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REGIANE MATHIAS Imunoglobulina na patogenia da leishmaniose visceral em hamsteres Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de doutor em Ciências. Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Experimental Orientadora: Profa. Dra. Hiro Goto São Paulo 2004

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Page 1: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

REGIANE MATHIAS

Imunoglobulina na patogenia da leishmaniose visceral em hamsteres

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de doutor em Ciências. Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Experimental Orientadora: Profa. Dra. Hiro Goto

São Paulo 2004

Page 2: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

“Se não houver frutos Valeu a beleza das flores

Se não houver flores Valeu a sombra das folhas

Se não houver folhas Valeu a intenção da semente”

Maurício Francisco Ceolin

Page 3: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Aos meus pais, irmãos, cunhadas e sobrinhos,

torcedores silenciosos, o meu amor infinito

A amiga, companheira e irmã Aline pelo convívio

e constante alegria

Aos amigos Paulo, Marisol

e Flávia, pelas alegrias e tristezas

A Antunes, por iluminar meus dias, minha infinita admiração,

meu respeito e amor

Page 4: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

AGRADECIMENTOS

A profa. Dra. Hiro Goto pela competente orientação, seriedade profissional,

confiança, compreensão, paciência, pelo apoio e estímulo constantes durante esses

anos de convivência e pela amizade, minha eterna gratidão.

Ao prof. Dr. Magnus Ake Gidlund pela agradável convivência e amizade.

Ao prof. Dr. Idércio Luiz Sinhorini pela constante colaboração na identificação das

ultraestruturas, ensinamentos, estímulo, pelas sugestões recebidas na qualificação e

acima de tudo pela amizade.

Aos professores Dr. Heitor Franco de Andrade Júnior e Dra. Mahasti Sahihi de

Macedo pelas sugestões recebidas na qualificação, que muito contribuíram para o

enriquecimento final desse trabalho.

A Profa. Dra. Élia Garcia Caldini por ter cedido gentilmente o seu laboratório para

a realização da técnica de imunoeletrônica.

A Shirley pela colaboração, disposição em sempre ajudar e amizade.

Aos amigos, irmãos e companheiros José Angelo Lauletta Lindoso e Francisco Assis

Lima Costa, pela maravilhosa convivência, pelo apoio, incentivo e auxílio constante

em todas as ocasiões, tanto científicas quanto pessoais.

Ao amigo Fernando Henrique das Mercês Ribeiro pela amizade e convívio.

Page 5: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

A grande e eterna amiga Beatriz Julieta Celeste pelo convívio diário, pela grande

amizade e pelas cachaças, é claro.

A querida amiga Edna Souza pela alegria e pela força diária.

Aos amigos Edite, Carmen, Sueli, Bete, Prianti, Márcia, Célia, Mariko, Flávia,

Érika, Eduardo, Daniel, Paulo Cotrin, Milca, e aos pupilos Fábio, Fabrício,

Cristina e Alexandre pelo companheirismo e pela alegria do dia-a-dia.

Aos amigos Hélio Corrêa pelos cortes ultraestruturais e Marcelo Alves Ferreira pela

digitalização das eletromicrografias o meu eterno agradecimento e amizade.

Aos amigos Adão Caetano, Maria Cecília Marcondes, Maria Margarida Teixeira,

Gildásio, Maria do Rosário Loureiro de Aguiar, Miriam Regina Taborda Simone e

Ivone Silva Santos, do Laboratório de Biologia Celular, pela amizade, dedicação e

incansável contribuição, que com paciência e cuidado muito me ensinaram sobre o

processamento e documentação de todo o estudo de microscopia eletrônica.

Aos secretários Gallo, Sônia, Tânia e Diva do Programa de Pós Graduação da

Fisiopatologia Experimental pela paciência, por se mostrarem sempre prestativos e

pela amizade.

Ao Prof.Dr. Roger Chammas e a sua equipe por ter cedido gentilmente o seu

laboratório para a realização da digitalização das fotomicrografias finais desse

trabalho.

Aos funcionários e amigos Arthur, Eunice, Ione, Paulo, Renato e Vera, pela

amizade e pela constante disponibilidade.

Page 6: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Às amigas Cláudia Gomes, Márcia Laurenti, Rachel Chebabo e Vânia da Matta,

pela amizade e pelo estímulo no início dessa jornada.

Ao amigo Cleiton Alves, pelo processamento dos cortes histológicos.

Aos amigos Fábio (Mel), Marcelo (Lobster), Lúcio (Tosco), Michelangelo (Mic),

Ricardo, Nilton, David, Giovani, André, Bosco, Daniel, Rosana, Luciane, Juliana,

Rita, Andréia Bonsi, Ana Claúdia e Andréia Silva pelos momentos de desabafos,

alegrias e amizade.

A bibliotecária Valéria da FM/USP pela sistematização das referências

bibliográficas.

Ao Laboratório de Soroepidemiologia e Imunobiologia do Instituto de Medicina

Tropical pela infra-estrutura necessária para a realização desse trabalho.

Ao Laboratório de Investigação Médica (LIM-38) da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo pelo suporte financeiro.

A FAPESP pela aprovação desse projeto e liberação de recursos indispensáveis à

execução dessa dissertação.

Aos Hamsteres, personagens centrais inocentes, que deram suas vidas em

prol da ciência, meu imensurável respeito.

Page 7: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Esse trabalho foi desenvolvido no Laboratório de

Soroepidemiologia e Imunobiologia do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo e contou com o suporte financeiro de

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(Processo no. 01/07626-5 / bolsa de doutorado) e apoio do

Laboratório de Investigação Médica (LIM-38 HC-FMUSP).

Page 8: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO........................................................................................... 1

OBJETIVOS............................................................................................... 16

MATERIAL e MÉTODOS.......................................................................... 17

Amostras de soros..................................................................................... 17

Parasitos.................................................................................................... 17

Animais e protocolo experimental.............................................................. 18

Purificação de IgG por coluna de proteína G- Sepharose......................... 19

Internalização de IgG por células endoteliais de veia de cordão umbilical

humano (HUVEC)...................................................................................... 20

Determinação de IgG internalizada por ELISA de captura........................ 21

Detecção de IgG nos tecidos por microscopia eletrônica de transmissão 22

Morfometria................................................................................................ 23

Microscopia de fluorescência intravital...................................................... 24

Análise estatística...................................................................................... 25

RESULTADOS........................................................................................... 27

Internalização de IgG por célula endotelial de veia de cordão umbilical

humano (HUVEC)......................................................................................

27

Detecção de IgG em tecido de hamster com leishmaniose visceral por

microscopia eletrônica de transmissão......................................................

29

Fígado........................................................................................ 29

Page 9: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Pulmão....................................................................................... 35

Rim............................................................................................. 40

Estudo da microcirculação por microscopia intravital................................ 45

DISCUSSÃO.............................................................................................. 49

CONCLUSÕES.......................................................................................... 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 58

Page 10: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

ÍNDICE de FIGURAS e TABELAS

Figura 1. Representação esquemática do sistema usado para observação

da microcirculação........................................................................................ 26Figura 2. Detecção de IgG em células endoteliais de veia de cordão

umbilical humano (HUVEC) incubadas com soros de pacientes e

hamsteres...................................................................................................... 28Tabela 1. Análise morfométrica de estruturas celulares de fígado............... 30Figura 3. Detecção de IgG no fígado controle não infectado (ME).............. 31Figura 4. Detecção de IgG no fígado aos 30 dias PI (ME)........................... 32Figura 5. Detecção de IgG no fígado aos 60 dias PI (ME)........................... 33Figura 6. Análise quantitativa de IgG marcadas por proteína A-ouro em

fígado de hamsteres...................................................................................... 34Tabela 2. Análise morfométrica de células endoteliais de pulmão............... 35Figura 7. Detecção de IgG no pulmão controle não infectado (ME)............ 36Figura 8. Detecção de IgG no pulmão controle não infectado (ME)............ 37Figura 9. Detecção de IgG no pulmão controle não infectado (ME)............ 38Figura 10. Análise quantitativa de IgG marcadas por proteína A-ouro em

pulmão de hamsteres.................................................................................... 39Tabela 3. Análise morfométrica de células endoteliais de rim...................... 40Figura 11. Detecção de IgG no rim controle não infectado (ME)................. 41Figura 12. Detecção de IgG no rim controle não infectado (ME)................. 42Figura 13. Detecção de IgG no rim controle não infectado (ME)................. 43Figura 14. Análise quantitativa de IgG marcadas por proteína A-ouro em

rim de hamsteres........................................................................................... 44Figura 15. Número máximo de extravasamentos observados após

aplicação tópica de histamina na bochecha evertida de hamsteres............. 46Figura 16. Número máximo de extravasamentos observados na

bochecha evertida de hamsteres após aplicação de IgG............................. 47Figura 17. Representação da microcirculação da bolsa da bochecha de

hamster.......................................................................................................... 48

Page 11: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

RESUMO

Na leishmaniose visceral (LV) a deposição de imunocomplexo tem sido

considerada como o mecanismo de lesões teciduais. Entretanto, outros

mecanismos envolvendo IgG tem sido descritos. Neste trabalho, estudamos

a internalização de IgG por células endoteliais como um mecanismo

alternativo de lesão. Quando células endoteliais da veia de cordão umbilical

humano (HUVEC) foram incubadas in vitro com soro de pacientes e de

hamsteres com leishmaniose visceral, observamos maior intensidade de IgG

marcada, enquanto que, com soro de leishmaniose tegumentar, observamos

pouca marcação de IgG em apenas algumas células endoteliais. Para

analisar a internalização de IgG por células endoteliais in vivo, fragmentos

de fígado, pulmão e rim foram retirados de hamsteres com LV nos diferentes

tempos e foram analisados por microscopia eletrônica de transmissão.

Qualitativamente observamos maior quantidade de IgG em células

endoteliais de fígado, pulmão e rim de hamsteres infectados quando

comparados aos controles não infectados. Quantitativamente, observamos

mais partículas aos 30 e 60 dias pós-infecção (PI) em células endoteliais do

fígado e pulmão e aos 60 dias no rim, quando comparados aos controles

não infectados. Alterações na permeabilidade vascular foram estudadas na

bochecha de hamsteres infectados por microscopia de fluorescência

intravital, usando histamina como estimulante, foi observado inibição do

extravasamento em animais infectados aos 30 dias. Em prosseguimento, foi

detectado aumento no extravasamento plasmático quando IgG purificada de

hamsteres com 60 dias PI foi aplicada em bochecha de hamsteres normais.

Page 12: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Estes resultados sugerem que a internalização de IgG ocorrida em células

endoteliais provavelmente possa ser um dos mecanismos envolvidos na

patogênese da LV.

Page 13: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

ABSTRACT

In visceral leishmaniasis (VL) the immune complex deposition has been

claimed as the mechanism of tissue lesions. However other mechanisms

involving IgG have been described and in this work, we studied

internalization of IgG by endothelial cells as an alternative mechanism of

lesion. When human umbilical vein endothelial cells (HUVEC) were

incubated in vitro with VL sera of patients and hamsters, high intensity of IgG

staining was observed in endothelial cells whilst with tegumentary

leishmaniasis sera only low intensity IgG staining in fewer endothelial cells

was observed. To study this phenomenon in vivo, liver, lung and kidney were

taken from hamsters with VL at different time periods and analyzed under

transmission electron microscopy for internalization of IgG by endothelial

cells. Qualitatively, we observed greater amount of IgG at 30 days post-

infection (PI) in the endothelial cells from liver, lung and kidney of infected

hamsters when compared with non-infected controls. Quantitatively, we

observed more particles at 30 and 60 days PI in endothelial cells in the liver

and lung, and at 60 days in the kidney when compared with non-infected

control. Vascular permeability changes were studied in cheek pouch of

hamsters by intravital fluorescent microscopy, and using stimulation with

histamine, plasma leakage was inhibited in infected animals at 30 days of

infections. Further, increased leakage was detected when purified IgG from

hamsters with 60 days PI was applied on normal hamsters cheek pouch.

These data suggest that internalization of IgG occurring in endothelial cells

probably may be one of the mechanisms involved in the pathogenesis in the

VL.

Page 14: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

INTRODUÇÃO

As leishmanioses são doenças causadas por protozoários

pertencentes ao reino Protista, especificamente ao filo Mastigophora, que

inclui todos os protozoários que possuem um ou mais flagelos e reprodução

assexuada por divisão binária. Pertencem à ordem Kinetoplastida,

caracterizada pela presença de um cinetoplasto e à família

Trypanosomatidae, gênero Leishmania (Lainson e Shaw, 1987). Todas as

espécies de Leishmania exibem um ciclo de vida heteroxênico semelhante.

São encontradas na forma promastigota (com flagelo externo) vivendo no

trato digestivo do inseto vetor e como forma amastigota, arredondada e sem

flagelo externo, sendo parasito intracelular obrigatório de hospedeiros

vertebrados cuja multiplicação se dá por divisão binária. O tamanho da

forma promastigota varia muito; o corpo mede, em geral, 10,0 a 20,0 x 1,5 a

3,0 µm com um flagelo freqüentemente muito maior que o corpo. A forma

amastigota mede de 2,5 a 1,5 x 6,8 a 4,5 µm dependendo da espécie do

parasito (Lainson e Shaw, 1987).

As principais espécies causadoras de leishmanioses são

classificadas segundo Lainson e Shaw (1987), de acordo com o seu

desenvolvimento dentro do vetor, em dois subgêneros: Leishmania

(parasitos que tem seu desenvolvimento limitado ao estômago do vetor) e

Viannia (parasitos que se aderem pelo flagelo às paredes do piloro e/ou

íleo). O subgênero Viannia está dividido em 4 complexos: Leishmania

(Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis, Leishmania

(Viannia) naiffi e Leishmania (Viannia) lainsoni e o subgênero Leishmania

Page 15: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

em 11 complexos: Leishmania (Leishmania) hertigi, Leishmania

(Leishmania) mexicana, Leishmania (Leishmania) amazonensis,

Leishmania (Leishmania) enrietti, Leishmania (Leishmania) arabica,

Leishmania (Leishmania) aethiopica, Leishmania (Leishmania) gerbilli,

Leishmania (Leishmania) major, Leishmania (Leishmania) tropica,

Leishmania (Leishmania) donovani e Leishmania (Leishmania) infantum

(Thomas–Soccol et al., 1993). Para Lainson e Shaw (1987) as espécies

Leishmania (Viannia) panamensis e Leishmania (Viannia) peruviana

também pertencem ao subgênero Viannia e Leishmania (Leishmania)

chagasi, Leishmania (Leishmania) aristidesi e Leishmania (Leishmania)

venezuelensis ao subgênero Leishmania.

A leishmaniose visceral é encontrada em quatro dos seis

continentes. Na Índia e no leste da África é causada pela Leishmania

(Leishmania) donovani; na China, Ásia Central e nos países mediterrâneos

da Europa e África é causada pela Leishmania (Leishmania) infantum e, na

América Latina pela Leishmania (Leishmania) chagasi (Laison e Shaw,

1987; Berman, 1997; Lainson e Shaw, 1992).

A ocorrência das espécies de Leishmania é normalmente limitada à

distribuição do vetor que é determinada geograficamente. Os vetores

pertencem à sub-família Phlebotominae que é dividida em dois gêneros

principais: Phlebotomus e Lutzomyia. Na Europa, Ásia e África (Velho

Mundo) os vetores das espécies causadoras das leishmanioses visceral e

cutânea são do gênero Phlebotomus (Lainson e Shaw, 1987). Nas

Américas (Novo Mundo) os vetores são do gênero Lutzomyia (Pearson e

Queiroz Sousa, 1996). A Lutzomyia longipalpis é o vetor da Leishmania

Page 16: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

(Leishmania) chagasi e outras espécies de Lutzomyia são vetores dos

agentes das leishmanioses tegumentares americanas (Lanzaro e Warburg,

1995).

Certas espécies do vetor são encontradas em florestas, outras são

endêmicas em regiões de deserto e algumas são peridomiciliares,

residentes em restos de lixo ou entulhos próximos às casas ou construções

em áreas rurais (Lainson e Shaw, 1987) e também encontradas em áreas

urbanas, tais como Teresina, São Luís, Fortaleza e mais recentemente no

interior de São Paulo (Araçatuba e Bauru) (www.saude.gov.br/svs).

Os hospedeiros vertebrados incluem uma grande variedade de

mamíferos. As infecções mais comuns ocorrem nos roedores e canídeos,

sendo conhecidas também em edentados (tamanduá, bicho preguiça e

tatu), marsupiais (gambá), procionídeos (mão pelada e quati) e primatas

(inclusive o homem) (Lainson e Shaw, 1987).

A transmissão dos parasitos para os reservatórios humanos e

animais é feita pela picada da fêmea do inseto vetor, quando do repasto

sangüíneo, porém outras formas de transmissão tem sido observadas.

Pearson e Sousa, 1996, descrevem que a doença no homem pode ser

transmitida por via congênita ou por transfusão de sangue contaminado. Há

relatos de que indivíduos com leishmaniose visceral ativa, por

apresentarem leucócitos infectados, principalmente monócitos (Chulay et

al., 1985) podem atuar também como reservatório de parasitos (Costa,

1997). Na região do Mediterrâneo, principalmente na Espanha, França,

Itália e Portugal um ciclo antroponótico da leishmaniose visceral é

Page 17: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

observado em pacientes com infecção pelo HIV, usuários de drogas ilícitas

endovenosas (Paredes et al., 1997).

As leishmanioses ocorrem em 88 países, sendo 21 países

pertencentes ao Novo Mundo e 66 ao Velho Mundo. Por ter um espectro

tão amplo e pela repercussão econômica e social desta endemia, a

Organização Mundial de Saúde as atribui a sexta colocação entre as

doenças tropicais mais importantes. A enfermidade atualmente, constitui-se

numa ameaça para 350 milhões de pessoas e estima-se que 12 milhões de

pessoas já estejam infectadas em todo o mundo (WHO, 1998). O Brasil

está incluído entre os países onde são registrados mais de 90% de casos

de leishmanioses (WHO, 1998), sendo que 66% dos casos ocorrem na

região nordeste e atualmente a região sudeste (Minas Gerias e São Paulo)

comporta 25% dos casos do Brasil. Por ser uma doença endêmica a

leishmaniose visceral constitui-se num crescente e importante problema de

saúde pública e sócio-econômico. O aumento na incidência da doença

associado ao aumento da letalidade, a disseminação para novas áreas

geográficas e sua urbanização é motivo de preocupação crescente para as

autoridades de saúde pública do país.

A leishmaniose visceral é uma doença espectral com manifestações

clínicas variadas, havendo desde forma assintomática caracterizada por

sorologia positiva para leishmaniose sem nenhuma manifestação clínica,

sendo encontrada em áreas endêmicas, passando pela forma

oligossintomática caracterizada por sorologia positiva e presença de sinais

e/ou sintomas discretos como febre, hepatomegalia e/ou esplenomegalia de

pequeno grau, até a forma clássica que é a doença plenamente manifesta

Page 18: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

caracterizada por hepatoesplenomegalia volumosa, febre, pancitopenia,

hipergamaglobulinemia e com grande comprometimento do estado geral

(Badaró et al., 1986). A leishmaniose tegumentar apresenta-se nas formas

cutânea, muco-cutânea e cutânea difusa (Lainson e Shaw, 1994), presentes

principalmente no continente americano, que não cicatriza com o tempo e

apresenta o teste de hipersensibilidade tardia ao antígeno de Leishmania

(reação de Montenegro) negativo (Bryceson et al., 1970).

No estudo da leishmaniose visceral experimental o modelo animal

mais utilizado é o de camundongo de linhagens isogênicas em que algumas

se comportam como suscetíveis e outras resistentes à infecção por

Leishmania donovani. Segundo Bradley (1987) camundongos da linhagem

BALB/c e algumas linhagens congênicas de C57BL/10 são considerados

suscetíveis à infecção por Leishmania donovani. Nestas linhagens, porém,

há progressão da infecção somente nas primeiras semanas ocorrendo

controle posterior da replicação do parasito com formação de granuloma

(Murray et al., 1987 e Barbosa Júnior et al., 1987). Quando os

camundongos da linhagem C57BL/10 são comparados aos DBA/2,

considerados resistentes, o que se observa é a demora na formação do

granuloma na linhagem suscetível, porém, não se estabelece uma

progressão da doença como forma clássica de leishmaniose visceral

humana (Barbosa Júnior et al., 1987).

Um outro modelo para estudar leishmaniose visceral e que

desenvolve alterações semelhantes à doença humana é o cão. No cão as

leishmanioses são causadas pelos mesmos agentes que provocam a

doença no homem (Schaefer et al., 1994). As manifestações clínicas nos

Page 19: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

cães também são classificadas como forma assintomática, quando somente

apresenta sorologia positiva para leishmaniose, como forma

oligossintomática, quando apresenta sinais inespecíficos (adenopatia, perda

de peso e esplenomegalia leve) e como sintomática com ulcerações

cutâneas, ceratoconjutivite, unhas crescidas, esplenomegalia evidente e

comprometimento do estado geral (Pozio et al., 1981).

Para o estudo da doença propriamente dita, em sua forma

manifesta, o hamster é considerado um bom modelo experimental para o

estudo da leishmaniose visceral. A sua utilização é decorrente da

descoberta de sua suscetibilidade à infecção por Leishmania donovani, fato

observado inicialmente por Young et al. (1919). Um estudo sistematizado

do hamster em relação a outros animais foi publicado em 1958 por Stauber.

Neste estudo, o hamster foi considerado ao lado da chinchila, como

extremamente suscetível à infecção por leishmânia ao contrário de coelhos

e ratos brancos que são resistentes à infecção. Hamsteres desenvolvem

doença comparável à humana, com perda de peso, hipertrofia do baço e

fígado (Melleney, 1925 e Stauber, 1958), hipergamaglobulinemia e uma

depressão da resposta imune celular específica e inespecífica (Bunn-

Moreno et al.,1985 e Pearson et al., 1996). Recentemente Requena et al.

(2000) inoculando promastigotas de Leishmania (L.) infantum, por via

intracardíaca, mostraram que hamsteres podem desenvolver dois tipos de

infecção: sintomática e assintomática. A forma clínica assintomática foi

dividida em dois subgrupos: oligossintomático e assintomático propriamente

dito. O grupo de animais que não desenvolveram sinais externos da

doença, mas que apresentaram esplenomegalia e moderada carga

Page 20: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

parasitária no baço e fígado foram considerados oligossintomáticos.

Consideraram o outro grupo de hamsteres como assintomáticos baseados

na ausência de sinais clínicos da doença e pelo fato de anticorpos

formadores de imunocomplexos, como um sinal potencial da patologia, não

estarem presentes no tecido renal. Esses mesmos autores acreditam que

hamsteres são excelentes modelos experimentais para a pesquisa de um

grande número de doenças infecciosas humanas e que são apropriados

para o desenvolvimento de vacinas.

Quando inoculado na pele do hospedeiro o parasito se multiplica

em células do sistema fagocítico mononuclear provocando alterações

principalmente no baço e fígado, que fazem parte desse sistema, podendo

contudo atingir praticamente todos os órgãos (Wilcocks e Manson-Bahr,

1972; Corbett et al., 1992; Duarte et al. 1983 e 1989; Duarte e Corbett,

1987). A infecção compromete também órgãos do trato gastro-intestinal, do

sistema nervoso central, do sistema genital e sistema urinário (Alencar,

1959; Evans e Rebêlo, 1996). No baço e no fígado a alteração

predominante é a hiperplasia e a hipertrofia das células do sistema

fagocítico mononuclear (Wilcocks e Manson-Bahr, 1972; Duarte e Corbett,

1987) onde ocorre a proliferação dos parasitos. Em outros tecidos, a

alteração apresenta-se sob a forma de processo inflamatório intersticial

(Duarte et al., 1983; Duarte et al., 1989).

Na descrição anátomo-patológica da leishmaniose visceral no

homem elaborada por Duarte (2000), verificaram-se alterações

histopatológicas nos vários órgãos expostas a seguir. No baço foi

observada esplenomegalia com muitos macrófagos parasitados por

Page 21: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

amastigotas. As alterações hepáticas foram classificadas em três padrões.

Padrão típico ou clássico, caracterizado por hepatomegalia, hipertrofia e

hiperplasia de células de Kupffer parasitadas. No padrão nodular observou-

se formação de agregados de células mononucleares (macrófagos,

plasmócitos e linfócitos) com pequeno número de amastigotas fagocitadas

além de hipertrofia e hiperplasia de células de Kupffer. No padrão

fibrogênico verificou-se focos múltiplos de fibrose intralobular, hipertrofia e

hiperplasia de células de Kupffer, raras amastigotas e discreto infiltrado

mononuclear portal e intralobular. No pulmão foi observada pneumonia

intersticial multifocal caracterizada por espessamento dos septos

alveolares. Congestão de capilares septais e edema discreto foram

observados. A etiologia leishmaniótica dessa pneumonia intersticial foi

confirmada pela presença de material antigênico no citoplasma dos

macrófagos e livre no interstício septal. O acometimento renal foi

manifestado, nos casos fatais, por nefrite intersticial caracterizada por

múltiplos focos de infiltrado de mononucleares e edema no córtex renal,

especialmente em torno de pequenos vasos. Amastigotas são raramente

encontradas. Comprometimento glomerular é discreto, mas ocorrem

alterações essencialmente no mesângio que sofre espessamento

membranoso ou hialino da matriz acompanhado de hipertrofia e hiperplasia

de células mesangiais, as quais raramente fagocitam amastigotas.

Existem evidências de que na leishmaniose visceral as lesões são

mediadas imunologicamente devido à escassez de parasitos em alguns

órgãos onde há injúria. Na leishmaniose visceral a imunidade celular é

considerada importante tanto na proteção quanto na suscetibilidade (Sacks

Page 22: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

et al., 1993; Reiner, 1995 e Murray et al.,1987). No entanto, no homem e

em modelo experimental ocorre hipergamaglobulinemia devido à ativação

policlonal de linfócitos B (Campos-Neto et al. 1982; Galvão Castro et

al.,1984, Bunn-Moreno et al., 1985). Os anticorpos anti-Leishmania não tem

efeito protetor evidente na infecção (Sacks et al., 1993), mas, esses

anticorpos podem estar envolvidos potencialmente na patogenia das lesões

tissulares.

O mecanismo patogênico até hoje aceito na leishmaniose visceral é

o mediado por imunocomplexo. No pulmão a lesão foi correlacionada com a

presença de antígeno de Leishmania (Duarte et al. 1989). No rim as lesões

glomerulares na leishmaniose visceral têm sido atribuídas à deposição de

imunocomplexos. À semelhança do que ocorre no homem (Brown et al.,

1996) acredita-se que complexo imune circulante e complexo imune in situ

participem do processo patogênico renal (Muller-Peddinghaus e Trautwun,

1977; Slauson e Lewis, 1979) como mediadores primários. No primeiro

caso, anticorpos reagem com antígenos não glomerulares na circulação

para formar imunocomplexos que se depositam no glomérulo, revelando um

padrão de depósito granular de imunoglobulinas e complemento observado

por imunofluorescência à época (Winter e Majid, 1984; Pedersen, 1999). No

segundo caso, extremamente raro nos animais em condições naturais

(Wiseman et al., 1980; Cook e Cowgill, 1996), mas observado

experimentalmente (Mcphaul et al., 1974; Shirota e Fujiwara, 1982),

anticorpos reagem com antígenos na membrana basal glomerular

(antígenos glomerulares insolúveis ou antígenos extra-glomerulares

localizados no glomérulo), revelando um padrão de depósito de

Page 23: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

imunoglobulina uniforme, liso e linear a imunofluorescência (Kurtz et al.,

1972). Algumas vezes, esses eventos podem atuar simultaneamente na

indução da injúria glomerular (Halliwell e Blakemore, 1972).

Vários fatores influenciam a deposição de imunocomplexo nos

tecidos (Abbas et al., 1997), mas, nos rins, os mais importantes estão

relacionados com carga elétrica e tamanho dos complexos solúveis

circulantes formados (Isaacs e Miller, 1982; Sehgal et al., 1982; Abrass,

1997). Imunocomplexos circulantes depositados no glomérulo ou anticorpos

anti-membrana basal glomerular, sozinhos, raramente produzem danos

glomerulares significativos (Tisher e Brenner, 1994), entretanto alterações

mais severas podem ser causadas por mediadores secundários como

componentes do sistema complemento, leucócitos (Slauson e Lewis, 1979)

e plaquetas circulantes (Clark et al., 1976), fatores de coagulação (Kincaid-

Smith, 1972), citocinas (Ostendorf et al., 1996), quimiocinas (Banas et al.,

1996) e moléculas de adesão (Bonventre e Colvin, 1996). O glomérulo

responde a essas injúrias por meio de proliferação, espessamento da

membrana basal glomerular e se a injúria persiste, por hialinização e

esclerose (Grauer, 1992). O componente terminal do complemento, o

complexo de ataque de membrana (C5b-9), provavelmente represente um

importante mecanismo de injúria glomerular envolvendo depósitos de

imunoglobulinas no mesângio e ao longo da superfície interna da parede

capilar para induzir glomerulonefrites proliferativas, bem como em

localização subepitelial para reproduzir glomerulonefrite membranosa

(Couser, 1998).

Page 24: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

A detecção de imunoglobulinas e complemento em tecido renal

pressupõe a presença de imunocomplexo (Johnson e Ward, 1982). No

entanto, Brito et al. (1975) evidenciaram em três casos humanos, com

comprometimento renal, depósitos de imunoglobulinas e complemento no

glomérulo, mas não observaram a presença de antígeno de leishmânia.

Weisinger et al. (1978) em um relato de caso humano, também observaram

depósitos de imunoglobulinas, complemento e fibrinogênio no glomérulo.

Sartori et al. (1987), verificaram a presença de depósitos granulares de

antígeno de Leishmania donovani e imunoglobulinas no mesângio e no

glomérulo de hamster. Em 1991, Poli et al., estudando cães naturalmente

infectados com L. infantum, detectaram depósitos de imunoglobulinas e

complemento na parede dos capilares glomerulares e no mesângio. Porém,

a presença de antígeno foi demonstrada somente por Sartori et al. (1987),

provavelmente em virtude da via de inoculação (intracardíaca) utilizada para

infectar os animais. Entretanto, a escassez de antígeno e o tipo de infiltrado

celular não são totalmente compatíveis com esse mecanismo.

Em modelo murino de Lupus eritematoso sistêmico, lesões

glomerulares foram induzidas por anticorpos (IgG3) derivados de clones de

hibridomas, resultando em lesões glomerulares proliferativas e em alça de

arame com características semelhantes às que são encontradas na nefrite

lúpica humana (Itoh et al., 1993). A análise da seqüência do gene dessas

imunoglobulinas desencadeadoras de lesões lúpicas mostrou que há poucas

mutações somáticas na região variável da cadeia pesada (Ono et al., 1995),

diferindo de outros autoanticorpos como anticorpos IgG anti-DNA e fatores

reumatóides IgG observados nesses modelos (Shlomchik et al., 1990, 1987)

Page 25: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

que se supõem causadores de lesões por imunocomplexos (Theofilopoulos

et al., 1985). Observou-se que esses anticorpos eram internalizados por

células endoteliais (Nose, comunicação pessoal). Nossos dados preliminares

utilizando soros de pacientes com leishmaniose visceral indicam a

possibilidade da existência de mecanismo semelhante de internalização de

imunoglobulinas por células endoteliais (Goto et al.,1997).

Diante desses achados, durante o mestrado, estudamos a

participação de imunoglobulinas no fígado, pulmão e rim de hamsteres

infectados com Leishmania (Leishmania) chagasi. Em hamsteres

inoculados intraperitonealmente com 2x107 amastigotas de Leishmania

(Leishmania) chagasi observamos aumento progressivo da carga

parasitária no baço e no fígado e do título de anticorpos anti-Leishmania no

soro durante a evolução da infecção. Depósitos de IgG foram detectados,

por técnica imunoenzimática, no fígado acompanhando o sinusóide e no

pulmão nos septos alveolares. Os depósitos de C3 no fígado e no pulmão

não foram significantes quando comparados aos controles não infectados.

Como tanto a localização de depósitos de IgG quanto a ausência de

depósito de C3 não condizem com o mecanismo de deposição de

imunocomplexo, examinamos o rim e observamos depósitos de IgG ao

redor das paredes dos capilares glomerulares e nos túbulos e depósitos de

C3 de fraca intensidade. Em todos os órgãos os depósitos de IgG foram

mais intensos aos 30 e 45 dias PI (Mathias et al., 2001). A análise

histopatológica do fígado, do pulmão e do rim mostrou alteração

progressiva, porém, com mudança na composição do infiltrado inflamatório

sugerindo participação de mecanismos patogênicos diferentes em fases

Page 26: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

diversas da infecção. Antígeno de leishmânia foi detectado nos órgãos no

interior de macrófagos e como material particulado extracelular. Como as

observações à microscopia óptica não foram totalmente compatíveis com a

deposição de imunocomplexos, partiu-se para estudo da internalização de

imunoglobulinas por células endoteliais e procedeu-se a análise qualitativa

e quantitativa da presença de imunoglobulinas, ultraestruturalmente, nestas

células. No fígado observou-se um alargamento do espaço de Disse e uma

maior quantidade de imunoglobulina em célula endotelial, no espaço de

Disse e sinusóide aos 30 dias pós-infecção em comparação aos controles

não infectados. No pulmão quantidade significantemente maior de

imunoglobulinas foi observada aos 30 dias pós-infecção em célula

endotelial quando comparado aos 60 dias pós-infecção. No rim depósitos

em quantidade significantemente maior de imunoglobulinas foram

observados em células endoteliais glomerulares e da região tubular e em

células epiteliais tubulares aos 30 dias pós-infecção quando comparados

aos controles não infectados. Os nossos resultados mostraram depósito e

internalização de imunoglobulinas em células endoteliais na leishmaniose

visceral em hamsteres. Este fenômeno ocorre marcadamente ao redor de

30 dias de infecção. Sugerimos a partir desses dados que este processo

pode ser um mecanismo alternativo de lesão na leishmaniose visceral

(Mathias, 2001).

Como o nosso trabalho está focado na participação de

imunoglobulinas internalizadas por células endoteliais e sabendo que estas,

desempenham um papel central em todo processo inflamatório (Pereira,

2000 e Mantovani et al., 1997) e que nossos dados anteriores mostraram

Page 27: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

essa internalização prosseguimos com o estudo in vitro utilizando soros de

pacientes com leishmaniose visceral que indicam a possibilidade da

existência de mecanismo de internalização de imunoglobulinas pelas

células endoteliais vinculada à patogenia da inflamação na leishmaniose

visceral (Goto et al. 1997). Ao mesmo tempo, aprofundamos os estudos in

vivo em leishmaniose visceral em hamster detectando IgG por

imunodetecção e observação à microscopia de transmissão, uma vez que

analisamos depósitos de imunoglobulinas, sem identificação do isótipo.

A luz da literatura, o fator de necrose tumoral (TNF), produzido por

linfócitos e macrófagos, participa de todas as fases do processo inflamatório,

estimulando as células endoteliais a liberarem quimiocinas (IL-8 e proteína

quimiotática para neutrófilo), que agem separadamente sobre os leucócitos

aumentando o tropismo de Mac-1 e LFA-1 pelo ICAM-1. Também, estimulam

a migração dos leucócitos bem como a locomoção celular, o que

desencadeia o extravasamento leucocitário (Abbas et al., 1998; Ballermann,

1997; Rosenberg e Gallin, 1999). As células endoteliais têm papel

importante, tanto nas fases de vasoconstrição e vasodilatação arteriolares

quanto na exsudação plasmática e celular, no desencadeamento do

processo inflamatório.

Considerando a importância das células endoteliais no processo

inflamatório, a possibilidade da presença de um mecanismo alternativo de

lesão na leishmaniose visceral e supondo também que a internalização

possa desencadear a ativação de células endoteliais induzindo a expressão

de moléculas de adesão, importante na migração de células inflamatórias,

neste ponto baseamo-nos no fato de termos detectado em outro projeto do

Page 28: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

nosso grupo, células T na lesão na nefropatia da leishmaniose visceral

canina (Costa et al., 2000), propomo-nos a estudar a patogenia da

internalização de imunoglobulinas por células endoteliais na leishmaniose

visceral em hamsteres.

Page 29: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

OBJETIVO GERAL

Estudo do papel da imunoglobulina na patogenia da leishmaniose

visceral em fígado, pulmão e rim de hamsteres.

Objetivos Específicos

In vitro

estudo do processo de internalização de IgG do soro de pacientes e

hamsteres com leishmaniose visceral e de soros de pacientes com

leishmaniose tegumentar por células endoteliais de veia de cordão

umbilical humano (HUVEC)

In vivo

estudo ultraestrutural da detecção de IgG em tecido de hamsteres

com leishmaniose visceral por microscopia eletrônica de transmissão

estudo da microcirculação na bochecha evertida de hamsteres por

microscopia de fluorescência intravital

Page 30: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

MATERIAL E MÉTODOS

Amostras de soros

Soros foram obtidos de 13 pacientes com diagnóstico confirmado de

leishmaniose visceral (LV) por achado de Leishmania em aspirado de

medula óssea, 15 pacientes com leishmaniose tegumentar (LT) com

diagnóstico confirmado pelo teste cutâneo de Montenegro e análise

histopatológica das lesões cutâneas e seis soros de controles normais com

anticorpo anti-Leishmania negativo. Todos os pacientes com LV são

oriundos do Nordeste, os pacientes com LT são do Nordeste e Sudeste do

Brasil e os controles normais são doadores saudáveis voluntários. Todos os

procedimentos com pacientes foram seguidos de acordo com as normas

éticas institucionais.

Parasitos

Leishmania (Leishmania) chagasi (MHOM/BR/72/cepa 46) foram

mantidas em hamsteres por inoculações sucessivas de homogeneizado de

baço de animais infectados com parasito a cada três meses. Para os

experimentos, hamsteres com leishmaniose visceral, com dois a três meses

de infecção, foram sacrificados sob anestesia e o baço foi removido

assepticamente e as amastigotas foram purificadas de acordo com Dwyer

(1976), com algumas modificações. Resumidamente, os baços foram

homogeneizados em meio RPMI 1640 (GIBCO, EUA) frio, a suspensão

celular foi deixada por 10 minutos em gelo, o pellet foi filtrado em gaze,

passado quatro vezes em agulha fina (24G) e centrifugado a 250 x g por 10

Page 31: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

minutos. O sobrenadante foi recuperado e centrifugado novamente a 250 x g

por 10 minutos. Posteriormente, o sobrenadante resultante foi centrifugado a

2100 x g por 15 minutos. O sedimento foi ressuspenso em meio RPMI 1640

e a concentração de parasitos foi ajustada para 2x107/ml em meio RPMI

1640.

Animais e protocolo experimental

Setenta e oito hamsteres (Mesocricetus auratus) outbred, machos,

com idade de 45 a 60 dias, fornecidos pelo Centro de Bioterismo da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foram

mantidos no Biotério de Experimentação do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo durante o experimento. Os animais foram

manuseados e sacrificados sob anestesia geral usando-se 0,1 mL (60

mg/mL) de pentobarbital sódico. Cinqüenta hamsteres foram

inoculados intraperitonealmente com 2x107 amastigotas de

Leishmania (Leishmania) chagasi e sacrificados aos 15, 30, 45 e 60

dias pós-infecção (PI). Vinte e oito animais controles foram inoculados

com meio RPMI 1640 e sacrificados nos mesmos períodos de tempo.

No momento do sacrifício foram coletados sangue, fígado, pulmão e

rim. Fragmentos de tecidos foram utilizados para técnica de

imunoistoquímica e imunoeletrônica.

Page 32: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Purificação de IgG por cromatografia de afinidade com proteína G-

Sefarose

Soro de hamsteres misturado com solução salina volume a volume foi

acrescido de (NH4)2SO4 80%, gota a gota. A solução foi deixada por 12

horas em geladeira para sedimentação, sendo o pellet lavado duas vezes

com 20 mL de sulfato de amônia e centrifugado a 3000g por 15 minutos e o

pellet final foi ressuspenso em um mL de NaCl 0,85%. A solução final foi

transferida para tubos de diálise (Sigma, EUA), sendo a ausência de sulfato

de amônia verificada na solução pela reação com BaCl2 10%. Foi iniciada a

diálise contra solução salina tamponada com fosfato (PBS) 0,01M, pH 7,2

trocando-se o banho a cada três horas. Após centrifugação, o sobrenadante

resultante foi recuperado, sendo este gama-globulina. As amostras foram

dialisadas e o sobrenadante resultante, ou seja, a imunoglobulina,

centrifugada novamente. Após serem filtradas em pré-filtro e depois em filtro

de 0,45 µm, as amostras foram passadas em coluna de proteína G-Sefarose

(Pharmacia, EUA), aproximadamente dois mL, overnight. Lavadas com

tampão PBS, pH 7,2, checando a saída no espectro 280 nm até zerar.

Eluídas com ácido acético 0,5 M, pH 3,0. O eluato foi coletado em 2 M de

Tris-HCl, pH 9,0 e a medida da densidade óptica foi feita no

espectrofotômetro (Pharmacia, EUA). As amostras foram então filtradas e

guardadas até o uso.

Fator para IgG – D.O.mg/ml

1,5

Page 33: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Internalização de IgG por células endoteliais da veia de cordão

umbilical humano (HUVEC)

HUVEC obtidas de acordo com Jaffe et al. (1973) foram cultivadas em

meio E300 (Kyokutou, Ibaraki, Japão) para células endoteliais,

suplementado com 5 % de soro fetal bovino inativado pelo calor (GIBCO,

EUA) em placas pré-tratadas com 10 µg/mL de fibrinogênio do plasma

bovino (Sigma, EUA) em solução salina balanceada de Hanks (GIBCO,

EUA). As células foram mantidas a 37 oC em 5 % de CO2 , até atingir o

estágio subconfluente e foram usadas nos experimentos do terceiro ao

décimo repique. Para o estudo da internalização de IgG do soro por HUVEC,

as células foram cultivadas em placas Lab-Tek Chamber (NUNC,

Dinamarca) ou em placas de cultura de seis orifícios (Costar, EUA) pré-

tratada com fibrinogênio até atingir estado subconfluente, depois incubadas

por duas horas em meio E300 contendo 30 % das amostras dos diferentes

soros. As células cultivadas em placas de seis orifícios foram processadas

para quantificar a IgG internalizada por ELISA de captura como descrito

abaixo.

Culturas em placas Lab-Tek Chamber foram processadas para

observação em microscopia de fluorescência. As lâminas foram removidas

das placas Lab-Tek Chamber, lavadas três vezes com 0,01 M de solução D-

PBS (Dulbecco`s phosphate-buffered saline), pH 7,2, com 1 % de albumina

bovina (BSA- Sigma, EUA) e 0,02 % de azida sódica (Sigma, EUA). As

lâminas foram fixadas por 30 minutos a 4 oC em paraformaldeído 2%

(Sigma, EUA), hidrocloreto de L-Lysina 0,1M em tampão fosfato 0,05M, pH

7,4 contendo 0,01M periodato de sódio. Após três lavagens em D-PBS-1%

Page 34: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

BSA as células foram incubadas com anticorpo de coelho anti-IgG humana

conjugado com FITC (Dako, EUA), por 60 minutos a 4 oC. Após 3 lavagens

em PBS-1% BSA, as células foram incubadas com 4 µg/ml de iodeto de

propídio (Sigma, EUA) em PBS-1% BSA por 10 minutos, lavadas 3 vezes e

montadas em glicerol-PBS (9:1 vol/vol) e analisadas ao microscópio de

fluorescência (Zeiss, Alemanha).

Determinação de IgG internalizada por ELISA de captura

HUVEC cultivadas em placas de cultura de seis orifícios e incubadas

com os soros testes foram rompidas com 0,1 % de Triton X 100 em

Na3C6H5O72H2O, pH 7,4, e as amostras foram avaliadas pela determinação

de IgG. Anticorpo de cabra anti-IgG humana diluída 1:50 em D-PBS (50

µL/orifício) foi dispensado em uma placa de ELISA de 96 orifícios (Dynatech,

EUA), incubadas overnight a 4 oC, lavadas três vezes com PBS, bloqueadas

com leite em pó (10 %) em DPBS (100 µL/orifício) por uma hora a

temperatura ambiente e posteriormente lavadas três vezes com D-PBS 0,1

% Tween 20. Foi realizada incubação com amostras testes preparadas em

placa plana ou amostra padrão (IgG humana) serialmente diluída em

PBS/T/1 % BSA (Sigma, EUA) (50 µL/orifício) por uma hora a 37 oC e

posteriormente lavadas três vezes com D-PBS/T. Feita incubação com

F(ab`)2 de cabra anti-IgG humana conjugada com fosfatase alcalina (Protos,

EUA) diluída 1:1000 em PBS/T/BSA (50 µL/orifício) por uma hora a 37 oC.

Antes de serem incubadas com o substrato 104R (Sigma, EUA) em tampão

(1 mg/ml, 1 tab./5 ml) (100 µL/orifício) por 15 a 60 minutos a 37 oC, em 9,7 %

Page 35: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

de dietanolamina, 3,07 mM NaN3, 0,49 mM de MgCL26H2O, pH 9,8, a placa

foi lavada quatro vezes com PBS/T.

Detecção de IgG nos tecidos por microscopia eletrônica de

transmissão

Fragmentos de tecido de cerca de 0,3 mm3 foram fixados por duas horas

em paraformaldeído 4% e aldeído glutárico 0,1%, em tampão fosfato 0,1M

pH 7,4, lavados três vezes por 15 minutos cada com tampão fosfato 0,1M pH

7,4 e incubados com 50mM de cloreto de amônia em tampão fosfato 0,1 M

pH 7,4 por 15 minutos. Em seguida, foram desidratados em concentrações

crescentes de etanol, incluídos em resina LR White hard grade (Sigma,

U.S.A) / etanol 1:1 (vol:vol) por 30 minutos, LR White:etanol 3:1 (vol:vol)

duas vezes por 30 minutos, LR White:etanol 3:1 (vol:vol) overnight a 4°C, LR

White puro duas vezes por 30 minutos cada, LR White puro overnight a 4°C,

mais uma vez em resina pura por uma hora, e depois colocados em

cápsulas de gelatina que foram preenchidas até a borda com LR White puro

e conservadas em estufa a 52 ºC por três a cinco dias, para polimerização.

Cortes ultrafinos foram colocados em telas de níquel (Sigma, EUA) cobertos

com formvar e foram lavadas uma vez em PBS por cinco minutos. Após

hidratação com PBS acrescido de 0.1% de albumina bovina (Tampão BSA)

pH 7,4 por cinco minutos, foram incubados com anticorpo biotinilado de

cabra anti-IgG de hamster (20 µg/ml em tampão BSA) (Rockland,

Gilbertsville, PA, USA ) por duas horas em câmara úmida em temperatura

ambiente. Antes da incubação com proteína A-ouro 10 nm (Sigma, USA)

diluída 1:10 em PBS pH 7,4 – 1% de BSA por duas horas em câmara úmida

Page 36: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

em temperatura ambiente, foram lavadas duas vezes por cinco minutos

cada, seguidas de quatro lavagens de quatro minutos em PBS pH 7,4,

0,05% Tween 20, 1% de BSA e por um minuto em água destilada. Foram

fixadas em glutaraldeído aquoso 2% por 15 minutos, lavaram-se novamente

três vezes em água destilada, incubadas por cinco minutos com tetróxido de

ósmio aquoso 1%, lavadas três vezes em água destilada por 15 minutos.

Secaram-se a temperatura ambiente e em seguida foram incubadas, para

contraste, com uranila ultrafiltrada por 10 minutos, lavadas várias vezes

rapidamente em água destilada e por cinco minutos com chumbo, sendo

novamente lavadas em água destilada. Os cortes ultrafinos processados

foram observados ao microscópio eletrônico de transmissão JEOL. Os

campos de interesse foram eletromicrografados, analisados e submetidos à

análise morfométrica.

Morfometria

As eletromicrografias foram analisadas para quantificação de

depósitos de imunoglobulina e IgG presentes nos tecidos, marcadas por

partículas de proteína A-ouro. Para isso, utilizou-se uma folha transparente

quadriculada (cada quadriculado de um cm2) que foi sobreposta às

eletromicrografias. Delimitou-se a área de cada célula endotelial e foram

contadas as partículas de proteína A-ouro a cada cinco quadrados, contando

assim 20% da área. Para avaliar os depósitos inespecíficos de proteína A-

ouro, foram contadas partículas encontradas sobre o núcleo das células que

foram consideradas não específicas e subtraídas da contagem do

Page 37: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

citoplasma das células endoteliais. Utilizaram-se cortes de tecidos de fígado,

pulmão e rim de animais infectados aos 30 e 60 dias e de animais controles

não infectados. A análise morfométrica foi realizada num total de 24

eletromicrografias de fígado, em 26 de pulmão e em 21 de rim.

Microscopia de fluorescência intravital

Hamsteres foram anestesiados intraperitonealmente com 0,1 ml de

pentabarbital sódico (60 mg/ml), sendo suplementado intravenosamente com

2,5% de solução de cloralose (∼0,1 ml/hora) através de um catéter (PE 10)

na veia femoral direita. Um outro catéter foi introduzido na veia femoral

esquerda sendo usado para infusão de FITC-dextran. Uma cânula traqueal

(PE 190) foi inserida para facilitar a respiração espontânea e a temperatura

do corpo foi mantida a 37 oC por uma placa aquecedora e o controle foi feito

por termômetro retal. A bolsa da bochecha foi preparada para microscopia

intravital de acordo com Duling (1973) com modificações (Svensjö, 1978 e

1990) (Figura 1). Resumidamente a bolsa foi evertida e fixada na placa do

microscópio e uma área de um cm2 foi preparada para microscopia intravital.

A bolsa foi perfundida com solução salina tamponada com bicarbonato

aquecida a 35 oC, que estava continuamente borbulhando em função das

concentrações de 95% de N2 e 5% de CO2 para manter a baixa tensão de

O2 (∼4 kPa) e um pH de 7,4. Trinta minutos após completada a preparação,

dextran marcado com fluoresceína (FITC-dextran, MW= 150000, TdB

Consultancy, Uppsala - Sweden) usado como marcador macromolecular, foi

injetado intravenosamente (25 mg/100 gb.w.). O aumento da permeabilidade

microvascular foi quantificado por grandes moléculas e por contagem de

Page 38: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

pontos fluorescentes (locais de extravasamento plasmático) em vênulas pós-

capilares (Svensjö, 1978 e 1990). O número de extravasamentos foram

contados antes de dois, cinco, sete, quinze e trinta minutos e após aplicação

tópica de histamina 5x10-6 M por cinco minutos. A resposta da

permeabilidade vascular a histamina foi estudada em hamsteres que tinham

sido injetados intraperitonealmente com meio RPMI 1640 (controle) ou com

amastigotas purificadas de Leishmania (L.) chagasi e a microcirculação da

bochecha foi estudada em 15, 30, e 60 dias pós-infecção por microscopia

fluorescente intravital. Para cada período de tempo um número de quatro a

seis hamsteres controles e seis a sete hamsteres infectados por Leishmania

foram estudados. Em outro estudo, hamsteres normais foram preparados e

IgG purificadas (290µg/ml) de hamsteres infectados por Leishmania e não

infectados foram aplicadas topicamente na bochecha.

Análise estatística

Os dados da detecção de IgG em tecidos analisados à microscopia

eletrônica de transmissão e os obtidos pela microscopia intravital foram

submetidos à análise estatística utilizando o programa Sigma Stat (Sigma,

EUA). Foram analisados pelos testes One Way ANOVA e de Kruskal-Wallis

e Dunn. Foram consideradas significantes as diferenças quando p < 0,05.

Page 39: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

RESULTADOS

Estudamos a internalização de imunoglobulinas por células

endoteliais in vitro e in vivo na leishmaniose visceral em hamsteres. Além

disso, temos pesquisado o efeito patofisiológico da IgG na microcirculação

na leishmaniose visceral em hamsteres.

Internalização de IgG por célula endotelial de veia de cordão

umbilical humano (HUVEC)

Quando HUVEC foram incubadas com soros de pacientes com

leishmaniose visceral, observamos maior intensidade de IgG marcada em

células endoteliais em 11 dos 13 soros (Figura 2A), enquanto que, com

soro de leishmaniose tegumentar, observamos pouca marcação de IgG

em apenas algumas células endoteliais em oito dos 15 soros analisados

(Figura 2B). Já com soros normais observamos uma discreta marcação

de IgG (dados não apresentados). Pacientes com leishmaniose visceral

apresentam hipergamaglobulinemia, por isso a internalização de IgG por

células endoteliais foi quantitativamente avaliada após incubação de

HUVEC com as mesmas concentrações de IgG dos diferentes soros em

meio E300. Alta ingestão de IgG do soro de pacientes com leishmaniose

visceral foi confirmada por ELISA de captura (N=10; mediana=230,

variação – 60 a 2.610 pg/ 1000 células) quando comparado aos pacientes

com leishmaniose tegumentar (N=8; mediana=30, variação – 30 a 260 pg/

1000 células). Quando soros de hamsteres com leishmaniose visceral,

Page 40: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

interagindo com HUVEC, foram analisados, observamos intensa

marcação de IgG com amostras de 30 (Figura 2C) e 45 (Figura 2D) dias

pós-infecção (PI). A marcação de IgG com soros de animais controles não

infectados e infectados de outros períodos experimentais foi muito

discreta (dados não apresentados).

C

A B

D

Figura 2. Detecção de IgG em células endoteliais da veia de cordão umbilicalhumano (HUVEC) incubadas com soros de pacientes e hamsteres comleishmaniose visceral e de pacientes com leishmaniose tegumentar. A) Soros depacientes com leishmaniose visceral. B) Soros de pacientes com leishmaniosetegumentar. C e D) Soros de hamsteres com leishmaniose visceral aos 30 e 45dias pós-infecção, respectivamente. Fluorescência. 400X.

Page 41: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Detecção de IgG em tecido de hamster com leishmaniose visceral por

microscopia eletrônica de transmissão

Quando verificamos in vitro a internalização de IgG do soro de pacientes e

hamsteres com leishmaniose visceral por células endoteliais (HUVEC),

prosseguimos com o estudo in vivo da leishmaniose visceral em hamsteres,

detectando IgG em células endoteliais de fígado, pulmão e rim, aos 30 e 60

dias PI, por microscopia eletrônica de transmissão.

Fígado

Quando analisamos qualitativamente a presença de IgG (partículas de

proteína A-ouro) sobre as diferentes estruturas do fígado, observamos maior

quantidade de partículas nas amostras dos animais infectados do que nos

controles não infectados (Figuras 3, 4 e 5).

A análise morfométrica foi realizada em seis animais controles não

infectados, em nove animais com 30 dias PI e em nove animais com 60 dias

PI.

Quantitativamente, observamos maior marcação com proteína A-ouro

aos 30 dias PI em células endoteliais em relação aos controles não

infectados e no sinusóide observamos maior marcação em relação aos

animais com 60 dias de infecção. Já aos 60 dias PI verificamos maior

quantidade de partículas em células endoteliais em relação aos controles

não infectados (Tabela 1 e Figura 6). Nas outras estruturas estudadas não

foram observadas diferenças significantes.

Page 42: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Fígado Controle 30 30PI 60PI

Célula endotelial 0 (n=06)

0,32±0,24* (n=09)

0,13±0,06* (n=09)

Sinusóide 0 (n=05)

0,11±0,21** (n=08)

0 (n=07)

Tabela 1. Análise morfométrica (média ± desvio padrão). Número de

partículas de proteína A-ouro /cm2 no fígado. Detecção de imunoglobulina G

de hamster com anticorpo de cabra anti-IgG de hamster. N= número total de

eletromicrografias. PI = pós-infecção. * P < 0,05 em relação aos controles

não infectados. ** P < 0,05 em relação aos animais com 60 dias PI. (testes

de Kruskal Wallis e Dunn).

Page 43: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Pulmão Foram analisadas eletromicrografias de nove animais controles, de

seis animais com 30 dias PI e de 11 animais com 60 dias PI. Analisamos

qualitativamente as eletromicrografias e observamos maior quantidade de

partículas nas amostras dos animais infectados do que nos controles não

infectados (Figuras 7, 8 e 9).

Na análise quantitativa observamos quantidade significantemente

maior de IgG marcadas por proteína A-ouro em células endoteliais aos 30

dias PI e aos 60 dias PI quando comparados aos controles não infectados

(Tabela 2 e Figura 10). Nas outras estruturas estudadas não foram

observadas diferenças significantes.

Pulmão Controle 30 30PI 60PI

Célula endotelial 0 (n=09)

0,26±0,18* (n=06)

0,23±0,28* (n=11)

Tabela 2. Análise morfométrica (média ± desvio padrão). Número de

partículas de proteína A-ouro /cm2 no pulmão. Detecção de imunoglobulina

G de hamster com anticorpo de cabra anti-IgG de hamster. N= número total

de eletromicrografias. * P < 0,05 em relação aos controles não infectados

(testes de Kruskal Wallis e Dunn).

Page 44: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Rim

A análise morfométrica foi realizada em 10 animais controles não

infectados, em seis animais com 30 dias PI e em cinco animais com 60 dias

PI.

Qualitativamente observamos presença de partículas de proteína A-

ouro tanto nos animais infectados quanto nos animais controles não

infectados (Figuras 11, 12 e 13), porém em maior quantidade nos animais

infectados.

Na análise quantitativa, observamos quantidade significantemente

maior de IgG marcada por proteína A-ouro em célula endotelial glomerular

aos 60 dias PI quando comparada aos 30 dias PI e aos controles não

infectados (Tabela 3 e Figura 14).

Rim Controle 30 30PI 60PI Célula endotelial 0,04±0,06

(n=10) 0,11±0,13

(n=06) 0,58±0,50*

(n=05) Tabela 3. Análise morfométrica (média ± desvio padrão). Número de

partículas de proteína A-ouro /cm2 no rim. Detecção de imunoglobulina G de

hamster com anticorpo de cabra anti-IgG de hamster. N= número total de

eletromicrografias. * P < 0,05 em relação aos controles não infectados

(testes de Kruskal Wallis e Dunn).

Page 45: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Estudo da microcirculação por microscopia intravital

Considerando que as células endoteliais estão envolvidas no

processo inflamatório e que as alterações na permeabilidade vascular é um

dos principais fatores da inflamação, este aspecto foi estudado na

microcirculação da bochecha de hamster. Quando estimulamos a bochecha

com histamina, todos os hamsteres responderam a histamina com aumento

do número de extravasamento pós-capilar que foi reversível com o tempo.

No grupo controle nenhuma diferença significante foi observada na

magnitude da resposta a histamina aos 15, 30 e 60 dias. Nos animais

infectados a resposta à histamina foi menor aos 30 dias (P<0,05) do que nos

animais controles (Figura 15). Quando realizamos o experimento usando IgG

purificada dos soros de hamsteres infectados e não infectados, observamos

aumento significante no número de extravasamento pós-capilares nas

amostras de 60 dias PI quando comparados com o controle não infectado e

as amostras de 30 dias PI (Figura 16). Na figura 17 representamos o

aspecto normal da microcirculação e o extravasamento plasmático antes e

após o estímulo com histamina, respectivamente.

Page 46: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

DISCUSSÃO

O mecanismo imunopatológico de lesão tecidual na leishmaniose

visceral é atribuído à deposição de imunocomplexos, principalmente no rim

(Weisinger et al., 1978; Tafuri et al., 1989; Sartori et al., 1987), porém

quando da análise da presença de imunocomplexo, principalmente, a

ausência ou pouca quantidade de antígeno (Brito et al., 1975), assim como a

localização diferenciada de antígeno, imunoglobulina e complemento não

ratificam esta hipótese plenamente, havendo, portanto necessidade de

avaliação de outro possível mecanismo estar envolvido na lesão tecidual.

Mecanismo alternativo de lesão tecidual foi analisado em rim de

camundongo com nefrite lúpica, sendo mostrado a participação de

imunoglobulinas (Itoh et al., 1993; Ono et al., 1995). O papel dessas

imunoglobulinas envolve a internalização das mesmas por células

endoteliais, sugerindo ser este o possível mecanismo de injúria tecidual na

nefrite lúpica em camundongos (Fujii et al., 2003). Na leishmaniose visceral

ocorre lesão tecidual que já foi anteriormente relacionado à presença de

imunocomplexo ou participação de células T (Sartori et al. 1987, Costa et al.,

2000). Como a leishmaniose visceral apresenta lesão tecidual semelhante a

que ocorre na nefrite lúpica, analisamos anteriormente a internalização de

imunoglobulinas total por células endoteliais em tecido renal, pulmonar e

hepático de hamsteres com leishmaniose visceral experimental e

observamos maior detecção de imunoglobulinas aos 30 e 45 dias pós-

infecção (Mathias et al., 2001).

Page 47: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Como havíamos detectado imunoglobulinas internalizadas in vivo,

partimos neste estudo para avaliar a participação de imunoglobulina G na

imunopatogenia, avaliando a internalização das mesmas como possível

papel de lesão tecidual. Inicialmente, estudamos a interação de

imunoglobulina de soro de pacientes com leishmaniose visceral ou com

leishmaniose tegumentar e de hamsteres com leishmaniose visceral

experimental e observamos intensa marcação de IgG células endoteliais de

veia de cordão umbilical humano, quando utilizamos soros de animais com

30 e 45 dias de infecção e soro de pacientes com leishmaniose visceral. Os

dados sugerem internalização de IgG, não somente a presença de IgG na

superfície, pois, detectamos IgG em células após remoção utilizando

detergente que supostamente removem IgG por ventura presente na

superfície celular, procedimento utilizado quando medimos a concentração

de IgG presente nas células HUVEC. A IgG internalizada não parece ser

espacífica a antígenos de Leishmania pois não se observou correlação com

título de anticorpos anti-leishmânia.

A internalização de imunoglobulinas por células vivas foi relatada

inicialmente por Alarcón-Segovia et al. (1979) que observaram este

fenômeno em linfócitos T e na ocasião foi correlacionada a autoperpetuação

da doença autoimune. O estudo deste mecanismo tinha sido abandonado na

última década, tendo sido retomado nos últimos anos. Recentemente,

surgiram relatos de internalização de imunoglobulinas envolvendo diferentes

células. Yanase et al. (1997) observaram a internalização de anticorpos

monoclonais anti-DNA, provenientes de modelo experimental de lupus

eritematoso sistêmico, em células da linhagem de hepatoma.

Page 48: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Imunoglobulinas de soros de pacientes com mieloma foram internalizadas

por células de túbulos renais contorcidos proximais (Batuman et al., 1997).

Também Ronda et al. (1997), observaram a internalização de

imunoglobulinas normais em células endoteliais humanas. Recentemente,

Fuji et al. (2003) mostraram a interação entre anticorpos particulares e

integrinas da superfície de células endoteliais via fibronectina e sua

internalização por células endoteliais levando a deposição de anticorpos no

glomérulo, sugerindo que este possa ser o mecanismo de injúria glomerular

em nefrite lúpica.

Nossos dados de internalização de IgG por células endoteliais

sugerem um possível mecanismo de imunopatogenia na leishmaniose

visceral, pois essas células são peças importantes na inflamação, entretanto

o processo de entrada de IgG nessas células não está esclarecido. Em

nefrite lúpica este processo de entrada parece ser via transcitose de

anticorpos internalizados por células endoteliais glomerulares ou ainda

passagem através de junções intercelulares (Fujii et al., 2003). Também, as

células endoteliais quando ativadas expressam receptores diversos, tais

como de fibronectina e de moléculas de adesão, que desempenham papel

fundamental na resposta inflamatória atraindo células inflamatórias para o

local da injúria. Além disso, as alterações que ocorrem na superfície das

células endoteliais são mediadas por citocinas e levam à adesão de

neutrófilos, linfócitos e monócitos, seqüencialmente, que participam

ativamente do processo inflamatório (Pereira, 2000).

Como havíamos demonstrado a internalização de imunoglobulinas in

vitro, partimos para análise in vivo. Avaliando a internalização de IgG do soro

Page 49: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

de hamster infectado com Leishmania (L.) chagasi por células endoteliais no

fígado, pulmão e rim, por microscopia eletrônica de transmissão,

observamos resultados similares aos obtidos in vitro. A análise quantitativa

mostrou maior número de partículas de proteína A-ouro marcando IgGs

internalizadas por células endoteliais aos 30 e 60 dias PI no fígado e no

pulmão enquanto que no rim, estas foram verificadas em quantidade

significante aos 60 dias PI. Estes nossos achados in vivo corroboram os

achados in vitro demonstrando que células endoteliais estão envolvidas na

internalização de imunoglobulinas. Em deferência a internalização de IgG

por células endoteliais nos rins ocorrerem após um tempo maior de doença,

hipotetizamos que tal fenômeno ocorra, porque este órgão recebe 25% do

rendimento cardíaco, comporta pressão intraglomerular mais alta nos

capilares glomerulares que em outros capilares sanguíneos, os capilares

glomerulares formam uma grande superfície permeável através da qual

proteínas circulantes são filtradas e podem interagir diretamente com

constituintes de parede dos capilares glomerulares (Abrass, 1997). Estas

peculiaridades do referido órgão podem refletir a diferença de internalização

de imunoglobulinas dos outros órgãos, pois supomos que as lesões

teciduais ocorram mais tardiamente no rim do que nos outros órgãos

analisados.

O mecanismo de internalização in vivo, também não está bem

descrito, entretanto na célula endotelial do fígado são conhecidos dois

mecanismos de transporte de substâncias que são a endocitose e o da

passagem direta por uma espécie de janela (Arii, 2000). Bastian et al. (1997)

descreveram uma via de transporte paracelular de fator de crescimento

Page 50: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

insulina-símile I (IGF-I) através das células endoteliais da veia de cordão

umbilical humano diferente da via transcelular mediada por receptor. Já a

albumina e a transferrina se ligam em locais específicos no endotélio,

evidenciando a presença de um mecanismo similar ao transporte mediado

por receptor de vasos pequenos (Malik et al., 1989). Além disso, a albumina

pode interagir na seletividade e permeabilidade da parede capilar (Curry,

1985). O transporte através da célula endotelial, sendo por endocitose ou

por passagem direta, implica num processo ativo ou passivo.

Para certificarmos da implicação de imunoglobulinas no processo

inflamatório e sabendo que células endoteliais tem um papel importante na

inflamação, pesquisamos o efeito patofisiológico da IgG na leishmaniose

visceral. Estudamos a permeabilidade macromolecular vascular da

bochecha evertida de hamster, observamos aumento reversível no número

de extravasamentos pós-capilares, exceto no grupo de 30 dias pós-infecção,

que não responderam à ação vasodilatadora da histamina. Para testar

diretamente o efeito da IgG de hamster com leishmaniose visceral, esta foi

purificada e depois aplicada na bochecha de hamster normal. Quando IgG

de hamster aos 60 dias PI foi aplicada, observamos um extravasamento

significante que revelou a propriedade vasoativa da IgG obtida neste período

de infecção. O papel da IgG de hamster tornou-se evidente no

extravasamento plasmático, sugerindo que aos 30 dias de infecção IgG seria

internalizada por células endoteliais provocando vasodilatação e

promovendo inflamação, razão pela qual o hamster aos 30 dias não

responderia ao estímulo com histamina. Estando a imunoglobulina

internalizada por células endoteliais, não estando disponível na circulação,

Page 51: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

não apresentariam nenhum efeito sobre os vasos sanguíneos de hamster

normal. No entanto, aos 60 dias a IgG, não estando internalizada por células

endoteliais, estaria disponível na circulação e exerceria seu efeito vascular.

Esses achados vão de encontro aos obtidos com a internalização de IgG por

células endoteliais em rim por microscopia eletrônica de transmissão quanto

à cronologia.

Os fenômenos que ocorrem no processo inflamatório são

caracterizados como irritativos, vasculares e exsudativos. Os fenômenos

irritativos ocorrem em resposta ao agente inflamatório, resultando na

liberação de mediadores químicos, perdurando por tempo variável durante a

inflamação, variando de caso para caso. Os mediadores de liberação

imediata são responsáveis pelo início dos fenômenos vasculares que são

representados por modificações hemodinâmicas e reológicas da

microcirculação dirigidas pelos mediadores químicos durante os fenômenos

irritativos e, menos freqüentemente, por ação direta dos agentes

desencadeadores de inflamação. As modificações são atribuídas a

vasoconstrição e vasodilatação arteriolares. A vasoconstrição arteriolar é

imediata ao estímulo inflamatório e possivelmente seja mediada pela ação

do agente agressor sobre fibras nervosas vasoconstritoras. Na lesão

vascular direta possivelmente haja liberação de endotelina-1 que participa

ativamente da vasoconstrição. Na vasodilatação arteriolar induzida pela

ação da histamina, substância P, bradicinina, PGE2, PGI2 e PAF

(mediadores químicos), aumentam o fluxo sanguíneo para a área agredida

levando a hiperemia e ao aumento da pressão hidrostática na

microcirculação. Os mediadores das alterações hemodinâmicas aumentam a

Page 52: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

permeabilidade vascular iniciando a transudação plasmática que precede a

migração celular. Ainda nessa fase, há produção de substâncias

vasodilatadoras, como a prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico (NO). Na

exsudação celular, ocorre deslocamento dos leucócitos da região central da

corrente sanguínea para a periferia do vaso (marginação leucocitária) onde

inicia o evento de aderência desses ao endotélio (Pereira, 2000 em

Bogliolo). A mais importante atividade pró-inflamatória do endotélio é a

expressão de receptores, para as várias famílias de moléculas de adesão

expressas na superfície dos leucócitos, sendo caracterizadas a molécula-1

de adesão leucocitária (E-selectina ou ELAM-1), a molécula-1 de adesão

intercelular (ICAM-1) e a molécula-1 de adesão a células vasculares (VCAM-

1). A E-selectina participa ativamente da fase inicial da resposta inflamatória

tendo papel primordial na fixação inicial de neutrófilos nas vênulas dos

tecidos periféricos e também pode contribuir para a ligação inicial a outros

tipos de células inflamatórias. VCAM-1 participa numa fase mais tardia

mediando a fixação inicial de linfócitos T de memória e de leucócitos que

expressem molécula de integrina. Semelhante a VCAM-1, a ICAM-1 é

induzida no mesmo curso de tempo, porém é mais crítica para a

transmigração de leucócitos. As células inflamatórias, linfócitos T e

neutrófilos interagem com ICAM-1 e VCAM-1, respectivamente, através de

LFA-1 e de Mac-1. As alterações que ocorrem na superfície das células

endoteliais são mediadas por citocinas, e levam à adesão de neutrófilos,

linfócitos e monócitos seqüencialmente que participam ativamente do

processo inflamatório.

Page 53: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

Sugerimos, a partir dos nossos dados, que a patogenia das lesões na

leishmaniose visceral humana e experimental, nos diferentes órgãos e

diferentes períodos de tempo, são dependentes de mecanismo que envolva

a participação de imunoglobulinas.

Para comprovarmos os nossos achados sobre o papel da

imunoglobulina na patogênese da lesão na leishmaniose visceral estudos

futuros serão planejados para estudar as características da IgG; se o

processo de internalização é dependente de mecanismo que requer ativação

celular ou se é um processo passivo, sendo necessário para isso, analisar a

fosforilação de proteínas intracelulares logo após a internalização e, avaliar

efetivamente se a internalização pode influenciar a expressão de moléculas

de adesão por células endoteliais, verificando se este fato pode ter relação

ao aumento na produção de diferentes quimiocinas na fase inicial e final da

infecção, culminando na migração de células mononucleares, inclusive

células T, na lesão, observada na nefropatia da leishmaniose visceral canina

(Costa et al., 2000).

Page 54: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

CONCLUSÕES

Observa-se a internalização de imunoglobulinas por células

endoteliais tanto com soros de pacientes quanto com os de

hamsteres com leishmaniose visceral in vitro.

Observa-se a internalização de imunoglobulinas por células

endoteliais de fígado, pulmão e rim em diferentes tempos de infecção.

Ocorre alteração da resposta capilar a histamina na leishmaniose

visceral de hamster e a IgG induz alteração na permeabilidade a

macromoléculas.

Os dados sugerem que IgG tem participação na inflamação

possivelmente pela sua internalização.

Page 55: REGIANE MATHIAS - University of São Paulo

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“O homem que evita dúvidas nunca vai encontrar certezas”

Raphael Gancz