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Psicoterapia Analítica: história, conceitos e técnicas 1. Vida e Obra de Jung Jung (1875-1961) nasceu em Kesswil (cantão da Turgóvia) em 1875, e sua família se mudou para uma aldeia próxima a Basiléia em 1879. Jung teve uma irmã que nasceu quando ele tinha nove anos, ele era filho de um pastor luterano e de uma simples dona de casa. Jung (2005) comenta que seu pai era um sujeito irritado e sua mãe sofria de distúrbios emocionais, mudando de humor de uma hora para outra. Jung (2005) descreve dois fatos importantes de sua vida que possuem ligação entre si, e que aconteceram quando ele tinha de 7 a 10 anos. O primeiro fato nos remete a uma pedra, que se situava no jardim da casa da sua família. Jung costumava ficar sentado em cima dela. Ele ficava perguntando a si próprio acerca do que ele era realmente. Afinal de contas, ele era a pedra ou o sujeito que estava sentado em cima dela? Após essas reflexões acerca do que ele próprio seria, Jung criou um bonequinho de madeira. Este boneco representava, ele próprio, conjuntamente com sua estimada pedra citada anteriormente. O homenzinho de madeira fora esculpido por Jung. Ele tinha uma cartola e foi pintado de tinta Jung aos 6

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Psicoterapia Analítica: história, conceitos e técnicas

1. Vida e Obra de Jung

Jung (1875-1961) nasceu em Kesswil (cantão da Turgóvia) em

1875, e sua família se mudou para uma aldeia próxima a

Basiléia em 1879. Jung teve uma irmã que nasceu quando ele

tinha nove anos, ele era filho de um pastor luterano e de uma

simples dona de casa. Jung (2005) comenta que seu pai era

um sujeito irritado e sua mãe sofria de distúrbios emocionais,

mudando de humor de uma hora para outra.

Jung (2005) descreve dois fatos importantes de sua vida que possuem

ligação entre si, e que aconteceram quando ele tinha de 7 a 10 anos. O

primeiro fato nos remete a uma pedra, que se situava no jardim da casa da

sua família. Jung costumava ficar sentado em cima dela. Ele ficava

perguntando a si próprio acerca do que ele era realmente. Afinal de contas,

ele era a pedra ou o sujeito que estava sentado em cima dela? Após essas

reflexões acerca do que ele próprio seria, Jung criou um bonequinho de

madeira. Este boneco representava, ele próprio, conjuntamente com sua

estimada pedra citada anteriormente. O homenzinho de madeira fora

esculpido por Jung. Ele tinha uma cartola e foi pintado de tinta preta e ele

utilizou-se de lã para fazer um casaco para o homenzinho e de um seixo

que ficava guardado em seu bolso para representar a pedra. Ele o guardou

no sótão de sua casa em segredo. Aliás, este foi o grande segredo desta

época da vida dele. Ninguém nunca descobriu este homenzinho de madeira

e para o pequeno Jung esse representava segurança, embora, ele

desconhecesse a causa do significado de segurança inerente a esse

boneco. O próprio Jung em sua biografia (2005) relata que se esquecera

completamente do boneco até seus 35 anos. O retorno desta lembrança se

deu devido há um livro que Jung estava escrevendo na época. O nome

deste era: Metamorfose e símbolos da libido. Ele estava lendo acerca

dos contos míticos das tribos australianas quando se deparou com a figura

Jung aos 6 anos.

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de uma escultura de pedra feita por esta tribo. Esta era muito parecida com

o homenzinho de madeira feito pelo próprio Jung na infância. Foi devido a

esta associação que Jung começou a desenvolver a idéia de conteúdos

arcaicos da alma que poderiam ser herdados de geração em geração.

Estes conteúdos pertenceriam ao que ele, mais tarde, denominou

inconsciente coletivo.

Jung (2005) relata que aos 12 anos um acontecimento

importantíssimo marcou o destino dele. Quando ele estava esperando um

amigo de escola que habitualmente o acompanhava pelo caminho até a sua

casa veio, sem mais nem menos, um rapaz que lhe deu um soco. Com a

força do soco Jung caiu e bateu com a cabeça na sarjeta, uma comoção o

tomou junto com o pensamento: “agora você não precisa mais ir à escola!”

A partir deste momento ele se viu tomado por uma síncope (desmaio) toda

vez que se tratava de voltar ao colégio ou quando seus pais o mandavam

fazer o trabalho escolar. Foi neste período da sua vida que Jung (2005)

admite ter conhecido o verdadeiro significado de uma neurose, uma vez que

ele a sentira na própria pele. Ele conseguiu curar sua neurose, quando

ouviu a conversa de seu pai com um amigo, foi devido há este diálogo que

Jung sofreu um terrível embate com a realidade: “Afinal de contas, era

necessário trabalhar!” O que seria dele se não conseguisse trabalhar e,

através deste conseguir seu próprio sustento? O autor (2005) conta que

procurou superar as suas crises se debruçando nos estudos de um livro de

gramática latina. As crises vinham de minutos em minutos, mas Jung não

desistia e depois de recobrar a consciência continuava estudando

(trabalhando) até o término de seus desmaios. Depois disso Jung (2005)

relata que nunca mais teve esses desmaios. Estava curado da neurose.

Aos 12 anos de idade o jovem Jung se viu angustiado acerca de

um dilema que tinha como base a vontade de deus, a igreja e a religião.

Certo dia olhando para uma catedral Jung viu o céu azul e os raios de sol a

tocarem o teto da catedral, fazendo este cintilar. Imagens divinas e

grandiosas de Deus sentado em seu trono ornado de ouro passavam pela

cabeça dele e Jung dava graças à igreja. Porém, pensamentos terríveis, de

uma hora para outra, surgiram em sua cabeça. Ele fez de tudo para não

pensar neles. Achou-os pecaminosos e que eles poderiam conduzi-lo ao

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inferno. Absorto em seus pensamentos Jung (2005) relata que começou a

pensar sobre a vontade de deus. Queria este, prová-lo, a fim de medir sua

força e ver se ele seria capaz de resistir ao pecado? Ou medir a coragem

de Jung, testando-o para ver até onde ia sua bravura, se ele seria bravo o

suficiente para se deixar levar por esses pensamentos? Ele preferiu se

deixar levar pelos pensamentos. Eis o que surgiu destes: “diante dos meus

olhos ergue-se a bela catedral e, em cima, o céu azul. Deus está sentado

em seu trono de ouro, muito alto acima do mundo e, debaixo do trono, um

enorme excremento cai sobre o teto novo e colorido da igreja; este se

despedaça e os muros desabam, (Jung 2005, p. 47).”

Na verdade o Deus queria se demonstrar para ele como um ser

vivo, relata Jung (2005). Ele chegara à concepção que Deus criou o homem

com a intenção de pecar. Estava o jovem Jung isento de todos os pecados,

assim como as demais pessoas, pensou Jung naquele momento. Ele

também chega à conclusão que o diabo era uma criação de Deus e

começou a levar esta figura, tida por muitos como maligna, a sério.

Jung (2005) chega à conclusão de que o dogma divino vai além

das palavras escritas na bíblia e seu pai não poderia ter a experiência de

conhecer Deus em sua totalidade, pois, existiam coisas divinas que só

poderiam ser conhecidas através da experiência, e muitas destas não

estavam escritas na bíblia de seu pai e nem poderiam ser descobertas

através de uma simples leitura das escrituras sagradas. Jung (2005) fala

que queria ajudar o seu pai no tocante a isto, porém, sentia-se receoso de

tocar neste assunto, já que seu pai se demonstrava muito fiel a bíblia e era

justamente isso que o impossibilitava de conhecer Deus em toda sua

plenitude.

Os anos se passavam e Jung (2005) comenta que ainda

continuava a se interessar pela religião e ainda, mantinha sua convicção

acerca da experiência viva que o permitiu conhecer Deus em toda a sua

totalidade e intencionalidade. Foi durante e após a crisma de Jung que o

golpe final foi dado. Depois de sua crisma, comenta o próprio autor (2005)

que o pouco que lhe restava da concepção simplória de seu pai acerca de

Deus desmoronara. Isto se deu devido à curiosidade de Jung em relação à

santíssima trindade. Ele perguntava a si mesmo acerca desta: afinal de

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contas, como o pai, o filho e o espírito santo poderiam ser ao mesmo tempo

três membros e um só? Seu pai admitira também não conhecer ao certo

este conceito. Isso frustrou Jung. A última esperança se voltara para sua

iniciação religiosa, onde o corpo de cristo permitiria ele adentrar nos

mistérios religiosos. Depois disto nada de importante lhe acontecera. O

Deus vivo não foi sentido em sua plenitude e Jung rompe com a igreja e

com a concepção divina de seu pai. Seu pai, apesar de tudo, aceitou a

decisão do filho.

Jung (2005) relata que durante sua adolescência a relação

familiar entre sua família estava entrando em crise. Seu pai virara soturno

demais e se irritava com facilidade discutindo inúmeras vezes com todos os

integrantes da casa. Sua mãe se ressentia com isto, mas procurava ficar

quieta quando seu pai começava a discutir para evitar, justamente, se

estender nestas discussões estéreis. Jung (2005) descreve que ele achava

que a causa da crise de seu pai, como um todo, advinha de uma crise

acerca da religião. Ele procurou ajudar o seu pai a esse respeito, mas as

conversas que ele teve com seu pai nesta época de nada ajudaram, eram

estéreis. Cada qual adentrava no tocante da sua própria inferioridade e

Jung não conseguiu fazer com que seu pai entendesse o verdadeiro

significado do deus vivo que poderia somente ser entendido através da

experiência e não com meras palavras bíblicas, muitas vezes, resmungadas

sem pensar pelo seu próprio pai.

Dos 17 aos 24 anos da vida de Jung a preocupação em relação à

sua carreira profissional se fez presente. Certa vez quando Jung estava

lendo um capítulo dum manual de psiquiatria escrito por Krafft-Ebing se

encantou pelo que estava escrito neste acerca da psicose, segundo o autor,

estas seriam doenças da personalidade. Isto causou grande comoção em

Jung. Ele, a partir daí, não pensava em fazer outra especialização que não

fosse à psiquiatria. Embora, esta, não tivesse muito respaldo na época

entre as pessoas. Já que esta área da medicina não estava bem

desenvolvida ainda naquela época. Jung (2005) descreve que escolheu a

carreira psiquiátrica pelo fato de poder trabalhar com dois temas que o

interessava particularmente, eram estes: os dados biológicos e os dados

espirituais.

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Jung (2005) descreve que começou sua carreira no hospital de

Burghölzli, em Zurique como assistente de Eugene Bleuler, um respeitado

médico da época. Cinco anos mais tarde, em 1905, se tornou professor de

psiquiatria e no mesmo ano ocupou o cargo de médico-chefe da clínica

psiquiátrica da universidade de Zurique.

Desde o começo da carreira Jung (2005) fala que manteve

contato com os escritos de Freud. Se interessando, acima de tudo, pelo

método e análise da interpretação dos sonhos de Sigmund Freud. Diferente

da maioria dos estudiosos da época Jung apoiou as convicções de Freud

que pontuavam sobre a teoria do inconsciente e dos recalques. Mas, o

próprio Jung (2005) descreve que o que mais o surpreendeu em Freud foi à

capacidade que este teve de olhar além dos diagnósticos da época. Ele se

interessara pelo que o paciente pensava e dizia, criando uma psicologia

individual, diferente dos diagnósticos generalizados da época. Seu

rompimento com Freud se deu devido à teoria de recalque sexual dele.

Jung (2005) achava que os conflitos psíquicos não tinham unicamente

como princípio à sexualidade. Foi este fato que consolidou o rompimento

com Freud em 1913. Um ano antes da desvinculação com Freud Jung

escreve o livro Metamorfose e símbolos da libido onde fica bem claro que

ele vê o inconsciente como uma entidade viva, acima das noções dualistas

do bem e do e do mal, diferente de Freud que “enxergava” o inconsciente

como um “depósito de recalques libidinais”. Jung (2005) relata que o

lançamento deste livro abalou o relacionamento entre ele e Freud. Porém,

foi a partir desta obra que ele próprio começou a estudar e escrever suas

próprias convicções, teorias e estudos.

O livro Tipos Psicológicos, publicado em 1920, foi a primeira

obra de Jung que alcançou relativo sucesso entre o meio acadêmico. Jung

(2005) fala dos tipos de personalidade inerente as pessoas, tal como a

relação de cada tipo psicológico com as coisas e sujeitos. Este livro foi uma

espécie de “embrião” no que concerne a Psicologia Analítica. Constam no

capítulo final algumas definições de conceitos bem resumidos que seriam

alvo de estudos mais aprofundados à diante. Em 1929 conjuntamente com

Richard Wilhelm Jung lança o livro O segredo da flor de ouro. O autor

(2005) relata que este livro teve como base fundamentos do taoísmo chinês

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e foi a partir deste que Jung começou a desbravar o simbolismo do

arquétipo do si-mesmo. Em 1944 Jung lança a obra Psicologia e

Alquimia. Jung relata que foi através deste livro que ele se permitiu

adentrar e desvendar a dinâmica do inconsciente, utilizando-se de

fragmentos de textos alquímicos. Em sua autobiografia (2005) Jung admite

que os textos gnósticos e da alquimia o ajudaram na sua própria

individuação e na explicação teórica deste conceito, já que tanto os

gnósticos como os alquimistas possuíam um conhecimento que primava

pelo todo e pela união dos opostos. Por fim, citaremos a última obra teórica

de Jung: Aion, publicada em 1950. Neste livro conforme o próprio autor

relata (2005) ele procura explicar o simbolismo do arquétipo integrador de

toda psique (si-mesmo) através dos símbolos gnósticos, alquímicos e

cristãos, dando uma ênfase especial ao símbolo de peixes.

2. Fundamentos da Psicologia Analítica

a) Persona

A persona com certeza não pode ser

entendida como um ícone isolado, ela

estabelece uma relação com outros

conceitos de Jung, principalmente no que

diz respeito à sombra e o ego.

A palavra persona vem do Grego e significa

máscara. As máscaras eram utilizadas nos

teatros romanos e cada persona representava o humor de um personagem,

ou seja, qual o papel da figura dramática no enredo da história. Stein (2005.

P.32) fala que a persona define: “a pessoa tal como é apresentada.” Em

outras palavras, o indivíduo se apresenta de determinada maneira perante a

sociedade para que ele possa ser aceito e integrado aos demais. Sob este

aspecto podemos dizer que a persona é deveras coletiva, está relacionada

à maneira como as pessoas enxergam certo indivíduo e de como ele se vê

perante os outros, podemos dizer que a pessoa se identifica com algo e isto

é exteriorizado para o objeto.

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Stein (2005, p.103) se reporta a expressão: “anjo na rua, carrasco

em casa”, para explicar que o indivíduo pode se utilizar de personas

diferentes para melhor se ajustar a certo contexto. Por exemplo, na rua

determinada pessoa pode procurar ser amável e cordial para com os outros,

pois, assim, ela será aceita e integrada pelos demais, diferente de seu

comportamento em casa que poderá ser agressivo e resmungão, por que

em casa ele e seus familiares se adaptaram de alguma forma ao seu

caráter explosivo.

Uma única pessoa possui várias máscaras. São exemplos de

persona: atividades profissionais, como: médico, advogado, gari. Grupos

sociais: hippies, rappers, esqueitistas, surfistas, além de um traço da

personalidade muito característico de uma pessoa: timidez, frieza, simpatia,

etc.

Stein (2005) fala de duas armadilhas potencias que podem

acontecer no limiar do desenvolvimento da persona, são estas: a super-

identificação com a persona e a outra é a que Jung chama de possessão de

anima ou animus. Na super-identificação o indivíduo se preocupa demais

com sua imagem, ele procura sempre agradar os demais, ou então, se

adaptar ao mundo social e acaba esquecendo que esta parte de sua

personalidade não é o único elemento de seu ser. Um exemplo de super

identificação com a persona é a de uma beata religiosa que se entrega de

corpo e alma a religião, se identificando demais com esse jeito de ser, ela

acaba negligenciando outros fatores de sua vida como o desejo sexual e a

afetividade. Na possessão de anima ou animus ocorre o inverso, a pessoa

simplesmente negligencia o externo, não presta atenção nele. O sujeito se

volta em demasia para o caráter interno. Este tipo de individuo pode se

tornar indelicado no trato com as pessoas se submetendo a impulsos,

desejos e fantasias, se esquecendo do meio em que está inserido.

Por fim, devemos entender que a persona é parte integrante de

nossa personalidade, e sendo parte integrante da nossa personalidade ela

é um membro importante para o processo de individuação e está em

constante ligação com mais duas estruturas psíquicas, a sombra e o ego,

cuja denominação e ligação serão debatidos adiante.

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b) Ego

A palavra ego vem do latim e significa “eu”. Jung (1986) descreve

o ego como sendo o centro da consciência.

O ego é o elemento da nossa psique que nos conduz

conscientemente há algo, não é à toa que Stein (2005) comenta que o ego

funciona como uma espécie de central que conduz as nossas tomadas de

decisões e o nosso livre-árbitro. Contudo, deve-se deixar bem claro que

existem indivíduos com ego pouco desenvolvido, estes indivíduos se veem

geralmente aprisionados por um trauma, no qual o ego não consegue

adquirir força o suficiente para se desenvolver em meio às colisões do

ambiente. Stein (2005) comenta que são as colisões da vida que permitem

que o ego se fortaleça. Essas colisões nada mais são do que a resposta

psicofísica de determinada pessoa em relação às possíveis mudanças do

meio. Portanto, sem colisão não há evolução do ego e mais adiante da

personalidade. Já que é sabido que os conteúdos inconscientes só poderão

se tornar realmente conscientes depois de uma significação da consciência

que se faz através do ego.

c) Sombra

Jung (1986) fala que a sombra se situa no

inconsciente pessoal do sujeito, junto com o

ego e a persona. Portanto uma pessoa

ciente pode desenvolver auto-crítica o

suficiente para percebê-la, já que esta se

situa na esfera pessoal do indivíduo onde

os conteúdos do inconsciente podem

emergir com mais facilidade para a

consciência. Porém, existem outros

conteúdos psíquicos que encontram maior dificuldade para chegarem à luz

Tirado de: olhobemaberto.com.br

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da consciência. Jung (1986) pontua que quando estes conteúdos não

irrompem a consciência é comum haver um desenvolvimento das

projeções. A pessoa projeta seus conteúdos que não são aceitos e que lhe

causam vergonha nos outros. O indivíduo não entende que estes conteúdos

pertencem a ele próprio devido a sua resistência moral. Resistência moral

que vem da sociedade onde a pessoa está inserida. Muitas vezes achamos

melhor usarmos uma máscara (persona) onde nossas qualidades boas

possam ser notadas pelos outros do que por em cheque o que está

escondido na nossa sombra.

Stein (2005) fala que estão situados na sombra os traços da

personalidade negativos. São aqueles traços que a pessoa esconde dos

outros. Estão neste grupo, todos os traços que são vistos como “maus” pela

sociedade, como a ganância, egoísmo, agressividade, etc. A pessoa prefere

manter uma fachada (persona) onde suas características que são vistas

como boas pela coletividade são passadas para os demais, como: a

empatia, a bondade e a solidariedade.

Jung (1986) comenta que para reconhecer a sombra o indivíduo

tem que despender grande quantidade de energia psíquica, ou seja, a

sombra muitas vezes está em conflito com a moralidade. Stein (2005) fala

em seu livro sobre O Fausto de Goethe:

Metisfóles, no Fausto de Goethe, é um exemplo clássico de uma figura sombra. Fausto é um intelectual entediado que já viu tudo que já havia para ver, leu todos os livros importantes e aprendeu tudo o que queria saber, e agora sente-se esgotado, sem nada que o motive e sem vontade de viver. Está deprimido e pensa em suicídio quando um cachorrinho atravessa de súbito em seu caminho e transforma-se em Mefistófeles. Mefistófeles induz Fausto a abandonar o seu gabinete de estudo e a sair com ele pelo mundo, a fim de adquirir experiência sobre o seu outro lado, a sua sensualidade. Apresenta Fausto as suas funções interiores, sensação e sentimento, e os frêmitos e excitação da sua até então vida sexual. Esse é um lado da vida que sua persona como professor e intelectual não permitia... (Stein 2005, p. 101).

A sombra geralmente é algo difícil de ser “digerido” pela pessoa.

No caso de Fausto ele teve que abandonar a sua vida intelectual por uma vida

de aventura e luxúria. Eis os conteúdos que estavam na sombra de Fausto:

luxúria, desejo, perversão. Fausto estava profundamente identificado com sua

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persona: a de professor intelectual. Deixando à sombra toda sua sensualidade,

descobrindo-a ele conseguiu sua salvação. Stein (2005) pontua que uma

grande questão envolve a sombra: pois, se uma pessoa vive aquém da sombra

a sua vida pode se tornar correta em relação à coletividade, mas dentro de si a

pessoa poderá se tornar incompleta. Contudo, se a pessoa for capaz de

conhecer sua própria sombra e realmente entender os conteúdos inerentes

dela o sujeito conseguirá um maior grau de totalidade.

Portanto, o ideal é que o sujeito conheça sua sombra e a adapte a

vida social. Se a pessoa não tem consciência de sua sombra ela nunca irá

descobrir o que ela é realmente no íntimo, e se a sombra se inflar por demais,

a pessoa se tornará arredio com os outros, ou então, se portará de maneira

egoísta se esquecendo dos demais.

d) Anima/Animus

Jung (1986) fala da união inconsciente que

pode haver entre mãe e filho. Há mães que

não querem que os filhos cresçam,

inconscientemente parecem cônscias de que

nada impede seus filhos de se tornarem

homens. Por outro lado tem-se um filho que

ajuda a mãe nessa inverdade, pois,

inconscientemente, apesar de adulto, ele ainda se comporta e age como uma

criancinha. Aparentemente (conscientemente) neste caso se tem uma mãe que

cria o seu filho para o mundo, mas na verdade isso é uma ilusão, pois,

inconscientemente, a mãe quer o filho para si eternamente, em outras palavras,

que o único amor da vida do filho seja ela mesma. Jung (1986) nos diz que o

homem neste caso quer conhecer o mundo se deleitar com ele, se apaixonar

por este, mas não o consegue. Pois, tem a secreta recordação de que a única

que pode lhe dar a felicidade mundana é a sua mãe. Fica evidente o caráter

destrutivo que a anima pode exercer num homem nesta passagem. Stein

(2005, p. 133) se remete a um poema de Haggard, Femme Fatalle, para

Tirado de: lusophia.wordpress.com

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discernir sobre o aspecto sombrio da anima: “ela é uma deusa eternamente

agonizante e renascente que conduz os homens para as chamas da paixão

devoradora e, finalmente, para a sua destruição.” O próprio Stein (2005)

comenta que alguns meninos no período da latência evitam brincar com as

meninas, pois, sabem que estas são poderosas e atraentes demais e que eles

não serão capazes de enfrentar o desafio que as meninas engendram. Quando

crescerem e virarem homens, eles poderão desenvolver certa sabedoria, para

evitar relacionamentos com mulheres que tenham força para destruir seu

casamento e carreira profissional. A esta força que muitas vezes retrai o

homem Jung (1986) denominou anima. A mulher também possui uma força

deste tipo e antagônica a ela, Jung (1986) definiu por animus.

A mulher já nos seus primeiros anos de vida se identifica com

uma figura paterna. Esta corresponde a sua razão (Logos). Enquanto nos

homens o caráter anímico engendra o sentimento (Eros). A anima e o

animus de ambos os sexos podem ser facilmente notados nas discussões

mais obstinadas. Jung (1986) fala que neste tipo de discussão a mulher

tende a argumentar levando em conta fatores intelectuais como a Justiça e

a moral. “Por que você me traiu? Isto não é justo!” Diriam elas quando

traídas. Já o homem em discussões mais acaloradas se comportaria de

maneira vaidosa e orgulhosa. Prova disto são os homens que depois da

traição se entregam ao orgulho e o orgulho só será “expurgado” quando

estes bateram na mulher, expulsá-las de casa, ou algo pior... neste caso,

pode-se chegar há um crime passional (paixão) que tem como

característica a emoção e o sentimento (Eros). Um comentário interessante

é feito por Jung (1986, p. 13) em relação aos comportamentos da sizígia:

“(...) todas as vezes que a anima e o animus se encontram, o animus lança

mão da espada de seu poder e a anima asperge o veneno de suas ilusões

e seduções.”

Jung (1986, p. 9) faz uma pergunta referente a anima e animus:

“Mas que fator projetante é este?”

O fato é que um homem não pode conhecer a sua anima sem o

fator projetivo e a mulher vice-versa. Stein (2005) diz que a definição

sintética diz que anima é o feminino interno para o homem e animus é o

masculino interno para uma mulher. Entende-se, que quando se é falado

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desse caráter interno, estamos falando nada mais e nada menos do que o

inconsciente. Não é de se espantar que Jung (1986) atribui a projeção como

sendo meramente inconsciente e não um atributo do ego. Portanto, chega-

se a conclusão que a anima/animus se encontram no inconsciente das

pessoas. Mas não estamos aqui fazendo referência ao inconsciente

pessoal, de acesso mais fácil à consciência, estamos falando aqui de algo

mais profundo, no qual Jung denominou inconsciente coletivo. Jung (1986)

fala que anima/animus são arquétipos e, portanto, vão além da constituição

que temos dos nossos pais e mães biológicos. Eles veem de tempos

imemoriais, sua origem é tão antiga que é impossível delimitar a origem de

sua existência. São estes os conteúdos que pertencem ao inconsciente

coletivo.

e) Self

Stein (2005), em seu livro, fala sobre o termo inglês self. Ele

explica que o self na concepção de Jung vai além das outras teorias da

personalidade. O self ou si-mesmo para ele vai além do ego (eu). Na

verdade o si mesmo é muito mais abrangente do que as concepções

conscientes de ego. No self o que ocorre é uma união entre os elementos

conscientes e inconscientes do indivíduo, desta forma temos um ser total.

Mas, o que define o si-mesmo é a sua característica transcendente.

Podemos afirmar, portanto, que o self transcende o ser e é isto o que mais

o define.

Quando falamos que o si-mesmo transcende o ego. Estamos nos

referindo que, assim como a sizígia (anima/animus) o self tem a sua origem

no inconsciente coletivo. O si-mesmo pertence aos conteúdos arquetípicos

que se encontram a priori em nossa psique, ou seja, que herdamos dos

antepassados.

Jung (1986) explica que a maneira que o self encontra

para se manifestar na pessoa é através de um

mitogema religioso, de modo que as mandalas

(círculos) e imagens de quaternidade (quadrados) são

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símbolos comuns do self, que funcionam como componentes integradores

da psique.

O si mesmo funciona como um integrador de toda psique e como

vem à tona sempre absolto num mitogema divino, portanto tem-se o que

Jung chamou de imago dei (imagem de deus). Esta imagem poderosa de

deus dá uma idéia para pessoa de fato consumado. Ou seja, através do ato

de deus a dúvida é dissipada. Jung (1986) comenta que a ação divina nada

mais é do que a vontade de deus é tida como uma força natural da

natureza. Os instintos, portanto, também são uma força da natureza, ou

seja, da vontade de deus. Jung (1986) explica que não se tem aqui a

concepção cristã de deus. Mas, sim a de um poder determinante que vem

de fora. Deste modo é o homem que decide baseado numa moral ética o

rumo a tomar. Os impulsos, então, não são forças arbitrárias, são forças da

natureza. O homem identificado por demais com o seu ego pode achar que

o único fator sumariamente decisivo é o que corresponde a sua própria

vontade. Mas, não são assim que as coisas são. Existem forças da

natureza (vontade de deus), que influenciam o ego. Um exemplo disto são

os instintos, eles antecedem o ego. Mas, a maneira como o homem saciará

os seus impulsos ou não dependem sim, neste ponto, da sua moral ética

que é inerente ao ego.

3. Terapia Analítica

O homem desde tempos imemoriais buscou socorrer a alma

sofredora. Afinal de contas, os mitos antigos, a procriação das histórias

envolvendo deuses e grandes heróis não seriam formas de curar a alma

sofredora? Calluf (1969) crê que todas as problemáticas envolvidas nos

contos míticos são esforços humanos para socorrer a psique. São comuns

nesses mitos aparecerem personagens que exercem grande fascínio no

homem, estamos falando aqui dos heróis e deuses que, não raramente,

aparecem como figuras principais nessas histórias. Não se sabe o que veio

antes: a religião ou os contos míticos. Mas uma coisa é certa eles

influenciaram e, ainda, influenciam muito hoje em dia os dogmas religiosos.

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As religiões trouxeram muito destes conteúdos arquetípicos das mais

antigas civilizações. Afinal de contas, da onde advém a crença de que há

um Deus criador de todo mundo e humanidade, e de que a maldade está à

nossa espreita como um demônio e, não raro, é simbolizado por este nas

religiões? Da religião as igrejas, eis que surge o mulçumano, o judeu e o

cristão, dentre outros. Cada qual pertencente há um dogma diferente,

porém, que conservam e muito, imagens arquetípicas dos mais longínquos

antepassados. Portanto, como menciona Calluf (1969) não se deve tratar a

religião como um simples “distritozinho” da vida moderna, pois ela é mais do

que isso, pois imagens e conteúdos simbólicos antigos estão presentes na

religiosidade e esses veem imbuídos de uma significação espiritual deveras

forte para ser tratada com negligência por muitos estudiosos.

Jung (1985) entendia a terapia como um processo dialético, ou

seja, da união entre a tese e antítese se forma uma outra coisa, na qual,

podemos chamar de síntese. Portanto, se equivoca quem pensa que todas

as moléstias psíquicas tem como causas única e exclusivamente os

conteúdos sexuais recalcados pela pessoa. Na verdade isto é uma visão

unilateral, temos uma tese, mas falta uma antítese que forme uma síntese.

É neste ponto que Jung (1985) descreve que as causas dos males

psicológicos podem ser infinitas, são exemplos que podem levar a neurose:

a inibição da energia criativa e a vontade de dominar, além da exacerbação

da energia libidinal, entre outras causas.

A dialética na verdade pondera sobre a questão de que duas

coisas antagônicas podem se juntar para formar uma terceira coisa. Um

exemplo simples que pode ser usado é a união entre o corpo e a mente

(espírito) que unidos formam a criatura humana. Em respeito a isto Calluf

(1969) fala que é impossível separar o instinto da alma humana. Na

verdade uma pessoa que possui uma visão unilateral acerca dos dois pode

se condenar a neurose. Pois, os dois são essenciais para a vida humana e

a negação ou a exacerbação de um deles possibilita a criação da neurose e

nos casos mais graves ao aparecimento de uma psicose. Não se espera na

vida humana que o instinto e a alma convivam sempre em harmonia. Muitas

vezes a relação entre esses dois elementos é permeada por muitos

Page 15: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

conflitos já que estes dois caracteres são antagônicos, embora os dois

juntos em si, completem o ser humano.

Calluf (1969) pontua sobre a relação dialética que acontece entre

terapeuta e paciente. Entende-se que o psiquismo de duas pessoas irão se

interagir a fim de resolver certos problemas. Entende-se que apesar das

enormes diferenças entre um ser humano e outro existem certas

peculiaridades em comum, do contrário toda a psicoterapia se mergulharia

numa confusão subjetiva onde a terapia seria impraticável.

O terapeuta tem que estar a par do universo externo do seu

paciente, com isto se chega a conclusão que o terapeuta tem que saber o

que acontece no mundo coletivo da pessoa, já que entende-se que um bom

terapeuta deve conhecer a realidade do mundo que está inserido, caso

contrário, o analista entraria numa ilusão. O terapeuta deve saber como

funciona a sociedade na qual o indivíduo está inserido. Como é a religião, a

política e a cultura desta sociedade. Porém o terapeuta deve tomar um

grande cuidado no que diz respeito a exacerbar a importância do universo

externo do paciente em detrimento do individual. O psicoterapeuta deve ter

bem claro em sua mente que a terapia visa o indivíduo e não o coletivo, do

contrário haverá um esmagamento da subjetividade do sujeito (Calluf,

1969).

No que concerne as técnicas da psicoterapia analítica Calluf

(1969) é pontual: pois entende-se que o ser humano não é um bolo ou um

mero televisor para que o analista utilize uma técnica como se usa os

ingredientes que estão em um livro de receitas ou da maneira que se segue

o que está inscrito em certo manual. O ser humano é um ser complexo e

por isso, deve ser tratado como tal. O uso de técnicas é importante sim!

Mas não devemos ficar engessado por elas. Entende-se que cada pessoa

tem a sua peculiaridade e deve ser tratado de maneira diferente dos demais

e não encabeçado por uma única técnica que vai tratar pessoas diferentes

como iguais. Chegamos, então há um ponto simples da terapia analítica, na

qual muitos terapeutas erram: quem vai direcionar a técnica correta a ser

usada é o paciente e não o terapeuta. Em cada caso, com certeza, existe

uma técnica que pode ser usada, porém Calluf (1969) descreve que mais

importante do que a técnica correta a ser empregada é a personalidade do

Page 16: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

terapeuta. O autor com isto faz menção que o terapeuta tem que se

conhecer muito bem para se entregar ao universo psicoterapêutico. O

analista tem que ter um caráter bem formado e levar a sério a formação de

seu caráter. Portanto se submeter a uma auto-análise não é o suficiente.

Deve-se utilizar de outrem para contar os próprios conflitos. Ao contrário

pode acontecer uma internalização do conflito onde os componentes

externos de suma importância podem ser negligenciados. Numa explicação

mais detalhada: o analista pode enxergar no outro somente seus próprios

problemas havendo uma transferência dos conteúdos não trabalhados do

terapeuta para o paciente, fazendo aquele tratar com desdém os fatores

externos que causam conflitos no paciente, ou seja, conteúdos diferentes

do analista que levaram a pessoa a desenvolver certa dificuldade em sua

vida.

Outra coisa que Calluf (1969) se refere é ao fato da cosmovisão,

ou seja, do terapeuta não respeitar a visão de mundo de seu paciente

tentando impor a sua própria cosmovisão ou desqualificando a visão do

paciente. Portanto, o analista deve aceitar a pessoa como ela é. De nada

adianta o terapeuta dizer: “tu deve ou não deve fazer isto ou aquilo.” Isso

não deve ser feito já que o terapeuta não é o dono da moral e muito menos

a sua moral é superior a do paciente. Portanto, se o processo terapêutico se

encontra estagnado antes de desconfiar da má fé do paciente ou de sua

inferioridade o analista deve desconfiar de seus métodos, a fim de mudá-los

se for necessário.

Jung (1985) fala da visão de mundo e entende que o oposto faz

parte da psique humana, já que é impossível encontrar duas pessoas

totalmente iguais na face da terra. É por isso que o alerta de não tentar

impor a visão de mundo do terapeuta ao paciente sempre deve ser feito. Se

isto ocorrer o terapeuta poderá enxergar o paciente como extensão de si

mesmo, isso com certeza irá contribuir para o aparecimento da projeção.

Nesse caso o terapeuta não estará tratando o paciente, mas a si mesmo,

através da figura do paciente e isto levará a terapia a lugar nenhum. O

autor fala da visão de mundo e dos materiais psíquicos que emergem do

inconsciente. Para se conhecer a cosmovisão o terapeuta deve conhecer

todos os dados históricos que levaram o paciente a tê-la. Por exemplo, o

Page 17: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

judeu terá uma visão de mundo diferente do católico e o capitalista diferente

do socialista e estes devem ser respeitados pelo terapeuta mediante suas

concepções. Já os conteúdos inconscientes exigem por parte do

psicoterapeuta um conhecimento empírico vasto. Este deve conhecer os

significados simbólicos e arquetípicos das religiões e seitas primitivas e

também dos contos míticos dos antepassados.

Chega-se a conclusão baseado em tudo que foi explanado nesse

tópico que o terapeuta como afirma Jung (1985) tem que ter um

conhecimento vasto das várias visões de mundo: cristianismo, islamismo,

budismo, capitalista, naturalista, ateísmo, dentre inúmeros outros. O

psicoterapeuta deve respeitar a individualidade de cada paciente, não

tentando “colocar” na mente de seu paciente a sua própria cosmovisão. Por

outro lado o terapeuta deve conhecer os conteúdos arquetípicos e

simbólicos dos mais variados dogmas e contos míticos, a fim de saber lidar

com os conteúdos inconscientes que por ventura poderão emergir da

inconsciência para que possa orientar o paciente baseado nos conteúdos

que chegaram à luz da consciência e na visão de mundo que a pessoa tem.

Ramos (2005) debate sobre o processo de individuação e do

confronto que o paciente terá que ter com todos os seus arquétipos

(persona, sombra, anima/animus, self). Sabe-se que a individuação é um

processo de totalidade onde o indivíduo toma consciência do que se é como

um todo, acontecendo uma junção do inconsciente com o consciente. A

tarefa primordial do terapeuta será orientar o seu paciente neste processo,

a fim de que o sujeito possa integrar todas as partes inerentes ao seu ser

chegando à totalidade. Portanto, o objetivo primordial de toda a Psicologia

Analítica é a individuação do paciente.

4. Técnicas da Psicologia Analítica

a) Interpretação dos sonhos

Jung (2000) entendia o sonho como

um produto psíquico. Os conteúdos

Tirado de: www.espiritualismo.hostmach.com.br

Page 18: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

oníricos do sonho não podem ser entendidos vulgarmente como meros

absurdos. Na verdade, a maneira que o inconsciente tem de representar o

onírico é muitas vezes fantástico, absorto em alegorias. Isto se dá devido às

culturas antigas que utilizavam em seus rituais a linguagem simbólica,

sendo que esta linguagem ainda se encontra entre nós e é passada de

geração em geração fazendo parte do inconsciente coletivo. Esta linguagem

é vista por muitos como absurda, já que estamos num período histórico

deveras intelectual. Por mais que se tente explicar logicamente um símbolo,

sempre se perderá algo dele, pois o significado dos símbolos vai além do

intelecto.

Portanto, Jung (2000) descreve que os sonhos devem ser

entendidos como algo que comunica alguma coisa ao sonhador e muitas

coisas, sim, podem ser entendidas através dos conteúdos oníricos.

Podemos dizer, então, que o sonho tem uma finalidade, ou seja, o

inconsciente vem comunicar algo à luz da consciência. Jung (2000)

baseado na infinidade de sonhos que analisou notou uma característica

inerente há eles: ele afirma que todos os sonhos tem uma função

compensadora. A compensação, nada mais é, do que um processo

autorregulatório entre a consciência e o inconsciente. Portanto, se um

indivíduo se torna consciamente muito arrogante, achando que está por

cima dos demais, o inconsciente tratará de compensar essa arrogância

exacerbada trazendo aos sonhos deste sujeito “figuras baixas”. A pessoa

pode sonhar que é um mendigo, por exemplo. O oposto também pode

ocorrer: um individuo que se julga inferior aos demais, sonhará com algo

que o tornará superior aos outros.

Jung (2000) no livro “A Natureza da Psique” aborda a

interpretação dos sonhos e quais os significados que estes possam vir a ter.

Para facilitar o processo de explanação dos conteúdos oníricos criou-se a

hermenêutica Junguiana, para muitos, tida como uma arte.

Os 4 passos da hermenêutica são: amplificação, associação,

serialização e contextualização. Fromm (1980) comenta acerca da

associação em seu livro. Na associação o interpretador do sonho se

concentra num elemento onírico isolado e associa tal imagem do sonho aos

eventos da vida do paciente. A contextualização visa formar um contexto

Page 19: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

geral da vida do sonhador. Por quais eventos a pessoa estava passando

em sua vida quando teve determinados sonhos, quem é este individuo,

quais os fatos que marcaram a vida do sujeito, etc. Já a serialização tem

como meta colher os acontecimentos que ocorrem consecutivamente em

inúmeros sonhos. É comum ocorrer séries de sonhos onde ações,

símbolos, arquétipos ou acontecimentos surjam constantemente. Por último

temos a amplificação. Fromm (1980) elabora alguns exemplos de

amplificações, que não cabe aqui discutir. O que podemos afirmar é que o

terapeuta faz uso da amplificação para captar os significados simbólicos

que diversas culturas dão a determinado símbolo. Isto possibilita ao

interpretador estender os significados da alegoria, a fim de ampliar seus

próprios horizontes e encontrar qual é o significado simbólico que se

encaixa melhor no sonho tendo como base o contexto, no qual o paciente

está inserido.

b) Técnicas de recorte e colagem

Barreto (2009) fala da importância das técnicas artísticas. Ela

menciona que a arte é um meio facilitador de expressão e permite ao

individuo um contato prático com o seu universo simbólico e imaginário.

Miranda (2008) enfatiza que através da arteterapia novos caminhos podem

ser abertos, principalmente aqueles que permitem o contato do sujeito com

o inconsciente. Por isso, não é à toa que várias técnicas arteterápicas são

usadas na psicoterapia analítica, já que estes trabalhos artísticos

possibilitam a expressão dos conteúdos simbólicos e imaginários da

pessoa, além de liberarem conteúdos subconscientes.

Miranda (2008) discerne sobre as diversas formas de se trabalhar

com a arteterapia. A autora descreve que a arte, em si, é uma forma de

expressão e existem várias maneiras de se expressar através do lúdico,

como: a música, a pintura e a dança. É importante destacar aqui, que a

arteterapia, antes de tudo, como o próprio nome diz é uma terapia. Embora

o artístico se faça valer nos trabalhos o importante destes não é o estético

Page 20: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

das obras, mas sim a possibilidade que os indivíduos têm de utilizar a arte

afim de resignificarem seus conteúdos internos através da arte.

Trataremos neste tópico de forma mais detalhada da técnica de

recorte e colagem. Recortando e colando figuras de jornais e revistas os

indivíduos se expressam. Miranda (2008) pontua que através do recorte de

figuras e das colagens pode-se colher muitas informações acerca do

sujeito. O terapeuta deve estar atento às formas e as cores das gravuras

recortadas pela pessoa e a maneira como a pessoa cola os recortes, se o

individuo cola as figuras de maneira organizada ou não, por exemplo. Outra

característica fundamental que a autora acima destaca é o da

psicomotricidade. A pessoa trabalhando com as mãos se exprime através

do tato. Muitas características podem ser observadas pelo terapeuta: se o

indivíduo possui boa motricidade, se ele faz o trabalho de maneira

desajeitada, se o sujeito conduz os objetos (tesoura, cola, revista, jornal,

gravuras recortadas) com maestria, dentre outras peculiaridades a serem

observadas. O terapeuta tem que estar atento às figuras que o paciente

escolhe. Pois, estas, como formas de expressão veem expressar conteúdos

psicológicos, emocionais, espirituais e cognitivos do paciente. Outra

observação que vale ser feita induz a questão dos caracteres inconscientes

e simbólicos presentes nas gravuras escolhidas pelo sujeito. O

psicoterapeuta não deve interpretar as figuras da pessoa somente à luz da

consciência, pois como foi dito anteriormente a arteterapia tem como uma

das funções o acesso aos conteúdos inconscientes do indivíduo e o

terapeuta tem que estar atento a eles para não interpretá-los de forma

equivocada.

5 Tipos Psicológicos

a) Atitude introvertida e extrovertida

Jung (1991) comenta que a diferença primordial entre a atitude

introvertida e extrovertida é que esta se orienta pelos aspectos objetivos

inerentes ao objeto, enquanto o introvertido se guia por fatores subjetivos.

Page 21: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

Na verdade o introvertido elabora as condições externas, mas o

fator preponderante para sua escolha são os processos internos

pertencentes à sua subjetividade. Jung (1991) comenta que a introversão

se orienta por impressões inerentes ao objeto. A impressão e a reflexão são

frutos de seu íntimo e podem prejudicar a pessoa que se prende por demais

em seus sentimentos, pensamentos, sensações e intuições. Pois, um

sujeito absorto em suas próprias reflexões pode negligenciar ou esquecer

por completo o meio circundante em que está inserido, neste caso a

adaptação deste tipo de indivíduo ao meio externo tenderá a ser dificultosa.

Jung (1991, p. 319) fala que:

Quando predomina a orientação pelo objeto e pelo dado objetivo, de modo que as decisões e ações mais freqüentes e principais sejam condicionadas não por opiniões subjetivas, mas por circunstâncias subjetivas, então se fala de uma atitude extrovertida.

No extrovertido a atenção principal está no objetivo e no meio

externo em que o indivíduo está inserido. Portanto, interesse e atenção se

orientam para o que está próximo objetivamente. Jung (1991) destaca que não

são só as pessoas que cativam o seu interesse, o extrovertido também se

interessa pelas coisas. É comum ao extrovertido escolher uma profissão

rentável, ou que é valorizada socialmente. Neste caso, diferente do introvertido,

não são os fatores subjetivos o que o faz escolher, mas os aspectos objetivos

no meio em que ele está inserido. O autor afirma que o risco da extroversão

está no fato de o sujeito ter uma propensão acentuada para o meio externo.

Com isto o que é negligenciado ou esquecido é o fator subjetivo. A pessoa

guiará sua vida pelos fatores extrínsecos se esquecendo por completo seus

próprios sentimentos, pensamentos, sensações e intuições.

É notório que se deve haver certo equilíbrio entre introversão e

extroversão, se a balança pender demais para um lado negligenciando uma

das atitudes a neurose encontrará guarida para se desenvolver.

Page 22: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

b) As funções psíquicas

Jung (1991) discerne sobre 4 tipos fundamentais

de funções psíquicas, são elas: pensamento,

sentimento, sensação e intuição.

O que caracteriza o pensamento como função

psíquica é o fluxo das idéias lógicas que o

acompanham. Esta função psíquica se caracteriza

pela orientação através de julgamentos. Jung

(1991) descreve que o julgamento sempre segue um critério. No caso do

pensamento introvertido o critério é subjetivo e no pensar extrovertido esse se

encontra na relação com o objeto externo. O autor destaca que é através de

idéias lógicas que estes indivíduos elaboram seus julgamentos para adiante

tomarem as decisões.

Diferente da função do pensamento que valoriza as idéias o

sentimento considera acima de tudo o sentir. Jung (1991) entendia o

sentimento como uma função judicativa, assim como o pensamento, o

julgamento é fator preponderante para esta função psíquica. Portanto o autor

destaca que o que é valorizado psiquicamente é o sentimento inerente aos

padrões morais. O que perpassa por essa função psíquica é se determinado

ato ou sentimento é mal ou bom, se certa pessoa é agradável ou desagradável,

se o sujeito ama ou odeia alguma coisa ou pessoa, etc.

Jung (1991) fala que a função psíquica da sensação prima,

sobretudo, pelo o que é fisiológico. Naturalmente o sujeito se orienta pelo que

emana dos sentidos. É por isso que os tipos sensitivos tendem a trabalharem

muito bem com qualquer tipo de aparelho, instrumento ou veículo. Pois, estes

tipos de indivíduos teem bastante desenvolvido os aspectos inerentes aos

sentidos.

Sobre a intuição pode-se dizer que ela não é “simples percepção,

mera contemplação, mas um processo ativo e criador que incute no objeto

tanto quanto dele retira (Jung 1991, p. 348).” A intuição vai além da percepção,

esta função psíquica percebe determinado objeto, mas não se atém

exaustivamente a ele como na sensação. A intuição se utiliza de experiências

Tirado de: www.psiquiatriageral.com.br

Page 23: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

passadas e até de processos inconscientes para guiar suas ações. O autor

pondera que para o intuitivo é muito mais fácil prever novas possibilidades e

acontecimentos futuros. Isto ocorre devido à maneira rápida que os intuitivos

têm de processar as informações passadas com a experiência imediata, são

estes fatores que permitem a essa função psíquica olhar adiante, ou seja,

prever através da dedução certos acontecimentos futuros.

c) Os tipos psicológicos da introversão

Jung (1991) em seu livro Tipos Psicológicos se utiliza de dois

conceitos para explicar a personalidade dos sujeitos. São estes conceitos as

das atitudes (introversão/extroversão) e das funções psíquicas (pensamento,

sentimento, sensação e intuição). Esses dois postulados teóricos

conjuntamente formam a personalidade dos indivíduos. No caso da introversão

teremos os tipos psicológicos de pensamento, sentimento, sensação e intuição

introvertidos.

Como em todos os tipos psicológicos introvertidos o que

prepondera no sujeito de pensamento introvertido é o aspecto subjetivo.

Portanto, esse tipo psicológico segundo Jung (1991) seguirá suas idéias não

para fora, mas para dentro de si próprio. Por se guiar ademais por fatores

íntimos, estes indivíduos, como todos os tipos introvertidos, poderão possuir

uma relação tênue para com o objeto, desta forma, este pode ser

negligenciado. O autor destaca que devido a sua orientação subjetiva este tipo

muitas vezes é visto pelos outros, como: frio, duro, inflexível e arbitrário.

O tipo pensamento introvertido pode ser um bom teórico, mas

quando a questão passa por adequar a teoria à prática o indivíduo se encontra

em dificuldade, comenta Jung (1991). Isso se dá ao fator subjetivo, que quando

exacerbado tratará o objeto negativamente. Este será visto como um inimigo e

assim a sua teoria não poderá ser transformada em realidade prática devido a

estranheza e auto-defesa para com o externo.

Jung (1991) fala da atitude compensatória do inconsciente que

pertence a todos os tipos psicológicos. O que está à luz da consciência destes

indivíduos é o pensamento introvertido. Portanto, a compensação inconsciente

Page 24: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

será extrovertida, principalmente no que diz respeito ao seu oposto, o

sentimento.

Externamente as pessoas de sentimento introvertido são

descritas como harmônicas, portadoras de uma calma agradável e um

paralelismo simpático que não pretende motivar, persuadir ou mudar o outro

(Jung 1991). Na verdade, apesar das características benéficas citadas acima

pelo autor, este tipo não mantém um relacionamento de amabilidade com o

objeto. O que se observa subjetivamente são indiferença, frieza e

distanciamento. Devido a esses predicados eles poderão ser julgados pelos

outros superficialmente como pouco sentimentais. Jung (1991) fala que esse

julgamento é errôneo. Pelo fato de os sentimentos serem também intensivos,

não só extensivos. Portanto, não é só a exteriorização do sentimento que o

determina. O sentimento intensivo será sentido por esses sujeitos

subjetivamente, ou seja, será sentido intensamente pelo sujeito.

Em relação à atitude do inconsciente do sentimento introvertido,

este é caracterizado por um pensar extrovertido pontua Jung (1991). Portanto,

esse pensar entra em oposição com o sentimento subjetivo, de forma que o

pensamento inconsciente se orientará pelo dado objeto.

Os tipos que se conduzem pelo primado da sensação se

caracterizam por uma intensa relação com o objeto, afirma Jung (1991). A

relação do objeto no tipo sensação introvertido se guia pela subjetividade. As

impressões subjetivas que o sujeito tem dos objetos poderão se dá de forma

ilusória de acordo com o autor. Pois, o fato de se guiar pela objeto externo não

garante a realidade do objeto. Como o fator introversivo prima pelo subjetivo o

objeto real pode ser facilmente distorcido, transformando a realidade em ilusão,

comenta o autor.

Jung (1991) relata que esse tipo pode surpreender os demais pela

sua calma exacerbada e passividade. Na verdade, o próprio autor menciona

que o que esse indivíduo quer é equilibrar o objeto, de modo a apaziguar e

acomodar as situações. Devido a isto, o extravagante é freado, o que está

muito abaixo se eleva, o que era desperdiçado é poupado, a fim de equilibrar

os acontecimentos.

Sua atitude do inconsciente compensa a sensação introvertida

consciente, de modo que a inconsciência se caracterizará por uma atitude

Page 25: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

extrovertida intuitiva, afirma Jung (1991). De forma que o inconsciente tratará

de farejar as intenções dúbias, sombrias, sujas, e perigosas do sujeito.

Jung (1991) relata que o tipo intuição introvertido tende a

desenvolver características fantasistas, sonhadoras e visionárias místicas. O

problema consiste quando há uma supervalorização destas características, de

modo que, estes predicativos levados ao extremo façam o indivíduo

literalmente “andar nas nuvens”, se encontrando absolto em seus devaneios,

esquecendo-se por completo da realidade objetiva. Neste caso o que ocorre é

que a simples contemplação de seus sonhos e fantasias já não é o suficiente

para o ser. Jung (1991) diz que o indivíduo se vê obrigado a transformar as

suas visões em sua própria vida se esquecendo do objeto. Com isso a

adaptação com a realidade presente e factual se torna falha.

Devido à falta de adaptação da realidade presente a inconsciência

deste indivíduo tende a buscar a realidade assumindo uma atitude extrovertida

sensitiva. Jung (1991) afirma que neste caso os instintos esquecidos se fazem

presentes na inconsciência tratando de compensar o vislumbramento das

visões através dos instintos, que primados pela sensação extrovertida poderá

tirá-lo das “nuvens”, colocando o sujeito no “chão” de volta.

d) Os tipos psicológicos da extroversão

Todos os tipos psicológicos extrovertidos se orientarão por fatores

objetivos inerentes ao objeto.

Pode-se definir o extrovertido de pensamento da seguinte

maneira:

Por definição este será alguém – supondo tratar-se do tipo puro – que se esforça por colocar toda a atividade de sua vida na dependência de conclusões intelectuais que se orientam, em última análise, sempre por dados objetivos ou idéias válidas em geral. (Jung 1991, p. 330).

O autor citado acima pontua que para esses indivíduos o que

mais interessa é o intelecto, e é por este que ele se guia. Tudo o faz pelo ponto

de vista justo e verdadeiro. As coisas não são, portanto, submetidas no amor

Page 26: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

ao próximo, mas sim, pela verdade intelectual objetiva e tudo que foge a ela é

tratado por esses sujeitos como errado. Jung (1991) pontua que essas

características podem tornar o indivíduo deste tipo psicológico tirano. Pois, se a

única coisa a ser aceita for o seu ideal, ele poderá tentar impor aos demais

esse ideal à força.

No ponto de vista da compensação o inconsciente deste indivíduo

tenderá há ter acima de tudo uma postura sentimental. Na qual, suas teorias

racionais poderão esconder por “de trás dos panos” atitudes egoístas secretas

e por trás da ética poderão se esconder atitudes sentimentais inconscientes,

além de atitudes bizarras não aceitas pela consciência do indivíduo, comenta

Jung (1991).

Como a função do sentimento é judicativa as pessoas do tipo

sentimento extrovertido segundo Jung (1991) buscarão estar em sintonia

com o que é aceito, de forma geral, pela sociedade. Contudo, não é o fator

subjetivo que faz esses indivíduos escolherem os seus parceiros (às vezes eles

nem sabem disso). Como é o fator objetivo que orienta as suas escolhas a

pessoa escolherá seu parceiro por conveniência. Entende-se por conveniência

as expectativas que satisfazem os ditames sociais, como: posses, tipo físico,

idade, dentre outros exemplos.

A pessoa do tipo sentimento extrovertido muda seus sentimentos

de acordo com as situações externas, relata Jung (1991). O problema deste

tipo está na sua identificação com o eu. Como a pessoa tende a mudar seus

julgamentos “da água pro vinho” e “de uma hora pra outra” a função inferior

(inconsciente) se desenvolverá tomando a forma do tipo pensamento. Na qual,

a pessoa será tomada por uma lógica que tratará de “por em cheque” a sua

inexorável realidade sentimental objetiva, pontua o autor.

O tipo sensação extrovertido é um realista de marca maior,

caracteriza Jung (1991). Embora, o próprio autor esclareça que a realidade,

neste caso, não tem haver com racionalidade. As atitudes não precedem

julgamentos como acontece com os tipos sentimentais e do pensamento. Via

de regra, a ação desse tipo prezará por obter o maior gozo possível inerente ao

objeto. Portanto, sua intenção e moralidade estão em consoante ao objeto

concreto.

Page 27: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

Jung (1991) caracteriza esse tipo da seguinte forma: costuma ser

pessoa agradável. Os problemas da vida, em geral, não passam de uma boa

refeição e de roupas boas, tudo sucumbe a importância do bom gosto. Mas o

autor pondera que quando muito inclinado à sensação este tipo de indivíduo

poderá desenvolver um caráter grosseiro e pela busca de prazer e refinação,

ele não medirá escrúpulos para com os outros. Neste caso Jung (1991) relata o

nascimento de suposições, que assumindo um caráter sexual podem se tornar

obsessivas. Estas se caracterizaram por fantasias ciumentas em relação ao

objeto que poderão levar o indivíduo facilmente à angústia. Neste caso o autor

pontua que a atitude do inconsciente assumirá, acima de tudo um caráter

intuitivo. Este poderá desenvolver uma moralidade ridícula e escrupulosa. Os

assuntos tocantes a religião poderão assumir uma superstição mágica que fará

o sujeito a acreditar em ritos inverossímeis.

Um aventureiro. Muitas pessoas, com certeza designariam o tipo

intuição extrovertido assim. Na verdade, Jung (1991) caracteriza este tipo

como aquele que não se encontra onde estão os valores reais, mas sim, onde

se situam as possibilidades. Este tipo de sujeito não se prega há morais

alheias, possui sua própria moral. O autor pontua que este tipo de indivíduo é

bom iniciador. Iniciará qualquer tipo de projeto com magnitude, mas sua falta

de estabilidade muitas vezes não permite que ele goze do que ele mesmo

conquistou. Ver-se-á tentado a partir “para outra”.

Jung (1991, p. 350) fala que: “quanto mais forte a intuição, tanto

mais o sujeito se confunde com a possibilidade vislumbrada.” Isto tende a

perigos. Como foi dito anteriormente sua falta de estabilidade resultará em não

aproveitamento dos próprios frutos colhidos. A vivacidade que o próprio sujeito

semeou não é aproveitada pelo indivíduo, mas pelos demais. Quando a pessoa

chega a esse extremo a compensação do inconsciente pode ser brutal. O autor

pontua que o sujeito poderá vir a desenvolver uma sensação que

possivelmente irá levá-lo a impressões errôneas em relação ao objeto. Com

isso as idéias hipocondríacas podem vir à tona na forma de fobias e sensações

corporais absurdas.

Page 28: PSICOTERAPIA ANALÍTICA_ Conceitos e Técnicas

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