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Praticando as estratégias de leitura Leia o seguinte texto e, a seguir, responda às questões propostas. O Nascimento da Filosofia (1°§) A reflexão filosófica, com as características descritas, nasceu na Grécia no século VI a.C.,com os filósofos que antecederam Sócrates. (2°§) A passagem da consciência mítica e religiosa para consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de certos limites, coexistem na nossa. O processo de urbanização e organização política ao redor das cidades exigiram a regulamentação de atividades dos indivíduos, levando os homens à procura de maior racionalidade da ação e do pensamento. Á teogonia opôs-se a cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca do arché, do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo. Esta busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na questão central para os pré-socráticos. As respostas foram múltiplas e divergentes: para alguns era a água, para outros, o ar, para outros, ainda o fogo ou os outros quatro elementos. E, com essa diversidade de respostas, rompe-se a atitude mítica, monolítica e dogmática, embora o conteúdo da reflexão filosófica permaneça muito semelhante ao do mito, pois a estrutura do entendimento do mundo é semelhante. (3°§) Hesíodo, no século VIII a.C, faz o relato da origem do mundo, segundo qual Gaia (Terra) surge do Caos inicial, e depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontós (Mar). Une-se, então, a Urano e dá inicio as gerações divinas. Como se vê, no mito esses seres primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. Alguns filósofos gregos, por sua vez, explicam que a partir de um estado inicial de indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido etc.), que vai gerar os seres naturais, como o céu de fogo, o ar frio, a terra seca e o mar úmido. Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo o que vive. Portanto, os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite a interferência dos deuses; do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate e a discussão. (4°§) Com Sócrates, essa busca da discussão e do rigor leva à criação do chamado método socrático. (5°§) Voltando sua atenção para o problema do homem, Sócrates faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes humanas, determinando e definindo essas qualidades como sendo a bondade, a justiça, a temperança, a coragem etc. Sócrates, entretanto, não define o próprio ser humano. Por que? Porque o homem, ao contrário da natureza, não pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da consciência. E para alcançarmos uma visão clara do caráter do homem, para compreendê-lo, precisamos encará-lo face a face, através do diálogo. (6°§) O método socrático envolve duas fases. A primeira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com profundidade, seu ponto de

Praticando as Estratégias de Leitura

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Exercicio Práticas de Leitura

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Page 1: Praticando as Estratégias de Leitura

Praticando as estratégias de leitura Leia o seguinte texto e, a seguir, responda às questões propostas.

O Nascimento da Filosofia

(1°§) A reflexão filosófica, com as características descritas, nasceu na Grécia no século VI a.C.,com os filósofos que antecederam Sócrates.

(2°§) A passagem da consciência mítica e religiosa para consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de certos limites, coexistem na nossa. O processo de urbanização e organização política ao redor das cidades exigiram a regulamentação de atividades dos indivíduos, levando os homens à procura de maior racionalidade da ação e do pensamento. Á teogonia opôs-se a cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca do arché, do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo. Esta busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na questão central para os pré-socráticos. As respostas foram múltiplas e divergentes: para alguns era a água, para outros, o ar, para outros, ainda o fogo ou os outros quatro elementos. E, com essa diversidade de respostas, rompe-se a atitude mítica, monolítica e dogmática, embora o conteúdo da reflexão filosófica permaneça muito semelhante ao do mito, pois a estrutura do entendimento do mundo é semelhante.

(3°§) Hesíodo, no século VIII a.C, faz o relato da origem do mundo, segundo qual Gaia (Terra) surge do Caos inicial, e depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontós (Mar). Une-se, então, a Urano e dá inicio as gerações divinas. Como se vê, no mito esses seres primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. Alguns filósofos gregos, por sua vez, explicam que a partir de um estado inicial de indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido etc.), que vai gerar os seres naturais, como o céu de fogo, o ar frio, a terra seca e o mar úmido. Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo o que vive. Portanto, os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite a interferência dos deuses; do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate e a discussão.

(4°§) Com Sócrates, essa busca da discussão e do rigor leva à criação do chamado método socrático.

(5°§) Voltando sua atenção para o problema do homem, Sócrates faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes humanas, determinando e definindo essas qualidades como sendo a bondade, a justiça, a temperança, a coragem etc. Sócrates, entretanto, não define o próprio ser humano. Por que? Porque o homem, ao contrário da natureza, não pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da consciência. E para alcançarmos uma visão clara do caráter do homem, para compreendê-lo, precisamos encará-lo face a face, através do diálogo.

(6°§) O método socrático envolve duas fases. A primeira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com profundidade, seu ponto de

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vista, até que ele perceba que seus argumentos não se sustentam. Essa é a fase destrutiva, pois leva a pessoa a admitir a própria ignorância a respeito do assunto. São destruídas suas opiniões do senso comum e do conhecimento contemporâneo, muitas vezes baseados em estereótipos e preconceitos. A segunda, chamada maiêutica (parto), é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional. Assim, Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído para, depois, ainda através das perguntas e da contraposição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigoroso.

(7°§) Com o trabalho desses pensadores nasce a filosofia, que continua a se desenvolver através dos séculos como reflexão crítica e radical sobre a totalidade da vida humana.

Texto extraído do livro: ARANHA, Maria Lucia & ARRUDA, Maria Lucia. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992, p.75-6.

1- Em cada um parágrafos do texto, há uma ideia principal. Considerando as dicas dadas na estratégia 3, levante as ideias de cada um deles.

Atenção: em alguns parágrafos, far-se-á necessário reelaborar uma frase que represente o núcleo do pensamento do autor do parágrafo. Nos demais, a frase pode ser extraída diretamente. Nesse caso, use as aspas.

1° “A reflexão filosófica [...] nasceu na Grécia no século VI a.C.”

2° “A passagem da consciência mítica e religiosa para consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega. [...] Á teogonia opôs-se a cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca do arché, do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo”.

3° “Os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite a interferência dos deuses; do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate e a discussão”.

4° “[A] busca da discussão e do rigor leva à criação do chamado método socrático”

5° “Sócrates faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes humanas, [...] o homem, ao contrário da natureza, não pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da consciência”.

6° “O método socrático envolve duas fases. [...] Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído para, depois, ainda através das perguntas e da contraposição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigoroso”.

7° “Com o trabalho desses pensadores nasce a filosofia[...] como reflexão crítica e radical sobre a totalidade da vida humana”.

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2- No sexto parágrafo, as autoras utilizaram-se de uma estratégia linguística, descrita em 5. Explique que estratégia é essa. A seguir, transcreva as marcas que concretizam essa estratégia linguística.

Neste parágrafo são usadas duas estratégias: A primeira serve para “indicar divisão de ideias/organização do texto” e foi marcada em azul. A segunda é para “gerir ou inserir exemplos” e o marcador foi ressaltado em cor verde.

O método socrático envolve duas fases. A primeira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com profundidade, seu ponto de vista, até que ele perceba que seus argumentos não se sustentam. Essa é a fase destrutiva, pois leva a pessoa a admitir a própria ignorância a respeito do assunto. São destruídas suas opiniões do senso comum e do conhecimento contemporâneo, muitas vezes baseados em estereótipos e preconceitos. A segunda, chamada maiêutica (parto), é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional. Assim, Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído para, depois, ainda através das perguntas e da contraposição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigoroso.

3- O terceiro parágrafo é construído a partir de dois relatos. Que relatos são esses? Identifique a estratégia linguística empregada pelas autoras.

Os dois relatos são o relato mítico (representado no texto pelo exemplo que Hesíodo) e o relato filosófico (representado por outros filósofos, não especificados no texto). A estratégia usada serve para “expor alternativas” e foi ressaltada em laranja.

Hesíodo, no século VIII a.C, faz o relato da origem do mundo, segundo qual Gaia (Terra) surge do Caos inicial, e depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontós (Mar). Une-se, então, a Urano e dá inicio as gerações divinas. Como se vê, no mito esses seres primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. Alguns filósofos gregos, por sua vez, explicam que a partir de um estado inicial de indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido etc.), que vai gerar os seres naturais, como o céu de fogo, o ar frio, a terra seca e o mar úmido. Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo o que vive. Portanto, os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite a interferência dos deuses; do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate e a discussão.

4- A expressão "com o trabalho destes pensadores", no contexto inserido, serve estrategicamente ao texto como:

a. uma referência resumida às informações já ditas anteriormente

b. uma referência às informações ainda a serem apresentadas

Dadas as duas opções acima, justifique sua escolha, considerando todo o texto.

Já no primeiro parágrafo se resume o contexto no qual surge a filosofia (“A reflexão filosófica, com as características descritas, nasceu na Grécia no século VI a.C.,com os filósofos que antecederam Sócrates”). Nos parágrafos seguintes, são apresentados fatos, ideias e autores para desenvolver tal afirmação, que é enfatizada no parágrafo final para fechar o texto.

5- Escolha uma das estratégias propostas por ABAURRE, M. L. M. & ABAURRE, M. B. M, 2007 e aplique ao texto.

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Aplicando a estratégia proposta para “organizar as próprias ideias com relação aos eventos relevantes”, penso que é fundamental entender o contexto de surgimento da filosofia na Grécia antiga para entender muitos dos clichês e preconceitos inerentes ao modelo de pensamento ocidental. Concordo por um lado na perspectiva processual usada pelas autoras para explicar o surgimento da filosofia, pois a filosofia não surgiu de uma vez. Porém, discordo no fato da separação apontada pelos filósofos gregos entre natureza e racionalidade, ou religião e filosofia, que levou a uma descontextualização do ser e o fazer humano do entorno e do contexto, e pautou uma ideia de “ordem social naturalizado” que ainda hoje é a base da jurisdição e das tradições filosófica e científica ocidentais.

6- Considerando o contexto em que se inserem, explique o significado das expressões abaixo:

a. "Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído (...)"(6°§)

Neste caso, se usa uma metáfora arquitetônica para enfatizar o impacto da perspectiva socrática (método socrático) na transformação das formas de pensamento precedentes.

b."rompe-se a atitude" (2°§)

Neste caso, é também usada uma metáfora de uma ação física para explicar a mudança de paradigma causada pelas novas ideias. A “rotura” exemplifica o cambio.