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6 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS – CECEN CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO MARANHÃO RAIMUNDO NONATO PINHEIRO A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO São Luis 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS – CECEN

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DO MARANHÃO

RAIMUNDO NONATO PINHEIRO

A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO

São Luis 2005

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RAIMUNDO NONATO PINHEIRO

A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO

Monografia apresentada ao Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, para obtenção do Grau de Especialista em História do Maranhão. Orientador: Prof. Alan Kardec Pacheco Filho

São Luis 2005

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Pinheiro, Raimundo Nonato. A Coluna Prestes no Maranhão. / Raimundo Nonato Pinheiro. __ São Luís, 2005. 58 fls. Monografia (Especialização em História do Maranhão) – Universidade Estadual do Maranhão, 2005. 1. Monografia – Especialização 2. História do Maranhão I. Título. CDU: 894 (812.1)

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RAIMUNDO NONATO PINHEIRO

A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO

Monografia apresentada ao Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, para obtenção do Grau de Especialista em História do Maranhão.

Aprovado em / /

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

___________________________________________________________

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise sobre a passagem da Coluna Prestes pelo

Maranhão, procurando entender por que foi neste Estado que os revoltosos tiveram seus

melhores momentos no que diz respeito à relação com a sociedade civil. Partindo da

profissionalização do exército, os oficiais de baixa patente conceberam a idéia de que a

instituição seria capaz de substituir as tradicionais oligarquias e os políticos tradicionais,

colocar-se como guardiã da Pátria, com o dever de buscar a moralização dos costumes, o fim

da corrupção e o afastamento das oligarquias do poder. Chocaram-se com o governo federal e

empreenderam uma campanha de propagação do inconformismo em relação à situação

política e social em que vivia o Brasil na década de vinte do século passado. Milhares de

brasileiros deixaram seus lares, suas famílias e percorreram cerca de 25 mil quilômetros a pé

ou a cavalo tentando a consolidação dos seus objetivos. No Maranhão a região visitada pela

Coluna Prestes ficava distante da capital do Estado, a precariedade dos meios de comunicação

e transportes, a ausência do Estado na região denominada de sertão maranhense facilitou a

passagem dos revolucionários.

Palavras-chave: Coluna Prestes. República Oligárquica. Receptividade.

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ABSTRACT

The goal of this work is to accomplish an analysis about for ticket of the column Prestes by

Maranhão's south, seeking to understand why it was in this State that the mutineers had your

best moments in the that tells respect the relation with the civil society. Departing of the

professionalization of the army, the low patent officers conceived the idea that the institution

would be able to substitute the traditional oligarchies and the traditional political, place itself

as guardian of the Homeland with ower it of seeking the moralization of the habits, the end of

the corruption and dismissal of the oligarchies of the power. They shocked with the federal

government and undertook a propagation campaign of unresigned regarding the political and

social situation in which it lived Brazil in decade of twenty last century. Thousands of

Brazilian let their homes, their families and runninged through about 25 thousand kilometers

on foot or for horse, trying the consolidation of their goals. In Maranhão the region visited by

the column Prestes was distant of the capital of the State, the precariousness of the

communication and transport means, the State's Absence in the region denominated of from

Maranhão back country facilitated for ticket of the revolutionaries.

Keywords: Column of Prestes. Republic. Receptivity.

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SUMÁRIO

p .

1 INTRODUÇÃO . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 6

2 O CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO BRASIL

NA TRANSIÇÃO DA MONARQUIA PARA A REPÚBLICA . . . . . . .. . ..

9

2.1 A Guerra do Paraguai . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 9

2.2 O Golpe da República . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 10

3. A FORMAÇÃO DO TENENTISMO . . . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 14

4. O MARANHÃO NA DÉCADA DE 1920 . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . 26

5. A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . 30

5.1 A Coluna Prestes chega ao Maranhão . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . 30

6. CONCLUSÃO . . . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 50

REFERÊNCIAS . . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 52

ANEXO ... . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 54

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1 INTRODUÇÃO

A just ificat iva deste trabalho está re lacionada ao reconhecimento da

historiografia que considera a Co luna Prestes um fato histó rico com grande

receptividade no Estado do Maranhão, Lourenço Moreira Lima, Secretário

Geral da Co luna, em sua obra Marchas e Combates, revela :

O povo maranh ense nos r ecebeu com as mai ores e mais sin ceras

mani festaçõ es de si mpat ia. As cidades e vi las acolheram-n os como

ami gos, confiand o na correção d as nossas t r opas e r e forçand o-as

com a incorporação d e nu merosos voluntári os. (LIMA, 1979 p. 204).

O Brasil viveu na segunda década do século XX um período de

instabilidade po lítica, econômica e socia l, nesse contexto surgiu o movimento

tenent ista que assumiu através dos jo vens militares do exérc ito , na maioria

tenentes, a defesa do papel da inst itu ição como guard iã da República, a única

capaz de garant ir a moralidade dos costumes, o f im da dominação oligárqu ica,

da farsa das eleições, etc.

Buscamos esc larecer as ações dos governos Estadual e Federal,

assim como as causas e os objet ivos que contribuíram para a fo rmação da

mais longa revo lução militar ocorrida na história do Brasil. Ver if icaremos a

inserção da Coluna Prestes, nos aspectos político e social do Brasil na

terce ira década do século XX.

Procuramos mostrar as razões que levaram milhares de b rasile iros a

deixar seus lares e percorrerem cerca de aproximadamente 25.000 Kms. a pé

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ou a cavalo, pelo inter ior do Brasil, pregando a ideologia de que Exército

brasileiro era o guard ião da República.

Analisamos com mais ênfase a trajetória realizada pelos

revo lucionár ios no território maranhense, mostrando ao ind ícios e as causas

que originaram a recep tividade encontrada em todas as c idades e vilas do

Maranhão por onde passou a grande “Marcha Invicta”, comandada pelo

“Cavaleiro da Esperança”, como era chamado seu líder Luís Carlos Prestes.

Entendemos a calo rosa receptividade da Coluna, com o abandono

secu lar com o qual o governo do Estado sempre tratou o sul maranhense.

(ABRANCHES, 1993). Explicando então, os objet ivos da Coluna Prestes

quanto à pretensão de um levante em todo o Estado do Maranhão.

No primeiro capítulo estudamos o contexto político econômico e

social que viveu o Brasil no final do período monárquico e início do período

repub licano.

Buscamos compreender o posicionamento do exército brasileiro

após a Guerra do Paraguai. A postura assumida pela ofic ialidade após a

Proclamação da República.

Em seguida, fazemos uma análise da fo rmação do tenent ismo

buscando os fatores que determinaram o descontentamento dos jovens o fic iais

do exército levando-os a pegarem em armas e invest irem contra o governo

federa l e as oligarquias dominantes.

Analisamos as re lações socia is do Maranhão na década de vinte do

sécu lo passado, as transfo rmações que ocorrem no comando da política loca l

em função, princ ipalmente, do desaparecimento de importantes lideranças.

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Estudamos a passagem da Coluna Prestes por territórios

maranhenses, buscando entender a relação dos revoltosos com as populações

loca is e as ações do poder público em relação a esse fato.

Por último fazemos uma abordagem sobre a b iografia dos líderes

revo lucionár ios, responsáveis pela consecução do mais importante dos

levantes tenent istas ocorridos no Brasil.

A contribuição que pretendemos dar com este trabalho é co locar a

disposição dos estudiosos da História do Maranhão uma pesquisa que insere o

Estado do Maranhão no contexto nac ional desse período tão conturbado que

caracterizou a República Velha no Brasil.

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2.CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL NA TRANSIÇÃO DA

MONARQUIA PARA A REPÚBLICA

2.1 – A Guerra do Paraguai

Os conflitos com os militares, apesar de isoladamente terem pouca

representat ividade po lítica, somados fo ram muito graves para o governo , pois

abalaram definit ivamente a monarqu ia. Podemos afirmar que o Exército

Nacional nasceu após a Guerra do Paraguai, quando adquiriu organização e

profiss ionalismo.

Durante a Guerra do Paraguai as forças terrestres b rasileiras foram

formadas pelo Exército, por batalhões da Guarda Nacional e pelos

“Voluntários da Pátria”, fo rça const itu ída por gente de origem humilde,

recrutada à força e enviada, para os campos de batalha.

O decret o n° 3371 de 7 d e jan ei ro de 1865, inst i tuiu a denominaçã o de “volunt ár i os d a P átr ia”, para ident i fi car aqueles qu e er a m forçad os pela vi olência a se incorporarem n as forças mandadas para a Gu err a do Paraguai (CHIAVENATO, 1983, pg.25) .

Outro recurso utilizado era d istr ibuir aguardente de cana em dias de

festa e encaminhar os embriagados “vo lu ntários” aos quartéis.

No começo o método funcionou, mas depois a população começou a

desconfiar dele. Nas vilas do inter ior, quando se ouvia falar da aproximação

de recrutadores, os moradores fugiam para o mato .

Segu ndo (MOZER 2005, p .123),

Uma das est rat égias d as aut oridades para conseguir “ voluntár i os ” consist ia em atrai r h omens em condições d e combat er para fest as em lu gares públ icos e, em seguida capturá -l os. Assi m agiu, por exempl o, o govern ador paul is ta Tavares Bast os: convidou a popul ação d e São Paulo para ouvir música no Largo d o

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Paláci o e, quand o a praça estava chei a d e gente, mandou os soldados cercarem a mult idão. Em seguid a, en vi ou t odos os homen s capturad os para frent e de bat alha.

A população diz ia, meio a sério, meio em tom de brincadeira, que

“na guerra ou mato ou morro”. Isto é, para fugir da guerra, as opções eram

esconder-se no mato ou no morro.

Senhores de escravos cederam cat i vos para lutar como sold ados. Uma lei de 1866 concedeu l i berd ad e aos “escravos da nação” qu e servis se, no Exérci to. “Escravos da nação” eram os afr icanos entrad os i legal mente n o país apó s a proi bi ção do t ráfi co d e escravos, e que est avam sob guarda do govern o imperi al . Era-lhes prometida a l iberd ade se sobrevi vessem a uma guerra para a qu al não t inham o men or preparo (MOZER 2005, p.123).

2.2. O Golpe da República

A República no Brasil, não nasceu no dia de sua p roclamação, 15 de

novembro de 1889. Foi um longo processo de amadurecimento das redes

sociais, pelo qual a e lite b rasile ira foi sendo aos poucos p reparada para a

tomada do poder do qual o povo foi alijado como lembrou Arist ides Lobo “o

povo assist iu bestializado”.

O advent o da Repúbl ica no Brasi l ocorr ido em 15 de novembro d e 1889 foi pr eparado l entament e at ravés d as mudanças soci ais e econômicas veri ficadas no país desde 1850: inst alação d e ferrovias, moderni zação no fabrico d o açúcar , pr i meiro surt o industr ial , expansão da ca feicul tura, ad oção de mão-de-obra assal ar iad a, i mi gração européia, formação do mercad o int erno e surgi mento d e novos grupos sociais” (DOM INGUES, 2000, p.166).

Porém essas transformações não se faziam acompanhar de mudanças

no âmbito da política que permanecia centralizada, dissoc iada das asp irações

das classes médias urbanas que já considerava a monarquia u ltrapassada.

Os motivos já consagrados pela historiografia, Questões Socia l,

Religiosa e Militar contr ibuíram ainda mais para a largar o fosso entre os

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setores sócio-econômicos dominantes e o Estado, além de tornarem mais

evidente o desa juste entre as inst itu ições políticas e os novos interesses

emergentes.

O exército sempre esteve divid ido, de certa forma e le reproduziu as

contradições existentes na sociedade. Daí suas manifestações de rebeld ia, sua

adesão às idé ias liberais, sua capacidade de comando, sua aptidão pelo poder.

Através da conjugação de três forças sociais, o Exército, os

cafe icu ltores paulistas e as camadas médias urbanas, fo i que se tornou

possível a República, já que não teve participação popular. .

Entretanto esses grupos possuíam entre s i p ro fundas divergências

polít icas, uma vez deposta a Monarquia, acentuaram-se os conflitos.

A maior parte da população brasileira, entretanto, ficou alheia ao

movimento, que derrubou a monarquia. Não houve resistênc ia à implantação

do novo regime, mas também não teve entusiasmo por ele.

Até as vésperas do 15 de novembro, havia apenas d iscussões em

torno da República, mas não passavam de idéias. Os Part idos Repub licanos

em São Paulo e Rio de Janeiro, alguns clubes repub licanos nas p rovíncias

faziam uma campanha de combate ao trono.

As discussões eram fe itas especia lmente em torno dos fazendeiros

de São Pau lo, Minas Gerais, Rio de Jane iro e alguns setores das camadas

médias urbanas que aspiravam à República e achavam que a mesma podia

resolver os problemas brasileiros.

Com o retorno vitorioso, da Guerra do Paraguai o comando milita r

tomou para si a responsabilidade de mudar a política do país. No entanto o

imperador relegou a inst itu ição e seus líderes a um plano secundário.

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A Escola Militar , fo i cr iada para fo rmar seus líderes, a p regação

teórica era posit ivista. Um de seus principais líderes Benjamin Constant

pregava a idéia que p ro liferou: a “ditadura republicana” implicava a noção de

um Estado forte, centra lizado , com um governo de “sa lvação nac ional” que

defendesse os interesses do povo. Nesta ó tica posit ivista o exército brasile iro

passou a considerar-se a institu ição apta a exercer essa função .

O Posit ivismo tinha uma proposta de inserção dos operários à

sociedade moderna, condenava a monarquia, buscava o progresso e uma

polít ica social de Estado que atendesse a esses objetivos.

As idéias republicanas foram divulgadas no Brasil em diversos

momentos de nossa história polít ica e as ident if icamos em inúmeras revo ltas,

(Inconfidência Mineira, Conju ração Baiana, Revolução Pernambucana), a

partir de 1870 elas ganharam base social mais definida e organizaram-se em

movimento po lítico. Nesse ano, de 1870, foi lançado no Rio de Janeiro o

manifesto repub licano, que pode ser sintet izado na frase “Somos da América e

queremos ser amer icanos”, era o questionamento por que só o Brasil, na

Amér ica do Sul, havia ado tado a Monarquia.

No final da década de 1880, o movimento repub licano havia se

fortalec ido e se ap roximado dos militares insat isfe ito. A monarquia isolada

procura contê-los com medidas duras. As art iculações entre republicanos e

militares to rnaram-se intensas até que em novembro de 1889, Deodoro da

Fonseca, militar conservador, ex-presidente da provínc ia do Rio Grande do

Sul e próximo do imperador, fo i convencido a liderar o movimento contra a

monarquia.

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Embora o Partido Republicano exist isse em diversas provínc ias, não

foi e le quem proclamou a República. Os militares através do Exército foram

os grandes responsáveis pela inst itu ição da Repúb lica no Brasil.

O início da República foi traumát ico. Os governos dos dois

primeiros presidentes (Deodoro e Flo riano) foram marcados pela

instabilidade, o Presidente Deodoro, militar conservador, sem hab ilidade

polít ica chocou-se com o parlamento e acabou renunciando. Foi sucedido pelo

vice-presidente Floriano Peixo to que através de medidas duras enfrentou as

dif icu ldades, superando-as e conso lidando a República.

Após Floriano Peixoto, o representante dos cafeicu ltores paulistas

Prudente de Morais assumiu o poder, dando início à República das

Oligarquias que ser iam conso lidadas por seu sucessor, o presidente Campos

Sales que para tanto fez uso do que ficou conhecido como “po lítica dos

Governadores”.

Este s istema de dominação foi contestado no governo do presidente

Hermes da Fonseca, sua po lítica de salvação foi uma tentat iva de diminuir o

poder político das o ligarquias estaduais, principalmente no nordeste

brasileiro. Hermes da Fonseca tentou a moralização dos costumes po líticos e a

redução das desigualdades sociais. Ironicamente acabou substituindo as

oligarquias ve lhas por seus d iss identes, possibilitando a ascensão de novas

oligarquias.

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3. A FORMAÇÃO DO TENENTISMO

Ao final da segunda década do século XX, o Brasil ainda era um

país essencia lmente rural. Os coronéis cont inuavam tendo muita fo rça e

prestígio, as oligarqu ias de São Pau lo e Minas Gera is controlavam a vida

polít ica nac ional.

Para cont inuarem no poder, os cafeiculto res adotaram a po lítica do

“café-com-leite” e a “política dos governadores”. As e leições eram

fraudulentas, apenas confirmavam os candidatos à presidência ind icados por

Minas Gera is ou São Pau lo. Ao longo da década de vinte do sécu lo XX, a

conjuntura internacional e as questões nacionais propiciaram a cr ise desse

modelo político que veio a cair em 1930, com o movimento liderado por

Getúlio Vargas.

Nos anos vinte, os “donos do poder” tiveram de enfrentar :

- a Reação Republicana de 1921, que obrigou o presidente Artu r

Bernardes a governar em Estado de Sítio.

- o fortalecimento da burguesia industrial paulista, que discordava

do domínio da oligarquia cafe icultora.

- a renovação cu ltu ral a partir da Semana da Arte Moderna, em 1922.

- a organização da classe operária, que fundou o Partido Comunista

Brasile iro.

- a contestação dos jovens tenentes, inic iadas em 1922, com a

Revolta do Forte de Copacabana e cont inuada com a Revo lução Paulista e

com a Coluna Prestes.

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A cr ise econômica provocada pela quebra da bolsa de va lores de

Nova York em 1929 , agravou a economia brasileira. At ingindo a pequena

burguesia urbana.

A difícil s ituação econômica da nascente classe operária brasileira,

já havia provocado seu levante em 1917 e 1918, em São Paulo e Rio de

Janeiro, respect ivamente.

Outro componente d o quadro pol í t ico n o Brasi l , que influi u n a si tuação dos estados, foi a ação dos ten entes , setor es da bai xa ofici al idade mil i tar , que desde o in ício da década de 1920 promo veram levantes local i zad os e defendiam a necessidad e de uma i ntervenção armada para d erru bar os grupos ol igárquico s domin antes no país. (REIS, p.75/76) .

Com a junção da crise eco nômica e o início da campanha eleitoral

para a sucessão do Presidente da Repúb lica Epitácio Pessoa, ocorreu o

su rgimento do movimento Tenent ista.

O Tenentismo fo i um movimento político-militar que objet ivava

realizar mudanças na sociedade brasileira, se possível liquidando o poder das

oligarquias e acabando com a co rrupção eleitoral. Planejava o vo to secreto e

contou com a simpatia dos seto res méd ios da sociedade e da classe operária.

As dispu tas regionais da classe dominante fo i evidenciada na

ele ição presidencia l de 1922, pela p rimeira vez houve uma disputa entre as

oligarquias dos Estados maio res (SP, MG) com os Estados intermediár ios (PE,

BA, RJ, RS), esta e leição foi marcada pela intervenção dos militares.

A indicação da candidatura de Artur Bernardes pelos Estados de

Minas Gerais e São Paulo , em 1921 , sua ident if icação com a polít ica de

Epitác io Pessoa, subordinada aos interesses dos grandes Estados, com suas

práticas auto ritárias e indicação de civis para os ministér ios militares, foi

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marcada pelo descontentamento , princ ipalmente, por parte da o fic ialidade do

exército.

Os setores descontentes com a cand idatura de Artur Bernardes

apo iaram Nilo Peçanha, que p regava a união das oposições contra o governo

central. Recebeu a adesão dos Estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,

Bahia e Pernambuco.

Nas ele ições de 1922, o grupo da reação repub licana, liderado pelo

candidato a presidência da República Nilo Peçanha venceu para o Senado,

com o apoio dos tenentes que se const ituíram no suporte que os oposic ionis tas

precisavam para enfrentar a indicação oficia l à sucessão presidencial.

Os militares tentaram junto aos oposic ionistas a viabilização da

candidatura do marechal Hermes da Fonseca, diante da impossib ilidade, a

maioria acabou apo iando a chapa Nilo Peçanha e J .J.Seabra, que procurava

ident if icar-se com as lutas das forças armadas.

Houve nesta campanha a junção das oligarquias dissidentes com

outros seto res descontentes com a polít ica do café-com-leite, rea lizando um

grande movimento que buscava a partic ipação popular, em grandes comícios e

manifestações com a partic ipação inclusive de militares.

A campanha da Reação Repub licana fo i em busca do voto urbano,

percorrendo todas as cap itais e criando comitês.

O movi ment o d o tenent i smo nun ca chegou a estabelecer u m programa e sempre t eve d i fi cu ldade para uni formizar a ação, por i númeras d esavenças in ternas. Agi tava m bandeir as gerais contra os d i r igent es pol í t icos, a exploração est r an geir a, o pr ed omíni o d o l at i fúndi o e as crescentes d i fi cu ldad es de vida das massas urbanas. Na verdad e, os ten entes d isputavam com as dis sidências ol igárqui cas a canal ização da insat is fação popul ar , podendo aponta r como princi pais di fer enças entre ambos a su a defesa expl íci ta d a i ntervenção armad a como forma de alcançar o pod er e a centr al ização pol í t ica como modelo de organi zação do Est ado. . . . ( Id . , p.76) .

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Nesta campanha eleitoral houve o ep isódio das cartas o fensivas às

forças armadas atr ibuídas ao cand idato o fic ial, Artur Bernardes, bem como a

reação dos militares conforme publicado no jornal Correio da Manhã do Rio

de Janeiro no dia 9 de outubro de 1921 e citado em FORJAZ(1977, p.40/41).

“Bel o Horizont e 3-6-1921

Ami go Raul Soares Est ou informado do r idí cul o e acin t oso banquete dado pel o Hermes, esse sargent ão sem compostura, aos seus apanigu ados, e tud o qu e nessa orgi a se passou. ( . . . ) esse canalha precisa de u ma r epri mend a para entrar na discipl ina. Veja se o Epi táci o mostra agora a su a apregoada en ergia, punindo severamente esses ousados, prendend o os que saí r am da di sci pl i na e r emovendo para bem l onge esses generais anarquizad ores. Se o Epi táci o com medo n ão atender , use de d ipl omacia que depois d o meu reconheci mento ajustar emos a s contas. A si tuação n ão ad mite cont empori zaçõ es, os que forem venai s, qu e é quase a t otal id ade, cu mpre-os com tod os os seus bordados e galões. Abraços do Artur Bernardes”.

O clube militar se pronunciou , declarando que não daria apoio ao

Sr. Artu r Bernardes, caso vencesse a e leição, conforme o texto abaixo, (Id.

1977, p.41).

O Cl ube Mil i tar, órgão das classes armadas, julga de seu dever qu e o públ ico con cei t o emit ido pel o Sr . Artur Bernardes, na su a carta d e 3 de junho úl t imo, col ocou o Exérci t o na con t ingência d e reagi r i mediat amente. P orque, ou S.Exª. tem razão em n os qual i ficar d e canalha ven al , ou inut i l mente u l t raj ou o E xérci to. Na pri meir a h ipótese, o Exérci t o deve ser di ssol vido, pois a defesa d a Nação não pode ser confiada a canalhas; na segunda S. EXª. Criou absurd a i ncompat i bi l idad e entr e a su a pessoa e o Exérci t o. Exi ste, pois, u m di lema como solução: ou a n ossa dis solução, ou o Exérci t o nã o acei t a que V.Exª. Sej a o pr esident e d a Repúbl ica. [ . . . ] E é com t ai s fund ament os qu e o Exérci t o i mpl ora à Nação a eleição d e qualqu er outro brasi lei ro para pr esi dente da Repú bl ica, pois n ão assegura a o Sr . Artur Bernardes o exercíci o desse cargo.

No início da década de 20 do sécu lo passado, a s ituação socia l e

polít ica do Brasil mostrava-se bastante conturbada, inc lusive com o

envolvimento dos militares em assuntos políticos. Possivelmente temendo

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outro Golpe, o Governo de Artur Bernardes estabeleceu o Estado de Sítio

quase permanente e a vio lenta repressão praticada contra todo tipo de

oposição ao governo, Mesmo assim, essa década fo i marcada por muitos

pronunciamentos e levantes militares, que mais tarde passou à História sob a

denominação de tenentismo, uma vez que os seus participantes eram, em sua

maioria, tenentes ou cap itães do exérc ito.

O Brasi l vi vi a u ma grave cr ise n ão só econômi ca, como també m social , pol í t ica, ideoló gica e cul tural , que col ocava em xeque tod o o arcabouço pol í t ico da Repúbl i ca Velha. O sis tema de dominaçã o ol igárqui co, implantad o com o ad vent o da Repúbl i ca Velha, começava a d esmoronar . Durante os anos 20 , a si tuação pol í t ica d o país i r ia agravar -se, passando por vári as etapas de um processo d e crescente aguçament o das contr adiçõ es sociai s e pol í t i cas, qu e t erminari a por levar ao colapso final d as inst i tuições ol igárquicas, quando da cr ise mundial de 1929 -1930 ”. (PRESTES, 1991, p.64) .

O ano de 1922 é s ignificativo marco de uma série de transformações

que ocorreram no Brasil a partir daquela época, destacando-se a fundação do

Partido Comunista do Brasil (PCB), a Semana da Arte Moderna e a eclosão

dos primeiros levantes tenentistas no Rio de Jane iro .

O reconheci ment o ofici al da vi tór ia de Art ur Bernardes e o mani fest o l ançad o por Ni lo Peçanha e J . J .Seabra, declar and o qu e não acei tavam essa decisão do Senado, ficava claro que o País se aproximava da Revolução. (Id., 1994, p.80/81).

A intervenção federa l em Pernambuco decretada pelo Presidente

Epitác io Pessoa, em decorrência da disputa entre grupos oligárquicos e

militares pelo poder, impuls ionou o movimento levando militares

pernambucanos a buscarem o apoio do Presidente do Clube Militar , o ex-

presidente da república Hermes da Fonseca.

A crise pernambucana foi o início de um movimento que já se

configurava durante a campanha para presidente e vice-p residente da

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repúb lica, cuja chapa da Reação Repub licana era formada por Nilo Peçanha e

J.J .Seabra, respectivamente.

Ainda qu e os con fl i t os ocorr id os em Pernambu co t i vessem sid o a causa diret a da revol t a de 5 de j ulho, o movi mento revolu ci onári o possuía razõ es mais profundas: an tes de tudo, o descont entament o general izado com a si tuação d e cr ise vi vido pelo País, at ingind o ampl os set ores das populações urban as e, inclusive os mil i tar es . Os “ tenent es” e seus al iad os ci vis levantar am-se pel a “ moral ização dos costu mes pol í t icos” part icu larment e contra a fr aude el ei tor al , qu e l evara à derrota d a Reação Republ icana, protest avam também contr a a nomeação de ci vi s para as pastas mil i tar es, contra o fat o de ter e m sido agravad os no sua “honra mil i tar” pelo candidato ofici al e, e m úl t ima inst ânci a contr a a pr isão e o fech ament o do Clube Mil i tar . ( Id . , 1994, p.82) .

O estopim do movimento tenent ista no Brasil foi o levante de 5 de

julho de 1922, no Forte de Copacabana, os cadetes rebe laram-se contra a

disciplina da esco la militar , o choque com as tropas resultou em mortos e

fer idos.

Liderados por Antonio Siqueira Campos, 18 tenentes enfrentaram,

os quatro mil homens do Exército, o acontecimento teve grande repercussão

em todo o país.

O sent imento de solidar iedade fez com que alguns o fic iais

organizassem outra conspiração, o que ocorreu dois anos depois em São

Pau lo . Nessa ocasião várias guarnições rebelaram-se, devido à perturbação

momentânea, as forças que dever iam marchar imediatamente sobre o Rio de

Janeiro não tiveram tempo de fazê-lo e fo ram sit iadas pelas forças legalistas.

As tensões f icaram acirradas e o presidente Artu r Bernardes

determinou um bombardeio aéreo na cidade de São Paulo com várias vít imas,

os revoltosos liderados por Is idoro Dias Lopes propuseram a rendição junto

ao governo estadual, desejavam a substituição do presidente Artur Bernardes

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por um governo provisó rio, comprometido com reformas tais como: voto

secreto , refo rmas no sistema tributário, etc.

Em outra mensagem, propunham a rend ição dos revolucio nár ios em

troca de uma anistia gera l, nenhuma proposta foi ace ita pelo governo.

Os rebeldes resist iram ao cerco das forças do governo durante vinte

dias, sem, contudo buscar o apoio civil, aconse lhavam a população a ret irar-

se da cidade, Fugindo ao cerco, os revoltosos paulistas deixaram a cidade e

refugiaram-se em terr itó rio paranaense.

O movimento tenentista no Rio Grande do Sul fo i impulsionado pela

Revolução Paulista a partir de 5 de ju lho de 1924, comandada pelo Genera l

Isidoro Dias Lopes.

Para dar apoio ao movimento pau lista, diverso guarnições do Rio

Grande do Sul rebelaram-se, o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo,

levantado pelo capitão Luís Car los Prestes e pelo tenente Mário Portela

Fagundes; o Terceiro Regimento de Cavalaria, em São Lu ís, RS e o Segundo

Regimento de Cavalar ia de São Borja, houve levantes ainda nas cidades de

Uruguaiana, Alegrete e Cachoeira. Apesar da eficiente ação do governo, Luís

Car los Prestes consegu iu retirar-se de Santo Ângelo e insta lar o seu Quartel

Genera l na c idade gaúcha de São Luís, aí permanecendo por dois meses

enquanto aguardava munições de Iguaçu no Paraná.

Certo de que não receberia nenhum reforço , visto que as tropas

pau listas não dispunham de condições para ta l, e percebendo o plano de

governo de cercá-los, resolveram os revoltosos gaúchos seguir ao encontro

das tropas paulistas o que ocorreu no dia 1° de abril de 1925, nascia a Co luna

Prestes, da junção das tropas paulista e gaúcha. Os paulistas vinham de mais

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um revés, a chamada “Queda de Catanduva”, onde foram duramente atacados

e t iveram que render-se às fo rças do governo federal, o ambiente era de

desânimo e derro ta, muitos já pensavam no exí lio, porém o o timismo dos

gaúchos em especial do seu líder Lu ís Carlos Prestes, conseguiu reverter o

quadro.

Evidenciavam-se as divergências entre os revoltosos gaúchos e

pau listas, as opiniões conflitavam, os gaúchos incent ivados por vitórias, po r

já terem vencido inúmeros obstácu los, inclusive o de se juntar aos paulistas,

enquanto boa parte dos militares paulistas já pensava em sa ir do Brasil e

aguardar uma nova oportunidade para lutar contra o governo do Presidente

Artur Bernardes.

Após o encontro das forças pau lista e gaúcha o comando tratou de

reorganização das tropas com o objetivo de manter o movimento e tentar

levantar todo o Brasil contra o Presidente Artu r Bernardes, através da defesa

de alguns pontos como: respeito à Const itu ição de 1891, voto secreto, fim da

far sa das ele ições, ensino primár io gratuito, lu ta contras as oligarquias que

exp loravam o povo, etc.

Reunido às tropas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, Prestes

propõe que atravessem a fronteira e percorram um pequeno trecho do

território paraguaio para invadir o Mato Grosso, teve início uma longa marcha

militar .

O general Rondon foi designado para combater a coluna. As forças

lega listas consegu iram isolar o posto avançado rebelde, mas não o detiveram.

A partir do Estado do Mato Grosso foram vis itados os Estados de

Goiás, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,

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Pernambuco, Alagoas, Bahia, Piauí, Tocant ins, Goiás, Mato Grosso e em

seguida invadiram a Bolívia, foram 647 dias de Marcha da Coluna Prestes,

percorrendo mais de 20 mil quilômetros.

FIGURA 1 – MAPA COM O ITINERÁRIO DA COLUNA DE PRESTES

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Pod e-se dist inguir t rês etapas n o processo d e formação da Colun a Prest es: 1. a const i tu ição da Coluna Paul ist a com a ret i rada de Sã o Paul o; 2. a formação de duas di visões revolu ci onárias na medida e m que es sa Coluna se en gajou à revolução gaú cha, porém aind a se mant i veram por um perí odo de al guns meses (de outu bro de 1924 a abri l de 1925) lutand o separadas; 3 . final mente o encontro das for ças deri vadas da r evolução de S ão P aulo àquelas deri vadas d a revolu ção do sul , const i t uindo a Coluna Prest es (FORJAZ, 1977, p.96)

Em meados de abril de 1925, o alto comando revoluc ionário

reuniu -se em Foz do Iguaçu e decidiu entre outras coisas: prossegu ir a luta,

unir as forças revo lucionár ias numa só, cu jo comando geral ficaria com

Miguel Costa, Luís Car los Prestes e Juarez Távora, e a inda que o marechal

Isidoro Dias Lopes manter ia o comando supremo da revolução. Este partiu

para Argent ina, a legando idade avançada e, que estavam definitivamente

encerradas as tentat ivas de acordo para a deposição das armas.

Para compreender a origem da Coluna Preste é necessário recorrer à

fase de conso lidação do regime republicano no Brasil. O período que

antecedeu à Primeira Guerra Mundia l (1914 – 1918) coincide com o que a

historiografia co nvencionou denominar de República Velha. Na base da

economia destacavam-se os gêneros de exportação como o café e o cacau,

além da p rodução de borracha, proporcionando um relat ivo equilíbrio à

estrutura po lít ica.

A Primeira Guerra Mundial a lterou o comércio internacional, A s

indústrias dos países em guerra passaram a produzir quase que

exc lusivamente mater ia is bélicos, necessitando importar alguns produ tos

básicos.

O Brasil até 1914 exportava produtos agrícolas, além de matérias-

primas, e importava produtos industrializados, viu-se beneficiado, porque

teve de expandir sua indústria e produzir para o mercado interno.

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Nesse contexto, São Paulo tornou-se o centro industrial por

excelência. O fato r que mais contr ibuiu para que São Paulo se industrializasse

foi a existência de capita is originários da cafeicu ltura.

A descentralização republicana imposta pe los interesses e

necessidades dos grandes Estados, São Paulo e Minas Gera is, sufocados pela

herança centra lizadora monárquica, se resolveu com a chamada “polít ica dos

governadores,” que apesar dos vícios profundos, deu estabilidade ao poder

central e assegurara as s ituações estaduais contra a desordem permanente e a

insegurança.

O Brasil sentiu os efeitos da guerra, não resis t iu à desorganização

do mercado exterior, ao desequilíbrio das finanças públicas pela redução dos

ingressos alfandegár ios, ressurgindo o procedimento de emissão de moedas

inconversíveis, com seus efe itos negat ivos: a desvalorização monetária e a

inflação ga lopante.

Paralelo à crise do café e da borracha, surgiram novas forças

econômicas. Tendo que satisfazer suas próprias necessidades, uma vez que o

conflito europeu d ificu ltara consideravelmente o abastecimento exter ior, o

país desenvolve novas fontes produtivas, não apenas as c lássicas do passado,

e vo ltadas inteiramente para a exportação, é o caso da indústria

manufatureira, que adquire então um impulso relat ivamente considerável.

Todos esses fatores, negativos e positivos, com suas amplas

repercussões e conseqüências de ordem social determinaram no pós-guerra

uma situação nova que se reflet iu intensamente na vida política brasileira. O

ant igo equilíbrio, obtido nos primeiros anos do sécu lo XX e conservado até

então, va i se desfazer.

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O sistema deixou de funcionar normalmente e apareceram as

primeiras grandes dificu ldades. Como conseqüência, a “República Velha”

mal d isfarçada nas d itaduras que foram os governos de Epitácio Pessoa e

Artur Bernardes. Esses governos ditato ria is a limentavam a esperança dos

revo ltosos:

O tenent ismo mant eve-se fi el à defesa da ordem e das inst i tu ições. Nu m d os mani festos dos rebeldes d e São Paul o, d izi a-se que “ a clas se mil i tar não podia fi car alhei a à vida d a Nação, à sua orde m i nterna e prest ígi o ext erno”; e no manifesto revolu ci onári o d ist r ibuído durante o levante de São Borja (RS) a fi rmava-s e en fat icament e que “ a revolução não quis e não quer subverter as Inst i tuiçõ es, mas si m, si mpl i ficá -las, unifi cá-l as e moral izá-las”. (PRESTES, 1991, p.96/97) .

O ideário tenent ista pelo menos enquanto d ispu tava o poder, tinha

um caráter da liberalidade política voltado contra o particularismo das

oligarquias loca is.

O movimento dos tenentes d iferenc iava-se das oligarquias

dissidentes que faziam oposição ao go verno central, sua postura

revo lucionár ia lançou mãos às armas para alcançar dos seus objetivos.

Os embates com as tropas legalistas não eram favoráveis aos

revo lucionár ios, fugindo desses confrontos os rebeldes mudaram a rota

previamente estabelecida que era de dirigirem-se à cap ita l do Brasil e atacar a

sede do governo federal. Ingressaram no Nordeste através do Estado do

Maranhão , nessa região esperavam encontrar vo luntár ios para formar essa

força, além de continuar a pregação da insat isfação contra o governo do

Presidente Artur Bernardes.

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4. O MARANHÃO NA DÉCADA DE 1920

No início da década de 20 do século passado o Maranhão era um

Estado considerado de porte médio em comparação com os outros membros da

federação, (FERNANDES, 2003, p.122):

Pelas estat íst icas de 1920, somos o 11° Estado em popul ação, com o 8° lugar em nú mero de prédi os domi ci l iar es. Os nossos d epósi t os bancári os e na Cai xa Econô mica, em 14° e 11° lugares, respect i vamente. Na produ ção agrícol a somos o 14° , na flor est al o 13° , na ani mal o 11°, ocupando o 5° n a produção de arroz, o 7° n o algod ão, o 12° na mandioca, o 10° no coco de toda espécie.

Essa década representa para o Maranhão em termos políticos um

período de profunda transfo rmação no que diz respe ito ao comando do Estado,

neste período faleceu importantes personagens que tinham grande influência

na condução da po lítica local, destacando-se Urbano Santos, ex-presidente do

Estado, ex-vice-presidente da República, Lu iz Domingues, ex-presidente do

Estado, e outros políticos importantes detentores de mandatos eletivos como

José Eusébio e Costa Rodrigues.

O senador Godofredo Viana por indicação de Urbanos Santos fo i

ele ito para o go verno do Estado, em 1922, cu jo mandato foi de 1923 a 1926,

pelo Partido Republicano.

O governo do presidente do Estado do Maranhão Godofredo Viana

foi marcado por alguns ep isód ios como a interd ição da estrada de ferro São

Luís-Teresina, a perda da safra em função de inundação de vár ios r ios,

causando uma queda da receita tr ibutária do Estado .

Os acontecimentos acima, acrescidos da invasão pela Co luna

Prestes, foram usados para justif icar empréstimos co ntraídos pelo Estado,

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essa cr ise econômica, junto á cr ise política contribu iu para aumentar a

oposição ao governo, liderada pelo jorna lista Tarquínio Lopes Filho e também

pela dissidência do Partido Republicano a partir da expulsão do Depu tado

Marce lino Machado.

Quanto ao sertão maranhense era completamente esquecido pelo

governo sem receber nenhum beneficiamento por parte do Estado.

A perda de importantes lideranças a partir de 1922 representou a

possib ilidade de rup tura dentro da oligarquia que dominava o Maranhão,

advindas das pressões pela ocupação de maior espaço político, destacando-se

deputado federal Marce lino Machado, o senador Magalhães de Almeida e o

ex-governador Herculano Parga. (REIS, 1992 ,p.), assim se expressa : “O

falec imento de Urbano Santos, em 1922, significou a liberação da vá lvula que

mant inha represadas as insat isfações”.

No Estado do Maranhão a campanha da “Reação Republicana” fo i

liderada pelo ex-governador Herculano Parga, que defendia entusiast icamente

como já fo i d ito , as cand idaturas de Nilo Peçanha e J J Seabra.

Formaram-se grupos intra-oligárquicos que disputavam a

supremacia da po lít ica estadual, ident ificavam-se como grupo “marcelenis ta”,

grupo “magalhãesista”, grupo “parguista”, além do próprio presidente do

Estado Dr. Godofredo Viana e do deputado federal Francisco da Cunha

Machado, ant igo aliado do ex-p residente do Estado Benedito Leite, que

também asp iravam essa posição de comando das forças político -partidário no

Estado.

Diante da ruptura e criação de dissidência dentro do Partido

Repub licano, o presidente do Estado do Maranhão Dr. Godofredo Viana optou

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por juntar-se à ala liderada pelos senadores Magalhães de Almeida, Cunha

Machado e Costa Rodrigues.

O posic ionamento do chefe do execu tivo estadual levou ao

alijamento do deputado federal Marce lino Machado do Partido Republicano,

fato este atr ibuído à ação discip linadora do presidente do Estado Dr.

Godofredo Viana, que contou com a so lidariedade de representantes do

Partido Republicano em d iversos municípios do Estado.

O jornal “O Dia” na sua ed ição de 17.02.1925,p.1, divu lgou: “O

Partido Republicano acaba de alijar de seu seio o deputado Marcelino

Machado, com a aprovação da bancada maranhense e solidar iedade de todos

os deputados do Congresso Nacional”.

A imprensa maranhense publicou essas demonstrações de apoio

recebidas pelo presidente do Estado, como prova da liderança do mesmo no

poder executivo estadual. Em sua edição do dia 19.02.1925,p .1, o jornal “O

Dia”, publicou: “As demonstrações de solidariedade que o Dr. Godofredo

Viana tem receb ido de congressistas e chefes po líticos das d iversas

loca lidades do inter ior do Estado, são uma prova eloqüente da simpat ia com

que fo i acolhido o seu gesto discip linador no se io do Partido Republicano”.

Políticos do interior se manifestavam a través de telegramas que

chegavam endereçados ao presidente do Estado .

Da cidade de Pastos Bons fo i enviado no dia 16 .02.1925 e publicado

no jorna l “O Dia” na sua edição de 20.02.1925, p .1.

Nós abai xo assi nados, pre fei t o, su b-prefei t o, veread ores câmara, respect i vamente, tendo conh eci ment o do rompi ment o Marcel in o Machad o, vi mos hi potecar -vos cont inuação n ossa intei r a sol idariedade. Saudaçõ es – Vi ctori o Pereira da Cost a, Eurico Roch a Sant os, Sancho Fernandes Si l va, Bernardin o B an deira Barros, Pedr o Si l va Coel ho, Deocl ídes Sousa Lopes, Péricl es Castel l o Bran co.

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Da c idade de Balsas o líder polít ico local, enviou um telegrama no

dia 21 .02.1925, pub licado na imprensa de São Luís, no dia 28.02.1925,p.1, o

jornal “O Dia”, publicou:

Ausente, somente agora r ecebi o t elegrama da comissão execut i va sobre at i tude do deput ad o Rodri gues Machad o. Como verbal ment e t ive o prazer d e d i zer a V.Exa. pode sempre inscrever o meu nome entre os seus corr el igi on ários, os mais leais e dedicad os, bem como entre os seus ami gos afeiçoados e grat os. Saudações – Thu cydi des Barbosa.

Diante das manifestações de apoio procedentes do interior do

Estado, em especia l de cidades visitadas pela Coluna Prestes, ver if icou-se a

fragilidade dos Partidos Políticos, no Maranhão os revolucionár ios se a liaram

ao Partido Repub licano, que tinha a liderança do Presidente do Estado

Godofredo Viana, receberam o acolhimento de políticos da região que tudo

fizeram para que não houvesse nenhum transtorno quando da passagem dos

revo lucionár ios em suas cidades, os mesmos que ju ram fide lidade e

hipotecavam so lidariedade aos atos do líder Godofredo Viana, como

demonstrado anter iormente através de telegramas que vinham das mais

diferentes cidades do interio r.

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5. A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO

5.1 A COLUNA PRESTES CHEGA AO MARANHÃO

Analisamos neste capítulo a trajetória realizada pela Coluna Prestes

no território maranhense, esclarecendo as causas que originaram a

receptividade encontrada em todas as c idades e vilas do Maranhão por onde

passou a grande “Marcha Invicta” comandada pelo cavaleiro da esperança,

como era chamado seu líder Luís Carlos Prestes.

Relac ionamos estes fatos com a Segurança Púb lica e com as ações

do governo do Estado em relação ao sul do Maranhão , ver ificando os

objet ivos da Coluna Prestes quanto à pretensão, de um levante em todo o

Estado do Maranhão.

Procedente de Goiás, mais prec isamente da cidade de Porto

Nacional, ho je Estado do Tocant ins, após transpor o r io Manuel Alves

Grande, a Coluna Prestes através do seu Primeiro Destacamento comandado

por Osvaldo Cordeiro de Farias, adentra ao Estado do Maranhão no dia 11 de

novembro de 1925, pela a cidade de Carolina, no dia 15 do mesmo mês, na

época a mais p róspera cidade do sul do Maranhão.

O Maranhão foi o primeiro Estado do Nordeste a ser visitado pela

Coluna Prestes, havia uma expectativa quanto à acolhida dos

“revolucio nár ios” nessa região do Brasil. “Durante todo o percurso da Coluna

os tenentes buscavam o apo io popular. Para isso realizavam comícios e

manifestações públicas em quase todas as povoações cuja popu lação não fugiu

à sua passagem”. (FORJAZ, 1979.p .109).

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No Maranhão essa expectat iva fo i correspondida, o mesmo não

ocorreria nos demais Estados da região, com exceção do Piauí, pois havia

sempre a fuga ou a hostilidade contra os revo ltosos, quanto a esse

comportamento houve entre os “revo lucionários” diferentes olhares a respeito

da partic ipação popular, alguns frustrados quanto ao não recebimento desse

apo io passaram também a demonstrar uma aversão ao povo do inter ior do

Nordeste class if icando-o como semibárbaro, sem patriot ismo, sem coragem

de lu tar pelos seus direitos, acomodados, acostumados à submissão.

Nos demais Est ados d o Nord est e, ou as populações fu giam para os mat os, ou se col ocavam ao lad o do govern o, at raíd os pela vast a derrama de dinheiro que Bernardes al i mandara fazer , por i ntermédi o dos seus apani guados. Foi r idículo o nú mero d e voluntár i os que se nos apresent ar am. Esse afastament o foi a resul tan t e lógica da profunda e inomináve l i gn orânci a d os nossos ser tanej os, que são in tei ramente dest i tuídos d e patr iot ismo.

No Brasi l atu al , al iás, não h á verd ad eiro sent i ment o cí vi co, ne m mesmo nas gr andes cidades do l i toral . E, no in terior , o povo é semi bárbaro, não t endo noção ní t ida d a Pátr ia. Ai nda está domin ad o pelo sent i ment o da escr avidão e vi ve aterrorizad o d i ante do senh or, que se lhe apresent a sob a forma d a Just iça, que lhe t oma os bens e o met e n as cadeias . Não possu em a men or noção da su a personal idad e e d os d irei t os inerent es ao homem l i vre. É uma massa amor fa que não tem idéia de l iberdade, um verdadeiro rebanho d e brut os, vi vendo uma vid a puramente vegetat i va. (LIMA, 1979,p .181/182).

O líder Luis Car los Prestes, mais tarde em entrevista a Anita

Leocádio Prestes, d izia compreender a atitude dos sertanejos, e se expressa

assim:

A ad esão foi mui to pequena. Havi a muita simpat ia; o ser tanej o compreendia qu e, contra nós, lut avam todos os seus ini mi gos, qu e eram o governo federal , o governo est adual , o govern o munici pal e os fazend eiros e ‘coron éis’ . Tod os el es vinham lutando contra nós. Então el es viam que est ávamos lutand o contra os ini mi gos deles, mas, não t inham perspect i vas. Achavam qu e éramos uns l ou cos, un s aventurei ros ( . . . ) , que estávamos sonhand o. Derrotar essa força, para eles, par eci a i mpossí vel , ( . . . ) . Não compreendiam. Então nã o aderi am. Aderi r era mui t o di fíci l . Aderi am jovens, cr ianças de dez, 12 anos, 14 anos. . . 15 anos, jovens que qu eriam fu gi r de casa ( . . . ).

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(Os ser t anej os). . . nos ajudavam na medida de não se compromet er . (PRESTES, 1991.p.231).

O povo carolinense já aguardava os revoltosos, como eram

chamados, haviam mandado um barco tr ipu lado por pessoas hab ilitadas para

facilitar a travessia do rio, conforme rela tado na correspondência enviada ao

comando gera l das forças “revolucionárias” em 08 de novembro, por membros

do Partido Repub licano Maranhense, residentes em Carolina, transcr ita

abaixo:

Ao Comando Geral das Forças Revolucionári as. Os membros do Part ido Republ i cano Maranhense, representado s pelos si gnat ár ios da presente missiva, sabend o aproxi mar -se d a heróica terr a d e El ias Barros forças d o Exérci t o Li bertad or , d i r igem-se ao Comand o Geral das mesmas, saudand o-os em n ome do povo desta cidade qu e, de coração genuflexo, agu arda a vind a dos bravos defensores d a Repúbl ica sã e moral izada. Apesar dos boat os alarmant es espalhados, aguarda-as a boa terr a carol inense, na mai ori a da sua população l i vre, de br aços abert os sem nenhuma tentat i va de resistên cia , confiant e e esperan çosa n a própria r eden ção, da Pátr ia Brasi lei ra. A d isposi ção das t r opas r evoluci on árias, par a faci l i tar a passage m pelo r i o Manuel Al ves, segue u m barco t r i pulado por pessoas adestradas nesse servi ço. Aprove i tando a oportunidade apresentamos, em nome d os nossos ami gos, prot est os de r espei to e si mpat ia aos val entes defen sore s dos post ergados direi tos do povo brasi l ei ro. Carol ina, 8 de novembro de1925. Diógenes Gonçal ves, Sandoval Ayres Maranh ão, Benj ami n Carvalh o. (FORJAZ, 1977. p.101).

Segu ndo Anita PRESTES, o comandante, teria se re fer ido à entrada

Coluna no Maranhão dessa forma:

Ao ch egar n o Maranh ão , fomos r ecebid os como h eróis. Por que?. Por ter vind o do Ri o Grande e ch egar até o Maranhão. . . Era u m grande fei to. O povo t odo era si mpat izante, porque havi a n o Maranhão uma grande oposi ção ao governo. O povo nos recebeu com si mpat ia, com grand e si mpat i a, mai or do que em Goi ás, e m Mat o Grosso. Gozamos dessa si mpat ia no Maranhão e depoi s n o Piauí também. A sensação d e vi tór ia qu e o povo t inha – pensava m que í amos ganhar , í amos domin ar – era de tal natureza, que vinha m nos pedir emprego. Queriam emprego públ ico e vinham pedir à d i reção da Coluna. (PRESTES, 1991,p.225).

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A cidade de Carolina era denominada de “Princesa do Tocant ins”,

uma das c idades mais importantes do su l do Maranhão, possu ía um ginásio,

uma biblio teca, uma o rquestra f ilarmônica, um convento, igreja cató lica e

protestante, um Centro Esp írita e dois jorna is.

Os maranhenses, ao longo da sua história já haviam demonstrado

disposição para luta, vejamos como se expressa sobre o tema MACAULAY,

1977, p.167/168, em sua obra A Coluna Prestes.

Os maranh enses eram rebeld es h istór icos. Tinham-se en gaj ad o e m revol t as longas e sangrentas contra o r egi me col onial h ol andês, contra os portugu eses e contra o i mpério. Desde a procl amação da Republ ica, no ent anto, só havi am bri gad o entre si . Cont udo, os ch efes da Coluna Prestes pr evi am u ma bo a oportunidad e de r eacender a t radi cion al i ra maranhense contra o poder cent ral , no lon gínqu o Rio de Janeiro. O govern o em S ão Luí s er a um fi rme al iado do president e Bernard es, mas t inha ini mi gos poderosos n o se r tão, os quai s pareciam não ter escrú pul os em juntar -se à Coluna num movi ment o armado contr a o regi me federal e contr a a ol i garquia estadual . Além dis so, o Maranhão er a um Est ado l i tor âneo, o portão d o popul oso nordest e; seu control e represent ar ia mui to mais para a revolu ção que o domíni o dos espaços vazi os d os Estados do Mat o Grosso e de Goi ás, a cent enas de qui lômetros de quaisqu er i mport ant es centros popul aci on ais ou de poder .

As dificu ldades naturais e as diversas tropas que se fo rmou contra a

Coluna, a forte propaganda fe ita pelo governo e pelos co ronéis, obteve grande

efeito princ ipalmente na popu lação interiorana, formada por um grande

número de ana lfabetos, que acreditavam ser a Coluna um grande agrupamento

de band idos e assassinos.

Apesar das ações do governo federal no sent ido de divulgar uma

imagem que os caracter izava como saqueadores, malfe ito res, estrupadores,

foras da le i, e tc. , conseguiram a s impat ia da grande maioria das populações

das cidades e vilas do Maranhão por onde passaram.

Além de manifestações de júbilo, comícios e discursos, a Coluna obteve no

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Maranhão um apoio ainda mais efetivo: incorporaram-se a ela 250 homens arregimentados por dois fazendeiros, Manoel Bernardino, o Lenine da Mata, e Euclides Neiva. (FORJAZ, 1977, p.101).

Esta aco lhida deveu-se a vários fatores, destacando-se o serviço

“dip lomático” estabelecido entre a Coluna e os principais líderes

oposicionistas da cidade de Carolina, isto fica evidenciado na “circular

enviada de Porto Nacional no dia 22 de outubro de 1925”, transcr ita abaixo,

da situação de pobreza e submissão que vivia os sertanejos, da ausência do

poder público, da precariedade dos meios de transporte e comunicação.

CIRCULAR AOS HOMENS DE RESPONSABILIDADE DA CIDADE DE CAROLINA. Exmos. Srs. Respei tosos cumpri mentos Os sent i ment os de humanidad e que, apesar d e todos os boat os t endenciosos, n os tem guiados nesta l onga peregrinação d e sacri fíci os, dat am-n os as pr esentes l inhas qu e por vosso intermédi o, d i r igi mos ao povo de Carol ina. Ao contrár i o do qu e se tem levi amente propalado, men os e m prejuízo n osso, do qu e desassossego d o povo, n ão somos u ma h ord a de mal fei tor es, s em escrú pulos e sem ideal . É falso que sejamos saqueadores ou qu e permit amos ou t oler emos, de qualquer forma, desr espei t o ao lar de quem quer que seja. Não queremos combat er ou prejudi car o povo brasi lei ro, por cu j a fel icidade – cert a ou erradament e – mas, de qu alquer forma, com fé e con vicção ju lgamos estar t rabalhando. Pedi mos, port ant o, que aconselheis ao povo permanecer em seu s l ares, aguardand o sem recei os a aproxi mação d os Revolu ci onári os que são t ambém brasi lei ros e possuem sent i ment os de honra qu e os não pod em con fundir com mal fei tor es e band olei ros. Toda a nossa t ropa está organi zada em Destacament os, cuj os comandantes t er ão o máxi mo prazer em atend er qualquer recl amação. Recomend amos também, por vosso intermédi o, ao povo que nã o esconda n as mat as aqui lo que pode estar gu ardado, natural ment e, dentro de casa. Não nos é possí vel garant i r a quem quer qu e seja o d i rei t o d e propriedade sobre obj etos que soldados nossos encontr e m escondidos for a d os seus lares. Ignoramos ainda se, na viagem acident ada que vamos fazend o, t ransi tarmos por es sa cidade. Desejamos, porém, a todo o t ranse, evi tar o êxodo inút i l e afl i t ivo de tant as famíl ias in tei ramente alheias as pai xõ es pol í t icas qu e d i videm, nest a hora, a nossa pát ria e i mpedir que como conseqüên cia inevi t ável d ele se consu mam abusos, al iás, per fei t amente evi t áveis Sem mai s, t ransmit i ao povo dessa cidade a certeza do n oss o respei to e acei tai por isso o protesto do nosso melhor reconheci ment o. Port o Naci onal , 22 de Outubro de 1.925.

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Gen eral Miguel Costa Coronel Luiz Carl os Prest es Coronel Juarez Távora. (LIMA, 1979.p.574).

A imprensa maranhense se manifestou sobre a chegada dos

“revoltosos”, no Estado, transcrevemos abaixo, no tíc ias divu lgadas em alguns

jornais da época.

O jornal “A Folha do Povo” em sua edição de 24/10 /1925, p.1, já

antecipava a notíc ia da aproximação dos “revo lucionár ios” ao Estado do

Maranhão :

OS REVOLTOSOS NO MARANHÃO Pod emos afi rmar aos lei t ores qu e os br avos revoluci onári os em su a marcha gl ori osa at ravés do ser tão do Brasi l depois de ter em tomad o Port o Naci onal em Goiás, marcham sobre Carol ina. Após a t omad a d aquel a cidade os pi oneiros do Direi to, envi aram u m ofici al à cidade d e Carol ina a fi m d e avisa r à população d a aproxi mação do Exérci t o Li bertador e fazer u m apelo aos habi tant es daquel a zon a a fi m de r eceberem as t ropas do coronel Prest es.

As not ícias chegadas adiant am o del í r io da população carol inense”

O Dr. Tarquínio Lopes Filho, p roprietário do Jornal “A Folha do

Povo” era um dos mais exa ltados políticos oposic ionistas da época, co locando

o seu jo rnal a serviço dos revoltosos com art igos de propaganda das causas

revo lucionár ias, como veremos no artigo abaixo, divulgado na sua edição de

26/10 /1925 .

BEMVINDOS SEJAM! Não é somente n os pampas l on gínqu os do Ri o Grande do Sul , e t ã o pouco nas campin as d o Paraná, qu e t remula o pendão glori oso dos pi oneiros da l ibe rdade, mas si m também, nos ser t ões maranhenses. De norte a sul vêm esses bem aventurados brasi lei ros, empol gados na su bl i midad e d os seus ideais, gr andi osos n a lu ta, cont inuand o a árdua mi ssão de defender a Pátr ia est r emecida do jogo da t i rania. Nest e moment o, pisa o terr i tór io maranhense, essa gl ori osa legiã o Macedôni a, em arr an cad as t i tânicas, em invest idas homéri cas, l evando de roldão, aos t r ambolhõ es, esses pr etensos defensores d a Pátri a, que lhes querem i mpercer a marcha t r iunfante!. Nad a lhes det ém o passo – avançam como qu e caval gando novo pegaso da lenda. Dest emid os brasi lei ros, vencei !. É este o gri to qu e sai de t odos os corações maranhen ses ! é est e o desejo ardent e de todos os br asi lei ros ! Ven cei !. Dest emid os brasi lei ros, s ede bem vind os à terras maranhenses!!

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A al ma do povo vi bra nest a exclamação chei a de anseios: - Vinde!. Arrancai o povo da t i rani a Esse mesmo povo que ora sofr e, que ora se espezinh a, te espera, ó Exérci t o val oroso, de braços abert os! Vem!!. . . Levarás em tua bandeira gl oriosa, não a maldição dos fi lh os dest a t erra, que nest e moment o, também, são opri midos, mas si m a benção del es. A tempest ade j á de desencadeou por sobre os t i ranet es da nação, e é pr eciso que ela r ecrudesce, qu e ela cont inue, com mai s i mpetuosidade, ameaçadora e fat al . Jamais se amainará o furação de agora enquant o não arr an cares por compl eto, de uma vez, os det entores pr epotentes do poder . Os hori zontes br asi l ei ros se enegrecem ! Ao l onge aparece qual fant asma gigantesco, qua l t i tam colossal – o Exérci t o Li bertad or, num avan ço i mpetuoso!. Alguns degen erados fi lhos do Maranhão proclamam aos quatr o ventos que são o saque, o rou bo e os cr i mes o principal fi m d esses au gust os guerr ei ros. Fique cert a a população do Maranh ão, que jamais se regist rou t ai s fatos pr at icados pel os Revol tosos. Não!. Saqueadores, cr i min osos e l adrões são os n ossos d ir i gent es, sã o esses corvos e can alh ocrat as que adej am ao lad o de t od os o s governos! Os revol tosos não!. . . Vinde l ibertadores e recebei n est a hora suprema as acl amações d o Povo, e amanha, a glori fi cação da poster idade. Sede bem vindos !.

No d ia 28/10/1925,p.1, o jornal “O Combate, publicava, “ Dias

Sombrios – Bate-nos à porta o espantalho da revolução, trazendo à família

maranhense o sobressalto e a incerteza dos dias futuros”.

O jorna l “O Combate” divulgou na sua edição de 20 /11/1925,p.1:

Dizem os jornai s ofi ci osos que os r evol t osos es tão em Carol ina, e V. Exª. medi t a. . . onde fi car á Carol ina?, como at ingi -la?. Carol ina, o centro mais adi ant ad o do ser tão maranhense, t em vid a própria e tudo deve aos seus ingent es es forços dos seus fi lhos. Sertão Abandonado – A zon a ser t anej a só agora ficará conhecid a pelos nossos dir i gent es. Até o momento o governo atual ainda nã o t ivera um minut o sequer de atenção para os que habi t am àquelas plagas, intei rament e esqu ecido.

Ainda no dia 15 os revolucionários lançaram na cidade de Carolina

o n°. 08 do seu jornal “O Libertador”, com um manifesto ao povo

maranhense, onde expunha a s ituação do país e convoca-o para a luta, de

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forma vibrante, “A t irania política que te oprime, reduzindo as tradições

gloriosas do Maranhão, a um farrapo de despotismo e vilipendio é, ho je, uma

epidemia formidável que assola de norte a su l todos os recantos da Pátr ia

brasileira. . .”.

A Democracia foi su bst i tu ída por u m conlu io reduzido de aut ocratas – duvidosa el i te surgida de u ma sel eção r i gorosament e negat i va.

O vot o ‘e u m farsa e a soberani a das urnas é u ma conven ção facul tat i va e vaga à que se sobrepõ em sempre, as conveniên cias e capri chos dos senhores absolut os dos poderes públ icos.

É inút il , depri mente e vergonhoso, su pl icar , de joelhos aos t i r ano s o favor da l iberdade que os n ossos mai ores souberam conqui star e m prél ios gl ori osos.

Levanta -t e e r eage, se queres ser d ign o d os que l utaram n o passad o e respei tado pel as gerações vindouras.

Maranhenses – vós que sust entais bem al t o o fach o bri lhante d a i ntelectu al idade patr íci a, conquist ando para o vosso berço o t í tu lo de At en as Brasi l ei ras – levanta -te agora, pel a sal vação d a P átr ia e pela r egeneração d a Repú bl i ca, o gládi o vi ngad or dos opri mid os e espol iados.

No dia 19 de novembro, consagrado à Bandeira, houve

comemoração alusiva à data, constando de hasteamento, fo rmatura do

primeiro destacamento para as cont inências e le itura de um boletim do

comandante Oswaldo Cordeiro de Farias , além de discursos de propaganda

revo lucionár ia proferidos por Juarez Távora e Lourenço Moreira Lima, o

primeiro sub-chefe do Estado-Maior e o segundo Secretário Geral da Coluna.

Os revoltosos, por onde passavam, queimavam livros e listas

relat ivos a cobrança de impostos, bem como soltavam presos, MACAULAY,

1977,p.170, relata :

Em Carol ina os r evoluci onários quei maram as rel açõ es dos devedores de i mpost os, n ão para al i vi ar os propri etár i os, ao menos t emporari ament e, de um fard o oneroso, como t ambém para gol pear a base finan ceir a d a ol igarqui a mal ign a d e S ão Luís, a capi tal d o Est ado. Ao mesmo t empo em qu e as l i stas e ram destru ídas, os rebeld es encorajavam os moradores a regist r ar em cartório os reci bos qu e lhes dava m pelos bens r equi si tad os.

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LIMA (1979 .p.207), diz que a população assist ia a essa queima com

a maior alegr ia e que ato contínuo a cadeia foi esvaz iada.

O jornal carolinense “A Mocidade”, de 18 de novembro de 1925,

notic iava a entrada Coluna Prestes na cidade e o Auto de Apreensão dos

talões de impostos estaduais, e municipais, assinado por Juarez Távora e

Lourenço Moreira Lima, que o rdenava:

Quei mar na praça públ ica os refer idos t alões e l i stas de cobranças de i mpost os, o que deverá ser fei to amanhã, ao mei o d ia, em fr ent e ao edi fíci o da In tend ênci a Munici pal desta cid ade, logo depois d e ser hastead o pavi lhão naci on al no di t o edi fíci o, em comemoração a o d ia da bandeira. (PRES TES, 1991.p.228).

Os revo ltosos não encontraram em Carolina a menor res istência, a

cidade não dispunha de força policia l para combatê-los, contrar iando a

mensagem apresentada ao Congresso no dia 05/02 /1926, na qual o Presidente

do Estado Dr. Godofredo Viana re lata que pequenos núcleos policia is foram

em todos os tempos sufic ientes para garantir a ordem pública.

Os que afirmamos ac ima sobre a falta de políc ia para combater os

revo ltosos encontram guar ida, em (COELHO, 1979,p.133).

O capi t ão Cel ino Arraes, comandant e da 12ª. Zona mil i tar , n a i mpossi bi l idade de ofer ecer r esist ênci a, recuara para Riach ão poi s só d ispunha d e oi to h omens e se encontrava sem recursos par a comprar abast eci ment o para os soldados e adquir i r muniçõ es.

Sobre a fragilidade da segurança pública no sul do Maranhão , o

Jo rnal “O Combate” na sua edição de 03/11/1925, p.1 , já not iciava a decisão

do capitão Celino Arraes de deixar a cidade de Carolina:

O capi tão Cel ino e o tenent e Teixeira, que vier am para garant i r a frontei r a Maranhão-Goi ás, ont em à noi te, depois de se embriagare m bastant e, dei xaram Carol ina, levand o oi t o pr aças a coxei arem, assi m como os grandes ci vi s que servi am aqui , tem sido coment ad o esse at o d e bravura dos val orosos ofici ais , al iado n o infortúni o a o Dr. Tei xeir a Mend es, juiz de d irei to inter in o da comarca, que h á

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cinco meses vi ve em Riachão, carpindo fome em companhi a de su a famíl ia d evido a fal ta d e r ecebi ment o d e seu s ven ci mentos, se m poder t ransport ar -se à sede da comarca”.

Em sua marcha os revoltosos t iveram sempre como estratégia evita r

combates desvanta josos, a Coluna levava por onde passava a propaganda dos

princíp ios de respeito à liberdade e da verdade eleitoral.

As fraudes ele itorais eram comuns no Brasil daquele tempo, e

também o protesto contra os descalabros administrat ivos reinante no país.

Sobre a estratégia u tilizada para fugir dos combates com tropas

oficiais, ou outras organizadas por representantes das oligarquias no nordeste,

o jorna l maranhense, “O Combate” em sua edição de 08/12/12/1925,p.1,

pub licou:

A REVOLUÇÃO Enfrent ados qu e sej am pelas for ças que se encaminham para o i nter ior , ao que consta, os revoluci onários mud arão d e rumo, poi s não desej am campanhas d ecisi vas e i rão operar noutr as regiões d e mais di fíci l acesso, estendend o o pânico e promovend o o êxodo das populações, paral isando a l avoura e o comérci o, enfi m, preparando-se época de fome e de miséria, que bem poderão ser evi tad as.

Os revolucionár ios conseguiram contr ibuições, requis itaram além de

gêneros alimentícios, animais e suprimentos, também d inheiro, entre os

comerciantes de Carolina, foram quase 10.000 réis, segundo (MACAULAY,

1977,p.171).

na ocasi ão essas requisições não foram muito sent idas, tal vez por que a popul ação pensasse qu e a Coluna Prestes e a oposiçã o maranhense logo se apod erariam de S ão Luí s, al i instalando u m governo r evolu ci onári o qu e saldaria as d í vi das com fundos d o t esouro est adual .

De Carolina a Co luna segu iu para Riachão a época uma vila, uma

vez que só passar ia a cond ição de municíp io em 1938.

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O coron el Juarez Távora fez -se hóspede do coronel Fel i pe dos Sant os, enqu anto o r est o da t ropa sob o comando dos coronéi s Siqueira Campos, Luis Carl os Prestes, João Alberto e Cordeiro d e Farias, marchava sobre Sant o Ant oni o de Bal sas, que com t od a t ranqüi l idade recebia os vi si tantes.

Ficaram ainda as General as, Mi guel Cost a e gr andes parte dos soldados em Carol ina qu e se i r iam desl ocar d i retamente para Balsa s partes dos soldad os em Carol ina que se i r iam d esl ocar d i ret ament e para Balsas. (COELHO.1979,p.133).

A cidade de Balsas foi invadida em 28/11/1925 sem oferecer

nenhuma resistência pelo terceiro destacamento comandado pelo Tenente

Coronel Siqueira Campos e, no dia segu inte, chegou o quarto destacamento,

acompanhado do Estado-Maior onde estabeleceu o seu Quartel General, em

ligação com os demais destacamentos espa lhados por diversas partes do

território maranhense.

Era pre fei to da cidad e o coronel Thucydides Barbosa e tudo fe z para atender aos ocupant es a fi m de evi t ar ch oques e aborreci ment os com o comando r evoluci on ário sob a chefi a d o coronel Siqueira Campos, agora Go vernad or da cidade conqui st ad a. (COELHO, 1979.p.133).

Dando continu idade à marcha a Coluna passou por São Raimundo

das Mangabeiras, s ituada à margem esquerda do rio Neve, afluente do rio

Balsas, a inda era uma vila, só elevada a condição de cidade em 1948, como as

demais vilas não houve nenhuma resistênc ia, aí se reuniram o primeiro,

terce iro e quarto destacamentos, além do Estado-Maior.

Em seguida a Coluna alcançou a também vila de Loreto, situada à

margem esquerda do rio Balsas, afluente do rio Parnaíba, permanecendo por

dois dias. No dia 03 /12/1.925, registrou-se o primeiro ato de insubord inação

que ameaçou comprometer a s impatia que os rebeldes haviam adquirido junto

à população do su l maranhense. Prestes foi comunicado , que praças do

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esquadrão Beníc io dos Santos, acampados perto da vila, t inham adentrado à

vila, sem licença do Quartel General e estavam praticando desordens.

De Loreto , foi enviado um p iquete de ligação com o ob jetivo de

juntar-se ao destacamento de João Alberto, devia encontrar-se em Mirador.

Em caminho , este piquete, era comandado pelo coronel Juarez Távora, teve

conhecimento de que Mirador já se achava em poder de João Alberto e

Manuel Bernardino, este últ imo um cearense radicado na zona da mata entre

Mirador e Grajaú era t ido como inimigo fidalgo da oligarquia estadual

int itu lava-se de “O Lênin da Mata”, por pregar princípios soc ialistas.

Bernardino via no movimento revo lucionário uma oportunidade para

consc ient izar o homem do campo, embora o movimento não tivesse um

programa que despertasse o interesse dos camponeses, a reforma agrár ia era

um tema desconhecido . O próprio Luis Carlos Prestes afirmara : “Essa noção

de classe nós não tínhamos a inda. Tratávamos às vezes, o fazendeiro melhor

que o camponês” (PRESTES, 1990, p.232).

A grande incorporação de voluntár ios à Colu na Prestes, fo i o

ingresso de Manuel Bernardino comandando outros 200 vo luntários, todos

armados de Winchester s, const itu indo o primeiro refo rço que a Co luna

recebeu desde que deixara o Paraná.

Dentre os que contribuíram para o deslocamento da Coluna Prestes

por territó rios maranhenses merecem destaques Manuel Bernard ino, Euclides

Neiva e Tarquínio Lopes Filho, os dois primeiros integrando-se às tropas

revo lucionár ias, recru tando outros voluntários, desejando o estabelecimento

dos revoltosos no Estado do Maranhão, e o abandono da tática da guerra de

movimento e o segundo com os seus artigos de propaganda da causa

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revo lucionár ia em seu jornal “A Fo lha do Povo”, como demonstrados neste

trabalho.

No d ia 08.12 .1925, a Coluna se aproximou da cidade de Picos, hoje

Colinas, houve algum pânico, a população não estava devidamente preparada

para receber os revoltosos, parte da população escondeu-se na zona rural, mas

logo pôde voltar sem nenhum problema.

Nesta cidade fuzilaram um ex-companheiro que havia deixado as

tropas em Goiás, depo is de roubar o terceiro destacamento, isto teve grande

repercussão, entre os populares.

Os revolucionários que chegaram a Colinas eram chefiados por

Siqueira Campos e por Juarez Távora, este últ imo dirigiu ao Presidente do

Estado do Maranhão, Godofredo Viana um telegrama comunicando a ocupação

e anunciando que se dirigiam para a capital.

Durante a sua permanência em Colinas, os revo lucionários atend iam

a população, e destru íram cobranças de impostos, ateando fogo aos

documentos.

Enquanto permaneceram na cidade de Colinas os revo ltosos foram

atendidos pelo oposic ionista Coronel Manoel José de Macedo , que fez

doações de reses de sua fazenda, cuja carne era d ividida com a população .

Ainda em Colinas a Coluna recebeu doações de mercadorias e peças

de tecidos, além confecção de fardas para os soldados fe itas por pessoas desta

cidade.

Antes de partirem os revoltosos promoveram um comício que teve

como oradores Juarez Távora e Astolfo Serra. Foi nessa cidade que o Padre

Astolfo Serra f irmou amizade com os revo lucionários, provavelmente,

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ava lizou sua ind icação para interventor do Maranhão em 1931. Po is com

exceção de Prestes, os tenentes em especial Juarez Távora, participaram

ativamente do movimento de 1930.

Em Passagem Franca os revo ltosos foram recebidos pelo Coronel

Borges, ex-chefe político local. Nessa cidade os revolucionários esvaziaram

as dornas de cachaça para evitar a bebedeira na localidade.

Depois da partida dos revoluc ionários a força polic ial do Estado

chegou para rep rimir aqueles que de alguma forma haviam se re lac ionados

com os revoltosos, espec ialmente as pessoas pobres que aproveitaram o

momento para comer carne das rezes doadas pelos coronéis. A força

comandada pelo tenente Moscoso, os chefes polít icos loca is, os coronéis, não

foram at ingidos por esta ação, ela at ingia os desprovidos de poder, po lítico ou

econômico, os pobres.

Em Mirador, segundo Cand ido Lemos e Fran Teixe ira, ex-Escr ivão

do Cartório do segundo e primeiro ofício , respect ivamente, o coronel Juarez

Távora incinerou vár ios livros e processos relat ivos à grilagem de terras.

O Libertador de n. 09, editado em Floriano no Piauí, diz ia que a

Revolução tinha começado a reforma agrária pela vila de Mirador, no Estado

do Maranhão.

Sendo informado o Estado-Maior da Coluna em Mirador, da

precipitada fuga das tropas legalistas, que guarneciam Bened ito Leite e

Uruçui, c idades maranhense e piau iense, respectivamente, delineou, então,

novo plano de operações, que foi posto em execução imed iatamente, com

ótimos resu ltados para os revoltosos, que apoderaram-se de armas e mu nições

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das tropas do governo, possib ilitando a invasão em Teresina, única capital

vis itada pela Coluna Prestes.

Após ter passado três d ias em Mirador, o Estado-Maior da Co luna

rumou para Pastos Bons e Barão de Grajaú , ju lgando que as forças legalistas

ali se encontrassem, ou na cidade de Flo riano no Piauí, neste sent ido ordenou

aos destacamentos que operavam às margens do rio Parnaíba que mant ivessem

em posição de ataque simultâneo, o que não ocorreu porque as tropas

governistas desocuparam Floriano antes que ali chegassem os revo ltosos.

Outras vilas e c idades do Maranhão foram invad idas pela “grande

marcha vito riosa”, como seus membros gostavam de caracter izá-la, causando

muitos transtornos ao poder público.

Na edição do dia 05.12.1925, p.1 , o jo rnal “O Combate”, pub licou:

“A Situação – Ao Sr. Godofredo Viana nada mais fa lta para evidenciar a sua

negra administração do que a invasão do território maranhense pelas forças

revo lucionár ias que nele operam há perto de um mês”.

O Presidente do Estado Dr. Godofredo Viana afirmava na sua

mensagem apresentada ao congresso em 05 /02/1926 que para restau rar os

arquivos f iscais destru ídos pelos rebeldes e normalizar a vida administrat iva

do Estado nos municíp ios de Picos, (hoje Co linas), Passagem Franca,

Mirador, São João dos Patos, Nova York, Pastos Bons, Barão de Grajaú, São

Francisco do Maranhão, Bened ito Leite, Matões, Carolina, Riachão Balsas,

Grajaú e Loreto, nomeou o governo uma comissão de funcionários da

Fazenda, tendo feito seguir destacamentos polic iais para Picos, Grajaú e

Carolina.

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Havia uma preocupação muito grande por parte do governo do

Estado em proteger a cidade de Barra do Corda, sua posição geográfica

central poderia representar a conquista do Estado e o estabelec imento de uma

base f ixa dos revoltosos levando-os a abandonarem a tát ica de movimentação

das tropas.

Mensagem d o President e do Estado d o Maranhão God ofredo Vian a apresent ada ao Congresso em sessão de 05/02/1926: De fei t o, t odos est ais a par d a cr i minosa invasão d o nosso Estad o pelos r evol t osos de São Paul o, os qu ais bat idos vi gorosament e n o su l pel as for ças legai s e in tern ad os nos remot os ser tões goianos, vier am irromper em t err i tór i o maranhense na ci dade de Carol ina, a 15 de novembro úl t i mo. Pequen os nú cleos pol ici ais for am, em todos os tempos, suficient es para garant i r a ordem pú bl ica. De mod o que colhidos d e surpresa s pelas vi ol ent as depred ações d os r ebeldes, as n ossas populações, nã o a fei tas às lutas armadas e desprot egidas de for ça mil i t ar , tomaram-se de just i ficad o pâni co, o que permit iu ao bando in vasor ocupar vi las e cidades, onde a sua senha d est rui dora se fez cruel ment e sent i r, pel o as sal t o desabrido e à mão armada à propried ad e part icu lar, aos saldos d as colet ori as, dos telégra fos e agên cias dos correi os, pel os vexames e humilh açõ es a que foram su bmetidos compatr íci os respei távei s, pel a perversidade de at os, de todo pont o i núteis , contra fazend as indefesas e nu merosos centros agrí colas e cr iadores. Graças, porém, às enérgi cas provid ênci as t omadas pel o Govern o Federal , de concei to com o Govern o de Estad o, começou, de logo, a adquir i r mani festa e ficáci a a r esistência organi zada contr a aqueles agressores. Assi m é qu e tendo sido devidamente gu arn ecida por for ças d a mil íci a est adu al e do Exérci to a cidad e de Barr a do Corda, que s e pode considerar a chave do nort e do n osso Estado, foi em vão qu e contra ela in vest i ram os r evol tosos, forçad os a final , a se r et i rar , depois de renhidas t ent at i vas.Não men ores, nem menos ruidosos revezes sofrer am esses maus brasi lei ros em Flores e Teresin a, mercê da ação intel i gente, en érgica e pronta do Exmo. Sr . General João Gomes Ri beiro Fi lh o, a quem o govern o federal , em boa h ora e com fel icidad e, incumbi u a defesa dos Estados do Norte. É de just iça r econhecer qu e i mpossí vel lh es foi impedir de gol pe a i nvasão. No que toca ao nosso Estado, só em meados de outu br o t eve o governo comunicação ofici al da possi bi l i dade de inflet i r am, que depredava m nos ser tões de Goi ás, para o ter r i tór io Maranhen se, de cert o por est arem el es operando nu m va sto t r ato de t err a i ntei ramente desprovi do de telegrafo. Em tão curt o prazo er a material ment e i mprat icável organizar a resist ênci a, dad as as d istancias consideráveis que separam d a Capi tal a região ameaçada, a d i ficu ldad e quase insuperável d e u m t ransporte rápid o e a exi güidade da força pol i ci al l ocal izada n o su l do Estad o. Por outro lad o, os recursos de que d ispunha o Governo Federal n a Região Mil i tar a que pertencemos eram, então, por demai s pr ecári os. A escassez de armas e munições no inter ior n ão permit i u sequ er às populações ser tanejas organizarem-se, em defesa de suas

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próprias vidas e bens. Os propósi t os d o governo deste Estad o, mani festados ao govern o d o Pi auí , de au xi l iá -lo na d efesa da zon a parnai bana, t ambém maranhense, t i ver am i gual mente de se r sacri ficados, pel o exí guo da força pol icial de que d ispúnh amos e a necessi dade de socorr er sem perda de t empo Barra d o Corda, cu j a perda abri r ia o n orte d o Estado à conquist a dos rebeldes. Pela n ossa capi tal há passado, nestes dois úl t i mos meses, numerosas for ças do glori oso Exérci t o Naci on al , com des t ino ao in teri or d o Est ado, numa mobi l ização at iva, intel igent e e provei t osa contra a rebeld ia. Est iveram em nosso porto, por al guns d ias, o dest roer “Amazonas”, sob o comand o d o Capi t ão d e Corvet a Amér ico Pi mentel , e o couraçado “Flori an o”, sob o comand o d o Capi tão de Fragat a Carl os Augu sto Gastão, tend o a seu bord o o Capi tão de Mar e Gu erra Artu r da Costa Pinh o, comand ante d a Frot i lha do Norte, os quai s pr esta ram durante a su a perman ên cia em S ão Luís rel evant es serviços à causa da legal idade. Em con seqüência dos l amentáveis sucessos a que me venh o re fer ind o. F oi por Decret o de 1 de Janeiro de 1926, tornad o extensi vo aos Est ad os d o Maranhão e Piauí o Est ad o de Sí t io de qu e t rata o Decret o n° 17.174 de 31 de Dezembro de 1925. Para rest aurar os arqui vos fiscais dest ru ídos pel os r ebeldes e normal izar a vida ad minist r at i va d o Estado nos municí pi os d e Picos, Passagem Franca, Mirador, São João d os Pat os, Nova York, Past os Bons, Barão de Grajaú, São Franci sco do Maranhão. Benedi t o Lei te, Matões, Carol ina, R iachão, Balsas, Graj aú e Loret o, nomeou o govern o u ma comissão de funci onári os da fazend a, tend o fei to seguir d estacament os pol ici ais para Picos, Grajaú e Carol ina”. (Diário Ofi cial do Estado d o Maranh ão, de 05/02/1926).

Embora a Co luna marchasse pelo interio r, fugindo às concentrações

urbanas mais significat ivas, ela mantinha ligações nas cidades, que dever iam

ter-se to rnado, não fosse o fracasso das insurreições, as bases f ixas de apoio

das operações de guerrilhas.

Os tenentes da Coluna mant inham a concepção desen vol vid a d esd e vin te e d ois, de que as Forças Armadas são o pri nci pal agente d a mudança pol í t ica n o Brasi l e que el as representam os interesses gerais da naci onal idad e, que estar i am expressos em seu programa l iberal -democrat a e ant iol i gárqui co. Embora empreendendo uma guerra r evoluci on ári a de propagand a, os t enentes mant ém a concepção de que const i tuem uma vanguarda que pod e e deve subst i tu i r o povo brasi lei ro, incapaz d e real izar a r evolução”. (FORJAZ, 1979 ,p.110 /111)

O Estado-Maior da Coluna Prestes t inha a perfe ita noção que a

posse efet iva e duradoura do Maranhão os colocaria numa posição de

destaque, por esse mot ivo já haviam enviado de Goiás o Tenente Coronel

Paulo Cruz para fazer os primeiros contatos com oposicionistas maranhenses

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com o objet ivo de atingir a capital do Estado e p romover um verdadeiro

levante a seu favor o que não ocorreu devido a sua ident ificação e prisão

pelas tropas lega listas em Grajaú, antes de atingir a São Luís.

Com a Coluna Prest es e os revol t osos l ocais dominand o o Maranhão, o govern o federal pod eria ser persu adido a reconh ecer u m governo de fat o em S ão Luís, e a conceder ani st ia aos rebelde s do sul , a fi m de evi t ar que a r evolução se espalhasse para o s Est ados do Nordeste. Pouco antes de entrar em Carol ina Juarez e Cordeiro d e Farias, telegra faram ao presidente da Repúbl ica, i nformand o-o sobre a ocupação d a cidade e pr essionand o-o a abandonar a at i tude d e ódi o e de vingança que inspiravam suas ações. (MACAULAY, 1977.p.171)

Diante deste revés o sub-chefe do Estado-Maior coronel Juarez

Távora enviou, de Carolina, um ou tro emissário a São Lu ís, desta vez o Sr.

Manoel Moreira que trazia cartas ao Exmo. Sr. Desembargador Dioclídes

Mourão e ao Sr. Tarquínio Lopes Filho , conforme abaixo :

Exmo.Sr. Desembargad or Di ocl í des Mourão Respei tosos cumpri mentos É portad or d esta carta o Sr . Manoel Moreir a, va i ele subst i tuindo o nosso Embaixador Especial Tem.Cel .Paul o Cunh a Cru z, i nfel i zmente preso em Graj aú . Remet o-vos, junto, uma có pia d a carta que vos l evava aquele n oss o emissári o. Mesmo sem consul tar o comand o d a Di vi são, atual mente em Balsas, resol vo, di ante d o lamentáve l desast re ocorrido, di r igi r-vos al gumas ponderaçõ es que o moment o aconselha. Entrando no Maranhão a 11 do corr ente, marchamos fi rmes, n a d ireção do “Nordeste” vi sando a r egi ão d o médio Parnaí ba, poi s que, de acord o com Man oel Bern ardino e Euc l ides Maranhão e m Barra d o Corda, podeis auxi l iar consideravel ment e a Revolução, cr iand o sér i os focos d e reaçõ es l ocais, capazes de at rapalhar a marcha de forças governistas. A dest ruição da via férr ea São Luís -Caxias é i mportant íssi ma. Caso as t ropas levant ad as não se possam mant er nos locais ond e i niciaram o movi mento, deverão procurar l igação com a Di visã o Miguel Cost a que est ar á sempre pronta a ajudá-l as e acol he-las. Sem mais, con fesso-me vosso sincero ami go, e ad mirad or. Cel . Juarez Távora Carol ina, 21/11/1925. (LIMA, 1977.p.579/580).

Exmo.Sr. Dr. Tarquínio Lopes Fi lho Respei tosos cumpri mentos É port ad or destas l inhas o S r . Manoel Moreira, d ist into ami go n osso de quem me valho para subst i tu i r o Ten.Cel . Paulo Cunha Cruz, qu e foi pr eso em Grajaú .

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Junto vos remet o cópia da cart a que vos l evava o n osso Embai xador Especi al , fazend o vot os para que el a ainda vos chegue em temp o út i l . Lon ge d o Q. G. da Di vi são, or a estaci onad o em Balsas, t omo a i niciat i va de l embrar -vos qu e, an t es de tudo, convém agirdes d e forma a impedir que vos prendam. In vadi mos o Maranh ão a 11 do corrent e e pret endemos avançar n a d ireção geral de Nordeste, buscand o a regi ão do médi o P arnaí ba. Penso que podeis, d e acordo com o Desembargad or Di ocl íde s Mourão e Cel . Eucl ydes Maranhão, prestar ó t i mos servi ços à causa revolu ci onária, fomentand o um levante d e ci vis nas r egiões d e Codó, Barr a do Cord a e Mata, vi sand o o r etard ament o da march a d e t ropas para o centro do Estado. É important íssi ma a in terru pção d o t rá fego fer roviár i o entre Sã o Luís e Teresina. Se não for possí vel uma r esist ênci a efi caz nessas regiões deverão as for ças levant adas procurar unir-se às forças da Di visão. De qualquer forma, marcharemos r esolut os ao encontro d aquel es que levantar am, contra o despot ismo, o gl ádio vin gador d a l iberdade. Sem mais, con fesso-me vosso sincero ami go e ad mi rador. Cel . Juarez Távora Carol ina, 21/11/1925. P .S. “o portad or vos explanará verbal mente cert as minúci as de qu e não nos con vém tratar aqui”. (LIMA, 1977.p.580 /581).

O termo “invasão” usado por Távora, não corresponde à dip lomacia

usada pela Coluna quando do envio da Circular aos homens de

responsab ilidade de Carolina a qual já nos refer imos anter iormente.

Na carta o líder revo lucionár io insist ia na interrupção da Estrada de

Ferro entre São Luís e Caxias o que causaria embaraços aos deslocamentos

das forças lega listas, uma vez que as estradas rodoviár ias não tinham

condições de tráfego.

O mais i mportante, no entant o asseverava Juarez, era que o s revolu ci onários maranh enses deveriam cortar a ferrovi a entre Sã o Luís e Teresina, a capi tal d o Estado do Pi auí e a pr inci pal cidad e d o Vale do Parn aí ba. Naqu ela época d o ano as es t radas maranhenses eram prat icamente in t ransi táve is em direção a São Luís, s i tuad a numa i lha. Al ém dis so, os únicos grandes ri os er am o Tocant ins e o Parn aíba, navegá vei s em suas margens. Assi m a est rad a de ferr o São Luís -Teresin a const i t uía a úni ca vi a d e t r ansporte rápido n o i nter ior d o Estado. (MACAULAY,1977,p. 171/172 ).

Diante da política ofic ial do Estado de centra lização administrat iva

na cap ita l, sem ações e fet ivas no interior, espec ialmente no sertão

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maranhense, parte da imprensa local responsab ilizava o governo estadual pela

ocupação do territó rio maranhense pelos revolucionár ios da Coluna Prestes, o

jornal O Combate, na sua edição de 12.12.1925, p.1, publicou :

Enquanto os r evoluci onári os ganhavam t err eno estendend o o pânic o pelas cidad es e vi las do al t o ser tão, tomava m a mais de mês Carol ina, passava m por Grajaú, de onde mandavam reconh ecer Barra do Corda , e segund o d izem, deri vam para Riachão, Balsas, Loret o e Mirador e tomavam Picos, o Sr . Godofr edo Viana, com a pol íci a de t i r o ci ent í fi co, acompanhava o moviment o de pal áci o, cal mamente.

A possibilidade de um levante em São Luís e a receptividade da

população maranhense em geral, cr iaram no Estado-Maior revolucionár io o

projeto de fixação no Maranhão e, portanto de abandono da luta de

movimento e conquista de um território revo lucionário. “Esse projeto

esvaneceu-se devido ao insucesso da conspiração revolucionár ia em São Lu ís”

(FORJAZ, 1979.p.102). Já que o porta voz da Coluna o tenente Pau lo Cruz

havia s ido p reso em Grajaú, quando era portador das cartas do Comando

Revolucionár io ao líderes maranhense na cap ital que apo iavam o movimento.

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6. CONCLUSÃO

A coluna Prestes foi um movimento militar que nem sempre teve

os seus objetivos compreendidos pelos brasileiros, na grande maioria das

loca lidades por onde passou foi recebida com hostilidade, fruto das ações do

governo federal e das oligarquias dominantes que p regavam const itu ir-se de

um bando de desordeiros, subversivos, foras da le i, etc.

Apesar d isso contribuiu para o processo de desestru tu ração da

Repúb lica Velha, que cu lminaria com a chamada “Revo lução de 1930”.

No Maranhão a Co luna Prestes, teve os seus melhores momentos

em relação à convivência, até certo ponto, harmoniosa com as populações das

vilas e c idades por onde passou.

Neste Estado ocorreram efetivamente as adesões de voluntár ios

sob as lideranças de Manuel Bernardino e Euclides Neiva, além do apoio de

parte da imprensa que faz ia p ropaganda das idéias defend idas pelos

revo lucionár ios.

As populações das c idades e vilas do Maranhão vis itadas pela

Coluna Prestes eram desprotegidas e abandonadas pelo poder público

chegaram a acreditar na possibilidade de reverter essa situação, de substituir

o governo cujas ações não chegavam a benefic iar a região.

A passagem da Coluna Prestes pe lo Maranhão alcançou o seu

objet ivo de propagar a insatisfação contra o governo federal e de ter a

receptividade dessa propagação , muito embora não tenha trazido

transformações quanto à posição dos governos que cont inuaram a desenvolver

a po lítica de favorecimento das o ligarquias, sem a devida preocupação com os

mais pobres.

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As ações do governo estadual chegaram à região vis itada pela

Coluna Prestes não com benefíc ios para a população, mas com o objet ivo de

punir aqueles que não hostilizaram os revolucionár ios e poupando os coronéis

e chefes políticos que proporcionaram todas as condições para a passagem até

certo ponto tranqüila dos comandados de Luís Carlos Prestes.

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REFERÊNCIAS

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COELHO, Elo y. História do Sul do Maranhão. Ed itora São Vicente, Belo Horizonte, 1979 .

DOMINGUES, Joelza e FIUSA, Layla P. Leite. O Brasil em Foco , Editora FTD, São Paulo, SP, 2000.

DRUMOND, José Augusto. A Coluna Prestes – Rebeldes errantes. Editora Brasiliense, 1991 .

FERNANDES, Henr ique Costa. Administrações Maranhenses – 1822 – 1929, 2ª ed ição , Inst ituto Geia, São Lu ís – MA, 2003.

FORJAZ, Maria Cecília Sp ina. Tenentismo e Polít ica . Editora Paz e Terra, São Paulo, SP, 1977 .

LIMA, Lourenço Moreira. A Coluna Prestes, Marchas e Combates, Editora Globo, Rio Grande do Sul, 1931.

MACAULAY, Neill. A Coluna Prestes. Editora Fidel. Rio de Jane iro . RJ. 1977.

MORAES, José Gera ldo Vinci de. Caminhos das Civilizações, História Integrada, Geral e Brasil , Ed itora Atual Ltda. São Paulo, SP, 1998.

MOZER, Sonia e VERA Teles. Descobrindo a História, Brasil Independente, Editora Ática, São Paulo , SP, 2005.

ESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes, Ed . Brasiliense, São Paulo, SP, 3ª Edição, 1991.

PRESTES, Anita Leocádia. Os militares e a reação republicana , As origens do Tenentismo, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ , 1994 .

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REIS, Flávio Antonio Moura. Grupos políticos e estru tura oligárquica no Maranhão , 1992 , 227p . Dissertação (Mestrado em Histó ria), Universidade Estadual de Campinas. (cap. II. Pág. 32-95).

A MOCIDADE. Carolina: Maranhão, 18 de novembro de 1925, p. 1.

O COMBATE. São Luís: Maranhão, 20 de novembro de 1925, p.1.

O LIBERTADOR. Caro lina: Maranhão, 15 de novembro de 1925, p . 1.

JORNAL A FOLHA DO POVO. São Luís: Maranhão, 24 de outubro de 1925,p.1.

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luís: Maranhão, fevereiro de 1926, p. 1.

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ANEXO - BIOGRAFIA DOS REVOLUCIONÁRIOS

A composição humana da Coluna Prestes fo i caracterizada pela

heterogeneidade quanto às origens, ocupações e situações sociais dos seus

integrantes, a méd ia de idade era de aproximadamente 30 anos,

mencionaremos seus p rincipa is com uma mini-biografia.

Luís Car los Prestes, (1898-1990) oficial da Engenhar ia,

nominalmente chefe do estado-maior, foi o comandante de fato da Co luna.

Consp irador ativo em 1922. Rebelou-se em Santo Ângelo (RS) em 1924.

Depois fo i o maior líder tenent ista até maio de 1930, quando crit icou

pub licamente os tenentes que apoiaram a Aliança Libera l. Aderindo ao

comunismo, morou na URSS entre 1931 e 1933, ingressou no Comitê Centra l

do Partido Comunista do Brasil em 1934, chefiou os levantes militares

comunistas de novembro de 1935 e foi o pris ioneiro número 1 do governo

Vargas entre 1936 e 1945. Anist iado, foi senador em 1946-48 pelo Partido

Comunista do Brasil do Distr ito Federal e desde então, constituiu-se na

principal liderança comunista no Brasil até o seu fa lec imento em 1990.

Gaúcho de Porto Alegre, um dos quatro filhos de um oficia l do Exérc ito e de

uma professora p rimár ia, ó rfão de pai desde a infância, teve dificu ldades

sér ias para se tornar oficial.

Anto nio de Siqueira Campos (1898-1930) oficial da Art ilhar ia.

Herói do levante do Forte de Copacabana em 1922; rebelou-se em São Borja

(RS) em 1924. Comandou um destacamento da Coluna. Foi o mais audaz dos

líderes militares da Coluna. Virtualmente o segundo na hierarquia tenent ista,

foi at ivo conspirador em São Pau lo até morrer num desastre de aviação em

maio de 1930. Pau lista de Rio Claro, filho de pais pernambucanos de posição

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social mediana, o pai administrava fazendas de café de parentes mais r icos e

depois foi funcionár io púb lico municipal na cap ita l pau lista.

João Alberto Lins de Barros (1897-1955) oficial da Art ilhar ia.

Simpat izante das revoltas de 1922. Rebelou-se em Alegrete (RS) em 1924.

Comandou um destacamento da Coluna. Importante consp irador do movimento

de 1930, do qual participou com destaque no sul. Interventor federal em São

Pau lo em 1930-31 , vár ias vezes chefe de políc ia do Distr ito Federa l, depu tado

por Pernambuco à Const ituinte de 1933-34, diplomata; chefe da Comissão de

Defesa da Economia Nacional em 1939-41 e coordenador da Mobilização

Econômica em 1942-45; vereador no Distr ito Federal pelo PTB a partir de

1947. Pernambucano de Recife, um dos quinze filhos de um modesto

professor secundário oriundo de um ramo empobrecido de uma tradic ional

família pernambucana.

Osvaldo Cordeiro de Farias (1901-1981) oficia l de Art ilhar ia.

Simpat izante da revo lta de 1922 . Comandou um destacamento da Coluna

Prestes. Conspirador e participante do movimento de 1930 em Minas Gerais.

Chefe de polícia em São Pau lo em 1931-32 e em 1933, intervento r federal no

Rio Grande do Sul em 1938-43, comandante da Artilhar ia da FEB em 1943-

45. Em 1942 to rnou-se o mais jovem oficial general do Exérc ito no período

repub licano. Primeiro comandante da Escola Superio r de Guerra em 1949-52;

governador de Pernambuco em 1955-58, importante art iculador do movimento

de 1964, ministro extraordinár io para Coordenação dos Organismos Regionais

em 1965-66. Gaúcho de Jaguarão, um dos oito filhos de um ofic ial de

Exérc ito muito bem re lac ionado nos meios políticos do Distr ito Federal e de

uma mãe descendente de trad icional família fluminense.

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Dja lma Soares Dutra (1895-1930) oficial da Cavalar ia. Simpatizante

da revolta de 1922 . Rebelou-se em São Paulo em 1924. Comandou um

destacamento da Coluna. Importante conspirador para o movimento de 1930

em São Pau lo e Minas Gerais. Morreu em Três Corações (MG) durante o

movimento de 1930, baleado acidentalmente por um sent inela de suas p róprias

tropas. Carioca, um dos vár ios filhos de um oficial da Marinha de Guerra de

tradicional família militar.

Juarez do Nascimento Fernandes Távora (1898-1976) ofic ial da

Engenharia. Revoltoso em 1922. Rebelou-se em São Paulo em julho de 1924,

mas liderou também levantes no Rio Grande do Sul em outubro-novembro.

Foi subchefe do estado-maior da Coluna. Chefiou a conspiração e o

movimento de 1930 no Norte e Nordeste. Um dos maiores porta-vozes do

movimento tenent ista. Foi titu lar da Delegacia dos Estados do Norte e

Nordeste em 1930-31 (ganhou então o apelido de “vice-rei do Nordeste”);

ministro da agricu ltura em 1933-34;segundo comandante da Escola Superio r

de Guerra em 1953-54; cand idato derrotado às eleições presidenciais de

outubro de 1955; ministro da Viação e Obras Púb licas em 1964-67 . Cearense

de Jaguaribe-Mir im, um dos qu inze filhos de um ramo pobre de família com

grande tradição política regional.

Miguel Alberto Crispim da Costa Rodrigues (1874-1959) o fic ial da

Cavalar ia da Força Púb lica de São Paulo, no posto de majo r, partic ipou da

revo lta loca l em ju lho de 1924. Comandante nominal da Co luna. Chefe milita r

importante no movimento de 1930 no Sul. Atuante na política interna de São

Pau lo na década de 1930, inclusive na Aliança Nacional Libertadora. Nascido

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na Argent ina, filho de modestos imigrantes cata lães, cr iou-se em São Paulo.

Antes de 1924 freqüentava círculos de alta elite pau lista.

Havia ou tros oficia is do Exército: Paulo Kruger da Cunha Cruz, Ari

Salgado Freire e Henr ique Ricardo Holl, o asp irante a oficial Arist ides Corrêa

Leal e ainda quatro ex-a lunos da Esco la Militar do Realengo, expulsos em

1922, André Trifino Correia, Emídio da Costa Miranda, Alberto Costa e Pedro

Palma.

Quanto aos c ivis que se destacaram na Coluna podemos citar :

Lourenço Moreira Lima, (advogado que aderiu à rebelião) em 1924 , em São

Pau lo , exercendo o posto de secretár io, José Damião Pinheiro Machado

(advogado e político libertador gaúcho), Atanagildo França (tabelião goiano),

Manuel Alves Lira (ex-piloto fluvial na Amazônia que aderira a revo lta em

1924, em São Paulo), Nestor Veríssimo (gaúcho rebelado no Rio Grande do

Sul) . Quase todos, militares e civis, deixaram crescer longas barbas a f im de

parecerem mais ve lhos e ganharem o respeito das populações e dos chefes

polít icos c ivis pelo Brasil afora.