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Governo do Estado do Rio Grande do Norte UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE-UERN (Campus Central) FACULDADE DE LETRAS E ARTES – FALA DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS – DLV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL Disciplina: Fundamentos Teóricos Metodológicos da Pesquisa Professora: Dra. Arilene Maria Soares de Medeiros Ms. Lucimar Bezerra Dantas da Silva RESENHA ACADÊMICA Texto: PARA QUEM PESQUISAMOS? PARA QUEM ESCREVEMOS? Francisca Francione Vieira de Brito

Resenha Para Quem Pesquisamos e Escrevemos

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Page 1: Resenha Para Quem Pesquisamos e Escrevemos

Governo do Estado do Rio Grande do Norte

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE-UERN (Campus Central)

FACULDADE DE LETRAS E ARTES – FALA

DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS – DLV

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL

Disciplina: Fundamentos Teóricos Metodológicos da Pesquisa

Professora: Dra. Arilene Maria Soares de Medeiros

Ms. Lucimar Bezerra Dantas da Silva

RESENHA ACADÊMICA

Texto: PARA QUEM PESQUISAMOS?

PARA QUEM ESCREVEMOS?

Francisca Francione Vieira de Brito

Mossoró – RN

2005.2

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SOARES, Magda. Para quem pesquisamos? Para quem escrevemos? In: MOREIRA, A.F. et

al. Para quem pesquisamos para quem escrevemos: o impasse dos intelectuais. 2ª ed. São

Paulo: Cortez, 2003. p.65-90.

O artigo escrito pela conhecida e renomada Professora Emérita da Universidade

Federal de Minas Gerais Magda Soares e apresentando no livro Para quem pesquisamos para

quem escrevemos: o impasse dos intelectuais, editado por A.F. Moreira faz uma abordagem

analítica acerca da essência contida intrinsecamente nas duas perguntas tema-título da obra

tomando como ponto de partida o segundo questionamento (para quem escrevemos?) e

estabelecendo assim, um paralelo entre este e o primeiro (para quem pesquisamos?). A autora

conduz sua reflexão buscando, de maneira clara e sucinta, expressar pontos que se aproximam

e se relacionam dentro das duas perguntas.

Para tanto, o texto foi organizado a seu princípio, tecendo um esclarecimento sobre

quem seria o sujeito nas duas perguntas analisadas, resultando, pois, no confronto entre o

“nós” pesquisadores – mais tarde designados pesquisadores-autores – e o “eles” escritores –

termo usado para indicar ao autor de textos literários. A partir daí, é estabelecida uma firme e

constante comparação entre pontos de vista defendidos então pelo escritor e pelo pesquisador-

autor em diversos ângulos da Lingüística Aplicada; a saber: a concepção de escrita, o tipo de

leitor característico, o seu papel social, as dificuldades enfrentadas por estes e por fim, Magda

Soares explicita dicas e/ou orientações de escrita que buscam ressaltar distinções de estilos e

de protocolos de leitura entre o texto acadêmico (fazendo menção aqui, ao texto produzido

pelo pesquisador-autor) e o texto de divulgação destinado a um público mais abrangente e

composto de diferentes naturezas (àquele produzido pelo escritor).

Segundo a discussão instituída no texto no que se refere à concepção de escrita, esta

pode ser considerada pelo escritor como sendo um processo de aprendizagem, uma “condição

de vida”, pode também representar alívio, prazer, expressar vocação e liberdade. Já para o

pesquisador-autor a escrita é produto da aprendizagem, é uma necessidade que deve ser

suprida dentro de um prazo pré-estabelecido, exprime obrigação, cumprimento de regras, é

sinônimo de estudo, reproduz disputa e pode vir ainda a repercutir na questão salarial.

Quanto ao tipo de leitor característico, de acordo com Magda Soares o escritor, no seu

processo de escrita, geralmente não se preocupa com a sua resposta ao “para quem

escrevemos”; para ele não existe leitor específico e a popularidade da obra não é um fator

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preponderante, visto que a mesma muitas vezes parece pôr em dúvida o seu valor literário

através da suscitação de críticas. Em contraposição, para o pesquisador-autor a receptividade

do texto produzido é de suma importância, pois comprova o valor de seu trabalho e deste

modo à apreciação da crítica acadêmica torna-se essencial. O pesquisador-autor,

diferentemente do escritor – que parece escrever para não ser lido – presa, com veemência, a

repercussão do seu trabalho dentro da área em que está inserido. Neste contexto, quando o

pesquisador-autor escreve já tem seu Leitor-modelo definido, posteriormente chamado de

“par”, sendo ele os que pertencem ao seu mundo acadêmico e profissional e/ou que produzem

conhecimento na área estudada.

Considerando, assim, as circunstâncias abrangidas acima, surgem vários

questionamentos sobre o papel social desempenhado, portanto, pelo pesquisador. Para Magda

Soares o processo de escrita do pesquisador-autor não deve está restrito apenas a seus “pares”

ou à divulgação do conhecimento produzido em seus estudos, uma vez que a área da

Educação está firmada no interior da área das Ciências Sociais e Humanas. Diante deste

quadro, o papel do pesquisador não se limita, tão somente, ao estudo de questões sociais

dentro da área da Educação, mas, sobretudo na sua intervenção na realidade, na sua análise de

problemas socialmente importantes e conseqüente busca de transformação do real.

A partir daí, emergem inúmeras dificuldades na ação de escrever visto que

pouquíssimos pesquisadores se interessam a ser autores para o leitor que atua fora da sua

academia e quando o fazem muitas vezes fracassam em seus intentos não conseguindo, assim,

fazer-se entender. Isso ocorre porque os textos que tentam levar o conhecimento acadêmico à

comunidade são desvalorizados no contexto de produção de texto em que os pesquisadores se

enquadram, através de uma criação hierárquica existente onde se apresentam os textos

“acadêmicos e/ou científicos” de um lado, e de “divulgação e/ou didatização” de um outro.

Além disso, o pesquisador-autor enfrenta a dificuldade de criar textos em condições de

produção da leitura diferentes das que já conhece, sendo estas inerentes a outro contexto. O

pesquisador carrega a responsabilidade e o “peso” da mudança organizacional do texto – em

estruturas sintáticas e semânticas, estilo, léxico, em grau e profundidade informacional

teórico. Dessa feita, o fracasso advém das dificuldades que têm os pesquisadores-autores em

escrever para um público amplo e heterogêneo e que, na sua grande maioria, revelam a

ausência de conhecimentos prévios acerca do pesquisado.

Para concluir sua discussão sobre Para quem pesquisamos? Para quem escrevemos? a

autora, baseada em suas pesquisas, menciona dicas e/ou orientações de escrita no que diz

respeito ao uso de menções a personalidades, à utilização de Referências Bibliográficas, ao

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emprego de notas de pé de página e agradecimentos, ao público-alvo, ao uso de analogias

entre outros, tecendo a cada dica um comentário esclarecedor sobre sua função dentro do

texto.

No estudo analítico esboçado pela Professora Magda Soares sobre para quem

pesquisamos? Para quem escrevemos? a referida autora, provavelmente, para dar maior

veracidade aos fatos e conduzir melhor seus pressupostos teóricos faz, constantemente,

referências ao pensamento de outros autores consagrados por estudiosos da área de maneira

original e versátil, tornando seu texto ainda mais plausível onde o leitor pode compreender

com facilidade a demonstração do seu raciocínio pela forma como está estruturado bem como

pela linguagem clara e objetiva empregada.

No que concerne ao texto como um todo, podemos considerá-lo como de grande

serventia para os que se dedicam à Lingüística Aplicada e em especial aos estudiosos de

Análise do Discurso e de Leitura e Produção Textual, pois o mesmo é apresentado numa

linguagem clara e concisa; com coerência nas idéias explicitadas e bases teóricas marcadas

por meio da citação de autores renomados; e também originalidade na condução do texto –

uma vez que o mesmo sugere discussão de questões bastante polêmicas que, todavia não

foram bem esclarecidas. No entanto, a sua validação das bases teóricas nos remete ainda a

algumas dúvidas, sobrepostas em seu interior: Será que a autora, para fortalecer seu ponto de

vista e dar mais veemência ao seu texto, não fez propositalmente apenas um recorte do

pensamento de autores consagrados, como Jorge Luis Borges? Quem garante que a visão

defendida por estes autores acerca do processo da escrita se resume a uma citação de mais ou

menos 4 ou 5 linhas? Não poderia a autora ter colhido de entrevistas dadas por tais autores

apenas alguma fala que lhe fosse útil, sem que obrigatoriamente refletisse a idéia central

defendida por eles? Nessa perspectiva, até certo ponto, a articulação das idéias expressas no

texto pode ser considerada riquíssima, por outro lado, pode torná-lo inválido. Eis a questão!