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RELATÓRIO FINAL PROJETO PROLÍTICAS PÚBLICAS CIRCUITOS DA EXCLUSÃO SOCIAL E DA POBREZA URBANA EM ÁLVARES MACHADO E RANCHARIA Presidente Prudente, fevereiro de 2009.

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RELATÓRIO FINAL

PROJETO PROLÍTICAS PÚBLICAS

CIRCUITOS DA EXCLUSÃO SOCIAL E DA POBREZA URBANA EM ÁLVARES MACHADO E RANCHARIA

Presid

ente Prudente, fe

vereiro

de 2009.

SSUUMMÁÁRRIIOO EEXXEECCUUTTIIVVOO

RELATÓRIO FINAL REFERENTE AO PROCESSO 2006/51888-8

Título: Circuitos da exclusão social e da pobreza urbana em Álvares Machado e Rancharia.

Coordenador Responsável: Raul Borges Guimarães

CEMESPP: Centro de Estudos e Mapeamento da exclusão social para políticas públicas EQUIPE: Raul Borges Guimarães (coord.) Ana Lúcia de Jesus Almeida Eliane Ferrari Chagas Encarnita Salas Martin Everaldo Santos Melazzo Renilton José Pizol

I. Apresentação

O presente relatório sistematiza, apresenta e discute o trabalho

desenvolvido pelo Centro de Estudos e Mapeamento da Exclusão Social para

Políticas Públicas (CEMESPP), do campus da UNESP de Presidente Prudente,

durante o período de realização do Projeto de Políticas Públicas “Circuitos da

exclusão social e da pobreza urbana em Álvares Machado e Rancharia”.

Inicialmente, a pesquisa visava articular procedimentos metodológicos

quantitativos e qualitativos para melhor instrumentalizar as prefeituras

desses municípios paulistas no processo de tomada de decisão de políticas

de assistência social e de implementação do Plano Diretor. Contudo, o

conjunto de trabalhos realizados pelo grupo extrapolou os objetivos

especificados no referido projeto, não apenas por que outras atividades

foram incorporadas e realizadas, mas também por que, a partir de

determinado momento, a própria condução das atividades previstas exigiu

adaptações e novos desafios foram incorporados.

O relatório encontra-se dividido em 3 capítulos. No capítulo 1, “Uma

primeira aproximação à dinâmica econômica e social das cidades

estudadas”, ressaltamos a importância de considerar uma série de dados

estatísticos disponíveis para os técnicos e gestores municipais, assim como

para a população em geral, como é o caso das informações geradas pelo

IBGE e o SEADE. No capítulo 2, “Procedimentos Metodológicos para o

estudo em cidades do interior paulista”, discutimos os tipos de

levantamento e tratamento das informações que podem e devem ser

geradas ou processadas para o estudo da pobreza urbana e da exclusão

social em áreas urbanas não metropolitanas, a partir da experiência

acumulada em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai. No capítulo 3, “Os

circuitos da exclusão social e da pobreza urbana (análise e

considerações)”, foram selecionados alguns resultados mais significativos

do estudo que permitirão ao CEMESPP dar continuidade à construção e

aprimoramento de indicadores por meio de instrumental interdisciplinar e

de sistemas de informação geográfica, desenhados para representar e

gerenciar dados e informações para a compreensão da realidade intra-

urbana. Finalmente em “Síntese e perspectivas”, procuramos avaliar os

resultados obtidos no projeto em termos de aprendizados para o grupo e de

potencialidades e novos rumos de trabalho.

II. Ponto a ser destacado

Este relatório tem como foco central os aspectos metodológicos que

permitem o mapeamento dos circuitos da pobreza urbana e da exclusão

social em cidades paulistas de áreas urbanas não metropolitanas.

Atendendo à solicitação do parecerista da FAPESP (por ocasião do

Relatório Parcial), a preocupação é apresentar de que forma procedemos no

trabalho em parceria com os técnicos das prefeituras de Álvares Machado e

de Rancharia, visando a produção de conhecimentos coletivos e a

transferência de tecnologia da universidade para órgão públicos municipais.

Apesar de não prevista no projeto inicial, foi incluída a experiência

desenvolvida em Tarabai. O prefeito desse município da região de

Presidente Prudente procurou o CEMESPP em função da visibilidade gerada

pela pesquisa de políticas públicas em Álvares Machado e Rancharia. Como

se tratava de um município bem menor do que os outros e havia a

possibilidade de aplicar conhecimentos gerados no projeto para o

aprimoramento das ferramentas cartográficas, sem custos adicionais,

destinamos um bolsista de mestrado do grupo para o atendimento dessa

demanda.

III. Principais conclusões e encaminhamentos

• Efetivou-se a possibilidade de ampliação do conhecimento das

condições de vida e dos processos excludentes em áreas

urbanas não metropolitanas: A cidade pequena é fenômeno

espacial dos mais importantes do nosso país e precisa ser

objeto de preocupação e reflexão, no sentido de contribuir para

o aprimoramento do processo de gestão e de tomada de

decisão.

• No que se refere aos aspectos metodológicos, cabe dizer que o

grupo de pesquisa, durante muito tempo, se preocupou,

basicamente, com mapeamento intra-urbano focalizado em

cidades de porte médio, sendo Presidente Prudente, num

primeiro momento, laboratório privilegiado de análises sociais

e territoriais. Em seguida, várias outras cidades de porte médio

do interior do Estado de São Paulo foram alvos de

preocupação. Até então, se tratava de cidades com uma malha

urbana considerável, cujo acesso aos dados territoriais e às

bases cartográficas digitais era relativamente fácil. Muito

recentemente, passamos a nos preocupar com pequenas

cidades que, geralmente, mostram grandes dificuldades para

acessar dados e gerar informações. Aqui, freqüentemente,

entram em discussão os níveis de análise espacial e as escalas

geográficas, pois os fenômenos espaciais analisados, a leitura

que deles poderá ser feita e as formas de expressão

cartográfica, se processarão de formas diferenciadas. Em

função disso, foi preciso pensar uma metodologia que abrisse

possibilidades de leituras espaciais em cidades de pequeno

porte. Neste caso, nos deparamos com a necessidade de

manter certa flexibilidade para adequar os procedimentos

metodológicos às especificidades de cada localidade, sem

perder, é claro, a possibilidade de comparabilidade com outras

realidades. Esse é um grande desafio dos grupos de pesquisa

que se dedicam a compreender melhor as cidades pequenas.

• A este propósito, não se trata apenas de dados prontos

elaborados por um técnico distante da prefeitura, mas sim de

todo o processo de construção dos indicadores in loco,

passando pelo tratamento dos dados até chegar ao uso

informação no nível intra-urbano e porque não intramunicipal.

Isso inclui o uso das ferramentas tecnológicas (no nosso caso,

fundamentalmente, MapInfo e Excel) e o processo de geração

de dados (numéricos e alfanuméricos, cadastros e bases

cartográficas) e, em seguida de informações (percentuais,

índices e mapas temáticos).

• Muitos outros dados estão disponíveis para serem analisados

por membros do grupo e resultarão em publicações e

parâmetros para novas pesquisas na forma de teses,

dissertações e monografias. O livro, produzido pelo grupo,

encontra-se no prelo e será editado pela Edunesp ainda em

2009.

• Por fim, o período de realização da pesquisa abriu

possibilidades de novas parcerias. No caso de Rancharia, o

processo eleitoral resultou no segundo mandato do prefeito

que apoiou o projeto. Em Álvares Machado, apesar de ter

ocorrido alternância de poder, os contatos estão bem

adiantados entre o CEMESPP e a nova gestão municipal para a

continuidade dos trabalhos desenvolvidos em conjunto. Em

ambos os casos, os contatos estão mantidos, com reuniões

periódicas dos membros do grupo às prefeituras e novas

equipes municipais e fica evidente que o Programa de Políticas

Públicas da FAPESP é muito importante para o fortalecimento

de pesquisas aplicadas no campo das políticas públicas, acima

de disputas eleitorais ou comprometimentos político-

partidários.

• Por fim, a ampliação do trabalho iniciado será possível por

meio do convênio que está sendo firmado entre o CEMESPP e o

CEPAM (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração

Municipal – Fundação Prefeito Faria Lima). A proposta que está

em elaboração, através de contatos permanentes e já

avançados com a Sra. Jô Ballanotti (com visitas e reuniões de

trabalho entre as equipes, seja em Presidente Prudente, seja

em São Paulo), é de transferir a tecnologia desenvolvida com o

apoio logístico do CEPAM, que mantêm um estreito contato

com as prefeituras dos municípios paulistas. Desta forma, a

pesquisa possibilitou uma enorme ampliação da inserção do

grupo de pesquisa no estado de São Paulo, o que exigirá uma

nova forma de planejar o trabalho em termos de metas e

estratégias de estudo.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Presidente Prudente

CIRCUITOS DA EXCLUSÃO SOCIAL E DA POBREZA

URBANA EM ÁLVARES MACHADO E RANCHARIA

Relatório Final de Pesquisa

Programa de Políticas Públicas da FAPESP

Processo 06/51888-8

Presidente Prudente

2009

SUMÁRIO

I. Apresentação ...................................................................... 7 Capítulo 1: Uma primeira aproximação à dinâmica econômica e

social das cidades estudadas .........................................................

11 1. Apresentação Geral dos municípios ....................................... 12

1.1. Demografia local e regional ......................................... 14 1.2. As bases econômicas locais ......................................... 15 1.3. Desigualdades sociais ................................................. 19 1.4. Tarabaí no contexto do estudo ..................................... 21

Capítulo 2: Procedimentos metodológicos para o estudo em

cidades do interior paulista ...........................................................

25

2.1. ÁLVARES MACHADO 26 2.1.1. Constituição e Formatação da base cartográfica

digital.........................................................................................

26 2.1.2. Organização dos Dados da Secretaria de Assistência

Social: da informatização à determinação do recorte do estudo........................................................................................

27 2.1.3. Organização do campo: identificando as áreas de

exclusão social.............................................................................

38 2.1.4. Coleta de dados utilizando questionário: processo geral

2.1.4.1. A elaboração do instrumento pelo grupo .............. 40 2.1.4.2. A aplicação como piloto e reformulação dos itens ... 44 2.1.4.3. Estrutura e formatação final ................................ 45 2.1.4.4. Elaboração de um manual para o grupo e

treinamento do pessoal ................................................................

47 2.1.4.5. Procedimentos para aplicação do questionário...... 48

2.1.5. Organização dos resultados ....................................... 49 2.1.6. O uso das informações qualitativas ............................ 51

2.2. RANCHARIA 57 2.2.1. Observação de campo: identificando as áreas de

exclusão .....................................................................................

58 2.3. TARABAI 62

2.3.1. Da Constituição e formatação da base cartográfica digital ao mapeamento temático ....................................................

62

Capítulo 3: Os circuitos da exclusão social e da pobreza urbana

(análise e considerações)....... ..............................................

76

3.1. ÁLVARES MACHADO 77 3.1.1. Dimensão econômica.............................................. 79 3.1.2. Os alcances das políticas públicas............................ 81 3.1.3. Dimensão de mobilidade......................................... 86 3.1.4. As representações sociais identificadas a partir do

questionário.................................................................................

93 3.2. RANCHARIA 98

3.2.1. Visão geral e análises dos dados............................. 98 3.2.1.1. Rancharia: informações intra-urbanas.............. 101

3.3. TARABAI 109 3.3.1. A avaliação do processo de mapeamento e utilização

da metodologia na política pública..................................................

109 4. Síntese e Perspectivas........................................................ 121 5. Referências Bibliográficas.................................................... 126

Lista de Tabelas, Gráficos, Figuras, Esquemas, Quadros e Mapas. Tabelas TABELA 1 – Indicadores demográficos. Estado de São Paulo, região de Presidente Prudente e municípios selecionados

15

TABELA 2 – Indicadores econômicos selecionados. Estado de São Paulo, Rancharia e Álvares Machado 16

TABELA 3 – Percentual de estabelecimentos por setor. Estado de São Paulo, região de Presidente Prudente e municípios selecionados – 2000

17

TABELA 4 – Indicadores selecionados sobre o mercado de trabalho 18 TABELA 5 – Indicadores de renda. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados 19

TABELA 6 – Indicadores sociais selecionados. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados

20

TABELA 7 - Papel na família: quantidades absolutas e relativas dos entrevistados 78

Tabela 8 - Renda familiar informada pelo entrevistado 80 TABELA 9 - Situação do chefe de família 80 TABELA 10 – Chefes de família com atividades remuneradas segundo situação 81

TABELA 11 – Chefes de família e benefícios sociais 82 TABELA 12 - Chefes de família que informaram receber algum benefício 83

TABELA 13– Situação dos chefes de família que recebem algum auxílio 83 TABELA 14 - Local de trabalho chefe de família 86 TABELA 15 - Local de lazer freqüentado 90 TABELA 16 - Chefes de família que freqüentam a escola 90 TABELA 17 – Local de estudo 91 TABELA 18 - Síntese dos setores, segundo indicadores selecionados 100 TABELA 19 – Existência de vias não pavimentadas nos setores 101 TABELA 20 - Vias estreitas nos setores 102 TABELA 21 - Vias de média largura nos setores 102 TABELA 22 - Vias largas nos setores 102 TABELA 23 - Existência de avenidas nos setores 102 TABELA 24 - Existência de sinalização do nome da rua nos setores 103 TABELA 25 - Existência de sinalização horizontal nas ruas dos setores 103 TABELA 26 - Existência de sinalização vertical nas ruas dos setores 103 TABELA 27 – Calçamento inexistente nas ruas dos setores 104 TABELA 28 - Calçadas estreitas nas ruas dos setores 104 TABELA 29 - Calçadas médias nas ruas dos setores 104 TABELA 30 - Calçadas largas nas ruas dos setores 105 TABELA 31 – Abastecimento de água nas ruas dos setores 105 TABELA 32 – Esgotamento sanitário nas ruas dos setores 105 TABELA 33 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores 106 TABELA 34 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores 106 TABELA 35 – Cabeamento telefônico nas ruas dos setores 106 TABELA 36 – Número de vezes por semana da Coleta de lixo sólido nas ruas dos setores 106

TABELA 37 – Número de “orelhões” existentes nas ruas dos setores 107

TABELA 38 – Número “bocas de lobo” existentes nas ruas dos setores 107 TABELA 39 – Tipo de lâmpada utilizada na iluminação pública nas ruas dos setores 108

TABELA 40 – Número árvores existentes nas ruas dos setores 108 Quadros QUADRO 1 – Elementos da organização interna da representação social de riqueza, evocados por moradores de áreas consideradas de exclusão

94

Gráfico GRAFICO 1 – Benefícios recebidos e situação de trabalho do chefe de família 84

GRAFICO 2 – Benefícios recebidos por faixa de rendimento familiar 85 GRÁFICO 3 – Outros locais de trabalho citados 87 GRÁFICO 4 – Meio de transporte utilizado para o trabalho 88 GRÁFICO 5 – Modal de transporte para trabalho em Álvares Machado 88 GRÁFICO 6 – Modal de transporte para trabalho em Presidente Prudente 89

GRAFICO 7 – Municípios procurados em caso de atendimento médico 89 GRAFICO 8 – Outros Locais freqüentados 90 GRAFICO 9 – Modal de Transporte utilizado para estudo 91 GRAFICO 10 – Modal de Transporte para estudo em Álvares Machado 92 GRAFICO 11 – Modal de Transporte para estudo em Presidente Prudente 92

Figuras FIGURA 1 – Modelo para leitura do território paulista 22 FIGURA 2 – Layout do programa Access® utilizado pela Secretaria de Assistência Social de Álvares Machado 28

FIGURA 3 – Croqui de Álvares Machado 40 FIGURA 4 - Modelo do formulário de observação rápida 60 FIGURA 4 – Representação de um mapa de polígonos 65 FIGURA 5 - Representação de um mapa de eixo de ruas – mapa linear 66 FIGURA 7 – Conversão de formato da base digital no MapInfo 66 FIGURA 8 – Processo de edição do eixo de ruas a partir do mapa de quadras 67

FIGURA 9 – Deixando a base cartográfica editável 68 FIGURA 10 – Mapa de linhas sobreposto ao mapa de polígonos 69 FIGURA 11 – Somente mapa de linhas (eixo de ruas) 69 FIGURA 12 – Modificar a estrutura da tabela 70 FIGURA 13 – Definição do padrão estrutural da base cartográfica 70 FIGURA 14 – Informações do eixo de ruas 73

Esquemas ESQUEMA 1 – Composição da base digital da cidade 64 ESQUEMA 2 – Formato das bases cartográficas 64 ESQUEMA 3 – Os dois tipos de base usados no mapeamento 65 ESQUEMA 4 – Conversão de base cartográfica 67 ESQUEMA 5 – Estrutura lógica da malha urbana 72 ESQUEMA 6 – Estrutura lógica do padrão de numeração da malha urbana 72

ESQUEMA 7 - geocodificação de pontos e conversão para um mapa temático de área 74

Mapas MAPA 1 – Atendimentos da Assistência Social – 2005 30 MAPA 2 – Casas Próprias da Cidade de Álvares Machado 31 MAPA 3 - Casas Alugadas na Cidade de Álvares Machado 32 MAPA 4 – Casas Cedidas na Cidade de Álvares Machado 32 MAPA 5 – Atendimentos da Assistência Social no Parque dos Pinheiros 34 MAPA 6 - Casas Próprias do Parque dos Pinheiros 35 MAPA 7 - Casas Alugadas do Parque dos Pinheiros 35 MAPA 8 – Casas Cedidas do Parque dos Pinheiros 36 MAPA 9 - Bolsa Família 37 MAPA 10 - Isenção de IPTU 37 MAPA 11 - Relações de menores infratores com regimes especiais 38 MAPA 12 – Mapa síntese de inclusão/exclusão social de Álvares Machado 39

MAPA 13 – Setores de inclusão, exclusão e setores intermediários – Rancharia 99

MAPA 14 - População residente urbana da cidade de Tarabaí – SP 110 MAPA 15 - Renda média por setor censitário em Tarabaí-SP 111 MAPA 16 - Percentual de responsáveis sem rendimento em Tarabaí SP 112 MAPA 17 - Percentual de responsáveis que ganham até meio salário mínimo em Tarabaí – SP 112

MAPA 18 - Percentual de responsáveis que ganham de ½ a 1 salário mínimo em Tarabaí –SP 113

MAPA 19 - Responsáveis que ganham de 1 a 3 salários mínimos em Tarabaí – SP 113

MAPA 20 - Famílias com renda per capita de seis a setenta reais em Tarabaí – SP (CADúnico) 114

MAPA 21 - Famílias com renda per capita de setenta a cem reais em Tarabaí – SP (CADúnico) 115

MAPA 22 - Programa Renda Cidadã em Tarabaí – SP 116 MAPA 23 - Cadastro Único de Tarabaí – SP 117 MAPA 24 - Programa Ação Jovem em Tarabaí – SP 118 MAPA 25 - Programa Viva Leite em Tarabaí – SP 118

7

RELATÓRIO FINAL 2009

FAPESP – POLÍTICAS PÚBLICAS

I. Apresentação

O presente relatório é uma sistematização final do trabalho

desenvolvido pelo Centro de Estudos e Mapeamento da Exclusão Social para

Políticas Públicas (CEMESPP), do campus da UNESP de Presidente Prudente,

durante o período de realização do Projeto de Políticas Públicas em Álvares

Machado e Rancharia. Inicialmente, a pesquisa visava articular

procedimentos metodológicos quantitativos e qualitativos para melhor

instrumentalizar as prefeituras desses municípios paulistas no processo de

tomada de decisão de políticas de assistência social e de implementação do

Plano Diretor. Contudo, o conjunto de trabalhos realizados pelo grupo

extrapolou os objetivos especificados no referido projeto, não apenas por

que outras atividades foram incorporadas e realizadas, mas também por

que, a partir de determinado momento, a própria condução das atividades

previstas exigiu adaptações e novos desafios foram incorporados.

É fundamental registrar que, para além de cada um dos objetivos ou

das atividades propostas que estão relatadas aqui, consideramos que o

grupo conseguiu avançar em relação a uma questão estratégica para

aqueles que procuram apreender processos de exclusão social, em sua

dimensão espacial, bem como analisar e implementar ações no âmbito de

políticas públicas para seu enfrentamento. Especificamente, o acúmulo de

experiências geradas pelo trabalho coletivo, no âmbito do CEMESPP, a

análise dos circuitos da pobreza urbana, da desigualdade e da exclusão

social, demonstram enormes desafios no desenvolvimento de metodologias

e procedimentos no tratamento de informações geradas em áreas urbanas

não metropolitanas. Isso porque é preciso lidar com situações concretas em

que se apresentam falta e/ou precariedade de dados e informações

empíricas por parte de Prefeituras e também de material necessário para a

condução de trabalhos de mapeamentos, particularmente bases digitais.

Por outro lado, faz-se necessário ter sensibilidade para reconhecer e

se apropriar das informações disponíveis, mesmo que fragmentadas e não

sistematizadas que permitem não apenas valorizar o trabalho acumulado

8

por funcionários e gestores. Da mesma forma, a partir desses resultados, é

preciso melhorar e acrescentar rotinas e informações que ampliem a

capacidade de gestão, seja na sua interface com a capacidade de

reconhecimento e análise, seja em relação às ações a serem desenvolvidas.

Como procuraremos apresentar a seguir, não há dúvidas que o apoio

financeiro da FAPESP a projetos dessa natureza e a ampliação do Programa

de Políticas Públicas gera impactos muito positivos e uma sinergia maior

entre as pesquisas acadêmicas e o desenvolvimento das agendas das

políticas públicas municipais.

Assim, este relatório tem como foco central os aspectos

metodológicos que permitem o mapeamento dos circuitos da pobreza

urbana e da exclusão social em cidades paulistas de áreas urbanas não

metropolitanas. Da mesma forma, atendendo à solicitação do parecerista da

FAPESP (por ocasião do Relatório Parcial), nossa preocupação foi de

apresentar de que forma procedemos no trabalho em parceria com os

técnicos das prefeituras de Álvares Machado e de Rancharia, visando a

produção de conhecimentos coletivos e a transferência de tecnologia da

universidade para órgão públicos municipais. É por esse motivo, que foi

dada atenção especial ao trabalho desenvolvido na Secretaria Municipal da

Assistência Social e aplicação dos questionários em Álvares Machado, assim

como os instrumentos de coleta de dados utilizados em Rancharia.

Apesar de não estar previsto no projeto inicial, incluímos no presente

relatório, a experiência desenvolvida em Tarabai. O prefeito desse município

da região de Presidente Prudente procurou o CEMESPP em função da

visibilidade gerada pela pesquisa de políticas públicas em Álvares Machado

e Rancharia. Como se tratava de um município bem menor do que os outros

e havia a possibilidade de aplicar conhecimentos gerados no projeto para o

aprimoramento das ferramentas cartográficas, sem custos adicionais,

destinamos um bolsista de mestrado do grupo para o atendimento dessa

demanda. Assim, os resultados obtidos em Tarabai, como veremos adiante,

reforçaram a análise da realidade urbana numa escala regional, auxiliando o

nosso entendimento dos rumos e potencialidades geradas pelo projeto.

Em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai, assim como em outras

cidades cujo centro regional é Presidente Prudente, os circuitos da pobreza

referem-se às esferas de sobrevivência nas quais a reprodução ou

manutenção da vida são o objetivo primordial. Não é demais lembrar tratar-

9

se de região do estado de São Paulo que apresenta baixo dinamismo

econômico, particularmente industrial, marcada pelos conflitos fundiários,

com uma rede urbana pouco densa e centralizada em Presidente Prudente e

com vários indicadores sócio-econômicos abaixo das médias estaduais. Os

indivíduos que se valem dos circuitos da pobreza para sobreviver,

normalmente, residem em áreas que estão distantes do centro da cidade, e

pouco dotadas em infra-estrutura e serviços públicos, em virtude da baixa

remuneração que seus moradores estão submetidos.

A partir da análise dos resultados dos trabalhos realizados no

CEMESPP, o desafio é a elaboração de instrumentos de coleta de dados no

campo que permitam a realização de estudos amostrais para a comparação

entre as áreas de exclusão social de outras cidades do interior paulista.

Para expor os procedimentos que levaram o grupo a estas

conclusões, o relatório foi dividido em 3 capítulos. No capítulo 1, “Uma

primeira aproximação à dinâmica econômica e social das cidades

estudadas”, ressaltamos a importância de considerar uma série de dados

estatísticos disponíveis para os técnicos e gestores municipais, assim como

para a população em geral, como é o caso das informações geradas pelo

IBGE e o SEADE. Fazemos isto utilizando uma série de indicadores das

bases estatísticas dessas instituições para uma primeira aproximação do

leitor às realidades urbanas foco da pesquisa. No capítulo 2, “Procedimentos

Metodológicos para o estudo em cidades do interior paulista”, discutimos os

tipos de levantamento e tratamento das informações que podem e devem

ser geradas ou processadas para o estudo da pobreza urbana e da exclusão

social em áreas urbanas não metropolitanas, a partir da experiência

acumulada em Álvares Machado, Rancharia e Tarabai. No capítulo 3, “Os

circuitos da exclusão social e da pobreza urbana (análise e considerações)”,

foram selecionados alguns resultados mais significativos do estudo que

permitirão ao CEMESPP dar continuidade à construção e aprimoramento de

indicadores por meio de instrumental interdisciplinar e de sistemas de

informação geográfica, desenhados para representar e gerenciar dados e

informações para a compreensão da realidade intra-urbana. Finalmente em

“Síntese e perspectivas”, procuramos avaliar os resultados obtidos no

projeto em termos de aprendizados para o grupo e de potencialidades e

novos rumos de trabalho.

10

Por fim, ainda queremos manifestar nossa concordância com as

críticas do parecerista da FAPESP em relação aos aspectos teóricos

apresentados no relatório parcial. Os textos elaborados pela equipe de

pesquisa, naquele momento, resultaram de um esforço de sistematização

dos estudos em andamento no CEMESPP acerca da temática do projeto. De

fato, como o grupo é formado por professores, pós-graduandos de

doutorado e mestrado, além de estudantes de graduação com projetos de

iniciação científica, há várias linhas e campos temáticos em

desenvolvimento, com diferentes níveis de aprofundamento. Contudo, o que

poderia ser uma fragilidade do grupo, gerou um movimento de maior troca

entre os autores dos textos, tornando o exercício da crítica uma atividade

importante da pesquisa.

O resultado da discussão interna do CEMESPP, a partir dos textos

elaborados pela equipe do projeto, foi a consolidação de um original mais

consistente. A aprovação da publicação desses textos na forma de livro pela

Editora da UNESP é o melhor indicador que tal processo foi adequado.

Assim, decidimos não retomarmos esse item no relatório final, uma vez que

tomaria um espaço muito grande do texto, preocupando-nos mais em

atender a outros aspectos apontados pelo parecerista. Ainda assim, é

preciso registrar que o livro está em processo de editoração e será lançado

ainda este ano, o que pode ser considerado um dos grandes resultados

obtidos pelo projeto de políticas públicas desenvolvido pelo CEMESPP com o

apoio da FAPESP.

11

Capítulo 1: Uma primeira aproximação à dinâmica econômica

e social das cidades estudadas

12

1. Apresentação geral dos municípios

Este capítulo tem como objetivo apresentar um breve panorama dos

municípios objeto desse projeto “Políticas Públicas”. A intenção é organizar

as informações básicas que permitam uma aproximação às características

demográficas, econômicas e sociais que se constituem em ‘pano de fundo’

para um conhecimento mais organizado e pormenorizado dos circuitos da

pobreza urbana e da exclusão social.

Três observações preliminares são relevantes. São utilizados aqui

dados e informações secundárias, produzidas pelos sistemas nacional

(IBGE) e estadual (SEADE) de informações, uma vez que os esforços de

coleta e organização de dados primários concentram-se sobre áreas e

segmentos sociais específicos e não em relação à totalidade dos habitantes,

como poderá ser observado neste trabalho a respeito da aplicação dos

questionários em áreas consideradas como de exclusão social. Entendemos

que esse procedimento da pesquisa deva ser adotado para outros estudos

de mesma natureza. Afinal, é preciso disseminar o conhecimento de como

selecionar e relacionar informações de bases secundárias para uma primeira

reflexão acerca da dinâmica social e econômica das cidades paulistas.

Verificamos que há muitas bases de dados disponíveis, o que não quer dizer

que esse volume de dados se transforme automaticamente em informações

relevantes para o processo de tomada de decisão no desenvolvimento de

políticas públicas.

A segunda observação é que sempre que possível esse tipo de análise

deve buscar a contextualização das realidades locais à regional e estadual,

uma vez que tais comparações podem ajudar no próprio entendimento dos

processos que originam e reproduzem situações de pobreza e desigualdade

no nível local. Por fim, os dados a serem apresentados referem-se,

sobretudo, à totalidade dos municípios (e não apenas as suas áreas

urbanas) como se referem, também, prioritariamente aos primeiros anos da

década atual, seguindo as bases estatísticas disponíveis.

Como será visto, a seguir, tratamos realidades que apresentam em

comum o fato de situarem-se em uma das regiões mais pobres e de mais

13

baixo dinamismo econômico do Estado de São Paulo, região1 esta que desde

os anos 60 apresenta processos de expulsão de sua população

(principalmente jovens) que partiram em busca de melhores condições de

trabalho, com inexistente ou poucos investimentos estaduais em infra-

estrutura e com inexpressivos movimentos sociais urbanos que

reivindiquem direitos sociais básicos, como habitação, saneamento,

educação ou saúde.

Por seu lado, já se transformou em senso comum a análise que se

refere ao momento mais recente da conjuntura regional em torno a dois

aspectos básicos, com impactos reais e simbólicos em todos os municípios

da 10ª Região Administrativa: a instalação de unidades prisionais em quase

todos os seus municípios, através de uma deliberada política estadual de

segurança pública, articulada a diferentes setores políticos e econômicos

locais, de um lado e, de outro, as mais recentes transformações no meio

rural com a introdução da cana de açucar como cultura dominante e a

generalização da modalidade do arrendamento, que alcança até mesmo

áreas objetos anteriormente de projetos de reforma agrária e

reparcelamento do solo rural.

Tais processos, com impactos sobre o meio urbano, requerem ainda

análises mais aprofundadas que poderão ser apontadas por este projeto

maior.

Não é demais lembrar que a equipe de pesquisa que apresenta este

relatório participa ou participou de estudos e análises nos municípios do

projeto, ocasiões em que tais questões já compareciam e de cujas análises

em muito se beneficiam no presente esforço de compreender as situações

de pobreza urbana2 e suas implicações para o planejamento e a gestão

local.

1 São muitas as possibilidades de recorte territorial para a região em foco: 10ª Região Administrativa, Pontal do Paranapanema, Oeste Paulista e, em um passado mais distante, Alta Sorocabana. Para os propósitos em mãos, e o formato dos dados a serem trabalhados, a referência primordial a ser aqui utilizada é a primeira, 10ª Região Administrativa. 2 Referência obrigatória é o Relatório Final para a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Rancharia (2006), bem como o ante-projeto de lei do Plano Diretor (2006). A respeito de Álvares Machado a monografia de bacharelado em Geografia de SILVA JUNIOR (2007), como também o relatório parcial do presente projeto (2006), por exemplo.

14

1.1. A Demografia local e regional

A contagem populacional do ano 2007 apontou um número total de

residentes no município de Rancharia em 28.304 e em Álvares Machado

22.886. Entretanto, como o IBGE todavia não disponibilizou os dados por

situação urbana/rural, por gênero ou faixas etárias utilizaremos aqui os

dados de 2000, apresentados na Tabela 1, a seguir.

Maior município de toda a região oeste do Estado de São Paulo em

área territorial, com 1.588,7 Km2, Rancharia apresenta na última década

uma densidade média de 18,1 habitantes por km2, número baixo,

considerada a média regional e muito inferior à estadual. Por seu lado,

Álvares Machado, com um território menor (347,2 km2) apresenta uma

densidade mais elevada (65,3 habitantes por km2), taxa acima da região,

mas ainda abaixo da estadual. Tais densidades, comparadas à estadual

revelam um traço bastante característico da chamada 10ª Região

Administrativa, ou seja, as baixas densidades quando comparadas às

demais regiões do Estado e não estaríamos longe de uma referência ao

vazio demográfico frente a outras regiões.

Em Rancharia, a população total alcançava em 2000, 28.772

habitantes e em Álvares Machado 22.661 habitantes, sendo a taxa de

crescimento populacional entre 1991-2000 de 0,75% a.a. para o primeiro e

de 2,09% a.a. Se neste primeiro período observa-se para Rancharia um

comportamento positivo superior à média regional, com os dados de 2007

observa-se pequena queda absoluta da população. Álvares Machado,

entretanto, apresentou um aumento acima das médias regional e estadual

entre 1991 e 2000, enquanto apresenta pequeno crescimento entre 2000 e

2007. Este último movimento, referente a Álvares Machado poderia estar

diretamente relacionado não a processos locais de mudanças estruturais

positivas de sua dinâmica econômica que fossem capazes de atrair fluxos

populacionais e mas à proximidade com Presidente Prudente, tal como

podemos inferir dos trabalhos de Silva Júnior (2007) e Miyazaki (2007).

Denota-se, assim, uma relativa estabilidade. De um lado, demonstra

o estancamento da queda da população tão característico da maioria dos

municípios da região em décadas anteriores. De outro, revela processos

mais profundos onde se conjugam baixa capacidade de atração

populacional, decorrente de economias precárias e pouco dinâmicas, com

15

fluxos migratórios ainda ativos, bem como de interações espaciais e

territoriais fortes entre os diferentes municípios.

TABELA 1 – Indicadores demográficos. Estado de São Paulo, região de

Presidente Prudente e municípios selecionados

Recorte Territorial

População total (2000)

População rural

(2000)

População urbana (2000)

ÁREA TERRITOR

(km²)

% de População

urbana (2000)

Taxas Crescimento Anual Pop 1991/2000

Esperança de vida ao

nascer (2000)

Densidade demográfica

(2000)

Estado de São Paulo 37.032.403 2.439.552 34.592.851 248.596.3 80,0 1,68 71,22 264,0

Região de Presidente Prudente

803.607 116.998 686.609 24,908.3 77,7 0,43 71,58 35,3

Álvares Machado 22.661 2.565 20.096 347.2 88,7 2,09 70,78 65,3

Rancharia 28.772 3.783 24.989 1.588.7 86,9 0,75 73,32 18,1

Fonte: Fundação Seade Organização: CEMESPP

A taxa de urbanização alcançou 86,9% em Rancharia e 88,7% em

Álvares Machado, aprofundando tendência já verificada nos anos anteriores,

ou seja, a da rápida urbanização da população e esvaziamento do território

rural, acima das médias regional e estadual.

Tal concentração espacial da população, como de regra para muitos

municípios brasileiros, é um dos desafios a ser considerado em qualquer

processo de análise e planejamento na medida em que nas áreas urbanas

são colocados grandes desafios à implementação de políticas públicas

relacionadas à organização do território, do meio ambiente e,

conseqüentemente, da qualidade de vida da população.

E, a complexidade de tais processos urbanos, por mais que sejam

relativamente pequenas suas populações frente à realidade de cidades de

porte médio e metrópoles, pode ser vislumbrada através das respectivas

expectativas de vida em ambos os municípios. Em Rancharia, maior que a

estadual e regional e em Álvares Machado, menor. Observa-se, assim, que

mais além de indicadores quantitativos, faz-se necessário conhecer de

maneira mais aprofundada e articulada tais realidades.

1.2. As bases econômicas locais

O objetivo deste item é reunir e sistematizar um conjunto de dados

econômicos que permitem compor um painel de informações a respeito da

16

base e da dinâmica econômica dos municípios de Rancharia e Álvares

Machado. Mesmo diante da precariedade de informações disponíveis a

respeito, é possível extrairmos daí algumas conclusões. O caminho adotado

preferencialmente é comparar as realidades locais à realidade estadual.

Como primeira aproximação à dinâmica econômica local, tomemos os

dados da Tabela 2 a seguir, ainda em números absolutos, que permitem

que sejam observados a evolução recente do valor adicionado por setor

(tomado aqui como uma aproximação da capacidade da economia local em

gerar riqueza), do Produto Interno Bruto e do Produto Interno Bruto per

capita, estes dois últimos correspondendo às estimativas elaboradas para os

municípios brasileiros pelo IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas

Aplicadas.

TABELA 2 – Indicadores econômicos selecionados. Estado de São Paulo, Rancharia e Álvares Machado

Valor Adicionado

PIB (1) PIB per Capita Recorte Territorial

Agropecuária Indústria Serviços Total

* * Administração Pública*

Total* * * *

Estado de São Paulo 2002

11.413,12 129.656,19 38.032,02 288.070,59 429.139,91 511.735,92 13.258,84

Estado de São Paulo 2003

12.214,05 154.464,78 42.918,06 322.331,05 489.009,88 579.846,92 14.787,99

Estado de São Paulo 2004

11.705,60 181.998,00 45.712,23 344.226,04 537.929,64 643.487,49 16.157,79

Estado de São Paulo 2005

11.265,01 193.980,72 51.848,75 406.723,72 611.969,44 727.052,82 17.977,31

Rancharia 2002 38,51 193,50 29,45 160,79 392,81 434,40 14.822,83

Rancharia 2003 50,59 136,56 32,07 157,28 344,43 374,21 12.678,18

Rancharia 2004 46,13 170,63 33,22 175,45 392,21 428,31 14.408,62

Rancharia 2005 42,51 183,36 38,81 195,22 421,09 458,47 15.314,53

Álvares Machado 2002 9,36 16,56 21,37 68,30 94,22 103,17 4.343,76

Álvares Machado 2003 7,62 16,89 23,45 76,12 100,64 112,72 4.661,82

Álvares Machado 2004 8,19 20,37 25,09 81,54 110,10 121,80 4.949,48

Álvares Machado 2005 6,91 20,65 29,00 93,24 120,80 133,59 5.335,16

Fonte: IPEA Nota: *Todos os valares são equivalentes a milhões de Reais Organização: CEMESPP

Algumas observações sintéticas podem ser obtidas a partir da leitura dos dados

acima:

17

1) Em relação ao valor adicionado total, observa-se que Rancharia apresenta uma

maior capacidade de produzir riqueza que Álvares Machado. Neste aspecto, a

economia do primeiro é aproximadamente 4 vezes maior que o segundo;

2) Em ambos os municípios observa-se queda do valor adicionado nas atividades

agropecuárias e crescimento dos setores relacionados aos serviços, inclusive Do

aumento da presença da administração pública;

3) Em Rancharia, mesmo que decrescente, percebe-se o peso do setor industrial,

configurando realidade bastante diferenciada em relação a Álvares Machado;

4) As variações do PIB são pequenas entre um ano e outro, denotando processos

econômicos consolidados e sem perspectivas de grandes transformações a

curto prazo;

5) Por fim, o PIB per capita, com tendência de lento crescimento, mais pela

estabilidade populacional que pelo crescimento da riqueza produzida, apresenta

grandes disparidades entre os dois municípios: enquanto Rancharia aproxima-

se da média estadual, Álvares Machado dela distancia-se.

As observações acima podem ser complementadas pelos dados da Tabela 3, a

seguir que apresenta os percentuais de estabelecimentos por setor econômico. O peso

maior das atividades comerciais, seguida pelos estabelecimentos agropecuários e os de

serviços. Isto acaba por sugerir que, mesmo com um peso alto dos estabelecimentos

agropecuários, trata-se de atividade pouco capitalizada haja vista os dados da Tabela

anterior, ou seja, um valor adicionado relativamente baixo em relação aos demais

setores.

Chama atenção, ainda, que quando comparados ao Estado, ambos os

municípios apresentam características diferentes à média estadual. Menor peso da

indústria, comércio e serviços e maior peso dos estabelecimentos agropecuários

TABELA 3 – Percentual de estabelecimentos por setor. Estado de São Paulo,

região de Presidente Prudente e municípios selecionados – 2000

Recorte Territorial % Indústrias

% C. Civil

% Comércio

% Serviços

% Agropecuários

% Total

Estado de São Paulo 12,08 3,32 38,20 37,27 9,13 100

Região de Presidente Prudente 8,06 4,04 36,06 24,92 26,93 100

Álvares Machado 8,98 3,29 31,14 18,26 38,32 100

Rancharia 8,89 3,48 31,90 21,38 34,35 100

Fonte: Delegacia Regional do Trabalho; Seade Organização: CEMESPP

18

O quadro do mercado de trabalho é explicitado a partir dos dados da Tabela 4

seguir. A população economicamente ativa, ou seja, aquela que compreende o

potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população

ocupada e a população desocupada, alcança 13.865 pessoas em 2000 em Rancharia e

10.369 em Álvares Machado. Ou seja, enquanto a relação entre PEA e população total

para o conjunto do Estado alcança 49,3%, em Rancharia este percentual é de 48,1% e

em Álvares Machado, 45,7%.

Os percentuais mais baixos revelam um traço importante das economias locais,

onde o volume da força de trabalho é relativamente menor.

TABELA 4 – Indicadores selecionados sobre o mercado de trabalho

Recorte Territorial

PEA – População

economicamente ativa (10 anos ou mais de idade),

2000 IBGE

PEA de 10 a

14 anos

de idade, 2000

PEA de 15 ou mais

anos, 2000

PEA de 15 a 24 anos de

idade (E + D) 2000

PEA 25 anos de idade ou

mais, 2000

PO – Pessoal Ocupado (10 anos ou mais),

2000 (PEA -

PD)

PD - Pessoal

Desocupado (10 anos ou

mais), 2000

(PEA - PO)

Nº Empregos no Setor Formal (RAIS)

31-12-2000

Estado de São Paulo 18.259.920 220.346 18.039.74 4.883.483 13.156.091 9.358.501 8.901.419 8.049.532

Região de Presidente Prudente 385.115 7.114 378.001 96.877 281.124 122.443 262.672 105.964 Álvares

Machado 10.369 161 10.208 2.510 7.698 1.921 8.448 1.424

Rancharia 13.865 270 13.595 3.793 9.802 4.08 9.757 3.992

Fonte: Delegacia Regional do Trabalho; Seade Organização: CEMESPP

A desagregação da PEA por faixas etárias em Rancharia revela mais uma

característica de sua composição. 1,9% encontra-se na faixa etária entre 10 e 14 anos,

27,3% entre 15 e 24 anos e 70,8% acima dos 25. Em Álvares Machado, 1,5% entre 10

e 14 anos, 24,2% entre 15 e 24 anos e 74,2% acima dos 25 anos.

Tais informações são relevantes tanto no sentido da proposição de políticas

públicas específicas para cada uma destas faixas etárias como também para a

compreensão da própria dinâmica do mercado de trabalho que, dadas a diminuição da

natalidade e mesmo da fecundidade deverá conviver com uma PEA com idade média

cada vez mais alta.

Por seu lado, a parcela ocupada efetivamente em relações formais de trabalho

alcança em Rancharia 30%, ou seja, um terço da PEA e, em Álvares Machado apenas

18,5% enquanto este mesmo percentual para o conjunto do estado de São Paulo é de

51,2% e para a região de Presidente Prudente é de 31,8%. Revela-se, assim, uma

contextualização local e regional frágil no que se refere à capacidade destas economias

19

em ocupar seu potencial de mão-de-obra, apontando ainda para a baixa dinâmica

econômica frente ao estado como um todo.

Por fim, vale a pena comparar os percentuais de emprego formal frente ao

pessoal ocupado. Em Rancharia é de 97,2%, em Álvares Machado de 74,1% e para a

região de 40,3% e para o estado de São Paulo de 86%. A interpretação de tais dados

não é direta. Porém, indica-se aqui a existência da informalidade nas relações

econômicas em geral, e trabalhistas em particular.

1.3. Desigualdades sociais

Do ponto de vista da comparação com o Estado de São Paulo a renda per

capita média em Rancharia é menor situando-se, entretanto, acima da renda média da

10ª região administrativa, como pode ser observado na primeira coluna da Tabela 5,

abaixo. O mesmo pode ser afirmado a respeito de Álvares Machado.

TABELA 5 – Indicadores de renda. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados

Recorte Territorial Renda

per capita

% Pessoas

com renda

per capita abaixo

de R$75,50,

% renda advinda de

rendimentos do trabalho

% renda advinda de

transferências governamentais

% renda apropriada pelos 20% mais ricos

da população

% renda apropriada pelos 60%

mais pobres da população

Intensidade da pobreza

Estado de São Paulo 275,03 20,67 71,99 14,28 56,79 23,81 38.42

Região de Presidente Prudente 235,04 27,07 70,01 16,47 57,65 23,56 40.05

Álvares Machado 257,51 21,18 70,54 12,29 59,40 22,72 43.48

Rancharia 261,95 21,82 69,41 18,54 59,14 22,67 40.17

Fonte: IBGE, 2000 Organização: CEMESPP

No mesmo sentido, o percentual de pessoas com renda abaixo de R$ 75,50, ou

seja, abaixo de um salário mínimo no ano considerado aproxima-se da média do

estado, e em posição melhor em relação ao conjunto da região.

Chama a atenção, porém, a relação entre as rendas advindas do trabalho e as

rendas advindas das transferências governamentais. Embora em situação melhor que

vários municípios de sua região de inserção, percebe-se percentual abaixo da média

em relação ao primeiro e acima da média em relação ao segundo, no caso de

Rancharia. Ou seja, o peso das transferências (e, por conseguinte, da dependência de

outros níveis de governo) é maior que a média paulista e regional. Tal não é o caso de

Álvares Machado, uma vez que as renda advindas do trabalho, abaixo da média

20

estadual, encontra-se pouco acima da região e as rendas advindas das transferências

são menores que as médias do Estado e da região.

Outro dado a ser considerado nesta análise é a tendência de uma maior

concentração da renda no município em relação ao Estado e às médias regionais.

Enquanto para o Estado de São a renda apropriada pelos 20% mais ricos é da ordem

de 56,79% e na região de 57,65%, em Rancharia este percentual alcança 59,14% e

em Álvares Machado, 59,40. O raciocínio inverso aplica-se para a renda apropriada

pelo 60% mais pobres da população. Se para o Estado de São Paulo o percentual é de

23,81% e para a média regional é de 23,56%, em Rancharia este percentual é de

22,67% e em Álvares Machado é de 22,72%.

Sem dúvida, uma maior concentração da renda em poucas mãos é fator

preponderante a influenciar o indicador de Intensidade da Pobreza - 40,17% em

Rancharia, 43,48% em Álvares Machado, em relação a 38,42% no Estado e 40,05% na

região.

Por mais que se possa argumentar que se trata de percentuais melhores que

aqueles verificados em outros municípios da região, trata-se também de situação

reveladora da concentração da renda que exige um olhar atento para a formulação de

políticas públicas adequadas a reversão desta realidade e que devem adquirir

concretude nos níveis de desigualdades que determinam a pobreza nestes municípios.

Tomando-se agora alguns indicadores apropriados para uma análise de

situações de qualidade de vida, os dados da Tabela 6 exploram as dimensões da

educação, saneamento/infra-estrutura urbana e os indicadores do IDH em suas

diferentes dimensões.

TABELA 6 – Indicadores sociais selecionados. Estado de São Paulo, Região de Presidente Prudente e municípios selecionados - 2000

Recorte Territorial

Taxa bruta freqüência à

escola

Taxa de alfabetização,

% Pessoas

que vivem em

domicílios c/ água

encanada

% Pessoas

que vivem em

domicílios c/ energia

elétrica

% Pessoas

que vivem em

domicílios e terrenos próprios e quitados

IDH - Índice

Desenv. Humano

Municipal

IDH Educação

IDH Longevidade

IDH Renda

Estado de São Paulo 78.62 88.27 95,78 98,34 64,84 0.774 0,851 0,773 0,700

Região de Presidente Prudente 81.41 85.99 95,35 98,48 65,77 0.767 0,858 0,779 0,700

Álvares Machado 79.25 88.60 96,88 99,36 70,43 0.772 0,866 0,833 0,729

Rancharia 78.38 89.67 95,64 97,48 59,66 0.789 0,849 0,775 0,1

Fonte: IBGE, 2000 Organização: CEMESPP

21

A taxa bruta de freqüência à escola, de 78,38 (Rancharia) e 79,25 (Álvares

Machado), aproxima-se ou ultrapassa a média estadual, mas ainda está abaixo da

região, apesar da taxa de alfabetização ter alcançado índices maiores para ambas as

comparações.

Tais discrepâncias também podem ser notadas no que se refere às pessoas em

domicílios abastecidos por água encanada (95,64% em Rancharia e 96,88% em Ávares

Machado) e em domicílios com energia elétrica (97,48% e 99,36%).

A disseminação da propriedade de imóveis é menor em Rancharia. Enquanto

para o Estado de São Paulo e na média da região os percentuais de pessoas que vivem

em domicílios próprios e quitados seja de 64,84% e 65,77%, em Rancharia é de

59,66%, sugerindo a necessidade de políticas habitacionais mais amplas, ao contrário

de Álvares Machado cujo percentual é de 70,43%, acima das médias regional e

estadual.

Por fim os dados do IDH revelam uma posição municipal melhor que o Estado e

a região (0,789 em relação a 0,774 e 0,767) e o bom resultado do índice deve-se,

sobretudo, às dimensões da educação e da longevidade, uma vê que a maior distância

entre os índices é devida à dimensão da renda, reforçando os dados anteriormente já

vistos.

1.4. Tarabai no contexto do estudo

Nos itens anteriores, os dados secundários foram utilizados para uma

primeira aproximação das realidades urbanas de Álvares Machado e

Rancharia, utilizados como exemplo de procedimentos que podem ser

adotados em estudos dessa natureza. No presente item, reunimos as

informações obtidas de Tarabai, município incorporado no decorrer da

pesquisa. Como queremos demonstrar, já na primeira análise, é possível

perceber que a discussão do grupo não diz respeito apenas à realidade dos

dois municípios escolhidos inicialmente como recorte empírico da pesquisa.

Pelo contrário, o atendimento da demanda daquela prefeitura veio reforçar

que o grande desafio do grupo é o da disseminação de conhecimentos que

possam, realmente, transformar-se em informações relevantes para as

políticas públicas municipais. A oportunidade de incorporar Tarabai ao

trabalho desenvolvido pelo CEMESPP, deixou clara a importância, e a

necessidade, de fazer chegar aos pequenos municípios o domínio de

22

determinadas ferramentas tecnológicas que passam a ser fundamentais no

processo de gestão.

Sabemos que as cidades pequenas são um fenômeno espacial muito

expressivo no contexto urbano brasileiro. Em função disso, como já

aludimos no corpo desse trabalho, precisam ser discutidas mais

detidamente, não somente do ponto de vista teórico, mas também no

âmbito dos procedimentos técnicos para pensar as políticas públicas

territoriais urbanas.

Tendo levantado essas primeiras considerações, a seguir, fazemos

uma exposição breve sobre características mais gerais sobre a pequena

cidade de Tarabai. Em momento posterior, focalizamos a análise no

mapeamento temático ali executado.

O município de Tarabai está localizado no Oeste do Estado de São

Paulo, inserido em umas das suas regiões mais frágeis, econômica e

socialmente. Isso é o que atesta o “Atlas Seade da Economia Paulista”, que

ao analisar um conjunto de dados de natureza econômica, demográfica,

social e ambiental, estabeleceu modelos para a leitura do território paulista

(Figura 1).

Figura 1 – Modelo para leitura do território paulista Fonte: SEADE, 2007.

23

Estabelecendo esses modelos, definiu-se, por conseguinte, as três

regiões mais frágeis de todo o Estado: a denominada região das “cidades

mortas”, no Vale do Paraíba; a região do Vale do Ribeira; e, por fim, a

Região do Oeste Paulista, contexto no qual está inserido o município de

Tarabai e as demais, objetos deste relatório.

A cidade de Tarabai, especificamente, dista aproximadamente 25

quilômetros da principal cidade da Região, que é Presidente Prudente.

Certamente, tal proximidade de uma cidade que concentra grande parte da

população regional, uma macrocefalia, faz com que Tarabai seja

significativamente dependente de Presidente Prudente em termos de

serviços e infra-estruturas urbanas.

Tarabai, no Censo Demográfico de 2000, realizado pelo IBGE,

registrou uma população de 4.786 pessoas, sendo 90,34% considerada

como urbana. Já no ano de 2007, com a contagem populacional feito pelo

mesmo órgão, evidenciou um aumento da população para 6.108 habitantes,

com projeção de 6.345 para o ano de 2008, feita pelo SEADE. Assim, no

período 2000-2008 isso significou um taxa de crescimento de 1,18% ao

ano. Esta taxa de crescimento está bem acima àquela registrada para a

Região de Presidente Prudente, que é de 1,18% ao ano, mas abaixo da

média estadual, de 1,34%.

O município está assentado sobre uma área territorial de 197,2 km²,

o que lhe dá uma densidade demográfica de 32,17 hab/km², taxa muito

próxima a da região (32,33hab/km²), mas muito abaixo da média do

Estado de São Paulo (165,75hab/km²).

Esses dados vêm atestar o baixo dinamismo da região e suas

respectivas cidades em relação às dinâmicas estaduais, apontando para a

mesma como uma das mais frágeis de São Paulo. Se olharmos para o IDHM

(Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), verificaremos que Tarabai,

com 0,763, está bem abaixo da média estadual, que é de 0,814.

Levando-se em consideração os dados da dimensão econômica,

verificaremos o grande peso que possui o setor de serviços para o município

de Tarabai, pois tem uma participação de 74,69% no total do valor

adicionado, segundo os dados do SEADE. A indústria e a agropecuária tem,

respectivamente, 16,23% e 9,08%. É importante salientar que o peso do

setor de serviços não se dá para fora dos seus limites municipais, pois ele

atende, basicamente, os seus moradores.

24

Essa configuração, certamente, se dá em função do grande peso que

o setor público tem na administração da cidade. Com um PIB de

aproximadamente 33 milhões de reais, somente as finanças públicas é

responsável por mais de 9 milhões, segundo os dados do IBGE.

Freqüentemente, pequenas cidades possuem características bastante

diversas se comparadas com cidades de maior porte, face a sua

dependência em relação à outras cidades da rede. Mais atualmente, para

cidades com baixo dinamismo econômico e com margens expressivas da

população na condição de pobreza, as transferências governamentais e os

programas sociais estatais passam a ter um papel de destaque nas

pequenas cidades. Sistematizar esses dados, e compreender essas relações,

é fundamental para se entender as políticas públicas e lograr projetos que

tenham efetividade e amplo impacto nos setores menos favorecidos da

sociedade.

25

Capítulo 2: Procedimentos Metodológicos para o estudo em

cidades do interior paulista

26

2.1. ÁLVARES MACHADO

2.1.1. Constituição e Formatação da base cartográfica digital

Assim como na maioria dos estudos da geografia urbana, o trabalho

de mapeamento constitui uma parte essencial da pesquisa. No âmbito da

presente pesquisa, em particular, ele foi de fundamental importância. Para

tratar dessas questões e de seus aspectos mais técnicos e operacionais,

uma equipe de cartografia foi organizada, composta por alunos da

graduação e da pós-graduação.

Em uma fase preliminar, alunos da graduação em estágio na

Secretaria da Assistência Social de Álvares Machado, promoveram os

primeiros passos para a elaboração de uma base cartográfica que atendesse

aos interesses da pesquisa. Para tanto foram levantadas informações sobre

bases cartográficas já existentes na Prefeitura Municipal. De início já foi

verificado uma dificuldade: a informação espacial contida em pacotes

tecnológicos era distinta à utilizada pelo grupo de pesquisa CEMESPP. A

base cartográfica existente na Prefeitura Municipal foi elaborada no Auto

Cad, que não é um software de mapeamento ou um SIG (Sistema de

Informações Geográficas), mas sim uma ferramenta CAD, de desenho

gráfico digital.

Aqui cabe uma observação. Diante dessa dificuldade de

compatibilização de bases cartográficas, para o desenvolvimento de

ferramentas de geoprocessamento para as políticas públicas municipais é

preciso a diversificação dos programas e linguagens cartográficas utilizadas.

Neste sentido, um desdobramento da pesquisa é o de avançar na ampliação

do repertório do grupo, de preferência, incorporando pacotes tecnológicos

livres, de fácil manuseio e aprendizado. Porém, em função dos prazos da

pesquisa, esse desafio foi deixado para outros projetos, colocando-se,

então, a necessidade de conversão da base cartográfica do ambiente Auto

Cad para o MapInfo, o software de mapeamento majoritariamente utilizado

pelo CEMESPP.

Na execução desse procedimento, verificou-se que a base

cartográfica, cedida pela Prefeitura Municipal, tinha o território urbano

expresso graficamente utilizando quadras. Para a confecção da base pelo

27

MapInfo, haveria necessidade desta base estar expressa em segmentos de

linhas, conformando o eixo de ruas da cidade. Com uma base expressa por

eixo de ruas, seria possível, então, iniciar um processo de mapeamento por

localização de endereços.

Cabe ressaltar que, como estamos falando de uma cidade de

pequeno porte, o processo de mapeamento de indicadores sociais não é

eficiente se tomado como referência os setores censitários do IBGE, como

pode ser feito em uma cidade de porte médio. As análises territoriais podem

ficar bastante prejudicadas. Sendo assim, é necessário realizar o

mapeamento com base em endereços, para localizar as áreas de interesse

específicas. Lembrando que, no presente caso, estamos falando de

mapeamento da exclusão social de uma cidade pequena.

Diante destas questões, uma outra base com o eixo de ruas da

cidade de Álvares Machado foi elaborada já com as quadras e em seguida

foi inserida a numeração das faces das quadras no eixo de ruas. Assim,

cada segmento de linha, que representa uma rua, que se situa frente a

duas faces de quadras, recebeu duas ordens de numeração, uma par e

outra ímpar. Assim, se um endereço tem numeração ímpar, o software

coloca o ponto de localização de um lado do segmento de linha, se é par, do

lado oposto.

Para confirmar tal base cartográfica, alunos e estagiários foram a

campo dividindo a cidade em vinte áreas, para a organização da coleta de

dados. Com isto, foi feita a coleta de toda a numeração inicial e final das

faces das quadras, e logo em seguida, lançados no MapInfo. Assim ficou

estabelecida a base para o processo de mapeamento.

2.1.2. Organização dos Dados da Secretaria de Assistência Social: da

informatização à determinação do recorte do estudo

Como se trata de um trabalho de mapeamento da exclusão social e

de um mapeamento por endereços, foi preciso se pautar nas políticas

sociais realizadas no município, a partir das quais fosse possível tomar

como referência os endereços dos atendidos. Evidentemente que para isso a

Secretaria Municipal de Assistência Social era uma fonte rica de dados. No

entanto, os dados existentes na referida Secretaria, especialmente aqueles

dos atendimentos à população, estavam todos em formato analógico e

28

impressos em papel. Portanto, a partir desta situação, houve a necessidade

de um intenso trabalho de digitalização dessas informações.

Esse banco de dados foi criado com base no modelo das fichas de

atendimento utilizadas pelas assistentes sociais, que continha as seguintes

variáveis: nome do assistido, endereço, R.G., C.P.F., data de nascimento,

tipo de habitação, profissão, dentre outras informações consideradas

relevantes em cada programa das políticas de assistência social em

andamento no município.

Uma vez formatado a ficha analógica de acordo com os parâmetros

do programa Microsoft Office Access 2003® (figura 2), estagiários do grupo

de pesquisa digitalizaram as fichas de atendimento que a Secretaria

Municipal da Assistência Social possuía (cerca de 6000 fichas).

Após a digitalização, o CEMESPP ofereceu um treinamento para os

técnicos da prefeitura, visando a familiarização dos usuários com as novas

normas e procedimentos para a entrada de dados, esquemas de segurança

e geração de relatórios. Neste momento, o foco central foi a explicação do

processo de construção do modelo das fichas eletrônicas de atendimento e

Figura 2 – Layout do programa Access® utilizado pela Secretaria de Assistência Social de Álvares Machado

29

como, por meio delas, é possível estabelecer cruzamento de variáveis no

banco de dados a partir do nome do usuário da assistência. Nesse

treinamento, procurou-se disseminar a cultura da informação entre os

funcionários da secretaria, que se sentiram valorizados, tanto pela melhoria

das condições de trabalho como pela maior visibilidade dos resultados

daqueles técnicos responsáveis pela geração de informações das ações em

andamento nas políticas públicas.

Um outro trabalho executado pelos estagiários do CEMESPP foi a

atualização do mapa da cidade de Álvares Machado, estabelecendo a base

cartográfica digital necessária para o desenvolvimento da pesquisa apoiada

pela FAPESP. Como já afirmado, nos primeiros meses do andamento do

projeto, observou-se que os mapas cedidos pela prefeitura municipal

estavam no formato Auto-Cad e, portanto, tratavam-se de desenhos

digitais, sem a configuração adequada para a definição do chaveamento de

dados georeferenciados.

Para resolver esse problema, os estagiários do CEMESPP elaboraram

um primeiro mapa de eixo de ruas da cidade de Álvares Machado,

utilizando-se de ferramentas de editoração do programa MapInfo 8.5®.

Para fins de dinâmica operacional, o perímetro urbano de Álvares Machado

foi dividido em 20 pranchas, correspondendo cada uma delas a uma

unidade divisória aproximada de cada bairro da cidade. Após esta divisão,

os estagiários foram a campo e visitaram todos os quarteirões de Álvares

Machado, através do esquema de pranchas (onde o primeiro e o último

número de lote de cada quadra foi registrado).

Com o término das visitas às quadras, o grupo retornou ao

laboratório do CEMESPP e digitalizou as informações adquiridas, corrigindo

os eventuais erros existentes no arquivo Auto-Cad preexistente. Sem esse

trabalho de preparação das bases cartográficas seria impossível o estudo

das características dos processos excludentes naquela cidade. Foi esse

trabalho de mapeamento digital que permitiu a visualização das

conectividades e relações de vizinhança existentes entre os bairros de

Álvares Machado.

Tendo as bases cartográficas digitais em formato vetorial do eixo de

ruas da cidade, assim como as quadras dos loteamentos e a localização dos

equipamentos e serviços públicos, o grupo de pesquisa elaborou os

30

primeiros mapas temáticos, estabelecendo cruzamentos entre variáveis do

banco de dados também digitalizado pelos estagiários do CEMESPP.

Assim, no Laboratório do CEMESPP, realizou-se uma seleção de erros

mais comuns nas mais de 6 mil fichas de atendimento, agrupando-se as

pessoas cadastradas no banco de dados por famílias e por bairros de

residência. Verificou-se que no banco de dados havia algumas famílias ou

pessoas que receberiam atendimento em diferentes postos de

atendimentos, como ocorre com a população residente no Parque dos

Pinheiros e Jardim Panorama que acaba se deslocando até o centro da

cidade para o atendimento, em função da conveniência dos horários de

funcionamento dos postos da secretaria municipal. Esse tipo de

superposição foi registrado para se evitar a duplicidade de informações no

decorrer do cruzamento de variáveis do banco de dados.

Através dessa seleção meticulosa dos dados válidos, pode-se realizar

o isolamento de cada variável em tabelas para a elaboração de um mapa

com o número de pessoas atendidas pela assistência até o ano de 2005 (ver

mapa 1).

De imediato, o mapa chamou a atenção para a cobertura universal

dos programas de assistência social no município, abrangendo a totalidade

Mapa 1 – Atendimentos da Assistência Social – 2005 Fonte: CEMESPP

31

dos bairros da cidade, mesmo que com intensidades diversas. Esse aspecto

do atendimento da secretaria chamou atenção do grupo de pesquisa para a

natureza dos circuitos da pobreza urbana e da exclusão social em cidades

paulistas do porte de Álvares Machado. De fato, não se trata de identificar,

por meio do mapeamento temático, bolsões de pobreza representados

cartograficamente por áreas, mas de desenvolver uma modelagem gráfica

que instrumentalizasse a análise de um fenômeno social muito mais difuso

pelo tecido urbano.

A partir daí, outros mapas foram confeccionados considerando: o

número de pessoas que foram atendidas pela Assistência Social somente no

ano de 2005, o número de famílias que utilizam serviços assistenciais e que

possuiam pessoas com deficiências e idosos em suas residências, a

quantidade de atendimentos onde as pessoas se beneficiavam de alguma

transferência financeira como a bolsa família, o tipo de residência que a

pessoa atendida possuia (própria – mapa 2; alugada – mapa 3; ou casa

cedida – mapa 4).

Mapa 2 – Casas próprias da cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP

32

Tendo participado ativamente do processo de informatização do

atendimento da Secretaria Municipal da Assistência Social, elaborado as

Mapa 3 – Casas cedidas na cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP

Mapa 4 – Casas alugadas da cidade de Álvares Machado Fonte: CEMESPP

33

bases cartográficas digitais e os primeiros mapas temáticos a partir de

variáveis do banco de dados digitais, os pesquisadores do CEMESPP

realizaram uma reunião com o Prefeito, as assistentes sociais e demais

membros da equipe técnica da secretaria municipal envolvida no projeto de

pesquisa. Discutindo-se os resultados obtidos até aquele momento, foi

possível estabelecer os passos seguintes do desenvolvimento do projeto.

Em função do volume de atendimento da secretaria municipal, o

grupo de pesquisa deu suporte para a ampliação do atendimento da

secretaria em dois bairros mais carentes (Pinheiros I e II e Jardim

Panorama). Para isto, o trabalho foi dividido em três fases: a construção da

base digital e da digitalização da fichas de atendimento utilizadas pela

Assistência Social, atualização do mapa daqueles bairros (eixos de ruas) e

confecção de mapas a partir do banco de dados.

Essa etapa do trabalho contou com a aquisição pela prefeitura de um

computador para o atendimento da Secretaria Municipal da Assistência

Social naqueles bairros, utilizados para a digitalização de mais 1.800 fichas

da população residente e com cadastro nos programas assistenciais. O

modelo utilizado para a digitalização foi o mesmo adotado anteriormente.

Para a elaboração das bases cartográficas digitais detalhadas desses

bairros, o perímetro urbano daquela região da cidade foi dividido em cinco

pranchas, que correspondem a uma unidade divisória individual de cada

bairro. Após esta divisão, os estagiários foram a campo e visitaram todos os

quarteirões do Parque dos Pinheiros e o Jardim Panorama através do

esquema de pranchas, repetindo o procedimento de registrar o primeiro e o

último número de lote de cada face de quadra.

Como no primeiro mapeamento realizado, foi possível gerar um mapa

com a distribuição das pessoas atendidas pela assistência naqueles bairros.

Verificou-se que naquela área da cidade, havia famílias assistidas pelos

programas da secretaria em todas as ruas dos bairros mapeados (Mapa 5).

34

Outros mapas também foram confeccionados como: de pessoas

atendidas pela Assistência Social somente no ano de 2005, de famílias que

utilizavam os serviços assistenciais e possuiam membros com necessidades

especiais e idosos, de pessoas atendidas na Assistência Social com alguma

transferência de renda como o bolsa família, do tipo de residência das

pessoas atendidas (própria – mapa 6; alugada – mapa 7; ou cedida – mapa

8).

Mapa 5 – Atendimentos da Assistência social no Parque dos Pinheiros – 2005 Fonte: CEMESPP

35

Mapa 6 – Casas próprias do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMESPP

Mapa 7 – Casas alugadas do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMEPP

36

Finalmente, com a geração de mapas das variáveis contidas no banco

de dados dos atendimentos da assistência social, foi possível visualizar a

cobertura de diferentes programas da Secretaria Municipal da Assistência

Social. Sobrepondo-se esses mapas às informações das residências com

isenção de IPTU, de menores infratores com regimes especiais, dentre

outras variáveis (mapas 9, 10 e 11), foi possível a elaboração da primeira

versão do mapa da exclusão social de Álvares Machado. Esse mapa gerado

pelo grupo de pesquisa do CEMESPP subsidiou a formulação de diferentes

políticas sociais por parte do poder público local, como o Programa de

Gerenciamento da Merenda Escolar e o Programa de Saúde da Família.

Também abriu a possibilidade de planejamento de ações intersetoriais,

incorporando dados da Saúde, Educação, Cadastro Imobiliário, dentre

outros, no processo de tomada de decisão das prioridades de investimento

nas políticas públicas.

Mapa 8 - Casas cedidas do Parque dos Pinheiros Fonte: CEMESPP

37

Mapa 9 – Bolsa Família Fonte: CEMESPP

Mapa 10 – Isenção de IPTU Fonte: CEMESPP

38

Este procedimento possibilitou integrar tais dados e gerar, pelo

geoprocessamento o mapa de inclusão/exclusão social da cidade

apresentado à frente.

2.1.3. Organização do campo: identificando as áreas de

exclusão social

De modo geral, pelos endereços, estes dados foram mapeados

gerando informações espaciais e sistematizadas para a pesquisa e para a

administração pública municipal. Após a elaboração de uma série de mapas,

foram realizados diversos cruzamentos temáticos entre eles para se chegar

a um mapa síntese (mapa 12), o mapa de inclusão/exclusão social,

evidenciando as áreas mais precárias da cidade. Neste sentido apareceram

três áreas mais críticas: o Jardim Bela Vista, o Jardim Panorama e o Parque

dos Pinheiros.

Mapa 11 - Menores infratores com regimes especiais Fonte: CEMESPP

39

Definidas as áreas de exclusão social, foi possível pensar a definição

de unidades espaciais que não mostrassem a localização dos indivíduos

mapeados, preservando, com mais propriedade, a confidencialidade. Assim,

era necessário pensar unidades espaciais mais adequadas à realidade de

uma cidade pequena, mas que não tivesse interferência na permanência do

princípio de confidência já determinada. A partir dessa questão, foi

necessário elaborar uma base cartográfica, expressa em quadras, em que

cada uma possuísse uma codificação, estabelecendo assim, uma

organização na estrutura da pesquisa.

Um software livre foi utilizado para esse trabalho, entendo-se a

necessidade do mesmo em uma pesquisa a ser trabalhada e continuada por

uma administração pública. Trata-se não somente de uma transferência de

tecnologia, mas também de procedimentos, de conhecimentos e de fácil

manipulação para que possa ser utilizado com facilidade e domínio sem, no

entanto, deixarem de ser eficazes. Neste caso, foi utilizado o software de

cartografia temática denominado Philcarto que, além de ser um software

Mapa 12 – Mapa síntese de inclusão/exclusão social de Álvares Machado Fonte: CEMESPP

40

livre é de fácil manipulação que obedece aos princípios da semiologia

gráfica. O interesse pelo Philcarto também ocorreu pela capacidade de

elaboração de mapeamento de fluxos, um item essencial dessa pesquisa.

Após a estruturação das bases em quadras e a sua respectiva

codificação, a equipe de cartografia trabalhou intensamente na elaboração

de croquis para a orientação dos aplicadores de questionários em campo.

Os croquis contemplavam os contornos das quadras, o nome de ruas, a

numeração das faces das quadras, assim como sua codificação, da quadra

como um todo, assim como das suas faces. A figura 3 ilustra os croquis

levados a campo.

2.1.4. Coleta de dados utilizando questionário: processo geral

2.1.4.1. A elaboração do instrumento pelo grupo

A necessidade de se aproximar da realidade que procuramos estudar

exige, do pesquisador, formas diversas de coletar as informações relevantes

Figura 3 – Croqui de Álvares Machado Fonte: CEMESPP, 2008.

41

para essa aproximação. Os tipos de perguntas e de registros visuais,

iconográficos, sonoros e outros vão depender das hipóteses a serem

verificadas e que o processo de formulação dos projetos de investigação

constroem. Em nosso caso, o estudo dos processos de exclusão/inclusão

social em suas diversas dimensões impunha como necessária pelo menos

uma das formas clássicas de levantamento de informações primárias, um

formulário ou questionário que seria aplicado diretamente à população.

Como o problema a ser estudado é diverso, multidimensional e

expresso em naturezas fenomênicas distintas, sugeria um instrumento que

pudesse captar o maior número possível de variáveis associadas. Essa

necessidade justificou a grande quantidade de questões aplicadas e a

abrangência familiar do formulário. A fim de conseguirmos levar a bom

termo essa empreitada, procuramos instrumentos de levantamento de

dados que nos fornecessem as respostas que necessitávamos sem incorrer

em riscos de revisões sucessivas. Apoiando-se em experiência de um dos

membros da equipe de pesquisadores em outros levantamentos extensos

de dados, pudemos ter a base e a estruturação de um instrumento aplicado

no município de Santo André no inicio dos anos 90.

Em razão do atraso do Censo de 1990, que só foi realizado no ano de

1991, a Secretaria de Planejamento do município decidiu realizar pesquisa

de amostra domiciliar para coletar informações sobre ampla gama de

assuntos das famílias residentes a fim de subsidiar as políticas públicas

locais. Esse formulário foi exaustivamente discutido e construído por uma

equipe de técnicos das diversas secretarias municipais em parceria com a

Fundação Santo André, hoje Universidade do ABC, Departamento de

Economia e Estatística. Todo o processo de execução do projeto - desde a

elaboração do formulário, passando pelos pré-testes e aplicação de campo e

análise – foi denominado de Pesquisa 90 (Santo André, 1992).

O formulário foi aplicado em aproximadamente 10 mil domicílios,

sendo coletadas informações de todos moradores de cada domicílio

pesquisado (Santo André, 1992: 155). Toda área urbana foi amostrada com

o intuito de suprir a carência ocorrida pela não realização do Censo. Esta

experiência bem sucedida de aplicação do formulário nos assegurou a

pertinência de parte do conteúdo (inclusive da maneira de se realizar a

pergunta, bem como suas alternativas) o que nos motivou a utilizá-lo como

42

base inicial do formulário a ser aplicado nas áreas de exclusão de Álvares

Machado.

Em verdade, para além de parte do conteúdo aproveitado para nosso

levantamento, a forma do formulário se mostrou bastante satisfatória para

os objetivos propostos. A partir de um único instrumento, pode-se obter

uma gama bastante ampla de informações sobre todos os moradores dos

domicílios pesquisados. A forma de organização do instrumento para

obtenção das informações (layout) possibilitava mobilizar apenas uma

pessoa da família que conhecesse as informações gerais, para responder a

todas as questões necessárias para corroborar as hipóteses levantadas na

pesquisa. Esse foi um elemento crucial no bom termo do levantamento dos

dados, uma vez que facilitava o trabalho do entrevistador e não ocasionava

dispersão de tempo e perdas de informações dos componentes da família

que não o respondente.

Tendo como parâmetro nossa compreensão conceitual sobre os

processos de exclusão social e os objetivos dessa pesquisa, especialmente o

que se refere a promover um avanço do ponto de vista metodológico para a

análise da exclusão social, elaboramos um questionário que foi aplicado aos

moradores do município de Álvares Machado. Dentre nossa preocupação, a

intenção de captar a dinâmica da exclusão, os caminhos percorridos pelos

sujeitos no processo de busca dos recursos sociais de atendimento às suas

necessidades básicas, indicou um dos elementos que comporiam as

questões. Portanto, exclusão social não é somente captada do ponto de

vista de áreas consideradas de exclusão e localizada pontualmente no

território, ela se refere a um processo amplo, complexo e multidimensional.

Do ponto de vista teórico, entendemos que o conceito de exclusão

social permite identificar os processos que envolvem os impactos negativos

das desigualdades sociais, podendo ser também, o elemento que possibilita

conhecer as matrizes excludentes e como estas são reproduzidas

culminando com diversos graus de pobreza, conferindo novas possibilidades

de abordagem.

Diante de nosso objeto de investigação, nos deparamos com alguns

parâmetros que nos orientaram na escolha dessa técnica: a inexistência de

dados sistematizados e atualizados que possibilitem uma leitura abrangente

das situações de risco, vulnerabilidade e exclusão social, seja por parte do

poder público municipal, seja através de fontes secundárias como o IBGE; e

43

a necessidade de alcançarmos, o mais próximo possível, das reais condições

de vida de segmentos da população daquelas áreas urbanas.

O instrumento proposto (questionário) e seu conteúdo foram

especificamente desenhados para esse propósito considerando-se não

apenas as dimensões analíticas dos processos de exclusão social

(multidimensionais, relacionais e pluriescalares), mas também um

reconhecimento de que tais processos assumem feições

específicas/particulares em áreas urbanas de pequeno porte.

Assim, deslocamentos, acessibilidade, processos de segregação,

interações espaciais entre grupos sociais e relações econômicas de

diferentes ordens, para ficarmos apenas em alguns exemplos, são

produzidos de maneira particular e isso acaba por (de certa forma) por

conduzir também o formato e as próprias questões a serem apuradas.

Apesar de localizar o particular, o estudo de caso preserva o caráter

unitário do objeto social estudado, tomando-o como um todo. Ao mesmo

tempo em que se detém nos componentes principais do objeto em estudo,

nos detalhes e nas circunstâncias específicas, “enfatiza a importância de

contextualizar as informações e situações retratadas”, baseando-se no

pressuposto de a “realidade é complexa e os fenômenos são historicamente

determinados, daí a necessidade de que sejam levadas em conta todas as

possíveis variáveis associadas ao fenômeno” (Goode e Hatt: 1973, 12).

Dessa forma, a preocupação ao elaborar o questionário foi a de

pautar-se na perspectiva da multidimensionalidade e assim buscar construir

itens que poderiam subsidiar a composição de indicadores sociais

posteriormente. Tais indicadores ou dados do instrumento associado aos

estudos do campo compuseram a metodologia desse trabalho com o

objetivo de fornecer parâmetros de diagnóstico e de mapeamento dos

elementos que possam se traduzir em indicadores da condição de vida da

população e de exclusão social.

A construção do questionário teve ainda o propósito de investigar

dimensões distintas com a intenção de fornecer dados em diferentes setores

para as discussões e ações em políticas públicas que podem ser

abrangentes e intersetoriais. Assim, tal como previsto no projeto, a

articulação com o poder público municipal foi mantida pela participação

permanente de integrantes, funcionários e gestor da Prefeitura do

município. Portanto, trocas de informação foram realizadas com as

44

indicações necessárias do município, incorporando dados das Secretarias,

principalmente, da Assistência Social. Nesse sentido, o Poder Público Local

poderá explorar tal investigação e suas informações para estabelecer os

planos necessários para as resoluções a serem implementadas para a

melhoria da qualidade de vida da população. (Souza, 2002).

É importante ressaltar mais uma vez que o caminho metodológico

adotado visa a participação e a troca de informações com os servidores

municipais, técnicos que trazem dados. Ao mesmo tempo, tem a

possibilidade de compreender a metodologia e aplicá-la, incorporando no

sistema e entendendo a sua importância no processo de planejamento

urbano e nas ações para interferir na exclusão social. Isso demonstra a

preocupação dessa pesquisa em fazer investigações de acordo com as

necessidades do município, possibilitando a sua utilização e interpretação

para subsidiar as discussões e ações em políticas públicas.

2.1.4.2. A aplicação inicial como piloto e reformulação dos itens

Um procedimento piloto foi realizado em maio de 2008, em uma área

específica da cidade de Álvares Machado. Para tanto, foram aplicados 30

questionários já em formatação e com itens previamente discutidos pela

equipe.

Os principais elementos observados foram:

- o tempo de aplicação de cada questionário;

- a adequação do número de questões;

- as possibilidades de cada questão não induzirem às respostas;

- a receptividade e a compreensão por parte da população

(questionário e termo de compromisso).

- adaptações necessárias

Assim, todas essas características foram apresentadas à equipe,

sendo discutidas e adequadas conforme os resultados. Nesse sentido, as

modificações implementadas foram mais direcionadas a fazer adaptações

em algumas questões que necessitaram de alternativas na sua composição

das respostas com respectivos códigos. O estudo possibilitou verificar que o

tempo de aplicação ficava em torno de 30 minutos e a sua composição era

45

extensa, porém a equipe não julgou como necessário a exclusão de itens,

porém ratificou a necessidade das adaptações nos itens já existentes. Em

relação à receptividade, não houve apontamentos sobre a não aceitação por

parte dos entrevistados em responder ao questionário, apenas relataram

que em dias úteis, não houve facilidade em encontrar os moradores. Dessa

maneira, a equipe decidiu realizar as visitas para entrevistas nos finais de

semana.

Ao final da discussão, o questionário foi organizado e estruturado

para determinar a coleta dos dados para cada componente da família

visitada, obtendo assim uma formatação adequada para obter respostas de

cada pessoa para cada item do questionário.

2.1.4.3. Estruturação e formatação final

Após o estudo piloto, a estruturação do questionário foi realizada com

formatação direcionada a obter os espaços designados para respostas de

cada membro morador da residência com correspondência a cada item a ser

respondido (anexo 1).

De modo geral, o questionário contém a seguinte estrutura:

A) Códigos de identificação da residência e do entrevistado:

Na página inicial ou página de rosto contém os dados de

identificação do entrevistado e da localização da residência de

acordo com os códigos estabelecidos pela equipe de pesquisa para

identificação da localização da quadra, face da quadra e da

residência. Houve ainda espaços para informações sobre a

entrevista e assinatura do entrevistador;

B) Temas abordados no questionário e respectivos itens: Os itens do

questionário foram separados em temas - Caracterização geral da

família (endereço da família, faixa etária, cor, sexo, local de

nascimento e condição física dos membros da família, a composição

familiar em termos da presença ou não de deficiências); sobre a

ocupação de cada um na família (tipo, ramo e situação de trabalho,

relação com a ocupação, vínculo empregatício, local de trabalho,

tipo de transporte utilizado, desemprego, programas sociais);

Aspectos educacionais (ler, escrever, participação em instituições

escolares e natureza do serviço de ensino, freqüência ); Saúde

46

(natureza dos serviços que utiliza, necessidades e ausência de

serviços, convênios); Lazer e Cultura (atividades descritas);

Aspectos físicos da moradia e acesso à tecnologia e cultura

(número de cômodos da casa, dormitórios, banheiros, linhas fixa e

móvel de telefone, internet, assinatura de revistas ou jornais ).

Acesso a programas sociais (da prefeitura/Estado, da comunidade

ou de grupos religiosos).

C) Um conjunto de questões foi realizado para verificar os acessos que

os membros da família tinham aos recursos da comunidade em

suas necessidades, visando identificar os deslocamentos dos

sujeitos fornecendo elementos para se pensar a exclusão como não

sendo restrita a um único espaço geográfico, como um fenômeno

flexível e em movimento e não estático. Estas eram questões

abertas para designar sobre local (cidade e ou endereço) para

trabalhar, estudar ou para realização das atividades de lazer.

D) Houve ainda a realização de 2 questões abertas, subjetivas,

utilizando a metodologia das representações, fundamentadas na

teoria do núcleo central, que permite, entre outros resultados,

compreender a estrutura das representações sociais. Deste modo,

foram realizadas 2 perguntas em que o entrevistado citava até 5

palavras para representar o significado das palavras “VIDA” e

“RIQUEZA”.

Para a elaboração do instrumento foram consideradas as exigências

estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de

Ciências e Tecnologia. De acordo com suas especificações é necessário que

os pesquisadores também elaborem um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) a ser lido, apreciado e assinado pelo sujeito da pesquisa,

indicando seu aceite em participar da mesma (anexo2). Portanto, assim que

finalizamos a preparação dos instrumentos da pesquisa, enviamos o

protocolo de encaminhamento dos documentos ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP), para apreciação dos mesmos. A proposta foi apreciada,

tendo sido aprovada em 05 de julho de 2007 conforme documento em

anexo (anexo 3).

Para além da dimensão burocrática e protocolar dos CEPs,

acreditamos que o mais importante é: os pesquisadores de fato, agirem,

47

refletirem e intervirem dentro de parâmetros éticos, o que implica

intervenções críticas com implicações sociais. Nesse sentido, acreditamos

que estamos abordando aspectos afetivos, relacionais e o desenvolvimento

de atitudes éticas e não apenas aspectos formais do conhecimento

científico.

A elaboração do TCLE e as preocupações com os sujeitos da pesquisa

nortearam a nossa ação durante o preparo dos aplicadores da pesquisa,

pois além da questão mais formal de apresentação e assinatura do sujeito

dando seu aval para participar da pesquisa, nos preocupamos ainda com o

fato das pesquisas serem “modos de intervenção que propõem,

implicitamente, uma transformação na realidade investigada” (TAVARES,

2005), o que explicita nosso compromisso ético e político com os sujeitos da

pesquisa.

Compartilhamos com Cortella (2005) a concepção de ética na

pesquisa como se relacionando com escolha, liberdade e integridade

individual e coletiva, indicando implicação com a qualidade da vida do outro

e promovendo o tratamento de todas as pessoas como humanos. A ética na

pesquisa exige que nos sensibilizemos com o lugar do outro,

compreendendo-o em sua subjetividade e levando em conta seus direitos

(TAVARES, 2005).

2.1.4.4. Elaboração de manual para o grupo e treinamento do

pessoal

O treinamento dos aplicadores foi realizado pelos professores,

pesquisadores, que em reuniões com o grupo, apresentou o questionário

completo, com capa de apresentação e estruturação dos dados a serem

coletados. Cada uma das questões foram lidas e explicadas, ressaltando as

dúvidas de cada aplicador e apresentando as explicações necessárias. Após

a leitura e explicação sobre procedimentos a serem realizados em cada

questão, os aplicadores utilizaram o questionário em seus pares, simulando

a situação do campo. Em seguida, foram levantadas as dificuldades e,

novamente, explicadas/debatidas cada uma delas.

Um manual de orientação da pesquisa de campo foi elaborado e

apresentado, sendo realizada a leitura cuidadosa junto com os aplicadores

48

durante o treinamento. Cada um deles obteve um exemplar para

acompanhá-lo na coleta dos dados (Anexo 4).

O manual de orientação constou de uma capa com a identificação do

nome do projeto, órgão financiador (FAPESP), finalidades do manual e ano

de elaboração. Em seguida, consta de itens importantes e necessários para

apresentação do estudo, incluindo suas finalidades. Discorria ainda sobre a

responsabilidade de cada aplicador, a organização do campo e o modo de

operação na coleta de dados.

2.1.4.5. Procedimentos para aplicação do questionário

Para aplicação do questionário na cidade de Álvares Machado, foi

necessário o deslocamento da equipe com transporte coletivo. Assim, foi

contratado serviço de transporte privado para este deslocamento em finais

de semana (sábados e domingos) sendo a equipe, geralmente composta por

2 professores e cerca de 20 a 25 alunos por dia de atividade.

A organização de cada equipe foi feita sempre na sexta-feira anterior

à ida a campo e estava sob a responsabilidade de

professores/pesquisadores que providenciaram o material necessário

(questionários, croquis das quadras e da área, mapa da cidade, pranchetas,

lápis, crachás, lista de telefones etc.). É importante ressaltar que cada

aplicador, na véspera da ida ao campo (na sexta à tarde) teve que se

direcionar à sala do CEMESPP para confirmar sua presença e adquirir o

material de pesquisa (pranchetas, questionários, croquis das áreas,

canetas, termos de consentimento livre e esclarecido), assinando livro de

organização deste material.

Na segunda-feira após a aplicação, cada aplicador teve que devolver

o material coletado e, novamente, assinar o mesmo livro após recepção e

conferência do número de questionários aplicados, assim com o material de

pesquisa. O entrevistador portava, além desses materiais, uma

documentação e identificação pessoal e camiseta do projeto “Políticas

Públicas – Cemespp”, com os logotipos da Unesp e Fapesp em cada uma de

suas mangas.

Os professores/pesquisadores eram responsáveis pelo horário de

saída e chegada dos mesmos; organização e conferência de materiais, a

responsabilidade no acompanhamento e na distribuição dos aplicadores e

49

suas áreas de aplicação; recebimento e distribuição de lanches durante o

período e ainda, checagem das residências que o questionário havia sido

aplicado ao retornar ao local de encontro (local determinado pela prefeitura

do município).

Na organização do campo, os professores portavam croquis das áreas

de estudo (conforme relatado na pág. 35) que serviram como base para

que duas equipes (A e B) realizassem o levantamento de dados por áreas. A

equipe A era composta de entrevistadores e a equipe B pelos responsáveis

por levantamento de dados do entorno, fotografias e atualização de mapas.

A equipe A, composta por entrevistadores, recebeu a área a ser

visitada conforme definição do professor/pesquisador a partir dos croquis.

As áreas foram definidas em quadras iniciando pela face A (definida pelo

lado norte) e indo em direção horária (direita). Cada entrevistador visitava

a residência e fazia a entrevista com a pessoa que se dispusesse a

responder o questionário, exceto os menores de 18 anos. No questionário

também eram anotados os dados coletados das demais pessoas moradoras

daquela residência como pode ser verificado no anexo 1. Após a coleta, o

entrevistador retornava ao local da coordenação onde as residências já

visitadas eram checadas e sinalizadas no croqui. Assim cada quadra foi

sendo fechada e verificada a ausência de pessoas, domicílios vagos ou

inexistentes.

A equipe B era composta por 4 pessoas que seguiam o mesmo

trajeto, por quadras e em direção horária, conferindo ou fazendo anotações

nos croquis sobre modificações existentes como obstáculos (árvores,

elevações, garagem, lixeiras etc.), calçamentos, asfalto etc.. Para tanto,

realizaram observações, anotações e imagens fotográficas realizando a

revisão e a atualização das bases cartográficas previamente compostas.

2.1.5. Organização dos resultados

Como descrito anteriormente, para a utilização do questionário em

campo, foi realizado um recorte do campo baseado no mapa cartográfico

estruturado por eixo de ruas e utilizado pelo programa MapInfo, que

possibilitou o geoprocessamento e georreferenciamento de dados da

Secretaria de Assistência Social. O MapInfo possibilitou o cruzamento das

informações e a execução de mapas temáticos e, posteriormente, o mapa

50

síntese definido como Mapa e Inclusão/Exclusão Social de Álvares Machado.

Neste mapa, ressaltou-se 3 grandes áreas de exclusão e que foram o

recorte desse trabalho (ver p. 34, início deste capítulo, mapa 12).

A checagem do campo foi realizada em 2 situações. A primeira teve

como propósito conferir a numeração das quadras para os croquis (base

cartográfica modelada para a realização do questionário). A segunda foi

realizada com a equipe B (ver página anterior) durante a execução das

visitas às áreas das residências em que os questionários foram realizados.

Esta foi uma checagem de dados, realizadas pela observação qualitativa de

campo, buscando-se certificar o traçado e nomes das ruas, a numeração

das residências, imóveis inexistentes, novas quadras, a existência de

obstáculos e os implementos físicos existentes (árvores, elevações de

garagem, jardins, postes etc.). Todas as informações foram anotadas nos

croquis digitalizados e reorganizados no Cemespp, utilizando o programa

PhilCartho.

Sobre os dados objetivos do questionário, os resultados foram

digitados por uma equipe de 10 pessoas, em planilha do programa SPSS,

versão 12, organizados por codificações para cada uma das variáveis

objetivas.

A mobilidade foi observada utilizando os endereços e os dados

descritos pelo questionário. Foi verificada a mobilidade pelo tipo de

deslocamento, frequência e meio de locomoção, baseando-se nos dados das

colunas das planilhas correspondentes aos endereços das residências do

sujeito e dos locais de trabalho e aqueles de consumo de bens sociais como

serviços de educação, saúde e lazer.

Quanto aos tipos de técnicas utilizadas para analisar as

representações sociais é possível classificá-las segundo os aspectos internos

e externos priorizados e de acordo com os objetivos estabelecidos. Nesta

pesquisa, priorizamos os aspectos internos das representações sociais,

contudo, os dois tipos permitem compreender as transformações e as

permanências a que estão sujeitas as representações sociais.

Para conhecermos a organização interna das representações sociais,

optamos pela técnica de evocação livre (SÁ, 1996, p. 115). Apresentamos

dois termos indutores aos entrevistados - vida e riqueza. Foi solicitado que

relacionassem as cinco primeiras coisas - palavras, idéias e sensações – que

eles pensassem em primeiro momento, ou seja, que pudessem dizer de

51

imediato o que representaria na vida deles as palavras apresentadas. A

partir destas evocações, da inserção social dos sujeitos e da escala

considerada na pesquisa, poderíamos compreender aspectos do resultado

da relação entre representações e práticas sociais.

A análise dos termos evocados foi realizada por meio do software

EVOC (VERGÈS, 2000), que permite processar as informações obtidas nas

entrevistas de evocação livre, considerando as variáveis e os objetivos

estabelecidos. A aplicação deste software ocorreu a partir da criação de um

fichário no formato Microsoft Office Word ou Microsoft Office Excel. Em

seguida, com o léxico estabelecido, foi possível uma reclassificação

semântica e o estabelecimento dos intervalos a serem considerados em

relação ao número e a ordem das evocações. Quando todas as variáveis e

ordenações estavam concluídas o passo seguinte foi a escolha dos relatórios

de análise, os quais variaram em complexidade e forneceram resultados a

partir dos critérios de freqüência e ordem em que os termos foram

pronunciados. Em geral, os dados obtidos apresentaram aspectos da

organização interna da representação social pesquisada, o que tornou

possível estabelecer hipóteses sobre os elementos centrais e periféricos da

mesma e, consequentemente, compreender quais transformações e

influências trouxeram interferência na representação social. Os subsídios

teóricos e metodológicos de tais procedimentos são melhor explicitados no

item seguinte.

2.1.6 - O uso de informações qualitativas

Viver em sociedade é relacionar-se em diversos aspectos. As relações

sociais são interações que implicam sujeitos, ações e objetos sociais. Nestas

interações surgem padrões de uniões, semelhanças e continuidades que

passam a caracterizar homogeneidades em meio à diversidade e

complexidade próprias do âmbito social. Isto implica dizer que as relações

sociais encerram um universo em que o individual potencializa ou

estabelece agrupamentos, gerando diferentes derivações sociais, sempre

relativas aos aspectos externos e internos a cada sociedade. Esse modo de

apreensão das relações sociais leva em conta o caráter dinâmico destas, “se

eu vejo, então, o grupo a partir de relações, eu vou ter uma visão de grupo

sempre relativa, isto é, incompleta, em construção, em transformação”

52

(GUARESCHI, 1996, p. 86).

Uma maneira de compreender parte dessa dinâmica das relações

sociais é conhecer as representações sociais relativas aos respectivos

grupos sociais. Esse procedimento implica metodologias que permitam

observar como a representação social é elaborada, mantida ou

transformada.

As representações sociais estão presentes nas sociedades e seu

estudo pode contribuir para compreendermos aspectos das tomadas de

posição dos respectivos grupos sociais. O fenômeno representação social

foi identificado e passou a ser objeto de compreensão na Psicologia Social

por meio da Teoria das Representações Sociais. Com o apoio desta teoria, o

fenômeno pode ser observado e analisado, possibilitando a compreensão da

representação social enquanto forma de interpretação da realidade.

Apresentar as representações sociais no contexto de moradores de

áreas consideradas de exclusão, por meio da teoria das representações

sociais, é o que pretendíamos e, para tanto, foram aplicadas as questões

abertas e evocativas, tal como relatado.

A teoria das representações sociais é considerada a grande teoria,

com a qual outras teorias menores interagem, utilizando-a como base geral.

A teoria do núcleo central, proposta por Jean Claude Abric é uma destas e

confere a objetividade que falta à teoria geral (SÁ, 1996, p. 61).

Situada entre os campos da Psicologia e da Sociologia, a teoria das

representações sociais implica uma abordagem psicossocial, iniciada por

Serge Moscovici. Devido ao caráter polimorfo das representações sociais e

ao fato da teoria ter como matéria o senso comum, ela está aberta a

contribuições e aprofundamentos em diversos aspectos. Denise Jodelet,

Jean Claude Abric, Willen Doise, Robert Farr, Wolfgang Wagner, Sandra

Jovchelovitch, Pedrinho A. Guareschi e Celso Pereira de Sá são alguns dos

importantes pesquisadores e interlocutores da teoria das representações

sociais.

O caráter social das representações sociais na psicologia social não

permite abordagens fechadas na individualidade, uma vez que a mediação

social é central, juntamente com as relações socioespaciais. São os

agrupamentos presentes na sociedade que possibilitam um pensamento

53

social3 e, consequentemente, a natureza dos contatos sociais de acordo com

aspectos históricos. Uma pessoa pode pertencer a diversos grupos e, assim,

receber influências que particularizam os limites de suas representações

sociais. As influências da comunicação e da prática na vida cotidiana

sustentam ou transformam as representações sociais, conferindo à relação

entre práticas e representações sociais um caráter indissociável. Contudo,

na representação social existe um aspecto mais rígido e resistente a

mudanças, aquele que envolve a memória coletiva do grupo social e um

aspecto mais dinâmico e adaptável a mudanças, aquele que envolve o

vivido e o cotidiano atual do grupo social.

Em seu caráter social as representações sociais implicam certa

autonomia no âmbito da sociedade, “à luz da história e da antropologia

podemos afirmar que essas representações são entidades sociais, com vida

própria, comunicando-se entre elas, opondo-se mutuamente e mudando em

harmonia com o curso da vida; esvaindo-se, apenas para emergir

novamente sob novas aparências” (MOSCOVICI, 2003, p. 38, grifo nosso).

Diversas formulações teóricas são dedicadas ao modo como as

representações sociais interagem com as práticas sociais. Para

Jovchelovitch (2000, p. 32), as representações sociais são: “saberes sociais

construídos em relação a um objeto social, que elas também ajudaram a

formar”. Segundo Guareschi e Jovchelovitch (2000, p. 19), a representação

“recupera um sujeito que, através de sua atividade e relação com o objeto-

mundo, constrói tanto o mundo como a si próprio”.

Nas interações sociais existem limites característicos a cada grupo

social no que se refere ao conhecimento. Saber ou não sobre determinado

assunto implica ter ou não familiaridade com ele. Moscovici (2003, p. 16)

mostra que “a cultura detesta a ausência de sentido”, algo não-familiar a

um determinado grupo social vai ser representado por ele de tal forma que

a lacuna da ausência de sentido desapareça. Estas considerações são

centrais para a teoria das representações sociais, “se nós formamos

representações a fim de nos familiarizarmos com o estranho, então as

3 Moscovici admite existir um pensamento social que nasce nas inter-relações sociais. Para o autor as pessoas formulam filosofias espontâneas, porém “o pensamento social deve mais à convenção e à memória do que à razão; deve mais às estruturas tradicionais do que às estruturas intelectuais ou perceptivas correntes” (MOSCOVICI, 2003, p. 57). O pensamento social implica assim considerar as realidades compartilhadas.

54

formamos também para reduzir a margem de não-comunicação”

(MOSCOVICI, 2003, p. 208). A comunicação pode ser obstruída por meio da

falta, ou excesso, de acesso aos canais de comunicação (mediadores

sociais, espaços públicos e instituições), que faz com que as pessoas, ora

não adquiram saberes, ora adquiram saberes que, devido à lógica a que

está atrelada, se tornam nocivos para a vida em sociedade.

Os pilares desta representação apóiam-se em bases nas quais a

memória prevalece sobre a dedução; o passado sobre o presente; a

resposta sobre o estímulo; e as imagens sobre a realidade (MOSCOVICI,

2003, p. 55). Os conceitos de ancoragem e objetivação mostram o caráter

dinâmico das representações sociais, por meio desses processos extraímos

de imagens, linguagens e gestos conhecidos, elementos para superar a não-

familiaridade:

Ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a memória. A primeira mantém a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro, está sempre colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com um tipo e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais ou menos direcionada para fora (para outros), tira daí conceitos e imagens para juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido. (MOSCOVICI, 2003, p. 78)

A transformação de algo estranho em algo familiar implica uma

tomada de posição frente a essa nova realidade, assim, as representações

sociais moldam a sociedade em que vivemos e criam novos tipos sociais

(MOSCOVICI, 2003, p. 96).

Embora por longo período tenha relutado em definir ou fechar o

campo de pesquisa, Moscovici muito contribui para a definição do que

seriam as representações sociais:

Vistas desse modo, estaticamente, as representações se mostram semelhantes a teorias que ordenam ao redor de um tema [...] uma série de proposições que possibilita que coisas ou pessoas sejam classificadas, que seus caracteres sejam descritos, seus sentimentos e ações sejam explicados e assim por diante. [...] Na verdade, do ponto de vista dinâmico, as representações sociais se apresentam como uma “rede” de idéias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por isso, mais móveis e fluídas que teorias. (MOSCOVICI, 2003, p. 209-10, grifos do autor)

As representações sociais permitem o acesso ao modo como um

55

grupo social interage com o objeto, esta interação ocorre num movimento

que representação, ação e conseqüências se realimentam produzindo novos

significados. De acordo com Wagner:

O comportamento e a ação estão lógica e necessariamente conectados a crenças representacionais, mas suas conseqüências não estão. A ação e as conseqüências da ação são duas coisas diferentes [...] O resultado da complexa representação e ação e sua conseqüência contingencial é, portanto, passível de uma verdadeira explicação causal. (WAGNER, 2000, p. 178-9)

Desta perspectiva apreendemos que as representações sociais nos

fornecem elementos para analisarmos atitudes, declarações, imagens e

manifestações em geral, ou seja, ao conhecer a organização e o conteúdo

da representação e a conseqüente ação realizada a partir deste saber social,

torna-se viável uma compreensão dos efetivos resultados que esta

interação, entre representações e práticas sociais, constrói.

Pesquisar as representações sociais é, então, entre outras coisas, um

meio de se explicar a organização e os conteúdos de alguns saberes e

práticas sociais, além de ser a possibilidade de entendimento do resultado

da relação entre representação e ação social. Nesse sentido, são relevantes

as sugestões de Jovchelovitch:

Os processos que dão forma e transformam as representações sociais estão intrinsecamente ligados à ação comunicativa e às práticas sociais da esfera pública: o diálogo e a linguagem, os rituais e processos produtivos, as artes e padrões culturais, em suma, as mediações sociais. Desta forma, a análise das representações sociais deve concentrar-se sobre aqueles processos de comunicação e vida social, que não apenas as produzem mas que também lhes conferem uma estrutura peculiar. (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 80)

Desse modo a Teoria das Representações Sociais se ocupa da

dimensão privilegiada em que as representações sociais podem ser

construídas, mantidas ou transformadas.

As representações sociais estão radicadas nas reuniões públicas, nos cafés, nas ruas, nos meios de comunicação, nas instituições sociais e assim por diante. É neste processo em que elas se incubam, se cristalizam e são transmitidas. É no encontro público de atores sociais, nas várias mediações da vida pública, nos espaços em que sujeitos sociais reúnem-se para falar e dar sentido ao

56

quotidiano que as representações sociais são formadas. (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 40)

Privilegiamos analisar as representações a partir da dimensão

espacial em que as representações sociais podem ser investigadas,

juntamente com a escolha de uma vertente da teoria das representações

sociais compatível com nossos objetivos.

A Teoria do Núcleo Central permite compreender quais são os fatores

estruturais da representação social cuja alteração pode transformar uma

representação.

O núcleo central é um subconjunto da representação, composto de um ou de alguns elementos, cuja ausência desestruturaria ou daria uma significação radicalmente diferente à representação em seu conjunto. Por outro lado, é o elemento mais estável da representação, o que mais resiste à mudança. Uma representação é suscetível de evoluir e de se transformar superficialmente por uma mudança do sentido ou da natureza de seus elementos periféricos. Mas ela só se transforma radicalmente – muda de significação – quando o próprio núcleo central é posto em questão. (ABRIC, 2001, p. 163)

Para conhecermos a estrutura interna das representações sociais

utilizamos a técnica de coleta e tratamento de dados, por meio de termos

indutores, no âmbito da Teoria do Núcleo Central, iniciada por Jean Claude

Abric. Este procedimento metodológico implicou considerar outros como

complementares, tais como as observações de campo e questionários. Essa

multimetodologia permite situar os resultados, enquanto estrutura das

representações sociais, num contexto cujas características da realidade são

apreendidas de formas diferenciadas, “o núcleo central de uma

representação é ele mesmo um sistema organizado. É constituído de

elementos: normativos e funcionais. Estes elementos são hierarquizados e

podem ser ativados diferentemente, de acordo com a natureza do grupo ou

a finalidade da situação” (ABRIC, 2001, p.168, grifos do autor). E ainda, ao

se referir a abordagem experimental, Abric destaca procedimentos que

podem ser utilizados em outras abordagens: “as enquetes e os estudos

qualitativos constituem instrumentos indispensáveis e frequentemente mais

ricos em informações – inclusive teóricas – para o conhecimento e a análise

das representações sociais” (ABRIC, 2001, p.169).

Procedemos, então, com a identificação da organização interna das

representações sociais no contexto do segmento populacional pesquisado.

57

Procuramos compreender a organização interna das representações sociais

do termo riqueza, utilizando a técnica de evocação livre (SÁ, 1996, p. 115)

no âmbito da Teoria do Núcleo Central. Para conhecermos a organização

interna das representações sociais, apresentamos o termo indutor aos

respondentes4. A este termo os entrevistados relacionaram até 5 termos ou

expressões de acordo com a metodologia aplicada. A partir das evocações

obtidas utilizamos o software EVOC5 buscando identificar a organização de

base quantitativa e classificatória na estrutura interna da representação

social.

2.2. RANCHARIA

Inicialmente, estava previsto no projeto de pesquisa a realização de

trabalho de campo, com aplicação de questionários tanto em Álvares

Machado como em Rancharia. Em função de algumas dificuldades

encontradas na execução do projeto, esse plano inicial foi alterado.

A primeira dificuldade diz respeito ao descompasso que há, nos

trâmites do processo da Diretoria Científica e da Diretoria Financeira da

FAPESP. Havíamos previsto, na solicitação de apoio financeiro ao projeto, o

valor de R$ 33.000,0o para pagamento de serviços de terceiros, o que

envolveria o apoio técnico de informática, consultoria em sistema de

informações, a aplicação de questionários do inquérito domiciliar e o

trabalho de digitação de dados. No projeto aprovado, esse item sofreu um

corte, sendo liberado o valor de R$ 13.000,00. Na ocasião da assinatura do

termo de outorga, aceitamos os recursos aprovados, uma vez que

poderíamos contar com o apoio das prefeituras para a realização do

trabalho de campo.

Contudo, a necessidade de realização de um piloto, assim como a

correção de checagem de dados em Álvares Machado, gerou mais gastos do

que imaginávamos e consumindo quase a totalidade dos recursos previstos

4 No total 1.127 moradores de áreas consideradas de exclusão no município de Álvares Machado, São Paulo.

5 Desenvolvido por Pierre Vergès, o software EVOC é composto por programas que possibilitam identificar aspectos da organização interna da representação social, por meio de processamento de dados.

58

(R$ 12.235,50). Uma solução encontrada pelo grupo foi de encaminhar à

FAPESP uma solicitação de transferência de recursos entre rubricas,

prejudicando a aquisição de alguns equipamentos, sem prejuízo da coleta

de dados. Apesar de essa solicitação ter ocorrido em outubro do ano

passado, não obtivemos resposta até o momento.

Uma segunda dificuldade encontrada para a aplicação do questionário

em Rancharia foi o período eleitoral do final do ano de 2008. Em algumas

visitas ao campo e contato com a população residente nas áreas escolhidas,

verificamos a dificuldade de abordar as pessoas em um ambiente pré-

eleitoral. Como o projeto se desenvolveu em parceria com a prefeitura,

tornou-se praticamente impossível não ocorrer alguma associação entre a

pesquisa e a gestão municipal.

Em vista destas dificuldades e considerando que o objetivo central do

trabalho não era apenas o estudo da pobreza urbana e exclusão social de

Álvares Machado e Rancharia, mas o desenvolvimento de metodologias

adequadas às cidades do interior paulista, descartamos do nosso

cronograma a aplicação de questionário no segundo município. Como

decorrência dessa decisão, foi possível discutirmos melhor outras formas de

coleta de informações em municípios dessa natureza. Esse é o caso de um

instrumento de observação de campo, elaborado pelo grupo e aplicado nas

áreas consideradas de exclusão social de Rancharia, conforme iremos

descrever no item 2.2.1.. Desta forma, ainda que esse procedimento não

estivesse previsto inicialmente, é uma demonstração da necessidade dos

pesquisadores envolvidos em projetos de políticas públicas estarem sempre

atentos às condições e demandas locais.

2.2.1. Observação de campo: identificando as áreas de

exclusão

O processo de articulação da pesquisa com Rancharia coincidiu com a

mobilização da Prefeitura Municipal em torno da elaboração do Plano Diretor

de Desenvolvimento Urbano, abrindo a possibilidade de produção de

trabalhos conjuntos que aproximassem e atendessem às necessidades de

ambas as equipes responsáveis por tais projetos. Esta ação foi, em muito,

facilitada pelo fato da equipe responsável pelos encaminhamentos

59

necessários à elaboração do Plano Diretor conter docentes/pesquisadores

pertencentes ao Cemespp.

Tal coincidência resultou na possibilidade de caminharmos juntos em

atividades de levantamento de dados, seu compartilhamento, discussão e

utilização.

Como observado, desde os primeiros contatos com a Prefeitura

Municipal, ficou claro que seus diversos órgãos apresentavam um quadro de

poucas informações sistematizadas sobre a realidade local. Isso se

evidenciava pela base cartográfica digital no formato “dxf” do AUTOCAD,

desatualizada e sem numeração dos imóveis por face de quadra, além da

inexistência de sistema digital de informações sobre dados territoriais

urbanos, dentre outras questões.

A Secretaria da Assistência Social, por exemplo, tal como em vários

municípios, ainda mantém seus registros de atendimentos em fichas em

papel, com todas as conseqüências que isto provoca em relação à

implementação, acompanhamento e avaliação de suas políticas públicas e

também em relação às possibilidades de interação e integração com aquelas

desenvolvidas em outras áreas, como na educação e na saúde (lembrando

aqui das sinergias geradas em algumas políticas/programas que exigem o

cumprimento de condicionalidades em outras áreas, como é o caso do Bolsa

Família).

Os desafios, então, foram de duas naturezas distintas e

complementares, mas que demandavam uma solução rápida, de maneira a

atender às necessidades de ambas as equipes: de um lado gerar uma base

digital capaz de suportar os diferentes tipos de mapeamentos requeridos, o

que demandava atualizar a existente e inserir a numeração dos imóveis, por

faces de quadra. De outro lado, gerar informações necessárias a uma leitura

rápida do território da cidade, revelando suas características, em particular

a das desigualdades intra-urbanas.

Dois foram os caminhos tomados. O primeiro, elaborar um mapa da

área urbana, com os recortes dos setores censitários, a partir de dados do

IBGE para o ano 2000. A metodologia anteriormente desenvolvida pelo

CEMESPP foi utilizada, resultando no mapa exposto no item 3.21., desse

relatório.

Tal mapa permitiu, já em um primeiro momento, reconhecer as

desigualdades intra-urbanas e, em particular, os seis setores censitários

60

considerados como de exclusão social. Todos agrupados em uma mesma

porção da cidade, e contíguos, revelaram um intenso processo de

diferenciação sócio-espacial no território urbano, permitindo a realização de

visitas qualificadas a estas áreas, detalhamento de várias informações

relativas a elas e também a preparação mais adequada para as audiências

públicas do Plano Diretor.

Ao tempo em que tais ações foram sendo desenvolvidas, foi

elaborado um instrumento de coleta de dados primários, através de

trabalho de campo.

A opção recaiu, então, pela elaboração de um instrumento

simplificado de levantamentos de dados. Do ponto de vista metodológico

aproxima-se da técnica conhecida como estimativa rápida, dada sua

simplicidade, baixo custo e preparo rápido dos pesquisadores de campo, ao

mesmo tempo em que fornece material para, além de uma primeira análise,

desencadear a formulação de hipóteses que possam subsidiar o

desenvolvimento da investigação.

O instrumento ou Ficha de Observação encontra-se reproduzido a

seguir (figura 4). Chamamos a atenção para o cuidadoso trabalho realizado

previamente para identificar/numerar cada quadra e cada face de quadra

para que fosse possível, depois, sua inserção na base digital em conjunto

Figura 4 - Modelo do formulário de observação rápida

61

com a numeração inicial e final de cada trecho. Foi possível, assim, gerar

uma informação crucial para a produção de uma base digital atualizada e

que permitiria a elaboração de vários e diferentes mapeamentos futuros.

O conjunto das informações foi agrupado em cinco grandes itens, a

saber: ambiental (relacionado à arborização urbana); sinalização (horizontal

e vertical); infra-estrutura básica; uso e ocupação do solo e acessibilidade e

mobilidade.

Entre docentes e alunos, foram 12 pessoas percorrendo todas as

vias, quadra a quadra, anotando as informações, durante 4 finais de

semana (sábados e domingos pela manhã e tarde). Ou seja, considerando-

se 8 horas diárias, para o levantamento completo foram utilizadas 64 horas

de trabalho.

O banco de dados gerado a partir daí constitui-se de 1596 linhas por

53 colunas e foi extremamente útil para a elaboração de bases

cartográficas, mapas temáticos, análises do espaço urbano e intra-urbano

e, no caso específico do projeto Políticas Públicas em andamento, para uma

aproximação, reconhecimento e conhecimento, sistematização de dados e

posterior análise de áreas de exclusão social.

Interessante registrar alguns resultados observados desta experiência

que se constituíram em ganhos de conhecimento para a equipe da Unesp e

da Prefeitura Municipal, com a qual fazíamos a parceira necessária ao

projeto políticas públicas.

Em primeiro lugar, o mapa da exclusão social elaborado com a

metodologia anteriormente desenvolvida pelo Cemespp de imediato

constituiu-se em material de trabalho da Secretaria de Assistência Social,

incrementando seu conhecimento a respeito dos territórios da cidade. Um

exemplo concreto e necessário de ser registrado apareceu quando da

elaboração de um mapa temático que cruza as áreas de inclusão/exclusão

com um banco de dados por endereço de um grupo de pessoas que foi

demitido de duas das maiores empregadoras da cidade, devido à

desativação de suas unidade produtivas. Foram, no total, 588 demitidos,

dos quais foram obtidas informações sobre endereço, composição familiar,

renda, idade etc. O mapa resultante apoiou ações que foram tomadas no

âmbito da Secretaria da Assistência Social.

Em segundo lugar, o Cemespp desenvolveu, testou e utilizou uma

estratégia de pesquisa ainda não utilizada pelo grupo até aquele momento,

62

a observação rápida, que se revelou adequada e eficiente frente ao baixo

custo e agilidade na obtenção de informações. Além de fornecer os dados

para o aprimoramento da base cartográfica digital por endereços, ao serem

“acoplados” aos resultados do mapeamento com os dados do IBGE,

mostrou-se suficiente para a condução das análises sobre exclusão social e

pobreza urbana.

Por fim, em terceiro lugar, as características e potencialidades

apontadas acima permitem afirmar que se trata de uma metodologia

possível de ser replicada em outras realidades, enriquecendo o acervo de

“soluções” e tecnologias em desenvolvimento no âmbito de políticas

públicas locais com fortes componentes territoriais.

2.3. TARABAI

2.3.1. Da Constituição e formatação da base cartográfica digital ao

mapeamento temático

a) A composição da Base Cartográfica

Várias dificuldades compareceram no início do trabalho e,

certamente, estas dificuldades serão as mesmas em muitas outras cidades

de pequeno porte onde a metodologia venha a ser empregada. Em primeiro

lugar, ao procurar uma base cartográfica do território urbano, contatamos

sua inexistência nos setores da administração municipal. Ao estabelecer

diálogos com os técnicos da Prefeitura, face à inexistência de uma planta

urbana, foi nos informado que o INCRA (Instituto Nacional de Reforma

Agrária) estava realizando um levantamento dos lotes da cidade para a

regularização das terras urbanas, pois todas elas, ainda hoje, estão

assentadas sobre áreas devolutas. Ainda assim, tal levantamento era algo

que estava em processo, o trabalho não estava finalizado. Desse modo,

obtivemos com o INCRA a base cartográfica com cerca de 70% da cidade

mapeada, dotada de coordenadas geográficas. Face a essas condições,

tínhamos três opções: 1) esperar o término do trabalho de levantamento do

INCRA, em princípio, sem data para encerrar; 2) montar uma equipe para

63

fazer um levantamento próprio em campo; 3) procurar outras possíveis

fontes de dados cartográficos. A primeira opção era inviável em função do

curto tempo para a realização do trabalho e a segunda resultaria em

maiores custos operacionais. Levando em conta essas constatações, a

terceira opção poderia ser a mais viável. Foi então que, através da

Prefeitura Municipal de Tarabai, solicitamos as bases cartográficas (mapa de

ruas e mapa de setores censitários urbanos) com o IBGE, conjuntamente

com os dados do CENSO 2000. Desse modo, foram obtidos os dados

primários para começar o processo de formação das bases cartográficas

para o mapeamento temático.

Nesse conjunto de condições, outros detalhes se interpuseram ao

trabalho: 1) A base do INCRA, além de estar incompleta, estava assentado

sobre o Programa AutoCad®; 2) As bases cartográficas digitais fornecidas

pelo IBGE, apesar de contemplarem toda a cidade, não possuíam

coordenadas geográficas. Assim, esse conjunto de dados dispersos e

desarticulados, tiveram de se tornar único e articulado para a composição

de uma base cartográfica completa que contemplasse nossas necessidades.

A base cartográfica, fornecida pela agência do IBGE em Presidente

Prudente, apesar de não possuir coordenadas geográficas, tratava-se de um

arquivo vetorial (no formato “pdf”). Além disso, os diferentes tipos de

informações espaciais (mapa de ruas e mapa de setores censitário – ver

esquema 3) estavam todos mesclados, ou seja, estavam todos num único

arquivo e numa única camada. Daí que precisamos utilizar nesse momento

o software Adobe Illustrator® para separar essas informações espaciais, ou

seja, colocar a base dos setores censitários em um arquivo e o mapa de

ruas em um outro diferente.

Feito isso o passo seguinte foi levar essas duas informações

espaciais, mencionadas acima, sem coordenadas geográficas, para o

AutoCad®, para realizar o georreferenciamento (lembrando que isso foi

feito com a base cartográfica conseguida com o INCRA, que possuía

coordenadas, mas que estava incompleta). Superpondo as bases,

complementamos os “vazios”, formando uma base completa que cobria

toda a cidade e que possuía coordenadas geográficas, tal como no esquema

1. É preciso mencionar que quando se obtém bases cartográficas em

programas que não o que vai ser efetivamente utilizado para o

mapeamento temático, é preciso estar atento ao seu DATUM. No nosso

64

caso, e provavelmente na maioria dos casos, o DATUM é o seguinte:

UNIVERSAL TRANSVERSOR DE MERCATOR (CÓRREGO ALEGRE) –

FUSO 22 – HEMISFERIO SUL. Para a nossa região, esse continua sendo o

DATUM mais utilizado nos cadastros urbanos e municipais. Esse dado é

importante, pois mais a frente precisaremos dele para converter o arquivo

para o formato do MapInfo. Enquanto o AutoCad possui formato “.dxf” o

MapInfo possui “.tab” (ver esquema 2).

Retomemos essas informações para ficar mais claro:

Formato das Bases

Cartográficas

INCRA Software: AutoCad

Formato: “.dxf” DATUM: UTM (Córrego

Alegre)

IBGE Software: Adobre

Illustrator Formato: “.pdf”

DATUM: Inexistente

BASE CARTOGRÁFICA FINAL Software: MapInfo

Formato: “.tab” DATUM: UTM (Córrego Alegre)

FUSO: 22 Sul

Esquema 1 – Composição da base digital da cidade

65

O “Mapa de Ruas”, obtido junto ao IBGE, como exposto no esquema

acima, tratava-se de um mapa poligonal, ou seja, um mapa de quadras,

que não era adequado para nossos objetivos (figura 5).

Para abrir possibilidades a um mapeamento de caráter intra-urbano,

com base num banco de dados composto por endereços, é preciso um

“Mapa de Linhas” ou “Linear”. Sendo assim, para tais finalidades foi

necessário transformar a base cartográfica, que era essencialmente

“poligonal” para um formato “linear”, compondo, por conseguinte, um mapa

que denominamos “Eixo de Ruas”, assim como expresso na figura 6.

DADOS

ESPACIAIS

MAPA DE RUAS - composto de quadras e nome

das ruas. Mapa de Polígonos

MAPA DE SETORES CENSITÁRIOS

- Composto pelos setores censitários, delimitados

operacionalmente pelo IBGE

Esquema 3 – Os dois tipos de base usados no mapeamento

Figura 5 – Representação de um mapa de polígonos

66

Após a complementação da base cartográfica (feita no AutoCad,

como mencionado anteriormente), resultando no mapa poligonal com

referências geográficas, importamos a base para o software “MapInfo”,

transformando de um formato “.dxf” (AutoCad) para o formato “.tab”. (ver

figura 7 e esquema 4)

Figura 6 - Representação de um mapa de eixo de ruas – mapa linear

Figura 7 – Conversão de formato da base digital no MapInfo

67

Tendo o mapa poligonal sido aberto no programa MapInfo, foi, então,

preciso iniciar o processo de conversão do mapa de ruas, baseado em

polígonos, para outro baseado em linhas.

Isso se fez necessário porque as operações lógicas do referido

programa para mapeamentos urbanos, assim o exigem. Desse modo, com o

mapa de polígonos aberto no MapInfo, passamos a desenhar linhas entre as

quadras que, por sua vez, passariam a representar as ruas da cidade (o

processo está exposto nas figuras 8, 9, 10 e 11).

Ícone: “Linha” Função: Desenhar as linhas que representarão as ruas.

Ícone: “Controle de Níveis” Função: Permitir modificações na base cartográfica (edição).

AUTOCAD

Base “dxf”

MAPINFO

Base “tab”

conversão

Esquema 4 – Conversão de Base Cartográfica

Figura 8 – Processo edição do eixo de ruas a partir do mapa de quadras

68

Para poder iniciar o processo de conversão do mapa de quadras em

um eixo de ruas, é preciso deixar a base cartográfica editável. Para tal clica-

se no ícone, controle de níveis , aparecendo a seguinte janela:

1. Visível: permite visualizar a base cartográfica;

2. Editável: permite modificar a base cartográfica;

3. Selecionável: Permite selecionar os objetos da base;

4. Rótulo Automático: permite visualizar informações dos objetos

presentes na base cartográfica. Por exemplo: as linhas que contenham a

informação de nomes das ruas poderão ser visualizadas através dessa

ferramenta.

1 2 3 4

Figura 9 – Deixando a base cartográfica editável

69

Feito isso para toda a cidade, temos então construído um eixo de

ruas para o mapeamento temático a partir de um banco de dados que

contenha endereços. No entanto, até o momento temos apenas uma base

cartográfica constituída de desenho, ou de objetos gráficos, sem nenhuma

informação. Para o mapeamento é preciso, por conseguinte, que esses

desenhos (as linhas) contenham, basicamente, outros dois tipos de

informação: 1) o nome dos logradouros; 2) a numeração das

Figura 10 – Mapa de linhas sobreposto ao mapa de polígonos

Figura 11 – Somente mapa de linha (eixo de ruas)

70

extremidades das quadras, as quais viabilizarão a geocodificação

por endereços.

Para tanto, a estrutura da base cartográfica precisa estar configurada

para receber esses dados. O caminho a ser feito é o seguinte: TABELA –

MANUTENÇÃO – ESTRUTURA DA TABELA. Aparece, por conseguinte a

caixa de diálogo “Visualizar/modificar estrutura da tabela” (figura 12):

Em seguida seleciona-se a minha base cartográfica (que para o

MapInfo também se trata de uma “Tabela”) de linhas (ou o Eixo de Ruas),

para configurar os campos que receberão os dados dos logradouros (figura

13).

Figura 12 – Modificar estrutura da tabela

Figura 13 – Definição do padrão estrutural da base cartográfica

71

A tabela deve ser configurada exatamente da forma como está

aparecendo na figura 13.

A base cartográfica está completamente formatada para a recepção

dos dados sobre a malha urbana.

b) Trabalho de campo e levantamento de dados

Estando a base cartográfica completamente formatada é preciso,

então, a inserção da informação dos logradouros públicos, como nome de

ruas e sua respectiva numeração. Levando-se em consideração que na

prefeitura não existia nenhum tipo de cadastro que permitisse encontrar

esses dados, foi necessário o levantamento em campo. Tratando-se de um

trabalho que não exigia nenhum conhecimento aprofundando, a prefeitura

contratou pelo período de um mês dois técnicos que pudessem fazer o

levantamento da numeração das faces das quadras.

Para essa etapa eram duas as frentes de trabalho:

1) Verificação do nome de ruas fornecido pelo IBGE, uma vez que

muitos deles estavam incompletos;

2) Levantamento da numeração das faces das quadras. Lembrando que

em uma rua nós temos dois tipos de numeração, ou dois lados de

numeração, um lado da rua/avenida/travessa, etc. que é par e outro

que é impar.

Para tanto, foram elaborados, para os dois técnicos de campo, diversos

croquis (contendo partes da cidade), contendo as seguintes informações:

1) Nome das ruas;

2) Número (código) das quadras;

3) Espaço para inserção do número das faces das ruas;

A figura seguinte nos mostra de forma modelada a estrutura da ficha

para a recepção dos dados.

72

Avenida Quinze de Novembro

LEGENDA

1,2,3,4... Número da Quadra; Quadra

Campo para a inserção do número das faces da quadra

Um detalhe, interessante, além de importante, é que na maioria das

cidades, a numeração das casas está em ordem crescente, a partir do

centro da cidade ou de uma rua principal (esquema 5).

1 2

3 4

R P

rude

nte

de M

orae

s R

Pru

dent

e de

Mor

aes

Face Impar Face Impar

Face Par Face Par

Face Impar Face Impar

Face Par Face par

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Fa

ce

Imp

ar

Esquema 5 – Estrutura lógica da malha urbana

LEGENDA

Centro

Direção do crescimento da numeração

Esquema 6 – Estrutura lógica do padrão de numeração da malha urbana.

73

Todos esses aspectos relacionados à conformação da malha urbana

da cidade e a forma de extração dos dados foram levados ao conhecimento

dos dois técnicos em muito pouco tempo, com um breve treinamento em

apenas uma manhã de visita a campo.

Outro aspecto a ser considerado é o fato de que para uma cidade

com aproximadamente 5.700 habitantes o trabalho de campo se deu muito

rapidamente. Em menos de um mês tínhamos toda a numeração da cidade

levantada, com todos os dados lançado sobre a base cartográfica do

MapInfo. Se o trabalho de campo fosse desenvolvido de uma forma

intensiva, seguramente, uma semana seria suficiente para realizar o

levantamento em toda a cidade. Estamos ressaltando isso como um ponto

importante, pois sua implementação em uma cidade de pequeno porte para

a gestão das políticas públicas pode se dar de maneira rápida e pouco

onerosa.

Após todo o levantamento em campo, seguiu-se a etapa de inserção

dos dados na base cartográfica. Os passos são os seguintes:

1. Com a base cartográfica aberta, no nosso caso “Eixo de Ruas_Tarabai”,

usamos a ferramenta Info - - para clicar sobre a linha que receberá os

dados e aparecerá a caixa de diálogo “Ferramenta Info”:

Os campos presente nesta tabela (figura 14) são exatamente aqueles

que nós mencionamos anteriormente no nosso trabalho, exposto na figura

Figura 14 – Informações do Eixo de Ruas

74

13. Tomando como base o levantamento dos dados das faces das quadras,

preenchemos as informações requeridas por esta caixa de diálogo.

Esses dados permitirão fazer a ligação entre a base cartográfica e o

banco de dados numérico e alfanumérico, gerando, por conseguinte o mapa

temático.

A geração de um mapa temático, construído a partir de dados locais,

passa, necessariamente, pela localização de endereços residenciais, num

processo denominado de geocodificação em ambiente SIG (Sistema de

Informações Geográficas). Em se tratando de pequenas cidades, para

garantir a confidencialidade dos dados dos indivíduos, é desejável que eles

sejam agrupados e generalizados para uma área maior. No nosso caso,

agrupamos as ocorrências (localizações de endereços) por setor censitário,

resultando em um mapa zonal.

Base Cartográfica Base Cartográfica

Geocodificação: pontos

Esquema 7 – Geocodificação por pontos e conversão para um mapa temático de área

+

75

c) Digitalização das fichas de cadastro e dos projetos

sociais da Secretaria da Assistência Social.

Para a realização do mapeamento temático foi preciso, também, a

digitalização das fichas da Assistência Social que ou estavam sob a forma

de fichas de papel ou estavam em sistemas digitais que não permitiam

conversão para outros formatos que pudessem ser manipulados. A

conseqüência disso foi que se gerou a necessidade de digitalização dos

dados da Secretaria, dentre os quais podemos citar:

1) Dados do Cadastro Único (CadUnico);

2) Dados dos Projetos Sociais desenvolvidos pela

Assistência;

3) Dados sobre Menores Infratores;

4) Dados sobre Adolescentes Grávidas;

Esses dados foram levantados não somente na Assistência Social,

como também em outras secretarias da Prefeitura Municipal que pudessem

ter dados que ajudassem a compreender as configurações territoriais das

questões sociais na cidade. É importante observar, como, em um esforço de

mapeamento, se faz necessário a mobilização de diversos setores da

administração que podem “abrir as portas” para o trabalho conjunto. A

partir de apenas uma instância do poder público, é possível chegar aos

demais e sensibilizá-los a respeito da importância do tratamento da

informação para a tomada de decisões.

Diante da necessidade de tornar digital os dados disponíveis para o

mapeamento, dois estagiários, contratados da Prefeitura desempenharam o

trabalho, de modo que em pouco tempo tínhamos uma série de dados,

todos tornados passíveis de manipulação e, por final, para a geração de

informações estatísticas e territoriais.

76

Capítulo 3: Os circuitos da exclusão social e da pobreza urbana

(análise e considerações)

77

Ainda que não tenha sido um objetivo principal do trabalho, os

procedimentos metodológicos adotados na pesquisa permitiram aplicar os

instrumentos de coleta elaborados para a identificação e descrição da

condição de vida e dos processos excludentes nas áreas de estudo. Assim,

apresentamos a seguir algumas dessas informações geradas, uma vez que

elas formam um marco de referência para o avanço de pesquisas em

cidades com as características identificadas no recorte empírico estabelecido

neste trabalho.

3.1. ÁLVARES MACHADO

No Relatório parcial já havia um avanço na compreensão das

principais características das famílias e pessoas das áreas de exclusão social

de Álvares Machado. O refinamento sucessivo do banco de dados permitiu

se utilizar dele como importante ferramenta de trabalho, seja para a

Prefeitura Municipal (em relação a sua ação nas áreas), seja para o

Cemespp (em relação à discussão acadêmica ou mesmo em relação à

avaliação de políticas públicas).

Uma caracterização mais geral poderia ser sumariada a partir dos

seguintes tópicos:

o foram acessadas 4294 pessoas em 1175 unidades domiciliares6;

o 50,5% das pessoas são do sexo feminino;

o As faixas etárias predominantes situam-se entre 6 e 14 anos (18%),

31 a 40 anos (16%) e 41 a 40 anos (13%). A população de até 5 anos

corresponde a mais de 8% e a acima de 60 anos 7,2%;

o A composição familiar predominante é a de 4 membros por família

(29,5%). Porém, unidades de apenas um membro perfazem 4,8% e de

dois membros quase 17%.

o Os autodenominados pardos/morenos (50,3%), seguidos de brancos

(41,8%) predominam majoritariamente, sendo que apenas 6,2% de

autodenominaram como negros;

o 29% nasceram em Álvares Machado, 27% em Presidente Prudente;

6 Tomando-se a projeção populacional do SEADE para o ano de 2007 que foi de 23804

habitantes, o questionário abarcou 18,03% da população de Álvares Machado.

78

o 6,7% afirmam portar algum tipo de deficiência, sendo a mais

predominante a visual.

Antes, entretanto, de uma apresentação e análise de alguns dos

resultados obtidos de maneira mais sistemática, é importante salientar a

qualidade do banco de dados formado. A mais sensível informação sobre a

qualidade dos dados diz respeito aos respondentes de cada questionário7.

A Tabela 7 mostra, a seguir, a quantidade de entrevistados de acordo

com seu papel na família residente8. Nota-se a grande quantidade de

entrevistados filhos ou enteados do chefe de família, o que representa

quase 42% do total. O próprio chefe ou seu cônjuge têm a segunda e a

terceira maior participação, respectivamente, com 27,23% e 20,66% dos

entrevistados, perfazendo um total de 47,89%. Portanto, uma significativa

presença dos responsáveis diretos pelo domicílio.

TABELA 7 - Papel na família: quantidades absolutas e relativas dos entrevistados

Entrevistados Quantidade Porcentagem Filho ou enteado 1.797 41,89

Chefe - o morador 1.168 27,23

Cônjuge 886 20,65

Neto 156 3,64

Irmão ou cunhado 92 2,14

Mãe ou sogra 67 1,56

Genro ou nora 41 0,96

Outro parente 36 0,84

Pai ou sogro 28 0,65

Agregado 12 0,28

Total 4.283 100,00 Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

Ainda em relação ao total de 1797 “filhos ou enteados” entrevistados,

51% tem idades entre 14 e 25 anos9, o que corresponde a uma faixa etária

capaz de prestar com mais fidedignidade as informações solicitadas.

Dado o grande número de informações coletadas (que, como já visto,

gerou um banco de dados de 4294 linhas com 83 colunas) a análise dos

7 Considera-se, aqui, como respondente o membro da família que prestou as informações e

como entrevistados, os demais membros. 8 A soma total de entrevistados ou respondentes varia de acordo com os dados válidos

encontrados nas diferentes questões. 9 A idade com maior número de respondentes refere-se aos 16 anos, com 5,84%.

79

dados a ser aqui apresentada foi restringida a três dimensões que

consideramos mais relevantes para uma primeira aproximação às

complexas situações de exclusão social e aos circuitos da pobreza urbana.

São elas:

a) dimensão econômica: são analisados os indicadores de renda familiar e

situações de trabalho e emprego dos chefes de família;

b) dimensão do alcance de políticas públicas, particularmente as de

transferência de renda;

c) de mobilidade: onde se incluem os deslocamentos e a mobilidade para o

trabalho, para a saúde, para a escola e para o lazer, como primeira

aproximação aos circuitos urbanos e inter-urbanos desta parcela da

população.

3.1.1 - Dimensão econômica

A renda familiar constitui-se em indicador fundamental na

caracterização de situações de exclusão social, em que pese não poder ser

tomado como único. Relaciona-se diretamente às possibilidades de acesso

aos bens materiais necessários à vida familiar e social, bem como relaciona-

se diretamente, também, às condições de emprego, escolaridade e às

categoriais sócio-ocupacionais dos diferentes membros familiares,

remetendo-nos à própria trajetória de vida os indivíduos e famílias no que

se refere à autonomia, possibilidades e escolhas realizadas.10

No mesmo sentido, o trabalho formal ou informal com rendimentos

e o emprego, em seu sentido de vínculo formal ao mercado de trabalho,

com os direitos e garantias constitucionais compreende uma relação social

de estabilidade que os não detentores não possuem. Em muitos casos, tal

como já amplamente demonstrado na literatura sobre o tema11, processos

de exclusão social, em geral, iniciam-se com a desvinculação do mundo do

trabalho, a partir do desemprego que, quanto mais larga sua duração, mais

levam os indivíduos para situações de risco e vulnerabilidade.

10

Uma discussão mais aprofundada sobre a renda familiar e seu peso no conjunto dos indicadores de exclusão social pode ser encontrada em Melazzo (2004) e Melazzo e Guimarães (orgs) (2009) no prelo. 11

Ver, por exemplo, os trabalhos de Paugan (2003) e Castel (1998) e, no caso brasileiro, Scorel (1999).

80

A Tabela 8, a seguir apresenta a renda familiar do conjunto das

famílias e é possível observar a concentração das famílias na faixa entre 1 e

3 salários mínimos e que corresponde a aproximadamente 60% das

famílias.

Tabela 8 - Renda familiar informada pelo entrevistado

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

Além da concentração nesta faixa de renda, observa-se também que,

considerando-se o conjunto compreendido entre os que percebem “menos

de um salário mínimo” até “três salários mínimos” abarca-se a grande

maioria das famílias, girando em torno de 82%.

Por fim, o percentual de famílias com rendimentos abaixo de um

salário mínimo ultrapassa os 8%.

A Tabela 9 revela a situação do chefe de família com relação ao

trabalho/emprego. Mais de 60% dos domicílios entrevistados possuem

chefes que trabalham e com rendimentos. Aqueles que desenvolvem apenas

atividades temporárias e/ou ocasionais somam pouco mais de 6%.

Desempregados e outras situações de ausência de trabalho somam mais de

26%, incluindo aí 11,65% de aposentados.

TABELA 9 - Situação do chefe de família

Chefe de Família Quantidade Porcentagem Trabalha (com rendimento) 711 61,35

Trabalho temporário 6 0,52

Trabalho ocasional 67 5,78

Trabalho sem rendimento 29 2,50

Aposentado e não trabalha 135 11,65

Aposentado e trabalha 35 3,02

Desempregado 77 6,64

Encostado 57 4,92

Não trabalha 42 3,62

Total 1.159 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Renda Familiar Quantidade Porcentagem Menor que 1 salário mínimo 190 8,53

1 salário mínimo 336 15,09

De 1 a 3 salários mínimos 1.321 59,32

De 3 a 5 salários mínimos 286 12,84

De 5 a 10 salários mínimos 88 3,95

Mais de 10 salários mínimos 6 0,27

Total 2.227 100,00

81

O número de chefes de famílias desempregados, atingindo mais de

6% indica situações de risco e vulnerabilidade familiar. No mesmo sentido,

famílias chefiadas por aposentados, muitas vezes, possuem a renda daí

derivada como única fonte de rendimentos.

A Tabela 10 mostra como se dá o vínculo empregatício que

caracteriza a condição de trabalho do chefe de família entrevistado que

desenvolve atividades remuneradas. Mais de 60% destes trabalham com

registro em carteira, enquanto 37,18% não possuem registro, não

participando da chamada economia formal.

TABELA 10 – Chefes de família com atividades remuneradas segundo situação

Atividades com: Quantidade Porcentagem REGISTRO 517 62,82

SEM REGISTRO 306 37,18

Total 823 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Em síntese, dos dados apresentados até o momento, caracteriza-se

uma população marcada por um padrão de baixa remuneração, com

percentuais significativos de desempregados e aposentados chefiando

famílias e com elevado número de chefes em situações de informalidade.

Tais características econômicas indicam um padrão de precariedade

que, por si só, conforma situações de risco que levam, ou podem levar, a

situações de exclusão social.

3.1.2. Alcance das políticas públicas

Para além das relações que estabelecem ou não com o mundo do

trabalho ou com o mercado de trabalho, até mesmo por sua negação

através do desemprego, as famílias e seus diferentes membros inserem-se

em relações sociais mais amplas que determinam, contribuem ou

influenciam suas trajetórias de vida, inserção social ou capacidade de

resistir e atravessar adversidades que podem gerar situações de exclusão

social. Sejam elas construídas a partir de ações dos próprios indivíduos, tais

como relações de parentesco ou vizinhança, clubes e associações, partidos

políticos ou inserção religiosa, seja ainda aquelas produzidas a partir de

82

ações do poder público, como programas voltados para jovens, idosos,

mães etc. ou aqueles associados à transferência de renda, ações que geram

sociabilidade tem sido investigadas pelo potencial que apresentam em criar

redes que vinculam indivíduos a grupos e entre si.

Sobre os programas associados à transferência de renda, vários

apresentam condicionalidades, como freqüência escolar e acompanhamento

de pré-natal que também levam à geração de redes de sociabilidade.

A Tabela 11 mostra a participação dos chefes de família (e apenas

chefes) beneficiários de políticas públicas de transferência de renda

implementadas e em andamento em Álvares Machado. Menos de 10%

enquadra-se nesta categoria de beneficiários, contrastando com o perfil

econômico das famílias e chefes encontradas anteriormente.

TABELA 11 – Chefes de família e benefícios sociais

Chefes de Famílias que: Quantidade Porcentagem Não recebe 992 92,28

Recebe 83 7,72

Total 1075 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

A Tabela 12, seguinte, mostra os chefes de família respondentes que

informaram receber algum benefício social e sua participação em cada tipo.

Note-se que estão considerados aqui somente os 7,72% dos chefes de

família que recebem algum auxílio ou benefício.

O Programa Bolsa Família é aquele de maior abrangência,

correspondendo a mais da metade dos benefícios pagos, ou 54,22%.

Considerando-se sua junção ao Programa Auxílio Gás, os programas

federais alcançam, no mínimo, 62% das famílias das áreas de estudo

incluídas em programas públicos.

83

TABELA 12 - Chefes de família que informaram receber algum benefício

Benefícios Quantidade Porcentagem Bolsa família 45 54,22

Outros 13 15,66

Auxílio gás 7 8,43

Benefício de prestação continuada 6 7,23

Renda cidadã 5 6,02

Bolsa escola 3 3,61

Ação jovem 2 2,41

Criança cidadã 1 1,20

Vale vovô 1 1,20

Total 83 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

A Tabela 13, por sua vez, apresenta a situação

ocupacional/empregatícia dos chefes de família que afirmaram participar de

tais programas. Mais da metade (54,91%) trabalha e possui rendimentos.

Outras situações de trabalho (ocasional, sem rendimento e em conjunto

com a aposentadoria) somam 21,98%.

Tabela 13 - Situação de chefes de família que recebem algum auxílio

Chefe de família Quantidade Porcentagem Trabalha (com rendimento) 95 54,91

Trabalho ocasional 10 5,78

Aposentado e não trabalha 23 1,29

Aposentado e trabalha 2 1,16

Trabalho sem rendimento 7 4,05

Desempregado 14 8,09

Encostado 10 5,78

Não trabalha 12 6,94

Total geral 173 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Apenas 8% são desempregados, aproximadamente 6% tem

trabalho apenas ocasionalmente e mais de 6% afirmam não trabalhar,

perfazendo um total de quase 20% de chefes, a princípio sem rendimentos,

inseridos em programas sociais.

O gráfico 1 apresenta os chefes de família que recebem

benefícios/auxílios e seu tipo em relação a sua situação

ocupacional/empregatícia.

84

Predomina o Bolsa Família em todos os segmentos. Porém, observa-

se que seu peso é maior entre os desempregados (67%), que entre os que

declararam terem apenas trabalho ocasional (60%) e também de

trabalhadores com rendimento (56%).

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

O Gráfico 2 apresenta o cruzamento entre os diferentes tipos de

benefícios recebidos pelos chefes de família entrevistados e suas

respectivas faixas de rendimento. O maior número de beneficiários

encontra-se nas famílias com renda mensal entre 1 e 3 salários mínimos.

Nesta faixa, o Bolsa Família representa 54% dos benefícios. Na faixa menor

que 1 salário mínimo o mesmo programa alcança pouco mais de 70%.

Gráfico - 1

85

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Por fim, referenciando-se no número total de pessoas, observou-se

que apenas 12,76% da população da área encontra-se inserida em

programas relacionados à assistência social, em particular os de

transferência de renda.

Em síntese, é baixo o número de famílias inseridas em programas

sociais. E tais programas em geral, e aqueles de transferência de renda, em

particular, nas áreas/bairros analisados centram-se em famílias cujos chefes

tem rendimento de 1 a 3 salários mínimos. Considerando a faixa de renda

de menos de 1 salário mínimo abranger algo em torno de 8% das famílias,

no que se refere à sua presença nos programas sociais o percentual atinge

20,5%, enquanto que na faixa de 1 a 3 salários mínimos encontram-se

aproximadamente 60% das famílias que, em termos de inserção nos

programas representa 45%.

Gráfico 2

86

Tais dados, para além de inquirirem a eficiência, a eficácia e a

efetividade de políticas públicas da área de assistência social, permitem

indagar sobre a sua capacidade de inserir indivíduos e famílias em redes de

proteção social.

3.1.3 - Dimensão de mobilidade

A mobilidade espacial da população das áreas pesquisadas constitui-

se em dimensão não desprezível para revelar situações de desigualdades e

exclusão social. A possibilidade de acessar cotidianamente o emprego ou

local de trabalho, os serviços de educação ou saúde ou lazer, os modais de

transporte utilizados e, em vários casos, seus custos em muito determinam

as possibilidades de inserir-se, de usufruir, de participar, enfim, de usar

aquilo que está à disposição.

No caso de Álvares Machado, dada a proximidade geográfica com

Presidente Prudente e o intenso grau de interações espaciais e territoriais12,

o fluxo estabelecido em relação ao trabalho e ao consumo de serviços de

educação, saúde e mesmo lazer não são desprezíveis.

A Tabela 14 revela o local de trabalho dos chefes de família

entrevistados. Está dividida em três categorias: os que trabalham em

Presidente Prudente são maioria, seguidos daqueles que trabalham em

Álvares Machado e, por fim, os que trabalham em outras cidades.

O mercado de trabalho, para a população destas áreas de exclusão

social, é a cidade de Presidente Prudente, com a série de implicações ai

produzidas em termos de tempo e de custo. Os fluxos e os circuitos

obrigatórios para esta parcela de chefes que se deslocam cotidianamente,

delimitam potencialmente suas possibilidades de se apropriar do espaço de

Álvares Machado.

TABELA 14 - Local de trabalho chefe de família

Cidades Quantidade Porcentagem Presidente Prudente 339 51,52

Álvares Machado 280 42,55

Outros 39 5,93

Total 658 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

12

Uma discussão sobre estes diferentes tipos de interações e sobre a conturbação existente entre Álvares Machado e Presidente Prudente encontra no trabalho de Myasaki (2008)

87

No gráfico 3 especificam-se os locais de trabalho diferentes de

Presidente Prudente e Álvares Machado. Desagrupando-se este total de

quase 6%, encontram-se mais de 14 cidades diferentes, majoritariamente

na região do entorno da cidade de origem.

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

O gráfico 4 apresenta o modal utilizado para o trabalho. Consideram-

se apenas Álvares Machado e Presidente Prudente, em números absolutos.

Nota-se a participação expressiva dos deslocamentos a pé dentro de

Álvares Machado e a grande participação dos transportes coletivos para

Presidente Prudente.

Gráfico 3 -

88

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Especificando agora somente os modais de transporte para cada

uma das cidades, através dos gráficos 5 e 6, nota-se o destaque que existe

nos deslocamentos a pé dentro de Álvares Machado – que responde a mais

de 40% dos deslocamentos – e a importância do transporte coletivo

(ônibus) que em duas modalidades abrange mais da metade os

deslocamentos.

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Gráfico 4

Gráfico 5 -

89

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

A seguir, no gráfico 7, são apresentados os municípios mais

procurados pelos entrevistados em caso de necessidade de atendimento

médico. Nele observa-se que um terço da população entrevistada recorre a

Presidente Prudente em caso de necessidade.

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

A tabela 15 e os gráficos 8 mostram os locais de lazer freqüentados

pela população entrevistada. A maioria (quase 80%) da população tem na

própria cidade seu local de lazer.

Gráfico 6

Gráfico 7

90

TABELA 15 - Local de lazer freqüentado

Cidades Quantidade Porcentagem

Álvares Machado 1550 78,80

Presidente Prudente 315 16,01

Outros 102 5,19

Total 1.967 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

A tabela 16 mostra somente os chefes de família que freqüentam a

escola.

TABELA 16 - Chefes de família que freqüentam a escola

Cidades Quantidade Porcentagem Presidente Prudente 9 39,13

Álvares Machado 14 60,87

Total 23 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

Já a tabela 17 considera todos os entrevistados que freqüentam a

escola. A maior parte (92,64%) estuda no próprio município.

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

Gráfico 8

91

TABELA 17 – Local de estudo

Cidades Quantidade Porcentagem Álvares Machado 667 92,64

Presidente Prudente 51 7,08

Regente Feijó 1 0,14

Panorama 1 0,14

Total 720 100,00

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008 Organização: CEMESPP

O gráfico 9 mostra o modal de transporte utilizado para acesso à

escola em Presidente Prudente e em Álvares Machado. Nota-se a grande

quantidade de pessoas que vão à escola a pé em Álvares Machado (554).

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

Gráfico 9

92

Nos gráficos 10 e 11 a seguir temos a participação de cada modal

de transporte para cada uma das duas cidades, considerando-se números

relativos. Mais uma vez se destacam os deslocamentos a pé para Álvares

Machado (88,92%).

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização: CEMESPP

O conjunto dos dados apresentados até o momento permite formar

um quadro bastante complexo das famílias e indivíduos residentes nas

áreas pesquisadas. Mais que um detalhamento exaustivo, os indicadores

utilizados revelam situações diversas que permitem a formulação e

Gráfico 10

Gráfico 11

93

implementação de ações por parte do poder público. Na medida em que tais

dados possam ser objeto, ainda, de cruzamentos para focalização em

situações específicas, bem como por poder receber tratamento cartográfico

constituem-se em ferramenta para a ser utilizada.

No que se refere ao Cemespp, o potencial deste banco de dados para

pesquisas, desdobrar-se-á em textos para discussão, artigos para

publicação e outros produtos por parte dos docentes e alunos.

3.1.4. As representações sociais identificadas a partir dos

questionários

As técnicas quantitativas de levantamento dos elementos do núcleo

central permitiram formular hipóteses acerca da centralidade das cognições

que integram uma representação, “trata-se, não obstante, de uma etapa

imprescindível para o acesso definitivo à configuração do núcleo central”

(SÁ, 1996, p. 115). Desse modo, separamos os possíveis elementos

centrais e periféricos e os incluímos nos respectivos sistemas central e

periférico13 da teoria do núcleo central.

Apresentaremos em seguida uma análise específica do termo indutor

riqueza. Buscaremos relacionar os resultados dessa estrutura interna das

representações sociais do grupo com alguns aspectos sócio-econômicos

obtidos por meio dos questionários.

No decorrer destes procedimentos tivemos acesso aos possíveis

elementos do núcleo central da representação social de riqueza, conforme

entrevistas com os moradores das áreas selecionadas. O levantamento

apresentou um total de 2612 evocações, dentre as quais surgiram 498

termos diferentes e a média das ordens médias foi de 2,0, numa escala de

13 Sá (1996) mostra que, para a teoria do núcleo central, a representação social é regida por um sistema interno duplo e complementar. O sistema central, no qual o núcleo central é composto por termos marcados pela memória coletiva do grupo e pelo sistema de normas ao qual se refere. O núcleo central define a homogeneidade do grupo social e é, de certa maneira, independente do contexto social material imediato, do qual a representação é posta em evidência. Esse sistema central tem a função de continuidade e permanência da representação. Já o sistema periférico regula e adapta o sistema central ao cotidiano, ele tem a função de concretizar o sistema central em termos de tomadas de posição e condutas. Os elementos periféricos permitem que a representação ancore na realidade do momento provendo a interface entre realidade concreta e o sistema central, além disso, pode proteger a significação central da representação. Assim, se o sistema periférico é evolutivo, o sistema central é resistente à mudança.

94

1 a 5. Não foram consideradas as evocações cuja freqüência foi igual ou

inferior a 15. Já a freqüência média de evocação foi 50. (quadro 1)

QUADRO 1 – Elementos da organização interna da representação social de riqueza, evocados por moradores de áreas consideradas de exclusão.

Fonte: Banco de Dados de Álvares Machado, 2008. Organização dos Dados: Luciano Antonio Furini.

No Quadro 1, o quadrante superior esquerdo apresenta os elementos

evocados com maior freqüência e em primeiras ordens. São eles: SAÚDE,

CASA, NUNCA-PENSOU-NISSO, DINHEIRO, VIDA-BOA, MELHORES-

CONDIÇÕES-DE-VIDA e CONFORTO, elementos que podem pertencer ao

núcleo central da representação social. Não agregamos termos como VIDA-

BOA, MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA e CONFORTO em um único

significado para permitir maior visibilidade de algumas particularidades

encontradas. No entanto consideraremos em conjunto os termos com

significados semelhantes quando assim a análise permitir. Ademais, na

opção oferecida pelo programa NETTOIE que compõe o software EVOC já

foram agrupados vários termos de significado muito semelhante.

Este sistema central mostra que a representação social de riqueza,

está ligada ao caráter da mudança que a riqueza pode significar. Ter CASA,

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO

Inferior ou igual a

2,0 Superior a

2,0

256 SAÚDE 1,7 116 CARRO 2,3

202 CASA 1,6 111 AJUDAR 2,0

169 NUNCA-PENSO-NISSO 1,0 71 FAMÍLIA 2,5

124 DINHEIRO 1,8 53 TRABALHO 2,3

80 VIDA-BOA 1,8

70 MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA 1,9

55 CONFORTO 1,8

Acima ou

igual a

50

20 NÃO-E-TUDO 1,5 49 DEUS 2,0 20 NUNCA-QUIS-SER-RICO 1,0 48 EDUCAÇÃO 2,8

47 PAZ 2,6 45 FELICIDADE 2,5 37 FILHOS 2,2 29 VIAGENS 2,8 24 LAZER 2,8 21 BEM-ESTAR 2,3 17 AMIZADE 3,0 16 AMOR 2,8 16 COMPRAR 2,5

F R E Q U Ê N C I A

De 16

A 49

95

VIDA-BOA, MELHORES-CONDIÇÕES-DE-VIDA, CONFORTO e SAÚDE são

condições que poderiam ser alcançadas pela posse de DINHEIRO, mas

também revela certa indiferença presente na representação dos moradores

quando evocam a frase NUNCA-PENSO-NISSO. O termo SAÚDE pode fazer

referência também à negação da riqueza material – riqueza é ter saúde –

para muitos a verdadeira riqueza parece não se restringir a bens materiais.

Considerando que os elementos do sistema central da representação

são os mais resistentes às mudanças e menos sensíveis ao contexto

imediato, notamos que o aspecto positivo da riqueza, e sua incorporação

enquanto meta de vida, embora nem sempre explícita, é central. Contudo,

é possível, que no decorrer da vida, algumas características da riqueza –

esta tomada enquanto acumulação e excesso de bens – passem a significar

o todo riqueza, em virtude da impossibilidade social de atingir tal padrão de

vida. As figuras de linguagem formadas – neste caso elaboradas como

sinédoque - remetem ao cerne dos conceitos de objetivação e ancoragem,

já que o sentido da estranha, ou distante, riqueza é preenchido de acordo

com elementos próprios do segmento populacional pesquisado.

Os elementos do sistema periférico são os mais sensíveis ao contexto

imediato. Eles apontam para uma representação que revela a distância

entre a realidade que o vivido permite e o ideal de riqueza enquanto meta

quase inatingível. Desse modo os elementos do sistema periférico indicam

certa aceitação de outros elementos sociais como ícones de riqueza, agora

não somente ligados aos bens materiais.

No quadrante superior direito encontramos os elementos CARRO,

AJUDAR, FAMÍLIA e TRABALHO. O elemento CARRO, devido sua freqüência

e posição na ordem de evocações, pode ser elevado ao nível do sistema

central juntando-se aos elementos relativos aos bens materiais. O elemento

AJUDAR pode estar relacionados às dificuldades que os moradores

enfrentam em diversas situações, a ajuda mútua parece conferir valores e

significados à riqueza que mostram tanto a existência de outras

necessidades sociais, para além das materiais, quanto a importância das

redes sociais para a sobrevivência em certas situações.

No entanto essa AJUDA identificada parece referir-se em maior grau

aos familiares, desse modo, se por um lado o elemento FAMÍLIA surge

como positivo, quando significa certo âmbito de proteção aos semelhantes,

por outro, pode significar acirramento das desigualdades quando tais

96

qualificações positivas da riqueza são polarizadas aos familiares fechando-

se importantes canais de solidariedade comunitária e participação política.

Essa referência aos familiares foi identificada em outros elementos do

sistema periférico como EDUCAÇÃO e FELICIDADE. Aliás, o impulso que

restringe as referências da representação de riqueza ao âmbito familiar é

significativo.

Já no quadrante inferior esquerdo os elementos NÃO E TUDO e

NUNCA QUIS SER RICO estão relacionados à indiferença que o elemento

NUNCA PENSO NISSO pode expressar. Não é possível termos certeza do

movimento que estes termos realizaram neste núcleo central, contudo pode

ter relação tanto com uma resignação de cunho religioso, quanto com a

assimilação da difícil possibilidade de se chegar a ser rico a partir das

condições que enfrentam.

No quadrante inferior direito são encontradas referências que podem

indicar como a riqueza é assimilada no vivido. Referências religiosas – fé

em DEUS – e sentimentais – PAZ, FELICIDADE, AMIZADE E AMOR – podem

revelar outras possibilidades do sentido da riqueza para esses moradores.

As desigualdades sociais e o processo de exclusão deixam evidente que a

meta riqueza é uma raridade e que outros valores são tanto ou mais

significativos, quanto mais acessíveis, embora esses outros valores ainda

tenham forte referência para com os familiares, neste quadrante

representado pelo termo FILHOS. Já os termos LAZER, VIAGENS e

EDUCAÇÃO parecem sugerir que alguns ícones da riqueza – neste caso mais

relacionados aos bens materiais – são pontos essenciais para se atingir a

riqueza ou ao menos padrões que chegam a tangenciá-la.

Como enfatizado, os elementos do sistema central são mais

resistentes às mudanças e os do sistema periférico são mais adaptáveis,

podendo chegar a pertencer ao sistema central. Do mesmo modo os

elementos do núcleo central podem perder centralidade e pertencer ao

sistema periférico. Essas alterações dependem das especificidades do

processo histórico para cada grupo social.

A representação social de riqueza remete a uma expectativa de

transformação do espaço geográfico em que o vivido dos moradores ganha

novo sentido social. A percepção das dificuldades dessa transformação

profunda leva os moradores a representar certas necessidades básicas

como riqueza. CASA, SAÚDE e EDUCAÇÃO parecem ganhar centralidade,

97

embora o grau de evocação do termo DINHEIRO ainda seja bastante

relevante.

Em termos de princípio parece possível identificarmos a seguinte

teoria do senso comum: Sabemos que para a sociedade atual ser rico é TER

em fartura bens materiais e poder, e de certo modo concordamos com isso,

mas as dificuldades que enfrentamos fazem-nos valorizar aspectos do SER

como aqueles ligados a ajuda, amor, felicidade e paz. Porém nosso universo

do SER é restrito, assim os bens que almejamos ou cultivamos – materiais

ou imateriais – são importantes desde que beneficiem meu EU, por meio de

parentes e amigos, já que uma sociedade sem desigualdades sociais parece

inatingível, para que eu possa incluir o OUTRO nos meus planos.

Nesta análise, mostramos como estão estruturados alguns saberes de

um segmento populacional composto por moradores que vivem as

dificuldades próprias das áreas consideradas de exclusão ou convivem

próximos estes moradores. Estes saberes não revelam a verdade ou a

falsidade da realidade, apenas a representação do grupo sobre a mesma.

Assim, nos contentamos em identificar aspectos possíveis das relações

entre essas representações sociais e algumas práticas efetivas do vivido,

buscando, nessa identificação, os significados e os símbolos, e como estes

podem influenciar nas tomadas de posição, já que “a influência das

representações sobre as práticas não pode, portanto, ser vista como

determinante e sim como uma forma de coerção” (ALVEZ-MAZZOTII, 2005,

p. 145).

Nunca é demais enfatizar tal especificação, uma vez que muitas pesquisas fazem, com base nas representações encontradas, inferências deterministas sobre como estas representações afetarão as práticas, sem considerar as mediações representadas por características da situação e pelas relações sociais nela estabelecidas. Além disso, mesmo quando as práticas sociais são focalizadas, elas frequentemente são investigadas através dos discursos dos atores, trabalhando-se, portanto, sobre práticas representadas e não sobre as práticas efetivas. Para superar esses problemas, a utilização de técnicas de observação é essencial. (ALVEZ-MAZZOTII, 2005, p. 146)

De acordo com as observações e os questionários notamos que a

renda familiar de 21% dos entrevistados era de até 1 salário mínimo, e de

outros 56% era entre 1 e 3 salários mínimos, com uma média geral de 3,8

pessoas por família. O grau de escolaridade de aproximadamente 59% dos

98

entrevistados atingia apenas até no máximo a 4ª série do primeiro grau.

Esse quadro mostra como a condição de vida desse segmento populacional

é repleta de vulnerabilidades que embora possam gerar justificativas para

indignação e manifestações, também podem influenciar na assimilação da

indiferença e da adaptação para conseguir sobreviver. Avançar no

entendimento dessas particularidades pode revelar aspectos importantes

sobre fatores que podem potencializar políticas públicas e seus efetivos

resultados, como o aumento da participação popular nas diversas questões

sociais, as formas de coerção a partir dos saberes hegemônicos, ou a

ausência de lutas significativas contra processos excludentes.

3.2. RANCHARIA

3.2.1. Visão geral e análise dos dados

Os dados referentes ao município de Rancharia aqui apresentados

foram agrupados a partir de metodologia de busca de dados de diferentes

fontes estatísticas de informação (nacional e estadual). Tais dados foram

elaborados e associados com o objetivo de contribuir para uma análise da

exclusão social e dos circuitos de pobreza, tema central do projeto

“Circuitos urbanos da exclusão social”.

Em um primeiro momento tais dados foram selecionados e agrupados

para substanciar o relatório final para a elaboração do Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Rancharia realizado pelo

Departamento de Planejamento da FCT/UNESP e seguem o mesmo

interesse do projeto em questão, ou seja, apontar elementos de

desigualdade intra-urbana que podem e devem ser motivo de

desenvolvimento e aplicação de políticas públicas municipais.

Nesse sentido é importante deixar claro que foram utilizados dados

secundários gerados principalmente pelo IBGE (fonte nacional) e pelo

SEADE (fonte estadual) o que não permitiu uma análise apenas das áreas

mais específicas consideradas de exclusão social como foi o caso de Álvares

Machado. Embora esse tipo de limitação se faça presente tais dados

possibilitam a elaboração de análises sob contextos das realidades locais,

regionais e estaduais o que pode ajudar no entendimento dos processos

99

sempre amplos e complexos de origem, reprodução e manutenção das

situações de pobreza e desigualdade no nível local.

Para tanto a metodologia foi desenvolvida no sentido de agregar

dados locais e regionais que expressassem várias facetas que poderiam

auxiliar na compreensão de situações da pobreza urbana nas cidades

estudadas que compreenderam indicadores demográficos, econômicos e

sociais.

Após o processamento de cada um dos conjuntos desses dados, os

setores censitários foram hierarquizados da melhor à pior situação, sendo

que cada um recebeu uma nota de acordo com sua posição no ranking

gerado (nota 1 para a melhor situação, 2 para a situação intermediária e 3

para a pior situação). Dessas notas individuais por sua vez, foi gerada a

nota média de cada setor que reflete sua posição no contexto das demais,

possibilitando que fosse gerado o mapa síntese da desigualdade.

Em uma análise bastante rápida podemos observar que o mapa

obtido é bastante didático, no sentido de localizar as desigualdades no

interior da cidade, revelando uma situação em que os setores localizados na

Mapa 13 – Setores de inclusão, exclusão e setores intermediários - Rancharia Fonte: CEMESPP

100

porção sudoeste como aqueles que apresentam sistematicamente os piores

indicadores, frente aos demais setores.

Podemos observar que apenas seis setores estão nesta situação (que

corresponde a 17% dos setores) enquanto que os setores intermediários

correspondem a 44% dos setores (16) e os de inclusão social, com os

melhores indicadores correspondem a 39%.

Tal mapa pode, portanto, direcionar as ações substantivas dos Poder

Público local, seja no que se refere às ações, programas e projetos

prioritários, seja nas estratégias relacionadas ao Próprio Plano Diretor.

Se do ponto de vista quantitativo a situação apurada revela um baixo

número de setores em situações de precariedade, vulnerabilidade ou

mesmo risco para suas populações, do ponto de vista da comparação com o

restante da cidade é possível afirmar que se trata de um contingente

populacional e mesmo de número de domicílios significativos, frente à

realidade urbana de Rancharia. Senão, vejamos os dados sintetizados na

tabela 18:

TABELA 18 - Síntese dos setores, segundo indicadores selecionados

Setores Quantidade de

setores Percentual

da população Percentual

de domicílios Hab/dom

Exclusão Social 7 23,8 21,9 3,6

Intermediários 16 46,6 46,7 3,5

Inclusão Social 13 29,6 31,4 3,1

Fonte: Censo IBGE – EstatCart 2000 e CEMESPP Organização: CEMESPP

A tabela mostra que aproximadamente 24% da população e 22% dos

domicílios da cidade encontram-se em situação de exclusão social, com uma

média, inclusive maior, de moradores por domicílios que o conjunto dos

demais setores, sugerindo a necessidade de um olhar mais apurado sobre

tais áreas urbanas.

Tomado sob esta perspectiva, o processo de produção e reprodução

das desigualdades sociais e territoriais, assume um lugar não desprezível na

apreensão desta realidade urbana, ficando claro também a importância de

uma análise mais detalhada da realidade dos setores de exclusão social.

101

3.2.4.1 Rancharia: informações intra-urbanas.

A partir da metodologia de coleta de informações dos processos de

exclusão social de Rancharia conforme apresentado na metodologia abaixo

transcrevemos algumas tabulações descritivas dos dados agregados pelos

setores intra-urbanos de acordo com a classificação prévia em setores de

inclusão, exclusão e intermediário. Foram realizadas freqüências simples de

cada variável verificada no formulário de observação rápida do ambiente

urbano do município.

Em relação aos aspectos físicos das vias de rolamento foram

coletadas informações sobre a pavimentação das vias; classificação em

estreitas, médias, largas ou avenidas; existência de sinalização horizontal e

vertical. Ao que tange à parte das calçadas, foram levantadas informações

sobre suas metragens e classificação também em estreitas, medias ou

largas.

Foram observadas as coberturas de serviços públicos de infra-

estrutura básica nos ambientes urbanos, tais como rede de água e esgoto,

cabeamento de telefonia fixa, rede de energia elétrica, bocas de lobos

(bueiros) para escoamento de águas pluviais, freqüência de coleta de lixo,

existência de telefones públicos (“orelhões”) e iluminação pública.

Nas tabelas, optamos por apresentar os percentuais das perdas de

informações para uma vez que não foram feitas ponderações de cada setor

no total da cidade.

As tabelas 19, 20, 21, 22 e 23 referem-se aos aspectos das vias

públicas em cada grupamento de setores classificados em de exclusão,

intermédio e de inclusão.

TABELA 19 – Existência de vias não pavimentadas nos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 4,2

Não 91,9 78,9 85,3 Sim 5,6 15,7 10,5

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

102

TABELA 20 - Vias estreitas nos setores* **

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,6 4,2 Não 96,1 83,3 89,1

Sim 1,4 11,1 6,6

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

** OBS: foi considerada via estreita a rua com menos de 7 metros. Organização: CEMESPP

TABELA 21 - Vias de média largura nos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,6 4,2 Não 55,96 43,6 33,1

Sim 41,6 50,9 62,7

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

TABELA 22 - Vias largas nos setores* **

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,6 4,2

Não 49,2 66,1 76,2

Sim 48,3 28,3 19,6

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) ** OBS: foi considerada via larga a rua com mais de 9 metros. Organização: CEMESPP

TABELA 23 - Existência de avenidas nos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,63 4,2

Não 93,3 89,8 88,7 Sim 4,2 4,6 7,1

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP Em relação às cinco tabelas (19, 20, 21, 22 e 23) acima,

diferentemente das outras variáveis, não são sensíveis para descrever

manifestações de processos de exclusão impressos no desenho urbano, ou

podem até mesmo soar como contraditórias uma vez que são os setores

classificados como de inclusão que possuem maior percentual de vias

103

largas. No entanto, em municípios de médio porte os traçados das ruas não

sofreram grandes modificações desde a fundação dos mesmos, podendo

mesmo se transformar em variáveis que denotam a qualidade do espaço

intra-urbano. Porém, a análise dessa variável funciona como motivo de

revisão do instrumento e seu posterior aprimoramento.

As tabelas 24, 25 e 26 dadas as diferenças entre os percentuais e por

denotarem ações do poder público de rápida concretização, já nos fornecem

algumas pistas sobre os processos em estudo neste projeto.

TABELA 24 - Existência de sinalização do nome da rua nos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 4,5 6,8 5,0 Não 62,0 65,5 67,3

Sim 33,5 27,7 27,7

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 25 - Existência de sinalização horizontal nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 3,1 6,0 5,0

Não 88,5 82,8 70,5

Sim 11,2 11,1 24,5

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 26 - Existência de sinalização vertical nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 3,4 5,9 4,9 Não 83,8 76,0 60,3

Sim 12,8 18,1 34,8

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

No caso particular de Rancharia, a diferença percentual entre a

existência de sinalização viária, tanto horizontal quanto vertical, expressa a

justaposição entre o centro da cidade e a classificação como setores de

inclusão. Quanto à existência de placa de rua, o pequeno percentual maior

que verificamos nos setores de inclusão pode, provavelmente, significar a

104

consolidação do centro como “lugar conhecido” e podendo dispensar

nomeações. No entanto essa pequena contradição sugere que necessitamos

de maiores aprofundamentos no problema.

Abaixo descrevemos um aspecto importante, a nosso ver, acerca de

um dos itens do conforto e segurança urbana para o pedestre, e que pode

sugerir, ou indicar, maior vigilância do poder público, e mesmo da

preocupação da esfera da vida privada, com a possibilidade de usufruir do

espaço público de trânsito com melhor comodidade (tabela 27, 28, 29 e

30). Esse é um aspecto que pode expressar urbanisticamente condições de

inclusão e exclusão.

TABELA 27 – Calçamento inexistente nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 3,9

Não 71,5 67,4 78,6

Sim 26,0 27,2 17,5

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 28 - Calçadas estreitas nas ruas dos setores* **

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 3,9 Não 91,6 90,8 92,5 Sim 5,9 3,8 3,6

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

** calçamento estreito foi considerado calçadas menores de 0,60m Organização: CEMESPP

TABELA 29 - Calçadas médias nas ruas dos setores *

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 3,9

Não 32,7 49,9 63,0

Sim 64,8 44,7 33,1

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

105

TABELA 30 - Calçadas largas nas ruas dos setores* **

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 3,9 Não 74,3 52,5 37,3

Sim 23,2 42,1 58,8

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) * calçamento largo foi considerado aquela calçada com mais de 1,20 m.

Organização: CEMESPP

Em todos os itens levantados acerca das calçadas podemos inferir

que os padrões de exclusão e inclusão se expressam de alguma maneira.

Passeios públicos calçados e largos, em Rancharia estão em número

percentual maior nos setores de inclusão. O item conforto em caminhar nas

calçadas da cidade pode indicar que, as áreas ou setores onde isso ocorre,

possibilita uma forma de inclusão citadina.

As tabelas 31, 32, 33, 34, 35 e 36 referem-se a alguns itens de infra-

estrutura básica que tem a natureza de serem disponíveis dentro da casa

dos moradores ou que retiram resíduos das mesmas.

TABELA 31 – Abastecimento de água nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,5 5,4 3,9

Não 74,3 52,5 37,3 Sim 23,2 42,1 58,8

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 32 – Esgotamento sanitário nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,2 5,7 3,9 Não 0,0 1,7 0,3

Sim 97,8 62,8 95,8

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

106

TABELA 33 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,2 5,7 3,9 Não 0,0 1,7 0,3

Sim 97,8 62,8 95,8

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 34 – Fornecimento de energia elétrica nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,2 5,7 3,9

Não 0,0 1,6 0,0 Sim 97,8 92,7 96,1

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 35 – Cabeamento telefônico nas ruas dos setores*

Setores Gabarito Exclusão (%) Intermédio (%) Inclusão (%)

Sem informação 2,2 5,6 3,9

Não 0,6 18,0 10,0 Sim 97,2 76,5 86,1

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas)

Organização: CEMESPP

TABELA 36 – Número de vezes por semana da Coleta de lixo sólido nas ruas dos setores *

Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão

Sem informação 2,5 5,9 13,0 0 0,0 0,8 0,2 1 0,0 0,3 1,0 2 15,9 7,9 7,3 3 79,9 85,1 76,3 5 0,0 0,0 0,0 6 0,8 0,0 2,3 7 0,8 0,0 0,0

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

107

As tabelas acima explicitam uma realidade típica das cidades médias

e pequenas do interior do estado de São Paulo, os bens de consumo

coletivo típicos como abastecimento de água, esgoto coleta de lixo são

extensivas a toda a malha urbana. Com diferenças mínimas de freqüência

de coleta de sólidos - que pode inclusive ter sido conseqüência de erro de

preenchimento do roteiro – todos os serviços não podem ser indicados

como diferencias ou discriminadores de processo de inclusão/exclusão.

As tabelas 37 e 38 a seguir referem-se à quantidade de telefones

públicos e bocas de lobo nas faces de quadra verificadas.

TABELA 37 – Número de “orelhões” existentes nas ruas dos setores *

Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão

Sem informação 2,2 5,7 3,6

0 94,1 90,9 92,7 1 3,6 3,3 3,2

2 0,0 0,0 0,3

3 0,0 0,0 0,2

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

TABELA 38 – Número “bocas de lobo” existentes nas ruas dos setores *

Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão

Sem informação 2,5 5,7 3,9

0 94,1 80,1 83,8

1 2,8 12,1 11,8

2 0,6 0,6 0,3 3 0,0 0,5 0,2

4 0,0 0,3 0,0

5 0,0 0,3 0,0

6 0,0 0,3 0,0

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

Tal qual os serviços públicos de consumo coletivo discutidos

anteriormente o telefone público também não se mostra sensível para

expressar diferenças entre setores de inclusão e exclusão. Porém o item

“boca de lobo” parece indicar um certo padrão de urbanismo em que alguns

itens de conforto urbano (escoamento de águas pluviais impedindo

alagamentos e ruas intransitáveis aos pedestres em dias de chuvas) são

108

desprezados em áreas de moradias de populações de baixa renda e pouco

poder de pressão políticas.

As tabelas 39 e 40 são descrições da existência e tipo de lâmpada

utilizada na iluminação pública, também a existência de árvores nas faces

de quadras, bem como seu porte.

TABELA 39 – Tipo de lâmpada utilizada na iluminação pública nas ruas dos

setores * Setores

Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão

Sem informação 48,9 58,5 51,1

Sem lâmpada 0,0 0,2 1,0

Incandescente 0,3 7,9 8,9

Mercúrio 0,0 0,8 0,5

Sódio 50,8 32,6 38,6 Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

TABELA 40 – Número árvores existentes nas ruas dos setores *

Setores Gabarito Exclusão Intermédio Inclusão

Sem informação 2,2 5,7 4,2

0 31,3 18,6 19,4

1 8,9 9,2 8,4

2 11,7 12,1 14,6

3 12,3 11,9 11,5

4 10,3 10,3 10,0 5 7,3 8,4 9,2

6 7,8 6,4 5,7

7 2,2 4,6 4,4

8 2,0 4,0 3,4

9 1,4 1,7 2,9

10 0,8 2,5 1,9

+ de 10 1,8 4,6 4,4

Fonte: Banco de Dados de Rancharia, 2008 Nota: * (% das faces de quadras verificadas) Organização: CEMESPP

A tabela sobre iluminação pública, em virtude de seu alto índice de

não resposta, dificulta uma análise mais apurada sobre as características de

área do processo de inclusão/exclusão. Na segunda tabela que contabiliza a

existência de árvores nas vias públicas também pode levar à falsa análise,

uma vez que seria necessário estudar melhor o tempo de urbanização de

cada setor. Porém, para o caso de Rancharia indica maior preocupação com

as áreas de inclusão uma vez que ambos os grupos de setores, de inclusão

e exclusão têm o mesmo tempo de fundação. Mesmo sendo nos arredores

109

de uma cidade média, os setores de exclusão são menos arborizados que os

demais setores, indicando maior conforto urbano nestes últimos, reforçando

os processos de exclusão.

A análise das variáveis, acima descritas, nos fornece pistas seguras

de que essa forma de aproximação dos processos de exclusão pode e deve

ser reproduzida em cidades médias. Mesmo não tendo disparidades

gritantes de condições de habitação e moradia em seu interior foi possível

verificar sinais de processos de exclusão que se expressam na paisagem

urbana e que pode complementar outras metodologias no entendimento do

objeto desse projeto.

3.3. TARABAI

3.3.1. A avaliação do processo de mapeamento e utilização da

metodologia na política pública

Por se tratar de uma cidade das mais frágeis da Região, buscamos

representar e compreender as configurações do intra-urbano numa

realidade de pequeno porte. É preciso mencionar, que ainda que as leituras

e os padrões de desigualdade social sejam bastante diferenciados em

relação às cidades de maiores faixas populacionais, e que pobres e ricos

esteja bastante mesclados pelo tecido espacial urbano, é possível identificar

áreas prioritárias para a definição das políticas públicas.

Em primeiro lugar, depois de todo o trabalho com a formação,

seguido da formatação das bases cartográficas, como o “Eixo de Ruas” da

cidade e os “Setores Censitários Urbanos”, foi feito o mapeamento temático

fazendo uso do Censo 2000, a partir dos quais pudemos compreender

algumas estruturas espaciais e sociais de Tarabai.

110

Analisando o mapa de distribuição da população por setores

censitários (ver mapa 14) conjuntamente com o banco de dados,

verificamos que a parte sul da cidade, mais especificamente a parte que

corresponde aos setores 3 e 4, num universo de nove, concentram 35,55%

da população urbana, que representam 2057 habitantes.

Ao analisar os dados referentes à renda, verificamos que na parte sul

da cidade, em ligeira oposição à parte norte, estão os mais significativos

índices de vulnerabilidade. O mapa 15 nos mostra aspectos relacionados a

variável renda:

Mapa 14 – População residente urbana da cidade de Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

111

Ainda que, a princípio, não tenhamos chegado à elaboração de um

mapa de exclusão social, que nos mostrasse os setores mais vulneráveis

socialmente, podemos atestar essas disparidades entre norte e sul. De

posse dessas informações mais básicas, a partir do Censo 2000, tomamos

os dados levantados localmente para o mapeamento e análise das políticas

públicas. Uma dimensão interessante no processo de mapeamento esteve

na possibilidade de avaliação dos impactos dessas políticas. Confrontando

os dados do IBGE com os dados dos programas sociais levados a cabo pela

Secretaria da Assistência Social, foi possível saber se os esforços estavam

sendo dirigidos para as parcelas da cidade que de fato deveriam ser

atendidas. Face a isso, identificamos duas situações de políticas públicas

sociais. Uma primeira, mais criteriosa, que atinge a população que dela

realmente necessita, e outra, que sendo menos criteriosa, tem um desvio

de foco. Vejamos os mapas 16, 17, 18 e 19, que dizem respeito aos

rendimentos dos chefes de família com base no Censo 2000 do IBGE:

Mapa 15 – Renda média por setor censitário em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

112

Mapa 17 – Percentual de responsáveis que ganham até meio salário mínimo em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP

Mapa 16 – Percentual de responsáveis sem rendimento em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP

113

Mapa 18 – Percentual de responsáveis que ganham de ½ a 1 salário mínimo em Tarabai –SP Fonte: CEMESPP

Mapa 19 – Responsáveis que ganham de 1 a 3 salários mínimos em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

114

Complementando nossa análise, nos parece que os dados que

compõem o CadÚnico (Cadastro Único) da Assistência social representados

em dados absolutos, revelam uma estrutura espacial mais clara. É

importante mencionar que, ainda que não haja bolsões de pobreza nessas

pequenas cidades, é possível encontrar sutilezas no sentido de entender e

avaliar os impactos das políticas sociais. Vejamos, então, esses mapas

sócio-econômicos (mapas 20 e 21) gerados a partir do CadÚnico:

Mapa 20 – Famílias com renda per capita de seis a setenta reais em Tarabai – SP (CadÚnico) Fonte: CEMESPP

115

As famílias cadastradas no CadÚnico, com os menores rendimentos

apresentam uma concentração na parte Sul da cidade, enquanto que na

parte nordeste está o setor com os maiores rendimentos.

Projetos, como o “Renda Cidadã”, que são mais criteriosos, têm um

atendimento bastante focalizado, ou seja, no presente caso, exatamente

nos setores mais vulneráveis. Vejamos o mapa de cobertura do Programa

“Renda Cidadã”.

Mapa 21 - Famílias com renda per capita de setenta a cem reais em Tarabai – SP (CadÚnico) Fonte: CEMEPP

116

Da mesma forma, as famílias cadastradas no CadÚnico, que nos dá

uma orientação da população alvo dos programas sociais, como o Bolsa

Família, também atinge as áreas mais vulneráveis. Segundo levantamentos

que fizemos, o Cadastro contava com 1184 famílias, com 1007 que

possuem perfil para o Bolsa Família, e 381 que efetivamente estão sendo

atendidas pelo programa. Levando-se em consideração que a cidade

contava com aproximadamente 1600 famílias, podemos chegar a conclusão

que é altíssima a vulnerabilidade na cidade como um todo, pois mais de

62% da população estaria numa situação de precariedade social, que a

habilita a receber atenção do Estado.

Vejamos agora o mapa 23 que nos mostra a espacialização da

população cadastrada no CadÚnico.

Mapa 22 – Programa Renda Cidadã em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP

117

O mesmo pôde ser verificado em relação a outros projetos sociais

como o “Ação Jovem” e o “Viva Leite”, como pode ser constatado nos mapa

24 e 25, a seguir.

Mapa 23 – Cadastro Único de Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

118

Mapa 24 – Programa Ação Jovem em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

Mapa 25 – Programa Viva Leite em Tarabai - SP Fonte: CEMESPP

119

Por outro lado, o projeto “Esporte Social”, menos criterioso, possui

uma certa distorção no atendimento, se comparado com o mapa de

concentração da população infanto-juvenil e com o mapa de rendimentos

médios por setor já apresentado mais acima. Para compreender essa

situação, vejamos primeiro o mapa das ocorrências registradas pelo

Conselho Tutelar, sobreposto ao mapa da população infanto-juvenil:

É possível nesse mapa verificar uma grande concentração da

população de 0 a 17 anos de idade, assim como a concentração de

ocorrências do Conselho Tutelar, na parte sul da cidade, o que nos aponta

para a necessidade de programas sociais nesses setores urbanos. No

entanto, os programas menos criteriosos não chegam onde deveriam de

fato chegar. Vejamos:

Mapa 26 – População de crianças e jovens e ocorrências do Conselho Tutelar em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP

120

O mapa revela que o projeto atende, majoritariamente, a área que

está entre as menores concentrações da população infanto-juvenil, assim

como os mais altos rendimentos. Trata-se de uma distorção de

atendimento, que pode ser facilmente equacionada ao se fazer uso das

ferramentas de geoprocessamento, que mostre as configurações territoriais.

Mapa 27 – Projeto Esporte Social em Tarabai – SP Fonte: CEMESPP

121

Capítulo 4:

Síntese e Perspectivas

122

Ao término desse relatório de pesquisa, gostaríamos de destacar

algumas conclusões significativas do estudo realizado em Álvares Machado

e Rancharia, assim como em Tarabai. Tais conclusões dizem respeito ao

nosso conhecimento das condições de vida e dos processos excludentes em

áreas urbanas não metropolitanas e, ao mesmo tempo, dos desafios

metodológicos que exige a avaliação de políticas públicas.

A cidade pequena, acertadamente, é um fenômeno espacial dos mais

importantes do nosso país e precisa ser objeto de preocupação e reflexão,

no sentido de contribuir para o aprimoramento do processo de gestão e de

tomada de decisão. Trata-se de um tipo de cidade que pode ter

características muito diferenciadas, mesmo ao se considerar faixas

populacionais tão próximas. Do ponto de vista da percepção dos fenômenos

espaciais, certamente, as leituras poderão ser bastante distintas, por

exemplo, entre uma cidade de 5 mil habitantes e uma outra de 45 mil. No

entanto, é possível estabelecer/criar procedimentos metodológicos que

ajudam a pensar o território urbano e, por conseguinte, planejar de forma

mais eficiente as políticas sociais. Para isto, é preciso destacar os seguintes

aspectos:

• apesar de não possuírem favelas ou cortiços,

observamos que nos bairros onde reside a população mais pobre há

uma precariedade das habitações, tanto em termos do conforto

térmico como das condições de luminosidade e ventilação;

• por ainda apresentarem uma estrutura monocêntrica, os

lotes mais valorizados da área urbana estão localizados próximos da

praça central da cidade e os bairros mais carentes situam-se na

periferia mais distante;

• mesmo que as distâncias intra-urbanas possam ser

percorridas à pé ou de bicicleta, uma vez que se trata de pequenas

cidades, por meio da pesquisa qualitativa é possível afirmar que

talvez as distâncias sociais sejam ainda maiores do que a realidade

metropolitana, onde o convívio dos diferentes é inevitável em função

da alta densidade demográfica;

• o baixo dinamismo econômico dos municípios estudados

é traço marcante, o que aumenta o peso das ações do poder público

e das políticas públicas e programas de melhor distribuição de renda

nas realidades estudas;

123

• a mobilidade espacial nos municípios estudados também

é uma característica peculiar, revelando a necessidade de maior

aprofundamento do papel das relações interurbanas no processo de

reprodução das desigualdades sociais;

• por fim, dentre os indicadores utilizados e elaborados na

pesquisa, como se tratam de cidades com baixo dinamismo

econômico, a inserção ou não no mundo do trabalho é um diferencial

fundamental em termos da valorização social das famílias.

No que se refere aos aspectos metodológicos, cabe dizer que o grupo

de pesquisa, durante muito tempo, se preocupou, basicamente, com

mapeamento intra-urbano focalizado em cidades de porte médio, sendo

Presidente Prudente, num primeiro momento, laboratório privilegiado de

análises sociais e territoriais. Em seguida, várias outras cidades de porte

médio do interior do Estado de São Paulo foram alvos de preocupação. Até

então, se tratava de cidades com uma malha urbana considerável, cujo

acesso aos dados territoriais e às bases cartográficas digitais era

relativamente fácil.

Muito recentemente, passamos a nos preocupar com pequenas

cidades que, geralmente, mostram grandes dificuldades para acessar dados

e gerar informações. Aqui, freqüentemente, entram em discussão os níveis

de análise espacial e as escalas geográficas, pois os fenômenos espaciais

analisados, a leitura que deles poderá ser feita e as formas de expressão

cartográfica, se processarão de formas diferenciadas. Em função disso, foi

preciso pensar uma metodologia que abrisse possibilidades de leituras

espaciais em cidades de pequeno porte. Neste caso, nos deparamos com a

necessidade de manter certa flexibilidade para adequar os procedimentos

metodológicos às especificidades de cada localidade, sem perder, é claro, a

possibilidade de comparabilidade com outras realidades. Esse é um grande

desafio dos grupos de pesquisa que se dedicam a compreender melhor as

cidades pequenas.

No Brasil, em se tratando de municípios, 4.999 possuem uma

população inferior a 50 mil habitantes, segundo projeção populacional para

o ano de 2007 (IBGE). Ou seja, isso representa 89,91% dos municípios

brasileiros. Problematizando a questão, a pesquisa realizada pelo IBGE

sobre as “Regiões de Influência das Cidades” (2007), estabelece cinco

124

níveis hierárquicos de cidades em função de suas respectivas importâncias.

Sendo assim, nos primeiros quatro níveis, ou seja, aqueles que definem as

cidades com alguma importância para além dos seus limites municipais,

foram incluídas 807 cidades. Por outro lado, no último, denominado “centro

local”, inclui aquelas que não exercem nenhuma influência para fora dos

limites da sua jurisdição, é o caso de 4.763 cidades, ou seja, cerca de

85,66% do total das cidades brasileiras.

Nas cidades pequenas, com freqüência, não existe aquilo que

poderíamos denominar de “cultura informacional”, ou seja, não é uma

prática corrente o uso da informação para planejar, executar e avaliar as

ações do poder público. Quase sempre, as estratégias elaboradas se dão

muito em função do que pensa o gestor municipal sobre a sua cidade.

Quando falamos nisso não se trata apenas de dados prontos elaborados por

um técnico distante da prefeitura, mas sim de todo o processo de

construção dos indicadores in loco, passando pelo tratamento dos dados até

chegar ao uso informação no nível intra-urbano e porque não

intramunicipal. Isso inclui o uso das ferramentas tecnológicas (no nosso

caso, fundamentalmente, MapInfo e Excel) e o processo de geração de

dados (numéricos e alfanuméricos, cadastros e bases cartográficas) e, em

seguida de informações (percentuais, índices e mapas temáticos).

Um outro aspecto metodológico importante do trabalho realizado foi o

objetivo de integrar procedimentos quantitativos e qualitativos. O uso das

ferramentas do EVOC e a análise do núcleo central demonstraram um

caminho de rico a ser explorado. Para o presente relatório, aplicamos tais

ferramentas apenas em um exemplo (a cadeia semântica da palavra

riqueza). Muitos outros dados estão disponíveis para serem analisados por

membros do grupo e resultarão em publicações e parâmetros para novas

pesquisas na forma de teses, dissertações e monografias. O livro, no prelo,

constitui-se em um bom exemplo da produção do grupo (ver Anexo 5).

Por fim, o período de realização da pesquisa abriu possibilidades de

novas parcerias. No caso de Rancharia, o processo eleitoral resultou no

segundo mandato do prefeito que apoiou o projeto. Em Álvares Machado,

apesar de ter ocorrido alternância de poder, os contatos estão bem

adiantados entre o CEMESPP e a nova gestão municipal para a continuidade

dos trabalhos desenvolvidos em conjunto. Em ambos os casos, os contatos

estão mantidos, com reuniões periódicas dos membros do grupo às

125

prefeituras e novas equipes municipais e fica evidente que o Programa de

Políticas Públicas da FAPESP é muito importante para o fortalecimento de

pesquisas aplicadas no campo das políticas públicas, acima de disputas

eleitorais ou comprometimentos político-partidários.

A ampliação do trabalho iniciado será possível por meio do convênio

que está sendo firmado entre o CEMESPP e o CEPAM (Centro de Estudos e

Pesquisas de Administração Municipal – Fundação Prefeito Faria Lima). A

proposta que está em elaboração, através de contatos permanentes e já

avançados com a Sra. Jô Ballanotti (com visitas e reuniões de trabalho

entre as equipes, seja em Presidente Prudente, seja em São Paulo), é de

transferir a tecnologia desenvolvida com o apoio logístico do CEPAM, que

mantêm um estreito contato com as prefeituras dos municípios paulistas.

Desta forma, a pesquisa possibilitou uma enorme ampliação da inserção do

grupo de pesquisa no estado de São Paulo, o que exigirá uma nova forma

de planejar o trabalho em termos de metas e estratégias de estudo.

126

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