Proteção Emocional de Jesus

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Proteção Emocional de Jesus

Citation preview

  • 1

    www.alexandresite.com

    Ferramentas usadas por Jesus como proteo emocional

    Por Pastor Edson Barbosa.

  • 2

    www.alexandresite.com

    Introduo

    Jesus foi um homem surpreendente. Houve algum na Histria que convidou as pessoas a saciar a sua ansiedade e ser feliz como ele? Homens como Buda, Maom, Confcio, Scrates, Toms de Aquino, Freud, Piaget foram magnficos, mas no tiveram tal ousadia. Jesus foi o nico que expressou: Quem de mim se alimentar jamais ter fome (J 6.34-59)

    Que homem esse que queria estancar a angstia e a insatisfao humana com a essncia da sua prpria emoo? Como evitar que as cincias que estudam a mente humana no fiquem embasbacadas com seu convite? Impossvel.

    Ou ele delirava e, neste caso, no devemos perder tempo com suas idias; ou ele viveu a plenitude da vida de um modo que ningum viveu o que ningum enxergou. Neste caso, devemos sair do superficialismo e estud-lo atentamente. Fico com a segunda opo.

    De fato, o Mestre dos mestres usou ferramentas intelectuais simples e admirveis para proteger o territrio da emoo que somente agora a psiquiatria e a psicologia esto comeando a descobrir.

    Creio que h raras pessoas entre os mais dois bilhes de cristos da atualidade pertencentes s mais diversas religies, que conhecem e aplicam tais ferramentas. Por isso, apesar da afirmao que so seguidores de Jesus, muitos adoecem. Eles o exaltam, mas no conhecem a estrutura bsica da sua personalidade.

    Se essas ferramentas tivessem sido aplicadas nas escolas de todas as sociedades, da pr-escola ps-graduao, milhes de pessoas teriam evitado transtornos depressivos, suicdios, doenas psicossomticas.

    Veja ento quais estas ferramentas.

    Primeira: Doar-se sem esperar muito do outro

    Todo ser consciente tem uma necessidade intrnseca de construir relaes sociais. Mesmo um ermito ou paciente psictico, por mais que se isolem, no conseguem viver na clausura pura. Eles tm de criar personagens em sua mente para superar sua solido.

    Nada to excitante do que viver em sociedade. Entretanto, nada to frustrante do que viver com pessoas. A alquimia social transforma o outro num espelho, que reflete a imagem, ainda que com distores das pessoas com as quais convivemos.

    A preocupao com essa imagem, com o que o outro pensa e fala de ns, uma das maiores fontes de alegria e desapontamentos, de encantos e desencantos.

    Por mais unida que seja uma relao, haver, em alguns perodos, fragmentao. Por mais tranqila, dcil, afetiva que ela seja, haver, em determinadas situaes, amargas decepes. Conviver a arte da dana. Uma dana em que no se aprende nunca todos os passos. Quando acreditamos que j somos experts, tropeamos num passo.

    Nesse exato momento, belssimos relacionamentos (casais, amigos, colegas de trabalho, pais e filhos) esto sendo rompidos, esperanas dilaceradas, desiluses produzidas.

    Com o passar do tempo, os relacionamentos deveriam envelhecer como o vinho, tornar-se mais encorpados, agradveis. Mas muitos vinhos se tornam um bom vinagre. O prazer se dissipa e os atritos ganham corpo.

    Jesus sabia que construir relaes era uma tarefa dificlima. Era necessrio acima de tudo proteger a emoo para sobreviver. Uma das mais inteligentes ferramentas intelectuais que ele usou para se proteger e construir relaes saudveis foi doar sem esperar o retorno, pelo menos excessivamente.

    Nada gera tanta decepo na relao entre marido e esposa, pais e filhos, professores e alunos e entre amigos do que esperar o retorno das pessoas no mesmo nvel que nos doamos, damos afeto esperando que o afeto volte. Dispensamos ateno esperando que os outros nos

  • 3

    www.alexandresite.com

    dem a devida considerao, expressamos o amor esperando retorno do mesmo sentimento de entrega. Nada to frustrante do que tal espera.

    Jesus era um especialista em se doar e mais especialista ainda em no esperar dos outros a mesma resposta. Ele amava e desejava que as pessoas o amassem, mas no esperava ansiosamente o retorno. Entre desejar e esperar o retorno h um grande abismo.

    Jesus cuidava afetivamente das pessoas, mas cuidava atenciosamente dele. Sabia que se exigisse muito, sofreria muito. Ele era um mestre na arte proteger sua emoo. Foi seguido por multides, mas morreu isolado, abandonado.

    O mais inteligente dos discpulos o traiu e o mais forte o negou, mas no exigiu de Judas a fidelidade nem de Pedro a coragem. Ele no fez nada para mudar a disposio deles.

    Respeitava seus limites. Quem espera a mesma moeda de troca nas relaes sociais contrai uma altssima dvida emocional, freqentemente impagvel. Quem espera pouco acumula crditos emocionais.

    Algumas pessoas que antes aplaudiam Jesus com inusitado entusiasmo, gritaram perante Pilatos: Crucifica-o! Crucifica-o! eles consideram Jesus o mais dcil e gentil dos homens, mas quando foram pressionados pela poltica e poder, mudaram de opinio. Escolheram Barrabs, um assassino, para ficar livre, e Jesus para ser morto.

    Desde a infncia de Jesus o sistema social conspirou para roubar sua tranqilidade, para esmagar seu domnio prprio, para esfacelar sua auto-estima e tornar rido o territrio as sua emoo, mas simplesmente Jesus no se deixava ser aviltado. Suas exigncias eram mnimas.

    Quando pessoas esto chorando nesse exato momento porque nunca aprenderam a proteger a sua emoo, sempre doaram tendo grandes expectativas.

    Segunda: Compreender o outro na sua dimenso interior

    Normalmente as experincias traumticas na convivncia social causaram uma devassa em nossas vidas. A grande questo psicolgica no apenas o registro em si da experincia inicial, mas o fator bumerangue que acorre quando uma experincia importante, negativa ou positiva, registrada da maneira excepcional.

    Esses registros movimentam toda a cadeia produtiva da psique. O resultado? Uma reproduo freqente da experincia inicial. A mente no pra de pensar.

    Quando a reproduo feita com tolerncia, reflexo, lucidez o resultado saudvel. Reedita-se o inconsciente, a psique encontra as guas da tranqilidade. Quando a reproduo feita com angstia, raiva, impulsividade o resultado desastroso.

    O fator bumerangue uma das causas que geram a sndrome do pensamento acelerado (SPA), que por sua vez leva as pessoas a serem escravas sem algemas. Escravas por pensar quase ininterruptamente no futuro, no trabalho, nos problemas da vida e nas atitudes das outras pessoas. Elas so lcidas, mas extremamente ansiosas.

    O fator bumerangue em seu aspecto negativo pode expandir os ataques de pnico, as crises depressivas, as rupturas nas relaes sociais. Ela faz da psique uma lata de lixo das mazelas que no reciclamos.

    No adianta querer jogar fora nossos pensamentos ou interromper sua produo, eles vo voltar como um bumerangue. Quem quer usar o fator bumerangue positivamente tem de sair do lugar comum. Deve, em primeiro lugar, reconhecer que no possvel interromper a produo de pensamentos, apenas administr-la.

    Pode-se ir para uma ilha e beber gua-de-coco o dia todo e ainda pensar diariamente nos problemas do continente. No h estresse por fora, mas um terremoto por dentro. Como resolver a questo? preciso criar uma ilha em nossa psique no ambiente social perturbador.

  • 4

    www.alexandresite.com

    Como realizar tal faanha? Aqui entra a segunda ferramenta que Jesus usou com maestria para proteger sua emoo: por trs de uma pessoa que fere, h uma pessoa ferida. Ele viveu o apogeu da compreenso na terra da incompreenso.

    Essa postura intelectual foi um dos fatores mais fortes que me fez concluir que nenhum especialista em psicologia teria habilidade de invent-lo, nenhum religioso ou filsofo conseguiria imagin-lo.

    Ningum se tornou inimigo de Jesus por mais que tentasse. Ningum lhe roubou a paz por mais que lhe perturbasse. Ele dava inmeros descontos para as tolices, estupidez e preconceitos das pessoas. O bumerangue voltava para ele em forma de paz, serenidade e alegria. Jesus reeditava sua memria continuamente.

    No basta no esperar retorno dos outros, necessrio usar a segunda ferramenta: procurar entender o que se esconde na base das relaes das pessoas.

    Jesus compreendia a complexidade da existncia. Entendia que no h quem faa os outros infelizes se primeiramente no estiver machucado. Ele foi o mestre da pacificao, embora suas idias dividissem coraes e expusessem pensamentos.

    Qual uma das causas mais importantes da expanso do ciclo da violncia entre palestinos e judeus? O fator bumerangue. E dos ataques terroristas? Tambm o fator bumerangue. Esse fator psicossocial conjuga na plenitude o verbo agredir: eu o agrido voc me agride, ns nos agredimos. Considerar o comportamento dos outros por mais que nos fira, sem levar em conta a lama depositada no inconsciente, um erro grave.

    O ciclo da violncia pode hibernar, mas jamais ser resolvido se no entendermos que por trs de uma pessoa que fere h uma pessoa dilacerada. Essa uma lei da psicologia social to importante como a lei da gravidade. Somente usando essa ferramenta protegeremos a emoo e poderemos estender as mos com coragem e altrusmo para os outros, para transform-los, se no em amigos, pelo menos em seres humanos.

    O perdo ser uma utopia se no compreendermos o outro na sua dimenso interior. Poderemos tentar por dcadas o perdo e, ainda assim, enfiar a cara no tnel da raiva. Perdoar no um ato coitadista, mas de elevada inteligncia.

    Jesus no julgava as pessoas porque era apenas generoso, mas principalmente porque era inteligente emocionalmente. Ningum furtava sua serenidade. Ningum invadia o delicado territrio da emoo.

    Passeando pelas vielas da Galilia e da Judia protegia sua emoo; crucificado, consolidou de maneira espetacular essa proteo, chocando a psiquiatria e abalando os alicerces da psicologia.

    O Mestre da emoo foi considerado o mais vil dos herticos, crucificado como criminoso. Diante disso o que fez? Desanimou da vida e de tudo? Desistiu da humanidade? Mergulhou no vale do desespero? No! Teve ousadia de dizer: Pai, perdoa-os, pois no sabem o que fazem Suas palavras representam um ato nico na Histria e creio que irreproduzvel nas mesmas condies.

    Seus gestos incomuns no o libertaram por fora, mas o fizeram livre no secreto do seu ser. Sua atitude no o livrou da morte, mas do dio, das angstias sociais.

    Terceira: Ningum pode dar o que no tm

    A terceira ferramenta complementa as outras duas. a cobertura da sobremesa da proteo emocional. O mestre da vida no apenas primeiro no esperava retorno excessivo das pessoas e segundo entendia o que estava por trs dos seus comportamentos agressivos, mas vivia suavemente, pois tinha plena conscincia de que ningum pode dar o que no tem.

    Muitos executivos chegam a casa e tratam seus familiares como funcionrios. Esperam demais. Estabelecem metas. No entendem seus limites.

    InfoshowHighlight

    InfoshowHighlight

  • 5

    www.alexandresite.com

    De um lado, h esposas que durante anos fazem a mesma queixa aos seus maridos, dizem que no so carinhosos, que s falam de trabalho, no do ateno a elas. De outro, h maridos que fazem as mesmas exigncias s suas esposas. So expertos em fazer as mesmas crticas.

    Ficam anos tentando sem sucesso mudar-se mutuamente. Montaram um departamento de cobrana em suas casas. So especialistas no em se amar, mas em cobrar.

    A vida fica mais dcil quando abandonamos a necessidade neurtica de querer mudar os outros, de exigir o que eles no podem dar. As relaes adquirem outro sabor quando entendemos os limites dos outros.

    H investidores que correm risco em bolsas de valores e em outras aplicaes financeiras, mas no conseguem correr riscos na mais ilgica das bolsas, as relaes sociais. No percebem que a emoo humana s vezes se comporta como as aes. Nem todos os dias esto em alta.

    Os pais que criticam excessivamente os filhos causam srios conflitos em sua relao. No tm calma com seus erros, no suportam suas incoerncias, e ainda por cima, comparam um filho com outro ou jovens de outras famlias.

    Eles cometem o erro de classificar seres humanos como se fossem mquinas. No entendem que so diferentes uns dos outros em mltiplos aspectos emocionais, intelectuais e genticos.

    Devemos estimular, ajudar e contribuir para as pessoas sejam melhores, mas sem exageros. Pois nada to decepcionante do que quando se fazem altas exigncias. A vida fica muito mais protegida e agradvel quando cobramos menos.

    A pior maneira de ajudar o outro a mudar pression-lo por mudanas. Criam-se traumas que bloqueiam a sua reflexo, tornado-o frio e distante. A melhor maneira elogi-lo, valoriz-lo, enfim, conquistar primeiro o terreno da emoo, depois o da razo.

    Jesus no exigia muito das pessoas. Vivia agradavelmente as relaes sociais, embora seus discpulos fossem uma fonte de problemas e no de soluo. Sereno, Ele ouvia os seus absurdos e pacientemente esperava que crescessem.

    Certa vez Ele disse: medida que vocs medirem sero medidos (MT 7.1-5). Sua tese chocante. Para ele, quem determina o rigor do julgamento de um ser humano ele mesmo.

    Queria que seus discpulos no pressionassem e cobrassem excessivamente os outros, pois AA mesma cobrana seria aplicada a eles. No deveriam acusar, mas proteger. No deveriam punir , mas abrandar. Almejava que seus discpulos no fossem toscos, rudes e justiceiros, mas amantes da gentileza, inclusive consigo mesmo.

    Para Jesus, a sociedade estava saturada de justiceiros. Mesmo nas democracias modernas, h muitos carrascos vivendo na surdina. Ele sonhava com que seus seguidores entendessem que ningum pode dar o que no tem. Quem no usasse essa ferramenta viveria um pesadelo e transformaria a vida dos outros numa insnia interminvel.

    Recapitulando algumas lies:

    1. O Fator bumerangue indica que no podemos interromper a produo de pensamentos. A nica possibilidade inteligente administra essa produo para dar um suporte saudvel psique.

    2. Fazer seguro de casa, carro, e vida mas desprezar a proteo da emoo fechar a porta da frente a abrir as janelas do fundo para os problemas da vida. Quem no aprende a proteger sua emoo tem grandes chances de ser um escravo em sociedades livres.

    3. Doar-se sem esperar o retorno uma fonte de tranqilidade, doar-se esperando o retorno uma fonte de decepo.

  • 6

    www.alexandresite.com

    4. Quem entende que por trs das pessoas agressivas, mal resolvidas, rspidas h uma pessoa machucada pela vida enxerga o invisvel e protege-se contra o visvel.

    5. Os que querem mudar ansiosamente seus filhos, alunos, cnjuges e colegas de trabalho tm uma necessidade neurtica de mudar pessoas, no uma necessidade saudvel.

    (Adaptado de Maria, a maior educadora da Histria, Augusto Cury, pgs 100-110, Edt. Academia de Inteligncia, Brasil, SP, 2007)