Profa. Jaqueline Santos Picetti

Desenvolvimento Moral

Jean Piaget

Piaget

Década de 1930

Livro - O Juízo Moral na Criança:

estudou a formação do juízo moral nas crianças através da prática de jogos infantis (bolita e cinco marias).

Os métodos diferem, dependendo do tipo de personalidade que se quer formar nas crianças:

personalidade livre ou submetida ao conformismo do grupo social a que pertence.

Nenhuma realidade moral é totalmente inata.

Se deixadas livres, permanecem anárquicas.

Para que a pessoa se constitua moralmente, énecessário que estabeleça relações com os outros.

Respeito - sentimento fundamental que possibilita a aquisição das noções morais.

Há dois tipos de respeito:

unilateral e o mútuo.

Respeito Unilateral:

há uma desigualdade entre o que respeita e o que é respeitado, implicando uma relação de coação;

a regra é exterior, sendo considerada imutável e sagrada;

em relação à justiça, cria-se a percepção da autoridade e da obediência.

Respeito Mútuo:

relação de cooperação;

há uma igualdade entre as pessoas, que se respeitam reciprocamente;

a regra é interior e construída por cooperação;

a justiça é vista como solidariedade.

• Objetivo da educação moral:

constituir personalidades autônomas e aptas à cooperação;

a autonomia é construída a partir de um ensino que faça a criança compreender a natureza da sociedade e o porquê das regras morais.

Como esse processo de construção da autonomia acontece?

PRÉ-OPERATÓRIO

PRIMEIROS SENTIMENTOS MORAIS 2 – 7 anos:

as normas não são generalizadas;

são válidas apenas sob condições particulares;exemplo: considera errado mentir para os pais e

outros adultos, mas não para os seus pares.

CONCEITOS INFANTIS DE REGRAS

Sensório Motor:

a criança não apresenta nenhuma noção de regras;

a atividade não é social;

joga um jogo pelo prazer da manipulação dos objetos.

CONCEITOS INFANTIS DE REGRAS

Egocêntrico (2 – 6 anos):

adquire a consciência da existência das regras;

começa a querer jogar com outras crianças;

imita o modo de jogar das mais velhas;

joga sozinha, apesar de acompanhada;

falta de cooperação, mas quer jogar com outras crianças.

CONCEITOS INFANTIS DE REGRAS

Cooperação (7 ou 8 anos):

há uma nítida compreensão das regras de um jogo;

o objetivo passa a ser vencer.

CONCEITOS INFANTIS DE REGRAS

Codificação das regras (11 ou 12 anos):

as regras são ou podem ser feitas pelo grupo;

as regras podem ser mudadas conforme combinações e necessidades;

reconhecimento das regras como necessárias para haver um jogo.

CONCEITOS DE ACIDENTES E A FALTA DE JEITO

Tem dificuldades de ver os comportamentos acidentais de outras crianças como “acidentes”.

Incapacidade de apreciar as intenções de outras crianças ou de perceber os seus pontos de vista (egocentrismo).

CONCEITOS DE ACIDENTES E A FALTA DE JEITO

Ainda não construiu o conceito de intencionalidade.

Os julgamentos baseiam-se nos resultados concretos e quantitativos das ações – não háapreciação da intenção ao julgar as ações.

CONCEITOS DE ACIDENTES E A FALTA DE JEITO

Exemplo: João é considerado mais culpado que Pedro, mesmo tendo quebrado 18 xícaras acidentalmente e o outro quebrado 2 xícaras a partir de um ato de “teimosia”.

8 ou 9 anos – começam a ver que os motivos e as intenções são tão importantes quanto os resultados das ações.

MENTIRAMENTIRA

O que é uma mentira?

Antes dos 6 anos – a maioria percebe a mentira com um “comportamento mau” – consideram os erros involuntários como uma mentira.

Algo que não é verdade: vi uma cachorro que era tão grande quanto uma vaca.

A intenção da não verdade não é considerada.

10 ou 11 anos – mentira é alguma coisa que éintencionalmente falsa – reconhecimento das intenções em relação a mentira.

Por que não mentir?

7 anos – por causa da punição que acarreta.

9 ano – separação do conceito de mentira e punição –é errado mentir mesmo quando não há punição.

10 ou 12 anos – a intenção torna-se o principal critério usado para avaliar a mentira - reconhece que não mentir é necessário para a cooperação.

PUNIÇÃO E JUSTIÇA

Crianças mais novas:

punição expiatória – punição forte dada às crianças pelos pais ou outras autoridades pela desobediência das regras; a dor da punição impedirá futuras desobediências; natureza arbitrária.

PUNIÇÃO E JUSTIÇA

Com mais de 10 anos:

punição por reciprocidade – quem desobedece uma regra deve ser conscientizado de que a não observância da mesma destrói a relação social e o contrato social básico de cooperação; a punição, quando necessária, ésempre relacionada, de alguma maneira, com o conteúdo da regra infringida.

OPERATÓRIO CONCRETO

VONTADE

DESEJO E DEVER

Tais escolhas são sociais e interpessoais e implicam um senso de obrigação e valor.

Surge durante o período das operações concretas.

VONTADE

Vontade :

uma escala de valores permanente, construída pela pessoa diante do que se sente obrigado a aderir;

assume o papel de reguladora do afeto;

é o mecanismo pelo qual os valores são conservados.

AUTONOMIA

• Depois dos 7 ou 8 anos:

• faz suas próprias avaliações morais;

• desempenha atos de livre vontade;

• exibe apreciações morais.

Autonomia

Pensar de acordo com um conjunto próprio de normas, levando em conta os outros e também a si próprio.

7 ou 8 anos:

começa a ser capaz de fazer suas próprias avaliações morais.;

considera o que é correto ou não, assim como considera os efeitos das ações sobre os outros.

começa a mudar para uma moralidade de cooperação e avaliação.

REGRAS

Aos sete ou oito anos as crianças começam a compreender a relevância das regras para que um jogo ocorra de forma correta.

Desenvolvem a noção de que as regras de um jogo podem ser mudadas desde que haja concordância de todos os envolvidos.

Acidentes e Comportamentos Desajeitados

8 ou 9 anos:

começa a desenvolver a capacidade de considerar o ponto de vista dos outros;

as intenções começam a ser compreendidas e consideradas nos julgamentos;

Acidentes e Comportamentos Desajeitados

8 ou 9 anos:

a retribuição não é vista como uma resposta automática em caso de acidentes;

as intenções são mais importantes que as consequências das ações.

MENTIRA

10 ou 11 anos:

começa a considerar as intenções ao julgar se um ato é uma mentira;

as ideias falsas que não tem a intenção de enganar não são automaticamente julgadas como mentiras.

JUSTIÇA

Começa a levar em conta o papel das intenções ao decidir o que é justo.

Gradativamente passa a considerar a punição por reciprocidade como mais apropriada do que a punição expiatória.

OPERATÓRIO FORMAL

Codificação das Regras

As regras passam a ser vistas como possíveis de serem fixadas e mutáveis a qualquer momento por acordo mútuo.

Mentira

Não mentir é necessário para a cooperação.

A mentira é incorreta porque entra em conflito com a confiança mútua e com a afeição.

Justiça

O mais importante é fazer com que o agressor compreenda que sua ação estava errada do que aplicar uma punição.

Considera as intenções e as variáveis situacionais ao formular os julgamentos – critério da equidade.

Profa. Jaqueline Santos PicettiProfa. Jaqueline Santos Picetti

TRANFORMATRANFORMAÇÇÃO NA ÃO NA CONVIVÊNCIACONVIVÊNCIA

HUMBERTO MATURANAHUMBERTO MATURANA

MATURANAMATURANA::

Nasceu no Chile.Nasceu no Chile.

Estudou Medicina na Universidade do Chile e Estudou Medicina na Universidade do Chile e posteriormente Biologia na Inglaterra e nos posteriormente Biologia na Inglaterra e nos Estados Unidos.Estados Unidos.

Ph.D. em Biologia Ph.D. em Biologia –– Harvard, 1958.Harvard, 1958.

Professor do Departamento de Biologia da Professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Faculdade de Ciências da Universidade do Chile.Chile.

Qual o seu interesse?Qual o seu interesse?

Compreensão do ser vivo, do Compreensão do ser vivo, do funcionamento do sistema nervoso e a funcionamento do sistema nervoso e a extensão para o âmbito social extensão para o âmbito social humano.humano.

Defende:Defende:

A biologia do amar e do conhecer para a A biologia do amar e do conhecer para a formaformaçção humana.ão humana.

A linguagem se fundamenta nas A linguagem se fundamenta nas emoemoçções e ões e éé a base para convivência a base para convivência humana.humana.

Biologia do ConhecerBiologia do Conhecer

ExplicaExplicaçção do que ão do que éé viver, observada no viver, observada no constante vir a ser dos seres vivos no constante vir a ser dos seres vivos no domdomíínio da sua existência.nio da sua existência.

Três vertentes:Três vertentes:

1.1. o conhecimento não se limita ao o conhecimento não se limita ao processamento de informaprocessamento de informaçções vindas de um ões vindas de um mundo anterior mundo anterior àà experiência do observador experiência do observador (sujeito);(sujeito);

2.2. os seres vivos são capazes de produzir seus os seres vivos são capazes de produzir seus prpróóprios componentes ao interagir com o prios componentes ao interagir com o meio: vivem no conhecimento e conhecem no meio: vivem no conhecimento e conhecem no viver;viver;

3.3. não existe descontinuidade entre o social, o não existe descontinuidade entre o social, o mundo humano e as ramundo humano e as raíízes biolzes biolóógicas.gicas.

Os seres humanos são autônomos, pois Os seres humanos são autônomos, pois não se limitam a receber passivamente não se limitam a receber passivamente informainformaçções vindas de fora.ões vindas de fora.

AUTOPRODUAUTOPRODUÇÇÃO ÃO –– AUTOPOIESEAUTOPOIESE

O sujeito possui um processo de retroalimentaO sujeito possui um processo de retroalimentaçção que ão que éé interior, onde se evidencia a autocriainterior, onde se evidencia a autocriaçção. ão.

O que mantO que mantéém constante m constante éé a organizaa organizaçção.ão.

HHáá uma circularidade autopoiuma circularidade autopoiéética, na qual tica, na qual acompanhamos um encadeamento entre a aacompanhamos um encadeamento entre a açção e a ão e a experiência.experiência.

Todo fazer Todo fazer éé um conhecer e todo conhecer um conhecer e todo conhecer éé um um fazer.fazer.

CONHECERCONHECER –– aaçção efetiva que permite ão efetiva que permite a um ser vivo continuar sua existência a um ser vivo continuar sua existência no mundo que ele mesmo traz no mundo que ele mesmo traz àà tona tona ao conhecêao conhecê--lo.lo.

O ato de conhecer faz surgir um mundo O ato de conhecer faz surgir um mundo para aquele que conhece.para aquele que conhece.

Efeitos de uma experiência Efeitos de uma experiência –– a realidade a realidade que vivemos depende do caminho que vivemos depende do caminho explicativo que adotamos.explicativo que adotamos.

Caminho explicativo:Caminho explicativo:

não hnão háá verdade absoluta;verdade absoluta;

não hnão háá verdade relativa;verdade relativa;

hháá muitas verdades diferentes em muitos muitas verdades diferentes em muitos domdomíínios distintos;nios distintos;

as verdades dependem do domas verdades dependem do domíínio em que o nio em que o observador se encontra e de suas experiências.observador se encontra e de suas experiências.

Na convivência, não criamos uma Na convivência, não criamos uma dinâmica da negadinâmica da negaçção, pois existem ão, pois existem tantos mundos posstantos mundos possííveis como veis como possibilidades de relapossibilidades de relaçções consensuais ões consensuais recorrentes.recorrentes.

NOSSO EXPLICARNOSSO EXPLICAR::

relacionado com a maneira que nos relacionado com a maneira que nos encontramos com o outro;encontramos com o outro;

se o fizermos numa posise o fizermos numa posiçção em que ão em que pretendemos ter acesso privilegiado pretendemos ter acesso privilegiado ààrealidade, concebendo como a realidade, concebendo como a úúnica, o nica, o outro deveroutro deveráá fazer o que dissermos ou fazer o que dissermos ou estarestaráá contra ncontra nóós;s;

NOSSO EXPLICARNOSSO EXPLICAR::

se nos encontramos com o outro com se nos encontramos com o outro com consciência de que não temos o consciência de que não temos o acesso acesso àà realidade independente do realidade independente do observador, o encontro serobservador, o encontro seráá de de aceitaaceitaçção, amoroso ão, amoroso –– oportunidade de oportunidade de criacriaçção de um novo domão de um novo domíínio de nio de realidade.realidade.

ENCONTRO COM O EMOCIONAR DO ENCONTRO COM O EMOCIONAR DO OUTRO:OUTRO:

acontece na rede de conversaacontece na rede de conversaçção ão presente no momento do encontro;presente no momento do encontro;

conversar conversar éé o entrelao entrelaççamento de duas amento de duas aaçções: o linguagear e o emocionar.ões: o linguagear e o emocionar.

LINGUAGEARLINGUAGEAR::

fenômeno biolfenômeno biolóógico relacional;gico relacional;

coexistência de interacoexistência de interaçções recorrentes, ões recorrentes, sob forma de um fluxo recursivo de sob forma de um fluxo recursivo de coordenacoordenaçções de coordenaões de coordenaçções ões comportamentais consensuais;comportamentais consensuais;

LINGUAGEARLINGUAGEAR::

numa conversanuma conversaçção, quando muda a ão, quando muda a emoemoçção, muda tambão, muda tambéém o fluxo das m o fluxo das coordenacoordenaçções de coordenaões de coordenaçções ões comportamentais consensuais e vicecomportamentais consensuais e vice--versa;versa;

o entrelao entrelaççamento do linguagear com o amento do linguagear com o emocionar se estabelece na convivência, emocionar se estabelece na convivência, adquirindo uma estabilidade que gera adquirindo uma estabilidade que gera consensualidades.consensualidades.

A crianA criançça aprende determinados tipos de a aprende determinados tipos de encontros com o outro.encontros com o outro.

A cultura A cultura éé uma rede fechada de uma rede fechada de conversaconversaçções.ões.

As mudanAs mudançças culturais ocorrem como as culturais ocorrem como modificamodificaçções das conversaões das conversaçções nas redes ões nas redes coloquiais em que vivem as comunidades coloquiais em que vivem as comunidades que se modificam.que se modificam.

As mudanAs mudançças se sustentam mediante as se sustentam mediante alteraalteraçções no emocionar dos membros da ões no emocionar dos membros da comunidade.comunidade.

A educaA educaçção configuraão configura--se numa determinada se numa determinada cultura, com domcultura, com domíínios de anios de açções prões próóprios e prios e partilhados no entrelapartilhados no entrelaççamento do linguajar amento do linguajar com o emocionar.com o emocionar.

Educar Educar –– processo pelo qual as pessoas processo pelo qual as pessoas convivem com o outro;convivem com o outro;

ao conviver com o outro, se transformam ao conviver com o outro, se transformam espontaneamente, de forma que a maneira espontaneamente, de forma que a maneira de viver se faz progressivamente mais de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espacongruente com o do outro no espaçço de o de convivência.convivência.

EDUCAEDUCAÇÇÃOÃO::

necessitamos produzir encontros necessitamos produzir encontros onde os outros sejam considerados onde os outros sejam considerados como legcomo legíítimos;timos;

ampliar experiências educativas, ampliar experiências educativas, incentivando e promovendo as incentivando e promovendo as aprendizagens amorosas, as quais aprendizagens amorosas, as quais são importantes para a construsão importantes para a construçção ão de uma proposta de educade uma proposta de educaçção ão diferenciada;diferenciada;

EDUCAEDUCAÇÇÃO:ÃO:

éé a partir da educaa partir da educaçção que uma ão que uma sociedade projeta seu futuro, que sociedade projeta seu futuro, que pode ser baseado tanto na pode ser baseado tanto na solidariedade e na cooperasolidariedade e na cooperaçção como ão como no egono egoíísmo e na competismo e na competiçção. ão.

TAREFA DO EDUCADOR:TAREFA DO EDUCADOR:

criar um espacriar um espaçço de convivência para o o de convivência para o qual se convida o outro, de modo que qual se convida o outro, de modo que o outro esteja disposto a conviver o outro esteja disposto a conviver conosco;conosco;

nessa convivência, educador e nessa convivência, educador e educando, se transformam.educando, se transformam.

Profa. Jaqueline Santos Picetti

O SUJEITO E A RELAÇÃO COM O SABER

Bernard Charlot

Posição que os pais ocupam na sociedade

Produz efeitos indiretos, mas não determinantes, no sucesso ou fracasso escolar das crianças e adolescentes.

Existe uma correlação entre a origem social dos alunos e o sucesso ou fracasso escolar.

Isso não representa determinismo casual.

Há uma posição social objetiva e subjetiva.

A sociedade não apenas um conjunto de posições.

É um lugar de produção de sentidos.

A sociedade é um lugar de atividades.

A criança ou o adolescente possui uma atividade dentro e fora da escola .

Não podemos entender a história escolar se não considerarmos esse processo, pois é ele que questiona os motivos dessa atividade, assim como o desejo e a eficácia dessa.

SOCIÓLOGOS E PSICÓLOGOS

Que sentido tem para uma criança ou adolescente, do meio popular, ir à escola, estudar na mesma, aprender e compreender?

Alunos do meio popular fracassados dizem:

que é preciso escutar o professor e repetir para aprender.

Os que tem sucesso dizem:

que é preciso ouvir a lição, refletir, experimentar.

Processo de migração de famílias na França :

desejam que seus filhos também melhorem de vida e por isso sonham com o sucesso escolar deles.

Entretanto, o sucesso escolar traz a necessidade de que os pais aceitem que seus filhos sejam diferentes deles.

Ingresso no Ensino Médio

Situação dos jovens da classe popular que ingressam no Ensino Médio:

provoca o sentimento de que mudaram e que continuarão mudando, pois aprender pode significar mudar.

Mudar pode significar trair?

Trair os pais, os amigos de infância, a comunidade. ..

Podem escolher(consciente ou inconscientemente) o fracasso escolar para não trair.

O desejo de escola, de aprender e de saber varia conforme a classe social.

É necessário inserir na questão do sucesso ou do fracasso escolar a motivação (ação exterior) e a mobilização (dinâmica interna, desejo).

O saber ocorre na relação com o saber e essa relação é também uma relação com o mundo, com os outros e consigo.