15
Capítulo 2 A Mo tiva ção Se gu nd o as Pe rs pectivas Histórica e Contemporânea AS ORIGENS FILOSÓFICAS DOS CONCEITOS MOTIV ACIONAIS A VONTADE: A PRIMEIRA GRA NDE TEO RIA I  NSTINTO:  A SEGU  NDA  GRANDE TEORI A IMPULSO:  A TERCEIR A  GRANDE  TEORIA A Teor ia do  Impulso de Freud A Teoria  do  Impulso Segundo  RuI! O D eclín io da  T eor ia do Imp ulso Os  Anos  Poster ior es  à  T eoria  do  Impulso A Natureza  Ativa  da Pessoa A R evoluç ão Cognitiva A Pesquisa  Aplicada  e  de  R elencia Social A ERA  CONTEMPOR Â  NEA DAS MI  NITEORIAS O Retorno dos  Estudos  dâ  Motivação  nos anos  1990 CONCLUSÃO RESUMO LEITUR AS  PAR A ESTUDOS ADICIO  NAIS Talvez você já  tenha visto o f ilme De  V olt a para  o Futur o,  estr e- lado por Michael J.  Fax.  O protagonista  dessa história  pilota  um carro que funciona  como uma  máquina do tempo capaz  de trans-  portar  s eus passageiros  de volta  à década de 1950. Se peg ássemos uma carona nesse carr o, podeamos  deixar Michael 1. Fax andando de sk ate  na s ruas de sua cidade e vivendo sua aventur a,  enquanto visitaríamos  uma univer sidade local para ver como er am os  cur sos sobre motivação dados no ensino superior daquel a  época. Além das  meias soquet e e  dos  cortes  de cab elo en gr açados das estud antes ,  o que nos  chamaria a  atenção em um cur so unive rsitá rio sobre e sse  assunto  seria  a falta de um livro-texto. O primeiro livro -texto  sobr e mot iva çã o vei o sur gir apen as  em 1964 (Cofer & Appley,  1964) .  Outro item a nos  chamar a at enção seria a ementa da disciplina.  A folha  rnimeograf ada da eme nta mencionaria  tópicos  como  a teoria  do impulso,  o incentivo  e  o reforço,  impulsos  adquiridos,  conflito e e moç ão. Mas,  por mais que procurássemos  na ementa,  não encontr aamos  nada de real- mente inter essa nte sobre co mo ap licar a mot iva ção - não ha veria nada  so  bre motivação nas esc ola s,  na ps icolo gia espor tiva,  no trabalho,  no tr atament o da obesidade e na apl ica ção de die tas , nas  crenças de controle pessoal,  e assÍn! por diante.  Entretanto,  o curso pro vavel mente incluiria conc eitos psica n alític os e d e au to- atualização  -  com uma se mana de es tudo s  dedicada  a Fr eud e outra a Masl ow. També m haveria uma sema na dedicada a ativi- dades de  l aboratório .  Cada  aluno ficaria com um rato,  no qual estudaria efeitos de mani  pulações ,  como, por exemplo ,  a influ- ência que um período de 24 horas de privação de alimento exer - ceria  sob r e  a velocidade  da cobaia  ao c orr er  para uma  c aixa cheia de sement es de gira ssol.  E, a  pós entrar novamente na máquina do tempo de  De Lor ean e r  etomar  ao presente,  você  pr ovavelment e concordar ia  em que o estudo da motivação mudou e se a  perfei - çoou mais ainda do que  os  cortes  de  cab elo  e a  moda. AS ORI GENS FIL OSÓFIC AS DOS CONCEITOS MOTIV ACIONAIS E se nossa tecnologia  de f icçã o cient ífica fize sse você voltar 100 anos  no tempo,  você  s impl esmen te não encontr aria  nenhum cur so de motivação,  uma vez que esses  cur sos (e t amb ém o pr óprio campo da moti vão ) têm uma história  re ce nt e - de meno s  de um século. As  r aízes  do estu do da  motivão devem su as  origens  aos antig os greg os  - Sócrates ,  Platão e Aristótel es. Plat ão (que foi discí  pulo de Sócrate s)  propôs  que  a  motivação  surgia  de uma alma (ou mente ,  ou ps iqu e) dis pos ta seg und o um a  hierarquia tripartida.  No ní vel mais primitivo,  encontrava-se o as  pecto do apeti te da alma ,  que cont ribuía par a  os  ape tites corpo ra is e os desejos,  tais  como a fome e o  s exo.  No  segu ndo vel,  situava- se o aspecto compet itiv o, que contri buí a p ara os padr ões social - mente r eferenciados,  como a s ensação de honra e de vergonha.  No nível mais elevado estava o aspecto calculista,  que contribuía  para as capacidades  de to mad a de deci são,  tais como  a ra zão e a escolhá.  Para Plat ão,  esse s trê s aspec tos dif erente s da alma motivavam dife rente s  domínios  de comportame nto. Além dis so,

Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 1/14

Capítulo

 2A Motivação Segundo as Perspectivas Histórica

e Contemporânea

AS ORIGENS FILOSÓFICAS DOS CONCEITOS

MOTIV ACIONAISA VONTADE: A PRIMEIRA GRANDE TEORIA

I NSTINTO:   A SEGU NDA   GRANDE TEORIA

IMPULSO:   A TERCEIR A   GRANDE   TEORIA

A Teor ia do Impulso de Freud

A Teoria   do Impulso Segundo   RuI!

O Declínio da Teor ia do Impulso

Os Anos   Poster ior es   à  Teoria   do Impulso

A Natureza   Ativa   da PessoaA R evolução Cognitiva

A Pesquisa   Aplicada   e de R elevância Social

A ERA   CONTEMPOR Â NEA DAS MI NITEORIAS

O Retorno dos Estudos   dâ Motivação   nos anos   1990

CONCLUSÃO

RESUMO

LEITUR AS   PAR A ESTUDOS ADICIO NAIS

Talvez você já tenha visto o f ilme De V olt a para  o Futur o,   estr e-lado por Michael J. Fax.  O protagonista   dessa história   pilota   umcarro que funciona  como uma máquina do tempo capaz de trans- portar  seus passageiros  de volta à década de 1950. Se pegássemosuma carona nesse carr o, poderíamos deixar Michael 1.Fax andandode sk ate  nas ruas de sua cidade e vivendo sua aventur a,   enquantovisitaríamos uma univer sidade local para ver como er am os cur sos

sobre motivação dados no ensino superior daquela   época.Além das   meias soquete e dos   cortes   de cabelo engr açados

das estudantes,   o que nos   chamaria a  atenção em um  cur souniversitário sobre esse   assunto   seria  a falta de um livro-texto.O primeiro livro-texto   sobr e motivação veio surgir apenas   em

1964 (Cofer & Appley,   1964). Outro item a nos chamar a atençãoseria a ementa da disciplina.   A folha  rnimeograf ada da ementamencionaria   tópicos   como   a teoria  do impulso,   o incentivo   e oreforço,   impulsos   adquiridos,   conflito e emoção. Mas,  por maisque procurássemos   na ementa,  não encontr aríamos   nada de real-mente inter essante sobre como aplicar a motivação - não haverianada   so bre motivação nas escolas,   na psicologia espor tiva,   notrabalho,   no tr atamento da obesidade e na aplicação de dietas,nas crenças de controle pessoal,  e assÍn! por diante.  Entretanto,   ocurso provavelmente incluiria conceitos psicanalíticos e de auto-atualização   -   com uma semana de estudos   dedicada   a Fr eud eoutra a Maslow. Também haveria uma semana dedicada a ativi-dades de laboratório.   Cada   aluno ficaria com um rato,   no qual

estudaria efeitos de mani pulações,   como, por exemplo,  a influ-ência que um período de 24 horas de privaç ão de alimento exer -

ceria sobr e a velocidade   da cobaia   ao corr er  para uma caixa cheiade sementes de girassol.  E, a pós entrar novamente na máquina dotempo de De Lor ean e r etomar   ao presente,   você pr ovavelmenteconcordar ia   em que o estudo da motivação mudou e se a perfei-çoou mais ainda do que os cortes   de cabelo   e a  moda.

AS ORIGENS FILOSÓFICAS DOSCONCEITOS MOTIV ACIONAIS

E se nossa tecnologia   de ficção científica fizesse você voltar 100anos no tempo,  você simplesmente não encontr aria   nenhum cur sode motivação,   uma vez que esses   cur sos (e também o próprio

campo da motivação) têm uma história   recente - de menos   deum século.As   r aízes   do estudo da   motivação devem suas   origens   aos

antigos gregos   - Sócrates,   Platão e Aristóteles. Platão (que foidiscí pulo de Sócrates)   propôs   que   a motivação   surgia   de umaalma (ou mente,   ou psique) disposta segundo uma   hierarquiatripartida.   No nível mais primitivo,   encontrava-se o as pecto doapetite da alma,   que contribuía par a   os   apetites corporais e osdesejos,   tais  como a fome e o sexo.   No segundo nível,   situava-se o aspecto competitivo, que contribuía para os padrões social-mente r eferenciados,   como a sensação de honra e de vergonha.

 No nível mais elevado estava o aspecto calculista,   que contribuía para as capacidades   de tomada de decisão,   tais como   a  razão e

a escolhá.   Para Platão,   esses três aspectos diferentes da almamotivavam diferentes   domínios   de comportamento. Além disso,

Page 2: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 2/14

cada aspecto su perior tinha a capacidade de r egular os motivosdos aspectos inferiores ( p. ex., a razão poderia controlar   o a petitecorporal). É interessante notar que a descrição que Platão f ez damotivação antecipou bastante bem a psicodinâmica   de Sigmund

Freud(p. ex., veja o Livro IX de Platão, pp. 280-281):   de maneir asim plificada, o aspecto   a petitivo de Platão corresponde ao id deFreud, o aspecto competitivo,   ao su perego,   e o as pecto calculista,

ao ego (Erdelyi,   1985).Aristóteles endossou   a idéia da alma tripartida   e hierarquica-

mente organizada de Platão   (apetitiva, competitiva   e calculista),embora preferisse utilizar uma terminologia difer ente (nutritiva,sensível e racional).   O aspecto nutritivo era o mais impulsivo,ir racional e animalesco,   que contribuía   par a   as  necessidadescor  por ais urgentes  r elacionadas à manutenção da vida. O as pectosensível também se relacionava com o corpo,   mas regulava o

 prazer e a dor .  Já o componente racional da alma era único aosseres humanos,   uma vez  que   se relacionava com  as idéias e  o

intelecto, car acterizando a vontade. A vontade funcionava   comoonívelmais elevado da alma, que se valia da intenção,   da escolhae do que é divino   e imortal.

Séculos depois,  a psique tri par tida dos gregos reduziu-se   a umdualismo - as paixões  do corpo   e a r azão da mente. Essa  almade duas partes   conser vou   a natureza   hier árquica dos gregos,   jáq ue fazia a distinção principal   entre   o que era  f ísico,   irracional,impulsivo e biológico   (o corpo) e o que er a   imaterial,   r acional,inteligente e espiritual   (a mente).   O ímpeto por tr ás  dessa   r ein-terpr etação deveu-se principalmente   ao compromisso intelectualda época com as dicotomias   motivacionais,   tais   como paixãocontra razão, o bem contra o mal, e natureza animal contra   almahumana.  Por exemplo,   Tomás de Aquino   sugeriu q ue o corpo

fornecia os   impulsos   motivacionais   irracionais e baseados   no prazer, ao passo que a mente era a res ponsável pelas motivaçõesracionais e baseadas   na vontade.

 Na era pós-renascentista,   o filósof o fr ancês   R ené Descartes prestou uma nova contribuição   a esse   dualismo entre mente ecorpo, fazendo uma distinção entre os aspectos   passivo e ativoda motivação.   O corpo era um  agente mecânico, semelhante auma máquina, e motivacionalmente passivo, enq uanto a vontadeera um agente imaterial,   espiritual e motivacionalmente ativo.Como uma   entidade   física,   o corpo possuía   necessidades   denutr ição e respondia ao ambiente de maneira mecânica,   atr avésde seus sentidos,   seus reflexos   e sua fisiologia.   Por outro lado,a mente   er a  uma   entidade pensante e es piritual,   possuidor a   de

uma vontade dotada de um propósito.   A mente controlaria   ocorpo; o es pírito governaria os desejos   corpor ais.   Essa distinçãoera muito importante, uma vez que ditou as regr as para o estudo

da motivação durante os 300 anos seguintes:   o que er a  preciso para compreender os motivos   passivos  e reativos  era uma análisemecânica do corpo (p.  ex.,   o estudo da fisiologia);   e o que er a

 preciso para entender os motivos   ativos e intencionais era umaanálise intelectual da vontade (p. ex., o estudo da filosofia).

A  VONTADE: A PRIMEIRA GRANDETEORIA

Para Descartes, a principal força motivacional era a vontade.

Descartes pensava que,   se houvesse condições   de entender   a

vontade, seria possível compreender   a motivação.   Segundo   ele, avontade inicia e direciona a ação;   ca be   a ela decidir   se e quandoagir .   Já as necessidades corporais,   as  paixões,   os prazeres e asdores   criam impulsos à ação,   mas   esses   impulsos só excitam a

vontade. A  vontade é uma faculdade (ou poder )   que   a mente,agindo no interesse da vir tude   e  da   salvação e exercendo seu

 poder de escolha,   tem para controlar os a petites   corpor ais eas   paixões.   Ao atribuir os   poderes exclusivos   da   motivaçãoà vontade,   Descartes proporcionou   à motivação   sua   pr imeir agr ande teoria.

A ex pressão   "gr ande   teoria" ser á  utilizada aqui e ao longo detodo este ca pítulo com o propósito de conotar uma teor ia   quetudo   engloba,   ou   se ja,   um modelo   ger al que   pr ocur a expli~ar todo o es pectro da ação motivada   - por que nos alimentamos, bebemos,   trabalhamos,   competimos,   tememos   certas   cois(is,lemos,   nos   apaixonamos,   e assim por diante. A afirmativa   ;deque   "a  vontade   motiva todas   as ações" é uma   gr ande teoria   da

motivação,  da mesma maneir a  que "o amor ao dinheiro   é a raiz detodos os males"   é uma  gr ande   teoria do mal.  Ambas   identificamuma causa única,  que tudo a br ange e que ex plica   plenamente   umfenômeno (toda a motivação,   todos os males).

A es per ança   de Descartes er a   que,   uma ve z entendida avontade,   inevitavelmente também  se compr eenderia a motivação.Portanto, a compreensão da  motivação   reduziu-se   e tornou-sesinônimo de compr eensão da vontade.   E em decorrência   disso,os filósofos   empenharam enorme energia   no esf orço   de com pr e-ender  a vontade.  Fizeram-se alguns   progressos,   tais como a iden-tif icação dos atos   de  vontade como   sendo   escolhas (ou   seja, adecisão sobre   se se deve agir ou não;   Rand,   1964), esforços(ou seja,   a criação de impulsos   par a   agir;   Ruckmick ,   1936) er esistências (ou   seja,   a a bnegação   ou   a r esistência à  tentação).Entretanto,  no fim de tudo isso,   dois   séculos de análises   filosó-ficas  produziram resultados desapontadores.   A vontade mostrou-se   uma   f aculdade mental malcompr eendida,   que de   algumamaneira surgia   de um amontoado de capacidades inatas,   sensa-ções ambientais,   experiências   de vida e reflexões sobre  si pr ó priae suas idéias. Além disso,   uma vez sur gida a vontade,   de algumamaneir a   ela se contemplava de intenções e propósitos.   E tambémse constatava que algumas   pessoas   demonstr avam ter maior   f or çade vontade   do que outras.

Par a resumir essa longa história,   os f ilósofos   constatar am quea vontade é  algo tão mister ioso   e difícil d e ex plicar quanto   amotivação que   supostamente ela   ger a.   Esses   pensador es   nadadescobrir am da natureza   da vontade,   nem das   leis   pelas quaisela oper ava.   Essencialmente,   foi como  se os filósofos   estivessemf a bricando mais   obstáculos   para   si própr ios,   multiplicando o problema que   eles estavam tentando resolver .   Ao utilizar   avontade,   eles   agor a   tinham que explicar não  só a motivação,mas   também o agente motivador   -   ou   seja,   a vontade. Comose pode ver, o problema simplesmente duplicou. Por essa razão,os pesquisadores   envolvidos com   a  nova ciência da psicologia,que surgiu nos anos   1870 (Schultz,   1987),  viram-se em busca deum princípio motivacional menos misterioso. E de fato encon-

traram um, não dentro da filosofia,   mas dentro da fisiologia   -   oinstinto.

Porém,  -antes de deixarmos   a discussão histórica   da vontade,consideremos que os psicólogos contemporâneos   reconhecem

Page 3: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 3/14

que a mente (a vontade) com efeito pensa,   plane ja e f or ma  inten-

ções   que pr ecedem   a ação.   Mas,   se  não   é a vontade   que está pr oduzindo  o pensamento e o planejamento,   de onde então essesdois   pr ovêm? Em   outras   palavr as,   como as  pessoas   r esistem   à

tentação   (Mischel,   1996), mantêm   seu esfor ço   (Lock e  &Krístof ,1996),   exer citam o autocontrole (Mischel & Mischel,   1983),

controlam   seu pensamento   (Wegner, 1994),   formam inten-ções   de agir (Gollwitzer,   1993)  e concentram   sua atenção   nataref a   que têm   à mão   (R and,   1964)?   Considere duas ex plica-ções. Primeiro, o bserve   como   as  crianças   conseguem   concen-tr ar a força de vontade   de que necessitam par a   r etardar   a grati-

f icação e resistir a uma  tentação (Mischel, Shoda  &R odriguez,1989;   Patterson & Mischel,   1976).   Em um experimento,   umacriança da pr é-escola   está sozinha   sentada a uma mesa so bre aqual há um doce tentador .   O pesquisador propõe então à criançauma   escolha -   um doce agor a  ou dois   doces se ela conseguir 

es per ar 20 minutos.   Em vez de invocarem a for ça de vontade   (ouseja,  a abnegação, a deter minação   severa de algo), os pesquisa-dores constatar am que o meio pelo qual as crianças   conseguir amresistir à tentação e r etar daram   sua gratificação   foi conver tendo aes per a   frustrante   em algo mais  toler ável e divertido ( p. ex., brin-

cando ·com um jogo, cantando ou mesmo tir ando   um cochilo).As crianças   que usar am   essas estratégias   resistiram   à tentação,enquanto   as que   não   usar am tais estr atégias agir am   impulsiva-mente (comer am logo o doce que estava dis ponível).   Em outroexemplo,  univer sitários f izer am um teste, enquanto  pesquisadorestentavam pr edizer quão   bem   ou mal eles se sairiam   (Locke   &Kristof ,   1996).  Os pesquisador es   registrar am o objetivo   de cadaestudante (a nota que pr etendiam tir ar )   e os métodos   de estudo.

Os estudantes   que   tinham planos claros   e métodos eficazes   deestudo tiver am bom   desempenho,   enquanto os estudantes   quenão tinham objetivos   e possuíam métodos de estudo   su per f iciaistiveram mau desempenho.   Portanto,  objetivos e estratégias, e não

a força de vontade   pessoal, produzir am um desempenho ef icaz.Logo,  no estudo contemporâneo   da motivação,   os pesquisador esdeixaram de lado os modelos ger ais da motivação   como "for ça devontade",   especificando,   em vez disso, os processos   psicológicosque eles podem mais r a pidamente   r elacionar ao compor tamentodas   pessoas.   Ou   se ja,   os  pesquisadores   estudam os  pr ocessosmentais   mensuráveis,   tais como   planos,   metas e estratégias,em vez dessa coisa   mister iosa chamada vontade (Gollwitzer    &Bar gh,   1996).

O determinismo biológico   de Charles Darwin exerceu dois pr incipais   efeitos  no pensamento   científico.   Em primeiro   lugar ,forneceu   à biologia   sua   mais   importante idéia (a evolução).   E,ao fazê-Io,   o determinismo biológico fez com que   os cientistasse afastassem dos conceitos   motivacionais mentalísticos ( p. ex.,a vontade),   passando   a se aproximar dos conceitos mecanicistase genéticos.   Em segundo, o detennínismo biológico de Darwinacabou com o dualismo homem-animal que dominava   os estudosmotivacionais   anter iores.   Em vez disso,  ele introduziu questõestais como a maneir a   como  os animais   utilizam seus r ecur sos (ou

seja, a motivação) par a se adaptar às demandas   mais importantesde um dado ambiente.   Para os f ilósofos anteriores, a vontade

er a   um poder mental   exclusivamente   humano,   e a que br a   dadistinção   entr e  motivação   humana   e motivação animal   foi aindamais   uma   r azão   par a   que a vontade   deixasse   de constituir uma

gr ande   ex plicação   do comportamento motivado.

Par a   Darwin,   muito   do compor tamento animal parecia ser 'algo não-aprendido, automatizado e mecanicista (Darwin,   1859,'.1872).   Com ou sem   ex periência,   os animais se adaptam a seus   f 

ambientes   principais:   os pássaros constr oem ninhos,   as galinhas

chocam   seus   ovos, os cães   caçam coelhos,   e os coelhos fogemdos cães.  Para ex plicar   esse   comportamento ada ptativo apar en-temente predeterminado,   Darwin propôs o instinto.

O feito de  Darwin   foi q ue seu conceito motivacional   tinha.condições de ex plicar   o que a vontade dos filósofos   nãoconse-guia   -   ou seja,   de   onde a   força   motivacional   prov~in   em pr imeiro lugar .   Os   instintos surgem de uma substância física;

de uma dotação   genética.   Os instintos são f isicamente reais: ele~existem nos genes. Os animais   têm dentr o de si uma substância   1

material que  os f az agir   segundo   uma   maneira es pecífica.   Com   .

isso, o estudo da motivação   deixou o campo da filosofia e entrouno campo   das ciências natur ais.

Dada a   pr esença   do estímulo a pr opriado,   os   instintos

expr essam-se por   meio   de reflexos corpor ais   herdados   -   o pássaro   constr ói o ninho,   a galinha choca os ovos  e o cachorrocaça,   tudo isso   porque cada   um deles tem um impulso gene-ticamente dotado e   biologicamente excitado par  a   f azer   isso.Essencialmente,   os   pensador es   motivacionais   do   século XIX   1

retir ar am   a por ção inanimada do   dualismo filosófico (ou   seja,a alma racional)   e mantiver am o que   restou   - os ím petos,   osimpulsos e os a petites   biológicos.

O primeiro   psicólogo a po pular izar   a teor ia   instintiva da moti-vação foi William James   (1890).   James   baseou-se   bastante   noclima intelectual criado por Darwin e seus contemporâneos   par aatr ibuir   aos seres   humanos a  dotação de um   grande   númer o   de

instintos   f ísicos   (p. ex.,   o ato de sugar ,   a locomoção) e mentais(p.   ex.,   a imitação, o br incar ,   a sociabilidade).   Tudo o que er a

 preciso par a   traduzir   os   instintos em um   com por tamento   dir e-cionado par a   uma   meta (ou   seja,   motivado) era a pr esença   deum estímulo apr o priado.   Os gatos   caçam   ratos, fogem  de cães eevitam o fogo   sim plesmente   por que   biologicamente eles  devemfazer isso   (ou   seja,   por que   um r ato traz ao gato o instinto   decaça,   o cão lhe traz o instinto   de f uga,  e as chamas   lhe trazemo instinto de proteção).   Ou   seja,   a visão de um rato (ou de um

cachorro,   ou das chamas) ativa   no gato um  con junto complexode reflexos   herdados   que ger a impulsos   par a ações es pecíf icas( p. ex.,   caçar , corr er).   Por meio do instinto,   os  animais herdamuma natureza   dotada de impulsos   para   agir  e os ref lexos   neces-sários par a  produzir   essa ação intencional.

A afeição,   ou mesmo compromisso dos   psicólogos   por   essagrande teoria   da motivação   cresceu rapidamente.   Uma   ger açãodepois de James,   William McDougall   (1908,   1926) pr o pôs   umateoria   do instinto que incluía   os instintos   de exploração,   de luta,

de proteção materna   das   crias, e assim por diante. McDougallconsiderava os instintos   como sendo   f or ças   motivacionaisir racionais e impulsivas,   que orientavam   a pessoa em dir eçãoa uma determinada   meta.   É o   instinto que   "f az seu possuidor 

 perceber e atentar par a   os   objetos de uma   certa classe,   ex pe-rimentar uma excitação emocional de uma   determinada   quali-

Page 4: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 4/14

da   '.Ida

na'

dade ao  per ce ber esse o b jeto,   e agir em   relação   ao  objeto demOdoparticular , ou, pelo menos,  ex per imentar um im pulso   para

essa ação" (McDougall,   1908,  p.  30).   Portanto, os   instintos (eas emoções a eles associadas) ex plicavam o atributo   do dire-

cionamento par a   uma   meta,   algo tão  facilmente   per ceptível nocomportamento humano.   Em muitos   as pectos,   a doutr ina instin-tiva de McDougall   foi par alela às idéias   de James. Entr etanto,a grande diferença entr e as duas er a o f ato de que a doutr ina   deMcDougall sustentava   de maneira um tanto extr ema   que, sem osinstintos, os seres humanos seriam inca pazes   de iniciar qualquer ação. Sem esses "motor es   primários",   os seres  humanos seriamcomomassas iner tes, corpos sem quaisquer impulsos   para a ação.Em outr as palavr as,   toda a motivação   humana deve sua origema um conjunto de instintos geneticamente   dotados   (ou seja,  uma

grande teoria da motivação).Após os pesquisadores   terem   adotado o instinto como uma

grande teoria da   motivação,   a   tar efa seguinte foi identificar quantos  instintos os seres   humanos   possuem. Porém,   a par tir desseponto, o processo rapidamente   saiu de controle.  A doutr inado instinto tomou-se   irremediavelmente es peculativa,   à medidaquedif er entes   listas   de instintos for am aumentando até f ornecer 6.000ti pos difer entes (Bernar d,   1924; Dunla p,   1919). Na  pr áticade compilar   as listas   de instintos,   r einava a pr omiscuidade   inte-lectual: "se o indivíduo   sai  com   seus com panheiros,   então estásendo ativado pelo 'instinto   de manada';   se sai   sozinho, o q ueestá em ação é o   'instinto   anti-social';   se fica girando os pole-gar es, é o 'instinto   de gir ar   os polegares';   e se não gira os pole-gar es, é o 'instinto   de   não gir ar   os polegar es'"   (Holt,   1931,  p.428). O pro blema aq ui é a tendência a conf undir a nomeação com

a ex plicação   ( p. ex.,  dizer   que as pessoas   são agressivas   porq ueelas têm o instinto   de serem  agressivas).   Confundir nomeação eexplicação é algo que nada acrescenta ao entendimento da moti-vação e da emoção.

Além disso,   constatou-se q ue a lógica subjacente à teoriainstintiva era cir cular (Kuo, 1921; Tolman,   1923). Considere aex plicação de  como o instinto   de luta motiva os atos de agressão.A única evidência   de que  as pessoas   possuem   o instinto   de lutaé o f ato de elas às vezes se com por tar em   agr essivamente.   Parao teórico, esse é o pior tipo de  circularidade:   a causa   explica ocompor tamento   (instinto   -">  comportamento),   porém   o compor -tamento é a evidência   de sua pr ó pria causa (com por tamento   -">

instinto).   O  que está f altando aqui   é  um modo   inde pendente

de determinar   se o instinto   r ealmente existe. Uma   maneira   dedeterminar   isso   é cr iar   dois animais muito semelhantes ( p. ex.,animais dotados   de instintos similar es)   de modo a ofer ecer-lhesdiferentes   ex periências   de vida, para então es per ar até que  essesanimais atinjam a fase adulta, e verificar se seus comportamentos

são essencialmente os mesmos.   Se os instintos  dirigem o compor-tamento,   então   dois animais geneticamente   equivalentes   devemse comportar essencialmente   da   mesma   maneir a, a   des peitodas diferenças entre  suas   ex periências e suas cir cunstâncias   devida. Quando os pesquisador es   realizarãm   exper imentos dessetipo sobr e   o instinto   maternal em ratos   (Birch,   1956) e sobr e   oinstinto de utilização   das  mãos   (destr os ou canhotos) em sereshumanos (Watson,   1924), os ratos   e os humanos comportaram-

se de modos   que ref letiam   suas diferentes   ex per iências (em vezde seus  instintos similares).

O conceito de instinto sur giu   par a   pr eencher a lacuna   do queé a motivação,   e de onde ela provém   (Beach,   1955).   O romanceda psicologia com a teor ia   instintiva começou   com uma aceitaçãocalor osa,   mas aca bou   com uma negação categór ica.   IDa mesma

maneira   que   anter iormente   abandonou a vontade, a psicologiatambém abandonou o instinto,   e  viu-se então em busca   de umconceito   motivacional   substituto que ex plicasse a natur eza   inten-

cional do compor tamento.

O conceito motivacional que surgiu   par a   substituir   o instinto foio impulso   (intr oduzido por  Woodworth, 1918). O impulso   sur geda   biologia funcional,   segundo   a qual   a f unção   do comport~-mento   está a serviço das necessidades corporais.   À   medida q ueocor r em os deseq uilíbr ios   biológicos ( p. ex., falta de alimento   o ude água),  os animais   ex perimentam   esses   déficits de necessidade biológica   psicologicamente como "impulso". Portanto,  o impulsomotiva   qualquer comportamento   q ue sir va às necessidades   d õcor  po ( p.  ex.,   comer ,   be ber , a proximar -se).   As   duas teor ias doimpulso   mais   am plamente aceitas foram   pr opostas por SigmundFr eud (1915)   e Clark Hull   (1943).

Fr eud, que estudou fisiologia,   acreditava   que todo comportamentoé motivado, e  que o pr o pósito   do com portamento ser ia ser vir àsatisfação   de necessidades.   Sua visão do sistema nervoso era deque as exigências   biológicas   ( p. ex.,   a fome) seriam   constante e

inevitavelmente condições recorr entes   q ue produzir iam acúmulosener géticos dentr o de um sistema nervoso que f uncionar ia   em tomode uma tendência   herdada   de manter um nível baixo  e constantede energia (Freud,   1915).  Ao  mesmo   tem po   q ue   tentava   manter  baixo e constante   o nível de energia,  o sistema nervoso  ser ia per  pe-tuamente af astado   desse o bjetivo   pela emer gência e reemergênciadas exigências   biológicas.   Cada acúmulo de ener gia perturbariaa esta bilidade   do sistema   ner voso e produzir ia   um desconfor to

IA psicologia contempor ânea   não   mais   utiliza o  instinto para explicar    a com-

 plexidade do comportamento   humano. Não obstante,   a pro posição de   que os

animais   não-humanos   a pr esentam   padr ões   de compor tamento   consistentes,   não-

aprendidos   e estereotípicos é  uma o bser vação inegável.   As a belhas constr oem

células   hexagonais, os   machos   do esgana-gato   atacam   os   peixes   de   coloraçãover melha,   e os  pássaros   constroem ninhos. Os  psicólogos   contemporâneos   (mas

es pecialmente os  e tologistas) admitem que esses   atos estereotipados   podem   ser atribuídos aos instintos   nos animais. Como   James   escr eveu há mais   de um  século:

"o  f ato   de  que os instintos   [...) existem   em uma enor me escala   no reino   animal

é algo   que   não   necessita   de q ualquer compr ovação" (1890,   p.  383).   Ao  utilizar o termo   "instinto",   os   etologistas (Eibl-Eibesfeldt,   1989;   Lorenz,   1965;   Moltz,

1965) f alam agor a de estrutur as   neur onais herdadas   que não são modificadas pelo am biente   durante o desenvolvimento   do ser vivo.  Essas   estrutur as   neur onais

her dadas   ger am,   não   padrões   ger ais   de com por tamento,   mas sim f rações   par ti-

cular es   de comportamentos situacionalmente es pecíficos,   r efer entes   a " padr ões

f ixos   de ação". A mudança de foco   do instinto   de causa   do com por tamento com- plexo   par a causa das frações   de comportamento   (padrões fixos   de ação)   mostr ou

ser um com promisso teór ico confortável.   Por outro lado, mesmo   sendo teorica-

mente vanta joso,   esse compr omisso   nitidamente evidenciou   o declínio   de mais

uma grande   teoria.   Uma ex plicação   que se vale   de   f rações   de compor tamento

ou f r ações   dé motivação sim plesmente não é ca paz   de explicar   plenamente   nem

o comportamento   nem a motivação.

Page 5: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 5/14

 psicológico (ou seja, ansiedade).   Se o acúmulo de ener gia   cres-cesse excessivamente, poderia mesmo ameaçar a saúde   f ísica e psicológica.   Portanto,  o impulso   surgia como um tipo de sinal de

emergência para que se tomasse alguma providência.  O comporta-mento continuaria até que o impulso ou a exigência que o motivoufossem satisfeitos.   Em outras palavras,  o comportamento   ser viriaàs necessidades   corpor ais,   e a  ansiedade (impulso)   atuaria   comoum tipo de intermediário para assegurar que o comportamentoocorresse no tempo certo e conforme o necessário.

Uma maneira de entender a visão freudiana da energia   do

sistema nervoso (ou seja, a libido) é por meio da analogia comum sistema hidráulico   no qual a energia (em forma de um f luxode água constante) aumenta continuamente.   À   medida   que osimpulsos cor  porais   continuam a acumular energia,   a exigênciaansiosa de descarregar essa energia vai se tomando cada vez maisimperiosa e eficaz (caso contr ário,  a água irá transbordar ).   Quanto

mais alta for a energia psíquica,  maior será o impulso par a agir .O comportamento   adaptativo   acalma tempor ariamente o impulso,mas  o constante acúmulo da energia  do sistema   ner voso sempr eretoma (ou seja,  a afluência   de água no sistema nunca termina).

Freud (1915) resumiu   sua teoria   do impulso   como   tendoquatro componentes:   fonte,   ímpeto,   propósito e objeto. A f ontedo impulso é um déficit corpor al   ( p. ex.,  a f alta  de alimento).   Oimpulso   é dotado de um ímpeto (for ça)  que tem o propósito   dasatisfação,   a qual é a r emoção ( por meio da satisfação)   do déf icitcor  poral su bjacente.   Para   alcançar esse propósito, o indivíduoexperimenta a ansiedade em um nível psicológico,   e é essa ansie-dade que motiva   a busca   comportamental por um objeto ca pazde remover o déf icit corpor al.   A satisfação do déficit cor  poral

acalma o impulso/ansiedade.   Após   essa introdução,   pode-serepresentar a teor ia f r eudiana   do impulso da seguinte maneir a:

Fonte do Ímpeto do Objetivo do   Propósito do

Impulso   -'> Impulso-'>   Impulso   -'> Impulso   -'>

Déficit Intensidade   do   Objeto   ambiental Satisf ação   pela

Corporal   desconforto   ca paz   de satisf azer    r emoção do

 psicológico o déf icit corporal   déf icit   corpor al

(ansiedade)

A des peito de sua criatividade, a  teoria do impulso de Fr eudse ressentiu de pelo menos   tr ês críticas: (1) uma relativa superes-timação da contribuição das  forças   biológicas   par a a motivação

(e, com isso, uma r elativa   subestimação de fatores   r elacionados àa prendizagem e à experiência); (2) um excesso de conf iança   nosdados retirados dos estudos  de casos de indivíduos   portador es   detranstornos (e, com isso, uma falta de confiança nos dados prove-nientes de pesquisas experimentais  com amostras representativas);e (3) idéias   que não  são cientificamente (ou seja,  experimental-mente) testáveis (p. ex., como é possível criar um teste empíricosobre o fato de as pessoas  possuírem ou não impulso para a agres-sividade?). Por outro lado, nenhuma dessas três críticas se aplica àsegunda   grande teoria  do impulso, proposta por Clark Hull.

A  Teoria do Impulso Segundo Hull

Para Hull (1943,   1952),  o impulso é uma fonte de energia agru- pada e composta   de todos   os déficits/distúrbios   experimentadosmomentaneamente pelo corpo.   Em outras palavras,   as necessi-

dades   particular es   de alimento,   água,   sexo, sono,   e   assim por diante,   são conc~ntr adas   par a constituír em uma   necessidade   .

corporal total. Par a Hull, assim como para Fr eud,  a motivação   (ou

seja,  o impulso)   tem uma  base   puramente fisiológica, e a neces-sidade corpor al constitui   a f onte   última da motivação (tendo-se

com isso uma   outr a grande teoria  da motivação).A teoria   do impulso   de Hull tem um aspecto   notável   que

nenhuma outr a   teoria   anterior da motivação   a pr esentou   - ou

seja,   a de que a motivação pode ser prevista antes   de ocorr er .Tanto com o instinto quanto com a vontade, er a impossível   .

dizer  a priori   quando   e se uma pessoa estaria ou não motivada.   "Porém, se um animal é privado  de alimento,   água, sexo ou sono, oimpulso  irá inevitavelmente   crescer proporcionalmente à dunrção

dessa privação. A motivação   é responsável pelas condições ante-

cedentes do ambiente.   O impulso é uma   função   monoton jca-

mente crescente da   necessidade   corporal total,   e esta,   por  'sua

vez,   é uma função   monotonicamente cr  escente   do   número   dehoras de privação.   O fato de que  o impulso   pode ser conhecidoa partir das condições ambientais antecedentes   mar cou   o iníciode um estudo   cientí  f ico   da motivação.   Isso   foi  assim porque, se

conhecermos as condições ambientais   que cr iar am a motivação, poderemos   manipular (e pr edizer ) os estados motivacionais   no

la boratór io.   Também   é possível   explorar   os efeitos   do estadomotivacional manipulado so bre um gr ande   número de resultados( p. ex.,  desempenho,   esfor ço,   bem-estar ).

O impulso   sur ge   de uma ampla   faixa   de distúrbios cor  porais,

que   incluem a fome, a sede, o sexo,  a dor ,   a res pir ação,   a r egu-lação da temper atura,   a micção,   o sono,   a atividade   corpor al, a   l

construção de ninhos e o cuidado com os f ilhotes   (Hull, 1943, pp.   ,59-60). Uma   vez sur gido,   o impulso energiza   o com portamento(Bolles, 1975).   Porém, embora energize o comportamento,   o   ;

impulso não o dir eciona.   É o há bito,   e não o impulso, q ue   dir e-ciona o comportamento. Como um contempor âneo   disse:   "Oimpulso é um energizador ,   não um guia"   (He bb,   1955, p. 249).  Oshábitos que guiam o comportamento provêm da a prendizagem,e a aprendizagem ocorr e como conseqüência   do refor ço.   As pesquisas  de Hulllevar am-no   a demonstr ar   que,  se uma r es posta

é seguida rapidamente   de uma r edução no impulso, ocor re   umaa prendizagem  e, com isso, o há bito é r efor çado.   Qualquer r es postaque diminua  o impulso ( p. ex., comer ,   beber , copular )   pr oduz   umreforço,  e o animal   a pr ende   qual res posta   pr oduz a redução   de um

impulso nessa situação   particular .   Para mostr ar   como o há bito   eo impulso   (ou seja, a a pr endizagem e a motivação)   produzem   ocomportamento,   Hull   (1943)   ela borou   a seguinte fórmula:

A variável   sEr  é a intensidade   do comportamento   (E   significa" potencial excitatório")  na presença de um determinado estímulo.

 fir   é a força do há bito (ou   seja, a probabilidade de ocor rênciade uma resposta r edutor a   do impulso diante de um determinadoestímulo).   D   é o impulso   (drive).2   Os aspectos   observáveis do

20S   subscçtos s e r  signif icam   stimulus   e r es ponse   ["estímulo" e "r es posta"], e

informamllue   ji,r ef er e-se a uma  determinada   res posta   na pr esença   de um deter -

minado estímulo.   De modo semelhante, os subscritos   associados a sE  , r ef erem-se

à "energia"   potencial da res posta   na presença desse   estímulo   es pecífico.

Page 6: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 6/14

~S...

se ·~ \

u e) U

~r.

elIa .

,o

io

e-   .

a-la   >

le1 0

io

comportamento   -   correr ,   per sistir etc.   - são representados

 põr p,.   As variáveis   /f ,   e  D   referem-se   às causas   subjacentes

e inobserváveis do comportamento.   O sinal de multiplicação é

importante no sentido de que o comportamento só ocorre quando

o hábito e o impulso estão em níveis não-nulos.   Em outras pala-

vras, na ausência de impulso   (D   =   O) ,   ou na ausência de hábito

(H =   O) , não há potencial excitatório   (E =   O) . posteriormente,   Hull (1952)   ampliou seu sistema comporta-

mentalpara além de H x D, a fim de incluir uma ter ceir a  causa de

comportamento: a motivação do incentivo,   abreviada como   K .3

Alémdas propriedades motivacionais   deD,  o valor do incentivo

exercido por  um objeto-alvo (sua q ualidade, sua quantidade,   ou

ambas) também energiza o animal.   Afinal de contas,   as pessoas

em geral trabalham com mais   empenho por US$50 do que  por 

US$l. Ao reconhecer que a motivação pode provir tanto de f ontes

internas   (D)   quanto de fontes   externas   (K),  Hull   (1952) pr opôs

a seguinte fórmula:

P, =/f,xD xK

Tanto D quanto   K são termos motivacionais. A principal dif e-

rença entre eles   está em que   D   origina-se de uma estimulação

interna via distúrbios   corpor ais,   enquanto   K origina-se de uma

estimulação externa  via qualidade do incentivo.A teoria comportamental de Hull gr anjeou enor me popula-

r idade. Em seu  apogeu, sua teoria do impulso foi uma das mais

 populares teorias da história da psicologia. Apesar de obviamente

essa afirmativa parecer exagerada,   considere tr ês   ocorr ências

históricas que ajustificam.   Em primeir o   lugar , a proximadamente

metade de todos os artigos   publicados   nos principais   periódicosde psicologia do início dos  anos  1950 (p. ex.,  no Psychological Review   e no  Journal o/ Experimental Psychology)   fazia   r ef e-

rência ao livro de Hull de 1943. Em segundo, enquanto livr os

sobre motivação er am praticamente inexistentes em meados

do século XX,   dez anos  depois   eles se tomariam lugar -comum

(Atk :inson,   1964;   Bindr a,   1959;   Brown,   1961;   Hall,   1961;

Lindzey,   1958;   Madsen,   1959;   McClelland,   1955;   Maslow,1954;  Olds, 1956;   Peter s,   1958; Stacey   & DeMartino,   1958;

roman, 1960; Young, 1961). Em terceiro lugar, nos anos 1950,

a American Psychological Association (APA) solicitou a seus

membros que fizessem uma lista das per sonalidades   mais impor-

tantes  da  história da  psicologia (até meados   do século XX).   O

resultado da pesquisa   está mostrado na Ta bela 2.1.  Obser ve osdois nomes no topo da lista.4

3Por acaso, se você se per guntar por que a  motivação   de incentivo   f oi abr eviada

em inglês por  K  em vez de I  (de  i ncenti ve) , o motivo   disso é  que  K  vem de K ennethSpence  (Weiner ,   1972).   Spence   convenceu Hull da necessidade   de se incorporar 

a motivação de incentivo a seu  s istema   comportamental.   Além disso,   Ier a usado

 para outr a   variável,   inhibition   (inibição),   que não   sÇ.r ádiscutida aqui.

4No alvorecer do século XXI,  a lista dos psicólogos   eminentes   alterou-se bastante

(Haggbloom et al., 2002).   Em 2002,   Sigmund Freud havia caído para o  3 ° lugar ,

enquanto Clark Hull caía   para o 21°. Os dez nomes   mais importantes segundo a

lista,   do primeiro para o décimo,   em uma relação que   apr esenta vários pesqui-

sadores   da  motivação,   são:   B.  F .   SkinJ;!er , Jean Piaget,   Sigmund Fr eud,   A1ber tBandura,   Leon Festinger ,   Carl Roger s;Stanley   Schachter ,   Neal Miller ,   Edward

Thorndike e Abr aham Maslow.

Tabela 2.1 Os  Dez  Mais   Importantes Nomes   da Psicologia,

Segundo uma Classificação   de Meados   do Século XX

1. Sigmund   Fr eud

2. CIark Hull3, WilheIm Wundt

4,  Ivan PavIo v5. John Watson

6. Edward Thomdik e

7. WiIliam James

8,  Max   Wer theimer 

9.  Edward ToIman

10. Kurt Lewin

A teoria do impulso - tanto na ver são f reudiana   quanto na versão

hulliana   -   baseava-se   em tr ês  pressupostos f undamentais:1. O impulso   emerge de necessidades cor  porais.2.  A redução do impulso é ref or çada e pr  oduz a aprendi-

zagem.3. O impulso energiza o compor tamento.

Ao  longo dos  anos   1950,   testes   empíricos   desses tr ês pr essu- postos r evelar am muitos   pontos de a poio,   mas   também   algunsmotivos de preocupação. Em primeiro lugar, alguns   motivosexistem com ou sem necessidades   biológicas correspondentes.Por  exemplo,   as pessoas anoréxicas   não comem   (e não   quer emcomer ), a des peito da existência   de uma forte   necessidade   bioló-gica   de   fazê-lo   (Klien,   1954). Portanto,   é possível que a moti-

vação surja de outr as   fontes  que não os distúr  bios corpor ais. Emsegundo lugar, f reqüentemente   a a prendizagem ocor r e sem   acorres pondente exper iência da redução do impulso.   Por exemplo,ratos f amintos aprendem mesmo quando seu comportamento decomer   é refor çado pela   r ecompensa   de sacar inà   não-nutritiva(Sheff ield & Roby,   1950).   Uma   vez   que não   r e presenta   q ual-quer benefício nutricional, a sacar ina   não pode  r eduzir   o impulso(ou se ja,  não ser ve  às necessidades   do corpo).   Outras   pesquisasmostr ar am que a a prendizagem ocorre a pós a indução do impulso(ou seja,   ocor r e um aumento do impulso;   Harlow, 1953).   Nofinal, f icou claro que, par a a aprendizagem ocorrer ,  a redução   doimpulso não   er a   nem necessária nem   suficiente   (Bolles,   1972).Em terceiro lugar ,   as pesquisas   reconheceram   a importância   das

fontes   externas (não-fisiológicas)   de motivação.   Por exemplo,uma pessoa que não está  necessariamente com  sede pode expe-rimentar um motivo bastante forte para beber   a pós ter provado(ou visto,   ou cheirado)   sua bebida   f avorita.   Hull acrescentou   amotivação de incentivo   (K), mas a questão impor tante é que osmotivos surgem mais  do que simplesmente a partir da fisiologiacorpor al. Par a   ex plicar fenômenos   motivacionais   como comer , beber e ter relações   sexuais,   tomou-se claro que os pesquisa-dores necessitavam concentrar ao menos parte de sua   atençãonas fontes externas (ambientais) de motivação.

Os anos   1950 e 1960 representaram uma transição no estudo damotivação. No início dos anos 1950,   as teorias motivacionais

Page 7: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 7/14

dominantes eram consideradas grandes teorias,   sendo historica-mente fundamentadas e bem conhecidas. A teoria do impulso eraa principal perspectiva relativa à motivação (Bolles,   1975; Hull,

1952). Nesse meio de século, outras teorias motivacionais impor-tantes incluíam a teoria do nível ótimo de excitação (Hebb, 1955;Berlyne, 1967), a teoria dos centros de prazer no cérebro (Olds,1969),   a teoria dos conflitos de aproximação-evitação (Miller ,1959), a teoria das necessidades universais (Murray,   1938), ateoria dos motivos condicionados (Miller, 1948),   e a teoria daauto-atualização (Rogers,   1959). À  medida que o estudo da moti-vação progredia e novos achados apareciam,   tornou-se claro que,

 para haver progresso,  era preciso que a área extrapolasse as fron-teiras de suas grandes teorias. Nos anos que se seguiram à teoriado impulso,  apareceram de fato teorias alternativas,   que tentaramse impor como as novas grandes teorias do momento.   Porém,os psicólogos motivacionais estavam simplesmente ganhandoinformações demais para se restringirem a uma grande teoria.Para investigar seus novos achados,   os psicólogos motivacio-nais dos anos 1970 começaram a adotar miniteorias   da moti-vação (Dember, 1965). A próxima seção discutirá essas minite-orias. Porém,  será útil fazer aqui uma pausa para considerarmosos dois princípios motivacionais que,   nos anos 1960,  surgiram

como possíveis substitutos teóricos do impulso para compor umagrande teoria da motivação:   o incentivo e a excitação.

Consideremos o incentivo,   que é um evento externo (ou estí-mulo) capaz de energizar ou direcionar um comportamento deaproximação ou de evitação.   Segundo a teoria de redução doimpulso,  as pessoas são motivadas por meio de seus impulsos,que as "empurram"   em direção a determinados objetivos   (p. ex.,a fome empurra a pessoa a explorar seu ambiente em busca de

alimento).   Já as teorias motivacionais do incentivo dizem queas pessoas são motivadas pelo valor incentivador de diversosobjetos presentes em seu ambiente, que as "atraem"   em direçãoa esses objetos (p. ex.,   a visão de uma torta de morangos faz a

 pessoa se aproximar da mesa).   Observe que,  nesse caso, a moti-vação primária não é a redução do impulso, mas, ao contrário,   oaumento e a manutenção do contato com os estímulos incenti-vadores.   As teorias do incentivo surgidas nos anos 1960 funda-mentalmente tentavam explicar por que as pessoas buscavamos incentivos positivos e evitavam os incentivos negativos.Essencialmente, o foco dessas teorias era o K, e não o  D, deHull,   e elas adotaram o conceito de hedonismo,   que essencial-mente postula que os organismos se aproximam de sinais de

 prazer e evitam sinais de dor. Por meio da aprendizagem,   as pessoas formam associações (ou expectativas) de quais objetosno ambiente são gratificantes - sendo, portanto, merecedores deaproximação - e quais outros objetos infringem dor  -   sendo,

 portanto, merecedores de evitação. As teorias do incentivo apre-sentavam três novas características: (1) novos conceitos moti-vacionais, tais como os incentivos, (2) a idéia de que os estadosmotivacionais podem ser adquiridos por meio da experiência e(3) uma descrição da motivação qu-e salienta as alterações queocorrem de momento a momento (uma vez que os incentivosambientais podem variar de um momento para outro).

Consideremos agora a excitação. A crescente insatisfaçãocom a teoria do impulso foi contrabalançada por um crescente

interesse pela teoria da excitação. O achado que assentou as

 bases para essa transição proveio da descoberta neurofisiológicade um sistema de excitação no tronco cerebr al (Lindsley, 1957;

Moruzzi & Magoun,   1949).   As idéias centrais eram  as  de que

(1) os aspectos do ambiente (o grau a que eles são estimulantes,novos,   estressantes) afetam a maneira de o cérebro ser excitado

e (2) as variações no nível de excitação apresentam uma relação

curvilínea (que têm a forma de um U invertido) com o compor-

tamento. Ou seja, os ambientes não-estimulantes geram baixos

níveis de excitação e emoção, tais como o tédio;   já   ambientesum pouco mais estimulantes geram níveis ótimos   de excitação

e emoções, tais como o interesse;   e   ambientes extremamente

estimulantes geram excitações e emoções como o medo. O nívelde excitação terminou sendo entendido como algo "sinõnimo de   .

um estado geral de impulso"   (Hebb,   1955,   p.  249):   as" pessoas

 preferem um nível ótimo de excitação, evitando seus nív~s muito   c

 baixos ou muito altos.   Observe então o que aconteceu com a

teoria do impulso - que foi reinterpretada de uma maneira que  'a afastou de suas raízes biológicas, 1evando-a   para a época daneuropsicologia e da cognição.  No fim dos anos   1960, os psicó-

logos motivacionais daquele período poderiam   se concentrar nas   <

necessidades biológicas (impulso),   nos incentivos   ambientais ou

nos estados cerebrais de excitação.Com a crescente insatisfação em relação   à teoria do impulso,

tomou-se cada vez mais evidente que qualquer grande teoriaera simplesmente incapaz de arcar sozinha   com todo o ônus

de explicar   a  motivação (Appley,   1991). Em   sua tentativa de

cobrir todo o espectro dos fenômenos   motivacionais,   o panoramacontemporâneo dos estudos   da motivação é agora caracterizado   "

 por uma enorme diver sidade de teorias ("miniteorias"), e não por 

um consenso qualquer em tomo de uma única grande teoria.

Diferentemente das grandes   teorias que explicam todo o espectroda motivação,   as miniteorias limitam sua atenção a um fenômenomotivacional específico.   As miniteorias buscam compreender ou   'investigar um(a) determinado(a):

• Fenômeno motivacional (p. ex., o fluxo da experiência)• Circunstância   que afeta a motivação (p. ex., a retroalimen-

tação de um fracasso)

• Grupos de pessoas (p. ex.,   extrovertidas,   crianças,   traba-lhadores)

• Questão teórica (p. ex.,   "Qual   é a relação entre cogniçãoe emoção?")

Uma miniteoria explica parte,   porém não todo o comporta-

mento motivado.  Sendo assim, uma teoria motivacional de reali-

zação (uma miniteoria) surgiu para explicar por que as pessoasrespondem a padrões de excelência, e por que algumas pessoas

demonstram ter entusiasmo e aproximação e agem com método,ao passo que outras demonstram ansiedade e evitação diante

desses padrões.  A teoria motivacional de realização não consegue

explicar uma grande parte da ação motivada, mas, por outro lado,   '

 presta ~ma boa contribuição à explicação de uma interessantefatia da'ação motivacional. A lista a seguir identifica algumas das

miniteorias (com uma referência básica) surgidas nos anos 1960

Page 8: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 8/14

" -

~ica

'57;que.tes,

ado

ção)or -

xosltes

ção~nte

ível) de

oaslito

na

queIdacó-

nas;ou

Iso,)ria

nus

de

lma

Ido

 por 

e 1970 com o objetivo   de substituir as grandes teorias enfraque-cidas do impulso, do incentivo e da excitação:

• Teoria motivaciona1 de realização (Atkinson,   1964)

• Teoria atribucional da   motivação de realização (Weiner ,1972)

• Teoria da dissonância cognitiva (Festinger ,   1957)• Motivação dos efeitos (White, 1959; Harter ,   1978a)

• Teoria da expectativa x valor (Vroom,   1964)• Teoria do fluxo (Csikszentmihalyi, 1975)• Motivação intrínseca (Deci, 1975)

• Teor ia do estabelecimento de metas (Locke, 1968)• Teoria do desamparo aprendido (Seligman,   1975)

• Teoria da reatância (Brehm, 1966)• Teoria da auto-eficácia (Bandura,   1977)• Auto-esquemas (Markus,   1977)

Três tendências históricas explicam por que o estudo da moti-vação deixou para trás a tradição das grandes teorias em favor das miniteorias.   Em primeiro lugar ,   os pesquisadores moti-vacionais reavaliaram a propriedade da idéia de que os   sereshumanos são inerentemente passivos. A próxima seção discutirá

essa tendência. Em segundo,  a motivação,  como todo o campo da psicologia,   tornou-se acentuadamente cognitiva. Essa tendênciaveio a ser conhecida como a revolução cognitiva. E, em terceirolugar , os pesquisadores   motivacionais tornaram-se cada vez mais

interessados nos problemas e nas questões aplicadas   e social-mente relevantes.   Além dessas tendências históricas,   o primeiro

 jornal dedicado exclusivamente ao tópico da motivação surgiu

em 1977,  Motivation and Emotion.   Esse jornal focalizou quase

toda a   SU<lc   atenção na exploração empírica das miniteorias moti-vacionais.

o propósito da teoria do impulso era explicar como um animal passava de inativo a ativo (Weiner ,   1990). Em meados do séculoXX, supunha-se que os animais (inclusive os seres humanos)eram naturalmente inativos,   e que o papel da motivação   seria

excitá-Ios,   fazendo com que,  de passivos,   eles passassem a ser ativos. Com efeito, "motivar "   significa   "mover". Dessa forma,o impulso,   como todos   os constructos motivacionais anteriores,

explicava o motor instigante do comportamento.   A título de ilus-

tração,   uma definição comum para motivação em meados   doséculo XX era: "o processo de excitar a ação, sustentar a atividadeem progresso e regular o padrão de atividade"   (Young,   1961, p.24).   A motivação era o estudo da energização dos passivos.

Já os psicólogos da segunda metade do século XX pensavamde maneira bastante diferente. Eles enfatizariam o fato de que as

 pessoas estão sempre conseguindo e fazendo   algo.  As pessoassão inerentemente ativas,   estando sempre motivadas.   Segundoum dos proponentes da natureza ativa das pessoas,   "uma teoria

motivacional bem fundada deve (...] supor que a motivação éconstante, incessante,   flutuante e complexa, e que é uma carac-

terística quase universal de praticamente qualquer processo queenvolva interesse do organismo" (Maslow, 1954, p. 69). Talveznas crianças, mais do que em quaisquer outros seres, isso seja

mais evidente: "elas pegam os objetos, sacodem-nos,   cheiram-

nos, colocam-nos   na boca,   atiram-nos   para longe e estão  sempre perguntando   'O que é isso?' Sua curiosidade é infindável" (Deci

& R yan,   1985a,   p:  11). Na revisão das teorias   motivacionais que fizeram em meados

dos anos 1960,   Charles   Cofer e Mortimer Appley   (1964)   divi-diram as teorias motivacionais da época entre aquelas   que supu-nham que os organismos   eram passivos e conservadores   deenergia e aquelas   que supunham que os indivíduos   er am   ativose que buscavam o crescimento. O número das teorias de or ien-

tação passiva era dez vezes superior ao das teorias  de orientaçãoativa. Entretanto, as teorias ativas começaram a se propagar .   Nos

dias de hoje, as idéias sobre a motivação e a emoção aceitam   a premissa da existência do organismo ativo,   tratando bem povcodas motivações ocorridas por déficit (p. ex.,   redução na tensão,homeostase,   equilíbrio) e bem mais das motivações por cr esci-mento (p. ex.,  criatividade,   competência,   significados pessoais

 possíveis, auto-atualização;   Appley,   1991;   Benjamin   & Jones,1978;   Rapaport,   1960;   White, 1960). O estudo da   motivação

é hoje o estudo do dir ecionamento do propósito nas   pessoasinerentemente ativas.

Os primeiros conceitos   motivacionais - impulso,   excitação,homeostase - fundamentavam-se na biologia e na fisiologia.Portanto,   muito do pensamento sobre a motivação era moldadoem uma herança e uma   perspectiva biológicas. Os   estudoscontemporâneos da motivação continuam a manter essa  aliança

.com a biologia,   a fisiologia e a sociobiologia.   Entretanto, no

início dos anos 1970,  o Zeitgeist   ("clima intelectual") da psico-logia passou decisivamente a ser cognitivo (Gardner, 1985; Segal&Lachman, 1972), e a revolução cognitiva tomou conta  da áreada motivação da mesma maneira que fez com praticamente todasas outras áreas' da psicologia (D' Amato,   1974;   Dember,   1974).

Os pesquisadores da motivação começaram a complementar seus conceitos biológicos   com os conceitos que enfatizavam

os processos   mentais   internos. Alguns desses constructos   moti-vacionais mentalísticos   incluem os planos   (Miller ,   Galanter    &Pribram,   1960),   as metas   (Locke & Latham,   1990), as expecta-tivas (Seligman,   1975), as  crenças (Bandura,   1977),   as  atribui-ções (Weiner ,   1972) e o autoconceito (Markus,   1977).

A revolução cognitiva exerceu dois outros efeitos   sobr e   o

 pensamento referente à motivação.   Primeiro, as discussões   inte-lectuais sobre a motivação enfatizaram os constructos   cognitivos(ou seja,   as expectativas,   as   metas),   deixando de enfatizar os

constructos biológicos e ambientais.   Essas discussões alter arama imagem que a psicologia fazia do funcionamento humano,deixando-a   "humana em vez de mecânica"   (McKeachie,   1976,

 p. 831). Essa passagem ideológica da mecânica para a dinâmica(Carver  &Scheier, 1981,  1990; Markus  &Wurf ,  1987) foi muito

 bem captada no título de um dos mais populares textos motiva-cionais daquela época,  Theories of Motivation:   From Mechanismto Cognition   (Weiner, 1972).   Uma revisão dos estudos moti-vacionais realizados a partir dos anos 1960 e 1970 mostra um

acentuadp declínio de exper imentos que manipulam estadosde privação em ratos,   acompanhado por um igualmente acen-tuado aumento nos experimentos que manipulam a retroalimen-

Page 9: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 9/14

tação  que acompanhava o sucesso  ou o fracasso no desempenhohumano (Weiner ,   1990). O plane jamento   ex per imental não   émuito difer ente,   mas é inegável   o f ato de seu foco  ter passado a

se concentr ar   em pessoas,   em vez de animais.Segundo,   a revolução   cognitiva veio  complementar   o emer -gente movimento  do humanismo.   Os psicólogos   humanistas criti-cavam as teorias   motivacionais   dominantes   nos anos   1960 comosendo decididamente não-humanas.   Os humanistas resistir am   autilizar   a metáfor a   da   máquina,   que   apr esenta a motivação   deuma   maneir a   deterrninista,   como   sendo uma   r es posta a f orças biológicas   incômodas, a   destinos   desenvolvimentais   (p. ex.,ex periências   traumáticas   na inf ância),   ou a controles   exercidos pelo  ambiente   ou pela   sociedade (Bugental,   1967; Wertheimer ,1978). As idéias   de A br aham Maslow   e Carl R oger s (Capítulo15) expr essam   a nova compreensão que a psicologia tem dosseres   humanos como seres   inerentemente ativos,   cognitiva-

mente flexíveis e motivados   par a o crescimento (Ber lyne,   1975;Maslow,   1987; R oger s,   1961).

Uma   ter ceir a importante   alteração que ajudou   a iniciar a  er adas   miniteor ias   f oi o fato   de   que   os   pesquisador es voltar amsua atenção par a   questões relevantes   à solução   dos  problemasmotivacionais   enfrentados pelas   pessoas em   sua vida   diária(McClelland,   1978) - no tra balho (Lock e & Latham,   1984), naescola (Weiner ,   1979), ao enfrentarem   o estr esse (Lazarus,   1966),na solução   de pr oblemas   de saúde (Polivy,   1976),  na luta contraa de pressão   (Seligman,   1975), e assim por diante.   À medida   que

estudavam menos os animais   não-humanos e mais as pessoas, os pesquisadores   descobr ir am uma   riqueza de exemplos   de moti-vação que ocorrem naturalmente fora do laboratório.   Em funçãodisso, os pesquisadores   motivacionais   começaram   cada vez mais

a se concentr ar   em problemas e questões a plicadas   e de relevânciasocial.   Tam bém passar am   a ter contato   mais   f reqüent~   com os

 psicólogos   de outras   áreas,   tais como   os da psicologia   social, da

 psicologia   industrialJorganizacional,   da  psicologia clínica   e deaconselhamento,   e assim   por   diante. No geral,   a área tomou-se

menos   interessada   em estudar ,   por exem plo,   a fome como   fontedo impulso,   e mais inter essada em estudar   as motivações   que seencontr am por  tr ás do comer ,   da dieta,  da obesidade e da bulimia(R odin,   1981; Taubes,   1998).

A ênfase na pesquisa a plicada   e socialmente relevante   fez comque os estudos   motivacionais contempor âneos assumissem umtipo de papel de "Johnny Appleseed"5,   em q ue os pesq uisadoresmotivacionais saíram de seus   la boratórios para fazer perguntasdo ti po "O que causa o compor tamento?"   nas mais diversas   áreasde es pecialização   da psicologia. As novas alianças moti'{acionaiscom outros campos   da psicologia   podem ser ilustradas   na Figura

2.1,   que mostra ex plicitamente como   a motivação se relacionacom os outros cur sos   de  psicologia   que o leitor possivelmente

 já   fez  ou  far á.   Ou  se ja,   par te   do conteúdo dos cursos de psico-logia   social,   da  psicologia   da personalidade e da psicologia daeducação   é certamente motivacional.   Em virtude   dessa super  po-sição, às  vezes é difícil dizer onde o estudo da cognição aca bae onde o estudo da   motivação começa (Sorrentino & Higgins,1986),  ou onde o estudo   da per cepção aca ba e onde o estudo damotivação começa   (Bindra,   1979).  As tênues fronteiras entre amotivação e seus campos afins   em   ger al   sugerem   a existênciade   uma cr ise   de   identidade no estudo   da   motivação;   por outro

5Liter almente, "Joãozinho   Plantador de Maçãs",   a pelido   de um su jeito chamadoJohn   Chapman,   que,   nas   primeiras   décadas a pós   a   independência dos   EUA,

 perambulou pela costa leste   do país  plantando macieir as   e estimulando os outr os

a f azer em   o mesmo. O nome passou   então a se aplicar   a q ualquer pessoa   q ue   se

toma   ade pta ou pr o pagandista entusiasta   de urna causa. (N. T.)

" . . - - - - . . . . ..   --------   . • . . •  ." , . . "   • . . • • . .   /'   .

",   ,",   ,/ X ,(   , ,,   Social (Desenvolvimento   I

/ ~- - - - ' . . . . . . .   Á / ~- - - -   .",   ,   .;"'-~....   " ,   ,

/   \.- _---   - - _ . _ - /   ,I   Industrial!   ,   .•.•.J ,

\   Organizacional   I \   Educacional   I

\ / \ /, .... .; ", Motivação e Emoção '   ...._ _ __   -::'",

..,...----------...:::i-..-   ." ;   v- " - .

", ,   R espostas   Pr over uentes   de Ar eas Es pecíficas,   ", ,

/ '   q ue   R espondem   a estas Questões   / \, Per sonalidade   }   Fundamentais:   \   Cognitiva   I

, / •  O  que   causa o compor tamento?, /,   .•.• .;   -( •   Por   q ue o compor tamento varia em   '..... .;   ",

......-;..__ - - - -   ""'   intensidade?   ;" L - --- - - --

" "   " ' "/, /,(   Clínica"   J   Fisiológica   ' \ { . . : : : . - - _ _ - . . < : : \    I

\   ,..,..............".-...........   /

,   ",   " " , . .   ,   " ". . . •   /   \   '-..;-----~   ,   , - - - - -

\   Aconselhamento   I   Saúde   J

\   /   /,   " "   " ,. . . • •  •   , . , .  . . . . .   , . . , .. • . . •  . _-----

  ~------

Page 10: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 10/14

lado, na  pr ática, a ausência de fronteir as bem def inidas   facilita

a troca de idéias e estimula uma exposição a diferentes   perspec-

tivas e metodologias   (Feshbach,   1984), incluindo aquelas vindasde fora da psicologia   ( p. ex.,  a sociologia;   Tur ner ,   1987). Como

conseqüência disso,   os  estudos contempor âneos   da motivaçãoganharam uma riqueza,  um interesse e uma  vitalidade   es peciais

(McNally,   1992).

A   ERA CONTEMPORÂNEA DASMINITEORIAS

Thomas Kuhn   (1962,   1970) descreveu   a história da maioria dasciências enfatizando o f ato de que uma certa disciplina   tanto faz

 pr ogressos   contínuos   q uanto descontínuos.   Quando ocorr e   um progresso contínuo,   os participantes   r ealizam progressos lentos,incrementais e cumulativos,   à medida que novos dados vão sendo

acrescentados e  vão   suplantando   os velhos   dados,   e  as   novasidéias se somam e suplantam   as idéias antigas.   Por outro lado,quando ocorre   um progresso descontínuo,   aparecem idéias radi-cais que rivalizam (e não mais se somam) com as idéias  antigas.Se as idéias radicais ganharem aceitação, há uma rápida e drás-

tica  alteração no modo de pensar dos pesq uisadores, fazendo

com q ue os antigos   modelos   caiam em desuso para dar lugar aos novos modelos.

A Tabela 2.2 mostra a visão desenvolvimental de Kuhn.   Em

seu estágio pré-par adigmático,   os estágios   primitivos   de umadisciplina começam   a se enraizar   à medida que os participantes

vão formulando diferentes questões,  utilizam métodos  difer entes,tentam resolver problemas   diferentes,   sugerem diferentes solu-ções e, basi~amente,   discordam e discutem bastante entre  si. Jáno estágio' paradigmático, os participantes da disciplina conse-guem alcançar um consenso sobre o que constitui sua estr uturateórica e metodológica   comum.   Essa estrutura compartilhada

(um  " paradigma") possibilita que   cada   contribuinte compre-enda os métodos   e problemas da disciplina   da mesma   maneira.Com isso,  os participantes   têm condições   de trabalhar coletiva-

mente,  o que os f az ganhar em uma compreensão cada vez maisdetalhada e apurada  da sua área de interesse.   Entretanto,   como tempo as limitações   e as   inadequações   do paradigma aceito

tornam-se evidentes,   à medida que vão surgindo   anomalias   quenão podem ser explicadas com o par adigma então endossado.

Isso faz com que toda a área ex perimente um desconforto   ger al.

Em conseq üência,   sur gem novos   insights   e novas descobertas,

e esses   insights   e descobertas f azem surgir um novo modo de

 pensar ("um paradigma").   Munidos   desse novo modo de pensar ,

os  pesquisadores   terminam por chegar a um   acordo   sobre um

novo e aperfeiçoado paradigma,   em um processo   que ger almente

engloba várias gerações de cientistas.   Por exemplo,   dois casosclássicos   de mudança   de paradigma   ocorreram com a revolução

copernicana,   que   substituiu   as antigas   idéias   do geocentr ismo,

e com a teoria einsteiniana da relatividade   geral,   que   substituiu

a  geometria euclidiana.   Com essas mudanças, a astronomia e a

física ficaram para sem pr e alteradas.Como disciplina,   o estudo da   motivação tem participa po

da ascensão e da queda   de três   pr incipais modos   de pensar: a

vontade, o instinto e o impulso.   Cada  um desses conceitos   moti-vacionais ganhou ampla aceitação,   mas,   à medida   que novos

dados foram sur gindo,   constatou-se que cada um desses   conceitoser a   bastante limitado para produzir mais progr essos,   e isso fez

com que,   no final,   cada um deles   fosse   substituído por   umaidéia mais   nova,   radical e aperfeiçoada.   Atualmente,   o  estudo

da .motivação encontra-se em meio à era das   miniteorias, e  ostrês avanços recentes (ou seja, a natureza ativa  da pessoa, a revo-

lução cognitiva   e a pesquisa   socialmente relevante)  que há poucorevisamos explicam por q  ue   a   era das   miniteorias   acabou   semostrando mais produtiva do que a era da teoria   do impulso entre

nós. Outr a   tendência dos estudos   motivacionais contemporâneosé o afastamento que essa ár ea vem  experimentando   das ciências

natur ais   e sua aproximação das ciências sociais.   Entretanto,   essasatuais   es pecializações,   debates e discordâncias   têm produzidonos estudos   motivacionais uma  "crise de identidade".

 Nessa "crise de identidade"   que acompanhou   a tr ansição dateoria do impulso para a era atual das miniteorias,   houve conse-

qüências boas e más.  No lado r uim,   a motivação perdeu o tronoque tinha como talvez a mais importante disciplina da psicologia

 par a   ser relegada a um tipo de área  de estudo de segunda classe.Esse destronamento da motivação foi   tão   sever o   que,   em   certa

medida,  a área sofreu um cola pso que durou uma  década e meia.

Entretanto,   o estudo da motivação não desa par eceu.   As ques-tões  que definem   a motivação,   discutidas   no Ca pítulo   1, perma-necem. E,   em vez de desaparecer, os   especialistas   motivacio-

nais  se dispersaram para praticamente todas as   outras áreas da

Floresce uma nova ciência,   cujos   participantes   não compartilham uma   mesma linguagem ou um mesmo

conhecimento básico.   São fr eqüentes os de bates so bre quais   deveriam ser os métodos,   os   problemas   e

as soluções   da disciplina.As  facções pré- paradigmáticas   se f undem em um consenso   sobr e   o que constitui os métodos,   os problemas

e as soluções   da disciplina.   Esse   consenso é chamado de paradigma. Os participantes   que compartilham

desse paradigma acumulam conhecimento e fazem avanços consideráveis.

Surge uma anomgHa que não pode ser explicada   pelo consenso/ paradigma existente. Desencadeia-se então

um choque   entre a velha maneira   de pensar (que não consegue explicar a anomalia) e a nova maneira de

 pensar (que consegue explicá-Ia).A nova maneira de pensar produz  um progresso que modifica   a disciplina. Ao chegar   a um novo consenso,

os participantes   se estabilizam em um novo paradigma (ou novo estágio paradigmático).   O progresso retoma,e com ele são feitos novos   avanços   consideráveis. -'

Page 11: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 11/14

 psicologia.   Sem o uso de conceitos   motivacionais,   os  teóricos

da a prendizagem,   os psicólogos   da per sonalidade,   os psicólogos

sociais,   os clínicos e outros  eram incapazes   de ex plicar todos os

tipos  de comportamento q ue tentavam entender .  Em outr as pala-vr as:  os demais campos   da psicologia precisavam de res postas

 par a   suas questões   motivacionais.  E o que emergiu disso   for amas teorias  da motivação   social (Pittman & Heller ,   1988), da moti-

vação fisiológica (Stellar  &Stellar ,   1985),   da motivação cogni-

tiva (Sorrentino   &Higgins,   1986), da motivação no desenvolvi-

mento (Kagan,   1972),  e assim por diante.   Além disso,   tambémsurgiram teorias motivacionais es pecíficas a domínios   par ticu-

lares de aplicação:   teor ias q ue explicam   a motivação   relacionada

ao ato de f azer dieta e de se embebedar   (Polivy   & Herman,   1985),ao tra balho (Locke & Latham,   1984,   1990;  Vroom,   1964),   aos

esportes (Rober ts, 1992; Straub  &Williams,   1984),  à educação

(Weiner ,   1979),  e assim por diante.   Por  volta de 1980, os psicó-

logos motivacionais estavam em literalmente   todas   as áreas   da psicologia,   enq uanto investigavam as bases motivacionais da

cognição,   da interação   social,   da   saúde,   da per sonalidade,   daeducação,  e daí por diante.

 Nos anos 1960,   o estudo da motivação basicamente   entrou

em colapso. Os conceitos   motivacionais   foram postos de   lado,enquanto  a disciplina   er a dominada pelos behavioristas,   que viama motivação como algo que acontece fora da pessoa (em forma de

incentivos e reforçadores).   E q uando as forças   internas   à pessoaeram reconhecidas,   elas   eram tidas   como forças f isiológicas,

inconscientes   ou subconscientes.   Em função disso,  estudar nessaépoca os aspectos conscientes da motivação era algo,  por  assim

dizer ,  proibido (Locke &Latham,  2002).  O estudo da motivaçãonecessitava   de teorias que explicassem como  as pessoas   inten-cionalmente regulam seu próprio comportamento.   Felizmente,

em outras áreas,   os   psicólogos   não-motivacionais   desejavam

saber a mesma  coisa.  Ou  seja, veio a se constatar que as questões

sobre a motivação eram significantes   e relevantes para pratica-mente todas as áreas   da psicologia.   Portanto,   os pesquisadoresmotivacionais   estabeleceram uma   série de alianças   com outras

áreas, formando assim uma rede dis per sa   de pesquisadores   quecompartilhavam uma  mesma preocupação e compromisso com

as questões   e problemas   relevantes   do ponto de vista motiva-cional.  Foi nas especialidades da psicologia   -   psicologia social,

 psicologia educacional,   psicologia industriaIJorganizacional, etc.

-   que se criar am as teorias sobre como as pessoas intencional-mente regulam   seu comportamento.

Diante desse presente   "estado de  crise",   há   duas   maneiras

de conceitualizar os estudos contempor âneos da motivação. A primeira delas   é basicamente admitir que  a ár ea da motivação é

 jovem, imatura e basicamente arraigado   a um estágio pr é-para-

digmático de 100 anos de duração (veja a Tabela 2.2). Em vez deexistir em forma de uma disciplina própria e bem-estabeleci da, o

estudo contemporâneo da motivaç~o depende das alianças   destacom outros campos da psicologia, como mostra a Figura 2.1. A

Figura 2.1 também apresenta uma superposição intelectual entre

o núcleo dos estudos   motivacionais e esses dez campos   afins.

A título de  ilustração, observa-se que a psicologia educacional

estuda como os estudantes aprendem e como os professores osajudam a aprender (Renninger ,   1996). Como a motivação afeta

a maneira como os estudantes estudam, e  como os professor esafetam a motivação dos   estudantes   para aprender ,   o cam poda motivação   é r elevante   par a a psicologia   educacional.   Esse

interesse mútuo é mostr ado em fonna de círculos super  postos,mostrados   na Figur a   2.1, e  manifesta-se   nas pesquisas   reali-zadas pelos   psicólogos   educacionais,   que f azem per guntas   como"Qual é o papel  do interesse na a prendizagem?"   (Ainley,   Hidi  &Berndorff ,   2002) e "De que modo o elogio  de um pr of essor afeta

a motivação dos  alunos?"   (Henderlong & Le pper ,   2002).Uma segunda   maneira de conceitualizar os estudos contempo-

r âneos da motivação pode ser vista na Figur a   1.1 (do Ca pítulo 1).Essa figura identificou o assunto dos estudos   motivacionais em

tomo de quatro constructos:   necessidades,   cognições, ~moçõese eventos externos.   Todos  os pesquisadores   da motivação   erif a-tizam a contribuição de  um ou   mais   desses constructbs   par aex plicar a energia  e a direção do compor tamento.   Por  exem plo,

no estudo das   necessidades,   alguns   teóricos ar gumentam que"o estudo da motivação   humana é o estudo das necessidadeshumanas e dos processos   dinâmicos   relacionados a essas   neces-sidades"   (Deci,   1980,  p. 31).  Já os teóricos   motivacionais   pr eo-

cupados com a emoção argumentam que "as  emoções constituemo sistema motivacional primário" (Tomkins,   1970, p.  101). E um

estudo cognitivo da   motivação supõe   que   "as   cr enças   [...]  das pessoas determinam   seu nível de motivação"   (Bandur a,   1989, p.1176). Outros teóricos   concentram-se   nas propriedades motiva-

cionais   de eventos externos,   enfatizando-se   par a   uma análise decomo os eventos   ambientais   energizam   e direcionam   o compor -tamento (Baldwin & Baldwin, 1986;   Skinner ,   1953).

A organização dos   ca pítulos   deste   livro r eflete essa últimaconceitualização do estudo   motivacional.   Ou seja,   um ca pítulocobre as maneir as como   as necessidades   motivam o compor -tamento,   outro capítulo trata de como   as  cognições   motivamo comportamento, e assim por diante. Essa é  uma   o bser vaçãocrítica a   fazer, pois revela   que quem estuda   a motivação e  aemoção reconhece que os   fenômenos   motivacionais inerente-mente possuem   vários   níveis   (Driver -Linn,   2003).   Ou   se ja,   é

 possível entender um estado motivacional   em nível neurológico,

em nível   cognitivo, em nível social, e assim por diante (veja oBoxe 2).   Reconhecer que  a motivação   e a emoção   são ineren-temente fenômenos   de  vários   níveis significa   que essa   área deestudo necessariamente inclui suposições contr aditórias, métodos

variados e diferentes formas de compreensão dos fenômenos.Uma boa maneira de concluir essa análise da motivação   comosendo   uma disciplina em desenvolvimento é f azer uma r evisãodas atuais definições de motivação e emoção.   Essas definições

estão aqui repetidas do Capítulo 1:

 Motivação:   refere-se aos processos   q ue dão ao comportamentosua energia e sua direção.

O termo   pr ocessos   faz reconhecer que os   pesquisa-dor es da motivação não chegaram a um acordo sobre seos motivos são essencialmente necessidades,   cognições,emoções ou reações a eventos   ambientais.   Portanto,   ouso desse termo é uma confissão involuntária de que o

~studo contemporâneo da motivação é multiparadigmá-

tico,   encontrando-se,   por conseqüência,   em um estágio pré- paradigmático de desenvolvimento.

Page 12: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 12/14

stos,

eali-.

orno;di&   '

Ifeta

IpO-

) 1).

lara

D lo,:J.u e,'

des

:es-

eo-em

um'

 j a s

Emoção:   fenômeno subjetivo,   fisiológico, funcional,   expres-

sivo e de vida curta, que   orquestra a maneira como reagimos

adaptativamente aos eventos importantes de nossa vida.

A expressão   subjetivo , fisiológico , funcional ,   e x pressivo

reconhece que os pesquisadores   da motivação compre-

endem as emoções observando-as a partir de diferentes

 pontos de vista. Portanto,   essa expressão é outra confissão

involuntária de que os estudos contemporâneos da emoção

apresentam vários níveis e,   por conseqüência,   também   se

encontr am em um estágio pré- paradigmático de desenvol-

vimento.

Admitir que os estudos motivacionais encontram-se em um

estágio pré-paradigmático de desenvolvimento poderia soar 

como algo pejorativo. Afinal,   qualquer disciplina gostaria de

ver a si mesma como madura, avançada, paradigmática e coesa

(como a física), e não como imatura,   lenta, pré-paradigmática e

Por que essa informação é importante?

Para que se perceba todo o espectro de vozes   partici- pantes do esforço de compreender a motivação.

i~~O:sfenôm~no~ motivacionais ~ã~eventos. ~omplex.os que e.xistemt41:emdiversos ruvels (p. ex., neurologJ.i:o,cogruuvo, SOCIal,ambIental).,.Entretanto, na prática, a maioria das tentativas de explicar uma-. '~xperiêtÍcia motivacional baseia-se em uma única perspectiva. Por 

'. exemplo, quando um adolescente perde interesse pela escola, o paia mãé,(ou um pesquisador) geralmente sai à procura   "da"   expli-ão p1tr~.a dimi~ição do interesse. As pessoas tendem a esco-

e;  a pr imeira idéia razoável e satisfatór la que lhes vem   à  mente.

ntretanto, uma outra maneira de pensar sobre a motivação é tornar-••. se consciente de uma ampla gama de possíveis idéias, para então

seÍecionar aquelas que melhor se adeqüem a uma experiência em, particular ., .",

M 9 i a ~vozes pâr ticipam das discussões sobre os estudos édntem-

 porâneos da motivação,   das quais, sete são particularmente impor-tantes:

Fisiológica!

neurológica _  Cognitiva   .~   '"

 , i' 

~r    '.',   ,....,   .,CogruUVO-SOCIal _ 

".   (cultural)

Os m.otivos são de origem ... ,j'    ~" 4 i .   > , •  -   "~l;   .   ,<,}

Incentivos e recompensas ambientais (p.'ex.,dinheiro)

Atividade cerebral e hormonal Cp.ex., fome)

Eventos mentais e mod?s de pensar Cp.ex.,metas)

.Ma1'l.êirasd~ pensar apÓ~uma exposição a

outros indivíduos, tais como aqueles quedesempenham papéis modelares (p. eX.,

 possíveis l)ignificaâos pessoais)   .D0ta.ção genéticlf 'de c,ada indivíduo

.   ' i . (p.·~x:~ex   o)!:~ ,(   fi"  '.I:   '.", "" b~t   f 

Encorajamento o potenCial humano(p:  ex., auto-atualizllÇão)   "

Vida ÍneIítalhIconsciente

  ( p .  ex., ansiedade)

I-   ~ _   ,'-"

dividida   (como   a  motivação;   Driver-Linn,   2003).   Dessa   f orma,

os estudos motivacionais existem como um   "trabalho intelectual

em progresso"   ..

o Retorno dos Estudos da Motivaçãonos Anos 1990

A partir de   1952,  a  Universidade de Nebr aska passou   a convidar 

os   mais   proeminentes teóricos   motivacionais   da   época   a se

reunirem   anualmente em um simpósio   sobre motivação.   No

 primeiro ano desse encontro,   entre os   participantes estavam

Harry Harlow, Judson Brown e Hobart Mowrer    (nomes   céle-

 bres   nos   estudos da motivação). No ano   seguinte,   John Atk $son

e Leon Festinger    a presentaram artigos,   o mesmo   ocorr end b   no

terceiro   ano com Abraham Maslow,   David McClelland,   James

Olds e Julian Rotter (de novo,   todos   eles   pesquisadores   fam1sos

no estudo da motivação). O simpósio logo se tomou um sucesso,

A título de ilustração, considere como é possível ter a melhor 

compreensão e explicação da motivação sexual.   Os   behavioristas

apontam para a parte do desejo que depende do grau   a que a outra pessoa é atraente e tem a capacidade de reforçar essa atração física.

Já os psicofisiologistas apontam para a parte do desejo que depende

da liberação de dopamina no sistema límbico do cérebro. Os cogui-

tivistas acrescentam que o desejo provém de expectativas,   metas,

valores,   esquemas e crenças sobre o que é e o que não é possível.

Os pesquisadores cognitivo-sociais ajuntam que nossas crenças eexpectativas surgeIil das interações com os outros, tais.como nossos

colegas e as pessoas   q u e   para 'nós representam modelos de pa pel

culturais. Os ewolucionistas diz~m que os homens ~ as mulheres

têm diferentes estratégias de acasalamento e que,   portanto, desejamencontrar diferentes qualidades em um parceiro. Os humanistassalientam a parte do desejo que deriva da oportunidade de participar 

de uma relação íntima e promotora de crescimento.  E os psicanalistas   ê

acrescentam que desejamos relações com as pess;~s que se enqua-dram nos nossos primeiros vínculos e do modelo mental enraizado

na  infância a respeito de quão próximo de um ideal romântico o

. parceiro deve se situar.

Quando ouvimos todas essas   "ozes que participam da discussãosobre motivaçio, temos   à impres[ão de esWmos diante tanto de UIil

 ponto for te quanto de um p~ntà fraco. Quanto ao ponto fraco, pode-

riamos ter a impressão (córreta) de que a motivação não parece ser 

um campo de estudo isolado - ou seja,   ela está dividida em espe-.dalidades, e ninguém parece chegar a um acordo que nos permita

compreender e expJiçar ~,qu~ sãç a mqtiyação e a,~m<?ção.~U!ll).to ' .ao ponto forte, entretantô,vêni~sque se ganha a'ôyortufiidade de

 juntar   ,n;,~s peças do quebra-cabéça. Pesquisadores de diferentes

 perspectivas fazem diferentes perguntas sobre a motivação;   .muitas

- ·das quais podetiárn ser impensáveis a nós,.  caso não tivessem sido

~formúlªdas por meio de perspectivas que"nQs são' pouco familiares.

"É prováVel qU~ N9cê nãii a<:;hetodas !Is .J:es~ostàs,s~tis(àtdda;,   mas;z ,   ''07>,;;.;   / 14fí -'.' "',-   , _    "!!i   ·-·. ,C~"A,"    ?ii ' •.   _ ,4 '"

uma compreensão profunda e sofisticada dá motivaç~o e da.emoção

começa pnrner r o colocando todo   6 ' conheéhnento dispónív'elsobre

~ mesa,: para entãoseledonar aquelas idéias qu~ são mais empiri-càniente.tfef ensaveis e pessoalmente utiliiâ~êis.   '  .

. .\Jlt"   .~.   "",",,''.   Iik.   .í'.~'

Page 13: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 13/14

 passando a desempenhar um pa pel de lider ança   na definição   e naref lexão   sobr e a ár ea. Ao longo de 25 anos, o simpósio se realizouininterruptamente,   até que uma mudança fundamental   ocorreu em1978 (Benjamin   &Jones,   1978).  Em 1979, o  simpósio quebr ou

a seqüência   de seu tema  motivacional,   passando,   em vez  disso,a considerar tópicos   que   variavam de ano par a ano,   sendo   quenenhum deles tinha muito, ou mesmo nada a ver , com motivação.O simpósio de   1979   concentrou-se   nas   atitudes,   e simpósios

 posterior es   detiver am-se em tó picos como   gênero,   comporta-mentos   de adictos e envelhecimento.   Lembre-se   de que   essesanos corr es pondem   à perda de posto que a motivação sofreu,   deser talvez o campo mais importante  da psicologia   para se ver r ele-gada a  uma ár ea de  segunda classe.   Basicamente,   o Simpósio de

 Nebr aska, assim como a psicologia   em ger al,   perdeu o inter esse pelo estudo da motivação ( pelas r azões  descritas anteriormente).Com o declínio de suas gr andes teorias,   os estudos   da motivação

 perder am   seu foco e sua identidade.

Entretanto, a história   não  termina com a motivação   vivendoessa crise irremediável.   R econhecendo o r enascimento   dos estudosda motivação e de seus feitos contempor âneos (ou se ja,   da er adas miniteorias),   os or ganizadores   do Simpósio de Nebrask a   de1990 mais uma vez convidaram os pesquisador es   mais  proemi-

nentes da motivação   par a se reunirem em um simpósio  dedicadoexclusivamente   ao conceito de motivação   (Dienst bier ,   1991).Durante essa confer ência, os   organizador es   perguntar am aos

 participantes   - Mortimer Appley,   Albert Bandur a, Edward L.Deci,   Douglas   Derr y berr y, Carol Dweck,   Don Tucker ,   RichardRyan e Bemard Weiner  (de novo, todos nomes famosos  no estudoda motivação)   -   se eles achavam que a motivação   era   nova-mente um campo forte  e madur o o suficiente   par a   mer ecer quehouvesse um r etorno  exclusivo   aos tó picos so br e  motivação.   Demaneira unânime   e entusiástica, os participantes   disser am quea motivação era de novo um campo de estudo r ico o suf iciente

 par a justificar   o encontro   anual em Nebr aska. Os or ganizador esconcordaram   com essa   decisão   e,   ao f azer em isso,   deram aoestudo da motivação   um voto de conf iança e um senso  de iden-tidade pública.   Desde então, a cada ano o sim pósio   voltou a ter seu foco na motivação.

 Nos   anos   1970,   os estudos   da motivação   encontr avam-se à beir a da extinção,   "com as  costas achatadas",   conforme   disser amdois pesq uisador es (Sorrentino  &Higgins,   1986, p. 8). O simplesf ato de que os organizador es   da conf er ência tiver am que perguntar aos participantes   do  simpósio   se a motivação, por   si só, cons-titui ou não um campo diz algo so bre   sua crise de identidade.   O

estudo da motivação   so br eviveu   aliando-se a outros   campos   deestudo,  e o Simpósio de Nebraska de 1990 simbolicamente   a pre-goou seu retorno em dir eção   a um campo integr ado e coerente deestudo. Com o novo milênio,   o estudo da motivação mais   uma

vez logrou   atingir   uma   massa   crítica   de participantes   interes-sados e proeminentes.   Para documentar   essa conclusão otimista,

o leitor pode consultar os principais   per iódicos   de psicologia (p.ex., Psychological Review, Ps ychological Bulletin ,   Ps ychologicalScience)   e esperar encontr ar um ar tigo relacionado   à motivação

em praticamente todas   as edições. O que parece é que as ques-tões e problemas motivacionais são simplesmente   interessantese importantes   demais par a ser em ignor ados.  E o mesmo   se podedizer em relação aos per iódicos  de diver sas outr as   ár eas de es pe-

cialidade   ( p. ex., J ournal   0 /  Ed ucat ional Psychology,   J ournal   01Personality and  Social Psychology).   No novo  milênio,   o estudo

da motivação está clar amente   de volta à f r onteir a   da psicologia. Nos   14 ca pítulos   que se seguir ão, o leitor  pode es per ar encontrar 

um campo cr escente e em estado   de f lor escimento - um poucodesor ganizado,   porém inter essante,   r elevante e vital.

Como disse um participante   do simpósio,   "se o que você temé uma maneira de a judar   as pessoas a tr atar   de q uestões signifi-cantes em suas vidas, então você ver á por  todos os lugar es avisosdo tipo   'Pr ecisa-se   de A juda"'.

f Muito  se pode ganhar per corr endo os 24 séculos de pensamentosobr e a motivação.   Consider e   as antigas q uestões: por   que secomportar ?   Por que f azer algo - por  que se levantar 4e manhãcedo par a   f azer   alguma   coisa?   Diante   de q uestões como essas,

ao longo da história,   os pesquisadores   da motivação começar ama buscar os agentes   instigador es   do com portamento - ou seja,começar am   a pr ocurar identif icar    o   que energiza ou inicia ocomportamento.   Dur ante dois milênios (de Platão   [c. 428-348a.c.]   a Descar tes   [c.   1596-1650]),   o esf orço intelectual para se

compr eender a motivação   concentr ava-se   na vontade,   q ue residena   alma   imaterial.   Estudar   essa substância   imaterial   e es piri-tual   f oi algo que se mostrou muito   difícil par a a nova ciênciada psicologia. A biologia   (fisiologia) mostrou-se   uma alterna-tiva mais conveniente,   uma vez   q ue seu   sujeito era material emensur ável.   Ao r es ponder   à per gunta "Por   que se compor tar?",

a r es posta veio   a ser que o comportamento serve às necessi-dades   do or ganismo. O instinto, o impulso e a excitação,   todosesses   motivos se  tor nar am   atr aentes,   visto   q ue cada   um deles   'er a  nitidamente   ca paz de ener gizar   os tipos   de compor tamentoque   servem   às necessidades   do or ganismo ( p.   ex.,   as pessoaslevantam-se   da cama   porque têm f ome e pr ecisam   comer   algo).O incentivo também  se somou   a esses constr uctos, uma vez q ueo hedonismo   (a  busca   do pr azer e a evitação   da dor ) ex plica omotivo pelo qual os eventos ambientais   também   são ca pazes deenergizar o compor tamento   (ou se ja,   as pessoas se levantam dacama para buscar  o prazer e af astar a dor ).  Século a pós século,   os

 pensadores f or am   a perfeiçoando   suas  r es postas à questão   so breo que instiga  o comportamento,   propondo a vontade,   o instinto,o impulso,   o incentivo,   a excitação.

Todo o processo estava  indo r elativamente   bem,   até que umamassa   crítica de   pesquisadores   da   motivação   perce beu que se

estava  fazendo   e tr atando   da questão   err ada!   A questão   da insti-gação do  comportamento pr essupõe   um   or ganismo   passivo e

 biologicamente r  egulado;   ou se ja,   alguém que está ador mecidoe,  ao acordar ,   precisa   de algum motivo par a agir de  um modocomportamental. Em   algum ponto,   os   pensadores   motivacio-nais perceber am que dor mir er a também um comportamento, e   'que o dorminhoco notório   estava ativamente enga jado em  seu

ambiente.   A percepção que  se teve   é de que estar   vivo   signi-fica estar ativo:   portanto,   os   or ganismos   estão   sempre   ativos,sempre   se comportando.   Não   existe tempo   em que um orga-nismo vivo não esteja   se comportando;   e não existe   tempo   noqual utP. _ organismonão esteja   a presentando tanto energia quantodir eção de comportamento.   Portanto, as questões f undamentais

Page 14: Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

7/22/2019 Reeves Historia e Perspectiva Contemporanea

http://slidepdf.com/reader/full/reeves-historia-e-perspectiva-contemporanea 14/14

temlifi-isos

1l   of 

udo

'gia.Itrar 

'uco

~ senhã

sas,ram

eja,   :ia o348

a se

lideliri-Icialla-

ai e

ssi-

dos~les

:nto i~o~~' k 

que:a o; de   •

Ida, o s

·brelto,

lm a: sesti-

oe

idom o:io-

da motivação passar am   a ser   as do   tipo:   por q ue   o com porta-mento varia   de intensidade? E por   que as  pessoas   fazem uma

coisa e não outr a?Essas duas  questões aumentar am   o poder do estudo   da moti-

vação. Os estudos   contemporâneos   da motivação   passar am a seconcentrar não só na energia  do comportamento,   mas também nasua direção. Esse é o motivo  pelo qual tr ês tendências   histór icas

 _   a do or ganismo   ativo,  a da revolução   cognitiva e a da preocu-

 pação com  as pesquisas a plicadas e socialmente r elevantes   -,são tão importantes,   uma vez que o campo passou   a se basear menos nos agentes   instigadores   do comportamento,   na biologiae noS experimentos laboratoriais com cobaias, e a se interessar cada vez   mais pelos   agentes   diretores   do  comportamento,   dacognição e dos  problemas   motivacionais   humanos.

Essa mudança   de per s pectiva   abr iu  as comportas   intelectuais par a a chegada ao campo   das miniteorias.   No lugar das gr andesteorias, o cenário contempor âneo   agor a ofer ece   uma coleção   deminiteorias, como a motivação de realização,   do estabelecimentodemetas e da auto-eficácia.   Essas miniteorias res pondem   a ques-tões es pecíf icas e ex plicam a motivação em   situações   par ticu-lares de maneira   um tanto eficiente,   como ver emos   nas pr óximas

 páginas.

Uma visão histór ica   do estudo  da motivação   permite ao leitor considerar 

como o conceito   de  motivação   veio   a atingir   sua  pr oeminência,   comoo campo se modif icou   e se desenvolveu,   como   suas   idéias   f oram   desa-

f iadas e substituídas   e, f inalmente, como   o campo r essur giu   e passou   aenglo bar diver sas   disciplinas   na psicologia (Bolles, 1975). Os conceitos

motivacionais   têm origens   f ilosóf icas.   Desde a Antiguidade   grega   até aRenascença européia,   a motivação er a entendida   dentr o   de dois temas,sendo um deles o de que a motivação   er a boa, racional,   imaterial   e ativa

(ou seja,  a vontade) e outr o  de que a motivação era  primitiva,   im pul-

siva, biológica e r eativa   (ou   se ja,   os   dese jos   corpor ais).   Entr etanto,   oestudo f ilosófico da vontade veio a se tomar   um beco-sem-saída,   que

ex plicava   muito   pouco so br e a motivação,   e que de fato fazia muitomais per guntas   do que  podia   r es ponder .

Par a ex plicar a motivação, o  novo campo da  psicologia passou   a buscar uma análise   mais f isiológica,   concentr ando-se   no conceito   meca-nicista do instinto   ger ado geneticamente.   O aspecto   atr aente da doutrina

do instinto er a sua ca pacidade   de explicar   o compor tamento não-apren-

dido dotado   de ener gia   e de pr o pósito   (isto é, os   impulsos   biológicosdir ecionados   par a uma meta).  Entr etanto,   o estudo f isiológico do instinto

também provou   ser  um beco-sem-saída,   pelo   menos   em  termos   da suacapacidade   de ser vir   como uma grande   teoria   da motivação.   A ter ceira

gr ande   teoria   da   motivação foi   o   impulso.   Na   teoria   do impulso, ocomportamento   é  motivado à medida   que   serve   às  necessidades   do

organismo e restaura   a homeostase biológica.   Assim   como   a vontade

e o instinto,   o impulso   a pr incípio pareceu algo bastante promissor ,es pecialmente porque er a capaz de fazer   o que nenhuma   outr a   teoria

motivacional havia conseguido   antes   -   ou seja,  pr edizer a motivação

antes que ela ocorr esse,   a partir de suas condições antecedentes (p. ex., passar horas de privação). Em   conseqüência,   essa   teoria conquistougrande aceitação,   es pecialmente   manifestada nas teor ias  de Fr eud   e de

Hull. Porém, também no final   a teoria do impulso se mostrou extr ema-

mente limitada em  termos   de escopo,   e com essa re jeição   sobreveio adesilusão do campo com as gr andes teorias   em ger al,   embora   diver sos

Princípios adicionais   derivados   das gr andes teor ias tenham   a par ecido

com algum   sucesso,   podendo-se   mencionar entr e   eles  o incentivo e aexcitação.

 No final,  tomou-se clar o  que,  par a se o bter  um pr ogr esso   na compr e-

ensão da motivação,   er a preciso que o campo   saísse   dos limites   de suas

gr andes   teorias   e'a br açasse   o cam po   menos   ambicioso,   porém mais

 pr omissor ,   das   miniteorias. Tr ês   tendências   históricas   ex plicam essa

tr ansição.   Em primeir o   lugar ,   os estudos   da  motivação   re jeitaram seucompromisso com   uma visão   passiva   da natureza   humana,   passando a

adotar   um r etr ato   mais ativo dos   ser es   humanos. Em   segundo,   a moti-

vação tomou-se algo   decididamente cognitivo,   e   também um tanto

humanista.   Em ter ceir o, o campo concentrou-se nos   pr oblemas   apli-

cados   e de r elevância social.   O f ato  de o cam po ter mudado o foco para

as miniteor ias   foi  em par te   um desastr e e em   parte   um   gol pe   de sorte.

 No que diz res peito ao desastr e, a motivação   per deu   seu status   confor -

tável de principal   disciplina   da psicologia,   caindo ra pidamente   par a um

s~atus de segunda   clas~e. Diante disso,   os, pesquisador es   da motivafão   sedis persaram   par a  pr aticamente   todas   as ar eas   da pSicologia   ( p. ex.', par a

a psicologia   social,   do desenvolvimento e clínica) e f orjaram ali~nças

com outr os campos, com   eles  dividindo   idéias,   constructos,   metodolo-

gias e per s pectivas. Porém,   isso aca bou   sendo o gol pe de sorte da ~oti-

vação,  uma vez que  a dis per são do campo  por uma am pla faixa de outroscampos   de estudo pr ovou   ser  um ter r eno   fértil   par a o desenvolvimentode um grande   número de miniteorias esclar ecedoras.

O tema  que  perpassa todo   este ca pítulo   é que os estudos   motivacio-nais têm   sof r ido   um   constante   pr ocesso de   desenvolvimento,   embora

continuem   a permanecer em um  estágio pré- par adigmático de desenvol-

vimento.   Em r etr ospecto, os estudos   da motivação progrediram desde

conceitualizações   relativamente simplistas   par a   uma coleção cada vezmais   crescente   de   insights   sof isticados   e empiricamente defensáveisa r es peito   das for ças   que ener gizam   e direcionam   o com portamento.

Com   a vir ada   do novo   milênio,   as gr andes teorias   aca bar am.   E o q uesur giu par a   substituir um campo outrora   unificado e dominado por   um

compr omisso consensual   a uma série   de gr andes   teor ias foi a adoção

de três   pontos em   comum por par te de   um eclético gru po de pesq ui-

sador es:   (1)  questões   f undamentais   (p.   ex.,   o q ue causa o comporta-mento ener gético e  dir ecionado?);   (2) constr uctos   f undamentais (ouse ja,   necessidades,   cognições, emoções e eventos   exter nos) e (3) uma

história   compartilhada.

 A E ra das   Gr and es Teor ÚlsBOLLEs,R. C. (1975).   Histor ical origins of motivational conce pts, em A T heor  y

o fM ot ivat ion,   2' ed. ( pp. 21-50).  Nova York : Har  per  &Row.COFER ,C. N.  & A!'PLEv,M. H.  (1964).   Motivation   in historical  per s pective,

 M ocivat ion:   T heor  y and   Resear ch   ( p p.  19-55),   Nova Yor k : Wiley.HULL,C. L.  (1943).   Primary motivation and  reaction potential,   Pr inci pies o f 

 Behavior   ( pp. 238-253).   New Yor k: Appleton-Century-Crofts.K OCH,S. (1951).   The cur r ent status of  motivational psychology. Ps ychological

 Review ,58,   147 -154.K uo, Z. Y.  (1921).   Giving up instincts in psychology. J our nal   o f Philosoph y ,

17,  645-664.

 A Era das M initeor iasA!'PLÉV,M. H. (1991).   Motivation, equilibration and stress. Em R. A. Dienslbier 

(Ed.),  Nebr aska sym posium   on motivacion   (Vol.   38,   pp.   1-67).   Lincoln:University of  Nebrask a Press.

BE NJAMIN,L. T., JR .&JO NES,M. R . (1978).   Fr om motivational lheory to socialcognitive develo pment:  Twenty-five year s of lhe Ne br aska Symposium.

 Nebrask a sym posium   on mot ivat ion   (Vol. 26, pp. ix-xix). Lincoln: Univer sityof  Nebr aska Pr ess.

BOLLES,R . C. (1972).   A motivational view of  learning, per f or mance and beha-vior modif ication. Psychological Review ,   81,199-213.

DEMBER,W. N.   (1974).   Motivation   and lhe cognitive revolution.   American

Psychologist  ,   29,   161-168.WEINER,B .  (1990).   Histor y of motivational resear ch in education. Journal of 

E ducacional Psychology,   82, 616-622.