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COMENTÁRIO GERAL DA PROVA Se é possível manter elogios a esta prova, o primeiro seria a volta de compreensão de um texto de gênero literário, como se vê na questão 5. Outro ponto positivo é a adoção de um eixo temático – TICs (tecnologias de informação e comunicação) – presente de forma explícita em três das questões (1, 4 e 5). As outras duas, embora não tratassem diretamente desse tema, passaram por discussões a ele vinculadas (mídia na questão 2 e massificação cultural na 3). Por fim, reitere-se a conhecida diversidade de gêneros e fontes. A nossa contribuição crítica, deste lado do processo seletivo, infelizmente não pode se limitar aos elogios. Não há como não notar o “cochilo” de revisão – inclusive com a mesma fonte (revista Época) – reincidente em relação à primeira fase. Se o colunista Jairo Bouer virou “Jorge”, na prova de 3 de novembro, o colunista Luís Antô nio Giron, nesta segunda fase, vem como “Guiron”. A questão 1 traz um infográfico com informações nitidamente desatualizadas e com uma quantidade desnecessária de dados expostos de forma difusa. A intenção da proposta poderia ser muito mais valorizada se houvesse um gráfico em sintonia com o momento atual e a própria realidade dos candidatos – para quem Orkut e MSN estão há muito sepultados. O aspecto a se lamentar mais uma vez, finalmente, é o fato de que a comunidade local de vestibulandos pareça se dedicar muito mais ao estudo de Literatura para provas em que ela realmente é valorizada em sua capacidade de seleção, como as da UFSC, UEM, Fuvest, e padeça por uma abordagem muito limitada na UFPR. Por que uma lista com dez obras se restringe a meia dúzia de questões de múltipla escolha na primeira fase e está ausente de uma prova de compreensão e produção de textos tão boa e abrangente como esta? A presença de Drummond neste exame parece menos relacionada ao fato de ele ser um autor da lista de obras do que ao próprio tema em si. Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo. 1 COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS

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Produção e compreensão de textos ufpr

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COMENTÁRIO GERAL DA PROVA

Se é possível manter elogios a esta prova, o primeiro seria a volta de compreensão de um

texto de gênero literário, como se vê na questão 5. Outro ponto positivo é a adoção de um eixo

temático – TICs (tecnologias de informação e comunicação) – presente de forma explícita em três das

questões (1, 4 e 5). As outras duas, embora não tratassem diretamente desse tema, passaram por

discussões a ele vinculadas (mídia na questão 2 e massificação cultural na 3). Por fim, reitere-se a conhecida

diversidade de gêneros e fontes.

A nossa contribuição crítica, deste lado do processo seletivo, infelizmente não pode se limitar aos

elogios.

Não há como não notar o “cochilo” de revisão – inclusive com a mesma fonte (revista Época) –

reincidente em relação à primeira fase. Se o colunista Jairo Bouer virou “Jorge”, na prova de 3 de novembro,

o colunista Luís Antônio Giron, nesta segunda fase, vem como “Guiron”.

A questão 1 traz um infográfico com informações nitidamente desatualizadas e com uma quantidade

desnecessária de dados expostos de forma difusa. A intenção da proposta poderia ser muito mais valorizada

se houvesse um gráfico em sintonia com o momento atual e a própria realidade dos candidatos – para quem

Orkut e MSN estão há muito sepultados.

O aspecto a se lamentar mais uma vez, finalmente, é o fato de que a comunidade local de

vestibulandos pareça se dedicar muito mais ao estudo de Literatura para provas em que ela realmente é

valorizada em sua capacidade de seleção, como as da UFSC, UEM, Fuvest, e padeça por uma abordagem

muito limitada na UFPR. Por que uma lista com dez obras se restringe a meia dúzia de questões de múltipla

escolha na primeira fase e está ausente de uma prova de compreensão e produção de textos tão boa e

abrangente como esta? A presença de Drummond neste exame parece menos relacionada ao fato de ele ser

um autor da lista de obras do que ao próprio tema em si.

Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo.

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VERSÃO A

O uso da internet no Brasil cresceu vertiginosamente nos últimos anos em detrimento

de outras tecnologias. Constata-se tal informação em infográfico no site “o jornalista.com”

criado a partir de dados do IBGE (Censo 2010), Ibope Net Ratings e F/Nazca. De acordo com

os números, no Brasil, em 2010, havia mais de 81,3 milhões de internautas e 60% da

população (190 milhões) declararam abolir alguma mídia tradicional em favor da internet.

Interessante notar que, quanto menor a idade, maior a busca de informações pela rede. Entre

os usuários de 12 a 15 anos, 51% declararam usar a internet, 43% a TV e mínimos 2% o

rádio. Em outro extremo, entre os idosos, apenas 2% disseram se informar via rede e 73% via

telinha. Os índices mostram que a visão geral do brasileiro sobre informatividade e

comunicação na internet foi positiva, pois 93% dos usuários afirmaram se sentir mais

informados e 88% mais comunicativos depois da internet. A tendência dos números é de

evolução da internet cada vez mais na vida dos brasileiros.

VERSÃO B

Quem são e o que buscam os 81 milhões de brasileiros usuários da internet? O site

ojornalista.com busca em fontes como o Censo 2010 respostas a tais questionamentos.

Segundo os dados, os internautas não se diferenciam pelo gênero, mas por idade – a

grande maioria tem de 12 a 15 anos. Tal marca explica o fato de que entre os motivos que

levam ao uso, 42% apontem games, além, de salas de bate-papo como Orkut (40%) e

MSN (32%). São, aliás, nessas redes sociais que 5 a cada 10 internautas buscam

informações. Nesse ponto, o levantamento constatou uma tendência: a troca progressiva

do controle remoto pelo mouse – se entre o público com mais de 16 anos a TV ainda é a

fonte de informação para mais da metade, 6 a cada10 adolescentes de 12 a 15 anos já a

trocaram pela Web. Por fim, o infográfico destacou que, independente de gênero, idade ou

mesmo do que buscam, dos 81 milhões de usuários, 76 estão bastante satisfeitos com a

vida pós-internet.

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VERSÃO A

“As vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. O humor crítico de Luiz

Fernando Veríssimo denuncia o que recorrente se percebe: os jornais ocultam, mascaram,

manipulam. É justamente a falta de compromisso desses periódicos com a verdade que Quino

critica em uma de suas tiras (Toda Mafalda, Martins Fontes, 2008). Em diálogo com Mafalda,

que atentamente lê uma página de jornal, a pequena Liberdade afirma que os meios de

comunicação criam metade do que publicam. Nisso, Mafalda, ainda esperançosa, dobra a página e

possa a ler apenas a outra metade. Eles também “não dizem metade do que acontece”, completa

Liberdade. Logo, eles “não existem”. Convencida, a astuta personagem abandona então o jornal,

meio pensativa, meio decepcionada – sequência de ações que vai conferindo graça à tira.

VERSÃO B

Os jornais não existem, ou se ja , o jornal i smo de qual idade sucumbiu

devido à ment ira e à omissão . Essa é a cr í t i ca presente em uma das t iras de

Quino (co l e tânea “Toda Mafalda”) . Para mani f es tar sua opinião , o cartunista

retratou a garota Liberdade que , indignada , após Mafalda comentar uma

not íc ia , a f i rma os jornais inventarem metade das not íc ias (Mafa lda dobra o

jornal ) . Por outro lado , e l es não dir iam nem a metade do que ocorre (Liberdade

sacode uma das metades ) . Se Mafalda é tão esperta e cr í t i ca , agora f i cou sem

graça : e i s o humor .

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VERSÃO A

Foi no contexto da indicação de seu longa-metragem – “O som ao redor” – pelo New York

Times, como um dos 10 melhores do ano, que o cineasta Kleber Mendonça Filho foi entrevistado

pelo I6 sobre como fazer com que mais brasileiros apreciem seu filme. Negando que os caminhos

sejam, ao menos num primeiro momento, incentivos como “Vale-Cultura”, Mendonça Filho

destaca o papel da educação de base. Sua justificativa é de que apenas com melhor escolaridade é

que o público de “O som ao redor” – hoje limitado a um nicho intelectualizado – poderia

expandir-se, anulando a influência poderosa da atual massificação cultural que faz obras como

“O Hobbit” serem vistas alienadamente, apenas por serem mais propagandeadas.

VERSÃO B

A massificação da cultura afasta o público brasileiro de filmes como “O Som

ao Redor”, pequena produção listada entre os 10 melhores do ano pelo “The New

Yourk Times”. Isso é o que expl ica Kleber Mendonça Fi lho em entrevista ao IG.

O cineasta comenta que o mercado convence os espectadores a optarem pelas

grandes produções. Segundo Mendonça Filho, bom seria se esse público se

desvencilhasse de tal manipulação e pudesse apreciar produções fora do círculo

midiático. Quanto ao Vale-Cultura, afirma que, embora tenha um viés positivo, a

falta de educação cultural de base dificulta seu bom aproveitamento pelo cidadão.

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VERSÃO A

Parodiando o famoso dito “Penso, logo existo, de Descartes, Luís A. Giron

considera que agora valeira dizer “Curto, logo existo”, expressão que intitula seu texto

publicado na revista Época (01/8/13). Para o autor, no entanto, esse existir é falso. A

fim de sustentar essa tese, afirma-se que, se informações divulgadas nas redes sociais

não gerarem repercussão, esse alguém não existe. Além disso, mesmo que tal

repercussão ocorra, a falsidade que permeia a internet anula até a possível boa-fé,

conclui Giron.

VERSÃO B

O “eu” de verdade, real, não existe mais. É a tese que Luís Antônio Giron defende em sua

coluna na revista Época (01/08/13). Na cultura contemporânea – de culto ao consumo e às

celebridades – o sujeito real se dilui no “perfil” das redes sociais. Não se trata, contudo, de uma

nova existência e sim de uma representação. Não há necessariamente correspondência entre

quem se é na vida real e quem se pretende ser no “perfil” virtual. Segundo Giron, mesmo que haja

boa fé – por parte de quem se anula para alimentar de emoções e opiniões seu alter ego digital –,

esses ambientes virtuais favorecem a falsidade, a mentira, a vigarice por trás das “máscaras nas

redes sociais”.

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VERSÃO A

Nada de novo no reino das palavras: de tempos em tempos, sua decadência e até seu fim são

cantados de forma apocalíptica pelos novidadeiros de plantão. Tom Brady é o profeta da vez. O colunista

do NYT, em texto reproduzido pelo site do Observatório de Imprensa, parece se assustar - e assustar -

com a constatação de que a imagem pode substituir a palavra escrita na forma como nos comunicamos.

Calma, Tom. É certo que o rádio cedeu espaço à televisão, que o dividiu com a net, e por aí vai, mas estão

todos aí, não? E a plataforma digital não é, por excelência, um terreno também da palavra escrita? E as

pesquisas mostrando que jovens leem muito mais pela internet, em seus celulares e tablets? E os jornais

migrando da versão impressa para a digital, com todas as suas cores, formas e interação sustentando a

palavra escrita? Muito antes de se questionar um suposto risco nesse sentido, o poeta já nos dava a

chave do problema: a palavra estará sempre lá, nos esperando, enquanto tivermos a invencível condição

de seres humanos que (con)vivem e se comunicam. Elas sequer agonizam e jamais morrerão. E se no

principio era o Verbo, hoje e no futuro estará o Verbo - novo, revitalizado, reinante.

VERSÃO B

Trinta fotos da viagem à Disney no Face. Uma foto pessoal no Instagram. Ela é linda. Ele

será seu seguidor. No outdoor: um corpo malhado – 70 mil likes – Academia qualquer. Estará

criado o desejo de frequentá-la. Eis a era da imagem, descrita por Tom Brody, segundo o

Observatório da Imprensa (23/07/2013). Os flashs, de fato, coadunam-se perfeitamente a um

mundo que precisa de celebridades instantâneas, que ajudam a vender instantaneamente. E as

palavras, “com suas mil faces secretas”, metaforizadas por Drummond em “Procura da poesia”?

Ora, quem tem tempo de se embrenhar “surdamente” por estas veredas? Obras extensas como

“Ulisses”, “Eneida”, apenas emoldurarão empoeiradas prateleiras de bibliotecas. Precisaremos cada

vez mais de uma linguagem econômica. E aos que quiserem a arte escrita, os haicais não

bastarão. O verbo, outrora instrumento primoroso de trabalho, ornamentará ao menos a lápide

do poeta, como queria Leminski, este já um minimalista: “ Aqui jaz um grande poeta. Nada

deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas.”

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