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Aproximação e ruptura com os cânones na obra de Gonçalo M. Tavares Literatura e vida social Fontes Primárias e História Literária Profa. Drª. Silvia Maria Azevedo RESUMO: O presente projeto centra-se em trabalhar na tese de doutorado com o autor português de origem angolana Gonçalo M. Tavares. Aclamado pela crítica portuguesa e europeia Gonçalo tem se caracterizado por romances e poemas com uma linguagem inovadora. Seu trabalho é fortemente influenciado pelos grandes autores e críticos literários que a humanidade já conheceu e, por isso, a característica inerente ao texto é de intensa intertextualidade e dialogia. E dentro dessa perspectiva o teórico que mais se destaca é Bakhtin, trabalhando com conceitos de “dialogismo, polifonia e carnavalização”, dentre outros. Bakhtin conseguiu notoriedade nos diversos centros acadêmicos do mundo, dentre ele o Brasil. Uma das mais

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Aproximação e ruptura com os cânones na obra de Gonçalo M. Tavares

Literatura e vida social

Fontes Primárias e História Literária

Profa. Drª. Silvia Maria Azevedo

RESUMO: O presente projeto centra-se em trabalhar na tese de doutorado com o autor português de origem angolana Gonçalo M. Tavares. Aclamado pela crítica portuguesa e europeia Gonçalo tem se caracterizado por romances e poemas com uma linguagem inovadora. Seu trabalho é fortemente influenciado pelos grandes autores e críticos literários que a humanidade já conheceu e, por isso, a característica inerente ao texto é de intensa intertextualidade e dialogia. E dentro dessa perspectiva o teórico que mais se destaca é Bakhtin, trabalhando com conceitos de “dialogismo, polifonia e carnavalização”, dentre outros. Bakhtin conseguiu notoriedade nos diversos centros acadêmicos do mundo, dentre ele o Brasil. Uma das mais notáveis interpretes da teoria bakhtiniana é Julia Kristeva que será também nosso objeto de estudo com a teoria da intertextualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Bakhtin; Intertextualidade; Gonçalo M. Tavares.

JUSTIFICATIVA:

Os escritores literários canonizados pela crítica tem algo em comum: sua

inovação nas obras por eles produzidas. A ruptura com o tradicional faz de cada escrito

único e, portanto, de um significado especial. Mesmo seguindo uma corrente estética e

filosófica e não fugindo dos enlaces da cosmovisão de mundo de sua época, o autor

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canônico é reverenciado por trazer ao público uma novidade. Foi assim com Cervantes,

Baudelaire, Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre outros.

Obras que marcaram a história da humanidade foram aquelas que quebraram os

paradigmas da sua época rejuvenescendo a literatura e também a história. Ao romper

com os pressupostos já delineados pela crítica o autor também muda os rumos da crítica

literária produzindo, assim, novos paradigmas críticos para o novo texto.

No mundo contemporâneo, à qual estamos inseridos, há uma clara distinção

entre “moderno” e “ultrapassado”, até porque nesta época caracteriza-se por mudanças

aceleradas, o obsoleto pode ser o que foi criado no ano anterior, como é o caso dos

artigos relacionados à computação e telefonia.

Nas artes em geral, e consequentemente anexamos a literatura, ainda não

definimos nossas características para a fase que vivemos, pois ainda estamos envolto

nas neblinas do agora e não temos o distanciamento necessário para fazer um

julgamento mais apropriado para nossa época. Mas não é por este motivo que não

podemos olhar com os olhos da crítica literária em nosso tempo.

Os filósofos, sociólogos e críticos literários se apoiam em teorias que

aprofundam no exame das raízes filosóficas e sociológicas das gerações que ainda

vivem em nossos dias. Graças a eles nós estamos caminhando no desvendamento do

labirinto do final do século XX e começo do século XXI.

Um dos autores que estão buscando novas dimensões em seus escritos e que tem

começado a influenciar nossa geração é Gonçalo M. Tavares. Angolano de nascimento e

português por ascendência dos pais, ele tem admiradores em Portugal, na Europa e

Brasil. Seus escritos inovadores fizeram arrancar aplausos do aclamado José Saramago

pouco antes da sua morte.

Gonçalo tem como principal característica a aproximação e, ao mesmo tempo,

ruptura dos textos canônicos e dos principais autores literários do mundo. Para ele não

há acepção de autores, sejam eles europeus, americanos, latinos, todos que têm

potencial e são consagrados pela crítica literária merece destaque em sua obra.

A reverência aos principais autores literários fica evidente na sua coleção

intitulada “O Bairro” nessa coletânea encontramos nomes como: Itálo Calvino, Kraus,

Breton, Eliot, Valéry, Swedenborg, Brecht etc. Os autores são reverenciados por ele,

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mas ao mesmo tempo são ironizados, por isso a posição de aproximação e ruptura de

Gonçalo.

Nessa coletânea os autores renomados são vistos como vizinhos num único

bairro. Suas atividades são bastante diferenciadas desde conferencista, como o senhor

Eliot, contadores de histórias, pensadores matemáticos, dentre outras atividades. “O

Bairro” é um reduto como outro qualquer, com moradores das mais diversas origens e

atividades.

Os personagens têm vidas simples e pacatas, como num bairro pequena cidade

do interior, onde a vida passa devagar, quase parando. Não há qualquer menção sobre o

nome da cidade, a região e o país que está inserido. É um espaço próprio único daquele

ambiente, mas que ao mesmo tempo pode ser qualquer lugar, em qualquer cidade.

Nesse lugar que a vida passa docemente emerge os personagens que são

chamados de “senhores”: O Senhor Eliot, O Senhor Swedenborg, O Senhor Valéry, O

Senhor Breton etc. Esses senhores que representam seus pares na vida real têm

experiência que os aproximam de seres humanos que viveram realmente. Cada um

transita entre o imaginário e o real.

Mas essas relações de aproximação são, também, de distanciamento. Os

“senhores” adquirem expressões próprias, características que começam a ser definidas

aproximando personagem/ser que existiu e paulatinamente o que aproxima se distancia

ironia e construção estrutural do romance.

Gonçalo da aos personagens vida própria, como ele mesmo afirma. São

construto inspirados na vida real que ganha dentro do espaço romanesco identidades que

são só deles, suas vidas são destituídas de significação real acham constituídas dos

elementos da teoria literária.

Gonçalo escreveu vinte e quatro obras e dentre essas dez são da coleção “O

Bairro” que será o objeto de estudo no doutorado. Quatro trabalhamos na dissertação de

mestrado: O senhor Eliot e as conferências (2012); O senhor Swedenborg e as

investigações geométricas (2011); O Senhor Breton e a entrevista (2009) e O senhor

Calvino (2007); os outros seis romances que pretendemos analisar na tese do doutorado

são eles: O senhor Walser (2008); O senhor Kraus (2007); O senhor Juarroz (2007); O

senhor Brecht (2005); O senhor Henri (2003) e O senhor Valéry (2002).

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Os quatro primeiros romances que já foram estudados na dissertação serão o

“background” que nos ajudaram a entender o objetivo do autor, narrador e personagens

dentro da coleção. Os seis títulos inéditos se destacaram no corpus do trabalho, já que

eles ainda não tiveram destaques significativos em pesquisas anteriormente realizadas.

Na elaboração das obras de Gonçalo nota-se também uma mistura de gêneros

literários, a poesia se mistura com a prosa, a prosa com a poesia e a prosa com figuras

geométricas, o autor valoriza a forma com que as palavras e figuras são ordenadas na

página causando um efeito estético impressionante.

Gonçalo é um autor do nosso tempo. Seus personagens marcam a fragmentação

que caracteriza nossos dias. Neste interim podemos contar com alguns textos teóricos

para analisar sua obra. Autores como Bakhtin e Julia Kristeva que teorizam sobre

intertextualidade e carnavalização da linguagem podem nos auxiliar a explicar seu

trabalho estético e os personagens/autores que Gonçalo elabora em sua obra. Conceitos

como “carnavalização” “intertextualidade”, “paródia” e “dialogismo” são frutos do

estudo de Bakhtin. Ele mesmo aplicou suas pesquisas em textos literários e

pesquisadores da literatura também estão utilizando as para explicar

OBJETIVOS:

Objetivos gerais:

Conhecer e propagar a literatura do português Gonçalo M. Tavares. Seus escritos

estão em fase inicial de publicação, se levar em conta que seus primeiros trabalhos

começaram a ser publicados no ano 2000 temos nos dias atuais apenas quatorze anos

que o público começou a ler e apreciar suas obras.

Alcançar um público que aprecia as obras de Tavares e outros que possam se

interessar pela obra do mesmo. Conferir ao autor fortuna crítica, pois nestes anos foram

vinte e quatro publicações e apenas duas obras acadêmicas no Brasil as analisaram.

Portanto haja vista o ineditismo do trabalho seu objetivo geral é divulgar a literatura

gonçalina.

Objetivos específicos:

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Analisar as relações da obra de Tavares com o trabalho de Bakhtin e teóricos da

intertextualidade aplicando no texto romanesco suas considerações. Levar em conta a

teoria da intertextualidade nos seus diversos liames com o texto dos romances da

coleção “O Bairro” apontando suas aproximações teoria/romances e propondo possíveis

caminhos para futuros trabalhos do gênero.

Refletir sobre a literatura contemporânea colocando em questionamento a escrita

literária e seu papel diante do emaranhado de teorias, opiniões e ideias. Levar em conta,

para isso, o desenvolvimento da escrita pelo escritor, quando ele está defronte dos

diversos movimentos que reivindicam sua autonomia atualmente.

Pensar na maneira que as vozes se entrelaçam dentro do texto. O romance de

Tavares é afetado diretamente pela sociedade? Quais são as influências que se

sobressaem no texto.

METODOLOGIA:

Desenvolveremos nossa pesquisa como método dedutivo, ou seja, do geral para

o particular. Inicialmente comentaremos sobre a teoria de Bakhtin e suas principais

ramificações no círculo acadêmico, os ensaios: Discurso na vida e na arte (2011);

Marxismo e filosofia da linguagem (1998) e Estética da criação verbal (1999) serão

alguns das principais linhas condutoras desse trabalho.

PLANO:

Atividades:

Levantamento de Literatura; Montagem do Projeto; Coleta de Dados;

Tratamento dos dados; Elaboração do Relatório Final; Revisão do Texto da Tese;

Entrega do Trabalho; Qualificação; Revisão, acato das propostas feitas pela banca;

Defesa da Tese.

CRONOGRAMA PARA 2014.

Iniciaremos a primeira fase das atividades no mês de agosto do ano de 2014 e a

finalizaremos no mês de dezembro do mesmo ano. Nesse período nos atentaremos para

o levantamento da bibliografia principal, destacando os materiais escritos pelos próprios

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autores da teoria que seja pertinente para a realização da tese. Todos dados coletados na

primeira fase serão objetos de leitura na fase posterior.

Materiais que complementam a bibliografia principal serão considerados em

todas as fases do projeto. Eles deverão ser tratados como fonte auxiliar de pesquisa que

poderão completar lacunas obscuras e sanar possíveis dúvidas que surgem no decorrer

do percurso.

CRONOGRAMA PARA 2015.

A segunda fase dar-se-á de janeiro a junho de 2015, fase esta que constará

leitura, fichamento e fichas de leitura. Todos os dados serão analisados para inclusão ou

descarte na base teórica da tese, podendo nesse momento também ser inclusas novos

trabalhos que acrescentarão corpus a base teórica.

Primeira redação da tese deverá ser feita entre julho a dezembro de 2015. Nessa

etapa abordaremos a redação do primeiro capítulo que englobará primeiro a teoria

bakhtiniana e depois a teoria da intertextualidade que é fruto da primeira. Destacaremos

os autores fundadores das teorias, Bakhtin e Julia Kristeva e autores comentaristas

desses estudos.

CRONOGRAMA PARA 2016.

As atividades no ano de 2016 será a continuação da primeira redação da tese,

agora já começando as análises dos primeiros três romances da coleção “O Bairro” de

Gonçalo M. Tavares. Nesta fase de análise buscaremos unir a teoria com os romances,

gerando sentido e buscando entender as forças teóricas e metodológicas que agem

dentro de cada narrativa. Os romances, nosso objeto de pesquisa, por ordem de análise:

O senhor Valéry (2002); O senhor Henri (2003); O Senhor Brecht (2005);

CRONOGRAMA PARA 2017.

Nos seis primeiros meses de 2017 nos atentaremos a analisar os três romances

gonçalinos restantes: O Senhor Kraus (2007); O Senhor Juarroz (2007) e O Senhor

Walser (2008).

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Nos três primeiros meses do segundo semestre nos atentaremos para fazer a

revisão final da tese. E nos três últimos a entrega do material para apreciação dos

membros da banca e, consequentemente a qualificação. Revisão da tese acatando as

observações da banca da qualificação.

CRONOGRAMA PARA 2018.

Primeiro semestre de ano, defesa da tese diante da banca.

Relação da Bibliografia:

BAKHTIN, M.M; VOLOSHNOV, V. N. Discurso na vida e na arte. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dl/noticias/downloads/Curso_Bakhtin2008_Profa.%20MaCristina_Sampaio/ARTIGO_VOLOSH_BAKHTIN_DISCURSO_VIDA_ARTE.pdf. Data de acesso: 28/01/2011

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

BARROS, Diana Luz Pessoa de; FIORIN, José Luiz(orgs). Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. Ed. 2ª. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, 2003.

CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006.

FARACO, C. A. (org.) Diálogos com Bakhtin. Curitiba: UFPR, 2001.

FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. 1 ed. Curitiba: Criar edições, v1, p.13-43, 2003.

JENNY, Laurent. Intertextualidade(Poétique): A Estratégia da Forma nº27. Trad. Clara Crabbé Rocha. Ed. Livraria Almeida Coimbra. Paris, França, 1979.

KOCH, Ingedore G. Villaça; BENTES, Anna Christina; CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Intertextualidade: Diálogos Possíveis. Editora Cortes, São Paulo-SP, 2007.

MOISÉS, Massaud. A Literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1986.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Eliot e as conferências. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Swedenborg e as investigações geométricas. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.

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TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Breton. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

TAVARES, Gonçalo M. Jerusalém. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2006.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Breton. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Walser. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Calvino. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Juarroz. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Kraus. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.

TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Brecht. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.

TAVARES, Gonçalo M. 1: poemas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

TAVARES, Gonçalo M. Investigações Novalis. 1ª ed. Lisboa, Portugal, Ed. Difel, 2002.

TAVARES, Gonçalo M. O Homem é tonto ou é Mulher. Porto/PT: Campo das Letras, 2002.

SAID, EDWARD W. Orientalismo. O oriente como invenção do ocidente. Trad. Rosaura Eichenberg.São Paulo: Companhia das Letras, 1899.

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04/02/2014,

Fabiano Cardoso

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