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PROBLEMA 4 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS: CARDIOVASCULAR, RESPIRATÓRIO E REPRODUTOR SISTEMA CARDIOVASCULAR O processo de envelhecimento modifica e é modificado pelas doenças que acometem o idoso. Os marcos cardiovasculares do envelhecimento em humanos incluem aumento progressivo da pressão sistólica, da pressão de pulso, da velocidade da onda de pulso, da massa de ventrículo esquerdo (VE) e aumento na incidência de doença arterial coronariana (DAC) e fibrilação arterial (FA). O envelhecimento atualmente pode ser considerado um processo heterogêneo em razão de diferenças genéticas ou morte celular programada, bem como fatores externos, como doenças, dieta, exercício e estilo de vida ou a combinação de todos esses fatores. A impossibilidade da distinção da importância desses fatores no sistema cardiovascular nos dificulta dizer se essas alterações são próprias do envelhecimento ou resultantes de tais fatores Fatores de risco: Apesar de vários estudos epidemiológicos terem demonstrado que fatores genéticos, dislipidemias, diabetes e vida sedentária são os principais fatores de risco para doença coronária, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), consideradas as doenças cardiovasculares mais prevalentes em nosso meio, é a idade que se configura como o principal fator de risco cardiovascular. TEORIAS DO ENVELHECIMENTO CARDIOVASCULAR o TEORIAS FISIOLÓGICAS: alterações da matriz proteica extracelular relacionadas com o tempo, principalmente do colágeno e substância fundamental; essas alterações são a base de explicação do aumento da rigidez pericárdica, valvular e talvez miocárdica e dos tecidos vasculares associadas à idade. o TEORIAS ORGÂNICAS IMUNOLÓGICAS: alterações de seleção específica no sistema cardiovascular, explicando as características de duração da sobrevivência da espécie em termos de disfunção imunológica programada. NEUROENDÓCRINAS Com o avanço da idade, o coração e os vasos sanguíneos apresentam alterações morfológicas e teciduais, mesmo na ausência de qualquer doença, sendo que, ao conjunto dessas alterações, convencionou chamar-se coração senil ou presbicárdia ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS o PERICARDIO: desgaste progressivo, sob a forma de espessamento difuso, particularmente nas cavidades esquerdas do coração, sendo comum o aparecimento do aumento da taxa de gordura epicárdica, não havendo alterações degenerativas ligadas diretamente à idade. o ENDOCARDIO: Espessamento e a opacidade, em especial no coração esquerdo, com proliferação das fibras colágenas e elásticas, fragmentação e desorganização destas com perda da disposição uniforme habitual, devido à hiperplasia irritativa resultante da longa turbulência sanguínea; infiltração lipídica; alterações escleróticas são observadas de modo difuso em todas as câmaras o MIOCÁRDIO: Colágeno aumentado, diâmetro fibroso aumentado e cruzamento de ligações de colágeno, com aumento na proporção de colágeno dos tipos I e III, diminuição de

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PROBLEMA 4

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DOS ÓRGÃOS E SISTEMAS: CARDIOVASCULAR,

RESPIRATÓRIO E REPRODUTOR

❖ SISTEMA CARDIOVASCULAR

O processo de envelhecimento modifica e é modificado pelas doenças que acometem o idoso.

Os marcos cardiovasculares do envelhecimento em humanos incluem aumento progressivo da pressão

sistólica, da pressão de pulso, da velocidade da onda de pulso, da massa de ventrículo esquerdo (VE) e

aumento na incidência de doença arterial coronariana (DAC) e fibrilação arterial (FA).

O envelhecimento atualmente pode ser considerado um processo heterogêneo em razão de diferenças

genéticas ou morte celular programada, bem como fatores externos, como doenças, dieta, exercício e estilo de

vida ou a combinação de todos esses fatores. A impossibilidade da distinção da importância desses fatores no

sistema cardiovascular nos dificulta dizer se essas alterações são próprias do envelhecimento ou resultantes

de tais fatores

Fatores de risco: Apesar de vários estudos epidemiológicos terem demonstrado que fatores genéticos,

dislipidemias, diabetes e vida sedentária são os principais fatores de risco para doença coronária, hipertensão

arterial, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), consideradas as doenças cardiovasculares

mais prevalentes em nosso meio, é a idade que se configura como o principal fator de risco cardiovascular.

• TEORIAS DO ENVELHECIMENTO CARDIOVASCULAR

o TEORIAS FISIOLÓGICAS: alterações da matriz proteica extracelular relacionadas com o

tempo, principalmente do colágeno e substância fundamental; essas alterações são a base de

explicação do aumento da rigidez pericárdica, valvular e talvez miocárdica e dos tecidos

vasculares associadas à idade.

o TEORIAS ORGÂNICAS

▪ IMUNOLÓGICAS: alterações de seleção específica no sistema cardiovascular,

explicando as características de duração da sobrevivência da espécie em termos de

disfunção imunológica programada.

▪ NEUROENDÓCRINAS

Com o avanço da idade, o coração e os vasos sanguíneos apresentam alterações morfológicas e teciduais,

mesmo na ausência de qualquer doença, sendo que, ao conjunto dessas alterações, convencionou chamar-se

coração senil ou presbicárdia

• ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS

o PERICARDIO: desgaste progressivo, sob a forma de espessamento difuso, particularmente

nas cavidades esquerdas do coração, sendo comum o aparecimento do aumento da taxa de

gordura epicárdica, não havendo alterações degenerativas ligadas diretamente à idade.

o ENDOCARDIO: Espessamento e a opacidade, em especial no coração esquerdo, com

proliferação das fibras colágenas e elásticas, fragmentação e desorganização destas com perda

da disposição uniforme habitual, devido à hiperplasia irritativa resultante da longa turbulência

sanguínea; infiltração lipídica; alterações escleróticas são observadas de modo difuso em todas

as câmaras

o MIOCÁRDIO:

▪ Colágeno aumentado, diâmetro fibroso aumentado e cruzamento de ligações de

colágeno, com aumento na proporção de colágeno dos tipos I e III, diminuição de

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elastina e fibronectina aumentada, podendo ocorrer aumento na produção de matriz

extracelular.

▪ Proliferação de fibroblastos é induzida por fatores de crescimento, em particular

angiotensinas, fator alfa de necrose tumoral, e fator de crescimento derivado de

plaquetas; estas mudanças são acompanhadas de perda celular e alterações nas funções

celulares.

▪ Acúmulo de gordura principalmente nos átrios e no septo interventricular, mas pode

também ocupar as paredes dos ventrículos; → Na maioria dos casos não apresenta

expressão clínica, sendo que em algumas situações parece favorecer o aparecimento de

arritmias atriais

▪ Moderada degeneração muscular com substituição das células miocárdicas por tecido

fibroso, sem correlação com lesões de artérias coronárias.

▪ Presença de depósitos intracelulares de lipofuscina, chamada de pigmento senil

▪ O aumento da resistência vascular periférica pode ocasionar moderada hipertrofia

miocárdica concêntrica, principalmente de câmara ventricular esquerda.

▪ Depósitos de substância amiloide que, com frequência, constitui a chamada amiloidose

senil, sendo que sua prevalência aumenta de forma rápida após os 70 anos, podendo

atingir 50 a 80% dos indivíduos. A presença de depósitos amiloides está relacionada

frequentemente à maior incidência de insuficiência cardíaca, independentemente da

presença ou não de outra causa → pode ocupar áreas do nódulo sinoatrial e/ou do

nódulo de Tawara, podendo acarretar complicações de natureza funcional, como

arritmias atriais, disfunção atrial e até bloqueio atrioventricular.;

o ALTERAÇÃO DAS VALVAS: observa-se degeneração e espessamento dessas estruturas,

sendo que, histologicamente, as valvas de quase todos os indivíduos idosos apresentam algum

grau dessas alterações, mas somente uma pequena proporção irá desenvolver anormalidades

em grau suficiente para desencadear manifestações clínicas. → As manifestações acontecem

particularmente em cúspides do coração esquerdo, sendo raras em valvas pulmonares e

tricúspide.

▪ Alterações metabólicas com redução do conteúdo de mucopolissacarídios e aumento

da taxa de lipídios; processos moderados de espessamento, de esclerose discreta, de

fragmentação colágena com pequenos nódulos na borda de fechamento das cúspides,

que se acentuam com a idade.

▪ VALVA MITRAL: Calcificação, degeneração mucoide, espessamento e depósito de

lipídios; é uma das alterações mais importantes e mais comuns do envelhecimento

cardíaco; A presença da degeneração mucoide ou mixomatosa torna o tecido valvar

frouxo e, com isso, poderemos ter prolapso e insuficiência mitral

▪ VALVA AÓRTICA: processo mais importante na valva aórtica é a calcificação, sendo

mais frequente em indivíduos do sexo masculino, sendo já relatada, em estudos antigos,

a ocorrência de esclerose primária de Monkberg. Pode haver concomitante calcificação

das coronárias. Na maioria dos casos, as alterações estruturais não acarretam

manifestações clínicas, observando-se sopro sistólico em área aórtica, não sendo,

geralmente, encontrada estenose valvar sem comprometimento da abertura das

cúspides. O diagnóstico diferencial entre os estados de calcificação, com e sem estenose

valvar, é importante para a conduta clínica.

▪ ALTERAÇÕES NOS SISTEMAS DE CONDUCTO ESPECÍFICOS: Processos

degenerativos e/ou depósitos de substâncias podem ocorrer desde o nódulo sinusal aos

ramos do feixe de His. O envelhecimento é acompanhado de acentuada redução das

células do nó sinusal. Essas alterações se instalam de forma lenta e gradual após os 60

anos e não estão, geralmente, relacionadas com a doença coronariana, sendo que os

distúrbios do ritmo relacionados com esse processo variam de arritmias benignas até

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bloqueios de ramos que evoluem para bloqueios atrioventriculares, podendo levar até a

crises de Stokes-Adams.

o ALTERAÇÕES DA AORTA

▪ Os processos ocorrem na camada média, sob a forma de atrofia, de descontinuidade e

de desorganização das fibras elásticas, aumento de fibras colágenas e eventual

deposição de cálcio

▪ formação de fibras colágenas não distensíveis, resultando, portanto, em redução da

elasticidade, maior rigidez da parede e aumento do calibre;

▪ observa-se, ocasionalmente, aumento da pressão sistólica e da pressão de pulso, com

moderadas repercussões sobre o trabalho cardíaco

▪ Em alguns casos podemos ter dilatação da artéria e aumento do anel valvar com certo

grau de insuficiência das cúspides, a chamada insuficiência aórtica isolada, quase

sempre assintomática, com sopro diastólico curto audível em área de base ou ápice do

coração, sem os sinais periféricos da insuficiência aórtica significativa.

o ALTERAÇÕES ARTERIAIS

▪ remodelamento da parede das grandes artérias elásticas nos humanos, que são similares

às dos animais, sendo as principais: dilatação da luz do vaso, aumento da espessura da

parede, principalmente da íntima, rigidez das artérias elásticas com disfunção

endotelial, com consequente aumento da pressão sistólica, da pressão de pulso e da

velocidade da onda de pulso, levando a aumento da pós-carga.

▪ migração de células musculares lisas vasculares ativadas para a íntima, com produção

aumentada de matriz relacionada com a atividade alterada de metaloproteinases de

matriz, angiotensina II transformando o fator de crescimento, moléculas intercelulares

de adesão celular, produção de colágeno com perda das fibras elásticas, aumento na

fibronectina e calcificação. Estes processos levam a dilatação arterial e maior

espessamento da íntima com maior enrijecimento vascular

▪ O aumento da rigidez arterial leva a aumento da pós-carga diretamente pela diminuição

da complacência arterial, e indiretamente acelera a velocidade de propagação da onda

de pulso pelo sistema vascular, promovendo um retorno precoce ainda no período

sistólico na parede da raiz da aorta, como consequência, ocorrendo um pico tardio da

pressão sistólica, com aumento desta, bem como aumento da pressão de pulso e

aumento da pós-carga

o ALTERAÇÃO DAS CORONÁRIAS

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▪ Perdas de tecido elástico e aumento do colágeno acumulando-se em trechos proximais

das artérias.

▪ Eventualmente, ocorre depósito de lipídios com espessamento da túnica média.

▪ É comum a presença de vasos epicárdicos tortuosos

▪ calcificação das artérias coronárias epicárdicas, podendo atingir o tronco coronário e as

três grandes artérias, ocupando geralmente o terço proximal desses vasos.

• SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

o A eficácia da modulação beta-adrenérgica sobre o coração e os vasos diminui com o

envelhecimento

o As consequências funcionais da diminuição da influência simpática sobre o coração e vasos do

idoso são observadas principalmente durante o exercício; portanto, à medida que o idoso

envelhece, o aumento do débito cardíaco durante o esforço se obtém com o maior uso da lei de

Frank-Starling com dilatação cardíaca, aumentando o volume sistólico para compensar a

resposta atenuada da frequência cardíaca

o O efeito vasodilatador dos agonistas beta-adrenérgicos sobre a aorta e os grandes vasos também

diminui com a idade, bem como a resposta inotrópica do miocárdio às catecolaminas e a

capacidade de resposta dos barorreceptores às mudanças de posição → HIPOTENSÃO

POSTURAL

• FUNÇÃO CARDIOVASCULAR

o diminuição da reserva funcional, limitando o desempenho durante a atividade física, bem como

reduzindo a capacidade de tolerância em várias situações de grande demanda, principalmente

nas doenças cardiovasculares

o O débito cardíaco pode diminuir em repouso

o Diminuição da resposta de elevação da frequência cardíaca ao esforço ou outro estímulo.

o Diminuição da complacência do ventrículo esquerdo

o Ocorre diminuição da complacência arterial, com aumento da resistência periférica e

consequente aumento da pressão sistólica, com aumento da pós-carga dificultando a ejeção

ventricular devido às alterações estruturais na vasculatura

o Diminuição da resposta cronotrópica e inotrópica às catecolaminas

o Diminuição do consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.)

o Diminuição da resposta vascular ao reflexo barorreceptor, com maior suscetibilidade do idoso

à hipotensão.

o Diminuição da atividade da renina plasmática, com diminuição da resposta ao peptídio

natriurético atrial, embora a sua concentração plasmática esteja aumentada

• ALTERAÇÕES CARDÍACAS NO ENVELHECIMENTO

o O estilo de vida sedentário aumenta com a idade

o Alterações no padrão de enchimento ventricular, comprometimento da fração de ejeção durante

o exercício e alterações do ritmo cardíaco, não resultando em doenças, mas comprometendo a

reserva do coração e alterando o prognóstico das doenças cardiovasculares, bem como sua

gravidade

o O conteúdo de fosfolipídio das plaquetas é alterado, e a atividade das plaquetas é aumentada.

o Níveis aumentados de inibidor do ativador do plaminogênio (PAI-1) são observados com o

envelhecimento, especialmente durante estresse, resultando em fibrinólise prejudicada.

o Citocinas inflamatórias circulantes, especialmente a interleucina-6

o Aumento de desenvolvimento da aterosclerose

❖ SISTEMA RESPIRATÓRIO

• Introdução

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Sabe-se que a maturação pulmonar plena ocorre entre 20 e 25 anos de idade, seguindo-se progressivo

declínio funcional respiratório.

• Mecânica do aparelho respiratório

O envelhecer provoca alterações na parede torácica, diminuindo sua complacência. A osteoporose senil

reduz, progressiva ou agudamente, no caso de fraturas, a altura das vértebras torácicas. Estima-se que após os

70 anos de idade perde-se em estatura entre 0,3 a 0,4 cm por ano de vida.

Secundariamente à osteoporose senil, observam-se também cifose e aumento do diâmetro anteroposterior

do tórax que, associados à calcificação das articulações condroesternais e condrovertebrais, reduzem a

expansibilidade torácica durante a inspiração. Essas modificações osteoarticulares alteram a curvatura

diafragmática, interferindo na contração muscular efetiva para uma mecânica respiratória eficaz.

• Musculatura respiratória

Estima-se que a perda progressiva de massa muscular com a idade, particularmente nas fibras de contração

rápida (tipo II), diminua a capacidade de tensão muscular necessária ao diafragma. Observam-se também

alterações nas junções neuromusculares e perda de neurônios motores periféricos com seletiva desnervação

para as fibras musculares tipo II. Isso gera maior trabalho muscular e gasto energético relacionado com a

respiração; estima-se que um homem com 60 anos de idade consuma 20% de energia a mais que um adulto

jovem para a mesma atividade respiratória. Isso leva aos casos de insuficiência respiratória.

• Parênquima pulmonar

Notam-se, porém, mudanças de configuração do colágeno e a existência de pseudoelastina no parênquima

desse órgão, causando progressiva queda da pressão de retração elástica do pulmão. Isso gera aumento da

distensão e rigidez pulmonar com a idade. Após os 50 anos de idade, associa-se, ainda, a degeneração das

fibras elásticas ao redor dos ductos alveolares que promove constrição prematura das pequenas vias

respiratórias durante a expiração.

• Alterações imunológicas

Mecanismos de limpeza não específicos – como a secreção brônquica – e vários componentes de vigilância

imune inata – como neutrófilos e macrófagos – encontram-se constantemente ativos nesses órgãos, impedindo

dessa forma o desenvolvimento de infecções recorrentes.

Há aumento da proporção de neutrófilos e redução do número de macrófagos em faixas etárias mais

avançadas. Nota-se também aumento de imunoglobulinas – IgA e IgM – e da relação entre linfócitos

CD4+/CD8+ com a idade. A mudança dessa relação entre linfócitos sugere incremento na coordenação das

respostas imunes (CD4), possivelmente, pelo volume de estímulos antigênicos repetitivos durante o processo

da vida, e perda parcial da capacidade de destruição (CD8) de células infectadas por vírus. Observa-se ainda

maior habilidade dos macrófagos alveolares em liberar radicais livres em resposta a estímulos ambientais e/ou

a microrganismos no idoso.

• Provas de função pulmonar

Dados considerados para avaliar a função pulmonar:

✓ O volume residual ou espaço morto aumenta em aproximadamente 50% entre os 20 e 70 anos de

idade

✓ Nesse mesmo período etário, nota-se decréscimo de até 75% da capacidade vital (somatória dos

volumes: corrente, de reserva inspiratória e de reserva expiratória)

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✓ Ocorre ainda aumento da capacidade residual funcional (volume de reserva expiratória mais

volume residual), ou seja, os idosos necessitam respirar maiores volumes de ar do que os adultos

jovens

✓ Observa-se queda do volume expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) de

aproximadamente 20 a 29 ml por ano de idade, bem como da capacidade vital forçada (CVF) de

14 a 25 ml por ano de idade

✓ O fluxo expiratório máximo (ou peak flow) tende a decrescer com a idade devido às mudanças nas

pequenas vias respiratórias pelo envelhecimento

✓ Não se observaram alterações específicas em curvas de fluxo inspiratório, embora o valor do fluxo

inspiratório máximo decresça com a idade.

• Controle da respiração e trocas gasosas

Com o envelhecimento, nota-se aumento da frequência respiratória para a manutenção de valores

respiratórios adequados. Tal aumento reduz a reserva funcional dos pulmões e produz diminuição da resposta

ventilatória à hipoxia e à hipercapnia em idosos ao repouso.

A associação de perda progressiva de mecanismos compensatórios com o envelhecimento torna o grupo

dos idosos extremamente vulnerável clinicamente a situações relacionadas com mudanças súbitas de valores

arteriais de oxigênio e de gás carbono.

• Receptores pulmonares

A densidade de adrenorreceptores beta nos pulmões não sofre alterações durante o envelhecimento,

embora a redução dos receptores de alta afinidade e, por consequência, a queda em atividades mediadas pela

adenilciclase, como a fosforilação, sejam relatadas.

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❖ SISTEMA REPRODUTOR

• Introdução

Os novos critérios diagnósticos para a Disfunção Erétil Masculina, são os seguintes:

A. Persistente ou recorrente inabilidade para chegar a uma ereção adequada ou mantê-la até que seja

completada a atividade sexual.

B. Esse distúrbio causa intenso desconforto ou dificuldade interpessoal.

C. A DE não é explicada mais eficientemente por um outro distúrbio do eixo I (que não seja um distúrbio

sexual), e não pode ser exclusivamente atribuída aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (i. e., uso

abusivo de droga ilícita ou de uma medicação), ou de uma condição médica geral.

Além disso, o médico deverá definir as seguintes 3 especificações:

1. Vida toda versus adquirida;

2. Geral versus situacional;

3. Atribuível a fatores médicos, psicológicos, ou combinados.

• Fisiopatologia da disfunção erétil

Todo o mecanismo depende do funcionamento adequado da inervação peniana, das artérias e veias, e de

uma anatomia peniana intacta. Danos a qualquer uma dessas estruturas podem causar DE. Os nervos podem

ser afetados por trauma (p. ex., na prática de ciclismo), ou irradiação (tratamento de tumores na região pélvica),

ou patologia sistêmica (diabetes melito). Uma obstrução do fluxo arterial por doença aterosclerótica pode

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impedir a ereção. Anormalidades anatômicas e estruturais do pênis e dos corpos cavernosos, por patologias

como a doença de Peyronie, ou como consequência de traumas físicos, também podem interferir nesse

mecanismo. Modificações estruturais das moléculas de colágeno relacionadas ao processo de envelhecimento

podem aumentar a vulnerabilidade da anatomia peniana a essas doenças.

• Fatores de risco e causas da DE

A DE é causada, 80% das vezes, por patologia orgânica, sendo que a etiologia mais comum é vascular. Os

fatores de risco para doença cardiovascular também estão fortemente associados à DE (Roumenegere, 2003).

A lição mais importante que se depreende dessas observações é que “o que faz mal para o coração faz mal

para o pênis”. Isso inclui hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, diabetes e tabagismo.

Além disso, parece que a DE é um marcador de patologia cardiovascular nos seus estágios iniciais, muitas

vezes antecedendo por vários anos eventos catastróficos como AVC ou IAM e também ocorrendo

provavelmente antes que haja doença vascular obstrutiva peniana importante.

O endotélio vascular é um tecido dinâmico que, quando normofuncionante, libera óxido nítrico (ON) em

resposta a certos estímulos, como, por exemplo, aumento do fluxo sanguíneo, e a liberação de ON resulta em

vasodilatação. Na disfunção endotelial essa liberação é deficiente, e a consequente resposta vasodilatadora

arterial é insuficiente. Essa disfunção seria um evento precoce, ocorrendo nas fases pré-clínicas, antes do

aparecimento das alterações estruturais características da aterosclerose, tais como a deposição de placas.

A disfunção venosa, mesmo sem patologia arterial concomitante, ao provocar o escoamento de sangue

pelas vênulas subtúnicas, pode impedir o desenvolvimento de pressões suficientemente altas nos corpos

cavernosos, impossibilitando assim a manutenção de uma ereção rígida. Essa disfunção venosa pode ser

consequência de trauma, da formação de fístula arteriovenosa, ou da doença de Peyronie.

As doenças endócrinas mais comumente associadas à DE são o hipogonadismo, doenças da tireoide (hipo

ou hiper), hiperprolactinemia, e o diabetes melitos. As insuficiências renal e hepática são patologias sistêmicas

metabólicas que causam DE. A hipertrofia prostática benigna também está associada a dificuldades com

ereção. Não podemos deixar de lado a ansiedade, especialmente aquela ligada à pressão de desempenho, e a

depressão, que parece ser uma causa mais importante em pacientes mais jovens.

Doenças neurológicas são comumente associadas à DE entre idosos. As mais importantes são a neuropatia

relacionada ao diabetes melitos, sequelas de AVC e o mal de Parkinson.

A associação de medicações com DE merece um comentário à parte; essa é uma questão especialmente

importante na população geriátrica. Mais de 100 medicações têm sido ligadas à DE, mas existem poucos

estudos realmente confiáveis a respeito. As mais fortemente associadas ao problema são: anti-hipertensivos,

especialmente diuréticos e agentes de ação central; digoxina, provavelmente pelos seus efeitos

antiandrogênicos; estatinas e fibratos; bloqueadores do receptor H2, principalmente a cimetidina, mas também

a ranitidina; existem relatos da DE relacionada a omeprazol; metoclopramida, certamente porque causa

hiperprolactinemia, está ligada à disfunção sexual; analgésicos opioides. Quanto às medicações psicotrópicas,

existem alguns dados surpreendentes: os antidepressivos tricíclicos na realidade têm pouca associação com

DE, enquanto os inibidores da recaptação de serotonina estão mais ligados a disfunção ejaculatória; já os

neurolépticos têm uma associação clara com a DE. Os relatos de disfunção com benzodiazepínicos são, na

verdade, bastante infrequentes. O álcool e, principalmente o alcoolismo, têm uma forte ligação com problemas

sexuais.

De maneira geral, podemos afirmar que patologias vasculares e hipogonadismo são as causas mais comuns

no grupo com mais do que 60 anos, enquanto depressão e problemas conjugais são mais importantes no grupo

com menos do que 60 anos.

• Envelhecimento do aparelho reprodutor feminino

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O envelhecimento do sistema ginecológico leva a alterações funcionais que, a despeito de a mulher manter

hábitos de vida saudáveis, pode contribuir para o aparecimento de doenças. A maior parte dessas patologias

ocorre no período pós-menopausa e podem estar relacionadas à deficiência estrogênica. Há também aumento

da prevalência de câncer nessa fase da vida.

A mulher idosa comumente falha em manter sua avaliação ginecológica rotineira. Estima-se que, em

muitos casos, quando um problema ginecológico é diagnosticado, já apresenta sintomas há cerca de 8 meses

e não é feita avaliação preventiva há 4,5 anos.

A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE

As expressões de interesse e práticas sexuais na velhice, que eram toleradas há alguns anos com certo

estranhamento, tornaram-se elementos determinantes para a saúde física e emocional daqueles que estão em

processo de envelhecimento

A PSICOSSEXUALIDADE NOS FAZ DIFERENTE

A sexualidade humana não está a serviço apenas da procriação e preservação da espécie, posto que tem como

fator propulsor a realização de desejo e a busca do prazer

Enquanto categoria social, a velhice não define a respeito da cada sujeito. A idade cronológica pode nos dar

indicativos dos aspectos corporais, fisiológicos ou mesmo sociais de uma pessoa, o que não determina como

cada sujeito experienciar essas inscrições em sua história. Tampouco os inventários convencionais de escalas

de desenvolvimento podem estipular padrões psicológicos de como se deve envelhecer. Podemos, com isso,

afirmar que a velhice será vivida diferentemente em cada época e em cada cultura

O crescimento do individualismo no nosso estilo de vida tem capacitado os velhos a formarem seu próprio

juízo, aumentando suas possibilidades de cultivar, conscientemente, uma sexualidade e um erotismo

específicos da velhice, seja com relação ao próprio relacionamento de casal ou de pessoas sozinhas, em sua

disposição para recomeçar outros relacionamentos.

Do ponto de vista da psicanálise, a sexualidade é forjada nos processos de identificação com os objetos

amorosos, nas primeiras experiências de vida. São elas que permitirão a cada um, em sua singularidade,

construir formas preferenciais de satisfação em relação a esses objetos. Por transferência, essas formas de

satisfação se estenderão a objetos substitutos ou a outras formas de manifestação e realização para além do

biológico. Por isso, a sexualidade pode se transformar em outros meios de expressão sublimatórias, via

atividades criativas, artísticas ou na convivência com grupos de amigos, familiares, em que a ternura, o toque

e as fantasias dão vazão ao erotismo

Não podemos negar ou esquecer o caráter indestrutível do desejo, o qual não tem idade. Mucida (2006) nos

lembra que “o desejo não tem a idade de nossos vasos sanguíneos ou nossos órgãos. Nessa direção, a velhice

implica um saber vestir esse desejo” (Mucida, 2006).

Resgatar o direito do idoso a uma vida sexual implica pensar o amor em suas formas de transformação

libidinal, ou seja, outras formas de amor, que passam pela ternura, pelos contatos físicos que erogenizam o

corpo, ou seja, despertam o erótico no corpo como o olhar, o toque, a voz, redescobrindo as primeiras formas

de amor do ser humano. O velho idoso não deixa de amar, mas reinventa formas amorosas.

O sexo e o amor na velhice mudam o caráter explosivo e exuberante da juventude, tomando a forma da ternura,

do carinho, do toque sutil, da valorização da sensibilidade dos pequenos gestos, respeitando as diferenças de

suas manifestações no homem e na mulher. É de extrema importância poder pensar que a partir da redescoberta

do sexo e do amor, o velho reconquista o lugar vital de homem e mulher e não mais o de um velho que tem

como futuro o fim da vida. Novamente, é na relação com o Outro que está a importância da redescoberta do

desejo de viver.

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A capacidade de amar não tem limite cronológico. O limite está no psicológico, no preconceito e na

intolerância social. O limite não está no real do corpo, ou na capacidade de sonhar, de simbolizar, de viver a

vida.

São também reconhecidos os efeitos potencializadores das vivências sexuais, uma vez que a sexualidade pode

ser compreendida como uma atividade que contribui positivamente para a qualidade de vida da pessoa idosa.

Trata-se de um processo natural que obedece a uma necessidade fisiológica e emocional do indivíduo e que

se manifesta de forma diferenciada nas diferentes fases do desenvolvimento humano. Visa o prazer, o bem-

estar, a autoestima e a busca de uma relação íntima, compartilhando o amor e o desejo com outra pessoa para

criar laços de união mais intensos. Corresponde a uma função vital do ser humano, na qual intervêm múltiplos

fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais transmitidos de geração em geração, dando sentido e

significado à existência humana

Freud (1905/1996), um dos pioneiros nos estudos da sexualidade humana, afirma em sua obra, Três ensaios

sobre a teoria da sexualidade, que o prazer é um objetivo da sexualidade humana, desvinculava as vivências

sexuais do significado exclusivo da reprodução. Sua tese foi confirmada com a recente emergência do conceito

de saúde sexual e com a dissociação progressiva do conceito de reprodução, o que coloca em evidência a

autonomização da vida sexual e sua importância para a realização e o bem-estar dos indivíduos durante toda

a vida

Socialmente, tem-se considerado a pessoa idosa como assexuada, desprovida de desejos e de vida sexual,

como se os anos lhe trouxessem uma inapetência neste aspecto vital do desenvolvimento humano (Gonzalez

& Brenes, 2007). Entretanto, a literatura atual tem demonstrado não existirem razões fisiológicas que impeçam

as pessoas idosas, em condições satisfatórias de saúde, de apresentarem uma vida sexual ativa.

Tal fato é extremamente prejudicial aos idosos, haja vista que a sexualidade é um componente fundamental

da qualidade de vida, essencial para manter as relações interpessoais saudáveis, o autoconceito e um senso de

integridade. Está ligada ao senso de autoestima e, se negada, pode ter efeitos deletérios não só sobre a

sexualidade em si, mas também em uma autoimagem, relações sociais e saúde mental

As vivências sexuais, independentemente da idade, proporcionam ao casal a possibilidade de se realizar

pessoalmente, refletem a intimidade e a cumplicidade e enriquecem as relações humanas. Para os idosos, a

sexualidade é fisiologicamente possível, emocional e afetivamente enriquecedora, porquanto fortalece a

importância do carinho, do apego, a comunicação, o companheirismo e o cuidado mútuo

No envelhecimento, a sexualidade varia tanto quanto os demais comportamentos, mas isso não implica

necessariamente uma redução drástica da resposta sexual, já que ela depende fundamentalmente da atitude

que cada pessoa adota diante da vida. Ocorre de maneira extremamente individual e não se processa do mesmo

modo em todas as épocas, nem sequer da mesma forma em todos os indivíduos

Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, muitos idosos que ainda possuem desejo sexual,

experimentam, algumas vezes, sentimentos de culpa e de vergonha, pelo simples fato de se perceberem com

vontade de procurar a obtenção do prazer. Estes padrões de comportamento criados pela sociedade limitam a

sexualidade humana ao período da juventude, não sendo, portanto, reforçado pela sociedade na velhice. Ao

contrário, o idoso é, muitas vezes, vítima de preconceito, o que acarreta grande perda em sua qualidade de

vida.

No campo assistencial, a temática da sexualidade do idoso foi negligenciada pela área da saúde e pelo poder

público, sendo a vida sexual da pessoa idosa tratada como algo inexistente. Consequentemente, a possibilidade

de uma pessoa com mais de 60 anos ser infectada pelo vírus HIV era considerada remota. Entretanto, dados

nacionais referem que o índice de HIV entre idosos já supera o de adolescentes entre 15 e 19 anos (Santos &

Assis, 2011). As explicações para esse aumento do número de casos de HIV em idosos referem-se ao

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envelhecimento populacional, ao aumento da sobrevida das pessoas com HIV/Aids, bem como ao acesso aos

medicamentos para disfunções eréteis, em associação com a desmistificação do sexo na velhice

Em relação à sexualidade, ainda nos dias atuais, verificam-se dois problemas na abordagem dessa temática no

momento do atendimento aos idosos. Por um lado, muitas vezes, o profissional de saúde sente-se

envergonhado em fazer perguntas de âmbito sexual para os idosos, considerando falta de respeito tal

indagação; e por outro, é comum o idoso ficar envergonhado e não ter coragem de fazer perguntas ao

profissional, porque teme ser mal interpretado. os profissionais de saúde devem ser isentos de preconceitos,

falar diretamente sobre o assunto, responder a todas as questões, sem rodeios ou constrangimentos, mostrar

que querem e precisam discutir o tema, com interesse, e mostrar dados científicos sobre alguns assuntos, caso

o idoso deseje.

As dificuldades de comunicação entre idosos e profissionais de saúde são notórias e, em parte, devem-se a

falhas na formação acadêmica destes profissionais acerca da geriatria e gerontologia, e além disso, os estudos

existentes abordam questões sobre disfunções e mudanças no funcionamento sexual do homem e da mulher,

trazendo poucas reflexões acerca da forma como os idosos têm lidado emocionalmente com sua sexualidade

ASPECTOS ECONOMICOS DO IDOSO

❖ O ENVELHECIMENTO NA ATUALIDADE: ASPECTOS CRONOLÓGICOS,

BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS

Socialmente, pode-se inferir que a pessoa é definida como idosa a partir do momento em que deixa o

mercado de trabalho, isto é, quando se aposenta e deixa de ser economicamente ativa. A sociedade atribui aos

aposentados o rótulo de improdutivos e inativos. Com a aposentadoria, muitas vezes se percebe um

rompimento abrupto das relações sociais com outras pessoas com as quais o indivíduo conviveu durante

muitos anos. Ocorre, ainda, uma redução salarial considerável e a falta de atividades alternativas fora do

ambiente de trabalho.

Pacheco (2005) considera a aposentadoria “um rito de passagem para a velhice, ela acentua sua vinculação

à terceira idade, numa sociedade de consumo na qual apenas o novo é cultuado como fonte da renovação, do

desejo, da posse” (p. 65). Debert (1999) possui outro entendimento à medida que não considera a

aposentadoria uma passagem para a velhice. Para essa autora, a aposentadoria deixou de ser um momento de

descanso e recolhimento e tornou-se um período de atividade e lazer. Mais uma vez, percebe-se o quanto a

velhice é uma experiência heterogênea e complexa, pois para alguns a aposentadoria pode significar o

desengajamento da vida social e, para outros, o início de uma vida social prazerosa, composta por atividades

e lazer.

A SITUAÇÃO SOCIAL DO IDOSO NO BRASIL: UMA BREVE CONSIDERAÇÃO

Os estudos sobre a aposentadoria revelam que, comumente é gerada uma crise no indivíduo. A retirada da

vida de competição, a auto-estima e a sensação de ser útil se reduzem. No início a maioria dos idosos se sente

satisfeito, pois lhe parece ser muito bom poder descansar. Aos poucos, descobrem que sua vida tornou-se

tristemente inútil. Nesta ausência de papéis é que podemos observar o verdadeiro problema do aposentado,

sua angústia, sua marginalização e, muitas vezes o seu isolamento do mundo. Percebendo que ninguém

necessita dele por estar isolado, recusado e excluído da sociedade, ele se sente cada vez mais angustiado,

tornando difícil sua adequação ao mundo no qual vive. Aliado a esses fatores da aposentadoria, o idoso

também enfrenta uma queda do nível de renda que, por sua vez, afeta a qualidade de vida bem como a saúde.

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O trabalho e seu significado na formação do indivíduo é uma questão importante a ser levantada quando

se discute a aposentadoria. É na atividade profissional que depositamos nossas aspirações pessoais e

perspectivas de vida.

É o trabalho que permite o ato de existir enquanto cidadão e auxilia na questão de se traçar redes de

relações que servem de referência, determinando, portanto, o lugar social e familiar. Pode ocorrer também o

contrário, e o idoso inserir-se num processo de despersonalização.

Na realidade do contexto social de muitos países, os idosos apresentam poucas perspectivas em relação ao

futuro. Embora o progresso industrial e tecnológico tenha conquistado avanços, identifica-se outro problema

concernente ao idoso, à dificuldade em lidar com esses avanços, pois o mercado exige modernos equipamentos

e profissionais mais capacitados para manter-se produtivo.

Encerra-se assim o seu ciclo produtivo e fica a esperança de receber uma aposentadoria que as políticas

previdenciárias lhe proporcionam, insuficiente para suprir todas as necessidades para a sua sobrevivência. Em

nossa sociedade, o ser humano está intimamente ligado ao processo de trabalho, produção, construção de

família e ganhos. Diante disto, aposentar-se pode significar uma fase ameaçadora e até desastrosa.

Os idosos aposentados ou não, deveriam desfrutar de sua aposentadoria com dignidade. Os estudiosos na

área da Gerontologia Social revelam que o trabalho torna-se um dos elementos relevantes que interfere de

forma positiva na longevidade. Ainda é necessário se construir espaços para essa geração madura que pode e

continuará ativa. No contexto atual, os cidadãos necessitam modificar seu perfil de conduta referente aos

idosos.

A família, como a comunidade, tem um lugar de destaque na criação de uma estrutura que estimula novos

caminhos para o idoso, bem como proporciona efetivas opções àqueles que decidem ou são compelidos a

deixar o serviço ativo.

REFERÊNCIAS

MENDES, M, R.S.S. B. A situação social do idoso no Brasil: uma breve consideração - Acta Paul Enferm.

2005;18(4):422-6

FREITAS, E.V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia - 3.ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro : Guanabara

Koogan, 2013.

Rodolfo Herberto SCHNEIDER, R.H; IRIGARAY, T.Q. O envelhecimento na atualidade: aspectos

cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais - Estudos de Psicologia I Campinas I 25(4) I 585-593 I outubro

- dezembro 2008