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38 Congresso Norte Mineiro de Pesquisa em Educação VIII COPED Formação de professores: desafios e prospecções Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA Flávia Caldeira de Oliveira Graduanda em Pedagogia/UNIMONTES [email protected]m Leandra Moura Queiroz Graduanda em Pedagogia/UNIMONTES [email protected]r Camila Vieira Barbosa Graduana em Pedagogia/UNIMONTES [email protected]m Sirlene Antunes Cabral do Santos Graduanda em Pedagogia/UNIMONTES [email protected]m Cláudia Ruas Soares Graduanda em Pedagogia/UNIMONTES [email protected]r Introdução A pesquisa situa-se no campo de estudos sobre a aquisição da Língua Escrita. Para a Teoria da Psicogênese (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985), em seu processo de compreensão da linguagem escrita, toda criança passa por níveis estruturais de elaboração de conhecimentos sobre a linguagem escrita até que se aproprie da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré- silábico, o intermediário I, silábico, o intermediário II ou silábico-alfabético e o alfabético. Tais níveis são caracterizados por esquemas conceituais que não são simples reproduções das informações recebidas do meio, ao contrário, são processos construtivos onde a criança leva em conta parte da informação recebida e introduz sempre algo subjetivo. Segundo Ferreiro e Teberosky (1985). As crianças elaboram conhecimentos sobre a leitura e escrita, passando por diferentes hipóteses – espontâneas e provisórias – até se apropriar de toda a complexidade da língua escrita. Tais hipóteses, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações e generalizações, dependem das interações delas com seus pares e com os materiais escritos que circulam socialmente. Neste contexto, realizamos pesquisa para compreender o processo de construção da leitura e escrita, por crianças na faixa etária entre 4 e 6 anos. Objetivo e Metodologia do Estudo O presente estudo tem como objetivo analisar e identificar os níveis de escrita em que se encontram crianças na faixa etária de 4 a 6 anos. A investigação orientou-se pelo seguinte problema: Quais são as hipóteses conceptuais sobre o sistema de escrita alfabética produzidas por crianças da educação infantil e 1º ano de escolaridade? O trabalho de pesquisa é de natureza qualitativa, sendo que, no processo de coleta de dados foi utilizada a metodologia de entrevistas. Os sujeitos pesquisados foram 20 crianças, entre a faixa etária de quatro, cinco e seis anos, sendo, oito crianças no 1° período, duas no 2° período e dez no 1° ano do ensino fundamental I, 75% estão matriculados de escola pública e 25% da escola

PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DA ESCRITAyahoo.com.br Introdução A pesquisa situa-se no campo de estudos sobre a aquisição da Língua Escrita. Para a Teoria da Psicogênese (FERREIRO;

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VIII COPED Formação de professores:desafios e prospecções

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PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA

Flávia Caldeira de OliveiraGraduanda em Pedagogia/UNIMONTES

[email protected]

Leandra Moura QueirozGraduanda em Pedagogia/UNIMONTES

[email protected]

CamilaVieiraBarbosaGraduana em Pedagogia/UNIMONTES

[email protected]

SirleneAntunesCabraldoSantosGraduanda em Pedagogia/UNIMONTES

[email protected]

CláudiaRuasSoaresGraduanda em Pedagogia/UNIMONTES

[email protected]

Introdução

Apesquisasitua-senocampodeestudossobreaaquisiçãodaLínguaEscrita.ParaaTeoriadaPsicogênese(FERREIRO;TEBEROSKY,1985),emseuprocessodecompreensãodalinguagemescrita,toda criança passa por níveis estruturais de elaboração de conhecimentos sobre a linguagem escritaatéqueseapropriedacomplexidadedosistemaalfabético.Sãoeles:opré-silábico,o intermediárioI, silábico,o intermediário IIousilábico-alfabéticoeoalfabético.Taisníveissãocaracterizadosporesquemasconceituaisquenãosãosimplesreproduçõesdasinformaçõesrecebidasdomeio,aocontrário,sãoprocessosconstrutivosondeacriançalevaemcontapartedainformaçãorecebidaeintroduzsemprealgosubjetivo.SegundoFerreiroeTeberosky(1985).

Ascriançaselaboramconhecimentossobrealeituraeescrita,passandopordiferenteshipóteses–espontâneaseprovisórias–atéseapropriarde todaacomplexidadeda línguaescrita.Taishipóteses,baseadasemconhecimentosprévios, assimilaçõesegeneralizações,dependemdasinteraçõesdelascomseusparesecomosmateriaisescritosquecirculamsocialmente.

Nestecontexto,realizamospesquisaparacompreenderoprocessodeconstruçãodaleituraeescrita,porcriançasnafaixaetáriaentre4e6anos. Objetivo e Metodologia do Estudo

Opresenteestudotemcomoobjetivoanalisareidentificarosníveisdeescrita emqueseencontramcriançasnafaixaetáriade4a6anos.Ainvestigaçãoorientou-sepeloseguinteproblema:Quaissãoashipótesesconceptuaissobreosistemadeescritaalfabéticaproduzidasporcriançasdaeducaçãoinfantile1ºanodeescolaridade?Otrabalhodepesquisaédenaturezaqualitativa,sendoque,noprocessodecoletadedadosfoiutilizadaametodologiadeentrevistas.Ossujeitospesquisadosforam20crianças,entreafaixaetáriadequatro,cincoeseisanos,sendo,oitocriançasno1°período,duasno2°períodoedezno1°anodoensinofundamentalI,75%estãomatriculadosdeescolapúblicae25%daescola

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privada.

Apresentação e análise dos dados

Apartirdarealizaçãodaentrevistacomossujeitosdoestudo,foipossívelconstatarapresençadecaracterísticasdepensamentonominalnarespostadeumnúmerosignificativodecrianças.

Quadro I - Presença do Realismo Nominal entre crianças de 4 a 6 anos Sujeitos entrevistadosNíveis de Realismo Nominal

Número de crianças

Frequência %

RealismoNominalEstágio1 10 50%RealismoNominalEstágio2 8 40%NãoRealismoNominal 2 10%TOTAL 20 100%FONTE:Entrevistasaplicadasentre18e25demaiode2016

Paraexemplificarorealismonominal,apresentamosalgumasrespostasdascriançasentrevistadas:

ApresentamRealismoNominalnoEstágio1Carroéumapalavragrande,porqueocarroégrande.Placaéumapalavrapequena,porqueaplacadocarroépequena(C01.Entrevistarealizadaem22/05/2016). Elefanteéumapalavragrande,porqueeuvirnozoológicoeeleégrandão.Patoéumapalavrapequena,porqueeleémuitopequeninhoenascedoovo(C02.Entrevistarealizadaem21/05/2016). Caminhãoéumapalavragrande,porqueégrandeecarregamuitacoisa.Motoéumapalavrapequena,porqueelaépequena(C03.Entrevistarealizadaem21/05/2016).

CarrahereRego(1981) consideramqueesterealismonominalconsisteemconfundiraexistência,origemelocalizaçãodosnomescomasprópriascoisasàsquaiselessereferem.Ouseja,ascriançasC01,C02eC03aoresponderasquestõesmostramquetemcomopontodepartida,osobjetos(concretos)enãoafala. RealismoNominalEstágio2

Borboletaéumapalavragrande,porquequandoeuerapequeninhaeutinhamedodeBorboleta.Tia é uma palavra pequena, porque tia só tem três letras (C04. Entrevista realizada em18/05/2016).

Realismonominalconsistenaatribuiçãodeumvalorlógicointrínsecoaosnomes,nãocompreendendoquearelaçãoentrenomeecoisaéarbitrária.

Nãoapresentarealismonominal:BananaeBatataéumapalavragrande,porquetemqueabrirabocatrêsvezes.Tito é uma palavra pequena, porque tem poucas letras (C05. Entrevista realizada em21/05/2016)

Acriançaacimanãoapresentacaracterísticadepensamentorealistanominal,porconsiderarapalavraemsuapautasonoraeperceberqueela égrandeporterqueabrirabocaváriasvezesouépequenaporquetemletras.Assim,elamostraperceberaconstituiçãodapalavra,nãosendomaisassociadaaoobjeto.

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SegundoCarrahereRego(1981)consideraqueorealismonominalnoestágio1estáassociadoaaquisiçãodaalfabetização,umavezqueessaaquisiçãoimplicaaconsciênciadequeaspalavrasnãodependemdascaracterísticasdacoisaquerepresenta,ouseja,apalavranãoégrandeporqueoobjetoégrande,enemépequenaporqueobjetoépequeno.Orealismonominalnoestágio2arelaçãoentrenomeecoisaaindaémotivada,masonomenãorecebeascaracterísticasdacoisaquerepresenta.Freitas(2004)abordaaconsciênciafonológicacomoahabilidadedoserhumanodeusaralínguacomoobjetodepensamento.

Quadro II: Presença de habilidades de consciência fonológica entre crianças de 4,5 e 6 anos.

Sujeitos entrevistados

Habilidades de consciência Fonológica

Número de crianças

Freqüência %

Percepçãodasemelhançadosominicialnaspalavras

5 25%

Percepçãodasemelhançadosomfinalnaspalavras

1 5%

Dificuldadedepercepçãodesonsiniciaisefinais

9 45%

Percepçãodosominicialefinal 5 25% TOTAL 20 100%FONTE:Entrevistasaplicadasentre18e25demaiode2016

Percepçãodesominicialefinaldaspalavras:

Palavraquecomeçaigualagato:Galinha,porquecomeçacomga.Palavraqueterminaigualpão:Coração,porqueterminacomão. (C06.Entrevistarealizadaem21/05/2016)

Dificuldadeemproduzirpalavrasqueseiniciemouterminemdeformasemelhanteàspalavrasdadas:

Palavraquecomeçaigualagato:Rosquinha,porquearosquinhaéredonda.Palavraqueterminaigualpão:Biscoito,porqueédotamanhodopão.(C07.Entrevistarealizadaem20/052016)

AcriançaC07,nãopensaaspalavrascomosignificante,apresentandodificuldadeem perceberossonsiniciasdapalavra.Assim,aoperguntarmosumapalavraqueiniciaiguala“gato”,elarespondequalquerpalavra,nestecasorosquinha. Oprocessamento fonológico tem sido alvode estudosde inúmeros pesquisadores, sendoreconhecidocomoumcomponentequeparticipadoprocessodedesenvolvimentodaleituraedaescrita.Para Capovilla e Capovilla (2000), existem três tipos de processamento fonológico relacionados àshabilidadesdeleituraeescrita:acessoaoléxicomental,memóriadetrabalhofonológicaeconsciênciafonológica (CF). Este último, a CF, é uma habilidademetalinguística complexa, que diz respeito àcapacidadederefletirsobreaestruturafonológicadalinguagemoral,abrangendoaconsciênciadeque

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afalapodesersegmentadaecomomanipulartaissegmentos.

Níveis de escritas e construções das crianças estudadas

Segundo Ferreiro e Teberosky (1985), a construção da escrita pelas crianças é divida em 6níveis:

Nonívelumoupré-silábicopodesercompreendidoem3etapas.No início,acriançautilizagaratuja,desenhasemfiguraçãoemaistardedesenhoscomfiguração,ocorreoregistrodesímbolosepseudoletrasmisturadoscomletrasenúmeros.

Avançandonasconstruções,acriançapercebeasletrascomopossibilidadedeescrita,passandoaregistrarpseudoletraseentrandonaetapadenominadadegráfico-primitiva.Porfim,aindanonívelpré-silábico, conformeas autoras, a criança jádiferencia letras enúmeros,desenhosou símbolosereconheceopapeldasletrasnaescrita.Utilizandonomínimoduasoutrêsletrasparapoderescrever.Reproduzostraçosdaescrita(imprensaoubastãooucursiva).

Noníveldoisouintermediário–acriançaacreditaqueasletrasnãoserepetemecomeçamadesacreditardesuacapacidadeerecusa-seaescrever.

Noníveltrêsousilábico–acriançareadquiriuaconfiançaemsimesmaecomeçafazerseusregistrosbaseadosnareposiçãodequecadasílabacorrespondeaumaletra,masaindaassimnãoconsegueserentendida.

Nonívelquatroousilábico-alfabético–convivemasformasdecorresponderossonsasformassilábicasealfabéticaseacriançaescolheasletrasoudeformaortográficaoufonética.

Nívelquintooualfabético–acriançaconstróiosistemalingüísticoecompreendesuaorganização,apresentado características tais, como a compreensão da estabilidade da base alfabética da escrita,conhecendoovalorsonoroconvencionaldamaiorpartedas letrase juntando-aformandosílabas, jádistingueletras,sílabas,palavrasefrases.

Quadro III: Níveis de escrita entre crianças de 4,5 e 6 anos

Sujeitos entrevistadosNíveis de Escrita

Número de crianças

Frequência %

Nível1–pré-silábico 8 40%Nível2-IntermediárioI 2 10%Nível3–Silábico 0 0%Nível4–IntermediárioIIouSilábico-alfabético 3 15%Nível4–Alfabético 7 35%TOTAL 20 100%FONTE:Entrevistasaplicadasentre18e25demaiode2016

AcriançaC08estánonívelGráfico-Primitivo,pois,nasuaescritanãoregistraletrasconvencionais,massimpseudoletras.Sãoutilizadastraços,riscos,bolinhasepedaçosdeletrasparaescrever.

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(C08.Entrevistarealizadaem21/05/2016)

AcriançaC09estánonívelpré-silábico,apresentafaltadeconsciênciasobreacorrespondênciaentrefalaeescrita.Mas,jásabedistinguirletrasdenúmeros.

(C09.Entrevistarealizadaem18/05/2016

AcriançaC10estáfaseIntermediárioI,pois,representaapercepçãodasrelaçõesentreescritaepronúncia.AcriançapodeescreverBOCIedizqueéBOI,porquecomeçacomB,escreveETIparaELEFANTE,poisestapalavracomeçacomE.

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(C10.Entrevistarealizadaem22/05/2015)

AscriançasC011eC012estãononívelAlfabético,pois,compreendealogicidadedabasealfabéticadaescrita.Conhecimentodovalorsonoroconvencionaldetodasoudegrandepartedasletras,sendocapazdeescreversílabasepalavras.Adistinçãoentreletra,sílabaepalavraspodeocorrercomanãoseparaçãoadequadadepalavrasnafrase.

(C011.Entrevistarealizadaem:18/05/2015)

(C012.Entrevistarealizadaem21/05/2016)

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Considerações finais

Esse trabalho realizado nos proporcionou resultados significativos, despertando interessee envolvimento nos processos de aquisição da linguagem e escrita. Com a análise das entrevistaspodemosperceberqueoprocessodeescritaocorredeformagradual,sendoassim,éimportantequeasmetodologiasutilizadaspeloseducadoresdevamseradequadasparaascriançaspoderempassarpelosníveisestruturaisdalinguagemescrita,atéqueseapropriemdacomplexidadedosistemaalfabética.Oestudofoirelevante,umavezque,foialémdateoria,experimentamosnapráticaasfasesdalinguagemescritaatravésdasentrevistasrealizadas.Odesenhoinfantiléabaseparaoprogressodacriançaeoseudesenvolvimentocontribuiparaarepresentaçãosimbólica,paraodesenvolvimentomotor,emocionaleconseqüentementeparaaaprendizagemcomoumtodo.

Referências:

FERREIRO,Emília;TEBEROSKY,Ana.Psicogênese da língua escrita.Argentina,4ºedição/PortoAlegre/1991.

CAPOVILLA,A.G.S.;CAPOVILLA,F.C.Efeitosdotreinodeconsciênciafonológicaemcriançascombaixonívelsócio-econômico.Psicologia:ReflexãoeCrítica.v.13,n.1,2000.

CARRAHER,T.N.,REGO,L.L.B.Orealismonominalcomoobstáculonaaprendizagemdaleitura.CadernosdePesquisa,n.39,p.3-10,novembro,1981.