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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
ESALQ/USP
RESUMO EXECUTIVO
Projeto de pesquisa:
SISTEMAS AGROFLORESTAIS COM CACAU PARA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS, EM SÃO FÉLIX DO XINGU – PA
Daniel Palma Perez Braga Me.S. em Conservação de Ecossistemas
Bacharel em Engenharia Florestal Universidade de São Paulo - ESALQ/USP
Prof. Dr. Flávio Bertin Gandara Mendes
Departamento de Ciências Biológicas Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
Piracicaba
Julho 2015
SISTEMAS AGROFLORESTAIS COM CACAU PARA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS, EM SÃO FÉLIX DO XINGU – PA
Estudo realizado com apoio do projeto executado pelo Imaflora e apoiado pelo
Fundo Vale e parceiros estratégicos, IEB, ADAFAX e CAMPAX: “Produção e
Mercado de Cacau com Responsabilidade Socioambiental: São Felix do Xingu como
um Local de Disseminação de Práticas Inovadoras para a Amazônia”.
Conteúdo 1. APRESENTAÇÃO.............................................................................................4
2. INTRODUÇÃO..................................................................................................4
2.1 Definições para o estudo............................................................................7
3. OBJETIVO.......................................................................................................10
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES...................................................................10
4.1 Parte I: Contexto Socioeconômico e Ambiental........................................10
4.2 Parte II: Solo.............................................................................................12
Fertilidade.................................................................................................12
Macroinvertebrados do solo.....................................................................13
4.3 Parte III: Vegetação..................................................................................16
4
1. APRESENTAÇÃO
Este Resumo Executivo é resultante do projeto de pesquisa intitulado de
“Sistemas Agroflorestais com Cacau para Recuperação de Áreas Degradadas, em
São Félix do Xingu – PA”, realizado para obtenção do título de Mestre em Ciências
pelo Programa de Recursos Florestais com opção em Conservação de
Ecossistemas Florestais, Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). O projeto foi
financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
nº do processo: 2012/25335-2, com apoio do Instituto de Manejo e Certificação
Florestal e Agrícola (Imaflora). Seu conteúdo consiste na síntese dos principais
resultados obtidos. A dissertação completa está disponível na Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações da USP, pelo link:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11150/tde-23062015-135642/
2. INTRODUÇÃO
As florestas brasileiras vêm sendo derrubadas sob justificativas de pouco
respaldo técnico, científico e até mesmo econômico. Segue-se um modelo de
desenvolvimento insustentável semelhante às devastações históricas, registradas
desde o período colonial. Suas causas são complexas, todavia, costuma haver
alguns padrões. Na Amazônia, após a abertura de estradas, o desmatamento
normalmente ocorre através de queimadas e frequentemente culmina em usos de
baixo retorno econômico, geralmente pastagens pouco produtivas, perdendo-se uma
das maiores biodiversidades do planeta.
A bacia do Xingu é uma região de históricos conflitos sociais em seu processo
de colonização. A emancipação municipal de São Félix do Xingu ocorreu em 1961 e
hoje se estima que existam cerca de 106.940 habitantes na área de 84.212,426 km2,
com densidade demográfica de 1,08 hab./km2, IDH de 0,594 e a educação também
está abaixo da meta nacional, apesar de 77% da população ser considerada
alfabetizada. O município encontra-se a 1.050 km da capital do Estado do Pará, a
5
uma latitude 06º 38' 41" sul e a uma longitude 51º 59' 42" oeste, com altitude de 220
metros.
A origem de São Félix do Xingu está relacionada com a produção de borracha
(Hevea brasiliensis), extrativismo de castanha (Bertholletia excelsa), garimpo,
comércio de pele animal, e com a caça, pesca e agricultura de subsistência (arroz,
milho, feijão, mandioca e etc.). O desmatamento em grande escala teve início com o
projeto e a efetivação da rodovia PA-279. Após a estrada, a população cresceu
exponencialmente e sua origem amazônica deixou de predominar. Inúmeros
conflitos territoriais foram registrados, a pesca ficou escassa e a economia se
sustentou no comércio ilegal de madeira, principalmente o mogno (Swietenia
macrophylla), em maiores atividades mineradoras (especialmente ouro e cassiterita),
folhas de jaborandi (Pilocarpus jaborandi) e principalmente a pecuária de gado. Em
geral, as ações do governo não acompanharam o ritmo do crescimento, ou seja, o
provimento das condições básicas de saneamento, eletricidade, saúde e educação
ainda são deficientes, principalmente na zona rural.
Segundo dados do IBGE, o município possui a receita de R$ 59 milhões, com
despesas de 55 milhões. Hoje, a economia é pautada pelas atividades de mineração
e agropecuárias. O PIB é de aproximadamente R$ 704 mil, sendo 47% representado
pelas atividades agropecuárias, predominantemente a pecuária (com 98,5% da
produção), o que faz de São Félix do Xingu um dos três municípios detentores do
maior rebanho bovino do país. Por outro lado, desde 2001 o município também
lidera os rankings de maiores taxas de desmatamento, sofrendo embargo ambiental
pelo Ministério do Meio Ambiente. Diversas medidas para controle do desmatamento
foram colocadas em prática por iniciativas do governo e do terceiro setor, uma delas
é o Projeto Pacto Xingu.
A hidrografia é formada pela bacia do rio Xingu. A zona de clima é Equatorial
Quente (média > 18º C todos os meses do ano) e Úmido (com 3 meses secos). a
temperatura média é de 25,4°C, variando entre 16,4°C e 36°C e a pluviosidade
média de 1.622 mm/ano, variando entre 700 e 2.377 mm. Predominam solos de
6
fertilidade mediana com boas características físicas e/ou morfológicas: Argissolos
Vermelhos-Amarelos Distróficos, Nitossolos Vermelhos Distróficos e Eutróficos e
Neossolos Litólicos Distróficos. Situados em relevo plano a suave ondulado, com
variação entre cotas de 200 e 500 metros de altitude ao nível do mar. A vegetação
pertencente ao Bioma Amazônico, com tipos de Floresta Ombrófila Densa (Floresta
Tropical Pluvial) e Floresta Ombrófila Aberta (Faciações da Floresta Ombrófila
Densa).
Em São Félix do Xingu, a agricultura familiar comumente realiza a produção
de cacau, cujo plantio inicial ocorre em consórcio com demais plantas agrícolas,
principalmente a mandioca, o milho e a banana. A qual perdura no sistema até
aproximadamente o sexto ano, quando o cacau já está bem estabelecido, e é
gradualmente removida ao passo que as árvores nativas vão ocupando seu lugar no
dossel, promovendo o sombreamento do cacau em um segundo momento. Este
agroecossistema, também denominado de sistema agroflorestal com cacau (SAF-
cacau) é um modelo amplamente abordado pela literatura científica, o qual ocorre
em diversas regiões tropicais, exercendo um importantíssimo papel na busca pela
sustentabilidade, em função de sua sinergia com os aspectos econômicos,
ambientais e sociais.
Tratando-se do contexto onde está inserido torna-se ainda mais relevante,
uma vez que o município de São Félix do Xingu esteve recentemente entre os
líderes do desmatamento no Brasil. Ademais, há pouco vem se consolidando a Lei
Nº12.651/2012, que trata da proteção da vegetação nativa, determina o tamanho
mínimo da Reserva Legal; prevê a recuperação de áreas degradadas e o
pagamento por serviços ambientais; dispõe sobre os Programas de Regularização
Ambiental (PRAs) e cria o Cadastro Ambiental Rural (CAR), dentre outras
especificações.
Neste âmbito, tenho o objetivo de responder à principal questão: qual é o
potencial do SAF-cacau para recuperação de áreas degradadas em São Félix do
Xingu, PA? Tratando-se de um tema com múltiplas abordagens, podemos visualizar
7
duas esferas que sustentam essa ideia: o solo e a vegetação. Partindo desses dois
componentes, conduzi o enfoque da pesquisa para outros dois aspectos que
caracterizam cada um deles. Para o solo, analisei a fertilidade (físico-químico) e os
macroinvertebrados (biológico). Para a vegetação, analisei a estrutura florestal e a
diversidade florística. Por fim, para embasar o conteúdo abordado, considerei os
aspectos socioeconômicos e ambientais, através de entrevistas e revisão
bibliográfica.
2.1 Definições para o estudo
Recuperação de Áreas Degradadas (RAD): refere-se indistintamente a diferentes
técnicas aplicáveis visando reverter à situação de um ecossistema degradado para
um estado desejável, independentemente do nível de degradação. Apesar do termo
“reabilitação” caber adequadamente a este estudo.
Os solos da região estudada ainda não apresentam degradação severa a
ponto de impedir por completo a sucessão ecológica ou atividades agropecuárias.
No entanto, a mudança do uso do solo (Figura 2), de floresta para pastagem, pode
ser considerada uma degradação, ao remover complemente a estrutura da
vegetação.
Figura 1 – Usos de solo em uma típica pequena propriedade rural de São Félix do Xingu
Floresta nativa madura (com sinais de degradação): ecossistemas
florestais que possuem sua área maior do que 20 ha, desconhecendo a idade, mas
8
certamente com mais de 50 anos, e que não são intactas, ou seja, sofreram com
ações diretas de extração de madeira e/ou queimadas parciais em passado recente
de duas décadas. Estão fragmentadas e inseridas em um contexto de paisagem cuja
matriz é pastagem.
Pasto: Áreas com 10 a 20 anos de idade, entre 10 e 20 ha, onde há o
predomínio de gramíneas cultivas para a atividade de pecuária bovina, podendo
haver algumas árvores isoladas.
SAF-cacau: lavoura de cacau é qualquer área, maior que 0,5 ha, onde haja o
plantio e cultivo do cacau. Em São Félix do Xingu, a maior parte das lavouras de
cacau ocorre através do emprego de SAFs, com tamanho entre 3 e 8 ha, onde há o
sombreamento do cacau composto usualmente por “árvores de sombra” e/ou
bananas. Ao mesmo tempo em que o sombreamento é importante ao
desenvolvimento do cacaueiro, ele também promove a melhoria da ciclagem e
disponibilização de nutrientes, além de diversos serviços ambientais.
• Sombra Inicial (SI): lavoura de cacau com 3 a 5 anos de idade,
implantadas após 3 a 13 anos de uso com pastagem, consorciando o cacau com
culturas anuais, como milho e mandioca, e culturas perenes, como mamão e
banana. Ao mesmo tempo, os produtores vão selecionando algumas árvores
regenerantes e conduzindo seu crescimento ao longo do tempo. A esta fase
caracteriza-se pela presença expressiva de bananas (Figura 2).
9
Figura 2 - SAF-Cacau SI, 4 anos de idade, São Félix do Xingu – PA
• Sombra secundária (SS): lavoura de cacau com 6 a 13 anos de idade,
podem ter sido implantadas após 4 anos de roça ou após 3 a 15 anos de uso com
pastagem. Quando as árvores jovens da regeneração natural, que foram conduzidas
assim como descrito na fase de sombra inicial (SI), atingem o dossel e ultrapassam
o cacau, normalmente após o quinto ano, quando se reduz gradualmente a
densidade de bananas e forma-se a sombra secundária (SS). Nesta categoria, já
não há mais a presença de bananas (Figura 3).
Figura 3 - SAF-Cacau SS, 9 anos de idade, São Félix do Xingu – PA
10
• Sombra abandonada (A): áreas com 3 a 5 anos de idade, cujo cacau
foi implantado após uso de 11 anos com pastagem ou 9 anos com roça (Figura 4).
Áreas abandonadas após a implantação em função da alta mortalidade das plantas
de cacau e baixa produtividade possuem alta densidade de regeneração natural
ocupando o dossel e sombreando o cacau.
Figura 4 - SAF-Cacau A, 4 anos de idade, São Félix do Xingu - PA
3. OBJETIVO
Quantificar o potencial de SAF-cacau para RAD em São Félix do Xingu - PA em
três perspectivas: (I) Socioeconômica e ambiental; (II) Solo; (III) Vegetação.
4. RESULTADOS e CONCLUSÕES
4.1 Parte I: Contexto Socioeconômico a Ambiental
Pergunta: qual a percepção socioeconômica e ambiental dos produtores
rurais, dentro dos objetivos maiores de aplicação do SAF-cacau como ferramenta de
RAD?
11
Hipóteses: os produtores consideram que o SAF-cacau pode: (a) ser usado
em RAD; (b) trazer maior retorno financeiro que a pecuária; por unidade de área (c)
trazer mais benefícios ambientais (solo, fauna e flora) do que a pecuária.
Métodos: Realizei uma entrevista com questionário estruturado. Foi
entrevistado apenas o(a) produtor(a) responsável pelo SAF-cacau de cada
propriedade analisada.
Resultados: (1) A maioria dos produtores considera que o SAF-cacau pode
ser utilizado para RAD; (2) A maioria dos produtores entende que o SAF-cacau traz
mais benefícios ao meio ambiente do que a pastagem. (3) Figura 5; (4) Para
complementar a percepção dos produtores, estimei a produção a partir de dados
pelo método Ceplac (adaptado). Neste caso, para SAF-Cacau SS, a produção média
para safra de 2014 seria de 471,4 ±166,0 kg de amêndoas/ha. Considerando o
preço do cacau na região, na época de R$ 5,90 (hoje em ascensão), o produtor
obteria uma renda bruta de R$ 2.781,26 /ha. As estimativas de produção média (P)
em São Félix do Xingu podem ser consideradas medianas, dependendo do
referencial, mas ainda dentro dos padrões esperados. (5) Em média, após o sexto
ano SAF-cacau pode gerar renda líquida de 4 a 6 vezes maior (por unidade de área)
do que a pecuária e ocupar uma área até 7 vezes menor (Segundo relato dos
produtores e referências bibliográficas, é possível alcançar mais de 1.000 kg/ha.ano
através da melhoria das de práticas de manejo)
Figura 5 - Análise dos valores médios de custos e renda bruta (R$/ha.ano), estimativa baseada na
percepção dos produtores, considerando Pasto e SAF-Cacau SI e SS.
Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média
Pasto 33,33 281,25 91,33 66,67 1248,00 532,46 441,13
SAF-Cacau SI 0,00 500,00 239,49 0,00 1250,00 778,85 539,36
SAF-Cacau SS 0,00 538,46 286,15 400,00 4500,00 2165,29 1879,14
(R$/ha.ano)Custo Renda Bruta Renda
líquida
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Conclusões:
• O contexto socioeconômico e ambiental para os pequenos produtores é
propício para a implementação do SAF-cacau como ferramenta de RAD,
podendo trazer mais benefícios que a pecuária em diversos aspectos.
• Há uma potencial sinergia entre o manejo de sombra, a diversificação da
produção e a conservação da diversidade florística.
• Observa-se no SAF-cacau um potencial para atender ao mercado de
produtos orgânicos e com certificado socioambiental, além do pagamento
pelos serviços ambientais.
• Diversos grupos de animais silvestres frequentam os SAF-cacau, mas nem
sempre este é um aspecto positivo, necessitando-se de maiores estudos
sobre seus impactos.
4.2 Parte II: Solo
Fertilidade
Pergunta: no contexto de São Félix do Xingu, qual o potencial do SAF-cacau
para recuperar os atributos químicos do solo em áreas degradas?
Hipótese: o SAF-cacau pode recuperar completamente a fertilidade do solo.
Método: realizei o diagnóstico de algumas das propriedades químicas (pH, P,
K, Ca, Mg, Zn, B, Cu, Mn, CTC e V%) e físicas (areia, silte e argila) do solo em SAF-
cacau e comparei com áreas de pastagens e florestas adjacentes. Coletando
amostras retiradas em duas profundidades: 00-20 e 20-40 cm, em cada uso do solo
estudado nas propriedades. No total, encaminhei 40 amostras de solo (24 em cacau,
8 em floresta e 8 em pasto) para o Laboratório de Análise Química para fins de
Levantamento de Solo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
(ESALQ/USP), em Piracicaba – SP.
Resultados: (1) não houve diferenças significativas de textura e nem dos
indicadores de fertilidade do solo entre os usos do solo. (2) A Floresta apresentou
maior teor de matéria orgânica do que o Pasto, na profundidade de 20-40 cm. (3) O
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Pasto apresentou teores de K mais elevados, podendo estar relacionado à
disponibilização deste nutriente pelas recentes ações de queimadas.
Conclusões:
• Os solos estudados são altamente semelhantes nos aspectos físicos e em
praticamente todos os aspectos químicos avaliados. Portanto, a hipótese
deste sistema produtivo poder recuperar completamente a fertilidade do solo
não pode ser comprovada, uma vez que esta característica não foi diferente
das áreas de referência nos solos estudados de São Félix do Xingu.
Macroinvertebrados do solo
Pergunta: no contexto de São Félix do Xingu, qual o potencial do SAF-cacau
para recuperar os atributos biológicos do solo em áreas degradas?
Hipótese: o SAF-cacau pode recuperar completamente a riqueza/diversidade
de grupos de macroinvertebrados.
Métodos: realizei a coleta de macroinvertebrados do solo (Ex. insetos,
aranhas, anelídeos e etc.) em SAF-cacau e comparei com áreas de pastagens e
florestas adjacentes. Identifiquei-os em grupos (taxonômicos), de forma a quantificar
sua densidade e riqueza naquele ambiente. Para isso, cada amostra de uso do solo
(Cacau, Floresta e Pasto) foi composta por 3 pontos de coleta, coletando os animais
presentes na superfície do solo e em blocos de terra (monolitos) com dimensão de
25x25x25 cm. O levantamento foi feito em dois períodos distintos, set-nov/2013
(verão/“seca”) e fev-mar/2014 (inverno/“chuva”). No total foram 60 blocos, cuja
coleta foi identificada em nível de grandes grupos (nomenclatura taxonômica) em
laboratório, com auxílio de lupa, pincel, régua e chaves de identificação, sendo
posteriormente revisada no Departamento de Taxonomia do Museu de Entomologia
na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
Resultados: (1) Os grupos Isoptera (cupins), Hymenopetra (formigas) e
Oligochaeta (minhocas) estão presentes e representam a maioria dos indivíduos em
todos os usos do solo, possivelmente contribuindo com a melhoria dos atributos
14
físico-químicos, em função do seu reconhecido papel como “engenheiros do
ecossistema’’. (2) Enquanto que no Pasto predomina o grupo Hymenoptera, nos
SAF-cacau e na Floresta predominam o grupo Isoptera. (3) A riqueza total de grupos
não teve grandes diferenças entre os usos do solo. Porém, analisando as estações
separadamente, observa-se um importante incremento de 7 grupos do Pasto para o
SAF-Cacau SS, no verão. (4) A Floresta possui maior densidade entre os usos do
solo, sendo fortemente influenciada pela abundante população de Isoptera (79%).
Este grupo também é o mais abundante nos SAF-Cacau SI e SAF-Cacau SS, sendo
sua densidade relativa de 47% e 56%, respectivamente. Por outro lado, o Pasto
apresentou maior densidade relativa para Hymenoptera (52%). (5) A densidade total
de macroinvertebrados entre as estações do ano não apresentou variação
significativa. (6) analisando os usos do solo em cada estação do ano
(separadamente), apenas a Floresta e o Pasto diferenciaram-se entre si, somente
quando comparados no verão. (7) o único uso do solo influenciado pela estação do
ano foi o Pasto, ou seja, sua densidade de macroinvertebrados aumentou
significativamente do verão para o inverno. Figuras a seguir.
Figura 6 - Densidade média de macroinvertebrados do solo em função do uso do solo, para
as estações de verão e inverno.
15
Figura 7 - Riqueza de grupos taxonômicos por uso do solo e por estação do ano (períodos de
coleta)
Figura 8 - Valores percentuais das variáveis estudadas em relação à Floresta, como
referência. Densidade (ind./m2); S: riqueza de espécies; H’: Índice de Shannon; D: Índice de
Simpson; J’: Índice de Pielou.
16
Figura 9 - Inversão do predomínio de grupos entre SAF-Cacau SS e Pasto, considerando o Índice de
Valor de Importância (adaptado). Maior riqueza de grupos no SAF-Cacau SS do que no Pasto.
Conclusões:
• O SAF-cacau, assim como a floresta, é capaz de manter a densidade total de
macroinvertebrados mais estável entre as estações do ano.
• Não é possível afirmar a hipótese de que o SAF-cacau pode recuperar a
riqueza total ou a diversidade de grupos de macroinvertebrados do solo na
região estudada, sendo recomendado maiores estudos em São Félix do
Xingu.
4.3 Parte III: Vegetação
Pergunta: qual o potencial dos SAF-cacau para recuperação da estrutura
florestal e da diversidade florística, no contexto de São Félix do Xingu?
Hipóteses: o SAF-cacau é capaz de recuperar parcialmente: (a) a estrutura
florestal; (b) a riqueza/diversidade de plantas.
Métodos: em cada uso do solo (Pasto, Floresta, SAF-Cacau) realizei a coleta
de dados em amostras compostas por 2 parcelas (Figura 10). No total foram
amostrados 12 produtores e montadas 40 parcelas (24 em cacau, 8 em floresta e 8
em pasto), abrangendo uma área de 4 ha, nas regiões de Tancredo Neves e Xadá
do município de São Félix do Xingu – PA. Nelas foram coletados dados referentes à
estrutura florestal e à diversidade florística, incluindo as variáveis: densidade, área
basal, altura do dossel, altura do cacau, cobertura de copa, estratificação e, no caso
do SAF-Cacau e Pasto, incluiu também a composição florística das espécies
sombreadoras. Para a coleta das variáveis de regeneração natural e cobertura de
17
gramíneas aloquei sistematicamente sub-parcelas (de diferentes tamanhos) dentro
dessas parcelas.
Figura 10 - Uma parcela (10x100 m) e suas sub-parcelas (2x3 m e 2x10 m)
Resultados: (1) Durante a fase de Sombra Inicial (SI), a banana (Musa sp.) é
um componente do SAF-Cacau que possui influências significativas, tanto nas
variáveis de estrutura florestal, quanto nas de fitossociologia. Em média ela
representa cerca de: 36% da densidade; 55% da área basal; 58% da abundância
relativa; e 29% do índice valor de importância. (2) As plantas de cacau dos SAF-
Cacau SI e SS, considerando apenas CAP ≥15 cm, representam 16% e 55% da
área basal, e 48% e 45% da altura do dossel, respectivamente. (3) As Figuras a
seguir mostram os demais resultados, comparando as variáveis entre os usos do
solo.
18
Figura 11 - Comparativo percentual dos usos do solo em relação à Floresta (100%) para as variáveis
de estrutura florestal: Densidade (D); Área Basal (G); Cobertura de Dossel (CD); Altura de Dossel
(HD); Densidade de Regenerantes (D-RN). 1= H>1,30 m e 2= H<1,30 m
Figura 12 - Comparativo percentual dos usos do solo em relação à Floresta (100%) para as variáveis
de riqueza (S), diversidade (H’) e equitabilidade (J’)
19
Conclusões:
• O SAF-Cacau SS apresentou melhorias significativas com relação ao Pasto
em todos os parâmetros e assemelha-se aos valores de florestas nativas
maduras em quase todos, mostrando-se inferior apenas em área basal (G),
altura de dossel (HD), riqueza (S) e diversidade (H’). Todavia, a tendência
dessas variáveis estruturais é crescente e o manejo adequado do
sombreamento pode propiciar a melhoria dos indicadores de diversidade,
futuramente tornando os SAF-Cacau ainda mais próximos dos ecossistemas
florestais nativos. Sendo assim, os SAF-Cacau consistem em uma potencial
ferramenta de recuperação de áreas degradadas, tendo como verdadeiras as
hipóteses de que esse sistema produtivo é capaz de recuperar parcialmente
os aspectos de estrutura florestal e de diversidade florística, em São Félix do
Xingu.
• Os SAF-cacau contribuem com a provisão de diversos serviços ambientais,
dentre eles: a proteção do solo; a manutenção e/ou recuperação da
biodiversidade florística e o estoque de biomassa arbórea.
• Considerando a riqueza da composição florística da região, SAF-cacau pode
ampliar o uso de espécies nativas no sombreamento. Nesse sentido, ressalto
a importância de maiores estudos sobre o seu manejo e, principalmente, com
enfoque na manutenção da biodiversidade através da melhoria dessa
composição em relação às florestas nativas.