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RELATÓRIO DIAGNÓSTICO – CASO CLÍNICO: Nascido para ser infeliz. Sintomas CID 10: Humor depressivo - ideação suicida (F 32.2); Mania com sintomas psicóticos (F 30.2); transtorno de ansiedade – TOC (F 42.1); Pensamentos e atos obsessivos (F 42.2); Depressão psicótica (F 32.3) - idéia deliróide, desorientação autopsíquica; Aparência geral do examinado - O devir do paciente está barrado por suas idéias delirantes – “eu estou aqui para ir até o fim” ... “ninguém me ama, nasci para ser infeliz” ... “ter batido na porta certa” ... “encontrar uma mulher em três meses, caso contrário estaria “perdido” – sintoma de inibição perante as mulheres. Em seu quadro de desordem de ansiedade – “ninguém me ama, nasci para ser infeliz” – o sintoma passa a ser a sua identificação. Há uma espécie de procura do amor no outro, este outro não vê ou não percebe e, assim, fecha-se um ciclo vicioso. O indivíduo pode começar a ter que dar conta do que não se dá conta. Isso favorece uma sobrecarga, a chamada pressão, onde esse indivíduo possivelmente poderá vir a sofrer de depressão. Sua história de vida remete ao abandono pela mãe, que deixou-o com o pai e a madrasta, que, segundo ele, transfou-o em um bode expiatório, tornando-o um “sacrificado”. Em tudo de ruim que acontecera em sua vida, para ele, só confirmava a significação – “nascido para ser infeliz”. Verifica-se, no relato descrito, que o paciente apresenta idéias relacionadas à morte, com ideação suicida – “quero acabar com minha infelicidade” ... “se a análise não funcionar, enfiarei uma bala na cabeça”. O sujeito gostaria de morrer para acabar com o sofrimento – sentia-se “um enjeitado”. Apresenta atos voluntários,

Relatório diagnóstico - psicopatologia II

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Page 1: Relatório diagnóstico - psicopatologia II

RELATÓRIO DIAGNÓSTICO – CASO CLÍNICO: Nascido para ser infeliz.

Sintomas CID 10: Humor depressivo - ideação suicida (F 32.2); Mania com sintomas

psicóticos (F 30.2); transtorno de ansiedade – TOC (F 42.1); Pensamentos e atos

obsessivos (F 42.2); Depressão psicótica (F 32.3) - idéia deliróide, desorientação

autopsíquica;

Aparência geral do examinado - O devir do paciente está barrado por suas idéias

delirantes – “eu estou aqui para ir até o fim” ... “ninguém me ama, nasci para ser infeliz” ...

“ter batido na porta certa” ... “encontrar uma mulher em três meses, caso contrário estaria

“perdido” – sintoma de inibição perante as mulheres. Em seu quadro de desordem de

ansiedade – “ninguém me ama, nasci para ser infeliz” – o sintoma passa a ser a sua

identificação. Há uma espécie de procura do amor no outro, este outro não vê ou não

percebe e, assim, fecha-se um ciclo vicioso. O indivíduo pode começar a ter que dar

conta do que não se dá conta. Isso favorece uma sobrecarga, a chamada pressão, onde

esse indivíduo possivelmente poderá vir a sofrer de depressão. Sua história de vida

remete ao abandono pela mãe, que deixou-o com o pai e a madrasta, que, segundo ele,

transfou-o em um bode expiatório, tornando-o um “sacrificado”. Em tudo de ruim que

acontecera em sua vida, para ele, só confirmava a significação – “nascido para ser

infeliz”.

Verifica-se, no relato descrito, que o paciente apresenta idéias relacionadas à morte, com

ideação suicida – “quero acabar com minha infelicidade” ... “se a análise não funcionar,

enfiarei uma bala na cabeça”. O sujeito gostaria de morrer para acabar com o sofrimento

– sentia-se “um enjeitado”. Apresenta atos voluntários, compulsivos – lavava as mãos

trinta vezes por dia, sem prestar a menor atenção a seu ritual. Esses atos repetitivos,

geralmente sem finalidade lógica, são realizados para aliviar a ansiedade advinda de

pensamentos obsessivos.

O homem que queria “ir até o fim”, estava por demais agarrado à significação de sua

engrenagem destrutiva. Manter a análise poderia levá-lo ao ato ou poderia ajudá-lo? –

este foi o maior dilema do analista – o paciente queria que o analista lhe dissesse “como

acabar com sua infelicidade”. Neste relato de caso, o amor transferencial incondicional do

paciente para com o analista e sua determinação de “ir até o fim”, levou-o a conduzir o

processo analítico de forma a impeli-lo a deixar o trabalho analítico, pois se o dispensasse

iria reforçar sua idéia de “ter nascido para ser infeliz”.