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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 16 www.damufes.com/raiox PROJETOS DE EXTENSÃO O Centro de Ciências da Saúde para além dos muros ANAMNESE MAIO AMARELO HEMOCULTURA ATLÉTICA Uma entrevista com quem nos en- sina a entrevistar. Um mês de aler- ta no combate ao trauma. Ampliando a prá- tica de esportes na Medufes. A musicalidade na invenção do estetoscópio NOTA SOBRE A ABERTURA DE NOVAS VAGAS NO CURSO DE MEDICINA DA UFES

Raio-X, nº 16

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 16: Mai/Jun/Jul 2015

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 16

www.damufes.com/raiox

PROJETOS DE EXTENSÃOO Centro de Ciências da Saúde para além dos muros

ANAMNESE MAIO AMARELO HEMOCULTURAATLÉTICAUma entrevista com quem nos en-sina a entrevistar.

Um mês de aler-ta no combate ao trauma.

Ampliando a prá-tica de esportes na Medufes.

A musicalidade na invenção do estetoscópio

NOTA SOBRE A ABERTURA DE NOVAS VAGASNO CURSO DE MEDICINA DA UFES

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Caro LeitorA palavra do editor

EXPEDIENTE:RAIO-X é o Jornal dos estudantes do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Edição: Érico Induzzi Borges / Equipe: Brener Nogueira, Eloísa Giacomin, Enzo Dalfior, Joilton Tavares, Julia Martins Brunelli, Rafael Mendes, Thaisa Malbar RodriguesRevisão: Érico Induzzi BorgesDiagramação: LF Diagramação / Impressão: Gráfica UFES / Tiragem: 300 exemplaresContato: [email protected] / Site: www.damufes.br/raiox

Edição 16 - Maio, Junho e Julho de 2015

Trazemos nessa edição uma rica matéria sobre os três principais projetos de exten-são do Centro de Ciências da Saúde: o Museu de Ciências da Vida, o CEPAS e o PAD - oportunidades para o aca-dêmico expandir horizontes e ter contato com a comuni-dade visando, dentre outros objetivos, melhorar as rela-ções de humanização – que

pouco é treinada no cenário técnico da faculdade.Por falar em treinos, é ine-gável que a recém criada Atlética do curso de Medici-na está dando um show de conquistas. Vários treinos acontecendo, aquisições, tanto de materiais para es-portes quanto de uma bate-ria de samba – sim, a bateria da MEDUFES irá voltar com

tudo nas próximas OREM! Tudo isso e mais um pouco pode ser conferido nas colu-nas sociais do jornal.Na seção Anamnese desta edição, entrevistamos quem nos ensina a entrevistar. Ti-vemos o prazer de conversar e conhecer um pouco mais da vida e da carreira do mé-dico e professor Dr. David Hadad, profissional que se

destaca no quadro de do-centes do ciclo clínico, le-cionando a inesquecível Se-miologia, e de preceptores do internato e da residência médica.Boa leitura a todos!

COMUNICADOS

Este ano será realizado o segundo Teste de Progresso na Faculdade de Medicina da UFES, que participa do CONSÓRCIO RJ/ES junta-mente com outras 7 faculda-des (públicas e particulares) do Rio de Janeiro e do Espí-rito Santo. Ele consiste em 120 questões e é aplicado anualmente, visando quan-tificar o ganho de conheci-mento ao longo do curso.O teste está preconizado nas novas Diretrizes Curri-culares Nacionais publica-das em junho de 2014 e é voluntário. A nota obtida por cada aluno no teste apenas será divulgada para o próprio aluno via e-mail, assim como o gabarito será disponibilizado comenta-do. A nota também não in-fluenciará no desempenho do aluno no período letivo.O NDE informa a realização do teste de progresso no dia

30/09/2014 das 13h30min às 17h30min, nos prédios das aulas do básico e do clí-nico. O mesmo teste é apli-cado nas outras faculdades.

É preciso a colaboração de todos, pois o teste tem função de fazer um diag-nóstico do modelo de en-sino-aprendizagem do atu-

al currículo, permitindo a elaboração de estratégias para melhorar o curso.

ATENÇÃO PARA O TESTE DE PROGRESSO

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COLUNA VERTEBRALA opinião de quem escreve o jornal

Quantas são as frases e citações que proclamamos de modo tão medular mas que, ao mesmo tempo, sequer refleti-mos sobre suas implicações? Exemplo disso é a seguinte - bem como suas va-riações: “educação é um direito!”, dita aos 4 ventos por quem aceita tal pre-missa sem ao menos discuti-la e, por conseguinte, sem investigar e examinar suas origens.

Bem, a nossa Constituição traz no art. 205 que educação é “direito de todos e dever do Estado e da família”. Daí já se pode notar a deliberada confusão entre Educação e Ensino. Este, critica Ivan Illich, pouco foge de uma institu-cionalização da distribuição de funções sociais com fins profissionalizantes, por meio de diretrizes centralizadoras que sufocam o indivíduo em prol do coletivo, e que não incorre necessariamente em aprendizagem - antes a corrompe; en-quanto aquela pressupõe uma essência de voluntariedade, a recusa de lograr - nas palavras de Michael Oakeshott - “a dança macabra das necessidades e sa-tisfações”, qual seja o ultraje ao imedia-tismo utilitário, sendo capaz de conduzir o indivíduo a transcender o presente momento de modo tal a permitir-lhe de-notar, a partir da observação da reali-dade, conceitos e constantes universais - respeitando, no decurso, o precípuo componente de autodidatismo.Feita esta breve digressão sobre a fal-sa equação Educação = Ensino, preci-samos conceituar o direito. Um direito - em seu sentido positivo - pode ser de-finido como uma garantia que, segun-do o princípio da reciprocidade jurídica, cabe a alguém garantir. Isto é, se é dito que educação é um direito de todos, instantaneamente é preciso que se in-dique também o ente obrigado a garan-ti-la, no que vale destacar a atribuição dada em primeiro lugar ao Estado pela nossa Constituição. Tal condição coloca em segundo plano o papel da família

na educação de sua prole, transferindo automaticamente suas responsabilida-des sobre ela aos políticos e burocratas; sim, uma vez que o Estado não é consti-tuído senão por essas espécies que cer-tamente não detêm grande apreço da sociedade. A essa dissonância cognitiva corresponde o “Paradoxo de Garscha-gen”, a uma rigorosa análise esmiuçado em Pare de Acreditar no Governo - de cujo cachoeirense Bruno é emprestado o sobrenome ao paradoxo.Meu leitor, gozando plenamente de suas capacidades mentais, confiaria seu di-nheiro a políticos à escolha de um carro, ou de um smartphone, ou mesmo de uma vestimenta? Aos que responde-ram negativamente às perguntas acima, prossigo: por que, pois, imploramos que eles tomem conta da educação dos fi-lhos dessa mátria? Por que acreditar que políticos estariam interessados em nos proporcionar uma educação genu-ína, isto é: isenta de perversões ideo-lógicas que servem em primeira e últi-ma instâncias ao cumprimento de seus interesses mais espúrios; que não nos levasse, gradativamente, a maior legiti-mação da atuação do Estado nas esfe-ras mais íntimas de nossas vidas e que, para tal, reforço, contaria com a práxis dos profissionais políticos e burocratas?Com efeito, décadas de um sistema de Ensino na mão dessa gente vem con-decorando o país com as últimas colo-cações nos rankings internacionais de educação. Não obstante esta realidade, o Governo continua torrando o dinheiro fruto de nosso trabalho com suas cíni-cas propagandas oficiais. Uma vez que se trabalha 4 de 10 dias apenas para o Governo, e que uma alíquota conside-rável supostamente seria direcionada à Educação, o cidadão comum espera ao menos que esse investimento coercitivo retorne de fato às creches, escolas, uni-versidades, institutos, centros de pes-quisas e afins. Mas, claro, não é o que se vê... o corte na Educação foi o maior dentre todos os ministérios, chegando a um desfalque anual de R$ 7,044 bilhões.Enquanto isso, aos amigos da corte pa-rece que nem chegou conhecimento de tamanho estelionato eleitoral, algo que podemos notar pelo dia-a-dia da com-panheirada: começando pelos garotos-

-propaganda do PT, Jô Soares e Chico, que faturam milhões conduzindo peças e shows, respectivamente, financiados por Dilmadre; Val Marchiori (socialite militante do PT), que continua desfilan-do em seu Porsche financiado com di-nheiro público por meio de empréstimos irregulares via BNDES, o qual também emprestou cerca de R$ 8,3 bi - a juros baixíssimos subsidiados pelo contribuin-te - para a Odebrecht dar cabo de obras no exterior (metade delas em Cuba, Ve-nezuela - a despeito deles figurarem en-tre as piores notas de crédito do mundo - e Angola); Lula, o lobista da Odebre-cht, para não ficar para trás garantiu um pedalinho em formato de cisne em sua fazenda bancado pela OAS; que dizer de seu filho, Lulinha, o ex-limpador de es-trume de elefante que em poucos anos já desponta entre os multimilionários companheiros de lula; digo, luta? Ah, e o site Humaniza Redes - serviço de pa-trulhamento das redes sociais e censura criado pelo PT -, cujo logotipo plagiado custou singelos R$ 300 mil aos cofres públicos (num contrato que ultrapassou os R$ 10 milhões), e cuja maior proe-za, devemos reconhecer, foi “humanizar a pedofilia”, surfando na onda das foti-nhas coloridas... afinal, “toda forma de amor é válida”, serto?Estes são tão somente didáticos exem-plos do inescrupuloso uso que La Mátria Educadora é capaz de fazer das insti-tuições deste país, com o seu dinheiro, com o futuro seu e de seus filhos. Pri-vando da merenda a criança pobretana para fazer aviãozinho com ditadores e ti-ranetes, enchendo-lhes sobremaneira a pança. Rotulando a classe média traba-lhadora de “fascista” e odiosa enquanto afaga e encobre terroristas da pior estir-pe mundo afora. Fingindo não entender o recado das ruas, atribuindo-o à “elite branca” do país ao passo que a cúpula do partidão vive do conluio com ban-queiros e megaempresários, minando a livre-iniciativa do paupérrimo e do mi-croempresário. Resguardo-me, pois, em não reservar longos versos à presidenta a fim de poupar-me de possíveis desen-tendimentos com certo tipo feminista, mas aí vai minha mais sincera home-nagem a esta que dos filhos deste solo és mãe gentil, Mátria dilmada, Brasiu!

La Mátria Educadorapor Enzo Dalfior Antunes

“[...] se é dito que educação é um direito de todos, ins-tantaneamente é preciso que se indique também o ente obrigado a garanti-la”

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ESTADO GERALUm giro de notícias diversas

TRABALHADORES CON-TINUAM EM GREVEOs trabalhadores técnico--administrativos em Educa-ção na Ufes entraram em greve, por tempo indetermi-nado, a partir de quinta-fei-ra, 28 de maio de 2015, em todos os campi (Goiabeiras, Alegre, São Mateus e Ma-ruípe/CCS), na luta por um reajuste salarial que repo-nha as perdas acumuladas e contra o pacote de cortes do governo federal que vai prejudicar toda a população brasileira, com ajuste fiscal em áreas como Saúde e Educação, que ultrapassam os R$ 20 bilhões.A decisão foi tomada pela assembleia geral unificada da categoria, realizada na terça-feira, 26 de maio, na sede do Sintufes, no campus de Goiabeiras, em Vitória. É importante destacar que os trabalhadores técnico-admi-nistrativos no Hospital Uni-versitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) iniciaram o movimento paredista a partir do dia 1º de junho de 2015 e não há previsão de término. A assembleia ainda aprovou a cobrança do fun-do de greve dos trabalhado-res sindicalizados durante os meses de paralisação.

Fonte: sintufes.org.br

PROCURA PELA VACINA CONTRA HPV CAI PELA METADE EM RELAÇÃO A 2014A procura pela vacina con-tra o HPV na rede pública brasileira caiu pela metade em relação ao ano passado, aponta um balanço inédito do Ministério da Saúde.Neste ano, entre o início de março (quando foi lançada a campanha) e o dia 21 de maio, 40,2% das meninas que formam o público-alvo do ministério para se preve-nir gratuitamente contra o vírus tomaram a vacina. Em 2014, no mesmo período,

83% da população-alvo já havia se vacinado – ao lon-go do ano todo, 100% da meta foi atingida. Nos dois anos, o público-alvo foi fixa-do em cerca de 4,9 milhões de pessoas.Este é o segundo ano em que a vacinação contra o vírus está disponível gratui-tamente no país. Desta vez, a faixa etária foi alterada: garotas entre 9 e 11 anos têm direito à imunização – no ano passado, a faixa etá-ria era entre 11 e 13 anos. A menor ocorrência de vacina-ções em escolas, o fato de a imunização não ser mais novidade e a divulgação nas redes sociais de supostos malefícios da vacinação são apontados pelo Ministério da Saúde como responsá-veis pela queda na procura.

Fonte: g1.com.br

NÚMERO DE FUMANTES NO BRASIL CAI 30,7% NOS ÚLTIMOS NOVE ANOSO ato de fumar está cada vez menos popular no Bra-sil. Segundo dados do Vi-gitel 2014, atualmente, 10,8% dos brasileiros ainda mantém o hábito de fumar – o índice é maior entre os homens (12,8%) do que en-tre as mulheres (9%). Os números representam uma queda de 30,7% no percen-tual de fumantes nos últi-mos nove anos. Em 2006, 15,6% dos brasileiros decla-ravam consumir o produto. A redução no consumo é resultado de uma série de ações desenvolvidas pelo Governo Federal para com-bater o uso do tabaco. No entanto, um estudo inédi-to do Instituto Nacional do Câncer (INCA), demonstra que entre os brasileiros que consomem cigarros indus-trializados cresceu a pro-porção daqueles que fumam cigarros de origem ilícita. Entre os principais motivos

para a queda do consumo do tabaco no Brasil está o aumento do preço dos ci-garros. Segundo a Pesquisa ICT/INCA 2013, 62% dos fumantes pensaram em pa-rar de fumar devido ao va-lor do produto no país. A política de preços mínimos também está diretamente ligada à redução da experi-mentação entre os jovens, já que cerca de 80% dos fumantes iniciam o hábito antes dos 18 anos.

Fonte: portalsaude.saude.gov.br ATLÉTICA ANUNCIA CRIAÇÃO DA BATERIA OFICIAL DA MEDICINA UFES Apesar da falta de experiên-cia dos atletas com algumas modalidades e da falta de treino devido ao aperto do calendário, nosso resulta-do nos Jogos Capixabas de Medicina, nos dias 23 e 24 de maio, foi sensacional. O desempenho nos jogos foi reflexo do maior interesse por parte dos alunos, tanto nos treinos como na partici-pação dos assuntos da atlé-tica. Desde que foi criada, a Atlética tem trabalhado arduamente para reavivar o espírito esportivo em nossa faculdade, com a organi-zação de times e treinos, confecção de uniformes e aquisições de materiais. E ainda mais, a Atlética aca-ba de anunciar a criação da bateria oficial da Medicina da UFES. O lucro da calou-rada, realizada com tama-nho empenho e dedicação pela Assessoria de Eventos do Diretório Acadêmico, será usado em partes para a compra do bandeirão, a verba inicial para a fabrica-ção dos produtos oficiais, os técnicos para as líderes de torcida e os técnicos para os ensaios da bateria. A atlé-tica se mostrou muito feliz com os resultados dos pri-meiros meses de trabalho,

mas ressalta que nenhuma das ações tem sentido se não houver interesse por parte dos alunos. Afinal, o verdadeiro sucesso está em conseguirmos cada vez mais participação nas quadras, na torcida e no cotidiano es-portivo da faculdade.

SOLIDARIEDADE NO HUCAMNo mês de junho a solida-riedade voltou a visitar a pediatria do HUCAM e fez enorme diferença no São João das crianças interna-das. A ação integrada de te-rapeutas ocupacionais, dos alunos de terapia ocupacio-nal e enfermagem e da alu-na de medicina Natália Reis trouxe alegria aos pequenos pacientes do hospital com brincadeiras, brindes, co-midas típicas e truques de mágica. As crianças, como de costume, se divertiram muito com a equipe, com as outras crianças da enferma-ria e também com o mágico Dr. Unimed. Iniciativas as-sim beneficiam todos os en-volvidos. Além das crianças, ganham também os alunos do CCS que somam novos aprendizados e trocam ex-periências.Cabe aqui uma correção re-ferente à ação integrada da Páscoa, que a edição 15 do Raio X atribuiu apenas aos alunos da medicina. Na ver-dade, ocorreu uma parceria com os alunos da terapia ocupacional, que tiveram importante papel para o sucesso naquela ocasião. A próxima ação está previs-ta para o dia das crianças e todos os alunos do cen-tro estão convidados para participar desse gesto de solidariedade onde mais se recebe que se doa.

por Eloísa Giacomin

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Graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1986, David cursou a resi-dência médica em Infectolo-gia no Hospital Emílio Ribas, realizou estágio em Infec-tologia Pediátrica na antiga Escola Paulista de Medicina (atual Universidade de São Paulo), concluiu mestrado, doutorado e há 13 anos se dedica exclusivamente a atividades na Ufes e no HU-CAM.

Como foi sua vida pro-fissional após a gradua-ção?Sempre tive interesse mui-to especial em doenças in-fecciosas, em especial na microbiologia clínica, área que é bem explorada e prio-rizada na Escola Paulista de Medicina.No início de minha carreira, vivenciei o momento epide-miológico de pico da epide-mia de Aids. Acompanhei a era pré terapia antiretroviral altamente potente e o avan-ço após o surgimento da te-rapia. Os hospitais estavam lotados, com corredores absolutamente ocupados por pacientes. Eram 30 a 40 pacientes a serem passados por plantão, que demorava de 2 a 3 horas. Quando os primeiros inibidores de pro-tease foram usados em SP, os corredores do Hospital Emílio Ribas (USP) simples-mente se esvaziaram em 1 mês. Isso foi uma das coi-sas mais bonitas que nós já assistimos do ponto de vis-ta e saúde pública.q Então,

foi trabalhando por anos na área que me tornei referên-cia em coinfecção tubercu-lose/HIV.

O senhor trabalhou por muito tempo em SP. O que o trouxe para o HU-CAM e para a docência em Semiologia na Ufes?A Ufes sempre foi uma refe-rência em Microbiologia Clí-nica no país e no mundo. Em 1990, foi criado no NDI um laboratório de micobacterio-logia com tecnologias que nenhuma iniciativa pública e pouquíssimas privadas do país possuíam. A coinfecção tuberculose/HIV estava ex-plodindo no país, e precisá-vamos de recursos rápidos para diagnóstico de TB. En-tão, consegui fazer um es-tágio de uma semana nesse laboratório aqui na Ufes em 1993, e gostei muito. Então, o motivo principal pelo qual manifestei interesse de vir para cá é que esse seria o único lugar no país em que eu poderia dar continuidade à minha linha de pesquisa, como de fato o fiz.

De onde surgiu o inte-resse pela Semiologia?Muito simples: eu preci-sava de ter vínculo com a universidade. Não só para minha subexistência, como para meu desenvolvimen-to acadêmico – e esse era o espaço disponível.

Então a docência não foi algo planejado em sua vida?

Eu sempre tive interesse em ser professor, sempre tive in-teresse! Isso, porque consi-dero que a melhor maneira de se assimilar as informações é saber ensinar. Quem sabe explicar domina o assunto. De fato, eu não planejava ser professor de Semiologia, mas existem momentos na vida em que é preciso fazer uma opção. No meu caso, esse era o único espaço dis-ponível na época para ingres-sar na Ufes. É claro que se você me perguntar qual área eu preferiria lecionar, obvia-mente, eu responderia “Mi-

cobacteriologia Clínica”, mas não existe isso em nenhuma universidade do planeta.

E o que te fez escolher a Medicina?Foi pelo fascínio que eu ti-nha, mesmo antes de entrar na universidade, pela rela-ção hospedeiro-parasita. E isso continua me fascinando, apesar de ser um assunto extremamente complexo, que progride muito pouco em relação ao investimento nele. Com certeza esse foi o maior motivo: dominar a relação hospedeiro-parasita.

ANAMNESEUm bate-papo com os mestres

Prof. David: o médico dedicado a um fascínio de infância

por Thaísa Malbar e Eloísa Giacomin

David Jamil Hadad, natural de Juiz de Fora-MG. Médico do HUCAM, preceptor do internato e da resi-dência em DIP e Professor de Semiologia da Ufes, além de pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica. Com sua inconfundível maneira de falar, David nos conta um pouco de sua trajetória profissional e dá conselhos aos estudantes.

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Qual é para você a maior dificuldade de ser médi-co?É o desafio de esclarecer to-das as suas dúvidas no mes-mo dia, nunca deixar uma dúvida para o dia seguinte. Infelizmente, tenho que reco-nhecer que minha carga ho-rária não permite mais isso. Confesso que consigo escla-recer apenas 20% em um mês do quanto eu desejaria. Para mim, essa é a melhor forma de crescer em conte-údo teórico e em habilidade.

E como é a realidade do pesquisador na Ufes?Existe pesquisa básica e clí-nica. Eu sempre realizei a clínica. No país, isso nunca foi uma prioridade, embora tenha crescido muito nos úl-timos 10 anos. A maior difi-culdade é a burocracia entre a submissão do protocolo e sua aprovação. Isso diminui muito a captação de recur-sos. Como trabalhamos com tuberculose, nossos protoco-los têm muito a ver com os da África e China, e nesses países as aprovações são muito mais rápidas, o que os torna mais competitivos para receber financiamentos. Isso sempre foi uma enorme críti-ca no Brasil, e é um grande ônus financeiro e um des-gaste político muito grande.Não posso deixar de mencio-nar que NDI produz um meio de cultura e os fornece para laboratórios locais nos muni-cípios da grande vitória. Há um sistema eletrônico inter-ligando esses laboratórios.

Uma vez observado cresci-mento bacteriano em um desses meios de cultura, eles são encaminhados para o NDI. Então, se há um pacien-te na DIP que tenha passado por um desses laboratórios locais, nós temos acesso a essas informações. Nenhuma capital do país tem essa in-tegração. Isso é a base para triarmos os pacientes para os protocolos que temos aqui. O momento em micobacte-riologia clínica no Brasil e no mundo é único. Hoje, temos um sistema de diagnósti-co molecular em tempo real implantado no SUS em 50% dos municípios prioritários do país. Foi um avanço secular. É muito importante que os clínicos saibam disso, e os alunos têm obrigação de sa-ber. Não há mais motivo para se deixar de confirmar ou ex-cluir diagnóstico de tubercu-lose pulmonar no Brasil. Não há! É algo padrão NASA, um laboratório de biologia mole-cular em um único cartucho.

Nós costumamos te en-contrar aqui em qual-quer horário, seja 7 da manhã, seja 10 horas da noite. Como se di-vidide seu dia-a-dia?Primeiro, a demanda buro-crática de protocolos do CPC é muito grande, esse é um dos motivos pelos quais eu estou tanto tempo dentro do hospital. Segundo, para implantação do teste rápi-do molecular, trabalhei mui-to nos três últimos anos no guia de coleta de materiais

respiratórios, do qual sou co-autor. Pela aprovação de dois protocolos que enviamos ao Ministério da Saúde, fo-mos atendidos recentemente com uma máquina de teste rápido molecular, e em bre-ve ela começará a funcionar.Além disso, com frequência eu avalio os pacientes que fazem coleta de materiais respiratórios; sou responsá-vel pela preceptoria do in-ternato e da residência mé-dica no quarto andar; pela disciplina de Semiologia, com aula teórica, aula prática... Então acho que está explica-do por que eu sempre estou aqui no HUCAM. Se eu não começar muito cedo, as de-mandas não são atendidas.

Para além da vida profis-sional, o que o senhor faz para se divertir?Gosto de fazer muitas coi-sas, em particular no final de semana. Eu sempre gos-tei de esportes, e o que eu mais gosto é a natação, embora não esteja vin-culado a nenhum clube.

E para onde gosta de sair?Gosto muito de ir ao cinema.

Sua família continua em Juiz de Fora? Você volta-ria para lá?Está reduzida a duas irmãs. Uma em JF e outra em Te-rezina. Não voltaria para JF porque lá não seria possível dar continuidade à minha linha de pesquisa. Se eu ti-vesse de fazer outra opção, seria apenas SP ou exterior.

Está tendo um boato, as-sim de que o senhor se des-vinculará da Ufes... [Da-vid solta uma gargalhada] Vou ser bem franco com vo-cês. Estou num ponto da minha vida profissional em que não tenho interesse em retroceder, mas o dia con-tinua tendo apenas 24h, e preciso fazer escolhas. Re-almente, hoje existem ou-tras cidades do país que me oferecem o que Vitória me ofereceu até recentemente, mas é inviável mudar de ins-tituição de forma intempes-tiva. Então, fique claro de que a curto prazo está fora de discussão me desvincular.

Se o senhor pudesse es-colher apenas um conse-lho para os estudantes de medicina, qual seria?Muito simples: treinamento intensivo. Não só no hospital, como nas unidades de saú-de. E, além disso, esclarecer as dúvidas diariamente. Nis-so, concordo integralmente com o Professor Fausto. Com o esclarecimento da dúvida, você consegue assimilar per-manentemente o conteúdo.

Bom, o nome dessa sessão é “Anamnese”, e o senhor insiste muito na neces-sidade de destrinchar a anamnese com os pacien-tes. Poderia comentar um pouco sobre esse exercí-cio?Pedido que nunca foi atendido, para ser ho-nesto, nem no internato! Acredito que o ato médico está muito subestimado, devi-do à praticidade dos exames de imagem e laboratoriais. Eu faço questão de esmiuçar a epidemiologia, pois está claro para mim que na maioria das vezes a anamnese bem feita é capaz de fornecer dados demográficos e epidemioló-gicos que auxiliam muito no diagnóstico. Não faz sentido fazer uma investigação mi-crobiológica sem a epidemio-lógica, e isso é facílimo de tirar na história! É essencial destrinchar fatores de ris-co ocupacionais, habitacio-nais e familiares do paciente.

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Ensinai a todas as pessoas. A referência é bíblica, e, em seu uso original, a expres-são não era qualquer tipo de motivacional utópico; pelo contrário, era uma instrução séria. Não é de se esperar, portanto, que a Universi-dade, ambiente ao qual se atribui – ou, ao menos, do qual se espera – igualmente, seriedade, adote a sentença levianamente. Cientes disso, não poucos retrucarão, cha-mando o lema de fantasioso, inviável. Afinal, o número de vagas para ingressantes na Universidade é essencial-mente limitado, e o acesso à pesquisa científica no meio universitário é ainda mais exíguo. Ora, que credibilida-de se pode dar a uma enti-dade que ostenta um lema aparentemente tão infactível em seu brasão? Bem, conve-nientemente, alguém pode lembrar-se, o ensino supe-

rior público no Brasil é – ou deveria ser – desde a Cons-tituição de 1988, sustentado pelo tripé ensino-pesquisa--extensão. Certamente, não bastarão os dois primeiros, a oferta direta de ensino e a pesquisa, para o cumprimento da máxima latina sob o emblema de Vasco Fernandes Coutinho; resta-nos então a extensão. É ela a viabilizadora de um momento de aprendizado (mútuo) em que os acadêmi-cos levam seus conhecimen-tos a comunidades em sua proximidade. Concordemos, o dístico se mostra agora, no mínimo, menos utópico. Não está satisfeito? Estas úl-timas frases lhe soam como discurso ingenuamente oti-mista? Justo. Portanto, fale-mos francamente de alguns programas de extensão que se destacam no CCS e, em especial, no curso de Medi-

cina, e deixemos a conclusão a seu cargo.

MUSEU DE CIÊNCIAS DA VIDAComecemos pelo Museu de Ciências da Vida, o antigo Museu de Anatomia. Alocado inicialmente no Campus de Maruípe, no prédio do Bási-co I e, depois, no do Básico II, o acervo esteve exposto de novembro do ano passa-do até março deste ano na Galeria de Arte e Pesquisa da UFES. Em seguida, foi apre-sentado no Palácio Anchieta, de 30 de junho a 30 de agos-to, na exposição “Da célula ao homem”. Agora, está à espera de sua instalação em um novo espaço expositivo próprio, no Campus de Goia-beiras. O nascimento do Museu re-monta ao encontro do Prof. Dr. Athelson Stefanon Bit-tencourt com um rico legado

de peças anatômicas prepa-radas pelo antigo professor de anatomia Fernando Mus-so. À época, guardadas no prédio do Básico I, na atual sala das aulas práticas de Embriologia, algumas já se deterioravam, abandonadas pelo formol, e uma mente sensata percebeu que este destino não lhes era justo. Somou-se a isto a demanda observada nas atividades do Projeto Corpo Humano, que ocorria, basicamente, atra-vés de visitas guiadas de alu-nos do ensino médio ao Ana-tômico da UFES. Sucedeu então a preparação de um acervo anatômico que, em setembro de 2007, foi expos-to na II Feira de Ciências de Venda Nova do Imigrante. O sucesso da exposição foi um grande impulso: em 2008, o Museu, sob a idealização do Prof. Athelson, foi registrado na PROEX-UFES.

Docete omnes gentes

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Em seu amadurecimento, o programa sem fins lucrativos vem promovendo a difusão e a popularização do estudo do corpo humano: entre ex-posições permanentes e iti-nerantes, o Museu já recebeu mais de 140 mil visitantes. O seu acervo, como era de se esperar, tem aumentado. Destacam-se aqui a inclusão da peça Músculo Fascinante, um corpo com 289 estruturas anatômicas cuidadosamen-te preparadas, e as recentes réplicas de fósseis de hominí-deos que compuseram a ex-posição itinerante “Evolução Humana”, que só em 2012 recebeu mais de 80 mil visi-tantes.

“No acompanhamen-to das famílias, os estudantes podem ir mais longe, iden-tificando problemas e buscando por so-luções fáceis, ins-truindo sobre plane-jamento familiar e checando se aqueles que devem tomar medicação estão se-guindo o que diz a sua prescrição médica.”

No acervo, a grande novida-de são as peças plastinadas. O método inovador de pre-paração impregna as peças com um polímero, dispensan-do seu acondicionamento em

formol e tem sido posto em prática no laboratório de plas-tinação que está em monta-gem no prédio do Básico II. O Prof. Athelson, coordenador do programa, está à frente na organização da XI Confe-rência Internacional Interina de Plastinação, que acon-tecerá este ano em Vitória.Além do trabalho com a plastinação, o Museu conta, atualmente, com uma série de projetos de extensão vin-culados. Entre eles, estão a capacitação de professores de Biologia e de Ciências do ensino básico, a organização de visitas guiadas para gru-pos estudantis, adaptações na abordagem para pessoas com necessidades especiais e a dissecção e preparação, por acadêmicos, de peças para o acervo. A força motriz de todas essas atividades são professores, técnicos e, é cla-ro, alunos – bolsistas ou vo-luntários – de diversos cursos do CCS e também do Campus de Goiabeiras, afinal o proje-to não é próprio do curso de Medicina.Há, ainda, planos audaciosos para o Museu de Ciências da Vida, alcançáveis através de parcerias e da aplicação de recursos captados ao longo de sua recente existência. É idealizada a sua expansão em um centro de divulgação científica e formação continu-ada que integre as diversas áreas de estudo do corpo hu-mano e afins, de forma ainda inédita no Brasil. Este progra-

ma já arborizado promete dar mais ramos, e, se seu flores-cer é promissor, ainda mais promissoras são as sementes que planta na comunidade al-cançada.

CEPASDediquemos, agora, algu-mas linhas a um programa que viabiliza a relação entre acadêmicos e comunidade de forma bem diferente do su-pracitado: o Centro de Estu-dos de Promoção em Alterna-tivas de Saúde. Paravocê que ainda não sabia, ou já não lembrava, esse é o nome re-presentado pela sigla CEPAS.O programa idealizado pelos conhecidos professores Pedro Fortes e Ipojucan de Almei-da, além de Margarete Rose Sampaio Fortes, Aprígio da Silva Freire e Virgínia Régia Carneiro Sampaio, existe há mais de 30 anos. Tendo sido executado, por alguns anos, em João Neiva, no norte do Estado, passou a atuar há mais de 20 nas redondezas da Rua Caiçaras, em uma zona carente de Jacaraípe, Serra.O escopo geral é conhecido por aqueles que passaram pelo segundo período: àque-les que cursam a matéria de Sistemas de Saúde é ofertado participar do programa, e os que optam por isso visitam casas da região e auxiliam famílias com diferentes níveis de fragilidade social e econô-mica na promoção de saú-de, com instruções básicas

sobre higiene, alimentação e hábitos de vida saudáveis. No acompanhamento das fa-mílias, os estudantes podem ir mais longe, identificando problemas e buscando por soluções fáceis, instruindo sobre planejamento familiar e checando se aqueles que devem tomar medicação es-tão seguindo o que diz a sua prescrição médica. Além disso, a sede do pro-grama abriga, entre outros, uma biblioteca, uma sala de informática, uma sala de aula para reforço escolar e um refeitório. As famílias in-teressadas também podem contribuir cozinhando ou aju-dando na limpeza da sede em troca de cestas básicas que o programa recebe através de doações – basicamente, o estoque é mantido pela ar-recadação do Trote Solidário. Ademais, reuniões mensais informam adultos da região sobre temas pertinentes à saúde. Elas são organizadas por monitores, alunos que participaram do CEPAS no segundo período e optaram por continuar, ajudando na instrução dos estudantes que entram e saem a cada se-mestre.Ora, isso, como foi informa-do, é o escopo geral. Anu-almente, ocorrem eventos especiais, são recebidos in-tercambistas universitários, e, acima de tudo, o potencial do programa se estende na medida do interesse dos par-ticipantes.

PASSADOEm 1997, 1998 e 1999 foi eleito pelo Congresso Brasileiro dos Estudantes de Medicina (COBREM) como o melhor progra-ma de extensão do Brasil na área da saúde.

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Aliada à chance de aju-dar moradores da região, a oportunidade de aprendiza-gem viabilizada aos acadê-micos é o grande motivador. Sob a óptica de quem par-ticipa do programa: o mero lidar com os membros da comunidade carente, inicial-mente sob a orientação de um monitor, já é um passo no desenvolvimento dessa habilidade – a de lidar com pessoas. A prática em cole-tar informações e associá--las ao que se vê, o contato com diferentes realidades e dificuldades, a necessidade de estar ciente dos métodos de prevenção e tratamen-to de quadros patológicos encontrados com frequên-cia nas visitas provocam a necessidade de estudar mais, instigam à pesquisa. Que ninguém seja iludido: frequentemente, deparamo--nos com famílias que não podemos ajudar tanto quan-to gostaríamos, ou quanto sentimos que devemos, e a frustração é grande. Em ou-tros casos, tem-se a impres-são de que pouco se apro-veita a ajuda dada. Mas, antes de sucumbir ao senti-mento de impotência, orien-tam-nos a perceber que o que foi feito, a despeito de parecer pouco, é, amiúde, bastante. Ajudamos como podemos e aprendemos a

lidar com (1) o limite da aju-da que podemos oferecer, esforçando-nos, na medida do possível, para estendê--lo, e com (2) a variabilidade na aceitação das instruções, tendo em mente a importân-cia de se convencer àqueles a quem se quer orientar. Em suma: há muito a se apren-der em ambos os lados.Ainda assim, por semestre, poucas vezes a quantida-de de alunos participantes passa da metade dos inscri-tos na matéria de Sistemas de Saúde. Por quê? Bom, sem dúvida, dedicar uma parte da tarde (das 14h às 17h) de cinco sábados ao longo do semestre tem al-gum peso, soma-se a isso o deslocamento até Jacaraípe e, claro, há sempre outras razões pessoais. Muitos se perguntam se vale realmen-te à pena. Parece, no míni-mo, cansativo.Novamente, do ponto de vis-ta de quem participa do pro-grama: acordar no sábado, sabendo que uma ida a uma zona carente sob o sol de Jacaraípe o aguarda não é, em primeira instância, ani-mador, sobretudo quando o trajeto fica a cargo do trans-porte público. Chega-se ao Loteamento das Laranjeiras – e a motivação não chega. É necessário caminhar pelas ruas, por vezes tortuosas,

com calçadas curtas e ocu-padas pelas vizinhas que papeiam, pelo sujeito que lava o carro e pelas crianças que correm de um lado para o outro, para chegar até a casa destinada. Checam-se, novamente, as últimas ano-tações na ficha de cadastro da família. Bate-se à porta. Nada. Batem-se palmas, “Ô de casa!”. Alguém chega e abre a porta, e, convenien-temente, junto com o sor-riso receptivo de quem tem a casa aberta pros meninos do CEPAS, chega a motiva-ção necessária pra se pas-sar uma tarde, de visita em visita, sob o céu nem tão ensolarado de Jacaraípe.Infelizmente, há carências que essa motivação não tem suprido. Há pouco pessoal, e melhoras estruturais se-riam bem-vindas. O núme-ro reduzido de monitores acarreta sobrecarga de tra-balho e, logicamente, limita a expansão das atividades. Como aumentar esse nú-mero? O maior interesse dos universitários bastaria pra resolver esse proble-ma, não? E se eles não es-tão suficientemente inte-ressados, qual o porquê? O que pode ser feito quanto a isso? Quanto à estrutura: como já mencionado, o es-toque depende do sucesso das arrecadações no Trote

Solidário. Pouca arrecadação significa escassez no fim do semestre. Luz, água e tele-fone são supridos por verba universitária, e o restante... bom, tão melhor será, quan-to maior for o investimento. Mas de onde ele virá?PADPor último descrito, mas não menos importante, destaca--se como projeto de exten-são do Centro de Ciências da Saúde da UFES, o Projeto de Assistência Dermatológica aos Lavradores Pomeranos no Espírito Santo, também conhecido como PAD, ou “viagem da dermato”, entre os acadêmicos de muitas ge-rações.A iniciativa não é recente, e partiu do dermatologista do Hucam e professor da UFES Dr. Carlos Cley Coelho. Du-rante a década de 1980, no Serviço de Dermatologia do próprio hospital, Dr. Carlos percebeu aumento constante na frequência de câncer de pele entre lavradores pome-ranos do interior capixaba. Conhecendo a realidade des-sa população à época, cons-tatou que apenas pequena parcela tinha condições de viajar a Vitória e ser aten-dida. Assim, para a maioria, permanecia a falta de acesso a um serviço adequado. De posse dessas observações, ele deu início ao PAD, em 27 de setembro de 1987.

Equipe participante da última viagem do PAD, que ocorreu entre 31/07 e 02/08 na localidade de Crisciúma/Laranja da Terra. Foram realizados um total de 248 atendimentos, 316 crioterapias, 6 shavings com eletro-cauterização e 44 cirurgias.

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O projeto consiste em uma parceria entre a Universida-de, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, por meio do Albergue Mar-tim Lutero, que desde 1984 presta serviço de apoio aos membros que precisam de cuidados médicos, a Secre-taria de Estado da Saúde e as prefeituras municipais das localidades beneficiadas. O PAD nasceu no intuito de percorrer o Espírito Santo levando a oportunidade de pessoas conhecerem para prevenir e, se necessário, para tratar o câncer de pele e as lesões pré-neoplásicas. O grupo alvo do projeto são os lavradores pomeranos, pessoas de pele clara que em virtude da grande exposição ao sol e do pouco uso de pro-teção solar são população de alto risco de desenvolvimen-to de câncer.Durante as viagens, cerca de 50 participantes, dentre médicos, enfermeiros, aca-dêmicos, técnicos de enfer-magem e equipe de saúde local, trabalham na assis-tência e conscientização da população sobre os riscos da exposição excessiva ao sol, e fazem procedimentos de acordo com a indicação. No primeiro momento, os dados dos pacientes são colhidos e uma pequena consulta é feita, com exame físico der-matológico. O primeiro pas-so é feito pelos acadêmicos, dentre eles a Grazielly Coser de Assis, que está no 7º pe-ríodo e foi à sua primeira via-gem no último dia 31/07. Ela

destaca a importância dessa etapa do projeto: “Os pa-cientes podem não perceber uma possível lesão de pele pois, às vezes, a pele muito branca dificulta o reconheci-mento. Aqui eles têm a opor-tunidade de serem vistos por médicos e acadêmicos”. Na última viagem, que teve como destino Crisciúma/La-ranja da Terra, participaram os dermatologistas Carlos Magno Pellegrini, Tânia e Telma Macedo, realizando a triagem final. Eles são responsáveis por indicar o procedimento terapêutico adequado, podendo ser crio-terapia, eletrocauterização ou cirurgia. Os procedimen-tos cirúrgicos também são realizados pelos acadêmicos, sob a supervisão de dois ci-rurgiões plásticos, Luiz Fer-

nando Barros e Patrícia Lyra. Em casos complexos, o pa-ciente é encaminhado para tratamento no HUCAM.Por que o projeto é útil para as populações do interior? Essa pergunta é fácil de ser respondida quando observa-mos os arredores do hospital e constatamos a quantida-de de veículos de prefeitu-ras do interior capixaba. Os profissionais do HUCAM são referência em todo o estado. E na dermatologia não é di-ferente – faltam recursos no interior, levando os pacien-tes a procurarem os grandes centros. Dessa forma, o pro-jeto percorre cidades e pro-move assistência em massa a esses cidadãos - que po-dem obter com a projeto a única chance de receber um atendimento dermatológico.Sendo um projeto de uma universidade federal, os aca-dêmicos participantes tam-bém são beneficiados. Trata--se de um treinamento, fora dos limites das enfermarias e ambulatórios, dos conceitos e habilidades em semiologia, com enfoque dermatológi-co e também nas pequenas cirurgias. Acompanhando a vida do médico em formação e por toda a carreira, tam-bém, a relação médico-pa-ciente é posta em prática, como ressalta a monitora In-grid Filetti, do 8º período: “É

uma oportunidade de conta-to com uma diferente cultu-ra, e até um desafio, pois há pacientes que sequer falam português e a consulta deve ser realizada na presença dessas dificuldades”.O projeto ocorre mensal-mente, visitando uma região diferente do estado a cada viagem. Os alunos de Medi-cina podem participar a par-tir do sétimo período, e são acompanhados por monito-res e professores nas etapas do atendimento. A cada saí-da, 10 vagas são reservadas para os alunos que já viaja-ram alguma vez e 05 vagas para os de primeira viagem. Esse projeto de extensão, além de contribuir para a for-mação médica do estudante, vale pontos para a prova de residência. Mas atenção, so-mente ao final de um míni-mo de 5 viagens (totalizando 250 horas de carga horária) os certificados são disponi-bilizados. O número máximo de viagens que o acadêmi-co pode realizar pelo proje-to são doze e, claro, a cada uma delas sua experiência aumenta e será convertida na qualidade profissional.

por Rafael GonçalvesMendes e Érico Induzzi

Procedimento de crioterapia

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Estudos da OMS (Organiza-ção Mundial de Saúde) apon-tam que, a nível mundial, são três mil e quinhentas vidas perdidas por dia em aciden-tes de trânsito. Sendo essa a principal causa de morte en-tre jovens de 10 a 24 anos. O Brasil aparece em quinto lugar entre os países recor-distas em mortes no trânsito. Frente a essa alarmante rea-lidade, nasceu o movimento Maio Amarelo, com a propos-ta de chamar a atenção da população para esses altos índices. Inspirado no evento do câncer de mama, o Outu-bro Rosa, o Maio Amarelo é uma ação coordenada entre o Poder Público e a socie-dade civil. Diversos eventos ocorreram por todo o Brasil durante o mês de maio: pan-

fletagens, ações educativas, caminhadas. O objetivo é re-duzir o trauma, que em 95% dos casos pode ser evitado, caso haja maior prudência dos motoristas frente aos cin-co principais fatores de risco: dirigir sob o efeito de álcool, exceder o limite de velocida-de, não utilizar o capacete, o cinto de segurança e as ca-deirinhas apropriadas para cada idade da criança.Destacou-se entre as ações o Simulado Nacional de Aten-dimento à Múltiplas Vítimas de Trauma, organizado pela SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Trauma) com o objetivo de promover a integração e o treinamento das equipes de atendimento pré-hospita-lar que envolvem múltiplas vítimas. Ocorreu no dia 02 de

maio, simultaneamente em vários estados brasileiros, e foi apoiado por diversos ór-

gãos do ramo, dentre eles: SAMU, CoBraLT (), Observa-tório Nacional de Segurança Viária, Corpo de Bombeiros, além das ligas acadêmicas de Medicina: LAITE, LACATES, e LIACC.E não acaba por aí! O movi-mento é “Maio Amarelo”, mas possui agenda temática com ações para o ano inteiro. Em junho, o foco foi em “estacio-namento e parada”, em julho “caminhões e motociclitas”. A proposta do mês de agosto é focar nos condutores e nas bicicletas. Se quiser saber mais e inclusive participar das ações, é só acessar o site logo abaixo.

por Júlia Martins Brunelli e Thaísa Malbar Rodrigues

Maio Amarelo:atenção pela vida

SAIBA MAIS:http://maioamarelo.com/

Treinamento de equipes de atendimento pré-hospitalar envolvendo múltiplas vítimas.

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O Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES) vem, por meio desta, explicitar sua preocupação com a notícia veiculada pela Reitoria desta Uni-versidade sobre a abertura de novas vagas para o curso de Me-dicina e a criação de um novo curso no campus de São Mateus. Essas medidas fazem parte da estratégia de reestruturação do atendimento médico no país, iniciada após a implantação da Lei do Mais Médicos pelo Governo Federal em 2013. Desde en-tão, observa-se uma corrida contra o tempo para alcançar os objetivos propostos pela lei, cujo prazo vai até o ano de 2018.Ressaltamos que o DAMUFES, na condição de representan-te da comunidade discente do curso de Medicina da UFES, não é contrário à abertura de novas vagas ou à criação de um novo curso. No entanto, somos desfavoráveis à manei-ra desenfreada e inconsequente como essas medidas têm sido tomadas, sem discussão e planejamento adequados, com as quais os alunos acabam entregues à própria sorte.Hoje, o Centro de Ciências da Saúde (CCS) vive uma situ-ação quase caótica. As salas de aula são insuficientes, não temos um espaço de vivências e a urbanização do centro é precária. Os docentes não possuem incentivos de carrei-ra e, assim como os servidores técnico-administrativos, não têm condições adequadas de trabalho. Com isso, apesar do número insuficiente de professores, muitos dos concursos abertos para seleção de novos profissionais não recebem sequer uma inscrição. Além disso, o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) enfrenta graves proble-mas estruturais e já não comporta o atual número de estu-dantes em seus espaços de prática. E isso é só o começo.Em 2009, após a estratégia de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), iniciou-se a abertura de novos cursos de graduação no CCS. Entretanto, tais cursos iniciaram suas atividades sem uma estrutura mínima de docentes, salas de aula e laboratórios de prática. Hoje, após todo esse tempo, pouca coisa mudou, vide o exemplo da Clínica Escola, o prédio de aulas práticas dos referidos cursos, que ainda não foi finalizado.No Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES), onde se cogita implantar um curso de Medicina, a situação é ainda mais caótica. Segundo relatos de alunos deste cam-pus, a estrutura existente hoje não é adequada nem para os atuais cursos lá lotados. Faltam salas de aula, os cená-rios de prática para os diversos cursos são deficientes e

muitas obras estão paradas há anos, como por exemplo, a do Anatômico, espaço fundamental para o início das ativi-dades de um curso de Medicina. Outro ponto preocupante é a questão do Sistema de Saúde local, que sequer com-porta em seus campos de prática os atuais alunos da área da saúde. Assim sendo, questionamos: qual seria a quali-dade de um curso de Medicina implantado em tal cenário?Essa falta de gestão e de planejamento, típica do populismo, leva a uma inversão de prioridades ao se implantar um pro-jeto, e é o que nos preocupa quanto a essas novas possibili-dades para o curso de Medicina. Preocupa-nos porque preza-mos pela qualidade do curso e porque queremos que a UFES continue a ser reconhecida nacionalmente pela qualidade do profissional médico aqui formado. De nada adianta inserir no-vos alunos na Universidade com o objetivo de obedecer às de-mandas unilaterais do Governo Federal se isso coloca em xe-que a qualidade do curso e do profissional que será formado.Os atuais 256 cursos de Medicina do Brasil oferecem, por ano, quase 23 mil novas vagas – no mundo, apenas a Ín-dia supera essa quantidade, com 381 escolas. Desse total, 17,5% recebeu nota dois, leia-se “insatisfatório”, no Concei-to Preliminar de Curso (CPC), um indicador de qualidade das graduações. Isso corrobora com a ideia amplamente veicu-lada de que a solução para os problemas da saúde brasileira não decai na simples criação de mais vagas e de novos cur-sos, mas sim na reestruturação do sistema público de saú-de, com aumento do financiamento, valorização dos profis-sionais e criação de uma carreira de Estado, por exemplo.Dessa forma, finalizamos deixando nosso desejo de que a gestão desta Universidade aja de forma consciente e planeja-da, pautada na qualidade do ensino e não em mero ‘eleitora-lismo’. Além disso, que as medidas sejam tomadas de forma acertada, primeiro criando-se os meios para depois alcança-rem-se os fins. Tudo que é feito fora dessa ordem causa mais dano que benefício, como inúmeros exemplos nos mostram. Por fim, acreditamos que esta seja uma discussão que deva ser ampliada e levar em consideração a opinião de toda a co-munidade acadêmica, de forma que nos colocamos à disposi-ção para melhor esclarecer a realidade do curso de Medicina.

Saudações estudantis,DAMUFES – Gestão 2015

NOTA SOBRE AABERTURA DE NOVASVAGAS NO CURSODE MEDICINA DA UFES

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MEDICINA SOCIALA coluna social do Jornal RAIO-X

A rotina dos nossos acadê-micos de Medicina esteve mais movimentada que o normal nesse primeiro se-mestre. Tudo por conta de três competições esportivas que aconteceram dentro e fora da Universidade: o Inter-med, a Copa UFES e os Jo-gos Capixabas de Medicina. Dentre as três, o Intermed se destacou por propor dis-putas apenas entre alunos do curso, o que trouxe à tona a paixão que o jogador e o tor-cedor sentem pela turma da qual fazem parte.Com times formados desde as turmas do básico até os residentes, o Intermed 2015 contou com 12 diferentes equipes, sendo oito mascu-linas e quatro femininas. Os jogos começaram no primei-ro fim de semana de maio e seguiram até julho. Tanto para a organização do evento quanto para a torcida, a com-

petição foi considerada muito acirrada, principalmente en-tre as equipes do masculino. Do feminino, a grande cam-peã foi a turma 91 que, de acordo com Lucas Marques, envolvido com a organização do evento, “foi um grupo que revelou talentos que farão bonito nas OREM”. A final dos jogos masculinos, por conta

das férias de julho, ainda não aconteceu, mas em pouco tempo saberemos a identida-de da grande campeã.Organizado pela Associação Atlética Acadêmica da Medi-cina UFES, o Intermed fun-ciona como grande estimula-dor da prática de atividades esportivas, o que muito be-neficia o corpo discente do

curso, acostumado à rotina de estudos intensa e mental-mente cansativa. A equipe do Raio X parabeniza todos os empenhados atletas MedU-fes, em especial as meninas da turma 91.

por Joilton Tavares

INTERMED

Aconteceu na noite de 16 de maio, na sede social do Clube Álvares Cabral, a MEDFEST, a calourada de Medicina da UFES. O evento teve como objetivo recepcionar a turma 96, que ingressou na univer-sidade no início do ano. O Grupo Curtissamba ficou responsável por iniciar as co-memorações na grande fes-ta, que contou ainda com a presença do sertanejo Allan Venturim, e a mistura de funk com o eletrônico do Funk da House. Em meio a tantas atrações, ocorreu o tradicio-nal batismo dos calouros, com a participação dos for-mandos da turma 85. Nesse clima de orgulho, a “reza” da MedUfes foi entoada por toda área social do clube. Fechan-do a noite, a Bateria da Escola de Samba Independentes da Boa Vista embalou o público com a qualidade do samba

capixaba, e encerrou em alto estilo a festa que nos elevou ao patamar de maior calou-rada de Medicina do estado. O sucesso da festa, que teve

seus ingressos esgotados, é fruto da integração inédita da assessoria de eventos do Diretório Acadêmico com o Produtor Vagner Lopes, além

do patrocínio do Steffen Cen-tro de Eventos, e da Com’art Formaturas.

por Julia Martins Brunelli

MEDFEST

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A criação de uma Atlética do curso de Medicina teve como objetivo não apenas despertar o interesse dos acadêmicos pelo esporte e melhorar a participação da Ufes em competições, mas também de se gerar uma tradição no curso e ofere-cer uma prática esportiva regular, cujos benefícios são uma maior interação entre a comunidade acadêmica e uma opção de lazer diante da agitada rotina de estu-dos. Não é difícil notar que

a Atlética ganhou, em tão pouco tempo de vida, uma identidade forte e uma es-trutura organizada. A defini-ção de um novo mascote, o Chapolin Colorado, está di-retamente relacionado com essa identidade. É notável, por exemplo, o marketing que tem sido feito em torno da figura dele. Quem acom-panha o perfil no Facebook (“Chapola MedUfes”) pode observar a forma descontra-ída na qual o mascote con-versa com os acadêmicos,

publicando as novidades da atlética, os quadros de jogos, os resultados e até homenageando os atletas. Porém, por trás de toda essa descontração, há o trabalho respeitável dos membros da Atlética. Quem acompanha-va de perto a situação es-portiva do curso, observava que o material para a práti-ca era, muitas vezes, inutili-zável – havia bolas furadas

e uniformes antigos. Agora, através de parceria com a 100% Eventos, foram ad-quiridos novos uniformes e novos instrumentos para a bateria. Somado aos re-cursos do próprio Diretório Acadêmico, a MedUfes ad-quiriu também novas bolas, bandeirão, investiu e finan-ciou a fabricação de produ-tos oficiais da Atlética.

A grande novidade que a Atlética trouxe foi a implan-tação dos treinos regulares em diversas modalidades durante todo o ano. Hoje, existem treinos de futsal, basquete, handebol, vôlei, natação, bateria e líderes de torcida – alguma destas treinadas pela primeira vez a partir deste ano. Aliado a isso, a Atlética oferece con-dições adequadas para que estes treinos ocorram: há quadras esportivas, novos uniformes e materiais.O treino de handebol, por

exemplo, é ministrado por um treinador e acontece to-das as terças-feiras, a partir das 18h30, em uma quadra localizada no bairro Repúbli-ca. A natação, por sua vez, conta com toda a estrutura do Centro Aquático do cam-pus de Goiabeiras da Ufes, além de um professor que prepara um treino específi-co para cada atleta.Já o treino de futsal mas-culino acontece todas as sextas-feiras no Centro de Educação Física e Despor-tos, no campus de Goiabei-

ras. Hoje, essa modalidade possui aproximadamente 20 atletas treinando e os resultados deste time já fo-ram observados, em curto prazo, na Copa Ufes – que aconteceu nos meses de maio e junho –, na qual a

Medicina obteve um exce-lente desempenho.A grande novidade fica por conta da bateria. Os treinos acontecem aos domingos, às 16h00, na quadra da es-cola de samba Jucutuquara.

A partir de agora, todos os esforços da Atlética estão mirados no OREM. Este ano, a competição acontece entre os dias 8 e 12 de outubro na cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro. O evento tem como atrações confirmadas DJ Malboro, Valesca, Mono-bloco, Molejo, entre outras.

Com todas as novidades e os preparativos que tem sido feitos, espera-se que a Ufes chegue aos jogos com uma delegação maior e tenha uma participação mais séria e competitiva dentro dos es-portes.

por Brener Nogueira

TREINOS REGULARES

OREM

OS PRIMEIROS PASSOS DO

GIGANTESAIBA MAIS:http://atleticamedicinaufes.webnode.com/

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HEMOCULTURA

NOTAS DE HISTÓRIA

A Medicina guarda profundas relações com as artes e, den-tre elas, a música exerce pa-pel de destaque. Seja no au-xílio terapêutico, por meio da musicoterapia, seja quando considerado seu papel históri-co, de uma forma ou de outra ela se encontra representada no cotidiano médico. Sons cardíacos ritmados podem ser escritos em compassos, enquanto que sua desarmo-nia é prontamente percebida por leigos, tanto em Medici-na quanto em teoria musi-cal – que nesse caso apenas codifica o que qualquer ou-vido detectaria inconstante. Tais sons, nos dias de hoje, são auscultados por este-toscópios. O inventor de seu protótipo, o médico francês René Laennec (1781-1826) descreveu o que lançou as bases de sua descoberta na publicação “De l’Auscutation Médiate”, datada de 1819:

“Em 1816, eu fui consulta-do por uma jovem mulher com sintomas de uma doen-ça cardíaca, e nesse caso a percussão, bem como a apli-cação da mão, eram de pou-ca serventia, em virtude do grande grau de adiposidade da paciente. O outro méto-do chamado escuta direta era inadmissível, tendo em vista a idade e o sexo dela. De repente, me lembrei de um simples e bem conhecido fato em acústica, a grande nitidez com que se ouve o ar-ranhar de um pino em uma extremidade de uma peça de madeira ao aplicar o nosso ouvido no outro lado. Então, eu não só solicitei um lami-nado de papel em uma espé-cie de cilindro, como também apliquei o final do mesmo na região do coração e a outra

extremidade no meu ouvido, e fiquei surpreso e satisfei-to ao descobrir que eu po-dia, assim, perceber a ação do coração de uma maneira muito mais clara e distinta do que se eu alguma vez tivesse sido capaz de fazer isso pela aplicação imediata do meu ouvido.”

Mas o que a invenção desse instrumento guarda de rela-ção com a música?René Laennec utilizou de conceitos básicos de acústica para otimizar a captação dos sons provenientes do precór-dio. E além de médico, era também um exímio flautista. “Partindo de seu instrumen-to musical realizou algumas modificações no seu invento, sobretudo no fato de, sen-do a flauta um instrumento oco e desmontável, além de ter uma excelente sonorida-de, levou da flauta algumas propriedades para sua nova descoberta. E o estetoscópio ficou sendo um instrumento oco, constituído de três ou quatro peças que se encaixa-vam, tal como a flauta, que se foram modificando até os

dias atuais, sendo substituí-do pelos aparelhos eletrôni-cos tão em moda no dias de hoje.” Retratou Ildo Simões Ramos, médico baiano.A flauta é um instrumento su-blime, com o qual é possível expor qualquer sentimento na execução de uma obra. Todas as variáveis que confe-rem a expressividade da qual a música tanto necessita são manejadas por nobres partes e mecanismos: o toque dos dedos, o toque dos lábios e a respiração. E com essa tría-de utilizamos o ar - aquecido pelo sangue e que nos man-tém vivos - para produzir som e para produzir e desencade-ar emoções. Uma árdua ba-talha, onde doa-se um pouco de si, do seu ar, do seu calor, do seu sentimento. Rendendo tributo ao principal flautista brasileiro, Altamiro Carrilho, cito sua resposta ao noticiá-rio Bom Dia Brasil, da Rede Globo, em 2008, quando questionado sobre o fôlego que ainda possui: “O segredo do meu fôlego é a paixão que eu sinto pela música”. Altami-ro Carrilho faleceu em agosto de 2012 tendo gravado mais

de cem discos nos quais ex-põe seu talento, considerado por Jean-Pierre Rampal, flau-tista francês dono do título “o homem da flauta de ouro”, o melhor do mundo.Quanto a Laennec, mesmo que desacreditado, por mui-tas vezes criticado e menos-prezado por professores ca-tedráticos da escola britânica, ele persistiu no seu invento. Hoje recebe reconhecimento mundial, não somente pela contribuição material, mas também por despertar o es-pírito da observação científi-ca.Alguns dos principais flautis-tas do Brasil e do mundo:Brasileiros da música po-pular: Altamiro Carrilho, Co-pinha, Benedito Lacerda, Pa-tápio Silva, Pixinguinha.Brasileiros da música eru-dita na atualidade: Leo-nardo Winter, Lucas Robatto, Maurício Freire, Renato Kima-chi, Rogério Wolf.Estrangeiros: Emmanuel Pahud, James Galway, Jean--Pierre Rampal, Michel De-bost, Pierre-Yves Artaud.

por Érico Induzzi

René Laennec examinando um garoto utilizando um estetoscópio, em ilustra-ção realizada por Robert A. Thom (1960)

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VERBORRAGIA

A seção Verborragia publica artigos escritos por alunos e ex-alunos de Medicina da UFES.As opiniões aqui divulgadas não necessariamente condizem com a opinião do Jornal.

E agora, interno?O paciente chegou,O elevador quebrou,

O staff sumiu,O ponto cruzou,E agora, interno?E agora, você?

Você que é sem nome,Que segura a vesícula,

Você que faz altas,Que admite, evolui?E agora, interno?

Está sem marmita,Está sem seu sábado,Está sem paciência,Já não pode beber,Já não pode sair,

Namorar já não pode,O seu plantão bombou,

O dia já veio,O colega não veio,O exame não veio,

Não veio a medicação,E tudo fu***,

E tudo desandou,E tudo é culpa sua,E agora, interno?

E agora, interno?Sua visita sem fim,

Seu procedimento roubado,Seu exame adiado,

Seu laudo para discutir,Seu sangue coagulado,Seu paciente parado,

Seu MELD não calculado,Seu ódio – e agora?

Com o prontuário na mão,Quer ir almoçar,

Acabou o horário;Quer estudar quando chega em casa,

Mas acaba dormindo no sofá;Quer ir pra academia,

Mas não consegue nem andar.Interno, e agora?

Se você pesasse,Se você medisse,

Se você percutisse,Se você palpasse,Se você aferisse,

Se você martelasse,Se você encaixasse...

Mas você não faz,Você é mole, interno!

Sozinho no corredorQual bicho-do-mato,

Sem perspectiva,Sem um canto qualquer,

Para se encostar,Sem um reconhecimento,

Que faça a diferença,Você marcha, internoInterno, para onde?E agora, interno?

O paciente chegou,O elevador quebrou,

O staff sumiu,O ponto cruzou,E agora, interno?E agora, você?

Você que é sem nome,Que segura a vesícula,

Você que faz altas,Que admite, evolui?E agora, interno?

Está sem marmita,Está sem seu sábado,Está sem paciência,Já não pode beber,Já não pode sair,

Namorar já não pode,O seu plantão bombou,

O dia já veio,O colega não veio,O exame não veio,

Não veio a medicação,E tudo fu***,

E tudo desandou,E tudo é culpa sua,E agora, interno?

E agora, interno?Sua visita sem fim,

Seu procedimento roubado,Seu exame adiado,

Seu laudo para discutir,Seu sangue coagulado,Seu paciente parado,

Seu MELD não calculado,Seu ódio – e agora?

Com o prontuário na mão,Quer ir almoçar,

Acabou o horário;Quer estudar quando chega em casa,

Mas acaba dormindo no sofá;Quer ir pra academia,

Mas não consegue nem andar.Interno, e agora?

Se você pesasse,Se você medisse,

Se você percutisse,Se você palpasse,Se você aferisse,

Se você martelasse,Se você encaixasse...

Mas você não faz,Você é mole, interno!

Sozinho no corredorQual bicho-do-mato,

Sem perspectiva,Sem um canto qualquer,

Para se encostar,Sem um reconhecimento,

Que faça a diferença,Você marcha, internoInterno, para onde?

E agora, interno?por Mateus Caprini Cremonini