Princípios para a aplicação do conceito Passive House em Portugal

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  • 7/24/2019 Princpios para a aplicao do conceito Passive House em Portugal

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    Universidade do MinhoEscola de Engenharia

    Joo Rui Santos Pires Gavio

    Princpios para a aplicao doconceito Passive Houseem Portugal

    Tese de Mestrado em Construo e ReabilitaoSustentveis

    Trabalho efectuado sob a orientao da ProfessoraDoutora Sandra Maria Gomes Monteiro da Silva

    Novembro de 2012

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    autorizada a reproduo integral desta tese/trabalho apenas para efeitos de investigao,

    mediante declarao escrita do interessado, que a tal se compromete

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    Agradecimentos

    Agradeo minha famlia e em especial Diana Gavio, aos meus amigos, Homegrid e

    professora Sandra Silva por todo o apoio prestado para a realizao deste trabalho.

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    Principles for the application of the Passive House concept in Portugal

    Abstract

    The current energy consumption, based particularly in oil resources and with its growth rates, is

    the basis of many problems that human kind faces. The oil reserves are finite and are going

    towards its end. The safety of energy supply has been constantly challenged. The current CO

    concentration in the atmosphere is already a threat to the stability of the planet. If nothing is

    done, human kind will have to adjust our lives and way of living with a temperature increase by 6

    C. In this scenario, the balance of the planet has already been totally undermined.

    To switch the energy paradigm it isnt a future challenge. Right now it must be given solutions

    and set ambitious targets for such switch occurs. It is essential to reduce consumption and

    change energy sources.

    According to Wolfgang Feist The best energy is less energy. Feist defends that energy efficiency

    is the most important, the most economic and the safest energy option. The buildings sector, as

    a major energy consumer, has considerable potential for energy savings. The Passive House

    concept arises as an efficient response in terms of energy, economy and comfort.

    The challenge is to apply the Passive House concept in building sector in Portugal and to move

    the existing building stock standards to high energy efficiency and comfort standards in an

    affordable way. This may be an important contribution to the reduction of energy consumption

    and COemissions aiming the countrys energy independence.

    Keywords:Building Renovation, Energy Efficiency, Passive House, Thermal comfort, Indoor AirQuality

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    ndice

    1. Introduo

    1.1 Enquadramento 11.2 Objectivos 2

    2. A energia e o ambiente construdo

    2.1 O panorama energtico mundial 5

    2.1.1 Os consumos energticos a nvel mundial2.1.2 Os riscos do actual padro de consumo

    56

    2.2 As emisses de CO e as alteraes climticas 7

    2.3 Cenrios para o consumo energtico e para as emisses de CO 8

    2.3.1 O Cenrio de Referncia da IEA2.3.2 O Cenrio 450 da IEA2.3.3 Outros cenrios

    91012

    2.4 O sector dos edifcios 12

    2.5 O panorama energtico em Portugal 14

    2.5.1 O consumo energtico2.5.2 A dependncia externa

    1415

    2.6 O ambiente construdo em Portugal 17

    2.6.1 A exploso do sector da construo

    2.6.2 O parque habitacional2.6.3 O consumo energtico dos edifcios

    17

    1819

    2.7 Eficincia energtica 19

    2.7.1 A eficincia energtica como prioridade2.7.2 A eficincia energtica nos edifcios2.7.3 O enquadramento legislativo em Portugal

    192021

    2.8 A reabilitao do parque edificado em Portugal 25

    2.8.1 A reabilitao de edifcios2.8.2 Mudana de paradigma no sector da construo2.8.3 O peso actual da reabilitao

    2.8.4 Os programas de incentivo reabilitao

    252627

    283. O conceitoPassive House 29

    3.1 O que significa ser Passive House 29

    3.2 Origem e desenvolvimento do conceito 29

    3.3 A implementao do conceito 33

    3.4 Os padres Passive House 36

    3.5 Os princpios fundamentais 39

    3.6 Envolvente opaca do edifcio 40

    3.7 Vos envidraados 41

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    3.8 Estanquidade 42

    3.9 Ventilao 45

    3.10 Ganhos solares e ganhos internos 49

    3.11 Modelao energtica clculo balano energtico 50

    3.12 A certificao Passive House 51

    3.13 Comparao entre Passive Housee Solar Passivo 51

    3.14 Passive Housecomo padro para o NZEB 58

    3.15 60

    3.15.1 Passive-On3.15.2 Estudo - Passive Houses in South West Europe3.15.3 Exemplos de edifcios Passive Houseem pases do Sudoeste Europeu

    616365

    3.16 A reabilitao nos padres Passive House 703.16.1 A certificao EnerPHit3.16.2 Exemplos de edifcios reabilitados de acordo com os padres PassiveHouse

    7172

    4. Caso de Estudo primeiras Passive Housesem Portugal

    4.1 Metodologia 77

    4.2 O processo de adaptao ao conceito Passive House 78

    4.3 A definio dos princpios Passive House 83

    4.4 A melhoria da envolvente do edifcio 844.4.1 Parede exterior4.4.2 Cobertura4.4.3 Janelas

    858788

    4.5 O sistema de ventilao 89

    4.6 A estanquidade 91

    4.7 Equipamentos 93

    4.8 Resultados do PHPP 94

    4.9 Monitorizao 95

    4.10 Custos 96

    4.11 Outras consideraes 97

    5. Princpios para a reabilitao Passive House

    5.1 Passive House Planning Package(PHPP) 99

    5.2 Levantamento do edifcio 99

    5.3 Alteraes arquitectura 100

    5.4 Melhoria da evolvente do edifcio 101

    5,4,1 Isolamento5.4.2 Coeficiente de transmisso trmica dos elementos da envolvente 101102

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    5.4.3 Minimizao das pontes trmicas5.4.4 Janelas

    106108

    5.5 Estanquidade 110

    5.6 Sistema de Ventilao 1125.7 Equipamento 112

    5.8 Custos 113

    6. Concluses e trabalhos futuros

    6.1 Concluses 115

    6.2 Trabalhos futuros 117

    Referncias bibliogrficas 119

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    Lista de figuras

    Figura 1 Evoluo do consumo mundial de energia final, por regio, em Mtep 3

    Figura 2 Evoluo do consumo mundial de energia final, por fonte, em Mtep 4

    Figura 3 Evoluo das emisses mundiais de CO2, por regio, em Mt 6

    Figura 4 Cenrio de Referncia - procura de energia primria a nvel mundial, porfonte

    7

    Figura 5 Cenrio de Referncia evoluo das emisses mundiais de GEE, por tipode gs

    8

    Figura 6 Cenrio de Referncia e Cenrio 450 evoluo das concentraes de GEE 9

    Figura 7 Cenrio 450 evoluo das emisses de GEE, por tipo de gs 9

    Figura 8 Evoluo do consumo total de energia primria em Portugal, por fonte, emKtep

    13

    Figura 9 Evoluo do consumo total de energia final em Portugal, por sector, emKtep

    12

    Figura 10 Evoluo da dependncia energtica de Portugal, em percentagem 14

    Figura 11 Evoluo do dfice da dependncia energtica de Portugal, em percentagemdo PIB

    14

    Figura 12 Distribuio do stock habitacional na UE-25 15

    Figura 13 Evoluo das reabilitaes e construes novas em Portugal 17

    Figura 14 Peso do investimento na reabilitao, dentro do sector da construo, empercentagem

    25

    Figura 15 Vista geral do Philips Experimental House Project em Aachen, Alemanha 28

    Figura 16 Vista geral do edifcio sede do Rocky Mountain Institute no Colorado, EUA 29

    Figura 17 Vista interior do edifcio sede do Rocky Mountain Institute no Colorado, EUA 29

    Figura 18 Vista do alado Sul, no Vero de 1992, do primeiro edifcio Passive House,em Darmstadt

    30

    Figura 19 Vista geral, na Primavera de 2006, do primeiro edifcio Passive House, emDarmstadt

    31

    Figura 20 Exemplo Passive Houseedifcio de habitao colectiva concludo em 2009em Innsbruck, ustria

    32

    Figura 21 Exemplo de Passive Houseedifcio de habitao unifamiliar em Namakura(Japo)

    33

    Figura 22 Preservao de energia vs desperdcio de energia 37

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    Figura 23 Princpios fundamentais de um edifcio Passive House 38

    Figura 24 Isolamento contnuo na envolvente do edifcio 39

    Figura 25 Representao da ocorrncia de condensaes devido a juntas e fissuras 41

    Figura 26 Representao do blower door test no primeiro edifcio Passive HouseemDarmstadt

    43

    Figura 27 Grfico da evoluo da concentrao de CO2 no quarto com 2 ocupantes 44

    Figura 28 Representao esquemtica de um permutador de calor 46

    Figura 29 Vista da estufa na estao de aquecimento e na estao de arrefecimento 54

    Figura 30 Vista da fachada Sul 55

    Figura 31 Vista da fachada Sul 55

    Figura 32 Relao entre valor de U e rea da envolvente/volume, em diferentesedifcios

    57

    Figura 33 Vista do modelo e a incidncia solar no Vero 59

    Figura 34 Estimativa das necessidades anuais de aquecimento e de arrefecimentopara uma casa convencional e uma Passive House

    60

    Figura 35 Vista do edifcio de escritrios em Bolonha 63

    Figura 36 Vista do edifcio de habitao em Bessancourt 64

    Figura 37 Vista do edifcio de habitao em Granada 65

    Figura 38 Vista do edifcio de habitao em Navarra 66

    Figura 39 Vista do edifcio de habitao em Lleida 67

    Figura 40 Vista do edifcio de habitao reabilitado em Nova Iorque 71

    Figura 41 Vista do edifcio de habitao reabilitado em Magny Les Hameaux 72

    Figura 42 Vista do edifcio de habitao colectiva reabilitado em Freiburg 73

    Figura 43 Vista area da localizao das moradias 76

    Figura 44 Vista do incio da execuo da obra 76

    Figura 45 Vista da execuo das fundaes 77

    Figura 46 Vista da execuo da estrutura 77

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    Figura 47 Vistas da execuo das alvenarias 77

    Figura 48 Plantas das habitaes, respectivamente: rs-do-cho, 1 andar e sto 79

    Figura 49 Vista geral das moradias - modelo 3D 80

    Figura 50 Vista geral das moradias - modelo 3D 80

    Figura 51 Critrios Passive Housepara as duas moradias 82

    Figura 52 Corte construtivo da fachada 83

    Figura 53 Soluo inicial e final da parede exterior 84

    Figura 54 Vista da execuo das alvenarias exteriores 84

    Figura 55 Soluo inicial e final da cobertura 85

    Figura 56 Vista da execuo da cobertura 85

    Figura 57 Soluo inicial e final da janela 86

    Figura 58 Vista da execuo das caixas de estore 87

    Figura 59 Esquema de princpio do sistema de ventilao 88

    Figura 60 Vista da execuo das tubagens do sistema de ventilao 89

    Figura 61 Aplicao de banda betuminosa flexvel na ligao da tubagem de ventilaocom a parede

    90

    Figura 62 Aplicao de vedantes base de poliuretano nas caixas das tomadas 90

    Figura 63 A Homegrid e a equipa do ITeCons na realizao do Blower Door Test 91

    Figura 64 Resultado instantneo do Blower Door Test 91

    Figura 65 Folha de rosto do PHPP com os dados da verificao da moradia B 93

    Figura 66 Diagrama com as seis vertentes e as vinte e duas reas do sistema LiderA 95

    Figura 67 Comparao entre solues construtivas para a ligao em L de umaparede e as diferenas das temperaturas obtidas

    99

    Figura 68 Exemplo de soluo construtiva de pavimento trreo, existente e reabilitada 101

    Figura 69 Exemplo de soluo construtiva de parede exterior, existente e reabilitada 102

    Figura 70 Exemplo de soluo construtiva de tecto sob sto no aquecido, existente ereabilitada

    102

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    Figura 71 Fotografia termogrfica com um edifcio reabilitado com isolamento peloexterior, direita, e um edifcio existente, esquerda

    104

    Figura 72 Comparao entre solues construtivas para a correco trmica de umavaranda existente

    105

    Figura 73 Comparao entre solues construtivas para a correco trmica doembasamento de um edifcio existente

    105

    Figura 74 Comparao entre janelas: edifcio existente, reabilitao convencional ereabilitao Passive House, respectivamente, da esquerda para a direita

    106

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    Lista de tabelas

    Tabela 1 Dados dos modelos de Lisboa e do Porto 61

    Tabela 2 Dados relativos ao edifcio de escritrios em Bolonha 64

    Tabela 3 Dados relativos ao edifcio de habitao em Bessancourt 65

    Tabela 4 Dados relativos ao edifcio de habitao em Granada 66

    Tabela 5 Dados relativos ao edifcio de habitao em Navarra 67

    Tabela 6 Dados relativos ao edifcio de habitao em Lleida 68

    Tabela 7 Dados relativos ao edifcio de habitao reabilitado em Nova Iorque 71

    Tabela 8 Dados relativos ao edifcio de habitao reabilitado em Magny LesHameaux

    72

    Tabela 9 Dados relativos ao edifcio de habitao colectiva reabilitado em Freiburg 73

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    Lista de Abreviaes

    AQS guas Quentes Sanitrias

    CEPHEUS Cost Efficient Passive Housesas European StandardsCO2 Dixido de Carbono

    CO2-eq. Dixido de Carbono equivalente

    DGEG Direco-Geral de Energia e Geologia

    ENE Estratgia Nacional para a Energia

    EnerPHit Energy Retrofit with Passive HouseComponents

    EPBD Energy Performance of Buildings Directive

    ETP Energy Technologies Perspectives

    GEE Gases com Efeito de EstufaGt Gigatoneladas

    IEA Agncia Internacional de Energia

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    IPCC Painel Intergovernamental para as Alteraes Climticas

    IPHA International Passive HouseAssociation

    Ktep Quilo-toneladas equivalentes de petrleo

    KWE Key World Energy

    LEB Low-Energy Building

    Mt Milhes de toneladas

    Mtep Milhes de toneladas equivalentes de petrleo

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PEP Promotion of European Passive Houses

    PHPP Passive HousePlannign Package

    PNAC Programa Nacional para as Alteraes Climticas

    PNAEE Plano Nacional de Aco para a Eficincia Energtica

    PNAER Plano de Nacional Aco para as Energias Renovveis

    ppm partes por milho

    QAI Qualidade do Ar Interior

    RCCTE Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios

    RSECE Regulamento dos Sistemas Energticos e de Climatizao dos Edifcios

    SCESistema Nacional de Certificao Energtica e da Qualidade do Ar Interior nosEdifcios

    Tep Toneladas equivalentes de petrleoUE Unio Europeia

    http://www.portugal.gov.pt/pt/Documentos/Governo/MEI/PNAEE.pdfhttp://www.portugal.gov.pt/pt/Documentos/Governo/MEI/PNAEE.pdf
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    WEO World Energy Outlook

    WWF World Wide Fund for Nature

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    1. Introduo

    1.1 Enquadramento

    Nas ltimas dcadas tem-se assistido ao aumento do consumo energtico a nvel mundial,

    apesar do abrandamento do consumo nos pases mais ricos.

    Um dos grandes problemas o facto do consumo actual ainda estar dependente de fontes de

    energia finitas, sobretudo do petrleo, cujas reservas caminham para o seu fim.

    A escassez, aliada dependncia de um pequeno grupo de pases produtores, so responsveis

    por problemas no abastecimento energtico. Pases como Portugal, muito dependentes doexterior, so mais vulnerveis e esto mais expostos a esses problemas.

    O crescimento do consumo energtico, com o recurso s actuais fontes energticas, implica o

    crescimento das emisses de dixido de carbono (CO). A actual concentrao de CO na

    atmosfera j uma ameaa estabilidade do planeta. , assim, fundamental reduzir o consumo

    e alterar as fontes de energia.

    fundamental tambm perceber quais so as implicaes do actual padro de consumo

    energtico a nvel mundial e, fundamentalmente, saber como actuar para mudar de paradigma.

    O sector dos edifcios, como grande consumidor de energia, tem um considervel potencial de

    poupana energtica. Tornar os edifcios cada vez mais eficientes e com necessidades

    energticas cada vez menores o caminho defendido pelas entidades europeias e

    internacionais.

    Segundo o professor Wolfgang Feist, director do Passivhaus Institut, The best energy is less

    energy, defendendo que a eficincia energtica a mais importante, mais econmica e mais

    segura opo energtica.

    O conceito Passive House, comprovado como eficiente sob o ponto de vista energtico,

    confortvel e economicamente acessvel, j uma realidade. Ele est fortemente implantado na

    Europa Central e assumido como o caminho a seguir, a mdio e longo prazo, pela Unio

    Europeia (UE) e pela Agncia Internacional de Energia (IEA).

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    Aps os primeiros passos na implementao do conceito em Portugal, conclui-se que possvel

    obter edifcios confortveis, com um consumo energtico extremamente baixo e com impactos

    ambientais reduzidos, associados a um baixo custo do ciclo de vida.

    O parque edificado em Portugal dos mais recentes a nvel europeu, resultado do crescimento

    do sector da construo, sobretudo, durante a dcada de 1990. A evoluo das novas

    construes apresenta uma queda acentuada desde o incio do sculo.

    Se a este facto se associarem os consumos energticos dos edifcios em Portugal e as

    necessidades de obras de reparao, pode concluir-se que o caminho ter de passar pelo

    aumento do peso da reabilitao no sector da construo.

    necessrio tambm enquadrar a realidade do pas, para perceber quais as suas

    potencialidades e limitaes. A estratgia passa por contribuir para a independncia energtica

    do pas, actuando no sector do parque edificado, novo e existente. As metas a estabelecer tm

    de ser ambiciosas, para que os resultados obtidos possam ter capacidade de mudana.

    1.2 Objectivos

    Pretende-se com este trabalho analisar as consequncias dos actuais padres de consumo e o

    papel da norma Passive Houseno actual panorama energtico mundial.

    O objectivo deste estudo demonstrar a aplicabilidade do conceito Passive Houseem Portugal,

    atravs do caso de estudo relativo construo das primeiras Passive Houses no pas. Os

    requisitos e princpios para a aplicao do conceito Passive House so analisados, tendo em

    conta a experincia de 20 anos de construo e monitorizao de Passive Houses.

    Pretende-se aferir o processo de implementao do conceito Passive Housenum caso de estudo

    e verificar as dificuldades e potencialidades da aplicao deste conceito em Portugal,

    determinando o balano energtico e, por conseguinte, os consumos energticos previstos. Este

    estudo realizado utilizando as ferramentas e procedimentos definidos na metodologiaPassive

    House.

    Pretende-se tambm definir os princpios que podero ser aplicados na reabilitao de um

    edifcio existente para elevar os seus nveis de eficincia energtica e conforto aos padres

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    Passive House, atravs de solues adaptadas ao clima portugus e s caractersticas prprias

    do sector da construo em Portugal.

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    2.A energia e o ambiente construdo

    2.1 O panorama energtico mundial

    2.1.1 Os consumos energticos a nvel mundial

    Nas ltimas dcadas tem-se assistido a um aumento do consumo energtico a nvel mundial.

    Em 1971 o consumo de energia final era 4.676 Mtep, tendo quase duplicado em 2008 com um

    consumo de 8.428 Mtep (KWE Statistics, 2010). Exceptuando os perodos subsequentes s

    crises petrolferas em 1973 e em 1978/83, em que houve um decrscimo do consumo, o

    aumento foi uma constante. A maior fatia corresponde ao conjunto dos pases da Organizao

    para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), quase 43,8% da energia final

    consumida no mundo em 2008, apesar do peso do seu consumo energtico ter vindo a diminuir

    de forma clara, com 60,1% em 1973 (KWE Statistics, 2010).

    O efeito da crise financeira actual fez com que a procura descesse ou estagnasse na

    generalidade dos pases. No entanto, o contnuo crescimento econmico da China e o

    correspondente crescimento das suas necessidades energticas, fez com que se mantivesse o

    ritmo de crescimento do consumo energtico global, tal como mostra a Figura 1.

    Figura 1 Evoluo do consumo mundial de energia final, por regio, em Mtep (Fonte: KWE Statistics, 2010)

    O consumo energtico da China (Figura 1) correspondeu a 16,4% da energia final consumida no

    mundo em 2008 enquanto em 1971 correspondia a 7,9%.

    Energia final (Mtep)

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    Em relao aos tipos de energia consumida, com a excepo do carvo, verifica-se um aumento

    generalizado do consumo de todas as formas de energia. O petrleo mantm-se como a fonte de

    energia mais utilizada e h um significativo aumento da procura energtica sob a forma de

    electricidade tal como mostra a Figura 2.

    Figura 2 Evoluo do consumo mundial de energia final, por fonte, em Mtep (Fonte: KWE Statistics 2010)

    2.1.2 Os riscos do actual padro de consumo

    Um dos grandes problemas no panorama energtico mundial, reside no padro de consumo

    energtico para responder s necessidades, de crescimento e desenvolvimento, dos pases.

    Se o consumo energtico da populao mundial fosse equivalente ao consumo mdio de um

    habitante de Singapura ou dos Estados Unidos, as reservas de petrleo seriam consumidas em

    9 anos (WWF, 2011).

    Outro problema o facto do consumo actual ainda estar dependente de fontes de energia finitas

    e, por conseguinte, as reservas caminharem para o seu fim. As reservas, conhecidas, de

    petrleo e de gs iro diminuir entre 40 e 60% em 2030 relativamente s reservas de 2009

    (WEO, 2009).

    A dependncia energtica, sobretudo de petrleo, obriga os pases produtores a encontrarem

    solues de curto prazo, como a pesquisa de novas reservas e a extraco em zonas arenosas.

    Energia final (Mtep)

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    Princpios para a aplicao do conceito Passive House em Portugal

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    Como a escassez de um produto aumenta o seu preo de comercializao, os elevados preos

    que hoje em dia so praticados servem de amparo aos elevados preos de produo do crude,

    associados a sondagens e extraces com custos elevados, que no seriam possveis de realizar

    se o produto tivesse baixos valores de mercado (Kunzig, 2009).

    O preo do barril de petrleo dever aumentar gradualmente atingindo valores mdios prximos

    de 90 dlares em 2012 (Banco de Portugal, 2010). A IEA, em finais de 2008, estimou que o

    preo do barril de petrleo seria de 120 dlares em 2030, valor que justificaria o esforo

    associado sua extraco da areia betuminosa (Kunzig, 2009).

    A insegurana no abastecimento outro factor de preocupao. Os pases consumidores so

    cada vez mais dependentes da energia de um pequeno nmero de pases produtores. Estas

    preocupaes ficaram claras na Europa durante o impasse de fornecimento entre a Rssia e a

    Ucrnia que terminou em 2010 e cujas disputas remontam a 2005.

    Uma maior insegurana de curto prazo parece inevitvel medida que a diversidade geogrfica

    da oferta diminui e aumenta a dependncia de rotas de fornecimento vulnerveis. Quanto maior

    for a procura de petrleo e gs destas regies, mais provvel que estas regies estabeleam

    preos elevados e os mantenham, adiando o investimento e limitando a produo (Birol, 2009).

    2.2As emisses de CO2e as alteraes climticas

    O crescimento do consumo energtico, com o recurso s actuais fontes energticas, implica o

    crescimento das emisses de dixido de carbono (CO). As emisses de COem todo o mundo

    correspondiam a um valor superior a 15 Gt de COem 1973. Em 2008, estas emisses quase

    que duplicaram ao chegarem s 29 Gt (KWE Statistics, 2010).

    Apesar das emisses a nvel mundial terem aumentado neste perodo de tempo, o seu valor nos

    pases da OCDE manteve-se estvel nos ltimos anos. Com tendncia contrria, encontram-se os

    pases asiticos e, sobretudo, a China que j responsvel por uma fatia significativa das

    emisses totais tal como mostra a Figura 3.

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    Figura 3 Evoluo das emisses mundiais de COpor regio, em Mt (Fonte: KWE Statistics, 2010)

    O CO, originado pela aco humana, o mais importante gs com efeito de estufa (GEE),

    representando 77% do total dos GEE (IPCC, 2007). O Painel Intergovernamental para as

    Alteraes Climticas (IPCC) refere que a maior parte do aquecimento que se tem observado

    desde meados do sculo XX no planeta, deve-se, muito provavelmente, a um aumento dos GEE

    de origem humana (IPCC, 2007).

    Est prevista a subida da temperatura global da superfcie terrestre entre 1,4 C e 5,8 C; o

    aquecimento vai incidir sobre reas mais extensas e sobre latitudes mais altas; a frequncia de

    situaes climatricas extremas ser maior originando mais cheias e secas; haver mais ondas

    de calor; a frequncia e intensidade de fenmenos como o El Nio iro aumentar; estima-se uma

    subida do nvel do mar entre 9 e 88 cm at ao fim do sculo (OMS, 2005).

    A quantificao dos efeitos na sade provocados pelas alteraes climticas aproximada. No

    entanto, a Organizao Mundial da Sade (OMS) estima que as alteraes climticas ocorridas

    desde meados da dcada de 1970 possam causar 150.000 mortes por ano. A OMS concluiu

    tambm que estes impactos tm uma clara tendncia de aumentar no futuro (OMS, 2005).

    2.3Cenrios para o consumo energtico e para as emisses de CO

    Existem vrios cenrios resultantes de diversos estudos, mais ou menos exigentes nas suas

    metas e objectivos. So cenrios que tm em conta as alteraes climticas, as emisses de

    Emisses CO (Mt)

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    gases com efeito de estufa, os consumos energticos, as medidas a definir por sector, os prazos,

    as exigncias financeiras necessrias para a implementao, entre outros factores. De seguida

    apresentam-se, de forma breve, alguns desses cenrios.

    2.3.1 O Cenrio de Referncia da IEA

    A IEA definiu um Cenrio de Referncia no World Energy Outlook (WEO) 2009, com extenso

    at 2030, que corresponde evoluo dos mercados energticos globais sem que haja

    mudanas de polticas ou de estratgia.Este cenrio estima um crescimento mdio anual da

    procura global de energia primria de 1,5% at 2030, correspondendo a um aumento total de

    40%, de 11.730 Mtep a 16.790 Mtep (WEO, 2009), tal como mostra a Figura 4.

    Figura 4 Cenrio de Referncia da IEA consumo mundial de energia final, por fonte (Fonte: WEO, 2009)

    Os resultados deste cenrio reflectem o impacto da crise financeira de 2008 na procura

    energtica, j que o Cenrio de Referncia do WEO 2008 estimava um aumento total daprocura at 2030 de 45% (WEO, 2008). O Cenrio de referncia tem como principais

    impulsionadores a China e a ndia, seguidos dos pases do Mdio Oriente. Os pases no

    membros da OCDE representam 80% deste aumento (WEO, 2009).

    As emisses de COassociadas ao consumo energtico iro aumentar de 28,8 Gt em 2007 a

    40,2 Gt em 2030, correspondendo a um aumento de quase 40% (WEO, 2009), tal como mostra

    a Figura 5.

    Energia final (Mtep)

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    Figura 5 Cenrio de Referncia da IEA emisses mundiais de GEE, por tipo de gs (Fonte: WEO, 2009)

    Trs quartos do CO extra sero emitidos pela China, ndia e Mdio Oriente, sendo 97% da

    responsabilidade de pases no membros da OCDE. Este Cenrio de referncia alerta que se

    est a caminho da concentrao de gases com efeito de estufa na atmosfera na proporo de

    1000 ppm de CO-eq., implicando um aumento da temperatura mdia de 6C (WEO, 2009).

    2.3.2 O Cenrio 450 da IEA

    O Cenrio 450, presente no estudo WEO 2009 da responsabilidade da IEA, detalha as

    medidas que seriam necessrias para conseguir a reduo dos gases com efeito de estufa na

    atmosfera para 450 ppm de CO-eq at 2030 (WEO, 2009).

    Segundo Birol (2009), o cenrio 450 representa um enorme desafio. O nvel de emisses

    mundial em 2030 seria inferior s emisses previstas no cenrio de referncia para os pases

    que no pertencem OCDE (Birol, 2009). Mesmo que os pases da OCDE reduzam a emissesa zero, sozinhos no conseguiriam colocar o mundo na trajectria deste objectivo. Isso implicaria

    uma alterao de tecnologia - em termos de escala e de velocidade de desenvolvimento sem

    precedentes (Birol, 2009).

    O Cenrio 450 corresponde estabilizao nas 450 ppm de CO-eq. a longo prazo, como

    mostra a Figura 6, que s ser alcanvel com aces coordenadas no mbito energtico e das

    emisses (WEO, 2009). Este cenrio corresponde 50% de probabilidade de restringir o aumento

    da temperatura mdia em 2C (WEO, 2009).

    Emisses GEE (Gt CO -eq)

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    20% at 2030. considervel a diferena para o Cenrio de Referncia, em que o consumo

    energtico aumentaria 40%, at e 2030 (WEO, 2009).

    2.3.3 Outros cenrios

    Mesmo que as metas do Cenrio 450 sejam alcanadas, tal no evitar a ocorrncia de um

    aumento significativo do nvel do mar, extino de espcies e aumento da frequncia de

    desastres naturais (IPCC, 2009).

    As evidncias paleoclimticas e as alteraes globais que esto a ocorrer mostram que

    concentrao actual de 385 ppm de CO-eq. j muito elevada para manter o clima ao qual a

    humanidade, a vida selvagem e a restante biosfera esto adaptadas (Hansen et al., 2008). Uma

    meta mais ambiciosa passaria pela reduo at s 350 ppm de CO-eq., sendo depois ajustvel

    medida que se adquire o conhecimento cientfico e as evidncias empricas dos efeitos

    climticos (Hansen et al., 2008).

    Outro cenrio, apresentado pelo World Wide Fund for Nature (WWF), em parceria com a Ecofys e

    o Office for Metropolitan Architecture (OMA), mais radical nos objectivos a atingir. Neste

    cenrio defendido que 95% de toda a energia utilizada tenha origem em fontes renovveis,utilizando, para tal, apenas a tecnologia existente hoje (WWF, 2011). Para atingir este objectivo

    seria necessrio abandonar o paradigma actual de resposta s necessidades energticas com

    combustveis fsseis, criando uma nova ordem nos mercados energticos (WWF, 2011).

    Os cenrios apresentados no estudo Energy Technology Perspectives (ETP) 2008 da

    responsabilidade da IEA, esto mais centrados no papel particular da tecnologia, sobretudo no

    lado da procura, e estende-se at 2050 (ETP, 2008). Os cenrios de ambos os estudos, WEO

    2009 e ETP 2008, da IEA so compatveis, mas focalizam aspectos diferentes.

    2.4O sector dos edifcios

    O sector dos edifcios dos maiores consumidores de energia, tendo sido responsvel por 38%

    do consumo energtico mundial, em 2005, com um valor de 2.900 Mtep. O consumo de

    electricidade foi de 57% relativamente ao consumo total (ETP, 2008).

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    Se no forem tomadas medidas o consumo energtico nos edifcios crescer 80%, sendo de

    5.257 Mtep em 2050, sendo o sector residencial responsvel por 58% do consumo, e o de

    servios por 31% (ETP, 2008). O crescimento das emisses de COassociadas ser de 129%,

    passando de 8,8 Gt em 2005 a 20,1 Gt em 2050 (ETP, 2008).

    O cenrio da estratgia Blue Map, o mais ambicioso e exigente da IEA, revela o papel crucial

    deste sector de actividade na capacidade de reduo do consumo energtico e das emisses de

    CO. Este cenrio antev um consumo energtico associado aos edifcios de 3.114 Mtep em

    2050 e um total de emisses de C0de 8,6 Gt, um valor inferior ao registado em 2005 (ETP,

    2008).

    Para se alcanar tais resultados no sector dos edifcios, a IEA definiu como prioritrias as

    seguintes medidas (ETP, 2008):

    Todos os edifcios novos a partir de 2015, em climas frios, devero atingir os padres

    Passive House (em 2030 este objectivo dever ser alargado aos edifcios em climas

    moderados);

    Dever haver uma renovao dos edifcios existentes, de modo a atingir os padres

    Passive House;

    Dever haver uma alterao nas fontes energticas de abastecimento do edifcio;

    Devero ser aplicadas as melhores tecnologias existentes nos sistemas da envolvente do

    edifcio, nos sistemas de AVAC, na iluminao e equipamentos.

    Este cenrio exige que o sector dos edifcios adopte novas prticas e tcnicas na construo quehaja um investimento muito significativo em novas tecnologias. Obriga tambm transferncia

    do conhecimento e tecnologias aplicadas nos novos edifcios na renovao dos edifcios

    existentes e uma maior e melhor articulao entre os decisores, investidores, promotores,

    construtores e instaladores e os consumidores (ETP, 2008).

    A reduzida taxa de desactivao (desocupao e/ou demolio dos edifcios) do parque

    habitacional nos pases da OCDE considerada pela IEA, um entrave na reduo das

    necessidades de aquecimento e arrefecimento, sobretudo nos cenrios mais ambiciosos para a

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    reduo das emisses de CO. estimada a necessidade de renovao, tendo em vista os novos

    padres energticos, de 200 milhes de edifcios nos pases da OCDE, para se alcanar os

    objectivos traados a longo prazo (ETP, 2008).

    2.5O panorama energtico em Portugal

    2.5.1 O consumo energtico

    O consumo energtico em Portugal tem vindo a sofrer alteraes. As fontes como o petrleo e o

    carvo tm diminudo o seu peso, em contraponto s fontes renovveis e ao gs natural (Alves &

    Silva, 2011).

    A diversificao das fontes energticas foi, e , essencial na sustentabilidade dos recursos

    energticos e do ambiente. Esta diversificao tambm vantajosa para a competitividade das

    empresas e para a reduo do desequilbrio da balana corrente (Alves & Silva, 2011).

    O consumo de energia primria, em Portugal, em 2009 foi de 24.142 Ktep e o de energia final

    de 18.060 Ktep (DGEG, 2011a). Em Portugal, o consumo de energia tem descido de forma

    constante desde 2005, em que se atingiu o pico do consumo, tal como mostra a Figura 8.

    Figura 8 Evoluo do consumo total de energia primria em Portugal, por fonte, em Ktep (Fonte: DGEG, 2011)

    O maior consumidor de energia o sector dos transportes, cuja variao no consumo tem sido

    muito reduzida na ltima dcada, seguido do sector da indstria, que tem apresentado a maior

    Energia primria (Ktep)

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    reduo no consumo, tal como mostra a Figura 9. O sector dos edifcios (servios e domstico)

    representa, ao todo, cerca de 31% do consumo energtico nacional.

    Figura 9 Evoluo do consumo total de energia final em Portugal, por sector, em Ktep (Fonte: DGEG, 2011)

    2.5.2 A dependncia externa

    A reduo do consumo de energia tem efeito directo no que diz respeito dependncia

    energtica relativamente ao exterior, que se mantm elevada. Em 2009 a dependncia

    energtica portuguesa era de cerca de 81%, ao passo que em 2005 era de cerca 89%, tal como

    mostra a Figura 10 (DGEG, 2011a).

    Esta elevada dependncia, associada a questes ambientais e econmicas, explicam aaprovao, nos ltimos 20 anos, de um conjunto alargado de medidas de poltica pblica no

    sector energtico. Estas medidas tm-se centrado na aposta da utilizao de fontes de energia

    renovvel e em ganhos de eficincia energtica (Alves & Silva, 2011).

    Energia final (Ktep)

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    Figura 10 Evoluo da dependncia energtica de Portugal, em percentagem (Fonte: DGEG, 2011)

    Apesar da diminuio da dependncia energtica desde 2005, o seu peso no PIB revela outro

    panorama, tal como mostra a Figura 11. A evoluo do dfice da dependncia energtica, que

    atingiu 4,9% do PIB em 2008, est relacionada com as variaes do preo das matrias-primas

    (Freitas et al., 2009).

    Figura 11 Evoluo do dfice da dependncia energtica de Portugal, em percentagem do PIB (Fonte: DGEG,

    2011)

    Dfice da dependncia energtica (% do PIB)

    Dependncia energtica (%)

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    2.6O ambiente construdo em Portugal

    2.6.1 A exploso do sector da construo

    Em Portugal nas dcadas de 1980 e 1990 aconteceu uma exploso na construo, com um

    crescimento acentuado do mercado imobilirio. Tal como mostra a Figura 12, em 2008, o

    nmero de edifcios construdos aps 1981 correspondia a cerca de 44% do total de edifcios,

    definindo Portugal como um dos pases europeus com o parque edificado mais recente. De

    acordo com o Instituto Nacional de Estatstica (INE), no ano de 1981 existiam 2.507.706

    edifcios, em 1991 existiam 2.861.717, em 2001 existiam 3.160.043 edifcios e em 2011

    3.550.823 edifcios (INE, 2011).

    Figura 12 Distribuio do stock habitacional na EU-25 (Fonte: European Comission - Institute for Prospective

    Technological Studies, 2008)

    Tal crescimento do parque edificado, certamente, deveu-se ao clima de optimismo geral

    (estabilidade poltica, adeso Comunidade Econmica Europeia, descida das taxas de juro,

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    crescimento econmico acelerado) conjugado com a escassez de habitao devida ao atraso

    estrutural que Portugal sofria (Thames, 2008).

    A taxa mdia contratada nos emprstimos habitao era de 16,6% em 1993, ao passo que em

    1999 reduziu-se para apenas 5,0%. Combinando a variao da taxa de juro, com a inflao

    mdia anual, passou-se de uma taxa de juro real de 10,1% em 1993 para 2,7% em 1999

    (Thames, 2008). A concesso de crdito habitao, pelas vrias instituies do mercado, passou

    de um montante acumulado de 9.421,7 milhes de euros em 1993 para 42.122,9 milhes de

    euros em 1999, o que corresponde a taxas de crescimento anuais superiores a 25% (Thames,

    2008).

    Este foi um perodo mpar para o sector da construo e do mercado imobilirio. Desde ento

    tem-se registado uma queda acentuada, em 2000 foram concludos 107.900 fogos, ao passo

    que em 2006 o valor foi de 70.010 (Thames, 2008).

    2.6.2 O parque habitacional

    Em 2009, o parque habitacional portugus foi estimado em 3,5 milhes de edifcios e 5,7

    milhes de fogos, crescendo, face ao ano anterior, 0,8% e 1,0% respectivamente (INE, 2010).Em termos do nmero de edifcios, a regio do Norte possui 35,0% do total, o Centro 31,2%,

    enquanto a regio de Lisboa possui 12,5%. As restantes regies representam, em conjunto,

    21,3% do total de edifcios existentes em Portugal (INE, 2010). As habitaes so divididas em

    apartamentos (46,2%), vivendas rurais (38,3%) e vivendas urbanas (15,4%), sendo cerca de 18%

    reservadas para usos sazonais ou secundrios, e 11% para habitaes de frias (INE, 2010).

    Das 40.395 obras concludas durante 2009, 64,7% corresponderam a edifcios em construes

    novas para habitao familiar, dos quais 88,1% eram moradias. Apesar da grande

    predominncia de edifcios em construes novas, 77,9% do total, verifica-se que a reabilitao

    na edificao uma aposta crescente no sector da construo, com as Alteraes, Ampliaes e

    Reconstrues a ganharem importncia relativa face aos anos anteriores (INE, 2010). Apesar do

    nmero das obras de reabilitao no sofrer grandes variaes, o seu peso relativo tem crescido

    muito devido queda acentuada da construo nova desde 1999, tal como mostra a Figura 13.

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    Figura 13 Evoluo das reabilitaes e construes novas em Portugal (Fonte: INE, 2010)

    As necessidades de reparao atingiam cerca de 38,1% dos edifcios e 2,9% apresentavam um

    elevado estado de degradao, em 2001 (INE, 2010). O valor estimado dos fogos a exigir

    mdias, grandes ou muito grandes reparaes rondava os 800.000 (INE, 2010).

    2.6.3 O consumo energtico dos edifcios

    No que diz respeito ao consumo de energia associado aos edifcios, e de acordo com a Direco-

    Geral de Energia e Geologia (DGEG), os edifcios foram responsveis por 30% do consumo total

    de energia final do pas e aproximadamente 65% dos consumos de electricidade, em 2009

    (DGEG, 2011b). O sector residencial foi responsvel por 18% dos consumos de energia final, e

    por cerca de 30% dos consumos de electricidade (DGEG, 2011b).

    No sector residencial, 50% do consumo energtico deve-se s cozinhas e guas quentes

    sanitrias (AQS), 25% do consumo destinado ao aquecimento e arrefecimento e os restantes

    25% iluminao e equipamentos (Almeida, 2010).

    2.7 Eficincia energtica

    2.7.1 A eficincia energtica como prioridade

    As preocupaes com o consumo energtico e as primeiras medidas de poupana integradas

    nas polticas energticas dos pases desenvolvidos, ficaram a dever-se sobretudo ao primeiro

    Total de obras

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    choque petrolfero ocorrido em 1973 (DGEG, 2008). So exemplo de medidas de ampla

    abrangncia, a limitao de velocidade dos transportes rodovirios e o estabelecimento da hora

    de Vero /Inverno. A reduo do consumo de energia tornou-se imprescindvel e para atingir

    esse objectivo houve que recorrer racionalizao dos consumos e supresso dos consumos

    suprfluos (DGEG, 2008).

    A UE definiu a eficincia energtica como uma das grandes prioridades por trs razes

    principais: a segurana de abastecimento, pois a dependncia externa seria de 70% em 2030 se

    nada fosse feito; a proteco do ambiente, uma vez que a produo e utilizao de energia so

    responsveis por 94% das emisses de CO; as opes na oferta de energia so limitadas,

    sendo que a Unio Europeia pode actuar na procura energtica, forando a diminuio do

    consumo energtico (Almeida, 2010).

    2.7.2 Eficincia energtica nos edifcios

    O sector dos edifcios, como atrs se referiu, um grande consumidor de energia. Tem tambm

    um grande potencial de poupana energtica, sendo, deste modo, um sector estratgico para a

    mudana de paradigma do consumo energtico.

    A IEA definiu, como medidas onde se podem introduzir melhorias no sector edifcios, os

    seguintes pontos (IEE, 2009):

    estabelecer requisitos para uma maior eficincia energtica nos edifcios;

    aumentar os apoios aos edifcios energeticamente passivos, segundo padres Passive

    House,e aos edifcios quase zero em energia;

    aumentar os esforos para promover janelas e vidros energeticamente eficientes.

    A IEA, no mbito da cimeira dos G8 em Hokkaido em 2008, recomenda ainda a definio de

    pacotes de medidas para promover a eficincia energtica nos edifcios existentes (IEEP, 2009).

    O Parlamento Europeu, na resoluo relativa eficincia energtica em 31 de Janeiro de 2008,

    recomendou Comisso Europeia, no que diz respeito aos requisitos do desempenho dos

    edifcios, o seguinte (PE, 2008):

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    atender ao facto dos sistemas de mini-bombas de calor e energia serem os mais

    eficientes e definir os requisitos mnimos para a seu desempenho;

    propor que todos os novos edifcios sejam construdos de acordo com os padres

    Passive House a partir de 2011 e que os sistemas de aquecimento e arrefecimento

    sejam passivos a partir de 2008;

    considerar as solues arquitectnicas para aquecimento e arrefecimento passivo, na

    promoo da eficincia energtica.

    O Parlamento Europeu aprovou, em Maio de 2010, a reviso da Energy Performance of

    Buildings Directive (EPBD), que est actualmente em vigor. A reviso da EPBD introduz asseguintes novidades (Holl, 2010):

    o seu mbito incide sobre todos os edifcios independentemente do seu tamanho;

    todos os novos edifcios devero ser edifcios com necessidades quase nulas de energia

    no final de 2020, no sector pblico dever acontecer no final de 2018, devendo as

    restantes necessidades de energia ser cobertas por fontes de energia renovveis;

    requisitos mnimos de desempenho energtico para todos os edifcios existentes quesofram qualquer renovao energtica relevante;

    reforo do papel e qualidade dos certificados de desempenho energtico;

    incentivos financeiros para investimentos ao nvel da eficincia energtica no sector dos

    edifcios.

    A nova Directiva para o Desempenho Energtico de Edifcios (EPBD) dever ser transposta pelos

    Estados-Membros at 2012 e assume-se como a principal ferramenta europeia para aumentar a

    eficincia energtica (Holl, 2010).

    2.7.3 Enquadramento legislativo em Portugal

    Em Portugal, os primeiros requisitos trmicos foram definidos em 1990 com a publicao do

    Decreto-Lei n. 40/90, de 6 de Fevereiro originando o Regulamento das Caractersticas de

    Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE). Passados oito anos foi a vez do Regulamento

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    Princpios para a aplicao do conceito Passive House em Portugal

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    dos Sistemas Energticos e de Climatizao dos Edifcios (RSECE), com a publicao do Decreto-

    Lei n 119/98, de 7 de Maio (RCCTE, 1990; RSECE; 1998).

    Entre 1994 e 1999 vigorou o Programa Energia, financiado por fundos comunitrios, com a

    pretenso de contribuir para a reduo da dependncia externa do nosso sistema energtico

    atravs do incentivo conservao e eficincia energtica em todos os sectores de actividade,

    visando a diminuio da intensidade energtica do pas (DGEG, 2008).

    Em 2005, foi definida a Estratgia Nacional para a Energia atravs da Resoluo do Conselho de

    Ministros n. 169/2005 de 24 de Outubro, com o objectivo da diversificao dos recursos

    primrios, nomeadamente com uma maior utilizao das fontes de energias renovveis, e dos

    servios energticos, da promoo da eficincia energtica e da reduo de emisses de CO

    (ENE, 2005).

    Em 2006, na sequncia da transposio para Portugal da Directiva Comunitria 2002/91/CE

    sobre a eficincia energtica nos edifcios, foram publicados (EPBD, 2002; SCE, 2006; RSECE,

    2006; RCCTE, 2006):

    o Decreto-Lei n. 78/2006 de 4 de Abril, que implementa o Sistema Nacional deCertificao Energtica e da Qualidade do Ar Interior nos Edifcios (SCE);

    o Decreto-Lei n. 79/2006 de 4 Abril, aprova o Regulamento dos Sistemas Energticos

    e de Climatizao dos Edifcios (RSECE) substituindo o Decreto-Lei n 119/98;

    o Decreto-Lei n. 80/2006 de 4 Abril, aprova o Regulamento das Caractersticas de

    Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE), substitui o Decreto-Lei n 40/90.

    O SCE tem como objectivos (SCE, 2006):

    assegurar a aplicao regulamentar, nomeadamente no que respeita s condies de

    eficincia energtica, utilizao de sistemas de energias renovveis e, ainda, s

    condies de garantia da qualidade do ar interior, de acordo com as exigncias e

    disposies contidas no RCCTE e no RSECE;

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    certificar o desempenho energtico e a qualidade do ar interior nos edifcios; identificar

    as medidas correctivas ou de melhoria de desempenho aplicveis aos edifcios e

    respectivos sistemas energticos, nomeadamente caldeiras e equipamentos de ar

    condicionado, quer no que respeita ao desempenho energtico, quer no que respeita

    qualidade do ar interior.

    O RSECE estabelece (RSECE, 2006):

    as condies a observar no projecto de novos sistemas de climatizao;

    os limites mximos de consumo de energia nos grandes edifcios de servios existentes;

    os limites mximos de consumos de energia para todo o edifcio e, em particular, para a

    climatizao, previsveis sob condies nominais de funcionamento para edifcios novos

    ou para grandes intervenes de reabilitao de edifcios existentes que venham a ter

    novos sistemas de climatizao abrangidos pelo presente Regulamento, bem como os

    limites de potncia aplicveis aos sistemas de climatizao a instalar nesses edifcios;

    as condies de manuteno dos sistemas de climatizao, incluindo os requisitos

    necessrios para assumir a responsabilidade pela sua conduo;

    as condies de monitorizao e de auditoria de funcionamento dos edifcios em termos

    dos consumos de energia e da qualidade do ar interior (QAI);

    os requisitos, em termos de formao profissional, a que devem obedecer os tcnicos

    responsveis pelo projecto, instalao e manuteno dos sistemas de climatizao, quer

    em termos da eficincia energtica, quer da QAI.

    O RCCTE estabelece as regras a observar no projecto de todos os edifcios de habitao e dos

    edifcios de servios sem sistemas de climatizao centralizados de modo que: as exigncias de

    conforto trmico, seja ele de aquecimento ou de arrefecimento, e de ventilao para garantia de

    qualidade do ar no interior dos edifcios, bem como as necessidades de gua quente sanitria,

    possam vir a ser satisfeitas sem dispndio excessivo de energia (RCCTE, 2006). As regras

    definidas no RCCTE visam tambm a minimizao das situaes patolgicas nos elementos de

    construo provocadas pela ocorrncia de condensaes superficiais ou internas, com potencial

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    impacte negativo na durabilidade dos elementos de construo e na qualidade do ar interior

    (RCCTE, 2006).

    Em 2008 foi definido o Plano Nacional de Aco para a Eficincia Energtica Portugal

    Eficincia 2015 (PNAEE), atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n. 80/2008 de 20 de

    Maio (PNAEE, 2008). O PNAEE um plano de aco agregador de um conjunto de programas e

    medidas de eficincia energtica, com um horizonte temporal at ao ano de 2015 (PNAEE,

    2008).

    O PNAEE est enquadrado na Directiva n. 2006/32/CE, que visa obter uma economia anual de

    energia de 1% at ao ano de 2016, tomando como base a mdia de consumos de energia final,

    registados no quinqunio 2001 - 2005 (aproximadamente 18.347 Tep) (PNAEE, 2008).

    O PNAEE abrange quatro reas especficas, objecto de orientaes de cariz predominantemente

    tecnolgico: Transportes, Residencial e Servios, Indstria e Estado. O PNAEE estabelece,

    adicionalmente, trs reas transversais de actuao: comportamentos; fiscalidade; incentivos e

    financiamentos (PNAEE, 2008).

    O PNAEE estabeleceu a meta de reduzir, at 2015, 10% do consumo energtico de Portugal, oequivalente poupana de 1.792.000 Tep (PNAEE, 2008).

    De acordo com a ADENE, at final de 2010, Portugal conseguiu poupar um total acumulado de

    657.000 Tep, representando uma execuo acumulada de 37% face meta para 2015.

    Em 2010, foi definida a nova Estratgia Nacional para a Energia (ENE), tendo como horizonte o

    ano de 2020, atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n. 29/2010 de 15 de Abril,

    actualizando a ENE definida em 2005 (ENE, 2010).

    A ENE 2020 tem como objectivos (ENE, 2010):

    reduzir a dependncia energtica do Pas face ao exterior para 74 % em 2020,

    produzindo, nesta data, a partir de recursos endgenos, o equivalente a 60 milhes de

    barris anuais de petrleo, com vista progressiva independncia do Pas face aos

    combustveis fsseis;

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    garantir o cumprimento dos compromissos assumidos por Portugal no contexto das

    polticas europeias de combate s alteraes climticas, permitindo que em 2020 60 %

    da electricidade produzida e 31 % do consumo de energia final tenham origem em

    fontes renovveis e uma reduo do 20 % do consumo de energia final nos termos do

    Pacote Energia - Clima 20 - 20 - 20;

    reduzir em 25 % o saldo importador energtico com a energia produzida a partir de

    fontes endgenas gerando uma reduo de importaes de 2.000 milhes de euros;

    criar riqueza e consolidar um cluster energtico no sector das energias renovveis em

    Portugal, assegurando em 2020 um valor acrescentado bruto de 3.800 milhes de

    euros e criando mais 100.000 postos de trabalho a acrescer aos 35 000 j existentes

    no sector e que sero consolidados. Dos 135.000 postos de trabalho do sector, 45.000

    sero directos e 90.000 indirectos. O impacto no PIB passar de 0,8 % para 1,7 % at

    2020;

    desenvolver um cluster industrial associado promoo da eficincia energtica

    assegurando a criao de 21.000 postos de trabalho anuais, gerando um investimento

    previsvel de 13.000 milhes de euros at 2020 e proporcionando exportaes

    equivalentes a 400 milhes de euros;

    promover o desenvolvimento sustentvel criando condies para o cumprimento das

    metas de reduo de emisses assumidas por Portugal no quadro europeu.

    2.8A reabilitao do parque edificado em Portugal

    2.8.1 A reabilitao de edifcios

    A reabilitao visa conferir aos edifcios existentes uma melhoria significativa de qualidade, quer

    em relao ao seu estado actual, quer em relao qualidade data da sua construo. Em

    contrapartida, o termo conservao aplica-se a operaes de menor envergadura que se

    destinam a conferir a edifcios no degradados uma qualidade equivalente da data da sua

    construo (Almeida, 2011).

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    O termo reabilitao pode ainda ser aplicado aos edifcios em duas acepes distintas (Almeida,

    2011):

    beneficiao, operaes que conferem a edifcios no degradados uma qualidade

    superior que possuam aquando da sua construo;

    recuperao, operaes que incidem sobre edifcios degradados devido no realizao

    de obras peridicas, ou sobre edifcios construdos segundo padres abaixo do

    regulamentar (deste ponto de vista, clandestinos).

    A reabilitao trmica e energtica de edifcios uma das vias mais promissoras para a

    correco de situaes de inadequao funcional, proporcionando a melhoria do conforto dos

    utilizadores (DGEG, 2004). Permite reduzir o consumo de energia para aquecimento,

    arrefecimento, ventilao e iluminao, contribuindo para o objectivo estratgico de reduo das

    necessidades energticas do Pas e correco de patologias devido presena de humidade.

    (DGEG, 2004).

    2.8.2 Mudana de paradigma no sector da construo

    Embora absorva anualmente acerca de 25.000 milhes de euros, a construo uma actividade

    de reduzido valor acrescentado, e o seu contributo para o PIB relativamente pequeno, inferior a

    6% (Cias, 2008).

    Em termos ambientais, os impactos negativos da construo nova so mltiplos e em cadeia:

    provoca a destruio ou reduo do desempenho ambiental dos terrenos; obriga extraco de

    matrias-primas; consome uma multiplicidade de produtos; produz resduos de construo e

    demolio; mais emisses de CO associadas expanso no territrio das zonas construdas

    (Cias, 2008).

    Em termos sociais, a construo, quando associada expanso urbana, no favorece a

    integrao e mobilidade sociais, nem a preservao dos valores culturais, a criao e expanso

    de subrbios-dormitrio arrasta a desertificao da cidade antiga e o abandono do centro

    histrico (Cias, 2008).

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    A presso do sistema financeiro e dos promotores imobilirios para escoar a produo de casas

    novas resultou, por seu turno, no actual sobre-endividadamento das famlias (Cias, 2008)

    Qualquer rumo que seja definido, tendo em vista a optimizao dos recursos econmicos,

    ambientais e a coeso social passar pela mudana de paradigma no sector da construo e da

    promoo imobiliria.

    Se se juntarem os consumos energticos dos edifcios em Portugal e as necessidades de obras

    de reparao, pode concluir-se que o caminho ter de passar pelo aumento do peso da

    reabilitao no sector da construo.

    2.8.3 O peso actual da reabilitao

    O estado de degradao de grande parte do parque habitacional portugus obriga a que se

    tenha um olhar diferente sobre esta situao. Em Portugal, apenas cerca de 23% (INE, 2010) do

    investimento feito no sector da construo de edifcios foi destinado reabilitao do edificado

    existente, ao passo que a mdia europeia (dos 19 pases do Euroconstruct) se situa perto dos

    45%, como mostra a Figura 14.

    nas obras destinadas ao Comrcio que a reabilitao teve um maior peso no ano de 2009:

    cerca de 43,2% (INE, 2010). A Indstria apresenta tambm um peso considervel das obras de

    reabilitao, que correspondem a 31,0% do total de obras concludas em 2009 para esse

    destino (INE, 2010).

    Peso da reabilitao (%)

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    Figura 14 Peso do investimento na reabilitao, dentro do sector da construo, em percentagem (Fonte:

    Euroconstruct, 2005)

    Na Europa, o sector da conservao e reabilitao a componente produtiva mais dinmica e a

    que tem registado maiores crescimentos. Tal crescimento deve-se s crescentes exigncias dos

    consumidores europeus em termos de conforto, segurana e utilizao de novas tecnologias nos

    ltimos 20 anos e o comportamento menos cclico deste segmento face conjuntura econmica

    (Almeida, 2011).

    2.8.4 Os programas de incentivo reabilitao

    Ao longo dos ltimos 30 anos tm sido realizados vrios esforos para promover a reabilitaoem Portugal. A constatao dos problemas urbanos cedo suscitou diferentes formas de

    interveno de entre as quais se destacam os esforos feitos para reabilitao do parque

    habitacional atravs dos seguintes programas: RECRIA (Regime Especial de Comparticipao na

    Recuperao de Imveis Arrendados - Decreto-Lei n4/88, de 6 de Junho); REHABITA (Regime

    de Apoio Recuperao Habitacional em reas Urbanas Antigas - Decreto-Lei 105/96, de 31 de

    Julho); RECRIPH (Regime Especial de Comparticipao e Financiamento na Recuperao de

    Prdios Urbanos em Regime de Propriedade Horizontal - Decreto-Lei n106/96, de 31 de Julho)

    e SOLARH (Programa de Apoio Financeiro Especial Para a Reabilitao de Habitaes - Decreto-

    Lei n 7/99, de 8 de Janeiro) (Madeira, 2009).

    No entanto, os programas criados neste domnio revelaram-se ineficazes. Tal ineficcia decorre

    no s de dificuldades de ordem administrativa e burocrtica, mas das relativas incapacidade

    para considerar questes importantes como as caractersticas fsicas e construtivas dos fogos, o

    seu estado estrutural, a viabilidade tcnico-econmica das intervenes e o impacte sobre a

    qualidade de vida da populao e na melhoria dos centros urbanos onde se inserem (Madeira,

    2009).

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    3.O conceitoPassive House

    3.1O que significa ser Passive House

    Passive House um conceito construtivo, independente de qualquer linguagem ou tendncia

    arquitectnica, que define um padro que , simultaneamente, eficiente sob o ponto de vista

    energtico, confortvel, economicamente acessvel e ecolgico. No entanto, mais do que

    apenas um edifcio de baixo consumo energtico.

    Os edifcios Passive House combinam um elevado nvel de conforto com um consumo de

    energia muito baixo. Trata-se de edifcios com um grau elevado de isolamento, um controlo

    rigoroso das pontes trmicas e das infiltraes de ar, sistemas de caixilharias e vidros de elevado

    desempenho e um bom aproveitamento da radiao solar de modo a que a ventilao com a

    recuperao de calor seja suficiente para a sua climatizao, sem recorrer a sistemas adicionais

    (Gauna, 2011).

    De uma forma sucinta, uma Passive House tem de responder fundamentalmente a trs

    requisitos. O primeiro um limite de energia, para aquecimento e arrefecimento, o segundo

    um requerimento de qualidade, relativo ao conforto trmico, e o terceiro um conjunto definido

    de sistemas passivos preferenciais que permitem cumprir o limite energtico e de qualidade sem

    um custo elevado (Elswijk & Kaan, 2008).

    3.2Origem e desenvolvimento do conceito

    O conceito Passive House teve origem num projecto de investigao chamado Passive House

    Preparatory Research Projectiniciado em 1988, atravs da colaborao do professor sueco Bo

    Adamson e do professor alemo Wolfgang Feist (IPHA, 2012). Para o desenvolvimento do

    conceito Passive House foi aproveitado muito do conhecimento adquirido e das experincias

    levadas a cabo ao longo de sculos na procura do conforto com a racionalizao e optimizao

    dos recursos disponveis. O trabalho cientfico sempre baseado no trabalho precedente. O

    contributo de experincias levadas a cabo nas dcadas de 1970 e 1980 como as casas super-

    isoladas ou as casas solares passivas foi fundamental para a definio do que hoje uma

    Passive House(Passipedia, 2010).

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    O projecto Philips Experimental House Project que teve o seu incio aps a primeira crise

    petrolfera de 1973, crise que acabou por ser fundamental para impulsionar a investigao de

    solues energeticamente eficientes, ocorreu entre 1974 e 1984, respectivamente a data da

    construo e a data da concluso da monitorizao e investigao do prottipo. Trata-se de uma

    casa localizada na Alemanha, em Aachen, com construo em madeira (Figura 15) com

    elevados nveis de isolamento (valores do U de 0,14W/m2K), janelas com vidro duplo com baixa

    emissividade e estores exteriores, sistema de ventilao com recuperao de calor com 90% de

    eficincia e com pr-aquecimento e pr-arrefecimento do ar atravs de permutao de calor pelo

    solo. As necessidades de aquecimento foram estimadas em 20/30 kWh/(m2a) correspondendo

    a um valor aproximado aos valores de uma Passive House (Steinmller, 2008).

    Figura 15 Vista geral do Philips Experimental House Project em Aachen, Alemanha (Fonte: Steinmulller, 2008)

    Tambm o edifcio da sede original do Rocky Mountain Institutee residncia do seu co-fundador

    e presidente, o cientista Amory Lovins, um exemplo paradigmtico da procura da eficincia

    energtica nos edifcios (Figuras 16 e 17). O edifcio construdo entre 1982 e 1984 no estado do

    Colorado, nos EUA, est localizado a grande altitude, a 2,164 metros, com uma situao

    climtica adversa com temperaturas que atingem os -40C no Inverno e os 30C no Vero.

    As estratgias para atingir o elevado desempenho energtico passaram pela forma e orientao

    do edifcio (forma orgnica e grandes superfcies envidraadas a Sul), pelos elevados nveis de

    isolamento (valores do U de 0,14 W/m2K nas paredes e de 0,095 W/m2K na cobertura) e pela

    estanquidade do edifcio associada ao sistema de ventilao com recuperao de calor (Brew,

    2012).

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    Figura 16 Vista geral do edifcio sede do Rocky Mountain Institute no Colorado, EUA (Fonte: Judy Hill Lovins,

    2011)

    Figura 17 Vista interior do edifcio sede do Rocky Mountain Institute no Colorado, EUA (Fonte: Judy Hill Lovins,

    2011)

    Passados algumas dcadas sobre a construo e utilizao destes e de outros prottipos e

    exemplos pioneiros, como os edifcios super-isolados nos EUA nos anos 70 e 80 ou as casas de

    baixo consumo energtico na Sucia desenvolvidas por Hans Eek (Passipedia, 2010), so

    identificveis de forma mais clara as lacunas e os pontos a melhorar destas experincias. Os

    aspectos mais crticos so os seguintes (Passipedia, 2010):

    O no reconhecimento da importncia da estanquidade dos edifcios;

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    A ausncia de boas solues de caixilharias e vidros para janelas de elevado

    desempenho;

    A ausncia de solues tecnolgicas simples, fiveis e energeticamente eficientes.

    O projecto Passive House Preparatory Research Project teve como objectivo a construo em

    1990 dos primeiros prottipos Passive House em Darmstadt (Figuras 18 e 19). Os princpios

    que orientaram este projecto foram a definio de janelas com caixilharia com isolamento

    trmico e vidros triplos orientadas a Sul, a reduo de pontes trmicas, elevados nveis de

    isolamento com valores de U entre 0,10 e 0,14 W/(m2K) e o controlo da QAI atravs do sistema

    de ventilao com recuperao de calor. O valor total da energia primria de 120 kWh/m2a. Os

    quatro fogos do edifcio foram habitados no ano seguinte pelas mesmas famlias que hoje ainda

    os habitam (Passipedia, 2010).

    Figura 18 Vista do alado Sul, no Vero de 1992, do primeiro edifcio Passive House,em Darmstadt (Fonte:

    Passivhaus Institut, 2006)

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    Figura 19 Vista geral, na Primavera de 2006, do primeiro edifcio Passive House,em Darmstadt (Fonte:

    Passivhaus Institut, 2006)

    Na sequncia desta colaborao fundado pelo professor Wolfgang Feist o Passivhaus Institut,

    em 1996, sediado em Darmstadt. Este instituto definiu a Passive Housecomo um edifcio, cujo

    conforto trmico (ISO 7730:1994) pode ser alcanado somente pelo ps-aquecimento ou ps-

    arrefecimento da massa de ar fresco, que ter de atingir os requisitos da qualidade do ar

    interior, sem necessitar de uma adicional recirculao do ar(Passipedia, 2010).

    Esta definio puramente funcional, no associando valores numricos e vlida em qualquer

    condio climatrica, mostrando que a Passive House um conceito fundamental e que permite

    a sua adaptao a situaes concretas.

    3.3A implementao do conceito

    Originrio da Alemanha, neste pas que o conceito se encontra mais desenvolvido.

    Actualmente, a construo de Passive Housesest tambm disseminada pelo Norte e Centro da

    Europa, em especial na ustria (Figura 20) (IPHA, 2012).

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    Figura 20 Exemplo Passive Houseedifcio de habitao colectiva concludo em 2009 em Innsbruck, ustria

    Os principais obstculos implementao do conceito nos diversos pases esto relacionados

    com o pouco conhecimento do conceito no seio da indstria da construo, com as limitadas

    capacidades tcnicas dos empreiteiros e construtores e com a dificuldade de aceitao do

    conceito no mercado (PEP, 2008). Estes trs factores acabam por estar relacionados entre si,

    sendo difcil quebrar este ciclo vicioso.

    Para tentar eliminar estas barreiras tm sido envidados esforos, por parte da Unio Europeia,

    na divulgao, promoo e implementao de Passive Housesnos pases membros, atravs de

    diversos projectos.

    Um dos projectos foi o Cost Efficient Passive Houses as European Standards(CEPHEUS), que

    durou quatro anos, entre Janeiro de 1998 e Dezembro de 2001 (Feist et al, 2001). Este projecto

    teve como propsito demonstrar a capacidade do conceito ser concretizado por diferentes

    equipas em diferentes locais e fomentar a criao de massa crtica e de redes de trabalho para o

    seu desenvolvimento. O CEPHEUS permitiu a construo de 221 fogos (estava prevista a

    construo de 250) de acordo com os padres Passive House em cinco pases (Alemanha,

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    ustria, Sua, Frana e Sucia), procedendo sua monitorizao e anlise dos resultados

    obtidos (Feist et al, 2001).

    J o projecto Promotion of European Passive Houses (PEP), suportado parcialmente pela

    Comisso Europeia, teve como objectivo fornecer apoio a todos os intervenientes no processo

    construtivo, alargando a rede de intervenientes e, ao mesmo tempo, introduzindo e

    disseminando o conceito nos pases participantes (Elswijk & Kaan, 2008).

    O PEP durou trs anos, teve incio em Janeiro de 2005 e terminou em Janeiro de 2008, e teve a

    participao de um conjunto mais alargado de pases europeus relativamente ao CEPHEUS

    (Elswijk & Kaan, 2008). A experincia do PEP permitiu estabelecer as bases para a discusso da

    implementao do conceito em pases com climas mais quentes (Elswijk & Kaan, 2008).

    Paralelamente ao PEP, desenvolveu-se o projecto Passive-On, que procurou difundir o conceito

    em climas quentes da Europa, que decorreu de Janeiro de 2005 a Setembro de 2007 (Passive-

    On, 2007). Portugal foi um dos pases participantes neste projecto, a par da Espanha, Frana,

    Itlia e Reino Unido, em que a definio do conceito Passive House se alargou atravs da

    definio de um limite para as necessidades de arrefecimento (Passive-On, 2007).

    Tem tambm vindo a ser feito um esforo para alargar o conceito a regies fora do continente

    europeu, sendo exemplo disso a construo de Passive Housesnos Estados Unidos, na Coreia

    do Sul, no Japo (Figura 21) ou no Chile. Estes exemplos e estas experincias de introduo e

    desenvolvimento do conceito foram destacados na 15 Conferncia Internacional Passive House,

    que decorreu na cidade austraca de Innsbruck, em 27 e 28 de Maio de 2011.

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    Figura 21 Exemplo de Passive Houseedifcio de habitao unifamiliar em Namakura (Japo), concludo em

    2009 (Fonte: Key Architects, 2011)

    Na 16 Conferncia InternacionalPassive House

    , que decorreu na cidade alem de Hannover,em 4 e 5 de Maio de 2012 foi dada sequncia a este processo de alargamento do conceito a

    outras regies como a Rssia ou a China.

    3.4Os padres Passive House

    A IEA considera os edifcios com padres Passive House como o prximo passo a dar nos

    cdigos construtivos, aps os Low-Energy Buildings(LEB). Um edifcio Passive Houseno deve

    ultrapassar os 15 kWh/m anuais para aquecimento e para arrefecimento, ao passo que aosLEB esto associados valores entre 60 a 80 kWh/m para aquecimento (ETP, 2008).

    Em relao aos edifcios convencionais a poupana apresentada ainda mais expressiva: uma

    Passive Houseutiliza apenas 10% da energia consumida num edifcio convencional oferecendo

    ainda uma maior qualidade do ar interior (Kaan, 2008).

    Para alm da poupana energtica e da melhoria dos nveis de conforto, um dos principais

    factores responsveis pelo sucesso da implementao de Passive Houses o baixo custo

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    adicional, em relao a construes convencionais. De acordo com os valores mdios, apurados

    na construo de Passive Houses, o acrscimo no custo de construo no ultrapassa os 10%

    no caso de moradias isoladas, os 8% em moradias em banda e edifcios multifamiliares e 5% em

    edifcios de escritrios e escolas (IPHA, 2012).

    Apesar de ser adaptvel ao clima, de ser um conceito aberto e em desenvolvimento, possui

    requisitos muito especficos relativos aos valores e metas considerados fundamentais para se

    poder considerar um edifcio como Passive House.

    Os requisitos para ser Passive Houseso os seguintes (IPHA, 2012):

    As necessidades de aquecimento e de arrefecimento no podero exceder os

    15kWh/(ma);

    Como alternativa ao ponto anterior, a carga de aquecimento ou de arrefecimento no

    poder exceder os 10W/m;

    A estanquidade ao ar, que ter de ser verificada por entidade independente atravs do

    blower door test e da emisso do respectivo relatrio, com um valor de renovaes do

    volume de ar do edifcio inferior a 0,6h-1, aferidos com uma pressurizao de 50Pa;

    As necessidades de energia primria para a totalidade do aquecimento, arrefecimento,

    AQS e electricidade no podero exceder os 120kWh/(ma);

    A temperatura no interior do edifcio deve ser no mnimo de 20 C no Inverno e de 26C

    no Vero;

    A temperatura excessiva, acima dos 26C, no pode ocorrer em mais do que 10% do

    tempo.

    Poder-se- considerar as necessidades de aquecimento como o requisito chave uma vez que,

    sendo o conceito Passive Houseoriginrio de pases com climas mais frios do Centro e Norte da

    Europa, os consumos associados ao aquecimento dos edifcios so os mais relevantes no total.

    O valor de 15kWh/(ma) foi definido por ser o limite segundo o qual possvel fazer o

    aquecimento apenas pela recuperao do calor, com uma eficincia nunca inferior a 75%,

    atravs da ventilao com o caudal mnimo para garantir a qualidade do ar interior (Bengoa &

    Nitsch, 2011).

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    Com a necessidade da adaptao do conceito a climas mais quentes, nomeadamente aos

    pases do Sul da Europa, foi introduzido o requisito para as necessidades de arrefecimento cujo

    valor limite igual ao das necessidades de aquecimento.

    O valor limite para as necessidades de energia primria tem em conta j os baixos valores para

    suprir as necessidades de aquecimento e arrefecimento, mas tambm pressupe a definio de

    solues eficientes para todos os equipamentos. Este limite tender a ser inferior no futuro, quer

    pela experincia e pelos resultados acumulados que esto geralmente bastante abaixo deste

    valor quer pela constante procura por parte dos fabricantes em apresentar solues cada vez

    mais eficientes (Bengoa & Nitsch, 2011).

    Os requisitos exigidos podero ser atingidos atravs de uma combinao de diferentes solues

    (Feist, 2009):

    Definir solues atravs de estratgias solares Passivas: sempre que possvel os edifcios

    devem ter uma forma compacta para reduzir a sua rea de exposio ao exterior, e

    possuir cerca de 75% dos envidraados orientados a Sul;

    Super-isolamento: os edifcios devero possuir elevados nveis de isolamento para

    reduzir as perdas pelas paredes, cobertura e pavimentos, com especial ateno no

    tratamento das pontes trmicas;

    Aplicao de janelas de elevado desempenho: deve ser tida em considerao a

    qualidade da caixilharia, o tipo de vidros e espaadores e o posicionamento e isolamento

    da caixilharia no vo;

    Garantir a estanquidade do edifcio: deve definir-se uma barreira contnua passagem

    do ar e uma selagem de todas as penetraes da envolvente. Deste modo consegue-se

    uma reduo das infiltraes do ar (quente ou frio), que atravessaria a envolvente,

    permitindo uma maior eficincia do sistema de ventilao com recuperao de calor;

    Sistema de ventilao com recuperao do calor: o sistema deve ter uma eficincia

    superior a 75% para garantir a QAI e o conforto dos utilizadores. Como o edifcio ter de

    ser suficientemente estanque, a taxa de renovao de ar pode ser reduzida para o valor

    de 0,4h-1, garantindo uma boa qualidade do ar interior. O aquecimento adicional pelo ar

    pode ser conseguido por uma pequena bomba de calor ou por energia solar trmica;

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    Sistemas eficientes para gerar calor/frio: para alm da ventilao com recuperao de

    calor, usual a utilizao de uma micro bomba de calor que aproveita o calor do ar

    extrado e aquece o ar insuflado e as guas quentes sanitrias. Para alm dos ganhos

    solares, um edifcio Passive Housepotencia os ganhos internos, nomeadamente o calor

    gerado pela iluminao e electrodomsticos assim como o calor gerado pelas pessoas e

    animais dentro de casa, no sendo necessrios sistemas adicionais de aquecimento

    central.

    3.5Os princpios fundamentais

    A procura da eficincia energtica no edifcio, que o que est na origem do conceito Passive

    House, poder ser comparada com o exemplo que se apresenta na Figura 22. A tarefa de

    manter o caf quente pode ser conseguida das seguintes formas: atravs da utilizao, em

    contnuo, de electricidade no caso da jarra da cafeteira; ou evitando as perdas de calor no caso

    da garrafa termo.

    Figura 22 Preservao da energia vs desperdcio de energia (Fonte: Passivhaus Institut, 2006)

    Os princpios para se conseguir uma Passive Houseso (Gauna, 2011): a adequada definio da

    envolvente opaca do edifcio (elevados nveis de isolamento e a minimizao das pontes

    trmicas); a definio de janelas e portas de elevado desempenho; a estanquidade do edifcio

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    (controlo das infiltraes); a definio de um sistema de ventilao com recuperao de calor; a

    optimizao dos ganhos solares e dos ganhos internos e a modelao energtica de ganhos e

    perdas (atravs de software especfico) (Figura 23).

    Figura 23 Princpios fundamentais de um edifcio Passive House (Fonte: Passivhaus Institut, 2012)

    3.6Envolvente opaca do edifcio

    fundamental assegurar elevados nveis de isolamento de modo a minimizar as perdas pela

    envolvente opaca do edifcio, independentemente do tipo de construo utilizada. Os nveis de

    isolamento variam de acordo com as condies climticas do local, sendo que na Europa

    Central, os valores indicados do coeficiente de transmisso trmica para os elementos das

    paredes exteriores, coberturas e lajes variam entre 0,10 e 0,15 W/(m2K) (Passipedia, 2012).

    Estes valores esto definidos como os mais vantajosos numa anlise custo benefcio e

    correspondem, sensivelmente, a espessuras de isolamento de 20 a 30 cm, que podero ser de

    40 cm ou mais em situaes extremas.

    O objectivo passa por tornar as perdas de calor na estao de aquecimento quase

    negligenciveis e tornar a temperatura da superfcie interior muito prxima da temperatura do ar,

    que ser de 20 no mnimo. Deste modo, conseguem-se atingir elevados nveis de conforto e

    prevenir de forma eficaz a ocorrncia de patologias associadas a condensaes. Em climas

    quentes ou durante a estao de aquecimento o adequado isolamento assegura a proteco em

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    relao ao calor e, deste modo, o conforto dos ocupantes, associada ao sombreamento dos vos

    envidraados e ventilao adequada (Passipedia, 2012).

    Para alm do nvel de isolamento, outro aspecto fundamental est relacionado com a

    minimizao das pontes trmicas, atravs da continuidade da camada de isolamento trmico em

    todos os elementos construtivos (paredes, cobertura, lajes trreas, fundaes). O objectivo

    reduzir ao mximo as pontes trmicas de modo sua contabilizao ser irrelevante (IPHA,

    2012).

    Para se verificar se um edifcio ou projecto cumpre este princpio, deve utilizar-se um lpis e,

    num corte do edifcio, identificar e traar o isolamento trmico sem interrupes. Deste modo

    podero ser identificados os pontos frgeis, tendo em vista a sua resoluo ou minimizao

    (Figura 24). Um exemplo destes pontos frgeis a ligao entre os elementos da envolvente

    opaca e os vo envidraados (Passipedia, 2012).

    Figura 24 Isolamento contnuo na envolvente do edifcio (Fonte: Passivhaus Institut, 2012)

    3.7Vos envidraados

    As janelas so as zonas mais frgeis da envolvente, sob o ponto de vista trmico. So, por esse

    motivo, elementos essenciais para assegurar o conforto no interior do edifcio. A sua importncia

    tambm advm do facto de que so essenciais no balano energtico do edifcio, contribuindo

    com os ganhos solares na estao de aquecimento.

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    Na estao de aquecimento e, sobretudo nos climas mais frios, a instalao de janelas de m

    qualidade origina superfcies frias no interior dos espaos havendo a necessidade de compensar

    as perdas correspondentes e lidar com as condensaes indesejadas. No sentido inverso, a

    instalao de janelas de qualidade contribui para o conforto e possibilita um balano positivo,

    entre os ganhos pelo vidro e as perdas pelo vidro e pela caixilharia (Passipedia, 2012).

    No centro da Europa o valor do coeficiente de transmisso trmica no pode ser superior a

    0,80W/(m2K). Para se conseguir este valor tm de ser definidos vidros triplos, com baixa

    emissividade e um factor solar o mais elevado possvel (geralmente valores de 0,5 para

    potenciar os ganhos solares), caixilharias isolantes (em madeira, em PVC com isolamento no

    interior, em alumnio com isolamento no interior), perfis intercalares dos vidros com baixa

    condutividade e a correcta instalao da janela no vo (de preferncia no alinhamento da

    camada de isolamento) (Passipedia, 2012). Para condies climatricas menos exigentes tero

    de ser adequados os requisitos e respectivos valores.

    O limite de 0,80W/(m2K) justificado pela temperatura exterior mnima considerada para o

    clculo, -10C. Com esta conjugao de factores a temperatura na face interior do vidro ser

    sempre superior a 17C, no originando uma diferena de temperatura elevada relativamente temperatura do ar, que dever ser no mnimo de 20C. O Passivhaus Institutdefiniu o valor de

    3C como o valor mximo para a diferena de temperatura entre a superfcie interior de qualquer

    elemento da janela. a partir deste requisito, e em conjugao com os dados climticos da

    localizao do edifcio, que devero ser definidos os elementos constituintes dos vos

    envidraados (Passipedia, 2012).

    3.8Estanquidade

    A envolvente exterior de um edifcio Passive House tem de ser estanque ao ar, ou seja, deve

    impedir a passagem descontrolada do ar. Este princpio tambm tem aplicao nos edifcios

    convencionais e contraria a noo errada e muito difundida de que as juntas e fissuras existentes

    do edifcio garantem a ventilao e a renovao do ar necessrias para a qualidade do ar interior

    (IBO, 2009).

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    O volume de ar que atravessa as juntas e fissuras est dependente da presso do vento na

    envolvente e da diferena de temperatura entre o interior e o exterior, assim pode acontecer o

    caso do caudal de ventilao no ser suficiente pelo facto de a intensidade do vento ser reduzida

    ou, tendo caudais elevados, existirem muitas perdas trmicas pelo facto de a temperatura

    exterior ser muito inferior (Berger, 2011).

    As vantagens da estanquidade so (IBO, 2009):

    Evita o aparecimento de pat