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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROPOSTAS PARA AUMENTO DE RENDIMENTO DE UMA PRODUÇÃO PIGMENTÁRIA Paloma Arantes Salviano Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira LORENA 2014

PROPOSTAS PARA AUMENTO DE RENDIMENTO DE UMA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MEQ14072.pdf · Mercado de Corantes e Pigmentos..... 22 2.2.3. Processo Produtivo

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PROPOSTAS PARA AUMENTO DE RENDIMENTO DE UMA

PRODUÇÃO PIGMENTÁRIA

Paloma Arantes Salviano

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

PALOMA ARANTES SALVIANO

PROPOSTAS PARA AUMENTO DE RENDIMENTO DE UMA

PRODUÇÃO PIGMENTÁRIA

Monografia apresentada à Escola

de Engenharia de Lorena –

Universidade de São Paulo como

requisito parcial para obtenção

de título de Engenheira Química.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL

DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA

A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Serviço de Biblioteca

Escola de Engenharia de Lorena

Salviano, Paloma Arantes

Proposta para aumento de rendimento de uma produção pigmentária/

Paloma Arantes Salviano. – Lorena, 2014.

69f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do

Curso de Graduação de Engenharia Química – Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo.

Orientador: Marco Antonio Carvalho Pereira.

1. Dispersão Pigmentária; 2. Pensamento Enxuto; 3. Melhoria de

Processo; I. Pereira, Marco Antonio Carvalho, Orient.

Aos meus pais, Ivam e Beatriz, por todo apoio,

exemplo e confiança.

Aos meus mestres, que me guiaram por todo o

caminho até aqui.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que guia meus passos e ilumina os

meus caminhos.

Aos meus pais, Ivam Salviano e Maria Beatriz Arantes Salviano, que

confiaram na minha capacidade, me deram a oportunidade de alçar novos

voos e que sempre foram meus exemplos de dedicação e honestidade. É por

eles que dou cada passo.

Ao meu irmão, Igor Arantes Salviano, que me inspira a também ser

exemplo.

Aos meus avós, pelo carinho e amor esperados a cada volta pra casa.

A todos os professores que participaram da minha formação ao longo

dos anos. Das primeiras palavras à graduação, sou infinitamente grata por

compartilharem comigo aquilo que há de mais precioso no homem: o

conhecimento.

Ao Colégio Militar de Juiz de Fora, por me ensinar os valores que hoje

me formam como profissional e me proporcionar a chance de trilhar um

caminho de sucesso.

Ao Sr. Adilson Diniz Avinco, que, mais que um professor, era um

amigo, que me mostrou a beleza dos números, me incentivou a ir atrás dos

meus objetivos e que hoje, olha por mim, de onde quer que esteja.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira, pela

imensa paciência, sabedoria e prontidão em me ajudar, não só neste

trabalho, mas durante os cinco anos de faculdade. Agradeço por todos os

ensinamentos profissionais e de vida, por todo o incentivo e por me acalmar

nos momentos de maior nervosismo.

Aos meus amigos, pela força para lutar pelos meus sonhos, pelo

carinho nos momentos mais difíceis, pelos momentos inesquecíveis que me

proporcionaram, pela companhia, pela amizade e pelo apoio para superar

todos os obstáculos encontrados neste caminho. Sem eles eu não teria

chegado tão longe.

Enfim, a todos que, de alguma forma, participaram da minha formação

como pessoa e como profissional, a minha eterna gratidão!

"A educação é a arma mais poderosa que temos

para mudar o mundo."

(Nelson Mandela)

RESUMO

SALVIANO, P. A. Proposta para aumento de rendimento em uma

produção pigmentária. 2014. 69 f. Trabalho de conclusão de curso de

Engenharia Química – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2014.

Em um mundo cada vez mais competitivo, é essencial a busca por melhoria

contínua e aprimoramento de processos. Isso inclui a indústria química, em

especial, a área de dispersões pigmentárias – um mercado restrito no Brasil,

dominado por grandes empresas, e que vem sofrendo com a forte

concorrência dos produtos chineses e indianos. Esta monografia consistiu

num Estudo de Caso, que teve como objetivo analisar e propor soluções para

o baixo rendimento apresentado por um processo industrial de produção de

um pigmento em uma indústria química. Foi realizada uma revisão

bibliográfica do processo e do comportamento de suas variáveis, bem como

um estudo in loco, com coleta de dados. Os dados obtidos foram analisados

e as mais prováveis causas para o problema foram apuradas, a fim de propor

soluções que contribuíssem para o aumento do rendimento. Estas propostas

foram: (i) – procura por novos fornecedores, que produzam uma matéria-

prima base de maior nível de qualidade; (ii) – definição de um padrão para

análise, junto ao cliente; (iii) – maior controle das manutenções preditivas;

(iv) – adequações gerais dos equipamentos ao processo; (v) – elaboração de

documentação e padronização mais detalhada das operações e (vi) –

treinamento dos operadores. Por fim, recomenda-se à empresa, que, após

adoção das propostas sugeridas, esta dê continuidade ao trabalho para que

haja o aumento do rendimento médio da produção de pigmento e o valor

previsto de 100% seja atingido.

Palavras-chaves: pensamento enxuto, dispersão pigmentária, melhoria de

processo.

ABSTRACT

SALVIANO, P. A. Proposal for increasing yield in a pigment production .

2014. 69 p. Final paper for Chemical Engineering – Engineering School of

Lorena, University of São Paulo, Lorena, 2014.

In a world even more competitive, it is essential to seek continuous

improvement and a better adjustment of the processes. This include the

chemical industry, especially, in the pigment dispersion area – a restrict

market in Brazil, dominated by large companies, which has been facing a

strong competition of Chinese and Indian products. This monograph consists

on a Case Study, which had as an aim to analyze and propose solutions for a

low yield presented by an industrial process of a pigment in a chemical

industry. A literature review of the process and of the way the variables

change was carried out, as well as an on-site monitoring was undertaken, by

means of data collection. The data collected were analyzed and as a result

some probable causes were established, in order to propose solut ions which

could contribute for the increase of the yield. These propositions were (i) –

considered by seeking new suppliers, who could produce the best raw

material basis; (ii) – definition of a standard for analysis, together with the

client; (iii) – a better control of the predictive maintenance; (iv) – general

adequacies of the equipment in the process; (v) – a more detailed

documentation and standardization for the operations and (vi) – training for

the operators. Finally, it is recommended to the company to continue this

study, applying these proposals, to increase the average yield of pigment

production and the estimated value (100%) can be reached.

Key-words: Lean thinking, pigment dispersion, continuous improvement.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação estrutural do Diagrama de Espinha de Peixe.

................................................................................................................. 21

Figura 2 – Representação dos três estados das partículas. ................ 24

Figura 3 – Disco Dispersor/Cowles. ................................................... 24

Figura 4 – Agitador Cowles. .............................................................. 25

Figura 5 – Moinho horizontal. ............................................................ 27

Figura 6 – Fluxograma do processo produtivo estudado. .................... 30

Figura 7 – Condução do Estudo de Caso. .......................................... 35

Figura 8 – Moinho P, com a câmara de moagem aberta. .................... 46

Figura 9 – Selo de vedação do moinho G, durante manutenção. ........ 47

Figura 10 - Elementos de Moagem do Moinho G, no início do estudo. 48

Figura 11 - Elementos de Moagem do Moinho P, no início do estudo. 49

Figura 12 - Tela tubular que separa o meio no Moinho P. .................. 52

Figura 13 – Diagrama de Ishikawa para o problema estudado. ........... 57

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gráfico da eficiência de cobertura ao longo da etapa de

Dispersão. ................................................................................................. 41

Gráfico 2 – Histórico de Rendimentos................................................ 56

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Benefícios da Redução de Desperdícios .......................... 19

Quadro 2 – Quadro resumo das possíveis causas do baixo rendimento

................................................................................................................. 60

Quadro 3 – Quadro resumo das causas do problema e suas respectivas

sugestões de solução................................................................................. 63

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Histórico dos Rendimentos. ............................................. 54

SUMÁRIO

1. Introdução ................................................................................ 15

1.1. Contextualização ................................................................ 15

1.2. Objetivo Geral ..................................................................... 16

1.3. Objetivos Específicos .......................................................... 16

2. Revisão Bibliográfica ................................................................ 17

2.1. Os Princípios do Pensamento Enxuto .................................. 17

2.1.1. Os Desperdícios na Prática Enxuta .................................. 17

2.1.2. As Principais Ferramentas do Pensamento Enxuto ........... 19

2.1.3. Identificando as Causas ................................................... 20

2.2. Pigmentos e Corantes ......................................................... 21

2.2.1. Conceitos Gerais ............................................................. 21

2.2.2. Mercado de Corantes e Pigmentos ................................... 22

2.2.3. Processo Produtivo.......................................................... 23

a) Agitação ou Dispersão .................................................... 23

b) Moagem Horizontal ........................................................ 26

3. Metodologia .............................................................................. 29

3.1. A Empresa .......................................................................... 29

3.2. O Processo ......................................................................... 29

3.2.1. Etapas do Processo ......................................................... 30

3.2.2. Avaliação do Rendimento ................................................ 33

3.3. O Problema ........................................................................ 33

3.3.1. Identificação do Problema ................................................ 33

3.3.2. O Problema em Números ................................................. 34

3.4. O Método de Pesquisa ........................................................ 35

3.4.1. Definição da estrutura conceitual-teórica do problema ...... 36

3.4.2. Planejamento do caso ..................................................... 36

3.4.3. Coleta de Dados .............................................................. 37

3.4.4. Análise dos Dados ........................................................... 39

3.4.5. Relatório ......................................................................... 39

4. Resultados e Discussões .......................................................... 40

4.1. Coleta de Dados ................................................................. 40

4.1.1. Entrevista com um especialista ........................................ 40

a) Informações de Processo ............................................... 41

b) Informações de Equipamento .......................................... 42

4.1.2. Condições Iniciais de Processo: Dados In Loco ................ 44

a) Matéria-Prima ................................................................ 44

b) Equipamentos ................................................................ 45

c) Controle de Qualidade .................................................... 50

d) Manutenções Iniciais ...................................................... 51

e) Problemas Mecânicos Persistentes ................................. 51

4.1.3. Dados de Produção ......................................................... 53

4.2. Análise de Dados ................................................................ 55

4.2.1. Análise de Rendimentos .................................................. 55

4.2.2. Possíveis Causas do Problema ........................................ 57

a) Matéria-Prima ................................................................ 58

b) Controle de Qualidade .................................................... 58

c) Equipamentos ................................................................ 58

d) Mão-de-obra .................................................................. 59

4.3. Propostas de Melhoria ........................................................ 60

4.3.1. Matéria-Prima .................................................................. 60

4.3.2. Controle de Qualidade ..................................................... 61

4.3.3. Equipamentos ................................................................. 61

4.3.4. Mão-de-Obra ................................................................... 62

4.4. Análise das Propostas ......................................................... 64

4.5. Análise do Trabalho ............................................................ 65

5. Conclusões ............................................................................... 66

Referências ...................................................................................... 67

15

1. INTRODUÇÃO

Este capítulo traz os elementos introdutórios deste trabalho. Subdivide-

se nas seções de Contextualização, Objetivos Gerais e Objetivos Específicos.

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

No mundo atual, a competição está presente em todas as atividades,

sobretudo, no setor industrial. As indústrias concorrem diretamente em um

mercado em constante atualização, em que a competitividade exige

permanentes evoluções na qualidade dos produtos e na minimização dos

custos de seus processos produtivos. Para tal, as empresas investem cada

vez mais em projetos de melhoria contínua, que têm como objetivo o ganho

de processo, minimizando os custos e o tempo de produção, para aumentar

os lucros de uma organização.

Segundo a Associação Brasileira de Indústrias Químicas (ABIQUIM,

2014), a indústria química é um setor que está em constante crescimento,

devido aos seguintes fatores: crescimento econômico, que impulsiona a

demanda de produtos químicos; recuperação do déficit comercial de produtos

químicos, que procura o aumento das exportações e diminuição das

importações de diversos produtos; desenvolvimento de uma indústria química

de base renovável; aproveitamento químico das oportunidades oferecidas

pela exploração do pré-sal; pesquisa, desenvolvimento e inovação em linha

com as melhores práticas.

Com este cenário, o aumento da produtividade em todos os ramos da

indústria química torna-se um objetivo imediato, que deve ser explorado e

atingido para atender à crescente demanda do mercado.

O presente trabalho foi realizado em um processo de dispersão

pigmentária, fornecida para indústrias de papel e tecido.

A estrutura desta monografia, além dessa introdução (Capítulo 1),

divide-se em: uma revisão bibliográfica (Capítulo 2), que traz a

fundamentação teórica necessária para aplicação da metodologia e análise

dos resultados, e a metodologia (Capítulo 3), que descreve como foi

16

executado este projeto e Resultados e Discussão (Capítulo 4), que relata

tudo o que foi observado pela pesquisadora, bem como a proposta de

solução.

1.2. OBJETIVO GERAL

Através do pensamento enxuto, propor soluções para o aumento do

rendimento da produção de um pigmento industrial.

1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos desta monografia foram:

Identificar possíveis falhas no processo produtivo;

Coletar dados qualitativos e quantitativos do processo;

Analisar os dados qualitativos e quantitativos do processo;

Identificar as mais prováveis causas do baixo rendimento;

Propor soluções e adequações simples que permitam ao processo

atingir o rendimento previsto de 100%.

17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo apresenta a base teórica utilizada para a aplicação da

metodologia e interpretação dos dados.

2.1. OS PRINCÍPIOS DO PENSAMENTO ENXUTO

O Pensamento Enxuto ou Lean Thinking é definido por Costa e Jardim

(2010) como uma forma de se pensar a melhoria e reorganizar o ambiente

produtivo.

O primeiro passo para alcançar a melhoria é entender o que é

reconhecido como valor pelo cliente e, através das ferramentas do Lean

Thinking, identificar quais são os desperdícios e eliminá-los ou reduzi-los,

utilizando a simplicidade para atingir o objetivo. O resultado é uma produção

com menores custos, redução no número de falhas, maior flexibilização de

produção e um reflexo positivo no preço e qualidade dos produtos.

2.1.1. OS DESPERDÍCIOS NA PRÁTICA ENXUTA

Slack (2009) define desperdício como qualquer atividade executada

que não agrega valor ao produto ou ao serviço, ou seja, uma atividade que,

se eliminada, não alteraria o resultado final. A identificação dos desperdícios

é o primeiro passo do trabalho para eliminá-los, na busca pelo

“aprimoramento enxuto”.

A Toyota identificou, inicialmente, sete tipos de desperdício, que são

aplicáveis a diversos serviços e operações, e que são as bases do

pensamento Lean (SLACK, 2009). São eles:

Superprodução: Produzir mais do que é imediatamente necessário para

a próxima etapa do processo. É considerado pela Toyota como o pior

desperdício na produção, pois acarreta uma série de outros

desperdícios, como o estoque e a espera. Sua eliminação pode ser

sustentada na “produção puxada”, que produz na quantidade e no

tempo requerido pelo cliente.

18

Tempo de Espera: Muitas vezes, por mau planejamento do uso de um

equipamento, prioridades da mão-de-obra ou excesso de produtos, um

produto em processo fica parado por um período de tempo, sem sofrer

qualquer operação de agregação de valor.

Transporte: Ocorre quando o produto em processo necessita de um

deslocamento maior de uma etapa para outra. Para minimizá-lo, é

primordial a implementação de um arranjo físico adequado, que

minimize os deslocamentos e aproxime as etapas sequenciais do

processo.

Processamento: Ocorre quando há a execução de etapas que não

agreguem valor ao produto durante o processo, que existam apenas

por consequência de outra etapa mal planejada, ou atividades

complexas, que poderiam ser executadas de uma maneira mais

simples.

Movimentação: Refere-se à movimentação desnecessária de pessoas,

que pode ser ocasionada por um projeto de postos de trabalho mal

elaborado. Novamente, a aproximação de etapas sequenciais do

processo pode ajudar a eliminar um desperdício.

Produtos Defeituosos: Está intimamente ligado à ocorrência de falhas e

à qualidade final do produto. As falhas ocorridas em um produto

englobam desperdícios de matéria-prima, mão-de-obra, tempo,

desgaste de equipamento, armazenamento, dentre outros, além de

gerar custos totalmente evitáveis, como retrabalho, reprocessamento,

devoluções, etc.

Estoque: Todo inventário gera custos de transporte, armazenamento e

espera. O estoque é algo indesejado, que deve ser alvo de eliminação

e, para isso, precisa-se trabalhar nas causas de sua origem.

(OLIVEIRA, 2009; STACK, 2009)

Atualmente, fala-se também em um oitavo desperdício: o da

criatividade, que consiste em reprimir a opinião, a habilidade e as ideias de

colaboradores da organização; o que ocorre, muitas vezes, por um

gerenciamento ruim. Inúmeras soluções, oportunidades de melhoria e de

19

aprendizagem são perdidas por esse tipo de desperdício (BARROS,

OLIVEIRA, ABRAHIM; 2010).

O Quadro 1 apresenta os benefícios trazidos pela redução ou

eliminação dos sete desperdícios.

Quadro 1 – Benefícios da Redução de Desperdícios

Benefícios da Redução de Desperdícios

Aumento ou Melhoria Diminuição

Flexibilidade

Qualidade

Segurança

Ergonomia

Motivação dos empregados

Capacidade de inovação

Custo

Necessidade de espaço

Exigências de trabalho

Fonte: adaptado de Werkema (2011).

2.1.2. AS PRINCIPAIS FERRAMENTAS DO PENSAMENTO ENXUTO

A Produção Enxuta necessita da junção de diversos fatores para

concretizar sua ocorrência. Identificar e remover gargalos, investir no

treinamento de pessoal e trabalhar na eliminação de desperdícios são alguns

desses fatores.

Para atingir os objetivos pretendidos pelo Lean Manufacturing, a

própria filosofia traz ferramentas amplamente utilizadas, que auxiliam no

caminho da resolução de problemas.

Segundo Werkema (2011), as principais ferramentas do Pensamento

Enxuto são: Mapeamento do Fluxo de Valor (Value Stream Mapping – VSM);

Métricas Lean; Kaizen; Kanban; Padronização; 5S; Redução de Setup (Single

Minute Exchange of Die – SMED); Manutenção Produtiva Total (Total

Productive Maintenance – TPM); Gestão Visual (Andon); e Poka-Yoke

(Mistake Proofing).

Dentre as ferramentas citadas, cabe-se destacar:

20

Padronização

A padronização indica e descreve os procedimentos adequados

(padrão) para a realização de uma determinada atividade, a fim de atingir um

resultado satisfatório e, posterior a isso, manter tal resultado. Assim,

executando-se as tarefas de forma padronizada, consequentemente haverá a

diminuição da variabilidade do processo, melhorias em segurança do

trabalho, facilitação no treinamento de operadores, redução do tempo de

execução das tarefas, etc. (WERKEMA, 2011).

Manutenção Produtiva Total (Total Productive Maintenance – TPM)

TPM é um conjunto de procedimentos que tem por objetivo garantir que

os equipamentos de um processo produtivo estejam sempre em condições de

operar em perfeito estado (em sua máxima capacidade), de modo a não

causar interrupções na produção por falha mecânica. Tem como seus cinco

pilares: Eficiência, autorreparo, planejamento e ciclo de vida (WERKEMA,

2011).

2.1.3. IDENTIFICANDO AS CAUSAS

Para identificar as causas de um problema, diversas ferramentas de

qualidade podem ser aplicadas. A ferramenta mais simples e de grande

eficiência é o Diagrama de Ishikawa, também conhecido como diagrama de

Causa e Efeito ou diagrama de Espinha de Peixe.

O Diagrama de Causa e Efeito tem como finalidade apontar os fatores

(causas) que possam contribuir de alguma forma para se atingir o resultado

de um processo, ou seja, o efeito (WERKEMA, 2011).

As causas da resposta podem ser divididas em causas primárias e

secundárias. As causas primárias podem ser agrupadas segundo o conceito

do 6M, que consiste em organizar as causas em seis categorias: matéria -

prima, mão-de-obra, materiais, métodos, meio ambiente e métrica. A partir

desta divisão, as causas secundárias e suas respectivas causas terciárias

21

podem ser listadas de maneira mais organizada, facilitando a identificação da

causa-raiz.

A Figura 1 traz a representação da estrutura do Diagrama de Ishikawa,

dividido em seis causas primárias, conforme o 6M.

Figura 1 – Representação estrutural do Diagrama de Espinha de Peixe.

Fonte: Obras Brasil (2014).

2.2. PIGMENTOS E CORANTES

2.2.1. CONCEITOS GERAIS

Pela definição da ABIQUIM (2014), pigmentos e corante são definidos

como substâncias de coloração intensa e que conferem cor a outro material,

após sua aplicação. Estes compostos, muitas vezes, não possuem uma

composição química definida.

A principal diferença entre eles está relacionada à solubilidade: os

pigmentos permanecem insolúveis no meio, enquanto os corantes são

solúveis. Em relação à cobertura: os pigmentos são capazes de promover,

simultaneamente, cobertura, opacidade, tingimento e cor; já os corantes,

promovem apenas o tingimento, sem trazer características de cobertura. Em

contrapartida, o poder de tingimento de um corante é muito maior, isto é, é

22

necessária uma quantidade muito maior de um pigmento para conferir a

mesma intensidade na cor, caso fosse usado um corante (CRQ, 2014).

Pigmentos

Os pigmentos podem ser definidos como substâncias orgânicas ou

inorgânicas, insolúveis, que conferem cor a um material, quando aplicado.

Suas principais aplicações estão no recobrimento de superfícies, em tintas

para escrever, na indústria de polímeros, cerâmicas, papéis e de tecidos.

Cada aplicação exige características particulares de cor, cobertura,

durabilidade, opacidade e refletância, o que gera um consumo variado

desses compostos, que devem se adequar ao fim desejado, variando,

sobretudo, o material utilizado na sua fabricação (SHREVE, 1997).

2.2.2. MERCADO DE CORANTES E PIGMENTOS

A produção de corantes e pigmentos no país e no mundo está

diminuindo, devido à forte concorrência dos produtos chineses, vendidos a

preços muito inferiores. Apesar de algumas empresas continuarem a fabricar

estes produtos, sobretudo no estado de São Paulo, a tendência global do

mercado tem sido a importação destes.

Além disso, a entrada de novas indústrias do setor é desestimulada

pelo alto investimento em equipamentos de produção e adequação às rígidas

políticas brasileiras de meio ambiente e descarte de resíduos industriais. Por

isso, essas grandes empresas têm buscado outros países para se instalarem

com menor custo em uma política menos rigorosa (CRQ, 2014).

A ABIQUIM (2014) aponta como as principais características do setor

de corantes e pigmentos no Brasil:

Alta competitividade;

Uma produção variada de corantes e pigmentos, geralmente em

plantas que possuem grande variedade de produção;

Alta dependência tecnológica e de matérias-primas do exterior.

23

2.2.3. PROCESSO PRODUTIVO

O processo de dispersão de pigmentos tem por objetivo a sua

umectação e a separação destas partículas primárias e unitárias de seus

aglomerados, levando à estabilização deste no veículo da formulação

(FAZENDA, 2005).

Pigmentos possuem elementos indesejados, como umidade, ar e outros

gases adsorvidos, que são de difícil remoção e dificultam o processo de

umectação. Para melhorar esta característica, são usados dispersantes na

formulação do produto (FAZENDA, 2005).

As formulações e as técnicas atualmente utilizadas têm sido fruto de

muita experimentação e longa experiência, que consome muito material e

tempo de laboratório. Porém, estes testes não se aproximam da realidade

industrial, devido à diferença na escala e potência dos equipamentos. Logo, a

atividade pigmentária é, geralmente, baseada na troca de experiência entre

os conhecedores do setor (FAZENDA, 2005).

a) Agitação ou Dispersão

Segundo Fazenda (2005), os pigmentos em pó, como matéria-prima,

são entregues às indústrias com aglomerações, que podem ser causadas por:

depósitos intersticiais, resultantes do processo produtivo; sinterização de

partículas durante a preparação, ocasionados por elevação na temperatura;

ou por compactação, durante o transporte e estocagem das embalagens. Por

essas condições, o usuário tem a necessidade de dispersar este insumo, a

fim de utilizá-lo com condições de homogeneidade e estabilidade.

O propósito da etapa de dispersão é quebrar estes aglomerados e

expor a superfície das partículas a uma quantidade suficiente de veículo para

promover a umectação e prevenir o contato com outras partículas. Se as

partículas se aglomerarem novamente, esta etapa é chamada de floculação;

ela é indesejada e pode ocorrer, por exemplo, pela elevação da temperatura

(FAZENDA, 2005).

24

A Figura 2 representa os estágios de aglomeração, dispersão e

floculação do pigmento.

Figura 2 – Representação dos três estados das partículas.

Fonte: Fazenda (2005)

Dispersor Cowles

O Agitador ou Dispersor tipo Cowles consiste em uma haste vertical de

agitação acoplada a um disco cisalhante de aço inoxidável. O equipamento

caracteriza-se por uma rotação de alta velocidade, proporcionando um efeito

de “atrito hidráulico” entre o disco e o meio. É muito utilizado nas indústrias

de tintas, corantes e pigmentos, por atuar na dispersão sólido-líquido e

líquido-líquido (GRABE, 2014). O disco possui uma lâmina impulsora plana e

bordas serradas e alternadas (SEMCO, 2014), conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 – Disco Dispersor/Cowles.

Fonte: Fusion Fluid (2014).

25

Os discos são fabricados de acordo com a necessidade do cliente,

podendo sofrer alterações a partir deste modelo básico. As principais

alterações ocorrem na posição dos dentes e no tamanho, que vai de uma

escala laboratorial até a industrial (FAZENDA, 2005).

A Figura 4 ilustra o equipamento completo, com todos os componentes

identificados.

Figura 4 – Agitador Cowles.

Fonte: Fazenda (2005).

Variáveis do Processo

Segundo Fazenda (2005), os parâmetros ideais para as variáveis de

processo são:

Velocidade de agitação: a velocidade de rotação do Dispersor deve ser

tal que permita o fluxo laminar do fluido, pois isto caracteriza o atri to

entre as partículas, o responsável pela quebra dos aglomerados. Em

26

um fluxo turbulento, o impacto entre as partículas passa a ser o fator

primário e as partículas adquirem o comportamento de girar em torno

delas mesmas, ao invés de agredirem umas às outras;

Viscosidade: a viscosidade do pigmento deve ser bastante alta para

que a ação dispersora do agitador seja transmitida da base até o fundo

do tanque. Se a viscosidade do produto cair ao longo do processo, a

força na base será dizimada e não atingirá todo o produto, além de

gerar um fluxo turbulento, que descaracteriza o atrito promovido entre

as partículas;

Temperatura: o incremento de temperatura no processo é resultado da

dissipação de energia cinética aplicada ao meio. A elevação da

temperatura pode acarretar a diminuição da viscosidade, levando a um

fluxo turbulento, e promover a floculação do pigmento.

Vantagens e Desvantagens do Dispersor

Os pontos positivos listados por Fazenda (2005) para o equipamento

de dispersão são:

Baixo investimento inicial, se comparado aos demais equipamentos;

Somente o disco exige reposição periódica;

Equipamento de simples operação.

Como limitação do equipamento, pode-se citar uma eficiência

questionável em dispersar suficientemente os aglomerados presentes no

pigmento (FAZENDA, 2005).

b) Moagem Horizontal

O moinho horizontal atua em sistema contínuo de dispersão de sólidos.

Apresenta como vantagens sobre os demais tipos de moinhos verticais

(FAZENDA, 2005):

Menor ocupação de espaço, com dimensões compactas;

Operação facilitada, pois o motor é instalado como uma base para a

câmara de moagem;

27

Maior eficiência de operação, pois a energia cinética dos elementos de

moagem é maior neste equipamento, permitindo o processo com

produtos de viscosidade mais alta e maior número de aglomerados.

A Figura 5 mostra um moinho horizontal com todas as suas

componentes.

Figura 5 – Moinho horizontal.

Fonte: Fazenda (2005).

Princípios de Funcionamento

A energia é transmitida aos elementos de moagem através do eixo

central da câmara. Com a rotação deste, as pérolas se movimentam no

interior da câmara, impactando as partículas de pigmento com alta energia

cinética e quebrando os aglomerados indesejados (FAZENDA 2005).

Com a dissipação dessa energia, o incremento de temperatura ocorre

rapidamente e, por isso, é necessário que o equipamento tenha um sistema

28

de refrigeração eficiente para a câmara, evitando floculações e entupimento

dos filtros (FAZENDA 2005).

29

3. METODOLOGIA

3.1. A EMPRESA

Este trabalho foi realizado em uma empresa química de corantes,

pigmentos e emulsões, em uma planta localizada ao sul do estado do Rio de

Janeiro. Por motivo de sigilo e acordo feitos com a empresa, o nome desta

não será citado, e a mesma será identificada, em alguns momentos, com o

nome fantasia de “Empresa Pigmento”.

A empresa pertence a um grupo americano, que foi criado em 2013, a

partir da compra das linhas Têxtil, Papéis e Emulsões de uma respeitável

multinacional do setor químico mundial. Atualmente, a empresa, que tem

sede na Suíça, está presente em 35 países, produzindo corantes, pigmentos

e emulsões, com diversas aplicações em papel, tecido e tintas, em geral.

O site no Vale do Paraíba foi fundado em 1957, por um grupo suíço,

produzindo, inicialmente, apenas corantes e fármacos. Ao longo do tempo e

com a ampliação do site, novas especialidades químicas como, pigmentos,

nutrição e agroquímicos passaram também a compor a gama de produtos

oferecidos pela empresa. O prédio da planta química, onde o trabalho será

concretizado, existe desde 1964, com produção voltada principalmente para

emulsões, que são fornecidas para indústrias de couro, tecidos e papel.

Durante sua existência, o site passou por algumas transições, até ser

recentemente incorporado pelo grupo americano.

A “Empresa Pigmento” trabalha em regime de turnos de doze horas,

com dois turnos diários, ou seja, a produção é contínua, parando somente em

casos específicos, como para manutenções e determinados feriados.

3.2. O PROCESSO

Segundo a ABIQUIM (2014), a indústria de corantes, p igmentos e

branqueadores ópticos no Brasil tem características mercadológicas bastante

específicas: alta dependência de tecnologia estrangeira; dependência de

matéria-prima importada; grande competitividade entre os polos produtores; e

30

indústrias com grande flexibilidade de produção, que é o caso da planta

estudada.

A planta em questão produz, em menor escala, um pigmento orgânico

fornecido para indústrias têxteis e de papel. A diferença entre o produto

fornecido para cada setor é a ausência obrigatória do antiespumante na

indústria de papel; segundo estudos do Laboratório de Desenvolvimento para

a implementação, esta diferença não gera impactos na qualidade do produto.

3.2.1. ETAPAS DO PROCESSO

A Figura 6 mostra o fluxograma do processo produtivo utilizado na

“Empresa Pigmento” para o produto em estudo.

Figura 6 – Fluxograma do processo produtivo estudado.

Fonte: autora.

31

O processo de produção é relativamente simples, pois se trata de uma

dispersão pigmentária, que ocorre em apenas duas etapas: a dispersão e a

moagem.

Na primeira etapa, a de dispersão, toda a matéria-prima é carregada

em uma tina de aço inox, com capacidade de 1500L. Inicialmente, são

introduzidos a água, o dispersante, alguns conservantes e um anticoagulante;

esta mistura é agitada, para uma breve homogeneização. Em seguida, é

adicionada a matéria-prima base para a pigmentação; esta adição deve ser

feita de forma cuidadosa, pois se trata da manipulação de um pó muito fino e

perigoso à saúde, se inalado, o que exige medidas de segurança como o uso

de exaustão. A tina é acoplada a um agitador do tipo Cowles, com alta

velocidade de agitação. O objetivo desta operação é dispersar o pigmento no

meio e promover uma primeira quebra nas partículas, de modo superficial.

A segunda etapa é a moagem da mistura, responsável pela quebra das

partículas em tamanho adequado para promover a cobertura desejada pelo

cliente. A tina, antes acoplada ao agitador Cowles, é transferida para um

moinho, onde é feita uma passagem pelo equipamento, em sistema aberto,

ou seja, descarregando o produto em uma segunda tina. A vazão do produto

e a sua temperatura de saída do moinho devem ser controladas

manualmente.

Para a etapa de moagem, há dois equipamentos disponíveis e capazes

de executar a operação: um moinho tem capacidade de 22L e o outro, de

60L; ambos contam com um sistema de refrigeração indireta com MEG1. Para

facilitar a identificação, chamaremos de “Moinho G” aquele com capacidade

de 60L, e de “Moinho P”, o com capacidade de 22L.

Normalmente, apenas o moinho G é utilizado no processo, devido à

sua maior capacidade, que resulta em um menor tempo de processo. O

moinho P é utilizado como um equipamento alternativo, geralmente quando o

moinho G não está em condições de operação, quando há outro processo em

moagem, e também para alguns testes de variáveis em determinadas

1 Monoetilenoglicol (MEG) é o mais simples dos etilenoglicóis, que são líquidos límpidos,

incolores, inodoros e miscíveis com água em qualquer proporção. O MEG é utilizado em circuitos de refrigeração, pois tem a capacidade de diminuir o ponto de congelamento de substâncias, gerando um sistema mais eficiente (OXITENO, 2014).

32

partidas. Durante a passagem, que dura cerca de três horas (para o moinho

G), um agitador móvel de pequeno porte é acoplado à tina de entrada, pois o

pigmento em pó tende a decantar com o passar do tempo e entupir a saída

do recipiente de mistura.

Neste ponto, o produto já está praticamente pronto. Apenas alguns

aditivos são adicionados para ajuste, como o antiespumante, que pode entrar

ou não, a depender da indústria de destino. Ao final da moagem, o

equipamento deve ser lavado com uma quantidade de água determinada em

receita, para evitar que ocorram incrustações no interior deste, e também

para aproveitar melhor o produto residual. Para homogeneizar o produto

antes da descarga, o recipiente de mistura é levado ao agitador Cowles, onde

sofre uma rápida agitação, apenas para incorporação da água.

Nesta fase, com o produto homogêneo, é retirada a amostra para os

testes no Laboratório de Controle de Qualidade (LCQ).

Finalizando, o produto é descarregado em bombonas de 30L, passando

através de um filtro manga, para eliminar partículas maiores, que

comprometeriam a aplicação do produto.

No LCQ, apenas três testes são realizados:

Viscosidade: este teste não costuma apresentar problemas, pois a

faixa aceitável para essa propriedade é bastante ampla; há apenas

casos isolados de a viscosidade ultrapassar o limite superior em

amostras retidas há certo tempo;

Resíduo em peneira: o teste identifica a condição de homogeneidade

do produto; se houver resíduos acima do aceitável, indica que a

moagem não foi eficiente e é indicada uma nova passagem em moinho;

Aplicação ou Força Colorística: este teste é o mais importante, pois

indica aquilo que é necessário ao cliente, ou seja, a taxa de cobertura

do pigmento. São preparadas duas misturas de pigmento, uma a partir

da amostra e outra do padrão, e ambas são aplicadas lado a lado em

cartolina PVC; após secagem da aplicação, um espectrofotômetro

realiza a leitura comparativa entre a amostra e o padrão, retornando a

porcentagem de cobertura da superfície, que mostra a qualidade e

aplicabilidade do produto.

33

3.2.2. AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO

A “Empresa Pigmento” considera dois tipos de medição para avaliar o

rendimento de uma partida: a força colorística, que é o rendimento percentual

da capacidade de cobertura do pigmento; e o rendimento mássico, que é a

massa líquida obtida ao final da produção.

As duas respostas estão intimamente ligadas. De acordo com o teste

de qualidade realizado nos laboratório da “Empresa Pigmento”, a força

colorística do pigmento pode ser considerada adequada desde que em um

intervalo de 95% a 105%. Abaixo deste intervalo, o produto deve ser

reprovado, pois não é capaz de promover uma cobertura eficiente.

Assim, qualquer cobertura acima de 100%, significa que a fábrica

estará fornecendo algo melhor do que o cliente está disposto a pagar, ou

seja, a fábrica terá sua lucratividade reduzida. Para que isso não ocorra,

quando o teste resulta em uma porcentagem acima do limite mínimo, o

laboratório autoriza a operação chamada de “corte do produto”, que

determina a quantidade de água que ainda pode entrar no produto, sem que

este atinja o limite mínimo de 95% de aplicação; isto é, determina a

quantidade de água que ainda pode entrar para que o rendimento mássico do

produto aumente, mantendo o padrão de qualidade.

Portanto, a força colorística impacta diretamente no rendimento

mássico do produto, pois é a porcentagem de aplicação que determinará a

entrada de mais 50,0L de água, que estão previstos e já contabilizados no

rendimento final da receita.

3.3. O PROBLEMA

3.3.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Devido à compra efetuada pelo grupo americano, as linhas de produtos

da antiga empresa foram reestruturadas e realocadas em outros sites. Fruto

dessa transição e também pelo fato da planta localizada no sul do estado do

34

Rio de Janeiro já ter trabalhado com o produto há anos, o processo de

produção do pigmento em estudo foi nela implementado. A receita foi

desenvolvida na unidade produtiva anterior e transferida sem quaisquer

alterações para o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento do site

recebedor, isto é, não houve nenhuma adequação do processo aos

equipamentos e capacidades do novo local.

Desde o início, ainda na fase de testes experimentais, a produção não

atingia o rendimento previsto, ficando em torno de 94,9%, em massa.

É importante destacar que a produção do pigmento contribui pouco

com os resultados financeiros da fábrica. Entretanto, o acúmulo seguido de

produções com rendimento abaixo do pretendido, faz com que o montante no

total seja significativo. Para investigar o problema e propor melhorias que

permitam atingir o rendimento esperado, teve início este trabalho.

Parâmetros de processo, qualidade da matéria-prima, equipamentos e

o processo em si foram analisados por esta pesquisadora, para identificar

possíveis falhas que, até então, pudessem ter passado despercebidas aos

olhos dos envolvidos.

3.3.2. O PROBLEMA EM NÚMEROS

A receita adquirida previa um rendimento mássico de 1.352,00kg de

produto, por batelada.

Considerando-se as perdas ocorridas nas transferências de

equipamentos, uma variação de até 2% em massa seria considerada

aceitável pelos gestores da planta.

Um levantamento de todas as produções efetivas ocorridas entre

novembro de 2013 e agosto de 2014, apurou um rendimento de 5,1% abaixo

do esperado.

Como o objetivo deste trabalho é propor soluções para atingir o

rendimento desejado de 100%, espera-se melhorar o rendimento, no mínimo,

em 5,1%.

35

3.4. O MÉTODO DE PESQUISA

Para a elaboração de um trabalho científico, é de grande importância

que este siga um roteiro de condução da pesquisa, conforme o método que

melhor se adeque ao tema abordado. Segundo Miguel (2012), alguns dos

principais métodos de pesquisa são: Levantamento tipo Survey, Pesquisa-

Ação, Estudo de Caso e Modelagem e Simulação.

No presente trabalho, a metodologia que mais se adequou ao propósito

de análise do problema e proposição de soluções foi o Estudo de Caso.

Um Estudo de Caso deve ser aplicado nas seguintes situações: quando

o tipo de questão abordado no problema é “Como?” ou “Por quê?”; na

investigação de um fenômeno contemporâneo, ocorrendo em seu ambiente

original; ou quando o investigador não tem controle absoluto sobre as

variáveis, influências e eventos que regem o problema (YIN, 2010).

Este método de pesquisa permite uma análise profunda de um caso, ou

mesmo de múltiplos casos. Apresenta resultados com alta confiabilidade e

permite uma visão estruturada e detalhada do problema como um todo;

incluindo relações causais, quando houver (MIGUEL, 2012).

Figura 7 – Condução do Estudo de Caso.

Fonte: Miguel (2012).

36

Seguindo o modelo proposto por Miguel (2012) para sequenciamento e

roteiro de pesquisa, descrito na Figura 7, este trabalho foi construído

mediante as seguintes etapas:

3.4.1. DEFINIÇÃO DA ESTRUTURA CONCEITUAL-TEÓRICA DO

PROBLEMA

O problema foi apresentado, como oportunidade de melhoria, a fim de

se atingir o rendimento mínimo previsto.

Diante do desafio, esta pesquisadora iniciou um trabalho de

conhecimento do processo, buscando na literatura e em campo, como era

feita a produção e qual era o papel de cada etapa no resultado final do

produto.

Com as primeiras informações, os problemas mais evidentes no

processo, como os relacionados à manutenção, que necessitavam de

correção imediata, foram identificados.

3.4.2. PLANEJAMENTO DO CASO

Neste ponto, com o processo já estudado superficialmente, delimitou-

se o problema, como um estudo de caso único: a produção de um

determinado pigmento.

Em seguida, buscaram-se informações a respeito de quais profissionais

teriam conhecimento mais profundo do processo, para auxiliar a

pesquisadora. Nomes de operadores que já trabalharam no processo,

técnicos do desenvolvimento, supervisores já afastados e antigos

engenheiros da planta foram apontados como mentores do conhecimento do

processo.

Foram também determinados os métodos de coleta de dados que

atenderiam à necessidade de informações.

37

3.4.3. COLETA DE DADOS

Por se tratar de um processo, cujas técnicas ou desenvolvimentos

industriais baseiam-se em testes laboratoriais, mas com inúmeros dados

relevantes de variáveis de engenharia, foi de extrema importância trabalhar,

não somente com dados quantitativos de processo, mas também com dados

qualitativos, que mais contribuíram para o trabalho.

Os dados foram colhidos utilizando as seguintes técnicas:

Entrevistas informais, não estruturadas, com vinte profissionais que

tiveram contato relevante com o produto em estudo. Os profissionais

entrevistados e suas maiores contribuições foram:

─ Gerente da planta: por ter um profundo conhecimento histórico

da planta, durante esta entrevista, foi levantado todo o histórico

de problemas já apresentado pelo produto, bem como algumas

características de processo e propriedades físicas do mesmo.

Além disso, este profissional contribuiu com a indicação de

outros profissionais para posteriores entrevistas. As informações

foram pontuais e superficiais, apenas com o intuito de inserir a

pesquisadora no processo, para que esta pudesse encontrar as

informações sólidas;

─ Pesquisadores do laboratório de Desenvolvimento de produtos:

dois técnicos do laboratório de desenvolvimento foram

entrevistados para esclarecimento de algumas dúvidas

referentes ao processo em receita e também sobre o que mais

influenciava na qualidade do produto, partindo da matéria-prima;

─ Técnicos do LCQ: Os técnicos responsáveis pelo controle de

qualidade do produto em cada turno (quatro profissionais) , bem

como o responsável pelo Controle de Qualidade do site, foram

questionados sobre o método de controle de qualidade, cálculos

de corte e ensaios de qualidade realizados para liberação;

─ Chefes de Turno: Os quatro supervisores contribuíram com a

apresentação de membros das equipes que trabalham ou já

trabalharam no local, e com a autorização e aproximação da

38

presença da pesquisadora na área; o tempo de experiência

desses profissionais na planta proporcionou um leque de nomes

aos quais buscar para prosseguimento da coleta de dados;

─ Operadores da área: Na época da realização desta pesquisa (de

março a agosto de 2014), cinco operadores tinham treinamento

para trabalhar no local. Todos contribuíram com a permanência

da pesquisadora na área, mostrando detalhes do processo,

problemas frequentes e fazendo da atuação desta, algo mais

participativo. Um antigo operador da área também foi

entrevistado, fornecendo dados de como o processo ocorria na

primeira vez que foi produzido no site estudado.

─ Mecânicos: dois mecânicos dos equipamentos foram de grande

atuação, explicando o funcionamento de cada equipamento. Um

dos mecânicos, em especial, contribuiu com informações do

mecanismo e do processo, por ter sido operador desta empresa

por muitos anos, antes de entrar no setor de manutenção; a

unidade e a clareza das informações por ele fornecidas foram de

extrema importância para a pesquisadora, pois permitiu que essa

entendesse do processo interior aos equipamentos.

Entrevista com um grande especialista da área de dispersões

pigmentárias, responsável mundial por esse setor dentro do grupo ao

qual a empresa estudada pertence. A primeira entrevista ocorreu via

Conference Call, as demais entrevistas ocorreram via e-mail, à medida

que as dúvidas surgiam com o avanço do trabalho.

Registros em folhas de fabricação, que são preenchidas, pelos

operadores, para todas as partidas; esses relatórios contêm dados,

como tempos de processo, lotes de matérias-primas utilizadas e

anomalias pontuais de cada partida;

Resultado de análises externas de algumas variáveis-resposta do

processo, como distribuição granulométrica das partículas, que é

realizado em laboratório externo à “Empresa Pigmento”.

39

3.4.4. ANÁLISE DOS DADOS

Depois de terminada a coleta de dados do processo, sendo estes

relevantes ou não, foi feita uma seleção e analisou-se o que realmente

poderia impactar no processo. Os dados de maior relevância serão

apresentados na seção 4.1.

Os dados foram analisados mapeando as ligações entre as

informações qualitativas do processo e utilizando gráficos para a melhor

visualização dos dados quantitativos.

Para a análise dos dados, esta pesquisadora contou com a ajuda dos

técnicos do LCQ, químicos do setor de Desenvolvimento e Pesquisa,

supervisores de produção e gerente da planta, que também participaram da

etapa de entrevistas (conforme seção 3.4.3).

Reuniões de análise dos dados, com a participação do gestor,

engenheiro químico da planta, supervisor de produção e representante do

LCQ, possibilitaram um Brainstorming de possíveis causas para o problema

de rendimento.

3.4.5. RELATÓRIO

Para ilustrar toda a trajetória aqui descrita, esta monografia foi

construída, contendo os dados mais relevantes, as possíveis causas do

problema e, o objetivo do trabalho, que é a proposta de soluções, advindas

da análise e conclusão da pesquisadora.

A partir deste roteiro, foi construído este trabalho científico de

conclusão de curso.

40

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo divide-se na descrição das fases mais importantes do

Estudo de Caso: a Coleta de Dados e a Análise de Dados, que levaram esta

pesquisadora a concluir este trabalho. Por fim, são apresentadas as

conclusões finais sobre o projeto desenvolvido.

4.1. COLETA DE DADOS

A seção de coleta de dados é fundamental para a realização deste

estudo. Esta expõe todas as informações nas quais a pesquisadora se

baseou para chegar à conclusão do trabalho.

Serão abordadas entrevistas, observações imparciais da área e das

condições de processo no início do estudo, além dos dados de folhas de

fabricação de controle da produção.

4.1.1. ENTREVISTA COM UM ESPECIALISTA

Durante o estudo, foi proporcionado à pesquisadora, que presenciasse

um Conference Call com a participação de gerentes, diretores e o

responsável pela gama de dispersões pigmentárias da “Empresa Pigmento”,

que trabalha numa planta de corantes e pigmentos, localizada na Espanha.

Foi pedido ao especialista que formalizasse as informações da reunião em e-

mail, para que nada fosse perdido ou alterado.

Na planta europeia, o processo é consideravelmente diferente: eles

trabalham apenas com a etapa de Dispersão, a agitação em Cowles, não

utilizando moinhos. Portanto, as informações relevantes para este trabalho

não foram obtidas no primeiro contato.

O especialista dispôs-se a sanar qualquer dúvida procedente do estudo

de melhoria e, a partir das informações técnicas investigadas, foi realizado

um segundo contato, via e-mail, em que aquele analisou as informações e

respondeu quais os pontos do processo poderiam ser verificados.

41

Este contato foi de extrema importância para o estudo, pois, junto à

literatura, estabeleceu os parâmetros de processo e de equipamentos

apresentados a seguir, que deveriam ser seguidos no site brasileiro.

Os tópicos seguintes apresentarão a análise em relação ao processo e

aos equipamentos, feita pelo entrevistado.

a) Informações de Processo

Segundo o entrevistado, utilizando-se as duas etapas, de agitação e

moagem, as variáveis de processo ideais deveriam ser:

Dispersão/Agitação

Depois de carregadas todas as matérias-primas, o produto deve passar

por uma agitação vigorosa entre sessenta e setenta minutos no Agitador

Cowles. Pela análise de distribuição granulométrica feita para esta etapa,

constatou-se que prolongar o processo não traria grandes benefícios na

quebra das partículas e, consequentemente, na aplicação do produto.

O Gráfico 1 mostra o comportamento da força colorística com o passar

do tempo, durante a etapa de agitação. Este comportamento foi registrado

pela pesquisadora em um trabalho in loco e enviado ao especialista para

auxiliá-lo na análise do processo brasileiro.

Gráfico 1 – Gráfico da eficiência de cobertura ao longo da etapa de Dispersão.

Fonte: autora.

80

85

90

95

100

105

0 20 40 65 85 105 125

Po

rce

nta

gem

Tempo de Agitação

Força Colorística (%)

42

Percebe-se uma tendência à estabilização da porcentagem de

cobertura do produto nesta etapa. Porém, ainda assim, não é possível atingir

as características requeridas pelo cliente apenas com esta operação, com os

equipamentos disponíveis. Logo, prolongar a etapa de agitação apenas

aumentaria o tempo de processo e os gastos com energia elétrica, sem trazer

ganhos satisfatórios na qualidade do produto.

É importante salientar que, neste ponto, ainda há grande parte da água

de processo a ser adicionada, cerca de 150,0L para lavagem do moinho e

50,0L para corte da partida. Portanto, os valores acima de 100%

apresentados não são representativos.

Além disso, segundo o entrevistado, a temperatura do produto não

deve passar de 45ºC, pois, acima disso, as partículas podem sofrer uma

aglomeração e “empedrar” no fundo da tina.

Moagem

Na moagem, o controle de temperatura é fundamental, não permitindo

que a esta ultrapasse o mesmo valor, de 45ºC. Nesta etapa, a elevação da

temperatura é mais provável, devido à energia do grande número de colisões

entre as esferas durante a operação.

Outra condição determinante é o tempo de residência do produto na

câmara: quanto maior o tempo de residência, maior o número de colisões

efetivas, e, consequentemente, menores as partículas do produto. O tempo

de residência deve ser controlado através da vazão de saída da bomba, para

que o produto fique tempo suficiente dentro da câmara.

b) Informações de Equipamento

Da mesma forma que com o processo, segundo o especialista da

“Empresa Pigmento”, as melhores condições para o funcionamento dos

equipamentos são:

43

Dispersor Cowles

O agitador e a tina utilizados na etapa de agitação estão de acordo

com o sugerido pelo especialista. O disco e a tina estão bem dimensionados,

a velocidade e potência do motor também estão adequados.

Moinhos

Segundo o entrevistado, o acréscimo de pressão no interior da câmara

pode estar ocorrendo pelos seguintes motivos:

Baixo tempo de residência na câmara, provocado por uma alta vazão,

que promovem uma compressão hidráulica no filtro;

Abertura muito grande da tela, para o diâmetro da pérola;

Abertura muito pequena da tela para o tamanho de partícula do

produto.

Para uma moagem eficiente, há uma relação entre a abertura da tela e

o diâmetro das esferas: a tela adequada é aquela cuja abertura é igual à

metade do menor diâmetro apresentado pelas pérolas utilizadas. No caso

estudado, esta tela é menor que a relação sugerida.

Os elementos de moagem devem ser feitos do mesmo material,

evitando qualquer tipo de mistura, e possuir uma uniformidade na distribuição

do diâmetro. Isso evita a degradação acelerada das esferas pelo impacto de

materiais com peso específicos diferentes e aumenta o número de colisões

efetivas.

Além disso, trabalhar com diâmetros menores de pérolas aumenta a

área de contato superficial, o que também contribui para o aumento colisões

efetivas (FAZENDA, 2005).

A fim de aumentar o número de colisões efetivas no interior da câmara

do moinho, o ideal seria trabalhar com cerca de 80% do volume do

equipamento preenchido com pérolas, para o caso do material ser silicato de

Zircônio. Para esferas de Óxido de Zircônio estabilizadas com Cério, o ideal

seria preencher até 70% do volume da câmara; devido ao alto peso

44

específico deste material, o motor do equipamento pode não trabalhar

corretamente se a capacidade sugerida for excedida.

4.1.2. CONDIÇÕES INICIAIS DE PROCESSO: DADOS IN LOCO

Nesta seção, estão expostas as condições em que se encontrava o

processo no início da pesquisa, em março de 2014. Os dados foram

coletados por análise visual da área, entrevistas informais com os operadores

da seção de Dispersões, com os técnicos do LCQ e do Desenvolvimento e

Pesquisa.

Nos tópicos seguintes, serão abordados três pontos determinantes para

a qualidade do produto: matéria-prima, equipamentos e controle de

qualidade.

a) Matéria-Prima

Das matérias-primas que compõem o processo, só uma é utilizada em

quantidade suficiente que possa comprometer o nível de qualidade do

produto: o composto orgânico que é a base da pigmentação. As demais são

utilizadas em pequenas quantidades, para estabilizar e conservar o produto,

melhorar a dispersão das partículas e, em alguns casos, reduzir a formação

de espuma.

Por motivo de sigilo do processo, a matéria-prima base não será

identificada, sendo denominada apenas de “composto A”.

O composto A é adquirido sempre de um mesmo fornecedor, validado

pelo Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento como apto a fornecer esta

matéria-prima.

Os lotes de composto A são comprados a cada campanha, calculando-

se o número de partidas que serão produzidas, multiplicado pela quantidade

que é usada em cada partida.

O teste de validação do fornecedor e certificação da qualidade do lote

leva bastante tempo para ser realizado, e consiste em produzir o produto em

escala laboratorial. Por demandar bastante tempo e recurso humano, e a

45

matéria-prima ser comprada exatamente na quantidade necessária, não é um

procedimento rotineiro reter amostras dos lotes ou realizar testes que

certifiquem a qualidade dos mesmos.

Para este caso em específico, a “Empresa Pigmento” confia apenas no

certificado de qualidade emitido pelo fornecedor, que atesta que a matéria -

prima foi produzida segundo procedimento-padrão reconhecido e aprovado,

garantindo uma pureza adequada e granulometria dentro da curva de

distribuição padrão.

b) Equipamentos

Para melhor identificar os equipamentos, o moinho pequeno, de 22L de

capacidade, será chamado de “Moinho P”, e o de 60L, de “Moinho G”, como

determinado na seção 3.2.1.

Apesar de os dois moinhos estarem disponíveis para uso na área de

dispersões, no início deste trabalho, era usual que apenas o moinho G fosse

utilizado no processo estudado. Por o moinho P ter uma capacidade muito

menor, o tempo de moagem se estendia por mais de oito horas quando este

era utilizado, tornando inviável a troca.

Os moinhos estavam sem manutenção, pelo menos, desde o início de

2013 e, devido à baixa utilização destes equipamentos antes da chegada

deste produto, a manutenção preditiva não era regular e os equipamentos

apresentavam muitos problemas mecânicos e operacionais.

Os moinhos foram comprados de um grande fabricante de

equipamentos industriais, reconhecido no mercado de moagens, ainda no

início da década de 1990. A Figura 8 mostra o moinho P.

46

Figura 8 – Moinho P, com a câmara de moagem aberta.

Fonte: autora.

A Figura 8 traz a representação geral dos equipamentos P e G, pois

ambos são moinhos de discos horizontais e possuem o mesmo princípio de

funcionamento.

As condições de trabalho no início do estudo referentes a cada moinho

estão descritas a seguir:

Moinho G

O moinho G apresentava um vazamento externo no selo de vedação 2,

que fica entre a câmara horizontal e o corpo do moinho, impedindo que a

água do reservatório umedecesse o selo. Com isso, o moinho trabalhava sem

vedação, que poderia causar um vazamento de produto sobre o motor do

equipamento.

2 O selo mecânico tem a função de evitar que um fluido entre em contato com o meio

externo. São geralmente utilizados em equipamentos rotativos, como bombas centrífugas, misturadores e moinhos. Podem ser aplicados na maioria dos casos, sobretudo, quando as gaxetas não são recomendadas, como trabalho em condições elevadas de pressão, temperatura e velocidade, bem como em presença de sólidos em suspensão, como no caso estudado (DU-O-LAP, 2014).

47

A Figura 9 mostra o selo de vedação comprado para o moinho G. O

ponto de colocação do selo mecânico pode ser identificado na Figura 5.

Figura 9 – Selo de vedação do moinho G, durante manutenção.

Fonte: autora.

A bomba, quando em funcionamento, apresentava vibração acima do

normal, impedindo que a válvula de controle da vazão permanecesse estável.

Com isso, o processo trabalhava sempre com a vazão máxima da bomba,

pois qualquer ajuste na válvula era revertido imediatamente.

Durante as primeiras produções, foi verificado um superaquecimento da

câmara. A refrigeração não estava sendo eficiente e o produto saía do

equipamento com uma temperatura muito acima da permitida em receita.

Para solucionar momentaneamente este acréscimo de temperatura, o

operador parava a moagem e esperava por longos períodos de tempo, até

que o equipamento voltasse à temperatura de processo.

Além disso, para trabalhar com uma moagem eficiente, é recomendado

pelo fabricante que este processo ocorra com 80% da câmara completa com

elementos de moagem. Isto totaliza cerca de 120,0kg de pérolas. A

quantidade existente era aproximadamente a recomendada, porém, a

qualidade das pérolas era inadequada.

48

Conforme ilustrado na Figura 10, dentro da câmara do moinho G, havia

uma mistura de pérolas de dois materiais distintos: Silicato de Zircônio e

vidro. A maior parte da mistura era composta por pérolas já amareladas e

desgastadas de silicato de zircônio.

Figura 10 - Elementos de Moagem do Moinho G, no início do estudo.

Fonte: autora.

A variação de tamanho e a irregularidade na forma dessas pérolas

eram bastante expressivas. Segundo o especialista entrevistado, isso

comprometia a qualidade da moagem, além de contribuir para uma

degradação mais rápida das pérolas, já que as pérolas com peso específico

maior podem alcançar energia suficiente para quebrar as de peso específico

menor. As pérolas de vidro, que eram utilizadas na área há alguns anos,

foram misturadas às outras apenas para completar a quantidade, sem

conhecimento de que isso seria prejudicial ao processo.

Moinho P

A bomba do moinho P apresentava o mesmo problema que a do

moinho G: excesso de vibração e falta de controle da vazão do produto.

49

A situação dos elementos de moagem era ainda mais complexa neste

equipamento: havia três qualidades de pérolas misturadas no interior da

câmara.

Pérolas de silicato de zircônio: presente em maioria na mistura;

apresentavam aspecto bastante amarelado, irregularidade na forma e

variação no tamanho, porém, todas apresentavam diâmetro menor do

que as utilizadas no moinho G.

Pérolas de vidro: em pequena quantidade, assim como no moinho G,

pois estas são as mais frágeis e se quebram com o impacto com as

outras.

Pérolas de Óxido de Zircônio estabilizadas com Cério: com um

diâmetro bastante inferior a todas as outras e um peso específico muito

maior, estas pérolas completavam o volume e contribuíam muito para o

desgaste das demais.

A mistura, ilustrada na Figura 11, é prejudicial ao processo, pois,

pérolas de tamanhos variados diminuem a eficiência da moagem e a

irregularidade de peso específico faz com que uma pérola degrade a outra

com o impacto (seção 4.1.1).

Figura 11 - Elementos de Moagem do Moinho P, no início do estudo.

Fonte: autora.

50

c) Controle de Qualidade

O Controle de Qualidade (CQ) do produto é feito controlando-se três

pontos: a força colorística, a viscosidade e a quantidade de resíduo na

peneira. A descrição destes ensaios foi apresentada na seção 3.2.1.

Os testes de viscosidade e de resíduo são feitos exatamente conforme

procedimento padrão.

A força colorística é medida em espectrofotômetro de remissão, a partir

de uma comparação com um padrão de pigmento, que é o desejado para

todas as partidas, e considerado como 100%.

Porém, este padrão não é fornecido por uma empresa externa ou

validado por um laboratório externo.

A validação do padrão é feita adotando-se a amostra de uma partida

que tenha sido aprovada pelo LCQ. Porém, a cada validação, verificou-se

que a qualidade do padrão diminui, comprometendo os resultados, conforme

explicado no seguinte exemplo genérico:

Caso uma amostra tenha sido aprovada para descarga e venda com um

resultado de cobertura de 98,0%, sendo o limite inferior de 95,0%, sua

amostra fica retida para eventual controle. Quando o primeiro padrão

fornecido pela outra planta perde a qualidade, por vencimento ou alteração

física, o LCQ adota a amostra desta partida aprovada como novo padrão,

aleatoriamente. Entretanto, ao ser utilizado no equipamento de análise, o

resultado que era 98,0% é ignorado e a amostra passa a ser lida como

100,0%, independente da sua qualidade, uma vez que ela passa a ser

considerada, unicamente para fins de classificação, como uma amostra

padrão.

Portanto, a cada novo padrão validado, há um acúmulo de erro, que

pode comprometer as análises, por gerar padrões de comparação com um

nível de qualidade cada vez menor.

51

d) Manutenções Iniciais

As primeiras partidas foram produzidas nos equipamentos sem a

devida manutenção. Mas, logo se detectou a necessidade dessa intervenção

e estudou-se a possibilidade da ocorrência, já que tal intervenção atrasaria a

produção.

Antes de iniciar o processo produtivo efetivamente foi realizado um

levantamento dos problemas mecânicos citados no item “b” da seção 4.1.2 e

coordenou a manutenção destes.

Como citado na descrição do processo (conforme seção 3.2), somente

o moinho G era utilizado nessa produção. Como foi detectado que a

manutenção deste levaria um longo tempo e atrasaria a produção do mês, a

opção identificada foi preparar o moinho P para a moagem das partidas na

falta do moinho G.

Assim, o moinho P teve a bomba avaliada e, após análise vibratória, o

seu reparo foi programado. Os elementos de moagem foram substituídos por

pérolas novas de Silicato de Zircônio, de tamanho uniforme. A tela que

separa o meio também foi trocada, pois estava danificada.

Com o moinho P apto a moer, o moinho G foi levado ao setor de

manutenção. Lá, após desmembramento do equipamento, verificou-se que

várias peças estavam danificadas e seria necessária a troca das mesmas.

Os principais problemas identificados durante a manutenção foram: o

selo de vedação do moinho G estava furado e precisou ser comprado; a

bomba passou pelo procedimento de alinhamento para correção de vibrações

excessivas; a refrigeração da câmara estava comprometida devido a um

entupimento na camisa do moinho, que foi corrigido após a desobstrução dos

tubos no interior da camisa.

e) Problemas Mecânicos Persistentes

Enquanto o moinho G estava em manutenção, o moinho P executou o

processo de moagem. Contudo, a operação não ocorreu da maneira

esperada.

52

Durante a moagem, o moinho P sofria um acréscimo de pressão e uma

queda brusca da vazão. Dessa forma, os dispositivos de segurança do

equipamento, a chave de fluxo e o medidor de pressão interna, desarmavam-

no automaticamente, e este dificilmente voltava a funcionar no modo normal.

Em alguns casos, o procedimento de abertura era realizado três vezes,

moendo uma mesma partida.

Este problema repetiu-se quase em todas as partidas, até se descobrir

que a tela trocada durante a manutenção estava errada. A nova possuía uma

abertura menor que a anterior. Imediatamente, a troca foi feita e a tela antiga

voltou ao moinho.

A Figura 12 mostra o modelo de tela cilíndrica utilizada no moinho P,

com a abertura correta. A tela errada se diferenciava desta apenas na

abertura dos frisos que dão passagem para o produto, que eram mais

fechados que a tela ilustrada.

Figura 12 - Tela tubular que separa o meio no Moinho P.

Fonte: autora.

O problema persistiu, mas com uma frequência muito menor. Algumas

moagens ocorriam sem problemas, mas outras ainda paravam devido ao

incremento de pressão.

53

Quando o moinho P desarmava, o processo parava e as medidas

corretivas eram devidamente executadas: a câmara era aberta para a retirada

das pérolas e, normalmente, detectava-se o entupimento da tela, por acúmulo

de produto e pérolas. A tela era desobstruída, o equipamento fechado e as

pérolas recolocadas. Então, reiniciava-se o processo.

Em conversas com os operadores da área, um questionamento foi

levantado por todos de forma independente: há alguns anos, antes de o

produto ser transferido da primeira vez, tentou-se moer o pigmento estudado

no moinho P e a estabilidade do processo nunca foi alcançada. Era normal

abordarem a questão da viscosidade do produto, que é muito alta e julgarem

como causa do entupimento. Isso sugere que as condições de operação não

estão adequadas ao processo, mas isso não foi possível apurar no estudo

realizado.

4.1.3. DADOS DE PRODUÇÃO

Para realização deste estudo, uma das formas mais importantes de

coleta de dados foi o levantamento realizado nas folhas de produção das

partidas. Para isso, foi feito um trabalho de arquivamento e levantamento dos

dados mais relevantes de todas as partidas produzidas entre novembro de

2013 e agosto de 2014.

Os principais dados, como o número da partida, datas de produção,

equipamento utilizado, rendimentos, partidas de matéria-prima e problemas

ocorridos durante cada processo produtivo, foram organizados em uma

planilha, visando facilitar o acesso às informações e a análise destes.

A Tabela 1 apresenta o histórico de rendimentos levantados para este

estudo para uma amostragem de quarenta e nove partidas de novembro de

2013 a agosto de 2014.

54

Tabela 1 – Histórico dos Rendimentos.

Experimento Data Moinho Força Colorística (%)

Rendimento Mássico (%)

Rendimento Base 100% (%)

1 29/11/2013 G 91,49 101,10 92,50

2 01/12/2013 G 87,43 99,90 87,34

3 10/12/2013 G 93,49 101,00 94,43

4 13/12/2013 G 96,30 98,20 94,57

5 06/02/2014 G 97,52 97,80 95,38

6 07/02/2014 G 92,20 102,00 94,04

7 08/02/2014 G 91,42 100,80 92,15

8 09/02/2014 G 93,49 101,90 95,27

9 12/02/2014 G 96,15 97,50 93,75

10 13/02/2014 G 97,78 98,10 95,92

11 14/02/2014 G 92,46 98,00 90,61

12 16/02/2014 G 94,53 97,80 92,45

13 20/02/2014 G 92,46 100,30 92,73

14 22/02/2014 G 99,85 98,90 98,75

15 23/02/2014 G 96,15 100,20 96,35

16 24/02/2014 G 96,15 99,70 95,87

17 02/03/2014 P 99,85 99,00 98,85

18 03/03/2014 P 95,12 100,60 95,69

19 04/03/2014 P 99,78 98,10 97,88

20 04/03/2014 P 94,45 100,00 94,45

21 07/03/2014 P 98,96 98,90 97,88

22 07/03/2014 P 98,30 98,00 96,33

23 08/03/2014 P 95,12 99,40 94,55

24 21/03/2014 P 98,74 101,00 99,73

25 22/03/2014 P 96,15 99,40 95,58

26 26/03/2014 P 96,15 97,00 93,27

27 26/03/2014 P 97,63 99,00 96,66

28 27/03/2014 P 98,37 96,80 95,22

29 31/03/2014 G 97,56 98,60 96,19

30 05/04/2014 G 91,79 99,00 90,87

31 05/04/2014 G 96,30 98,40 94,76

32 06/04/2014 G 98,96 99,10 98,07

33 06/04/2014 G 94,38 97,60 92,11

34 09/04/2014 G 100,81 95,00 95,77

35 15/06/2014 P 85,21 99,2 84,53

36 24/06/2014 P 90,90 99,1 90,08

37 28/06/2014 P 93,57 98,5 92,16

38 07/07/2014 P 82,47 99,0 81,65

39 11/07/2014 P 101,26 97,0 98,22

40 14/07/2014 P 95,49 96,9 92,53

41 14/07/2014 P 90,53 96,6 87,45

42 17/07/2014 P 93,12 99,2 92,39

43 23/07/2014 G 90,16 98,5 88,82

44 25/07/2014 G 99,41 100,7 100,10

45 29/07/2014 G 94,38 97,6 92,11

46 02/08/2014 G 90,09 99,8 89,89

47 05/08/2014 G 93,64 95,0 88,96

48 08/08/2014 G 96,15 96,3 92,63

49 09/08/2014 G 96,45 98,8 95,29

Fonte: autora.

55

Todos os dados foram expressos em porcentagem e têm as seguintes

definições:

Rendimento Mássico: refere-se à porcentagem em massa de produto

descarregado naquela partida, comparado com o rendimento esperado

de 1352,0kg (100%);

Força Colorística: é o resultado do teste de aplicação realizado pelo

LCQ, atesta a qualidade do produto, representando a capacidade de

cobertura do pigmento, como na seção 3.2.1;

Rendimento Base 100%: é a representação unificada do rendimento

mássico com a força de cobertura, ou seja, mostra qual seria o

rendimento mássico teórico da partida, caso a venda fosse feita com

uma aplicação de 100%; este rendimento é calculado a partir da

multiplicação dos dois rendimentos acima descritos e representa as

perdas com maior clareza de números, por considerar a ligação entre

os outros dois parâmetros de resposta.

4.2. ANÁLISE DE DADOS

A partir dos dados coletados na seção 4.1, esta pesquisadora pôde,

utilizando de técnicas como análises visuais, Brainstorming e reuniões,

juntamente com a teoria aplicada, discutir os resultados apresentados,

identificar possíveis causas e propor melhorias para o processo.

4.2.1. ANÁLISE DE RENDIMENTOS

A análise da Tabela 1 (seção 4.1.3) e do Gráfico 2, que representa os

dados naquela apresentados, permite verificar o comportamento do

rendimento de cada partida. Percebe-se que, de todas as partidas analisadas

neste estudo, foram raras as ocorrências de cobertura adequada, acima de

100%, que permitisse o corte com a água. Como a água de corte é

contabilizada no rendimento mássico almejado, isso resulta em, pelo menos,

50,0kg abaixo da massa esperada, ocasionando o baixo rendimento mássico

recorrente, que foi apresentado como justificativa para este estudo.

56

Gráfico 2 – Histórico de Rendimentos.

Fonte: autora.

57

A análise do Gráfico 2, também possibilita visualizar a relação entre a

força colorística e o rendimento mássico da batelada. Percebe-se que,

quando a força de aplicação resulta em um número inferior que o desejado, o

rendimento mássico também fica comprometido, pois isso impede a entrada

da água de corte, faltando cerca de 50,0kg em cada partida.

Como o rendimento Base 100% considera a relação entre os outros

dois rendimentos, de aplicação e mássico, pode-se notar que este é, quase

sempre, a linha que representa os pontos de valor mais baixo, já que

relaciona dois números, em sua maioria, abaixo de 100%.

4.2.2. POSSÍVEIS CAUSAS DO PROBLEMA

Após análise dos dados e da literatura foram apontadas como as mais

prováveis causas do baixo rendimento das partidas o que segue.

A Figura 13 mostra o Diagrama de Causa e Efeito para o problema

estudado. Cada causa primária e suas respectivas causas secundárias serão

abordadas nos tópicos seguintes.

Figura 13 – Diagrama de Ishikawa para o problema estudado.

Fonte: autora.

As possíveis causas primárias foram identificadas, considerando-se as

fontes geradoras de erros em qualquer processo industrial, como matéria -

58

prima, mão-de-obra, manutenção, meio ambiente, dentre outros. A partir daí,

filtrou-se as fontes que cabiam a este processo: matéria-prima, equipamentos

(manutenção), controle de qualidade e mão-de-obra. As causas secundárias

foram resultado do estudo apresentado.

a) Matéria-Prima

Diante do fato de que apenas o composto A é capaz de agir

diretamente sobre a qualidade do produto, a pesquisadora achou relevante

pesquisar o histórico do fornecedor.

Foi identificada certa instabilidade na qualidade da matéria-prima

fornecida. Ou seja, já era recorrente em outros sites que este fornecedor

entregasse partidas com nível de qualidade abaixo do padrão validado, como,

por exemplo, granulometria fora do especificado, comprometendo a qualidade

do produto final.

Como validação é baseada apenas no certificado do fornecedor, essa

variação não pôde ser comprovada no site, já que não são realizados testes

em todos os lotes.

b) Controle de Qualidade

Conforme descrito no item “c” da seção 4.1.2, o padrão utilizado para

comparação das amostras durante o teste de aplicação não é confiável.

Um padrão estabelecido sem adequação para 100% não deveria ser

usado para comparação, pois os resultados não refletem a realidade.

c) Equipamentos

A falta de manutenção preditiva foi um grande agravante no processo.

Ninguém sabia precisar quais as reais condições dos equipamentos.

Mesmo depois de corrigidos os problemas mecânicos, persistiram os

problemas de adequação: os elementos de moagem.

59

Com a utilização de esferas misturadas ou de material incorreto, a

moagem não promove colisões efetivas suficientes para promover a quebra

das partículas.

A mistura de tamanhos e qualidades de esferas também contribui para

a quebra umas das outras, resultando na perda acelerada destes elementos.

Isso diminui a quantidade de pérolas, pois, quando quebradas, a depender do

diâmetro das partes, essas podem ser eliminadas pela tela e sair no produto.

Com um menor número de pérolas, novamente chegamos a um número baixo

de colisões efetivas.

d) Mão-de-obra

É de conhecimento de todos que o ser humano está sujeito a variações

na qualidade do trabalho, devido às influências emocionais.

Porém, algumas empresas não se atentam a esta parte e acabam por

sobrecarregar o operador com muitas responsabilidades ao mesmo tempo.

A área produtiva estudada está em expansão, com novos produtos

chegando e produtividade de outras linhas aumentando. Porém, o número de

um operador por turno nesta área se mantém.

Com vários processos ocorrendo ao mesmo tempo, fica complicado

exigir que o operador se dedique mais a um ou outro produto. Dessa forma, o

acompanhamento da partida fica comprometido: os dados podem não refletir

a realidade, alguns campos do relatório deixam de serem preenchidos,

problemas ocorridos durante o processo não são devidamente relatados, etc.

Com isso, muitos dados relevantes ao estudo são perdidos.

Considerando o processo em si, algumas etapas não são seguidas

devidamente como manda a receita. As principais ocorrências observadas

são: Continuidade de uma etapa por um tempo maior que o previsto; o não

controle ou medição das variáveis que devem ser controladas, o que pode

prejudicar a qualidade da partida; perda do tempo de etapas, como, por

exemplo, ao final da passagem pelo moinho, que a bomba deve ser desligada

assim que o produto acaba, evitando a queima do estator por trabalho à

seco.

60

Outro ponto a ser destacado é o treinamento do operador da área.

Como foi observado pela pesquisadora, o novo operador apenas observa o

outro, mais experiente, durante determinados processos, sem um

acompanhamento adequado ou supervisão. Logo, muitos pontos importantes

se perdem ou não são passados aos novos operadores.

O Quadro 2 apresenta um resumo das prováveis causas apontadas

como origem do problema com o baixo rendimento.

Quadro 2 – Quadro resumo das possíveis causas do baixo rendimento

Quadro Resumo das Possíveis Causas

Matéria-Prima

Falta de testes em cada lote;

Variação no nível de qualidade da matéria-prima

fornecida;

Controle de

Qualidade Padrão inadequado;

Equipamentos

Falta de manutenção preditiva;

Desgaste dos equipamentos

Elementos de moagem e tela não adequados ao

processo;

Mão-de-obra Sobrecarga dos operadores;

Treinamento falho.

Fonte: autora.

4.3. PROPOSTAS DE MELHORIA

Diante do cenário apresentado e das causas sugeridas neste trabalho,

esta pesquisadora propõe como soluções para o problema:

4.3.1. MATÉRIA-PRIMA

A “Empresa Pigmento” deveria testar novos fornecedores de composto

A, mesmo que estes não sejam os de menor custo. O investimento em uma

61

matéria-prima de maior qualidade pode trazer ganhos ao processo, que

compensariam o gasto inicial.

No mercado de pigmentos, há fornecedores mais renomados e que

processam um composto A de alta qualidade e granulometria controlada com

níveis mais rigorosos.

Na inviabilidade de se realizar testes internos em todos os lotes, a

melhor opção seria a troca do fornecedor.

4.3.2. CONTROLE DE QUALIDADE

Para entender a necessidade de cada cliente e se adequar ao que eles

estão pedindo, a “Empresa Pigmento” deveria trabalhar em conjunto com

estes, a fim de produzirem um novo padrão. Este trabalho pode ser

desenvolvido junto ao Laboratório interno de Pesquisa e Desenvolvimento e a

um representante do Controle de Qualidade do cliente.

O trabalho seria personalizado e cada cliente teria o seu padrão,

baseado na sua aplicação e no nível de exigência de cobertura do pigmento.

Com os padrões definidos, a empresa saberia exatamente qual nível de

qualidade atingir para o cliente. Isso evitaria produzir algo com qualidade

excessiva, ou seja, que o cliente não está disposto a pagar; e poderia

diminuir o limite inferior de rendimento aceitável, caso a exigência de

qualidade do cliente resulte em um número inferior aos 95% trabalhado no

LCQ.

O atendimento personalizado ao cliente é visto por esta pesquisadora

como um bônus. Num mercado competitivo e particular como o de dispersões

pigmentárias, uma relação mais próxima entre fornecedor e cliente,

atendendo às suas necessidades de modo particular, pode ser visto como um

diferencial e atrair novos negócios para a “Empresa Pigmento”.

4.3.3. EQUIPAMENTOS

Para que os equipamentos estejam sempre em boas condições de

operação, é fundamental que a manutenção preditiva seja executada

62

conforme a variação da utilização destes. Assim, a empresa assegura que

não haverá atrasos de produção devido ao mau funcionamento dos

equipamentos e evita eventuais paradas de processo.

O ponto fundamental da proposta relacionada aos equipamentos seria

o investimento em elementos de moagem adequados ao processo. A

“Empresa Pigmento” pode trabalhar com pérolas de Silicato de Zircônio ou de

Óxido de Zircônio estabilizado com Cério, pois ambas são recomendadas

pelo fornecedor dos equipamentos e pelo especialista entrevistado.

Com elementos de moagem padronizados, juntamente com a tela

adequada ao diâmetro escolhido, a etapa de moagem se tornaria muito mais

eficiente devido ao aumento de colisões efetivas. Isso poderia reduzir o

tempo de processo, gerando economia de energia, ao mesmo tempo em que

proporciona uma distribuição granulométrica mais uniforme do produto,

contribuindo para o aumento da taxa de cobertura.

4.3.4. MÃO-DE-OBRA

O primeiro passo para evitar erros no procedimento de produção é

investir no treinamento dos operadores da área. O investimento seria,

principalmente, em tempo para preparar o novo operador para trabalhar com

todos os detalhes do processo.

Lapidando o ponto do treinamento, a empresa poderia documentar de

maneira criteriosa todos os processos da área, com o objetivo de padronizar

os procedimentos do local e as manobras de emergência. Dessa forma,

passagens importantes não se perderiam com o tempo.

Para os operadores já experientes na área, um treinamento de

reciclagem resolveria a falta de unidade nos procedimentos executados por

cada turno.

O problema de sobrecarga dos operadores da área afeta questões

econômicas e culturais da empresa. Com o mercado atual em queda, fica

difícil o aumento no número de funcionários, como era antigamente. Portanto,

uma alternativa mais viável seria colocar em prática a cultura humanizada da

63

empresa, e buscar entender as necessidades do operador para que este

possa aumentar a sua produtividade.

O Quadro 3 resume as propostas de melhoria relativas às causas

apresentadas na seção 4.2.2.

Quadro 3 – Quadro resumo das causas do problema e suas respectivas sugestões

de solução

Quadro Resumo das Causas e Propostas

Causas Propostas

Matéria-Prima

Falta de testes em cada

lote;

Variação no nível de

qualidade da matéria-

prima fornecida;

Testar novos

fornecedores;

Investir em uma

matéria-prima de maior

qualidade;

Controle de

Qualidade Padrão inadequado;

Trabalhar junto ao

cliente para

desenvolver um novo

padrão personalizado;

Equipamentos

Falta de manutenção

preditiva;

Desgaste dos

equipamentos

Elementos de moagem e

tela não adequados ao

processo;

Manutenção preditiva;

Investir em elementos

de moagem e telas

adequados;

Mão-de-obra

Sobrecarga dos

operadores;

Treinamento falho.

Investir em treinamento

e reciclagem dos

operadores;

Padronizar os

procedimentos;

Fonte: autora.

64

4.4. ANÁLISE DAS PROPOSTAS

Este trabalho mostra algumas propostas para a solução do problema

de rendimento numa produção pigmentária. Todas essas propostas de

melhoria apresentadas exigem um investimento da “Empresa Pigmento”, seja

este de tempo, dinheiro ou pessoal.

Contudo, depois de implementadas as medidas, o processo estaria com

os parâmetros ajustados, equipamentos em condições ideais e operação

também padronizada em todos os níveis. Isso significa que a empresa teria

testado o melhor padrão de trabalho possível para a fabricação deste

pigmento, ou seja, a melhor forma de se atingir o rendimento esperado.

O investimento nesta padronização trará benefícios a médio e longo

prazo, já que o volume produtivo do pigmento não é de alto impacto no total

das vendas da empresa. Será necessário um grande volume produzido para

que o retorno seja identificado neste produto.

As propostas de padronização dos equipamentos e maior treinamento

dos funcionários também impactarão diretamente outros processos. Esta

primeira poderá melhorar a qualidade das demais linhas que utilizam estes

moinhos, como outras cores de pigmentos em expansão, e reduzir os tempos

de processo dos mesmos. A última trará a redução de desperdícios ocorridos

por falha humana e consequente diminuição de retrabalho e aumento da

produtividade individual.

Caso a empresa prossiga com a execução deste trabalho, aplicando as

melhorias propostas, e, ainda assim o rendimento de 100% não venha a ser

alcançado, é importante ressaltar que se pode chegar à conclusão de que há

um erro na receita adquirida e que o rendimento inicialmente proposto não

pode ser alcançado nas condições de processo existentes. Este erro seria

originado da necessidade de adequação aos equipamentos e condições de

processo do novo site de produção.

Neste caso, uma solução poderia ser alterar a quantidade de água

prevista em receita, como foi relacionado na seção 3.2.2, diminuindo o

rendimento mássico proposto como 100%. Se os rendimentos continuarem

65

baixos, os 50,0L de água de corte devem ser cortados do processo e o

rendimento previsto, reduzido em 50,0kg.

Esta solução não é bem vista economicamente pela gerência, pois,

redimensionar o rendimento proposto é algo trivial e que diminuirá a absorção

dos custos da planta na mesma proporção que a alteração proposta no

rendimento.

4.5. ANÁLISE DO TRABALHO

Durante a execução do trabalho, esta pesquisadora encontrou

facilidades e obstáculos em diversos pontos.

No início, houve falta de clareza no escopo do trabalho, que foi

apresentado como algo pontual, e não com a devida dimensão aqui

abordada.

As informações fornecidas pelos entrevistados, muitas vezes, eram

desencontradas ou mesmo omitidas em diversos momentos. Isso gerou uma

grande dificuldade em classificar o que de fato era verdadeiro e relevante ao

processo.

Outro obstáculo importante foi a resistência de alguns membros da

equipe em seguir o projeto. Este tinha um escopo definido, que seguia a

metodologia Six Sigma como orientação: trabalhando em etapas, com uma

linha de trabalho clara e um objetivo a ser atingido. Porém, em vários

momentos, esta pesquisadora se viu inibida diante de decisões superiores,

que tiravam o foco deste estudo para projetos paralelos do mesmo processo,

como, por exemplo, um trabalho secundário para eliminação da etapa de

moagem.

Por outro lado, a permanência da pesquisadora na área foi algo de fácil

adaptação e de grande aprendizado, contribuindo não só para a conclusão do

trabalho, mas, principalmente, para a formação da mesma como profissional

do setor industrial.

66

5. CONCLUSÕES

Com base na literatura e investigação do processo, foi possível

identificar possíveis causas do baixo rendimento e propor as soluções mais

adequadas para a otimização do rendimento da produção do pigmento.

Após realização do estudo, pode-se concluir que, ao adequar os

parâmetros do processo e padronizar as operações executadas, bem como

os equipamentos e suas componentes, a empresa poderá vir a apresentar

uma melhora no rendimento médio das partidas, mesmo que o valor de 100%

do rendimento proposto não venha a ser alcançado.

As principais falhas do sistema produtivo foram identificadas e

apontadas, bem como falhas de qualidade existentes na produção.

Propostas para adequar o sistema produtivo, visando atingir a

quantidade proposta em receita adquirida (100%) foram feitas, dentre as

quais se destacam: a busca por uma matéria-prima de maior qualidade;

trabalho junto ao cliente, para definir um padrão personalizado, que mostre a

real necessidade deste; adequação dos equipamentos, com manutenções

preditivas e, principalmente, investimento em elementos de moagem

eficientes; e um treinamento mais estruturado para os operadores.

Caberá à “Empresa Pigmento” dar continuidade ao projeto e, a partir da

análise custo-benefício de cada solução proposta, decidir se estas serão

aplicadas, prosseguindo com a coleta de dados para controle dos benefícios

trazidos pelo estudo.

A continuidade deste trabalho poderá ser feita através de novas

pesquisas, utilizando o cenário aqui descrito como base e adequando o

projeto às mudanças posteriores a este estudo.

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REFERÊNCIAS

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