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7/24/2019 Resenha Cybertariado Ursula Huws
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Mediante o cenrio de mudana de uma possvel construo econmica global (ps
colapso da Unio Sovitica de 1989), os trabalhadores foram inseridos em um complexo
sistema produtivo, que altera suas relaes sociais com o grande capital. Os processos
de produo, mercadorizao e acumulao
desenham novas dinmicas sociais, onde
um indivduo est intimamente ligado a outro, do outro lado do mundo, diante da cadeia
produtiva da qual fazem parte criando novos grupos no trabalho, que localizam-se entre
o proletariado paradigmtico e a burguesia: o capataz, o gerente de compras
etc. -
Todavia, esse proletariado global, possui alguma conscincia comum?Fatores e novas
formas de apropriao da mo de obra ganham corpo, na medida em que o proletrio
no necessariamente mais o homem rstico do cho de fbrica ou da roa, pois o filhodo campons que aventura-se na cidade (devido tambm uma presso prpria do capital
contra o campo), muitas vezes abraado pelas novas formas de trabalho, que o faz
homem de escritrio e colarinho-branco, mas no menos proletrio martelam um
teclado todo o dia. As novas formas de trabalho deixam a ideia do tpico operrio de
cho de fbrica para trs, no na perspectiva de que o trabalho acabaria, como muitos
afirmaram, mas na evidente constatao de que o grande capital desenha novas formas
de explorao e apropriao da fora de trabalho, mediante as necessidades que estocolocadas para sua expanso. nessa linha, que Ursula Huws, vem desenvolver a
reflexo da construo de um proletrio ciberntico e que explorado na dimenso do
mundo virtual, mas que fundamental para os processos exploratrios do mundo real na
dinmica capitalista.
A categorizao desses trabalhadores dentro do prprio pensamento socialista, causa
controvrsias de maneira que segundo Huws, seguidores de Vladimir Lenin e Nicos
Poulantzas, os classificariam como parte da pequena burguesia, contrrios aos interesses
da classe trabalhadora manual, compartilhando das ideias dos pequenos empregadores.
Para Erik Olin Wright, suas ocupaes so contraditrias dentro das relaes de
classe, o fato que para o prprio Marx, so considerados trabalhadores
assalariados comerciais, no proletrios por no produzirem mais-vaila. Todavia, na
atualidade, so tantas as funes, ramificaes desses trabalhadores e de tamanha
complexidade, que as variadas atividades exigiram a necessidade de muitas s vezes,
serem analisadas separadamente, afinal um webdesign produz mais-valia? Pensemos
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novamente cada nova funo do trabalho com Marx, para ento a classificarmos. A
Nova Classe Mdia (White Collar)
de Charles Wrigth Milss e The Black-Coated
Worker [O trabalhador coberto de preto] de David Lockwood, so dois estudos
clssicos, que mostram um desinteresse em uma denominao concreta que atenda essestrabalhadores e que verifiquem os traos que caractersticos, os distanciando do resto da
fora de trabalho.
Os anos de 1960 e 1970, por exemplo, debruaram-se sobre essa questo de maneira
que suas teorias puderam constatar a forte ascenso de mobilidade das mulheres nestes
postos de trabalho e em tantos outros, alterando e contrariando inclusive, uma dinmica
social onde o homem trabalhador saia de casa para buscar o sustento para sua prole, de
maneira que a mulher viria ocupar igualmente papis de classe.Os trabalhadores de escritrio
podem ser analisados mediante alguns fatores que Huws
considera importantes: a) relao funcional de seu trabalho com o capital b) suas
ocupaes c) sua relao social com a produo d) seu lugar na diviso social do
trabalho e) rendas comparadas f) seu status social. Essas categorias permitem a
reflexo das mais variadas atividades desenvolvidas no capitalismo moderno, de modo
que as funes dos indivduos podem ser analisadas como elementos mpares de
insero na cadeia produtiva, sendo constantemente renovadas pelo avano tecnolgico
e pelos prprios ajustes exploratrios do grande capital. Frequentemente novas formas
de trabalho nascem para atender demandas capitalistas e outras deixam de existir,
trata-se de um constante processo adaptativo do trabalho, onde exponencialmente
crescem as funes dos trabalhadores de escritrio
.
A complexidade da classificao dos trabalhadores no atual capitalismo, decorre da
crescente mercadorizao das atividades de servios,de maneira que um produto pode
ser vendido para o varejo ou atacado em diversas etapas de produo e processos
comerciais, no precisando ser necessariamente fsico e palpvel, pode ser um
software. Estudar esse processo, parte da ideia de seguir cada etapa entendendo as
dinmicas e relaes compostas nesse organismo capitalista.
Quando pensamos nas estruturas das grandes organizaes, fatores como a terceirizao
(tema exaustivamente discutido no Brasil 2015) e a privatizao, desmontam as
classificaes de diferenciao entre o pblico e o privado e confundem as divises que
tnhamos de setores primrios, secundrios e tercirios de maneira que uma
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crtica e detalhada anlise precisa ser feita o capitalismo tem tido a audcia e habilidade
de manobrar as esferas sociais e integra-las favor da acumulao e agilidade
produtiva. Essa integralizao tamanha, que diversas empresas unem-se em tambm
diversas corporaes trazendo instabilidade e heterogeneidade aos processos produtivosque so constantemente mais subdivididos.
As ocupaes dos trabalhadores de escritrio, embora distanciem-se do conceito
clssico de operariado, mantm ntimas lgicas de apropriao de suas foras de
trabalho, a hierarquizao qualificativa desses trabalhadores, se faz demasiadamente
presente no que se relaciona suas ocupaes. As novas funes do trabalho, instauram
tambm novas divises de precarizao da fora de trabalho. O tomando como exemplo,
o setor da informtica, se subdivide de maneira que se tem desde indivduos que apenasalimentam gigantescos bancos de dados, at grande desenvolvedores de softwares com
alto grau de complexidade e por isso especialistas especficos que acabam, por
possurem determinadas habilidades, sendo melhor remunerados, mas no menos
explorados. Um bom exemplo disso o hoje popular home office
, onde os trabalhadores
esto expostos jornadas de trabalho at trs vezes maior que o estipulado. Sem contar
claro, que suas qualificaes profissionais precisam ser rotineiras, pois um
determinado conhecimento hoje, pode j estar ultrapassado amanh pelo lanamento de
uma nova tecnologia ou um novo software, obrigando o trabalhador atualizar-se no
mesmo ritmo do capital. Os desafios, aqui, ficam na reflexo de quanta solidez abrigam
essas carreiras to mutuamente dinmicas e quais so os desafios para que esses
trabalhadores se organizem em uma conscincia coletiva, mediante o evidente processo
de proletarizao que os envolve.
As relaes com os meios de produo, que esses trabalhadores possuem, tambm
mudaram de maneira drstica. Na teoria clssica de Marx, por possurem os
meios de
produo(um computador nesse caso) e gerarem mais-valia, poderiam ser enquadrados
na pequena burguesia. Todavia, as novas formas de trabalho abrigam desde freelancers
que trabalham para diferentes empregadores, como auto-empregados ou o que o texto
de Huws talvez pela poca no aborda, mas que o caso da pejotizao, onde
trabalhadores so contratados como se fossem empresas sem ter seus direitos
trabalhistas assegurados e garantidos, ficando portanto expostos precarizao. Nos
cabe um amplo debate sobre as diversas posies que esto inseridos esses
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trabalhadores dentro da dinmica capitalista, de modo que questionvel hoje, at
mesmo os conceitos de meios de produo e se um computador isolado, poderia ser
encarado como tal, tendo seu operador imerso em rotinas cada vez mais degradantes.
A informatizao dos servios, separam at mesmo nossos conceitos de trabalhoprodutivo ou improdutivo, como vamos ao caixa eletrnico de um banco, por
exemplo, realizamos operaes que outrora eram realizadas por funcionrios
remunerados o consumo perpetua tambm novas e complexas relaes que desmontam
nossos conceitos j dados e nos incentiva no pensamento da classificao do novo.
Apesar de estarem intercalados em cadeias globais de trabalho, fatores como a renda,
reproduzem as dinmicas de desigualdade e hierarquizao das sociedades. Um
indivduo com ensino mdio ou graduando que trabalha no setor de informao nosEUA, recebe mais que o indivduo que desempenha a mesma funo na ndia, por
exemplo, com a observao, de que este ltimo para tal funo, muitas s vezes possui
mestrado ou especializao na rea. A lgica de explorao capitalista, se faz
evidentemente presente entre trabalhadores de colarinho-branco, de maneira que as
periferias do mundo, embora desempenhem essas atividades, so fortemente
precarizadas e destinadas aos trabalhos de subordinao e considerados menos
qualificados. certo que para esses trabalhadores, talvez a ideia de um
status
social
superior seja vendida, sobretudo nos pases pobres, onde o fato de no usar um macaco
de fbrica e no sujar as mos com graxa o torna superior, mas tambm certo que
esto imersos a cada dia mais em um regime de apropriao exploratria de suas foras
de trabalho.
Aos trabalhadores, embora entendam a perspectiva de que existe algo comum entre eles
mediante as atividades que desenvolvem e suas relaes, uma conscincia de classe
parece ser algo combatido pelo grande capital, com a emergncia de conceitos
excludentes como o racismo, por exemplo. Questes de gnero e de classe tambm so
cruciais na criao de identidade de classe desses trabalhadores, parece preciso aqui, um
rduo trabalho de luta pelo reconhecimento do papel que desenvolvem no sistema
capitalista.
Huws enfatiza: Parece que um novo cibertariado est se conformando. Se ele se ver
enquanto tal outro problema.
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Bibliografia:
HUWS, Ursula. A construo de um cibertariado? Trabalho virtual num mundo real in
Infoproletariados, So Paulo. Outubro de 2009. Boitempo. 1 Edio.