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VII Convibra Administração Congresso Virtual Brasileiro de Administração www.convibra.com.br RESPONSABILIDADE SOCIAL EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS: UMA ANÁLISE DO BALANÇO SOCIAL BANCOS BRADESCO E ITAÚ 2001-2007 Claudia Rosana Felisberto Scofano ([email protected]) Centro Universitário Metodista Bennett Carlos Henrique Berrini da Cunha ([email protected]) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro RESUMO Este artigo tem como objetivo discutir se o Balanço Social de fato pode representar um instrumento capaz de demonstrar as práticas de responsabilidade social, com a divulgação dos investimentos sociais e ambientais, para o caso dos bancos Bradesco e Itaú, no período de 2001-2007. O artigo é composto de três itens, no primeiro apresenta-se a introdução, com destaque à responsabilidade social nas instituições financeiras, no segundo, a composição do modelo de Balanço Social do IBASE, e no terceiro os dados da pesquisa, referentes à base de cálculo, investimentos sociais (internos e externos) e investimentos ambientais. As principais conclusões foram de que: apesar da evolução que vêm ocorrendo no sistema financeiro em relação a práticas sócio ambientais, existe uma distorção entre a evolução da receita líquida e os gastos efetivos realizados em investimentos sociais (internos e externos) e investimentos ambientais. Outro aspecto verificado é se os investimentos sociais e ambientais que vêm sendo realizados por estes bancos são verdadeiramente significativos, representativos e possuem resultados positivos compatíveis com o poder, o impacto e as responsabilidades que estes grandes bancos têm em relação à sociedade. Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Balanço Social, Investimento Social. ABSTRACT This article aims at discussing if the social balance can indeed represent a device capable of showing the practices of social responsibility, with the presentation of the social and environmental investments, in the Bradesco and Itaú cases, during the time period between 2001 and 2007. The article is made of three items; the first one presents the introduction, focusing on the social responsibility in the financial institutions; the second one shows the composition of the model of the social balance of IBASE, and the third one introduces the research data, referring to the basis of calculation, social (internal and external) and environmental investments. The main conclusions were that in spite of the evolution that has been happening in the financial system related to the socio-environmental practices, there is a distortion as to the evolution of the financial income and the expenses really made in social (internal and external) and environmental investments. Another aspect verified is if the social and environmental investments that have been made by those banks are really meaningful, representative and have a positive effect compatible with the power, impact and responsibilities that those big banks have in relation to society itself. Key words: Social Responsability, Social Balance, Social Investment.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS: UMA ANÁLISE

DO BALANÇO SOCIAL BANCOS BRADESCO E ITAÚ – 2001-2007

Claudia Rosana Felisberto Scofano ([email protected])

Centro Universitário Metodista Bennett

Carlos Henrique Berrini da Cunha ([email protected])

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir se o Balanço Social de fato pode representar um

instrumento capaz de demonstrar as práticas de responsabilidade social, com a divulgação dos

investimentos sociais e ambientais, para o caso dos bancos Bradesco e Itaú, no período de

2001-2007. O artigo é composto de três itens, no primeiro apresenta-se a introdução, com

destaque à responsabilidade social nas instituições financeiras, no segundo, a composição do

modelo de Balanço Social do IBASE, e no terceiro os dados da pesquisa, referentes à base de

cálculo, investimentos sociais (internos e externos) e investimentos ambientais. As principais

conclusões foram de que: apesar da evolução que vêm ocorrendo no sistema financeiro em

relação a práticas sócio ambientais, existe uma distorção entre a evolução da receita líquida e

os gastos efetivos realizados em investimentos sociais (internos e externos) e investimentos

ambientais. Outro aspecto verificado é se os investimentos sociais e ambientais que vêm

sendo realizados por estes bancos são verdadeiramente significativos, representativos e

possuem resultados positivos compatíveis com o poder, o impacto e as responsabilidades que

estes grandes bancos têm em relação à sociedade.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Balanço Social, Investimento Social.

ABSTRACT

This article aims at discussing if the social balance can indeed represent a device capable of

showing the practices of social responsibility, with the presentation of the social and

environmental investments, in the Bradesco and Itaú cases, during the time period between

2001 and 2007. The article is made of three items; the first one presents the introduction,

focusing on the social responsibility in the financial institutions; the second one shows the

composition of the model of the social balance of IBASE, and the third one introduces the

research data, referring to the basis of calculation, social (internal and external) and

environmental investments. The main conclusions were that in spite of the evolution that has

been happening in the financial system related to the socio-environmental practices, there is a

distortion as to the evolution of the financial income and the expenses really made in social

(internal and external) and environmental investments. Another aspect verified is if the social

and environmental investments that have been made by those banks are really meaningful,

representative and have a positive effect compatible with the power, impact and

responsibilities that those big banks have in relation to society itself.

Key words: Social Responsability, Social Balance, Social Investment.

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1 INTRODUÇÃO: EVOLUÇÃO CONCEITUAL DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL CORPORATIVA

O tema responsabilidade social corporativa tem se tornado cada vez mais alvo de importantes

discussões tanto nas organizações, como nas instituições financeiras, sobretudo a partir da

segunda metade do século XX. A evolução conceitual do termo responsabilidade social

corporativa (RSC) pode ser destacada a partir de dois períodos, no primeiro, sob a ótica da

sociedade industrial, com o surgimento da filantropia social; e no segundo, sob a ótica da

sociedade pós-industrial, quando o conceito evolui e passa a incorporar as necessidades dos

agentes sociais da firma (funcionários, consumidores, fornecedores), agregando outros

conceitos, tais como os de voluntariado empresarial, cidadania corporativa e desenvolvimento

sustentável. (TENÓRIO et al, 2004).

Neste percurso de evolução conceitual, vale ressaltar alguns acontecimentos internacionais

que contribuíram para a consolidação do termo responsabilidade social corporativa aliado ao

conceito de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland1 apresentados a seguir:

Quadro 01 – Evolução Temporal das Convenções Ambientais

Elaboração própria.

Estes acontecimentos internacionais, aliados à mudança da concepção original de filantropia,

marcaram definitivamente a definição contemporânea de responsabilidade social corporativa

que inclui questões de ética, de sustentabilidade, de transparência das informações e,

sobretudo, de estabelecimento de metas sociais e ambientais como fator estratégico, além da

utilização de indicadores sociais e ambientais correspondentes às ações executadas pelas

empresas para o bem estar de seus stakeholders.

No Brasil, a criação dos Institutos Ethos e Ibase foi fundamental para a divulgação e a

ampliação da prática da responsabilidade social corporativa no país. O Instituto Ethos é uma

OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) cuja missão é ajudar as

empresas na gestão socioambiental. O Instituto Ethos (2010) define RSC como a:

[...] forma de gestão que se define pela relação ética e

transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela

se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que

impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade,

1 (...) aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

atenderem suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: o conceito de necessidades, sobretudo

as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade, e a noção de

limitações, que o estágio da tecnologia da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo de atender às

necessidades presentes e futuras. (CMAD - COMISSÃO Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento CMAD,

1988, p.46).

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preservando recursos ambientais e culturais para as gerações

futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das

desigualdades sociais.

O IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) também é uma instituição

sem fins lucrativos, e sua missão é aprofundar a democracia, seguindo os princípios de

igualdade, liberdade, participação cidadã, diversidade e solidariedade. Para o IBASE a

definição de RSC é reconhecer o caráter de patrimônio insubstituível das empresas como base

da economia de uma sociedade que busca ser democrática, que valoriza sua cidadania e usa de

forma sustentável a natureza, sem comprometer gerações futuras. O saber fazer empresarial –

organizar e fazer funcionar uma empresa supõe enorme criatividade, ousadia e base científica

e técnica, não desperdiçando recursos humanos, materiais e econômicos, para não levar à

destruição da própria empresa como organização da sociedade – é um enorme bem social.

Que tal empresa seja capitalista, também, não é desculpa para praticar a irresponsabilidade.

(GRZYBOWSKI, 2010).

Neste contexto pautado pela sustentabilidade, as empresas devem assumir um novo papel

frente de responsabilidade com a preservação do meio ambiente e com a qualidade de vida da

sociedade, um novo paradigma onde as empresas não visam apenas o lucro, mas também sua

integração com as áreas sociais e ambientais. Este novo paradigma apresenta características

importantes, introduz uma dimensão ética e política por ser um processo de mudança social,

com consequente democratização do acesso aos recursos naturais e à distribuição equitativa

dos custos e benefícios do desenvolvimento.

Orgânico, holístico, participativo

Fatos e valores fortemente relacionados

Ética integrada ao cotidiano

Interação entre o objetivo e o subjetivo

Seres humanos inseparáveis dos ecossistemas, uma relação de sinergia

Conhecimento indivisível, empírico e intuitivo

Relação não-linear de causa e efeito

Natureza entendida como um conjunto de sistemas inter-relacionados, o todo maior que a

soma da parte

Bem-estar avaliado pela qualidade das inter-relações entre os sistemas ambientais e sociais

Ênfase na qualidade (qualidade de vida)

Síntese

Descentralização de poder

Transdisciplinaridade

Ênfase na cooperação

Limite tecnológico definido pela sustentabilidade

Quadro 02 - Paradigma da sustentabilidade

Fonte: Kraemer, 2008.

O conceito de RSC ultrapassou os limites do âmbito empresarial, e o setor financeiro também

apresentou vários avanços na adoção de políticas socioambientais. Em 1992 a UNEP - United

Nations Environment Programme (PNUMA), juntamente com alguns bancos prepararam a

Declaração Internacional das Instituições Financeiras para o meio ambiente e

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desenvolvimento sustentável. Nesta declaração constaram três metas para as instituições

financeiras: i) reduzir o consumo de energia, água e materiais; ii) inserir a política de risco

ambiental para avaliar os investimentos e financiamentos; e iii) apoiar o desenvolvimento de

produtos e serviços que promovem a proteção do meio ambiente.

Dando continuidade a este movimento em prol da sustentabilidade o Sistema Financeiro

Brasileiro através dos bancos oficiais lança em 1995 um protocolo de intenções - Protocolo

Verde, que propõe a adoção de políticas e práticas alinhadas com a definição de

sustentabilidade do Relatório Brundtland. (FLASCO, 2005).

Em 2009, a FEBRABAN (Federação Brasileira dos Bancos) passa ser signatária do Protocolo

Verde. Segundo Ribemboim (1996) esse Protocolo Verde tem como objetivo incorporar a

variável ambiental na gestão e na concessão de crédito, e a federação assume esse

compromisso de concessão dos financiamentos aos setores alinhados com as questões

socioambientais. O Bradesco e o Itaú Unibanco participaram desse convenio, assumindo sua

responsabilidade nessa questão.

Em 2002, após discussões com representantes de entidades filiadas a Bank Track2 foi criada a

Declaração de Collevicchio, para fins de adoção do tema sustentabilidade no setor financeiro,

com objetivos de equidade social, redução dos impactos à sociedade e ao meio ambiente,

transparência com a divulgação das informações, responsabilidade com os impactos

financeiros sociais e ambientais, preocupação com o bem estar dos funcionários, e também

apoio à criação de produtos e serviços que beneficiam o meio ambiente e a sociedade.

Após a criação do Princípio do Equador, que estabeleceu um conjunto de regras para a

concessão de crédito, em 2005, foi criado o Princípio para o Investimento Responsável (PIR),

a fim de estabelecer critérios que possam ajudar os investidores a conciliarem em seus

negócios os temas sociais, ambientais e de governança. (CUOCO, 2007).

A partir destes acordos, foram realizados vários estudos sobre o tema no setor financeiro, os

debates têm sido constantes, embora as instituições financeiras tenham reduzido impacto ao

meio ambiente e à sociedade com seus próprios negócios, elas financiam negócios de

empresas que muitas vezes geram significativos impactos sociais e ambientais. O setor

bancário é um forte indutor de mudanças em diversos setores da economia, com considerável

poder econômico, isto representa uma oportunidade para a promoção da sustentabilidade, que

poderia ser exercida ao financiar projetos ambientalmente corretos e economicamente justos.

(CRUVINEL, 2008).

Mattarozze e Trunki (2007, p.66), destacam que:

(...) muitas instituições financeiras não aceitam a

responsabilidade pelos danos sociais e ambientais decorrentes

de seus negócios, apesar delas serem ávidas por conceder

crédito para o crescimento da economia e por obter os benéficos

derivados de seus serviços. Relativamente poucas instituições

financeiras, em seus papéis de credor, analista, garantidor,

assessor ou investidor efetivamente usam seus poderes para

2 Rede de monitoramento de impactos das operações financeiras.

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deliberadamente canalizar recursos de negócios sustentáveis ou

para encorajar seus clientes a incorporar a sustentabilidade.

Para Brito (2008), os bancos possuem um papel de transformadores, pois eles podem

transformar o dinheiro no espaço, no tempo, na escala, e ainda podem avaliar os riscos entre

investidores e investimentos. Ao exercer uma função importante na sociedade, os bancos não

apenas induzem as empresas a adotarem práticas socialmente responsáveis como também

podem executar estratégias para que seus tomadores de crédito se beneficiem através de

financiamentos de projetos da instituição bancária.

Neste sentido, ambos os autores apontam que o papel dos bancos no desenvolvimento

sustentável, não é apenas de executor de mudanças, mas de indutor de mudanças com as

partes que se relacionam, no sentido de induzir as empresas a adotarem práticas sustentáveis

em seus negócios, assim, prestarem os seus serviços de forma ética e responsável. Uma

realidade um tanto utópica frente aos objetivos de maximização de lucro destas instituições,

que constitui uma das justificativas para elaboração deste artigo.

A escolha dos referidos bancos Bradesco e Itaú, deve-se ao fato de encontram-se nos

primeiros lugares do ranking dos quarenta maiores bancos latino-americanos em

sustentabilidade, governança corporativa e responsabilidade social, além de apresentarem

forte divulgação de seus investimentos nos meios de comunicação. (MANAGEMENT &

EXCELLENCE/LATIN FINANCE, 2007).

As instituições financeiras apresentam cada vez mais preocupação em divulgar com maior

transparência e qualidade suas ações nas áreas sociais e ambientais, motivadas por um público

mais consciente e por investidores mais exigentes. A sociedade exige uma maior

transparência na divulgação dos resultados, o que leva as empresas a criarem mecanismos

para a publicação dos recursos voltados para o bem-estar social e ambiental, como é o caso do

Balanço Social, assunto que será abordado a seguir.

2 COMPOSIÇÃO DO MODELO DE BALANÇO SOCIAL DO IBASE:

CRÍTICAS E DESAFIOS

A utilização do Balanço Social como instrumento de divulgação da denominada RSC pode

ser entendida de diversas maneiras. Kroetz (2000, p.61) destaca o seguinte:

(...) o marketing proporcionado pelo Balanço Social é um

aspecto de extrema relevância que pode seduzir empresários a

publicá-lo por entenderem-no como um novo instrumento de

publicidade. todavia, essa é apenas uma face da importância do

Balanço Social, e não pode ser encarado como meta principal,

seu objetivo é o de compreender a atuação social da entidade,

objetivando uma melhoria contínua e não simplesmente

transformar-lo em mais um serviço de divulgação. Antes de ser

uma obrigação o Balanço Social é instrumento de apoio à

gestão, pelo qual se mostra a face interna e externa da

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organização que permite sua avaliação, análises e os

ajustamentos necessários.

Deste modo, o Balanço Social, deveria ser interpretado como um meio de divulgar os

programas sociais e ambientais realizados pela empresa, porém também pode ser considerado

simultaneamente uma estratégia de marketing e de gestão. Além de ser importante para

propagar a responsabilidade social da empresa, auxilia a apurar a imagem da empresa perante

os grupos de interesses.

Para Ferreira et al (2004) o Balanço Social surge como uma importante demonstração

contábil que vem se consolidando como um instrumento capaz de auferir o nível de

responsabilidade social corporativa das organizações. Nesse sentido, Bernardo et al (2008,

p.10) expõem que:

(...) O Balanço Social reúne um conjunto de informações sobre

projetos, benefícios e ações sociais e serve como instrumento

estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da

responsabilidade social corporativa. Assim, conclui-se que esse

demonstrativo muito antes de ser considerado uma peça de

marketing é uma poderosa ferramenta na elaboração de políticas

estratégicas empresariais, desde que seja elaborado de forma

transparente.

Estes autores concordam que o Balanço Social pode ser utilizado para medir o nível de

responsabilidade socioambiental da organização, além de ser um importante instrumento de

gestão e de RSC, visto como um diferencial para a organização e como uma estratégia que

pode maximizar os resultados financeiros da empresa.

Porém, os Balanços Sociais tendem, dentro de um esforço de reforço da imagem corporativa,

apresentar apenas os aspectos positivos em detrimento dos negativos. Desta forma,

representariam um instrumento que pode ser utilizado apenas como ferramenta de marketing

social e ambiental, que muitas vezes não reflete de fato o comprometimento da empresa com

sua política de RSC.

A experiência brasileira com a publicação de Balanço Social data da criação do Instituto

IBASE (1997), que o define da seguinte forma:

(...) um demonstrativo publicado anualmente pela empresa

reunindo um conjunto de informações sobre os projetos,

benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados,

investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É

também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o

exercício da responsabilidade social corporativa (...) é uma

ferramenta que, quando construída por múltiplos profissionais,

tem a capacidade de explicitar e medir a preocupação da

empresa com as pessoas e a vida no planeta. (IBASE, 2009).

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O modelo IBASE é o mais utilizado por empresas brasileiras. O Balanço Social/IBASE é

estabelecido em forma de planilha, com informações quantitativas e qualitativas de dois

exercícios anuais, em valores e em percentual da receita líquida, dividida da seguinte forma:

Figura 1 - Estrutura do Balanço Social do Ibase

Fonte: IBASE, 2009.

Observa-se que este modelo, como qualquer outro que se adote, representa uma demonstração

contábil, parte formal de um processo empresarial, este demonstrativo pode facilitar, pois

possibilita inúmeras ações de comparação dentro de um determinado setor de atividade

econômica, tamanho de empresa, região ou item declarado. Desta forma, os dados

demonstrativos dos investimentos sociais e ambientais realizados pelas empresas devem

apresentar consistência, com a informação de todos os elementos quantitativos e qualitativos.

O Balanço Social/IBASE apresenta algumas limitações, uma delas é a de que o mesmo não

incorpora, por exemplo, uma matriz de ecoeficiência, com dados sobre a utilização de

resíduos (sólidos, líquido, gasosos), reciclagem, utilização de energia e água. E, ainda o fato

dos indicadores serem quantificados, e não especificados, com informações sobre cada

programa, recursos e beneficiados.

Um problema bastante comum é a falta de detalhamento do Balanço Social, embora algumas

instituições disponibilizem tabelas com explicações, tal fato abre margem a interpretações

diversas. Saraiva (2008), elucida que tal fato não deveria ser interpretado somente como

intenção de manipular as informações, pois muitas vezes existe desconhecimento dos

conceitos.

Outra dificuldade encontrada refere-se à divulgação, algumas organizações só divulgam o que

beneficiam os acidentes e os danos ecológicos são omitidos, fato este que poderá

comprometer a postura ética da empresa. Sobre isso, Carvalho (1991) destaca que as

divulgações devem se referir: i) aos ativos e às despesas: que são os investimentos financeiros

aplicados na correção dos danos; e ii) aos passivos: são as regulamentações, as correções e as

indenizações dos danos causados à sociedade ou ao meio ambiente.

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O BNDES (2000) destaca a importância da padronização, e diante da ausência da mesma, as

empresas podem divulgar apenas o que entendem como relevante, pois não seguem uma

padronização, portanto seria fundamental a existência de um senso comum quanto aos dados a

serem divulgados. Portanto, é fundamental que exista uma padronização para a publicação do

BS, pois diante da ausência desta padronização e uniformidade dos dados a serem divulgados,

as empresas podem divulgar apenas o que entendem como relevante.

3 DADOS DA PESQUISA: EVOLUÇÃO DOS DADOS DO BALANÇO SOCIAL –

BRADESCO E ITAÚ – 2001-2007

Segundo dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil o Itaú ocupa o primeiro lugar no

ranking dos bancos, enquanto o Bradesco ocupa a terceira posição.

Figura 02 – Ranking dos Bancos Brasileiros em R$ Bilhões

Fonte: BANCO CENTRAL, 2010. * Em outubro de 2007, o banco holandês ABN Amro foi vendido a um consórcio formado pelo

espanhol Santander, pelo escocês RBS (Royal Bank of Scotland) e pelo belgo-holandês Fortis.

Quando isso ocorrer, o banco passará a Caixa Econômica Federal no posto de 4º maior banco do

país.

Os bancos Itaú e Bradesco lideram o ranking dos 40 maiores bancos latino-americanos em

sustentabilidade, governança corporativa e responsabilidade social, segundo levantamento da

Management & Excellence/Latin Finance (2007).

Esses bancos têm adotado algumas práticas de RSC conforme exposto a seguir:

Anos Bradesco Anos Itaú

2004 Adesão aos Princípios do Equador. 1999 Inclusão no DJSI.

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2005 Criação do comitê e política socioambiental

corporativa. 2004

Adesão do Princípio do Equador.

Lançamento do fundo de excelência social.

2006

Inclusão no DJSI3.

Início de diálogo com fornecedores sobre

Responsabilidade Socioambiental. 2005

Criação da Comissão de Responsabilidade

Socioambiental.

Adoção de critérios socioambientais no

financiamento de projetos.

2007 Lançamento de produto com foco

Socioambiental. Banco do Planeta. 2008

Lançamento da política de crédito com

classificação do risco socioambiental.

Fusão com o Unibanco.

2009 Adesão do Protocolo Verde. 2009 Lançamento da política de sustentabilidade.

Adesão do Protocolo Verde

Quadro 3 – Bradesco e Itaú – algumas práticas de RSC

Fonte: Elaboração própria baseado em Finanças Sustentáveis, 2009.

Os dados desta pesquisa foram coletados nos websites dos respectivos bancos (Bradesco e

Itaú), para amostra de 2001-2007 – esse período foi escolhido por anteceder a fusão do Itaú c

Unibanco, isso se dá por se considerar que a fusão pode proporcionar alteração significativa

dos índices, gerando uma distorção nos dados analisados. Para delimitação da pesquisa optou-

se pela coleta dos seguintes dados: i) dados da base de cálculo; ii) dados dos investimentos

sociais (internos e externos); e iii) dados dos investimentos ambientais. A apresentação dos

dados coletados será foi sob a forma de evolução dos dados (em R$ e em % da RL) para o

período analisado e comparativo entre os dois bancos pesquisados.

3.1 Base de Cálculo

A base de cálculo do Balanço Social é representada por três indicadores: i) Receita Líquida

(RL): que representa a receita bruta menos as devoluções de produtos e os impostos pagos

pela empresa; ii) Resultado operacional (RO): que representa o lucro obtido pela empresa

depois de deduzir da receita líquida de vendas o custo de mercadoria vendida, as despesas

de pessoal, as despesas administrativas, e outras despesas operacionais; e Folha de Pagamento

Bruta (FPB): que representa o valor total da folha de pagamento com impostos.

Gráfico 1 – Receita Líquida – Crescimento Anual e do

3 IDSJ - Índice Dow Jones de Sustentabilidade: indicador de desempenho financeiro que avalia a

sustentabilidade das organizações em nível global.

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Período (2001-2007) - Em R$ Bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

O Gráfico 1 e o Quadro 4 apresentam os dados da receita líquida no período estudado. O

Bradesco com maior receita líquida média, de R$.12,8 bilhões e crescimento no período de

123%, e o Itaú com R$.12,8 bilhões e 163%, respectivamente.

Anos BRADESCO ITAÚ

RL (BI R$) %

CRESC.ANUAL RL (BI R$)

%

CRESC.ANUAL

2001 8,1 - 5,9 -

2002 10,9 35% 7,2 22%

2003 10,8 -1% 9,2 28%

2004 11,2 3% 10,2 11%

2005 14,8 32% 11,2 9%

2006 16,0 8% 12,5 12%

2007 18,0 13% 15,5 24%

Média 12,8 10,2 Crescimento no

período 123% 163%

Quadro 4 – Receita Líquida – Crescimento Anual e do

Período (2001-2007) - Em R$ Bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

3.2 Investimentos Sociais: internos e externos

Na configuração do modelo de Balanço Social do IBASE, existe um conjunto de dados sobre

investimentos sociais, divididos em: i) Investimentos Sociais Externos (ISE); e ii)

Investimentos Sociais Internos (ISI), cada um com um total de onze (11) indicadores,

conforme demonstrado a seguir:

Indicadores Sociais Externos Indicadores Sociais Internos

1 Educação 1 Alimentação

2 Cultura 2 Encargos sociais compulsórios

3 Saúde e saneamento 3 Previdência privada

4 Habitação 4 Saúde

5 Esporte 5 Segurança e medicina no trabalho

6 Lazer e diversão 6 Educação

7 Creches 7 Cultura

8 Alimentação 8 Capacitação e desenvolvimento profissional

9 Combate à fome e segurança alimentar 9 Creches ou auxílio-creche

10 Outros 10 Participação nos lucros ou resultados

11 Tributos (excluídos encargos sociais) 11 Outros

Quadro 5 – Investimentos Sociais Externos e Internos do Balanço Social

IBASE e seus Indicadores

Fonte: Balanço Social, 2009.

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O Quadro 6 e os Gráficos 2 e 3 demonstram as especificidades quanto aos dados de

investimentos sociais internos.

Anos

BRADESCO ITAÚ

ISI %

CRESC.ANUAL ISI

%

CRESC.ANUAL

2001 1,51 - 1,21 -

2002 1,66 10% 1,20 -1%

2003 2,03 22% 1,37 14%

2004 2,17 7% 1,72 26%

2005 2,43 12% 2,10 22%

2006 2,76 14% 2,61 24%

2007 3,11 12% 2,97 14%

Média 2,24 1,88

Crescimento

no período 105% 145%

Quadro 6 – Investimentos Sociais Internos – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ Bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

ITAÚ

BRADESCO

Gráfico 2 – Investimentos Sociais Internos – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ Bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

Total

Encargos soc.comp.

Alim

entação

Participação nos lucros

Previdência privada

Saúde

Outros

Capacitação e des.prof.

Creches ou auxílio-creche

BRADESCO ITAÚ

Gráfico 3 – Investimentos Sociais Internos – % Médio da Receita Líquida (2001-2007)

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

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Em relação a estes dados é importante destacar que para ambos os bancos Bradesco e Itaú, o

item com maior aporte de recursos foi encargos sociais compulsórios representa cerca de 50%

do valor total investido, num total 7% e 9% médios da receita líquida dos bancos,

respectivamente.

O Quadro 7 e os Gráficos 4 e 5 demonstram as especificidades quanto aos dados de

investimentos sociais externos, conforme a seguir. Cabe destacar um aumento significativo

nos investimentos externos em valores absolutos, além de uma significativa evolução para

ambos os bancos no período analisado.

Anos BRADESCO ITAÚ

ISE %

CRESC.ANUAL ISE

%

CRESC.ANUAL

2001 1,49 - 1,17 -

2002 1,68 13% 1,46 25%

2003 2,08 24% 2,67 83%

2004 2,12 2% 3,63 36%

2005 4,13 95% 4,77 32%

2006 5,04 22% 5,65 18%

2007 5,77 15% 7,14 26%

Média 3,19 3,78

Crescimento

no período 289% 509%

Quadro 7 – Investimentos Sociais Externos – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ Bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

ITAÚ

BRADESCO

Gráfico 4 – Investimentos Sociais Externos – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ bilhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

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0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

Total

Tributos

Total ISE

Educação

Cultura

Outros

Saúde e saneamento

ITAÚ

BRADESCO

Gráfico 5 – Investimentos Sociais Externos – % Médio da Receita Líquida (2001-2007)

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

Para os investimentos sociais externos, assim como nos investimentos sociais internos, o item

com maior aporte de recursos foi tributos, num total 36% e 26% para o Bradesco e Itaú, em %

médio do período (2001-2007) da receita líquida. Os aportes com educação, cultura, saúde e

saneamento não apresentaram investimentos significativos. Percebe-se, no entanto que para os

dois bancos os tributos foi o indicador que teve a maior evolução do período.

3.3 Investimentos Ambientais

Os indicadores ambientais constantes no Balanço Social são apresentados em forma de três

itens: i) investimentos relacionados com a produção/operação da empresa; ii) investimentos

em programas e/ou projetos externos; e iii) total dos investimentos em meio ambiente,

representado pela soma dos dois primeiros. Além de informações quanto ao estabelecimento

de metas para minimizar resíduos, consumo em geral na produção/operação e eficácia na

utilização de recursos naturais, e informações quanto à tomada de decisões sobre os projetos

sócio-ambientais desenvolvidos pela empresa.

Os dados de investimentos ambientais dos bancos pesquisados demonstram algumas

observações importantes. Primeiramente, no Balanço Social do Bradesco constam apenas os

dados a partir de 2006, e o Itaú mostra uma diminuição significativa no período em relação ao

investido em 2001 e 2002, e um aporte de recursos para estes investimentos bem inferior, se

comparados aos investimentos sociais, conforme o Quadro 8 e os Gráficos 7 e 9.

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Anos

BRADESCO ITAÚ

ISE %

CRESC.ANUAL ISE

%

CRESC.ANUAL

2001 0,00 - 37,63 -

2002 0,00 - 20,20 -46%

2003 0,00 - 0,00 -

2004 0,00 - 4,95 -

2005 0,00 - 2,99 -40%

2006 15,34 - 2,66 -11%

2007 13,04 -15% 4,07 53%

Média 4,05 10,36

Crescimento

no período -89%

Quadro 8 – Investimentos Ambientais – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ milhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

ITAÚ

BRADESCO

Gráfico 7 – Investimentos Sociais Externos – Crescimento Anual

Período (2001-2007) - Em R$ milhões

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

No Quadro 9 e Gráfico 8 observa-se o total dos investimentos ambientais em % da receita

líquida, evidenciando mais uma vez o incipiente aporte de recursos na área ambiental, os dois

bancos não investem nem 1% de suas receitas líquidas. No Bradesco há o predomínio dos

investimentos ambientais com programas externos, e no Itaú os investimentos internos

relacionados com a produção/operação do próprio banco.

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Anos

BRADESCO ITAÚ

EXTERNOS TOTAL %

RL EXTERNOS

%

RL INTERNOS

%

RL TOTAL

2001 0 0 - 0 - 37.631 0,639% 37.631

2002 0 0 - 0 - 20.200 0,281% 20.200

2003 0 0 - 0 - 0 - 0

2004 0 0 - 411 0,004% 4.539 0,044% 4.950

2005 0 0 - 358 0,003% 2.627 0,024% 2.985

2006 15.338 15.338 0,096% 350 0,003% 2.305 0,018% 2.655

2007 13.038 13.038 0,072% 395 0,003% 3.677 0,024% 4.072

Quadro 9 – Investimentos Ambientais (externos e internos)

% Receita Líquida e em R$ Mil (2001-2007)

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

O Gráfico 8 demonstra o decréscimo no aporte de recursos destinados aos investimentos

ambientais para ambos os bancos, de R$ 15 milhões em 2001, para R$ 13 milhões, no caso do

Bradesco, e para o Itaú de R$ 3,7 milhões em 2001, para 4,0 em 2007.

0,00%

0,10%

0,20%

0,30%

0,40%

0,50%

0,60%

0,70%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Bradesco

Itaú

Gráfico 8 – Investimentos Ambientais – % Receita Líquida (2001-2007)

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

ISE ISI IA ISE ISI IA

Bradesco Itaú

2001 2007 Média

Gráfico 9 – Comparativo dos Investimentos Sociais e Ambientais

Em R$ Mil - (2001-2007)

Fonte: Balanços Sociais dos Bancos.

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De um modo geral, conforme apresentado no Gráfico 9, o desempenho dos ISI, ISE e IA dos

dois bancos pesquisados evoluíram pouco, principalmente aqueles relacionados à melhoria da

qualidade de vida dos funcionários e da sociedade, e aos investimentos ambientais

relacionados à produção e operação da empresa. O banco Bradesco foi o que teve o pior

desempenho, mesmo ao se considerar um aumento expressivo de sua RL.

4 CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou que, apesar da evolução que vêm ocorrendo no sistema financeiro em

relação a práticas sócio ambientais, existe uma distorção entre a evolução da receita líquida e

os gastos efetivos realizados em investimentos sociais (internos e externos) e investimentos

ambientais.

Um questionamento importante que pode ser levantado em relação a estes dados é será que os

investimentos sociais e ambientais que vêm sendo realizados por estes bancos são

verdadeiramente significativos, representativos e possuem resultados positivos compatíveis

com o poder, o impacto e as responsabilidades que estes grandes bancos têm em relação à

sociedade, sobretudo no que se refere ao financiamento para diversos setores da economia?

Ao analisar os investimentos apresentados neste artigo, para uma amostra do período de 2001-

2007, existe um longo caminho a ser enfrentado por estes bancos para, concreta e

objetivamente, transformar suas práticas internas e externas, nos âmbitos social e ambiental.

A tendência verificada é que os investimentos sociais e ambientais ainda não podem ser

considerados significativos principalmente quando relacionados ao aumento da receita

líquida.

Um bom exemplo revela-se pelos escassos investimentos sociais internos, o discurso sobre as

pessoas como principal valor de uma empresa não encontra respaldo nos investimentos que

foram analisados, discurso que não se reflete na prática. E, as informações sobre os

investimentos ambientais mostram um claro antagonismo ente o discurso e a prática, através

de uma redução nos valores absolutos do total de investimentos ambientais durante o período

analisado. Comparados com os resultados e as receitas anuais, essa redução torna-se bastante

significativa e evidente.

Um aspecto relevante é a participação dos encargos sociais como investimento social

significativo. Será que uma obrigação legal pode ser considerada como efetivo investimento

social, para fins do Balanço Social? Será que os bancos Bradesco e Itaú consideram RSC

como investir no que é obrigatório por lei?

Apenas o futuro pode fornecer pistas se essa tendência continuará ou não, e sem dúvida,

apenas o tempo poderá dar provas incontestáveis se a responsabilidade socioambiental, e as

práticas internas e externas destes bancos estavam realmente de acordo com o princípio de

sustentabilidade, pautado no objetivo de continuidade da vida no planeta, ou se estas práticas

serão guiadas pelo lucro de curto prazo auferido a qualquer preço, maquiado por apenas um

discurso de preocupação social e ambiental.

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Diante deste quadro fica a questão sobre a inclusão, a reavaliação ou a retirada de

determinados itens do Balanço Social. A visibilidade proporcionada pelo Balanço Social é

muito grande para o mercado e para a sociedade, mas o realizado efetivamente ainda é

incipiente.

A resposta ao questionamento deste artigo perpassa, sobretudo pela necessidade de mudança

nas práticas internas e externas, no que tange à conduta da responsabilidade socioambiental.

Esta mudança deve ter como guia a implementação e a garantia de direitos no caminho da

construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, neste sentido as empresas

também podem fazer muito se mudarem a maneira de fazer negócios. A busca de soluções

para os problemas sociais e ambientais não será fácil, existe um longo caminho a ser trilhado,

e o desafio certamente dependerá de transparência e da construção de um novo modelo de

produção e consumo.

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