15
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : Julho/2014 a Agosto/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Trajetórias sociopolíticas de lideres camponeses e de seus aliados no Estado do Pará. Nome do Orientador: Gutemberg Armando Diniz Guerra Titulação do Orientador: Doutor Faculdade : Programa de Pós Graduação em Agriculturas Amazônicas Instituto/Núcleo: Núcleo de Ciências Agrarias e Desenvolvimento Rural Laboratório: Título do Plano de Trabalho: Trajetória de Francisco De Assis Solidade da Costa, liderança camponesa do Estado do Pará Nome do Bolsista: Thamires de Oliveira Santos Tipo de Bolsa : (X) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq AF ( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( )PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO (X) FINAL · 1 universidade federal do parÁ prÓ-reitoria de pesquisa e pÓs-graduaÇÃo diretoria de pesquisa programa institucional de bolsas

Embed Size (px)

Citation preview

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA,

UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : Julho/2014 a Agosto/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: Trajetórias sociopolíticas de lideres camponeses e de seus aliados no Estado do Pará. Nome do Orientador: Gutemberg Armando Diniz Guerra Titulação do Orientador: Doutor Faculdade : Programa de Pós Graduação em Agriculturas Amazônicas Instituto/Núcleo: Núcleo de Ciências Agrarias e Desenvolvimento Rural Laboratório: Título do Plano de Trabalho: Trajetória de Francisco De Assis Solidade da Costa, liderança camponesa do Estado do Pará Nome do Bolsista: Thamires de Oliveira Santos Tipo de Bolsa : (X) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF ( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( )PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

2

INTRODUÇÃO: Marcado por políticas públicas de reordenamento territorial, o Estado do Pará sobretudo a partir da década de 60 é palco de disputas entre atores diversos (posseiros, grileiros, fazendeiros, sindicalistas, indígenas, entre outros) sobre um mesmo objeto: a terra.

A necessidade de organização em torno da luta pela terra faz com que no meio de tantos atores sociais surjam protagonistas responsaveis pela representação de suas classes. Este poder representativo existe pelo fato de que um grupo de pessoas o legitima e o reconhece (BOURDIEU, 2014,p.14), criando um poderio simbólico, mas que existe por meio de formas de dominação (WEBER,1991,p.139).

O plano de trabalho intitulado “Trajetória de Francisco De Assis Solidade da Costa, liderança camponesa do Estado do Pará” é forma de expor não somente a trajetória pessoal de Francisco De Assis Solidade da Costa, mas explicita de que forma a História coletiva interfere e é assimilada na História individual de representantes de categorias sociais.

O espaço inicial da pesquisa é a Mesorregião do Sudeste Paraense, onde Francisco De Assis Solidade da Costa iniciou sua carreira política até alcançar status de liderança política no nível estadual.

A Mesorregião Sudeste é historicamente marcada por políticas públicas de reordenamento territorial, principalmente na década de 70 no século XX. Estas políticas agrediram os povos existentes naquele lugar assim como trouxe milhares de migrantes em busca do uso e da posse da terra. Neste contexto manifestam-se forças políticas locais para fazer frente aos interesses do grande capital. O sindicalismo rural praticado na região possue o status de força política institucionalizada e se manifesta na figura de representantes, que emergem de suas categproas sociais como é o caso de Francisco De Assis Solidade da Costa.

JUSTIFICATIVA: A liderança para Weber começa a partir do processo de dominação pautado em três características: confiança, obediência e legitimação. É necessário que exista relação de confiança entre o dominador e o dominado, para que este o obedeça da forma devida. O dominador não terá sua dominância legitimada pelo grupo se ele não estabelecer relação de obediência - que é o não julgamento de valor sobre a realização de determinada tarefa - e confiabilidade. Tal confiança e obediência existem embasadas em provas, leis ou tradições. Para Weber a dominação é: “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas.” (WEBER, 1991, p.139).

É importante ressaltar como surgem as lideranças sob a ótica do trabalho de Max Weber (1991) sobre dominação e tipos de lideranças, como é o exemplo da liderança do tipo carismática ou a legal. Ele entende carisma como “uma qualidade pessoal extra cotidiana” (Weber 1991, p.158). Para Weber a liderança carismática é pautada na confiança conquistada pelo líder através de seus atos. Isso faz com que ela seja uma forma de liderança comum no campo em que, as dinâmicas de produção e relações entre parentes, entre outras práticas sejam diferentes das vistas na cidade.

A biografia pertence a uma parte da História pautada na vida individual. Ela expressa a forma relacional da História cultural/social do lugar em que o biografado construiu sua trajetória. Segundo Priore(2009,p.10)

O indivíduo não existe só. Ele existe numa “rede de relações sociais diversificadas”.Na vida do indivíduo, convergem fatos e forças sociais, assim como o indivíduo, suas ideias, representações e imaginário convergem para o contexto social ao qual ele pertence.

3

Isto significa que o desenvolvimento individual está relacionado com a história coletiva, pois é a partir da sua atuação social que este cria sua história.

Do mesmo modo que se fala em individual e coletivo, pode-se também discutir sobre as formas de memória segundo Halbwachs(1990). Em resumo, pode-se afirmar que a memória individual não existe sem a coletiva, pois até o que consideramos mais intimo e individual é fruto da interação entre o homem e seu meio, e ambas são importantes para a construção da biografia. As biografias são partes que compõem a memória e história coletiva, afinal, por mais que a biografia seja de um indivíduo, ele constrói sua existência participando, cumprindo papéis e servindo a uma coletividade.

O campesinato em varias literaturas é visto como classe social pelo seu poder de criação e recriação de si mesmo. Pode ser estudada como uma classe enfrentadora da realidade existente de forma revolucionária(GUZMAN E MOLINA,2015) mas em alguns pontos(como a propriedade privada) mantem a visão conservadora. Mas o que lhe dá carater de classe singular as demais é o trabalho realizado. Segundo Oliveira(2006, p.16)

Como classe sui generis do capitalismo, sua singularidade se manisfesta na experiência única de reprodução, a qual se baseia no próprio controle sobre o trabalho e sobre os meios de produção. É o que lhes permite conservar a capacidade de produzirem seus próprios meios de vida, ainda que as condições concretas de reprodução de cada família nem sempre determine

O trabalho do camponês é de base familiar e isto faz com que a lógica da escala de produção seja diferente do capitalismo, apesar de que este estabeleça relações comerciais, todavia, são pautadas apenas na possibilidade de continuação do bem estar familiar. Mesmo mantendo uma lógica de produção distante da capitalista, o produtor camponês muitas das vezes disputa um mesmo bem dentro do capitalismo: a terra. E é este objeto comum em disputa que faz do camponês não somente uma classe social como também classe política, no sentido de defesa de seus interesses. Neste momento que a representação camponesa precisa ganhar força, e no Pará expressa-se sobretudo por meio de sindicatos, associações e etc.

As lideranças camponesas são importantes para a organização na luta pela terra. Neste plano de trabalho é feito levantamento biográfico sobre a vida de Francisco De Assis Solidade Costa. A trajetória de liderança de Francisco foi pesquisada para melhor entendimento sobre como ocorreu a trajetória dessa liderança importante no movimento sindical do sudeste paraense - área de intenso conflito agrário. Um dos pontos fundamentais desta pesquisa foi identificar os momentos marcantes que levaram à sua ascensão política e que elementos permitiram a trajetória ascendente: como foi a relação com seus familiares envolvidos nas lutas pela terra; a influencia da igreja católica nos primeiros passos de De Assis como liderança; chegando a assumir um mandato de vice-prefeito em São Domingos do Araguaia; o acampamento no INCRA de Marabá em 1997, fato importante para De Assis e para a regional Sudeste da FETAGRI.

OBJETIVOS: O projeto original visava fazer pesquisa de trajetórias sociopolíticas de um conjunto de lideranças camponesas no sudeste paraense, assim como atualizar trabalhos biográficos iniciados pelo orientador. Após revisão teórica e com o inicio das pesquisas, o objetivo foi alterado e circunscrito para pesquisa e produção especifica da biografia de Francisco De Assis Solidade Costa, atual presidente da FETAGRI-PA, ajustando-se esta demanda ao tempo de bolsa de iniciação científica.

A mudança no objetivo foi feita para que a pesquisa fosse desenvolvida de forma que contemplasse o objetivo do programa de Iniciação Científica. A trajetória pessoal e política de Francisco De Assis Solidade Costa é fundamental para compreender como o movimento

4

sindical e sobretudo como a Fetagri regional sudeste foi criada e mantida. O objetivo do projeto é entender sobre como se constitui uma liderança camponesa no Pará, partindo de levantamento e discussão teórica e traçando o histórico sociopolítico de um personagem que adquiriu notoriedade em sua vida.

MATERIAIS E MÉTODOS: Ao longo de 12 meses de pesquisa foram utilizados materiais pertencentes ao orientador como textos e entrevista, complementados com entrevistas e acesso ao acervo do biografado. Francisco De Assis cooperou de forma direta disponibilizando acervo de fotos pessoais para serem acrescentadas ao projeto assim como disponiblizou um HD de uso pessoal para que fosse feita captura de documentos e outros registros fotográficos. No inicio do projeto, no segundo semestre de 2014, acompanhamos a disciplina Organizações camponesas e patronais no meio rural brasileiro, ministrada pelo orientador e coordenador do Projeto no NCADR (Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural). Durante as aulas foram convidadas pessoas para dar contribuições à disciplina e também foi realizada uma visita ao Instituto Ampliar em Mosqueiro. Durante o período de pesquisa foram realizadas quatro entrevistas com Francisco De Assis Solidade Costa na seguinte ordem: 09 de Janeiro, 13 de Fevereiro, 16 de Março, 09 de Junho e 22 de Junho de 2015, todas na sede da Federação Estadual dos Agricultores do Estado do Pará, em Belém.

As aulas com convidados e a visita ao Instituto Ampliar foram transcritas pela bolsista e pelo bolsista Reinaldo Mello Pontes, com a perspectiva de serem transformados em Textos do NEAF, sob a orientação do professor Gutemberg Armando Diniz Guerra, responsável por esta edição.

RESULTADOS: No período de 12 meses da pesquisa foi possível fazer amplo levantamento das experiências pessoais de Francisco De Assis Solidade Costa, principalmente das situações importantes para contar sua trajetória até o cargo de Presidente da Federação dos Agricultores do Estado do Pará.

Francisco De Assis Solidade Costa é conhecido como “De Assis”. Nasceu no dia 13 de setembro de 1967, na Comunidade Água Branca, no Munícipio de Grajaú, Estado do Maranhão, filho de Mariana Solidade da Costa e José Pereira da Costa; irmão de Maria da Paz e Alzilene Solidade. Possui 1° grau incompleto, cursou até a segunda série na Escola Municipal de 1º Grau José Luis Cláudio, em São Domingos do Araguaia, No Estado do Pará.

O lote conquistado pelo avô na terra indígena da etnia Guajajara foi onde De Assis passou parte da infância com sua família. Com a regularização das terras indígenas em 1979, Francisco de Assis e família tiveram que sair do lote. Pelo fato de Mariana e José já terem visitado a região sudeste paraense, este foi o local escolhido para a nova morada da família. Outro fator decisivo foi a intensa propaganda na época da Ditadura Militar sobre a existência de terras em abundância na Amazônia e sobretudo no Pará, estimulando os camponeses a se integrarem ao Projeto de Colonização vigente.

Em Janeiro de 1979 sua família muda-se para o distrito de Santa Rita, no Município de São João do Araguaia (atual domínio do Município de Brejo Grande do Araguaia). Naquela ocasião ficaram hospedados na casa do tio Manoel “Macaúba”. Em 1983 participaram da ocupação da Fazenda Consulta pertencente à família Mutran, onde ficava o antigo Castanhal Consulta, no então Município de São João do Araguaia. Foi durante a morada na ocupação da Fazenda Consulta (que depois deu origem ao Projeto de Assentamento Veneza) que De Assis começou a ter as primeiras influências para sua trajétoria sindical.

A mãe de Francisco De Assis, dona Mariana, exercia influência na ocupação com sua sabedoria tradicional sobre remédios caseiros. Ela também atuava dando informes sobre as situações da época, assim como Francisco.

5

Nas celebrações, aos domingos, feitas por Emmanuel Wambergue1 na ocupação Consulta, Francisco e dona Mariana tinham papel de informar e promover conversas sobre as situações em outras fazendas ocupadas e a situação das famílias na Consulta durante a exploração de ouro em Serra Pelada2. Emmanuel Wambergue ou “Mano”, adepto da Teologia da Libertação, foi a figura religiosa importante tanto para a carreira sindicalista de Francisco como para a Comunidade Consulta. Segundo “Mano” (2015)3 a Teologia da Libertação significa que o cristão deve ser engajado na transformação e superação das mazelas sociais e a igreja deve se manter comprometida nesta ação transformadora. A atuação dentro da igreja católica também serviu de influência para que De Assis tivesse notoriedade como líder, não somente pelo fato dos informes e das reuniões durante as celebrações de domingo. De Janeiro de 1985 a Dezembro de 1986 De Assis coordenou o Grupo de Jovens católicos dentro da ocupação Consulta. Do ponto de vista formal, esta é praticamente a sua primeira experiência institucional. A casa da família de Francisco tinha destaque na ocupação, funcionando como um ponto de referência que os moradores da Consulta visitavam para se informar de situações fora da ocupação e transmitir suas reivindicações. Um fato que aproximou Francisco da sua carreira de sindicalista foi a chacina ocorrida na Fazenda Ubá4, localizada ao lado da ocupação Consulta. A ameaça de que esse ocorido se repetisse fez com que Francisco e os demais moradores sentissem a necessidade de se organizar coletivamente. Como a casa da família de De Assis possuia a função de ser local de encontro, com a influência de Almir Ferreira Barros5 foi criada ali uma delegacia sindical do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São João do Araguaia. Mesmo sem idade6 para ser sindicalizado, Francisco De Assis tornou-se delegado sindical da ocupação Consulta.

Segundo o próprio Francisco, os nomes cotados para assumir a delegacia sindical eram Gabriel Solidade, seu primo, Santos, que era um amigo próximo e o próprio Francisco. Segundo De Assis, pela alta periculosidade da função, Santos e Gabriel não quiseram assumir o cargo e assim, por influência direta do tio Almir, Francisco assumiu a posição de delegado sindical. Essa interpretação relatada por Francisco De Assis Solidade revela a dimensão do controle familiar sobre a atividade sindical naquelas comunidades em que infiltrações de agentes externos, ligados ao governo ou a milícias privadas, eram comuns. A narrativa revela o caráter de dificuldade e de valorização que pode ser traduzida pelo reconhecimento heroico de quem assumisse tais posições. Francisco De Assis foi delegado sindical da ocupação Consulta (depois transformado em Projeto de Assentamento Veneza) de junho de 1985 a setembro de 1990.

Esses foram os primeiros passos de Francisco De Assis na sua trajetória de sindicalista rural. Com apoio da família (mãe, tio, pai), De Assis ascendeu em sua carreira, passando de liderança carismática7, pela influência exercida, à liderança legal8, reconhecido e respaldado pelo STR de São João do Araguaia.

1 Emmanuel Wambergue, religioso da ordem dos Oblatos de Maria Imaculada, fundador da Comissão Pastoral da terra e um

dos seus coordenadores na região, vivendo em Marabá desde 1975. 2 No início da década de 80, o garimpo de Serra Pelada teve grande notoriedade nacional e atraiu milhares de pessoas para

extração do ouro. Muitos dos homens da ocupação, incluindo o pai de Francisco, foram para o trabalho nos garimpos e

voltavam com sérias doenças como a malária e a dengue. 3Entrevista realizada via e-mail no dia 08 de Abril de 2015. 4 A chacina na Fazenda Ubá ocorreu dia 13 de junho de 1985, quando 13 pessoas foram assassinadas. 5 Almir Ferreira Barros, tio de Francisco, é uma personagem representativa dentro do sindicalismo paraense. No período

relatado no texto em que Francisco torna-se delegado sindical, o Sr. Almir era presidente do STR de São João do Araguaia. 6 Na época só poderiam ser registrados nos STRs homens e mulheres a partir de 21 anos. 7 A dominação carismática é conseguida mediante a confiança alcançada pelo líder através de provas, obstáculos superados e

etc. Sendo assim, a liderança carismática é pautada na obediência, confiança e relações de afeto. (WEBER,1991)

6

Histórias do percurso

No ano de 1991, Francisco torna-se secretário geral do STR de São João do Araguaia, quando Antonio Cavalcante, conhecido como “Barbudinho”9 foi eleito presidente. Ainda no mesmo ano, ocorre a criação do Município de São Domingos do Araguaia, com área desmembrada de São João do Araguaia. Após divergências com o Presidente do STR de São João do Araguaia, seu tio Almir Ferreira Barros, De Assis disputa o cargo de presidente do STR de São Domingos do Araguaia contra Dona Renilde Santana da Silva, candidata da situação, e é eleito presidente fundador do STR do município recém criado. Ele relatou em entrevista10 que este processo eleitoral gerou divergências com seu tio (que apoiava Dona Renilde), ao ponto de que os dois se afastassem na ação política e sindical.

Em 1996, a representatividade de Francisco De Assis sai do nível municipal e estende-se para o nível regional. Neste ano, após várias tentativas é criada a Regional Sudeste da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará. Um fator apontado por De Assis para que a regional da Federação existisse foi a chacina em Eldorado dos Carajás. O ocorrido serviu como impulsionador para que a comunidade rural se organizasse. Entre 16 e 18 de Fevereiro de 1996, após um encontro regional é criada a Regional Sudeste da FETAGRI, com Francisco de Assis como coordenador. Após um mês de formação a delegação responsavel pela regional participou do III Congresso Estadual da FETAGRI (Figura 1). Francisco De Assis é a terceira pessoa em pé, no sentido da direita para a esquerda.

Figura 1 comissão a frente da recém criada Regional Sudeste da Federação. Fonte: Acervo

pessoal FDASC, 1996.

8 A dominação legal parte de três princípios: que todo direito pode ser instituído; todo direito é um conjunto de regras

abstratas; o superior enquanto ordena, obedece a seu dever impessoal. Outras três características constroem a dominação legal:

a obediência por meio da existência de regras e funções; determinação de uma competência, significando um âmbito objetivo

e limitado; atribuição de poderes de mando e limitação dos meios coercitivos. (WEBER, 1991). 9 Antônio Cavalcante era amigo e aliado de Francisco De Assis. 10 Entrevista realizada por Thamires de Oliveira Santos, na sede da FETAGRI em Belém, no dia 09 de Janeiro de 2015.

7

Seu curriculo é pautado em participações em movimentos populares, Acampamentos alguns realizados em 1997 (Figura 2), 1998 (Figura 3) e 2013, Gritos da Terra11 (Figura 4), com ampla participação do campesinato e trabalhadores.

Figura 2 Francisco de Assis em momento de negociação com uma funcionária do INCRA de Marabá. Fonte: Acervo pessoal FDASC, 1997.

A figura 2 representa importante momento na trajetória de Francisco De Assis, o acampamento de 1997 na sede do INCRA foi o primeiro realizado após a criação da FETAGRI Regional Sudeste do Pará. Foi um evento que reuniu interessados do MST e FETAGRI, revelando a capacidade de articulação entre as duas entidades naquele momento.

Figura 3 Passeata das pessoas que participaram do acampamento no INCRA em Marabá. Fonte: Acervo pessoal FDASC, 1998.

11 O “Grito da terra” é um movimento de manifestação popular de trabalhadores rurais, posseiros, camponeses em geral que

reinvidicavam seus direitos através de passeatas, acampamentos e manifestações. Os “Gritos da terra” mostram como a história

coletiva influencia na individual, visto que De Assis, como força sindicalista, trabalhou na criação do “Grito” em 1991 e

demais anos em que aconteceram.

8

O acampamento de 1998, nas palavras de Francisco De Assis12 foi significativo no quesito organização. A organização do acampamento não tinha grande orçamento financeiro, mas cerca de 10 mil pessoas participaram do evento.

Figura 4 Grito da Terra em Belém-Pará. Fonte: Acervo pessoal FDASC, 1998.

Neste ano (1998) a FETAGRI participou de forma significativa no Grito da Terra. A figura 4 representa também a carreira de Francisco De Assis se extendendo para além de sua região de influência, o sudeste paraense.

Um fato que mostra a sua influência no nível regional foi quando, no ano de 2001, Francisco De Assis foi eleito Vice-prefeito de São Domingos do Araguaia pelo PT (Figura 5). Em entrevista Francisco relatou as dificuldades durante o mandato. Ele foi responsável pela denúncia de fraudes e desvio de verba pública pelo prefeito da época “Edison da Brahma” filiado ao PMDB. Esta denúncia quase custou a vida de Francisco De Assis que chegou a ser perseguido e sofrer tentativa de assassinato por parte de pessoas ligadas ao prefeito.

12 Entrevista realizada por Thamires de Oliveira Santos no dia 13 de Fevereiro de 2015, na sede da FETAGRI em Belém.

9

Figura 5 Francisco De Assis sendo diplomado como vice-prefeito de São Domingos do Araguaia. Fonte: Acervo pessoal de FDASC, 2001.

O fato de um sindicalista enveredar pelos caminhos partidários ao ponto de concorrer a um cargo político pode para alguns ser algo incoerente, todavia, nas palavras de Francisco13 a escolha por se filiar e tomar partido, literalmente, significou não ficar neutro nos debates, pois os espaços de administração como Prefeitura, Câmara dos Deputados, Congresso Nacional e afins são espaços partidários. Para Francisco De Assis:

Não se chega no poder executivo ou legislativo pelo sindicato, se faz a luta sindical, se organiza a sociedade, se faz toda uma luta pela via sindical, mas na hora de ocupar outros espaços que são importantes... Se você ver hoje essa história, são poucas pessoas que são da bancada da agricultura familiar no Congresso, porque infelizmente muitos trabalhadores atuam na luta sindical, mas vota no patrão. Então, houve e há uma necessidade de organização via sindicato e também pela luta partidária.

A necessidade de filiar-se a um partido significou para Francisco ir além nas causas sindicais, como luta por melhores condições nos assentamentos, reconhecimento de posses de terra entre outros. Continuando a luta pela via partidária, em 2002 Francisco De Assis candidatou-se a Deputado Estadual pelo PT (Figura 6), associando-se ao também candidato Beto Faro, líder campones e amigo pessoal de Francisco.

13 Entrevista realizada por Thamires de Oliveira Santos no dia 21 de Julho de 2015, na sede da FETAGRI em Belém.

10

Figura 6 Adesivo da campanha de Francisco De Assis. Fonte: Acervo pessoal FDASC, Data: 2002.

Até o presente momento (agosto de 2015), após passar por sindicatos municipais (STR de S. João do Araguaia e S. Domingos do Araguaia), coordenação regional (FETAGRI - Regional Sudeste do Pará) e demais ocupações sindicais, no âmbito sindical a maior expressão da força de representatividade popular foi Francisco De Assis ser eleito em 2013 como Presidente Estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Pará (Figura 7). Este cargo exercido até o momento (2015) demostra como a representatividade sindical e politica de Francisco ultrapassou os limites regionais, significando hoje uma liderança estadual.

Figura 7 Francisco De Assis em seu escritório na FETAGRI em Belém do Pará. Foto: Thamires de

Oliveira Santos, 2015.

A visão de sindicato para De Assis é que precisa ser um orgão autonômo, construido pelos trabalhadores, ter uma forte organização de base e possuir amplo trabalho de formação de seus afiliados e quadro de funcionários. Para isto é fundamental que seja investido na

11

educação e que esses investimentos como palestras e cursos cheguem ao local de trabalho do agricultor que são as comunidades, associações e sua própria roça. Quanto à organização de base, o pensamento de De Assis acompanha o regulamento da CONTAG aprovado em 1996. No documento ficou acordado que era necessária a criação de secretárias e federações entre outras filiais tanto da Confederação quanto das Federações. No geral a CONTAG propôs a descentralização dos sindicatos.

Apesar de a vida não apresentar linearidade ou fatos que nem sempre seguem a ordem cronológica em que são contados (BOURDIEU, 1998), faz parte do ofício do biógrafo sistematizar os acontecimentos para uma melhor compreensão do público. A linha do tempo é apresentada como recurso visual que facilita entender como Francisco De Assis percorreu um longo caminho de lideranças, participações em instituições e engajamento na política partidária.

12

Fontes: Documentos pessoais de Francisco De Assis Solidade da Costa.

1985- Delegado Sindical pelo STR de S. João do Araguaia.

1989-Secretário Geral do STR de São João do Araguaia. Ainda neste ano Francisco filia-se ao PSB, e se torna presidente local do partido no recém criado S. Domingos do Araguaia.

1992- 1° presidente do STR de São Domingos do Araguaia. Neste mesmo ano, torna-se membro do conselho diretor daFundação Agrária do Tocantins Araguaia – FATA.

1993- 1º Presidente de Associação de Pais e Educandos\as da Escola Família Agrícola de Marabá. Neste ano de Assis filia-se ao Partido dos Trabalhadores.

1996-Coordenador da regional sudeste da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará-FETAGRI.

2001-Vice prefeito de São Domingos do Araguaia.

2002-Candidato a Deputado Estadual pelo PT.

2004-Coordenador Regional Sudeste da FETAGRI. Ocupou também o cargo de Coordenador Executivo daFundação Agrária do Tocantins Araguaia-FATA.

2009-Vice presidente do Grupo de Trabalho Amazônico – GTA. Também ocupou os cargos de Sec. Geral, Formação, Org. Sindical e Coordenador da Escola Nacional de Formação da CONTAG – ENFOC.\PA

2013- Eleito presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará.

Trajetória do lider politico sindical Francisco De Assis Solidade Costa 1985 -2015

13

PUBLICAÇÕES: No dia 26 de Junho de 2015 foi apresentado no I Encontro de Geografia da Universidade Estadual do Pará o artigo “Uma vida pela luta: a trajétoria do líder sindical Francisco De Assis Solidade Costa”, com autorial de Thamires de Oliveira Santos e Gutemberg Armando Diniz Guerra.

CONCLUSÃO: Francisco De Assis Solidade da Costa começou cedo sua trajetória e atualmente é reconhecido por ter vasta experiência e credibilidade tanto no cenário sindical como político partidário. A ascendente carreira de Francisco De Assis Solidade pode ser observada pela influência que ele tem no movimento sindical paraense, aumentando gradativamente a influência para o nível regional, depois se ampliando para todo o estado (Figura 8). O mapa a seguir demostra os locais por onde Francisco De Assis passou construindo sua trajetória.

Figura 8 Locais de nascimento e exercício de cargos político-sindicais por Francisco De Assis Solidade Costa. Elaborado por Thamires de Oliveira Santos e Hélio Morais, 2015.

DIFICULDADES: A maior dificuldade para este trabalho de pesquisa foi o limite de recursos para viagens importantes à pesquisa como para Marabá, São João do Araguaia e São Domingos do Araguaia, para realizar entrevistas, coletar dados e documentos. A agenda e disponibilidade restrita do líder sindical, suas inúmeras viagens para cumprir tarefas de sua responsabilidade exigiram uma programação rigorosa para encontros com ele e para acessar o acervo pessoal e da FETAGRI que contem elementos fundamentais para a composição de um quadro que pudesse refletir a sua rica trajetória social e política.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

14

ASSIS, W.S DE. A Construção da representação dos trabalhadores rurais no sudeste paraense. Curitiba: CRV, 2014. 288p. BOFF, L. Igreja, Carisma e Poder. Petrópolis: Vozes, 1982. 249p. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: F,M de Moraes(Org.),A, Janaína(Org.). Usos & Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p.182-191.

HALBWACHS, Maurice, A MEMÓRIA COLETIVA, São Paulo: Ed. Biblioteca Vértice, 1990.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Prefácio. In: PAULINO, Eliane Tomiasi. Por uma Geografia dos camponeses. São Paulo: Editora UNESP, 2006.

PRIORE, Mary Del, Biografia: quando o indivíduo encontra a história, Topoi, v. 10, n. 19, jul. Dez. 2009, p. 7-16.

SOLIDADE, Francisco de Assis. Quem é Francisco de Assis Solidade? Belém: Apresentação em Power Point na disciplina Organizações camponesas e patronais no meio rural Brasileiro. Belém, 2011 (Inédito).

WEBER, Max. Os tipos de dominação. In: Economia e Sociedade 5 ed. Brasília: UnB, 1991. Volume 1. p. 139-198. GUZMÁN, Eduardo Sevilla; MOLINA, Manuel González . En la evolución del concepto de campesinado. São Paulo: Expressão Popular, 2005. 96 p. PARECER DO ORIENTADOR: A orientada cumpriu todas as tarefas com disciplina, envolvendo-se completamente no trabalho, em que pese as dificuldades pessoais para deslocamento de seu município de moradia (Santa Isabel), somadas à complexa agenda do biografado e aos limites de recursos financeiros ao qual está submetido o projeto. Em que pesem todos estes limites, o estágio se realizou com resultados muito positivos e que estão sendo socializados em seminários, congressos, participação na disciplina do orientador e publicações que a que estão sendo submetidos os produtos desse relatório. Há a perspectiva de publicação de um livro sobre a História do Sindicalismo rural no Pará em que a biografia de Francisco De Assis Solidade Costa deverá fazer parte. Considero que o relatório deva ser APROVADO.

DATA : 31 /07/2015

_________________________________________

ASSINATURA DO ORIENTADOR

___________________________________________

ASSINATURA DO ALUNO

15

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o destino do mesmo após a graduação. Informar também em caso de alunos que seguem para pós-graduação, o nome do curso e da instituição.