos valores, ou seja, entender o porquê da valorização de determinados

atos em detrimento de outros.

Com esse objetivo, criticou o conceito do “bom” ensinado pela sociedade,

que visava acomodar os indivíduos, como escreveu em a Genealogia da moral:

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23“(...) o bom é o que não injuria ninguém, nem ofende, nem ataca,

nem usa represálias, senão que deixa a Deus o cuidado da vingança

e vive oculto, evita a tentação e espera pouco da vida, como nós os

pacientes, os humildes e os justos” (Nietzsche, 1985, p.79)

A crítica recai, em especial, sobre os representantes do Cristianismo, que,

segundo ele, procuravam passar um ideal ascético para a vida humana, onde as

pessoas estivessem distantes da ambição, da alegria e das transgressões.

Charles Sanders Pierce (1854-19140). É considerado o criador do Pragmatismo

– de prágma -, que significa ação e, depois, prática.

Essa tendência surgiu entre os pensadores norte-americanos para justificar

o valor concedido pela sociedade burguesa ao lucro e ao bem estar material.

Desconsiderando toda verdade metafísica, defendia que as questões

filosóficas precisavam ser tratadas mediante o rigor do método científico, pois

acreditava que “(...) a importância de uma concepção filosófica dependia de suas

consequências práticas” (Luckesi e Passos, 2000, p.218).

O Pragmatismo foi definido por ele como um método e não como uma

teoria, tendo em vista que seu objetivo consistia em auxiliar a compreensão da

ciência e da filosofia. Para ele, a verdade é o útil, aquilo que melhor ajudar os

indivíduos a viverem e a conviverem, portanto, não existem valores absolutos, o

bom e o mal são relativos, variando de situação para situação, dependendo de

sua utilidade para a atividade prática.

Jean-Paul Sartre (1905-1980). É considerado um dos expoentes do

Existencialismo, concepção filosófica que parte do princípio de que a existência

precede a essência, ou seja, que o indivíduo é aquilo que quiser ser.

Sartre é representante do existencialismo ateu, que rejeita toda a verdade

metafísica, assim como todo valor universal. A ética baseia se na liberdade como

fim, de modo que são os seres humanos que vão atribuir valor ao mundo, pois ele

não tem valor nem sentido, só a liberdade decide e, como não existem

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24parâmetros, leis, normas, a liberdade torna-se o fim da moral e o valor mais

importante.

Como assegura Maritain (1964, p.426):

“(...) na ausência de todo e qualquer valor, objetivamente fundado e

de qualquer preceito de uma lei moral universal – agora que já não

há ninguém para dar ordens, é a cada indivíduo particular que

compete criar ou inventar em cada caso os valores que orientam sua

conduta” (Ibdem, p.426).

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25

CAPÍTULO III

ÉTICA EMPRESARIAL

3.1 – Evolução do Conceito de Ética Empresarial

Enquanto a ética profissional está voltada para as profissões, os

profissionais, associações e entidades de classe do setor correspondente, a ética

empresarial atinge as empresas e organizações em geral. A empresa necessita

desenvolver-se de tal forma que a ética, a conduta ética de seus integrantes, bem

como os valores e convicções primários da organização se tornem parte de sua

cultura.

Falar de empresa ética e procurar caracterizá-la é uma missão possível

porque, como diz Chanlat (1992, p.69), “(...) a vida nas organizações e mais

comumente as relações sociais que aí se tecem repousam sobre valores”. São

eles que definem os rumos das organizações e suas regras de conduta.

As empresas até o momento vêm se orientado por valores de inspiração

econômica e por uma ética utilitarista onde só visam o lucro e a produção. Não há

nada de desonroso com empresas lucrativas, desde que elas renunciem ao lucro

do tipo destrutivo, proveniente da especulação e da exploração. Uma empresa

ética é aquela que valoriza o ser humano, que age de forma responsável,

equilibrando seus interesses econômicos com os sociais.

Os princípios e critérios orientadores da sociedade capitalista apóiam-se em

valores que não priorizam o indivíduo e sim a técnica, a produção e o lucro. As

organizações produtivas vêm agindo com base nas condições tecnológicas que

possuem e produzindo aquilo que a tecnologia faculte, e não o que seja

necessário e útil à vida humana, enquanto o correto seria entender que as

escolhas são próprias dos seres humanos e suas decisões devem ser livres e

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26conscientes e não estimuladas pela indústria cultural que impõe falsas

necessidades, modismos e sua conseqüente alienação.

Segundo Srour (2000, p.18), “(...) empresas éticas seriam aquelas que

subordinam suas atividades e estratégias a uma prévia reflexão ética e agem de

forma socialmente responsável”.

Década de 60 - Uma das primeiras preocupações éticas no âmbito empresarial de

que se tem conhecimento revela-se pelos debates ocorridos especialmente nos

países de origem alemã, na década de 60, com a pretensão de elevar o

trabalhador à condição de participante dos conselhos de administração das

organizações.

Década de 60/70 - O ensino da Ética em faculdades de Administração e Negócios

tomou impulso nas décadas de 60 e 70, principalmente nos Estados Unidos,

quando alguns filósofos vieram trazer sua contribuição. Ao complementar sua

formação com a vivência empresarial, aplicando os conceitos de ética à realidade

dos negócios, surgiu uma nova dimensão: a Ética Empresarial.

Década de 70 - Os primeiros estudos de Ética nos Negócios remontam aos anos

70, quando nos Estados Unidos, o Prof. Raymond Baumhart realizou a primeira

pesquisa sobre o tema junto a empresários. Nessa época, o enfoque dado à Ética

nos Negócios residia na conduta ética pessoal e profissional.

Nesse mesmo período, ocorreu a expansão das multinacionais oriundas

principalmente dos Estados Unidos e da Europa, com a abertura de subsidiárias

em todos os continentes. Nos novos países em que passaram a operar choques

culturais e outras formas de fazer negócios conflitavam, por vezes, com os

padrões de ética das matrizes dessas companhias, fatos que incentivaram a

criação de códigos de ética corporativos.

Page 27: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

27Década de 80 - Durante a década de 80 foram notados, ainda, tanto nos Estados

Unidos quanto na Europa, esforços isolados, principalmente de professores

universitários, que se dedicaram ao ensino da Ética nos Negócios em faculdades

de Administração, e em programas de MBA - Master of Business Administration.

A primeira revista científica específica na área de administração, denominou-se:

"Journal of Business Ethics"

Década de 80/90 - No início da década de 90, redes acadêmicas foram formadas:

a Society for Business Ethics nos EUA, e a EBEN - European Business Ethics

Network na Europa, originando outras revistas especializadas, a Business Ethics

Quarterly (1991) e a Business Ethics: a European Review (1992).

As reuniões anuais destas associações permitiram avançar no estudo da

ética, tanto conceitualmente quanto em sua aplicação às empresas. Daí surgiu à

publicação de duas enciclopédias, uma nos Estados Unidos e outra na Alemanha:

Encyclopedic Dictionary of Business Ethics e Lexikoin derem Wirtschaftsethik

Nesta mesma ocasião ampliou-se o escopo da Ética Empresarial,

universalizando o conceito.

Visando à formação de um fórum adequado para essa discussão foi criada

a ISBEE - International Society for Business, Economics, and Ethics. O Prof.

Georges Enderle, então na Universidade de St. Gallen, na Suíça, iniciou a

elaboração da primeira pesquisa em âmbito global, apresentada no 1º Congresso

Mundial da ISBEE, no Japão, em 1996. A rica contribuição de todos os

continentes, regiões ou países, deram origem a publicações esclarecedoras,

informativas e de profundidade científica.

Fim do Milênio - Criaram-se as ONGs (Organizações Não Governamentais) que

desempenharam importante papel no desenvolvimento econômico, social e

cultural de muitos países. (International Transparency). A abordagem Aristotélica

dos negócios vem sendo recuperada A boa empresa não é apenas aquela que

apresenta lucro, mas a que também oferece um ambiente moralmente gratificante,

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28em que as pessoas boas podem desenvolver seus conhecimentos especializados

e também suas virtudes.

Ética Empresarial na América Latina - Esforços isolados estavam sendo

empreendidos por pesquisadores e professores universitários, ao lado de

subsidiárias de empresas multinacionais em toda a América Latina, quando o

Brasil foi palco do I Congresso Latino Americano de Ética, Negócios e Economia,

em julho de 1998. Nessa ocasião foi possível conhecer as iniciativas no campo da

ética nos negócios, semelhanças e diferenças entre os vários países,

especialmente da América do Sul.

Da troca de experiências acadêmicas e empresariais, da identificação

criada entre os vários representantes de países latinos presentes, da perspectiva

de dar continuidade aos contatos para aprofundamento de pesquisas e

sedimentação dos conhecimentos específicos da região em matéria de ética

empresarial e econômica, emergiu a idéia de formação de uma rede. Foi, então,

fundada a ALENE - Associação Latino-americana de Ética, Negócios e Economia.

Ética Empresarial no Brasil – Levando se em conta que a sociedade brasileira,

apesar dos grandes avanços que tem conquistado, convive com uma das piores

distribuições de renda, com problemas ambientais, com a pobreza, com as

péssimas condições de trabalho, de alta competitividade e sem encontrar as

soluções que se fazem necessárias para enfrentar, importa saber o que elas têm

feito ou devem fazer visando modificar esse quadro e se tornarem instituições

comprometidas com valores verdadeiramente éticos, centradas no ser humano,

quer seja em suas ações voltadas para o seu público interno, quer seja para a

sociedade em geral.

ESAN - Escola Superior de Administração de Negócios - SP, primeira faculdade

de administração do país, fundada em 1941, privilegiou o ensino da ética nos

cursos de graduação desde seu início.

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MEC - Ministério da Educação e Cultura, em 1992, sugeriu formalmente que todos

os cursos de administração, em nível de graduação e pós-graduação, incluíssem

em seu currículo a disciplina de ética. Nessa ocasião, o CRA - Conselho Regional

de Administração e a Fundação FIDES reuniram em São Paulo mais de cem

representantes de faculdades de administração, que comprometeram se a seguir

a instrução do MEC.

Fundação FIDES, em 1992, desenvolveu uma sólida pesquisa sobre a Ética nas

Empresas Brasileiras.

FGV - Fundação Getulio Vargas, 1992 - São Paulo, criou o CENE - Centro de

Estudos de Ética nos Negócios. Depois de vários projetos de pesquisa

desenvolvidos com empresas, os próprios estudantes da EAESP-FGV - Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,

solicitaram a ampliação do escopo do CENE, para abranger organizações do

governo e não governamentais. Assim, a partir de 1997, o CENE passou a ser

denominado Centro de Estudos de Ética nas Organizações e introduziu novos

projetos em suas atividades. O CENE-EAESP-FGV foi um pólo de irradiação da

ética empresarial, por suas intensas realizações no Brasil e no exterior: ensino,

pesquisas, publicações e eventos.

Fonte: "Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica" de Maria Cecília Coutinho

de Arruda e outros. São Paulo, Atlas, 2001.

3.2 - História da ética empresarial

Num sentido amplo, a atividade empresarial existe pelo menos há cerca de

seis mil anos, onde (de acordo com Samuel Noah Kramer) os antigos habitantes

da Suméria (Mesopotâmia) levavam a cabo uma grande quantidade de trocas

comerciais, mantendo registros das mesmas. Mas o comércio nem sempre foi

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30visto como uma atividade fundamental e respeitável, tal como acontece nas

sociedades modernas, e a perspectiva ética sobre o comércio ao longo da maior

parte da história tem sido quase totalmente negativa.

Aristóteles, que merece ser reconhecido como o primeiro economista (dois

mil anos antes de Adam Smith), distinguia dois sentidos diferentes daquilo a que

chamava «economia»; o oikonomikos ou economia doméstica, que ele aprovava e

considerava essencial para o funcionamento de qualquer sociedade ainda que

pouco complexa, e a chrematisike, a troca que tem como objetivo o lucro.

Aristóteles acusou esta atividade de ser completamente destituída de virtude e

chamou de "parasitas" àqueles que se entregavam a tais práticas puramente

egoístas.

Mas se a ética empresarial, como condenação, foi levada a cabo pela

filosofia e pela religião, o mesmo aconteceu com a dramática mudança em relação

ao comércio que teve lugar no início da idade moderna. A nova atitude em

relação ao comércio não surgiu da noite para o dia; ao contrário, baseou-se em

tradições com uma longa história. As guildas medievais, por exemplo, tinham

estabelecido os seus próprios códigos de "ética empresarial", específicos para

cada ofício, muito antes de o comércio se tornar a instituição fundamental da

sociedade.

A aceitação geral do comércio e o reconhecimento da economia como uma

estrutura fundamental da sociedade dependeu de uma maneira completamente

nova de pensar acerca da sociedade que exigiu não apenas uma mudança na

sensibilidade filosófica e religiosa, mas também, um novo sentido da sociedade e

até da natureza humana. Esta transformação pode ser explicada, parcialmente,

em termos de urbanização de sociedades maiores e mais centralizadas, da

privatização de grupos familiares enquanto consumidores, do rápido

desenvolvimento tecnológico, do crescimento da indústria e do concomitante

desenvolvimento de estruturas, necessidades e desejos sociais

A ética empresarial foi, na maior parte, desenvolvida por socialistas, como

uma crítica contínua à amoralidade do modo empresarial de pensar. Só muito

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31recentemente começou a dominar no discurso do comércio uma perspectiva mais

moral e respeitável acerca desta atividade, o que levou consigo a idéia de estudar

os valores e ideais subentendidos. Pode se facilmente compreender como a

liberdade do mercado sempre foi uma ameaça aos valores tradicionais e hostis ao

controle governamental, mas já se conclui de forma tão sofística, que o próprio

mercado não tem valores ou que os governos servem melhor o bem público do

que os mercados.

3.3 - Ética micro, macro e molar.

Podemos muito bem distinguir três (ou mais) níveis de comércio e de ética

empresarial, desde o micro nível — as regras para uma troca justa entre dois

indivíduos, até ao macro nível — as regras institucionais ou culturais do comércio

para toda uma sociedade ("o mundo dos negócios"). Devemos também delimitar

uma área, a qual podemos chamar o nível molar da ética empresarial, e que diz

respeito à unidade básica do comércio nos nossos dias — a empresa.

A micro-ética nos negócios é uma parte integrante da ética tradicional, a

natureza das promessas, as consequências e outras implicações das ações de um

indivíduo, o fundamento e a natureza dos diversos direitos individuais. O que é

específico da micro-ética dos negócios é a idéia de troca justa e, juntamente com

ela, a noção de um salário justo, de tratamento justo. A noção aristotélica de

justiça "comutativa" é aqui particularmente útil.

A macro-ética tornou-se uma parte integrante das questões mais amplas

acerca da justiça, da legitimidade e da natureza da sociedade que constituem a

filosofia social e política, ela é uma tentativa de ter uma imagem global, de

compreender a natureza do mundo dos negócios e das suas funções próprias.

Mas a unidade "molar" definitiva do comércio moderno é a empresa, e as

questões centrais da ética empresarial tendem a dirigir-se declaradamente aos

diretores e empregados de milhares de empresas que determinam a maior parte

da vida comercial mundial. São, especificamente, questões que dizem respeito ao

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32papel da empresa na sociedade e ao papel do indivíduo na empresa. Assim, não é

de surpreender que os assuntos mais estimulantes se encontrem nos pequenos

espaços entre os três níveis do discurso ético, por exemplo, a questão da

responsabilidade social da empresa — o papel da empresa na sociedade mais

ampla —, e questões de responsabilidades definidas pelo cargo — o papel do

indivíduo na empresa.

3.4 - Ética nas Organizações

“Se não tomarmos cuidado, no próximo milênio não vamos ter nem ética

nem dignidade no dicionário português. Serão substituídas por esperteza”.

(Antônio Ermírio de Moraes)

As organizações éticas buscam, na prática, serem honestas, justas,

verdadeiras e democráticas, por uma questão de princípios e não de

conveniências, muito embora esse tipo de atitude também traga sucesso e

reconhecimento. Na visão de Aguilar (1996, p.26), a empresa ética é “(...) aquela

que conquistou o respeito e a confiança dos seus empregados, clientes,

fornecedores, investidores e outros, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre

seus interesses econômicos e os interesses de todas as partes afetadas, quando

toma decisões ou empreende ações”.

A questão da ética nos negócios, pôr muito tempo foi considerada

insignificante, com a justificativa de que no mundo empresarial nem sempre é

possível tomar decisões corretas ou erradas e prever quem será prejudicado ou

beneficiado. Mas com todas as mudanças que ocorrem, as empresas são

obrigadas a todo instante a tomarem decisões que desencadeiam conseqüências

para indivíduos e meio ambiente. Para Karkotli & Aragão (2004, p.30):

(...) “que uma empresa é considerada ética se adotar uma postura

ética como estratégias de negócios, ou seja, agir de forma honesta

com todos aqueles que têm algum tipo de relacionamento com ela. E

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33ainda, que o desempenho também deve ser avaliado quanto ao

esforço no cumprimento de suas responsabilidades públicas e

atuação como organização cidadã”.

Sendo assim, a ética é uma necessidade em todos os níveis de uma

organização, desde a alta administração até os empregados operacionais.

Uma empresa ética é aquela capaz de criar um ambiente de respeito à

autonomia dos indivíduos, para tanto, o diálogo e a transparência são condições

básicas. O que se vê em empresas que se orientam pelos princípios da

racionalidade instrumental é a mutilação da atividade crítica e criadora do

indivíduo, como afirma Almeida (1996, p.58)

“(...) a mutilação da crítica e da criação só pode estabelecer-se em

ambientes nos quais o diálogo não ocorreu ou ocorre entre

interlocutores desiguais, isto é, entre interlocutores de status

diferenciado, que se encontram dentro da organização, em posição

de poder desigual”.

Hoje, para que uma empresa consiga credibilidade junto ao mercado,

obter qualidade em seus produtos ou serviços Embora esse fator seja

primordial e o público consumidor esteja cada vez mais exigente nesse

sentido, a conquista da credibilidade é mais ampla. Ela engloba outros itens

relacionados ao portfólio da empresa e a ética é um desses itens.

Nossa sociedade vive uma redescoberta da ética, há exigência de

valores morais em todas as instâncias sociais, passamos por uma grave crise

de valores, identificada por alguns como falta de decoro e por outros como

falta de respeito. A ética, entendida como a ciência dos costumes ou dos atos

humanos, passa a ser uma questão de sobrevivência para organizações

submetidas a pressões constantes nos setores mais dinâmicos da empresa.

Nas relações empresariais atuais tem-se a identificação de que a ética

pode ser considerada uma essência de sucesso para as organizações

modernas, esta essência apresenta-se por meio das ações entre agentes

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34empresariais, como por exemplo, clientes, fornecedores, concorrentes e entre

os próprios colaboradores da empresa. O agir com ética, nesse contexto,

significa agir de acordo com determinadas regras e preceitos, contudo,

verifica-se que muitas empresas divulgam regras, ou até mesmo códigos de

ética, mas não os cumprem, com observa-se a dificuldade de se coordenar o

discurso com a prática diária.

As pessoas demonstram níveis mais elevados de comprometimento ao

sentir que suas empresas trabalham com lisura e integridade, é o chamado

exemplo, o qual contribui para a disseminação destes valores dentro das

organizações.

Nasch (1993:06) define a Ética Empresarial como “(...) o estudo da forma

pela qual normas morais e pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de

uma empresa comercial”. Com isso, o que a autora afirma é que a ética nas

organizações não se caracteriza como valores abstratos nem alheios aos que

vigoram na sociedade; ao contrário, as pessoas que as constituem, sendo sujeitos

históricos e sociais, levam para elas as mesmas crenças e princípios que

aprenderam enquanto membros da sociedade.

Normalmente, o mundo de uma organização é permeado por conflitos, por

choques entre interesses individuais e, muitas vezes, entre esses e os da própria

organização, de modo que a ética serve para regular essas relações, colocando

limites e parâmetros a serem seguidos.

Segundo Srour (2003:50), “(...) as decisões empresariais não são

inócuas, anódinas ou isentas de conseqüências: carregam um enorme poder

de irradiação pelos efeitos que provocam”. Nas práticas organizacionais,

afetam os agentes que participam das ações relacionadas com a gestão da

empresa. Na frente interna, têm-se os trabalhadores, gestores e proprietários

(acionistas ou quotistas). Já na frente externa, têm-se clientes, fornecedores,

prestadores de serviços, agentes governamentais, instituições financeiras,

concorrentes, mídia, comunidade local e entidades da civil, todos eles acabam

Page 35: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

35sofrendo efeitos que variam de acordo com a grandeza dos interesses entre

os partícipes.

A ética na administração tem sido discutida com mais ênfase em virtude da

reflexão sobre as situações relacionadas com o negócio das empresas. Na escala

de valores que começa a se disseminar, contratar um parente incompetente ou

discriminar um colega por razões raciais, de aparência ou escolaridade são

comportamentos equiparados ao uso da propaganda enganosa, à poluição

ambiental, à espionagem industrial ou ao suborno para levar vantagem numa

negociação. A forma como a empresa vende seus produtos, relaciona-se com o

governo ou enfrenta a concorrência define a conduta da empresa. A partir destas

constatações, entende-se que a questão ética torna-se um imperativo no

universo das organizações modernas. Em se tratando de processo evolutivo, tais

fatos demonstram a crescente demanda por valores como transparência e

probidade, tanto no trato da coisa pública como também no fornecimento de

produtos e serviços ao mercado.

Quando os gestores perdem a conduta ética, a contrapartida imediata

passa a ser a perda do respeito por parte dos colaboradores. É preciso que as

lideranças busquem mostrar bons exemplos, para que os mesmos possam

gerar relações de maior confiabilidade e segurança. Nesse novo panorama

que se apresenta a qualificação, o esforço pessoal e a chamada meritocracia

ganham relevo nas práticas organizacionais.

Segundo Srour (2003:294), foi feita uma declaração pelo ex-presidente

do Banco Mundial, o Sr. Jim Wolfensohn: “A administração ética nas empresas

traz um valioso progresso social. Ambos andam de mãos dadas. Assim como

nos governos, a administração de empresas deve ser transparente e

responsável”. Torna-se necessário conciliar a ética com a busca da

maximização dos lucros.

Sobre o Brasil, Srour (2003:381) registra uma mensagem de Herbert de

Souza (Betinho): “O Brasil tem fome de ética e passa fome em conseqüência

da falta de ética na política”. Outra vez é possível verificar a necessidade de

Page 36: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

36se coordenar esforços na direção da ética, sendo ela inserida em todos os

setores relacionados com a empresa, pois dessa forma resultará no

desenvolvimento das relações empresariais.

3.5 - Ética - Instrumento para Tomada de Decisões

Não basta que as organizações tomem decisões certas, mas, elas precisam

tomar as decisões certas nos momentos certos e a ética se caracteriza como uma

orientação segura na tomada de decisões no mundo organizacional. É, portanto,

uma situação complexa, pois envolve não só lucro, mas pessoas, na medida em

que as decisões tomadas pelo gerente ou pelo responsável geram impactos

significativos em toda organização. Nesse sentido, a ética se aplica não somente

nas organizações, mas também para os empregados comuns que verão seus

direitos respeitados e, o gerente que terá nela um rumo, uma direção a seguir. O

princípio definidor de qualquer decisão seja ela na sociedade ou em uma

organização, é o respeito à pessoa.

Tomar a decisão correta exige observação, reflexão, análise, julgamento e

decisão, o que deve ser feito levando-se em conta a categoria da totalidade, que

significa entender que o problema faz parte de uma realidade maior e mais

complexa e precisa ser analisado de forma articulada e não isoladamente.

(Passos, 2004).

Um dos maiores desafios dos administradores é conduzir as atividades de

maneira ética, enquanto alcançam altos níveis de desempenho econômico. A

atuação baseada em princípios éticos e a busca de qualidade nas relações são

manifestações da Responsabilidade Social Empresarial. Numa época em que os

negócios não podem mais se dar em segredo absoluto, à transparência passou

ser a alma do negócio: tornou-se um fator de legitimidade social e um importante

atributo positivo para a imagem pública e reputação das empresas.

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37Por tudo isto, a ética é bastante questionada sobre inúmeros aspectos na

administração das organizações. Segundo Maximiano (1993), esses aspectos

podem ser classificados em algumas categorias principais como:

Nível Social - na concepção da sociedade a questão ética relaciona-se com a

própria presença, o papel e o efeito das organizações na sociedade.

Nível do Stakeholder - Stakeholder é o termo alternativo de Shareholder

(acionista). Ou seja, são pessoas que estão associadas direta ou indiretamente à

organização ou que sofrem algum de seus efeitos: clientes internos e externos, à

medida que são afetados pelas decisões da administração.

Política Interna – no nível da política interna, a discussão sobre ética focaliza

especialmente as relações da empresa com seus empregados. Muitas decisões

que as empresas e outras organizações têm que tomar, todos os dias, são

afetadas por questões éticas. Liderança, motivação, planejamento de carreira,

motivação de pessoal e conduta profissional são assuntos que envolvem essas

questões.

Individual – diz respeito à maneira como as pessoas devem trata-se umas às

outras. Nesse plano, as decisões têm grande impacto sobre o clima

organizacional, e à qualidade de vida percebida pelos funcionários.

Ainda, Silva (2003) afirma que ao longo dos anos, quatro visões do

comportamento ético têm sido identificadas:

Utilitarista – Considera comportamento ético aquele que entrega os melhores

produtos para um grande número de pessoas;

Individualista – Considera comportamento ético aquele que eleva os auto-

interesses, o respeito à condição de indivíduo, de longo prazo;

Direitos Morais – Considera comportamento ético aquele que respeita e protege

os direitos fundamentais das pessoas;

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38Justiça – Considera comportamento ético aquele que trata as pessoas

imparcialmente e de maneira justa de acordo coma s regras e padrões iguais.

Na tentativa de ampliar as chances de sobrevivência do atual modelo

econômico, os administradores, estão revendo posturas e adotando práticas mais

éticas na condução de seus negócios e na gestão das empresas, a própria

necessidade de sobrevivência leva o atual modelo empresarial a ser mais ético.

Dubrin (2003, p.69) afirma que:

“(...) o comportamento ético dos membros da organização, quer

sejam contribuintes individuais (não-gerentes), quer sejam gerentes,

exercem uma força importante na maneira pela qual uma empresa é

vista pelos que estão fora e dentro dela. Se o comportamento de um

número suficiente de pessoas estiver ofensivamente fora dos

padrões da ética, pode-se violar a lei, provocando uma intervenção

externa”.

E Karkotli & Aragão (2004, p.43) concluem que: “(...) quando se trabalha ou

se negocia com confiança, a segurança aumenta e se criam relações duradouras”,

ou seja, empresas socialmente responsáveis estão mais preparada para

assegurar a sustentabilidade em longo prazo dos negócios, por estarem

sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade e o mundo

empresarial.

Poucas questões éticas são de resposta fácil para os gerentes, mas, as

ações dos mesmos devem ser direcionadas por algumas verdades inequívocas

que, no conjunto, constituem os valores humanos essenciais e definem os

padrões éticos mínimos para todas as empresas.

Porém há fatos que interferem direta ou indiretamente na ética

administrativa, são eles:

Administrador - A ética administrativa é afetada por experiências pessoais e pelo

conhecimento do administrador. As influencias da família, os valores religiosos, os

padrões e as necessidades pessoais, financeiras e outros, vão ajudar a determinar

a conduta ética em qualquer circunstancia, aqueles que possuem uma forte

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39estrutura ética baseadas em valores e regras pessoais, serão mais consistentes e

confiantes ao tomarem suas decisões, já que tomam como preceitos um conjunto

estável de padrões éticos.

Organização - Os acionistas ou superiores imediatos, exercem um efeito direto no

comportamento de seus colaboradores, uma vez que, o que interessa para eles é

a “recompensa”, caso não ocorra, utilizam ações punitivas o que certamente afeta

as decisões e ações dos indivíduos. Políticas formais e regras escritas, ainda que

não garantam resultados, são muito importantes no estabelecimento de um clima

ético para a organização como um todo; elas sustentam e reforçam a cultura

organizacional, que pode ter uma forte influência sobre o comportamento ético dos

participantes.

Ambiente externo - “O ambiente externo pode ser compreendido como aquele

que não interage diretamente no funcionamento da organização, mas que pode

influenciar as decisões tomadas por seus administradores”, afirmam Karkotli &

Aragão (2004, p.20). São todos os fatores que estão de fora da organização, mas

que de certa forma interferem diretamente em suas ações, como exemplo disto,

temos as leis que interpretam os valores sociais para definir os comportamentos

apropriados das organizações e seus participantes, e as regulamentações ajudam

o governo a monitorar esses comportamentos e mantê-los dentro de padrões

aceitáveis.

Um dos fatores externos que interferem diretamente na ética administrativa

é a pressão dos concorrentes que contribuem para ampliar os dilemas sob o

aspecto da ética profissional.

Tomar decisões éticas é fácil quando os fatos são claros e as escolhas são

fáceis de serem tomadas. Mas a história é diferente quando a situação está

encoberta pela ambigüidade, pela falta de informações, pela diversidade de

pontos de vista e pelo conflito de atribuições. Nestas situações com as quais os

gerentes convivem o tempo todo, decisões éticas dependerão do conceito e

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40padrões de valores e conduta absorvidos por quem vai decidir. Contudo, é de

suma importância que os gestores ao tomarem suas decisões estejam focados

num caráter ético e sigam os seguintes tópicos antes de tomar qualquer decisão:

• Colete os fatos – antes de tomar decisões importantes nos negócios é

necessário coletar fatos relevantes.

• Trate os valores organizacionais e as normas de conduta formais como

absolutos e definindo aspectos éticos. Os aspectos éticos numa

determinada decisão são muitas vezes mais complicados do que se possa

imaginar. Quando se está confrontado com uma decisão complexa, talvez

seja útil discutir as questões éticas com outra pessoa.

• Identifique as partes afetadas – ao tomar decisões éticas, é importante

identificar as pessoas que sentirão o impacto das decisões. Decisões

importantes de empresa podem afetar milhares de pessoas, como por

exemplo, se uma empresa pretende fechar uma fábrica ou transferi-la para

outra região onde exista mão-de-obra mais barata, milhares de indivíduos e

vários interessados serão afetados.

• Identifique as conseqüências – É importante identificar as conseqüências

ao se tomar decisões com a maior probabilidade de ocorrência,

principalmente aquelas com os resultados mais negativos, já que a

empresa tem responsabilidade direta para com a sociedade.

• Pense criativamente sobre ações potenciais e siga sua intuição – Quando

confrontado com dilemas éticos, coloque-se no modo de pensamento

criativo. Estenda sua imaginação para inventar várias opções em vez de

pensar que você só tem duas escolhas – fazer ou não fazer algo. Seguindo

a sua intuição com certeza, o gestor conseguirá distinguir o certo do errado.

Só o exercício de desenvolvimento de habilidades, é que dará oportunidade

aos gestores de tomar decisões éticas. Karkotli & Aragão (2004 p.41) diz:

“Empresários inteligentes sabem que o sucesso nos negócios e as práticas éticas

se inter-relacionam. Eles se concentram em um objetivo empresarial que

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41ultrapassa os simples negócios do dia-a-dia e sabem que as relações duradouras

são aquelas baseadas na confiança e no respeito mútuo”.

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42

CAPÍTULO IV

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Responsabilidade Social Empresarial – RSE – é a forma de gestão que se

define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os

quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que

impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos

ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e

promovendo a redução das desigualdades sociais. Ela e o comportamento ético

dos administradores estão entre as tendências que mais influenciam a teoria e a

prática administrativa nos novos tempos.

Baseado neste contexto, o debate sobre o comportamento ético das

organizações vem tomando lugar na prática administrativa como o caminho para

sobreviver às mudanças competitivas vivenciadas pelas empresas no mundo

globalizado.

Sabendo da importância da ética para a Administração Maximiano (1974, p.294)

conceitua a ética como:

“(...) é a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição

e avaliação do comportamento de pessoas e organizações. A ética

lida com aquilo que pode ser diferente do que é da provação ou

reprovação do comportamento observado em relação ao

comportamento ideal”.

Chiavenato em sua obra, A Administração dos Novos Tempos (1999),

afirma que um dos traços mais impactantes da recente evolução da economia

mundial tem sido a integração dos mercados e queda das barreiras comerciais.

Para grande parte das empresas, isso significou a inclusão, muitas vezes forçada,

na competição em escala planetária. Em curto espaço de tempo, elas viram-se

forçadas a mudar radicalmente suas estratégias de negócio e padrões gerenciais

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43para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades decorrentes da

ampliação de seus mercados potenciais, do surgimento de novos concorrentes e

novas demandas da sociedade. Paralelamente, tiveram que passar a acompanhar

a acelerada evolução tecnológica e o aumento do fluxo de informações, que se

tornou exponencial com o avanço da Internet, o crescimento vertiginoso do

chamado terceiro setor, com a proliferação das organizações não governamentais,

configura uma verdadeira revolução cívica, que o mundo da Internet e das

comunicações vem potencializar.

A responsabilidade social não é um fardo adicional sobre a empresa, mas

uma parte integrante das suas preocupações essenciais, servir as necessidades e

ser justo não apenas para com os seus investidores ou proprietários, mas também

para com aqueles que trabalham, compram, vendem, vivem perto ou são de

qualquer outro modo afetados pelas atividades que são exigidas e recompensados

pelo sistema de mercado livre.

Ouvimos muitas vezes empregados (e até mesmo executivos de alto nível)

queixarem-se de que os seus "valores empresariais estão em conflito com os seus

valores pessoais". O que isto normalmente significa é que certas exigências feitas

pelas empresas são antiéticas ou imorais. Aquilo a que a maior parte das pessoas

chama os seus "valores pessoais" são de fato os valores mais profundos e amplos

da sua cultura.

4.1 - Evolução Histórica

Em 1899 o empresário A. Carnigie fundador do Conglomerado U.S. STELL

CORPORATION; apresentava uma abordagem de Responsabilidade Social

baseada em dois princípios: Princípio da Caridade - “O Princípio da Caridade

exigia que os membros mais afortunados da sociedade ajudassem os menos

afortunados como os desempregados, os inválidos, os doentes e os velhos”.

Karkotli & Aragão (2004, p. 49). Este princípio tinha um perfil paternalista e

assistencialista, e eram os próprios ricos quem determinavam com quanto iriam

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44contribuir. Princípio da Custódia - “Pelo princípio da Custódia as empresa e os

ricos eram vistos como zeladores da riqueza da sociedade”. (Ibidem, p.49). A

sociedade tinha a visão de que além de zelar pela sua riqueza, as empresas eram

as únicas a multiplicá-las.

Em ambos os princípios a Responsabilidade Social das empresas

associava iniciativas paternalistas e assistencialistas, uma vez que, era

considerada uma obrigação apenas dos proprietários e administradores das

empresas, e não propriamente da empresa. Sendo assim, Drucker (1997, p. 72),

ao comentar seu ponto de vista, sobre a obrigação desses proprietários e

administradores em relação à Responsabilidade Social, afirma que: “Esse modo

tradicional de ver o empresário não se preocupava com as responsabilidades

sociais da empresa, mas sim atuação social dos homens que a dirigiam”.

Por longo tempo a empresa legitimou-se perante a sociedade com o

argumento de que era o principal instrumento de desenvolvimento, e para isso ela

deveria possuir liberdade para gerar lucro. Tal argumento baseava-se na Teoria

Econômica de Adam Smith e nos benefícios à sociedade que o seu desempenho

proporcionava. “(...) por mais de cem anos, a empresa tem sido o instrumento

principal e bem sucedido de progresso social”. Ansoff & McDonnel. (1993, p.236).

Já o fator humano era relegado ao segundo plano nas empresas, uma vez

que as atenções estavam voltadas para fatores de Produção. Como afirmam

Karkotli e Aragão (2004, p.17): “O ambiente neste contexto, estava restrito ao

espaço interno das empresas, sendo o elemento humano aí considerado como

uma das peças da engrenagem fabril.”

Porém estes argumentos foram se desmistificando com o surgimento de

contestações ao comportamento das empresas, e as críticas da Escola de

Relações Humanas a um sistema excessivamente mecanizado. Para poder

explicar e justificar o comportamento humano nas organizações, a Escola das

Relações Humanas passou a estudar intensamente essa integração social, onde

afirma que a organização não é composta de pessoas, mas é o próprio conjunto

de pessoas que se relacionam espontaneamente entre si. O desempenho

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45individual é influenciado pelos grupos, que estão entre os principais componentes

das organizações. Ou seja, seu comportamento é fortemente influenciado pelo

meio ambiente e pelas várias atitudes e normas informais existentes nos vários

grupos dentro da organização, onde, à compreensão da natureza dessas relações

humanas permitiram ao administrador obterem melhores resultados de seus

subordinados.

À medida que a economia global ia crescendo, sua distribuição

permanecia desigual. Esse crescimento foi acompanhado de poluição ecológica,

desigualdades sociais e corrupções políticas, bem como oscilações freqüentes

entre situações de prosperidade e recessão. Além do mais, quando livre de

regulamentação, Ansoff & McDonnel (1993, p.238) afirmam que “(...) a empresa

parecia morder a mão que a alimentava”, eliminando a concorrência, criando

monopólios e destruindo assim a justificativa original da liberdade de concorrência.

Como resposta a tal situação, foram criadas restrições à liberdade das empresas,

impondo limites para que cumprissem e seguissem normas como: legislação

quanto ao trabalho de menores, salários mínimos, carga horária e etc Assim, o

conceito de Responsabilidade Social surgiu como resposta à necessidade das

empresas à nova situação ambiental e social no qual elas se deparavam.

Ainda que existam casos de envolvimento de empresas com projetos

voltados para a área, o tema de Responsabilidade Social Empresarial tomou corpo

especialmente a partir dos anos 60, nos EUA e Europa e nos anos 90 no Brasil.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

(2000), responsabilidade social empresarial é um tema de grande relevância nos

principais centros da economia mundial.

Nos Estados Unidos e na Europa proliferam os fundos de investimento

formados por ações de empresas socialmente responsáveis. O Sustainability

Index, da Dow Jones, por exemplo, enfatiza a necessidade de integração dos

fatores econômicos, ambientais e sociais nas estratégias de negócios das

empresas. Normas e padrões certificáveis relacionados, especificamente, ao tema

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46da responsabilidade social, como as normas SA8000 (relações de trabalho) e

AA1000 (diálogo com partes interessadas), vêm ganhando crescente aceitação.

4.2 – Responsabilidade Social no Brasil.

No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social

empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades

não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a

questão. Dois fatores importantes para esta prática foram: a figura do sociólogo

Herbert Viana e o trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas - IBASE - na promoção do Balanço Social, uma de suas expressões e

tem logrado progressiva repercussão.

A obtenção de certificados de padrão de qualidade e de adequação

ambiental, como as normas ISO, por centenas de empresas brasileiras, também é

outro símbolo dos avanços obtidos em alguns aspectos importantes da

Responsabilidade Social Empresarial.

A atuação incansável da Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança,

pela erradicação do trabalho infantil e a adoção do selo Empresa Amiga da

Criança por número expressivo de empresas são exemplos vivos do poder

transformador da iniciativa privada. As enormes carências e desigualdades

sociais existentes em nosso país dão à responsabilidade social empresarial

relevância ainda maior. A sociedade brasileira espera que as empresas cumpram

um novo papel no processo de desenvolvimento: sejam agentes de uma nova

cultura, sejam atores de mudança social, sejam construtores de uma sociedade

melhor.

4.2.1 – Algumas experiências significativas

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (criado no Brasil

em 1998) registra experiências de ações de Responsabilidade Social, conforme

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47publicação de 2003, fazendo, ainda, algumas considerações teóricas onde afirma

que o setor empresarial deve ter responsabilidade social, pois possui bons

vínculos com o governo, tem poder econômico e muito se beneficia com os

recursos naturais. Também sabe que um número sempre maior de empresários

brasileiros vem se conscientizando disso e procura fazer frente aos graves

problemas sociais.

“(...) está além do que a empresa deve fazer por obrigação legal. A

relação e os projetos com a comunidade ou os benefícios para o

público interno são elementos fundamentais e estratégias para a

prática da Responsabilidade Social Mas não é só. Incorporar critérios

de Responsabilidade Social na gestão estratégica do negócio é

traduzir as políticas de inclusão social e de promoção de qualidade

ambiental, entre outras, em metas que possam ser computadas na

sua avaliação de desempenho é o grande desafio” (Instituto Ethos,

2003, p.13).

A título de exemplo, foram selecionados alguns relatos, tendo o cuidado de

trazer experiências que contemplam as várias áreas de atuação.

Banco do Brasil

Além de outras ações desenvolvidas, em 2001 lançou a PAT – Programa

Adolescentes Trabalhadores - com o objetivo de promover a inclusão de jovens de

baixa renda, através de qualificação para o trabalho. Além de apoiar

financeiramente o projeto, também o acompanha de perto, como se exige que seja

a atuação da verdadeira prática responsável; não basta doar os recursos

econômicos, é necessário que a instituição a desenvolva de forma consciente e

comprometida.

Serviço Social da Indústria – SESI – DR Bahia

O SESI promove algumas ações de Responsabilidade Social no Estado da

Bahia e dá apoio a outras. Dentre as ações podemos destacar o Programa

Largada 2000 em parceria com o Instituto Ayrton Senna, Ayrton Senna, foi

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48implantado em 1999 e, como o PAT do BB, também visa à inclusão do

adolescente de 14 a 19 anos na agenda nacional. Além da ação educativa, o

Programa contempla o lazer com atividades sócio-recreativas como oficinas,

cursos de dança, caratê, natação e balé. O Programa envolve outros parceiros

como as prefeituras dos municípios de Feira de Santana e de Lauro de Freitas, a

Universidade Católica de Salvador e de Feira de Santana e atendem a 2.500

jovens.

As duas experiências acima mencionadas estão na área educacional e de

emprego, ou seja, aquelas agregam de valores. Como resultado, afirmam:

“(...) observam-se alterações visíveis na atitude dos adolescentes

diante da vida, em relação a si mesmos e aos outros. São

perceptíveis também as mudanças dos adolescentes em relação ao

meio ambiente, resultantes de uma nova sensibilidade nos temas

sociais relacionados ao exercício da cidadania” (Instituto Ethos ,

2003, p.115)

Samarco Mineração S.A.

Dentre as várias ações de responsabilidade social que a empresa apresenta,

destaca se a Redução do consumo de óleo lubrificante, desenvolvida no município

de Mariana-MG, onde a Samarco atua na extração e concentração de minério de

ferro.

Em 1998, após um levantamento das conseqüências de sua atividade sobre

o meio ambiente, a empresa iniciou um plano de ação cuidadoso e competente,

através do monitoramento dos equipamentos, coleta e reutilização do óleo que

vazasse. Entre 1999 e 2001 foi registrada uma diminuição do consumo de óleo em

cerca de 75% e uma maior conscientização e comprometimento dos membros da

empresa com as questões ambientais e, especificamente, com o problema.

Esta é uma ação de responsabilidade social que visa à proteção do meio

ambiente. Nesta, como em todas as outras áreas, as empresas precisam começar

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49corrigindo seus próprios erros, mesmo que as ações necessárias não demonstrem

possibilidades de ganhos econômicos e sim despesas. Neste caso específico, a

empresa registrou um benefício ao meio ambiente e as pessoas, e para si, na

medida em que verificou não só a diminuição da quantidade do produto

lubrificante como também a constatação de que seus equipamentos passaram a

ter melhor desempenho.

Companhia Siderúrgica de Tubarão

O destaque é para o PRODAFOR - Programa Integrado de

Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores, implantado em 1977 e que tem

como objetivo fortalecer as empresas fornecedoras do Estado do Espírito Santo,

com a redução de custos e a melhoria de seus produtos.

Os fornecedores recebem informações sobre os critérios de qualidade

exigidos pelas empresas compradoras, consultorias e sobre aqueles que

necessitam passar por capacitação e certificação. É preciso ajudá-los a melhorar

seu padrão ético, oferecendo informações, realizando atividades conjuntas,

envolvendo-os em projetos sociais e ambientais.

O Instituto Ethos, na referida publicação, afirma que:

“(...) a relação que a empresa estabelece com os

fornecedores pode revelar o grau de seu comprometimento com a

responsabilidade social” (p.208).

Grupo Pão de Açúcar

A ação que merece destaque é a denominada de Investimentos em

Recursos Humanos, voltada para seu público interno. A empresa exerce um

modelo de gestão por competência de modo que “(...) busca-se identificar

conhecimentos, habilidades, atitudes e valores dos funcionários, visando criar um

ambiente propício ao desenvolvimento profissional. Os dados levantados

proporcionam à empresa melhores condições para tomar decisões justas e

Page 50: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

50transparentes nos processos de seleção, promoção, gestão do desempenho e

competências” (Ethos, p.134).

A empresa, seguindo essa orientação de gestão centrada no ser humano,

afirma ter alguns resultados significativos, o que pode ser atestado pela revista

Exame em um estudo sobre as 100 melhores empresas para se trabalhar.

Companhia de Energia Elétrica do Estado da Bahia – COELBA

De acordo com o Balanço Social e Ambiental /2002 da empresa, várias

ações de responsabilidade social são desenvolvidas. O destaque, aqui, fica para o

PVA – Programa de Valorização do Aposentado, que tem como objetivo a

integração do mesmo na sociedade, procurando mantê-lo engajado e produtivo

com a finalidade de preservar sua saúde física e mental. O programa abrange

atividades regulares como oficinas de ioga, hidroginástica, coral, cursos de arte

em tecidos e línguas estrangeiras além de seminários sobre temas que promovam

o auto conhecimento e o bem-estar físico, mental, social e espiritual. Na Feira de

Talentos, evento anual, os aposentados têm a oportunidade de apresentar e

comercializar seus produtos.

Esta é uma experiência significativa voltada para o público interno, e que

reflete um compromisso essencialmente com o ser humano, a maioria das

empresas, seguidoras de uma filosofia instrumental, não se preocupa com o

destino dos seus ex-funcionários, pois sequer os que estão na ativa são

respeitados como seres humanos.

Existem diversas outras empresas com exemplos relevantes como a

Fundação Kellogg’s, Fundação Henry Ford, Centro Cultural do Banco do Brasil,

Espaço Cultural Unibanco, Instituto GM, Instituto Ayrton Senna e muitos outros.

4.3 – Responsabilidade Social Corporativa

O conceito de Responsabilidade Social, segundo Chiavenato (1999, p.121)

segue o seguinte pensamento: é o grau de obrigações que uma organização

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51assume através de ações que protejam e melhorem o bem-estar da sociedade à

medida que procura atingir seus próprios interesses. Refere-se ao grau de

eficiência e eficácia que uma organização apresenta no alcance de suas

responsabilidades sociais.

Sendo assim, a Responsabilidade Social Corporativa representa um novo

tipo de relacionamento entre as empresas e a sociedade, não mais um

relacionamento estritamente comercial, mas um novo relacionamento onde são

compartilhados valores e atitudes comuns. Com o crescente nível de

conscientização e informação da sociedade, as empresas são obrigadas a

modificarem o modelo tradicional da gestão empresarial, aquela baseada na

obtenção de lucratividade sem levar em consideração a sociedade ao seu redor.

“A Responsabilidade Social Corporativa, em sentido estrito, deve ser entendida

como a obrigação que tem a organização de responder por ações próprias ou

quem a ela esteja ligada”. Karkotli & Aragão, (2004, p.45).

Uma organização é um agente transformador da sociedade, já que

influencia e sofre influência de pessoas e fatores sociais. Instalando-se,

desenvolvendo e prosperando na sociedade, essa organização passa a ser co-

responsável pelo desenvolvimento e bem-estar dos agentes do seu entorno.

Camargo (2002, p.92) em complementação ensina: Responsabilidade Social

Corporativa se refere às estratégias de sustentabilidade de longo prazo das

empresas que, em sua lógica de desempenho e lucro, passam a contemplar a

preocupação com os efeitos sociais e/ou ambientais de suas atividades, com o

objetivo de contribuir para o bem comum.

Uma organização socialmente responsável é aquela que desempenha

muitos aspectos, entre os quais se destacam:

Incorporar objetivos sociais em seus processos de planejamento, incentivando a

participação de seus gestores, quanto cidadãos na solução de problemas da

comunidade;

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52

• Gerar valor para seus agentes internos – proprietários, investidores e

colaboradores – justificando os investimentos financeiros e humanos

utilizados pelo empreendimento;

• Aplicar normas corporativas de outras organizações em seus programas

sociais;

• Gerar valor para a sociedade, nela identificados: governo, consumidores e

o mercado como um todo, disponibilizando bens ou serviços adequados,

seguros e que proporcionem qualidade de vida para as pessoas;

• Experimentar diferentes abordagens para medir o seu desempenho social;

• Procurar medir os custos dos programas sociais e o retorno dos

investimentos em programas sociais;

• Promover comunicação eficaz e transparente com os colaboradores e

agentes externos;

• Atuar de forma ética em todas as cadeias de relacionamento e atitudes com

os membros da sociedade.

A busca da responsabilidade social corporativa tem, à grosso modo, as

seguintes características:

É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus acionistas, muito

pelo contrário, o mercado deve agora prestar contas aos funcionários, à mídia, ao

governo, ao setor não-governamental e ambiental e, por fim, às comunidades com

que opera. Empresas só têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em

seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas representa

uma mudança de comportamento da empresa, mas também significa maior

legitimidade social.

É distributiva. A responsabilidade social nos negócios é um conceito que se

aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado

por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum e,

portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo.

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53Assim como consumidores, as empresas também são responsáveis por seus

fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços

usados ao longo de seus processos produtivos.

É sustentável. Responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de

desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em relação ao ambiente e

à sociedade, não só garante a não escassez de recursos, mas também amplia o

conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não se refere

somente ao ambiente, mas através do fortalecimento de parcerias duráveis,

promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento

orientado. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a

prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais.

É transparente. A globalização traz consigo demandas por transparência. Não

bastam só os livros contábeis, as empresas são gradualmente obrigadas a

divulgar seu desempenho social e ambiental, os impactos de suas atividades e as

medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido,

empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais, onde seu desempenho é

aferido nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem

em caráter voluntário, mas muitos prevêem que relatórios sócio-ambientais serão

compulsórios num futuro próximo.

Ao incorporar todos esses aspectos em suas estratégias e diretrizes, as

organizações passam a ser entendidas como verdadeiras entidades sociais e

responsáveis, uma vez que, além de preocupar-se com seus interesses, também

dão importância para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária,

promovendo o bem-estar e o crescimento de todos. É com base neste princípio

que Karkotli & Aragão (2004, p.47) afirmam: “Para uma organização que cumpre

todos os parâmetros mencionados, demonstra que atingiu um grau de

amadurecimento, da verdadeira cidadania empresarial, no qual direitos e

Page 54: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

54obrigações encontram-se implícito no ordenamento do próprio mercado e da

sociedade”.

Como exemplo de responsabilidade social corporativa, vale destacar a

Microsoft do Brasil, líder global no fornecimento de softwares, serviços e soluções

em Tecnologia de Informação, atuando para a realização do potencial de pessoas

e empresas, procurando atingir sua missão por meio do estímulo à criação de

oportunidades, do incentivo ao crescimento econômico e do apoio às

comunidades com tecnologias inovadoras.

Com esse objetivo criou o Programa Potencial Ilimitado, cujo foco é

promover e apoiar ações que busquem transformar a educação e incentivar a

inovação local e gerar oportunidades de emprego. Esse programa consolida o

compromisso da empresa de proporcionar benefícios relevantes para quem não

tem acesso à tecnologia por meio de parcerias com governos, indústrias,

organizações não-governamentais, universidades e escolas.

Segundo Levy, Presidente da Microsoft Brasil

“(...) nesses 20 anos de Brasil, a Microsoft foi consolidando uma série

de programas de responsabilidade social corporativa. É nosso dever

contribuir com a sociedade criando softwares e serviços cada vez

melhores, que ajudem empresas e cidadãos a realizarem

plenamente seu potencial. Para isso apoiamos o fortalecimento do

eco-sistema de parceiros e profissionais, adotamos práticas

comerciais justas e transparentes e nos dedicamos ao

desenvolvimento de produtos cada vez mais inovadores e seguros”

(Relatório 2008 – Responsabilidade social corporativa)

Os parceiros locais são peças chave para aumentar a abrangência dos

projetos apoiados pelas organizações, isso porque eles conhecem melhor que

ninguém as necessidades de suas comunidades e grupos de atuação.

Todas as organizações funcionam dentro de um complexo conjunto de

interesses com elementos do seu ambiente específico e geral. Na realidade,

Page 55: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

55Chiavenato (1999, p.124) é condizente em afirmar que “(...) cada organização

forma uma intensa rede de relacionamento com outras organizações e instituições

para poder funcionar satisfatoriamente”. Neste contexto, responsabilidade social

corporativa é a obrigação de atender aos interesses mútuos dos diferentes

públicos envolvidos, Esse público/parceiro é todo aquele que é afetado de alguma

forma pela ação de uma organização em seu cotidiano.

Chiavenato (1999, p.122) afirma que, as organizações apresentam quatro

alternativas de estratégias em termos de comportamento com a Responsabilidade

Social, indo desde uma estratégia obstrutiva até uma estratégia pro ativa.

Estratégia pro ativa - é aquela que preenche todos os critérios de desempenho

social, incluindo desempenho discricionário, tendo liderança na iniciativa social e

assumindo, voluntariamente, responsabilidades econômicas e legais. O

comportamento organizacional neste nível previne impactos sociais adversos às

atividades econômicas das empresas e, algumas vezes, se antecipa na

identificação e resposta aos aspectos sociais emergentes.

Estratégia acomodativa - é aquela que aceita a responsabilidade social e tenta

satisfazer critérios legais e econômicos - ética prevalecente - fazendo o mínimo

eticamente

Estratégia defensiva - é aquela que procura proteger organização, fazendo o

mínimo legalmente requerido para satisfazer as expectativas sociais; e também

assume responsabilidades econômicas e legais.

Estratégia obstrucionista - é aquela que evita a responsabilidade social e reflete,

principalmente, prioridades econômicas da organização, combatendo/rejeitando as

demandas sociais.

Ao pôr em prática os programas e iniciativas de Responsabilidade Social

nas organizações, os gestores devem incluir ao planejamento dos programas um

diagnóstico inicial da situação em que se encontra a empresa, e um planejamento

Page 56: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

56estratégico para que ações possam surtir efeito, quando colocadas em prática,

Karkotli & Aragão (2004, p.63) complementam:

“(...) é conveniente registrar que a elaboração e implementação de

programas de introdução das práticas de responsabilidade social

empresarial devam ser conduzidas por profissionais especializados e

habilitados, evitando assim, que estas iniciativas resultem tópicas,

descontínuos ou que se situem no campo da simples filantropia).

4.4 - Balanço Social.

Até meados dos anos 30, a idéia de responsabilidade social e acesso a

informação de cunho empresarial eram, virtualmente, desconhecidos por grandes

corporações. A percepção comum era que a desempenho da empresa deveria ser

de acesso restrito para se proteger os dividendos dos sócios. Grandes fortunas do

capitalismo moderno, como J.P. Morgan, John Rockfeller ou Cornelius Vanderbilt,

eram sigilosos quanto a suas empresas e comportamento, os quais só eram

divulgados na existência de instrumentos compulsórios de prestação de contas.

Tal situação permaneceria virtualmente inalterada até a segunda metade da

década de 60, quando preocupações ambientais começam a ser levantadas

internacionalmente.

Com crescente demanda por “accountability” empresarial vinda de países

europeus, países como a França, através da criação do “Bilan Social” em 1972, e

Reino Unido, com o pacote instrumental do “Corporate Report” em 1975, seriam

pioneiros na “contabilidade social” de empresas. Tal prática, aos poucos, seria

adotada mundialmente em paralelo ao crescimento do poder de aferição e

cobrança típicas imprensa investigativa moderna.

No Brasil, o processo foi mais lento que na Europa e Estados Unidos. No

entanto, com o fim do regime militar e da repressão política, por aqui se verifica

uma explosão de organizações civis. O exercício da cidadania, até então

reprimido, ganha novo impulso através da sociedade civil organizada, a qual

Page 57: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

57naquele momento passa a atuar ativamente na promoção de políticas de cunho

social. O movimento de apoio à responsabilidade social, ganha impulso a partir

dos anos 90 e é conseqüência do surgimento de um sem-número de organizações

não governamentais, crescimento desigual dos anos do “milagre econômico”.

Diante da deficiência do Estado em suprir nossas severas demandas sociais,

empresas atuam cada vez mais de forma pro ativa e incorporam um discurso

social mais justo.

São pelas razões acima que, em face de uma crescente cobrança por

transparência, não basta hoje atuar de forma responsável, mas é preciso mostrar

resultados. Por isso, empresas demonstram seu desempenho social em relatórios

corporativos das mais diversas formas e modelos.

Quanto ao formato do que se convencionou chamar “Balanço Social”, este

pode ser o mais variado. Balanços Sociais modernos podem contar com edições

luxuosas, de impressionante impacto visual, a dados quantitativos simples que

sucintamente retratam a desempenho sócio-ambiental da empresa. De modo

geral, a lógica atrás dos relatórios sócio-ambientais é simples. Empresas devem

prestar contas não só aos seus acionistas, mas agora o espectro de

“stakeholders” é muito mais amplo e consumidores, empregados, e até outros

atores sociais, como sindicatos e ONGs, estão dentro da esfera de interesse do

mundo empresarial.

O certo é que a divulgação do desempenho social de uma empresa

interessa grupos empresariais pelas mais diversas razões. A primeira se refere à

ética e ao princípio pelo qual empresas, na qualidade de atores sociais, têm ativa

participação no crescimento de uma nação e, portanto, devem prestar contas à

sociedade. No entanto, razões de cunho prático se somam a estas e, felizmente, a

divulgação dos “Balanços Sociais” tem se tornado uma prática cada vez mais

comum.

Embora muitos, de forma cética, vejam o “Balanço Social” como simples

peça de marketing, este é, antes de tudo, prova de maturidade empresarial. Um

bom relatório sócio-ambiental, ou Balanço Social deve ser claro, ter profundo

Page 58: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

58compromisso com a verdade, e ser amplamente disponibilizado ao público por

todos os meios possíveis, incluindo-se aí a Internet. As informações contidas nele

não devem ser apenas um “check-list” de requisitos sócio-ambientais, mas deve

descrever, de forma precisa, o retrato da atividade social da empresa em

determinado período de tempo.

Não é raro empresas mascararem ou omitirem falhas de conduta em seus

relatórios. A transparência, contudo, é importante vantagem comparativa para

empresas, é a prova de que a empresa está aberta a apontar suas deficiências e

assim aprimorar seu desempenho.

Ainda que o modelo brasileiro contenha avanços notáveis – como a

referência à questão racial no Balanço Social – o caráter da informação é ainda

excessivamente quantitativo, o que, se por um lado permite a comparação

temporal do desempenho da empresa e o detalhamento de despesas sociais, por

outro, peca pela falta de descrição narrativa de como estas verbas sociais foram

efetuadas e quais os resultados alcançados. O Balanço Social nos moldes

brasileiros é ainda a melhor forma de relatar a desempenho social de empresas,

na falta de substituto melhor.

Vale lembrar, todavia, que a responsabilidade social, assim como o Balanço

Social, é fenômeno recente e ainda há muito a ser desenvolvido. Empresas ainda

estão no aprendizado de sua cidadania e o Balanço Social surge como importante

marco referencial para aqueles que, voluntariamente, buscam um melhor exercício

de sua responsabilidade para com a sociedade.

Mesmo que se discorde com alguns pontos do Balanço Social em ampla

circulação hoje no país, a iniciativa é louvável e deve ser estimulada por

representar um importante avanço conceitual. Neste ponto, vale a pena ressaltar

alguns exemplos de relatórios sócio-ambientais:

GRI - Global Reporting Initiative: é atualmente um dos modelos de prestação de

contas em ações sócio-ambientais mais completo que existe. É amplamente

utilizado por empresas multinacionais e tem o apoio das Nações Unidas.

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59Recentemente, o GRI completou sua comissão permanente para constantemente

atualizar suas recomendações.

IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas: através da figura do

saudoso Herbert de Souza, o Betinho, foi o pioneiro na discussão de relatórios

corporativos com enfoque social no Brasil. O modelo proposto pelo IBASE

começou a ser discutido em meados de 1997 e é um demonstrativo anual

publicado pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre projetos,

benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de

mercado, acionistas e à comunidade. O modelo proposto pelo IBASE é hoje único

no Brasil e ainda é bem atraente. A principal característica do modelo é sua

simplicidade e caráter voluntário.

No intuito de estimular a responsabilidade social empresarial, alguns

instrumentos de certificação foram criados nos últimos anos, o apelo relacionado a

esses selos ou certificados é de fácil compreensão: num mundo cada vez mais

competitivo, empresas vêem vantagens comparativas em adquirir certificações

que atestem sua boa prática empresarial. Entre algumas das certificações mais

cobiçadas atualmente encontram-se os seguintes:

Selo Empresa Amiga da Criança: Selo criado pela Fundação ABRINQ para

empresas que não utilizem mão-de-obra infantil e contribuam para a melhoria das

condições de vida de crianças e adolescentes.

ISO 14000: é apenas mais uma das certificações criadas pela International

Organization for Standardization (ISO). O ISO 14000, parente do ISO 9000, dá

destaque às ações ambientais da empresa merecedora da certificação.

AA1000: foi criada em 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accountability. Esta

certificação de cunho social enfoca principalmente a relação da empresa com

seus diversos parceiros, ou “stakeholders”. Uma de suas principais características

é o caráter evolutivo já que é uma avaliação regular (anual).

SA800 - “Social Accountability 8000” é uma das normas internacionais mais

conhecidas. Criada em 1997 pelo Council on Economic Priorities Accreditation

Page 60: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

60Agency (CEPAA), o SA8000 enfoca, primordialmente, relações trabalhistas e visa

assegurar que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como

trabalho infantil, trabalho escravo ou discriminação.

A pressão por produtos e serviços socialmente corretos faz com que

empresas adotem processos de reformulação interna para se adequarem às

normas impostas pelas entidades certificadoras.

4.5 – O Governo e a Responsabilidade Social

O Estado sempre teve em seu poder o “controle” da nação, inclusive o

social e, por decorrência, o assistencialismo social era associado a programas

governamentais. Isso era tão mais verdade quanto mais ativo/ator/agente fosse o

papel do Estado, fosse em governos de esquerda, fosse em governos de direita.

No período que engloba do Império até a 1ª República, as ações sociais

realizadas possuíam um caráter unicamente religioso por influência da

colonização portuguesa e o domínio da Igreja Católica. Da Revolução da década

de 30 até a década de 60, com o Estado mais poderoso e detentor do interesse

público, foi criada a primeira lei brasileira que regulamentava as regras para

declaração de utilidade pública, além do Conselho Nacional do Serviço Social. Ao

mesmo tempo, novas ações filantrópicas de famílias privilegiadas foram ganhando

espaço no cenário social brasileiro. Entre as décadas de 60 e 70, com a ditadura

militar limitando a participação popular na esfera pública, micro-iniciativas, muitas

de cunho político, representadas por movimentos e ONGs, foram nascendo com o

objetivo de combater, dentre outros, a ditadura, a pobreza e o capitalismo.

Historicamente, o governo vem aumentando sua participação na formação

das organizações na sociedade contemporânea; entretanto, o relacionamento

entre organizações e governo é de via dupla, ou seja, do mesmo jeito que o

governo interfere diretamente no comando das empresas, as organizações

também influenciam o governo, Sua influência direta é freqüentemente

demonstrada através de leis e regras que ditam que atividades podem ou não ser

Page 61: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

61realizadas. Já indiretamente, o governo pode influenciar de diversas formas, mais

nitidamente nas políticas de tributação.

Sobre esta abordagem Gremaud (2004, p.191) conclui que o governo atua,

também, de forma estabilizadora: “(...) onde utiliza o manejo da política econômica

para tentar garantir o mínimo de emprego, crescimento econômico, com

estabilidade de preços”. Por sua vez, as regulamentações indiretas são influências

que o governo exerce sobre a Responsabilidade Social da organização, por meio

de códigos de tributos ou taxas de incentivos, que são variáveis em função da

atuação social da organização.

Sobre essas taxas de incentivos, Silva (2002, p.74), diz que “(...) são

reduções de impostos, tributos e etc., que o governo concede a organização, por

determinadas situações”. Ou seja, o governo concede descontos em alguns

tributos e até mesmo a sua isenção, com a intenção de atrair empresas para seu

território. Com isso, garantem o crescimento econômico e emprego para a

população. A ação planejada e transparente, pressuposto da responsabilidade

estatal diante da formulação de uma política pública, tem por finalidade dar maior

credibilidade e inteligibilidade ao posicionamento adotado pelo governo dirigente.

Dentro desse cenário, a responsabilidade social e responsabilidade fiscal passam

a ser premissas fundamentais para o que se convencionou a chamar de ação

governamental. Nesse sentido, se um projeto de assistência social é criado pelo

governo para atender uma região onde essa assistência não era prestada à

população, tem-se inquestionavelmente uma ação governamental cuja

fundamentação está pautada na responsabilidade social em gerir uma política de

inserção social e na responsabilidade fiscal para manter o equilíbrio das contas

públicas.

Para fundamentar qualquer teoria socioeconômica aplicada, é necessário

analisar a importância do princípio do bem comum e do interesse público, o que

incide na eterna discussão entre indivíduo e coletividade, entre utilitarismo e

valores. Nesse sentido, toda a atividade estatal deve ser orientada para esse

objetivo, que não é um objetivo meramente formal ou demasiadamente genérico,

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62sem conteúdo determinado, mas um objetivo claro, decorrente da natureza prática

das coisas em relação ao convívio social.

Por tal razão, quando se analisa uma política pública extra fiscal, observa-

se que a responsabilidade social deve sempre andar de mãos dadas com a

responsabilidade fiscal, pois a violação desta implica na violação da

responsabilidade social na aplicação de recursos em outros programas. Portanto,

a responsabilidade social e a responsabilidade fiscal, devem ser sempre

convergentes ao bem comum. Trata-se da arte de mover as vontades, a destreza

da resolução, pois o bem próprio não está alheio ao bem dos demais.

É de conhecimento geral que a atribuição de promover o bem comum cabe

ao Estado, por meio de uma atuação voltada às aspirações sociais, dentre elas o

dever de dirimir eventuais conflitos emanados pela própria autoridade

governamental em face dos interesses públicos, a exemplo do conflito:

responsabilidade social versus responsabilidade fiscal. Esses interesses públicos

foram diversificados e ampliados em virtude do bem comum da sociedade, como

na noção de interesse público, privado, coletivo, individual, homogêneo e difuso.

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63

CAPÍTULO V

CÓDIGO DE ÉTICA

5.1 – Conceito

O Código de ética é um instrumento que busca a realização dos princípios,

visão e missão da empresa. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e

expressar formalmente, a postura social da empresa em face dos diferentes

públicos com os quais interage. É da máxima importância que seu conteúdo seja

refletido nas atitudes das pessoas a quem se dirige e encontre apoio na alta

administração da empresa, que, tanto quanto o último empregado contratado tem

a responsabilidade de vivenciá-lo.

Para definir sua ética, sua forma de atuar no mercado, cada empresa

precisa saber o que deseja fazer e o que espera de cada um dos funcionários. As

empresas, assim como as pessoas têm características próprias e singulares. Por

essa razão os códigos de ética devem ser gerados por cada empresa que deseja

dispor desse instrumento. Códigos de ética de outras empresas podem servir de

referência, mas não servem para expressar a vontade e a cultura da empresa que

pretende implantá-lo. O próprio processo de implantação do código de ética cria

um mecanismo de sensibilização de todos os interessados, pela reflexão e troca

de idéias que supõe.

De acordo com Arruda et al. (2001), em um contexto organizacional estão

diretamente envolvidos diversos atores, denominados stakeholders: acionistas ou

proprietários, empregados, clientes, fornecedores, governantes e membros da

comunidade em que a empresa está inserida. Os empregados da organização,

devido à sua formação familiar, religiosa, educacional e social, atuam conforme

determinados princípios, sendo que no dia-a-dia os valores individuais podem

conflitar com os valores da organização, que caracterizam a cultura empresarial.

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64Para evitar a ocorrência de fatos como este e estabelecer uma homogeneidade de

comportamento é de fundamental importância que a organização estabeleça um

sistema de valores, padrões e políticas uniformes que possibilitem aos

empregados saber qual a conduta adequada e apropriada em qualquer

circunstância. O código de ética, que pode ser definido como a declaração formal

das expectativas da empresa à conduta de seus executivos e demais funcionários,

ele deve traduzir a filosofia e os princípios básicos definidos pelos acionistas,

proprietários e diretores. Desta forma, o código de ética vai regular as relações

dos empregados entre si e com os chamados stakeholders.

5.2 – Conteúdo

O conteúdo do código de ética é formado de um conjunto de políticas e

práticas específicas, abrangendo os campos mais vulneráveis. Este material é

reunido em um relatório de fácil compreensão para que possa circular

adequadamente entre todos os interessados. Uma vez aprimorado com sugestões

e críticas de todos os envolvidos o relatório dará origem a um documento que

servirá de parâmetro para determinados comportamentos, tornando claras as

responsabilidades. Efetuadas as correções, determinadas afirmações serão

aproveitadas para a criação de um código de ética, enquanto outras podem servir

para um Manual de ética.

Entre os inúmeros tópicos abordados no código de ética, predominam

alguns como respeito às leis do país, conflitos de interesse, proteção do

patrimônio da instituição, transparência nas comunicações internas e com os

stakeholders da organização, denúncia, prática de suborno e corrupção em geral.

As relações com os funcionários, desde o processo de contratação,

desenvolvimento profissional, lealdade entre os funcionários, respeito entre chefes

e subordinados, saúde e segurança, comportamento da empresa nas demissões,

entretenimento e viagem, propriedade da informação, assédio profissional e

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65sexual, alcoolismo, uso de drogas, entre outros, são aspectos que costumam ser

abordados em todos os códigos.

Segundo Arruda (2002), a elaboração de um código de ética se dá a partir da

definição da base de princípios e valores esperados dos funcionários de

determinada organização. Para se chegar a isto, o ideal é que se proceda a um

relatório que irá agregar as práticas e políticas específicas da organização, o qual

deverá ser discutido e criticado por todos os funcionários em todos os níveis. Este

relatório, aprimorado pelas críticas e sugestões, irá servir de base para a definição

de padrões de comportamento e responsabilidades que nortearão a elaboração

dos artigos do código de ética.

A autora destaca a importância de um código de ética bem elaborado para

a organização. Segundo ela:

“(...) os códigos tornam claro o que a organização entende por

conduta ética. Procuram especificar o comportamento esperado dos

empregados e ajudam a definir marcos básicos de atuação”.

(ARRUDA, 2002, p.5).

A partir de um estudo realizado por Rob Van Tulder e Ans Kolk, professores

universitários na Holanda, que analisaram códigos de 17 organizações brasileiras,

Arruda (2002), apresenta os tópicos que mais predominaram nestes códigos, que

podem ser considerados como elementos necessários a qualquer código de ética:

o comportamento correto com as pessoas, a manutenção dos valores éticos

fundamentais e o esforço por abolir práticas como o suborno e as facilidades de

pagamentos.

Quase com o mesmo nível de consciência, os códigos parecem indicar a

obediência às leis, especialmente no tocante à sociedade e às relações de

trabalho. A seguir fica claro, também ,o respeito aos interesses do consumidor,

voltado para a atenção à necessidade de consumo, a revelação de informação e a

prática respeitosa de marketing. Na mesma linha, boa parte das organizações

registra os interesses comunitários como de suma importância, a ponto de

consolidá-los no seu Código de Ética. (ARRUDA, 2002, p.24-26)

Page 66: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

66Dentre os problemas éticos de maior conhecimento público estão àqueles

referentes às relações com os consumidores, e sujeitos aos enquadramentos da

lei de defesa do consumidor, incluindo-se práticas de marketing, propaganda e

comunicação, qualidade do atendimento e reparações no caso de serem

causados danos.

Quanto à cadeia produtiva, envolvendo fornecedores e empresas

terceirizadas, o código de ética pode estabelecer condutas de responsabilidade

social, respeito à legislação, eventual conduta restritiva, bem como estimular a

melhoria dos parceiros visando um crescimento profissional e mercadológico

conjunto.

O código de ética pode também fazer referência à participação da empresa

na comunidade, dando diretrizes sobre as relações com os sindicatos, outros

órgãos da esfera pública, relações com o governo, entre outros.

Relações com acionistas, estabelecimento de políticas de convivência com

os concorrentes, também são pontos que devem constar do código de ética.

Portanto, pode-se verificar que a preocupação com os aspectos éticos

fundamentais é importante nas organizações integrantes do universo por eles

pesquisado, assim como o compromisso com o cumprimento das leis e a

necessidade de um bom relacionamento com os consumidores, fornecedores e

até com os concorrentes. Além disso, fica registrado que as organizações têm

buscado participar mais ativamente na discussão e resolução dos problemas da

comunidade em que está inserida, o que representa um avanço de relevada

importância.

5.3 - Importância na Organização

A adoção de um código de ética é uma ótima oportunidade de aumentar a

integração entre os funcionários da empresa e estimular o comprometimento

deles. O código de ética permite a uniformização de critérios na empresa, dando

respaldo para aqueles que devem tomar decisões. Serve de parâmetro para a

Page 67: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

67solução dos conflitos. Protege, de um lado, o trabalhador que se apóia na cultura

da empresa refletida nas disposições do código, de outro, serve de respaldo para

a empresa, por ocasião da solução de problemas de desvio de conduta de algum

colaborador, acionista, fornecedor, ou outros. O código de ética costuma trazer

para a empresa harmonia, ordem, transparência, tranqüilidade, em razão dos

referenciais que cria, deixando um lastro decorrente do cumprimento de sua

missão e de seus compromissos.

É absolutamente imprescindível que haja consistência e coerência entre o

que está disposto no código de ética e o que se vive na organização, caso

contrário, ficaria patente uma falsidade que desfaz toda a imagem que a empresa

pretende transmitir ao seu público. Essa é a grande desvantagem do código de

ética.

Devido à inter-relação que há entre o indivíduo e a organização, na

qual um influencia diretamente no outro, é necessário o estabelecimento de

regras claras e possíveis que delimitem o comportamento e as atitudes dos

indivíduos dentro da organização. É imprescindível, também, que seja do

conhecimento de todos. As consequências para aqueles que descumprirem

estas regras, o que se denomina “política de conseqüências”. Sobre isto

discorrem Arruda e Navran (2000, p.29): “A empresa que almeje ser ética

deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve criar

procedimentos de verificação para assegurar que todos na organização as

estão cumprindo”. Daí a necessidade de elaboração de códigos de ética

que sejam instrumentos efetivos de determinação de padrões de conduta

que agreguem valor à organização, mas que, para se tornarem eficazes,

devem vir acompanhados de uma política de conseqüências clara e

amplamente aplicável.

Para Arruda et al. (2001, p.67) “(...) uma vez que a organização adota um código

de ética, é importante estabelecer um comitê de alta qualidade, geralmente

formado por um número ímpar de integrantes provenientes de diversos

departamentos, todos reconhecidos como pessoas íntegras, por seus colegas”. A

Page 68: PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO … · do grego ethos que quer dizer costume, conduta, modo de agir; a palavra moral vem do latim mores que também significa costume,

68finalidade deste comitê será, além de investigar e solucionar casos que surjam no

âmbito da organização que digam respeito a questões éticas, promover uma

revisão constante do código de ética, adaptando-o às mudanças e às

necessidades dos stakeholders.

Arruda et al. (2001) discorre também que algumas organizações chegam a

nomear um profissional de ética, vinculado à Diretoria e com total autonomia para

coordenar os programas de ética. Suas principais atribuições são manter

atualizado o código de ética e promover treinamento com os empregados, visando

à disseminação da cultura ética na organização. Finalmente, com vistas a

possibilitar que esta cultura ética se torne parte da cultura da organização, é

necessária a implementação de um sistema de monitoramento. Sobre isto, a

autora expõe:

“Para que se mantenha o alto nível do clima ético, resultante

do esforço de cada stakeholders, pode ser útil programar um sistema

de monitoramento e controle dos ambientes interno e externo da

organização, para detectar pontos que podem vir a causar uma

conduta antiética. Esse sistema, denominado por alguns de auditoria

ética, e por outros compliance, visa ao cumprimento das normas

éticas do código de conduta, certificando que houve aplicação das

políticas específicas, sua compreensão e clareza por parte de todos

os funcionários”.(ARRUDA, 2001, p.68)

Mas a eficácia desse processo depende da consideração de alguns passos

fundamentais. Segundo Moreira (2002) “(...) o primeiro passo para estabelecer um

programa de Ética numa empresa é a criação de um código com a participação de

todos os níveis da organização. A segunda etapa é a de treinamento para a

aceitação dos valores do código e, neste caso, para que funcione efetivamente

deve ser transmitido pelo chefe direto do funcionário. O compromisso com o

código de ética como um todo, deve valer também para os chefes, gerentes e/ou

diretores, que serão avaliados como qualquer funcionário”.

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69Uma boa conduta para garantir o funcionamento do programa de ética é a

criação de um canal de comunicação interno na empresa, inclusive com a

instalação do cargo de “ombudsman interno” divulgando seu funcionamento e sua

atuação.

Organizações têm optado por definir com clareza, no código, ações

disciplinares em casos de violação dos artigos.

Muitas vezes o descumprimento das determinações contidas no código de

ética pode ser passível de punições já previstas nas legislações trabalhistas, de

responsabilidade civil, penal, e outras. Entre os inúmeros tópicos abordados no

código de ética, predominam alguns como respeito às leis do país, conflitos de

interesse, proteção do patrimônio da instituição, transparência nas comunicações

internas e com os stakeholders da organização, denúncia, prática de suborno e

corrupção em geral.

As relações com os funcionários, desde o processo de contratação,

desenvolvimento profissional, lealdade entre os funcionários, respeito entre chefes

e subordinados, saúde e segurança, comportamento da empresa nas demissões,

entretenimento e viagem, propriedade da informação, assédio profissional e

sexual, alcoolismo, uso de drogas, entre outros, são aspectos que costumam ser

abordados em todos os códigos. Dentre os problemas éticos de maior

conhecimento público estão àqueles referentes às relações com os consumidores,

e sujeitos aos enquadramentos da lei de defesa do consumidor, incluindo-se

práticas de marketing, propaganda e comunicação, qualidade do atendimento e

reparações no caso de serem causados danos. Quanto à cadeia produtiva,

envolvendo fornecedores e empresas terceirizadas, o código de ética pode

estabelecer condutas de responsabilidade social, respeito à legislação, eventual

conduta restritiva, bem como estimular a melhoria dos parceiros visando um

crescimento profissional e mercadológico conjunto.

O código de ética pode também fazer referência à participação da empresa

na comunidade, dando diretrizes sobre as relações com os sindicatos, outros

órgãos da esfera pública, relações com o governo, entre outras.

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70Um aspecto extremamente atual é o da privacidade de informações, que

atinge particularmente funcionários, fornecedores e consumidores. É importante

levar em conta a sofisticada tecnologia disponível das gravações, filmagens e

outros recursos de telefonia, informática e comunicação. Relações com acionistas,

estabelecimento de políticas de convivência com os concorrentes, também são

pontos que devem constar do código de ética.

O código de ética de uma instituição seja ela governo, empresa, ou

Organização Não Governamental, teoricamente só pode ser vantajoso para os

seus vários públicos com os quais se relaciona, na medida em que fortalece a

imagem da organização.

Enquanto muitos executivos apenas o vêem como um modismo capaz de

capitalizar benefícios ou dividendos, outros têm se desdobrado para criar um

instrumento único, com adesão voluntária de todos os integrantes da organização,

incorporando de maneira natural e profissional os princípios éticos da instituição.

O código de ética costuma trazer para a empresa harmonia, ordem

transparência, tranqüilidade, em razão dos referenciais que cria, deixando um

lastro decorrente do cumprimento de sua missão e de seus compromissos.

Há, ainda, aqueles que, considerando que a consciência ética dos

integrantes de uma organização, desde os mais altos executivos até o mais

simples funcionário, é um patrimônio do indivíduo, defendem a não necessidade

de se implantar códigos de ética, já que a atuação de cada um proporcionará, por

via de conseqüência, um ambiente ético. Com efeito, a conduta ética das

empresas é o reflexo da conduta de seus profissionais. Tal conduta não se limita

ao mero cumprimento da legislação, sendo o resultado da soma dos princípios

morais de cada um de seus integrantes. Assim como a educação, a ética vem do

berço.

A conduta ética, portanto, que se espera das empresas vai muito além do

simples cumprimento da lei, mesmo porque, pode haver leis que sejam antiéticas

ou imorais. Importa que os homens de negócios sejam bem formados, que os

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71profissionais sejam treinados, pois o fundamental da questão está na formação

pessoal. Caso contrário, a implantação do código de ética será inócua.

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CONCLUSÃO

Pode ser que as pessoas estejam começando a perceber que não é

possível construir patrimônios estando apoiadas em ações administrativas que

prescindam da ética. É como se a antiga ilusão de ganhar dinheiro a qualquer

custo tivesse se transformado em desespero em face das vigorosas exigências

éticas. Ao deixar de ser uma ameaça, a ética conquista seu próprio espaço e se

transforma em possibilidade concreta de sucesso.

O presente texto traz uma modesta reflexão sobre a importância da ética no

mundo dos negócios, tendo como base a necessidade do executivo de integrar a

ética da responsabilidade com a ética da convicção.

A pressão internacional pela observância da ética no mundo dos negócios é

crescente. A sobrevivência em uma economia globalizada baseia-se,

fundamentalmente, na possibilidade de cada empresa estabelecer alianças e

parcerias duradouras com clientes, fornecedores, empregados e outros. Mas em

uma sociedade globalizada, cada vez mais consciente dos seus direitos, só o

respeito aos princípios éticos pode garantir a longevidade das organizações

empresariais.

A Ética é cada vez mais um tema presente e recorrente no contexto das

organizações, seja por necessidade identificada pelo próprio gestor, de

implementar padrões de comportamento e costumes que agreguem valor a sua

empresa, seja por imposição do mercado que abriga um consumidor cada vez

mais exigente e consciente dos seus direitos. A partir do momento que há o

despertar para relevância do assunto, ele passa a estar cada vez mais presente

nas atitudes das pessoas que compõem a organização e nas decisões que

venham a ser tomadas.

A importância da ética nas organizações é crescente pela facilidade e forma

de incentivo que as pessoas têm em praticar deslizes de ordem moral. As

empresas precisam investir em programas de incentivo ao comportamento ético,

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73assim como em treinamentos pontuais, pois não se pode treinar o indivíduo a ser

ético. É preciso destacar que ética não se aprende ouvindo ou lendo belos

discursos. Ética é, fundamentalmente, emoção, vivência, experiência singular. A

ética só se torna eficaz à medida que os tomadores de decisões adquirem a

capacidade de se indignar diante de ações ou fatos que antes não lhes afetavam.

Não podemos desconsiderar o fato de que ética implica investimento de médio e

longo prazo.

As empresas podem se constituir nos maiores vetores da moralização,

contribuindo decisivamente para a criação de um ambiente de negócios livre de

práticas irregulares que o transformam e o deturpam. A criação deste novo

ambiente só será possível com a propagação de regras éticas. Só a prática da

ética empresarial pode levar a obtenção de maior credibilidade dos parceiros e da

sociedade em geral e, com isso, gerar lucros cada vez maiores e mais seguros.

A prática da ética não é obtida pela simples vontade e determinação dos

controladores e administradores das empresas, ela só poder ser alcançada

através da implementação de um programa que englobe desde a eleição dos

princípios e adoção de um código de ética interno, até a luta contra os

concorrentes antiéticos.

Uma das palavras chave da reflexão ética é: responsabilidade, ou seja, o

dever de responder pelas conseqüências dos seus atos, em todas as decisões

tomadas. Está em jogo uma escolha fundamental em relação à identidade humana

de cada um, desta forma, a ética deve estar de acordo com os limites que a

pessoa se impõe na busca de sua ambição. Este aspecto se torna um problema

no mundo empresarial quando o gestor decide sua ambição antes de sua ética,

quando o certo seria o contrário.

As análises expostas ajudam a concluir parcialmente que ao relacionar o

conceito de ética à possibilidade de reduzir dimensões abusivas das ações dos

homens sobre sociedade pode ser fértil para novos estudos preocupados em

demonstrar que não existe incompatibilidade entre ética e êxito empresarial.

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74Para praticar a ética dentro da organização, torna-se necessário questionar

mais as teorias administrativas, para assim aprimorar o próprio senso de

observação revalidando, de tempo em tempos, as premissas na busca de ações

fundamentadas na ética e cidadania para o sucesso das empresas.

Valores como virtude, caráter, amizade, compaixão, respeito, dignidade,

fraternidade devem ser retomados. A busca constante do bem supremo, a procura

do mundo ideal de perfeição e virtude e, principalmente o amor ao próximo se

entendidos e praticados em toda a sua essência, podem adquirir uma dimensão

transformadora e revolucionária, capaz de abalar as estruturas de qualquer

sistema.

Como todo objeto de pesquisa, este não se encerra aqui, muito ainda terá

que ser estudado, afinal, o pensador deve aprender a conviver com a busca

constante da verdade, sabendo de antemão, que jamais irá encontrá-la.

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WEBGRAFIA

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www.responsabilidadesocial.com

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

CONCEITOS 10

1.1 – Definição de Moral e Ética 10

CAPÍTULO II

PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICA 13

2.1 – Idade Antiga 14

2.2 – Idade Média 18

2.3 – Idade Moderna 20

2.4 – Idade Contemporânea 21

CAPÍTULO III

ÉTICA EMPRESARIAL 25

3.1 – Evolução do Conceito de Ética Empresarial 25

3.2 – História da Ética Empresarial 29

3.3 – Ética Micro, Macro e Molar 31

3.4 – Reflexões sobre Ética nas Organizações 32

3.5 – Ética – Instrumento para Tomada de Decisão 36

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80CAPÍTULO IV

RESPONSABILIDADE SOCIAL 42

4.1 – Evolução Histórica 42

4.2 – Responsabilidade Social no Brasil 46

4.2.1 – Algumas Experiências Significativas 46

4.3 – Responsabilidade Social Corporativa 50

4.4 – Balanço Social 56

4.5 – O Governo e a Responsabilidade Social 60

CAPÍTULO V

CÓDIGO DE ÉTICA 63

5.1 – Conceito 63

5.2 – Conteúdo 64

5.3 – Importância nas Organizações 66

CONCLUSÃO 72

BIBLIOGRAFIA 75

WEBGRAFIA 78

ÍNDICE 79

FOLHA DE AVALIAÇÃO 81

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre

Título da Monografia: Ética Empresarial

Autor: Elizabeth Aôr

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: